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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2015 MONOGRAFIA (CAEPE) O PAPEL DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA: análise retrospectiva do Império aos dias atuais Cel PMMG SÉRGIO HENRIQUE SOARES FERNANDES

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Page 1: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2015

MONOGRAFIA (CAEPE)

O PAPEL DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA:

análise retrospectiva do Império aos dias atuais

Cel PMMG

SÉRGIO HENRIQUE SOARES FERNANDES

Page 2: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

SÉRGIO HENRIQUE SOARES FERNANDES

O PAPEL DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA:

análise retrospectiva do Império aos dias atuais

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentadaao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Prof. Dr.Antônio Carlos Alonso DelNegro

Rio de Janeiro 2015

Page 3: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

C2015 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Fernandes, Sérgio Henrique Soares. O papel da União na segurança pública: análise retrospectiva do

império aos dias atuais / Cel PMMG Sérgio Henrique Soares Fernandes. — Rio de Janeiro: ESG, 2015.

50 f. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos AlonsoDelNegro

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2015.

1. Segurança publica. 2. União. 3. Análise - histórico. I. Título.

Page 4: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo principal identificar a atual participação da União na

Segurança Pública. Visando a alcançar o que se propõe, a pesquisa trilhou três

seções quais sejam: a apresentação da Segurança Pública como relevante para a

Estratégia Nacional, a retrospectiva constitucional da União na segurança e sua

estrutura atual para fazer face a Segurança Pública. Em vista do seu caráter

transversal e multisetorial, a Segurança Pública é considerada importante para a

doutrina da Estratégia Nacional, pois é essencial para cada uma das Expressões do

Poder Nacional: a Política, a Econômica, a Psicossocial, a Científica & Tecnológica e

a Militar e também para cada um dos Objetivos Nacionais Fundamentais.

Historicamente, a Segurança Pública sempre foi um tema desafiador e relevante, tanto

que já aparece na primeira Constituição do Império, logo após o processo de

Independência em 1824, quando estabelecia que era atribuição do Imperador prover

a segurança interna. Vale ressaltar que em todas as Cartas, em especial na atual,

houve grande valorização da segurança, inserindo como direito e garantia

fundamentais, com atribuição do Estado brasileiro o dever de proporcioná-la. Ao longo

das Constituições, a União se fez presente na Segurança Pública, culminando com

um papel mais contundente na atual Constituição Federal. Além do que prevê a

Constituição de 1988, pesquisou-se na legislação infraconstitucional a estrutura da

União para fazer face à Segurança Pública. Ao final, propõem-se mudanças

significativas tanto no aspecto de marco legal quanto na estrutura organizacional do

Governo Federal para a gestão da Segurança Pública.

Palavras chave: Segurança Pública. Estratégia Nacional. Constituição Federal e

União

Page 5: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

ABSTRACT

This work has as main objective to identify the current EU involvement in public safety.

Aiming to achieve what is proposed, research walked three sections namely the

presentation of public safety as relevant to the National Strategy, the Union's

constitutional retrospective security and its current structure to make public safety face.

In view of its transversal and multisectoral character, public safety is considered

important for the Doctrine of National Defense Strategy, it is essential for each of the

expressions of national power: political, economic, psychosocial, scientific &

technological and the military and for each of the key national objectives. Historically,

public security in the country has always been a challenging and important issue, so

that already appears on the First Charter of the Empire after the independence process

in 1824, when it was established award of the emperor provide internal security. It is

noteworthy that in all letters and especially in the current, there was great appreciation

of security, entering as a right and a fundamental guarantee, with assignment of the

Brazilian State a duty to provide it. Over the Constitutions, the Union was present in

public safety in an evolutionary way, culminating in a more forceful role in the current

Federal Constitution. In addition to providing for the Constitution of 1988, researched

in the infra-constitutional legislation the EU framework to address the public safety. At

the end, it proposes significant changes both in the aspect of legal framework as the

organizational structure of the Federal Government for the management of public

safety.

Keywords: Public Security. National Strategy. The Constitution and Union.

Page 6: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Sistemática da doutrina da Estratégia Nacional................................. 12

QUADRO 1 Importância da Segurança Pública para o PoderNacional................ 14

QUADRO 2 Importância da Segurança Pública para os Objetivos Nacionais Fundamentais.....................................................................

18

QUADRO 3 Participação da União na Segurança Pública..................................... 37

QUADRO 4 Órgãos/instituições federais com participação na Segurança Pública................................................................................................

37

GRAFICO 1 Recursos destinados ao Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito..........................................................................................

39

GRAFICO 2 Recursos destinados ao Fundo Nacional Penitenciário..................... 41

GRAFICO 3 Recursos destinados ao Fundo Nacional Antidrogas......................... 44

QUADRO 5 Hipóteses de Emprego das Forças Armadas conforme Lei Complementar nº 97...........................................................................

45

GRAFICO 4 Recursos destinados ao Fundo Nacional de Segurança Pública....... 48

FIGURA 2 Relevância da Segurança Pública para a Estratégia Nacional........... 62

FIGURA 3 Posição da Segurança Pública no organograma de poder da Constituição Imperial..........................................................................

63

FIGURA 4 As Constituições no contexto histórico brasileiro................................ 64

FIGURA 5 As Constituições no contexto histórico internacional.......................... 65

QUADRO 6 Quadro resumo das Constituições Federais...................................... 66

FIGURA 6 Estrutura proposta para o Ministério da Defesa Social....................... 69

FIGURA 7 Sistemática de emprego das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem............................................................................................

70

Page 7: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

CONAD Conselho Nacional Antidrogas.

CONASP Conselho Nacional de Segurança Pública.

CONTRAN Conselho Nacional de Trânsito.

CNPCP Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

CTB Código de Trânsito Brasileiro.

DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito.

DEPEN Departamento Penitenciário Nacional.

ESG Escola Superior de Guerra.

FNSP Fundo Nacional de Segurança Pública.

FUNAD Fundo Nacional Antidrogas.

FUNPEN Fundo Penitenciário Nacional.

FUNSET Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito.

GLO Garantia da Lei e da Ordem.

PEC Proposta de Emenda à Constituição.

SENAD Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Page 8: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 08

2 A RELEVÂNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA PARA A ESTRATÉGIA

NACIONAL ...................................................................................................

12

3 RETROSPECTIVA CONSTITUCIONAL DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA.......................................................................................................

22

3.1 A CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DO BRASIL DE 1824……...................…...... 22

3.2 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1891............................. 24

3.3 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1934..........................................................................................................

26

3.4 A CONSTITUIÇÃO POLACA DE 1937........................................................ 29

3.5 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1946..........................................................................................................

30

3.6 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967... 32

3.7 A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988.......................................................... 34

4 A ATUAL PARTICIPAÇÃO DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA......... 36

4.1 O DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO......................................... 38

4.2 O DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL...................................... 40

4.3 AS POLICIAS FEDERAIS.............................................................................. 42

4.4 A SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS.................. 43

4.5 O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM.....................................................................................................

45

4.6 A SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA........................... 47

4.7 A FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA...................................... 48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 50

5.1 CONCLUSÕES............................................................................................... 50

Page 9: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

5.2 PROPOSTAS E SUGESTÕES....................................................................... 54

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 57

APÊNDICE A – RELEVÂNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA PARA A ESTRATÉGIA NACIONAL ...........................................................................

