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ANO XXVIII • Nº 225• OUTUBRO/2013 CFM cobra aplicação do Revalida para segurança do paciente. Pág. 4 Financiamento da saúde A execução orçamentária fica abaixo do esperado, contribuindo para o aumento dos problemas na assistência, penalizando médicos e pacientes e tornando o SUS uma utopia não realizada. Págs. 6 e 7 Em 12 anos, a Uniao deixou de gastar R$ 94 bi com o SUS Mais Médicos MP considera forma de contratação irregular Pág. 3 Saúde +10 Ato cobra celeridade do PL no Congresso Pág. 4 Comendas 2013 Cinco médicos são homenageados pelo CFM Pág. 11 Banco de imagens do CFM

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Page 1: Financiamento da saúde Em 12 anos, a Uniao deixou de ... · PDF fileJosé Fernando Maia Vinagre José Albertino Souza ... na arte, na responsabilidade ... que até hoje não foi resolvida

ANO XXVIII • Nº 225• OUTUBRO/2013

CFM cobra aplicação do Revalida para segurança do paciente. Pág. 4

Financiamento da saúde

A execução orçamentária fica abaixo do esperado, contribuindo para o aumento dos problemas na assistência, penalizando médicos e pacientes e tornando o SUS uma utopia não realizada. Págs. 6 e 7

Em 12 anos, a Uniao deixou de gastar R$ 94 bi com o SUS

Mais MédicosMP considera forma

de contratação irregularPág. 3

Saúde +10Ato cobra celeridade do PL no Congresso

Pág. 4

Comendas 2013Cinco médicos são

homenageados pelo CFMPág. 11

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CFM

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2 EDITORIAL

jORnAL MEDICInA - OUT/2013

De olho nas contas da Saúde

Desiré Carlos CallegariDiretor executivo do jornal Medicina

* Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo

Sem investi-mentos, não há como oferecer a infraestrutura e os insumos fun-damentais para que os médicos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) possam ajudar a população

Mudanças de en de re ço de vem ser co mu ni cadas di re ta men te ao CFM

pelo e-mail [email protected]

Os artigos e os comentários assinados são de in tei ra res pon sa bi li da de dos au to res, não

re pre sen tan do, ne ces sa ria men te, a opi nião do CFM

Diretoria

Presidente:1º vice-presidente:2º vice-presidente:3º vice-presidente:

Secretário-geral:1º secretário:2º secretário:

Tesoureiro:2º tesoureiro:

Corregedor:Vice-corregedor:

Roberto Luiz d’ AvilaCarlos Vital Tavares Corrêa LimaAloísio Tibiriçá MirandaEmmanuel Fortes Silveira CavalcantiHenrique Batista e SilvaDesiré Carlos CallegariGerson Zafalon Martins José Hiran da Silva GalloDalvélio de Paiva MadrugaJosé Fernando Maia VinagreJosé Albertino Souza

Diretor-executivo:Editor:

Editora-executiva:Redação:

Copidesque e revisor:Secretária:

Apoio:Fotos:

Impressão:

Projeto gráficoe diagramação:

Tiragem desta edição:Jornalista responsável:

Desiré Carlos CallegariPaulo Henrique de Souza Thaís DutraAna Isabel de Aquino CorrêaMilton de Souza JúniorNathália Siqueira Rejane MedeirosVevila Junqueira

Napoleão Marcos de AquinoAmanda FerreiraAmilton ItacarambyMárcio Arruda - MTb 530/04/58/DFEsdeva Indústria Gráfica S.A.

Mares Design & Comunicação

380.000 exemplaresPaulo Henrique de SouzaRP GO-0008609

Publicação oficial doConselho Federal de Medicina

SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231

http://www.portalmedico.org.br [email protected]

Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila

Conselho editorial Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected]

Conselheiros titulares

Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Renato Françoso Filho (São Paulo), Wilton Mendes da Silva (Piauí).

Conselheiros suplentes

Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aldemir Humberto Soares (AMB), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba), Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti (Alagoas), Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio Rufino Torres (Amazonas), Luiz Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira (Roraima), Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte), Waldir Araújo Cardoso (Pará).

Seria cômico, se não fosse trágico. As contas do governo federal não fecham e a falta de com-petência na gestão dos recursos públicos fez com que aproximadamente R$ 94 bilhões deixassem de ser gastos e investidos na saúde brasileira. É como se o país tivesse deixado de gastar, na área, o orça-mento de um ano inteiro, em valores atualizados.

Este é o principal tema desta edição do jornal Me-dicina, que apresenta um balanço e uma análise de mais este aspecto da crise do financiamento da saú-de. A denúncia foi enca-minhada formalmente ao Ministério Público, ao Tri-bunal de Contas da União e ao Congresso Nacional. Espera-se que as informa-ções não durmam no fun-do das gavetas e gerem a cobrança necessária para colocar este aspecto da gestão nos trilhos.

A falta de financia-mento na saúde tem comprometido o pleno exercício da medicina e, por conseguinte, o efeti-vo atendimento aos pa-cientes. Por isso, cabe aos conselhos de medicina cui-dar e lutar para a correção

desta falha. Esta percep-ção levou a entidade a estabelecer uma estratégia para o acompanhamento periódico do orçamento da Saúde, o que ajudará a mensurar o impacto desse descaso na qualidade da assistência.

Sem investimentos, não há como oferecer a in-fraestrutura e os insumos fundamentais para que os médicos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) possam ajudar a po-pulação. Da mesma forma, impede que os pacientes tenham acesso aos serviços necessários para realizar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de suas doen-ças, bem como a leitos, exa-mes e consultas.

Nesta edição, também apresentaremos outras informações sobre o en-tendimento mantido com a base aliada do governo para evitar a criação de um Fórum de Regulação Profissional em Saúde. A proposta tinha sido plan-tada no relatório final da MP 621/2013 e, se fosse adiante, seria um golpe mortal na autonomia das entidades médicas e daria ao Ministério da Saúde superpoderes para inter-

ferir na atuação dos mé-dicos brasileiros, inclusive repassando algumas de suas prerrogativas para outras categorias.

Outro tema em desta-que é o III Congresso Bra-sileiro de Humanidades em Medicina. O encontro, que juntou lideranças, pro-fessores, pesquisadores e estudantes, representa a tentativa de resgatar va-lores humanistas intrínse-cos à prática médica. Por meio do estímulo às trocas entre nossa profissão e ou-tras áreas do conhecimen-to, poderemos descobrir caminhos para aprimorar-mos o trato com o pacien-te e a sociedade.

No mesmo evento, houve ainda a oportu-nidade de homenagear cinco homens que enten-deram essa necessidade e têm alcançado destaque em diferentes campos. Os ganhadores da Comenda CFM 2013 mostram ser possível fazer a diferença na educação, na arte, na responsabilidade social, nas políticas públicas e nas humanidades.

Perfeita e justa, a proposta sobre o fim da co-bertura das consultas médicas pelos planos de saúde. O valor destas tem sofrido um achata-mento brutal nos últimos anos, tanto para a medicina de grupo como para as cooperativas médicas (estamos há vários anos sem reajus-te). Os planos de saúde devem cobrir exames laboratoriais, procedimentos, cirurgias e inter-nações, que são os itens mais caros para os pacientes. Assim, cada médico ficaria livre para estabelecer, em seu consultório, o valor que acha justo por esta parte do seu trabalho, coisa que os profissionais liberais deste país, de nível superior ou não, já fazem há muito.

Marcelo Vieira [email protected]

CRM-SP 79.699

Enquanto o Ministério da Saúde empurra os problemas estruturais do SUS para debaixo do tapete, o Palácio do Planalto coloca na conta

dos médicos brasileiros a culpa pela situação que até hoje não foi resolvida por falta de von-tade política e de competência técnica. Se for para importar, que venham experiências exi-tosas de outros países, como, por exemplo, o acesso gratuito à universidade, sem o gargalo do vestibular. Se for para resolver os proble-mas causados pela falta de profissionais, que o governo realize concursos para médicos, den-tistas, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais etc. Com garantias federais, com respeito aos direitos trabalhistas e condi-ções de trabalho salubres, não faltará gente dis-posta a ocupar este Brasil. O Brasil precisa mu-dar. Menos publicidade e mais transparência.

Leandro Soares Amaralcirurgião-dentista em Berilo

[email protected]

O Brasil sempre recebeu médicos estrangei-ros, desde que façam a prova do Revalida e

mostrem que têm capacidade de exercer uma medicina de qualidade. Afinal, o erro médico pode ser igual à morte. Vale lembrar que nos-sos políticos, quando ficam doentes, sempre procuram os melhores médicos brasileiros que estudaram, passaram no vestibular e depois estudaram e passaram na prova de residência, com isso mostrando qualidade em cada etapa da formação. Se os médicos estrangeiros sem comprovação de qualidade dos seus serviços são tão bons, nossos políticos têm que fazer o compromisso de tratar exclusivamente com esses “médicos”, e não deixar a vida dos pobres em risco nas mãos de quem não mostrou sua competência. O Brasil precisa de profissionalis-mo, qualidade e estrutura, e não de politicagem de campanha

Mario Junqueira de Souza [email protected]

CRM-GO 12.006

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3POLÍTICA E SAÚDE

jOrnAL MEDICInA - OUT/2013

Para o Conselho Fe-deral de Medicina

(CFM), o governo des-respeitou sua base par-lamentar no Congresso quando a presidente Dilma Rousseff vetou o artigo da “Lei do Mais Médicos” (12.871/13), que abordava a criação de carreira espe-cífica para a categoria no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o CFM, este item integra-va entendimento mantido com o relator da medida provisória, Rogério Car-valho, e outros líderes de partido. A percepção é de que houve desonra do compromisso estabelecido para atender antiga reivin-dicação da categoria.

