fichamento, a verdade e as formas jurídicas
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Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Filipe José de Valois Coutinho Rocha de Souza
Fichamento:
A verdade e as formas jurídicas.
Disciplina: Sociologia Jurídica.Docente: Maurício Azevedo.
Salvador
2014
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. 3. ed. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2005.
Ficha e comentários:
“[...] Meu objetivo será mostrar-lhes como as práticas sociais podem chegar a
engendrar domínios de saber que não somente fazem aparecer novos objetos,
novos conceitos, novas técnicas, mas também fazem nascer formas totalmente
novas de sujeitos e de sujeitos de conhecimento. [...]” (p. 8).
O autor delimita qual será a sua abordagem de trabalho ao definir o objetivo. Foucault
pretende mostrar como a práxis constrói saberes e este constrói sujeitos, conceitos e objetos.
Para isso, ele irá adotar três eixos de pesquisa: a) história dos domínios de saber em relação
com as práticas sociais; b) análise do discurso considerando seu viés estratégico e polêmico;
c) reelaboração de uma nova teoria do sujeito de conhecimento.
“[...] Seria interessante tentar ver como se dá, através da história, a constituição de
um sujeito que não é dado definitivamente, que não é aquilo a partir do que a
verdade se dá na história, mas de um sujeito que se constitui no interior mesmo da
história, e que é a cada instante fundado e refundado pela história. É na direção
desta crítica radical do sujeito humano pela história que devemos nos dirigir. [...]”
(p. 10).
Foucault parte para a crítica do sujeito histórico que é o fundamento de todo conhecimento,
que é o centro de toda liberdade. Trata-se de uma crítica ao sujeito cartesiano e kantiano, o
sujeito da filosofia clássica até a moderna. Aquele sujeito racional, antropocêntrico. Apoia-se
em Nietzsche para afirmar:
“[...] análise histórica do nascimento de um certo tipo de saber, sem nunca admitir
a preexistência de um sujeito de conhecimento. [...]” (p.13)
Para o autor, o sujeito é produto do conhecimento construído através de um discurso
estratégico enraizado em um sistema precário de relação de poder.
“[...] o conhecimento é simplesmente o resultado do jogo, do afrontamento, da
junção, da luta e do compromisso entre os instintos. [...]” (p. 17)
Sendo, então, o conhecimento resultado desse jogo de poder:
“[...] seria totalmente contraditório imaginar um conhecimento que não fosse em
sua natureza obrigatoriamente parcial, oblíquo, perspectivo.[...]” (p.25)
“[...] O poder político não está ausente do saber, ele é tramado com o saber. [...]”
(p. 51)
E para exemplificar esse poder político emaranhado no saber, Foucault utiliza a história de
Édipo em que o poder é manifestado através do complemento de peças, de saberes que
constroem a verdade em Édipo, auxiliado pelos testemunhos, prova inquérito.
“[...] Podemos dizer, portanto, que toda a peça de Édipo é uma maneira de
deslocar a enunciação da verdade de um discurso de tipo profético e prescritivo a
um outro discurso, de ordem retrospectiva, não mais da ordem da profecia, mas do
testemunho. [...]” (p. 40)
Dentro desse resgate das formas jurídicas que surgiram no decorrer da história
“[...] O Direito Germânico não opõe a guerra à justiça, não identifica justiça e paz.
Mas, ao contrário, supõe que o direito não seja diferente de uma forma singular e
regulamentada de conduzir uma guerra entre os indivíduos e de encadear os atos
de vingança. O direito é, pois, uma maneira regulamentada de fazer a guerra. [...]”
(p. 56-57)
E dentro dessas regulamentações, cita o autor a prova, o testemunho e o inquérito, que são
invenções de um determinado modo de saber, em que “o poder político é o personagem
essencial” (p. 69)
“[...] o inquérito não é absolutamente um conteúdo, mas a forma de saber. Forma
de saber situada na junção de um tipo de poder e de certo número de conteúdos de
conhecimentos. [...]” (p. 77)
Trata-se de uma forma de saber apropriada pelo Estado a fim de produzir as verdades
jurídicas.
Na modernidade-contemporaneidade fez-se necessário uma forma de saber-poder que
construísse corpos dóceis para uma vida útil para o estabelecimento do desenvolvimentismo-
capitalismo. Nesse sentido surge:
“[...] um tipo de poder do espírito sobre o espírito; uma espécie de instituição que
deve valer para escolas, hospitais, prisões, casas de correção, hospícios, fábricas,
etc. [...]” (p. 87)
“[...] todas essas instituições (...) têm por finalidade não excluir, mas, ao
contrário, fixar os indivíduos. (...) elas têm como finalidade primeira fixar os
indivíduos em um aparelho de normalização dos homens. [...] (p. 114)
O sujeito, nessa sociedade de controle “se ordena em torno da norma, em termos do que é
normal ou não, correto ou não, do que se deve ou não fazer.” (p. 88)
“[...] Esta é a base do poder, a forma de saber-poder que vai dar lugar não às
grandes ciências de observação como no caso do inquérito, mas ao que chamamos
ciências humanas: Psiquiatria, Psicologia, Sociologia, etc. [...]” (p.88)
Desse modo, Foucault mostra como se dá a relação do saber e o poder político. Uma relação
em que o sujeito de conhecimento é projetado nas relações subjacentes da sociedade.
“[...] é que este sub-poder, (...), ao se estabelecer, ao passar a funcionar, provocou
o nascimento de uma série de saberes - saber do indivíduo, da normalização, saber
corretivo - que se multiplicaram nestas instituições de sub-poder fazendo surgir as
chamadas ciências do homem e o homem como objeto da ciência. [...]” (p. 125)