62

APÊNDICE B – POSIÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO ORGANOGRAMA DE PODER DA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL.................

63

APÊNDICE C – AS CONSTITUIÇÕES NO CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO..................................................................................................

64

APÊNDICE D – AS CONSTITUIÇÕES NO CONTEXTO HISTÓRICO INTERNACIONAL..........................................................................................

65

APÊNDICE E – QUADRO RESUMO DAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS... 66

APÊNDICE F – ESTRUTURA PROPOSTA PARA O MINISTÉRIO DA DEFESA SOCIAL...........................................................................................

69

ANEXO A - SISTEMÁTICA DE EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM................................................................

70

Page 10: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

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1 INTRODUÇÃO

Já no Século XVII Thomas Hobbes esclarece, por meio da sua obra Leviatã,

que o homem em vida social transfere ao Estado os seus interesses que, por sua vez,

dirige as ações visando ao bem de todos. Para Hobbes (1974, p.113), a segurança

dos súditos é o objetivo do Estado, conforme abaixo:

o fim desta instituição é a paz e a defesa de todos, e visto que quem tem direito a um fim tem direito aos meios, constitui direito de qualquer homem ou assembleia que detenha a soberania o de ser juiz, tanto dos meios para a paz e a defesa quanto de tudo que possa perturbar ou dificultar estas últimas.

No Século XVIII, precisamente em Minas Gerais, no ano 1775, já se tinha

notícia da criação da primeira organização policial no Brasil, cuja finalidade, dentre

outras, era a manutenção da ordem. Esta organização militarizadatornou-se a célula-

mãe da Policia Militar de Minas Gerais. Este fato reforça a relevância histórica da

segurança no país.

Como a segurança no Brasil sempre foi um tema extremamente desafiador e

da mais alta relevância, ela já aparece na primeira Carta Constitucional do Império

logo após o processo de independência em 1824, quando estabelecia que era

atribuição do Imperador prover a segurança interna.

Vale salientar que, sob a ótica constitucional, o direito à Segurança Pública

esteve presente em todas as sete Cartas. Lado outro, também consta em

praticamente todas as Constituições a definição de competências para o provimento

desse direito.

Neste cenário em que a Segurança Pública é distinguida como direito,

demanda latente e prioritária junto aos governantes, ela também se apresenta

relevante para a Estratégia Nacional, conforme sintetizado no apêndice “A” e que será

explicitado neste trabalho.

Entende-se por Estratégia Nacional a forma de empregar o Poder Nacional

para o alcance dos Objetivos Nacionais. Doutrinariamente, conforme a Escola

Superior de Guerra (2009, p.30-36), o Poder Nacional se traduz no conjunto de

Page 11: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

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homens e meios que integram a nação e é manifestado pelas Expressões Política,

Econômica, Psicossocial, Militar e Científica & Tecnológica. Esta pesquisa demostrará

como a Segurança Pública é essencial para cada uma das Expressões do Poder

Nacional, bem como para cada um dos Objetivos Nacionais Fundamentais.

Apresentadas essas considerações, será abordado o âmago desse trabalho,

que consiste na identificação da atual participação da União na Segurança Pública,

no Brasil. Urge aclarar o caput do artigo 144 da nossa Constituição Federal quando

enuncia que “a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos”. No contexto da segurança pública, para a Escola Superior de Guerra (2009,

p.62), “entende-se como componentes do Estado o conjunto de todos os níveis de

competência da administração pública – Federal, Estadual e Municipal”.

Há necessidade de desmistificar o discurso dominante de que a competência

recai sobre os Estados federados. Interpretação equivocada, pois o Estado a que se

referiu o constituinte trata-se do poder público como um todo, abarcando os três

poderes e as três esferas de governo, pois consiste em uma função governamental

primordial para a sociedade. Nesta direção, Neto (1991, p.145) esclarece que:

a competência para atuação policial se reparte, em suma, entre a União e os Estados, inclusive o Distrito Federal dentro dos respectivos territórios, caracterizando-se por estar integralmente fundada e contida na ordem jurídica ordinária, ou seja, independentemente do emprego das salvaguardas, que, em consequência, transformam a atuação policial em atuação política de defesa da ordem pública

A Segurança Pública acabou sendo percebida equivocadamente como

competência dos Estados membros em face de questões regionais pela proximidade,

presença e capilaridades das policias estaduais, em especial da Policia Militar, cuja

tradição no Brasil, segundo a concepção de Bulos (2002, p.1063), édeixar a

Segurança Pública na esfera de competência das unidades federadas, haja vista as

peculiaridades de cada região.

Talvez pela ausência de um sistema nacional de segurança pública com

competências claras, expressas e também comuns a todos os entes da federação,

ainda não existe liderança e nem protagonismo da União nesta área. A mobilidade

delituosa alcançou patamares sem precedentes, ignorando qualquer tipo de fronteira,

exigindo uma abordagem sistêmica da função governamental de Segurança

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10

Pública.Dessa forma, esta pesquisa contribui também para o entendimento de como

a União se posicionou constitucionalmente ao longo da história até a atualidade nas

questões de Segurança Pública.

Fica evidente, após algumas constatações, a estreita relação existente entre a

Segurança Pública e a Estratégia Nacional. Pode-se, portanto, afirmar que a

Segurança Pública é altamente influente na Estratégia Nacional, o que justifica a

relevância deste trabalho.

Dessa forma, em face da falta de clareza do papel da União neste campo, este

trabalho se destina a levantar qual a estrutura existente no âmbito federal para fazer

face à segurança pública.

A partir desse contexto, a pergunta norteadora desta pesquisa foi: qual a

participação atual da União na Segurança Pública?A hipótese para o problema

formulado aponta na direção de que a União tem uma estrutura relevante na

Segurança Pública, tanto preconizada em dispositivo constitucional quanto em

normas infraconstitucionais.A metodologia adotada para o trabalho foi a pesquisa

exploratória, de natureza qualitativa com procedimento técnico utilizado para coleta

de dados por meio de revisão bibliográfica.

Para melhor compreensão do tema deste estudo, dividiu-se este trabalho em

cinco seções, sendo esta a primeira (introdução). A segunda seção será destinada à

demonstração da relevância da Segurança Pública para a Estratégia Nacional. A

terceira seção apresentará uma retrospectiva constitucional da presença da União na

Segurança Pública. A quarta seção será destinada para identificar a estrutura atual do

Governo Federal na Segurança Pública. A quinta e última seção apresentará as

considerações conclusivas com propostas e sugestões.

Entende-se que este trabalho seja relevante para a sociedade e para a Escola

Superior de Guerra no sentido de demonstrar a importância e a influência da

Segurança Pública para a Estratégia Nacional, bem como a participação da União

com a sua estrutura federal de aporte nas ações de segurança, o que poderá subsidiar

ou fomentar a formulação de políticas públicas.

Page 13: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

11

Entende-se que seja relevante para esse estagiário, pois, na condição de um

profissional de segurança, os resultados produzidos pelo trabalho permitirão a

ampliação da sua visão em relação à presença do Governo Federal na área de Defesa

Social. Sob o ponto de vista de relevância acadêmica, este trabalho tem a contribuir,

porque aborda uma questão com escassa literatura a respeito do tema.

