fichamento antropologia resumos

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FICHAMENTO DO TEXTO: MAGIA E TÉCNICA, ARTE E POLÍTICA: ENSAIOS SOBRE LITERATURA E HISTÓRIA DA CULTURA, DE WALTER BENJAMIN BENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito de História. In: Magia e Técnica, Arte e Política:ensaios sobre literatura e história da cultura. Brasiliense: São Paulo, 2012. p. 241-252. 1) - O materialismo histórico deve contar com a teologia e considerar não só as questões materiais, mas também as espirituais. (p. 241) 2) - Passado traz um índice secreto: escutamos algumas vozes do passado que naquele contexto não eram escutadas. (p. 242) 3) - Na luta de classes, que é uma luta pelas coisas “brutas e materiais”, também existem valores que não são materiais, como a confiança, a coragem, o humor, a astúcia e a firmeza. (p. 243) 4) - O passado não pode ser visto como realmente foi, ele sempre é visto a partir do ponto de vista do presente. (p. 243) 5) - A história seria então, uma releitura do passado a partir do presente. (p. 243) 6) - Conhecer o passado significa conhecer uma recordação de um momento de perigo, onde a classe dominante, o dominador, quer apoderar-se desta recordação. O papel do historiador seria o de redentor. (p. 244) 7) - Os bens culturais são as ruínas da dominação, dos vencedores. Não há documento da cultura que não seja simultaneamente um documento da barbárie. A tarefa do materialismo histórico é escovar a história a contrapelo. (p. 245) 8) - Precisamos originar um estado de exceção. A regra sempre foi a história da dominação, da barbárie. Criar um estado de exceção significa deixar os oprimidos, os excluídos, os dominados assumirem o poder. (p. 245) 9) - A história foi construída até então, por uma visão progressista. Mas não é isso que o anjo da história deve ver. Ele deve ver a destruição. As ruínas que, diante dele, crescem até o céu. (p. 246) 10) - Não devemos desviar do mundo e de suas atividades. Vemos três aspectos da mesma realidade: o progresso dos políticos, sua confiança no apoio das massas e uma subordinação servil a um aparelho incontrolável. É custoso a nosso hábito mental recusar esta realidade. (p. 246) 11) - A social-democracia fez a classe operária alemã acreditar no progresso através da exaltação do trabalho, visto como “a fonte de toda a riqueza e toda a cultura”. Outra crítica de Benjamin é que o Marxismo vulgar não examina a questão de como os produtos do trabalho podem beneficiar os trabalhadores que não dispõe deles. O interesse do marxismo vulgar dirige-se apenas aos progressos na dominação da natureza, e não aos retrocessos da sociedade. (p. 247) 12) - Em Marx, “o sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida” e sua tarefa seria de consumar a libertação das gerações passadas. Já a social-democracia atribui à essa classe combatente e oprimida, a classe operária, a tarefa de libertar as gerações futuras. (p. 249) 13) - Assim como Benjamin critica a ideia de uma história progressista da humanidade, também critica a ideia de seu andamento em um tempo vazio e homogêneo. (p. 249) 14) - Segundo Benjamin, a história é construída não em um tempo homogêneo e vazio, mas num tempo preenchido de “agoras”. (p. 249) 15) - O tempo do calendário é diferente do tempo dos relógios. (p. 250) 16) - O historicismo apresenta a imagem eterna do passado. O materialismo histórico faz desse passado uma experiência única. (p. 250) 17) - O historicismo culmina na história universal, já a historiografia materialista, distancia-se dela. A história universal não tem armação teórica, mas se utiliza da massa dos fatos para preencher o tempo vazio e homogêneo. A historiografia materialista tem em sua base um princípio construtivo e avalia a mobilidade de ideias, dando oportunidade revolucionária na luta pelo passado oprimido. (p. 251) 18) - Faz uma comparação da história dos Homo sapiens com a história do homem civilizado. A história do homem civilizado seria mísera diante de toda história da humanidade. (p. 252) Resenha: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. BENJAMIN, Walter. "A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica" In: Magia e técnica arte e política: ensaios sobre literatura e historia da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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FICHAMENTO DO TEXTO: MAGIA E TÉCNICA, ARTE E POLÍTICA: ENSAIOS SOBRE LITERATURA E HISTÓRIA DA CULTURA, DE WALTER BENJAMINBENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito de História. In: Magia e Técnica, Arte e Política:ensaios sobre literatura e história da cultura. Brasiliense: São

Paulo, 2012. p. 241-252.

