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FICHA TÉCNICA

Chanceler

Dom Ângelo Pignoli

Reitor

Manoel Messias de Sousa

Vice-reitor

Renato Moreira de Abrantes

Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa

Américo Valdanha Netto

Pró-reitor de Graduação e Extensão

Marcos Augusto Ferreira Nobre

Coordenação Editorial

Cândida Maria Farias Câmara

Revisão Técnica

Monique Isabelle de Sousa Nascimento

Revisão Ortográfica

Maciel de Jesus

Diagramação

Manoel Miqueias Maia

Capa e contracapa

Editora Simplíssimo

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Organizadoras

Adriana de Albuquerque Pereira

Cândida Maria Farias Câmara

Francisca Aldenisa Peixoto da Silva

Marlene Gomes Guerreiro

HISTÓRIAS DE VIDA Trajetórias estudantis no Sertão Central

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Organizadoras

Adriana de Albuquerque Pereira

Cândida Maria Farias Câmara

Francisca Aldenisa Peixoto da Silva

Marlene Gomes Guerreiro

HISTÓRIAS DE VIDA Trajetórias estudantis no Sertão Central

AUTORES

Ana Beatriz Almeida Sampaio

Antônio Wellington de Souza Gomes

Cândida Maria Farias Câmara

Cintia Leslie Pessoa Oliveira

Cosmo Helder Ferreira da Silva

Danilo Pereira Cavalcante

Fabrício Bezerra da Silva

Felipe Fabrício Farias da Silva

Francisca Colares Martins

Francisco Egberto Martins Melo

Francisco Welligton da Silva Lima

Hallison Joabe Rabelo Lemos

Hérick Hebert da Silva Alves

Jânder Carlos Soares Silva

Joélia Ferreira da Silva Pereira

Karleandro Pereira do Nascimento

Kleber Bezerra da Cunha

Lucas Ferreira de Oliveira

Luciano Oliveira Paulo Filho

Luiz Gonzaga de Araújo

Manoel Miqueias Maia

Marcelo Bertonny Alves Freitas

Marcelo Eduardo Pereira dos Santos

Maria Lucieuda Girão Mendes

Maria Mayalle de Almeida Melo

Mariana Lane Freitas dos Santos

Marina Lima Silva

Rosa Maria dos Santos Carvalho

Thairo Fellipe Freitas Oliveira

Thiago Alberto Viana de Sousa

Thiago Costa Alves

COLABORAÇÃO

Professor Renato Moreira de Abrantes

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Pereira, Adriana de Albuquerque – Câmara, Cândida Maria Farias – Silva, Francisca Aldenisa Peixoto

da – Guerreiro, Marlene Gomes.

Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central / Adriana de Albuquerque Pereira;

Cândida Maria Farias Câmara; Francisca Aldenisa Peixoto da Silva; Marlene Gomes Guerreiro;

organizadoras. – 1. ed. – Porto Alegre: Revolução eBook – Simplíssimo, 2007.

Recurso digital: il.

Formato: ePub2

Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions

Modo de acesso: World Wide Web

ISBN 9788582455012

1. Educação. 2. História. 3. Estudante. 4. Sertão. I. Título.

CDD: 370

CDU:

Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros

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SUMÁRIO

Prefácio ..................................................................................................................................... - 9 -

Entre Cronos e Kairós: Histórias na construção do Núcleo de Apoio Psicopedagógico ....... - 11 -

Caminhos e conquistas: uma trajetória acadêmica de perseverança ....................................... - 19 -

O filho de Maria ...................................................................................................................... - 25 -

A faculdade que um dia eu “aparei”, é hoje o centro acadêmico que me ampara ................... - 33 -

A felicidade não está somente na concretização dos objetivos, mas no percurso... ................ - 37 -

A minha trajetória de vida acadêmica ..................................................................................... - 43 -

A trajetória de vida de um jovem do campo até a cidade: a chegada ao ensino superior e as

novas expectativas ................................................................................................................... - 47 -

A trajetória sonhadora de uma estudante apaixonada pela vida .............................................. - 53 -

“Afinal de contas, o que nos trouxe até aqui: medo ou coragem? Talvez nenhum dos dois” . - 59 -

Caminhos e escolhas: o triunfar de um sonho ......................................................................... - 67 -

Da enxada para o sonho do diploma ....................................................................................... - 71 -

De carbono a diamante. Unicatólica: ponte de sabedoria indispensável nessa transformação- 79 -

Do interior do interior do Ceará ao centro do conhecimento .................................................. - 85 -

Do interior do Ceará aos Estados Unidos: uma história de determinação, aprendizado e fé .. - 91 -

Dos campos da roça ao campo da ciência: a trajetória do menino do Sítio Feiticeiro .......... - 97 -

Entrou para a universidade o neto do Zé da Flor .................................................................. - 103 -

“Eu penei, mas aqui cheguei” ............................................................................................... - 109 -

Mobilidade acadêmica internacional: experiências, percepções e aprendizados .................. - 115 -

O que me trouxe até aqui? ..................................................................................................... - 119 -

Perspectiva de vida, história e análise de uma trajetória acadêmica ..................................... - 125 -

Quando tudo começou? Não sei... Só sei que foi assim! (Chicó) ......................................... - 129 -

“Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou” .......................................................................... - 133 -

Registrando gratidão ............................................................................................................. - 139 -

Rompendo o silêncio e conquistando o impossível ............................................................... - 143 -

Se a vida fosse fácil, não teria graça viver ........................................................................... - 147 -

Superando desafios, trilhando sonhos: um relato de um acadêmico com deficiência visual - 151 -

Ter uma direção, uma verdade ............................................................................................. - 157 -

Trajetória acadêmica de um estudante de enfermagem: desafios e conquistas ..................... - 163 -

Um jovem filósofo ................................................................................................................ - 169 -

Um natal diferente ................................................................................................................. - 173 -

Uma vida de superação ......................................................................................................... - 179 -

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Prefácio

- 9 -

PREFÁCIO

Histórias de Vida: trajetórias estudantis no Sertão Central não é um livro para

ser lido; é para ser saboreado. Não apenas pela escrita informal, a causar prazer em quem

lê, mas, também, pelos relatos nele contidos que demonstram que é possível, a quem quer,

romper qualquer barreira para construir um sonho.

Qual jovem não deseja entrar para a faculdade e concluir um curso superior?

Quem, nas fases iniciais da vida, já não se perguntou (e respondeu) sobre “o que ser

quando crescer”? O sonho alheio demanda muita responsabilidade tanto em quem sonha

quanto em quem ajuda a concretizá-lo. E aqui nos enquadramos nós, do Centro

Universitário Católica de Quixadá (Unicatólica).

A educação formal é uma das muitas maneiras de fazer com que sonhos se tornem

realidade. Sonhos são projetos de vida em gestação, o futuro trazido para o presente, uma

espécie de “já, mas ainda não”. Por isso, ninguém pode “brincar de educar” ou “brincar

de ser educador”.

Os autores deste livro, a maioria discentes da nossa Unicatólica, nos dão a honra

de conhecê-los mais de perto e nos deixam convictos de que estamos fazendo bem aquilo

a que nos propomos: formar pessoas (e não meros apertadores de parafusos) e transformar

realidades.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 10 -

Quantas pessoas já formadas! Quantas realidades transformadas! As tintas de

todas as páginas estão carregadas de desafios, dificuldades e, também, garra,

determinação e superação. O que se registra neste livro são algumas histórias de alunos

— dentre tantas outras desconhecidas, mas reais —, que “matam mais de um leão por

dia”.

Como professor (e egresso – Cursos de Teologia e Direito) da Unicatólica, sou

testemunha disso: não são poucos os que vêm para as aulas trazendo na mochila não

somente o caderno e a caneta, mas também as preocupações com a vida difícil e o cansaço

do trabalho, por vezes depois de se deslocarem centenas de quilômetros. A estes, costumo

chamá-los de “heróis”, porque de fato o são.

“Há histórias por trás da história”, assim começo a minha dissertação de Mestrado

em Educação e Ensino. Não podemos julgar alguém pela história que vemos,

negligenciando a história que não vemos, aquela oculta na vivência de um cotidiano

sofrido: os ônibus quebrados ou a falta deles, as doenças, a falta de dinheiro, a fome, os

assaltos. Desistir? Ir adiante? Dilema que não pode passar despercebido pelos

professores.

Sinto-me — e creio que também os meus colegas ao lerem este livro — edificado

em saber que as noites insones, preparando aula, ou os finais de semana sacrificados,

corrigindo provas, não foram em vão. Eis aí o resultado: o crescimento humano e

profissional dos nossos alunos.

Desejo que a presente obra nos sirva de inspiração, pois ainda há muito que se

fazer. Professores e funcionários, dediquemos todas as nossas forças à construção dos que

nos são confiados, procuremos meios e estratégias para servir cada vez melhor, tratando

bem os que fora dos nossos muros já são tão maltratados pela vida. Estudantes,

enxerguem o futuro com confiança, motivados pela certeza de que “para Deus nada é

impossível” (Lc 1, 37). Se estamos com Ele, também para nós nada será impossível.

Que Deus nos abençoe a todos. Que a Virgem Santíssima nos acompanhe e nos

conduza a Jesus, seu filho e nosso irmão.

Avante, sempre!

Renato Moreira de Abrantes

Vice-Reitor

UNICATÓLICA

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ENTRE CRONOS E KAIRÓS:

HISTÓRIAS NA CONSTRUÇÃO

DO NÚCLEO DE APOIO

PSICOPEDAGÓGICO

Cândida Maria Farias Câmara

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Entre Cronos e Kairós: histórias na construção do Núcleo de Apoio Psicopedagógico

- 13 -

tempo é a própria sabedoria do universo traduzida em precisão, finitude e

eternidade. Uma brecha no tempo se abre para a existência e o milagre da vida

acontece: da primeira respiração nasce um novo ser, único e singular, que

viverá até o seu último suspiro. Assim, cada um compõe sua breve história na Terra.

Na mitologia grega, dois deuses regiam o tempo: Cronos e Kairós. O primeiro é

símbolo do tempo cronológico e quantificável, do relógio, dos dias, meses e anos. No

mito, Cronos devora seus próprios filhos, nada pode detê-lo e ele consome tudo que

existe, pois nada pode fugir de sua ação. O segundo, é símbolo da dimensão eterna do

tempo, das oportunidades, do sentido e do vivido e que, portanto, não pode ser medido

nem cronometrado. Retratado como um deus jovem que possuía apenas uma mecha de

cabelo, Kairós corria rapidamente e a única forma de agarrá-lo seria segurando-o pelos

cabelos. Caso contrário, seria impossível uma nova oportunidade.

Assim, é o tempo do momento presente, de viver o instante e abraçar as

oportunidades oferecidas. É dessa forma, entre Cronos e Kairós, que iniciei e que

pretendo contar algumas histórias na minha caminhada no Núcleo de Apoio

Psicopedagógico (NAP) da Unicatólica. Lembro-me quando a coordenadora do curso de

Psicologia, Milena Oliveira, avisa por e-mail que necessitava de uma conversa comigo

em sua sala. O relógio acelerava e a ansiedade aumentava. O que desejava? Havia apenas

um semestre que lecionava na Unicatólica, entrei em janeiro de 2014, era minha primeira

experiência na docência e ainda estava em adaptação com os estudantes e a dinâmica da

instituição.

Na ocasião, ela disse que a direção acadêmica, na época a pessoa da professora

Maria Dias, submetia a responsabilidade pelo NAP ao curso e, como eu era a docente

responsável pela área da Psicologia educacional, seria ideal assumir sua coordenação. Foi

uma surpresa, um convite repentino que mudaria o meu rumo acadêmico. Como diz

Clarice Lispector, tudo no mundo começa com um sim, e essa foi a minha resposta.

O núcleo já funcionava com dois professores de Psicologia que atendiam apenas

os alunos do próprio curso, professor Júlio Ischiara e professor Marcus Kleredis. Os

outros alunos que necessitavam de acompanhamento eram devidamente encaminhados

ao Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), mais conhecido como a clínica de psicologia,

sob a coordenação da professora Andréa Vidal. Assim, fomos escrever o projeto do NAP

com todos os envolvidos nessa empreitada, definir objetivos, diretrizes, metas e ações.

No segundo semestre de 2014, ainda em processo de estudo e familiarização com

o serviço, fomos ampliando novas perspectivas ao núcleo e, logo mais, a equipe de

O

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 14 -

psicólogos contaria com a contratação de uma psicopedagoga: a egressa da Unicatólica,

Adriana Albuquerque. O núcleo funcionou inicialmente e provisoriamente em uma sala

no SPA, nela ainda não havia secretária ou computador para o NAP, tudo era

compartilhado com a clínica de psicologia. De horista para tempo parcial, agora tempo

integral, a minha dedicação e da equipe só aumentava e o núcleo foi expandindo-se.

Foram muitas gargalhas nas muitas reuniões e muitos desafios enquanto gestora,

lugar novo para mim. Nesse percurso, perguntei-me sobre a história do núcleo. Como

funcionava antes? Qual a sua história? Os únicos registros do núcleo, de fevereiro a

setembro de 2013, apontam alguns atendimentos dos psicólogos egressos Gilmar Ferreira,

hoje meu amigo pessoal, e Wendel Sousa, da atual pró-reitoria de graduação e extensão.

Em conversas com Júlio Ischiara, ele relata que participou da origem do NAP, um núcleo

institucional e antigo da Unicatólica, no entanto, não temos registros oficiais. Lembro-me

de uma orientação da professora Maria Dias quanto à articulação dos estagiários de

Psicologia nas atividades do núcleo.

Dessa forma, iniciamos primeiramente uma análise diagnóstica dos alunos dos

primeiros e segundos semestres dos cursos, elaboramos folders e cartazes para divulgar o

serviço, implementamos as oficinas de preparação para a vida acadêmica e o questionário

de percepção acadêmica, sempre com a colaboração dos alunos das disciplinas de práticas

integrativas e de estágio profissionalizante em Psicologia. Esses alunos sempre estão

passando para tomar um café, para uma conversa, deixar uma revista da Avon, matar a

saudade e, assim, de maneira tão simplista, criam vínculos que perduram no tempo.

Alguns estagiários que passaram pelo núcleo: Lucas, Bim, Davi, Mayara, Kátia, Matheus

e Edna. Outra estagiária que conquistou seu espaço foi a Marlene Guerreiro, que ao se

formar passou a compor nossa equipe como profissional da Psicologia.

O NAP é um núcleo que preza pelo cuidado com as relações, seja com alunos ou

colaboradores, pelo acompanhamento e compromisso com a jornada de quem o constitui

e para quem ele é o motivo de existir. As decisões e ações são sempre dialogadas e

tomadas no coletivo, cada membro da equipe é peça imprescindível para o melhor

desempenho do trabalho. Alegria e leveza são aspectos importantes na lida diária, acredito

ser possível trabalhar com prazer e amor. Com pouco mais de um ano, em agosto de 2015,

mudamos para nossa nova sede do núcleo, a sala F50. Depois de montar o projeto e das

reformas feitas em uma antiga sala de aula, o NAP passou a funcionar com melhor

estrutura. Também celebramos a chegada de mais duas profissionais: a secretária

administrativa Eryka Soares e a psicóloga Flávia Lima.

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Entre Cronos e Kairós: histórias na construção do Núcleo de Apoio Psicopedagógico

- 15 -

Em pouco tempo, uma reestruturação ocorreu, nova sala, a saída do psicólogo

Marcus Kleredis e a entrada de novos integrantes do núcleo. O primeiro planejamento

estratégico desse grupo foi celebrado com muita alegria, com salgadinho e refrigerante

liberados pela vice-reitoria, na pessoa do professor Renato Moreira. Aquele cheiro

delicioso de comida na sala transbordou entusiasmo na equipe, que aproveitou para tirar

fotos e compartilhar nas redes sociais. É gratificante acompanhar as conquistas em nosso

trabalho, podem parecer pequenas, mas grandes em significados, seja uma cadeira nova,

um computador novo, uma pessoa nova. O processo de renovação e mudança é essencial

para alimentar nossa criatividade.

Nesse ponto, o núcleo deu um salto não somente na quantidade de projetos e

atendimentos oferecidos, como também na qualidade. Os grupos temáticos e terapêuticos

foram organizados e iniciamos a implementação de novas ações, pesquisas, participação

em congressos e produções acadêmicas ligadas ao núcleo. Em 2015, foi publicado o

capítulo intitulado “Núcleo de Apoio Psicopedagógico: uma práxis em psicologia escolar

e educacional” para o livro comemorativo dos 10 anos do curso de Psicologia da antiga

Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS), hoje, Centro Universitário.

Vale mencionar as visitas do Ministério da Educação, no início sempre tensas,

aguardadas com ansiedade, o cuidado para manter todos os dados e relatórios atualizados,

assim como a espera pelo resultado das avaliações. Toda a equipe ficava de prontidão e

lembro na primeira vez, na antiga sala do SPA, os avaliadores nem entraram na sala,

apenas olharam, identificaram o que era e seguiram em frente, foi um misto de alegria,

alívio, surpresa e decepção: “Como assim? É só isso?”. Hoje, estamos mais habituados

com essa rotina, compreendendo esse processo com mais naturalidade e abertos ao

diálogo, como vem acontecendo nas últimas visitas.

Nos congressos sempre compartilhamos as experiências do NAP, lembro do VI

Seminário Cultura de Paz, Educação e Espiritualidade, realizado na Universidade Federal

do Ceará (UFC) em que os ouvintes participaram e perguntaram bastante sobre bullying

e preconceito racial na apresentação intitulada “Oficina de preparação para a vida

acadêmica: dialogicidade e valores de paz no ambiente acadêmico”, dentre muitos outros

eventos que participamos.

Outra produção importante, já em 2016, foi a monografia da especialização em

Educação Biocêntrica pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), em que refleti sobre

o processo de adaptação dos estudantes em seu primeiro ano na Unicatólica e as

contribuições possíveis pela ótica da educação biocêntrica. Intitulado “Vivência

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 16 -

pedagógica e adaptação de estudantes ao Ensino Superior: um olhar biocêntrico”, fui

orientada pela querida e sábia educadora Ruth Cavalcante.

O ano de 2016 foi fértil, período para consolidar as ações, divulgar o núcleo e

promover maior aproximação com os estudantes e coordenadores. Cada integrante da

equipe tem sua contribuição no núcleo: a Eryka, em sua alegria e energia jovem, permite

o acolhimento dos estudantes, liga, marca e desmarca atendimentos, sugere melhorias e

questiona também, quando necessário; a Adriana mantém o núcleo sereno, sua presença

acrescenta calma, paciência e muita competência ao grupo; a Flávia, com sua experiência

clínica e no setor financeiro, sabe produzir um relatório no Excel como poucos, além de

proporcionar um tom maternal e acolhedor para a equipe; a Marlene contribui com sua

articulação em diversos setores da Unicatólica, o que facilita muito nosso trabalho, e

acrescenta bastante com visão de docente experiente; o Júlio, que hoje tem seu tempo

muito limitado, mas foi muito importante no desenvolvimento do núcleo, sempre

apresentou muita disponibilidade e agrega pela experiência e história com a instituição.

Em 2017, mais boas mudanças, e vamos para uma nova sala, agora com outras

duas para atendimento. Para o setor permanecer aberto no período noturno, juntou-se à

equipe a colaboradora Aurinete Sales, uma jovem meiga e gentil, que sempre abre o

sorriso quando nos aproximamos. É só aparecer no NAP à noite para confirmar. O

primeiro semestre de 2017 também contou uma conquista importante: a implantação do

Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), com a coordenação da professora Aldenisa

Peixoto, intérprete da língua de sinais e militante na área da inclusão.

O NAI e NAP funcionam juntos, como parceiros que atendem o mesmo público,

mas com diferentes especificidades. Nesse caso, os alunos com deficiência ganharam uma

profissional com olhar especializado para suas demandas, assim como nossa equipe ficou

mais completa e preparada para os desafios impostos no âmbito da inclusão na

Unicatólica. É importante dizer que não somente os alunos ganham com o serviço, mas

toda a sociedade é beneficiada quando um aluno é incluído.

É gratificante acompanhar, por exemplo, uma aluna da Psicologia que reprovou

na minha disciplina e apresentava muita dificuldade no processo de interpretação, de

leitura e escrita. Ao ser encaminhada ao NAP, verificamos o desenvolvimento de um

processo de autonomia e crescimento que desembocou na apresentação da sua

monografia. Como momento máximo de superação, seus agradecimentos também

incluíram a psicopedagoga Adriana, que a acompanhou com mais proximidade, e o

trabalho do núcleo, com direito a lembrancinha deixada na minha mesa, para minha

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Entre Cronos e Kairós: histórias na construção do Núcleo de Apoio Psicopedagógico

- 17 -

surpresa. Assim como ela, outros alunos e casos poderiam ser relatados,

cronologicamente foram três anos de experiência, entre erros e acertos, conquistas e

perdas, desafios e alegrias.

No tempo Kairós, internamente, houve muitas situações de aprendizagem e

compreensão mais clara das contribuições da psicologia educacional no Ensino Superior

e das minhas possibilidades e limitações enquanto ser humano e profissional. Acredito

que o núcleo continue a crescer, pois são infinitas as formas de realização de projetos e

ações para os estudantes. Ainda esse ano, vislumbramos isso com a chegada da

coordenadora pedagógica Soraya Gomes, contratada para assessorar o pró-reitor de

graduação e extensão Marcos Nobre. Uma nova percepção que, com certeza, já vem

acrescentando ao núcleo, uma vez que a utilização do projeto orientador de carreira

promete articular coordenações e professores diretamente com o NAP via sistema.

Nesses anos de estudo sobre a educação, sempre acompanhada pelo pensamento

do educador Paulo Freire, é importante lembrar que educar é uma ação que acontece

sempre no plural, não é possível educar na solidão, mas na relação com o outro. Educar

não é um ato solitário, pelo contrário, é solidário e implica educar junto um ao outro.

Educar é amar com humildade, sem deixar de contestar e questionar. É afeto, no sentido

de afetar e ser afetado. É acreditar na construção democrática e participativa, em que o

outro tenha voz e autonomia para participar das decisões de sua própria vida. Com essa

concepção, o NAP, hoje, possui uma dinâmica própria, estrutura física e profissional de

qualidade, um setor que é flexível e aberto às mudanças, que busca seu próprio

aprimoramento. Uma história ainda em construção que só existe em função e na relação

direta com os alunos da Unicatólica.

Nesse sentido, e em lembrança ao dia do estudante, o NAP lançou luz ao

desafiante mundo dos estudantes que constituem a Unicatólica por meio deste livro. Que

seja uma experiência nova a cada página para o leitor, que veja a si mesmo nas

identificações e diferenças diante dos relatos envolventes de superação de pessoas em

busca de um lugar de valor e reconhecimento no mundo. O livro “Histórias de vida:

trajetórias estudantis no Sertão Central” é uma forma de adentrar no universo daqueles

que protagonizam sua própria aprendizagem: os estudantes. Além dos vinte e nove

capítulos dos alunos dos mais variados cursos, convidamos, ainda, os professores

egressos Cosmo Hélder Ferreira da Silva, do curso de Odontologia, e Thiago Alberto

Viana de Sousa, do curso de Administração, que enriquecem essa obra com seus

caminhos já consolidados na docência.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 18 -

É com felicidade e gratidão que convidamos o leitor a mergulhar no mundo das

histórias de vida e aprender com elas, pois como fala Freire, “ninguém ignora tudo.

Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma

coisa. Por isso aprendemos sempre.”

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CAMINHOS E CONQUISTAS:

UMA TRAJETÓRIA

ACADÊMICA DE

PERSEVERANÇA

Cosmo Helder Ferreira da Silva

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Caminhos e conquistas: uma trajetória acadêmica de perseverança

- 21 -

ara muitos pode ser fácil contar sua história de vida. Hoje me desafiei a escrever

algumas palavras sobre minha trajetória até aqui. Nasci em 04 de dezembro de

1988 no município de Itapiúna, região do Maciço de Baturité, a 122 km de

Fortaleza, Capital do Ceará. Filho de Irenilda Ferreira da Silva, dona de casa e agricultora,

e Cosme Temóteo da Silva, pedreiro e agricultor. Tive a alegria de ter dois irmãos e duas

irmãs: Bruna Késia, Ana Kelly, Paulo Henrique e Bruno Erique.

Como muitas crianças do interior do sertão do Ceará, eu poderia não ter tido a

oportunidade que muitos hoje ainda não têm. Porém, eu resolvi fazer diferente. Com 2

anos, minha mãe conseguiu uma vaga para uma organização não governamental de

Itapiúna, o Centro de Apoio à Criança – CEACRI, filiado ao ChildFund Brasil. A

organização atende hoje cerca de 630 famílias em comunidades urbanas e rurais. É uma

organização social que apoia crianças em situação de exclusão, privação e vulnerabilidade

social e mobiliza pessoas para a transformação de vidas. Foi no CEACRI onde eu passei

a maior parte da minha infância e adolescência, onde pude fazer aulas de dança, teatro e

música, além de participar de grupo de jovens e desenvolver atividades voluntárias na

instituição até meus 19 anos.

Nessa instituição pude aprender muito, bem como desenvolver minhas habilidades

de comunicação e participação social. O CEACRI sempre me incentivou nos estudos e

me encorajou junto aos meus familiares ver a educação como uma prioridade e como uma

forma de crescer como pessoa.

Estudei minha vida toda em escolas públicas e tenho muito orgulho disso. Apesar

de todas as dificuldades que as escolas que estudei tinham na época, era naquele espaço

que eu podia desenvolver minhas habilidades para ser um bom aluno e uma pessoa de

bem. Passei pela Escola Recanto da Criança, onde aprendi a ler e escrever. Meu ensino

fundamental cursei na Escola de Ensino Fundamental Demócrito Rocha e o ensino médio,

na Escola de Ensino Fundamental e Médio Franklin Távora, na qual em 2007 eu pude

concluir os estudos básicos, todas na cidade de Itapiúna-CE.

Lembro-me que durante o ensino básico eu sempre fui muito participativo nas

atividades da escola, fazia parte do grêmio estudantil e sempre estava à frente das

atividades culturais. Quando estava no ensino médio, tinha o grande sonho de cursar

Odontologia. Queria ajudar as pessoas, cuidar delas e, ao mesmo tempo, tinha o sonho de

ser professor. O sonho de ser dentista parecia longe para um jovem de família humilde.

Mesmo sabendo que era difícil conseguir realizar esse sonho, corri atrás, e no ano

de 2008 passei no vestibular para cursar Letras-Português na Universidade Estadual do

P

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Ceará – UECE, Campus de Quixadá, Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão

Central – FECLESC. Foi uma grande oportunidade na minha vida que eu sempre recordo

com muita alegria, pois naquela época, percebi que realmente tinha aptidão para ser

professor.

Quando estava finalizando o primeiro semestre do curso de Letras-Português

aconteceu uma mudança na minha trajetória acadêmica. No CEACRI, no ano de 2001,

tive a oportunidade de conhecer e ser apadrinhado por dois alemães: Götz Röhl, hoje com

74 anos, engenheiro de tecnologia alimentícia e aposentado, e Erika Röhl, 70 anos,

especialista em economia imobiliária e aposentada. Desde 1978, Erika e Götz ajudam

crianças através do sistema de apadrinhamento no Brasil. Sem nenhum grau de

parentesco, o amor entre eu e meus padrinhos foi sendo construído, baseado numa relação

de respeito e muita gratidão, criei laços e, desde então, passei a tratá-los como uma

segunda família.

Em uma das diversas cartas que trocamos durante muitas vezes ao ano, eu falei

que tinha o grande sonho de cursar Odontologia, porém eu sabia que era um curso com

custos muito altos e que meus pais não tinham condições de arcar com o mesmo. Sabia

que para que eu realizasse aquele sonho eu teria de trabalhar e juntar dinheiro para

futuramente eu poder custear o curso de Odontologia.

No ano de 2008, já cursando Letras-Português, meus padrinhos vieram pela sexta

vez ao Brasil. Em uma dessas visitas eles me agraciaram com a informação que iriam

investir os 30 anos que juntaram de suas economias custeando a faculdade de

Odontologia. Naquele momento eu fiquei muito emocionado! Não sabia o que falar, pois

eu não acreditava que meu sonho estava tão próximo.

No ano de 2009 iniciei meus estudos de Odontologia na Faculdade Católica

Rainha do Sertão (FCRS), hoje, Centro Universitário Católica de Quixadá (Unicatólica).

Meu primeiro dia de aula foi um momento de muita alegria. Parecia não acreditar que

estava iniciando uma grande jornada na minha vida acadêmica. Meu maior desejo era ter

a chance de uma boa educação e poder ajudar a minha família, e foi naquele momento

que eu decidi que sempre iria me esforçar e me dedicar ao máximo para fazer valer todo

o esforço que meus padrinhos estavam fazendo por mim e pela minha educação. A graça

de conhecer e receber a ajuda dos meus padrinhos não foi somente minha, foi também

para toda a minha família.

As dificuldades foram grandes, os desafios imensos, mas durante a graduação eu

pude entender que temos dois caminhos: sermos gratos por tudo que temos ou

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Caminhos e conquistas: uma trajetória acadêmica de perseverança

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desvalorizarmos as oportunidades que a vida nos proporciona. Eu optei por ser grato e

principalmente saber cultivar cada momento que eu pude ter, seja em sala de aula,

laboratórios, biblioteca, grupos de estudos, clínicas e corredores da faculdade.

Na graduação em Odontologia tive a oportunidade de ser por duas vezes monitor

da disciplina de Saúde Bucal Coletiva I, participei de projetos sociais como o AABB

Comunidade, projeto Superação nas cidades da Região do Sertão Central e Maciço de

Baturité. Fui membro do Centro Acadêmico e pude fazer parte da organização da I

Jornada Odontológica dos Acadêmicos da Católica (JOAC). Sempre gostei de participar

ativamente das atividades que o curso me oferecia, acreditando que naqueles momentos

eu poderia aprender mais. Conquistei muitas amizades quando era aluno de Odontologia,

amizades que até hoje preservo e tenho esmero por elas. A universidade nos proporciona

conhecer pessoas e aprender a conviver com elas.

Em 28 de dezembro de 2012, recebi o título de bacharel em Odontologia. Aquele

momento foi de muita gratidão, alegria e muita comemoração onde pude compartilhar

com amigos e familiares o sonho que até então era distante para aquele jovem sonhador.

Logo após a formatura, ingressei em alguns cursos de especialização atrelados ao

exercício da profissão de cirurgião dentista no meu município de origem, Itapiúna-CE.

Na oportunidade, pude retribuir para minha comunidade tudo o que aprendi durante a

graduação.

Além de trabalhar como dentista, fui, durante os anos de 2013 a 2014, coordenador

de Saúde Bucal e membro do Conselho Municipal de Saúde. Minha experiência de 2

anos, tanto na gestão em saúde como na Atenção Primária em Saúde, foi o suficiente para

compreender o quanto ainda poderia ajudar as pessoas. Foi então que continuei a seguir

o caminho para meu maior objetivo de vida, que era ser professor, mas dessa vez,

professor de Odontologia.

Já com algumas especializações finalizadas, em 2014 fui selecionado para fazer o

curso de Mestrado acadêmico na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia

Afro-Brasileira (UNILAB), onde no primeiro ano eu me dediquei somente aos estudos

do Mestrado. No segundo ano do Mestrado, em 2015, tornei-me professor da Unicatólica,

e tenho grande alegria em fazer parte dessa família. Retornar como professor à instituição

que me acolheu como aluno é algo inexplicável. É um sentimento de muita gratidão e

felicidade. Hoje sou professor das disciplinas de Saúde Bucal Coletiva, das quais, na

época de graduação, fui monitor. Além de grupos de estudos e pesquisa, iniciação

científica, dentre outras atividades desenvolvidas na instituição.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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A alegria de trocar conhecimentos e experiências com os alunos é muito grande.

