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FILOSOFIA – Capítulo 12 O positivismo: a divinização da ciência AUGUSTO COMTE 02 JOHN STUART MILL 05 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 07 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 07 SEÇÃO ENEM 08

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FILOSOFIA – Capítulo 12

O positivismo:

a divinização da ciência

AUGUSTO COMTE 02

JOHN STUART MILL 05

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 07

EXERCÍCIOS PROPOSTOS 07

SEÇÃO ENEM 08

A riqueza aumentou juntamente com a produção em larga escala, criando-se assim um ciclo virtuoso entre oferta e procura, pois, à medida que a produção aumentava, crescia também o número de trabalhadores assalariados, o que, consequentemente, gerava mais produção. Naquele momento, ocorreram importantes avanços científicos, como na Medicina, por exemplo, que encontrou solução para algumas das doenças infecciosas que afligiam a humanidade.

Foi nesse período também que a Revolução Industrial atingiu o auge de seu desenvolvimento, o que mudou radicalmente a vida dos homens. O entusiasmo com o progresso da humanidade, visto como algo certo e irrefreável, e com a construção de uma vida melhor e mais feliz, a qual seria proporcionada pelos avanços científicos, pode ser notado em diversos aspectos da vida humana, tendo-se em vista a crença de que todos os problemas seriam resolvidos pelo conhecimento científico aplicado na indústria e na educação.

De 1830 a 1890, os avanços dos conhecimentos nos vários campos do saber se fizeram notáveis. Na Física, os estudos de Hertz sobre o Eletromagnetismo e os de Joule e Thomson sobre a Termodinâmica foram os grandes destaques. No campo da Biologia, Pasteur desenvolveu a microbiologia. Bernard desenvolveu a Fisiologia e a medicina experimental e Darwin, sua Teoria Evolucionista. Nesse momento da História, como sinal do crescente conhecimento da Engenharia e de suas tecnologias, foram construídos a Torre Eiffel, em Paris, e o canal de Suez, ligando a Europa à Ásia, o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho.

O positivismo encontrou, assim, seus principais pontos de apoio na estabilidade política da Europa, no notável crescimento das indústrias, no desenvolvimento latente das ciências e no aparecimento de novas tecnologias. Visto como o romantismo da Ciência, o positivismo acompanhou e estimulou o surgimento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade moderna, o que se expressa no otimismo que acompanhou a origem do movimento de industrialização.

Essa corrente de pensamento pode ser dividida em duas formas históricas essenciais:

1. Positivismo social: Essa forma de positivismo, representada por Saint-Simon, Augusto Comte e John Stuart Mill, surgiu da necessidade de constituir a Ciência como o fundamento de uma nova ordenação social e religiosa da sociedade.

2. Positivismo evolucionista: Essa segunda forma, representada por Spencer, ampliou o conceito de progresso do positivismo e lutou por sua imposição em todos os campos da Ciência.

O positivismo foi um movimento filosófico do século XIX que teve como principal característica a romantização da Ciência, ou seja, a crença de que ela deveria servir como guia exclusiva da vida individual e social do homem: deveria ser, assim, o único conhecimento, a única moral, a única religião possível. Exercendo grande influência em todo o pensamento europeu, o positivismo tinha em sua essência as ideias empiristas, o que o fez ser considerado por alguns estudiosos como um desenvolvimento do empirismo. Tendo como principal representante Augusto Comte (1789-1857), o movimento positivista espalhou-se por todo o mundo ocidental e manifestou-se nas mais diversas áreas do conhecimento.

Derivado do latim positum, o termo positivismo refere-se àquilo que está posto, situado, que existe na realidade, referindo-se, portanto, a tudo o que pode ser observado e experimentado. Esse termo foi uti l izado pela primeira vez por Saint-Simon (1760-1825), um dos fundadores do socialismo utópico, para designar o método exato das Ciências e sua extensão para a Filosofia, acreditando que o avanço da Ciência determinaria as mudanças políticas, sociais, morais e religiosas pelas quais a sociedade deveria passar.

Tendo em vista a definição do termo, fica clara a crítica do positivismo a qualquer filosofia metafísica, a qual buscava algo que ultrapassasse a simples aparência dos seres, ou seja, a filosofia que buscava uma essência imaterial das coisas por meio da razão. Para a filosofia positivista, só é conhecimento aquele que diz respeito ao mundo material (empírico), sendo que tudo aquilo que não se possa experimentar não existe ou não pode ser conhecido.

O positivismo desenvolveu-se plenamente em uma Europa que vivia um quadro político de paz substancial, a qual se deu logo após os movimentos revolucionários de 1848, conhecidos também como A primavera dos povos, e, também, em um contexto de expansão colonial europeia na África e na Ásia. Nesse contexto social e político, a Europa vivenciava a concretização de seu desenvolvimento industrial, o que trouxe uma mudança radical no modo de ser e de viver dos homens, graças aos avanços proporcionados pelo desenvolvimento das ciências e pela produção de novas tecnologias. Tais tecnologias modificaram todo o modo de produção dentro das indústrias, trazendo como inevitável consequência o crescimento vertiginoso das cidades, que se tornaram centros urbanos cada vez mais procurados por trabalhadores em busca de novas oportunidades de emprego e renda, rompendo com o antigo equilíbrio entre cidade e campo.

