fichamento julio

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Universidade Estadual de Goiás Unidade Universitária de Morrinhos Aluno (a): Marcos Paulo Arantes Ferro Data: 11 de abril Disciplina: Seminários e projetos de pesquisa Professor: Júlio César Meira CAPÍTULO III. Os fatos e a crítica histórica PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. São Paulo: Autêntica, 2008 [original: 1996]. (p.53-73) 1. “Se há uma convicção bem enraizada na opinião pública é que, na história, existem fatos e que eles devem ser conhecidos.” (p. 53) 2. “Neste aspecto, encontra – se, sem dúvida, a principal diferença entre o ensino e a pesquisa, entre a história que se expõe didaticamente e aquela que se elabora: no ensino, os fatos já estão prontos; na pesquisa, é necessário fabricá – los.” (p.53) 3. “Tal como é ensinada nas escolas, inclusive, nas salas de aulas das faculdades, a história comporta dois momentos: em primeiro lugar, como conhecer os fatos: em seguida, explicá – los, concatená – los em uma exposição coerente.” (p.53 – 54) 4. “A importância atribuída ao trabalho de construção dos fatos explica – se por uma preocupação central: como fornecer um status de ciência ao texto do historiador? Como garantir que, em vez de uma seqüência de opiniões subjetivas, cuja aceitação ou rejeição ficaria ao critério de cada um, a história é a expressão de uma verdade objetiva e que se impõe a todos?” (p.54) 5. “Portanto, no discurso dos historiadores, os fatos constituem o elemento consistente, aquele que resiste à contestação. Com razão, diz-se que “os fatos são teimosos”. Em história, a preocupação com os fatos é semelhante à da administração da prova e é indissociável da referência, em nota de rodapé.” (p.55)

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Page 1: Fichamento Julio

Universidade Estadual de GoiásUnidade Universitária de Morrinhos

Aluno (a): Marcos Paulo Arantes Ferro Data: 11 de abril Disciplina: Seminários e projetos de pesquisa Professor: Júlio César

MeiraCAPÍTULO III. Os fatos e a crítica históricaPROST, Antoine. Doze lições sobre a História. São Paulo: Autêntica, 2008 [original: 1996]. (p.53-73)

1. “Se há uma convicção bem enraizada na opinião pública é que, na história, existem fatos e que eles devem ser conhecidos.” (p. 53)

2. “Neste aspecto, encontra – se, sem dúvida, a principal diferença entre o ensino e a pesquisa, entre a história que se expõe didaticamente e aquela que se elabora: no ensino, os fatos já estão prontos; na pesquisa, é necessário fabricá – los.” (p.53)

3. “Tal como é ensinada nas escolas, inclusive, nas salas de aulas das faculdades, a história comporta dois momentos: em primeiro lugar, como conhecer os fatos: em seguida, explicá – los, concatená – los em uma exposição coerente.” (p.53 – 54)

4. “A importância atribuída ao trabalho de construção dos fatos explica – se por uma preocupação central: como fornecer um status de ciência ao texto do historiador? Como garantir que, em vez de uma seqüência de opiniões subjetivas, cuja aceitação ou rejeição ficaria ao critério de cada um, a história é a expressão de uma verdade objetiva e que se impõe a todos?” (p.54)

5. “Portanto, no discurso dos historiadores, os fatos constituem o elemento consistente, aquele que resiste à contestação. Com razão, diz-se que “os fatos são teimosos”. Em história, a preocupação com os fatos é semelhante à da administração da prova e é indissociável da referência, em nota de rodapé.” (p.55)

6. “Neste estágio da reflexão, deve-se questionar o estabelecimento dos fatos: como identificar sua veracidade? Qual procedimento adotar? A resposta reside no método crítico, cuja origem pode ser recuada, pelo menos, a Mabillon e ao seu livro De Re Diplomática (1681).” (p.56)

7. “Seja qual for seu objeto, a crítica não é um trabalho de principiante, como fica demonstrado pelas dificuldades dos estudantes às voltas com a interpretação de um texto. É necessário ser já historiador para criticar um documento porque, no essencial, trata – se de confrontá – lo com tudo o que já se sabe a respeito do assunto abordado, do lugar e do momento em questão; em determinado sentido, a crítica é a própria história e ela se afina à medida que a história se aprofunda e se amplia.” (p.57)

8. “Eis o que é perfeitamente visível em cada etapa analisada pelos mestres do método crítico, Langlois e Seignobos, que estabelecem a distinção entre crítica externa e crítica interna. A primeira incide sobre os caracteres materiais do documento: seu papel, tinta, escrita e marcas particulares que o acompanham. Por sua vez a crítica interna refere – se à coerência do texto, por exemplo, a compatibilidade entre sua data e os fatos mencionados.” (p.57)

