florestan e sua imagem do brasil - coutinho

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Busca: Selecione ... Marxismo e “imagem do Brasil” em Florestan Fernandes Carlos Nelson Coutinho 2000 1. Não são muitos os pensadores sociais que formularam, em suas obras, o que poderíamos chamar de uma “imagem do Brasil”. Imagens desse tipo articulam sempre juízos de fato com juízos de valor, na medida em que não se limitam a fornecer indicações para a apreensão de problemas específicos da vida social de nosso País (como, por exemplo, o sistema colonial, a industrialização, a consciência do empresariado, o movimento sindical, etc., etc.), mas se propõem — para além e/ou a partir disso — a nos dar uma visão de conjunto, que implica não só a compreensão de nosso passado histórico, mas também o uso dessa compreensão para entender o presente e, mais do que isso, para indicar perspectivas para o futuro. Forçando um pouco os termos, poderíamos dizer que tais “imagens” contêm sempre uma articulação entre ciência e “ideologia”, ou entre ser e deverser, o que nos permite classificálas — conforme sua perspectiva seja conservadora ou revolucionária — como de direita ou de esquerda. Para darmos uns poucos exemplos, há “imagens do Brasil” nas obras de Gilberto Freyre e de Oliveira Vianna, que são de direita, ou na de Caio Prado Júnior, que é de esquerda. Florestan Fernandes inserese entre esses poucos pensadores em cuja obra podemos encontrar uma “imagem do Brasil”. Diria mesmo que o mais valioso de sua vasta produção teórica — que abordou com competência tantos e tão variados temas, da organização social dos tupinambá aos fundamentos metodológicos da sociologia, dos problemas do negro às mudanças sociais no Brasil, das questões da escola pública às vicissitudes da revolução cubana — é precisamente essa “imagem do Brasil” que ela nos fornece. Tal “imagem” nos é apresentada, sobretudo, em A revolução burguesa no Brasil [1], que eu não hesitaria em definir como a sua obraprima, entre outras coisas pelo papel central que ocupa em sua produção teórica, na qual representa, de resto, um claro ponto de inflexão. Com efeito, embora Florestan retome nesse livro temas já abordados em obras anteriores, o faz em outro nível: tratase do seu primeiro texto onde o marxismo é assumido explicitamente como ponto de vista metodológico. Essa centralidade de RBB se confirma, de resto, quando constatamos que as análises da sociedade e da vida política brasileiras presentes nas produções posteriores de Florestan, sobretudo nos livros de combate e nos muitos artigos jornalísticos que reuniu em várias coletâneas, inspiramse indubitavelmente nas formulações já expostas no livro publicado em 1975. Antes de mais nada, é preciso sublinhar o fato de que a “imagem do Brasil” proposta por Florestan é uma imagem marxista e, portanto, revolucionária. Se não é difícil apontar a presença hegemônica do método funcionalista nos primeiros trabalhos de nosso autor, é também indiscutível que o seu empenho teóricometológico assume, sobretudo a partir de RBB, uma explícita e consciente dimensão marxista. Com isso, Florestan se insere numa tradição que se inicia com Octávio Brandão — o qual, malgrado suas evidentes debilidades teóricas, é o primeiro a tentar formular uma “imagem do Brasil” à luz do marxismo [2] —, passa por Caio Prado Júnior e pelo Partido Comunista Brasileiro [3] e chega até nossos dias. Certamente, seria uma contribuição do maior valor a realização de uma pesquisa que situasse a obra de Florestan na história do marxismo brasileiro. Como é óbvio, tratase de uma tarefa que não posso enfrentar aqui. Irei me limitar a propor algumas comparações entre a sua “imagem do Brasil” e aquela de Caio Prado, seu mais brilhante precursor marxista, tentando indicar tópicos concretos nos quais Florestan, em minha opinião, avança com relação ao autor de Formação do Brasil contemporâneo. (O que não anula o fato de que sua reflexão, como também veremos, continua a apresentar aspectos problemáticos.) Como subsídio inicial para encaminhar essa comparação, permitome lembrar que — tal como em Caio Prado Jr. e outros autores marxistas — o tema central da “imagem do Brasil” em Florestan é a questão da “revolução burguesa”, ou, mais precisamente, 1) dos processos que nos conduziram à “modernidade” capitalista; 2) das especificidades que, em função do modo dessa “revolução burguesa”, tornaramse próprias do nosso capitalismo; e, finalmente, 3) das tendências e caminhos que apontam para a superação dessa formação econômicosocial em nosso País. 2. Uma das primeiras observações a fazer, nessa comparação entre Caio Prado e Florestan, é que ambos divergem, em pontos substantivos, da “imagem do Brasil” formulada pelo PCB e pela maioria dos seus “subprodutos”. De modo extremamente esquemático, poderíamos resumir assim essa “imagem” pecebista: segundo ela, o Brasil continuaria a ser um país “atrasado”, semicolonial e semifeudal, bloqueado em seu pleno desenvolvimento para o capitalismo pela presença do latifúndio e da dominação imperialista. Em conseqüência, careceríamos ainda de uma “revolução democráticoburguesa”, que deveria ser feita com a participação de uma “burguesia nacional” supostamente antiimperialista e antifeudal. Em grande parte, tratavase da aplicação ao Brasil do modelo de análise dos países periféricos elaborado pelo VI Congresso da

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lorestan e Sua Imagem Do Brasil - Coutinho

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  • 25/07/2015 .:GramscieoBrasil:.

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    Busca: Selecione...

    MarxismoeimagemdoBrasilemFlorestanFernandes

    CarlosNelsonCoutinho2000

    1.Nosomuitosospensadoressociaisqueformularam,emsuasobras,oquepoderamoschamardeumaimagemdoBrasil.Imagensdessetipoarticulamsemprejuzosdefatocomjuzosdevalor,namedidaemquenoselimitamafornecerindicaesparaaapreensodeproblemasespecficosdavidasocialdenossoPas(como,porexemplo,osistemacolonial,aindustrializao,aconscinciadoempresariado,omovimentosindical,etc.,etc.),massepropemparaalme/ouapartirdissoanosdarumavisodeconjunto,queimplicanosacompreensodenossopassadohistrico,mastambmousodessacompreensoparaentenderopresentee,maisdoqueisso,paraindicarperspectivasparaofuturo.Forandoumpoucoostermos,poderamosdizerquetaisimagenscontmsempreumaarticulaoentrecinciaeideologia,ouentreseredeverser,oquenospermiteclassificlasconformesuaperspectivasejaconservadoraourevolucionriacomodedireitaoudeesquerda.Paradarmosunspoucosexemplos,himagensdoBrasilnasobrasdeGilbertoFreyreedeOliveiraVianna,quesodedireita,ounadeCaioPradoJnior,quedeesquerda.

