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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: Cantigas Medievais de Amor e Amigo

Autor Verenita Maria Heckler Comin

Escola de Atuação Colégio Estadual Euclides da Cunha – Ensino

Fundamental e Médio

Município da escola Matelândia

Núcleo Regional de

Educação

Foz do Iguaçu

Orientador Prof.ª Dra. Martha Ribeiro Parahyba

Instituição de Ensino

Superior

Unioeste – Foz do Iguaçu

Disciplina/Área (entrada no

PDE)

Português

Produção Didático-

pedagógica

Cantigas Medievais de Amor e Amigo em Quadrinhos

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as

diferentes disciplinas

compreendidas no trabalho)

Público Alvo

(indicar o grupo com o qual

o professor PDE

desenvolveu o trabalho:

professores, alunos,

comunidade...).

Alunos do 1º ano do Ensino Médio

Localização

(identificar nome e endereço

da escola de

implementação)

Colégio Estadual Euclides da Cunha, Rua Napoleão

Laureano 642, Centro, Matelândia, Paraná.

Apresentação:

(descrever a justificativa,

objetivos e metodologia

utilizada. A informação

deverá conter no máximo

1300 caracteres, ou 200

palavras, fonte Arial ou

Times New Roman,

tamanho 12 e espaçamento

simples)

Este estudo objetiva conhecer a poesia trovadoresca da

literatura medieval, bem como as características das

cantigas de amor e de amigo. Mais precisamente, nas

primeiras manifestações literárias que constituem o

movimento denominado Trovadorismo. Um período

essencialmente poético, repleto de cantigas medievais,

cujo idioma empregado é o galego-português, o que

torna difícil a compreensão, pois não desperta interesse.

Para auxiliar nesse processo de aquisição-compreensão

da aprendizagem, é necessário contextualizar esse

importante período literário, contextualizando a Idade

Média e a atualidade, buscando semelhanças entre a

poesia dos trovadores e as manifestações artísticas

contemporâneas, seja na poesia ou em quadrinhos. A

Literatura comparada serve como caminho na busca por

intertextos separados há séculos. Fazer paralelos entre o

presente e o passado possibilita inúmeras maneiras de

ver e encarar as coisas de um modo novo.

Palavras-chave (3 a 5

palavras)

Literatura; Cantigas Medievais; Quadrinhos;

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

VERENITA MARIA HECKLER COMIN

UNIDADE DIDÁTICA: CANTIGAS MEDIEVAIS

Matelândia

2011

VERENITA MARIA HECKLER COMIN

UNIDADE DIDÁTICA: CANTIGAS MEDIEVAIS

Produção Didático-Pedagógica constituída na formade Unidade Didática, apresentada como um dosrequisitos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2010/2011, ofertado pela Secretaria deEstado da Educação do Paraná, em parceria com aSecretaria de Tecnologia e Desenvolvimento.

Orientadora: Profa. Dra. Martha Ribeiro Parahyba (Unioeste – Foz do Iguaçu/PR)

Matelândia

2011

SUMÁRIO

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO.............................................................................................

2 TÍTULO.............................................................................................................................

3 JUSTIFICATIVA..................................................................................................................

4 PROBLEMATIZAÇÃO........................................................................................................

5 OBJETIVOS........................................................................................................................

5.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................

5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................................

6 APRESENTAÇÃO DA UNIDADE DIDÁTICA....................................................................

6.1 AS CANTIGAS TROVADORESCAS................................................................................

6.2 OS CANCIONEIROS MEDIEVAIS..................................................................................

6.3 AS CANTIGAS LÍRICAS (DE AMOR E AMIGO)............................................................

6.4 CANTIGAS DE AMIGO..................................................................................................

7 PROPOSTAS DE ATIVIDADES ........................................................................................

7.1 OS GÊNEROS..............................................................................................................

8 DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE............................................................................

8.1 OBJETIVOS DAS ATIVIDADES.......................................................................................

8.2 ENCAMINHAMENTO DAS ATIVIDADES....................................................................

9 SUGESTÕES DE LEITURAS.........................................................................................

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................

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PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: UNIDADE DIDÁTICA

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professora PDE: Verenita Maria Heckler Comin

Área: Língua Portuguesa

NRE: Foz do Iguaçu

Professora Orientadora IES: Profa. Dra. Martha Ribeiro Parahyba

IES vinculada: UNIOESTE – Foz do Iguaçu

Escola de Implementação: Colégio Estadual Euclides da Cunha – Ens. Fundamental e

Médio – Matelândia Pr.