Entre os itens assegura-dos, consta o direito de os conselhos de medicina não registrarem os médicos es-trangeiros sem o Revalida, mantendo sua autonomia em respeito à legislação nacional. Essa possibilida-de foi solicitada pelos con-

selhos na Justiça, pois os intercambistas não podem ser considerados médicos no país e, portanto, não devem ter registro profis-sional.

O CFM ressalta que assumiu essa posição para evitar danos maiores à medicina brasileira.

Outro avanço impor-tante – resultante do entendimento com par-lamentares e que limita a atuação de intercambis-tas – foi a redução de seis para três anos do tempo de permanência no pro-grama Mais Médicos. Conseguiu-se ainda in-cluir a exigência de apro-vação no Revalida para os estrangeiros que decidi-rem ficar no Brasil, após o fim do intercâmbio.

Também foi preservada a expedição de títulos de especialistas pelas socieda-des médicas, como forma de assegurar o processo de qualificação dos profis-sionais brasileiros, e retira-do do texto encaminhado

para votação o artigo que criava um Fórum de Re-gulação Profissional em Saúde, que atuaria como agência controladora dos conselhos de todas as ca-tegorias da área.

Este item era de alto risco para a medicina, pois dava superpoderes ao Mi-nistério da Saúde – com os quais ele poderia, entre outros pontos, transferir ou dividir atividades atualmen-te praticadas pelos médicos com profissionais de outras áreas, como enfermeiros e fisioterapeutas.

Os conselhos de me-dicina reafirmam sua au-tonomia e independência, conforme explicitado em nota distribuída à socie-dade. Deste modo, as en-tidades pretendem agir de forma ativa e estratégica para que a saúde brasileira seja tratada com “medidas sérias, consequentes e de efeito duradouro, sem cair no apelo fácil do imediatis-mo, dos equívocos e dos resultados midiáticos”.

Os intercambistas que vieram participar do programa lançado pelo governo federal não são médicos no Brasil. Não cumpriram nenhuma das etapas legais para serem assim considerados: não fizeram a tradução juramentada de seus diplomas de Medicina, não os revalidaram junto às instituições brasileiras de ensino superior e nunca compro-varam sua proficiência em português. Se não são médicos, por que deveriam manter inscrições junto aos conselhos re-gionais de medicina (CRMs)?

Eles atuam no país por conta de um desvio legal criado pelo Ministério da Saúde e pelo Palácio do Planalto, pos-teriormente aprovado pelo Congresso. O risco assumido nesta operação de caráter nitidamente eleitoral deve recair, então, sobre o Poder Executivo. Afinal, se às vésperas de 2014 era preciso parecer querer resolver o que incomoda há séculos a população, é justo que as consequências dessa ação irresponsável sejam assumidas por quem a promoveu.

A busca de aprovação popular fez com fosse adotada a saída mais simplória para melhorar a avaliação da saúde pú-blica no Brasil. Optou-se pelo “mais médicos” sem qualifica-ção em detrimento do aumento no volume de investimentos no setor, da melhoria dos instrumentos de gestão ou da cria-ção de estímulos para levar os profissionais brasileiros para o interior ou para a periferia dos grandes centros. Resta-nos esperar a queda dessa estratégia construída sobre a areia.

Os primeiros sinais de que muitos problemas virão ape-nas começaram. De início, há a reprovação de dezenas de intercambistas já em atividade nas provas da primeira fase do Revalida. O argumento de que não precisam ter o nível exigido pelo exame porque vão atender apenas nos postos de saúde e nas equipes do Saúde da Família é desrespeitoso para com os cidadãos, que têm direito à assistência em saú-de de forma universal, com equidade, integral, gratuita e de qualidade, como prevê a Constituição.

Todo aquele que exerce a medicina em sua plenitude deve estar preparado para socorrer o paciente em todas as suas necessidades. Se não é assim, não pode ser considera-do médico, nem mesmo meio médico.

Por quê? Simplesmente porque em sua atuação este in-tercambista será limitado, cuidando de aspectos preventi-vos e sem integralidade. Ou seja, sobrou para o paciente, obrigado a aceitar uma meia solução para um problema real que pode custar-lhe a saúde, a cura e até a vida.

Também é impossível considerar como despreocupan-tes os aspectos éticos ignorados pelo governo. Há casos de intercambistas do Mais Médicos denunciados por envolvi-mento com o narcotráfico, por exercício ilegal da Medicina e até por suspeita de mutilarem pacientes ao agirem na ile-galidade. Todos são casos de polícia, que devem ser investi-gados e punidos, se as suspeitas forem confirmadas.

Estes são apenas alguns dos motivos que dão aos con-selhos de medicina o conforto de ver o Ministério da Saúde assumir a responsabilidade por estes intercambistas. Pro-positalmente, ou não, esqueceu-se que com vidas não se brinca e que a saúde não segue roteiros publicitários.

Ante cenário tão caótico, cabe aos conselhos de medi-cina cumprir seu papel com rapidez, idoneidade, rigor e ex-celência. O monitoramento das atividades deste programa do governo e a averiguação das denúncias e suspeitas que surgirem serão incorporados à rotina das entidades. Como os legítimos fiscais, eles agirão com 100% de sua capacidade em defesa da sociedade e da profissão.

Mais Médicos

Roberto Luiz d’Avila

PALAVRA DO PRESIDENTE

CFM comenta veto à lei e esclarece entendimento

Para entidade, mudanças na lei evitaram danos maiores à medicina, mas críticas ao programa do governo permanecem

Há fortes indícios de que o formato do programa Mais Médicos apresenta várias irregularidades. É o que indica o relatório parcial do Ministério Público do Trabalho (MPT) analisado em audiência pública com o procurador do Trabalho Sebastião Caixeta, responsável pelo inquérito civil, e representantes dos ministérios da Saúde e da Educação e da Advocacia Geral da União (AGU). Segundo Caixeta, ao menos por enquanto, há desvirtuamento de uma autêntica relação de trabalho.Durante audiência, o MPT ponderou no sentido de fazer ajustes no programa, sobretudo no caráter de prestação de serviço, apesar dos argumentos do governo federal de que o Mais Médicos abrange essencialmente a capacitação. “É importante que a remuneração não seja em forma de bolsa, e sim de salário. Em relação aos médicos cubanos, há a necessidade de um tratamento igual. O valor a ser recebido é para ser integral.” A questão da integralidade dos salários envolve diretamente a contratação dos médicos cubanos, que devem ficar com apenas 25% a 40% dos R$ 10 mil pagos pelo governo federal. A maior parte deve ser retida pelo governo cubano.Sebastião Caixeta vai continuar conversando com os representantes do programa, mas não tem expec-tativas de que a argumentação do Ministério da Saúde mude o seu convencimento. “Acreditamos que a visita in loco que faremos em breve confirmará esse quadro, de que se trata efetivamente de uma relação de trabalho. Chegando a essa convicção final, vamos verificar a possibilidade de um termo de ajuste de conduta”, destacou.Também participaram da audiência o procurador-chefe da República, Carlos Henrique Martins Lima, o representante do Ministério da Educação, Vinícius Ximenes, o consultor jurídico do Ministério da Saúde, Jean Keiji Uema, e o procurador-geral da AGU, Paulo Henrique Kuhn.O inquérito civil foi aberto em 28 de agosto e várias audiências já foram realizadas. Recentemente, além da audiência com representantes dos órgãos do governo, o procurador Sebastião Caixeta também se reuniu com representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Federação Nacional dos Médicos (Fenam).

Ministério Público questiona programa

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4 Política e Saúde

jornal Medicina - oUt/2013

4 POLíTICA E SAúDE

Saúde +10

Diplomas estrangeiros

Ato cobra mais investimento público

Para pressionar os par-lamentares a apro-

varem Projeto de Lei de Iniciativa Popular que amplia os recursos para o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), entidades ligadas ao Mo-vimento Nacional em De-fesa da Saúde Pública, o Saúde+10, promoveram em Brasília ato público em frente ao Congresso Nacional no dia 30 de ou-tubro. O grupo defende a aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 321/13, que exige a des-tinação de 10% da recei-ta bruta da União para a saúde pública. A medida tramita na Câmara dos Deputados e contou com a assinatura de mais de 2,2 milhões de eleitores.

Segundo a coorde-nação do Saúde+10, se aprovada a medida impli-cará em um adicional de R$ 46 bilhões ao setor já em 2014 e em cinco anos a proposta pre-vê um acréscimo de R$ 257,1 bilhões na saúde pública. Diversas enti-dades nacionais – dentre elas o Conselho Federal de Medicina (CFM), a

Associação Médica Bra-sileira (AMB) e a Fede-ração Nacional dos Mé-dicos (Fenam) – cobram urgência na tramitação e aprovação do projeto.

“O apelo popular, que ecoou nas manifesta-ções de rua ocorridas em junho, precisa ser ouvido pelos parlamentares. No entanto, nos preocupa que o Congresso acabe apenas fazendo ajustes orçamentários que não trazem ganhos efetivos para o setor”, comentou o 2º vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá.

