foca mais - junho 2016

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Mayara Gomes (Foto) fala sobre o feminismo negro nesta edição especial sobre questões de gênero. Pág. 7

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Jornal laboratorial dos acadêmicos de Jornalismo da UEPG. Ano 1, ed. 2.

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DIRETÓRIO ACADÊMICO DE CI-ÊNCIAS BIOLÓGICAS DEBATEVIOLÊNCIA SEXUAL.pág. 7

universidadeespecialistas debatem so-bre a questão de gêneroe da cultura do estupro.pág. 4

a representação femininana política a partir deuma perspectiva local.pág. 3

sabatina política

Mayara Gomes (Foto) fala sobre ofeminismo negro nesta ediçãoespecial sobre questões de gênero.Pág. 7

FFEEMMIINNIISSMMOO NNEEGGRROO

EDITORIAL

Os otimistas hão de concordar com o editorial da ediçãoanterior Foca Mais. O jornalismo não está morrendo. Está emtransformação. E essa mudança passa pelas novas gerações dejornalistas, que têm a missão de manter o que há de melhor no“jeito antigo” de levar informação às pessoas e, ao mesmotempo, encontrar formas mais apropriadas e interessantes parareinventar o “sistema”. Feliz ou infelizmente, essa virada é umprocesso. Ou seja, não há uma chavinha que, quando acionada,faz a conversão para a nova fase.

Dito isso – ou seja, compreendendo que se trata de ummodelo em evolução – é preciso reconhecer os méritos doFoca Mais. É obviamente uma tentativa de experimentar, comos pontos positivos e negativos intrínsecos às dores e delíciasde se aventurar por terrenos que não estejam plenamentemapeados. Também como modelo em construção, não se podenegar as falhas. E, como o ano de publicações está apenascomeçando, é o momento ideal para dedicar mais tempo eespaço ao que pode ser melhorado para as próximas edições.

O primeiro rumo a acertar é a seleção de assuntos. Oleitor pode ficar confuso. Não há uma linha claramentedefinida. É cultura, é comportamento, é geleia geral? É jornal?É revista? É a mistura de ambos e, assim, pretende inauguraruma nova forma de levar informação ao público? Nem ostemas tampouco a diagramação ou a estrutura narrativa seconversam. Sobre os textos, há a necessidade de uma revisãomais apurada.

Alguns clichês são dispensáveis. O que se quer dizercom “um endereço permanece o mesmo há três décadas”?Nesse sentido, os primeiros parágrafos das matérias sobre odesemprego, a sabatina e a volta do Fresno a Ponta Grossatambém merecem ser revisitados, com um olhar maisreflexivo. O destaque da edição fica com a capa, singela econvidativa.

E que venha uma nova fase de experimentações.

EXPEDIENTE

Os dados de violência contra a mulher são alarmantes.A cada dois minutos cinco são espancadas. A cada 11 minutosuma é estuprada. E, a cada dia, 179 são agredidas, e dessas, 13morrem. E não é de hoje que isso acontece. A história daviolência cometida contra o sexo feminino é a mesma queatinge nossas tataravós. Sim, aquelas mesmas que foramensinadas que lugar de mulher é na cozinha ou cuidandodos filhos. Aquelas mesmas que aprenderam desde cedo quemulher não pode competir com homem, pelo contrário,deve ser ensinada a serví­lo. A sistematização da violênciacontra as mulheres é historicamente construída, começandopelas desigualdades que vigoram nos pequenos campossociais, políticos, culturais e econômicos da maioria absolutada sociedade. Sempre somos colocadas em segundo plano.

O século é XXI, até nossa avó que foi ensinada aservir e ser submissa ao homem, está mais antenada e chegaa fazer alguns comentários feministas que nos enchem deorgulho. Porém, há muito a ser feito ainda. Recentemente,uma menina de 15 anos foi estuprada por cerca de 33

homens. Parte da sociedade indingou­se, e a outra? Ah, essaaproveitou para desferir os piores e mais condenatórioscomentários. "Se fosse moça direita não estava em bailefunk!", "15 anos e já é mãe? Boa coisa não é", "Se tivesse emcasa não teria acontecido isso!"

E quem é que dita o que é certo ou errado? Por quealguns insistem em querer fazer com que a mulhersubmeta­se à vontades que sequer são delas? Tentandoresponder á essas perguntas, resolvemos dedicar toda a nossaedição do mês de junho ao tema. Incluindo uma mesa dedabate composta apenas por mulheres. Um especial sobre avida e trajetória de mulheres no cenário políticopontagrossense. E também uma reportagem que retrata avida de mulheres que em nada deixam a desejar em seustrabalhos, os quais por muito tempo foram consideradoscomo "coisa de homem". Afinal, lugar de mulher é onde elaquiser estar.