    FlorestanFernandesinsereseentreessespoucospensadoresemcujaobrapodemosencontrarumaimagemdoBrasil.Diriamesmoqueomaisvaliosodesuavastaproduotericaqueabordoucomcompetnciatantosetovariadostemas,daorganizaosocialdostupinambaosfundamentosmetodolgicosdasociologia,dosproblemasdonegrosmudanassociaisnoBrasil,dasquestesdaescolapblicasvicissitudesdarevoluocubanaprecisamenteessaimagemdoBrasilqueelanosfornece.Talimagemnosapresentada,sobretudo,emArevoluoburguesanoBrasil[1],queeunohesitariaemdefinircomoasuaobraprima,entreoutrascoisaspelopapelcentralqueocupaemsuaproduoterica,naqualrepresenta,deresto,umclaropontodeinflexo.Comefeito,emboraFlorestanretomenesselivrotemasjabordadosemobrasanteriores,ofazemoutronvel:tratasedoseuprimeirotextoondeomarxismoassumidoexplicitamentecomopontodevistametodolgico.EssacentralidadedeRBBseconfirma,deresto,quandoconstatamosqueasanlisesdasociedadeedavidapolticabrasileiraspresentesnasproduesposterioresdeFlorestan,sobretudonoslivrosdecombateenosmuitosartigosjornalsticosquereuniuemvriascoletneas,inspiramseindubitavelmentenasformulaesjexpostasnolivropublicadoem1975.

    Antesdemaisnada,precisosublinharofatodequeaimagemdoBrasilpropostaporFlorestanumaimagemmarxistae,portanto,revolucionria.Senodifcilapontarapresenahegemnicadomtodofuncionalistanosprimeirostrabalhosdenossoautor,tambmindiscutvelqueoseuempenhotericometolgicoassume,sobretudoapartirdeRBB,umaexplcitaeconscientedimensomarxista.Comisso,FlorestanseinserenumatradioqueseiniciacomOctvioBrandooqual,malgradosuasevidentesdebilidadestericas,oprimeiroatentarformularumaimagemdoBrasilluzdomarxismo[2],passaporCaioPradoJniorepeloPartidoComunistaBrasileiro[3]echegaatnossosdias.Certamente,seriaumacontribuiodomaiorvalorarealizaodeumapesquisaquesituasseaobradeFlorestannahistriadomarxismobrasileiro.Comobvio,tratasedeumatarefaquenopossoenfrentaraqui.IreimelimitaraproporalgumascomparaesentreasuaimagemdoBrasileaqueladeCaioPrado,seumaisbrilhanteprecursormarxista,tentandoindicartpicosconcretosnosquaisFlorestan,emminhaopinio,avanacomrelaoaoautordeFormaodoBrasilcontemporneo.(Oquenoanulaofatodequesuareflexo,comotambmveremos,continuaaapresentaraspectosproblemticos.)Comosubsdioinicialparaencaminharessacomparao,permitomelembrarquetalcomoemCaioPradoJr.eoutrosautoresmarxistasotemacentraldaimagemdoBrasilemFlorestanaquestodarevoluoburguesa,ou,maisprecisamente,1)dosprocessosquenosconduzirammodernidadecapitalista2)dasespecificidadesque,emfunodomododessarevoluoburguesa,tornaramseprpriasdonossocapitalismoe,finalmente,3)dastendnciasecaminhosqueapontamparaasuperaodessaformaoeconmicosocialemnossoPas.

    2.Umadasprimeirasobservaesafazer,nessacomparaoentreCaioPradoeFlorestan,queambosdivergem,empontossubstantivos,daimagemdoBrasilformuladapeloPCBepelamaioriadosseussubprodutos.Demodoextremamenteesquemtico,poderamosresumirassimessaimagempecebista:segundoela,oBrasilcontinuariaaserumpasatrasado,semicolonialesemifeudal,bloqueadoemseuplenodesenvolvimentoparaocapitalismopelapresenadolatifndioedadominaoimperialista.Emconseqncia,careceramosaindadeumarevoluodemocrticoburguesa,quedeveriaserfeitacomaparticipaodeumaburguesianacionalsupostamenteantiimperialistaeantifeudal.Emgrandeparte,tratavasedaaplicaoaoBrasildomodelodeanlisedospasesperifricoselaboradopeloVICongressoda

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    RodrigoRetnguloImagem do PCB

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    InternacionalComunista,realizadoem1928,ummodelocujosprincipaiselementosforamextradosdeumaabusivageneralizaodarealidadechinesadapoca[4].Independentementedocartermaisoumenossofisticadocomquefoiapresentadaessaimagempecebista,oquesepodeconstatarque,emtodasassuasvariantes,eladesconheceofatodequeoBrasiljhaviarealizadosuarevoluoburguesaeque,emconseqncia,pelomenosdesdeaRepblica,suaformaoeconmicosocialjera,aindaquecomimportantesespecificidades,detipocapitalista.Ora,tantoCaioquantoFlorestanrompemcomessaviso:paraeles,oBrasilcontemporneoumpasplenamentecapitalista,quejteriaexperimentadoportantoumarevoluoburguesa,maseessemasquetornatosignificativasassuasobras,inclusivenoquadrodonossomarxismoumarevoluoburguesadetiponoclssico.

    Natradiomarxista,hpelomenosdoisconceitoselaboradosparaapreenderprocessosdetransionoclssicaparaocapitalismo,ouseja,processosquenoseguiramoparadigmadasrevoluesinglesasdosculoXVIIoudaGrandeRevoluoFrancesadosculoXVIII:refiromenoodeviaprussiana,elaboradaporLenin,ederevoluopassiva,cunhadaporGramsci.EmLenin,anooservesobretudoparadefinirosprocessosdetransioparaocapitalismonocampo,evidenciandoofatodeque,noscasosdeviaprussiana,conservamsenanovaordemfundadapelocapitalclarassobrevivnciasdasformasprcapitalistas,como,porexemplo,ousodacoeroextraeconmicanaextraodoexcedenteproduzidopelostrabalhadoresruraisemGramsci,oconceitousadoparaconceituarprocessosdemodernizaopromovidospeloalto,nosquaisaconciliaoentrediferentesfraesdasclassesdominantesumrecursoparaafastaraparticipaodasmassaspopularesnapassagemparaamodernidadecapitalista.