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6. O positivismo foi visto como o auge dos ideais iluministas que, rompendo com uma concepção idealista de conhecimento, valorizavam os fatos empíricos como os únicos capazes de levar ao conhecimento verdadeiro, além de valorizarem a fé na racionalidade, o poder da Ciência para resolver os problemas humanos e sociais e a cultura como criação exclusivamente humana sem a interferência da divindade.

7. De uma forma geral, o positivismo pecou pela confiança acrítica na Ciência, vista como aquela que produziria um novo mundo pelo progresso. A inevitabilidade defendida pelo positivismo era considerada inquestionável, o que fugia ao espírito da própria Filosofia.

8. O pensamento positivista levou à formulação de críticas a todo o conhecimento que não fosse real e empiricamente comprovado. Assim, ainda que o positivismo tenha caído, mais tarde, em uma concepção metafísica de igual proporção, a metafísica e qualquer concepção idealista de mundo eram combatidas como formas inferiores e antiquadas de pensamento.

9. Alguns marxistas criticaram o positivismo ao vislumbrar, nessa concepção de progresso inevitável, a concretização dos ideais burgueses e dominadores.

10. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram substituídas pelo culto à Ciência, considerada a única capaz de compreender o mundo. O mundo espiritual foi, assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias de espírito ou essência foram substituídas pela ideia de matéria.

AUGUSTO COMTE Nascido em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier,

França, membro de uma modesta família católica, Augusto Comte ficou conhecido como o fundador da Sociologia e como o maior representante do positivismo enquanto movimento filosófico.

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Augusto Comte, o maior representante do positivismo.

Os principais representantes do positivismo foram: na França, Augusto Comte (1798-1857); na Inglaterra, Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903); na Alemanha, Jakob Moleschott (1822-1919) e Ernest Haeckel (1834-1919); na Itália, Roberto Ardigò (1828-1920). Em cada um desses países, o positivismo mostrou traços próprios e desenvolvimentos específicos. Porém, alguns princípios são comuns a todas essas ramificações, garantindo ao positivismo seu caráter de movimento filosófico.

Teses fundamentais do positivismo:

1. A Ciência é o único conhecimento possível e seu método é o único válido para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios que não sejam acessíveis ao método científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. A investigação metafísica, ou seja, a busca por verdades que ultrapassam a matéria, não tem nenhum valor.

2. O método da Ciência busca descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre eles, expressando-os em leis que permitem ao homem realizar a previsão dos fatos futuros, tese defendida por Comte. No campo da evolução, Spencer afirma que as experiências permitem prever a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples, uma vez que a lei advinda da observação e da experiência da natureza é a tradução da regularidade observada na natureza. Assim, o positivismo baseia-se na identificação das leis causais e no domínio sobre os fatos. O método descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da natureza quanto no estudo da sociedade. Os fatos naturais, além de constituírem as relações de causa e efeito no mundo natural, também o fazem no mundo social, nas relações entre os homens, o que deixa clara a importância da Sociologia para o positivismo.

3. O método da Ciência, por ser o único válido, deve ser estendido a todos os campos de indagação e da atividade humana, que, tanto no campo individual quanto no social, deve ser guiada por ele. O método científico é, portanto, o único capaz de possibilitar a compreensão do mundo e também a resolução de seus problemas. Por essa razão, surge a crença de que a Ciência é capaz de construir um mundo melhor, resolvendo todos os problemas humanos e sociais.

4. No momento histórico do positivismo, observou-se um otimismo crescente, já que a humanidade acreditava que o progresso era inevitável e que o caminho para a construção de um mundo melhor havia sido, enfim, encontrado. Essa nova realidade de bem-estar geral, de paz e de solidariedade deveria ser então construída pelo conhecimento científico e pelo trabalho humano.

5. Nesse período, acreditava-se que o positivismo construiria um mundo melhor e mais justo, em que todos teriam garantidas as melhores condições de vida, proporcionando a plena felicidade a todos. Esse estágio de desenvolvimento humano seria inevitável e, por isso, o positivismo trazia uma visão messiânica da História, acreditando que o mundo positivista era o último e perfeito.

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O conhecimento do mundo aprimorou-se ao longo do tempo, o que levou ao consequente aprimoramento das concepções sobre o mundo. A humanidade avançou de uma condição rudimentar e bárbara para uma condição civilizada de mundo, progresso este que se manifestou no aprimoramento constante dos homens e de suas visões sobre a realidade, o que explicaria, inclusive, as transformações da História.

A lógica que permeia essa teoria é a de que a humanidade, enquanto não houvesse atingido o auge de seu desenvolvimento, conheceria o mundo de forma imperfeita. Porém, essas formas imperfeitas iriam sendo substituídas por outras melhores até que a humanidade chegasse ao último estágio do conhecimento, em que as antigas superstições e os pré-conceitos tornassem-se desnecessários e obsoletos.

Os estágios da humanidade são:

1º estado – Teológico: Nesse estágio, o ser humano explica a realidade apelando para entidades sobrenaturais (os “deuses”). Busca-se, dessa forma, o absoluto e as causas primeiras e finais representadas por questões como “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. No estágio teológico, os fenômenos são vistos como produtos da ação direta de seres sobrenaturais cuja vontade arbitrária comanda a realidade.