OMBUDSMAN

Katia Brembatti

FOCA MAIS

O Foca Mais é composto por alunos do segundo e terceiro ano de jornalismo da UEPG. Diagramadores: Bruna Oliveira,Leonardo Camargo e Melissa Moura. Repórteres: Anna Cuimachowicz, Bruna Oliveira, Daniel Lisboa, Felipe Deliberaes,Lauro Alexandre, Marina Semensati e Matheus Pileggi. Editores: Douglas Kahl, Lucas Boamorte, Marcelo Ribas e PedroGuimarães. Fotógrafos: Saori Honorato e Lucas Boamorte. Editores de imagem: Danilo Schleder e Pedro Guimarães. SocialMedia: Bruna Oliveira e Vitor Carvalho. Professora responsável: Paula de Souza Paes. Ano 1. Edição nº 2. Junho de 2016.Fechamento: 4 de julho.

por Lauro Alexandre

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Mulhereslutam pelarepresentaçãopolítica

Uma das principais pautas domovimento feminista é a falta de re­presentatividade das mulheres nos es­paços relacionados às decisões políticas.Atualmente, a composição das CasasLegislativas atestam essa falta de repre­sentação. Com uma análise da repre­sentatividade nacional, ou até mesmorecortando essa análise para o cenáriolocal, os números comprovam que apolítica ainda é um campo domi­nadopelos homens

Segundo dados do Tribunal Su­perior Eleitoral (TSE), durante as últi­mas eleições, em 2014, o estado doParaná, lançou 344 candidatos ao cargode Deputado Federal, destes 235 eramhomens e apenas 109 eram candidatasmulheres. Para o cargo de DeputadoEstadual foram 847 candidatos commais de 500 candidatos homens e 267candidatas do sexo feminino. Para ocargo de governador, a única candidataa disputar as eleições foi a SenadoraGleisi Hoffmann do Partido dos Traba­lhadores (PT).

Quando olhamos para o cenáriolocal, em Ponta Grossa, essa divergên­cia é ainda mais grave. Na história dacidade, foram eleitas apenas nove mu­lheres para o cargo de vereadora, sendoa primeira no ano de 1951. Nenhumadessas mulheres chegou a presidir aCâmara de Ponta Grossa e a cidadenunca teve uma candidata ao cargo deprefeita.

De acordo com os dados do TSEsobre as duas últimas eleições munici­pais, no ano de 2008 houveram apenas48 candidatas ao cargo de vereadora,sendo eleitas as candidatas Aline de Al­meida Cesar (PMDB) e Profª Ana Ma­ria Holleben. Já nas eleições de 2012,que elegeram os candidatos que exer­cem as funções públicas atualmente,foram 117 ca ndidatas do sexo femininoe 279 do sexo masculino. Apenas duasmulheres foram eleitas para o cargo, avereadora Profª Ana Maria Holleben,que teve seu mandato suspenso por de­

cisão judicial e a vereadora Adélia Sou­za, que atualmente se encontra delicença das suas atividades. Apesardo baixo número de mulheres exer­cendo o cargo de vereadoras, o númerode candidatas do sexo feminino temaumentado consideravelmente. O Tri­bunal Superior Eleitoral estipula queuma cota de no mínimo 30% e no má­ximo 70% de candidatos de cada sexopor partido ou coligação.

O vereador de Ponta Grossa epresidente do Partido da Mulher Brasi­leira (PMB) na cidade, Julio Kuller ex­plica como é possível uma presidênciamasculina no partido. “O partido damulher brasileira não é um partido fe­minista, ele é um partido que luta pelosdireitos da mulher como o principalelo de ligação da família. Dentro do es­tatuto do partido não há problema al­gum de ser presidente homem, mastem que ser a vice mulher, ou quando apresidente é mulher o vice tem que serhomem. Então não é um partido demulheres, é um partido de valorizaçãoda mulher”.

Kuller também é pré­candidatoao cargo de prefeito de Ponta Grossa ese diz empolgado pelo número de filia­dos ter aumentado e possibilitado quemais mulheres se lancem candidatasnessas eleições. “Mas nós estamos mui­to felizes, porque a nossa filiação, nóstemos mais de 600 filiados e 70% sãomulheres. Nós temos também umachapa para concorrer a câmara munici­

pal, onde também 60% é mulher, entãoa mulher vai colocar seu nome à dis­posição agora para que possa ter efeti­vamente essa representatividade.”

Recentemente, uma pesquisa dedados foi divulgada por meio de re­portagens, relatando a trajetória de di­ferentes mulheres na políticaponta­grossense. Os textos foram di­vididos em seis partes e trazem dadoshistóricos da cidade, contextualizando asituação de diferentes mandatos e aatuação das mulheres nesse cenário.

O trabalho foi realizado pelasjornalistas Gisele Barão e Luciane Jus­tus, através do projeto de jornalismoindependente Maria Pauteira. Divul­gando as notícias por meio de um site epelas redes sociais, o projeto abordatemas voltados aos Direitos Humanos,envolvendo a prática da cidadania e aatuação do jornalismo. As reportagenssobre as vereadoras podem ser acessa­das no site.