Poder estar em sala de aula e contribuir para a formação de pessoas que transformam a

realidade de muitos municípios do interior e do Estado do Ceará, para mim, é uma forma

de retribuir por todas as oportunidades que a vida me ofereceu. A minha formação no

Centro Universitário Católica de Quixadá foi de grande importância para meu

crescimento profissional e pessoal.

Minha dedicação ao Curso de Odontologia da Unicatólica representa de forma

significativa como eu, egresso e hoje docente, tenho aprendido e valorizado os valores

éticos e cristãos que esta instituição representa para a comunidade em geral. O percurso

continua. Hoje curso Doutorado em Ciências da Saúde na Faculdade de Medicina do

ABC-FMABC, na certeza de que ainda há muitos desafios e caminhos a percorrer. Tenho

certeza de que, apesar de vivermos em uma sociedade repleta de desigualdades sociais,

quando temos sonhos e desejos, mesmo nas camadas mais carentes da sociedade, somos

capazes de fazer e acontecer o SUCESSO!

“Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que

ensinar, há sempre o que aprender.”

Paulo Freire.

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O FILHO DE MARIA

Thiago Alberto Viana de Sousa

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O filho de Maria

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ano era 1988, quando um acidente envolvendo um ônibus e um caminhão

ceifou a vida de meu Pai, José, e deixou minha mãe, Maria, deficiente física e

com três filhos para criar. Não me recordo deste momento, afinal eu tinha

aproximadamente 02 anos de idade. Conheci o semblante de meu pai apenas por fotos e,

suas histórias, através de relatos que minha mãe e avó contavam. O pai que conheci e que

me educou, no seu jeito calado, foi o meu avô João Padeiro, que graças a seu gesto de

amor, tomou para si a responsabilidade de me educar, bem como a meus dois irmãos,

dando toda a assistência a nós e à minha mãe. Embora ele nunca tenha me cobrado, eu

tinha uma enorme dívida com ele, dívida de gratidão.

Desde muito cedo comecei a trabalhar, mais precisamente aos 12 anos, em 1997,

no balcão da panificadora de minha família, no contraturno de minhas aulas, porém, acho

que atrapalhava mais do que ajudava, mas faz parte, afinal de contas, ali era meu “lazer”.

Este “lazer” ajudou a formar meu caráter e me ensinou a sempre correr atrás dos meus

objetivos, me ensinando o valor das conquistas, o sabor salgado do suor de meu trabalho.

Digo isso sem arrogância, mas com gratidão ao meu avô, sempre lembrando e praticando

o seu lema: “Sem orgulho, com a graça de Deus”.

Não foi fácil terminar os estudos neste colégio privado, pois uma crise financeira

se instalou no comércio de meu avô e ele teve que suspender o pagamento de meus

estudos, entretanto, entra em cena a minha mãe Maria, que sempre dava um jeito de pagar

os meus estudos. Mesmo com dificuldades de locomoção, todo início de ano ela buscava

a ajuda do padre da Diocese de Quixadá, e conseguiu uma bolsa de estudos que cobria

grande parte da mensalidade, e vendia bolos para ajudar a complementar a mensalidade.

Mas às vezes as mensalidades acumulavam e teve um dia que ela teve que vender um

violão que eu tinha para este mesmo padre, com o objetivo de levantar valores para quitar

os débitos e que eu pudesse continuar os estudos. Graças aos esforços desta batalhadora

MÃE, fui seguindo meus estudos neste colégio.

Os anos foram passando e a possibilidade de acompanhar meus irmãos na rota de

Fortaleza foi aumentando, afinal, em Quixadá eu não tinha opções de continuar os

estudos, pois as poucas opções que se tinha, no início dos anos 2000, não me atraíam,

principalmente por ser apaixonado por informática e na cidade ter apenas alguns poucos

cursos na Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central –

FECLESC/UECE. Me recordo que ainda cheguei a prestar vestibular na Universidade

Federal do Ceará – UFC, em Fortaleza, em um novo curso de Telecomunicações que

acabava de ser lançado, mas sem êxito.

O

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Chega o ano de 2003, ano em que terminei o ensino médio e provavelmente iria

seguir a mesma escrita de meus irmãos, João e Marcelo, que foram embora para Fortaleza,

na busca de estudos em 1991 e em 2000, respectivamente, porém, o meu avô paterno me

faz uma pergunta que me fez seguir em Quixadá. Me questionou se eu queria estudar em

uma nova faculdade que estaria chegando na cidade, a Faculdade Católica Rainha do

Sertão (FCRS) e, de imediato, disse que sim, pois sempre possuí laços em Quixadá e não

tinha pretensão de ir embora, deixando família e amigos.

Participei do primeiro vestibular da FCRS, com a primeira opção de curso sendo

para Economia e a segunda, para Administração. Fui aprovado, mas como não abriu

turma para Economia, fui para Administração. Um fato que considero curioso remete

ainda ao período da vida escolar, pois como o colégio que estudei era da Diocese de

Quixadá, eu cheguei a fazer um curso de marcenaria em um dos prédios no qual se

instalaria a FCRS.

Em 2004 a FCRS possuía duas turmas de Administração, ambas com 50 alunos,

sendo uma pela manhã e a outra à noite, eu estudava nesta segunda com amigos do tempo

do colégio e outros que acabara de conhecer e era tudo muito novo e complexo, pois afinal

de contas, não era fácil servir no Tiro de Guerra (Exército), no início da madrugada e da

manhã trabalhar as 8 horas diárias e, à noite, ainda ir para a faculdade. Neste ano também,

comecei a namorar a minha futura esposa, Janaírla, sempre paciente e compreensiva com

tantas atribuições.

Ainda no primeiro semestre de 2004, consegui um trabalho na área administrativa,

numa seguradora de Quixadá, e tive que sair da panificadora de minha família. Os

semestres foram avançando e as dificuldades financeiras foram chegando, mesmo com o

Fundo de Financiamento Estudantil, FIES, que nesta época cobria até 70% da

mensalidade, e meu avô, também com dificuldades de continuar me ajudando

financeiramente, o receio de ter que interromper os estudos me bateu, afinal, eu vinha em

um ritmo tão intenso que esta ruptura iria me abalar. Apesar disso, eu não desisti de

estudar e comecei a trabalhar ainda mais, fazendo trabalhos extras na área de computação,

nos finais de semana, para complementar a minha renda e na busca de custear os meus

estudos, além de contar com a ajuda de amigos e de colegas de trabalho. A essa altura, eu

já tinha um meu novo emprego, numa empresa de Telefonia que tinha em Quixadá —

empresa que entrei como backoffice (uma espécie de “faz tudo”) e terminei como Gerente

Regional, atuando nas cidades de Aracati, Limoeiro do Norte, Quixadá, Quixeramobim e

Russas, passando pelas áreas de Engenharia e Administração.

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O filho de Maria

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Chega o segundo semestre de 2007 e com ele o meu primeiro título: Bacharel em

Administração. O segundo da família, pois meu irmão João também já era e, futuramente,

a minha prima Paula também seria também formada na FCRS.

Logo após a conclusão da graduação, junto a dois amigos recém-formados, Bruno

e Daniel, tivemos a audácia de abrir uma empresa de Gerenciamento Eletrônico de

Documentos, a “Escanear”. Digo audácia, pois não tínhamos recursos financeiros, mas

muita criatividade e força de vontade. Realizamos o planejamento da empresa e

obtivemos recursos com familiares e através de empréstimos e conseguimos o contato de

um programador, que fez o nosso sistema da forma como havíamos planejado.

A experiência com a “Escanear” foi bastante rica, tanto no âmbito profissional

quanto no pessoal, pois vimos ali os primeiros desafios de se trabalhar com empresa e

como empresa, abdicando muitas vezes de momentos de lazer e colocando até a amizade

em prova, já que era inevitável a diferença de visões nesta e em qualquer empresa que se

trabalha em equipe.

Conseguimos alguns clientes, mas levamos muitos “não” também. Era difícil

convencer os tradicionais proprietários de Quixadá-CE da nossa visão e o quanto eles

iriam ganhar com a nossa ideia. Era mais difícil pela visão fechada que muitos tinham e

não viam nossos serviços como investimento, mas como despesas.

Há alguns anos a empresa está fechada, prefiro dizer em stand by, quem sabe ela

volta um dia. Acredito que o motivo dela estar fechada é pelo fato dela ter surgido “à

frente do seu tempo”, se fosse uma ideia de hoje certamente teria o nome de startup.

Fiquei nesta empresa de telefonia entre 2006 e 2010 e saí após uma solicitação de

meu avô, João Padeiro, para ajudá-lo no dia a dia da panificadora, afinal de contas ela já

estava na casa dos 80 anos de idade e já se encontrava cansado de trabalhar das 05h às

19h, todos os dias.

Iniciei meu maior desafio profissional, em uma empresa familiar, em 2010,

ocasião em que reestruturei a empresa com a ajuda do meu avô e familiares, realizando

um grande sonho dele: o de ver o seu grande amor de cara nova.

O ano é 2010 e saio de um emprego fixo, com crescimento profissional constante,

para entrar de cabeça na ideia de meu avô, que era a de ajudá-lo na panificadora de nossa

família, panificadora esta que deu todo o sustento de uma família por duas gerações.

Não se tinha investimento na estrutura da panificadora, pois sempre houve

investimento na família, por isso ela necessitava de uma urgente reforma. Através de

recursos de terceiros, conseguimos um financiamento e a tão sonhada reforma sairia do

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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papel. Não foi fácil, pois por ser uma empresa familiar, seriam 10 tipos de reforma para

a mesma empresa, cada um opinava de maneira diferente. Depois de muita conversa,

chegamos a um consenso e iniciamos a reforma.

Foram 02 anos de atuação exclusiva na panificadora, entre 2010 e 2012,

trabalhando das 05h às 20h, de segunda a sábado e mais 05h no domingo. Muito desgaste

físico e psicológico, não é fácil administrar empresa familiar.

Em 2011, conversando com um grande amigo, Bruno, ele me deu a ideia de fazer

uma pós-graduação, ideia esta que acolhi e iniciei os estudos em Fortaleza, aos sábados e

domingos, na busca de melhorar meu currículo e buscar a docência na FCRS. Ainda em

2011, perdi o meu grande inspirador, o meu avô, e fiquei mais um ano à frente de seu

empreendimento, sozinho e com muitos problemas a administrar, principalmente por se

tratar de uma empresa familiar.

Em 2012, um amigo que conheci ainda no colégio e foi meu treinador de

handebol, Cristiano, me questionou se eu teria disponibilidade e interesse de ir ajudá-lo

na coordenação do curso de Educação Física, na FCRS, como secretário de curso, no

turno da tarde e noite. Confesso que fiquei balançado e ao mesmo tempo com receio, pois

eu iria ter um salário menor do que o meu atual e iria trabalhar ainda mais, já que teria

expediente das 05h às 11h na panificadora e das 13h às 22h na FCRS. Após conversa com

minha esposa, sempre compreensiva e querendo o meu melhor, encarei o desafio e fui

participar da seleção, sendo aprovado. A data era 20 de agosto de 2012, e eu retornava à

FCRS, agora como colaborador.

Entre tantas atividades do dia a dia da secretaria e entre planejamento de eventos

e atividades do curso, comecei a ministrar oficinas, como voluntário, para os alunos do

curso, contando com o incentivo do Cristiano e da sua enorme visão a longo prazo e

potencial de planejamento.

Em 2013, mudei de cargo e setor na FCRS, indo com Cristiano para a

Coordenação de Extensão, um novo desafio para ambos. Ainda em 2013, concluí um

MBA Internacional em Gestão e Finanças e fico apto a lecionar.

Em 2014, graças à aposta do então Coordenador de Ciências Contábeis, Danival,

e do Coordenador de Administração, Marcos, começo a realizar minha tão sonhada

atividade como docente, com as disciplinas de Teorias da Administração e Gestão de

Pessoas II. Não foi fácil, mas quem falou que seria? Os primeiros dias de aula foram

angustiantes. Como controlar o tempo? Como seria a minha metodologia? Como fazer o

material das aulas? Mas as semanas foram passando, a angústia diminuindo e o semestre

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O filho de Maria

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acabando. Ainda em 2014, o Cristiano volta para o seu grande amor, o Curso de Educação

Física, e a FCRS contrata um novo coordenador.

Em 2015, com a ida do então Coordenador de Extensão, Arnaud, para a

Coordenação da Pós-Graduação, com o apoio do mesmo, recebo o convite do Diretor-

Geral, que foi o meu professor e Coordenador no curso de Administração e é a minha

referência em Administração, Professor Manoel Messias, para assumir a Coordenação de

Extensão. Também não foi fácil, teria que ter uma nova visão e tive novos desafios. Ainda

em 2015, sou agraciado por Deus e recebo o meu maior e mais importante título: pai do

João Pedro. Um lindo bebê, nascido às 06h 25min da manhã de uma quinta-feira, dia 05

de novembro.

Chega 2016 e com ele o credenciamento da FCRS a Centro Universitário,

surgindo assim a Unicatólica e, com ela, novos desafios para toda a família Católica. Com

a atualização do organograma da instituição, sou convidado a Coordenador do Núcleo de

Atividades Articuladas ao Ensino, o NAARTE, com o objetivo de melhorar os processos

deste setor estratégico para a Unicatólica. Ainda em 2016, concluí uma Pós-Graduação

em Docência no Ensino Superior, ofertada para os docentes e alguns funcionários da

Unicatólica. Outra ótima conquista neste ano foi a conclusão de curso do meu irmão

Marcelo, em Medicina. Este daria um ótimo livro também.

Estamos em 2017 e olhando para toda esta história de superação de vida, onde

desde muito cedo fiquei praticamente só, numa cidade do interior, com poucas opções de

trabalho e vida, a não ser no comércio. Tenho a grata felicidade de cruzar com o caminho

da Unicatólica e de pessoas que me ajudaram chegar até aqui e, no mesmo dia que escrevo

este capítulo, recebi a informação de aprovação no Mestrado em Administração da

Universidade de Fortaleza.

O que esta história pode contribuir para este livro ou para você leitor, realmente

não sei, mas espero que ajude na sua busca de superação e concluo com uma frase de

autor desconhecido: “Quando desistir for mais fácil, continue insistindo, pois o difícil

costuma valer muito mais a pena”.

Sucesso!

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A FACULDADE QUE UM DIA EU

“APAREI”, É HOJE O CENTRO

ACADÊMICO QUE ME AMPARA

Marcelo Eduardo Pereira dos Santos

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A Faculdade que um dia eu “aparei”, é hoje o Centro Acadêmico que me ampara

- 35 -

ou mineiro, da cidade de Montes Claros-MG. Curso Teologia na Unicatólica

desde 2015, mesmo período da minha admissão como seminarista na Diocese de

Quixadá.

Como membro consagrado da Comunidade Filhos de Maria, fui remanejado para

nossa casa de Missão na Diocese de Quixadá em novembro de 2014. O remanejamento

se deu em função da continuidade dos meus estudos em vista do sacerdócio.

A primeira vez que ouvi o nome da instituição foi em 2005. Naquele ano, estive

em Fortaleza por ocasião do Halleluya, um evento realizado pela Comunidade Católica

Shalom.

A então Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS era uma das instituições

patrocinadoras do evento. De tempo em tempo, os apresentadores divulgavam a marca da

faculdade e lançavam brindes aos participantes.

Em um dos intervalos, quando do arremesso dos brindes, aparei justamente um kit

da FCRS. Ao olhar para aquele kit ainda nas mãos do apresentador, tive uma certeza:

“Esse é meu!”. Dito e feito. Arremessado o kit, no meio de 70 mil pessoas, eu o aparei.

Nem sequer imaginava que aquela faculdade, que eu “aparei”, me ampararia.

Atualizando, em 2014, morando na casa de Missão de Quixadá-CE, fui admitido

no Seminário Diocesano, após a aprovação no vestibular de Teologia, classificado em

primeiro lugar, com o início do curso previsto para janeiro de 2015.

Passados exatos 10 anos, aqui estava eu, no Ceará novamente, agora como

acadêmico da FCRS. A graduação em Teologia será a minha terceira graduação. Sendo a

primeira, licenciatura em Música, pela UNIMONTES, e Filosofia, pela Pontifícia

Antoniana, a segunda. Por ter estudado nestas duas outras instituições, para mim foi

praticamente impossível a tentação da comparação. Mas, com sua particularidade, a

Unicatólica se distingue.

Como acadêmico, tenho podido crescer intelectual e humanamente com tudo o

que o centro acadêmico oferece. Além das disciplinas que são ministradas em sala de

aula, nos são oferecidas atividades de extensão acadêmica, o que em muito contribui para

a nossa formação.

Em 2016 tive a oportunidade de participar de um grupo de estudos sobre a Casa

Comum, coordenado pela Professora Ms. Marlene Guerreiro. Este grupo estudava

assuntos abordados pelo Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si’. Foi uma

experiência ímpar. Pudemos, além de aprofundar o estudo de temas relevantes sobre o

S

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 36 -

cuidado com o meio ambiente, promover o intercâmbio de conhecimentos práticos

relacionados.

Já neste primeiro semestre de 2017, fui indicado e convidado, juntamente com

outros 4 seminaristas do curso de Teologia, para participar do projeto de extensão

universitária UNIDOBEM. É uma oportunidade única de colocar em prática aquilo que

aprendemos. Saímos do espaço acadêmico e adentramos no cotidiano de pessoas e

instituições às quais podemos ajudar na promoção de sua dignidade de pessoa humana.

Agradeço imensamente a Deus a oportunidade de me qualificar intelectualmente

em uma universidade católica e sei que os frutos serão colhidos no futuro que Ele mesmo

me reserva. Sou grato também a todas as pessoas que me ajudaram e ajudam nesse

caminho. Cabe ressaltar aqui, Dom Angelo Pignoli, bispo de Quixadá, que me acolheu

em sua diocese. Agradeço também à Professora Ms. Marlene Guerreiro que, com sua

dedicação e testemunho de leiga engajada e comprometida, sempre nos impulsiona a

irmos além e nos motiva à inserção em realidades que sejam eficientemente

complementares à nossa formação.

Surpreendentemente, todo o profissionalismo e competência que a Unicatólica

oferece é um sinal muito claro de sua missão e dedicação em formar homens e mulheres

capazes de uma resposta aos anseios da sociedade. Digo isso no sentido dos contravalores

atuais e da postura que, bem formados em um ambiente cristão católico, podemos oferecer

como profissionais qualificados e capacitados ao mundo, através de um testemunho

plausível.

Sou feliz por ser Unicatólica e faço parte desta história!

A faculdade que um dia eu “aparei”, é hoje o centro acadêmico que me ampara.

Gratidão.

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A FELICIDADE NÃO ESTÁ

SOMENTE NA

CONCRETIZAÇÃO DOS

OBJETIVOS, MAS NO

PERCURSO...

Kleber Bezerra da Cunha

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A felicidade não está somente na concretização dos objetivos, mas no percurso...

- 39 -

ó quem sabe os desafios e as dificuldades de cursar o nível superior em outra

cidade é quem não tem condições financeiras suficientes para se manter, ou seja,

comprar os materiais e acessórios necessários, como: apostilas e livros; lanches

diários; mensalidade do curso; eventos; cursos preparatórios, etc. Além de percorrer mais

de 300 km (ida e volta), passando mais de 4 horas diárias de viagem para chegar no Centro

Universitário Católica de Quixadá-CE (Unicatólica), correndo risco de vida por

problemas externos, tais como pneu furado, gasolina esgotada, motor pifado, assaltos

(que foram vários) e ônibus literalmente desconfortável. Chegamos a passar dias sem

estudar devido a não autorização do gestor municipal, que sempre alegava algo do tipo:

feriado, falta de verbas para o combustível ou qualquer outra tentativa de justificativa sem

fundamentação.

Aos 17 anos, em 2012, concluí o ensino médio em uma escola pública. Desde

cedo, minha maior preocupação estava em conseguir uma vaga na universidade pública,

fiz vários vestibulares e Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), sendo aprovado em

alguns: Ciências Contábeis, Letras/Língua Portuguesa, Agronomia, etc., porém, não era

o que eu desejava. Cursei Letras/Língua Portuguesa até o 9º semestre, mas precisava

concretizar o meu sonho, foi então que em 2016, fiz a inscrição do vestibular da

Unicatólica. Esperava ansiosamente o resultado, que logo saiu: fui aprovado! Mas a

questão já não era mais a aprovação, e sim como iria pagar a matrícula se mal eu tinha

dinheiro para pagar a taxa de inscrição do vestibular. Neste mesmo momento, pensei

comigo mesmo e respirei fundo, dizendo: “acalme o seu coração, tudo acontecerá no

momento certo, não da forma que desejo que aconteça, mas na vontade de Deus.”

Eu e a minha família tivemos que pedir emprestado uma parte do dinheiro, a outra

parte conseguimos vendendo produtos e prestando serviços para empresas... paguei. E os

outros meses? Hum... Um milagre aconteceu, mas com esforços e dedicação ao máximo.

Fui selecionado com uma bolsa de estudos em 100%, oferecida pela própria Unicatólica.

E o que dizer da Unicatólica, antes e depois do ingresso?

Nenhuma palavra pode descrever a gratidão que sinto pela devota dedicação

empenhada pelo Unicatólica para nos passar o devido ensinamento. Estrutura

maravilhosa, preocupação com o corpo discente, corpo docente e por todos os

profissionais que contribuem para o desempenho e qualidade no ensino. Aos meus

queridos professores que tanto se dedicaram para o melhor desempenho, ihh... foram

tantos planejamentos, noites mal dormidas e quanta paciência para explicar várias vezes

S

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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o mesmo conteúdo. Salário algum pode recompensar o bem que executaram em nossas

jornadas, ao trazer conhecimento à nossa existência.

Não são apenas os médicos que salvam vidas. Quem ensinou aos renomados

médicos a base do conhecimento? Quem ensinou aos cientistas a usar o raciocínio lógico?

Sem professores não haveria doutores e nem ciência a ser estudada. Os caminhos que

seguiremos terão traços dos ensinamentos que recebemos em sala de aula. Talvez

esqueceremos dos rostos e nomes mas levaremos no subconsciente as lições aprendidas.

Agradeço a DEUS por tudo que fez em minha vida, só não entendo o porquê de

o meu pai ser tirado de mim tão depressa, de uma forma tão inexplicável, que muitas

vezes pensei que DEUS foi injusto com ele. Questionei por várias vezes, meses ou até

mesmo anos... Como um ser humano igual ao meu pai, tão dedicado a igreja, um bom

pai, esposo e respeitável cidadão, tem uma morte com tanto sofrimento? Procurei por

respostas em muitos lugares, não encontrei tão fácil, com algum tempo busquei uma

explicação na Bíblia Sagrada, foi onde encontrei a tão desejada resposta, que NÃO

precisamos temer a morte, pois lemos: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da

morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me

consolam" (SALMO 23:4 BT). A partir de então, comecei a compreender que DEUS sabe

o que faz, e nós não sabemos o que dizemos. Pedi perdão a DEUS e muitas forças para

seguir adiante, com FÉ e segurança.

Sou feliz, entretanto, incompleto. Pois falta um “pedaço” de mim, o meu pai não

se encontra fisicamente ao meu lado, isso causa-me bastante dor. Por mais que eu fale

que não tenho medo, sinto uma insegurança, afinal sou ser humano com muitos defeitos

e imperfeito. Sei que deixou-me muitos ensinamentos que sempre levarei comigo. Apesar

de estar distante fisicamente, ele ainda me transmite energias positivas, tais como:

honestidade, caráter, coragem, fé, humildade e amor ao próximo. O meu pai sempre será

lembrado com muito carinho, hoje eu aprendi a conviver com amor a distância, quem ama

nunca deixará de amar. Amor é para sempre, só se deve dizer a alguém que o ama, quando

verdadeiramente o faz. Palavras demonstram, atitudes comprovam. Ele foi e sempre será

o meu maior exemplo, o maior pai, a minha joia rara, de inestimável valor. Te amo com

todas as letras!

Eu não acredito que a existência humana possa simplesmente acabar como se

nunca tivesse existido. Eu não acredito nisso porque os seres humanos têm alma, têm

sentimentos, têm amor. Somos superiores a quaisquer outros seres porque nós somos

capazes de sentir, seja para o bem ou para o mal, e tudo isso não pode evaporar de uma

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A felicidade não está somente na concretização dos objetivos, mas no percurso...

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hora para outra. Eu acredito que a morte é, na verdade, uma passagem, e uma passagem

para um mundo melhor. Sim, para um mundo melhor. Por que temos que acreditar que a

morte é um sofrimento e um fim? Por que temos que acreditar que não podemos continuar

existindo depois da morte? Por que inculcaram na nossa cabeça que não podemos ser

felizes com o que temos e somos, na perspectiva de melhorarmos? Eu questiono

fortemente as pessoas pessimistas. Afinal, o que elas fazem para melhorar o mundo? Com

que direito elas tripudiam na dor do outro?

Com o passar dos dias, eu percebi que o meu pai estava dentro de mim. Mas não

em um sentido metafórico, e sim em um sentido real mesmo. Ele está dentro de mim

porque depois que ele morreu, eu finalmente aprendi a ser uma pessoa melhor, eu aprendi

a ser mais solidário, eu aprendi a me importar mais com o sofrimento do outro, eu aprendi

a ser muito mais humilde. Meu pai era motoboy, agricultor e era uma pessoa muito boa e

humilde. Eu melhorei como pessoa depois que ele se foi. Eu conquistei o respeito das

pessoas, eu conquistei autoestima, eu conquistei meus objetivos mais ousados dentro da

universidade. Eu realmente me concentrei mais e provei para o meu pai que o sonho dele

de me ver na universidade e cursando Direito valeria a pena. E, de fato, está valendo.

Se você quer chorar, chore. Chore de verdade. Chore com o máximo de sua dor.

Chore com sua alma. Mas lembre-se de que a morte não existe e de que as pessoas que

amamos sempre serão vivas dentro de nós, em nossas atitudes e em nossa força de vontade

para continuar lutando. Eu tenho certeza que o meu pai quer que eu seja brilhante. Por

isso eu não sonho, eu sou!

Hora de agradecer... minha MÃE (MEU ANJO ETERNO) é tudo, exemplo de

caráter e fidelidade. Como eu a amo! Sei que muitas vezes nos desentendemos com

palavras, atitudes impensadas, ficamos chateados um com o outro, mas tudo é

momentâneo, nada que um pedido de desculpas, um beijo não resolva. Ela é a essência

do meu presente, passado e futuro, sempre quero tê-la por perto. O trecho da música

MÃE, de Marcos Antônio, faz-me lembrar sempre, a importância de uma MÃE, com tão

poucas letras, mas com significado tão grandioso. “Mãe, você não se lembra, mas eu não

esqueci, de joelhos dobrados com rosto molhado choravas por mim…” Obrigado, sem a

SENHORA meus dias seriam vazios... MEU ANJO ETERNO – MÃE!

Os meus irmãos? São fantásticos, entretanto, malucos! Não troco por nada, eles

(as) são companheiros (as), cheios de humor e leais. Irmãos brigam, brincam, se amam.

Irmãos são feitos assim, tão diferentes, mas o amor que corre nas veias é maior que tudo,

nada é mais importante que nossa comunhão, eu preciso e sempre precisarei de vocês.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Meus avós? São comediantes exclusivos, os melhores que já vi. Cada qual com

seus “palavreados” e crenças. Minha querida e amável avó é maravilhosa, incrivelmente

cativante. Como eu a amo! Sempre me ajudou, não só financeiramente, mas com

exemplos. Foi uma das pessoas que mais ajudaram na minha graduação, no primeiro

semestre, cheio de dificuldades: financeiras, doenças, adaptações, etc. Ainda lembro

como se fosse hoje das preocupações, dos lanches que faziam para eu levar para a aula...

Sem palavras para descrevê-la.

Enfim, minha família é a estrutura do meu ser, são eles (as) que estimulam e

mostram o “caminho da verdade”, claro que não deixarei de agradecer a DEUS, pois

minha vida pertence ao Senhor. Em Hebreus, 13:5, DEUS disse: de maneira alguma te

deixarei, nunca, jamais te abandonarei.

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A MINHA TRAJETÓRIA DE

VIDA ACADÊMICA

Mariana Lane Freitas dos Santos

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A minha trajetória de vida acadêmica

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o ano de 2013, ingressei no curso de Teologia da Unicatólica. De início, estava

com medo, era um mundo todo novo, cheio de surpresas e eu não imaginava

o quanto eu cresceria em tão pouco tempo. A escolha do curso foi mais uma

indicação, uma grande amiga me indicou o curso, pois me ajudaria no meu futuro. Eu, na

época, em formação para me tornar freira, era aspirante — período inicial de formação e

conhecimento da congregação religiosa.

Depois de alguns dias de aula, eu estava muito contente com todo o curso, feliz

demais por ter chegado até ali, por ter professores bons e estudar tanta coisa nova. Mas,

para grande tristeza minha, tive que trancar o semestre seguinte, pois iria ingressar de vez

na vida religiosa e mudaria de estágio na formação, iria para o postulantado, período de

recolhimento, de formação e adaptação à vida religiosa consagrada.

Então saí do curso, tranquei o semestre e optei pela vontade de Deus naquele

período para mim. Aos poucos fui usando tudo o que havia aprendido na sala de aula com

as irmãs do instituto, principalmente na formação. Mas, com alguns meses na casa de

formação, cheguei a viver um período bem difícil na congregação religiosa, a ponto de

não me encontrar mais feliz com aquela realidade. Outras jovens que estavam comigo no

postulantado acabaram desistindo, o que me entristeceu profundamente. Minha

formadora, a irmã que é responsável pela formação e pelas jovens que entram no

convento, percebeu que eu estava mudada e não estava bem, então decidiu que era melhor

eu voltar para casa.

Quanta sabedoria foi a dela nesse momento! Eu não conseguia entender, mas hoje

reconheço que sim, foi o melhor a se fazer. Voltar para casa foi difícil, assim como foi

para sair de casa e ir para o convento. Quando eu saí, não sabia o que fazer, se continuava

na Igreja, nas pastorais, na paróquia, ou se fugia e ficava em casa. Eu procurei ajuda de

psicólogos, que muito me orientaram e colaboraram para o meu amadurecimento naquele

momento.

Passados alguns meses, eu resolvi retornar ao meu curso de Teologia, agora, era

eu quem optava pelo curso, que decidia e sabia concretamente por que estudar Teologia.

Retornei às atividades na paróquia, junto às pastorais, e reconheço que muito que sei e

faço na Igreja é graças ao meu curso, que além de aprendizado doutrinal, eu pude

aprofundar e fundamentar a minha fé. Aos poucos pude entender a vontade de Deus, Ele

queria que eu estivesse com minha família e na paróquia.

O meu curso tem me ajudado a dar razão a minha fé, tem me dado uma identidade

forte de cristã. Caminhar e amadurecer junto do curso de Teologia foi fundamental para

N

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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minha vida, tantos foram os testemunhos de professores, de amigos e colegas de sala de

aula que me impulsionaram a continuar e insistir no conhecimento da fé, da Igreja, da

doutrina, do magistério e tantas outras áreas. Muitos ainda me perguntam como posso

ganhar dinheiro estudando Teologia, mas para mim, como minha mãe sempre diz, o que

importa é o conhecimento, esse ninguém pode tirar.

Muito mais do que ganhar dinheiro, eu ganhei muitos amigos, tive a honra de

estudar com pessoas maravilhosas, mestres, doutores, de sabedoria imensurável. Eu

ganhei a experiência de fé mais sólida, mais embasada; eu ganhei prática pastoral; eu

ganhei tantas oportunidades de estudo que meus familiares nem sonham. E tudo o que

ganhei de graça, tenho dado de graça aos meus irmãos, seja em casa, seja na paróquia

onde moro, seja no meu bairro, seja na rua, no ponto de ônibus.