    EmboraCaioPradonoconhecessenenhumdessesdoisconceitos,certamentechegouemsuaobraamuitasconclusesanlogassdeLeninedeGramsci,podendoseassimdizerqueelereinventouosconceitosdosdoispensadoresmarxistas.Bastarecordaraqui,porumlado,suasbrilhantesanlisesdaquestoagrrianoBrasil,nasquaismostracomoatransioparaamodernidadesedeuentrensnoscomaconservaodagrandepropriedaderuralherdadadaColnia,mastambmcomamanutenoderestosprcapitalistas(corretamentedefinidosporelecomoescravistasenocomofeudais)e,poroutro,suainstiganteexposiodoprocessodaIndependnciabrasileira,definidacomoumarevoluopeloalto,produzidapormeiodearranjosdecpulaentreasclassesdominantes,comcompletaexclusodoprotagonismodascamadaspopulares[5].Decerto,FlorestanFernandesdispedeumestoquedecategoriasmarxistasbemmaisricodoqueaqueleutilizadoporCaioPrado.Comefeito,FlorestannosconhecemuitobemaproduotericadeMarxeEngels[6],mastambmrevelaterestudadoprofundamenteLenin,cujapresena,deresto,marcanteemsuaproduotericaapartirdeRBB.Nessaobra,encontramosaindaumarefernciaaGramsci,autorqueCaioPrado,mesmoemsuaobraposteriorpublicaodosCadernos,parecedesconhecerinteiramente.Contudo,mesmoreconhecendoagrandefamiliaridadedeFlorestancomaliteraturamarxista,importantefazeraquidoisregistros.EmboracitevriasobrasdeLeninnasubstanciosabibliografiacontidaemRBB,surpreendentequenoconsteentreelasOprogramaagrriodasocialdemocracia,escritoem1907,queotextoondeorevolucionriorussoapresentademodomaissistemticooseuconceitodeviaprussiana,ouseja,deumcaminhonoclssicoparaocapitalismo.Talvezporisso,FlorestanemborasevalhaemsuaanlisedoBrasildedeterminaesmuitoprximasdaquelascontidasnoconceitodeLeninjamaisempregaexplicitamente,seguindonissoCaioPrado,anoodeviaprussiana.Poroutrolado,emboraonicotextodeGramsciindicadonamencionadabibliografiasejaovolumedaediotemticadosCadernosdocrcerereferenteaIlRisorgimentoouseja,precisamenteaqueleondeestocontidasasprincipaisobservaessobrerevoluopassiva,Florestantampoucosevaledesseconceitogramsciano.Maisdoqueisso,eleparecenoterapreendidocorretamenteosentidodessanoogramsciana,jqueafirma(emboracomacauteladedizerprovavelmente)oseguinte:SeseconsideraraRevoluoBurguesanaperiferiacomoumarevoluofrustrada`,comofazemmuitosautores(provavelmenteseguindoimplicaesdainterpretaodeGramscisobreaRevoluoBurguesanaItlia),precisoprocedercommuitocuidado(RBB,294,grifomeu).Naverdade,Gramscinoserefererevoluopassivacomoumarevoluofrustrada,isto,fracassadaouinexistenteaocontrrio,trataseparaeledeumtipoespecficoderevoluoexitosa,aindaquefeitaatravsdeconciliaespeloaltoedaexclusodoprotagonismopopular,oquegeraumprocessodetransformaespolticosociaisefetivasdoqualresulta,emsuaspalavras,umaditadurasemhegemonia[7].Ora,precisamenteesseotipoderevoluoburguesaqueFlorestanjulgaterocorridonoBrasil,sendoevidente,ademais,aanalogiaentreaditadurasemhegemoniadeGramsciesuaprprianoo(sobreaqualvoltaremosemseguida)deautocraciaburguesa.Cabeaindaobservarque,quandoFlorestanempregaemsuaobra(oque,alis,fazcomfreqncia)ostermoshegemoniaesociedadecivil,nuncaosempreganosentidoespecficocomqueosmesmossoutilizadosnaobradeGramsci.

    Dequalquermodo,comojdisse,indiscutvelqueFlorestanelaboraasuaimagemdoBrasilmedianteumestoquecategorialmarxistabemmaisricodoqueaquelepresentenaproduodeCaioPrado.AocontrriodeFlorestan,quequasesempreseapiaemconceitos,Caioconstrisuasanlisesdemodobemmaisintuitivo,oqueastornamuitasvezesambguasoupoucoprecisas.Vejamosumexemploconcreto.FlorestandizexplicitamentequeoBrasilevoluiuparaopresentecapitalistaapartirdeumaformaoeconmicosocialquenoeracapitalista.JnoautordeFormaodoBrasilcontemporneo,aocontrrio,adefiniodanaturezaeconmicosocialdenossopassadoaparecedemodoimpreciso:atribuindosformasdacirculaoaprioridadenadefiniodeumaestruturaeconmica[8]atribuioquecontradizclaramentea

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    RodrigoRetnguloLnin, Via Prussiana: campo -> transio onde se conserva na nova ordem claras formas pre capitalistas, como o uso de coero extra econmica na extrao de excedente dos trabalhadores rurais.

    RodrigoRetnguloGramsci, Revoluo Passiva: processos de modernizao feitos pelo auto, com acordo entre diferentes fraes das classes dominantes para afatar as massas populares.

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    liomarxiana,Caioterminaporconfundirapresenaderelaesmercantisnaeracolonialeimperialcomaexistnciadeumaordemcapitalista(aindaqueincompleta),oqueoleva,entreoutrascoisas,afalardeumasupostaburguesiaagrriaparadefinirosnossoslatifundiriosescravocratas.Isso,evidentemente,prejudicasuaimagemdoBrasilnosnoqueserefereaopassado,mastambmaopresente.Porexemplo:emboraelediga,superandooslimitesdaimagempecebista,queoBrasilmodernojplenamentecapitalista,aindaqueconservandoprussianamenteelementosdavelhaordemcolonial,terminaporsubestimarasnovidadesintroduzidasemnossoPaseporconstruirassimumaimagemdoBrasilcontemporneoondeoquepredominanoaemergnciadonovo,massimaconservaodovelho.Escrevendoem1977ereferindoseaopresente,Caionohesitaemafirmarqueosistemacolonialbrasileiroseperpetuouecontinuamuitosemelhante,isto,umaeconomiafundadanaproduodematriasprimasegnerosalimentaresdemandadospelomercadointernacionalouque,entrens,aindanohnadaqueseassemelheaumprocessodeindustrializaodignodestenome[9].Taisafirmaes,semdvida,comprometemgravementeasuavisodopresentebrasileiroe,emconseqncia,tornamimprecisasastarefaspolticoestratgicasdarevoluobrasileiraqueelenospropeemsualtimaobrasignificativa.