Mulheres na História Política

"O partido da mulherbrasileira não é um

partido feminista, ele éum partido que luta

pelos direitos da mulher"Julio Kuller (PMB)

ARTE: LAURO ALEXANDRE 3

Violência contra a mulher

Nessa edição a sabatina terá como tema a violência contra a mulher. Para compôr a mesa de discussões,trouxemos três profissionais que irão esclarecer alguns aspectos polêmicos que envolvem esse assunto.

Psicóloga, mestranda epesquisadora, especial­mente na área do estudode gênero. Seu trabalhosempre esteve centrado nadefesa dos Direitos Hu­manos, nas mulheres, cri­anças e adolescentes e,também no respeito àsidentidades da pluralidadecultural.

Advogada, vice­presidenteda Comissão da mulher daOrdem dos Advogados doBrasil ­ Subseção de PontaGrossa, membro do Cole­tivo feminista ResistênciaAmapô. Participou de vá­rias campanhas contra aviolência doméstica, comoSemana Nacional da Pazem Casa. Bem como doOutubro Rosa.

Formada em Licenciaturaem Geografia pela UEPG.Mestre em Geografia tam­bém pela UEPG. Atua nomovimento feminista desde2012 de maneira indepen­dente. Nesse ano estáconstruindo o Coletivo Fe­minista Resistência Amapô,e também o Frente Femi­nista Malalas.

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A violência sistemática contra a mulher,infelizmente tornou­se comum. O simples fatode sermos mulheres acaba acarretando medoem nossa vida. Medo de sair sozinha. Medode ser estuprada. O que faz com que outraspessoas pensem que não temos o direito deescolher o que acontece com o nosso própriocorpo? Recentemente, uma mulher foiassediada por um cantor e em resposta eledisse: “nem me considero um homem, soucriança ainda”. Outro caso recente é o damenina de apenas 16 anos que foi violentadapor cerca de 33 homens no Rio de Janeiro.Independente do número, o fato acontece commilhares de mulheres todos os dias. Já passoua hora de nós discutirmos á respeito disso.

Eu particularmente es­tudo sobre cultura, e ela fala sobre a identi­dades, sobre a construção da identidadepessoal. Quando nós falamos em cultura doestupro, falamos em uma sociedade que foiconstruída através de paradigmas patriar­cais e, na nossa região ainda há a existênciado discurso coronelista, só refornaçandoainda mais o termo “cultura”. Com certeza,nós mulheres, desde pequenas até a facul­dade, já passamos por algum desrespeito.Precisamos nos unir contra todo e qualquertipo de violência, já passou da hora, esta­mos em 2016. Não estamos falando da vio­lência cometida só contra a mulher, negro,indígena, homossexual, mas sim contra oser humano. Não valorizar o outro é nãovalorizar o próprio ser humano.

Quando há uma normali­zação que a mulher é a culpada pela vio­lência, até em casos bárbaros como o damenina que foi estuprada por 33 homens,nós temos um grande problema. Não há denossa parte uma cultura de proteger e ten­tar entender o lado feminino. É instintivo oato de culpar a mulher, nós não somosapoiadas. Há mais um cenário de normali­zação e culpabilização do que de acolhi­mento.

A culpa é impostaà mulher, seja em redes sociais ou em pú­blico. Associam o estupro com o fato de elaestar usando roupas curtas, como se o atodo estupro fosse mérito para alguém. Érepugnante. E o pior de tudo é ver que issoacontece em delegacias, até mesmo no judi­ciário, onde deveria ser um lugar que aco­lhe a mulher após a denúncia de umaviolência doméstica. Mas o que acontece éque a mulher precisa se explicar, muitasvezes é constrangida, deixando se ser devi­damente amparada tanto em aspectos soci­ais quanto legais. sociais.

: baseia­se no como cadapovo constrói sua cultura. Há lugares emque o homem é sempre quem manda, odono da casa. Mas há outros, na África porexemplo, em que é a mulher quem coman­da, não com uma função coercitiva, massim representativa. A Revolução Industrial,Francesa ajudou um pouco nesse aspecto,mas ainda temos uma sociedade desprepa­rada. Tivemos nesses últimos 30 anos umconsiderável avanço nessa questão, masainda temos uma sociedade que mescla di­versas opiniões, inclusive opiniões de pes­soas mais velhas e que são um tantoconservadoras.

nós temos uma cultura de500 anos de exploração e, a história do

Brasil está diretamente ligada a história doestupro. Na escravidão, quando o corpo damulher negra é comparado com o do ho­mem, notava­se um potencial maior de vi­olência sexual por parte do homem, já quea mulher possuía um corpo mais frágil. Opatriarcado se deu de tal forma e nunca foiquestionado, acabou se normalizando.

