fichamento - o fim do clássico (peter eisenman)

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Guilherme Vendramini Cuoghi Universidade Federal de Uberlândia Curso de Arquitetura e Urbanismo Teoria e História da Arquitetura e das Artes 2 Profa. Dra. Maria Beatriz Camargo Cappello EISENMAN, Peter. "O fim do clássico: a fim do começo, o fim do fim (1983)". In: (org.) Kate Nesbitt. Uma Nova Agenda para a Arquitetura. Antologia Teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, pp. 232-251. Em seu texto, Piter Eisenman atenta para a crise atual em que se passava a arquitetura (no caso, a arquitetura moderna). Assim, faz apontamentos críticos, onde denomina de “ficções”, nas áreas da arquitetura que corroboram para a simulação do clássico ser sustentado na arquitetura durante tanto tempo na arquitetura – até mesmo no período moderno onde acreditava ter rompido com esse paradigma – sendo elas: a representação, a razão e a história. Eisenman traça a continuidade dos valores clássicos que a arquitetura tentava resgatar como verdade para seu significado. “[...] desde meados do século XV, a arquitetura pretendeu ser um paradigma do clássico, ou seja, daquilo que é intemporal, significativo e verdadeiro.” Assim, parte da arquitetura renascentista como “a primeira simulação, uma ficção involuntária do objeto.”, pois buscava representar uma arquitetura já dotada de valor (a clássica), era um simulacro das edificações antigas, “usava-se uma mensagem do passado para verificar significado do presente.”. O significado da forma moderna como resultado da representação/expressão da função é ilusória: “a forma não pode seguir a função antes da função ( que inclui mas não limita o uso) aparecer como uma possibilidade de forma”. Assim, a estética moderna não passava de uma abstração da clássica, resultando da retirada dos aparatos exteriores do

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Fichamento - O Fim Do Clássico (Peter Eisenman)

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Page 1: Fichamento - O Fim Do Clássico (Peter Eisenman)

Guilherme Vendramini Cuoghi Universidade Federal de Uberlândia Curso de Arquitetura e Urbanismo Teoria e História da Arquitetura e das Artes 2 Profa. Dra. Maria Beatriz Camargo Cappello

EISENMAN, Peter. "O fim do clássico: a fim do começo, o fim do fim (1983)". In: (org.) Kate Nesbitt. Uma Nova Agenda para a Arquitetura. Antologia Teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, pp. 232-251.

Em seu texto, Piter Eisenman atenta para a crise atual em que se passava a arquitetura (no caso, a arquitetura moderna). Assim, faz apontamentos críticos, onde denomina de “ficções”, nas áreas da arquitetura que corroboram para a simulação do clássico ser sustentado na arquitetura durante tanto tempo na arquitetura – até mesmo no período moderno onde acreditava ter rompido com esse paradigma – sendo elas: a representação, a razão e a história.

Eisenman traça a continuidade dos valores clássicos que a arquitetura tentava resgatar como verdade para seu significado.

“[...] desde meados do século XV, a arquitetura pretendeu ser um paradigma do clássico, ou seja, daquilo que é intemporal, significativo e verdadeiro.”

Assim, parte da arquitetura renascentista como “a primeira simulação, uma ficção involuntária do objeto.”, pois buscava representar uma arquitetura já dotada de valor (a clássica), era um simulacro das edificações antigas, “usava-se uma mensagem do passado para verificar significado do presente.”.

O significado da forma moderna como resultado da representação/expressão da função é ilusória: “a forma não pode seguir a função antes da função ( que inclui mas não limita o uso) aparecer como uma possibilidade de forma”. Assim, a estética moderna não passava de uma abstração da clássica, resultando da retirada dos aparatos exteriores do estilo a fim de representar a realidade. Deu continuidade ao clássico distinguindo apenas de construções tecnológicas em vez de tipológicas.

“Uma coluna sem base e sem capitel era considerada uma abstração. Assim reduzida, supunha-se que a forma materializasse mais ‘honestamente’ a função” resultando em uma coluna real, como elemento de sustentação simples possível.

“Os objetivos funcionais apenas substituíram as ordens da composição clássica como ponto de partida para o projeto arquitetônico”

A arquitetura moderna sustentava a ilusão de ruptura com a continuidade do clássico e concretização de um novo valor, “pois, ao tentar reduzir a forma arquitetônica à sua essência, a uma realidade pura, os modernos imaginavam que estavam transformando o campo da figuração

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referencial em ‘objetividade’ não-referencial. Na realidade, contudo, suas formas ‘objetivas’ jamais abandonaram a tradição clássica”. Não diferenciando do valor na arquitetura renascentista, pois seus “pontos de referência são diferentes, mas as consequências para o objeto são as mesmas”.