Público objeto da intervenção: 1º Ano – Ensino Médio

2 TÍTULO

Cantigas Medievais de Amor e Amigo

3 JUSTIFICATIVA

Este Projeto volta-se para o estudo das cantigas líricas literárias cultivadas durante a

Idade Média em Portugal, entre os séculos XII e XIV, bem como para a análise da situação

histórica em que estas se desenvolveram. O estudo do medievo literário português, dada a

sua importância intrínseca, permite ao aluno conhecer algumas das características mais

importantes do lirismo trovadoresco. Além disso, proporciona aos alunos do 1º Ano do

Ensino Médio a compreensão da Literatura Portuguesa, por meio das cantigas medievais e

abre espaço para reflexões sobre as produções contemporâneas. Literatura comparada

serve como caminho na busca por intertextos separados há séculos. Fazer paralelos entre o

presente e o passado possibilita inúmeras maneiras de ver e encarar a realidade de um

modo diferente. É necessário contextualizar a Idade Média e a atualidade, buscando

semelhanças entre a poesia dos trovadores e as manifestações artísticas contemporâneas,

seja na poesia ou em letras de músicas.

A música está sempre presente na história da humanidade. Desde seu surgimento, na

solenidade do culto, ela expressa e se adequa a momentos alegres: festas e aos tristes:

exéquias. Enriquece-se com a dança. Sua marca não está apenas no passado. A música

deixa sua marca a qualquer tempo, pois trata de fatos que se repetem também na

2

atualidade. Ela se mantém presente na vida do ser humano, traduzindo sentimentos,

desejos e inspirações. Nessa junção de música encontram-se traços do trovadorismo

medieval no que se refere a suas letras, ou o que denominamos hoje que sejam as

chamadas cantigas de amor ou de amigo.

O homem de diferentes culturas, em seus primórdios, cultiva o canto, provavelmente

por associá-lo às atividades mais elementares, como ninar uma criança ou semear um

campo, ou à própria necessidade de manifestar seus sentimentos, como na festa, na

oração, no amor. A Idade Média assiste ao nascimento da poesia portuguesa ligando-a a

música, o que se explica pela natureza da alma humana, pela necessidade de memorizar os

textos a serem transmitidos oralmente, pela sonoridade característica da poesia, o que já

acontecia na civilização grega.

Ao propor a discussão da presença de influência do medieval, o primeiro passo é

deixar claro que as cantigas foram assim chamadas por infusão de melodia para maior

fixação de sua composição. Se há melodia, logo podemos denominá-la composição musical,

porém, para apresentar o que propomos, tratando de cantares d'amor e d’amigo

(denominação também designada a cantigas de amor e de amigo) não nos servimos

somente da questão “música” e sim a similaridade da “letra” da “poesia” em si, das cantigas

de amor e amigo em relação com a música.O estudo com cantigas medievais desenvolve o

senso crítico em relação ao processo artístico empreendido pelos agentes fundadores da

tradição literária portuguesa que permanece presente ainda nos dias de hoje. Entender

como nós, homens e mulheres contemporâneos, podemos construir paralelos entre o

passado e o presente.

4 PROBLEMATIZAÇÃO

Há dificuldade dos educandos se apropriarem dos estudos da lírica medieval, pois são

textos em galego-português, portanto de um lirismo estranho, quando comparados, por

exemplo, à poesia moderna, os poemas dos trovadores podem parecer ultrapassados

àqueles que fizerem apenas uma leitura superficial. Incontestavelmente, a lírica

trovadoresca encontra-se hoje ultrapassada, envelhecida para o gosto do leitor moderno.

Todavia, há de se tomar cautela a fim de não supor que tudo que caracterizou a lírica

trovadoresca está fadado ao esquecimento: seu primitivismo, a naturalidade dum lirismo que

parece brotar exclusivamente da sensibilidade, constitui nota viva e permanente; e a astúcia

da cantiga de amor, com o seu platonismo a encobrir calorosos apelos sensuais, ainda hoje

encontra eco entre os leitores dessa espécie de poesia.