Nós temos no códigopenal o crime de assédio sexual, o qual seconfigura em constranger alguém com afinalidade de obter vantagem sexual, apli­cando­se em casos onde o assediador ocu­passe uma posição hierárquica superior,seja ela emprego, cargo ou função. Seriaum patrão, ou até mesmo um professor. Amulher pode estar indo para onde quiser,universidade, festa, ela não pode ser abor­dada com palavras indelicadas. A partir domomento que o direito de ir e vir de umamulher é interrompido, é assédio. Ao meuver, todas essas importunações são assédio.E não há nenhuma lei específica para essescasos, apenas uma lei que proíbe importu­nar alguém em local público de modoofensivo ao seu pudor. Quando uma mu­lher vai fazer um B.O (boletim de ocorrên­cia), denunciando um assédio, geralmenteela é atendida por um homem que fala queela deveria agradecer por ter sido achadabonita, por ter sido chamada de “gostosa”,“delícia”.Ou quando a mulher vai retiraruma queixa na delegacia, quase sempre porfalta de condições financeiras para conti­nuar o processo, ela é ridicularizada, ouvecoisas do tipo “Ah, essa gosta de apanharmesmo!”.Tudo isso num local onde ela de­veria se sentir acolhida e apoiada.

Eu observo nos meus ca­sos clínicos muita vergonha por parte damulher. Elas ficam extremamente fragili­zadas. Não acreditam mais em nada, nemno mundo, nem nas coisas, e nem nos ou­tros. É terrível ouvir as histórias. Geral­mente, as pessoas acham que isso nunca vaiacontecer, mas acontece, e por fazermos

parte dessa sociedade coronelista, patriarcal,aprendemos a ter nosso pai, irmão ou umapessoa próxima, como apoio. Nós não en­sinamos nossos filhos á terem medo do tio,por exemplo. Temos que cuidar principal­mente das nossas crianças, observar o si­lêncio, porque elas ficam com medo de queninguém acredite caso elas contem.

A gente não pode pensarque violência sexual só está atrelada à açõesperigosas. Isso nos faz acreditar que espaçoprivado é mais seguro que espaço público.Nós, mulheres, associamos muito mais es­paço público com vulnerabilidade, umavez que, no espaço público, o homempossui muito mais comando. Eles mexemcom a gente e nos intimidam a acreditarque aquele lugar onde estamos é deles. Euentrevistei algumas mulheres sobre isso e,elas diziam que achavam que era normal.Elas não entendiam porque não tinhamconhecimento sobre o assunto. Porque emescolas não se pode ensinar sobre sexo quevocê está incitando a criança a fazer sexo.Porém, pode estuprar uma criança dequatro anos sem ela saber que está sendoestuprada.

Há também o estu­pro dentro do relacionamento. Quando amulher não quer ter relações sexuais como marido ou namorado e, ele a obriga. Écomum o marido chegar alcoolizado emcasa e exigir sexo da mulher, pois na visãopatriarcal, a mulher está lá para satisfazer osdesejos do homem. Esses casos são estuprosim e, estão reconhecidos como tal na leiMaria da Penha. A vontade da mulher deveser respeitada. Sim é sim. Não é não.

É muito complicado quandoas pessoas têm essa visão de que estamosexcluindo os homens. Muitos falam: “‘Ah,vocês estão sendo iguais os machistas, ex­cluindo e querendo seguir sozinhas”. É ex­tremamente complicado. O cenário dofeminismo é onde o homem oprime a mu­lher, é uma relação de poder desigual. Nãosignifica que o homem não deva participar,mas sim que o protagonismo deve ser damulher. Ele não precisa defendê­la, ela fazisso por si só. O homem pode atuar comopró feminista, falando para amigos, para afamília, ajudando assim a aumentar essaconscientização.

A cada nova ediçãodo Foca Mais, aSabatina apresentaráum debate sobretemas da atualidade.Confira na nossapágina do facebooke do youtube ovídeo desta sabatina.

FOCA MAIS 5

SABATINA

Gruposacadêmicos se

organizampara discutir

violênciasexual na UEPG Exposição de casos de estupro na mídia traz a discussão

para o universo acadêmico

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A repercussão do caso do estuprocoletivo nas redes sociais acendeu adiscussão em relação aos casos de violênciae assédio que acontecem contra a mulherdentro da UEPG. A mesa redondaorganizada pelo Diretório AcadêmicoErasmus Darwin, do Setor de CiênciasBiológicas, discutiu o assédio sexual emoral na universidade e mostrou que setem muito a discutir sobre as relaçõesentre professores e alunos.

A mestra em Geografia e integranteda Frente Feminista Malalas, Mayã deCampos, afirma que ocorre uma relaçãode poder entre o professor e o aluno.Além disso, envolve algo sério esensível: a relaçao entre a graduação e odiploma. Segundo Campos, esses fatorespodem levar ao assédio, tanto moralquanto sexual e, em consequência, osilêncio.

