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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: O conto literário como meio de aproximar os alunos e a literatura clássica
Autor Cristiani Schneider
Escola de Atuação Colégio Estadual Macedo Soares
Município da escola Campo Largo
Núcleo Regional de Educação
Área Metropolitana Sul
Orientador Professora Dra. Anna Beatriz da Silveira Paula
Instituição de Ensino Superior
UFPR
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica
Unidade Didática
Relação Interdisciplinar
Público Alvo Alunos do 9º ano (8ª série) do Ensino Fundamental
Localização Colégio Estadual Macedo Soares – Rua Rui Barbosa, nº 1231, Campo Largo, PR
Apresentação: JUSTIFICATIVA: É preciso desenvolver atividades que visem à disseminação da leitura e à formação de leitores literários. A linguagem literária traz informações implícitas, recursos expressivos, manifesta diferentes
vozes sociais e revela pontos de vista. Quanto mais habilidade e experiência de leitura, maior será a percepção dessas particularidades da obra literária por parte do leitor. Optou-se pelo conto literário como ponto de partida para esse trabalho pois sua brevidade pode ser um elemento aproximador entre os alunos e a literatura clássica.OBJETIVOS: Levar quem lê a perceber as imensas possibilidades de um texto literário e tudo o que nele está contido de conhecimento, sabedoria e informação. Ampliar a familiaridade dos alunos com a Literatura. METODOLOGIA: Serão realizadas rodas de leitura de contos Luiz Vilela, Carlos Drummond de Andrade e Anton P. Tchekhov. Como estratégia de leitura será aplicada a teoria da Estética da Recepção, a qual sugere que existe uma relação entre obra, autor e leitor; pois a obra traz a representação de mundo do autor que se contrapõe com a representação de mundo do leitor que vai preenchendo os pontos obscuros do livro a partir de seu horizonte particular. O método recepcional ocorre em cinco etapas:
1) Determinação do horizonte de expectativas2) Atendimento do horizonte de expectativas3) Ruptura do horizonte de expectativas4) Questionamento do horizonte de expectativas5) Ampliação do horizonte de expectativas
Palavras-chave Literatura, leitura, conto literário
1 APRESENTAÇÃO
Esta Unidade Didática propõe a realização de encontros para leitura de
contos de Luiz Vilela, Carlos Drummond de Andrade e de Anton P. Tchekhov e,
como estratégia, será aplicada a teoria da Estética da Recepção. As atividades
de leitura estão direcionadas para alunos do 9º ano (8ª série) do Ensino
Fundamental.
Serão cerca de dezoito rodas de leitura. Considerando-se que serão
realizadas atividades antes e depois da leitura de cada texto, foram
selecionados três contos a partir dos quais elaboramos exercícios de recepção
e compreensão. De Luiz Vilela optou-se por As formigas; de Carlos D. de
Andrade, A incapacidade de ser verdadeiro e de Tchekhov, Gricha. Em todos
eles, os autores descrevem o mundo sob os olhos da infância.
O trabalho será desenvolvido de acordo com as indicações de Maria da
Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, no livro A formação do leitor:
alternativas metodológicas. Segundo as autoras, o processo de recepção deve
se iniciar antes do contato do leitor com o texto, portanto, os contos não serão
apresentados de imediato aos alunos. Mas antes será feita a determinação do
horizonte de expectativas do grupo. Nesse momento, se buscará conhecer as
preferências de leitura e opiniões em relação aos temas que aparecem nos
textos selecionados. Para a elaboração deste material fez-se uma pesquisa na
biblioteca da escola sobre os livros mais procurados pelos alunos. Entre as
obras mais lidas do ano de 2010 encontramos o livro Contos da infância e da
adolescência, de Luiz Vilela, do qual escolhemos o conto As formigas cuja
linguagem é atual e a temática da infância irá se repetir contos de Drummond e
Tchekhov que serão trabalhados nas etapas seguintes. Esses últimos, por
apresentar vivências culturais diferentes e técnicas compositivas mais
complexas, causarão estranhamento e exigirão mais esforço de compreensão.
Pretende-se, no decorrer do processo (que não se encerra com esta
Unidade), que as exigências dos alunos na escolha das leituras se tornem
maiores e sua capacidade de reflexão aumente.