Foram tantos os desafios, como o período de avaliações parciais, de trabalhos,

apresentações de seminários, pegar ônibus até debaixo de chuva, ajudar colegas a

entender o conteúdo, fazer vídeo e perder o arquivo valendo nota, e todos estes momentos

me ajudaram e ajudam ainda a superar mais e mais as minhas dificuldades pessoais.

A Teologia contribuiu muito na minha vida, na minha formação como pessoa

madura, com valores e aptidões profissionais, além da formação da doutrina católica que

recebi ao longo do curso.

A minha trajetória de vida acadêmica foi mais ou menos essa. Com felicidade,

hoje estou quase chegando ao fim nesta instituição e posso acrescentar que minha fé me

permite ainda sonhar em fazer um mestrado na área de Direito Canônico, em vista de

auxiliar nas necessidades da minha diocese, que tanto contribuiu para a minha formação

profissional, desde o primeiro dia de aula até os dias de hoje. Eu sou Mariana Lane Freitas

dos Santos, tenho 24 anos, moro em Quixeramobim, graduanda do 7º semestre do curso

de Teologia do Centro Universitário Unicatólica de Quixadá.

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A TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM

JOVEM DO CAMPO ATÉ A

CIDADE: A CHEGADA AO

ENSINO SUPERIOR E AS NOVAS

EXPECTATIVAS

Antônio Wellington de Souza Gomes

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A trajetória de vida de um jovem do campo até a cidade: a chegada ao Ensino Superior e as novas expectativas

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eu nome é Antônio Wellington de Souza Gomes, tenho 24 anos, estou

cursando na Unicatólica o 7º semestre de Teologia. Moro na zona rural,

distrito de Juá em Quixadá-CE, tenho que me deslocar diariamente para a

cidade estudar. Ingressei na escola com a idade de três anos em 1996, concluí o ensino

básico na minha própria comunidade. Era muito inquieto e as minhas professoras não

entendiam meu comportamento e me ofendiam com palavras que humilhavam,

negligenciando o fato que eu era só uma criança. Chamavam-me de “doido”, por não

compreenderem o meu comportamento e não conseguir aprender, deixando registrados

de forma negativa na minha memória afetiva esses episódios que fizeram parte do meu

histórico escolar.

A partir dos meus seis anos de idade, eu não conseguia mais dormir à noite e me

faltava o ar, sentia como se o meu coração estivesse na minha cabeça pulsando: tuntum,

tuntum... Eu dormia respirando pela boca, minha mãe, vendo aquele fato, procurou ajuda

médica. Na ocasião, me encaminharam para o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e

fiquei tendo acompanhamento com o Dr. Carlos Magnos (psiquiatra) que me receitou

remédio controlado e o Dr. Júlio (psicólogo), mas continuava tendo os mesmos problemas

de não conseguir dormir à noite, como também no âmbito escolar não conseguia aprender

o conteúdo. Eu fazia as provas e era reprovado, no entanto, pela idade eu passava porque

eu não tinha a idade para estar naquela turma.

Quando completei nove anos, minha mãe vendo a minha situação de não conseguir

dormir à noite pediu ao Dr. Júlio uma tomografia da minha cabeça. Fiz essa tomografia e

só recebi o resultado com onze anos de idade, já estava cursando a 5ª série do Ensino

Fundamental I, hoje 6º ano, foi aí que minha mãe e eu fomos driblados, marcaram uma

consulta para mim no H.G.F (Hospital Geral da Fortaleza), minha mãe teve que antecipar

o seu parto alguns dias para poder me acompanhar na consulta.

Assim, quando minha irmã completou 3 meses, fomos para a consulta, chegando

ao consultório do neurocirurgião Dr. Firmo descobrimos que eu estava diagnosticado com

hidrocefalia (que reduzia minha coordenação motora, visão, e o cognitivo), não conseguia

assimilar e processar as informações como as outras pessoas e isso me prejudicava nos

estudos. Portanto, não era uma consulta, era para fazer uma cirurgia, pois o estágio da

hidrocefalia já estava tão avançado que se não fizesse essa cirurgia logo eu ficaria cego

ou paraplégico. Minha mãe Eliete quase ficou louca, pois só tínhamos ido com a roupa

do corpo, não estávamos preparados para ficar.

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Fomos encaminhados para o Hospital Batista, para fazer a cirurgia, logo, o Dr.

Carlos ligou para minha mãe. Depois que chegamos ao hospital, ele explicou que não

poderia dar essa notícia a ela, pois a mesma ainda estava grávida e a emoção poderia ser

muito forte e prejudicar a minha irmã. Fiz a cirurgia e foi colocada uma válvula na minha

cabeça, retornei para casa, mas com um mês e quinze dias retornei ao hospital e relatei

para o médico que no canto da cirurgia tinha se formado uma bolha d'água. Ele mandou

tirar um raio X, e foi constato que a válvula tinha enrolado na minha barriga, o mesmo

disse que tinha que operar novamente, por esse motivo, perdi o ano letivo e tive que

repetir a 5ª série.

A partir daí minha vida escolar mudou, conseguia armazenar conhecimento e

aprender, pois, até a 5ª série eu não desenvolvia intelectualmente, no entanto, os prejuízos

ficaram, até hoje tenho dificuldades com a matemática e o português, pensei naquele

momento voltar no tempo e recuperar o conteúdo perdido, não podia, então só tinha uma

opção e meta, que era seguir em frente nos estudos. O gordinho que sofria bullying pelo

seu peso e por ser considerado o menos inteligente se tornou o "Albert Einstein" da turma.

De repente, colegas que antes achavam que eu era o menos inteligente, começaram

a se aproximar de mim, mas percebia que eles só se aproximavam para se aproveitar do

meu conhecimento e não para fazer amizade, era apenas para eles passarem de ano. Eu

consegui me destacar com esforço próprio e dedicação aos estudos, terminei o

Fundamental I e II, logo, entrei na escola de Ensino Médio Gonzaga Mota, nesse ambiente

tive três professores que me ajudaram muito.

O primeiro, Adriano Borges, professor de matemática, com ele eu realmente

conseguia entender matemática e realizava os cálculos que eram muito complexos para

mim; o segundo, Henrique, professor de português, que me incentivava nos estudos e em

sua disciplina; e o terceiro, Renato Bruno, professor de física, não considero ele como

professor, mas como irmão, quando precisava de um local para ficar para fazer a prova

do Enem, por exemplo, ele ofereceu a sua casa.

Inscrevi-me no Enem em 2012, ano que concluí o meu Ensino Médio, não

consegui a pontuação exigida, então conversei com a coordenadora do polo do Juá do

Gonzaga Mota, dizendo que queria repetir o 3º ano como aluno ouvinte para me preparar

melhor. Continuei estudando, quando em um dia participando da missa do Padre Luciano,

meu pároco, falando sobre a Teologia em sua pregação, despertou meu interesse por fazer

Teologia.

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A trajetória de vida de um jovem do campo até a cidade: a chegada ao Ensino Superior e as novas expectativas

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Nesse mesmo período, estava acontecendo o festejo de São José em minha

comunidade, então, vieram dois seminaristas, um deles o Léo, quando conversando com

ele e falei do meu interesse em fazer Teologia, o mesmo falou que também iria fazer o

vestibular da Unicatólica para Teologia, sendo ele quem mais me incentivou para fazer o

vestibular, então decidi fazer o vestibular e passei, ingressando na universidade.

Começaram então a surgir uma série de dificuldades, tentei uma bolsa social na

instituição, que foi o primeiro desafio ultrapassado com sucesso, pois sem bolsa não teria

condições financeiras para seguir o curso, pago o valor equivalente a R$ 107 por mês.

Outras dificuldades vieram, como o transporte escolar, batemos em muitas portas para

conseguir o passe para chegar na Unicatólica, pois o distrito que moro não tinha rota

escolar para Quixadá. Minha mãe e eu fomos à Secretaria de Educação de Itapiúna,

Capistrano e Quixadá, recebemos muitas negativas, humilhações, nenhuma secretaria se

responsabilizava, todas afirmavam que não era da competência do município o ensino

superior. Entre várias angústias e tensões, felizmente consegui, então, nesse percurso

acabei me prejudicando, perdendo disciplina do primeiro semestre, porque tinha que sair

mais cedo para pegar transporte na praça da catedral para ir para casa, no entanto, isso

não me desanimou: eu tinha um propósito, que era fazer o nível superior.

No segundo semestre, tive uma boa notícia: o motorista que não queria me levar

se aposentou e entrou outro motorista, que foi sensível a situação e se propôs me trazer

para a instituição. Na universidade conheci pessoas que me ajudaram muito, como o Padre

Marcos Chagas, que me ajudou na adaptação acadêmica, ele percebeu que eu tinha

dificuldades emocionais e acadêmicas e recomendou procurar o NAP (Núcleo de Apoio

Psicopedagógico) da Unicatólica.

A chegada à instituição me abriu possibilidades e descobertas, ainda não tinha

domínio do uso das mídias, não fazia parte da minha vivência escolar, pois não tinha

contato com o computador, quando cheguei tudo era novo, fui aprender para realizar as

pesquisas e trabalhos acadêmicos.

No NAP, conheci a Adriana (psicopedagoga), que tem me ajudado a enfrentar os

desafios, que são muitos no percurso acadêmico, como também os meus colegas de sala:

irmão Marcio, esse foi meu braço direito dentro da universidade; irmão Rafael, meu

conselheiro pessoal nos problemas da vida; Carlinhos, meu amigo, que ajudou nos

trabalhos de algumas disciplinas; Carlos Alberto, Severino, João Paulo e Marcelo, que

me ajudaram nas correções no português e norma culta em alguns trabalhos. Também

tenho a contribuição de conhecimento e de experiência de vida de meus professores que

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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enriqueceram a minha caminhada: Padre Luciano, Renato, Padre Erasmo (meu orientador

de TCC 2) — que emprestou alguns de seus livros para atualizar a bibliografia do meu

TCC — Padre Helton, Padre Marcos, Irmã Lurdes, Padre Eronildo, Dom Adélio, Padre

José Nogueira, Padre Nilson, Padre Savio, Aldenisa Peixoto, Auxiliadora e a minha outra

psicóloga Tunísia (que me lembra de tulipas), com quem desabafo sobre os problemas

pessoais e às vezes acadêmicos.

Estou perto de concluir o curso, fazendo o TCC 2, que tem exigido muito, pois

estou ficando na universidade por causa dos livros, e só retorno para casa à noite. Aliás,

esse problema já me persegue faz algum tempo, pois não tinha condição financeira de

comprar os livros que alguns professores indicavam. Enquanto que meus colegas

conseguiam comprar online, sofria com a falta dos mesmos na biblioteca, então o jeito

era pegar o conteúdo pela explicação do professor nas aulas. Quanto a minha alimentação,

graça a Deus, estou conseguindo almoçar na Congregação Jesus Missionários dos Pobres,

com a ajuda do Padre Francisco, que permitiu.

Eu espero, quando terminar esse curso, fazer a diferença na sociedade, no meu

distrito e por onde passar. Uma das reflexões que trago para minha vida sobre os estudos,

eu retiro da música dos MCs e rappers Os Racionais “A vida é desafio”, essa música me

motivou a seguir em frente nos estudos e superar as barreiras e as dificuldade que a vida

me impõe, especificamente destaco esse trecho: “Geralmente quando os problemas

aparecem a gente tá desprevenido, né não? Errado é você que perdeu o controle da

situação, perdeu a capacidade de controlar os desafios, principalmente quando a gente

foge das lições que a vida coloca na nossa frente, tá ligado? Você se acha sempre incapaz

de resolver, se acovarda, morô? O pensamento é a força criadora, o amanhã é ilusório

porque ainda não existe. O hoje é real. É a realidade que você pode interferir. As

oportunidades de mudança tá no presente. Não espere o futuro mudar sua vida. Porque

o futuro será a consequência do presente. Parasita hoje, um coitado amanhã. Corrida

hoje, vitória amanhã, nunca esqueça disso, irmão.”

Assim, finalizo o texto, ressaltando que esse momento da minha vida tem

possibilitado fazer voos antes jamais imaginados. Acredito que o conhecimento e a

experiência que tenho adquirido na Unicatólica me avançam para um amanhã com mais

esperança de vitórias, para que o ciclo não se repita, e eu consiga ter um futuro diferente

dos meus pais.

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A TRAJETÓRIA SONHADORA

DE UMA ESTUDANTE

APAIXONADA PELA VIDA

Francisca Colares Martins

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A trajetória sonhadora de uma estudante apaixonada pela vida

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eu nome é Francisca Colares Martins, porém, sou conhecida como

Aureliana e estou no 8° semestre do curso de Fisioterapia. Tudo começou

aos quatro anos de idade, minha mãe me colocou para estudar, na época

não tinha creche e tínhamos que estudar em uma fábrica de vassouras abandonada, tudo

era complicado, mas estava dando certo, e aos cinco anos já sabia ler. Aos seis anos tive

que me mudar, meus pais se separaram e tive que morar em um sítio, essa época foi a

mais incrível, a infância em um sítio era um sonho, porém a escola ficava a cinco

quilômetros e como a estrada se desfazia com a chuva no decorrer do inverno, tínhamos

que ir a pé. Posso até imaginar ao fechar os olhos, lembro de dezenas de crianças subindo

a serra, cheias de lama por causa da chuva com os livros guardados em uma sacola,

chegando ao escurecer em casa, todo dia.

No ensino fundamental nosso colégio passou por uma reforma, tínhamos que

estudar em casas alugadas, era engraçado estudar em casas, a minha sala de aula ficava

em um antigo mercado que não tinha banheiro, alguns tinham aulas na igreja.

Posteriormente, isso não deu certo e fomos estudar na quadra do colégio, fizeram umas

paredes provisórias e foi assim até o colégio ser entregue.

O colégio novo era muito bonito, era uma grande estrutura para uma comunidade

que sequer tinha mil habitantes na época. O novo colégio tinha dois andares, biblioteca,

auditório, laboratório de informática, pátio, enfim era muito bonito. O ensino era de

qualidade, realizávamos feiras de ciências incríveis, uma até virou capa do jornal Diário

do Nordeste: “Estudantes do município de Aratuba dispõem de uma infraestrutura que

contribui para um ensino nota 10”, sendo chamada de modelo inédito no Ceará. O jornal

também destacou uma pesquisa de mestrado em que o objeto de estudo era as escolas do

município.

No ensino médio, tenho recordações maravilhosas, pois estudava bastante,

tínhamos aulas em laboratórios de ciências, íamos a museus tanto regionais como em

outras cidades. Uma delas foi maravilhosa, tive a oportunidade de criar um equipamento

para transformar água salobra em água potável, juntamente com um colega. A professora

então nos levou a uma feira regional para representar o município, foi muito legal,

fizemos um protótipo e levamos um banner para apresentar, e a experiência foi exitosa.

Me imaginava sendo bióloga marinha e morando em Fernando de Noronha. Meu sonho

era trabalhar na natureza e, como a maioria dos jovens, queria mudar o mundo.

Fiz amizades com meus professores, como a professora de biologia Marcyara,

ela era muito jovem, uns dois anos mais velha que a gente, além de professora, é até hoje,

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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uma amiga bem especial. Meu professor de matemática (bom, o que falar dele?), um

amigo, me emprestava livros, presenteava colocando dedicatória, ele era simplesmente

maravilhoso para todos, nos incentivava com sua história de vida. Ele me fez ver que eu

poderia ir longe, me elogiava bastante, não por ser boa em matemática (porque eu não era

mesmo), mas sobre eu ser ótima em biologia e química, disse que eu tinha um arsenal de

conhecimento que iria me levar longe. Ele foi muito importante para mim.

E no último dia de aula, cada professor falou um pouco sobre cada aluno, para

mim foi triste, chorei bastante, nos abraçamos e nos despedimos. Foi uma vida

compartilhada com os meus colegas, crescemos juntos, ríamos juntos, éramos uma

família.

Fiquei em casa uns seis meses sem fazer nada, algumas amigas já estavam na

faculdade e eu não sabia direito o que queria, eram tantas opções. Tinha um livro na minha

casa que continha diversas profissões e tinha um teste de vocação. Marquei algumas

profissões que eu queria fazer, marquei quase todas da área da saúde, menos Fisioterapia.

Gostei muito da parte do livro que descrevia sobre a Biomedicina, tanto é que nesse dia

fui dormir com meus pensamentos voltados para a mesma.

No mês de junho do ano de 2013, abriram vagas para o vestibular da Faculdade

Católica Rainha do Sertão – FCRS em Quixadá, e olhem só, tinha Biomedicina, me

animei bastante e me inscrevi.

Os dias passaram e uma noite anterior ao vestibular fiquei muito nervosa, não

conseguia dormir, só pensava no vestibular. Cheguei em Quixadá para fazer a prova, ao

entrar no estacionamento fomos muito bem recebidos, teve uma abertura com oração e

música, nos entregaram um cartão com um versículo bíblico, me senti acolhida. Ao entrar

na sala, fiz amizade com uma menina muito simpática de nome Laiane, pedi a ela para a

gente dar uma voltinha pela faculdade, pois ela já a conhecia. Ela aceitou e saímos da

sala. Eu me impressionei com a estrutura e pensei: “meu Deus, quero muito estudar aqui”.

Após o vestibular, voltei para casa e fiquei esperando o resultado. Em uma noite

estava conversando com uma prima por celular, no qual informou que o resultado já havia

saído, então pedi para ela olhar se meu nome havia saído na lista de classificados, e ela

disse que não, fiquei triste, mas perguntei se ela tinha certeza, vindo logo em seguida um

“sim”. O problema é que essa minha amiga procurou pelo nome que sou conhecida, ou

seja, “Aureliana”, mas no resultado constava meu nome de acordo com o RG, então falei

para ela procurar por Francisca Colares Martins, e logo em seguida vieram as melhores

palavras, informando que tinha passado em quarto lugar para Biomedicina.

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A trajetória sonhadora de uma estudante apaixonada pela vida

- 57 -

Nessa hora fiquei muito feliz, pulei de alegria! Porém, me ligaram da faculdade

dizendo que não ia abrir turma para Biomedicina, que eu podia me matricular em outros

cursos da saúde. Fui a minha antiga escola pegar meus certificados, e encontrei meu

professor de matemática, que me incentivou a fazer Fisioterapia, pois não sabia o que

queria.

No dia seguinte, a faculdade me ligou novamente para confirmar qual o curso

que queria fazer, fiquei na dúvida entre Enfermagem e Fisioterapia, e disse Fisioterapia

por puro impulso. Me matriculei, e fui para o primeiro dia de aula, onde amei tudo, pois

não houve aula e sim uma missa. Refleti muito sobre como estava feliz de estar nessa

instituição, que superava minhas expectativas, uma instituição que se preocupa com

questões sociais, ambientais e é católica, não conseguia acreditar que eu tinha conseguido.

Com o início das aulas comecei a me encantar pelo curso. Um momento

marcante foi quando a professora Danielle Santiago passou um vídeo bem emocionante

sobre uma fisioterapeuta que havia sofrido um acidente e ficou tetraplégica, chorei

quando a vi entrando em seu casamento, me emocionei muito, vi que era isso que eu

procurava, era isso que eu queria e não sabia. Me apaixonei pelo curso, e com o tempo,

essa paixão virou amor.

No ano de 2014.1, fui chamada pelo presidente do Centro Acadêmico para fazer

parte de uma chapa, que foi a vencedora e que permaneceu até 2016.1. Tive momentos

incríveis, de muito aprendizado, pelos quais sou grata. Realizamos vários eventos, era

cansativo, nos privamos de várias coisas, mas valeu muito a pena cada sacrifício.

Também participei do “Overdose da alegria”, grupo que me proporcionou

experiências as quais vou lembrar pelo resto da minha vida. Nos vestíamos de palhaços e

íamos alegrar a vida das pessoas, fosse na faculdade, no hospital ou em qualquer lugar.

Em 2016.1, me inscrevi para o programa Pet-GraduaSUS. Saliento que esse

programa do governo só beneficiou três faculdades no Estado e, com muito orgulho, a

Unicatólica conseguiu esse programa. Fui aprovada como bolsista, e estou tendo

experiências grandiosas até os dias atuais. Esse programa nos possibilita ter contato com

a comunidade. Sendo multidisciplinar, aprendemos a importância de cada curso para o

cuidado integral do paciente, possibilitando conhecimentos e experiências primorosas.

Em 2017.1, atual semestre, participo da Liga Acadêmica de Fisioterapia

Neurológica da Unicatólica, na qual estou imensamente feliz de participar. Estou

produzindo dois artigos com meus colegas e uma professora, que é a mesma que me

orienta no TCC I.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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O tempo passou rápido, em 2018.1 estarei me formando, tendo a certeza de que

a Unicatólica me fez conhecer mundos que não conhecia. Aprendi muito, me tornei mais

madura, hoje vejo que os alunos da Unicatólica são diferenciados, preocupados com

questões sociais, ambientais e, acima de tudo, preparados para transformar realidades.

Tenho orgulho de estudar aqui, a cada conquista da instituição vibro e torço para

mais conquistas. Aqui encontrei uma família bem numerosa, pessoas qualificadas,

transformadoras e posso dizer com veracidade que a instituição transformou minha vida.

Nossa clínica é bem moderna e equipada com aparelhos diversos, em que

prestamos atendimento à população e em breve estaremos com um espaço para

equoterapia, que é a terapia com cavalos. Poucas pessoas têm a chance de ter um ensino

de qualidade como o nosso e valorizo muito isso.

O curso de Fisioterapia, bem diferente do que eu pensava, se preocupa com a

prevenção de doenças, promoção da saúde, atuando em todos os campos da saúde, na

Pesquisa, no Esporte, na Estética, Pediatria, Geriatria, Gestantes, na Atenção Básica, na

Neurologia, Ortopedia, Reumatologia, Traumatologia, Neonatologia, Cardiologia,

Ergonomia, Massoterapia, Acupuntura, Equoterapia, Oftalmologia, Fisioterapia Jurídica

e em tantas outras áreas transformando realidades.

Sou apaixonada pela Fisioterapia, acredito que todos temos uma missão na vida,

e sinto que estou no caminho certo. Você deve estar se perguntando como sei disso, sei

porque ela me faz chorar de emoção, me arrepia, me torna uma pessoa melhor, me inspira,

me encoraja, me faz ficar sem palavras.

Como afirma o filósofo Immanuel Kant: “O ser humano é aquilo que a educação

faz dele”. A Unicatólica fez de mim uma pessoa que se preocupa com o mundo ao meu

redor, sendo transformadora de realidades, formadora de opiniões, preocupada com as

questões sociais, uma pessoa mais reflexiva e empoderada e com uma bagagem de

conhecimentos diferenciados que me ajudarão a me destacar no mercado de trabalho.

Nesses oito semestres na Unicatólica passei por muitas situações, chorei (de

alegria e de tristeza), me desesperei, sorri, me alegrei, conquistei, perdi, aprendi, fiz e

refiz muitas coisas, alcancei metas, conquistei e criei sonhos, me enganei, mudei de

opinião diversas vezes, perdi o sono e a paciência, ganhei experiências, gargalhadas,

conhecimento e maturidade. E se fosse possível voltar atrás faria tudo de novo, porque

tudo valeu e está valendo a pena. Obrigada, Unicatólica!

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“AFINAL DE CONTAS O QUE

NOS TROUXE ATÉ AQUI,

MEDO OU CORAGEM?

TALVEZ NENHUM DOS DOIS”

Marina Lima Silva

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“Afinal de contas o que nos trouxe até aqui, medo ou coragem? Talvez nenhum dos dois”

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que me trouxe até aqui foi o amor pelo Direito, amor este que achava que já

conhecia... Que nada! Mal sabia que esse amor me faria passar por tantas

provações, e já lhes adianto, está valendo a pena cada uma delas.

Quando conheci (entenda-se conhecendo) não tive dúvidas que seria um amor para

a vida toda, afinal de contas, desde criança não queria ser outra coisa ou ter outra profissão

— a não ser aquela fase que todo mundo quer ser médico veterinário, por ter tanto amor

aos animais. A profissão nunca foi minha dúvida, queria ser juíza e militar sobre os

direitos das crianças, sobretudo, na área de pensão alimentícia, sem ao menos entender

muito do que se tratava esse direito ou ter vivenciado experiência próxima, a questão

então seria onde morar ou em qual faculdade estudar.

Foi quando chegou o vestibular e essa questão também logo foi superada, afinal,

naquela época de se inscrever em todas as faculdades possíveis e impossíveis, eu acabei

fazendo só o Enem e me inscrevendo apenas para a Faculdade Católica Rainha do Sertão

– FCRS como faculdade particular, passando em Direito somente para a FCRS,

atualmente Unicatólica, sem nunca ter vindo a Quixadá ou cidade vizinha. Para não dizer

que não conhecia ninguém que estivesse estudado na Unicatólica, conhecia apenas duas

ou três pessoas, mas que também não eram quixadaenses e já não moravam mais em

Quixadá, ou seja, estaria morando em uma cidade desconhecida, com pessoas

desconhecidas, a quase 200 (duzentos) quilômetros longe de casa, com apenas 17 anos,

sem saber cozinhar, passar ou lavar, enfim, para minha mãe então parecia o fim do mundo.

Quando vim pela primeira vez foi para prestar o vestibular, eu, uma amiga e o pai

dela. Um sufoco! Muita gente quase não achava a sala que ia fazer a prova, tive que

encontrar a minha e a da minha amiga. Quando terminamos a prova fomos visitar o centro

e de lá retornamos para a nossa cidade.

O mais engraçado dessa época de pré-vestibular era que quando discutia com meus

colegas do colégio sobre o que iríamos fazer e onde iríamos estudar, nunca tinha me

passado pela cabeça vir estudar e morar em Quixadá, muito menos na Católica, até porque

dizia que se fosse para fazer uma faculdade particular iria pra Capital, onde estariam as

melhores.

Engano meu, ao chegar a Quixadá me deparei com a faculdade ideal para mim,

posso dizer isso com certeza, afinal, já são quase quatro anos de curso e de muito

aprendizado, desde os momentos em sala de aula até os corredores e estacionamento.

Digo isso porque depois das aulas esses lugares se tornaram ambientes de discussões

O

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 62 -

sobre temas relevantes e outros nem tanto, mas, enfim, sempre aprendemos algo novo e

é isso que importa na vida acadêmica.

Voltando ao período que antecedeu o meu ingresso na faculdade, teve o resultado

do vestibular que, diga-se de passagem, foi uma decepção, e apesar de ouvir muito que o

resultado do vestibular em nada tem a ver com o potencial do aluno, aquele resultado me

deixou ainda mais ansiosa, indecisa, desacreditada, um mister de emoções.

Fiquei no 132º (centésimo trigésimo segundo) lugar, ou seja, nos classificáveis, o

vestibular para Direito só acontece uma vez por ano na Unicatólica, já tinha perdido as

esperanças que fosse começar a tão esperada faculdade de Direito no ano seguinte. A

inexperiência nessa hora foi quase que decisiva, já que nem eu e nem meus pais sabíamos

como funcionava a chamada dos classificáveis. Foi quando, por incentivo de alguns

amigos e familiares que disseram que eu seria chamada e que levasse logo toda a

documentação necessária e o dinheiro para a matrícula, viajamos novamente para

Quixadá.

Quando chegamos, me deparei novamente com aquela multidão de pessoas, só

não maior do que a do vestibular, e sem entender muito bem como era o procedimento

começamos a indagar as pessoas, esperamos algumas horas. Foi sendo chamado curso a

curso, até que começaram a chamar os classificáveis do Direito. A tensão só aumentava,

temia que quando fosse a minha vez já não estivesse mais vagas a serem preenchidas, fui

acompanhando um a um, até que o meu nome foi chamado, e aquele mister de emoções

veio à tona novamente, agora não só em mim, mas também no meu pai que me

acompanhava, na minha amiga e no pai dela e até em pessoas que tínhamos conhecido

ali. Um alívio!

Desse dia só consigo lembrar-me de um dos meus colegas de sala, que atualmente

estuda comigo e desde o início da faculdade nos tornamos amigos, que inclusive me deu

muitas caronas e me ajudou na conquista do primeiro estágio. Mal sabia eu que aquele

rapaz que quando teve seu nome chamado pulava e gritava de tanta alegria (até hoje ele

é assim) seria meu amigo não só de faculdade, mas da vida.

Matriculada, porém não instalada, faltava agora um local para morar, que fosse

próximo à faculdade, seguro, com preço acessível e espaçoso. Sim! Espaçoso, porque

meus pais, a princípio, diziam que queriam viver aqui, só que Jaguaruana não é tão perto

assim, não é mesmo, são quase 200 km de distância, como havia falado anteriormente.

Na saga de procurar um apartamento, encontramos um, aparentemente ótimo,

próximo à faculdade, espaçoso, preço acessível e ainda tinha a vantagem de ser

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“Afinal de contas o que nos trouxe até aqui, medo ou coragem? Talvez nenhum dos dois”

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mobiliado. Já estávamos quase fechando o contrato, foi quando em uma viagem para

Fortaleza para uma consulta com o otorrino, o médico me pergunta sobre a faculdade, e

o digo que estou indo morar em Quixadá e ele surpreso me diz que, por coincidência, sua

mãe mora em Quixadá, inclusive, possui apartamentos para alugar na avenida da

faculdade. Logo me interessei e já pedi o contato dela, já marcando de conhecer os

apartamentos.

Foi de fato uma coincidência muito boa, primeiro porque os apartamentos eram

os melhores que conheci, segundo e mais importante, me livrei de morar em um

apartamento que aparentemente era ótimo, mas que nesses anos morando aqui descobri

que no período de chuvas a avenida vira um verdadeiro rio (sem exageros), e os alunos

que moram nessa avenida já tiveram de usar até barcos/canoas para conseguirem sair de

suas casas.

Um alívio para os meus pais saber que eu estava morando em um lugar bom, pois

não foi fácil para mim nem para eles ter que morar fora para estudar, longe de seus olhos

cuidadosos e de todo aquele mimo. Muitas coisas começariam a mudar, principalmente,

no que diz respeito às responsabilidades, estas agora seriam maiores.

Matriculada, instalada, agora era só esperar para começar a tão esperada faculdade

de Direito. Início das aulas, dia 31 de julho de 2013, aquele friozinho na barriga, no

primeiro dia missa de recepção dos alunos na quadra lotada de calouros. Após a missa,

dividiram os grupos por curso, aquele primeiro reconhecimento dos colegas de sala, as

primeiras amizades, as primeiras impressões, de lá fomos para a sala (famosa B29), onde

passamos vários semestres devido ao grande número de alunos que minha sala tinha

(cerca de 60 alunos).

Já em sala, nos apresentamos: “Nome? De onde vem? Por que escolheu esse

curso? E qual carreira quer seguir?”, passamos a semana respondendo essas perguntas, a

cada dia para um professor diferente. Essa última pergunta é a que me faço até hoje, isso

porque naquela época, quando entrei na faculdade, não imaginava que a cada semestre

iria viver uma experiência nova ou conheceria uma nova carreira. Iniciei com o

pensamento que estudaria para concurso público, no caso para ser juíza de Direito.

Mas os semestres foram passando, fui conhecendo outras vertentes do curso, uma

delas a docência. Jamais passou pela minha cabeça ser atraída pela carreira acadêmica,

até que conheci o PROMAC - (Programa de Monitoria Acadêmica) da faculdade e resolvi

me inscrever para ver no que dava, encarei mais como um desafio e não ainda como uma

possível carreira. Na primeira vez não passei, reconheci que não tinha estudado e resolvi

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 64 -

tentar novamente, foi quando veio a aprovação para ser monitora da disciplina de Teoria

Geral do Processo – TGP, ministrada “apenas” pelo coordenador adjunto do curso, razão

para me dedicar ainda mais a esse desafio. Fui monitora durante o ano de 2016.