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9. “As ciências auxiliares da história constituem, neste domínio, preciosos auxiliares; a paleografia, ou ciência dos textos antigos, permite dizer se a grafia de um manuscrito corresponde à sua data presumida. Por sua vez, a diplomática ensina as convenções segundo as quais os documentos eram compostos: como era seu começo, a forma da introdução e do corpo do documento (o dispositivo) como se designava o signatário com seus títulos e a ordem em que eram mencionados (a titulatura); a sigilografia regras segundo as quais, na Antiguidade, eram habitualmente compostas as inscrições lapidares, em particular, as funerárias. Assim equipada, a crítica externa pode discernir os documentos provavelmente autênticos em relação aos falsos ou àqueles que sofreram modificações (crítica de proveniência); por exemplo, não há dúvida sobre a falsidade de um documento, pretensamente do século XII, se estiver escrito em papel, não em pergaminho.” (p.57)

10. “Tendo sido resolvido este aspecto, o historiador ainda tem de enfrentar outros obstáculos. A autenticidade, ou não, de um documento nada exprime sobre seu sentido.” (p.58)

11. “Todos os métodos críticos visam responder a questões simples: de onde vem o documento? Quem é o seu autor? Como foi transmitido e conservado? O autor é sincero? Terá razões, conscientes ou não, para deformar seu testemunho? Diz a verdade? Sua posição Permitir – lhe – ia dispor de informações fidedignas? Ou implicaria no uso de algum expediente? Essas duas séries de questões são distintas: a crítica da sinceridade incide sobre intenções, confessadas ou não, do testemunho, enquanto a crítica da exatidão refere- se à sua situação objetiva. A primeira está atenta às mentiras, ao passo que a segunda considera os erros.” (p.59)

12. “As regras da crítica e da erudição, a obrigação de fornecer suas referências, não são normas arbitrárias; certamente elas instituem a diferença entre o historiador profissional e o amador ou o romancista. No entanto sua função primordial consiste em educar o olhar do historiador em relação a suas fontes; se quisermos, trata – se de uma ascese e, de qualquer modo, de uma atitude aprendida, não espontânea, mas que forma uma disposição de espírito essencial para o desempenho do ofício.” (p.61)

13. “A importância atribuída ao método crítico por todas as obras relacionadas com a epistemologia da história é um sinal inequívoco: esse é realmente um aspecto central. Por que não há uma história sem crítica? A resposta é sempre a mesma: por se referir – se ao passado, a história é, por isso mesmo, conhecimento através de vestígios.Não se pode definir a história como conhecimento do passado, porque o caráter passado é insuficiente para designar um fato ou um objeto de conhecimento. Passado é um adjetivo, não um substantivo, e é abusivamente que se utiliza o termo para designar o conjunto, ilimitadamente aberto, dos objetos que podem apresentar esse caráter e receber essa determinação. Tal constatação acarreta duas conseqüências às quais nunca será atribuída a devida importância. Em primeiro lugar, a

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impossibilidade de especificar a história por seu objeto.” (p.64)14. “Na maior parte das vezes, trata – se de documentos escritos –

arquivos, jornais, livros - , assim como objetos materiais: por exemplo, uma moeda ou um utensílio de argila encontrados em uma sepultura ou, mais perto de nós , os estandartes de sindicatos, ferramentas, presentes oferecidos ao operário que se aposenta... Em todos os casos, o historiador efetua um trabalho a partir de vestígios para reconstituir os fatos. Esse trabalho é constitutivo da história; por conseguinte, as regras do método histórico que lhe servem de guia são no sentido próprio da palavra, fundamentais.” (p.66 – 67)

15. “A escola metódica que, na França, criou a profissão de historiador, não se contentava com essa análise.” (p.67)

16. “ela decidiu enfrentar o desafio que consistia em transformar a história em uma ciência propriamente dita ; daí seu combate contra uma concepção “filosófica” ou “literária” da história. Essa perspectiva obrigava a situar o historiador em relação às figuras científicas do químico ou do naturalista em seus laboratórios e, portanto, a focalizar a argumentação sobre a observação” (p.68)

17. “A história é também uma ciência de observação; entretanto, no momento em que o químico ou o naturalista observam diretamente os fenômenos de sua disciplina, o historiador deve contentar – se com observações indiretas, por conseguinte, menos fiáveis. Suas testemunhas não são auxiliares de laboratório que, sistematicamente, estabelecem relatórios de experiência, de acordo com protocolos precisos. Neste caso, o método crítico serve de fundamento a história, não só como conhecimento, mas também como ciência.” (p.68)

18. “ Essa vontade de fornecer o status de ciência à história explica além da importância atribuída por essa geração de historiadores à publicação sistemática e definitiva de documentos submetidos à crítica seu sonho de um repertório exaustivo de todos os textos disponíveis, colocados à disposição dos especialistas, após uma vigilante depuração no plano da crítica.” (p.68)