O professor de Farmácia erepresentante docente no conselhoadministrativo da Universidade, AirtonPereira, acredita que o assunto é muitopouco debatido e que os alunos muitasvezes nem sabem que estão sofrendoassédio moral. Para ele, um canal comoa Ouvidoria para as denúncias seremfeitas é fundamental para remediar asituação.

O papel da Ouvidoria

A Ouvidoria fica no prédio daReitoria. A ouvidora se chama LorenaLopes. Com mais de 30 anos comofuncionária da casa, ela está prestes a seaposentar. Segundo Lopes, para serouvidor é necessária uma extensa carreira,e, no caso da UEPG, não só exercer o aárea do direito como conhecer ofuncionamento de onde trabalha. É naOuvidoria que a pessoa pode denunciarqualquer situação que deva ser analisadalegalmente, de forma anônima ou não,desde mordidas por cachorros até uso dedrogas.

Muitas pessoas pensam que aOuvidoria é um serviço interno daUniversidade. Lopes explica que aOuvidoria responde à controladoria geraldo Estado em Curitiba, de onde as ordens ea fiscalização de seu serviço sãoexecutadas. “Eu sou uma burocrata. Nãosou amiga do reitor. A gente tem que serprofissional”, afirma. Mas esse assunto épolêmico visto que, mesmo tendo certa “liberdade”, cabe ao reitor autorizar ou nãoa abertura de um processo.

Apenas dois casos de assédio sexualforam denunciados até hoje. Um foiarquivado em 2015 por falta de provas e ooutro caso está em andamento em relaçãoao curso de Biologia. Mayã, da frentefeminista Malalas, acredita que essenúmero seja baixo. Já Lorena reconheceque o interesse pela ouvidoria referente aotema cresceu junto com a repercussãoobservada nas redes sociais.

A ouvidora entende que o assédiosexual é uma situação delicada e complexa.Ela certifica que, em caso de denúncia,ocorre o encaminhamento de suporte naCoordenadoria de Assistência e Orientaçãoao Estudante (CAOE). No caso emandamento, a jovem foi até a Ouvidoria,relatou o seu caso e agora foi formada umacomissão para julgar se houve ou não o

assédio sexual. “Essa parte de denúncia nãoexistia antes. Agora nós estamosprocessando (o suspeito)“ confirma Lorena.Para ela, a Ouvidoria está em estágio decrescimento e logo será institucionalizada.

Para a psicóloga Ana Bela dos Santos, épreciso de muito apoio à mulher que sofreesse tipo de violência, vindo de amigos,família, grupos de intervenção, a delegaciada mulher, Centro de Atenção Psicossocial(CAPS). “O símbolo que a mulher encontra(ao sofrer o estupro) é terrível. O símbolo

da falta de crença. A crença no mundo,nas coisas, no outro, acaba”, argumenta.

A segurança da Universidade

O Campus em Uvaranas abrangeuma área extensa, quase 600 mil metrosquadrados. São 67 vigias para fazer asegurança diária do local, que tambémsão responsáveis pelo patrulhamento doCampus central. Foram 269 ocorrênciasrespondidas pela vigilância ano passado,85 este ano.O território do Campus Uvaranasapresenta matagais e pontos maliluminados. Muitas pessoas de fora o

utilizam como passagem, para pegar umônibus ou passear. Certas vezes estaabertura traz problemas, como foi o casoda tentativa de estupro de uma menina quesaía da pista de atletismo por um suspeitoainda foragido. Ou também o homemflagrado em vídeo se masturbando noponto de ônibus ao lado de alunas no anopassado.“Nós não temos a cultura de proteger amulher. Não temos a cultura de entender olado feminino”, afirma Mayã de Campos.Será que a segurança do Campus conseguecompreender essa problemática? Será elasuficiente para proteger a mulher quanto aviolência sexual, seja física quanto verbal?Perguntas essas que deixamos para o leitorrefletir.

"Apenas dois casosde assédio sexual

foram denunciadosaté hoje. Um foi

arquivado em 2015por falta de provas eo outro caso está em

andamento emrelação ao curso de

Biologia"

por Matheus Pileggi

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UNIVERSIDADE

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As mulheres negras são maioria dasvítimas em diversos indicadores de viola­ções de direitos humanos, segundo pes­quisa publicada no site do Instituto PatríciaGalvão, que atua no campo do direito àcomunicação e dos direitos das mulheresbrasileiras. O racismo é uma das faces dasviolações a mulher negra.

Para a estudante de Licenciatura emArtes Visuais, Mayara Gomes, a partici­pação da mulher negra no mundo artísticovisual é uma extensão do período da es­cravidão, sem muitas mudanças. “A mulhernegra ainda sofre com abusos de uma so­ciedade racista e machista, trabalho de re­muneração injusta e dignidade humanainsuficiente”, explica.