3

Estudar as cantigas medievais de amor e amigo transformando estas cantigas em

quadrinhos, identificando características presentes nas mesmas é importante, pois exige do

leitor contemporâneo um esforço de adaptação e um conhecimento adequado das

condições histórico-sociais em que as mesmas se desenvolveram, sob pena de

permanecerem impermeáveis à beleza e à pureza natural que evolam dessa poesia.

(MOISÉS,1974, p.31).

5 OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO GERAL

Proporcionar aos alunos do 1º Ano do Ensino Médio a compreensão da Literatura

Portuguesa por meio das cantigas medievais abrindo espaço para reflexões sobre essas

produções levando-os a compreender por meio de perspectivas estéticas, históricas e

culturais a importância das cantigas medievais para a literatura portuguesa também como

para a brasileira.

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Procurar desenvolver no aluno a capacidade de leitura crítica detextos literários, de

forma a mostrar a especificidade do estilo de época;

Levar o aluno a conhecer os principais representantes da literatura portuguesa da

Idade Média, do século XII ao XIV, bem como reconhecer as características das

cantigas medievais deste período;

Refletir sobre a cultura dos séculos XII a XIV, e sua influência da lírica galega;

Propor leituras que articulem o conteúdo das cantigas e o espaço medieval

português;

Caracterizar estética e tematicamente as produções de amor e de amigo da poesia

trovadoresca.

4

6 APRESENTAÇÃO UNIDADE DIDÁTICA

O trabalho a ser desenvolvido nessa unidade didática estará pautado ao estudo das

cantigas da Idade Média, para as mesmas não há receptividade, pois perecem textos de

outro mundo, escritos em galego-português, portanto, incompreensíveis, chatos e sem

sentido. Se estudarmos o passado pelo passado, a partir de textos incompreensíveis, que

não têm relação alguma com a nossa cultura, este estudo não terá sentido algum. Mas, pelo

contrário quando percebermos que esta cultura não foi extinta, que está presente até hoje,

mesmo no Brasil, que não viveu a Idade Média encontramos razões para estudarmos o

passado com o objetivo de melhor entendermos o presente.

6.1 AS CANTIGAS TROVADORESCAS

Todos os textos poéticos desta primeira época medieval eram acompanhados por

músicas e normalmente cantados em coro, daí serem chamados de cantigas. Isso

ocasionou o aparecimento de uma verdadeira hierarquia de artistas conhecidos como o

trovador que era o poeta, quase sempre um nobre, que compunha sem preocupações

financeiras; o jogral, segrel ou menestrel que era um homem de condição social inferior, que

exercia sua profissão de castelo em castelo, entretendo a alta nobreza. Além de cantar

poesias escritas pelos trovadores, alguns desses artistas chegavam a compor; soldadeira ou

jogralesa era a moça que dançava, cantava e tocava castanholas ou pandeiro.

Os trovadores eram geralmente nobres. Compunham ou, pelo menos, escreviam as palavras para as canções que os jograis – homens do povo, mouros, judeus e alguns nobres de condição inferior – cantavam depois. Era igualmente de nobres, na sua grande maioria, o público ouvinte. Reis e outros membros da família real partilhavam este dom de composição poética: tal foi o caso de Sancho I e, especialmente, de D. Dinis, a quem se creditam umas cento e trinta e nove canções (MARQUES, 1978, p. 146).

Os autores das cantigas são chamados de trovadores que eram pessoas cultas, quase

sempre nobres, contando-se entre eles alguns reis, como D. Sancho I, D. Afonso X, de

Castela e D. Dinis. As cantigas estão reunidas nos cancioneiros que contém cantigas de

153 trovadores.

6.2 OS CANCIONEIROS MEDIEVAIS

As cantigas que hoje conhecemos foram preservadas graças a sua compilação em

coletâneas manuscritas. Essas coletâneas passaram a ser conhecidas como Cancioneiros e

três deles “sobreviveram” até os nossos dias. O Cancioneiro da Ajuda, que contém apenas

5

cantigas de amor dos poetas mais antigos. O Cancioneiro da Vaticana, composição

descoberta na biblioteca do Vaticano é mais completo que o Cancioneiro da Ajuda, pois

inclui cantigas de amor, de amigo e de escárnio e maldizer dos trovadores galego-

portugueses num total de 1205 composições. O Cancioneiro da Biblioteca Nacional é

conhecido como Colocci-Brancuti, por ter sido encontrado na biblioteca do Conde Brancuti.