Tramitação – Na Câ-mara, o Projeto de Lei de Iniciativa Popular foi apro-vado na Comissão de Le-gislação Participativa e en-contra-se na Comissão de Seguridade Social e Famí-lia, anexado a outros que tratam do financiamento da saúde – dentre eles, o que sugere a destinação de 15% da RCL à saúde. Em outubro, um requeri-mento foi apresentado ao plenário da Câmara para que o projeto fosse “desa-pensado” dos demais, por ter sido apresentado por iniciativa popular.

Em frente ao Congresso, ação reivindicou celeridade na apreciação de projetos

2014-

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

5,97,5

8,311,6

14,116,4

20,922,8 22,8

5,9

46,1

50,3

54,8

59,7

46,2

2015 2016 2017 2018

Acréscimos anuais de recursos ao piso federal de saúdeEm relação à regra atual

Ementa à PEC nº 22-A/00 (sen. Humberto Costa)

Proposta do governo Projeto de Iniciativa Popular(movimentos sociais)

Ao permitir que médicos for-mados em outros países atuem no Brasil antes de aprovação no Exame de Revalidação de Diplomas de Medicina obti-dos no Exterior (Revalida), o Conselho Federal de Medici-na (CFM) entende que o go-verno cria duas categorias de profissionais: os de primeira linha, com graduação em uni-versidades nacionais ou com diplomas revalidados, que po-dem atender em qualquer loca-lidade; e os de segunda linha, sem competência devidamente avaliada, com atuação restrita ao programa Mais Médicos e sem condições de responder às necessidades da população. “No Brasil, o currículo das es-colas médicas prioriza a forma-ção de médicos em condições

de responder às diferentes ne-cessidades da população: desde uma simples consulta até um atendimento de urgência, como emergências cardíacas, comuns nos prontos-socorros. Oferecer indivíduo com perfil distinto é iludir os moradores das áreas mais carentes, pois se houver um caso grave esse médico de segunda linha terá dificuldades em agir, podendo, inclusive, causar até danos maiores”, afirmou o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila.Essa possibilidade se fortalece com a confirmação, pelo jornal Folha de S. Paulo, de que um grupo de 66 profissionais que atuam no Mais Médicos inte-gra o contingente de candidatos reprovados na primeira fase do Revalida deste ano. Eles

são intercambistas que fazem parte dos selecionados para a primeira e a segunda rodada do programa, que dispensa a exi-gência legal de reconhecimento do diploma estrangeiro. Para Desiré Callegari, diretor de comunicação e 1º secretário do CFM, a população tem o direito de conhecer os detalhes dessa situação para decidir se quer ou não ser atendida por pessoas que não conseguiram comprovar os conhecimentos em medicina. “É uma operação irresponsável. Um indivíduo in-vestido do cargo de médico tem a autoridade de definir como um cidadão vai tratar uma doença. Se não for preparado para tan-to, pode deixar esse doente ain-da mais vulnerável”, alerta.

O Revalida foi criado pelo governo federal em 2010 e, em seu formato atual, é desenvolvido e aplicado em 36 universidades públicas de todo o país. As provas são realizadas uma vez por ano, em duas etapas. A nota de corte – fixada em cinco – exige o mínimo de conhecimento geral de um médico para atuar no Brasil, mas os percentuais de aprovação não ultrapassaram os 13%. As provas são elaboradas pelo Inep/MEC, sem participação das entidades médicas, que apenas monitoram sua aplicação.

CFM cobra Revalida para priorizar segurança ao paciente

Um relatório apresentado na Comissão Especial que analisa o financiamento do SUS propôs que o governo passe a destinar 15% de sua receita corrente líquida (RCL) para o setor, ao invés de 10% da receita corrente bruta (RCB). Segundo o texto, que será votado na Comissão na primeira semana de novembro, a aplicação do percentual também ocorreria de forma gradual: em 2014, seria de 13,2%; em 2015, de 13,8%; em 2016, de 14,4%. Em 2017, seria finalmente atingido o percentual de 15%. No Senado, outra proposta, aprovada pela Comissão de Assuntos Sociais, estabelece o limite míni-mo de 18% da receita corrente líquida da União para a saúde, escalonando em um prazo de quatro anos o percentual de 15% a 18%. Estimativas do Movimento Saúde+10 revelam, no entanto, que as matérias propostas na Câmara e no Senado não contemplam, em valores absolutos, o que pede o projeto de iniciativa popular. Em cinco anos, a proposta popular prevê um acréscimo de R$ 257,1 bilhões. No mesmo período, o projeto apoiado pelo governo alcançaria R$ 64,2 bilhões e a proposta em tramitação no Senado elevaria em R$ 72 bilhões o orçamento federal destinado à saúde pública – compare no gráfico o acréscimo anual. O Conselho Federal de Medicina, por meio de suas comissões que mantêm interface com o tema – CAP e ProSUS –, tem acompanhado a tramitação de todas as propostas que estão no Congresso. A preocupação é garantir a aprovação de fórmulas que efetiva-mente assegurem o financiamento adequado para a rede pública.

Propostas alternativas tramitam no Congresso Nacional

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5POLÍTICA E SAÚDE

jOrnAL MEDICInA - OUT/2013

80% dos usuários estão insatisfeitosPlanos de saúde

Pesquisa do Institu-to Datafolha revela

que 79% dos pacientes que recorreram aos pla-nos de saúde nos últimos 24 meses tiveram algum tipo de problema.

Entre as reclamações mais recorrentes estão a dificuldade para mar-car consultas (66%), procedimentos de maior custo (67%) e falhas no atendimento em pronto- socorro (80%).

A pesquisa enco-mendada pela Associa-ção Paulista de Medicina (APM) foi aplicada em São Paulo – estado com maior número de benefi-ciários de planos de saúde (10,4 milhões) – e buscou informações dos pacientes que recorreram aos planos nos últimos 24 meses.

Os resultados foram divulgados no dia 17 de outubro pelo presidente da APM, Florisval Mei-não, em conjunto com as demais entidades médicas do estado, como o Conse-lho Regional de Medicina

do Estado de São Paulo, a Academia de Medicina de São Paulo e o Sindicato dos Médicos de São Paulo.

Outro grave problema apontado pela pesquisa é a obstrução dos planos de saúde ao trabalho dos médicos.

Para a maioria dos pa-cientes (56%), os planos pressionam os médicos a reduzirem o tempo de internação. Além disso, 60% dos usuários concor-dam que os planos pagam valores baixos por consul-tas ou procedimentos.

“Temos denunciado recorrentemente os abu-sos dos planos contra médicos e pacientes. E o que essa pesquisa reflete é uma realidade nacional de insatisfação. Um mercado que aumenta suas recei-tas em quase 15% ao ano precisa e pode melhorar as condições de atendimento e também a relação com seus prestadores”, ava-liou o 2º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Aloísio

Tibiriçá, também coode-nador da Comissão Na-cional de Saúde Suple-mentar (Comsu).

O estudo revela que 30% dos pacientes decla-ram ter apelado ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou ao atendimento particular para conseguir atendimen-to. “Os pacientes pagam os planos para fugir das dificuldades do SUS e se deparam com uma série de problemas. É preciso que as empresas ampliem a rede credenciada”, afirmou Florisval Meinão.

Levantamento em São Paulo também aponta obstrução ao trabalho do médico

Interferência: os problemas gerados pelos planos de saúde impactam na qualidade do atendimento oferecido

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) voltou a suspen-der a comercialização de 246 planos de saúde de 26 operadoras. A ação foi promulgada após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autori-zou a retomada da sanção. O presidente do STJ, mi-nistro Felix Fischer, afir-mou que, pelo interesse público da medida, a mo-nitoração da garantia de atendimento, que resulta em suspensões, deve se manter da forma como é realizada há um ano e meio. Tal decisão sobre-põe-se às liminares dos tri-bunais regionais federais da 2ª e da 3ª Região, que questionaram o monito-ramento e as suspensões aplicadas pela agência. Dados – De acordo com

a ANS: “De março a ju-nho de 2013, foram rece-bidas 17.417 reclamações sobre a garantia de aten-dimento. É um número seis vezes maior do que no primeiro ciclo, no primeiro trimestre do ano passa-do, quando começou a ação. Neste momento, as suspensões protegem 4,7 milhões de beneficiá-rios – o equivalente a 9,7% do total de benefi-ciários de planos de as-sistência médica no país”.Reclamações sobre o descumprimento de pra-zos para a realização de consultas, exames e ci-rurgias e negativas inde-vidas de cobertura assis-tencial aos consumidores são os dados utilizados pela agência para avaliar os planos de saúde. As suspensões são aplicadas

nos casos de reincidência.Fiscalização – O moni-toramento da garantia de atendimento é uma medi-da preventiva. As opera-doras que não cumprem os critérios de garantia de atendimento definidos pela ANS estão sujeitas a multas de R$ 80 mil a R$ 100 mil. Nos casos de reincidência, podem ter decretado regime es-pecial de direção técnica.As operadoras de planos de saúde também são obrigadas a justificar por escrito, em até 48h, o mo-tivo de ter negado autori-zação para algum proce-dimento médico, sempre que o usuário solicitar. A negativa de cobertura é a principal reclamação feita diretamente pelo usuá-rio à ANS (75,7% das reclamações em 2012).