19. “ Os historiadores passam muito tempo na leitura recíproca dos próprios textos e na reutilização do trabalho de seus colegas. Os livros de uns são, efetivamente, coletâneas de fatos para os outros, jazidas em que eles vão procurar material para construir seu próprio edifício. O domínio da história é tão vasto e as fontes tão abundantes que seria um equívoco ignorar o trabalho dos colegas dos predecessores, desde que ele apresente as garantias exigidas pelo método: retomar tudo a partir das fontes seria um empreendimento inócuo e insano.” (p.69)

20. “Com efeito, a história não pode proceder partir dos fatos: não há fatos sem questões, nem hipóteses prévias. Ocorre que o questionamento é implícito; mas, sem ele, o historiador ficaria desorientado por desconhecer o objeto e o lugar de suas buscas.” (p. 71)

Comentários pessoais:

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Para o senso comum a história são fatos de um tempo distante que precisam ser conhecidos, mas como o profissional da área trabalha com essas testemunhas teimosas do que aconteceu?

A principal forma para se trabalhar a história, é por meio de documentos em todas suas formas e contextos, buscando entender neles o conceito do passado do qual se quer estudar, seguindo as regras já estabelecidas para o trabalho com o tipo de documento que se escolher. Mas como ter certeza se o documento escolhido é real ou uma cópia?

Hoje em dia a história dispõe para si de ciências auxiliares nestes estudos, como a arqueologia, a paleografia, a diplomática..., que ajudam a compreender a à autenticidade da fonte, mas mesmo em casos onde se comprove que determinada fonte não é real, ainda sim se pode trabalhar com ela, levantando as questões do porque da falsificação? Se mesmo tendo sido alterada ainda não manteve algumas características originais? Se sim buscar essas características e comparar com o que foi feito posteriormente.

Até aqui restringi a falar sobre a parte de autenticidade do documento, mas outra questão a se tratar com fontes é sobre as intenções do documento, por exemplo ao se analisar jornais de um país sobre um regime ditatorial é muito provável não se encontrar textos criticando o governo, por que na maioria dos casos os jornalistas temem por sua vida se fizerem críticas ao regime instalado. Cabe ao historiador ter sensibilidade para tratar com as fontes no que tange as intenções buscando entender o contexto da época em que aquele documento foi escrito para poder ter um maior domínio sobre a situação em que estava a sociedade de onde partiu aquela obra.

Há algum tempo atrás uma corrente historiográfica tentou trazer a história para as ciências exatas, colocando o historiador num laboratório de onde pudesse observar o passado de uma maneira a argumentar por base de observações de seu objeto, excluindo assim toda parte filosófico – literária da história.

O problema que essa corrente não contava era o de que a história não tem dados diretos para poder se fiar em suas observações mais em geral estuda sempre por meio da visão que outros tiveram do tema no passado, pegando assim as informações de segunda mão, o que acaba tornando seu trabalhos com menos caráter exato e mais filosófico.

Tentar tirar da história seu caráter literário acaba se mostrando um erro, pois esta nasce justamente do estudo literário sobre o tempo, separando se somente pelos métodos mais apurados e concisos para tratar com o tempo, mas ainda sim aquilo que os historiadores produzem não passa de literatura, pois por melhor embasamento que se tenha ainda sim os “fatos históricos” são construções de quem com eles trabalham, discutem e formam um enredo com sustentação documental.

A história já foi amplamente estudada por vários autores e muitas vezes o primeiro grande trabalho que se tem quando se quer realizar algo sobre determinado tema é pesquisar naqueles que já o fizeram antes, pois voltar as fontes é um trabalho insano e demandaria muito mais tempo para faze- lo do que o que a academia pede aos estudantes em seus trabalhos. Alguns dizem que com essa prática acaba se criando um fim da história

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pois tudo o que se escreve são apenas novas roupagens para estudos anteriores já escritos, o que não passa de pedantismo intelectual, pois a cada novo escrito se pode tirar pelo menos um novo avanço em uma determinada área pois um dos requisitos para se fazer um trabalho acadêmico é ler vários autores para poder se ter uma noção total do tema a ser estudado.

A história é algo de importância vital para a sociedade e o profissional que com ela trabalha precisa sempre fundamentar bem aquilo que busca trabalhar pois a todo momento estará sendo inquirido pela sociedade quando está desejar a resposta de questões das quais o seu tema de estudo perpassa. Além disso os que se dedicam a história – pesquisa tem de pensar que os fatos que eles construíram podem amanhã estar nas escolas sendo ensinado para alunos e ajudando os no aprofundamento de questões ou na solidificação de preconceitos.