1) - O materialismo histórico deve contar com a teologia e considerar não só as questões materiais, mas também as espirituais. (p. 241)

2) - Passado traz um índice secreto: escutamos algumas vozes do passado que naquele contexto não eram escutadas. (p. 242)

3) - Na luta de classes, que é uma luta pelas coisas “brutas e materiais”, também existem valores que não são materiais, como a confiança, a coragem, o

humor, a astúcia e a firmeza. (p. 243)

4) - O passado não pode ser visto como realmente foi, ele sempre é visto a partir do ponto de vista do presente. (p. 243)

5) - A história seria então, uma releitura do passado a partir do presente. (p. 243)

6) - Conhecer o passado significa conhecer uma recordação de um momento de perigo, onde a classe dominante, o dominador, quer apoderar-se desta

recordação. O papel do historiador seria o de redentor. (p. 244)

7) - Os bens culturais são as ruínas da dominação, dos vencedores. Não há documento da cultura que não seja simultaneamente um documento da barbárie.

A tarefa do materialismo histórico é escovar a história a contrapelo. (p. 245)

8) - Precisamos originar um estado de exceção. A regra sempre foi a história da dominação, da barbárie. Criar um estado de exceção significa deixar os

oprimidos, os excluídos, os dominados assumirem o poder. (p. 245)

9) - A história foi construída até então, por uma visão progressista. Mas não é isso que o anjo da história deve ver. Ele deve ver a destruição. As ruínas que,

diante dele, crescem até o céu. (p. 246)

10) - Não devemos desviar do mundo e de suas atividades. Vemos três aspectos da mesma realidade: o progresso dos políticos, sua confiança no apoio das

massas e uma subordinação servil a um aparelho incontrolável. É custoso a nosso hábito mental recusar esta realidade. (p. 246)

11) - A social-democracia fez a classe operária alemã acreditar no progresso através da exaltação do trabalho, visto como “a fonte de toda a riqueza e toda a

cultura”. Outra crítica de Benjamin é que o Marxismo vulgar não examina a questão de como os produtos do trabalho podem beneficiar os trabalhadores que

não dispõe deles. O interesse do marxismo vulgar dirige-se apenas aos progressos na dominação da natureza, e não aos retrocessos da sociedade. (p. 247)

12) - Em Marx, “o sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida” e sua tarefa seria de consumar a libertação das gerações

passadas. Já a social-democracia atribui à essa classe combatente e oprimida, a classe operária, a tarefa de libertar as gerações futuras. (p. 249)

13) - Assim como Benjamin critica a ideia de uma história progressista da humanidade, também critica a ideia de seu andamento em um tempo vazio e

homogêneo. (p. 249)

14) - Segundo Benjamin, a história é construída não em um tempo homogêneo e vazio, mas num tempo preenchido de “agoras”. (p. 249)

15) - O tempo do calendário é diferente do tempo dos relógios. (p. 250)

16) - O historicismo apresenta a imagem eterna do passado. O materialismo histórico faz desse passado uma experiência única. (p. 250)

17) - O historicismo culmina na história universal, já a historiografia materialista, distancia-se dela. A história universal não tem armação teórica, mas se utiliza

da massa dos fatos para preencher o tempo vazio e homogêneo. A historiografia materialista tem em sua base um princípio construtivo e avalia a mobilidade

de ideias, dando oportunidade revolucionária na luta pelo passado oprimido. (p. 251)

18) - Faz uma comparação da história dos Homo sapiens com a história do homem civilizado. A história do homem civilizado seria mísera diante de toda

história da humanidade. (p. 252)

