fichamento vigiar e punir parte iii e iv
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8/14/2019 Fichamento Vigiar e Punir Parte III e IV
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CAPTULO IOS CORPOS DCEIS
Segunda metade do sculo XVIII: o soldado tornou-se algo que se fabrica; de
uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a mquina de que se precisa;
[...], foi "expulso o campons" e lhe foi dada a "fisionomia de soldado" Pg. 117
Esses mtodos que permitem o controle minucioso das operaes do corpo, que
realizam a sujeio constante de suas foras e lhes impem uma relao de
docilidade-utilidade, so o que podemos chamar as "disciplinas". Pg. 118
Diferentes da escravido, pois no se fundamentam numa relao de apropriao dos
corpos.
[...]
Diferentes tambm da domesticidade, que uma relao de dominao constante,
global, macia, no analtica, ilimitada e estabelecida sob a forma da vontade
singular do patro, seu "capricho". Diferentes da vassalidade que uma relao de
submisso altamente codificada, mas longnqua e que se realiza menos sobre as
operaes do corpo que sobre os produtos do trabalho e as marcas rituais da obedincia.
Diferentes ainda do ascetismo e das "disciplinas" de tipo monstico, que tm por funo
realizar renncias mais do que aumentos de utilidade e que, se implicam em obedincia a
outrem, tm como fim principal um aumento do domnio de cada um sobre seu prprio
corpo. Pg. 119
O momento histrico das disciplinas o momento em que nasce uma arte do
corpo humano, que visa no unicamente o aumento de suas habilidades, nem
tampouco aprofundar sua sujeio, mas a formao de uma relao que no mesmo
mecanismo o torna tanto mais obediente quanto mais til, e inversamente. Pg. 119
A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos "dceis". Pg. 119
Para o homem disciplinado, como para o verdadeiro crente, nenhum detalhe
indiferente, mas menos pelo sentido que nele se esconde que pela entrada que
a encontra o poder que quer apanh-lo. Pg. 120
Uma observao minuciosa do detalhe, e ao mesmo tempo um enfoque poltico
dessas pequenas coisas, para controle e utilizao dos homens, sobem atravs da era
clssica, levando consigo todo um conjunto de tcnicas, todo um corpo de processos e de
saber, de descries, de receitas e dados. E desses esmiuamentos, sem dvida, nasceu o
homem do humanismo moderno. Pg 121
A ARTE DAS DISTRIBUIES
A disciplina procede em primeiro lugar distribuio dos indivduos no espao.
Pg. 121
O espao disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou
elementos h a repartir. preciso anular os efeitos das reparties indecisas, o
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desaparecimento descontrolado dos indivduos, sua circulao difusa, sua coagulao
inutilizvel e perigosa; ttica de antidesero, de antivadiagem, de antiaglomerao.
Pg. 123
Nas fbricas que aparecem no fim do sculo XVIII, o princpio do quadriculamento
individualizante se complica. Importa distribuir os indivduos num espao onde se possa isol-los e localiz-los; mas tambm articular essa distribuio sobre um aparelho de produo
que tem suas exigncias prprias. Pg. 124
Determinando lugares individuais tornou possvel o controle de cada um e o trabalho
simultneo de todos. Organizou uma nova economia do tempo de aprendizagem. Fez
funcionar o espao escolar como uma mquina de ensinar, mas tambm de vigiar,
de hierarquizar, de recompensar. Pg. 126
As disciplinas, organizando as "celas", os "lugares" e as "fileiras" criam espaos
complexos: ao mesmo tempo arquiteturais, funcionais e hierrquicos. So espaos que
realizam a fixao e permitem a circulao; recortam segmentos individuais e estabelecem
ligaes operatrias; marcam lugares e indicam valores; garantem a obedincia dos indivduos,
mas tambm uma melhor economia do tempo e dos gestos. Pg. 126
Ela a condio primeira para o controle e o uso de um conjunto de elementos
distintos: a base para uma microfsica de um poder que poderamos chamar "celular".
Pg. 127
O CONTROLE DA ATIVIDADE
Dentro dos antigos esquemas, as novas disciplinas no tiveram dificuldade para se abrigar; as
casas de educao e os estabelecimentos de assistncia prolongavam a vida e a regularidade
dos conventos de que muitas vezes eram anexos. Pg. 128
Durante sculos, as ordens religiosas foram mestras de disciplinas: eram os
especialistas do tempo, grandes tcnicos do ritmo e das atividades regulares. Mas esses
processos de regularizao temporal que elas herdam as disciplinas os modificam.
Pg. 128
Mas procura-se tambm garantir a qualidade do tempo empregado: controle
ininterrupto, presso dos fiscais, anulao de tudo o que possa perturbar e distrair; trata-sede constituir um tempo integralmente til: Pg. 128
O ato decomposto em seus elementos; definida a posio do corpo, dos
membros, das articulaes; para cada movimento determinada uma direo, uma
amplitude, uma durao; prescrita sua ordem de sucesso. O tempo penetra o corpo,
e com ele todos os controles minuciosos do poder. Pg. 129
No bom emprego do corpo, que permite um bom emprego do tempo, nada deve ficar
ocioso ou intil: tudo deve ser chamado a formar o suporte do ato requerido. Um corpo
bem disciplinado forma o contexto de realizao do mnimo gesto.