2 A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
As Diretrizes Curriculares do Paraná, fundamentadas nas ideias de Hans
Robert Jauss, falam da literatura como parte importante na formação dos
alunos e pedem que ela seja ensinada a partir dos pressupostos teóricos da
Estética da Recepção. Essa teoria sugere que existe uma relação entre obra,
autor e leitor; pois a obra traz a representação de mundo do autor que se
contrapõe com a representação de mundo do leitor. No livro A formação do
leitor: alternativas metodológicas, essa relação é assim apresentada:
... o processo de concretização como interação do leitor com o texto, em que este atua como pauta e tudo o que não diz ou silencia cria vazios que forçam aquele a interferir criadoramente no texto, a dialogar com ele, de igual para igual, num ato de comunicação legítimo.” (BORDINI e AGUIAR: 1988, p. 82)
O método recepcional no ensino da literatura propõe a evolução do
aluno como leitor e enfatiza justamente as chamadas “obras difíceis” porque
elas se afastam daquilo que é conhecido e esperado e, por isso, têm poder
transformador. Se o livro escolhido por alguém está muito próximo do sistema
de valores desse leitor, seu horizonte de expectativas permanece o mesmo e
sua posição psicológica é confortável e ele, muito provavelmente, classificará a
leitura como boa e recomendável. Por outro lado, as obras que desafiam a
compreensão e geram conflito por não refletirem as mesmas concepções de
mundo do leitor ou por se distanciarem muito no tempo e espaço não têm muita
aceitação. Os objetivos a serem alcançados e que garantem o sucesso do
método recepcional são os seguintes:
“(1) Efetuar leituras compreensivas e críticas; (2) ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem; (3) questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural e (4) transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social” (BORDINI e AGUIAR: 1988, p. 86)
Para a aplicação de atividades de literatura a partir desse método, as
autoras (1988, p. 88 – 90) propõem cinco etapas. A primeira delas é a
determinação do horizonte de expectativas, ou seja, um diagnóstico da turma
em relação aos seus gostos de leitura, seus valores, preconceitos, preferências
de lazer e crenças. Essas informações podem ser levantadas através de
conversas com os alunos, discussões, observação do comportamento da
turma, questionários ou dinâmicas. Neste material optou-se por verificar na
biblioteca da escola quais foram os livros mais procurados pelos alunos no ano
de 2010
Conhecidos os interesses do grupo, passa-se ao atendimento dos
horizontes de expectativas. Este estágio do projeto consiste em levar para a
classe texto que satisfaçam aos gostos observados. Esses textos podem ser
literários ou pertencer a outros meios de expressão como histórias em
quadrinhos, charges entre outros. Escolhemos para primeira leitura o conto As
formigas por atender ao gosto dos alunos e por ser uma narrativa simples –
ainda que guarde conteúdos profundos – com linguagem de fácil compreensão.
A terceira etapa é chamada de ruptura do horizonte de expectativas. É o
momento em se oferta aos alunos textos que abalem suas concepções de
mundo, suas certezas. Entretanto, é necessário que esses textos se
assemelhem aos anteriores em um aspecto, seja a temática, a estrutura ou a
linguagem para manter um vínculo com a etapa anterior. Os demais elementos,
porém, devem ser completamente diferentes para que os alunos se deem
conta de que estão sendo apresentados a algo novo.
A seguir ocorrerá a etapa do questionamento do horizonte de
expectativas. Aqui a turma deverá fazer uma comparação entre as etapas
anteriores, decidindo quais textos lhes exigiram maior grau de reflexão, maior
descoberta de sentidos e, por consequência, maior grau de satisfação. Espera-
se que o grupo faça um debate sobre seu comportamento em relação às
leituras realizadas, que juntos visualizem o processo de superação dos
obstáculos na compreensão do material de leitura. Além disso, é preciso, nesse
momento, levar os alunos a perceberem que conhecimentos por eles
adquiridos anteriormente lhes proporcionaram condições para entender muitas
situações descritas nos textos, resultando numa reflexão sobre as relações
entre a leitura e a vida.
Parte-se então para a ampliação do horizonte de expectativas, última
etapa do processo. Como resultado da reflexão anterior, os leitores tomam
consciência das mudanças de sua visão de mundo a partir das experiências
que tiveram com a literatura. Conscientes do que a literatura oferece para seu
crescimento, a partir dessa etapa, espera-se que o aluno dê continuidade ao
processo, numa busca constante de leituras mais desafiadoras e
enriquecedoras.