2º estado – Metafísico: O estágio metafísico é uma espécie de meio-termo entre o estado teológico e o positivo. No lugar dos deuses, há a presença de entidades abstratas, como essência e substância dos seres, para explicar a realidade. Permanece, no entanto, a busca por respostas às questões “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. Procura-se, assim, o absoluto, com a diferença de que este não é mais uma divindade, mas sim conceitos abstratos como essência e ideias. Para Comte, as explicações teológica ou metafísica são ingenuamente psicológicas, possuindo importância, sobretudo histórica, como crítica e negação da explicação teológica precedente, mas não encerrando a verdade em si mesmas. Nesse segundo estágio, fala-se de natureza, de povo, etc. como conceitos abstratos e absolutos.

3º estado – Positivo: Essa é a etapa final e definitiva do conhecimento sobre o mundo, na qual não se busca mais o “porquê” das coisas, mas sim o “como” elas são. Esse conhecimento se estabelece por meio das descobertas e do estudo das leis naturais, ou seja, das relações de causa e efeito a que todas as coisas estão submetidas. Nesse estágio, que consiste no apogeu das etapas anteriores, a imaginação é excluída e prioriza-se a observação dos fenômenos concretos, encontrando-se, assim, as leis por detrás de seu funcionamento.

É no estado positivo que o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos, renuncia a perguntar qual é sua origem, qual o destino do universo e quais as causas íntimas dos fenômenos para procurar somente descobrir, com o uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, isto é, suas relações invariáveis de sucessão e semelhança.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 20. Coleção Os Pensadores.

Apesar da educação religiosa recebida, afastou-se da fé católica aos 14 anos de idade, ingressando, em 1814, na Escola Politécnica de Paris (École Polytechnique), a qual exerceu forte influência sobre seu pensamento. Comte foi expulso dessa escola em 1816 por participar de um motim realizado pelos alunos em uma época marcada pelas mudanças políticas pós-napoleônicas. Retornou em seguida à sua cidade natal, onde estudou Medicina por pouco tempo. Em 1817, retornou a Paris, passando a sobreviver de seu trabalho como professor particular de Matemática e escrevendo para alguns jornais.

Aqueles foram tempos tortuosos para Comte, que passava por necessidades financeiras, tendo de recorrer constantemente ao dinheiro enviado pela mãe para sobreviver. Durante certo tempo, foi secretário de um banqueiro na cidade e, de 1818 a 1824, tornou-se secretário do socialista utópico Conde de Saint-Simon, sobre o qual teceu duras críticas mais tarde. Em 2 de abril de 1826, iniciou seu curso público de Filosofia Positiva. Abandonado pela mulher, sofreu sérias perturbações mentais, suspendendo o curso de Filosofia, o qual retomou somente em 1829, tendo mantido-o até 1842, período de publicação da redação do curso.

Em 1844, começou seu envolvimento amoroso com Clodilde de Vaux, que faleceu no ano seguinte, vítima de tuberculose. Com a morte da amada, Comte vivenciou maus momentos, o que influenciou fortemente para que seu pensamento se tornasse uma espécie de misticismo, com a consequente fundação da religião da humanidade em 1852. Comte faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris, possivelmente acometido de câncer. Sua última casa, situada à Rua Monsieur-le-Prince, nº 10, em Paris, foi posteriormente adquirida por alguns positivistas e transformada no Museu Casa de Augusto Comte.

Obras

• Planos de trabalhos científicos para reorganizar a sociedade, 1822.

• Curso de filosofia positiva, sua obra-prima, publicado em seis volumes, escrito de 1830 a 1842.

• Discurso sobre o espírito positivo, 1844. • Discurso sobre o conjunto do positivismo, 1948,

reunindo, no 4º volume, seis opúsculos editados de 1819 a 1828.

• Sistema de política positiva, instituindo a religião da humanidade, em quatro volumes, escritos de 1851 a 1854.

• Catecismo positivista ou sumária exposição da religião da humanidade, 1852.

• Síntese subjetiva ou sistema universal de concepções próprias ao estado normal da humanidade, 1856.

Além dessas obras, há três outras publicadas postumamente.

A Lei dos Três EstadosA ideia-chave do positivismo comtiano é a Lei dos Três

Estados, a qual ele chamava, inclusive, de “minha grande lei”. De acordo com a teoria comtiana, a humanidade vivenciou três estágios de concepções sobre o mundo, sendo que em cada estágio haveria a ideia de futuro enquanto progresso e, portanto, o estágio posterior seria sempre melhor e mais perfeito do que o anterior.

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A religião da humanidade Em sua última grande obra, O sistema de política positiva,

escrita entre os anos 1851 e 1854, Comte demonstrou sua crença de que a teoria positiva pudesse produzir uma sociedade regenerada. O aperfeiçoamento dos homens se daria por meio da Ciência e das leis sociais, as quais assumiriam o papel de religião. Porém, nessa religião positiva, não se adoraria uma divindade extraterrena, mas sim a própria humanidade. O amor a deus, portanto, presente no estágio teológico, cederia lugar, no estado positivo, ao amor à humanidade.

Para Comte, a ideia de humanidade representa todos os indivíduos que existem, existiram e que ainda irão existir, sendo um conceito que engloba mais do que apenas os indivíduos particulares. Todos os indivíduos são como células de um grande organismo, a humanidade, que deve ser venerada como eram os deuses.

Tomando como base a organização do catolicismo, como cultos, ritos, hierarquia e doutrina, Comte afirmou que a nova religião da humanidade também deveria ter dogmas, os quais consistiriam nas verdades científicas e na Filosofia Positiva. Também existiriam sacramentos, como o batismo secular, o crisma e a unção dos enfermos, e seriam construídos templos, os institutos científicos, dentre outros.