ANS suspende comercialização de 246 planos de saúde após decisão da Justiça

Acessar as publicações do Conselho Federal de Medicina (CFM) está mais fácil e rápido. A plataforma online disponibiliza os prin-cipais títulos lançados e que constam do acervo da entidade. O acesso a este material poderá ser feito por celular ou tablet e o aplicativo também permite a consulta a títulos antigos e periódicos distribuídos pelo CFM. Avisos serão emitidos assim que ficarem prontas as edições mais recentes do jornal Medicina, da revista Medicina CFM e da Revista Bioética. Para ter acesso à nova plataforma, é necessário instalar no seu aparelho (smartphone, tablet, entre outros) o aplicativo (app) gratuitamente oferecido na internet. Os apps estão disponíveis nas lojas da Google Play e da Apple. A leitura offline será pos-sível e o usuário poderá comentá-la e recomendá-la para en-dereços de e-mail.

Plataforma digital

No item consultas médicas, os problemas mais frequentes são a demora na marcação (52%) ou autorização de consultas (25%). Quanto aos exames e diagnósticos, as queixas mais recorrentes es-tão relacionadas à demora para marcação (28%), poucas opções de laboratórios e clínicas especializadas (27%) e o tempo para autori-zação do exame ou procedimento (18%).Nos prontos-socorros, a lotação no local de espera é o principal pro-blema apontado pelos usuários (74%). Por sua vez, a demora em ser atendido também é um aspecto importante, mencionado por 55% dos usuários. Outras reclamações citadas são a negativa para rea-lização de procedimentos necessários (16%) e atendimento (9%), além de locais inadequados para receber medicação (13%). Confira a pesquisa, na íntegra, no endereço http://portal.cfm.org.br/images/PDF/pesquisaapm2.pdf

Estudo aponta problemas mais comuns

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6 Política e Saúde

jornal Medicina - oUt/2013

Financiamento da saúde

Governo deixa de aplicar R$ 94 bilhões

Ao longo dos últimos 12 anos, o Ministério

da Saúde deixou de apli-car quase R$ 94 bilhões no Sistema Único de Saú-de (SUS) – valor superior ao que estados e municí-pios gastam em um ano com a saúde pública.

A conclusão é do Conselho Federal de Medicina (CFM), que, com base em dados do Sistema Integrado de Ad-ministração Financeira (Siafi), revela em detalhes os resultados da falta de qualidade da gestão fi-nanceira em saúde. Se-gundo Roberto d’Avila, presidente do CFM, as informações foram enca-minhadas ao Congresso Nacional, ao Ministério Público Federal (MPU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) – que há pouco mais de um ano investiga o cumprimento, por parte da União, da lei que regulamenta a aplica-ção de recursos no SUS.

“Cabe aos conselhos de medicina promover, por todos os meios, o perfeito desempenho téc-nico e moral da medicina.

Também nos preocupa a gestão dos recursos – o que impacta diretamente na assistência da popu-lação e na atuação dos profissionais. Por este motivo, passaremos a acompanhar de perto o orçamento da saúde em todos os níveis. Só assim conseguiremos mostrar à população as reais di-ficuldades de infraestru-tura com as quais milha-res de médicos e outros profissionais de saúde se deparam todos os dias”, anunciou d’Avila.

No período apurado, R$ 852,7 bilhões foram estimados para o Minis-tério da Saúde no Orça-mento Geral da União (OGU). Os desembolsos, no entanto, chegaram a R$ 759,2 bilhões. Em 2013, apesar do maior or-çamento já autorizado na história da pasta – pouco mais de R$ 100 bilhões –, 66,7% tinham sido apli-cados até o último dia 15 de outubro. “O SUS precisa de mais recursos e por isso entregamos ao Congresso Nacional mais de dois milhões de

assinaturas em apoio ao projeto de lei de inicia-tiva popular Saúde+10, que vincula 10% da re-ceita bruta da União para o setor. Paralelamente, é preciso que o Poder Executivo aperfeiçoe sua capacidade de gerenciar os recursos disponíveis”, criticou Roberto d’Avila.

Para exemplificar, o presidente do CFM cita que com R$ 94 bilhões seria possível adquirir 763 mil ambulâncias (137 para cada município bra-sileiro), construir 468 mil unidades básicas de saú-de (UBS) de porte I (84 por cidade), edificar 67 mil unidades de pronto- atendimento (UPA) de porte I (12 por cidade) ou, ainda, aumentar em 1.850 o número de hos-pitais públicos de médio porte. “Sabemos que esse dinheiro não seria todo aplicado em uma única ação, mas pela comparação com o que se poderia fazer tomamos consciência do tamanho do desperdício.” Confira abaixo a série histórica do orçamento da Saúde.

Enquanto estados e municípios sofrem com muitos problemas e pouca verba, a União deixa de gastar R$ 22 milhões por dia em saúde pública. Uma análise realizada pelo Conselho Federal de Medicina comprova que o orçamento insuficiente para atender as necessidades da população tem sido também empregado de forma ineficiente, com investimentos muito aquém do esperado. A situação preocupa pelo impacto no funcionamento do SUS.

Descaso: recursos limitados prejudicam o atendimento ao paciente

Série histórica do orçamento da União para a Saúde *Ano Dotação autorizada Total pago ** Orçamento não executado

2001 64.615.383.529,66 57.221.931.058,35 - 7.393.452.471,31

2002 62.606.809.598,76 57.664.701.560,71 - 4.942.108.038,05

2003 53.109.404.583,40 49.363.667.541,32 - 3.745.737.042,08

2004 59.519.860.654,01 52.511.183.749,69 - 7.008.676.904,32

2005 63.098.505.297,21 52.404.996.732,64 - 10.693.508.564,57

2006 66.723.419.835,52 59.195.531.175,44 - 7.527.888.660,07

2007 72.868.919.476,20 63.379.308.816,28 - 9.489.610.659,93

2008 70.138.953.845,45 62.292.956.597,29 - 7.845.997.248,16

2009 78.123.982.661,17 69.112.100.156,93 - 9.011.882.504,24

2010 80.279.411.496,30 75.650.818.892,45 - 4.628.592.603,85

2011 85.735.199.997,06 77.752.977.557,18 - 7.982.222.439,88

2012 95.927.702.594,00 82.630.460.707,93 - 13.297.241.886,07

Total 852.747.553.568,73 759.180.634.546,21 - 93.566.919.022,52

Fonte: Siafi / Elaboração: CFM. * Valores atualizados pelo IGP- DI, da FGV. ** Inclui os restos a pagar pagos

Ainda segundo a aná-lise do CFM, apesar de os recursos terem salta-do de R$ 64,6 bilhões em 2001 para R$ 95,9 bilhões em 2012, em re-lação ao Produto Interno Bruto (PIB) os percen-tuais permaneceram pra-ticamente constantes.

Ao se relacionar o total pago pelo Ministé-rio da Saúde com o PIB, observa-se que em 2001 e 2002 a relação era de 1,85% e 1,87%, respecti-vamente.

Esses percentuais caí-ram no período de 2003 a 2011. Em 2012, o per-centual atingiu 1,88%, semelhante aos do início da década.

Na página ao lado, é possível visualizar a si-tuação ao comparar os números do gráfico que pontua a relação dos dis-pêndios do Ministério da Saúde com o PIB.

“Enquanto o governo se preocupa em dar aos brasileiros a proporção

de médicos de países de-senvolvidos, esquece que estes mesmos países apli-cam muito mais recursos na saúde do que o Bra-sil”, acrescenta d’Avila.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, historicamen-te, os países com maior razão de médicos por ha-bitantes têm maior partici-pação do Estado no finan-ciamento, na gestão e na prestação de serviços. Os números estão visiveis na tabela da página seguinte.

Dentre os  com siste-ma universal de saúde, o Brasil aparece com o menor percentual de par-ticipação do setor público (União, estados e municí-pios) no investimento per capita em saúde.

Na Inglaterra, por exemplo, o investimento público em saúde é cinco vezes maior que no Brasil. Veja, ao lado, quanto gas-tam os setores público e privado em países com sis-tema universal de saúde.

Gasto com saúde não evolui de forma percentual

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CFM

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7POLÍTICA E SAÚDE

jOrnAL MEDICInA - OUT/2013

O governo federal afirma investir na com-pra de equipamentos e na construção, refor-ma e ampliação de unida-des de saúde. De fato, da-dos apurados pelo CFM mostram que nos últimos 12 anos foram autoriza-dos R$ 67 bilhões espe-cíficos para este fim. No entanto, apenas R$ 27,5 bilhões foram efetiva-mente gastos e outros R$ 39,5 bilhões deixaram de ser investidos – valor que representa 42% de todo o recurso não utilizado

no período. Em outras palavras, de cada R$ 10 previstos para a melhoria da infraestrutura em saú-de, R$ 6,9 deixaram de ser aplicados.