A seção 2 destina-se à demonstração da relevância da Segurança Pública para

o Poder Nacional, para os Objetivos Nacionais Fundamentais e, por conseguinte, para

a Estratégia Nacional.

Page 14: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

12

2 A RELEVÂNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA PARA A ESTRATÉGIA NACIONAL

Esta seção se destina a demonstrar a relevância e a importância da Segurança

Pública para a Estratégia Nacional sob o aspecto doutrinário. Vale ressaltar que se

entende por estratégia a forma como se emprega o Poder Nacional visando alcançar

os Objetivos Nacionais. A figura 01 demonstra, em bases doutrinárias, a dinâmica da

Estratégia Nacional.

Figura 1:Sistemática da doutrina da Estratégia Nacional Fonte: Adaptação da palestraESTRATÉGIA NACIONAL proferida aos Estagiários do CAEPE pelo ProfessorDr Antônio Carlos Alonso Del Negro em 11 de mar 2015.

Page 15: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

13

Dessa forma, torna-se necessário apresentar os conceitos de cada uma dessas

terminologias.

Compulsando vários autores e suas respectivas obras, buscou-se um conceito

mais completo e abrangente de Segurança Pública, segundo Manoel (2004, p.24):

É uma modalidade de prestação de serviço estatal, com objetivos de promoção da defesa social, preservação da paz pública, garantia da ordem e da tranquilidade pública, proteção das pessoas e do patrimônio público, segurança dos direitos e garantias individuais, prevenção e repressão à criminalidade, garantia do cumprimento da lei e do exercício dos poderes constituídos.

Em relação ao Poder Nacional, pode-se traduzi-lo como o conjunto de recursos

que interagem no sentido de alcançar os Objetivos Nacionais, manifestando-se por

meio de cinco Expressões: a Política, a Econômica, a Psicossocial, a Militar e a

Ciência & Tecnológica. Já os Objetivos Nacionais são traduzidos, de acordo com os

Fundamentos Doutrinários da Escola Superior de Guerra (2009, p.22), da seguinte

forma:“são aqueles em que a Nação busca satisfazer, em decorrência da identificação

das necessidades, interesses e aspirações, em determinada fase de sua evolução

histórico-cultural”.

Os Objetivos Nacionais podem ser divididos em Fundamentais, de Estado e de

Governo. Os Objetivos Nacionais Fundamentais são aqueles elencados no artigo 3º

da Constituição Federal e que serão abordados oportunamente.

Percebe-se nesses dois últimos conceitos a estreita relação entre o Poder

Nacional e os Objetivos Nacionais, conforme também a doutrina da Escola Superior

de Guerra (2000, p.28):

[...] toda ação racional pressupõe dois elementos básicos: fins a atingir e meios a empregar. No caso das decisões de Estado, os fins devem ser os objetivos próprios da cultura nacional – os objetivos nacionais – e os meios devem ser os recursos que a nação aciona, principalmente por intermédio do Estado, para alcançar e manter aqueles fins – o Poder Nacional.

Procedidas as considerações conceituais, será apresentada a relevância da

Segurança Pública para a Estratégia Nacional, abordando distintamente esta

importância para o Poder Nacional e, em seguida, para os Objetivos Nacionais

Fundamentais. No tocante ao Poder Nacional, ele é apresentado por meio de cinco

Page 16: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

14

Expressões já devidamente relatadas, sendo que cada uma delas possui relevância

específica para a Segurança Pública conforme o quadro 01:

EXPRESSÕES DO PODER NACIONAL IMPORTÂNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Politica Poder-dever estatal de oferecer condições de

segurança à sociedade por meio da prevenção

e da repressão à criminalidade.

Econômica Custo econômico e prejuízos tangíveis

provenientes da insegurança pública.

Psicossocial

Fatores

Cultura e padrões de comportamento

Níveis de

Bem- estar

Saúde

Habitação

Saneamento básico

Educação

Trabalho

Seguridade Social e previdência social

Segurança pública Urbanização

Dinâmica ecológica

Dinâmica estrutural

Militar

Emprego de recursos militares, sejam eles

humanos ou materiais, na Garantia da Lei e

da Ordem, atividade típica de segurança

pública.

Ciência e Tecnologia

Atuação do policiamento ostensivo ambiental

para o cumprimento dos dispositivos legais de

proteção da flora e da fauna visando garantir

a Proteção Ambiental. Quadro 01 - Importância da segurança pública para o Poder Nacional. Fonte: Adaptado de ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Fundamentos doutrinários da

Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 2000.

Na Expressão Política, o dever estatal de promover a Segurança Pública é

explicitado na Constituição Federal, em seu artigo 144: “a segurança pública, dever

do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da

ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Tal assertiva

pressupõe a participação direta e efetiva do Estado em todos os níveis de

competência da administração pública, quais sejam, o federal, o estadual e o

municipal.

Para Bresser Pereira (1996, p. 283) a Segurança Pública, bem como a polícia,

está dentre as atividades exclusivas do Estado, por ser uma responsabilidade

fundamental atribuída ao poder público. Reforçando esta assertiva, Khan (2001, p. 69)

esclarece que:

Page 17: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

15

Teoricamente, segundo a clássica definição de Max Weber, o Estado é o detentor do monopólio da violência legítima de um determinado território. Desde que os cidadãos abdicaram de seus direitos naturais em favor do estado, somente ele tem o poder e o dever de zelar pela segurança externa e interna, policiando, julgando e punindo os infratores da lei.

Dessa forma, ficou evidenciado, sobretudo pela interpretação constitucional,

que o Estado brasileiro é responsável pela Segurança Pública no país e, por se tratar

de um serviço governamental da mais alta imprescindibilidade, a Expressão Política

deve ser a guardiã da formulação e da gestão nas Políticas de Estado.

Na Expressão Econômica, os custos tangíveis da insegurança pública possuem

um elevado comprometimento da economia. Um dos grandes estudiosos do custo da

ausência de Segurança Pública no Brasil, Khan (2001, p. 17), afirma que:

Para o poder público, segurança converte-se também num dos maiores ítens orçamentários e em objeto de preocupação prioritária. Pesquisas de opinião pública revelam que ao lado do desemprego, a questão da violência aparece entre as maiores inquietações da população. Cada ano a população exige mais policiais, mais viaturas e armas, novos presídios, juízes, promotores, radiocomunicadores, computadores.

Trata-se de um cenário já com retrospecto ruim naquela época, há quase 15

anos, e que se deteriorou nos dias atuais. Novamente, Khan (2001, p.19) esclarece

que “existem algumas tentativas de mensuração de custos da violência feitas no

Brasil. Uma pesquisa feita pelo BID estimou que a violência custa no Brasil 10,5% do

PIB nacional.”

Já a Expressão Psicossocial é conceituada pela Escola Superior de Guerra

(2000, p.96) da seguinte forma:

É a manifestação predominantemente psicológica e social do conjunto interativo dos homens e dos meios que constituem o Poder Nacional, capaz de favorecer a plena realização da pessoa e a sua possibilidade de contribuir para o aprimoramento da sociedade, com vistas a alcançar e a preservar os objetivos nacionais.