Na razão, enquanto significado arquitetônico, Eisenman traça uma relação dos diferentes valores que esta assume fora da arquitetura, decorrente dos significados de verdade em determinado período histórico.

“A ideia de que o valor da arquitetura tinha origem fora dela”

No renascimento as composições harmônicas e mensagens de fé na arquitetura, eram resultado da verdade no divino. Já no iluminismo a arquitetura racionalista transmitia, através da sua própria formação, a verdade da ciência, dos métodos científicos e da matemática.

“A razão dedutiva – a mesma que se usava na ciência, na matemática e na tecnologia – era capaz de produzir um objeto arquitetônico verdadeiro (isto é, significativo).”

Os novos valores modernos (tipo e função) não haviam mudado, em essência, desde o renascimento; só foram, mais uma vez, substituídos os fundamentos de verdade. Assim como no renascimento ou no iluminismo acreditava-se estar materializando/revelando a verdade, na arquitetura moderna o mesmo acontece quando se acredita na “ilusão da prova” – da arquitetura manifestar o racionalismo, representar uma época futura e comunicar a função.

A última “ficção” de Eisenman é a da história, onde fala da temporalidade que se mantêm na arquitetura na ideia de explicar um processo de mudança histórica. A arquitetura, para os modernos, como expressão do “espírito da época”, do homem em harmonia com o seu tempo mantêm o uso do clássico “da repetição de um tempo passado para invocar o intemporal como expressão de um tempo presente”. Não há como a arquitetura materializar o tempo como eterno, como ilusória eternidade do presente, Eisenman então propõe a finalidade da arquitetura não ser mais a expressão de seu tempo, como queriam os modernos, mas algo que ela não pode evitar.

Por fim, Eisenman propõe possíveis mudanças para a concretização de uma arquitetura não-clássica, que deveria por fim à com a crise dos valores, mas sem dizer como ela deva ser, sem criar um tipo. Propõe a ideia de arquitetura como “escrita” em oposição à arquitetura como imagem, como sendo este o ato de dar forma. E, acima de tudo, propõe a arquitetura “como um discurso independente, isento de valores externos, clássicos ou quaisquer outros (...)”, livre de causas, que deveria significar senão a si mesma.

Page 3: Fichamento - O Fim Do Clássico (Peter Eisenman)

EISENMAN, Peter. "A arquitetura e o problema da figura retórica". In: (org.) Kate Nesbitt. Uma Nova Agenda para a Arquitetura. Antologia Teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, pp. 232-251.

Inicialmente, Eisenman parte da reflexão de Sigmund Freud sobre a memória na cidade, sendo a cidade um repertório para a memória coletiva. A partir desse pressuposto de que a arquitetura é específica de um lugar, de um tempo e de uma escala, sugere a libertação da arquitetura desses sistemas que a significam.

“Assim, para reinventar um local, seja ele uma cidade ou uma casa, ela [a arquitetura] precisa se libertar da ideia de lugar de seus lugares, histórias e sistemas significados tradicionais”

A ideia da figura retórica de Eisenman é modificar a expressão do pensamento da arquitetura representacional de desconstrução do signo na arquitetura. Para ele, a arquitetura, enquanto figura retórica tem “a indeterminação de seu sentido”, ou seja, ausência de significado. Não possuir referências externas (metas e objetos). Assim, representar nada mais do que a si mesma.

Exemplifica isso com obras de Robert Venturi: o “pato” como figura representacional (arquitetura simbólica), e o “galpão decorado”, sendo esta uma figura retórica. Ainda assinala:

“Ao condenar os patos representacionais, Venturi efetivamente inaugurou o historicismo pós-moderno na arquitetura. Pois, de fato, os galpões decorados usam (ou representam) o vocabulário tradicional da arquitetura”.

Por fim, propõe a figura retórica na arquitetura contextual.

“A noção do local como palimpsesto, refere-se à possibilidade de utilizar figuras retóricas para revelar um texto reprimido de significados específicos a um determinado sítio. Assim, o sítio torna-se análogo a um manuscrito que contém traços visíveis de textos anteriores”, “o texto reprimido se revela no sítio”.