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Capela do positivismo ou da religião da humanidade em Porto Alegre, RS. Em sua fachada, a frase de Comte: O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.

O positivismo no BrasilO positivismo, enquanto movimento fi losófico,

espalhou-se por todo o mundo, chegando ao Brasil e ocupando lugar de destaque na política e no pensamento nacionais durante a passagem do século XIX para o XX. Dentre os mais importantes positivistas, destacam-se o Coronel Benjamin Constant, considerado o fundador da república brasileira, e os pensadores Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927). Além disso, cabe ressaltar que os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram especialmente marcados pelas influências positivistas.

Para Comte, esses estágios são necessários para a evolução da humanidade e do homem, representando fases de compreensão da realidade que se sucedem rumo à perfeição do saber. Assim, sua Lei dos Três Estágios serviria para compreender o desenvolvimento do homem, o qual estaria no estado teológico em sua infância, no metafísico em sua juventude e no positivo em sua maturidade.

Segundo Comte, a época em que ele vivia já passava pelo estágio positivo e, assim, qualquer forma de conhecer a realidade que não fosse pela Ciência deveria ser extinta, já que o progresso e a construção de um mundo perfeito ocorreriam apenas como consequência do conhecimento científico.

Estudando o desenvolvimento da inteligência humana [...] desde sua primeira manifestação até hoje, creio ter descoberto uma grande lei fundamental [...] Esta lei consiste no seguinte: cada uma de nossas concepções principais e cada ramo de nossos conhecimentos passam necessariamente por três estágios teóricos diferentes: o estágio teológico ou fictício, o estágio metafísico ou abstrato e o estágio científico ou positivo [...] daí três tipos de filosofia ou de sistemas conceituais gerais sobre o conjunto dos fenômenos, que se excluem reciprocamente. O primeiro é um ponto de partida necessário da inteligência humana; o terceiro é seu estado fixo e definitivo; o segundo destina-se unicamente a servir como etapa de transição.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 18. Coleção Os pensadores.

A classificação das Ciências Comte classificou as Ciências a partir das mais gerais

para as menos gerais, de acordo com a generalidade do seu objeto. Logo, segundo essa concepção, a mais geral de todas as Ciências seria a Matemática, seguida da Astronomia, da Física, da Química, da Biologia e da Sociologia, com objetos progressivamente menos gerais, e, portanto, mais complexos. Partindo dessa classificação, a Sociologia comtiana figura como a mais complexa de todas as Ciências. Para Comte, os caminhos para se alcançar o conhecimento das leis que regem a sociedade são a observação, o experimento e o método comparativo. Segundo o filósofo, para se passar de uma sociedade desordenada para uma ordenada, é necessário um conhecimento científico sobre tal sociedade e, para que esse conhecimento seja eficaz, deve-se encontrar as leis que regem os fenômenos sociais de modo que se perceba as relações de causa e efeito no interior dessa sociedade. Comte chama a Sociologia de “física social”, pois, assim como a Física encontra as leis dos fenômenos naturais e dos movimentos dos corpos, a Sociologia é capaz de encontrar as leis que regem a sociedade. Comte não menciona a Filosofia em sua classificação, uma vez que ela tem o papel de ordenadora e de instrumento de conhecimento de todas as outras Ciências.

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como o princípio governante da conduta humana. Para ele, dor e prazer eram os “mestres soberanos” da humanidade. Dessa ideia, nasceu a teoria moral do utilitarismo, segundo a qual o único fim da conduta humana é alcançar a maior felicidade para o maior número de pessoas possível.

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Jonh Stuart Mill.

James Mill queria que o filho se tornasse um gênio, e, para isso, esmerou-se em proporcionar a Stuart Mill uma educação apropriada, escolhendo inclusive suas amizades. Adepto da teoria da tábula rasa de John Locke, James Mill sabia que o filho deveria passar por experiências construtivas para que pudesse desenvolver ideias superiores. Por isso, a educação de Stuart Mill foi muito rigorosa, pois ele deveria ser aquele a assegurar o sucesso do utilitarismo no futuro. Devido aos planos de seu pai, Stuart Mill foi educado exclusivamente em casa, garantindo a James Mill total participação nas etapas da educação intelectual de seu filho.

Com apenas três anos de idade, Stuart Mill já havia aprendido o alfabeto grego e um grande número de palavras nessa língua. Com oito anos, já havia lido Esopo, Xenofonte, Heródoto, Diógenes, Isócrates e seis diálogos de Platão, além de muitos livros sobre a História da Inglaterra. Foi com essa idade também que aprendeu latim e álgebra, tendo sido escolhido como tutor dos membros mais jovens de sua família. Antes mesmo de completar dez anos de idade, Stuart Mill já lia livros em latim e em grego que somente eram lidos pelos jovens mais velhos nas escolas e nas universidades.

Aos dezoito anos, começou a estudar Lógica, lendo os tratados lógicos de Aristóteles no original grego. Estudou Economia através dos trabalhos de Adam Smith e de David Ricardo, grandes pensadores utilitaristas e dois dos principais representantes do positivismo social na Inglaterra. Ainda com dezoito anos, afirmou, em sua Autobiografia, que era uma “máquina lógica”. Com 21 anos, Stuart Mill caiu em profunda depressão, recuperando-se somente anos depois.