Mais um desafio concluído com sucesso, porém não era o suficiente, tinha pegado

gosto pela coisa e então resolvi me inscrever novamente e passei agora para monitora de

Processo Civil I, uma continuação da disciplina de TGP, e outro desafio pela frente. Foi

aí que percebi que além dos concursos públicos (estabilidade) ou da advocacia (vocação),

o Direito poderia me proporcionar algo que gosto muito de fazer, compartilhar o que sei

e oferecer ajuda. A monitoria está sendo uma realização, inspirada nos meus professores,

sobretudo, nas minhas professoras, mulheres fortes e inteligentes, e quem sabe a vida

acadêmica e a docência não se tornam minha profissão também, podendo um dia até me

tornar professora da casa.

Falando em profissão, não posso deixar de falar dos estágios. Comecei a estagiar

bem antes do que imaginava, ainda no segundo semestre. Aquela dificuldade para acordar

cedo, se adequar aos horários e responsabilidades. Estagiei e ainda estagio no setor

público, passei o primeiro ano na Justiça Comum Estadual, no ano seguinte no Juizado

Especial, mais perto de casa e, atualmente, depois de pouco mais de dois anos estagiando

apenas com uma bolsa paga pela prefeitura, defasada, diga-se de passagem, passei na

seleção de estágio do Tribunal de Justiça, considerado pelos alunos do Direito um dos

melhores e mais bem remunerados, dinheiro do qual precisava e chegou no momento

certo.

Esses estágios foram fundamentais na minha formação profissional e pessoal, me

levaram a enxergar as pessoas com um olhar menos julgador e mais humano. Vivenciando

muitas situações, desde questões entre os colegas de trabalho (parceria, concorrência,

desavenças, etc.) até ser reconhecida e parada na rua pelas pessoas que atendi para falar

sobre processos (quem trabalha no setor público sabe do que estou falando), enfim,

experiências que fazem e ainda farão muita diferença na futura profissional que eu quero

ser.

Outra coisa que não posso deixar de falar é sobre o FIES (Fundo de Financiamento

Estudantil), o bendito FIES, digo isso com certo tom de ironia porque ao mesmo tempo

que sem ele seria mais difícil ou até impossível cursar Direito na Unicatólica — que,

como sabemos, é um curso caro, sem falar nas despesas que meus pais têm para me

manterem morando fora de casa com aluguel, alimentação, etc — ele também é uma

novela mexicana, não foi difícil conseguir, difícil está sendo manter. Na época que fiz foi

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“Afinal de contas o que nos trouxe até aqui, medo ou coragem? Talvez nenhum dos dois”

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o último semestre que precisou de fiador, nos anos seguintes o aluno poderia ser seu

próprio fiador e é aí que está, no decorrer do curso o valor das mensalidades foi

aumentando, só um fiador não bastava, tive que arranjar outro e quem precisa sabe como

é difícil arranjar um, imagina dois.

A crise no País foi aumentando, as burocracias também, o que significa muita dor

de cabeça e até choro, todo semestre aditamento não-simplificado, idas ao banco,

documentos, papéis e mais papéis e aquele medo de por qualquer coisa perder o

financiamento e ter que trancar o curso, mas enfim, não posso reclamar, são os contras

que qualquer coisa boa tem.

De obstáculos em obstáculos superados, vou me encontrando no curso e na

faculdade que escolhi e ao final do primeiro semestre do ano que vem (2018.1), estarei

me formando e comemorando com a minha família e amigos essa conquista, ou como

dizia Belchior, comemorando “um diploma de sofrer e outra universidade” e então todas

aquelas noites mal dormidas, a saudade de casa e da família, os perrengues, enfim, todos

os esforços serão recompensados.

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CAMINHOS E ESCOLHAS: O

TRIUNFAR DE UM SONHO

Marcelo Bertonny Alves Freitas

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Caminhos e escolhas: o triunfar de um sonho

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ada um de nós constrói a própria história e está carregada de diferentes

sentimentos. Alegrias, descobertas, tristezas, conquistas, desejos, perdas.

Sentimentos que fizeram parte do passado e que nos visitam no presente. Assim

sendo, ingressar no Ensino Superior foi um divisor de águas em minha vida.

No ano de 2012, fui aprovado no vestibular do Centro Universitário Católica de

Quixadá (Unicatólica) para o curso de Biomedicina, momento de grande alegria e

satisfação pessoal e de familiares. No ato da matrícula recebi a triste notícia de que não

havia número suficiente de matrículas para formar turma. Um turbilhão de sentimentos

me visitou neste momento, expectativas iam-se embora e a tristeza, árdua e vívida, se fez

presente.

Ainda surpreso com a notícia, fui informado nas dependências da instituição que

havia cursos disponíveis para matrícula, foi então que caí de paraquedas na Fisioterapia.

Esperançoso e determinado fiz da minha escolha casa de bons sentimentos. Seriam cinco

anos de desafios, de abdicações, decisões e crescimento. Desde então, cada dificuldade

era um incentivo para não desistir, tinha que me superar. Concordo com Spurgeon quando

diz que: “Muitas pessoas devem a grandeza de suas vidas aos problemas e obstáculos que

tiveram para vencer.” De fato, é através destes obstáculos que aprendemos, que nos

superamos e que valorizamos nossas conquistas.

Com um conteúdo desafiador e estimulante, o curso de Fisioterapia da Unicatólica

atendeu todas as minhas expectativas. Sinto-me honrado em fazer parte desta instituição

de ensino que nasce encarando a educação como uma necessidade social, estimulando o

aluno a responsabilizar-se com o seu papel de cidadão consciente a partir do momento

em que une a preparação profissional e acadêmica a uma sólida formação humana. A

seriedade, o respeito e o tratamento humano que a instituição dispensa a seus alunos e

colaboradores são visivelmente atestados pelo seu sucesso como entidade de ensino.

Afirmo que o conjunto de experiências acadêmicas e pessoais vividas por mim contribuiu

de forma significativa no meu processo de formação profissional.

A cada dia tentamos melhorar, aprender, evoluir, dar sentido à nossa existência.

O que pensamos hoje, certamente é diferente do que pensávamos no passado, visto que

concepções mudam conforme o tempo passa. A verdade não é única, absoluta, ela está

sempre a transformar-se, acompanhando novas pesquisas, novas ciências. Assim acontece

conosco, não podemos ficar parados no tempo, senão ele certamente nos deixará para trás.

Com este discurso, ponho-me em reflexão e analiso o que construí na graduação,

vejo que conceitos foram ultrapassados e o quanto de novo tenho aprendido nesta

C

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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caminhada. Estudei, pesquisei, participei de programas acadêmicos, escrevi trabalhos,

cantei, chorei, sorri e fui feliz. Hoje, ao tentar escrever sobre minha trajetória acadêmica,

vejo que através das vivências do cotidiano, das transformações sociais e das relações

construídas na graduação, tenho adquirido conhecimentos que fazem de mim um homem

de grandes valores, vejo o quanto cresci como pessoa e percebo que o eu profissional

cresce a cada dia. Assim é a vida, um eterno processo aberto a mudanças e a inovações.

Hoje, concluo meu grau de Bacharel em Fisioterapia com a certeza de que sou

realizado pela escolha que fiz e pelos caminhos que passei. Olhar para trás, para o que

fui, para o que fiz e para o que sacrifiquei. Poder constatar por experiência própria que

boas ações e boas escolhas podem repercutir positivamente em nossas vidas. Saber que

agora desfruto da sensação de alegria e dever cumprido, porque em dias anteriores não

me permiti desistir ou desanimar quando tudo pareceu difícil ou interminável. Um belo

passado construído que culminou em um célebre presente, literalmente uma dádiva dos

céus.

No momento em que fui nomeado acadêmico de Fisioterapia, assumi um

compromisso, um compromisso comigo mesmo, que foi testemunhado pelo desejo de

plantar nesse mundo mais um profissional humanizado, com raízes fortes na

determinação à espera de boas conquistas. Ao longo desse trajeto fiz grandes amigos,

grandes parceiros. E assim estamos quase no fim ou no começo, deixo a interpretação em

aberto.

Externo meus votos de agradecimento a todos que construíram comigo essa

trajetória e que fazem parte destas linhas, sou grato a Unicatólica pela acolhida e sinto-

me feliz em fazer parte dessa história.

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DA ENXADA PARA O SONHO DO

DIPLOMA

Luiz Gonzaga de Araújo

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Da enxada para o sonho do diploma

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o dia 21 de junho de 1952, no sítio Areias (Faz. Tabuleiro), no município de

Senador Pompeu, no Estado do Ceará, em um dia ensolarado, com um belo

céu azul. Minha mãe é Antônia Pinheiro de Araújo, vinda do município de

Cedro-CE, de origem indígena, deu à luz ao seu segundo filho Luiz Gonzaga de Araújo,

de uma família de 9 irmãos. A minha amada mãe, sempre muito fervorosa e devota, tinha

o costume de dar o nome aos seus filhos de acordo com o santo do dia, por isso meu nome

é Luiz Gonzaga. Meu pai chamava-se Antônio Bezerra de Araújo, vindo do município de

Lavras da Mangabeira-CE, de origem europeia.

Passei minha infância no sítio Areias, zona rural, convivendo com as dificuldades

decorrentes do nosso clima seco e quente, com longos períodos de estiagem, mas criado

com muito amor e dedicação, sempre baseado nos princípios religiosos, não faltando às

novenas e celebrações realizadas pela própria comunidade, muitas vezes por coordenação

da minha mãezinha. Para ajudar meus pais no sustento da casa, devido à constante

dificuldade financeira, tive que iniciar os trabalhos como agricultor aos 7 (sete) anos, e

assim, ajudar a criar os meus 8 irmãos. Mesmo com o cansaço decorrente dos trabalhos

da roça, passando o dia sob o sol quente e levantando a enxada e a foice, eu era assíduo

nas peladas de futebol com bolas de meia e brincadeiras rurais.

Ainda sobre a minha infância, considero importante lembrar que apanhei de corda

e cipó dos meus pais, quando desobedecia aos seus ensinamentos, sendo este o método

de educar os filhos na época. No entanto, não guardo qualquer mágoa deles, mas sim

agradeço por tudo que me ensinaram.

Mesmo muito novo, já percebia que não queria aquela vida de trabalho árduo sem

retorno financeiro para mim. Um certo dia, durante as novenas e celebrações, me veio o

encantamento ao ver a nossa vizinha Antoniêta ler a Bíblia, sentindo uma vontade muito

forte de fazer o mesmo. Logo, disse a minha mãe que queria aprender a ler. No entanto,

não havia escola na comunidade, havendo apenas algumas pessoas que compartilhavam

o pouco conhecimento que tinham, ensinando as crianças a ler e escrever.

Aos 10 anos passei a frequentar a escola multisseriada, com claras lembranças de

alguns “professores”, sendo eles: Antoniêta Batista, João Izidoro, Didi, Ananias, Maria

Vidal e Filenita. Em alguns períodos, tive que estudar à noite para continuar a trabalhar

na roça durante o dia, pois para o meu pai “filho homem” não estudava, tinha que trabalhar

na roça e conquistar as coisas por meio da enxada e não por meio da caneta.

N

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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De alguma forma, via que era por meio dos estudos que eu poderia mudar de vida,

por isso sempre fui estudioso, não precisando levar “bolos” com palmatória, por ter

deixado de cumprir qualquer tarefa e/ou normas da escola.

Os conhecimentos oferecidos no sítio Areias não iam além da 4ª série, logo, para

prosseguir os estudos, teria que ir para o povoado de Betânia, no município de

Solonópole, hoje Dep. Irapuan Pinheiro. Em 1970, já com 18 anos, ainda sonhando com

o diploma, não poderia parar de estudar. Por isso, fui cursar o Admissão, seleção para

fazer o ginásio, com a professora Maria Vanilda. Fui aprovado e, assim, iniciei o ginásio.

Durante os primeiros 6 (seis) meses, andava 9 (nove) quilômetros, diariamente, entre o

sítio Areias e Betânia para assistir às aulas. Após o referido período, a minha irmã mais

velha, a Francisca, uma das apoiadoras dos meus sonhos, decidiu também estudar na

Betânia. Para isso, uma amiga da família disponibilizou uma casa para passarmos a

semana, por isso, passamos a andar os 9 (nove) quilômetros apenas no início e fim da

semana.

No período das férias, por consequência da severa seca em 1970, meu pai, meus

irmãos e eu trabalhávamos como “cassaco”, na rodagem que passava no sítio Marêta

(Solonópole). Para conhecimento, “cassaco” era uma figura sertaneja a qual auxiliava na

construção de estradas tendo como pagamento a comida, mais especificamente, farinha e

rapadura. Nos horários das refeições, fazíamos uma fila, sob o sol quente, e recebíamos

o punhado de farinha em uma mão e rapadura na outra.

Em 1971, buscando melhores estudos, mudei-me para a cidade de Senador

Pompeu para concluir o ginásio. Como na época ainda não havia o pau de arara, meio de

transporte rural, entre Senador Pompeu e o sítio Areias, andava 30 (trinta) quilômetros a

pé todas as sextas-feiras com destino ao sítio Areias, onde morava a minha família. Nas

segundas-feiras, retornava para Senador Pompeu com os mantimentos plantados e

colhidos por minha família. Além de andar os 30 (trinta) quilômetros, tinha que passar o

Rio Banabuiú de canoa. No ano de 1974, devido às intensas chuvas, a correnteza do rio

não permitia o transporte por canoas, não sendo possível eu e minha irmã irmos para

Areias buscar comida e nem a minha mãe vir até Senador Pompeu trazer os mantimentos.

Como não tínhamos dinheiro, por muitas vezes passamos fome e os vizinhos que nos

ajudavam quando percebiam que não tínhamos comida.

De 1971 a 1974 estudei no Colégio Cristo Redentor e Escola Estadual de Senador

Pompeu, dedicando-me aos estudos, leituras e pesquisas, sempre buscando

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Da enxada para o sonho do diploma

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conhecimento, pois nos estudos, a cada dia mais, estavam depositados todos os meus

sonhos e desejos, bem como as expectativas da minha mãe de eu ter um futuro melhor.

Sempre que possível, quando tinha eventos gratuitos, gostava de ir para as

“tertúlias” e festas de forró para dançar; sempre gostei de dançar e dizem que danço bem.

Gostava também de jogos de futebol, assistir teatro, dramas; participar de gincanas,

quermesses, eventos da igreja, entre outras diversões, sempre de uma maneira que não

atrapalhasse os meus estudos, os quais eram prioridade em minha vida. Também

participei e fiz parte de movimentos estudantis e sindicalistas, implantei e coordenei o

Projeto de Educação de Jovens e Adultos nas Delegacias do Sindicato dos Trabalhadores

Rurais de Senador Pompeu-CE, ajudei a criar a Associação dos Professores Municipais

do Interior do Ceará (APROMICE) e engajei-me desde a idade de 15 anos nas pastorais

da Igreja Católica: grupos de jovens, catequese, liturgia, casamento, família, ECC e

palestrantes.

No período das férias, ao retornar para a comunidade de Areias, lecionava na

mesma sala na qual comecei a estudar, dando aula de modo multisseriado (1ª a 4ª série)

numa mesma sala, para as crianças e jovens que não tinham chance de estudar em escolas.

Esse momento era muito gratificante para mim, no qual meu coração transbordava do

sentimento de gratidão por tudo que havia ocorrido até então e poder fazer parte das vidas

das crianças que por algum motivo despertaram-se para o “saber”, iniciando ali a jornada

da busca pelos sonhos, buscando mudar a realidade da enxada para o sonho do diploma,

assim como eu.

Não existindo escola pública de 2º grau em Senador Pompeu, de 1975 a 1977 tive

que estudar na Escola Técnica de Comércio Clóvis Salgado, a qual era privada, com muito

sacrifício da minha mãe, a qual se virava em mil para pagar, pois eu não tinha emprego

na época, a não ser pequenos “bicos” que fazia dando aula de reforço escolar. Com muita

dedicação da minha mãe e esforço da minha parte, consegui concluir o Ensino de 2º Grau

com habilitação no Magistério pela SEDUC/CE, bem como o Curso de Administração,

em 1986.

Com essa formação, consegui iniciar minha carreira de professor, lecionando as

disciplinas de Educação Moral e Cívica e a de Estudos Sociais, nas séries de 1º Grau (5ª

a 8ª série), na Escola Estadual de Senador Pompeu. Em uma das turmas que lecionei,

conheci a Helena Siqueira Teixeira, com a qual, em 1982, casei-me, com muita alegria e

amor. Com ela tive três filhos: Hérbert Luiz, Leila Hérica e Laiz Hérida. Helena e eu,

juntos, defendemos um projeto de vida e de educação dos nossos filhos, baseado na

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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premissa de que a educação moral, ética e afetiva é de responsabilidade dos pais, bem

como a instrução escolar.

A cada dia mais apaixonado pela educação e docência e com o forte apoio da

minha esposa, dei início à jornada de estudos para tentar o vestibular. Diante deste projeto,

sabia que teria que me dedicar muito para superar as minhas limitações de conhecimento

até então, tendo que estudar, por exemplo, física, química e matemática — matérias que

não dominava muito até então. Buscando uma real imersão na busca pelo diploma, fui

passar alguns meses no sítio Areias, estudando muitas vezes embaixo de um pé de

mangueira e, à noite, sob a luz de lamparina, pois na época não havia energia elétrica na

zona rural, consequentemente, no sítio Areias.

O grande momento chegou e em 1985 fiz o vestibular pela UECE/Quixadá,

tirando o 1º lugar, dando início, portanto, ao meu mundo acadêmico. De acordo com as

experiências e os conhecimentos que ia adquirindo, fui optando pelos cursos que podia

realmente cursar diante das possibilidades financeiras e de tempo, já que havia uma

família e não poderia mais pensar só em mim. Logo, de 1985 até os dias atuais já consegui

concretizar 6 (seis) cursos, entre graduações e especializações, sendo eles: Licenciatura

Plena em Pedagogia, de 1985 a 1988, pela Universidade Estadual do Ceará-

UECE/Quixadá – Ceará; Especialização em Psicopedagogia, 1991, pela Faculdade

Associadas Ipiranga/São Paulo-SP; Bacharel em Teologia, de 1999 a 2002, pela

Faculdade Evangélica do Piauí – FAEP/Teresina-PI; Curso Livre de Psicanálise, de 2000

a 2002, pela Soc. Psicanalítica Ortodoxo do Brasil-SPOB/Niterói-RJ; Especialização em

Didática, em 2002, pela Soc. Psicanalítica Ortodoxo do Brasil-SPOB/Niterói-RJ e

Especialização em Gestão Escolar, em 2004, pela Universidade do Estado de Santa

Catarina/Florianópolis-SC.

Iniciei-me na experiência profissional como monitor de férias e coordenador do

Mobral, considerado estágio, e galguei alguns cargos e algumas funções, sendo elas:

Agente Administrativo, 1975 – EMATER/Senador Pompeu-CE; Professor Municipal,

1976 a 1977 – Depart. de Educação/Senador Pompeu-CE; Professor Estadual, 1978 a

1988-EEF. de Sen. Pompeu e EEM Cel. Adauto Bezerra/ Senador Pompeu-CE; Chefe do

Serviço de Educação, 1988 a 1990-14º CREDE – Senador Pompeu-CE; Professor

Estadual, 1991 a 1992 – EEM Cel. Adauto Bezerra/Senador Pompeu-CE; Secretário de

Educação, Cultura e Desporto, 1993 a 1996/Senador Pompeu-CE; Professor Estadual,

1997 a 1998 – EEM Cel. Adauto Bezerra/Senador Pompeu-CE; Diretor Geral, 1999 a

2001 – EEM Cel. Adauto Bezerra/Senador Pompeu-CE; Diretor Geral, 2002 a 2004 –

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Da enxada para o sonho do diploma

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EEF Martins Rodrigues/Senador Pompeu-CE; Diretor Geral, 2005 a 2013 – Liceu de

Senador Pompeu/Senador Pompeu-CE e Orientador da Célula de Gestão de Pessoas, 2013

a 2014-SEFOR-Fortaleza-CE.

No entanto, devido à longa carreira no âmbito da Educação e Gestão Escolar, não

havia conseguido realizar o meu grande sonho no ramo acadêmico que era me formar em

Direito. Com a minha aposentadoria em abril de 2014, após ter trabalhado 4 décadas e

com muita alegria e realização, superando as dificuldades e os desafios da realidade,

conseguimos formar os nossos filhos: Hérbert Luiz (Técnico em Informática e Teólogo),

Leila Hérica (Pedagoga e Especialista em Educação Infantil) e Laiz Hérida (Técnica em

Química, Técnica em Meio Ambiente, Química, Especialista em Gestão Ambiental,

mestra e doutoranda em Engenharia Civil); e desejando realizar um sonho que não foi

possível na vida adulta procurei algumas faculdades para concretizar este sonho, não

sendo bem acolhido em várias delas em Fortaleza. Em 2016, visitei a Unicatólica de

Quixadá-CE, onde fui bem acolhido e decidi fazer a inscrição em Bacharel em Direito,

entrando como graduado.

Hoje, aos meus 63 anos, retornei ao mundo acadêmico, vivendo esse momento

com muita intensidade, me dedicando na busca de conhecimentos e almejando novos

horizontes e tendo a plena certeza que tudo valeu a pena, todos os momentos de

dificuldades e as escolhas feitas trouxeram boas consequências para a minha família e eu.

Sou muito grato ao Meu Deus, à minha família e a Unicatólica de Quixadá-CE, por estar

me proporcionando, também, a busca pela realização desse sonho: a conquista do diploma

de Bacharel em Direito.

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DE CARBONO A DIAMANTE.

UNICATÓLICA: PONTE DE

SABEDORIA INDISPENSÁVEL

NESSA TRANSFORMAÇÃO

Cintia Leslie Pessoa Oliveira

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De carbono a diamante. Unicatólica: ponte de sabedoria indispensável nessa transformação

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sonho de alcançar a faculdade é de fato um desejo pertinente a muitos

estudantes, contudo nem sempre é possível chegar lá, os empecilhos

certamente atingem em massa aqueles alunos que residem bem distante da

instituição de ensino onde as condições geográficas e financeiras assolam esse sonho!

Mas como já dizia Einstein: “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”. Esse

cenário passa a ser visto com outros olhos, olhos de superação e vontade de vencer na

vida, de trilhar uma trajetória de lutas e conquistas.

Filha de Tauá, uma cidade interiorana fincada em uma das áreas que mais sofrem

com a estiagem do nosso Estado, as oportunidades de cursar uma graduação fora do

município também acabam se tornando escassas, porém, sempre tive em mente o seguinte

pensamento: “Quando há uma tempestade os passarinhos se escondem, mas as águias

voam mais alto” — Mahatma Gandhi. Fiz como a águia: não só sobrevoei as dificuldades,

mas venci a cada dia um novo obstáculo polindo a minha força de vencer a luta!

Desde muito cedo sempre tive a convicção de que o sucesso só viria com o estudo

e que para isso era preciso “ralar” muito! Aluna de escola pública, filha de professora,

dotada de uma força enorme de seguir em frente com os meus estudos, fiz desse desejo

uma meta para a minha vida. Os esforços não foram em vão e logo vieram as conquistas

ainda no ensino fundamental: 1º lugar no concurso de redação “Sobrevivência do

semiárido” (concurso realizado pela prefeitura municipal de Tauá para evidenciar as

potencialidades do semiárido nordestino) – 2008; 7º lugar – concurso do CEARÁ TEM

DISSO SIM (concurso promovido pelo jornal o povo – publicação no livro Autoestima

Cearense) – 2009; 1º lugar no concurso Jovem Cientista com o projeto “Materiais que

influenciam para a degradação do meio ambiente” (concurso promovido pela prefeitura

municipal de Tauá, onde jovens do ensino fundamental e médio deveriam produzir um

trabalho de cunho científico de acordo com o tema proposto e apresentá-lo) – 2009; 1º

lugar no concurso de paródia contra exploração sexual de crianças e adolescentes

(campanha realizada pela prefeitura municipal de Tauá no combate à exploração sexual

de crianças e adolescentes) – 2010; 1º lugar no Estado do Ceará no Concurso

Internacional Cartaz da Paz – LIONS INTERNACIONAL (concurso realizado pelo Lions

internacional a fim de promover a paz entre as nações) – 2009.

Durante a conclusão do ensino médio sempre há uma grande preocupação sobre o

que fazer depois: Cursar uma faculdade? Trabalhar? Parar por aqui? Foi aqui que decidi

retirar da gaveta os planos e ir cada vez mais alto em busca dos meus objetivos, realizei

o Enem e através deste exame obtive uma média que me possibilitou as seguintes

O

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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escolhas: Farmácia Unicatólica – 2013; Serviço Social UNOPAR – 2013; Pedagogia

UECE – 2013; Nutrição UFMG – 2013; Odontologia Unicatólica – 2014.

Há quase quatro anos fiz uma das mais sábias escolhas da vida: cursar

Odontologia. Nela, vi uma oportunidade de mais uma vez me realizar, preservando e

restaurando o movimento mais lindo e espontâneo do ser humano, o sorriso. Em seguida

a escolha Unicatólica foi preponderante, pois seria o local onde colocaria em prática tudo

aquilo que sempre almejei.

Fazer parte da história de uma instituição que visa a equidade é extremamente

gratificante, mais emocionante ainda é poder vivenciar de perto uma visão assistencial

nas áreas em que a população quixadaense e regiões circunvizinhas são menos assistidas

pelas políticas públicas (saúde e direito). O Projeto Cafundó é o exemplo vivo dessa

assistência, o símbolo de responsabilidade social dessa instituição. Alunos dos cursos da

Unicatólica, orientados por seus professores, vão a essa comunidade prestar serviços

básicos de cidadania a famílias que lá vivem desprovidas de praticamente todos os direitos

humanos. Ainda como graduanda principiante, pude viver essa experiência modificando

o dia daquela comunidade tão sofrida, oferecendo instruções de saúde bucal para aqueles

que, em sua maioria, nem conheciam uma escova dental. Ver a expressão de

agradecimento no rosto sofrido daqueles que procuram a Unicatólica como solução para

suas necessidades é um ensinamento que levarei para toda a vida, pois não há nada que

pague um olhar de gratidão!

A educação é uma ferramenta transformadora capaz de mudar de maneira sólida

e permanente o ser humano. Creio que todos que por aqui já passaram levaram na

bagagem grandes experiências e um forte sentimento de agradecimento pela sua

formação. Os grandes personagens dessa caminhada foram meus pais, o Sr. José Iran e

Aurineide Pessoa, meus progenitores, os grandes responsáveis pela minha trajetória

marcada por conquistas onde sempre os tive como base, e nunca me permitiram fraquejar

e desistir dos meus sonhos que também são deles — a melhor herança que podia ter.

Confesso que muitas vezes DESISTIR era o que me vinha à mente quando me

deparava com as dificuldades da vida acadêmica, mas os meus guardiões sempre me

diziam que dificuldades sempre surgem, e é nosso dever superá-las e transformá-las em

uma nova etapa de vida, como uma lagarta que em seu processo de metamorfose rompe

o seu casulo para se transformar em borboleta. Assim, fiz dos desafios forças e hoje, além

de estar em momentos conclusivos do meu curso de Odontologia, também estou cursando

Administração e Gestão Pública pela UFC (Universidade Federal do Ceará).

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De carbono a diamante. Unicatólica: ponte de sabedoria indispensável nessa transformação

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Que sejamos inspiração de esforço e superação para todos aqueles que pretendem

seguir avante na busca pelos seus sonhos, e assim como eu, construir a sua história de

vida. Em momento algum me arrependi da escolha Unicatólica, pelo contrário, não só por

ser um dos maiores polos de ensino superior do Ceará, mas pela garantia de excelência

de ensino que além de teórico e prático, proporciona a todos os discentes o confronto da

aprendizagem teórica com a prática num ambiente realista, onde podemos prestar

assistência, auxiliar comunidades necessitadas, colocando em xeque nossos

conhecimentos adquiridos e visualizando as possibilidades de crescimento dentro de

nossa profissão escolhida. Tenho orgulho de ser Unicatólica!

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DO INTERIOR DO INTERIOR DO

CEARÁ AO CENTRO DO

CONHECIMENTO

Hallison Joabe Rabelo Lemos

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Do interior do interior do Ceará ao Centro do conhecimento

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ou Hallison Joabe Rabelo Lemos, minha história se iniciou no dia 03 de maio de

1998, sou o primeiro filho de uma prole de dois. Meu pai chama-se José Nilson

Lemos, uma figura que me proporciona força e entusiasmo nas lutas diárias, que

sempre me ajudou e me mostrou o quanto um pai pode batalhar pela sua família. Desde

muito cedo, o auxiliava nos seus afazeres, principalmente na roça, no cuidado dos

animais, no capinar os legumes e entre outras tantas atividades.

Assim, mesmo com muitas tarefas, sempre separei meu tempo para estudar, e o

tal conhecimento surgiu a mim de uma fonte inspiradora em minha vida. Minha mãe Sueli

Rabelo Lemos, mulher guerreira, que sempre me incentivou a lutar pelos meus sonhos e

objetivos independente das dificuldades, sempre acreditou no poder que a educação

exerce na vida de um ser humano, e que através da busca pelo mesmo, eu conseguiria

meu espaço neste mundo infinito do saber.

Ao longo das nossas vidas encontramos muitas barreiras e adversidades, no

entanto, também nos deparamos com pessoas maravilhosas, e uma dessas pessoas foi

Silvana Coelho, professora de matemática no Colégio de Ensino Básico José Eduardo

Filho, na localidade de Lagoa das Carnaúbas, interior de Morada Nova, onde estudei todo

o meu Ensino Fundamental. Ela, com seu jeito alegre de ser, facilitou a transformação da

matemática de um aluno que na 5ª série sequer sabia dividir, em um aluno que chegou à

terceira fase da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas).

O sucesso é uma questão de esforço, de perseverança, mas também de confiança

e automotivação. As pessoas buscam sua motivação externamente, mas a verdadeira

motivação é criada no seu interior, só assim você pode se tornar singular, único e

inspirador.

Ao terminar minha jornada no ensino fundamental, entrei em uma nova fase, um

novo caminho: o ensino médio. Ainda com antecedência, apareceram os empecilhos, a

distância, o medo de um novo ambiente e novas realidades, mal sabia que ali era o lugar

onde me tornaria melhor. Meu colégio em todo o ensino médio foi a Escola Estadual

Maria Edilce Dias Fernandes, uma casa que proporciona ao município de Ibicuitinga o

reconhecimento do potencial de seus alunos. Foram três anos onde consegui desenvolver

o meu caráter, como estudante e como pessoa. Ali conheci seres humanos maravilhosos,

como a minha ex-professora de geografia do segundo ano do Ensino Médio, Maria José,

ela me trouxe a esperança de que existem pessoas que ainda se preocupam com o seu

próximo.

S

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Depois do término do ensino médio vieram as perguntas, as dúvidas, tais como “e

agora qual caminho seguir?” E foi exatamente nesse período que surgiu a Unicatólica,

instituição que significa para mim não só uma entidade educacional, mas, sobretudo, uma

construtora de sonhos. Nesse meio-tempo em que terminei o ensino médio e comecei a

estudar no Centro Universitário Católica de Quixadá, passei por um momento muito

difícil em minha vida, uma fase de provação e dificuldade emocional. Com certeza em

nossas vidas todos nós já passamos por um lugar chamado deserto, onde há escassez de

alegria, força e motivação, mas sempre devemos tornar esse deserto uma fonte, um

manancial de entusiasmo e confiança de que sobre todos os obstáculos lá estará o seu

pódio.

Não desisti, fiz o vestibular e consegui a aprovação em 12° (décimo segundo)

lugar no curso de Administração. Com isso, percebo que a oportunidade é algo que muitas

vezes pode ser a única, e busco segurá-la e aproveitá-la de forma íntegra. Comecei em

2015.1, ainda um pouco abatido pelas dificuldades pessoais, mas dei início a uma jornada

de quatro anos. Com poucas condições financeiras consegui o Fundo de Financiamento

Estudantil (FIES) e travei essa batalha individual comigo mesmo. Independentemente do

seu problema, nós nunca conseguiremos nada sozinhos, e se hoje estou de pé é porque até

agora Deus esteve comigo.