    Florestan,aocontrrio,afirmaexplicitamentequeoBrasil,naspocascolonialeimperial,noeracapitalista,razopelaqualsuaclassedominanteformadapeloslatifundiriosescravistasnosemovia,aocontrriodoquesupunhaCaio,combasenumalgicacapitalista,masseorientavaporoutraracionalidade,chamadaporeledepatrimonialista.precisamenteessacorretapercepoquelhepermiteconstataraemergncia,apartirdaexpansoderelaescomerciaisnapocaimperial,deduasnovascamadassociais,adosfazendeirosdecafeadosimigrantes(RBB,sobretudo86s.),asquaisemborasemromperinteiramentecomavelhaordempatrimonialistacomeamaagirsegundoumaracionalidadepropriamentecapitalista,oquelhespossibilitadesempenharopapeldeprotagonistasprincipaisdarevoluoburguesaqueseprocessouemnossoPas.Comefeito,tampoucoFlorestanescapadealgumasambigidades.Revelandoestaraindapresoaoecletismobemtemperado[10]quemarcasuaproduoinicial(masdoqual,ameuver,eleselibertaquaseinteiramenteapartirdaltimapartedeRBB),FlorestanseguindonissoMaxWeberdefineessaordemprcapitalistacomoumasociedadeestamentaledecasta,reservandoapenasparaocapitalismoadesignaodesociedadedeclasses.Nopossoaquimedetersobreofatodeque,segundoomarxismopelomenosdepoisdeAideologiaalem,ondeMarxeEngelsparecemaindasuporqueclassessociaissexistemnocapitalismo,apresenadeestamentosoudeordens,isto,desegmentosfundadosnumaexplcitadesigualdadejurdica,noimplicadenenhummodoanegaodarealidadeeconmicosocialdasclasses[11].Severdade,comolemosnoManifestocomunista,queahistriadetodasassociedadesatagoratemsidoahistriadaslutasdeclasse,entotarefadosmarxistasdefinircomprecisoquaiseramasclassessociaisqueformavamaestruturadoBrasilnaspocascolonialeimperialecomoseprocessavamaslutasentreelas.

    Naverdade,jemRBB,Florestannoserecusaaenfrentaressatarefa:emborasevalhadeumaterminologiaweberiana(patrimonialismo,estamento,etc.),elenosapresentanesselivroumaanlisedasmotivaescomportamentaisdossenhoresdeescravosqueseaproximaemmuitoscasosdeumaanlisemarxista,jquetaismotivaessovinculadassuagnesenasrelaessociaisdeproduo.Deresto,quandoanalisaosprocessosdetransiodasociedadeestamentalparaocapitalismo,Florestannodeixadefazerintervirnessaanliseanoodalutadeclasses,oquenovamenteoaproximadomarxismo.Poroutrolado,cabeanotarqueousodenoesweberianasemRBBrestringese,essencialmente,spartesIeIIdolivro,queFlorestannosadverte,naNotaexplicativa(RBB,9),teremsidoescritasem1966naparteIII,redigidaem19731974,comoeletambmnosinforma,anoodesociedadeestamentalcedelugaraosconceitosdeescravismoouescravismocolonial,oriundosdatradiomarxista.Tudoindicamastrataseapenasdeumasugestoparaposteriorexameque,entre1966e1973,Florestanaprofundouosseusestudosmarxistas,emparticulardopensamentodeLenin,cujosconceitos,deresto,estofortementepresentesnessaparteIIIdeRBB,precisamenteaquelamaismaduradolivroemquesto.

    HaindaumoutrotpiconoqualFlorestanvaicertamentealmdeCaioPrado.Enquantoesseltimodeixaoproblemadaespecificidadedenossarevoluoburguesanasombramaissugerindopistasdoqueefetivamenteformulandoconceitos,oprimeirocolocaexplicitamenteaquestoebuscadarlheumtratamentotericoadequado.Eledizcomclareza,tendoprovavelmentecomoalvoosautorespecebistas:Noexiste,comosesupunhaapartirdeumaconcepoeuropocntrica(vlidaparaoscasosclssicos`daRevoluoBurguesa),umnicomodelobsicodemocrticoburgusdetransformaocapitalista.[...]Atrecentemente,sseaceitavaminterpretativamentecomoRevoluoBurguesamanifestaesqueseaproximassemtipicamentedoscasosclssicos`.[...]Tratavase,quandomenos,deumaposiointerpretativaunilateral(RBB,28990).Florestansecolocaassim,complenaconscincia,omesmoproblemajenfrentadoporLenineporGramsci,ouseja,odadefiniodeviasnoclssicasparaocapitalismo.Ora,essaconscincialhepermite,aindaemcomparaocomCaioPrado,ousoderecursostericosmaisprecisosparaentendernoapenasoespecficomododarevoluoburguesanoBrasil,mastambmaparticularidadedocapitalismoqueirresultardessarevoluo.Semnegarqueaconservaodoatraso,dadependnciaexterna,daselvagemexploraodotrabalho,doautoritarismo,etc.,geraimportantesdeterminaesespecficasdenossomodernocapitalismo,Florestanevitaporm,aomesmotempo,atendnciacaiopradianadedarprioridadeataiselementosatrasadosnacaracterizaodenossopresente:graasaumavisomaismediatizada,eleressaltatambmostraosnovosque

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    RodrigoLinhaCrticas a Caio Prado. Atribuiu s formas de circulao a prioridade na definio da estrutura econmica, caracterizando o passado como capitalista. Confudiu por isso latifundirios com burguesia agrria. Superou PCB por entender uqe era capitalsmo contemporneo com reminiscncias, mas errou ao no ver inovao.

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    ocapitalismointroduznavidasocialbrasileira,destacandoentreelesaindustrializaoeaurbanizao,orevolucionamentodouniversodevalores,anovaestratificaosocial,etc.Comisso,aimagemdoBrasilelaboradapelonossomarxismodumsignificativopassofrente,possibilitandoumavisomaisprecisaecomplexanosdascontradiesdonossopresente,mastambmdastarefasestratgicasquesecolocamaosquepretendemconstruirumnovofuturo.