A partir da segunda metade do século XIX, as idéias de Augusto Comte permearam as mentalidades de muitos mestres e estudantes militares, políticos, escritores, filósofos e historiadores. Vários brasileiros adotaram, ou melhor, se converteram ao positivismo, dentre eles o professor de Matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro, Benjamin Constant, o mais influente de todos. Tais influências estimularam movimentos de caráter republicano e abolicionista, em oposição à monarquia e ao escravismo dominante no Brasil. A Proclamação da República, ocorrida através de um golpe militar, com apoio de setores da aristocracia brasileira, especialmente a paulista, foi o resultado “natural” desse movimento.

VALENTIM, Oséias Faustino. O Brasil e o positivismo. Rio de Janeiro: Publit, 2010.

A expressão mais clara da influência do positivismo no Brasil figura na própria Bandeira Nacional, que traz a máxima política positivista “Ordem e Progresso”, originada como uma variação da citação de Comte: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, que representa o desejo de uma sociedade justa, fraterna e progressista. Tal frase conduz ao pensamento de que a ordem das coisas, expressa no conhecimento científico a partir das relações de causa e efeito, levaria ao progresso inevitável na vida material e na sociedade, sendo esta a principal crença do positivismo.

O lema “Ordem e Progresso”, impresso na Bandeira Nacional, nasceu do pensamento positivista, segundo o qual somente pela ordem é possível alcançar o progresso.

De acordo com a perspectiva positivista, o progresso é fruto de uma atitude racional deliberada, podendo ser alcançado por meio de decisões racionais e científica, as quais devem ser tomadas por governos competentes, constituídos de pessoas capacitadas.

JOHN STUART MILLNascido em Londres, em 1806, Stuart Mill teve contato

com a Filosofia desde muito cedo. Seu pai, James Mill, foi um importante filósofo da corrente utilitarista de Jeremy Bentham, o qual havia sido, inclusive, professor de Stuart Mill. Bentham considerava o hedonismo (do grego hedonê: prazer, alegria, desejo) psicológico

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O utilitarismo de Stuart Mill O utilitarismo é uma das doutrinas éticas que consideram

a felicidade o bem maior a ser buscado em toda e qualquer ação. Logo, a ação humana deve ter como critério de bem e mal o “princípio da maior felicidade”, conhecido também como princípio da utilidade, que encontra suas origens na filosofia de Epicuro. Bentham, porém, foi quem desenvolveu essa ideia com maior sistematização. Segundo ele, na obra Uma investigação dos princípios da moral e da legislação, de 1789:

[...]o princípio da maior felicidade é aquele que aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo.

BENTHAM, Jeremy. Uma investigação dos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril cultural, 1974. p. 4.

A melhor ação seria, portanto, aquela que proporcionaria maior prazer ou felicidade ao indivíduo ou à comunidade, definindo-se o critério de certo ou errado de acordo com o maior grau de felicidade para um maior número de pessoas. De acordo com Bentham, são sete os critérios utilizados para definir se uma ação irá trazer ou não a felicidade, os quais devem auxiliar na avaliação das dores e dos prazeres para a tomada de decisão: intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade ou longinquidade, fecundidade, pureza e extensão.

Essa posição filosófica de Bentham, porém, pode ser facilmente confundida com o hedonismo (a busca do prazer sem se preocupar com as consequências posteriores), uma vez que o princípio da maior felicidade está ligado ao prazer, e nem tudo o que traz prazer para o homem é necessariamente bom. Há de se distinguir os tipos de prazeres, como o faz Epicuro, mas de forma mais sistemática, de modo que se evite o erro do subjetivismo e do egoísmo, pois, aquilo que seria prazer e felicidade para uns, poderia não o ser para outros.

Buscando justificar a posição ética de seu mestre, Stuart Mill reelabora sua tese, defendendo a necessidade de unir ao hedonismo aspectos do estoicismo e do cristianismo. Faz-se necessária, assim, uma distinção clara entre os prazeres humanos e os prazeres animais. Tal distinção se dá qualitativamente, sendo que os prazeres melhores e superiores, chamados por Mill de prazeres mentais, estão ligados ao pensamento, enquanto os prazeres inferiores, chamados de prazeres corporais, estão ligados ao corpo.

Stuart Mill acreditava que o homem deveria buscar em sua vida os prazeres que lhe fariam alcançar a felicidade, fazendo a distinção adequada desses prazeres, sendo que os prazeres superiores e mentais é que fariam o homem verdadeiramente feliz, embora os prazeres inferiores e corporais não devessem ser deixados de lado, precisando apenas ser buscados com moderação e comedimento.

Stuart Mill trabalhou de 1823 a 1858 na Auditoria da Companhia Inglesa das Índias Orientais, passando a maior parte de seus últimos anos de vida em Avignon, embora tivesse sido membro da Câmara dos Comuns, no Parlamento Inglês, de 1865 a 1868. A partir de 1823 seu emprego lhe permitiu dedicar-se a outras atividades, principalmente aos seus escritos.

O Sistema de lógica dedutiva, uma de suas principais obras, foi publicado em 1843. Em 1848, publicou os Princípios de economia política e, de 1854 a 1860, escreveu sua obra mais importante, Utilitarismo. Em 1859, foi publicada a obra A liberdade, seguida, em 1869, de Sujeição das mulheres, obra na qual atacava o argumento de que as mulheres eram naturalmente piores do que os homens em certos aspectos e que, por isso, elas deveriam ser proibidas de realizarem certos atos. John Stuart Mill morreu em Avignon, vítima de erisipela infecciosa, no dia 8 de maio de 1873.