Em 2013, a dotação prevista para os inves-timentos do Ministério da Saúde é de R$ 10 bi-lhões. Até 15 de outubro, apenas R$ 3,1 bilhões fo-ram pagos, incluindo os restos a pagar quitados (compromissos assumi-dos em anos anteriores, rolados para os exercí-cios seguintes). As prin-

cipais ações orçamentá-rias em valores absolutos apresentaram, até esta data, execução pífia. Na maior delas, a de “estru-turação de Unidades de Atenção Especializada em Saúde”, dos R$ 3,1 bilhões previstos so-mente R$ 532,9 milhões foram pagos (17,4%). Outro vultoso valor está previsto, neste ano, para a “construção e amplia-ção de unidades básicas de saúde” – cerca de R$ 1,3 bilhão. O montante seria utilizado para cons-

truir 1.253 novas UBS, ampliar outras 5.629 e reformar mais 4.300 uni-dades. De acordo com os dados do Siafi, no entanto, pouco mais da metade desse valor foi desembolsado até o mo-mento. A situação das

unidades de pronto-aten-dimento parece ser ainda pior, já que dos R$ 474,6 milhões voltados para a implantação, construção e ampliação de 225 pro-jetos em UPAs, somente 23,4% foi efetivamente gasto.

Financiamento da saúde

Investimento público fica abaixo do possível

Participação do Estado no gasto em saúde em diferentes países *

PaísGasto total em

saúde comparado ao PIB (%)

Participação do gasto público (%)

Investimento per capita em saúde (US$)

Setor público e privado

Setor público

França 11,7% 76,9% 4.618 3.553

Alemanha 11,5% 76,8% 4.654 3.573

Canadá 11,4% 71,1% 5.257 3.736

Cuba 10,2% 95,2% 583 555

Reino Unido 9,6% 83,2% 3.465 2.908

Suécia 9,6% 81,0% 4.708 3.816

Espanha 9,6% 74,2% 2.896 2.148

Austrália 9,0% 68,5% 5.174 3.545

Argentina 8,3% 64,4% 759 489

Brasil 9,0% 47,0% 990 466

Média mundial 9,2% 58,9% 941 571

Média das Américas 14,3% 49,8% 3.373 1.682

Fonte: Estatísticas Sanitárias Mundiais 2013 (OMS) / Elaboração: CFM

Evolução dos investimentos realizados pelo Ministério da Saúde *

Ano Dotação autorizada Total pago **Orçamento não

executado

2001 7.032.086.808,06 2.863.248.355,45 - 4.168.838.452,60

2002 5.060.585.545,13 3.912.391.671,11 - 1.148.193.874,03

2003 2.431.439.019,09 1.162.437.753,79 - 1.269.001.265,30

2004 3.888.184.560,64 1.893.713.441,45 - 1.994.471.119,19

2005 3.805.463.765,94 1.409.014.961,42 - 2.396.448.804,52

2006 4.791.618.019,89 2.204.531.822,98 - 2.587.086.196,91

2007 6.481.906.710,09 1.918.761.794,33 - 4.563.144.915,76

2008 4.869.924.390,96 1.531.520.570,42 - 3.338.403.820,54

2009 5.176.378.033,54 1.960.852.475,81 - 3.215.525.557,73

2010 5.268.559.967,39 2.617.474.978,35 - 2.651.084.989,05

2011 6.096.084.528,70 2.521.910.394,36 - 3.574.174.134,34

2012 12.142.587.348,00 3.500.525.571,71 - 8.642.061.776,29

Total 67.044.818.697,44 27.496.383.791,18 - 39.548.434.906,26

Fonte: Siafi / Elaboração: CFM. * Valores atualizados pelo IGP-DI, da FGV. ** Inclui os restos a pagar pagos

Justiça: para os conselhos, é preciso garantir os direitos dos cidadãos

Sofrimento: a diminuição nos investimentos penaliza os cidadãos

A defesa da medicina e da qualidade da assistência estão entre as missões do CFM e dos CRMs. O le-vantamento realizado e que revelou o mau gerenciamen-to do orçamento público destinado à saúde é apenas uma das ações efetivadas pelas entidades neste senti-do. As entidades pretendem tornar frequentes e regula-res a divulgação de análi-ses deste tipo, fortalecendo aspectos do controle social sobre o SUS. No entanto, a avaliação de orçamento não é ação isolada.

Em 2012 e no primeiro semestre deste ano, foram efetuados levantamentos que revelaram outra face perversa da má gestão: a redução na quantidade de leitos disponíveis para a po-pulação. Nos últimos anos, o déficit fica em torno de 25

mil unidades, o que represen-ta maior dificuldade de aces-so à internação ou a outros procedimentos relacionados.

O desenvolvimento de um novo roteiro de fisca-lização pelos CRMs, a ser publicado na forma de re-solução ainda em 2013, é outro instrumento que de-verá fortalecer o papel fis-calizador dessas entidades. Com novos parâmetros e mudanças nos fluxos de trabalho ganharão médi-cos, pacientes e até gesto-res que receberão a crítica de quem faz medicina para melhorar sua atuação.

Além dessas ativida-des, o programa de com-bate e prevenção ao crack, as unidades de urgência e emergência e os hospitais de universitários também deverão ser objeto de tra-balhos específicos.

Conselhos de medicina ajudam no controle social da saúde

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8 integração

jornal MeDiCina - oUt/2013

CRMs 2013-2018

Começa nova gestãoSob as regras da resolução Ficha Limpa do CFM, sistema empossa diretorias regionais para o novo quinquênio

UTI infantil em Rondônia – O CRM de Rondônia (Cremero) está acompanhando as medidas recomen-dadas pelo Ministério Público de Contas e pelo Tribu-nal de Contas do Estado (TCE-RO) no caso da morte de crianças recém-nascidas na UTI infantil do Hospi-tal de Base Ary Pinheiro. Mesmo com uma diretoria interina responsável pelas ações administrativas até a definição da nova diretoria (a eleição está prevista para o dia 12 de novembro), o CRM mantém suas fun-ções de fiscalizar as ações de saúde. Em outubro, o presidente interino, Aparício Carvalho, e o tesoureiro interino, Heinz Roland Jakobi, fizeram uma visita ao conselheiro Paulo Curi Neto, do TCE-RO, e à procu-radora-geral do Ministério Público de Contas, Érika Patrícia Saldanha de Oliveira, e colocaram o CRM à disposição para colaborar na apuração e busca de so-lução para o problema. Acompanhe o caso em http://www.cremero.org.br

Prêmio de residência – O Conselho Regional de Me-dicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) divulgou as normas da 10ª edição do concurso que dá aos resi-dentes a oportunidade de apresentar e publicar seus trabalhos científicos. As inscrições poderão ser feitas até 11 de novembro. Poderão participar residentes de qualquer ano e de todas as especialidades médicas e áreas de atuação, com seus preceptores. Saiba mais em http://goo.gl/65KoT7

Carreira em SP – O secretário de Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, detalhou, aos conselheiros do Cremesp, alguns pontos de sua proposta de revisão da lei que criou a carreira de Estado para médicos e do projeto de ampliação de vagas para residência médica. Uip, que participou de plenária especial da Casa em 22 de outubro, se comprometeu a corrigir as iniquidades da lei atual. Entre os itens criticados estão o enqua-dramento de servidores mais antigos no nível I (invia-bilizando o acesso ao teto de R$ 14 mil) e a diminuição da remuneração dos médicos sanitaristas aposenta-dos, além da geração de dívida com o Estado que vem sendo mensalmente descontada pela São Paulo Previ-dência (SPPREV). A nova proposta ainda depende de aprovação da Assembleia Legislativa. Saiba mais em http://goo.gl/VsfeGX

Tabagismo – O Ministério da Saúde mantém uma campanha permanente sobre o uso do narguilé. Com o alerta “Parece inofensivo, mas fumar narguilé é como fumar 100 cigarros”, a campanha esclarece que o uso do dispositivo pode causar câncer, doenças respirató-rias, doença de boca, tuberculose e hepatites virais. Além disso, em uma hora de uso do narguilé o usuário inala o equivalente à fumaça de 100 a 200 cigarros. No endereço http://goo.gl/C4q7cH é possível saber mais e fazer download dos materiais da campanha: e-mail marketing, anúncios, cartaz, filipeta e vídeo.

Ciência – Os norte-americanos James E. Rothman e Randy W. Schekman, e o alemão Thomas C. Südhof, foram os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina 2013. O anúncio foi feito no dia 7 de outubro. Segundo o Comitê do Nobel, os cientistas, que trabalham em universidades norte-americanas, receberam a distin-ção pelas descobertas sobre o mecanismo de transpor-te para o interior da célula. As descobertas têm impac-to importante na compreensão de como as moléculas são colocadas dentro e fora da célula e apresentam implicações no trabalho sobre várias doenças, incluin-do distúrbios neurológicos e imunológicos, bem como o diabetes mellitus.

Giro médico

No dia 1º de outubro, os conselhos regio-

nais de medicina (CRMs) empossaram os novos conselheiros, eleitos no período de 5 a 7 de agos-to. Realizadas a cada cinco anos, estas foram as primeiras eleições nor-matizadas pela Resolução CFM 1.993/12 – que visa garantir a probidade e a moralidade no exercício do mandato honorífico e inclui os conselhos no mo-vimento “Ficha Limpa”.

Os CRMs elegeram 20 conselheiros titulares e 20 suplentes, escolhidos por voto direto e secreto dos médicos regularmen-te inscritos. As votações foram conduzidas por uma comissão eleitoral escolhida entre os médi-cos inscritos na jurisdi-ção, indicados pelo pleno do CRM.

