fichamento musica historiografia
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O texto inicia dizendo que não é falar de música popular no início do século XX, sem
passar por Mário de Andrade e suas reflexões que buscam elementos autóctones na
música popular para a firmação de uma expressão eminentemente nacional. Expressões
essas preponderantemente rurais, livre de cosmopolitismos e comercialismos. Fala
também que essas análises mais ligadas ao folclorismo se pretendiam científicas e as
reflexões sobre a música urbana tinham o caráter de crônicas. Os primeiros ligados às
instituições de ensino e acadêmicas e as segundas funcionavam mais por conta das
iniciativas privadas (p. 118-119-120).
Geração de vagalume: primeira geração de historiadores da "moderna" música urbana
(Vagalume, Alexandre Gonçalves Pinto, Orestes Barbosa, Mariza Lira, Edigar de
Alencar, Jota Efegê, Almirante e Lúcio Rangel); fins do séc. XIX e início do XX;
arquivamento das diversas fontes musicais urbanas quando esta surgia como um "fato
cultural e social"; A vivência desses cronistas nos ambientes musicais favoreceu muito
aos mesmos a reflexão em torno do tema; crônicas de caráter memorialístico; foram
atores presentes em "um processo em curso", que era o desenvolvimento da música
popular urbana no Brasil (p.120-121)
As narrativas desses autores oscilavam entre as cônicas jornalísticas e pretensões mais
objetivas de análise das manifestações musicais urbanas. Alexandre Gonçalves Pinto:
carteiro, chorão, pobre e mestiço escreve o pequeno livro “choro” de 1936, que apesar
do caráter memorialístico, tem a preocupação missionária de ser um testemunho para as
gerações futuras; Francisco Guimarães, o Vagalume, era jornalista e sua narrativa
transitou entre as memórias pessoais, críticas musicais e crônicas jornalísticas, sendo
alguns textos de pretensões científicas. Escreveu ao Jornal do Brasil a coluna Vagalume
que falava sobre casos policias e a boemia carioca; Orestes Barbosa: Também de
origem humilde, esse autor seguiu a carreira jornalística, assim como Vagalume, com a
diferença de sua formação intelectual mais sólida, chegando a concorrer a ABL. Seu
livro “Samba: sua história, seus poetas, seus músicos e seus cantores, de 1933 narra toda
a paisagem musical do samba carioca que se desenvolvia. Foi um livro bastante
respeitado à época; Jota Efegê: também jornalista foi o que mais produziu dentre os
chamados da primeira geração, por ter tido uma carreira mais longeva. Após se
aposentar, tornou-se historiador da música seus trabalhos continham os relatos frutos de
suas experiências, por ele ter convivido durante quase todo século XX em meio aos
artistas e aos ambientes da música. Foi um pesquisador respeitado por sua longa
pesquisa feita na Biblioteca Nacional aliado às suas reminiscências.(p.121-122-123)
Há uma necessidade de se organizar o discurso sobre a música popular, que ainda não
possuía um método e nem o reconhecimento intelectual, diferente das produções dos
folcloristas que estavam ancoradas nas instituições de ensino e pesquisa da época e que
desdenhavam das pesquisas do samba urbano. Os pesquisadores deste gênero então, irão
se aproximar do método dos folcloristas e aplicá-los nas análises do samba urbano. Com
a ascensão do populismo da década de 1930, essas manifestações urbanas entrarão na
pauta política do Estado, que pretende ordená-los e controlá-los.
Mariza Lira: “foi uma das pioneiras nos estudos da música urbana, associado-os ao
folclore, à sociologia e à (etno)musicologia” (MORAIS, 2006, p. 124). Buscava analisar
as manifestações folclóricas urbanas. Sua biografia sobre Chiquinha Gonzaga “apontou
para outra forma de abordagem nos estudos da música popular urbana” (MORAIS,
2006, p. 124). A sua narrativa vinculada a linguagem culta, que celebrava a grande
personagem que foi Chiquinha Gonzaga, tentando compreendê-la “do ponto de vista do
processo de evolução e formação da música nacional [...] talvez já indicasse o desejo de
reconhecimento cultural do artista popular” (MORAIS, 2006, p. 124-125); Edigar de
Alencar: também seguiu a linhas das biografias, ao escrever sobre Pixinguinha e Sinhô,
mas estes por serem mais populares, demoraram a ser aceitos no seleto grupo de artistas
“respeitáveis”. Suas biografias serviram de modelo para diversos outros autores das
décadas seguintes, por seu trabalho, diferentes dos anteriores, se pautarem em diversos
documentos (jornais, livros, documentos pessoais e públicos, fotos, etc.) e seguir
“pretensões científicas”, buscando a “verdade dos fatos” (p.125).
Na década de 1950, Lúcio Rangel, coordenador da Revista da Música Popular, resgata
esses autores da primeira geração por estes valorizarem a música popular brasileira e
seu caráter nacional. Já nesta década, a música popular urbana não era vista num
patamar inferior dentro do universo cultural brasileiro, e sim elevada ao um papel
central na discussão da cultura nacional. (p.125). O tom da revista, segundo Morais, é a
busca do desenvolvimento da música popular nacional.