A crítica ao silogismo e o princípio da uniformidade da natureza

Em sua obra Sistema de lógica dedutiva, Mill empenhou-se em criticar o silogismo lógico, que tem sua conclusão ou dedução inferida necessariamente das premissas do próprio silogismo. Um bom e clássico exemplo de silogismo é: “Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal”. Concluir que Sócrates é mortal é chegar a uma ideia que já estava contida nas premissas do argumento. Partindo desse raciocínio, fica claro que a conclusão dedutiva não acrescenta nada às informações presentes nas premissas. Por isso, para Mill, o argumento dedutivo ou silogístico é estéril.

Stuart Mill afirmava que a verdade da proposição “Todo homem é mortal” provinha das experiências, realizadas anteriormente, de observar vários homens mortos. Por isso, o filósofo defendia que toda inferência é feita “do particular para o particular”, ou seja, em todos os casos, o conhecimento obtido por meio de um raciocínio lógico é proveniente de experiências anteriores do mesmo caso. A proposição geral de um raciocínio dedutivo não passa, portanto, de um conjunto de experiências particulares feitas anteriormente. Com isso, Mill buscou defender que todo conhecimento é de natureza empírica.

Diante dessa posição filosófica, surge, entretanto, uma questão: se todo o conhecimento vem de experiências particulares, inclusive as proposições gerais de uma dedução têm sua origem em experiências realizadas anteriormente, como é possível ao homem generalizar uma dada informação? No exemplo anterior, ao se afirmar que “Todo homem é mortal”, faz-se uma generalização, uma vez que é impossível a alguém observar todos os casos particulares do mundo para chegar a essa verdade.

Como solução para esse problema, Mill afirmou que a garantia para que as inferências que levam às generalizações ocorram em todos os casos é a de que “o curso da natureza é uniforme”, ou seja, a natureza age sempre da mesma maneira, seguindo uma mesma causalidade, e é somente graças a esse princípio que se pode alcançar um conhecimento por meio da indução lógica.

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02. O caráter fundamental da Filosofia é tomar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis cuja descoberta precisa e cuja redução ao menor número possível constituem o objetivo de todos os nossos esforços, considerando como absolutamente inacessível e vazia de sentido para nós a investigação das chamadas causas, sejam as primeiras sejam as finais.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 7. Coleção Os Pensadores.

De acordo com o texto e com outros conhecimentos sobre o assunto, EXPLIQUE o que Comte chama de “causas primeiras” e “causas finais”.

03. Estudando, assim, o desenvolvimento total da inteligência em suas diversas esferas de atividades, desde seu primeiro vôo mais simples até os nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental, a que se sujeita por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, quer na base de verificações resultantes dum exame atento do passado. Essa lei em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nosso conhecimento, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado científico ou positivo.

COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 18. Coleção Os Pensadores.

IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Comte na citação anterior.

04. Nós reconhecemos que a verdadeira ciência [...] consiste essencialmente de leis e não mais de fatos, embora estes sejam indispensáveis para o seu estabelecimento e sua sanção.

COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p.35. Coleção Os pensadores.

A partir da citação anterior e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre leis e fatos e tendo como base o positivismo de Comte.

05. As idéias governam e subvertem o mundo, em outros termos, todo o mecanismo social repousa finalmente sobre opiniões [...] A grande crise política e moral das sociedades atuais está ligada, em última analise, à anarquia intelectual.

COMTE, Augusto. Curso de Filosofia Positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 17. Coleção Os pensadores.

EXPLIQUE o que é, para Comte, a “anarquia intelectual”.

06. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram substituídas pelo culto à Ciência, considerada a única capaz de compreender o mundo. O mundo espiritual foi, assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias de espírito ou essência foram substituídas pela ideia de matéria.

A partir do trecho anterior, REDIJA um texto explicando por que, na filosofia positiva, o espírito ou essência é substituído pela matéria.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

01. Leia os trechos a seguir:

Ciência, logo previsão; previsão, logo ação: tal é a fórmula simplicíssima que expressa de modo exato a relação geral entre a ciência e a arte, tomando estes dois termos em sua acepção total.

Auguste Comte

A ciência, e apenas a ciência, pode tornar a humanidade aquilo sem o que ela não pode viver, um símbolo e uma lei.

Ernest Renan

A evolução pode terminar apenas com o estabelecimento da maior perfeição e da mais completa felicidade.

Herbert Spencer

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. 2. ed. 7 v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume V. p. 285.

A partir das citações anteriores e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a importância da Ciência para o positivismo.

02. A Ciência é o único conhecimento possível e seu método é o único válido para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios que não sejam acessíveis ao método científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. A investigação metafísica, ou seja, a busca por verdades que ultrapassam a matéria, não tem nenhum valor.

De acordo com o texto e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a crítica do positivismo ao conhecimento metafísico.

03. [deve-se] pedir desculpas aos opositores do utilitarismo por confundi-los, mesmo que por um momento sequer, com os que são capazes de um equívoco tão absurdo. O equívoco parece ainda mais extraordinário quando se considera que, entre as acusações correntes contra o utilitarismo, figura a acusação contrária de remeter tudo ao prazer, e mesmo ao prazer inferior.