Mayara diz que o ambiente artísticonão é diferente das representações midiáti­cas. “A mulher negra tem pouca represen­tação sendo lembrada pela herança escravapelo sofrimento e desigualdade”, comple­menta. A estudante explica que a poucotempo esse cenário vem mudando comartistas como: Rosana Paulino Doutora emArtes Visuais pela USP que com o seu tra­balho combina bem a questão de gênero eetnia, contando um pouco da sua históriacomo mulher negra na sociedade. E cita

ainda Sonia Gomes que com seu trabalhoendossa as suas raízes, uma tecelã de histó­ria e arte, e Ayéola Moore radicada naBahia há mais de dez anos que em suasobras faz questão de afirmar a sua identi­dade, como mulher e negra no Brasil.

A professora do Departamento deEstudos da Linguagem e Coordenadora doMestrado em Linguagem, identidade esubjetividade, Ione da Silva Jovino, diz queos resultados de pesquisas, principalmenteno campo da cultura visual, tem mostradocomo as imagens interferem no nosso mo­do de ser.

Quando se trata da representativida­de de minorias, os discursos emitidos pelamídia traidicional coloca a mulher negradentro de estereótipos, segundo Ione. “ In­felizmente a maior parte das pessoas temseu conhecimento formado a partir do co­nhecimento midiático. A partir da novela,jornais televisivos, rádio. Quando a gentefala que representatividade importa, esta­mos falando desses espaços”, explica.

Ione comenta ainda a representaçãopolítica: “Nossa política atual é branca emasculina. Não tem nem espaço para mu­lheres em geral, imagine mulheres negras.Mulheres militantes, politizadas, empode­

radas, pesquisadoras, entendedoras daquestão racial e feminista não tem espaçona política feita por homens brancos econservadores”, ressalva.

A youtuber Iole Milicio Demarchi,do canal Dona Florida, sente­se pouco re­presentada pela mídia brasileira. Ela buscasuas referências principalmente no You­Tube, “Foi só depois do meu contato maiorcom as YouTubers negras que consegui mever como negra e perceber porque eu nãoencontrava referências para me arrumar eme cuidar”, explica.

Iole vê a internet como o principalinstrumento na formação da identidade damulher. “É um instrumento de aproxima­ção entre as mulheres, de difusão de in­formações importantes e de referência paraa formação de identidade”.

Não existe um meio de monitora­mento midiático quanto a representaçãonegra. O Ministério Público é o órgão quedeve ser acionado pela população para to­mar atitudes contra práticas racistas. Em1968, o Estado Brasileiro assinou umaconvenção contra todas as formas de dis­criminação, mas a luta pela democratizaçãoda mídia ainda é uma realidade.

por Anna Cuimachowicz

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Demanda porespaços de

representatividadeé pauta para

feministas negras

7FOCA MAIS

cidade

Segundo dados obtidos no InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),a contribuição dos negros ao longo da his­tória do país envolve religião, música, culi­nária, indumentária e outras manifestações.

O turbante, por exemplo, é um teci­do que fez parte da indumentária dos es­cravos. Além de um adereço, ele possuíafunção social e religiosa. Também conheci­do como Ojá, ele múltiplas funções, comoa de carregar bebês, enrolar na cabeça ouadornar o busto. Ele compõe o traje típicodas baianas e é utilizado em religiões comoo Candomblé e a Umbanda.

Em 1930, o estilista francês Paul Poi­ret, introduziu o acessório na alta costuraeuropeia. No entanto, durante a década de60, o uso do turbante retornou como umareafirmação do movimento negro nos Es­tados Unidos.

A apropriação feita pela indústria damoda é bastante questionada. A YouTuber

, conta um poucosobre a apropriação cultural.

O que é apropriação culturalpara você?

Para mim, apropriação cultural équando uma classe dominadora utiliza de

algo de uma cultura oprimida, retirandoseu objetivo, significado. Eu procuro veresse assunto de uma maneira contextuali­zada, vendo como ela afeta a luta de deter­minados povos que batalham para seremvistos, representados, respeitados. Quandopor exemplo, alguém usa uma roupa ca­racterística da cultura japonesa ou irlande­sa, a grande maioria sabe que aquela roupafaz parte dessas culturas, respeitam e/ouentendem seus significados. Já no caso dospovos indígenas e dos negros, seus acessó­rios são utilizados de forma banal, como ococar e o turbante, que são usados pela in­dústria da moda como somente um adere­ço, que embeleza o povo branco emarginaliza os povos que precisam destespara reforçar sua cultura, sua raiz, sua re­presentatividade, já tão afetada.

Como isso afeta a cultura ea identidade da mulher negra?

O grande debate sobre a apropriaçãocultural gira em torno de que as mulheresbrancas tem direito de utilizar acessóriosde representatividade negra, da mesmaforma que mulheres negras podem utilizaros da cultura branca, e que não é de direitodasne­

gras, privar uma mulher branca de usar oque ela quer. No entanto não é levada emconsideração a privação que temos desde onosso nascimento. Nós negras, somos pri­vadas de usar o cabelo natural volumoso;somos privadas de colorir o cabelo, já quecor não combina com cachos; somos pri­vadas de usar batom colorido pelo tama­nho de nossos lábios, e assim por diante,somos privadas por uma sociedade queembeleza os traços caucasianos. Quandofalamos em apropriação cultural, estamostentando mostrar o quanto essa identidadenegra é afetada por ela, estamos tentandolutar por uma visibilidade, algo que asmulheres brancas, neste aspecto não pre­cisam, pois tem a sua disponibilidade serquem quiserem desde que nascem.