Agradeço a Deus, a minha família em primeiro lugar, e ao Centro Universitário

Católica de Quixadá, que foi quem impulsionou minha vida e ajudou a realizar os meus

sonhos, se tornando um dos meus incentivos. Venho contemplando a cada dia mais

bênçãos do Senhor. Ao iniciar o quinto semestre consegui mais uma de minhas metas:

me tornei bolsista do ProUni (Programa Universidade Para Todos). Sei que isso pode

parecer trivial, no entanto, depois de tanto esforço e dedicação é importante ter noção das

nossas próprias limitações e perceber que muitas vezes elas são criadas por nós mesmos.

Outro fator que torna a Unicatólica essa entidade renomada e reconhecida na

sociedade são as pessoas que a compõem, posso dizer isso com convicção. Uma das

melhores experiências vividas no meu curso foi poder conhecer a professora Auxiliadora

Bezerra. Quero salientar a importância que a sua disciplina me trouxe, um exemplo de

ser humano e profissional. Também não posso deixar de ressaltar a passagem pela

disciplina Teoria Geral da Administração, que foi ministrada pelo professor e

coordenador do curso Marcos James, aprendi bastante sobre a vida de um administrador

e entendi que nós temos o poder de nos superar, basta escolher, e como ele mesmo diz:

“O céu é o limite.” Portanto, não podemos ficar nos questionando pelas vezes que

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Do interior do interior do Ceará ao Centro do conhecimento

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erramos, mas sim tentar repará-las. E a principal mensagem que deixo a vocês é: “Sonhar

é bom, mas conquistar é bem melhor”.

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DO INTERIOR DO CEARÁ AOS

ESTADOS UNIDOS: UMA

HISTÓRIA DE DETERMINAÇÃO,

APRENDIZADO E FÉ

Felipe Fabrício Farias da Silva

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Do interior do Ceará aos Estados Unidos: uma história de determinação, aprendizado e fé

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u fui criado em uma família católica e durante toda minha vida escolar

frequentei um colégio católico, assim, a religião sempre se fez presente na

minha história. Desde a infância eu sempre gostei de ajudar aos outros, logo,

cheguei à conclusão de que deveria escolher uma profissão na área da saúde, tendo optado

pelo curso de Odontologia. Por ser natural de Quixeramobim, a escolha de estudar na

Unicatólica parecia ser a melhor opção para mim por conta da localização. Além disso, o

fato de ser uma instituição católica só me fez ter a certeza.

Iniciei a vida acadêmica muito cedo, aos 16 anos, cheio de dúvidas, incertezas e

expectativas. Desde o 1o semestre sempre me senti bem acolhido por todos os

funcionários e professores da instituição. A Unicatólica nos proporciona uma formação

integral, que vai além da matriz curricular básica de cada curso. Disciplinas como tópicos

teológicos, responsabilidade social e psicologia nos preparam a ser, além de bons

profissionais, bons cidadãos.

Ao iniciar os atendimentos clínicos tive a certeza de ter escolhido o curso ideal

para mim. Restaurar o sorriso de inúmeras pessoas e fazer passar a “dor” dos pacientes,

não têm preço. Percebi como os serviços ofertados pela Unicatólica são importantes para

a população quixadaense. Sempre vejo a gratidão dos pacientes pela oportunidade de

terem um atendimento odontológico de qualidade e gratuito. Frases como “muito

obrigado, doutor”, “não sei o que seria da gente sem a Católica” e “vocês são tão bons”

fazem todo o esforço valer a pena.

Cheguei ao 6o semestre e tudo estava indo super bem, aprendendo bastante,

atendendo meus pacientes, me relacionando bem com colegas e professores. Porém, o

auge da minha vida acadêmica ainda estava por vir. Em agosto de 2013 me inscrevi no

processo seletivo do programa Ciências Sem Fronteiras para tentar realizar uma

“graduação-sanduíche”, que consiste em uma graduação iniciada no Brasil, com um

período sanduíche em outro país e retorna-se para concluir no seu país de origem. Durante

um longo processo seletivo, de 8 meses no total, meus professores e minha coordenadora

na época foram essenciais. Eles me incentivaram a todo momento a seguir esse sonho e

sempre acreditaram no meu potencial. Eu fui selecionado e em agosto de 2014 eu parti

para o meu intercâmbio nos Estados Unidos.

No total, foi 1 ano e meio (3 semestres) de muito aprendizado nos Estados Unidos.

Primeiramente, eu fiz um semestre de curso de inglês para me aprofundar na língua. Esta

foi uma das melhores experiências da minha vida. Ter a oportunidade de aprender uma

segunda língua com professores nativos e em um país onde todos falam inglês, não tem

E

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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preço. Foram 4 meses de muito estudo, dedicação e satisfação pessoal. Tive a

oportunidade de ter colegas de classe do mundo todo e aprender mais sobre diferentes

culturas.

Dando continuidade ao intercâmbio, ingressei na vida acadêmica propriamente

dita. Tive a oportunidade de aprender mais sobre o meu curso, Odontologia, em uma

universidade americana com professores incríveis. De cara me identifiquei com o estilo

de vida de lá e com os métodos de ensino. O inglês deixou de ser um desafio e passou a

ser parte da minha rotina. Além das disciplinas na área da saúde, tive a oportunidade de

estudar francês, fundamentos de como falar em público e comunicação e atividades de

liderança e empreendedorismo. Foram 2 semestres, 10 disciplinas, muito aprendizado e

uma superação incrível. Eu me dediquei ao máximo e no final desse período apareci como

aluno destaque na lista de melhores alunos.

Mais uma vez a religião teve papel importante na minha vida. Logo me engajei na

igreja, que era localizada dentro do campus da universidade, e encontrei um local para ser

acolhido. Durante meu tempo de intercâmbio eu cresci bastante na minha fé e crenças

religiosas. Participei de missas, festejos, grupo de jovens, retiros, congressos e fiz

inúmeras amizades.

Nas férias de verão eles nos incentivam a buscar um estágio extracurricular. Na

oportunidade, enviei meu currículo para algumas universidades e consegui um estágio de

pesquisa na área de Microbiologia e Implantodontia. A emoção não cabia dentro de mim,

pois seria minha primeira experiência com pesquisas laboratoriais. Além disso, sou grato

por ter tido essa oportunidade em um país de primeiro mundo e com tecnologia de ponta.

Aprendi técnicas laboratoriais, a manusear diversos instrumentos, a colonizar bactérias,

testar diferentes produtos odontológicos, a cortar dentes para pesquisas e tive hands-on

com implantes. Identifiquei-me com esse mundo da pesquisa e tive a certeza de que

deveria seguir na área da docência.

Ao retornar ao Brasil, eu trouxe comigo um amadurecimento profissional e

pessoal incrível, contatos profissionais com professores e universidades, amigos do

mundo inteiro e a sensação de dever cumprido. Trouxe uma bagagem indescritível, mas

também fiz questão de deixar um pouco do Felipe do Brasil em cada pessoa que tive

contato.

Retornei no 8o semestre aqui na Unicatólica e cheguei na época de mudanças. Vi

nossa amada faculdade se tornar Centro Universitário, presenciei o incentivo à pesquisa

e grupos de extensão. Fui monitor de 3 diferentes disciplinas, além de participar de 3

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Do interior do Ceará aos Estados Unidos: uma história de determinação, aprendizado e fé

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grupos de estudo e de ingressar em um estágio extracurricular no CEO – Centro de

Especialidades Odontológicas Regional de Quixeramobim.

Como tudo na vida, não aconteceram só coisas boas. Durante minha vida

acadêmica aprendi o significado da palavra resiliência. Tive diversos problemas

familiares, como dificuldades financeiras e problemas de saúde enfrentados pelos meus

pais. Em diversos momentos pensei que não iria conseguir, mas com o apoio de Deus e

da minha família tudo foi possível. Nunca me deixei abalar e nem transparecer as

dificuldades enfrentadas. Sempre cheguei nas clínicas com um sorriso no rosto e

preparado para atender meus pacientes.

Após retornar do intercâmbio, aproveitei todas as oportunidades que surgiram. Os

professores da Odontologia nos incentivam muito a ir além, a voar alto. Todos acreditam

no meu potencial e dizem que tenho tudo para seguir na vida acadêmica, só basta eu correr

atrás. Agradeço cada orientação na apresentação de trabalhos, oportunidades de escrever

artigos e os ensinamentos diários nas clínicas. A Unicatólica está no caminho para tornar-

se referência no Ceará. Eu tenho orgulho de estudar aqui e de poder contribuir nesse

crescimento.

Recentemente, eu me inscrevi na seleção para participar de um curso de inverno

na Universidade de São Paulo – USP, onde foram mais de 110 inscritos concorrendo a 12

vagas e eu fui selecionado. Será um curso na área de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial,

Periodontia e Biologia Oral, onde os participantes irão se familiarizar com as atividades

de pesquisa de mestrado e doutorado desse departamento. Mais uma conquista que só foi

possível com o apoio de professores, familiares e amigos. Esse resultado demonstra que

a Unicatólica e os professores da Odontologia nos preparam para sermos profissionais

excelentes, estando no mesmo nível das grandes universidades brasileiras.

Meu nome é Felipe, acadêmico do curso de Odontologia da Unicatólica, natural

de Quixeramobim-CE, realizei o sonho de fazer um intercâmbio nos Estados Unidos,

sempre estive envolvido em atividades de pesquisa, monitoria e extensão, pretendo seguir

na área da docência e posso afirmar que tudo é possível quando se tem determinação,

humildade e fé.

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DOS CAMPOS DA ROÇA

AO CAMPO DA CIÊNCIA:

A TRAJETÓRIA DO MENINO DO

SÍTIO FEITICEIRO

Francisco Welligton da Silva Lima

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Dos campos da roça ao campo da ciência: a trajetória do menino do Sítio Feiticeiro

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eu nome é Francisco Wellington da Silva Lima, aluno do 5º semestre do

curso de Licenciatura em Educação Física do Centro Universitário Católica

de Quixadá (Unicatólica) e tenho 22 anos.

Sou de uma família humilde, que vive no Sítio Feiticeiro, no interior do município

de Morada Nova, ficando a uma distância de 40 km da região urbana. Meus pais, João

Batista e Ivone da Silva Lima, são agricultores de baixa renda e têm seis filhos. Destes,

somente eu estou cursando o Ensino Superior e outros dois finalizaram o Ensino Médio,

pois, infelizmente, grande parte da minha família — e das famílias que vivem no interior

— têm a visão de que só porque somos humildes não podemos alcançar algo melhor. O

pensamento predominante é o de que “eu não tenho condições. Tenho que entrar em uma

fábrica, arrumar um emprego logo”, eles veem dessa forma.

A minha infância, apesar de muito difícil, devido à falta de recursos para manter

o nosso sustento, foi muito feliz e tenho boas recordações dela. Me lembro de, quando

criança, brincar muito com um primo meu. Não tínhamos condições de comprar

brinquedos, mas nem por isso deixávamos de nos divertir. Nosso principal meio de

entretenimento era os talos de Carnaúba que, de talos, se transformavam em cavalos,

dando asas a nossa imaginação. Eu sempre gostei muito de brincar e o faço até hoje,

quando posso, ao encontrar o meu irmão mais novo.

Contudo, apesar de gostar muito de brincar, parte do meu tempo tinha que ser

dedicado ao trabalho ajudando o meu pai na roça. Comecei a ajudá-lo na agricultura aos

cinco anos — idade em que, aproximadamente, comecei a falar — e assim o faço até os

dias de hoje. Aos cinco anos não trabalhava efetivamente, mas já o acompanhava ao arado

para ir aprendendo o ofício.

Devido a este meu atraso para começar a falar, a minha entrada no ambiente

escolar também sofreu certo atraso. Sendo assim, aos nove anos, aproximadamente, dei

início a minha vida escolar entrando na Educação Infantil. Porém, por já ser um pouco

mais velho do que as outras crianças, eu não gostava das aulas, porque todas elas eram

baseadas em cantigas e não possuíam, a meu ver, nenhum conteúdo significativo.

Me recordo de um fato marcante e que, de certa forma, foi decisivo naquele

momento em que eu me encontrava: certo dia, depois que minha mãe me deixou na escola,

resolvi não assistir às aulas e acabei voltando para casa. Quando cheguei em casa minha

mãe não perguntou nada e, como de costume, fui brincar um pouco. Quando meu pai

chegou em casa e me viu ali, perguntou para minha mãe por que eu não estava na escola,

mas ela não soube responder. Então, ele me deu uma surra e questionou o que eu estava

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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fazendo ali. Eu não menti e contei para ele que não gostava das aulas, que queria um lugar

em que aprendesse mais conteúdo, pois, por eu já ter nove anos, eu já tinha maior

conhecimento sobre algumas questões. Desse modo, meus pais foram conversar com a

diretora da escola que concordou em me colocar na antiga 1ª série do Ensino

Fundamental. A partir daí passei a me focar nos estudos e a gostar de ir para as aulas.

Entretanto, apesar de gostar muito de estudar, não foi um período fácil para mim.

Como já disse, minha família é de origem muito humilde e a agricultura não nos fornece

condições para suprir nossas necessidades básicas, sendo que essa realidade se estende

até os dias de hoje. Por esse motivo, muitas vezes, antes de irmos para escola, o que

tínhamos para merendar era café preto misturado com cuscuz ou café preto misturado

com farinha e, quando não tínhamos nenhuma dessas opções, íamos para escola sem

comer nada. Na escola tinha merenda, contudo, as condições de higiene da mesma e o

modo como os utensílios de cozinha (panelas, pratos, copos, entre outros) eram

armazenados, eram muito inadequados. Assim, era comum encontrar sapos, e outros

animais indesejados, passeando pelo espaço em que a refeição era servida, o que me fazia

perder totalmente o apetite.

Quando passei para o Ensino Médio a situação melhorou um pouco, porque as

aulas ocorriam no período da tarde na região urbana de Morada Nova. Desse modo,

quando estava no segundo ano deste nível de ensino passei a morar com um tio meu,

Francisco de Assis, que me acolheu e me acolhe até os dias de hoje, dividindo tudo o que

ele tem comigo, sem me cobrar absolutamente nada. Hoje o considero como um grande

amigo.

Após finalizar o Ensino Médio eu resolvi prestar o vestibular da Unicatólica para

o curso de Licenciatura em Educação Física. A minha escolha por esse curso se deu por

eu gostar muito de jogar futsal. O conceito que eu tinha a respeito de Educação Física

advinha da minha vivência das aulas de Educação Física do Ensino Fundamental e do

Ensino Médio que se resumiam, na maioria das vezes, em aulas teóricas. Quando ocorria

alguma aula prática era somente para se jogar futsal livremente. Porém, quando entrei na

faculdade pude perceber que a Educação Física escolar, em si, ia muito além da visão que

eu tinha e isso fez com que meus horizontes, a esse respeito, fossem expandidos.

Entretanto, apesar de, finalmente, ter a oportunidade de realizar o sonho de cursar

o Ensino Superior, nem tudo foi fácil, por alguns motivos: primeiro, devido às minhas

restrições financeiras. E, segundo, porque eu achei que fosse ser um curso fácil —

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Dos campos da roça ao campo da ciência: a trajetória do menino do Sítio Feiticeiro

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acredito que isso se deva à concepção que eu tinha a respeito da Educação Física enquanto

área de conhecimento.

O aspecto da restrição financeira, em muitos momentos, me fez pensar em desistir

do curso. No primeiro semestre eu não tinha bolsa de estudos e, ao final do mesmo, pensei

seriamente em abandonar a faculdade. Porém, a perseverança de minha avó, Marinete, e

de minha mãe não permitiu que eu fizesse isso. No segundo semestre minha mãe e minha

avó uniram forças para pagar a minha matrícula e eu dei entrada na Bolsa Social que a

Unicatólica oferece, sendo contemplado com uma bolsa de estudos integral. Me recordo

de duas situações em especial, em que minha avó e minha mãe me incentivaram: antes

mesmo de eu iniciar o curso, me lembro de minha avó dizendo que enquanto ela estivesse

viva ela iria me ajudar, que não era para eu desistir; e, quando ao final do primeiro

semestre eu pensei em desistir, vendo como alternativa ingressar no Exército Brasileiro,

minha mãe com lágrimas dizer que daria um jeito para que eu continuasse os meus estudos

e assim aconteceu.

Sou muito grato a Unicatólica por ser contemplado com a Bolsa Social, pois, por

meio dessa, tenho certeza que o sonho de concluir o meu curso de Licenciatura em

Educação Física se tornará realidade. Me sinto como se a Unicatólica estivesse fazendo

um grande investimento em mim e a forma como eu procuro retribuir a este investimento

é me dedicando aos estudos, procurando aproveitar ao máximo o que cada disciplina,

cada docente, oferece, e usufruindo de toda infraestrutura e corpo de conhecimento que

ela me disponibiliza, procurando participar de cada evento, palestra e cursos de extensão

que ela proporciona, sempre que possível. A partir dos estudos realizados durante o curso

e das demais oportunidades oferecidas, atualmente, sou atleta de rendimento de provas

de longa distância de atletismo.

Ao finalizar o curso de Licenciatura em Educação Física tenho como propósito

tentar mudar um pouco a realidade, a visão que as pessoas têm, principalmente do interior

do Estado, a respeito da Educação Física escolar. Grande parte delas pensa que a

Educação Física é simplesmente chutar uma bola de qualquer jeito, mas não é. Tem todo

um processo, todo um corpo de conhecimento, seja para qualquer modalidade esportiva

envolvida. Tenho como propósito, também, cursar pós-graduação: fazer mestrado e

doutorado. Sei que não será um caminho fácil, mas eu quero chegar lá, não irei desistir

enquanto não ver este sonho realizado.

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ENTROU PARA A

UNIVERSIDADE O NETO DO

ZÉ DA FLOR

Manoel Miqueias Maia

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Entrou para a Universidade o Neto do Zé da Flor

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uebrar um paradigma você deve saber que não é nada fácil, e acredite: não foi

fácil esta história chegar até você. Vou te explicar o porquê...

Sou filho do segundo casamento de uma supermãe chamada Lúcia. Digo isso por

ela ser um exemplo de coragem e dedicação enquanto enfrenta lavagens de roupas todos

os dias para sustentar a casa e oferecer um teto para os dois filhos que ainda moram com

ela — Yasmin e eu. Minha mãe não pôde estudar por falta de oportunidades, e por isso

deixou o ensino fundamental pela metade, tendo de cuidar dos irmãos mais novos e ainda

trabalhar como doméstica no ápice de sua adolescência.

Meu pai também não teve escolaridade. Acho que ele não sabe assinar o próprio

nome. Digo que “acho” porque por um infortúnio causado por diversos vícios, ele nos

deixou precocemente para seguir sua vida por um caminho diferente. Filho do interior de

Capistrano, no Maciço de Baturité, ele e mais outros 4 vieram ao mundo por meio da

Dona Marcelina e do Seu João, um casal de “sangue no olho” que trabalhou na roça para

pôr o feijão na mesa.

E por falar em roça, na minha família sempre reinou essa cultura de vida no sertão,

tanto paternalmente como maternalmente. Para você ter uma ideia, tente imaginar um

peão baixinho cabra da peste, vestindo gibão de couro com a faca na bainha, correndo

atrás do gado no cavalo arrendado no meio das malícias da Caatinga do Ceará. Se

conseguir imaginar, você tem aí em mente uma imagem aproximada da aparência do meu

avô materno, o famoso Zé da Flor, um nordestino caricato, que junto com a minha avó, a

Dona Maria Capoeira, agregaram em suas imagens a personificação dos costumes da

família.

Não poderia nem conseguiria dar um vislumbre da minha trajetória estudantil até

aqui sem fazer este resgate cultural familiar. Cultura está marcada pela presença da vida

no campo, dos arrendamentos de terra das regiões da Serra de Baturité, do Vale do

Jaguaribe e do Sertão Central em busca da sobrevivência, com ausência de residência e

de renda fixa, além da pouca escolaridade dos membros da família.

Sou do início da segunda metade da década de 90, mas ainda presenciei o êxodo

rural nordestino iniciado na época da construção das grandes metrópoles do sudeste do

Brasil. Quem não queria sofrer com o sol que castiga o sertão “socado dentro do mato,

de apragata currelepe, pisando inriba do estrepe, brocando a unha-de-gato” — como

diz Patativa do Assaré —, tinha mais era que partir e deixar sua família para trás. Nunca

encontrei nada escrito, mas isto parecia um lema familiar: se você é homem e “engrossou

Q

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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o pescoço”, se prepara porque está na hora de ir atrás de emprego e conseguir dinheiro e

ajudar a sustentar a família que ficou aqui no Ceará.

Foi assim que eu vi muita gente ir embora. Tios, primos e — infelizmente — meu

irmão Adriano. Quase todo mundo foi para Minas Gerais trabalhar no mascate, levando

consigo a maior parte das coisas que eu gostava de fazer: andar de bicicleta, ir buscar

água no açude nas ancas do jumento, brincar com terra fazendo barragem na beirinha da

lagoa do meu avô... Foram e deixaram só a saudade aqui para gente aprender a lidar.

Durante minha primeira infância vivi em uma casa de taipa no interior de Itapiúna,

e se até lá eu tivesse a consciência que tenho hoje, muitas das coisas básicas que possuo

em casa como água na torneira, energia elétrica e até mesmo um banheiro, seriam para

mim privilégios de gente rica. Isso era coisa que só o dono de uma fazenda que meu pai

trabalhava possuía.

Sempre fui muito sonhador e até hoje isso me causa certa impaciência e muita

ansiedade, mas jamais imaginei que um dia eu poderia colocar minhas mãos em um

celular, por exemplo, que naquela época era um Motorola que o patrão tinha o prazer de

puxar a antena e ligar para a família na Capital. E aqui estou eu, usando ferramentas de

comunicação e gestão de projetos para presidir o Centro Acadêmico de Sistemas de

Informação da Unicatólica através de um dispositivo móvel.

Falar disso tudo que você já leu é emocionante. Mas sabe o que é mais

emocionante ainda? É que apesar de não ter sido o primeiro a concluir o ensino básico —

minha irmã Adriana terminou primeiro —, não fui apenas o primeiro membro de uma

família tradicional da roça a pôr os pés em uma universidade, mas sim ser o primeiro

aprovado e poder escolher 5 universidades para estudar sem custos. Custos estes que

minha família com certeza não poderia pagar. Desconheço qualquer familiar que teve

tantas possibilidades. Foram elas: UFRS, UECE, IFCE, CISNE e Unicatólica — onde

aqui estou cursando Sistemas de Informação.

Muita gente pode alegar facilidade para ingressar hoje no ensino superior, mas

quer mesmo saber a real? Não é fácil, não. Para chegar aqui, literalmente percorri muitos

quilômetros. Em Itapiúna meus irmãos e eu encarávamos 6 km a pé para chegar a nossa

escola. Nos últimos anos do meu ensino médio, eram mais 4 km. Hoje são 86 km diários

entre Ibicuitinga e Quixadá, esperando carona embaixo do sol que queima a pele sem dó

ou andando em ônibus superlotado. E tudo isso por esforço, por necessidade e vontade de

mudança pessoal e da vida da minha família.

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Entrou para a Universidade o Neto do Zé da Flor

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Se hoje estou em uma instituição de ensino superior que me realiza em diversos

sentidos, que me valoriza, aprimora minhas habilidades, me conduz a ser um ser humano

e um profissional de princípios e com visão de futuro, agradeço a todas as pessoas

nomeadas até aqui, que de modo positivo ou negativo me ensinaram a enxergar as coisas

de valor que a vida pode nos ofertar.

Uma vez um professor chamado Pachecão me disse que só 3 coisas mudariam a

minha vida: ler um livro, fazer uma viagem e conhecer pessoas. Ele estava quase certo.

A Unicatólica também muda a vida das pessoas. Aprendi aqui a superar medos, como o

de falar em público; a desenvolver o pensamento crítico, criativo e inovador; a

desenvolver empatia e propor soluções para os problemas sociais envolvendo minhas

áreas de estudo, integrando vivências a outras áreas do conhecimento; a liderar; e a

construir duas coisas de grande valor: network e grandes amizades.

Se hoje aqui permaneço é porque encontrei um ambiente acolhedor, fraternal e

amigável, que une profissionais tão carismáticos e transformadores de vidas: professores,

secretárias, monitoras de laboratório, etc. Não que eu queira deixar tantos outros de fora,

mas aqui encontrei professores que posso chamar de pais e mães — mesmo sem eles

saberem: Prof. Me. Júlio Cavalcante, Profa. Dra. Luciana Magalhães, Prof. Me. Renato

Furtado, Prof. Me. Alandson Mendonça, Prof. Me. Leonardo Rocha, Profa. Ana Maria

Roncolato, Profa. Auxiliadora Bezerra... Todos (as) e muitos outros (as), sem exceção,

tem emprestado a mim e a muitos outros alunos experiências de vida fantásticas, além de

serem propulsores de encorajamento de estilos de vida com o qual os discentes se

identificam, os fazem sonhar e desenvolver protagonismo com visão de mundo

valiosíssimos.

Os agradecimentos que tenho a Unicatólica, meus professores, orientadores de

carreira e monitoria, a você que leu esta história, e, principalmente o meu seio familiar,

são imensuráveis.

Obrigado por tornarem a minha vida a melhor possível.

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“EU PENEI, MAS AQUI

CHEGUEI”1

Thiago Costa Alves

1 O tema se refere a um trecho da música cantada por Luiz Gonzaga intitulada “Pau de Arara”, que retrata

a saída de um sertanejo nordestino de suas terras em busca dos seus sonhos. Uso esse trecho em referência

à minha ida a São Paulo em busca de juntar dinheiro para concretizar o meu sonho, e, também, o uso como

alusão à dificuldade que foi para ingressar no curso de Psicologia na Unicatólica.

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“Eu penei, mas aqui cheguei”

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hamo-me Thiago Costa Alves, atualmente tenho 30 anos, e sou natural da

cidade de Quixadá, Ceará. Curso Psicologia no Centro Universitário Católica

de Quixadá. Mas para chegar ao curso dos meus sonhos (Psicologia) não foi

uma trajetória tão curta e nem tão fácil! E essa história venho aqui compartilhar.

Nos meus primeiros anos de estudo fui colocado em escolinhas particulares do

bairro, no entanto, a partir do ensino fundamental, passei a frequentar escolas públicas.

Foi então que o sistema público de políticas públicas de ensino começou a entrar na minha

vida. Após o ensino médio pude fazer a escolha sobre o que eu gostaria de seguir

profissionalmente, porém, pela imaturidade e incerteza, optei por caminhos que não me

fizeram sentir-me completo, mas que serviram para o meu aprendizado. Tentei cursar

outras faculdades, cursos que não me faziam feliz! Todavia, sou grato ao Enem (Exame

Nacional do Ensino Médio), como política pública de inserção ao ensino superior, que

me proporcionou ter uma experiência na UFC (Universidade Federal do Ceará), no curso

de Redes de Computadores. Então, desde cedo as políticas educacionais sempre estiveram

presentes em minha vida.

O primeiro desejo de cursar Psicologia surgiu no ano de 2009, quando naquele

ano eu era seminarista franciscano e cursava Filosofia no IESMA (Instituto de Ensino

Superior do Maranhão). No entanto você pode estar a se perguntar: o que tem a ver a

psicologia com o ser seminarista e cursar Filosofia? Pois bem, aqui vos respondo: foi na

filosofia que eu “descobri” a psicologia e por ela me encantei. No mesmo ano de 2009

larguei o seminário e a filosofia com a certeza de que um dia iria cursar Psicologia e ser

um bom psicólogo, porém, para tal, não sabia como conseguiria realizar esse sonho, só

sabia que era isso que eu queria como meta de vida.

Após a minha saída do seminário retornei a Quixadá com um intuito: convencer o

meu pai a me colocar para cursar Psicologia, naquela época na FCRS (Faculdade Católica

Rainha do Sertão). No entanto, a tentativa foi em vão, porque o mesmo acreditava que tal

curso não teria retorno financeiro no futuro, e ele tratou de me fazer desistir deste para

tentar Direito. Assim, me inscrevi no vestibular para Direito, mas não obtive êxito (Deus

sabe o que faz!). Aquele sonho de cursar Psicologia não ficou esquecido, apenas tinha

que procurar outra maneira de ingressar no curso, já que eu não tinha o apoio do meu pai.

Nesse tempo, sempre que possível procurava conversar com pessoas próximas, e uma

delas, o Padre Marcos Chagas (da Comunidade Católica Shalom de Quixadá), me

aconselhava falando as seguintes palavras: “Se é isso que você quer tanto, procure então

uma forma para conseguir!”. Fiquei a imaginar mil maneiras para conseguir, entretanto

C

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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as dificuldades — desemprego, falta de apoio familiar, etc. — me faziam desanimar e

pensar em desistir.

Durante um período de tempo, cerca de três anos mais ou menos, o sonho de cursar

Psicologia na Unicatólica ficou suspenso. Isso por não enxergar saída alguma para a sua

concretização. Até que no final do ano de 2013, um tio meu que mora em Americana,

interior de São Paulo, veio a Quixadá com sua família passar férias. Ele lança mais uma

vez o convite de ir morar em São Paulo — o mesmo já havia me chamado várias vezes

para ir morar com ele, mas, pelo medo de enfrentar o novo, nunca tinha aceitado, foi então

que vi uma nova oportunidade de ir em busca do sonho de entrar na faculdade.

De início o medo foi grande, mas pelo fato do desconhecido, de estar cometendo

um erro, entretanto, mesmo com todas as contingências contrárias, pois a maioria dos

meus familiares residentes no Ceará achava essa ideia “uma loucura”. Resolvi traçar

planos e metas, um deles era ir para São Paulo com o objetivo de juntar dinheiro para

cursar Psicologia, e isso podia demorar o tempo que fosse, poderia ser difícil como fosse,

mas não iria desistir.

Foi então que, em fevereiro do ano de 2014, fui morar em São Paulo. Levei apenas

uma mala com poucas roupas, na carteira alguns trocados doados por parentes, e no

coração saudades e fatos da minha vida em Quixadá que passavam na janela do ônibus

rumo a Fortaleza, e depois em meio às nuvens que eu via pelo vidro do lado da asa do

avião. Eu era mais um filho do Nordeste que partia em busca do seu sonho em terras do

Sudeste brasileiro.

No primeiro momento foi muito difícil a adaptação, pois eram pessoas, costumes

e cultura diferentes, me via como um estrangeiro em terras estranhas, e foram muitas as

noites de tristeza e choro. Todavia, mesmo em meio à saudade de casa e à solidão,

comecei a buscar emprego e ir atrás de alcançar o objetivo para que lá fui. Graças a Deus,

logo nas primeiras semanas consegui empregos, digo “empregos” porque foram vários

que surgiram, e eu pude escolher qual o melhor para mim e para o meu objetivo.

Além do emprego consegui fazer várias e boas amizades, uma delas aqui se

destaca, uma moça chamada Erica Adriele, ela que sempre me dava forças e alento nas

saudades de casa. Trabalhando comecei a juntar dinheiro, todo mês deixava a maior parte

do salário na conta para o meu objetivo, e assim foi feito durante um ano até a empresa

que eu trabalhava fechar. Consegui juntar um bom dinheiro, foi então que resolvi voltar

para Quixadá e dar continuidade aos planos de cursar Psicologia. Mas antes de voltar,

estando ainda lá em São Paulo, fiz a minha inscrição no vestibular da Unicatólica,

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“Eu penei, mas aqui cheguei”

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concorrendo a uma vaga no modelo simplificado de seleção pela nota do Enem (Exame

Nacional do Ensino Médio). A decisão de voltar, porém, não foi fácil, pois eu já estava

acostumado com a vida em São Paulo, e deixar os amigos que tinha feito naquela cidade

ia ser muito doloroso, no entanto assim o fiz.