A avaliação dos alunos acontece a cada etapa do processo. No decorrer
dos trabalhos, eles devem ser capazes de comparar todas as leituras
realizadas e de revisar criticamente seu próprio comportamento, o que
resultará na ruptura do horizonte de expectativas e, consequentemente, sua
ampliação. O professor deve ser capaz de provocar a participação dos alunos
nesse processo e de criar situações que propiciem as discussões do grupo.
3 ATIVIDADES
JOGO DOS RÓTULOS – Como primeira atividade desta Unidade Didática foi
escolhida uma dinâmica de grupo porque entende-se que para haver um
diálogo entre leitor e texto é preciso motivação e envolvimento. O Jogo dos
Rótulos é um exercício de sensibilização que motiva os participantes a
partilharem seus sentimentos com o grupo. Esse entrosamento da turma é
muito importante para o sucesso da proposta nas etapas seguintes.
OBJETIVOS
Perceber que as palavras estão carregadas de sentidos.
Estimular a interação entre os alunos.
Levantar questionamentos sobre os “rótulos” que atribuímos a pessoas e
situações.
TEMPO ESTIMADO: 2 aulas
O professor deverá trazer preparado o material para a dinâmica: fita
crepe e várias tiras de papel, cada uma com um “rótulo” e o comportamento
que o grupo deve apresentar diante do aluno que exibir a tira. Por exemplo:
AGRESSIVO
Afastar-se o máximo possível
DEDO DURO
Vaiar
MENTIROSOTapar os ouvidos
Ao produzir as tiras com os rótulos, o professor deve partir das
dificuldades de relacionamento ou preconceitos detectados entre os alunos. A
dinâmica desenvolve-se da seguinte maneira:
Formar um círculo com os alunos em pé.
Orientar os alunos sobre o funcionamento do jogo.
Pedir que alguns alunos permitam que lhes sejam colados os rótulos na
testa.
Colar um rótulo na testa de cada aluno voluntário sem que ele veja o que
está escrito no papel.
Pedir que os alunos circulem pela sala e formem grupos.
Os alunos com os “rótulos” devem se aproximar dos demais para tentar
interagir, mas sempre são recebidos com a reação descrita sob o “rótulo”
na testa.
Dar um tempo para que o grupo reaja e depois pedir que voltem à roda
inicial.
Pedir que os alunos retirem o papel da testa e leiam seu rótulo para saber o
porquê da reação dos colegas.
Estimular e mediar uma conversa em que se fale sobre:
• O que sentiram diante da reação dos colegas.
• Em que situações da vida real os alunos já vivenciaram algo semelhante.
• Se os rótulos e os preconceitos têm o poder de impedir ou dificultar a
convivência.
• O que pode ser feito para melhorar a convivência daquela turma.
Garantir que os alunos reflitam sobre superficialidade do julgamento
preconceituoso.
ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA LEITURA E LEITURA DOS CONTOS
OBJETIVOS
Expressar ideias sobre a infância.
Refletir sobre as relações pessoais.
Compreender melhor a individualidade humana.
Desenvolver a competência leitora.
Estabelecer relações entre o lido e o conhecido/vivido.
Perceber alguns efeitos estéticos da obra literária.
Desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o
senso crítico.
Levar quem lê a perceber as imensas possibilidades de um texto literário e tudo o que nele está contido de conhecimento, sabedoria e informação.
Ampliar a familiaridade dos alunos com a Literatura.
RESUMO DOS CONTOS
AS FORMIGAS, de Luiz Vilela, disponível em
http://www.analisedetextos.com.br/2009/11/uma-formiga-professora.html
Trata- se de uma narrativa curta que tem como personagem um menino
que se diverte conversando com as formigas que saem da rachadura da
parede de seu quarto. Esse mundo de fantasia é desfeito pelo pai que conserta
a rachadura na parede e provoca no filho uma grande revolta e frustração.
A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO, de Carlos Drummond de Andrade,
disponível em http://judoepoesia.blogspot.com/2006/06/incapacidade-de-ser-
verdadeiro-carlos.html
Paulo é um menino conhecido pelas histórias incríveis que inventava e,
por causa disso, era castigado com frequência. Certo dia, a mãe o levou ao
médico por conta das fantasias do filho. Após examiná-lo, o doutor conclui que
o garoto era um caso de poesia.