Dessa forma, essa expressão do Poder Nacional explicita alguns fatores,

dentre eles a cultura & os padrões de comportamento, a dinâmica ecológica, a

dinâmica estrutural e os níveis de bem-estar. Analisando esse último fator, conforme

conceituação da Escola Superior de Guerra (2000, p.103):“o nível de bem-estar

corresponde ao atendimento de necessidades relativas à sobrevivência e à forma de

vida tida por boa no contexto de uma sociedade”. Ainda no contexto desse fator, ela

Page 18: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

16

apresenta alguns elementos que podem servir como indicadores, tais como: a saúde,

a habitação, a educação, o trabalho, a seguridade social, a previdência social, a

assistência social, a urbanização e a segurança individual e comunitária. A Escola

Superior de Guerra define o fator segurança (2000, p.106) da seguinte maneira:

A segurança individual e comunitária, outro importante elemento de bem-estar, parece ser diretamente proporcional à eficiência e à eficácia dos sistemas jurídico, policial e penitenciário. Essa variável psicossocial encontra correspondência jurídica no conceito de segurança pública, que se prende principalmente à manutenção da ordem pública o que se realiza através da garantia da ordem jurídica.

Portanto, verifica-se que o fator de níveis de bem-estar é constituído por vários

indicadores, dentre os quais se destaca o da segurança individual e comunitária, que

pode comprometer a sobrevivência das pessoas, bem como a forma de vida em

sociedade. Por sua vez, esse fator integra uma das Expressões do Poder Nacional

cujo fim é alcançar e preservar os Objetivos Nacionais Fundamentais.

No tocante a Expressão Militar, existe previsão legal de emprego de recursos

militares na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o que vem ocorrendo pontualmente

em todo o Brasil. Por força constitucional e devidamente regulamentado por lei

complementar, o emprego dos recursos militares por meio das Forças Armadas na

GLO caracteriza atividade de Segurança Pública.

O emprego desses recursos é direcionado à preservação da ordem pública e

da incolumidade das pessoas e do patrimônio na hipótese de esgotamento do papel

constitucional das forças policiais, o que pressupõe prejuízo para a atividade fim das

Forças Armadas quando não há investimento nas atividades ordinárias de prevenção

criminal.

Em relação à Expressão Cientifica & Tecnológica, a doutrina da Escola

Superior de Guerra (2000, p. 130-132) estabelece os fatores que impactam os

fundamentos dessa expressão, quais sejam a educação, a comunicação, o nível de

pesquisa e desenvolvimento experimental, a dinâmica produtiva, a infraestrutura

científica & tecnológica, a biodiversidade, a diversidade mineral e a proteção

ambiental.

É no fator de proteção ambiental que repousa a relevância da Segurança

Pública para a Expressão Científica & Tecnológica, pois somente haverá

Page 19: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

17

desenvolvimento da ciência e da tecnologia se também houver a preservação

ambiental. A doutrina da Escola Superior de Guerra (2000, p.132) faz o seguinte

vínculo entre Ciência & Tecnologia e proteção ambiental:

O desenvolvimento da Ciência & Tecnologia, sobretudo desta última, estão nos dias de hoje, fortemente condicionados pelas preocupações de ordem ambiental. Presentemente, nenhum projeto de grande vulto pode ser desenvolvido sem uma análise de impacto ao seu meio ambiente, para caracterizar a sua sustentabilidade.

Portanto, as ações de Segurança Pública voltadas para o policiamento de meio

ambiente cumprem o papel de garantir a proteção ambiental, sobretudo em relação à

biodiversidade que, segundo a Escola Superior de Guerra (2015, p.11), representa a

variedade de seres vivos, tanto animais quanto vegetais, encontrados na natureza e

que consiste em fator gerador de grandes oportunidades no desenvolvimento da

ciência e da tecnologia.

Abordando a questão dos Objetivos Nacionais Fundamentais, vale ressaltar

que eles estão preconizados no artigo 3º do arcabouço jurídico do país explicitados

como Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil,quais sejam:

constituir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional;

erradicar a pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais

e promover o bem comum de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras formas de discriminação. O quadro 02 expressa a relevância

da Segurança Pública para cada um desses objetivos.

Page 20: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

18

OBJETIVOS NACIONAIS FUNDAMENTAIS

IMPORTÂNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Construir uma sociedade livre, justa e solidária

Princípios

Republicanismo

Harmonia entre os poderes

Pluralidade político partidária

Livre participação da sociedade

Alternância de poder

Garantia dos direitos fundamentais

Responsabilidade dos governantes

Garantir o desenvolvimento

nacional

Características

Adequado crescimento econômico

Justa distribuição de renda

Capacidade de prover a segurança

Padrão de vida elevado

Ética e eficiência na política

Aperfeiçoamento moral e espiritual

Constante avanço da C&T Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais

Erradicar a marginalização

Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação

Promover a Paz social

Quadro 02 - Importância da segurança pública para os Objetivos Nacionais Fundamentais. Fonte: Adaptado de ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Fundamentos doutrinários da

Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 2000.

Em relação ao primeiro objetivo, que se traduz na construção de uma

sociedade livre, justa e solidária, ele apresenta a garantia dos direitos fundamentais

como um dos seus princípios. Essa garantia está presente em espaço nobre na atual

Constituição Federal juntamente com o direito à segurança, o que nos permite inferir

que assegurar os direitos fundamentais é também papel das organizações policiais

encarregadas da manutenção da ordem pública.

No que concerne ao segundo objetivo, o de garantir o Desenvolvimento

Nacional, a doutrina da Escola Superior de Guerra (2009, p.54) define

Desenvolvimento Nacional da seguinte forma:

O processo global de fortalecimento e aperfeiçoamento do Poder Nacional, particularmente seus fundamentos (Homem, Terra e Instituições), visando à conquista e à manutenção dos objetivos nacionais, e à consecução do Bem Comum.

O próprio conceito de Desenvolvimento Nacional já esclarece o significado de

Poder Nacional, bem como os elementos que o integra, quais sejam o Homem, a Terra

Page 21: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

19

e as Instituições. O elemento mais relevante para esta pesquisa será o Homem, pois

sua segurança é o objeto central de análise.

Para Bergo (2007, p.67), o Desenvolvimento Nacional pode ser traduzido como:

O fortalecimento e o aperfeiçoamento do homem, da terra e das instituições nacionais. Engloba também o fortalecimento e o aperfeiçoamento do poder nacional, com vistas a conquistar e manter os objetivos nacionais. Enfim, é o processo global que visa à consecução do bem comum. É um processo social global, em que todas as estruturas passam por contínuas e profundas transformações. O homem é a origem, o agente e o destinatário do desenvolvimento. O desenvolvimento nacional não deve ser confundido com o crescimento econômico da nação. Ele considera também mudanças estruturais na organização e no funcionamento da sociedade, bem como mudanças de valores e instituições. Desenvolvimento é uma ideologia, um conceito analítico. Traz consigo a ideia de transformação da sociedade, além de ser um instrumento da realidade. É um todo, embora possa, didaticamente, ser dividido em segmentos, para estudos e medições: econômico, tecnológico, social etc.

O desenvolvimento pode ser mensurável por meio de inúmeros indicadores

sociais dentre os quais pode-se ponderar o ambiente de Segurança Pública por meio

de taxas de violência e de criminalidade, o que revela a capacidade do Estado em

prover a segurança das pessoas.