MILL, John Stuart. A Liberdade / Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 185.

A partir do texto e de outros conhecimentos sobre o utilitarismo de Stuart Mill, REDIJA um texto explicando por que o utilitarismo de Mill não prega a busca de qualquer forma de prazer.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

01. [...] o positivismo baseia-se na identificação das leis causais e no domínio sobre os fatos. O método descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da natureza quanto no estudo da sociedade.

De acordo com a citação e com outros conhecimentos relacionados ao positivismo, EXPLIQUE por que as leis causais permitem o domínio dos fatos.

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07. Stuart Mill defendia que toda inferência é feita “do particular para o particular”, ou seja, em todos os casos, o conhecimento obtido por meio de um raciocínio lógico é proveniente de experiências anteriores do mesmo caso.

A partir do trecho anterior, EXPLIQUE a crítica de Stuart Mill ao raciocínio silogístico.

08. [...] a utilidade ou o princípio da maior felicidade como a fundação da moral sustenta que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade e erradas conforme tendam a produzir o contrário da felicidade. Por felicidade se entende prazer e ausência de dor; por infelicidade, dor e privação de prazer [...] o prazer e a imunidade à dor são as únicas coisas desejáveis como fins, e que todas as coisas desejáveis [...] são desejáveis quer pelo prazer inerente a elas mesmas, quer como meios para alcançar o prazer e evitar a dor.

MILL, John Stuart. A Liberdade / Utilitarismo.

São Paulo: Martins Fontes,

2000. p. 187.

EXPLIQUE, de acordo com o pensamento utilitarista, a importância do prazer para o princípio da maior felicidade.

SEÇÃO ENEM

01. Leia com atenção o texto a seguir, em que Augusto Comte se propõe a criar uma nova religião, denominada religião da humanidade:

É assim que o positivismo dissipa naturalmente o antagonismo mútuo das diferentes religiões anteriores, formando seu domínio próprio do fundo comum a que todas se reportaram de modo instintivo. A sua doutrina não poderia tornar-se universal, se, apesar de seus princípios antiteológicos, o seu espírito relativo não lhe ministrasse necessariamente af inidades essenciais com cada crença capaz de dirigir passageiramente uma porção qualquer da Humanidade.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva.

2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983.

p. 139. Coleção Os Pensadores.

A intenção de Comte ao criar essa nova religião era

A) agregar todos os homens em um culto ao Deus cristão.

B) levar os homens ao arrependimento por terem se desviado das verdades metafísicas.

C) promover uma harmonia entre os homens para a construção de uma sociedade melhor.

D) criar uma legislação única a que todos se submetessem de forma irrestrita.

E) incentivar uma visão organicista da sociedade a partir de concepções religiosas.

GABARITO

Fixação01. A ideia central do positivismo é a crença na força

poderosa e transformadora da Ciência. Segundo essa corrente filosófica, política e sociológica, somente através do desenvolvimento científico os homens poderiam construir um mundo melhor. O positivismo tem como premissa fundamental de que é possível decifrar a natureza e a sociedade por meio de relações de causa e efeito. Encontrando tal relação, fundamento de toda e qualquer lei natural, os homens dispensariam qualquer preconceito ou pensamento metafísico e transformariam o mundo de forma a construí-lo com bases puramente racionais, o que garantiria o desenvolvimento do mundo e, consequentemente, o desenvolvimento e a realização de todos os homens.

02. Uma das premissas mais importantes do positivismo é de que só é possível alcançar o conhecimento verdadeiro a partir das experiências. Dessa forma, o conhecimento busca seu fundamento na realidade, uma vez que é a partir das relações entre causa e efeito dos fenômenos naturais que se pode encontrar e determinar as leis que regem a sociedade e a natureza. Assim, qualquer forma de conhecimento que busque ideias ou conceitos que estejam além do mundo material é inválida e falsa, pois procura conhecer aquilo que não é experimentável. A metafísica, sendo a busca pelo conhecimento daquilo que está além do mundo material, físico, é um conhecimento impossível e inválido para o positivismo.

03. Acompanhando Jeremy Bentham, sistematizador do utilitarismo, Mill acredita que o critério da maior felicidade deve ser empregado para decidir as ações boas e más, corretas e incorretas. Para ele, as ações corretas ou boas são aquelas que trazem o prazer e, consequentemente, a felicidade para um número maior de pessoas. Porém, não é qualquer prazer que é buscado por Mill. Para ele, há uma clara classificação entre os prazeres de acordo com sua qualidade. Assim, há prazeres que estão ligados somente à satisfação das necessidades e há prazeres superiores, ligados ao intelecto. Estes devem ser buscados em primeiro lugar e são eles que devem ser utilizados como critério da avaliação das ações.

Propostos01. O conhecimento científico, segundo o positivismo,

baseia-se exclusivamente nas relações de causa e efeito presentes na natureza e na sociedade. Assim, por meio da identificação dessas causas e efeitos é possível alcançar as leis que traduzem a regularidade presente na natureza. Uma vez que se tem o conhecimento dessas leis, é possível prever, pelos fatos, aquilo que acontecerá e se antecipar dominando o que irá acontecer.