    3.Lenin,nadefiniodospressupostosdeumavianoclssicaparaocapitalismo,recorresobretudoaomododeresoluodaquestoagrria.Florestan,aocontrrio,sublinhaumaoutracaractersticaparaexplicaranoclassicidadebrasileira:paraele,comefeito,apeculiaridadedenossarevoluoburguesaresultariaessencialmentedofatodequeamesmaseprocessanumpasdependente,primeirodocolonialismo,hojedoqueelechamadeimperialismototal.Paraele,residiriasobretudonessecarterdependenteesubalternodenossaformaosocialarazoporquenoseguimosumaviaclssicaparaamodernidadeou,maisprecisamente,foiportermossempreocupadoumaposiodependentenoquadrodocapitalismointernacionalquenopudemosconhecerumarevoluoburguesacapazdeforjaremnossoPasumasuperestruturapolticaque,referindoseaBarringtonMooreJr.,Florestanchamadeliberaldemocrtica.Aoelencarostraosmaisperversosdoquedefinecomoaautocraciaburguesabrasileira,Florestannosadverteparaofatodequetaistraossotpicosdaorganizaoedofuncionamentodasociedadedeclassessobocapitalismodependenteesubdesenvolvido(enosemanifestamdamesmaformaondeaRevoluoBurguesasegueseucursoclssico`ouliberaldemocrtico)(RBB,327).Almdessadependnciaaocolonialismoeaoimperialismo,Florestanmencionatambm,comofatorexplicativodavianoclssicanoBrasil,ocartertardiodenossodesenvolvimentocapitalista,queseprocessarianummomentohistriconoqual,jtendoosocialismosecolocadonaagendapolticamundial,ocorreriaumabatalhadevidaoumorteentreeleeoimperialismo(RBB,352).Ora,segundoFlorestan,issofazcomqueaburguesiabrasileiraprefirasealiarsvelhasclassesdominanteseaossegmentosmilitares,aoinvsdetentarumcompromissomaispermanentecomasclassessubalternas,compromissoque,serealizado,implicariaumaampliaodosdireitosdecidadaniaentrens.Emestreitaarticulaocomadependncia,quetornaaburguesiabrasileiracarentedeautonomia,otemoraoproletariadoeaosocialismocontribuiuaindamaisparafazercomqueessaclasseadotasse,nabuscadaconsolidaodeseudomnio,ocaminhodeumacontrarevoluoprolongada(RBB,310s.),queseapiapoliticamenteemformasmaisoumenosexplcitasdepoderautocrtico.

    Decerto,essecarterdependenteetardiodenossodesenvolvimentocapitalistaexplicamuitodocarterdenossarevoluoburguesa,masaocontrriodeFlorestanpensoquenoexplicatudo[12].AAlemanhaeoJapo,porexemplo,emboranofossempasesdependentes,experimentaramviasnoclssicasparaocapitalismo,marcadastambm,pelomenosduranteumlongoperodo,pelaconstruoepreservaodeestruturaspolticasabertamenteditatoriaisalmdisso,emboraemambososcasosestivssemosdiantedecapitalismostardios,issonoimpediuqueAlemanhaeJaposetornassem,porsuavez,pasesimperialistas.Comovimos,paraLenin(e,decertomodo,tambmparaGramsci),ofatordecisivonageraodeumavianoclssicaparaocapitalismoumfatorinterno,residindosobretudonomodopeloqualocapitalismoresolveaquestoagrria:aviaclssicaimplicaumasoluorevolucionria,comadestruiodagrandepropriedadeprcapitalistaeacriaodeumcampesinatolivre,enquantoocaminhonoclssicotemlugarquandoagrandepropriedadeeavelhaclasselatifundiriaseconservam,introduzindoprogressivamenteepeloaltonovasrelaescapitalistas.Ora,apercepodissoumdospontosfortesdaimagemdoBrasilpresentenaobradeCaioPrado,quededicouimportantesestudosanalisedenossaquestoagrria[13],nosquaismostraqueovelholatifndiosetornoucapitalistasemperdermuitasdesuasvelhascaractersticas,emparticularousoeoabusodeformasdecoeroextraeconmicasobreotrabalhador.PensoassimqueadefinioflorestanianadaespecificidadedarevoluoburguesanoBrasilganhariaaindamaisemdensidadese,almdasdeterminaesresultantesdocarterdependenteetardiododesenvolvimentocapitalistaentrens,incorporassetambmasdeterminaesprovenientesdomododeresoluo(oudenoresoluo)danossaquestoagrria,tobemconceptualizadonaobradeCaioPrado.

    Mas,independentementedisso,ofatoque,combaseemseuconceitodeumarevoluoburguesadetiponoclssico,Florestannosreexaminoumomentosessenciaisdenossopassado,mastambmpropsumabrilhanteinterpretaomarxistatalvezamaislcidadequedispomosathojedaquiloque,napocaemqueRBBfoipublicado,constituaonossopresentehistrico.Essaanliseflorestanianadopresentedesdobraseemtrscomplexosproblemticosestreitamentearticuladosentresi.Noprimeirodeles,Florestandissecaaslutasdeclassequeculminaramnogolpede1964,porelecorretamentedefinidocomoumacontrarevoluopreventiva,desfechadaporumaburguesiafinalmenteunificadapelotemorcomumdeseusvriossegmentostumultuosaascensodosmovimentospopularesnoinciodosanos60.Nosegundo,eleconceituaosprincipaistraospolticoinstitucionaisdoregimequeresultoudogolpe,regimeaoqualdonomedeautocraciaburguesa[14]segundoFlorestan,esseregimequeGramscicertamentesubsumiriasobotipogeraldefinidoporelecomoditadurasemhegemoniaseriaaexpressodaimpossibilidadeestruturaldaburguesiabrasileiradeampliarminimamentesuasbasesdeconsensojuntoaossegmentossubalternos,oqueaobrigariaarecorrerdemodosistemticoepermanentecoeroabertacontraosdebaixo.