Você se sente representadapela mídia?

Me sinto pouco representada. Buscoreferências sempre na internet, principal­mente no YouTube, para dicas de maquia­gem, cabelo, acessórios, etc. Foi só depoisdo meu contato maior com as YouTubersnegras que consegui me ver como negra eperceber porque eu não encontrava refe­rências para me arrumar e me cuidar.

Uma conversa sobre apropriação cultural

Historicamente setores da socie­dade convencionaram o que seriam pa­ra homens ou para mulheres. Issoinclui, principalmente as profissões.Mesmo com as mudanças que as gera­ções proporcionam, o ambiente aindaapresenta a dominação masculina, mes­mo os homens não sendo maioria napopulação mundial.

De acordo com estudos do IBGE,nos últimos dez anos a desigualdade defunções e salarial pouco mudou. Os da­dos das pesquisam revelam tambémque apenas 5% das mulheres no merca­do de trabalho ocupamcargos de chefia.Motorista da empresa detransporte público da ci­dade, Claudinéia Corrêa, éuma das tantas que en­frenta esse dilema. Das13:30h às 19:30h, de se­gunda a sexta, sua linha percorre a Vi­la XV, na região periférica da cidade.Durante os fins de semana ela muda deendereço, assumindo a rota da vila DalCol e Vila Margarida.

Claudinéia trabalha há 1 ano emeio na Viação Campos Gerais (VCG),entrou como trocadora, função queocupou durante 6 meses. “Minha in­tenção sempre foi ser motorista”.

Para ser motorista, ela passou porum treinamento, no qual ela foi super­visionada por instrutores. "Essa escoli­nha é obrigatória para todos quequerem ser motoristas independente daexperiência que tiver. Mas, eles geral­mente dificultam para que as mulheresse inscrevam".

Apesar dessa pequena dificulda­de, ela relata que não existem precon­ceitos por parte dos colegas, e quedentro da empresa existem políticaspara que essas coisas não aconteçam.“Eu sempre imponho respeito, porqueeles devem isso a mim e dessa maneira

o preconceito diminui, sem contar quenas reuniões sempre é mostrado que asmulheres tem feito um trabalho melho­res que os homens” comenta.

Entre as viagens que faz, algoperceptível é a maneira de tratamentoque se inicia com algo que chama mui­ta atenção: O sorriso, estampado norosto sempre acompanhado por um: ­“Olá, como vai?”. Essa atenção rende­ram boas amizades, como a de um se­nhor morador do Núcleo Pitangui, quetodos os dias leva comida para Claudi­néia. “Quando eu trabalhei na linha do

Núcleo Pitangui, eu sempre via eletriste e comecei a conversar com ele.Desse gesto surgiu uma grande amiza­de” conta.

Claudinéia conta que sempre quegosta de coisas que a fazem sentir­sedesafiada, e o desafio vai além de des­bancar colegas homens, ele passa tam­bém por aceitação. Entre um troco eoutro ela conta que existem situaçõesque alegram e chateiam. “Uma senhoraidosa embarcou no terminal, e se sen­tou, porém quando me viu desceu do

ônibus, dizendo que não entraria numônibus guiado por uma mulher”. Paramostrar o outro lado, ela conta maisuma história, antes de parar no pontofinal, “No pronto­socorro um senhortambém idoso embarcou, se sentou etempo depois percebi que ele estavachorando, resolvi perguntar o que es­tava acontecendo, e ele respondeu: ­'Eununca imaginei que poderia ver umamulher ocupando essa posição, e vervocê ai me emociona'. Isso é algo querecompensa”.

Entre uma parada e outra, umcasal acena para o ôni­bus e ao invés de em­barcar, leva uma sacolade frutas como pre­sente. Segundo a mo­torista isso é bemcomum, “ Ganho muitascoisas aqui, quando

entrego o ônibus muitos colegas tiramsarro, dizendo que não irei mais pre­cisar fazer compras” risos.