É sem dúvida o mais completo dos cancioneiros, contendo inclusive um pequeno tratado de

poética trovadoresca, a Arte de trovar. Ele está na Biblioteca Nacional de Lisboa e reúne

trovadores dos reinados de Afonso III e de D. Dinis.

Para Segismundo Spina, a primeira composição da literatura portuguesa é “1198 a

data presumível da mais antiga composição literária portuguesa, uma cantiga de amor

escrita pelo trovador Paio Soares de Taveirós, dirigida a Maria Pais Ribeiro (a Ribeirinha),

amante de D. Sancho I”.

O lirismo galego português manifestou-se tardiamente, sendo a data de 1198

considerada como marco inicial da literatura portuguesa por atribuir-se a este ano o

aparecimento da famosa Cantiga da Ribeirinha. Embora estudos recentes lancem alguma

dúvida sobre a questão, atribui-se a autoria dessa cantiga a Paio Soares de Taveirós, que

viveu em fins do século XII e começo do XIII. A mais célebre pesquisadora da lírica

trovadoresca, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, acreditava que Paio Soares havia mantido

um romance com Maria Pais Ribeiro, amante de D. Sancho I e conhecida como a

“Ribeirinha”.

6.3 AS CANTIGAS LÍRICAS (DE AMOR E DE AMIGO)

A história da Literatura Portuguesa dá-se em 1.198 (ou 1189), iniciando-se com a

cantiga de amor e escárnio denominada “A Ribeirinha”, favorita de D. Sancho I.

De acordo com Moisés Massaud (1981, p.15), a poesia tem sua origem ainda

obscura, baseada em quatro teses: a folclórica, a litúrgica, a arábica e a médio-latinista.

As cantigas de amor escritas em galego-português são de inspiração provençal, que

apresentam características bastante particulares, como o fato de serem dirigidas a donzelas.

Para Massaud (1974, p.25), nas cantigas de amor, o trovador sempre declara seu

amor por uma dama da corte, chamada de senhor (senhora) tratando-a de modo respeitoso

e com cortesia, reproduzindo em sua servidão amorosa, os mais puros padrões da

vassalagem feudal. O amor trovadoresco, o amor cortês, exigia que a mulher que se

cantava fosse casada, porque a donzela não tinha personalidade jurídica, uma vez que não

possuía nem terras, nem criados, nem domínio e não era dona, não dispunha de senhorios.

O poeta não prestava serviço a uma mulher que não seja senhor (o verbo servir é

exatamente usado nessas cantigas como sinônimo de namorar, fazer a corte). A cantiga é

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varrida, de ponta a ponta, por uma atmosfera suplicante. Os apelos do trovador, apesar de

estarem colocados num plano de espiritualidade, idealidade ou contemplação platônica,

nascem do mais fundo de seus sentidos, mas o impulso erótico, raiz das súplicas, purifica-

se, sublima-se. O trovador disfarça, com o véu do espiritualismo, o verdadeiro sentido das

solicitações dirigidas à amada, transformando-os num torturante sofrimento interior,

resultado da inútil súplica e da espera de um bem que nunca chega. É a coita (sofrimento)

de amor que ele confessa afinal.

Nessas cantigas, quem usa a palavra é o próprio trovador, que a dirige, com respeito e

subserviência, à dama de seus cuidados (mia senhor ou mia dona= minha senhora),

rendendo-lhe o serviço amoroso, por sua vez orientado de acordo com o rígido código de

acompanhamento ético, as regras do amor cortês (vindas da Provença). Segundo Macedo

(2002),

O “amor cortês”, presente no gênero mais refinado do trovadorismo provençal- a chanson (canção, cantiga)-, integrou a imagem da dama no jogo intelectual dos poetas. A chansoné sempre uma mensagem endereçada à mulher amada ou um monólogo sobre o estado de espírito do trovador apaixonado. Trata-se invariavelmente de uma convenção amorosa. Um poeta, via de regra um “jovem”, isto é, um cavaleiro de condição humilde ou solteiro, dirige-se a uma mulher de alta linhagem, algumas vezes a esposa de sue senhor. O poeta canta o “bom amor”, que em geral é estéril, inacabado, impossível; canta a mulher distante, a mulher inacessível e inatingível, a damesansmerci (dama indiferente). (MACEDO, 2002. p.75).