    Finalmente,noterceirodetaiscomplexosproblemticos,Florestanjserevelavacapazemboraestivesseescrevendoem197374deapontarasprincipaiscaractersticasdoprojeto

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    deaberturaqueentoapenasseiniciava,umprojetopropostopeloregimemilitarparaenfrentarascrescentesdificuldadeseconmicasepolticasemqueestavasendoenvolvido.Paranossoautor,aimplementaodesseprojetosignificariaapenasqueaautocraciaburguesalevaaumademocraciarestritatpica,quesepoderiadesignarcomoumademocraciadecooptao(RBB,358359).Ouseja:medianteumprocessoqueGramscichamariadetransformismo,oregimebuscavaperpetuarsenopoderpormeiodacooptaodealgunssegmentosmoderadosdaoposio,massemabandonarumfatosobreoqualFlorestaninsistiasemvacilaesasuanaturezaessencialmenteautocrtica.Combaseemsuaanlisedascaractersticasespecficasdanossaburguesia,Florestannegavaenfaticamenteapossibilidadedequeelapudessesereciclarestruturalmente,adotandoformasmaisconsensuaisoudemocrticas(hegemnicas,comodiriaGramsci)noexercciodoseupoderdeclasse.Porisso,elenosadvertequenosepodedizerquetalditaduradeclasse[implantadaem1964]sejatransitria(RBB,350).Deresto,comoveremos,essanegaosemantmemseusescritosposterioresaRBB:atsuamorte,Florestansempresupsqueemborapudessealteraralgunstraosinessenciaisdoseumododedominaoaburguesiabrasileiraseriaincapazderenunciaraestruturasautocrticasdedominao,jquetalrennciaporiaseriamenteemrisconososeupoder,masasuaprpriaexistnciacomoclasse.

    4.EssasuposiomepareceestarnaraizdeconcepesequivocadaspresentesnaproduotericaejornalsticadoltimoFlorestan.Emboradenunciassecomlucidezoslimitestransformistasdoprojetodeabertura,FlorestanparecetersubestimadoemseustrabalhosposterioresaRBBofatodequetalprojetofoiatravessadoecontraditadoporumprocessodeabertura,isto,porummovimentosocialobjetivoqueresultoudaativaodasociedadecivil,emparticulardossegmentosligadossclassestrabalhadoras[15].Oprocessodeabertura,atuandodebaixoparacima,abriueconquistouespaosquenemdelongeestavamprevistosnoprojetogeiselianogolberiano,quepreviaapenasumareformadaautocraciapeloalto,comaconservaodesuascaractersticasessenciais.Ora,em1974,nomomentoemqueescreveualtimapartedeRBB,eraabsolutamentecompreensvelqueFlorestansubestimasseaspotencialidadesdesseprocessodeabertura,jqueelesiriaefetivamentetomarcorpoedimensonacionalapartirdasgrevesdoABC,ocorridasentre1978e1980,edamemorvelcampanhapelasdiretasj,queculminaem1984.Porisso,tambmcompreensvelemboraissoexpressemaisumwishfullthinkingdoqueumaanliserealistaquesuaobraprimaseencerresugerindoquetnhamosapenasumaalternativa:ouapermannciadaautocraciaburguesa(aindaquesobasnovasvestesdademocraciadecooptao)ouarevoluosocialista(concebida,deresto,comoumaexplosoviolenta).Vejamosoqueelediz,noltimopargrafodeRBB:Nocontextohistricoderelaeseconflitosdeclassequeestemergindo,tantooEstadoautocrticopoderservirdepioparaoadventodeumautnticocapitalismodeEstado,strictosensu,quantoorepresamentosistemticodaspressesedastensesantiburguesaspoderprecipitaradesagregaorevolucionriadaordemeaeclosodosocialismo(RBB,366).

    OsfatossubseqentespublicaodeRBB,emboratenhamconfirmadoalgumasdasprevisesaliformuladas,parecemmeterdesmentidooutrastantas.Pornoteravaliadoadequadamenteaspotencialidadesdoprocessodeabertura,Florestancontinuousubestimando,emseusltimostrabalhos,opesoqueossetorespopularese,emparticular,anovaclassetrabalhadorativeramnosfenmenosdatransiodemocrticae,conseqentemente,nadefiniodasinstituiespolticas(sobretudoaConstituiode1988)quedaderivaram.Dadaaconcretacorrelaodeforasqueentosemanifestou,essanovainstitucionalidadefoifortementemarcadapelaslutasdasclassessubalternasameuver,atransioembora,emseumomentoresolutivo,tenhareproduzidoavelhatradiobrasileiradosarranjospeloaltotambmfoideterminada,emparte,pelaspressesqueprovinhamdebaixo.Porisso,nodemodoalgumcasualqueaConstituiode1988,querecolheuemseutextomuitasdessaspresses,tenhasetornadodesdeoGovernoColloratoatualGovernoCardosoumdosprincipaisalvosdalutaqueaburguesiavemtravandoparaconsolidarentrensumanovaformadedominaodeclasse.Emsuacaracterizaodoperodo,Florestanreteveapenasomomentodareformapeloalto,tantoassimquedesignouoprocessodetransioemcursocomoumatransaoconservadoraemconseqncia,anovainstitucionalidadelheapareciacomonadamaisdoqueumaensimamanifestaodaautocraciaburguesa,ou,emsuasprpriaspalavras,comooltimoesurpreendenterefgio[daditadura][16].Porisso,elecontinuouasuporqueonicocaminhoparaalutapelademocraciaepelosocialismonoBrasilseriaodeumarevoluoexplosivaeviolenta.Assim,escrevendoemfinalde1985,elenosdiz:Oquesedestroou?AilusodequeumpascomooBrasilpossaexpungirsedeiniqidadessecularespormeiospacficos[...].Ademocraciaexigeumarevoluosocial[que]rebentadebaixo[...].Oscaminhospacficosestobloqueadoseasesquerdas`[...]precisamaprenderaavanarrevolucionariamentenadireodesuaorganizaoinstitucional[17].Dessemodo,Florestanparecenotervistoqueasnovascondiesabertaspeladerrotadaditaduraimpunhamsforaspopularesaadoodeumanovaestratgiadeluta,estratgiaqueparausarosconhecidosconceitosdeGramscijnodeviarecorrerguerrademovimento,aochoquefrontal,massimguerradeposio,oqueimplicavaanecessidadedesubstituirapropostadeumarevoluoexplosivaeviolentapeladeumarevoluoprocessualehegemnica.