Ao retornar ao Ceará tive que reorganizar-me emocionalmente e me readaptar ao

lugar novamente. No primeiro instante veio a vontade de voltar, mas pensei em meu

objetivo e me propus: se eu passar no vestibular para Psicologia fico, caso contrário

retorno para São Paulo. Aconteceu que eu passei, e o misto de sentimentos foi grande!

Como eu já tinha o dinheiro guardado cuidei em fazer a matrícula, e assim garantir a

minha vaga já para o primeiro semestre de 2015.

Lembro-me que o primeiro dia de aula foi um momento de muita alegria e emoção,

porque era algo que eu tanto almejava há anos e que naquele momento estava dando início

a concretização de um sonho. Contudo, o dinheiro que eu tinha ia dar para me manter um

semestre na faculdade, então tive que correr atrás de alternativas para me manter no curso.

A partir de então fui me informar sobre o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) do

Governo Federal; não foi fácil, porém consegui 75% de financiamento, e já naquelas

alturas meu pai percebeu o meu interesse pela psicologia e se propôs a me ajudar quando

o dinheiro que eu possuía acabar, e assim foi feito.

Desde o primeiro semestre busco me dedicar com muito afinco ao curso. Fui líder

de turma durante três semestres, membro do Centro Acadêmico de Psicologia, monitor

da disciplina de Práticas Integrativas I, e atualmente estou como monitor de Práticas

Integrativas II. Sempre que possível estou engajado nos eventos proporcionados pelo

curso de Psicologia. Tudo isso está me ajudando no meu progresso como aluno e como

futuro profissional. A cada dia, em cada disciplina, em cada amizade que eu construí

dentro da faculdade, também ajudo como monitor outros alunos a se desenvolverem, e

isso me faz feliz. Colegas já deixaram a faculdade e estão atuando, outros continuam os

estudos fazendo mestrado, residência, etc.; esses são exemplo e inspiração para mim.

Nestes mais de dois anos que estou no curso de Psicologia vi a faculdade também

evoluir, passar a ser Centro Universitário Católica de Quixadá. Contudo já passei

momentos de muitas alegrias, bem como de tristezas superadas com o apoio dos colegas.

A Unicatólica me proporciona a oportunidade de cursar a Psicologia que eu tanto

queria, com qualidade no ensino, os melhores professores e estrutura, tudo isso na minha

própria cidade. Isso é uma vantagem para mim, pois vejo a maioria dos meus colegas de

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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sala enfrentando horas de viagem (os quais eu muito admiro por todo esforço que fazem

para estudar) para chegar à faculdade.

E assim vou seguindo, com alegria e disposição, algumas vezes entre lágrimas e

dificuldades, mas que são superadas pela vontade de alcançar o objetivo, pelo

companheirismo dos colegas de curso e instituição e pelo incentivo dos professores.

Tenho certeza que sairei da Unicatólica com uma boa formação, bem preparado para o

mercado de trabalho.

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MOBILIDADE ACADÊMICA

INTERNACIONAL:

EXPERIÊNCIAS, PERCEPÇÕES E

APRENDIZADOS

Fabrício Bezerra da Silva

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Mobilidade acadêmica internacional: experiências, percepções e aprendizados

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e chamo Fabrício Bezerra da Silva, tenho 21 anos, minha história na

Unicatólica inicia-se no ano de 2012 quando, através do Exame Nacional

do Ensino Médio (ENEM) e do Programa Universidade Para Todos

(ProUni), dei começo a minha graduação no curso de Odontologia. No mesmo período

também havia passado em outros processos seletivos de universidades públicas aqui do

estado do Ceará, porém decidi que deveria ficar em Quixadá e cursar Odontologia por

duas principais razões, a primeira pelo fato de poder morar perto de casa e da minha

família e a segunda por causa da instituição, corpo docente da Unicatólica e pela

qualidade dos laboratórios e clínicas do curso.

Hoje, após quase 6 anos tenho certeza que fiz a escolha certa. Naquela época não

compreendia o quão importante para a formação do odontólogo é a estrutura física capaz

de dar suporte a todas as atividades laboratoriais e clínicas tão necessárias em minha

futura profissão. Ainda em 2012 tive a chance de participar do processo eleitoral para o

Centro Acadêmico, do qual me tornaria presidente na eleição consecutiva em 2015.

Em 2013 soube a respeito do Programa Ciências Sem Fronteiras, e fiquei muito

entusiasmado em participar. Fui fazer minha inscrição no site, porém a então FCRS –

Faculdade Católica Rainha do Sertão, não havia firmado um termo de compromisso junto

a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), foi aí que

procurei a direção da instituição e tive o apoio dos professores Maria Dias Cavalcante e

Renato Moreira, que providenciaram todo o processo de credenciamento da Católica

junto a CAPES.

Todo o processo seletivo durou 9 meses, foi então que em abril de 2014 até julho

de 2015 participei do período sanduíche nos programas de Graduação da University of

Kentucky e University of Texas Health Science Center at San Antonio nos Estados

Unidos da América (EUA). Conhecer pessoas: este foi o grande aprendizado nesses 18

meses que morei nos EUA. Ainda me lembro da sensação de saber que conheceria o prof.

Jeffrey Okeson, autor de diversos livros em Odontologia ou do prazer de estagiar durante

o verão com o prof. Ralph Rawls, importante pesquisador e co-autor do livro de Materiais

Dentários.

Sempre fiquei pensando que conheci a diversidade do Brasil quando estava fora

de suas fronteiras, digo isto pois conheci brasileiros de todas as partes do Brasil que

também estavam no mesmo programa de mobilidade acadêmica que eu. E sinto-me

privilegiado por ter conhecido tantas pessoas, e cada uma delas ter me mudado de alguma

forma.

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Quando retornei ao Brasil em 2015 percebi que muita coisa havia mudado na

instituição, alguns dos meus amigos já haviam colado grau, novos professores e novos

alunos haviam chegado e dei conta do dinamismo da vida acadêmica e de como somos

capazes de mudar e crescer. Talvez aqueles que continuaram no dia a dia aqui na

instituição não tenham se dado conta do quão diferente as coisas podem se tornar em

apenas 18 meses.

Nesse período de readaptação, contei com o apoio do professor Jorge Fiamengui.

Tive um maior contato com ele pois fui eleito presidente do Centro Acadêmico de

Odontologia no segundo semestre de 2015, o prof. Jorge foi meu mentor, e muitas vezes

me percebi recebendo seus conselhos, orientações e puxões de orelha. Acredito que esse

relacionamento saudável entre professores e alunos também é uma marca da nossa

instituição, e isso contribui grandemente para nosso crescimento pessoal, acadêmico e

profissional.

Novas perspectivas e desafios me são colados a frente ao chegar mais perto do

sonho da colação de grau, mas apesar das incertezas que cercam este período, como por

exemplo a inserção no mercado de trabalho, posso afirmar com certeza que a Unicatólica

contribuiu muito positivamente para me preparar como pessoa humana e profissional, não

apenas na perspectiva de emprego, mas também nas habilidades de liderança, resiliência

e empreendedorismo trabalhadas durante esses quase 6 anos como aluno da Unicatólica.

Bem como, de certa forma, dei minha contribuição, juntamente com os milhares de

alunos, professores e colaboradores que juntos formam uma pequena metrópole em pleno

coração do semiárido brasileiro, chamada Unicatólica.

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O QUE ME TROUXE ATÉ AQUI?

Maria Mayalle de Almeida Melo

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O que me trouxe até aqui?

- 121 -

que me trouxe aqui? Quando ainda criança sonhamos ou idealizamos um

futuro e dentro desse futuro traçamos metas, projetos e objetivos para serem

alcançados ao longo dos anos, surgindo, dentro desta perspectiva, as primeiras

dúvidas, perguntas e questionamentos, além do temido clichê “O que você vai ser quando

crescer?”. Não são todos que sabem desde a infância qual carreira seguir, que profissão

abraçar ou o que ser quando crescer, bom, eu era uma dessas pessoas.

Quando perguntadas, a maioria das crianças responde a essa pergunta com frases

do tipo “vou ser astronauta”, “piloto de fórmula 1” ou os mais comuns “quero ser doutor

(a)” ou “vou ser professor (a)”, mas os anos passam, as prioridades mudam, os desejos e

sonhos aumentam e a realidade enfim bate à porta, chega o Ensino Médio, vestibular e lá

está aquela perguntinha novamente, e agora você tem que saber respondê-la, pelo menos

é o que se espera, porém você não sabe responder, normal, sempre te ajudaram a decidir,

mas por algum motivo que ninguém explica, geralmente você tem que tomar essa decisão

sozinho, então você escolhe, faz sentido quando criança querer ser médica e escolher

fazer Arquitetura e Urbanismo?

Na verdade nada na vida faz muito sentido, nem tudo se encaixa da maneira como

deveria ou como achamos que deveria. Como eu disse, as circunstâncias mudam. Você

fez o vestibular, passou. Parabéns, pois você começa a trilhar novos e maravilhosos

passos rumo a um brilhante e promissor futuro profissional como farmacêutica.

Só um momento: mas você não prestou vestibular para a Arquitetura e

Urbanismo? Sim. E agora você faz Farmácia? Sim. Novamente, repito, as circunstâncias

e prioridades mudam, e geralmente você precisa mudar com elas, faz parte da essência

humana, e como disse John Kennedy: “A mudança é a lei da vida”. Então mudamos,

buscando sempre o melhor. Escolher é uma das etapas principais. Qual curso? Eu sempre

quis algo relacionado à área das ciências da saúde, mas escolhi Arquitetura porque sempre

gostei de desenhar e talvez por influência daqueles sonhos abstratos de infância, porém,

há momentos em que sua vontade não coincide com a de seus pais ou com suas

necessidades.

Então, por obra do destino ou como queiram chamar, novamente as coisas mudam

e lá estou eu, fazendo Farmácia na Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS, agora

Unicatólica, talvez o mundo tenha balançado um pouco e mudado meu destino ou foi obra

de Alguém especial, não sei, mas não me arrependo de estar onde estou.

Aqui vai mais um ponto: a Unicatólica é em Quixadá, porém eu não moro nessa

cidade. Como vou fazer? Bom, alguns se mudam e acolhem o novo desafio de viver

O

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 122 -

sozinho em uma cidade diferente, estranha, longe da família, amigos e daqueles que ama,

outros escolhem ir e vir de sua cidade até Quixadá, todos os dias, durante 4 ou 5 anos.

Mesmo sendo difícil sentir-se acolhido em todos os lugares e por todas as pessoas, na

Unicatólica sempre me sinto em casa, principalmente para os discentes que como eu

passam o dia inteiro no campus e só retornam para suas cidades no fim da tarde ou, por

tantas vezes, já no cair da noite.

Quando tive que escolher qual curso e qual instituição, a única certeza que tinha

era de que teria que ser algo nesta instituição que me encontro. Por quê? Bom, sempre me

deram e mostraram boas referências da mesma, como a melhor do interior do Estado, e

seria uma excelente alternativa para quem quer ingressar no Ensino Superior sem deixar

de estar perto da família.

A Unicatólica é um exemplo de que não é necessário deslocar-se até a Capital do

Estado ou ir muito longe para ter a oportunidade e o privilégio de cursar excelentes cursos,

com excelentes professores. Ainda assim, depois de todas as escolhas e mudanças existem

também as dificuldades, os problemas que por diversas vezes parecem não ter solução e

que acabam desgastando o humor e até mesmo o desempenho no ambiente acadêmico.

Um dos maiores seria viver longe da família, como já mencionei anteriormente, ainda

assim, alguns encontram apoio em outros familiares e parentes, como eu, meus pais vivem

no interior de Quixeramobim.

Atualmente moro com minha tia Ludmila na sede da cidade, logo, o apoio familiar

sempre vai ser importante e mostrar-se de profunda relevância no crescimento pessoal de

todos nós, nossa família é nosso maior exemplo, e por que não dizer que possuímos outras

famílias além da de laços sanguíneos?

No decorrer da graduação encontramos pessoas maravilhosas e que nos dão força

e nos acompanham durante nossa longa jornada, como no caso de alguns professores,

alguns com carinho e admiração especial como o Professor Dr. Roberto Albuquerque, a

Professora Ms. Karla Bruna e a Professora Dra. Regilane Matos, além do Professor Dr.

Márcio Batista, os três últimos são farmacêuticos nos quais me espelho e sempre levarei

como referência, não só durante o período da graduação, mas também, futuramente, no

ambiente profissional. Quanto ao Professor Roberto, este se mostrou um dos meus

maiores incentivadores dentro do ambiente acadêmico da Unicatólica, o tipo que diz ao

aluno: “Nunca desista, porque sei que você é capaz” — uma frase que te incentiva a ir

sempre mais longe e não desistir diante de qualquer dificuldade.

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O que me trouxe até aqui?

- 123 -

Quanto ao ensino, a cada dia é mais gratificante, as oportunidades a nós

disponibilizadas dentro do campus deste Centro Universitário nos preparam para um

futuro promissor e de excelência, desde o quesito experiência com a aliança de práticas

que trazem em conjunto a questão do ensino/aprendizado e a aplicação deste dentro e/ou

fora do ambiente da Unicatólica, além do incentivo cada vez maior à pesquisa, com o

desenvolvimento dos mais variados projetos e trabalhos de caráter científico.

Enfim, cabe ainda relatar o quão é importante nunca deixar de sonhar/planejar ou

idealizar um futuro apesar das dificuldades. Aprendi durante estes 3 anos que todos os

dias alguém vai estar lá para estender a mão e te acolher e em outros teremos que ser tão

autossuficientes quanto a vida nos permite ser, que apesar de tudo, sempre terá algo ou

alguém que te motive a buscar o que quer que seja, cada vez mais longe. No meu caso,

todos os dias sou grata pelo amor, incentivo, confiança e apoio de meus pais (Júlia e

Marcelo) e da minha avó materna, dona Maria Júlia (in memorian), aos amigos, a nossa

outra família que conquistamos ao longo da vida e que são, por diversas vezes, a nossa

base, principalmente em um ambiente muitas vezes hostil, como o da graduação, estes

merecem nossa eterna gratidão.

E por fim, o que me trouxe aqui? Provavelmente aqueles sonhos de infância que

nos moldam e nos fazem quem somos, o desejo de ser reconhecida por algo, a satisfação

de encontrar algo que se ame fazer, a necessidade de pertencer a alguma profissão,

suponho que tudo isso me trouxe até aqui, mas o maior motivo talvez tenha sido o

“SONHAR”, porque de nada adianta sonhar e não acordar. Levantar e realizar o sonho

de cursar algo que você goste é lindo, porém o realizar, o tornar-se aquilo que você sonhou

é ainda mais gratificante, desta forma, deixo dito: nunca deixe de sonhar, mesmo que seu

sonho mude, nunca permita-se parar de sonhar, levante-se, orgulhe-se e busque até que

você viva na realidade aquilo que tanto sonhou!

E você, o que te trouxe até aqui?

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PERSPECTIVA DE VIDA,

HISTÓRIA E ANÁLISE DE UMA

TRAJETÓRIA ACADÊMICA

Hérick Hebert da Silva Alves

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Perspectiva de vida, história e análise de uma trajetória acadêmica

- 127 -

e chamo Hérick Hebert, tenho 22 anos de idade e sempre morei com os

meus pais e irmã. Durante toda a minha vida, procurei dar ênfase às

atividades realmente relevantes para minha trajetória, sempre busquei me

interessar nos estudos, para garantir um futuro de qualidade a minha família, pois os meus

pais nunca tiveram essa oportunidade que estou tendo hoje.

No meu último ano do ensino médio, eu ainda não tinha decidido que carreira

seguir, muito menos para qual faculdade ou universidade ir. Fiz vários testes vocacionais

para descobrir em que perfil eu me enquadrava, pois este era o momento que poderia

decidir o rumo de minha vida profissional.

A todo momento procurei me espelhar em meus professores e demais familiares,

visto que sempre os admirei e reconhecia todos os esforços que fizeram para chegar onde

estão hoje. Quando enfim consegui realmente escolher o que queria cursar no ensino

superior, ainda assim surgiram várias dúvidas se eu realmente estava no caminho certo.

Optei por fazer o vestibular do Centro Universitário Católica de Quixadá, devido a curta

distância da minha cidade natal, Baturité.

Na época escolhi cursar Odontologia e Farmácia, pois eram as áreas que eu mais

me identificava. Meus pais sempre me apoiaram em minhas decisões, e quando recebi a

notícia que tinha sido classificado para o curso de Farmácia, não acreditei, pois foi o meu

primeiro vestibular realizado e, por ser aluno de escola pública, muitos não acreditavam

na minha capacidade. Devido às condições financeiras da época, foi muito difícil realizar

a minha matrícula em uma instituição privada e logo quando iniciei os estudos foi um

momento bastante complicado. Eu não sabia até então se os meus pais teriam condições

para me sustentar em uma outra cidade e, mesmo passando por essas dificuldades, me

considero muito privilegiado por ter a oportunidade que muitos desejam, que é poder

cursar um nível de ensino superior de qualidade.

O curso de Farmácia está sendo uma experiência maravilhosa, pois a Unicatólica

conta com excelentes professores, sejam eles especialistas, mestres e doutores, que

buscam sempre passar todo o conteúdo que de fato contribua em nossa formação

acadêmica. Dentre as diversas oportunidades que estou tendo durante a graduação, estão

as experiências vivenciadas com todos. Em meu primeiro semestre sempre admirei os

outros que estavam em semestres mais avançados, pois eles dominavam certos

conhecimentos em relação ao curso que os tornavam diferenciados.

Logo no segundo semestre, me inscrevi no Programa de Reforço Acadêmico do

curso de Farmácia, criado por nosso antigo coordenador Gláucio Barros Saldanha, no

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 128 -

qual eu poderia estar repassando os meus conhecimentos com diversas disciplinas que eu

já tinha passado para os demais alunos, de forma a contribuir para a aprendizagem e

formação deles. Até então eu já tinha sido monitor de Embriologia e Histologia Humana,

Química Orgânica, Bioquímica Básica e Clínica e Parasitologia Clínica.

Diante dos diversos projetos que a Unicatólica oferece, eu sempre gostei dos

sociais, pois são aqueles que nos mostram a real dificuldade das pessoas, principalmente

as de baixo poder aquisitivo — isso estimula a capacidade de ajudar ao próximo. O

projeto Serviço de Atendimento Farmacêutico ao Idoso vem contribuindo bastante na

minha formação, pois o trabalho que realizamos com os idosos da Casa de Acolhida

Remanso da Paz é engrandecedor devido ser uma parte da população que merece um

cuidado especial, demonstrando bastante dificuldade com relação às terapias e

medicamentos utilizados. Desse modo, juntamente com os professores da instituição,

procuramos medidas para ajudá-los a melhorar na sua qualidade de vida.

Diante disso, me vejo com um olhar mais humanizado, tudo que absorvi nesta

trajetória foram momentos especiais para mim mesmo. Fiz grandes amizades, uma delas

é com a Sandna Larissa Freitas dos Santos, formada em Farmácia pela Unicatólica, ela

me mostrou diversos conhecimentos que contribuíram para minha aprendizagem.

Agradeço imensamente por todos os professores que participam da minha

construção e vivência acadêmica, incluindo o meu orientador de Trabalho de Conclusão

de Curso I, professor Me. Edmir Geraldo de Siqueira Fraga, que sempre mostrou total

apoio durante a realização do nosso projeto, contribuindo com conhecimentos de grande

valia para a execução do mesmo e com sabedoria soube dirigir-me os passos e os

pensamentos nessa nova etapa. Portanto, se cheguei até aqui foi porque eu acreditei em

mim mesmo e em Deus, e isso só foi possível porque eu não desisti de atingir os meus

objetivos.

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QUANDO TUDO COMEÇOU?

NÃO SEI... SÓ SEI QUE FOI

ASSIM! (CHICÓ)

Joélia Ferreira da Silva Pereira

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Como tudo começou? Não sei... Só sei que foi assim! (Chicó)

- 131 -

epois de duas tentativas frustradas de ingressar no ensino superior, em outras

instituições, eu decidi só iniciar um curso o qual estivesse determinada a

concluir. Afinal, de que me adiantaria fazer um curso com o qual não me

identificasse? Foi assim nos outros dois. Comecei a fazer e não concluí, sequer, o primeiro

semestre. Então, resolvi estudar para o Enem, com o objetivo de conseguir uma bolsa (o

curso de Direito, que sempre quis fazer, não estava ao meu alcance pois não conseguiria

pagar as mensalidades e minhas despesas com aluguel, alimentação, transporte, entre

outros).

A ideia era conseguir uma bolsa pelo ProUni (Programa Universidade Para

Todos). Foram várias tentativas, muitas delas frustradas, por conta da impossibilidade de

conseguir a bolsa, já que a concorrência era grande e a minha nota estava numa

classificação muito baixa em relação à quantidade de vagas disponíveis. Não desisti.

Continuei tentando… Um dia vi a possibilidade de um quase. Classificada em 8° lugar,

mas só eram 3 bolsas. Apesar de não ter conseguido dessa vez, eu fiquei animada.

Na próxima prova do Enem eu vou me garantir… Pensei! No entanto, na chamada

do meio do ano me inscrevi novamente, mas não tinha expectativa de que seria agora,

mesmo assim me inscrevi. Na lista de espera havia 4 bolsas, eu estava em 5° lugar. Deu

um frio na barriga, um aperto no peito, senti disparar o coração. Nunca tinha me sentido

assim, tão perto de conseguir. Me acalmei, relaxei e deixei os dias passarem.

Numa sexta-feira por volta das 16h, recebi uma ligação para me apresentar na

faculdade trazendo uma declaração registrada em cartório. De novo, deu um frio na

barriga, um aperto no peito, senti disparar o coração. Agora eu consegui! Constatei. Senti

um misto de alegria e nervosismo, impossível de conter, que dirá de explicar. Tudo em

mim tremia. Na segunda-feira seguinte fui à faculdade deixar meus documentos,

conforme solicitado. Fiz a matrícula e as aulas iniciavam no mesmo dia, à noite. Espantei-

me! Já?! Não pude ir à noite, visto que já havia acertado com uma colega de trabalho a

mudança de turno para aquele dia, ou seja, trabalharia no período noturno. Tive de

renegociar os horários no trabalho para que a noite ficasse livre para as aulas.

Ao iniciar as aulas, aquela sensação estranha de não saber onde está, de não

conhecer ninguém, de ingressar em terrenos nunca antes percorridos. A dúvida me

apareceu diariamente nos dias seguintes… Como será possível conciliar trabalho e

estudos? Será que posso carregar este fardo? Mesmo sem respostas segui adiante. Não foi

fácil, mas superei a primeira guerra (leia-se, primeiro semestre) e suas inúmeras batalhas

diárias (leia-se, trabalho). Estou no segundo semestre agora e, tal como o primeiro, é

D

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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sempre um leão por dia, aquela briga interior continua aqui, mas a vontade de prosseguir

prevalece.

O sentimento que resume minha trajetória é o de perseverança. Mesmo que

inúmeras forças queiram que eu caia, ainda continuo de pé. O que eu posso dizer para

uma pessoa em situação semelhante é o mesmo que digo diariamente a mim mesma:

Quem acredita sempre alcança. Não desista de você! Confie em si mesmo! Ainda tem

muito chão pela frente, mas tenho nas mãos um mapa, no coração uma vontade, na mente

um objetivo.

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“QUANTO FUI, QUANTO NÃO

FUI, TUDO ISSO SOU”

Jânder Carlos Soares Silva

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“Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou”

- 135 -

que nos impulsiona? Até onde queremos ir? O que estamos fazendo para

alcançar nossos sonhos? A minha história não começou hoje e, para chegar até

aqui, muitas coisas aconteceram: novos lugares, novas pessoas, novos

desafios, pequenas conquistas, grandes frustrações, sim, não e talvez. Eu vivi de

momentos, e contarei um pouco deles nas próximas linhas.

Para que saibam quem vos fala, gentilmente me apresento: rapaz nordestino,

negro, de família humilde. Teimoso, de sorriso fácil e coração livre. Procuro acreditar

que, no fundo, todas as pessoas podem ir longe, toda meta pode ser atingida, todo simples

pode ser grande. Não sou bom quanto queria e poderia ser, mas sigo numa constante luta

para alcançar essa dádiva.

Durante muito tempo ouvi que algumas pessoas haviam nascido para

contentarem-se e que eu fazia parte desse grupo, mas neguei assumir isso como verdade.

Ouvi que faculdade era uma realização distante e que era melhor evitar a dor de sonhar

com algo que nunca chegaria, mas eu preferi tapar meus ouvidos.

Morei desde o primeiro ano de vida numa cidade do interior de São Paulo chamada

Juquiá. Muito cedo, perceberam em mim interesse pelo estudo, pelo conhecimento, pelas

descobertas de como as coisas funcionavam. Algumas poucas pessoas ousaram dizer:

“Esse menino vai longe!” E essa era a energia que precisava para acreditar mais, mesmo

num contexto social onde era costumeiro parar de estudar tão cedo.

Aos doze anos de idade minha família inteira retorna ao Ceará para cuidar de um

avô que havia adoecido, necessitando de atenção constante. O pequeno município de

Irapuan Pinheiro, terra onde nasci, me acolheu novamente. Continuei estudando e

galgando degraus mais altos: a sensação era a de que eu não cabia ali, não era ali que eu

deveria parar. Concluí o ensino fundamental na escola pública do município e ingressei

no ensino médio estadual também na pequena cidade.

Antes mesmo de concluir o primeiro ano, me submeti a um processo de seleção

para uma escola técnica interna na cidade de Iguatu no centro-sul cearense e fui aprovado.

Por tal motivo, repeti o primeiro ano do ensino médio, no que viria a ser o Instituto Federal

de Educação. Paralelo ao ensino médio, me formei técnico em agroindústria. Ali cresci

muito: me preparei o máximo para que pudesse continuar alçando voos mais distantes.

E no ano de 2012 pousei na antiga Faculdade Católica Rainha do Sertão, hoje

Centro Universitário Católica de Quixadá, no curso de Psicologia. Estar nesse lugar

simbolizava que minhas lutas até então não haviam sido improfícuas e decidi aproveitar

o máximo de todas as coisas novas e boas que a instituição pudesse me oferecer.

O

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Desde o primeiro semestre comecei a frequentar grupos de estudo, porque

entendia que uma graduação ia muito além da sala de aula. Foi no GEFIS (Grupo de

Estudo Família, Indivíduo e Sociedade) que tive a oportunidade de elaborar um primeiro

trabalho que seria apresentado num evento institucional.

Quando cursava o terceiro semestre fui selecionado para compor o grupo de

estudantes que fariam parte do PET–Saúde (Programa de Educação pelo Trabalho),

projeto federal interdisciplinar que me possibilitou contato com outras disciplinas da

saúde e com profissionais da rede pública do Município de Quixadá. Foram dois anos de

muito aprendizado, agregando conhecimentos, compartilhando experiências que nos

aproximavam da realidade profissional que encararíamos num futuro breve.

Dentro desse programa apresentei trabalhos em congressos estaduais, dentro da

própria faculdade e ainda em eventos da rede de saúde do município, como as Jornadas

de Saúde Mental promovidas pelo CAPS (Centro de atenção Psicossocial), um dos meus

locais de atuação dentro do PET e que despertou interesse por pesquisa que resultou no

meu Trabalho de Conclusão de Curso.

Paralelo a este programa, também fiz parte do GEPAC (Grupo de Estudo e

Pesquisa em Análise do Comportamento) que enriqueceu meus conhecimentos na

abordagem psicológica então já assumida como perspectiva de trabalho. Nesse grupo

desenvolvi estudos, participei de organizações de eventos na Unicatólica e também em

eventos estaduais da área e desenvolvi trabalhos científicos.

No sexto semestre da graduação fui aprovado como monitor da disciplina de

Técnicas Psicométricas, condição na qual permaneci dois anos. Essa experiência me

permitiu conhecer e me apaixonar pela área da Avaliação Psicológica e também me abriu

outras portas; fui convidado a fazer parte do seleto grupo de extensão NEAPSI (Núcleo

de Estudos em Avaliação Psicológica), iniciando minhas atividades clínicas ainda no

sétimo semestre da graduação. E foi talvez aqui que eu me apropriei da carreira

profissional que ainda construo. Foi com a prática que me sobreveio a responsabilidade

que temos em nossas mãos para com o outro.

No sétimo semestre, um projeto construído em parceria com amigos com fins de

aprovação na disciplina de Exames Psicológicos e Orientação Profissional foi escolhido

pela direção de uma escola de ensino médio de Banabuiú-CE para ser aplicado às turmas

de terceiro ano. Foi mais uma oportunidade única de conhecer o campo da orientação

profissional, de trabalhar com jovens estudantes na perspectiva de facilitar o

conhecimento de si e de suas habilidades e potencialidades, e também de fazer um

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“Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou”

- 137 -

trabalho de cunho social, espelhando fora da universidade o que vem sendo construído na

academia.

Apaixonado pela arte, foi no Coral Vozes do Sertão que encontrei alívio nos dias

difíceis. A música faz parte de mim, e em meio ao caos que muitas vezes nos sobrevém

no mundo acadêmico, vi ali uma oportunidade de relaxar e de contribuir. Fizemos

apresentações revigorantes: fosse em abertura de eventos, confraternizações,

comemorações festivas, estávamos lá, em coro, espalhando amor e paz em cada nota, tom

e afinação.

Além da necessária vivência acadêmica, construí dentro do curso de Psicologia

uma carreira política; em 2015 compus a chapa vencedora das eleições para o Centro

Acadêmico Honestino Guimarães, atuando no cargo de diretor de comunicação.

Desenvolvemos projetos no intuito de fazer com que o curso figurasse entre os mais

importantes da instituição, fortalecendo o vínculo intra-alunos e entre estes e os docentes,

entendendo que o coletivo sempre é mais forte e que juntos podemos vencer obstáculos

ainda maiores. Cabe lembrar que desenvolvemos também ações sociais que se

propuseram, em alguma instância, a beneficiar a população menos favorecida do

Município de Quixadá e circunvizinhos.

Acreditando que havia realizado um bom trabalho, em 2016 me candidatei

novamente ao Centro Acadêmico, assumindo o cargo de presidente durante este ano.

Contando com um grupo forte, continuamos e intensificamos as ações da gestão passada,

mas também criamos novos e exitosos projetos, que nos fizeram ser reconhecidos por boa

parte dos alunos e docentes como um C.A atuante e participativo.

Fui membro da Comissão de Organização da Mostra de Psicologia durante quatro

edições. Com o objetivo de divulgar o que de grandioso nosso curso estava

desenvolvendo na Unicatólica e apresentá-lo a outros públicos, criei o Programa TV

Mostra, no qual atuei como apresentador e repórter: o programa era veiculado no canal

da instituição no YouTube. Aliás, se você nunca assistiu, recomendo; viva comigo um

pouco das boas coisas e experiências nessas mostras.

Foi também no ano de 2016 que participei do Pré-Congresso Regional de

Psicologia e fui eleito delegado estudantil para representar a Unicatólica no 9° COREP

(Congresso Regional de Psicologia) que aconteceu em Fortaleza-CE. Era a oportunidade

que eu tinha para conhecer ainda mais o campo político de nossa categoria, participar das

discussões que fomentavam construções que envolvem nosso fazer no Estado. Eu mal

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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podia acreditar que estava vivendo esse momento tão rico, até que coisa maior me

aconteceu.