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FILO

SOFI

A

05. Para Comte, o conhecimento verdadeiro parte de experiências ordenadas para alcançar uma relação de causa e efeito presente na sociedade e na natureza. Essa ordem é fundamental para que o homem alcance as verdades pela Ciência, que segue, por sua natureza, um método. Outras ideias que se pretendem verdades, mas que não sejam realizadas a partir desse método, não passam de falsidades e opiniões, sendo passageiras e instáveis. Comte afirma, portanto, que a grande crise política e moral da sociedade de seu tempo se deve exatamente à tentativa de conhecer o mundo a partir dessas falsas opiniões, elaboradas por homens que se apoiam na teoria puramente racional e não em conhecimentos verdadeiros obtidos pelo empirismo, o que Comte chama de anarquia ou desordem intelectual.

06. Ao positivismo não interessa nada que não seja experimentável. Assim, a verdade é obtida pela experimentação dos fenômenos naturais e sociais a fim de encontrar sua regularidade e, portanto, suas leis de causa e efeito. Esse é o único conhecimento legítimo da ciência. Assim, o cientista não deve buscar a essência ou o espírito das coisas, pois esses são conceitos abstratos e imateriais que não são possíveis de serem conhecidos, uma vez que não existem. O cientista deve se deter na coisa material, no fenômeno, buscando nele o conhecimento. Por isso a essência é substituída pela matéria, a única capaz de levar o homem à verdade científica.

07. Para Stuart Mill, filósofo influenciado pelo positivismo, as únicas fontes do conhecimento são as experiências realizadas pelos sentidos humanos. Assim, o silogismo, ao sair de premissas gerais para atingir uma verdade, não torna o homem livre dessas experiências. As proposições gerais do silogismo não nascem de outro lugar senão das experiências particulares que foram generalizadas em um princípio. Assim, ao dizer que todos os homens são mortais, essa verdade geral nasceu da observação dos homens de fato, ou seja, tal proposição nasce de experiências. Dessa forma, é possível compreender por que todas as inferências são feitas de experiências particulares para experiências particulares.

08. Para a teoria utilitarista da moral, o critério de avaliação de uma ação em boa ou má, correta ou incorreta, é o princípio da maior felicidade. Desse modo, bom é aquilo que traz a felicidade e mau é aquilo que causa a infelicidade para o maior número de pessoas. Segundo esse princípio, felicidade e infelicidade consistem em ausência de dor e presença de prazer e ausência de prazer e presença de dor, respectivamente. Para Mill, seguindo o pensamento de seu mestre Jeremy Bentham, o prazer é o princípio natural que guia as ações humanas. Buscar o prazer e fugir da dor é natural em todos os animais, sejam irracionais ou racionais. É nesse raciocínio que se encontra o fundamento da moral utilitarista e, consequentemente, o fundamento do prazer para a avaliação das ações.

Seção Enem01. C

Por exemplo: pela Ciência, é possível prever que o consumo de substâncias tóxicas, como o álcool, afetará o funcionamento do fígado daquela pessoa que as consome. O conhecimento das leis do funcionamento permite que sejam tomadas providências para que alguma doença seja evitada ou para antecipar alguns efeitos que decorrerão dessa doença. Assim, as leis permitem o domínio dos fatos futuros.

02. Comte acredita que o conhecimento verdadeiro e legítimo nasce das experiências das coisas reais e não de conceitos abstratos ou de algo que não seja fisicamente experimentável. Ao se referir a causas, o filósofo está falando de essências ou substâncias que determinam a ação ou a existência de um ser qualquer. Para Comte, esse tipo de conhecimento é impossível e os esforços para encontrar tais causas são totalmente inúteis e vazios. Segundo o filósofo, não existe nada que esteja além da matéria, e é ela que nos dá o conhecimento sobre as coisas.

03. Segundo Comte, a humanidade está em um caminho de desenvolvimento rumo à plena realização. Em um processo ascendente, os homens saíram de uma concepção primitiva de mundo, que o filósofo denomina de fase teológica, em que a ideia da divindade era necessária para a compreensão do mundo. Superada essa fase, tem-se a fase ou estágio metafísico, pois, nessa etapa, o homem, apesar de não estar preso à ideia de divindade, passa a almejar conhecer as essências ou causas primeiras das coisas, numa concepção metafísica do mundo. Superada essa fase, os homens são levados ao desenvolvimento de concepções puramente racionais sobre o mundo através da Ciência. Nessa terceira e última fase, toda e qualquer explicação não científica e racional do mundo é negada. A primeira e a segunda fases, apesar de necessárias ao desenvolvimento da humanidade, foram superadas, e, a partir de então, o homem deverá conhecer o mundo pela razão científica, confiando exclusivamente em si mesmo, em sua racionalidade, alcançando a terceira fase ou estágio denominado positivo.

04. A terceira fase ou estágio do desenvolvimento da humanidade, segundo Comte, seria a fase positiva, em que toda busca por algo divino e metafísico da realidade seria superada. Ao alcançar tal estágio, não interessaria mais saber o porquê das coisas, interessando ao conhecimento científico da realidade tão-somente saber o como as coisas, a natureza, funcionam. Buscando esse modelo de conhecimento, os fatos não são em si a finalidade, pois eles dizem respeito à natureza particularmente, sendo que ao positivismo interessa alcançar as leis gerais de funcionamento dessa natureza. O positivismo não nega a importância dos fatos, mas considera que esses fatos são importantes enquanto constituintes da matéria-prima necessária para alcançar, por meio das generalizações, as leis, as quais seriam a abstração máxima da Ciência compreendendo o mundo posto.

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