    EsseslimitesdaimagemdoBrasilnoltimoFlorestan,contudo,parecemmeresultarnosdessasubestimaodoprocessodeaberturanaavaliaodanovainstitucionalidadeconstrudadepoisde1985,mastambmdeumadiscutvelafirmaojpresenteemRBB.Nesselivro,comovimos,suacorretaanlisedarevoluoburguesanoBrasilcomomanifestaodeumavia

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    noclssicaqueimplicouemmomentosdecisivosousosistemticodeformasabertamenteditatoriaisecoercitivas,combinasecomumageneralizaoproblemtica,isto,comaidiadequeanossaburguesiacareceuecarecersempre,parapoderexercerseudomniodeclasse,dessasformasditatoriaisouautocrticasdepoderpoltico.(Umaanliseempricaconstataqueorecursoaformasnoclssicasderevoluoburguesanoimpedequeopasqueasadotouconhea,emdeterminadasetapasdesuahistria,estruturaspolticasliberaldemocrticasbastarecordaraquioscasosdoJapo,daAlemanha,daItliaoudaEspanha.)EssageneralizaofazcomqueFlorestannoleveemconsiderao,emsuasanlises,algunsperodoshistricosemqueaburguesiabrasileiraseviuobrigadaarecorreraformasdedominaoqueimplicamelementosdehegemonia(nosentidogramsciano),ouseja,buscadeumrelativoconsensojuntosclassessubalternas.Pensoqueummovimentodessetipoocorreuduranteochamadoperodopopulista,quandoaburguesiaatravsdaideologianacionaldesenvolvimentistabuscou(eemgrandemedidaobteve)umahegemoniaseletivajuntoasegmentosdasclassessubalternas,emparticularjuntoaostrabalhadoresurbanosenquadradosnaCLT[18].MasoutraaopiniodeFlorestan.Paraele,ademagogiapopulista`[...]eraumaabertamanipulaoconsentidadasmassaspopulares.[...]Noexistiaumademocraciaburguesafraca,masumaautocraciaburguesadissimulada(RBB,340).Tambmoperodoqueseiniciacomoprocessodeaberturaequechegaatnossosdiaspodesercaracterizado,ameuver,comoumcontextonoqualaburguesiaconstrangidapelascondiesimpostaspelanovacorrelaodeforasentreelaeasclassessubalternasvoltaabuscarformashegemnicasparaconsolidarsuadominao[19].Mas,assimcomoafirmaqueopopulismonopassoudeumaautocraciaburguesadissimulada,Florestantambmsupe,comovimos,queoperodoiniciadoem1985apenasoltimorefgiodaditadura.Aofazeressasobservaescrticas,nopretendodemodoalgumnegarofatoindiscutveldeque,comseusalutarradicalismo,FlorestandesmistificoumuitasdasilusesquedominavamsetoresimportantesdaesquerdaemsuaavaliaodasituaoabertacomachamadaNovaRepblica,umaexpressoque,lucidamente,elesemprefaziaacompanharoudeaspasoudeumpontodeinterrogao.QuandohojeluzdoqueagorasabemossobreosGovernosSarney,ColloreCardosoreexaminamosadennciaflorestanianadastendnciasregressivaseconservadorascontidasnanovafasehistricaqueentoseiniciava,somosforadosaconstatarquemuitodaquiloqueaalgunsdensparecianapocamanifestaodosectarismodovelhoFlorestanera,aocontrrio,umaconfirmaodasualucidezanalticaedasuacapacidadedepreviso.Decerto,continuopensandoqueasalternativascontidasnaconjunturaqueseinicianoBrasildepoisde1985nocabemnoestreitodilemaformuladonofinaldeRBBereproduzidonosltimostextosdeFlorestan:ouautocraciaburguesa,aindaquemascaradasobnovasformas,ourevoluosocialista,concebidacomoumprocessoexplosivoqueromperadicalmentecomanovainstitucionalidadequeresultoudatransio.Essainstitucionalidade,queostrabalhadorescontriburamparacriar,parecemeseropontodepartidadanossadifcillutaparaderrotarareestruturaodopoderburgus(queagoratentaseconsolidarsobumahegemonianeoliberal)e,aomesmotempo,paraconstruirpormeiodeumaestratgiareformistarevolucionriaascondiesparaaimplantaodosocialismoemnossoPas.Masofatoque,graasentreoutrascoisasaoradicalismodeFlorestan,sabemosagoraqueaesquerdabrasileiranopodetravaressalutasenoselibertardeumaduplailuso:porumlado,adequeosavanosobtidosnaconstruodenossademocraciajestoconsolidadose,poroutro,adeque,aindaqueosconsigamosconsolidar,taisavanossejamsuficientespararealizaraverdadeiraemancipaohumanadonossopovo.Ademocraciaquecomeamosaconstruirsseconsolidardemododefinitivoesrealizarplenamenteseuvaloruniversalnohorizontedasuaprogressivaradicalizao,ouseja,dasuatransformaoemdemocraciasocialista.

    5.Ascrticasquesugerimosaqui,aotentaranalisaraheranatericaepolticadeFlorestanFernandes,nopretendemsermais(mastambmnosermenos)doquepropostasdeautocrtica.EmboranenhummarxistatenhaelaboradoumaimagemdoBrasiltoricaelcidacomoaqueFlorestannoslegou,sabemoscomoeletambmosabiaqueoproletariadonodeverecuardiantedenenhumaautocrtica,poissaverdadepodelevlovitriae,porisso,aautocrticadeveserseuelementovital[20].AtarefacoletivadeelaborarumaimagemdoBrasilcombasenomarxismoparaaqual,depoisdeCaioPradoJnioredeNelsonWerneckSodr,Florestandeucertamenteamaiorcontribuioumatarefasempreemaberto,peloquejamaispoderemosnossatisfazercomosresultadosjobtidos.Ora,paraocumprimentodetaltarefa,malgradoosseuseventuaislimites,Florestannocontribuiuapenascomsuasbrilhantesreflexestericas,mastambmcomoseuextraordinrioexemplomoral.Oradicalismocomqueeleempreendeusuaatividadeintelectualepoltica,sobretudonaltimafasedesuavida,umalioquens,intelectuaismarxistas(masnosmarxistas),nopodemosenodevemosesquecer.Contraostrnsfugaseoscapitulacionistas,contraosqueoptarampelafalsademocraciadecooptao,aliodeFlorestannosrecordaqueolugardosintelectuaisdignosdessenomeaoladodasclassessubalternas,nadifcilmascadavezmaisnecessrialutapelarevoluodemocrticaesocialista.

    CarlosNelsonCoutinhoprofessortitulardaUFRJ.

    Notas

    [1]FlorestanFernandes.ArevoluoburguesanoBrasil.Ensaiodeinterpretaosociolgica.Rio

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    deJaneiro:Zahar,1975,aseguircitadanocorpodotextocomoRBB,seguida,quandocouber,pelonmerodapgina.

    [2]Cf.FritzMayer[pseudnimodeOctvioBrando].Agrarismoeindustrialismo.EnsaiomarxistaleninistasobrearevoltadeS.PauloeaguerradeclassesnoBrazil.BuenosAires[naverdade,essalocalizaovisavaaconfundiracensura],s.e.,1926.ParaumadevastadoracrticadesselivrodeBrando,cf.LeandroKonder.Aderrotadadialtica.RiodeJaneiro:Campus,1988,p.1448.