Nesse evento, fui eleito delegado estudantil para representar todos os estudantes

de Psicologia do Estado do Ceará no 9° Congresso Nacional de Psicologia – CNP,

ocorrido em Brasília. O CNP é a instância máxima de deliberação do Sistema Conselhos

de Psicologia, nele são definidas as diretrizes e ações políticas que devem ser priorizadas

para o triênio subsequente, ou seja, para a próxima gestão dos Conselhos Regionais e

Federal. Incomensurável foi essa experiência. Entendi que muito precisava ser feito por

nossa categoria, e esse comprometimento político aumentou ainda mais minha vontade

de contribuir com a psicologia brasileira.

Agora estou perto de realizar um dos meus sonhos: concluir uma graduação. Eu

não consigo resumir isso em outra palavra que não seja agradecimento. A Deus, aos meus

pais e heróis que sempre acreditaram em mim e fizeram muito mais do que podiam para

me permitir viver essa realização, aos meus professores que foram exemplo, que me

acolheram, que disponibilizaram tempo para me ensinar como fariam com seus filhos;

permitam-me citar a docente Mércia Capistrano, que de forma tão particular e carinhosa

investiu em minha carreira acadêmica, me incentivou, me abriu portas e confiou em mim.

Eu sei que todas essas maravilhosas experiências que vivi em minha graduação

contribuíram e contribuirão de modo inigualável para a minha formação profissional e

humana. Estou certo de que aproveitei cada segundo, cada oportunidade. Certo de que

olhar para trás sempre será motivo para nostalgia, saudade e, por que não dizer, orgulho.

Mas é preciso vencer novos desafios. A graduação não limita minhas asas; apenas

aprimoram ainda mais o meu voo. E eu vou seguir, porque parar não está nos meus planos,

não cabe no meu sonho.

No fim, deixo-vos um trecho de Shakespeare que carrego sempre comigo:

“Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga

flores. E você aprende que realmente pode suportar. Que realmente é forte, e que pode ir

muito mais longe depois de pensar que não se pode mais”. Que possamos sempre seguir

na realização dos sonhos, e que sempre tenhamos terreno fértil para tal.

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REGISTRANDO GRATIDÃO

Ana Beatriz Almeida Sampaio

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Registrando gratidão

- 141 -

ou Ana Beatriz Almeida Sampaio, nasci em Quixeramobim em maio de 1997,

sou a primeira de três filhas do casal Gustavo e Aninha Sampaio, e atualmente

curso Psicologia na Unicatólica de Quixadá. Mas a minha vida acadêmica

começou aos dois anos de idade no Colégio Nossa Senhora do Rosário – CNSR e posso

afirmar com segurança que a partir do que eu vivi lá que me tornei a discente que sou

hoje.

Então, venho por meio desse relato externar e deixar registrado o meu grande

sentimento de gratidão por todo meu trajeto até chegar aqui. Para começar a história devo

dizer que meus pais são os diretores da escola, meu pai é o gestor geral, podemos dizer

assim, mas a minha mãe sempre está ao seu lado, lhe ajudando no que consegue e lhe

dando todo o apoio que ele precisa. Sempre fui conhecida por todos como “a Bia filha do

diretor”. Ah, como eu me sinto honrada por essa oportunidade! Nunca me senti melhor

do que ninguém por isso, pelo contrário, meus pais faziam questão de que todos

percebessem que eu não ganhava privilégios com isso, sempre pedia para que os

professores não agissem diferente comigo e se tivessem de agir que fosse para cobrar

mais de mim.

Mas me sinto honrada porque ser filha do diretor fez com que o colégio fosse a

minha casa, os funcionários eram realmente meus tios e tias que me educaram não só pelo

fato de ajudarem na minha construção cognitiva, mas me transmitirem valores e

princípios que carregarei comigo sempre. Seus filhos eram como se fossem primos e

todos os alunos que por ali passavam se tornaram meus irmãos, e ver meu pai, junto com

minha mãe, se doar para contribuir com a educação de cada um desses, ver meu pai perder

várias noites de sono por causa da escola, fez com que o meu desejo por me dedicar aos

estudos crescesse sempre mais. Era como se eu quisesse mostrar a eles que suas renúncias,

o seu ato de doar-se, valia a pena.

Vou tentar resumir um pouco do que vivenciei a cada nível de ensino.

Primeiramente na educação infantil as tias Elieuda, Divinha, Beth e Edvâne (professoras

da educação infantil) me introduziram no fantástico universo da leitura e escrita. Uma

educação infantil onde vínculos começaram a se formar e construir amizades que

perduram até hoje. Depois no fundamental 1 as tias Tassiane e Ronalda tiveram bastante

trabalho para nos colocar nos eixos. Uma fase marcada pelos momentos de recreação, as

belíssimas feiras de arte e ciência que foram cruciais no desenvolvimento da minha

autonomia.

S

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Passou-se o tempo e de repente estava no ensino fundamental 2. Literalmente,

subimos degraus. Estávamos esperando ansiosamente para estudar no andar de cima. Foi

uma época de metamorfose para nós, mas a tia Adriana, tia Cirlândia e Fatinha

(coordenadoras), nos ajudaram a superar cada mudança. Passamos por vários problemas,

alegrias, tristezas, decepções e todas as crises complexas da adolescência. Assim, nossos

laços também se fortaleceram.

Até que é chegada a reta final: o ensino médio. O Hugo e a Lili (coordenadores)

me acolheram de uma forma inexplicavelmente especial. Foram três anos cheios de

cálculos, fórmulas, redações, muitos, mas muitos, inúmeros simulados e um

companheirismo sem tamanho. Nesses momentos finais meus pensamentos se encheram

de lembranças que justificam tamanho sentimento de gratidão misturado com saudade.

Podem se passar dez, vinte, trinta anos e nunca esqueceremos de nossas excursões, do

passeio a praia de Iparana, do teatro da bonequinha de pano...

O colégio, os professores e todos os funcionários desde a portaria e serviços gerais

até o meu pai, me ensinaram muito mais que matemática, ciências, inglês... Me ensinou

a viver e agir sempre pensando não só em mim, mas em todos com quem eu convivo e

com a sociedade em geral. Me sinto muito feliz ao poder afirmar que fiz parte da nação

CNSR e que viveria tudo outra vez.

Sair de uma realidade onde todos se preocupam com todos e entrar em outra em

que se vive cada um por si, foi bem difícil, ou melhor ainda é. Mas tive a graça de encarar

essa nova fase dentro da Unicatólica de Quixadá. Por ser católica, acredito que Nossa

Senhora que me carregou no colo durante toda a minha educação básica, não queria que

fosse diferente com a minha formação no Ensino Superior — sair dos braços de Nossa

Senhora do Rosário para vir para os da Rainha do Sertão para mim foi indiscutivelmente

essencial para que eu me sentisse segura.

O primeiro e segundo semestres foram difíceis em relação a esse processo de

adaptação, mas poder estar perto de meus pais tornaram as mudanças bem mais

suportáveis. As vivências feitas pelos estagiários do NAP (Núcleo de Apoio

Psicopedagógico) fizeram com que eu notasse que não era só eu que tinha problemas

nesse novo ritmo de vida, mas que meus colegas estavam na mesma situação que eu, e

então começamos a criar vínculos também nesse sentido: compartilhar não só os

problemas, mas também as soluções. Desde então, temos desfrutado, junto aos nossos

professores que já se tornaram amigos, da grande e inacabável descoberta que são as

Psicologias.

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ROMPENDO O SILÊNCIO E

CONQUISTANDO O IMPOSSÍVEL

Lucas Ferreira de Oliveira

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Rompendo barreiras e conquistando o impossível

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uando eu era criança, tive momentos difíceis, vivia em um silêncio absoluto...

Não havia ninguém que soubesse se comunicar comigo. Tentava apontar, usar

mímica para estabelecer uma mínima comunicação com meus poucos amigos.

Estudava na creche do meu bairro e as poucas lembranças que tenho é uma pseudo-

inclusão, um ambiente em completo silêncio para mim. Eu sabia que minha mãe ficava

triste com minha situação, estava em uma sala de aula onde não entendia nada do que era

repassado.

Em 2003, passei uma situação muito difícil e minha mãe decidiu procurar um lugar

para romper meu silêncio, uma escola que ensinasse Libras e que tivesse pessoas iguais

a mim. Foi quando, finalmente, ela encontrou a Escola José Jucá — a conquista da minha

liberdade (sair do mundo do silêncio). Lá, minha mãe fez a matrícula, um lugar que tinha

meus pares, muitos surdos, e cada um usa as mãos de modo a emanar uma sinfonia de

movimentos. Percebia que eles conseguiam entender-se, interagir com qualidade, sorrir,

e o outro sabia o motivo do sorriso, eu amava aquele lugar! A representação de

movimentos que tirava de mim o silêncio insuportável era a Língua Brasileira de Sinais,

a parte mais importante da minha vida, foram anos felizes, finalmente!

Quando finalizei o Ensino Fundamental na Escola José Jucá, comecei meu Ensino

Médio na Escola Gonzaga Mota, lá voltei aos meus dias de "creche", uma situação muito

difícil, vivenciei um espaço sem a presença dos meus pares (surdos) e sem o intérprete,

profissional com o qual já havia me acostumado com a presença fundamental. Esperei

que a escola conseguisse essa pessoa importante para mediar a comunicação na língua de

sinais, sem sucesso. Fui paciente e na realidade digo: Fui atrevido e corajoso. Desistir

parecia um ato de covardia comigo, a escola era a representação da realização dos meus

sonhos.

Na escola de Ensino Médio, nunca fui reprovado e até conseguia tirar notas boas,

mas, em algumas matérias, ficava de recuperação e precisava me desdobrar em casa para

tentar compreender os conteúdos, foram anos difíceis... Professores sem formação

específica para lidar com um aluno diferente, sim, sou um aluno diferente e não deficiente

como muitos deles pensavam. Com muito esforço consegui mais uma vitória, o tão

sonhado primeiro emprego antes de terminar o Ensino Médio, passei na entrevista, era

bom o suficiente para conseguir um trabalho. Foi gratificante essa conquista...

O ano foi passando e o Enem foi se aproximando, esse processo seletivo foi muito

complexo, a primeira vez que fui fazer não sabia se haveria intérprete e na realidade não

estava preparado, as aulas de preparação para o exame na minha escola foram uma

Q

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 146 -

interrogação para mim. Sem a preparação adequada não consegui boa pontuação. Fiquei

decepcionado com as oportunidades sendo roubadas novamente de mim. Nesse processo

de tristeza, meu irmão foi fundamental, ele percebeu a minha tristeza e resolveu pesquisar

simulados do Enem para que eu pudesse praticar.

Meu segundo exame foi mais tranquilo, fiz na Unicatólica com toda acessibilidade

que eu tinha direito e minha nota foi bem melhor. Com esse resultado consegui entrar no

IFCE (Instituto Federal do Ceará) de Quixadá-CE, um resultado que me deixou muito

feliz, era a minha chance de conquistar o impossível... Mas, a pseudo-inclusão não

deixava, solicitei a contratação do profissional intérprete de Libras e a explicação emitida

no parecer era que eu não teria o direito a esse serviço.

A pseudo-inclusão derrubou mais um sonho. Tranquei minha matrícula, não podia

aceitar viver novamente naquele silêncio. Meu sonho do ensino técnico foi frustrado,

passei dois anos sem estudar e confesso que estava ciente que não passaria do Ensino

Médio. Silêncio, sonhos rompidos, tudo me acompanhava naquela época. Estava quase

sem esperança, quando resolvi prestar o vestibular na Unicatólica, foi uma experiência

nova, ansioso e desacostumado com a acessibilidade da presença do intérprete, não

solicitei a interpretação de algumas questões e, dado meu ensino médio deficitário, o

resultado não foi positivo: meu sonho foi adiado.

No ano seguinte, ciente da qualidade da instituição resolvi mais uma vez prestar

vestibular, dessa vez, mais experiente e com a esperança renovada fui realizar a prova.

Utilizei todos os recursos de acessibilidade disponibilizados pela Unicatólica, entendi que

naquele espaço tinha a realização dos meus sonhos nas suas paredes. Consegui passar e,

finalmente, conquistar o impossível: ser um acadêmico do Curso de Licenciatura em

Educação Física e romper o silêncio imposto pela pseudo-inclusão. Foi o que a

Unicatólica me proporcionou, tenho acessibilidade, posso falar a minha língua e ser

escutado, entendo o que os professores falam e agora minhas dúvidas não são pelo motivo

da falta de comunicação, mas pela base do Ensino Médio que foi ruim.

Tenho esperança no futuro, perspectiva de contribuir na formação de outros

surdos, ter uma carreira, ser um profissional de excelência. Meu sentimento em relação a

todos da Unicatólica é de gratidão, tenho um FUTURO de sucesso a trilhar e, graças a

Unicatólica, sei que serei um profissional que vai fazer a diferença. Sou Lucas Ferreira

de Oliveira, sou surdo, acadêmico do curso de Educação Física e sou Unicatólica com

muito orgulho!

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SE A VIDA FOSSE FÁCIL,

NÃO TERIA GRAÇA VIVER

Francisco Egberto Martins Melo

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Se a vida fosse fácil, não teria graça viver

- 149 -

uando terminei meu Ensino Médio em 2007 numa escola de Baturité, a

aproximadamente 33 km de Itapiúna (cidade onde moro), meu único pensamento

era cursar Administração de Empresas em uma universidade pública. Fiz a

inscrição para os vestibulares das universidades públicas de Fortaleza, e o final do período

escolar foi o início da caminhada acadêmica. Mas não aconteceu como planejei. Fiz o

vestibular da primeira, e ao conferir o gabarito vi que tinha zerado uma disciplina, o que

automaticamente me desclassificava do concurso. E entre um vestibular e outro, uma forte

crise de apendicite me impediu de fazer a segunda prova. Passei horas na mesa de cirurgia,

sabendo depois que o que eu achava ter sido um simples procedimento na verdade se

tratava de algo tão complicado, pois o problema estava em um estado avançado.

Em 2008, surgiram duas chances: Vestibulares em Fortaleza em Quixadá. Aqui

inicia minha vida acadêmica na cidade de Quixadá, terra da nossa Unicatólica, quando

passei para o curso de Sistemas de Informação. Como morava em outra cidade, tive que

me adaptar à locomoção diária no início da jornada. Com o passar do tempo, consegui

alugar um apartamento em Quixadá junto com outras pessoas, e me estabilizei, voltando

para Itapiúna apenas nos finais de semana. No meio tempo que cursei Sistemas de

Informação na universidade pública, conquistei bolsas, participei ativamente da vida

acadêmica sendo representante dos alunos no conselho do curso, comprei alguns embates

para a melhoria das condições de estudo dos alunos, mas ao mesmo tempo percebia que

esse curso não era o que eu queria. Meu sonho sempre foi estudar Administração.

Assim, em 2012, ano em que eu deveria colar grau, acabei não colando. Problemas

pessoais prejudicaram meu rendimento no curso, e minhas notas agora, de fato,

mostravam o que eu já sabia: aquele curso não era para mim. Em 2013 abandonei faltando

apenas o TCC 2 (Trabalho de Conclusão de Curso) para me formar, e resolvi voltar a

morar em Itapiúna. Consegui meu primeiro emprego com carteira assinada em uma ONG

e passei a focar somente no trabalho e em cursos avulsos proporcionados por ela. Até que,

em 2014, surgiu a chance de fazer uma faculdade. A então Faculdade Católica Rainha do

Sertão (FCRS) tornava pública a chamada para o Vestibular 2014.2, com vagas para

vários cursos, inclusive Administração.

Pensei então: Preciso fazer! Há tempos não estudava nada para fazer um

vestibular, mas mesmo assim fui, com coragem e esperança de que eu pudesse obter

sucesso na prova. Fiz minha inscrição e passei! No dia 4 de agosto, depositava minhas

esperanças e apostava alto no curso dos meus sonhos. Dizia comigo mesmo: Se eu não

Q

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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me formar nesse curso, não me formo em mais nenhum! E com esse pensamento, iniciava

novamente minha vida acadêmica, agora como estudante da FCRS.

Então minha rotina era: trabalhar o dia inteiro, e ao final de cada tarde correr para

me organizar e ir para as aulas à noite, de segunda a sexta, percorrendo 58 km de ida e 58

km de volta para minha cidade.

Essa rotina perdurou apenas um semestre. Em fevereiro de 2015, minha família

sofreu um golpe em forma de “quase infarto”. Minha tia-avó, de 75 anos, que cuidava da

panificadora da família (principal fonte de renda), adoeceu seriamente, nos preocupando.

Tivemos que cuidar de sua saúde, e a panificadora ficou muitos dias fechada. Até que,

nesse momento, tive que tomar uma das decisões mais importantes da minha vida, e assim

foi feito: Larguei meu emprego na ONG, e passei a dedicar meus esforços e conhecimento

na panificadora da família.

Dessa forma, minha rotina sofreu mais uma alteração, ficando assim: todos os

dias, acordar às 4 da manhã para cuidar da panificadora, trabalhar a manhã toda, monitorar

o movimento à tarde e ir todas as noites para as aulas, chegando em casa quase sempre

depois das 10 da noite.

Me adaptei a essa rotina que sigo até hoje, e seguirá assim até o dia da minha

formatura, prevista para 2018.1. Difícil, pois manter um bom rendimento acadêmico

nesse contexto exige muita dedicação. E administrar panificadora, já inserido na área de

Administração de Empresas, é uma oportunidade para colocar em prática tudo o que

aprendo na faculdade. Essa é minha história!

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SUPERANDO DESAFIOS,

TRILHANDO SONHOS: UM

RELATO DE UM ACADÊMICO

COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Danilo Pereira Cavalcante

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Superando desafios, trilhando sonhos: um relato de um acadêmico com deficiência visual

- 153 -

ara abordar minha trajetória acadêmica, é necessário, primeiro, iniciar com um

relato do meu maior desafio de vida, que se iniciou aos seis anos: não conseguia

realizar uma leitura contínua, lia muito próximo do livro e esbarrava nas coisas.

A professora, diante de minhas dificuldades, juntamente com minha mãe, conversou para

tentar solucionar o problema, e elas decidiram procurar a orientação de um

oftalmologista.

Foi constatada a necessidade dos óculos, no entanto não resolveu o problema e

ficaram algumas indagações. — É preguiça? Ou outro problema? Minha mãe me levou a

um neurologista e não foi detectada nenhuma patologia. Meus pais procuraram a opinião

de outros profissionais da saúde, passando por uns oito oftalmologistas, até que um destes

identificou uma anomalia genética e me encaminhou para um especialista. Fui

diagnosticado com uma doença degenerativa da retina (Doença de Stargardt), em que os

óculos não poderiam corrigir o déficit visual e que a tendência seria ficar cego.

Meus pais ficaram desesperados e começaram uma busca incansável pelo melhor

tratamento, indo a outros oftalmologistas. Uma doutora tranquilizou-os dizendo que eu

poderia ter uma vida próxima da normalidade e apresentou algumas estratégias.

A fase de adaptação consistiu em estimulação visual para aprender a utilizar o

resquício de visão e terapia ocupacional para manipular instrumentos que me auxiliariam,

tais como réguas, lupas e textos ampliados. Estas foram as adaptações iniciais.

Comecei a ser visto como diferente, estudava em escolas regulares e sempre tinha

amigos que me ajudavam, pois não conseguia copiar do quadro, um colega ditava e eu

copiava em um caderno com uma pauta mais escura e com caneta porosa. Estava ficando

difícil ler, ficava com dor de cabeça e náuseas, que se intensificavam com a piora da visão

e tudo se complicou ainda mais.

Buscávamos novas alternativas. Uma pessoa começou a ler minhas provas,

comecei a estudar por áudio e adquiri uma telelupa (uns óculos com duas lentes para ver

mais longe). Sentia-me constrangido pelo olhar das pessoas.

Na adolescência a parte psicológica piorou, pois meus amigos iam sozinhos ao

shopping e eu não podia, precisava sempre estar acompanhado por uma pessoa. Isso foi

apenas uma das barreiras. Surgiram os apelidos como cego, fundo de garrafa, dentre

outros.

No Ensino Médio me sentia envergonhado e inferior aos demais alunos. Teria que

enfrentar maiores desafios: passar no vestibular e trabalhar. Devido minhas limitações

deixei meu sonho de lado, que era cursar Direito.

P

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Decidi concorrer no vestibular para Educação Física em universidades públicas,

porém não fui aprovado. Consegui uma bolsa em um cursinho e fui tentar outros

vestibulares. Neste percurso, algumas das instituições não aceitaram que eu fizesse a

prova com ledor ou que transcrevesse a redação nas segundas fases, até tempo adicional

era complicado e recorri ao Ministério Público para realizar as provas. Meu pai, triste,

afirmava que seria difícil.

Refletindo o que iria fazer da minha vida, revoltado e tratando as pessoas mal, por

muito tempo passei por um acompanhamento psicológico. Comecei a me conhecer,

identificando minhas capacidades e limitações. Decidi fazer vestibular para uma

universidade privada de pequeno porte que meu pai poderia custear. Foi necessário mais

uma vez a intervenção do Ministério Público. Surgiram questionamentos de como poderia

exercer a função de Professor de Educação Física e afirmei que seria apenas para

conhecimento pessoal.

Durante a graduação também fiz um curso de informática, em que poderia

escanear os textos no computador, fornecendo maior autonomia para os meus estudos. As

provas eram realizadas com o ledor e o mesmo transcrevia as respostas.

Paralelo à faculdade comecei a frequentar a Associação de Cegos do Ceará, fiz

um curso de auxiliar administrativo e um de deficiência visual e braille. Com isso, os

obstáculos foram sendo amenizados, uma vez que fui me capacitando e adaptando às

necessidades. Neste momento me assumi como pessoa com deficiência visual, passando

a utilizar bengala, que foi de fundamental importância para minha autonomia. Com mais

independência, comecei a treinar natação e musculação.

Surpreendentemente fui de sedentário e coitadinho a único estudante de Educação

Física do Estado do Ceará com deficiência e, na época, cogitava-se até a nível nacional,

pois não se tinha conhecimento de outros casos. As pessoas começaram a me olhar agora

como herói, pois era também atleta de destaque, o primeiro cearense a ganhar os Jogos

Paralímpicos Universitários Brasileiros e configurar entre os duzentos melhores

nadadores com deficiência do País.

Acabei me desviando do foco, pois fui convocado por uma seleção para Agente

de Saúde. Assumi o cargo como forma de manter a faculdade. No início tinha

flexibilidade nos horários para treinar, pois a coordenadora era muito compreensiva,

porém, com a sobrecarga, abandonei o curso de inglês e espanhol. Foi necessário reduzir

os horários dos treinos e, desmotivado, abandonei mais um sonho: o de ser campeão

paralímpico.

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Superando desafios, trilhando sonhos: um relato de um acadêmico com deficiência visual

- 155 -

Estudei para concursos na área da Educação Física e, fazendo jus ao apelido

recebido na universidade de “ministério público”, recorri a ele mais algumas vezes para

conseguir realizar as provas, pois esbarrei nos mesmos problemas do vestibular. Fui

aprovado em dois concursos, um estadual e outro municipal. Optando pela vaga

disponível do concurso municipal de Quixadá, fui obrigado a abandonar minha família.

A nova realidade longe de minha família foi amenizada graças a uma prima de

minha mãe, que residia em Quixadá. Ela me ajudou com o reconhecimento espacial da

cidade e me apresentou muitas pessoas, que contribuíram para o processo de adaptação.

A falta de acessibilidade foi sendo superada com a sensibilidade de moradores do

município, os quais ajudaram na travessia de rua, orientando quanto a barreiras

arquitetônicas. Morar sozinho não foi tão difícil, pois minha mãe me ensinou muitas

atividades diárias como: lavar roupa, cozinhar e limpar a casa. Senti muita falta da comida

da minha avó, carinho da mãe, ajuda incondicional de meu pai e da amizade de minhas

irmãs.

Com o passar do tempo, fiz várias especializações: em Educação Inclusiva, em

Lutas e em Gestão escolar. Neste período fui reconvocado pelo concurso estadual,

assumindo mais cem horas na cidade de Quixadá.

Não alcançando meu sonho de atuar na área de educação inclusiva na CREDE 12

(Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação) ou na Secretaria de

Educação do Município de Quixadá, redimensionei mais uma vez minha vida fazendo um

novo concurso para voltar ao berço familiar em Fortaleza.

Com a aprovação em quinto lugar geral, estava decidido a voltar para Fortaleza.

Entretanto, no mesmo período obtive aprovação no vestibular de Direito da Unicatólica.

Dessa vez, não sendo necessária a intervenção do Ministério Público. Mais uma vez o

destino me colocou numa indecisão: abandonar o concurso de Fortaleza e a família ou a

estabilidade de dois concursos públicos e a aprovação no curso de Direito da Unicatólica.

Surgiu a esperança de realizar um sonho abandonado: uma graduação em Direito.

Então fiquei trabalhando para concretizá-lo.

O início do curso de Direito foi desafiador. A Unicatólica dispunha de

funcionários dedicados, atenciosos, uma coordenação sensível que criou estratégias para

a inclusão como: tempo adicional em provas e entregas de trabalho, prova com ledor,

sendo substituída por provas em sala de aula realizadas em meu notebook. Os professores

traziam a prova no pen drive e depois eu poderia responder sem depender de outras

pessoas.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 156 -

Surgiram novos desafios: os materiais sugeridos para estudo que o meu leitor de

tela do computador não reconhecia. Minha jornada de trabalho é sessenta horas semanais,

e ainda tenho que disponibilizar tempo para estudar e organizar o apartamento, barreira

que está me levando a um desgaste físico e mental, o que também afeta meu rendimento

acadêmico.

Não posso deixar de destacar que amigos de sala me ajudam gravando notas de

aula e encaminhando materiais para meu e-mail, gerando motivação e ótimos resultados.

Esses anjos são importantes para a conquista do meu sonho.

Fiquei muito animado com a criação do NAI – Núcleo de Acessibilidade e

Inclusão na Unicatólica, mais uma ferramenta que poderá desenvolver ações de melhoria

do meu aprendizado e que contribuirá para a inclusão de pessoas com deficiência no

curso.

É evidente que na atual realidade da sociedade e de muitas universidades, não há

um atendimento adequado às necessidades das pessoas com deficiência. Isso é ressaltado

na ocorrência constante de discriminações, como também, por não ser posta em prática a

legislação destinada à inclusão deste segmento. É perceptível a falta de acessibilidade e a

escassez de profissionais com formação para alcançar os ideais inclusivistas, os quais

ainda estão longe de serem efetivados em sua plenitude.

Dentre as perspectivas para o futuro, gostaria de voltar a militar e ajudar nessa

transformação social. Os desafios diários não são motivos para eu desistir. Cada

superação me motiva a seguir nas trilhas do meu sonho. Peço que Deus me dê força e me

guie rumo à vitória.

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TER UMA DIREÇÃO,

UMA VERDADE

Karleandro Pereira do Nascimento

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Ter uma direção, uma verdade

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quele que conquista o pódio é porque não olha nem para buracos, nem para

obstáculos, nem para contratempos, nem para nada. A travessia não é nada

fácil. Tinha tudo para dar errado, ou não. Decidi encorajar-me contra os

paradigmas de um garoto pobre, do sertão, sem perspectivas de um futuro promissor.

Educado com o pouco que meus pais tinham e em meio à escassez do básico, consegui

driblar a pobreza e reescrever minha narrativa de superação.

Tudo começou na Fazenda Guaribas, no interior de Quixeramobim-CE, chamo-

me Karleandro Pereira do Nascimento, sou o segundo filho de um casal de agricultores

— Antonia Prudente Pereira e Carlos Alberto dos Santos — e irmão de Karlyane Pereira.

Comecei a ajudar meus pais aos cinco anos de idade nas tarefas domésticas, no

cuidado ao rebanho de ovelhas e na agricultura, mas sempre conciliando com os horários

de minhas aulas. Estas, iniciados na escolinha de educação infantil Maria Madalena

Pereira. A primeira e a segunda série foram na Escola Francisco Manoel do Nascimento.

A terceira série foi na Escola Manoel Pereira do Nascimento, que ficava a 02 km de minha

casa, percorridos todos os dias a pé no período vespertino. Já da quarta a oitava série

pegava caminhão todos os dias para ir até a localidade vizinha estudar na Escola Alfredo

Almeida Machado, onde fiquei até a conclusão do ensino fundamental.

No final deste período surgiu a oportunidade de cursar o ensino médio no distrito

de Manituba, distante cerca de 10 km de minha casa, sendo uma extensão da Escola de

Ensino Médio Humberto Bezerra. Meus pais hesitaram no primeiro momento, e então

percebi que na opinião deles seria melhor parar ali, no ensino básico, ajudá-los na

agricultura seria melhor. Como meu pai foi educado numa cultura machista e num sistema

hierárquico de gênero, tinha comportamento bastante autoritário e na visão dele o

importante seria que o filho trabalhasse na roça e o ajudasse no sustento da casa. Devido

a este comportamento característico de meu pai e em virtude do seu antigo vício em

álcool, possuía dívidas com a justiça.

Vários colegas meus de colégio, também de família pobre, terminavam o ensino

fundamental e ficavam por ali, optavam pela agricultura ou emprego em mercantis. Eu

não queria aquilo para mim, queria algo mais.

Chegava o dia da matrícula do ensino médio e para minha surpresa meus pais

decidiram que eu deveria continuar na academia. Durante todo o ensino secundário fui

vítima de bullying e agressões verbais, nunca revidei aqueles insultos, ficava paralisado

sem reação. Com isso, me auto excluí do contato com a sala e, por consequência disso,

tive poucos amigos no ensino médio.

A

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Todo o meu ensino médio foi cursado no período vespertino e, no contraturno de

minhas aulas, auxiliava meu pai na agricultura e alimentação do gado. Contribuía também

na igreja de minha comunidade, sempre fui muito devoto de Nossa Senhora das Graças,

considero-a minha madrinha.

Recordo que iniciei no ensino médio no ano de 2008 e, logo em março, surgiu a

oportunidade de ir dois sábados ao mês à sede da escola em Quixeramobim, fazer um

cursinho de informática, uma espécie de projeto de inclusão digital da escola. Lembro-

me que o inverno era severo naquele ano, mesmo assim eu evitava faltar. Em algumas

ocasiões meus pais davam-me R$ 6,00 para o lanche. Em meio às dificuldades, concluí o

cursinho.

No terceiro ano do ensino médio me sentia totalmente perdido, como eu morava

no interior (sertão) não tínhamos acesso à internet, poucos professores nos estimularam a

prestar vestibular. Então a professora Hylmar me falou que havia cursos de licenciatura

na Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central –FECLESC campus da

UECE em Quixadá, que eram totalmente gratuitos, com exceção da inscrição, logo, fiquei

imensamente feliz. Na verdade, sempre tive a ideia de que o ensino superior fosse

exclusivamente pago, portanto, reservado a classe média e alta, tamanha era minha falta

de acesso à informação.

Finalmente concluí o ensino médio no ano 2010 e concomitante a isto estavam

abertas as inscrições do vestibular da FECLESC – UECE. Lembro-me que eu tinha um

cofre de moedas que totalizava R$ 73,00, mas a taxa de inscrição consistia em pouco mais

de R$ 80,00. Sem dinheiro para custear todo o valor e sem o consenso de meus pais,

abstive-me de meu sonho.

No ano seguinte, em 2011, minha rotina limitou-se apenas em auxiliar meus pais

nas tarefas de casa. Considero o pior ano de minha vida, pois percebi que o mundo

acadêmico havia sido abruptamente retirado de mim e devido minha falta de atitude e

encorajamento deixei que isto acontecesse. Não via mais sentido em minha vida, já que

meus colegas de sala haviam se mudado para São Paulo, outros para Quixeramobim,

alguns fazendo curso técnico, mas eu continuava ali estagnado, sentia uma tristeza

imensa, meu sonho ficava cada vez mais distante. Neste mesmo ano, sofri uma injúria e

difamação de familiares e isso me deixou ainda mais deprimido e descontente.