Segundo essas regras, o trovador teria de mencionar, comedidamente, o seu

sentimento, submetendo-se, portanto, às exigências de mesura, para não incorrer em

(sanha) desagrado da bem-amada. Teria de ocultar o nome dela ou recorrer a um

pseudônimo, uma (senha) e prestar-lhe uma vassalagem que apresentava quatro fases: a

primeira estava ligada à condição de fenhedor, de quem se consome em suspiros; a

segunda é a de precador, de quem ousa declarar-se e pedir; entendedor, condição de

namorado; drut, condição de amante.

A confissão do sentimento amoroso que invade o poeta expressa-se na cantiga de

forma crescente até atingir a última estrofe (ou cobra). A corrente emocional movimenta-se

num círculo vicioso, repetindo-se, monotonamente, e mudando apenas o grau do lamento

que atinge o apogeu no final da cantiga. Quando a cantiga possui estribilho, é chamada de

cantiga de refrão (por possuir um recurso típico da poesia popular); quando não há

estribilho, chama-se cantiga de maestria (por possuir um esquema estrófico mais complexo).

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6.4 CANTIGAS DE AMIGO

A cantiga de amigo é escrita pelo trovador que compõe as cantigas de amor e até

mesmo as cantigas de maldizer. Esse tipo de cantiga focaliza o outro lado da relação

amorosa “o fulcro do poema é agora representado pelo sofrimento amoroso da mulher, via

de regra pertencente às camadas populares (pastoras, camponesas, etc.)” (Moisés, 2004,

p.22). Os motivos da cantiga de amigo são, portanto, as experiências amorosas, idílicas ou

eróticas, vividas por mulheres pertencentes, quase sempre, à classe social modesta. O eu

feminino exterioriza as suas emoções, aflições, expectativas, encontros e desencontros

amorosos etc. Esse tipo de canção apresenta formas e objetivos muito peculiares. Por

exemplo: a cantiga é comumente construída em paralelismos, a saber: a unidade rítmica

não é a estrofe, mas o conjunto de estrofes ou um par de dísticos (duas estrofes de dois

versos), que procura dizer a mesma ideia. O último verso de cada estrofe é o primeiro verso

da estrofe seguinte. Paralelismo e refrão são elementos típicos da cantiga de amigo e

pressupõe a existência de um coro. Organizadas aos pares, as estrofes sugerem a

alternância de dois cantores ou de dois grupos deles. A técnica de repetir o último verso da

estrofe anterior no início da estrofe seguinte parece ser a mesma da primitiva composição

improvisada dos repentistas. A cantiga de amigo pode ser reproduzida a poucos versos se

eliminarmos as repetições que a caracterizam. O processo paralelístico demonstra que a

cantiga, como texto, estava ligada ao canto e à dança:

O processo de apresentação da cantiga de amigo evidencia um aspecto importante: ela era representada pelo texto, pelo canto e pela dança. O texto, portanto, não era autônomo. Pressupõe-se que esses três elementos dessem dinamicidade à apresentação (ABDALA JR; PACHOALIN, 1990, p. 15).

As cantigas de amigo refletem o ambiente onde a mulher era vista com importância

social: as comunidades agrícolas. A personagem principal das cantigas de amigo é,

portanto, a mulher, dirigindo-se em confissão à mãe, às amigas, aos pássaros, aos

arvoredos, às fontes, às flores, aos riachos, mas quem compõe ainda é o trovador. Ao invés

do idealismo da cantiga de amor, a de amigo respira realismo em toda a sua extensão; daí o

vocábulo amigo significar namorado e amante. Essas cantigas podem ser classificadas de

acordo com o assunto e a forma. Quanto ao assunto, classificam-se de acordo com o lugar

geográfico e as circunstâncias em que transcorrem os acontecimentos e recebem o título de

cantiga de romaria, serranilha, pastorela, marinha ou barcarola, bailada ou bailia, alba ou

alvorada. Quanto à forma, as cantigas de amigo podem ser: maestria, refrão, paralelística.

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A linguagem, comparando-se às cantigas de amor é mais simples e menos musical, pois as

cantigas de amigo não se ambientam em palácios e sim em lugares simples do cotidiano.