No tocante ao objetivo de erradicar a pobreza e a marginalização, bem como

reduzir as desigualdades sociais, entende-se que a erradicação da marginalização

perpassa por ações de Segurança Pública. Gallino (2005, p.398) define da seguinte

forma marginalidade ou individuo marginalizado:

Situação de quem ocupa uma posição nos pontos mais extremos e distantes, seja de um sistema social, seja de vários sistemas na mesma sociedade, ou está numa posição externa a um determinado sistema de referência, mas em contato com ele, ficando assim excluído tanto de participar das decisões que governam o sistema, em diversos níveis, e que são tomadas geralmente nas posições centrais, quando do gozo dos recursos, das garantias e dos privilégios que o sistema assegura a maior parte dos seus membros, embora tendo este individuo marginalizado direito análogo formal ou substancial a esses benefícios, do ponto de vista dos valores que orientam o sistema.

É perceptível que a grande massa dos indivíduos infratoresestá numa situação

de marginalidade, pois são quase que totalmente desprovidos dos recursos, das

garantias e dos privilégios do sistema ao qual pertencem. Dessa forma, as açõesde

Segurança Pública têm papel contributivo na minimização da marginalidade.

Page 22: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

20

O último Objetivo Nacional Fundamental, consubstanciado na promoção do

bem de todos, pode ser traduzido como sinônimo de promoção da paz social que, por

sua vez, é entendido como ordem pública sob o prisma conceitual de Defesa Social,

conforme se pode verificar adiante

A seguir, dois conceitos esclarecedores de estudiosos do Direito Administrativo

acerca do que seja ordem pública. Para Lazzarini (1998, p.10), “a ordem pública,

objeto da Segurança Pública, é a situação de convivência pacífica e harmoniosa da

população, fundada em princípios de natureza ética dotados de eficácia”.

Já na opinião de Moreira Neto (1998, p.79), “a ordem pública é a disposição

pacifica e harmoniosa da convivência pública conforme os princípios éticos vigentes

na sociedade”.

Portanto, após análise dos breves conceitos apresentados, constata-se que a

ordem pública consiste no núcleo central da segurança pública apregoada no caput

do artigo 144 da constituição federal, conforme resumido por Manoel (2004, p.23):

A preservação da ordem pública, responsabilidade nuclear dos órgãos policiais, consubstancia-se na adoção de todas as medidas possíveis para evitar qualquer tipo de violação, que em síntese funda-se nos princípios legais, com a finalidade de tornar a convivência em sociedade possível, dentro das regras da harmonia e da paz.

Dessa forma, como restou bem aclarado que a ordem pública é o fim desejado

da Segurança Pública, há que se estabelecer a relação entre ordem pública e paz

social. Analisando os respectivos conceitos conforme explicitado anteriormente, há

evidência de que são expressões quase idênticas. Esta assertiva é corroborada no

Plano Estratégico da Policia Militar de Minas Gerais 2004-2007 (2004, p.18):

Como o efeito buscado na promoção da ordem pública é a paz social, o negócio da Policia Militar é, justamente, promovê-la, na esfera de suas atribuições. Assim, o resultado da ordem pública é, consequentemente, o negócio da Policia Militar de Minas Gerais, é a paz social.

Há clara percepção da estreita relação existente entre Segurança Pública e a

Estratégia Nacional de Defesa, após interpretação de alguns conceitos, bem como de

premissas doutrinárias elencadas a elas.

Page 23: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

21

A seção 3 destinar-se aapresentar a trajetória constitucional da União na

Segurança Pública, por meio da análise do papel do Governo Federal desde o Império

até a Constituição Federal de 1988.

Page 24: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

22

3 RETROSPECTIVA CONSTITUCIONAL DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA

Esta seção analisará o histórico constitucional do papel da União na Segurança

Pública, desde o Império até a Carta atual. Optou-se por proceder a este levantamento

sob a ótica da trajetória das Constituições, por integrar o arcabouço jurídico do país

contendo a organização do Estado brasileiro. Trata-se de um verdadeiro código de

regras e de funcionamento das instituições, que é renovado periodicamente,

introduzindo mudanças que refletem os cenários, interno e externo, do período em

que foram elaboradas. Os apêndices “C” e “D” apresentam, respectivamente,os

principais episódios políticos, econômicos e sociais no Brasil e no mundo que

representaram um “pano de fundo” para as nossas Constituições.

Dessa forma, serão apresentadas abaixo as sete Cartas Constitucionais,

contendo um breve relato do contexto histórico de cada uma delas, bem como suas

principais características gerais sob o prisma da Segurança Pública.

3.1 A CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DO BRASIL DE 1824

No âmbito internacional, os episódios mais relevantes e que antecederam esta

Carta foram a Independência dos Estados Unidos em 1776 e a Revolução Francesa

em 1789. Baseada nas Cartas francesa e portuguesa, a primeira Constituição foi

promulgada dois anos após a independência política do país.

Sua elaboração ocorreu em um período bem conturbado, pois, em algumas

províncias, a resistência foi muito grande ao processo de independência, em especial

no Pará, no Maranhão, na Cisplatina e na Bahia. Naquela época, o poder estava

concentrado na aristocracia rural e, em que pese essa resistência, vale frisar que

vários movimentos libertários foram deflagrados no final do Século XVIII e início do

Século XIX, como a Inconfidência Mineira, em 1789, a Conjuração Baiana, em 1798

e a Revolução Pernambucana, em 1817.

A Assembleia Constituinte foi convocada e se reuniu, inicialmente, em abril de

1823, com debates acalorados e divergências entre os apoiadores do Imperador e os

Page 25: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

23

seus opositores, que pleiteavam a redução de sua autoridade e do poder

centralizador.

O ambiente de Segurança Pública era turbulento, em face da oposição ao

Imperador, conforme relatos de Filho e Lima (1939, p.267):

Por um lado, vinham-se patriotas revoltados conflagrando o país; por outro, os crimes de insubordinação, o tráfico e os abusos assombrosos, exigindo leis severas e policia implacável. As praças públicas apresentavam o repugnante espetáculo dos pelourinhos, jornalistas assassinados, as tabernas constituíram-se o centro da rapina e da vadiagem, a faca e a gazua compravam a liberdade do negro e enriqueciam os aventureiros que nos chegavam da Europa.

Como D. Pedro não queria abrir mão de nenhuma parcela de seu poder,

determinou a redação da Constituição e a outorgou, conforme esclarece

Schneeberger (2003, p. 178):

D. Pedro I nomeou um Conselho de Estado formado por dez pessoas, incumbido de redigir a primeira constituição do país. O resultado foi uma Carta outorgada, imposta pelo Imperador em 25 de março de 1824, sem a participação dos deputados eleitos.

Foi uma Carta sem a participação da Assembleia Constituinte, com previsão de

umamonarquia hereditária e que, nos seus 179 artigos, possuía, dentre outras, as

seguintescaracterísticas: estado centralizado, existência de quatro poderes

(executivo, legislativo, judiciário e moderador), mandato vitalício para Senadores, voto

censitário e o Catolicismo como religião oficial.