Todavia, inconscientemente, o destino já estava traçado, mas muitas etapas ainda

precisavam ser superadas. Em outubro de 2011, através do rádio fiquei sabendo do

vestibular da FECLESC, desta vez eu tinha o dinheiro da inscrição, coincidência ou não,

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Ter uma direção, uma verdade

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meu cofre de moedas tinha apenas a quantia da taxa do vestibular. De imediato fui a

Quixeramobim realizar minha inscrição, quem a fez foi meu antigo professor de química,

inscreveu-me no curso de Letras-Português. Notei que boa parte da minha família achava

bobagem perpetuar os estudos, com isso só recebi apoio e assistência de meus avós, mãe

e uma tia, o restante acreditava que seria perda de tempo e de dinheiro. Como venho de

uma família de professoras, optei também pela licenciatura, entretanto, meu grande sonho

seria cursar Enfermagem.

O vestibular ocorreu no dia 27 de novembro de 2011, data que a igreja comemora

a festa de Nossa Senhora das Graças, minha madrinha. Passei nas duas fases da prova,

dando início aos estudos no dia 28 de fevereiro de 2012 e logo tive que vir morar em

Quixeramobim com minha tia.

O curso de Letras era matutino, todos os dias de segunda a sexta eu estava em

Quixadá. Como meus pais são bastante humildes, me ajudavam com o que podiam. Ainda

no primeiro semestre de faculdade meu pai foi chamado ao fórum para pagar o restante

de sua dívida com a justiça, sua pena consistiu em ficar recluso nos fins de semana, isso

diminuiu ainda mais a renda de minha família, deixando-os impossibilitados de me

ajudarem financeiramente. Passei muita fome do primeiro ao terceiro semestre de

faculdade.

No quinto semestre de Letras o desejo de cursar Enfermagem aumentava cada vez

mais. No sexto semestre um professor doutor do curso de Letras convidou-me para

participar de um projeto de Iniciação Científica onde iria ser agraciado no período de 01

ano com um auxílio de R$ 440,00 — considero este meu primeiro ‘emprego’. Durante os

estágios nas escolas tive a certeza de que não queria ser professor da educação básica,

ressalvo que acho uma profissão nobre, todavia eu não me identificava. A partir deste

auxílio economizei ao máximo para prestar vestibular na Unicatólica, lembro-me que era

pouco mais de R$ 1.000,00 a matrícula.

Aguardava o resultado ansioso, e lá estava meu nome na décima sétima posição

de trinta vagas ofertadas para o curso de Enfermagem da turma de 2015.1. Continuei o

curso de Letras conciliando com o de Enfermagem. Minha bolsa de Iniciação Científica

na FECLESC foi renovada por mais um ano pelo mesmo professor doutor do curso de

Letras, que ainda seria meu orientador em um segundo projeto de sua autoria. Já em

fevereiro de 2016 fui aprovado no Programa de Monitoria Acadêmica da Unicatólica

(PROMAC), onde fui monitor de Anatomia Humana do curso de Enfermagem durante

todo o ano de 2016, recebendo auxílio da instituição de R$ 150,00 mensais.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

- 162 -

Todo o custeio do meu curso de Enfermagem é financiado pelo Fundo de

Financiamento Estudantil (FIES) tendo 100% da mensalidade pagos pela Caixa. Em

junho de 2016 a partir da nota do Enem consegui uma vaga no Programa Universidade

para Todos (ProUni) com 100% do custeio da mensalidade, apesar disso não pude aderir

à bolsa devido a uma denúncia apresentada à instituição, correspondente à minha

matrícula ativa numa universidade pública. Desta forma, permaneci com FIES e concluí

o curso de Letras.

Minha formatura no curso de Letras ocorreu em 2017 no mês de janeiro, com

enorme afinco e gratidão despeço-me da minha primeira casa, minha amada FECLESC,

onde tudo começou. Hoje sou formado em Letras-Português pela Universidade Estadual

do Ceará, sou integrante e precursor juntamente com mais três acadêmicas do Projeto

‘Parasitologia na Escola: Educação em Saúde’, sou membro do Centro Acadêmico de

Enfermagem da Unicatólica, aluno do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Sistematização

da Assistência de Enfermagem (GEPSAE) e bolsista principal de Iniciação Científica no

Projeto “Doenças crônicas não transmissíveis em Quixadá-CE: estratégias educativas

pautadas na sistematização da assistência de enfermagem” do curso de Enfermagem da

Unicatólica.

Não imaginava que uma pessoa nascida na pobreza assim como eu e com apenas

23 anos iria alcançar tamanho feito. A fé em Deus, o todo-poderoso, e em minha

madrinha, Nossa Senhora das Graças, foi e é essencial em minha caminhada. Por ter vindo

de uma família simples, minha pretensão é fazer muito pelos indivíduos neste contexto,

principalmente pelas pessoas carentes assim como eu. Acredito que para ser um bom

enfermeiro/professor devo enxergar o que está por trás do processo, não lidar apenas com

os procedimentos ou técnicas, mas ver que ali tem uma vida, que assim como a minha,

poder ter uma travessia bem mais difícil e uma verdade bem mais desoladora.

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TRAJETÓRIA ACADÊMICA DE

UM ESTUDANTE DE

ENFERMAGEM: DESAFIOS E

CONQUISTAS

Thairo Fellipe Freitas Oliveira

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Trajetória acadêmica de um estudante de enfermagem: desafios e conquistas

- 165 -

uito tempo se passou desde a minha escolha pela graduação em

Enfermagem. Nasci em uma cidade pequena no interior do Estado do

Maranhão chamada Zé Doca, não havendo oportunidades, em 2013 fui

morar com minha tia na Capital São Luís. Na busca de conseguir estudar em uma

faculdade, consegui entrar em uma instituição particular para cursar Enfermagem, fiquei

feliz por ter conseguido, pois foi o curso que sempre pensei em fazer, daí por diante tudo

estava estabilizado até que o esposo da minha tia começou a apresentar transtornos

mentais e agir de forma violenta. Não havendo mais condições de continuar o casamento,

se separaram, e então tive que trancar a faculdade e voltar para casa.

Meses depois, minha vó convidou-me a vir para o Ceará na busca de continuar

meus estudos, passei dias pesquisando uma nova oportunidade até conhecer a então

Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS. Logo que possível fui até a faculdade para

conhecê-la e ver a possibilidade de transferência. Em seguida, já estava tudo pronto,

aguardava apenas o início das aulas.

Assim que se iniciaram as aulas tive bastante dificuldade de adaptação, pois o

nível pedagógico e a carga horária da faculdade eram muito superiores aos das instituições

que antes estudava no Maranhão, exemplo disso foi a minha reposição em quase todas as

provas assim que comecei. Pensei então que não conseguiria por ser estudante de escola

pública e de um Estado que ocupa as piores posições no ensino do País, passando a me

dedicar mais às aulas e também a estudar em casa para conseguir um conceito satisfatório

nas disciplinas.

O tempo foi passando e percebi que a faculdade oferecia espaço para que o aluno

desenvolvesse atividades além da instituição, o que foi muito gratificante, pois encontrei

aqui o que outros locais não ofereciam, desde então procurei a coordenação de

Enfermagem e recebi total apoio para juntos desenvolvermos projetos e ações que

beneficiassem a instituição e a comunidade, formando assim um elo de extensão e

pesquisa.

Foi a partir desse auxílio que a faculdade ofereceu que começamos a trabalhar

com o projeto Novos Horizontes, que é uma comunidade filantrópica de acolhimento que

atende jovens e adultos provenientes do abuso de álcool e outras drogas na cidade de

Quixadá-CE. O espaço oferecido pela comunidade e o apoio da Unicatólica foram

fundamentais para aplicarmos na prática o que aprendemos em sala de aula, passando a

ser uma atividade de extensão e um campo de aprendizagem para acadêmicos.

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Durante o segundo semestre de 2016 realizamos várias atividades educativas com

roda de conversas aos moradores dos Novos Horizontes, projeto que demonstrou grande

eficácia, pois todos os integrantes participaram de forma ativa debatendo e esclarecendo

suas dúvidas. Posteriormente fizemos o que ficou conhecido como “manhã saudável”, na

qual foi feita a avaliação de saúde dos moradores, através de medições como índice de

glicemia, peso, altura, pressão arterial, testes rápidos e vários outros, logo em seguida foi

realizado um lanche natural com frutas e sucos, além de recomendações de educação em

saúde.

Sem dúvidas o fato mais importante e desafiador encontrado durante a avaliação

dos acolhidos foi que a sua necessidade assistencial não se limitava apenas a questões

físicas, estava além do que podíamos mensurar com qualquer material. Grandes histórias

de vida vivenciadas por pessoas em sua maioria jovens, que possuem famílias — filhos,

esposas — desestruturadas pelo uso de drogas, pessoas que antes trabalhavam e tinham

um bom relacionamento familiar, agora à mercê de substâncias químicas capazes de

destruir sonhos e vidas.

Assim, o curso de Enfermagem buscou individualmente prestar os cuidados

básicos a todos os moradores referentes à higiene corporal, alimentação, ingesta hídrica

e atividades físicas e, principalmente, ensiná-los a cuidarem de si mesmos. O que no início

se mostrou um grande desafio, no decorrer das atividades conseguimos realizar o nosso

objetivo e proporcionar às pessoas que precisam assistência à saúde de forma integral e

igualitária.

Não poderia deixar de citar aqui, os grandes que contribuíram e continuam a

contribuir de forma direta ou indireta para minha formação acadêmica, primeiramente a

Deus em quem tenho posto minha fé, e quem tem me sustentado de forma equilibrada em

seguir para os meus objetivos em meio a vários empecilhos, como saudades da família,

dos amigos e da cidade natal, dificuldades financeiras, moradia...

Minha mãe Francisca Vilanir, que sempre acreditou no meu potencial e estimulou-

me a seguir em frente durante toda a minha trajetória, minha avó Maria da Conceição,

que é quem mora comigo desde a minha chegada ao Ceará e minha entrada na

Unicatólica, a todos os meus familiares; meus grandes mestres da Enfermagem profa.

Eudênia Oliveira, prof. Paulo Jorge, profa. Samia Jardelle e Regina Kelly, a quem devo

minha gratidão pelos ensinamentos, e quem servem de “espelho” profissional e humano

do que é ser enfermeiro. Sinto-me feliz e realizado por saber que a cada dia que passa

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Trajetória acadêmica de um estudante de enfermagem: desafios e conquistas

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mais perto fica de tornar-me enfermeiro e voltar para minha terra para cuidar do meu

povo carente.

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UM JOVEM FILÓSOFO

Luciano Oliveira Paulo Filho

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Um jovem filósofo

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ou Luciano, tenho 20 anos, sou natural de Fortaleza e hoje moro em Quixadá,

atualmente sou estudante, estou cursando Filosofia (Bacharelado) pelo Centro

Universitário Católica de Quixadá – Unicatólica e também trabalho num projeto

do governo como cuidador em uma escola municipal de Quixadá. Minha história de vida

é marcada por dois grandes momentos, o primeiro, quando morava em Fortaleza. Fui

criado em um bairro pobre da Capital chamado Álvaro Weyne, e consequentemente,

minha família também o era.

Quando criança estudei em escolas públicas, minha educação básica foi

prejudicada pela precariedade ali presente, porém, mesmo inserido nestas condições

contrárias — pobreza, falta de estrutura física e até familiar — consegui avançar na minha

educação primária, embora tenha me causado atraso intelectual.

Todavia, no ensino fundamental algo me atraiu muito, a alegria da minha

professora de história era contagiante e ela tinha um domínio do conteúdo diferente dos

outros professores, era notável a alegria dela com a docência. Hoje me espelho nela,

também quero ser professor e contagiar meus futuros alunos assim como um dia fui

contagiado.

Esse primeiro momento da minha vida é marcado por situações humanamente

adversas, pois aos 9 anos de idade acontece a morte do meu pai, que de uma forma direta

mexeu absurdamente comigo e minha família. Com tudo isso, minha guerreira mãe dona

Marinete decide se mudar para Quixadá, terra de minha avó dona Rosália, e daí em diante

ocorre uma revolução interna na minha cabeça e uma descrença com a vida.

O segundo momento importante da minha vida, foi quando eu e minha família

fomos morar em Quixadá, cidade nova, povo novo, mas o mesmo desejo de lecionar

continuava. Mesmo morando em Quixadá, as condições não eram adequadas para uma

educação digna, primeiro porque não me interessava pelos estudos, na verdade, era

considerado na sala de aula um “aluno sem futuro” e até eu mesmo me classificava assim.

Contudo, o tempo foi passando e eu fui crescendo e vendo que poderia ser

diferente. Quando estava cursando o ensino médio, me encantei pela filosofia, ela passou

a ser não apenas uma disciplina como as outras, mas um estilo de vida, não faltava uma

aula de filosofia, fazia questão de sentar na primeira fila, para não perder nenhuma

informação. Dois amores cresciam na minha vida: aquele sonho de criança de lecionar,

ser professor, e a filosofia, que cada vez mais ocupa um lugar de destaque em minha vida.

Com o término do ensino médio, surgiu em minha casa, principalmente por parte

da minha mãe, dona Marinete, aquela famosa pergunta: O que você vai fazer da vida? No

S

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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meu coração já tinha a absoluta certeza do que queria para o futuro: ser professor de

filosofia, unir uma vontade de criança a um amor presente. Porém, antes de fazer o

vestibular para Filosofia, que era a minha vontade, influenciado diretamente pela minha

mãe, fui fazer vestibular para História, fui aprovado e comecei a estudar. Ser historiador

não me seduzia, até gostei das disciplinas e tudo, mas faltava algo, ainda cursei um

semestre de História e resolvi trancar o curso.

Contudo, a filosofia era o meu real objetivo, já não podia esperar mais, tinha que

fazer o vestibular para Filosofia. Foi quando abriram as inscrições do vestibular 2016.1

da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS, hoje Unicatólica, estudei bastante e fui

aprovado no curso que eu tanto sonhava. Os primeiros dias de aula foram estranhos,

colegas de sala que eu não conhecia, mas com o passar do tempo, fomos criando laços de

amizades. Cada aula era uma experiência nova, fiquei surpreso de como a filosofia

dialoga com outras áreas: Direito, Psicologia, Sociologia, História, dentre outras.

Em nenhum momento pensei em desistir do curso, porque me sentia e me sinto

satisfeito com a filosofia, os professores incríveis, a própria instituição de alta qualidade

e que ajuda na minha fé, pois participo dos eventos da pastoral universitária, das

formações e, principalmente, das missas que diariamente frequento. Portanto, a

Unicatólica é o lugar que além de ter o curso que sempre quis, o curso de Filosofia, tem

uma ótima estrutura física e cristã, a qualidade dos professores é notável, me proporciona

a vivência do evangelho.

Hoje, estou no terceiro semestre, muito feliz e satisfeito, espero me formar e assim

que terminar a graduação pretendo fazer uma pós-graduação ou ingressar no mestrado em

Filosofia, para que um dia eu possa ser professor de filosofia. Meu grande sonho é

trabalhar na Unicatólica, para contagiar as pessoas com o brilho desse campo de saber.

Antes eu não tinha perspectiva de futuro ou trabalho, qualquer coisa estava de bom

agrado, por muito tempo fui alguém sem sonhos, porque pensava pequeno e achava

confortável viver assim. Hoje, sou diferente, penso grande, sei os caminhos que devo

seguir, sou um jovem filósofo autêntico cheio de sonhos e tudo isso ocorreu com a

filosofia em minha vida e de uma forma direta é a Unicatólica que me proporciona alçar

gigantescos voos.

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UM NATAL DIFERENTE

Rosa Maria dos Santos Carvalho

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Um Natal diferente

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hegou, enfim, mais um dezembro, data que nos convida a pensar em como foi

o ano que passou. Com base nesta ideia, somos induzidos por um sentimento

reflexivo sobre como aproveitamos essas 365 oportunidades que nos foram

concedidas. Todo ano as minhas reflexões eram meio que repetitivas, se limitavam a

analisar como tinha sido como estudante, e quais seriam os possíveis métodos de

aperfeiçoamento para melhorar minha performance.

Logo, no último ano ao me colocar diante deste propósito, fiz uma viagem interior

mais longa, indo a lugares um pouco mais longes, sendo que estes não ficavam somente

no contexto do ciclo temporal que chegava ao fim, era uma reflexão sobre os passos dados

em toda uma vida. Estava de férias, algumas coisas se repetiam como sempre, arrumar a

mala com destino a casa da vó, na cabeça já havia todo o roteiro das atividades as quais

eu poderia desenvolver naquele ambiente.

Uma lista mental elaborada sobre quais filmes, livros e séries iam ocupar meu

tempo. Porém, ao pensar sobre como tinha sido o meu 2016, percebia que estava diante

de um universo bem maior, onde havia os planos de aperfeiçoamento, como também uma

autocobrança para não repetir os mesmos equívocos, só que agora estava diante de um

contexto diferenciado. Fazia poucos dias que havia acabado de concluir o primeiro

semestre da minha tão sonhada Psicologia. Confesso que era a primeira vez que parava

para pensar sobre esse assunto. Mentalmente, pensei: “YES, eu consegui, eu cheguei onde

eu sempre quis, eu não parei no meio do caminho, finalmente, sou uma universitária!”

Demorou para que tomasse posse desse pensamento e da veracidade do mesmo,

e, finalmente quando me convenci de tal certeza, me aprofundei ainda mais ao refletir não

somente o fato de ter chegado onde sempre desejei, mas também, me pus a indagar sobre

o longo caminho que percorri para chegar até aqui. Não podia esquecer o fato de que o

tempo nunca foi muito meu amigo, por questão de minutos, a minha vida foi

completamente “modificada”, eu não soube esperar o suficiente, a minha pressa

ocasionou um problema no parto aos 06 meses de gravidez. Veio então o diagnóstico:

paralisia cerebral neonatal — esta perduraria a vida inteira.

A falta de um atendimento rápido e eficaz realizado em plena Capital onde todos

julgavam que teriam um maior suporte a oferecer, me marcaria para sempre, os

comprometimentos da lesão foram relativamente sérios, principalmente nos primeiros

anos. Mas, apesar de toda aparente fragilidade, foi feita uma ressalva no terceiro ano de

vida, sendo que tal afirmação médica viria a ser decisiva para o meu desenvolvimento.

C

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Foi atestado que as lesões motoras eram praticamente irreversíveis, porém as

minhas funções cognitivas foram preservadas, com isso ficou estabelecido: Ela pode

estudar. Tudo isso se passou longe de casa e já estava na hora de deixarmos a Capital e

voltar para a nossa serra cearense.

Retornavam para casa aquelas que até hoje são inseparáveis: uma mãe com uma

filha e suas diferenças. No entanto, algo mais foi depositado na bagagem daquela criança,

que era uma indicação médica para que a menina estudasse, e, para quem olhava para

aparência dela, pouco falante e nem o pescoço segurava, não era difícil duvidar da sua

capacidade intelectual. Porém, o importante é que a pessoa mais importante não duvidou.

Chegava janeiro, eu tinha quase três anos quando minha mãe me matriculou em uma

escola regular.

Mais uma vez vieram as ressalvas, a menina iria precisar da companhia materna

durante a aula, já houve quem achou que isso não daria em nada, mas graças a Deus minha

mãe não desistiu e logo vieram os pequenos avanços, os quais se tornaram constantes,

passaram a ser comemorados. Minha fala desenvolvia, com pouco tempo depois já

conseguia ficar sozinha na escola.

Aprendi a ler no tempo certo junto com a turma, na formatura do ABC fui uma

das oradoras, a escrita nunca foi lá essas coisas, mas prestava muita atenção, afinal, não

aceitava uma nota senão um 10, competia no grupo de amigos para ver quem tirava nota

maior. A turma cresceu junta, um ou outro saiu ou entrou, e a gente continuava a criar

disputas para ver as melhores notas, devo muito aos meus amigos que faziam trabalho

comigo e me auxiliavam em tudo, de maneira muito natural. A escola era o meu paraíso,

amava estar lá, queria ir até fim de semana.

Quando fui para o fundamental II a dinâmica de cara me assustou um pouco,

muitos professores, mais conteúdo. Naquela época, embora não tivesse medo eu ficava

insegura, já que carregava o título de uma das melhores da turma. Logo, já estava

habituada a esse novo desafio, docentes e todo núcleo escolar sempre fizeram de tudo

para que fosse capaz de evolução, desde adaptações físicas para que pudesse ter acesso a

todos os espaços da escola até mesmo atenção para as avaliações de maneira justa e

adequada.

Eu não posso deixar de citar o episódio onde a escola resolveu estimular a leitura

dos alunos. Eu, como não podia ir pela manhã fazer o resumo, dobrava o número de livros

e, no outro dia, no recreio, oralmente fazia os resumos. Ganhei como o melhor resumo e

fiquei entre os primeiros que leram mais livros, eu sempre gostei de fazer um pouco mais

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Um Natal diferente

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do que o imposto. E se aproximava a tão sonhada festa de formatura, estava muito feliz,

a felicidade não cabia dentro de mim, porém, quando realmente vi que sairia dali, então

veio o choque de realidade, eu estava saindo da minha segunda casa, eu ia mudar de

escola, os amigos também, como eu viveria longe dos pátios das Duas Irmãs, sem meus

amigos, sem os professores, sem as gincanas?

Eu sentia uma mistura de medo e saudade. Mas logo comecei a perceber que eu

tinha a missão de honrar o empenho da minha mãe, dos meus professores, dos meus

amigos e até mesmo do meu fiel moto táxi que me levava para escola. Isso me fez perceber

que era necessário alçar voo em busca de novas conquistas.

Comecei a pensar para onde iria, uma escola regular de meio período, ou a nova

escola profissionalizante que acabara de abrir na cidade. A faculdade era um sonho,

porém eu mesma achava um pouco distante da minha realidade. Afinal, eu queria estar

inserida dentro do seu espaço físico, e talvez Quixadá não daria certo, portanto concluí

que deveria ir para a escola técnica já que de lá sairia pelo menos com um curso.

Não que tivesse ou tenha alguma rejeição ao ensino a distância, mas eu sonhava

em viver a experiência dentro de um campus, e até o presente momento via isto como

algo impossível. A escola profissionalizante era bem maior, na turma houve dificuldade

no começo, porém eu sempre achava um jeito de resolver, eu não quis de jeito nenhum

sair de lá.

O curso não tinha muito a ver comigo, mas como era de minha vontade

permanecer, me formei, sou técnica em agronegócio. Lá, minha visão se estendia, e agora

conseguia almejar de maneira mais real a minha graduação. O tempo foi tendo o seu

curso, a segunda formatura ocorreu e até adentrar às dependências da Unicatólica pela

primeira vez foi necessário aguardar um ano e meio. Nesse período me fiz inúmeros

questionamentos, já que perdi dois vestibulares por conta da dificuldade de transporte,

gerando inúmeros pensamentos de por que tanta demora.

Para passar o tempo, após ver uma reportagem e sem nada para fazer, decidi

prestar concurso para o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). Comecei sozinha, de

forma um tanto equivocada, comprando a primeira apostila na primeira banca que

encontrei. A minha vontade era “devorar” o conteúdo, mas aquele livro mais parecia uma

pedra, a sua extensão me cansava fácil. Foi aí que recebi a informação de um cursinho

em Quixadá, me matriculei, e passei a ir no ônibus da faculdade. O cursinho veio me dar

a certeza de que apesar de ser 120 km de casa até Quixadá, era cansativo, contudo dava

para encarar.

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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Quando o ônibus parava em frente a faculdade e todos desciam, ficava sonhando

como devia ser a faculdade por dentro. Minha reflexão natalina me trouxe a certeza de

que tudo valeu a pena, de que eu posso me aprimorar cada vez mais para ser uma boa

universitária, que é só o começo, tenho muitos desafios e medos para enfrentar, mas o

meu sonho é maior, e como diz Renato Russo: “Nunca deixem que lhe digam que não

vale a pena lutar pelo sonho que se tem”.

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UMA VIDA DE SUPERAÇÃO

Maria Lucieuda Girão Mendes

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Uma vida de superação

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eu nome é Maria Lucieuda Girão Mendes, tenho 40 anos, acadêmica em

Psicologia, atualmente estou no 6° semestre desse curso na Unicatólica.

Através da minha trajetória acadêmica quero descrever as minhas

dificuldades e superações no decorrer do curso.

O meu sonho era cursar faculdade de Enfermagem, mas devido ao pensamento de

que não era mais o meu tempo, fui me acomodando e deixando o tempo passar. Tinha

concluído o ensino médio no EJA (Educação de Jovens e Adultos), fazendo três anos em

um ano e meio, e isso me trouxe prejuízo, pois avancei várias etapas do meu estudo. Se

estivesse feito ano por ano seria mais proveitoso, teria um aproveitamento melhor e

desenvolvido de melhor forma a aprendizagem. Porém, passaram 14 anos para que

pudesse ingressar em uma instituição. Houve um grande incentivo do meu esposo, que

sempre me dizia que nunca era tarde, e que o nível superior faria muita diferença na minha

vida profissional e pessoal. Mas, mesmo com o apoio do meu esposo, me deparava com

certa fragilidade em conciliar família, casa, trabalho e vida pessoal, porém, diante das

minhas responsabilidades, sabia da necessidade de cuidar de mim.

Psicologicamente, me sentia muitas vezes sufocada, querendo dar conta de todos

os afazeres, mas sempre na busca de melhorar como mãe, esposa e no trabalho, onde

exercia o cargo de técnica de Enfermagem, telefonista e auxiliar em departamento

pessoal, lidando com pessoas que exigiam cautela em seu atendimento. Era necessário

saber ouvi-las e tomar cuidado para que elas pudessem exercer suas funções. Foi a partir

do escutar, da troca que fazíamos nas conversas, que muitos desafogavam seus

sofrimentos.

Diante dessas experiências, partindo na busca de uma auto compreensão, busquei

olhar para a minha história e de pessoas que passavam por mim, e descobri que a

enfermagem cuida do outro, mas a psicologia estava sempre em mim, pois a mesma busca

compreender a subjetividade da pessoa, lidando com o sofrimento psíquico, a busca de

compreender a si mesmo para depois compreender o outro, e a partir dessa descoberta

tomei a decisão de prestar vestibular para o curso de Psicologia.

Quando passei pela primeira etapa, ser aprovada para mim foi uma grande vitória.

Depois de seis meses, comecei o curso sem ter a noção de como ia me adaptar a essa nova

etapa da minha vida. Se antes eu achava difícil tomar a decisão de realizar esse sonho,

difícil foi dar segmento a cada dia, pois me deparei com um novo ritmo exigido na

faculdade, e devido a essas carências não tinha uma desenvoltura apropriada, pois era

preciso participar, e só assim eu iria expressar as minhas dificuldades. Quando me

deparava com os colegas expondo suas opiniões as quais eu não compreendia, isso era

M

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Histórias de vida: trajetórias estudantis no Sertão Central

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torturante, pois vinha um sentimento de incapacidade que, por muitas vezes, quis me fazer

desistir, principalmente quando chegaram as primeiras avaliações, em que minhas notas

não foram boas. Precisava me dedicar e estudar mais, mas não estava conseguindo

conciliar o tempo, pois saía do trabalho direto para a faculdade e, ao retornar, tinha as

tarefas do lar, era muito difícil, pensei que não conseguiria concluir o primeiro semestre.

A partir do terceiro semestre ouvi muito a professora Cândida falar sobre a

importância da terapia, foi aí que coloquei como esperança a solução desses problemas

no processo terapêutico. Hoje, posso dizer que foi realmente de extrema importância dar

início a esse procedimento, pois foi na terapia que consegui vencer os medos que me

impediam de seguir.

Olho para minha história, principalmente a infância, e vejo que do seio da família

veio minha formação como pessoa. O mais extraordinário que descobri na terapia foi que

o ambiente em que me encontrava quando criança não foi o fator determinante da minha

formação, tive autonomia, mesmo sem compreender, fiz minhas escolhas e assim pude

superar uma infância traumática que hoje posso relatar com um sorriso que expressa

vitória.

Pude compreender que por estar inserida em uma faculdade renomada, o sonho de

muitos, precisava dar o meu melhor, ser grata por essa conquista e usufruir da mesma,

meu foco precisava ser a faculdade e concluir o curso pretendido.

Toda essa trajetória não seria possível se nosso Senhor Jesus Cristo não estivesse

comigo, pois foi ele, em primeiro lugar, que me permitiu lutar e vencer, colocando

suportes ao meu alcance para que eu pudesse prosseguir, sendo essas bases compostas

por amigos, em especial Tamara e Jozirene, que por diversas vezes me ouviram, me deram

um pouco do seu tempo para chorar quando eu não suportava o sofrimento psíquico

devido às sobrecargas. A elas o meu agradecimento pela dedicação e companheirismo.

Através das dificuldades fui melhorando e vencendo os obstáculos, mas tendo

certeza que ainda tenho muito a aprender. A escolha do curso foi de suma importância,

pois a cada disciplina era um desafio que eu conseguia ver como primordial para a nossa

vida acadêmica, e aos poucos fui me alicerçando e fortificando-me quanto a minha

escolha.

Às vezes, me sentia diferente de muitos, ao ouvir os comentários das abordagens

que os demais se identificavam. E quanto a mim, não tinha uma preferência, pois gosto

de todas as linhas de estudo da Psicologia, com suas diferentes complexidades. Agora, no

sexto semestre e cursando a disciplina de psicopatologia, que é ministrada pela professora

Milena, a qual me norteou e proporcionou-me descobrir que não existe apenas um

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Uma vida de superação

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segmento, decidi que serei psicóloga, e irei trabalhar com pessoas em suas diversas

particularidades, cada abordagem terá a sua importância, uma complementando a outra.

Diante de tantos desafios, tenho a certeza que fiz a escolha certa, pois ser psicóloga é

saber lidar com o outro a partir de si mesmo.

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ORGANIZADORAS

ADRIANA DE ALBUQUERQUE PEREIRA

É mestra em Educação pela Florida Christian University – FCU. Possui graduação em Psicologia através do Centro Universitário

Católica de Quixadá – Unicatólica e graduação em Licenciatura

em História pela Universidade Estadual do Ceará – UECE.

Especialista nas áreas de Educação Global, Educação Especial e

em Psicopedagogia. É professora da Prefeitura Municipal de

Quixadá/CE e Psicopedagoga do Núcleo de Apoio

Psicopedagógico – NAP do Centro Universitário Católica de

Quixadá – Unicatólica.

CÂNDIDA MARIA FARIAS CÂMARA

Possui mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do

Ceará – UFC com estudo na Linha de Pesquisa – Processos de

Mediação: trabalho, atividade e interação social. Graduou-se em

Psicologia pela UFC. É psicóloga comunitária e escolar e ex-

integrante do Núcleo de Psicologia Comunitária – NUCOM.

Atualmente integra o corpo docente da Unicatólica, coordena o

Núcleo de Apoio Psicopedagógico – NAP e o Grupo de Estudo,

pesquisa em Psicologia, Arte e Educação – GEPAE.

FRANCISCA ALDENISA PEIXOTO DA SILVA

É mestranda em Educação pela Florida Christian University –

FCU. Graduanda em Letras/Libras pela Universidade Federal de

Santa Catarina – UFSC e Letras/Português pela Universidade

Estadual do Vale do Acaraú – UVA. Especialista em Libras,

Educação Inclusiva, Educação Global, Inteligências Humanas e

Construção da Cidadania. É professora e intérprete de Libras no

Centro Universitário Católica de Quixadá – Unicatólica e tutora

presencial da Universidade Federal do Ceará – UFC.

MARLENE GOMES GUERREIRO

É mestra em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia

Universidade Lateranense, bacharel em teologia e psicologia

pela Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS, sendo, ainda,

especialista em Psicopedagogia pela Faculdade INTA e em

Docência no Ensino Superior pela Faculdade Católica Rainha do

Sertão – FCRS. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase

em Doutrina social da Igreja e em Psicologia.