As cantigas de amigo, que se originaram na Península Ibérica como expressão do

sentimento popular, têm como característica marcante o sentimento feminino, ou seja, a voz

é feminina, apesar de a cantiga ser escrita por um homem. O trovador assume a voz da

donzela que exprime os seus sentimentos pelo namorado. Ainda que o eu lírico de tais

composições seja feminino, elas expressam os sentimentos amorosos dos trovadores,

operando-se aí uma curiosa inversão de papéis e imagens.

Para Spina (1977, p.15) nas cantigas de amigo predomina o desenvolvimento da

temática da saudade, sentimento de característica portuguesa. Ainda merece destaque,

além da novidade do eu lírico feminino, a estrutura paralelística, em que as coplas (conjunto

de duas estrofes) apresentam versos semanticamente equivalentes, com pouquíssimas

alterações vocabulares. O cantar de amigo apresenta alguns cenários típicos como a fonte,

o bosque, a praia, através de referências às ondas do mar ou às árvores em flor. Ainda são

frequentes as referências à mãe, às amigas, a uma dama de companhia, que atuam como

testemunhas do sentimento amoroso que a amiga dedica ao seu namorado, ou como

entraves para a realização dos encontros entre os amantes, esse é, por razões óbvias, o

papel reservado à mãe.

Spina (1977) caracteriza as cantigas de amor e de amigo como: “se os cantares

d’amigo se caracterizam por um doce realismo, os cantares d’amor aparecem dominados

por um halo de idealismo, em que a mulher muitas vezes atinge a abstração” (SPINA, 1977,

p.16).

7 PROPOSTA DE ATIVIDADES

Leitura das cantigas e amor e amigo e seus respectivos autores.

Levar o aluno do 1º ano do Ensino Médio a compreender por meio de cantigas

medievais a tradição literária portuguesa que permanece presente ainda nos dias

de hoje, transformando estas cantigas em quadrinhos.

Recursos a serem usados (quadrinhos):

O gênero lírico: cantigas de amigo e cantigas de amor

Cantiga de amigo – Martim Codax – Ondas do mar de Vigo

Cantiga de amor -D. Dinis – Quer’eu em maneira de proençal

Cantiga de amigo -D. Dinis –Ai flores, ai flores do verde pino

Cantiga de amor - D. Dinis – Ay, senhor fremosa, por Deus,

Cantiga de amigo – Airas Nunes – Bailemos nós já todas três, ai´amigas,

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Cantiga de amigo – J.J. Nunes – Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias;

7.1 OS GÊNEROS

As cantigas podem ser classificadas em:

a) gênero lírico: cantigas de amigo, cantigas de amor

b) gênero satírico: cantigas de escárnio e de maldizer

Gênero Lírico:

Características das Cantigas de Amigo:

Eu lírico feminino

Tratamento dado ao namorado: amigo

Expressão da vida campesina e urbana

Amor realizado ou possível - sofrimento amoroso

Simplicidade - pequenos quadros sentimentais

Paralelismo e refrão

Origem popular

Características das Cantigas de Amor:

Eu lírico masculino

Tratamento dando à mulher: mia senhor

Expressão da vida da corte.

Convenções do amor cortês

1. Idealização da mulher;

2. Vassalagem amorosa;

3. Expressão da coita.

Origem provençal

As Cantigas de Amor:

Cantiga de amor:

D. Dinis

Quer’eu em maneira de proençal

fazer agora um cantar d’amor;

equerreimuit’iloarlmia senhor

a que prez nem fremosuranomfal,

Quero à moda provençal

fazer agora um cantar de amor,

e quererei muito aí louvar minha senhora

a quem honra nem formosura não faltam

10

nem bondade; e mais vos direi ém:

tanto a fez Deus comprida de bem

que mais que todas las do mundo val.

nem bondade; e mais vos direi sobre ela:

Deus a fez tão cheia de qualidades

que ela mais que todas do mundo.

Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,

quando a faz, que a fez sabedor

e todo bem e de mui gram valor;

e com tod’est[o] é mui comunal

ali u deve; erdeu-lhi bom sém,

edesinomlhi fez pouco de bem

quandonom quis lh’outra foss’igual.

Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo

quando a fez, que a fez conhecedora

de todo bem e de muito grande valor,

e além de tudo isto é muito sociável

quando deve; também deu-lhe bom senso,

e desde então lhe fez pouco bem

impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela

Ca mia senhor nunca Deus pôs mal,

mais pôs i prez e beldad’eloor

e falar mui bem, e riir melhor

que outra molher; desi é leal

muit’, e por estonom sei oj’eu quem

possacompridamente no seu bem

falar, canom á, tra-lo seu bem, al.

Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,

mas pôs nela honra e beleza e mérito

e capacidade de falar bem, e de rir melhor

que outra mulher também é muito leal

e por isto não sei hoje quem

possa cabalmente falar no seu próprio bem

pois não há outro bem, para além do seu.

In: Elsa Gonçalves. Op. cit., p. 284.

As Cantigas de Amigo:

Cantiga de amigo:

In: Elsa Gonçalves. A lírica galego-portuguesa. Lisboa: Editorial Comunicação, 1983. p. 161.

Martim Codax

Ondas do mar de Vigo,

se vistes meu amigo?

E ai Deus, se verra cedo!

Ondas do mar de Vigo,

acaso vistes meu amigo?

Queira Deus que ele venha cedo!

Ondas do mar levado,

se vistes meu amado?

E ai Deus, se verra cedo!

Ondas do mar agitado,

acaso vistes meu amado?

Queira Deus que ele venha cedo!

Se vistes meu amigo,

o por que eu sospiro?

E ai Deus, se verra cedo!

Acaso vistes meu amigo

aquele por quem suspiro?

Queira Deus que ele venha cedo!

Se vistes meu amado,

por que ei gran coitado?

E ai Deus, se verra cedo!

Acaso vistes meu amado,

por quem tenho grande cuidado (preocupação) ?

Queira Deus que ele venha cedo.

11

Martim Codax: trovador-jogral da época de Afonso III (meados do século XIII). “Dele só nos

restam sete cantigas d’amigo, que se caracterizam por um delicioso primitivismo poético e

pelo fato de serem seis destas composições as únicas cantigas trovadorescas

acompanhadas da respectiva notação musical” (S. Spina).

Cantiga de Amigo:

D. Dinis

− Ai flores, ai flores do verde pino,

sesabedes novas do meu amigo!

Ai Deus, e u é?

Glossário:

pino: pinheiro.

novas: notícias.

e u é?: e onde ele está?

Ai flores, ai flores do verde ramo,

sesabedes novas do meu amado!

Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,

aquel que lmentiu do que pôs comigo!

Ai Deus, e u é?

do que pôs comigo: sobre aquilo que combinou

comigo (isto é, o encontro sob os pinheiros).

Se sabedes novas do meu amado,

aquel que mentiu do que mi á jurado!

Ai Deus, e u é?

− Vós me preguntades polo voss’amado,

e eu bem vos digo que é san’e vivo.

Ai Deus, e u é?

preguntades: perguntais.

polo: pelo.

que é san’e vivo: que está são (com saúde e

vivo).

Vós me preguntades polo voss’amado,

e eu bem vos digo que é viv’e sano.

Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é san’e vivo

eseeravosc’ant’o prazo saído.

Ai Deus, e u é?

eseeravosc’ant’o prazo saído (passado): e estará

convosco antes de terminar o prazo combinado.

In Elsa Gonçalves. Op. cit. p. 292.

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D. Dinis, grande incentivador da cultura, fundou a Universidade de Lisboa (1291),

posteriormente transferida para Coimbra (1308). Foi chamado o rei-trovador, com 138

cantigas conhecidas.

8 DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

Para o desenvolvimento desta atividade serão usadas oito aulas, uma aula por

semana, durante um bimestre.

8.1 OBJETIVOS DAS ATIVIDADES

Ler e conhecer as cantigas medievais de amigo e amigo com o auxílio de paráfrase

em português moderno;

Pesquisar as características das mesmas;

Reconhecer as características diferenciadoras das cantigas de amigo e de amor e

compará-las;

Analisar cantigas de amor e amigo fazendo comparações entre elas;

Transformar as cantigas dadas em quadrinhos;

8.2 ENCAMINHAMENTO DAS ATIVIDADES

Este é o primeiro texto em galego-português. Por isso, deve-se primeiramente ler a

paráfrase em português moderno. Em seguida, ler o texto original, observando as diferenças

e semelhanças entre o galego-português e o português moderno. É necessário frisar as

características mais marcantes da produção poética trovadoresca: a simplicidade, a tradição

popular, a íntima ligação com a música. O aluno deve compreender que estamos diante de

um texto escrito, mas que o receptor das cantigas dos trovadores estava diante de uma

música. Esta diferença é fundamental. O leitor moderno não pode mais que adivinhar os

efeitos das repetições, dos refrões e dos paralelismos.