Essa Carta fez previsão de um código criminal, o qual foi elaborado e entrou

em vigor em 1840. Foi um código de 313 artigos com um rol de crimes divididos em

três grupos: os crimes públicos, que eram aqueles praticados contra o Estado, os

particulares, que eram os praticados contra a pessoa e o patrimônio, e os crimes

policiais que eram geralmente as perturbações da tranquilidade consideradas de

posturas municipais. Esse código revela os delitos que já preocupavam a sociedade

naquela época, tais como: o furto, o roubo e o homicídio.

Neste período, a estrutura de Segurança Pública no Brasil era constituída pela

Intendência Geral de Polícia da Corte, criada em 1808 com atribuições de manutenção

da ordem por meio da investigação de delitos e prisão de criminosos, e pela Guarda

Page 26: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

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Real de Polícia criada em 1809 com estrutura militar e subordinação ao Intendente

Geral de Polícia. Mais tarde, estas duas organizações se transformariam

respectivamente na Polícia Civil e na Polícia Militar. No apêndice “B”, consta o

organograma da estrutura de poder previsto na Constituição, com a posição dos

órgãos policiais vigentes naquela época.

Esta Carta também inaugurou a presença da União na Segurança Pública, por

meio do dispositivo, conforme será explicitado abaixo:

Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado. São suas principais atribuições: XV. Prover a tudo, que for concernente à segurança interna, e externa do Estado, na forma da Constituição.

Percebe-se que, mesmo em um período quando a Segurança Pública ainda

não era uma demanda social prioritária, pelo menos sob o ponto de vista

constitucional, a União teve papel relevante com a centralização na figura do

Imperador.

3.2 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1891

Após a Proclamação da República, foram convocadas eleições para a

Assembleia Constituinte marcadas para setembro de 1890, o que ocorreu por meio

de um amplo processo de discussões na constituinte. Foi um período em que ainda

predominava a mesma classe dos interesses da oligarquia latifundiária que dominava

o período da primeira Constituição.

Essa Constituição representou a transição do centralismo imperial para o

federalismo republicano, pois as províncias foram elevadas à categoria de estados,

pressupondo maior autonomia, de acordo com Schneeberger (2002, p. 276):

O Congresso constituinte se instalou em 15 de novembro de 1890, exatamente um ano após a proclamação da república. Presidiu os trabalhos o Deputado Prudente de Morais, representante da oligarquia cafeeira paulista e pertencente a oposição ao governo. Em fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira constituição da república e a segunda da nossa história. O Brasil se tornava uma República federativa, uma união de estados autônomos. O antigo município neutro era transformado em Distrito Federal.

Page 27: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

25

Com seus 91 artigos, essa Carta trouxe ainda as seguintes inovações: três

poderes (com a extinção do poder moderador previsto na Constituição anterior), voto

universal, estado laico e abolição da vitaliciedade dos cargos de senadores.

Nessa época, o grande acontecimento que, certamente, impactou o ambiente

de Segurança Pública foi a Abolição da Escravatura, em 1888, proporcionando uma

grande migração em massa da população rural para as principais cidades. Os recém

libertos escravos passaram a se encontrar em uma situação de miséria, sem emprego,

sem moradia e sem alimentação, passando a formar guetos. Esses fatores geraram

maior demanda policial, sobretudo em relação às infrações mais comuns naquele

momento, como a vadiagem, a prostituição, a embriaguez e a capoeira.

Em relação ao papel da União, estabeleceu, conforme adiante se vê, que a

intervenção na segurança somente ocorreria para seu restabelecimento e após

requisição dos governos estaduais,

Art. 6º - O Governo federal não poderá intervir nos negócios peculiares aos Estados, salvo:

3º) para restabelecer a ordem e a tranquilidade nos Estados, à requisição dos respectivos governos.

Este dispositivo foi criticado por Torres (1982, p.221-222) que propôs a

substituição da palavra “tranquilidade” por “segurança” por tratar-se de termo mais

adequado. Segundo ele, da forma expressa na Constituição, significaria ideia de

ordem política, conflitos partidários e entre poderes dos Estados e não a ideia de paz,

sob o aspecto policial.

O que se pode inferir nesse dispositivo é a atribuição da Segurança Pública aos

recém promovidos Estados, até então províncias, sendo a União uma restabelecedora

da ordem, em caso de necessidade. Outra evidência extraída dessa Carta é a

autorização tácita para que os Estados pudessem organizar suas próprias forças

policiais.

É importante frisar, também, que nesse período esteve em funcionamento a

Guarda Nacional, criada pela Lei Imperial datada de 08 de agosto de 1831 e que tinha

como atribuição, conforme seu artigo 1º, a defesa da Constituição, da liberdade, da

independência e da integridade do Império para manter a obediência e a tranquilidade

Page 28: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

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pública e auxiliar o Exército de linha na defesa das fronteiras e costas. Consta ainda,

no artigo 109 da mesma lei, a atribuição de manutenção da Segurança Pública, o que

evidencia um período turbulento em relação ao ambiente de tranquilidade pública. A

Guarda Nacional foi praticamente extinta em 1917.

Segundo Villa (2001, p.32), essa foi a primeira carta que estabeleceu as Forças

Armadas como permanentes. Outro aspecto relevante em relação às Forças Armadas

foi o seu papel na manutenção das leis no interior, conforme seu artigo 14: “as forças

de terra e mar são instituições nacionais permanentes, destinadas à defesa da Pátria

no exterior e à manutenção das leis no interior”.

O que se pode inferir é que, desde aquela época, as Forças Armadas já tinham

a missão constitucional de GLO.

3.3 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1934

O período político vigente entre a Proclamação da Independência até 1930,

denominado de república velha,foi caracterizado pela política do café com leite que

representou a alternância de poder entre as oligarquias paulista e mineira. A carta de

1934, na presidência de Getúlio Vargas, foi promulgada em um ambiente de transição

e de grande turbulência em face de fatores externos, como a crise econômica mundial

de 1929, e de fatores internos, como a crise do café, alémdos desdobramentos da

Revolução de 1930 e da Revolução Constitucionalista de 1932, em que as Forças

Armadas se defrontaram com as tropas da Força Pública de São Paulo.

Ainda no plano internacional, os desdobramentos da I Guerra Mundial e da

Revolução Russa, o nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália e o stalinismo na

União Soviética, além de outros regimes autoritários que estavam em ascensão,

influenciaram muito o ambiente social e político brasileiro.

O sentimento nacionalista propagado em todo o mundo após a I Guerra Mundial

foi uma marca dessa Carta. Houve uma restrição em relação aos direitos

Page 29: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

27

fundamentais e à inserção do conceito de Segurança Nacional com nove artigos. Silva

(2002, p.31) relatou da seguinte forma a elaboração da Carta de 1934:

Em 1932 começam as pressões para a convocação de uma Assembleia Constituinte, que viesse organizar jurídica e politicamente a Nação. Como agora, o país entrou naquela situação em que se reclama a elaboração de normas fundamentais de reconstitucionalização, o Chefe de Governo, Getúlio Vargas, diante disso, expediu decreto convocando a Assembleia Constituinte, ficando sua eleição para o dia 03 de maio de 1933, mas só se instalaria a 15 de novembro desse ano. E os trabalhos constituintes foram concluídos pouco mais de seis meses depois, ou seja, em 16 de julho de 1934, com a promulgação da segunda Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Aqui também a constituinte se converteu em Congresso legislativo ordinário, depois de eleger indiretamente o presidente da República, que o Congresso fechou com o Golpe de 10 de novembro de 1937.