Resenha: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.BENJAMIN, Walter. "A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica" In: Magia e técnica arte e política: ensaios sobre literatura e historia da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.No texto, Walter Benjamin procura determinar o que significa realmente a reprodutibilidade da obra de arte e ainda, a sua reprodutibilidade técnica, demonstrando que a técnica é mais recente na medida em que exigiu algum desenvolvimento tecnológico para a constituição de equipamentos voltados para o objetivo de fazê-la atingir um maior numero de pessoas ou consumidores das mesmas. A teoria do autor é relacionada diretamente a questões marxistas, mas de alguma forma ela está estanque no tempo.Quando Benjamin iniciou a análise da arte na época de sua reprodutibilidade técnica, esse modelo de reprodução ainda estava em seus primórdios. Ele orientou suas investigações e remontou às relações fundamentais da reprodução técnica e, ao descrevê-la, previu o futuro

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da cultura de massa. Diz ele “em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens". Muito além de poder, a capacidade da imitação faz parte da condição cultural humana. A xilogravura, substituída pela litografia atingiu níveis sempre crescentes de massificação. Também faz parte da condição cultural humana, a capacidade surpreendente de criar novas respostas ou reiterá-las, rompendo com aquilo que era imitado ou reproduzido até então. Muitasvezes, os embates acontecem com o surgimento de novas respostas que querem ocupar o lugar das respostas tradicionais. A reprodução técnica possui autonomia, ela pode captar os detalhes das imagens.Benjamin acentua a questão da autenticidade da obra de arte e introduz a noção de aura quem em muito se reduz com a reprodutibilidade. A autenticidade de uma obra está relacionada ao fato dela ser a número um, a origem. Este número um carrega toda uma história, uma existência detalhada que não pode ser produzida novamente, mas sim reproduzida. A reprodutibilidade "permite aproximar o indivíduo da obra, seja sob a forma de fotografia, seja do disco". A super-reprodutibilidade técnica, ao contrário do que possa parecer, tornou-se um meio de valorização do autêntico e daquilo que é autêntico. A valorização e desvalorização têm uma relação direta com a aura, que se relaciona com o que é autêntico.A aura é um produto da percepção humana, tem seu conceito balado pela reprodução de imagens. A reprodutibilidade seria o fim da arte aurática, do culto ao objeto único e da autenticidade. Respondendo a resposta que ele mesmo propõe. “O que é aura?", Benjamin responde: "a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja”. Entretanto, podemos concluir que a aura é uma relação com o único, com o autêntico, com o número um. Benjamin diz que a obra de arte tem um valor de culto ou de exposição. No cinema isso é muito poderoso, pois o filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas poraparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana. O autor comenta que o declínio da aura ocorre na modernidade por causa do desaparecimento das atividades favoráveis como contar histórias e, dessa maneira, a ausência de transmissão da experiência coletiva por meio da tradição. Ele analisa a perda da aura pelos aspectos positivos e negativos. Walter Benjamin salienta polêmica, em torno do séc. XIX ente pintores e fotógrafos no que diz respeito aos valores das suas obras, também no cinema e no teatro. No teatro, é o próprio ator que apresenta sua atuação artística. Já a atuação do ator cinematográfico exige a mediação de todo um mecanismo. São diferentes intervenções.Quanto ao dadaísmo, Benjamin diz que tentou produzir através da pintura ou da literatura, os efeitos que o público procura hoje no cinema, pois as manifestações dadaístas asseguravam uma distração. Assim, arte pode servir para a continuação de idéias ou pode corresponder aos perigos que existem para o homem contemporâneo, como em relação ao cinema que não nos mostra o real e também não permite associações de idéias devido à mudança muito rápida de imagens.Benjamin finaliza o texto discutindo a proletarização crescente do homem contemporâneo e as progressivas importâncias das massas que são aspectos de um mesmo processo histórico. O fascismo pretende organizar as massas sem alterar o regime de propriedade. Ele conclui firmando: “Eis a estetização da política, como a pratica o fascismo. O comunismo responde com a politização da arte”.