1ª Aula: Primeiro os alunos serão informados sobre a proposta de estudo das cantigas

medievais de amor e amigo, para isso ouvirão uma cantiga galego-portuguesa e uma

cantiga de amor. Depois disso os alunos formarão grupos de três alunos para cada grupo.

Anotar os nomes dos alunos de cada grupo.

2ª Aula: No laboratório de informática pesquisar as características das cantigas de amor e

amigo anotando-as no caderno com detalhes. Diferenças entre as mesmas.

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3ª Aula: Distribuir as cantigas de amigo e amor para os alunos em grupos, cada grupo fará a

leitura de uma das cantigas de amor ou de amigo fazendo uma análise, observando as

características, os assuntos, identificando a voz lírica se possui ou não refrão, qual é o

desejo expresso no refrão, a quem a voz se dirige.

Cantiga de amigo (Martim Codax)

Deve-se levar o aluno a descobrir a força expressiva da cantiga, que advém daquela

que pode parecer sua característica mais ingênua: a moça tem como interlocutor as ondas

do mar. Sofrendo de saudade e de preocupação, ela cobra notícias de quem levou seu

amado – o mar. O que parece um diálogo é, na verdade, o monólogo do desespero e tem o

tom de um doloroso lamento. As repetições do paralelismo e do refrão tornam-se a

expressão de uma ideia fixa.

Cantiga de amor (D. Dinis)

Recomenda-se a realização da leitura compartilhada, acompanhando a paráfrase,

passo a passo, os versos do texto original. O aluno deve distinguir a maior sofisticação da

cantiga de amor. Mas o que há de mais belo nas cantigas de amigo – a expressividade

ingênua e intensa, a emoção direta e de uma sinceridade pungente, o tom popular –

desaparece. A principal marca de sofisticação das cantigas de amor nesta composição

manifesta-se na metalinguagem do primeiro verso.

Depois das leituras os alunos fazem as anotações no caderno para apresentação e

comentário sobre as mesmas.

4ª Aula: Apresentação e comentário referindo-se as cantigas lidas pelos grupos.

5ª, 6ª, 7ª Aula: Após isso cada grupo irá transformar a cantiga que receber em quadrinhos,

dando o título, desenhando e fazendo a reprodução da cantiga em quadrinhos.

8ª Aula: Apresentação e exposição dos trabalhos em mural no saguão da escola.

9 SUGESTÕES DE LEITURAS

Stella Leonardos produziu inúmeros poemas em estilo trovadoresco que podem ser lidos em

seus livros Amanhecência (Rio de Janeiro: Aguilar; Brasília: INL, 1974) e Cantabile (Rio de

Janeiro: Orfeu, 1967).

Manuel Bandeira possui também alguns poemas em estilo trovadoresco: “Cantiga”, do livro

Estrela da manhã; “Cossante” e “Cantar de amor”, do livro Lira dos cinquet’anosi (Estrela da

vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009).

SPINA, Segismundo. A lírica trovadoresca. São Paulo: Edusp, 1991.

VIEIRA, Yara Frateschi. Poesia medieval: literatura portuguesa. São Paulo: Global, 1987.

MONGELLI, Lênia Márcia. Fremosos cantares: antologia da lírica medieval galego-

portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

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REFERÊNCIAS

ABDALA JÚNIOR, Benjamin; PASCHOALIN, Maria Aparecida. História Social da Literatura Portuguesa. São Paulo: Ática, 2ª ed. 1985.

AMARAL, Emília; PATROCINIO, Mauro Ferreira do; LEITE, Ricardo Silva; BARBOSA, Severino Antônio Moreira. Novas palavras, nova edição. São Paulo: FTD, 1ª ed. 2010. v. 1.

MACEDO, José Rivair. A mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 2002. p.75.

MARQUES, Oliveira. História de Portugal. Lisboa: Palas, 1978. Volume I, p. 146.

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 24ªed. 1997.

______. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrex, 12ª ed. 1974.

SPINA, Segismundo. Era Medieval. In: AMORA, Antônio Soares (dir.). Presença da Literatura Portuguesa. 6ª ed. São Paulo – Rio de Janeiro, 1977.

TUFANO, Douglas. Estudos de Língua e Literatura. 1990.