O mandato dos mem-

bros eleitos teve início em 1º de outubro de 2013, em sessão conduzida pelo presidente do CRM, após a homologação da eleição pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Com as eleições para conse-lheiros, foi também atuali-zada a gestão das entida-des. Em sete dos CRMs, as diretorias foram man-tidas. Nos demais, novos conselheiros assumiram os cargos.

No dia 3 de outubro, os presidentes dos CRMs tiveram a primeira reunião com a diretoria do CFM. No encontro, foram dis-cutidos temas como os desafios das entidades médicas para a valoriza-ção da medicina e fortale-cimento da profissão.

Confira abaixo quem são os novos presidentes eleitos para o comando dos conselhos regionais.

As eleições ocorre-ram em todos os CRMs, com exceção do Esta-do de Rondônia (CRM- RO). Nesta entidade, o escrutínio tem calendário diferenciado em função da anulação, pelo CFM, da eleição ocorrida em 5 de agosto, em virtude de irregularidades cometi-das por uma das chapas.

O plenário do CFM nomeou uma comissão eleitoral interventora, composta por três con-selheiros federais, para coordenar a nova eleição marcada para o dia 12 de novembro. Até lá, com o fim do mandato dos conselheiros da gestão 2008-2013 em 30 de se-tembro, o CFM nomeou uma diretoria provisória para responder pela ad-ministração do CRM- RO até a posse dos con-selheiros eleitos.

UF Gestão anterior Presidente atual

AC Dilza Teresinha Ambrós Ribeiro Marcus Vinícius Shoiti Yomura

AL Fernando de Araújo Pedrosa Permanece presidente

AP Dorimar dos Santos Barbosa Permanece presidente

AM Jefferson Oliveira Jezini José Bernardes Sobrinho

BA José Abelardo Garcia de Meneses Permanece presidente

CE Ivan de Araújo Moura Fé Permanece presidente

DF Iran Augusto Gonçalves Cardoso Martha Helena P. Zappalá Borges

ES Aloízio Faria de Souza Severino Dantas Filho

GO Salomão Rodrigues Filho Erso Guimarães

MA Abdon José Murad Neto Permanece presidente

MT Dalva Alves das Neves Gabriel Felsky dos Anjos

MS Luís Henrique Mascarenhas Moreira Alberto Cubel Brull Júnior

MG João Batista Gomes Soares Itagiba de Castro Filho

PA Maria de Fátima Guimarães Couceiro Antônio Jorge Ferreira da Silva

PB João Gonçalves de Medeiros Filho Permanece presidente

PE Helena Maria Carneiro Leão Silvio Sandro Alves Rodrigues

PR Alexandre Gustavo Bley Maurício Marcondes Ribas

PI Júlio César Ayres Ferreira Emmanuel Augusto de Carvalho Fontes

RJ Márcia Rosa de Araújo Sidnei Ferreira

RN Jeancarlo Fernandes Cavalcante Permanece presidente

RS Rogério Wolf de Aguiar Fernando Weber Matos

RR Wirlande Santos da Luz Alexandre de Magalhães Marques

SC Vicente Pacheco Oliveira Tanaro Pereira Bez

SP Renato Azevedo Júnior João Ladislau Rosa

SE José Júlio Seabra Santos Rosa Amélia Andrade Dantas

TO Nemésio de Oliveira Tomasella Tomé Rabelo

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PLENÁRIO E COMISSÕES 9

jornal MEDICIna - oUT/2013

Durante o X Con-gresso Brasileiro de

Bioética, realizado em Florianópolis (SC) no mês de setembro, a assembleia geral da Sociedade Bra-sileira de Bioética (SBB) elegeu a nova diretoria da entidade. Os associados escolheram a médica Re-gina Parizi como a nova presidente da SBB, que atuará até 2015.

Também foram eleitos os vice-presidentes (Ger-son Zafalon – membro do Conselho Federal de Me-dicina, Karla Amorim e Roland Schramm), os se-cretários (José Marques e Fernando Hellman), os tesoureiros (Lízia Silva e Claudio Andraos) e os membros dos conselhos científico (Aline Oliveira, Dirceu Greco, José Pa-ranaguá, Nilza Maria Di-niz, Roque Junges e Sér-gio Ibiapina) e fiscal (Léo Pessini, Josimário Silva e Rosana Leite Melo). To-dos os presidentes ante-

riores permanecem como membros honoríficos da diretoria.

Em entrevista ao jornal Medicina, a nova presiden-te da SBB falou sobre te-mas de destaque do biênio e a importância da bioética para os médicos e a socie-dade. Confira a seguir.

Quais temas terão maior atenção no perío-do 2013-2015? Existem algumas discus-sões que são pautas da SBB e que continuam, e outras que devem se des-tacar, como a criação do Conselho Nacional de Bioética, uma pauta in-clusive internacional, pois a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) recomenda aos países-membros a criação de um foro desse tipo para discutir assuntos como cé-lulas-tronco, aborto, repro-dução assistida etc. Trata- se de um conselho mais

amplo (incluindo represen-tação de vários segmentos – academia, bioeticistas, igreja, filósofos, entida-des como os próprios con-selhos, entre outros) que assessoraria o Executivo. Essa pauta é importante porque, atualmente, com a rápida incorporação de tecnologias, costumamos debater os temas após os conflitos já estarem esta-belecidos. Este conselho teria, justamente, o papel de recomendar, analisar e propor como determinadas matérias deveriam ser re-gulamentadas, antes que os dilemas surgissem.

Quais são os outros temas que entram na pauta? Além de questões tradi-cionais, como questões de gênero, por exemplo, temos como desafio ampliar as discussões sobre questões intergeracionais. Temos que nos debruçar sobre dois fenômenos mundiais,

a urbanização (com con-sequências que ainda não pensamos) e a questão do envelhecimento, um pro-cesso demográfico que se acentuou muito nas últimas décadas (e quando fala-mos em envelhecimento, temos que pensar nos jo-vens, políticas de inclusão, na relação ética entre as gerações, na diminuição da fecundidade das mu-lheres, e em todos os outros desafios que esse cenário impõe).

Os médicos estão envol-vidos nesses projetos? Às vezes, eles não estão en-volvidos do ponto de vista

formal, em uma perspectiva mais acadêmica, mas do ponto de vista do cotidia-no vivenciam essas ques-tões. Pode-se pensar que a bioética é distante, mas em suas práticas, atendendo a população, esses profis-sionais estão lidando com várias questões éticas e têm que deliberar. Acredito que o fato de termos uma composição muito plural – nossos associados são mé-dicos, filósofos, psicólogos, advogados, jornalistas, fo-noaudiólogos, enfermeiros etc. – facilita esse diálogo. Ressalte-se, inclusive, que o Brasil tem se destacado nessa área.

Conselheiro do CFM é eleito vice da SBBDentre os desafios da nova gestão, está a criação do Conselho Nacional de Bioética proposto pela ONU aos países-membros

Expectativa: SBB ampliará debate sobre questões intergeracionais

Bioética

Congresso de AnestesiologiaMedicina do Trabalho

A Comissão Nacional para Assistência Ética e Mé-dica do Paciente Médico com Dependência Química, criada ao fim do I Simpósio Interna-cional de Saúde Ocupacional dos Anestesiologistas, terá uma participação especial dentro da programação do 60o congresso brasileiro da especialidade, previsto para o período de 9 a 13 de novem-bro, em Aracaju (SE). O gru-po – vinculado ao Conselho Federal de Medicina (CFM) – ajudou na organização de livro que será lançado duran-te o encontro, o qual será de grande utilidade na definição de estratégias para enfrentar este problema que afeta parte da categoria.

A publicação da obra Bem-estar ocupacional em anestesiologia, organizada pelo professor doutor Gas-

tão Dutra, compila artigos produzidos por alguns dos maiores especialistas mun-diais no tema. Os textos ofe-recem dados relevantes para a formulação de um diag-nóstico e apontam caminhos para futuras estratégias de enfrentamento para o dilema da drogadição que afeta al-guns médicos, especialmente os anestesiologistas.

Esse tipo de especialista compõe o público-alvo do pro-jeto que será implementado pelo CFM com apoio da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Após a fase inicial, a intenção é estender os benefícios e serviços gerados pela aborda-gem para toda a classe. Assim, as entidades esperam contribuir para ajudar médicos em crise, dando-lhes nova oportunidade para a reconstrução de suas vidas e carreiras.

Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, a saúde e o bem-estar ocupa-cional dos médicos brasileiros são pontos de preocupação para a entidade, sendo que as transformações sociais, culturais, econômicas e políti-cas impactam diretamente na relação médico-paciente e na forma de se fazer medicina.

“A ausência de políticas públicas que valorizem o pa-pel do médico na assistência e a falta de investimentos na saúde, de forma geral, acabam por produzir um quadro de desestímulo e de pressão sobre o profissional que, infelizmente, em algu-mas situa ções se torna víti-ma desse descaso”, ressalta d’Avila, um dos entusiastas do projeto que no CFM está sob a coordenação do dire-tor Desiré Callegari.

Comissão do CFM tem destaque na programaçãoO III Fórum Nacio-

nal das Câmaras Técni-cas de Medicina do Tra-balho será realizado, em 20 de novembro, na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), sob o tema: proteção à saúde do trabalhador. Especialistas discutirão questões como responsabilidade do médi-co do Trabalho, políticas e dispositivos regulatórios na formação de especialistas.

