fichamento o imaginário da magia
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7/25/2019 Fichamento O imaginrio da magia
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Universidade Estadual de Santa Cruz
Departamento de Filosofia e Cincias Humanas
Fichamento
As Prticas
1. O conhecimento das coisas ocultas
Se descontarmos a misoginia dominante na poca (inspirada, como vemos, na
narrativa do pecado original), o ato !ue podemos constatar nos processos de
in!uisi"#o como o destino individual mo$ili%ava $oa parte dos pro$lemas colocados &s
eiticeiras por uma clientela largamente diversiicada' (p. ).
A adivinha"#o n#o implica apenas invoca"#o, tcnica na escolha e manipula"#o
dos materiais, interpreta"#o dos resultados o$tidos* o sacriicio est tam$m presente
em alguns dos procedimentos detectados, so$retudo na!ueles em !ue se procura inclinar
o destino, mais do !ue prever' (p. +).
A li$erta"#o da pris#o constitui outro o$-eto de adivinha"#o e devo"#o'.
A escolha dos materiais, dos espa"os e dos tempos n#o casual e o$edece,
muitas ve%es, a um cdigo sim$lico comple/o, ligado pela tradi"#o mas adaptado e
renovado pela e/peri0ncia' (p. +1).
A capacidade atri$uda & eiticeira n#o se circunscrevia ao conhecimento do
uturo terreno, estendendo2se a previs#o do destino do alm da morte' (p. +3).
4m todo caso, a eiti"aria tinha uma orma prpria de sa$er os destinos
individuais depois da morte !ue a apro/imava do nigromante' (p. +5).
A desorgani%a"#o amiliar provocada pela e/pans#o e/plica a prous#o de
pedidos para determinar a sorte de maridos, amigos, ilhos ou genros desaparecidos
havia vrios anos' (p. +).
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A comunica"#o com as almas parece constituir uma prtica mais ou menos
corrente, !ue e/travasava a compet0ncia especica das eiticeiras e assumia as ormas
mais variadas' (p. +6).
7omo vemos, esses procedimentos nem sempre se desligavam da ortodo/ia
catlica, veriicando2se algumas prticas supersticiosas' !ue aproveitavam elementos
do sagrado crist#o para eetuar ritos considerados ilegtimos pela hierar!uia da 8gre-a'
(p. +9).
O conhecimento das coisas ocultas, portanto, podia ser alcan"ado por revela"#o
direta, atravs de sonhos e vis:es, sem o recurso a con-uros e ritos propiciatrios' (p.
3).
3. O domnio so$re o corpo
O corpo era, antes de mais nada, vivido como um instrumento produtor e
reprodutor, su-eito &s deorma":es constantes impostas pela alimenta"#o deiciente, a
aus0ncia de condi":es sanitrias, a guerra, a $riga, a gravide% e o parto' (p. 5).
;essa perspectiva, o corpo era sentido como algo e/posto, a$erto ao e/terior,
o$-eto da intromiss#o de or"as ocultas' (p.
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destinados a evitar a gravide% (!ue remetem a um nvel mgico de prote"#o), apenas
encontramos indica":es so$re $e$eragens ingeridas com a mesma inalidade' (p. 6+2
6).
5. O domnio so$re os sentimentos e as vontades
;esse universo social e mental ao mesmo tempo rgido e movedi"o, no !ual os
valores dominantes da honra e prestgio conhecem uma rpida dius#o entre as camadas
su$alternas, a magia introdu% um elemento de relativa tran!ilidade e seguran"a diante
do aleatrio' (p. 9).
Os ritos mgicos, como vemos, demonstram uma grande plasticidade e
sincretismo, moldando2se com acilidade &s necessidades e aspira":es de dierentescamadas sociais' (p. 9).
Budo isso, a !ue deveramos acrescentar a e/acer$a"#o do sentimento amoroso
!ue acompanha a e/pans#o do individualismo no Cenascimento e, so$retudo, a
inlu0ncia da cultura mediterr>nea, a-uda a compreender a import>ncia da eiti"aria
ertica em Portugal' (p. 99).
O poder das palavras encantatrias ultrapassava por ve%es o >m$ito dos
sentimentos e das vontades para ter um eeito material imediato e visvel' (p. 15).
A invoca"#o dos dem@nios era tida como mais audaciosa, n#o s pela
transgress#o !ue implicava, como tam$m pela potencialidade dos seus eeitos' (p.
1ncias e/pelidas pelo corpo num
momento de passagem capital permite2nos compreender a valori%a"#o, no mundo dos
vivos, das matrias mais ntimas segredadas pelos corpos dos amantes, so$retudo no ato
se/ual' (p. 19).
;#o s os elementos segredados pelo corpo !ue assumem uma grande
import>ncia na eiti"aria amorosaD os elementos com os !uais o corpo est em contato
tam$m ad!uirem, em parte, suas caractersticas, podendo ser o$-eto de eiti"os' (p.
113).
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Os atos de eiti"aria s#o, por nature%a, am$guos !uanto &s suas inten":es e
eeitos, pois os ritos !ue avorecem o amor podem provocar simultaneamente o desamor
no caso do envolvimento de terceiros' (p. 11).