Claudinéia se sente realizada, epor sua vontade nunca mais deixariade ser motorista, mas o sonho de casarpode atrapalhar isso, pois seu compa­nheiro não aceita. “Bom, ele não gosta,mas até casar eu vou levando. Vai queeu consigo convencê­lo” complementa.

por Lucas Boamorte

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FOCA MAIS

Cidadania

“Eu sempre imponho respeito, porque elesdevem isso a mim e dessa maneira o pre­

conceito diminui".Claudinéia Corrêia

Histórias de respeito e competência no volante

FOTO: LENTE QUENTE8

A cultura do “nem todos”

o fim de maio, uma jo­vem menor de idade foiestuprada por 33 homensem uma comunidade po­bre do Rio de Janeiro. Ocaso, ainda longe da fase

de julgamento e com apenas sete in­diciados, ganhou repercussão mundi­al: o canal norte­americano CNNobservou que “o ocorrido abalou oBrasil, nação acostumada a elevadosníveis de violência”, e a catari Al Ja­zeera informou em seu site que “asimagens [do estupro] foram ampla­mente circuladas, chocando muitos nopaís que sofre com alto índice de cri­mes contra mulheres”.

Que o trágico acontecimentodominou nossas rodas de conversapor algum tempo, todos sabemos.Que milhares de mulheres indignadasse mobilizaram emmanifestações pe­dindo o fim dacultura do estupro,também. E, claro,sabemos que muitosde nós, homens,também ficamoshorrorizados e in­capazes de assimilara desumanidade dos33 estupradores.Mas nem todosencontraram em sio sentimento desolidariedade paracom a vítima. Enem todos aceitam que, de forma ououtra, somos todos culpados e cúm­plices de uma cultura assassina.

Por cada cartaz manchado detinta vermelha, símbolo do sangue demulheres violentadas, um homem selevantava de seu trono proverbial pa­ra bradar que a culpa não era dele. Acada afirmação incontestável de quetodos nós dos cromossomos XY so­mos estupradores em potencial, osangue de um santo autoproclamadofervia. Fervia a uma temperatura quenão ferveu quando viu a carioca de 16anos, desacordada e nua, ter sua exis­tência reduzida a um objeto. É a novaramificação da cultura do estupro: acultura do “nem todos”, que já contacom milhões de adeptos, incapazes desentar no banco de trás mesmo

quando o veículo não lhes pertence.Muitos dos praticantes do

“nem todos” se rotulam como femi­nistas – bradando aos quatro ventos oquão conscientes, respeitosos e des­construídos são, e exigem a coopera­ção de seus similares. Segundo asmaiores autoridades no assunto –mulheres – estes não entendem o Xda questão. “É um comportamentoenraizado. Os caras, influenciadospela sociedade patriarcal na qualsempre estiveram inseridos como opilar mais importante, não aceitamperder esse holofote”, explica MayaraScheffer, integrante da Frente Femi­nista Malalas, uma organização for­mada por universitárias de Ponta Grossa.

O nosso “não­protagonismo” éelaborado por Mayã Campos, inte­grante do Coletivo Feminista Resis­

tência Amapô etambém da Mala­las: “O movimentofeminista nasce daexistência de umarelação estruturalde opressão, naqual o homemoprime a mulher.Quando falamosque o homem nãodeve participar, éno sentido de que oprotagonismo temque girar em tornoda mulher”. Entãoisso quer dizer que

não podemos atuar de forma alguma?“O homem ajuda quando se posicionacontra atitudes machistas de outroshomens. Tem que questionar quandosua roda de amigos está objetificandoalguma mulher e tem que conversarcom o pai quando ele é machista com a

mãe”, afirma Mayã.

Eis, portanto, o X da questão:nada disso é sobre nós. “Acho impor­tante que os homens tenham a cabeçacada vez mais aberta a esse assunto.Que sejam receptivos. E que come­cem a agir de forma coerente com oque acreditam. Uma vez que isso forestabelecido ­ que se trata de respeito,empatia e apoio ­ o negócio anda”,explica Mayara. E quem somos eu ouvocê para contestar isso, meu amigo?

N

"O homem ajudaquando se

posiciona contraatitudes

machistas deoutros homens."

por Felipe Deliberaes

O preconceito social se manifesta, nas supostas 'pessoas de bem', através de cada asterisco metafórico colocado ao fim das palavras da jovem víti­ma de estupro no Rio de Janeiro e de cada argumento de defesa tecido em prol dos criminosos. E o “nem todos” anda de mãos dadas com ele. Jun­tos, o preconceito e o “nem todos” passam perto da favela – não por dentro – e dão esmola a uma criança negra na rua. Seguem, orgulhosos e denarizes mirando o céu, para uma manifestação verde, amarela e branca (muito branca) na Avenida Paulista. Voltam para casa, ligam o computador,e abrem seus murais virtuais. Escrevem, respectivamente: “É triste o que aconteceu, mas a menina vivia na favela com traficantes” e “Eu respeito todasas mulheres, porém elas não podem facilitar”. Discursos similares. A vítima dos 33 homens foi acusada de facilitar, forjar, e até ter colaborado para quefosse violentada. Reconheçamos que a cultura do estupro começa dentro de nós – este pode ser o primeiro passo para acabar com ela.

Nikolas Souza é advogado e pós­graduando em

Criminologia na Universidade Católica de Santos.

FOCA MAIS

OPINATIVO

9

AR

TE

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IVU

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ÃO