O foco do encontro será a formação e atuali-zação das normas na es-pecialidade, das quais tam-bém depende a proteção à saúde do trabalhador, explica o coordenador da Câmara Técnica de Medi-cina do Trabalho do CFM, Mauro Shosuka Asato.

Uma conferência sobre a responsabilidade ética, ci-vil e criminal do médico do

Trabalho, ministrada pelo assessor jurídico Alejan-dro Bullón, abrirá o fórum. Ocorrerá também a dis-cussão sobre os aspectos éticos, epidemiológicos e os exames complementa-res do Programa de Con-trole Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e sobre a normatização de exames solicitados pelo médico do Trabalho.

“Cada médico coorde-nador do PCMSO, con-forme o posto de trabalho ou exposição de risco, elabora um rol de exames complementares a serem solicitados. Por meio deste, podem propiciar o diagnós-tico precoce, as doenças preeexistentes e os meios de prevenção”, afirma Mauro Asato. As inscri-ções para o evento estão abertas no site do CFM.

Fórum discute proteção à saúde

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PLENÁRIO E COMISSÕES 10

jornal MEDICIna - oUT/2013

Simultaneamente ao III Congresso Brasileiro de Humanidades em Medici-na, o conselheiro do CFM Jecé Freitas Brandão, gastroenterologista e mes-tre em Medicina Interna (USP), tomou posse como o mais novo membro da Academia de Medicina da Bahia (AMB). A cerimônia contou com a pre-sença de autoridades, amigos e familiares. O professor Almério Machado, presidente da AMB, saudou o novo acadêmico destacando sua atividade docente, científica e profissional, além de notável batalhador da ética mé-dica. Em seu discurso, Freitas Brandão, que na Bahia ocupou cargos de direção no Sindicato dos Médicos, na Associação Médica e no Cremeb, enalteceu os compromissos da medicina com a sociedade e expressou sua indignação acerca da implementação do programa Mais Médicos.

III Congresso Brasileiro de Humanidades em Medicina

Valorização da profissão em debateProblemas da saúde e interface da medicina com outras áreas do conhecimento nortearam os debates durante o evento

Diversidade: judicialiação da saúde e literatura foram temas do evento

Ant

onio

Car

l

Estão abertas as inscrições para o IV Congresso Interna-cional de Humanidades Mé-dicas, com realização prevista para os dias 14 e 15 de março de 2014 na sede da Universi-dade da Columbia Britânica, em Vancouver (Canadá).Como público-alvo, é espera-da a participação de acadê-micos, pesquisadores, profis-sionais de gestão hospitalar

e de saúde, profissionais de diversas áreas da saúde, so-ciólogos, antropólogos, his-toriadores e outros especialis-tas em educação. O objetivo principal é avaliar as perspec-tivas sobre as Humanidades aplicadas ao estudo da saúde, da doença e da medicina.Até 14 de novembro, o con-gresso receberá propostas para apresentação oral ou

participação em painel de discussão, oficina e seminá-rio. Também serão recebi-dos artigos para revista que condensará os destaques do encontro. Os grandes temas abordados serão: antropolo-gia médica e sociologia; arte, literatura e medicina; bioética; comunicação médica; história da medicina; psicologia e psi-copatologia; teoria da medici-na; aprendizagem e formação médica e de enfermagem; e direito sanitário e saúde.As propostas poderão ser re-metidas em espanhol ou por-tuguês, contendo título e resu-mo. Para outras informações, o interessado pode acessar o site: http://humanidades-medicas.com/congreso ou encaminhar um e-mail para o grupo organizador: [email protected]

Publicação: revista condensará artigos de destaque do encontro

Vancouver sediará congresso internacional

O III Congresso Brasileiro de Humanidades foi palco para o lançamento de duas publicações que sugerem um olhar diferente sobre a medicina. Uma delas é o livro Primeiras impressões – Iátrico em perspectiva, coletânea de crônicas assinada pelo médico e professor João Manuel Cardoso Mar-tins, agraciado com a Comenda CFM Medicina, Arte e Literatura.A maioria dos textos foi publicada ao longo de 11 anos no Iátrico, revis-ta cultural impressa pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR). No total, são 406 páginas divididas em 14 capítulos. A edição é iniciativa do CFM, com tiragem dirigida de forma gratuita para bibliotecas, entidades e escolas médicas. O arquivo com a íntegra da publicação está disponível para leitura e download no site do CFM (http://goo.gl/gZEM1M).Para o presidente do CRM-PR, Maurício Marcondes Ribas, a obra reúne riquíssimo acervo, com conteúdo atrativo e reflexivo que vai muito além do cotidiano vivido pelo médico, estudante de medicina ou, mesmo, pelo paciente, estreitando os limites entre ciência e arte e ampliando os hori-zontes das humanidades e da ética.O segundo livro lançado no congresso foi A pesquisa do contexto médico em textos literários: uma leitura transdiscursiva, publicado pela Editora Grafitto, com 219 páginas. Nele, seus autores – Mario Barreto Correa Lima e Paulo César dos Santos Leal – promovem a análise e a interpreta-ção das obras O doente imaginário, de Molière, a Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói, e Baú de ossos, de Pedro Nava.

Salvador: palco de dois lançamentos

O III Congresso Brasi-leiro de Humanida-

des em Medicina, realiza-do em Salvador (BA) no mês de setembro, reuniu lideranças médicas, pro-fessores, pesquisadores e estudantes. O encontro, realizado com o apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), foi o marco de efetivação de um chamado à defesa da profissão e da saúde bra-sileiras.

Os debates aborda-ram temas como judiciali-zação da saúde, medicina e tecnologia; literatura, arte e humanidades, en-tre outros. Para Roberto d’Avila, presidente do Conselho Federal de Me-dicina (CFM), o congres-so serve de espaço para reflexão sobre os tem-pos correntes, nos quais “nada que é humano é estranho”.

Preocupado com o futuro, o responsável pela organização do en-contro disse que a socie-dade está insensível às ameaças que colocam em risco as conquistas e

avanços alcançados nas últimas décadas.

O evento também propiciou uma reflexão política sobre o atual mo-mento vivenciado pela medicina brasileira. O presidente do Cremeb, Abelardo Meneses, cha-mou a atenção para a necessidade de se desen-volverem estratégias para fortalecer o movimento médico e resgatar a ima-gem da categoria ante os pacientes.

O uso dos problemas do setor saúde como pla-taforma política, ignoran-do aspectos legais, técni-cos e éticos, também foi alvo de crítica de outros participantes. “Não é mais possível suportar políticas eleitoreiras. O país precisa é de cidadania”, lembrou o 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital.

Por sua vez, o presi-dente da Federação Bra-sileira de Academias de Medicina (FBAM), José Leite Saraiva, pediu res-peito à profissão e a seus princípios fundamentais, visando resgatar a dignida-de de seu exercício a partir

do respeito à legislação. Pietro Novellino, pre-

sidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), ressaltou a im-portância da união da ca-tegoria neste processo.

Na programação des-te ano, foram também destaque nomes como Dante Marcello Clara-monte Gallian (diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde, da Escola Paulista de Medicina da Unifesp), Ricardo Per-lingeiro (juiz federal do TRF da 2ª Região), Luís Mário de Góis Moutinho (juiz da 1ª Vara Cível de Pernambuco) e Luís Eu-genio Portela Fernandes de Souza (presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abras-co), entre vários outros.

Prevendo a realização de novos fóruns, Rober-to d’Avila revelou que o grupo organizador es-tudará novos formatos para envolver, de forma especial, professores e alunos das escolas médi-cas – datas e local ainda serão definidos.

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PLENÁRIO E COMISSÕES 11

jornal MEDICIna - oUT/2013

Em noite de emoção e reconhecimento, fo-

ram entregues as comen-das CFM 2013 a cinco médicos que se destaca-ram em suas trajetórias por ações nas áreas de Respon-sabilidade Social, Humani-dades, Saúde Pública, Ar-tes e Literatura e Ensino, sempre relacionadas com o exercício da medicina. A solenidade aconteceu no fim do segundo dia de ati-vidades do III Congresso

Brasileiro de Humanidades em Medicina, realizado em Salvador (BA).

A cerimônia marcou a entrega das primeiras co-mendas Fernando Figuei-ra, de Medicina e Ensino Médico, e Mário Rigatto, de Medicina e Humani-dades. As duas honrarias foram criadas pelo plenário do Conselho Federal de Medicina (CFM) por meio da Resolução 2.022/13 e se juntam às comendas

Zilda Arns Neumann, de Medicina e Responsabili-dade Social; Sérgio Arou-ca, de Medicina e Saúde Pública; e Moacyr Scliar, de Medicina, Literatura e Artes – criadas pela Reso-lução 1.972/11.

As homenagens ressal-tam o desempenho ético, a competência técnica e o compromisso desses mé-dicos com a sociedade e a medicina. De acordo com o presidente do CFM,

Roberto Luiz d’Avila, as comendas celebram traje-tórias que dão o exemplo para as futuras gerações de médicos que enxergam

no exercício ético da me-dicina um objetivo diário. Conheça, a seguir, uma síntese da trajetória dos homenageados de 2013.