Mesmo com este cenário, a Carta de 1934 que foi baseada na Constituição

Alemã apresentou avanços importantes, sobretudo em relação aos direitos

trabalhistas. Sob o ponto de vista do cenário econômico, essa época marcou o fim do

mercantilismo baseado na produção primária e o início do período industrial no país.

Nos seus 187 artigos, essa Carta apresentou ainda algumas características,

tais como: a estatização de empresas nacionais e nacionalização de empresas

estrangeiras, a concessão estatal para exploração mineral, o voto secreto e o direto

inclusive para as mulheres, o voto obrigatório para maiores de 18 anos, a instituição

da possibilidade da decretação do Estado de Sítio por 30 dias, a anistia a todos os

presos políticos do país, a extinção do cargo de Vice-Presidente da República e o

direto dos sindicalistas elegerem os deputados classistas, a ampliação das

competências da União eredução das competências dos Estados, a ampliação dos

poderes do Poder Executivo, a extinção do sistema bicameral, a constitucionalização

dos direitos sociais e a criação da justiça eleitoral.

No tocante à Segurança Pública, vale ressaltar que o quadro que antecedeu à

elaboração da Carta de 1934 foi de inúmeras revoltas em anos anteriores como a

Revolta dos Canudos e as rebeliões tenentistas que Villa (2011, p.43) relatou assim:

A década de 1920 foi marcada por diversas revoltas militares que ficaram registradas na história como rebeliões tenentistas. Em 1922 o palco foi o Rio de Janeiro; em 1924 ocorreram revoltas no Rio Grande do Sul e em São Paulo – na capital paulista os revolucionários permaneceram ocupando a cidade por uma quinzena, e, entre 1925 e 1927 a coluna Prestes.

Há evidência de que este ambiente turbulento tenha ensejado a inserção de

alguns dispositivos de forma inédita, abordando questões de segurança e de

Page 30: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

28

defesa,tais como: asegurança nas fronteiras, os serviços policiais dos Estados, as

forças policiais dos Estados, a prevenção e repressão à criminalidade, e as Policias

Militarescomo adiante se vê:

Art 5º - Compete privativamente à União: V - organizar a defesa externa, a polícia e segurança das fronteiras e as forças armadas; XI - prover aos serviços da polícia marítima e portuária, sem prejuízo dos serviços policiais dos Estados. XIX - legislar sobre: l) organização, instrução, justiça e garantias das forças policiais dos Estados e condições gerais da sua utilização em caso de mobilização ou de guerra; Art 9º - É facultado à União e aos Estados celebrar acordos para a melhor coordenação e desenvolvimento dos respectivos serviços, e, especialmente, para a uniformização de leis, regras ou práticas, arrecadação de impostos, prevenção e repressão da criminalidade e permuta de informações.

Convém frisar que essa Carta estabelece como competência da União

organizar a polícia, não havendo clareza a qual polícia o dispositivo se refere. Todavia,

há evidência que se trata da atual Policia Federal que, naquela ocasião, consistia na

Policia Civil do Distrito Federal e em 1944 se transformaria no Departamento Federal

de Segurança Pública.

Outra importante novidade foi o dispositivo que prevê a cooperação entre a

União e os Estados para a prevenção e a repressão à criminalidade, preocupações

até então não abordadas em nenhuma das Cartas anteriores. Já no artigo 167, consta,

também pela primeira vez, as Policias Militares como reservas do Exército e com as

mesmas vantagens quando mobilizadas ou a serviço da União: “as polícias militares

são consideradas reservas do Exército, e gozarão das mesmas vantagens a este

atribuídas, quando mobilizadas ou a serviço da União”.

No artigo 162, as Forças Armadas aparecem novamente em uma Constituição

Federal e com as atribuições de defesa da pátria, garantia dos poderes

constitucionais, da lei e da ordem conforme abaixo:

Art 162 - As forças armadas são instituições nacionais permanentes, e, dentro da lei, essencialmente obedientes aos seus superiores hierárquicos. Destinam-se a defender a Pátria e garantir os Poderes constitucionais, e, ordem e a lei.

Portanto, o que se pode abstrair desse período é que a estrutura de Segurança

Pública que compreendeu as Cartas de 1934 e 1937 esteve voltada para uma polícia

Page 31: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

29

política, com foco em políticos e pessoas consideradas inimigas do Estado, devendo

ser vigiadas e controladas.

3.4 A CONSTITUIÇÃO POLACA DE 1937

Com o golpe de Estado de 1937, período que se denominou de Estado Novo,

o mesmo Presidente Vargas outorgou outra Carta, agora em um regime de exceção

do tipo fascista, similar à Constituição Polonesa de 1935, motivo pelo qual é

denominada de polaca. A justificativa seria a necessidade de o Presidente possuir

plenos poderes para proteger o país das constantes pseudo ameaças comunistas.

Schneeberger (2002, p. 305) relata esse período da seguinte forma:

Vargas anunciou pelo rádio a nova ordem instaurada. A nova constituição, uma carta outorgada, foi elaborada por Francisco Campos, que se inspirou nos modelos fascistas europeus, sobretudo o da Polônia. Na prática concentrava todos os poderes nas mãos do Chefe de Estado. A constituição de 1937 jamais foi respeitada pelo próprio outorgante. O Legislativo não existia na prática, pois o ditador não convocou eleições.

Sob o ponto de vista econômico e social, o país estava no início de um grande

processo de industrialização nacional via substituição de importações. Para Villa

(2011, p.67-68), a marca dessa Carta foi o autoritarismo, pois em nenhum outro

momento da história um governante havia recebido tantos poderes. Nos seus 187

artigos, a principal característica foi a concentração de poderes no Presidente Getúlio

Vargas, mas apresentou também outros aspectos, tais como: desaparecimento da

autonomia estadual e municipal, intervenção do Governo Federal nos estados

governados por interventores nomeados pelo Presidente, poder do chefe de estado

em suspender todas as garantias individuais e legislar por decretos, mandato

presidencial com duração de seis anos, extinção dos partidos políticos e da liberdade

de imprensa (vigorando a censura prévia), criação de universidades em várias capitais

e criação da Força Aérea e do Ministério da Aeronáutica.

Esta Constituição foi a primeira a explicitar a ordem, a tranquilidade e a

Segurança Pública como competências privativas da União para legislar quando a

situação exigir a necessidade de uma regulamentação uniforme.

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Art 15 - Compete privativamente à União: I - manter relações com os Estados estrangeiros, nomear os membros do Corpo Diplomático e Consular, celebrar tratados e convenções internacionais; II - declarar a guerra e fazer a paz; III - resolver definitivamente sobre os limites do território nacional; IV - organizar a defesa externa, as forças armadas, a polícia e segurança das fronteiras; Art 16 - Compete privativamente à União o poder de legislar sobre as seguintes matérias: II - a defesa externa, compreendidas a polícia e a segurança das fronteiras; V - o bem-estar, a ordem, a tranqüilidade e a segurança públicas, quando o exigir a necessidade de uma regulamentação uniforme;

Essa carta foi omissa em relação à Segurança Pública, pois, diferentemente da

carta anterior, não explicita nenhuma instituição com competência principal ou

secundária para tal missão. Nem mesmo as Forças Armadas que apareceram com

competência dentre outras de GLO nas cartas anteriores foram sequer citadas com a

sua missão constitucional.