GRICHA, de Anton Tchekhov, disponível em
http://www.bestiario.com.br/19_arquivos/gricha.html
Tchekhov escreve o conto sob a perspectiva de Gricha, um menino de
dois anos que sai à rua pela primeira vez guiado por sua babá. À medida que
vão caminhando, Gricha se encanta e se assusta com o mundo novo que lhe
aparecesse diante dos olhos. Assim como em As formigas e em A
incapacidade de ser verdadeiro, nesse conto o adulto é incapaz de
compreender o universo infantil.
ATIVIDADES COM O CONTO AS FORMIGAS
TEMPO ESTIMADO: 5 AULAS
Como preparação para a leitura do conto, organizar uma roda de
discussão sobre o mundo infantil: suas necessidades, seus
pensamentos, seus relacionamentos com as outras pessoas, sua
linguagem e a maneira como tudo isso é interpretado pelos adultos.
Pedir que os alunos descrevam em seu caderno a sensação infantil mais
remota que guardam na lembrança. Esse relato será utilizado
posteriormente. Essa atividade, assim como a discussão inicial, está
relacionada ao fato de que os contos desta Unidade Didática abordam
as percepções de mundo das crianças. Assim, os alunos poderão
estabelecer relações e criar sentidos aos textos lidos.
Entregar a cada aluno uma cópia do conto As formigas e pedir que
façam uma leitura silenciosa.
Após a leitura, conversar com os alunos sobre os seguintes aspectos do
conto: as impressões da personagem sobre as formigas; a comparação
que o garoto faz entre formigas e pessoas; a incompreensão dos adultos
pelo universo infantil e outros aspectos que os alunos possam perceber.
Incentivar e permitir que os estudantes verbalizem suas impressões
sobre a personagem e, caso sintam-se à vontade, façam relatos
pessoais sobre sua infância.
Solicitar aos alunos que produzam uma história em quadrinhos, um
poema ou uma notícia adaptando o enredo do conto As Formigas. Essa
atividade pode ser realizada em duplas.
ATIVIDADES COM O CONTO A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO
TEMPO ESTIMADO: 6 aulas
Dar a cada aluno uma cópia do texto e fazer uma leitura em voz alta.
Promover uma discussão com a turma sobre o tema PAULO ERA
REALMENTE UM MENINO MENTIROSO? Passos para organizar a
discussão:
• Dividir a turma em dois grupos: um para defender que Paulo
mentia propositadamente e outro para defender que Paulo não
mentia, mas acreditava em suas fantasias.
• Dar um tempo para cada grupo organizar as ideias a serem
defendidas.
• Cada grupo deve escolher um integrante para fazer a exposição
do ponto de vista defendido.
• O professor estipula um tempo para apresentação dos grupos.
Por exemplo: 10 minutos.
• Cada grupo apresenta seu ponto de vista.
O conto termina com a seguinte fala do médico: “- Não há nada a fazer,
Dona Coló. Esse menino é mesmo caso de poesia.” A partir desse
trecho, pedir que os alunos respondam a seguinte pergunta: O poeta é
aquele que mente? Utilize um poema para justificar sua resposta.
Professor, para os alunos responderem à questão proposta, leve vários
livros de poesia para a sala de aula. A atividade pode ser realizada em duplas
ou trios que ao final devem apresentar sua conclusão para a turma.
ATIVIDADES COM O CONTO GRICHA
TEMPO ESTIMADO: 5 aulas
Dar a cada aluno uma cópia do conto.
Pedir que os alunos façam uma leitura silenciosa do texto e, em seguida,
ler o conto em voz alta.
Conversar sobre o enredo do conto e esclarecer possíveis dúvidas sobre
o vocabulário.
Solicitar dos alunos a produção um conto a partir da sensação infantil
que cada um relatou em seu caderno no início da Unidade.
No último encontro, os alunos lerão suas produções.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos Plausíveis. 9. ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009.
ANTUNES, Celso. Manual de técnicas de dinâmica de grupo de sensibilização de ludopedagogia. 10. ed. Petrópolis: vozes, 1996.
BORDINI, Maria da Glória & AGUIAR, Vera Teixeira de. A formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa, Paraná, 2009. http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br
TCHEKHOV, Anton Pavlovitch. O malfeitor e outros contos da velha Rússia. São Paulo: Ediouro, 1993.
VILELA, Luiz. Contos da infância e da adolescência. 2. ed. São Paulo: Ática, 2005.