As prticas descritas, propiciadoras do amor ou do desamor, podiam atingir um
elevado nvel de viol0ncia sim$lica' (p. 119).
4m todos esses casos temos uma srie de ases pereitamente deinidas* o
sintoma (impot0ncia, rigide%, esterilidade, marginali%a"#o diante dos -ogos amorosos)D
o sentimento de estar ligadoD a procura da eiti"aria para o$ter o desligamentoD
desligamento !ue implica a identiica"#o do responsvel e um procedimento mgico
destinado a sanear o anterior' (p. 133).
A sociedade do Antigo Cegime uma sociedade !ue se sente amea"ada, n#o s
pelos inimigos e/teriores, como tam$m pelos inimigos interiores. ;este Eltimo caso, as
rela":es interpessoais s#o particularmente tensas diante do risco cotidiano do mau2
olhado, do a$orrecimento ou do ligamento por magia. A eiti"aria, alm de manipular
vontades, podia ainda dar corpo a um dos sentimentos mais temveis, o dio' (p. 13).
As 7ren"as
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;esse universo povoado por espritos revela2se de grande import>ncia o papel
dos elementos !ue o constituem' (p. 1).
4m lugar de uma vis#o idlica de rela":es comunitrias ortes e sadias, pautadas
pelo esprito de solidariedade e de a-uda mEtua, o !ue encontramos nas ontes
consultadas oi um acEmulo constante de pe!uenos dios pessoais !ue se estendem a
amlias inteiras e respectivos crculos de amigos, um a%er e desa%er de ami%ades
decorrente da aus0ncia de vida ntima e privacidade, uma oscila"#o constante de
simpatias e antipatias' (p. 1+21).
As rela":es do individuo com o universo e com a comunidade, como vimos,
esta$elecem2se numa $ase de orte depend0ncia e redu%ida autonomia, imperando os
sentimentos de inseguran"a e de desconian"a' (p. 1+5).
A origem do poder e da virtude do mgico constitui uma preocupa"#o dos
in!uisidores !ue suscita uma srie de descri":es signiicativas das cren"as e das
imagens respeitantes aos ritos iniciticos ou undadores' (p. 1++).
. A demonologia
A dicotomia virtude de ?eusarte dia$lica est presente em numerosas
denEncias respeitantes a adivinha":es cu-a maestria levanta suspeitas na comunidade,
pois eram tidos como pessoas ignorantes' e de pouco sa$er', n#o se entendendo como
de repente ad!uirem tais poderes' (p. 15).
'4m todos os testemunhos veriica2se !ue geral a cren"a na onipresen"a do
dem@nio na terra'.
As contrariedades do cotidiano eram muitas ve%es interpretadas pelo individuo
comum como um sinal da superioridade do dem@nio so$re ?eus no mundo dos
homens' (p. 1).
Apesar dessa imagem tradicional do dem@nio como grande s$io, a opini#o
teolgica mais diundida em Portugal preere acentuar suas caractersticas de
caluniador, enganador de espritos racos e tentador malicioso, cu-o poder entre os
homens limitado pela autoridade divina e cu-a ndole n#o totalmente malvola' (p.
1).
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A invoca"#o do dem@nio era uma prtica corrente no sculo GH8D n#o oram os
in!uisidores !ue a inventaram, em$ora procurem en!uadrar os casos de magia nesse
padr#o de comportamento hertico' (p. 16).
Brata2se de uma sociedade impregnada de esprito -urdico, uma sociedade cu-o
tradicionalismo de costumes e depend0ncia diante da religi#o implica uma
regulamenta"#o geral do comportamento social do individuo no mais nimo pormenor'
(p. 16).
A tenta"#o demonaca, caracteri%ada pelas promessas de ri!ue%a, sa$er e poder,
surge geralmente ligada & sedu"#o ertica' (p. 16).
A e/ig0ncia de $ase consistia em renegar ?eus e adorar o dem@nio' (p. 169).
O pacto com o dem@nio tem, geralmente, um !uadro limitado, comprometendo2
se o dem@nio a cumprir os dese-os de sua nova criatura desde !ue esta lhe entregue o
corpo e a alma' (p. 193).
A idia do transporte noturno pelos ares levado a ca$o pelo dia$o a% parte do
imaginrio popular dos Iuinhentos e pode ser detectado em pe!uenos relatos !ue n#o
incluem nem se!uer reer0ncia direta ao sa$' (p. 19+).
A orgia se/ual, !ue constitui uma das un":es essenciais do sa$, -ustamente
destacada pelos testemunhos recolhidos. ;ormalmente precedida de adora"#o do
dem@nio, de $an!uete ritual e de dan"a, a cpula coletiva marca o auge do
desregramento dos corpos e e/cita"#o dos sentidos, num conte/to -udaico2crist#o da
satani%a"#o da se/ualidade' (p. 199).
Os espa"os dos poderes
+. O mgico e o espa"o social
O corpus documental !ue vimos analisando preerencialmente consiste em 9