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A finalidade deste trabalho é basicamente traçar um paralelo entre o filme “O Sétimo Selo” de Ingmar Bergman e o texto de Benzaquen e Castro, “Romeu e Julieta e a Origem do Estado”, onde encontraremos em ambas obras uma correlação entre o modelo de sociedade e a visão do indivíduo sobre si e em relação a Deus. É perceptível também que tanto no texto quanto no filme, a discussão sobre individualidade estará bastante presente.Primeiramente, acredito que vale à pena demonstrar, ou para quem já sabe intensificar, a diferença entre os termos individualidade e individualismo, pois creio que será de suma importância para entender corretamente a visão que os autores e o cineasta sueco tentam passar em suas criações. O primeiro termo, de acordo com o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, é um conjunto de qualidades individuais e é ancorada na segurança, determinação e capacidade de escolha. Já o segundo, é um sistema oposto ao de associação.Algumas pessoas vêem o individualismo como uma característica doentia da personalidade, justamente por ser avessa a “união”. No filme “O Sétimo Selo”, Bergman tenta transmitir a todo o tempo a questão da fé e as indagações acerca dela. O filme situado no século XIII, momento em que o feudalismo está no ápice de uma crise agravada pelo trinômio guerra, peste e fome, marca o início das transformações sociais.O homem daquela época, que jamais pensou em se opor a Igreja, pois esta era representante de Deus, a partir de um momento passa a questionar a existência Divina, onde estava presente a benevolência de Deus e a finalidade da oração. Esse homem que sempre esteve sujeito a regulamentações não vê mais necessidade de obediência ao Sagrado e nem sentido em seguir uma determinação que não seja a sua.Ingmar retrata esse relacionamento Deus-Homem através da história de um cavaleiro, Antonius Block, que após a luta das Cruzadas, retorna para casa e encontra um país assolado pela fome e a eminência de uma peste terrível. Logo ao chegar tem um encontro com a morte, mas sem querer morrer antes de possuir um entendimento do verdadeiro sentido da vida, Block propõe para a morte um jogo de xadrez em que a sua vitoria resultaria na poupança de sua vida. Para o cavaleiro, esta é a última tentativa de burlar a única certeza que o habita.Já no início, com esta cena, Bergman mostra oconceito de individualidade no homem e conseqüentemente na mudança de um modelo social, do holismo para o modelo individual. Este conceito é expresso no jogo de xadrez, já que neste o acaso não esta presente, pois não é um jogo de sorte, mas na verdade, um jogo onde a pessoa toma suas próprias decisões e “colhe” as devidas conseqüências.Diante de tantas desgraças e decepções, o cavaleiro começa a questionar a existência de Deus, pois cada vez mais que Block anda em sua terra a caminho de casa, ele vê as catástrofes ocasionadas pela presença da peste negra. Uma cena bastante chocante e interessante de se comentar é a cena que durante a apresentação de uma dupla de atores, num palquinho, uma música sombria e crescente começa a causar tensão interrompendo a música alegre cantada pelos atores. Um som lamentoso que a princípio você não entende de onde vem, nem o porquê. Os atores param os olhares, assustados, e ficam atônitos diante do que viam. Um percurso de pessoas se auto-flagelando, cantando um lamento e carregando uma estátua de Cristo na cruz, entre outras monstruosidades. Uma frase, no filme, dita pelo monge que está presente nesta procissão é:

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“Deus tenha piedade de nós em nossa humilhação. Não volte a sua face para nós com repugnância e desprezo. Seja piedoso conosco, pelo amor de seu filho Jesus Cristo.”

Esta cena e a citação do monge demonstram claramenteo desespero do povo com a vinda da praga. Apesar de a morte já ser certa para todos, eles se flagelam com o intuito de pedir perdão a Deus e ser poupado da terrível morte causada pela epidemia. Para a população Deus está condenando todos à morte e por isso, depois de um longo sofrimento, eles fazem indagações sofridas e irritadas contra a falta de sentido da vida, ou em outras palavras, contra a indiferença e o silêncio de Deus.O homem sabe que não tem controle sobre seu nascimento, mas a morte é concreta, um dia vai chegar. Block em sua viagem descobre os aspectos mais repugnantes do fervor religioso: a tortura, a caça às bruxas, o espectro da morte alimentando-se da fraqueza humana.“Apesar do filme retratar o tempo inteiro uma humanidade desesperada e moribunda, sob o agouro implacável da Morte, Bergman apresenta-nos um final onde é possível ter esperanças. A família de artistas são os únicos personagens que sobrevivem à caçada da Morte.” A arte é no filme tratada como algo ingênuo e puro, porém apenas na família que vive pela arte e que a usa para levar alegria as outras pessoas. Somente esses artistas conseguem escapar da morte, ajudados pelo cavaleiro, que a distrai para que estes fujam. O surgimento do sol brilhante, após uma grande tempestade, representará o caminho de esperança para a família de artistas.Procuro agora fazer um paralelo entre o amor presentena obra de Shakespeare, “Romeu e Julieta”, e a noção de indivíduo que tanto está presente na cultura ocidental. No início do texto de Eduardo B. Viveiros de Castro e Ricardo Benzaquen de Araújo, “Romeu e Julieta e a Origem do Estado”, eles discutem a hipótese que apresentam como “fio condutor” de sua análise:

“A noção de amor elaborada no texto em questão define uma concepção particular das relações entre indivíduo e sociedade, estando subordinada a uma imagem básica da cultura ocidental – a do indivíduo liberto dos laços sociais, não mais derivando sua realidade dos grupos a que pertença, mas em relação direta com um cosmos composto de indivíduos, onde as relações sociais valorizadas são relações interindividuais. O amor – e aqui antecipamos algo de nossas conclusões – é visto como uma relação entre indivíduos, no sentido de seres despidos de qualquer referência ao mundo social, e mesmo contra este mundo.” (página131)

Benzaquen e Castro em sua análise sobre a peça de Shakespeare exercitam o uso das categorias analíticas de Louis Dumont, individualismo versus holismo. Onde o primeiro é caracterizado pelo poder de escolha do indivíduo em relação à sociedade; e o segundo é uma maneira de ver o mundo, o homem e a vida em si como entidades únicas, completas e intimamente associadas.Os autores afirmam que a peça, por meio da “origem do amor” relaciona-se com “aorigem do indivíduo moderno sob um aspecto essencial: este indivíduo é tematizado, sob a espécie de sua dimensão interna, enquanto ser psicológico que obedece as linhas de ação independentes das regras que organizam a vida social em termos de grupos, papéis, posições e sentimentos socialmente prescritos”. Na verdade, o casamento de Romeu e Julieta não une famílias, mas sim indivíduos. Podemos, entretanto, interpretar o amor de Romeu e Julieta como um sentimento que se

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desloca, sem que percebam, das visões de mundo aos quais os amantes pertencem, remetendo-os a um sistema de valores em que o indivíduo, e não mais os grupos a que pertencem, passa a ocupar o lugar central da história. Shakespeare mostra o amor como algo que não é pré-determinado, mas sim como uma escolha. O homem possui a capacidade de escolher, sendo assim, esta está associada à idéia de individualidade; pois esse sentimento é uma manifestação individual e autônoma. Romeu e Julieta numa festa se escolheram dentre outras pessoas presentes na mesma. Na história, o deslocamento do sentimento traz como conseqüência a expulsão do casal do grupo social a que pertenciam, e isso se dá através da morte do casal. O amor deles não podia ser vivido na sociedade cujas rivalidades e ideologias familiares não permitiam. Contudo, com a morte dos amantes a pacificação entre as famílias é obtida. Ocorre o fim darivalidade entre as duas grandes famílias - que polarizavam politicamente a sociedade de Verona -, fortalecendo assim o poder do Príncipe. Viveiros de Castro e Benzaquen interpretam a peça como “um mito que narra, paralelamente à origem do amor, a origem do Estado”. (página 160)A estabilidade do governo do príncipe Escalo é concentrado “no alto”, e não é mais mediada por fronteiras internas de unidades políticas “privadas”, ou seja, as grandes famílias, sendo tudo substituído por um dualismo concêntrico príncipe/indivíduo.Segundo os autores, existe uma complementaridade de sentido entre o poder do príncipe desvinculado da tradição política estatal e a força individualizante do amor de Romeu e Julieta – estes não apenas teriam superado a obrigação de fidelidade às suas famílias, mas também se submetido diretamente às leis de Escalo. Assim, os autores concluem afirmando que o “psicológico aparece quando o social passa a ser visto como o estatal, o oficial, o central, aquilo que é essencialmente exterior à dimensão interna dos indivíduos”. (página160)Neste sentido, em Romeu e Julieta, as emoções, os sentimentos, enfim, o amor presente entre os protagonistas, aparece como modo de superar os obstáculos que limitam socialmente a livre interação entre os seres.