Pg. 130
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Ora, atravs dessa tcnica de sujeio, um novo objeto vai-se compondo e
lentamente substituindo o corpo mecnico - o corpo composto de slidos e comandado
por movimentos, cuja imagem tanto povoara os sonhos dos que buscavam a perfeio
disciplinar. Esse novo objeto o corpo natural, portador de foras e sede de algo durvel;
Pg. 131
A ORGANIZAO DAS GNESES
Encontramos a as caractersticas prprias da aprendizagem corporativa: relao de
dependncia ao mesmo tempo individual e total quanto ao mestre;
[...] A forma da domesticidade se mistura a uma transferncia de conhecimento
Pg. 133
Esse o tempo disciplinar que se impe pouco apouco prtica pedaggica- especializando o
tempo deformao e destacando-o do tempo adulto, do tempo do ofcio adquirido;
organizando diversos estgios separados uns dos outros por provas graduadas;
determinando programas, que devem desenrolar-se cada um durante umadeterminada fase, e que comportam exerccios de dificuldade crescente; qualificando
os indivduos de acordo com a maneira como percorreram essas sries
Pg. 135
O tempo "inicitico" da formao tradicional (tempo global, controlado s pelo mestre,
sancionado por uma nica prova) foi substitudo pelo tempo disciplinar com suas
sries mltiplas e progressivas. Forma-se toda uma pedagogia analtica, muito
minuciosa. Pg. 135
Os procedimentos disciplinares revelam um tempo linear cujos momentos se
integram uns nos outros, e que se orienta para um ponto terminal e estvel. Em
suma, um tempo "evolutivo". Pg. 136
O ponto em apreo o "exerccio", a tcnica pela qual se impe aos corpos
tarefas ao mesmo tempo repetitivas e diferentes, mas sempre graduadas.
Pg. 136
Antes de tomar essa forma estritamente disciplinar, o exerccio teve uma longahistria: encontrado nas prticas militares, religiosas, universitrias - s vezes ritual deiniciao, cerimnia preparatria, ensaio teatral, prova.
Pg. 137
A COMPOSIO DAS FORAS
Que o dia de trabalho combinado adquira essa produtividade superior
multiplicando a potncia mecnica do trabalho, estendendo sua ao no espao ou
diminuindo o campo de produo em relao sua escala, mobilizando nos momentos
crticos grandes quantidades de trabalho... a fora especfica do dia combinado, uma fora
social do trabalho ou uma forado trabalho social. Nasce da prpria cooperao.
Pg. 138
Em resumo, pode-se dizer que a disciplina produz, a partir dos corpos que controla, quatrotipos de individualidade, ou antes uma individua lidade dotada de quatro caractersticas: c
elular (pelo jogo da repartio espacial), orgnica(pela codificao das atividades), gentica
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(pela acumulao do tempo), combinatria (pela composio das foras).
Pg. 141
O sonho de uma sociedade perfeita facilmente atribudo plos historiadores aos
filsofos e juristas do sculo XVIII; mas h tambm um sonho militar da sociedade; sua
referncia fundamental era no ao estado de natureza, mas s engrenagens cuidadosamente
subordinadas de uma mquina, no ao contrato primitivo, mas s coeres permanentes, no
aos direitos fundamentais, mas aos treinamentos indefinidamente progressivos, no
vontade geral mas docilidade automtica. Pg. 142
CAPTULO IIOS RECURSOS
PARA O BOM ADESTRAMENTO
O poder disciplinar com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como
funo maior "adestrar"; ou sem dvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais emelhor. Pg 143.
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O sucesso do poder disciplinar se deve sem dvida ao uso de instrumentos simples: o olhar
hierrquico, a sano normalizadora e sua combinao num procedimento que lhe
especfico, o exame. Pg. 143
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A VIGILNCIA HIERRQUICA
O exerccio da disciplina supe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar; um
aparelho onde as tcnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca,
os meios de coero tornem claramente visveis aqueles sobre quem se aplicam. Pg. 143
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As instituies disciplinares produziram uma maquinaria de controle que funcionou
como um microscpio do comportamento; as divises tnues e analticas por elas
realizadas formaram, em torno dos homens, um aparelho de observao, de registro e de
treinamento. Pg. 145
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O aparelho disciplinar perfeito capacitaria um nico olhar tudo ver
permanentemente. Um ponto central seria ao mesmo tempo fonte de luz que
iluminasse todas as coisas, e lugar de convergncia para tudo o que deve ser sabido: olho
perfeito a que nada escapa e centro em direo ao qual todos os olhares
convergem. Pg. 146