Destaques médicos são homenageadosConselho Federal institui duas novas comendas e, pela primeira vez, congratula cinco profissionais de renome

Comendas CFM 2013

Conheça mais sobre os homenageados deste anoJoão Manoel Cardoso Martins - Comenda Moacyr Scliar (Medicina, Literatura e Artes)

Nasceu em Portugal, em junho de 1947, e migrou com a família para o Brasil na década de 50 – graduando-se em 1971. Já professor, João Manuel passou a produzir, em 2002, uma coluna no jornal do CRM-PR com o sugestivo nome de “Iátrico”. Mais que incursões na cultura, nas artes e na profissão, o espaço pretendia estimular o médico e o estudante de medicina a ler, exercer o senso crítico e pensar num futuro: o seu, o de seus pacientes e o da atividade

médica. A coluna ganhou corpo, virou encarte e foi transformada em revista, que chega em 2013 com 33 edições.

Ruy Laurenti - Comenda Sérgio Arouca (Medicina e Saúde Pública)Natural de Rio Claro (SP), formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) em 1957. Em sua trajetória, passou a se interessar por epidemiologia, informação em saúde/estatísticas de saúde e, em 1971, transferiu-se para o Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Na carreira acadê-mica na USP, foi vice-reitor e a Organização Mundial da Saúde (OMS) o reconheceu, junto com outros docentes, como Grupo de Referência Para Classificação de Doenças e Estatísticas de Saúde e criou o Centro Colaborador da OMS Para a Classificação de Doenças em Língua Portuguesa, do qual Ruy Laurenti foi diretor.

José Osmar Medina de Abreu Pestana - Comenda Zilda Arns Neumann (Medicina e Responsabilidade Social)Formado pela Escola Paulista de Medicina em 1979, foi torneiro mecânico e técnico de laboratório durante todo o curso de graduação. Concluiu a residência médica em Nefrologia no Hospital São Paulo, em 1983, onde foi chefe de plantão do Pronto-Socorro e líder do grupo de transplante renal. Doutor em Medicina em 1986, concluiu dois cursos de pós-doutorado e, desde 1996, preside o Comitê de Ética em Pesquisa da

Unifesp, sendo membro da Comissão de Ética da Sociedade Internacional de Transplantes.

Nelson Grisard - Comenda Fernando Figueira (Medicina e Ensino Médico)Nascido em Florianópolis (SC), em dezembro de 1936, graduou-se na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em 1961. Filho de jornalista e professora, neto e sobrinho (pelos dois lados) de professores normalistas de grupo escolar, é fácil entender sua tendência para o ensino. Em 1975, obteve os títulos de livre docente e doutor em Ciências pela UFSC. Nos últimos 15 anos, tem se dedicado a congressos e jornadas nacionais e internacionais de ética médica e bioética, na busca de aprendi-zado para transmitir a melhor informação aos alunos de graduação em Medicina, tanto na Univali quanto na Unisul, onde atua.

Wilson Oliveira Júnior - Comenda Mário Rigatto (Medicina e Humanidades)Em 1973, formou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE) e posteriormente especia-

lizou-se em Cardiologia. Idealizador e coordenador do Ambulatório de Doença de Chagas e Insuficiência Cardíaca, instalado inicialmente no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e, a partir de 2006, no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape). Teve atuação decisiva na criação da Comissão de Humanização do HUOC-UPE, entre 2004 e 2006, do Comitê de Ética em Pesqui-

sa no HUOC, no período 1997-2007, e da Associação dos Portadores de Síndrome do Pânico/Ampare, em 2003.

Prestígio: homenageados são exemplo para futuras gerações

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Ética MÉdica12

jornal MEDICIna - oUT/2013

Crianças desaparecidas

Médico é foco de site internacional

Defesa humanitária na Síria

O Conselho Federal de Medicina (CFM) lan-

çou, no dia 18 de outubro, o hotsite “Médicos em res-gate de crianças desapare-cidas” – uma ferramenta e gratuita disponível a todos, que em muito ajudará na busca e no cadastramento de crianças desaparecidas no Brasil e em diversos pa-íses latino-americanos e de língua portuguesa. A pági-na tem como primeiro alvo o médico, por ser um públi-co-chave nesse processo, haja vista que, em algum momento, toda criança irá ao médico.

“Médicos em resgate de crianças desaparecidas” terá uma base moderada pelo CFM com dados do Brasil, de países latino- americanos e outros de língua portuguesa. O ca-dastramento de casos será efetuado por meio de um formulário disponível no portal, no qual serão pre-enchidas informações do responsável, da criança e das circunstâncias do de-saparecimento. No espaço

destinado à criança, deve-rão constar informações como: nome completo, sexo, data de nascimento, cor dos olhos, do cabelo e da pele, tipo físico, marcas ou cicatrizes, existência de algum tipo de deficiência ou doença mental, além de foto. Nas circunstâncias do ocorrido, a apresentação do boletim de ocorrên-cia (BO) é obrigatória e o cadastro poderá ser feito para crianças desapareci-das nos seguintes países: Brasil, Portugal, Espanha, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

“Pesquisas apontam que, pelo menos, 40 mil crianças desapareçam por ano apenas no Brasil. Mas os números devem ser maiores, pois não há um serviço estatal eficiente com foco nesse problema. Os médicos estão solidá-rios à dor destas famílias e passam a ser agentes nessa busca incansável”, ressalta Roberto d’Avila,

presidente do CFM.Atualmente, existem

diversos sites e serviços so-bre crianças desaparecidas, mas este será o primeiro de escopo internacional e voltado ao público médi-co, que assume o papel de agente agregador. Periodi-camente, o CFM entrará em contato com os respon-sáveis pelas crianças ca-dastradas para atualizar as informações e dar baixa no registro das encontradas.

Orientações sobre como evitar o desapareci-

mento de crianças e como proceder caso as reconhe-ça ou possua informações que possam ajudar a polí-cia, terão espaço de desta-que no hotsite, que também indicará procedimentos médicos que facilitam na identificação dessas crian-ças durante o atendimento, e um formulário de busca.

A página “Médicos em resgate de crianças de-saparecidas” está dispo-nível no endereço www.criancasdesaparecidas.org em três idiomas: portu-guês, espanhol e inglês. O

CFM é o responsável pelo hotsite em português e a Confederação Médica La-tinoamericana e do Caribe (Confemel), representada por Eduardo Santana no lançamento, fecha parce-rias para a moderação nos demais idiomas. O proje-to também tem apoio do Conselho Geral de Co-légios Oficiais e Médicos da Espanha, presente no evento em Brasília na pes-soa de seu presidente, Juan José Rodrígues Sendín.

Serviço: “Médicos em resgate de crianças desaparecidas” é uma ferramenta online e gratuita disponível a todos

O Conselho Federal de Medi-cina (CFM) assinou a Carta Aberta “Deixe-nos tratar os pacientes na Síria”, dirigida ao governo sírio para que cessem os ataques a hospitais, ambu-lâncias e instalações médicas, com vistas a que os profissio-nais de saúde possam atender os pacientes. A Carta, assi-nada por três ganhadores do prêmio Nobel da área médica, professores de universidades americanas e europeias e diri-gentes de 26 entidades médi-cas mundiais, tem o objetivo de sensibilizar o governo sírio, os países aliados ao ditador Bashar al-Assad, os grupos en-volvidos e a Organização das Nações Unidas (ONU) acerca da insegurança vivida por mé-dicos e pacientes no país.“Como médicos e profissionais de saúde, exigimos urgentemen-te que os colegas médicos da Síria recebam permissão e apoio

para tratar pacientes, salvar vi-das e aliviar o sofrimento sem temer ataques e represálias” – bradam os signatários da Carta.De acordo com a organização não governamental (ONG) internacional Crisis Action, organizadora das assinaturas da Carta, 37% dos hospitais sírios foram destruídos e outros 20% encontram-se danifica-dos. Clínicas foram convertidas em centros de trauma, cerca de 469 funcionários da saúde estão presos e 15 mil médicos foram obrigados a fugir para o exterior. “Os ataques contra instalações médicas e seus fun-cionários são cometidos de ma-neira deliberada e sistemática”, o que demonstra “uma inescru-pulosa violação ao princípio da neutralidade médica”. À ONU e aos doadores internacionais, os signatários solicitam que aumentem o apoio às redes de médicos.

Diante dessa situação, “Deixe- nos tratar os pacientes na Síria” solicita ao governo sírio que impeça esse tipo de ataque, res-ponsabilizando quem praticar essa violência, e reivindica aos governos aliados de Bashar al- Assad, especialmente a Rússia, que exijam a interrupção dos ataques das forças sírias contra médicos, demais profissionais de saúde, instalações e pacientes.O documento ressalta também que, “com o sistema sírio de saúde à beira do colapso com-pleto, pacientes que enfrentam doenças crônicas como o cân-cer, diabetes, hipertensão e doenças cardíacas, com neces-sidade de assistência médica de longo prazo, não sabem a quem recorrer para obter este cuidado médico”.Leia a Carta traduzida no link http://goo.gl/6kznO7 ou a original em inglês em http://goo.gl/ZqOGUH

A ONG Crisis Action denuncia que a população está vulnerável a epidemias

de hepatite, febre tifoide, cólera e disenteria. Foi exacerbada uma epidemia de

leishmaniose cutânea, houve aumento nos casos de diarreia aguda e, segundo

agências humanitárias, foi registrada uma epidemia de sarampo. Há denúncias

de que crianças nascidas após o começo dos conflitos não foram vacinadas.

CFM assina carta para serviços médicos serem poupados

CFM é o moderador do portal que agre-gará dados de mais de dez países