    [3]Em1933,CaioPradoJr.publicaseuprimeiroensaiomarxista,EvoluopolticadoBrasil.Em1942e1945,respectivamente,publicarFormaodoBrasilcontemporneo.ColniaeHistriaeconmicadoBrasil.Ostrslivrosconheceraminmerasreedies,sobretudopelaBrasiliense,SoPaulo.AimagemdoBrasilpresentenatrajetriadoPCBpodeserreconstrudaapartirdosdocumentoscoletadosemEdgardCarone.OP.C.B.SoPaulo:Difel,1982,3v.ParaaimagemdoBrasilprpriadoPCB,caberiatambmconsultarassignificativasobrasdeNelsonWerneckSodr,sobretudoasescritasapartirdofinaldosanos50.

    [4]Paraaexposioecrticadessaimagempecebista,cf.CaioPradoJnior.Arevoluobrasileira.6.ed.SoPaulo:Brasiliense,1987(1.ed.,1966),sobretudop.29s.eJacobGorender.Arevoluoburguesaeoscomunistas.In:M.A.D`Incao(Org.).Osabermilitante.EnsaiossobreFlorestanFernandes.SoPaulo:UnespPazeTerra,1987,p.2509.

    [5]SobreCaioPrado,cf.meuensaioUmavianoclssica`paraocapitalismo.In:M.A.D`Incao.Histriaeideal.EnsaiossobreCaioPradoJnior.SoPaulo:Brasiliense,1989,p.11531(reproduzidocomoAimagemdoBrasilnaobradeCaioPradoJnior.In:C.N.Coutinho.CulturaesociedadenoBrasil.BeloHorizonte:OficinadeLivros,1990,p.16783).

    [6]BastarecordaraquialongaIntroduoqueFlorestanescreveuparaovolumesobreMarxEngels.Histria.ColeoGrandesCientistasSociais.SoPaulo:tica,1983,p.9144.

    [7]AntonioGramsci.Quadernidelcarcere.Ed.crticadeV.Gerratana.Turim:Einaudi,1975,p.1.824.

    [8]Aanlisedaestruturacomercialdeumpasrevelasempre,melhorqueadequalquerumdossetoresparticularesdaproduo,ocarterdeumaeconomia,suanaturezaeorganizao(CaioPradoJr.FormaodoBrasilcontemporneo.SoPaulo:Brasiliense,1957,p.266).

    [9]CaioPradoJr.Arevoluobrasileira,cit.,p.240e243.Sobreisso,cf.C.N.Coutinho.AimagemdoBrasilnaobradeCaioPradoJnior,cit.,p.180s.

    [10]GabrielCohn.Oecletismobemtemperado.In:M.A.D`Incao(Org.).Osabermilitante,cit.,p.4853.

    [11]Alis,issooqueFlorestanparecesuporemtrabalhosimediatamenteposterioresaRBB:Aoseevitaroempregosimultneodeconceitoscomocasta`,estamento`eclasse`,perdeseaquiloqueseriaadiferenaespecficanaevoluodaestratificaosocialnoBrasil(F.Fernandes.Circuitofechado.SoPaulo:Hucitec,1976,p.47).

    [12]Parecemeimportanteregistrarquehautoresmarxistasbrasileirosque,emboraporcaminhosdiferentesaosdeFlorestan,tambminsistememdefinirnossanoclassicidadenatransioparaocapitalismorecorrendoprioritariamenteataisdeterminaesprovenientesdadependnciadoBrasilaomercadointernacional.ocaso,porexemplo,deJ.Chasin(OintegralismodePlnioSalgado.SoPaulo:CinciasHumanas,1978)edeAntonioCarlosMazzeo(EstadoeburguesianoBrasil.BeloHorizonte:OficinadoLivro,1989),quesereferemaumaviacolonialoucolonialprussianaparadefiniramodalidadedenossarevoluoburguesa.

    [13]Cf.,porexemplo,ostextosreunidosemCaioPradoJnior.AquestoagrrianoBrasil.SoPaulo:Brasiliense,1979.

    [14]EmboraFlorestantenhaindicadocomprecisoostraosessenciaisdoregimeditatorialimplantandonoBrasilentre19641985,inclusivenegandocorretamentequeelepudessesercaracterizadocomofascista(jquenorecorriaorganizaodasmassas),parecemeimprpriooseuempregodotermoautocraciaburguesa.RecorrendoaumaperidicamudanadePresidentes,opoderditatorialbrasileirodapocanoseencarnounumanicapessoae,nessamedida,nopodeserchamadodeautocrtico.IndagadosobreasrazesdousodessetermoporFlorestan,oamigoOctvioIannimedeuumaexplicaoconvincente:oautordeRBBteriasevalidodeumaexpressocunhadaporLeninparacaracterizaraautocraciaczaristaemsualtimafase,quandosemdeixardeserautocrtico(oczarsediziamesmoautocratadetodasasRssias)oczarismojatuavaessencialmentecomoumEstadoburgus.Insisto,porm,emquealicenapoticaaqueFlorestanrecorreunoanuladenenhummodoasuacorretacaracterizaoconteudsticadopoderditatorialresultantedogolpede1964.

    [15]Paraadialticaentreprojetoeprocessodeabertura,cf.C.N.Coutinho.DemocraciaesocialismonoBrasildehoje.In:Id.Democraciaesocialismo.SoPaulo:Cortez,1992,p.4778.

    [16]FlorestanFernandes.NovaRepblica?.RiodeJaneiro:Zahar,1986,p.8passim.Cf.tambmosartigoseintervenesreunidosemId.AConstituioinacabada.SoPaulo:Estao

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    Liberdade,1989,passim.

    [17]FlorestanFernandes.QuetipodeRepblica?.SoPaulo:Brasiliense,1986,p.54.

    [18]Sobreessahegemoniaseletivanapocapopulista,cfC.N.Coutinho.CriseeredefiniodoEstadobrasileiro.In:A.M.PeppeeI.Lesbaupin(Orgs.).RevisoconstitucionaleEstadodemocrtico.SoPaulo:Loyola,1993,p.84s.

    [19]Cf.C.N.Coutinho.DemocraciaesocialismonoBrasildehoje,cit.

    [20]GeorgLukcs.Histriaeconscinciadeclasse.PortoRiodeJaneiro:EscorpioElfos,1989,p.107.

    Fonte:EspecialparaGramscieoBrasil.

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