3.5 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1946

Com a queda de Getúlio Vargas, foram realizadas eleições para Presidente da

República, cujo eleito e posteriormente empossado em 31/01/46 foi o General Eurico

Gaspar Dutra, que convocou a Assembleia Constituinte. No cenário internacional

destacam-se o final da II Guerra Mundial e o início da guerra fria que se traduziu na

disputa pela hegemonia mundial entre Estados Unidos e a União Soviética. Silva

(2002, p.30) relatou da seguinte forma os meandros da Constituição de 1946:

Com a queda do ditador em 29 de outubro de 1945, o governo Linhares, compreendendo a situação pré-constituinte em que vivia o país durante a campanha eleitoral, houve por bem expedir as leis constitucionais pelas quais se estabeleceu que os deputados e senadores a serem eleitos no dia 2 de outubro de 1945, se reuniriam em Assembleia Constituinte, com poderes ilimitados, para elaborar uma nova Constituição para o Brasil. E assim, se fez, no dia 18 de setembro de 1946 era promulgada a Constituição dos estados Unidos do Brasil, que foi sem dúvida, a mais democrática de quantos temos tido.

Page 33: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

31

Nos seus 218 artigos, até então a Carta mais extensa da república, apresentou

as seguintes características, dentre outras: reinstituição do bicameralismo, criação da

justiça do trabalho, mandato presidencial de cinco anos, garantia de direito à greve e

de livre associação sindical, liberdade de expressão e opinião, estabelecimento do

equilíbrio entre os poderes e reestabelecimento da autonomia dos estados e

municípios.

A Constituição de 1946 explicitou a competência da União em legislar sobre as

Policias Militares em casos de mobilização, bem como as prerrogativas e garantias da

corporação neste caso específico. Como novidade, as Policias Militares aparecem

pela primeira vez em uma Carta Constitucional como força de segurança e papel bem

definido na sua atuação.

Art 5º - Compete à União: I –[...]

II – [...]

VII - superintender, em todo o território nacional, os serviços de polícia marítima, aérea e de fronteiras. XV - legislar sobre: f) organização, instrução, justiça e garantias das policias militares e condições gerais da sua utilização pelo Governo federal nos casos de mobilização ou de guerra; Art 183 - As polícias militares instituídas para a segurança interna e a manutenção da ordem nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, são consideradas, como forças auxiliares, reservas do Exército. Parágrafo único - Quando mobilizado a serviço da União em tempo de guerra externa ou civil, o seu pessoal gozará das mesmas vantagens atribuídas ao pessoal do Exército

Nessa Constituição, houve o retorno da explicitação das Forças Armadas como

garantidoras da lei e da ordem, a exemplo da Carta de 1934, conforme seu artigo 177:

“destinam-se as forças armadas a defender a Pátria e a garantir os poderes

constitucionais, a lei e a ordem”.

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32

3.6 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967

Esta carta foi promulgada em 1967, já no ciclo militar, encerrando a chamada

república populista, onde o quadro que antecedeu a sua elaboração foi de uma

situação de grave crise econômica, política e social, com desaceleração do

crescimento, inflação ascendente, desemprego e redução do poder aquisitivo. Foi um

período de grande centralização de poder e definhamento do federalismo. Foi,

também, o período de consolidação do imperialismo americano. Para Schneeberger

(2002, p. 323), o Congresso havia aprovado uma nova Constituição na qual os

Municípios tinham seus prefeitos nomeados pelo Governo Federal, que teve a sua

capacidade ampliada de intervir nos estados e municípios.

Nessa Carta, o país passou a denominar-se República Federativa do Brasil e

apresentou nos seus 189 artigos as seguintes características dentre outras: a ênfase

no conceito de Segurança Nacional, as eleições indiretas para Presidente da

República e a reformulação do sistema tributário. A principal característica dessa

carta, no entanto, foi a forma como ela foi emendada por meio de Atos Institucionais.

Ao todo, foram 17 Atos Institucionais editados que versavam sobre várias

questões, tais como: poder de alterar a Constituição, cassação de mandatos e

suspenção de políticos, estabelecimento de eleições indiretas para presidência da

República, extinção de todos os partidos políticos; ampliação do número de ministros

do Supremo Tribunal Federal, intervenção nos Estados, determinação de eleições

indiretas para governador e vice-governador e nomeação de prefeitos pelos

governadores e fechamento do congresso.

Sob o ponto de vista da Segurança Pública, foi um período importante, pois

tivemos no Brasil uma grande reforma no sistema policial, conforme relata Cotta

(2006, p. 130):

O novo modelo de segurança pública introduzido procurou acabar com o pluralismo policial até então existente (Guarda Civil, Corpo de Fiscais de Trânsito e a Policia Rodoviária do Departamento Estadual de Trânsito). A Policia Militar seria responsável, com exclusividade, pelo policiamento ostensivo fardado e realizaria ações preventivas e repressivas. A Policia Civil ficaria com as atribuições relativas à investigação, atividades cartorárias e burocráticas.

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33

A crise econômica e social que antecedeu à promulgação dessa Constituição

pode ter deteriorado o quadro de segurança pública, o que contribuiu para que essa

Carta reforçasse a competência constitucional das Políciais Militares como força de

segurança pública conforme abaixo:

Art 13 - Os Estados se organizam e se regem pelas Constituições e pelas leis que adotarem, respeitados, dentre outros princípios estabelecidos nesta Constituição, os seguintes: § 4º - As polícias militares, instituídas para a manutenção da ordem e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, e os corpos de bombeiros militares são considerados forças auxiliares reserva do Exército, não podendo os respectivos integrantes perceber retribuição superior à fixada para o correspondente posto ou graduação do Exército, absorvidas por ocasião dos futuros aumentos, as diferenças a mais, acaso existentes.

A grande novidade dessa Carta foi a constitucionalização da Polícia Federal,

que já existia com a denominação de Departamento Federal de Segurança Pública,

desde 1944:

Art 8º - Compete à União: VII - organizar e manter a polícia federal com a finalidade de prover: a) os serviços de polícia marítima, aérea e de fronteiras; b) a repressão ao tráfico de entorpecentes; c) a apuração de infrações penais contra a segurança nacional, a ordem política e social, ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União, assim como de outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

Mais uma vez, a Constituição de 1967 reforça e também consolida a missão

das Forças Armadas como defensora da Pátria e como garantidora dos poderes

constitucionais, da lei e da ordem.

Art 92 - As forças armadas, constituídas pela Marinha de Guerra, Exército e Aeronáutica Militar, são instituições nacionais, permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei. § 1º - Destinam-se as forças armadas a defender a Pátria e a garantir os Poderes constituídos, a lei e a ordem.

Page 36: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

34

3.7 A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988

Em um período de transição para um Estado democrático de direito, em

novembro de 1986, uma Assembleia Nacional Constituinte foi eleita, a fim de elaborar

uma nova Constituição. Em 5 de outubro de 1988, o arcabouço jurídico do país foi

promulgado contendo 245 artigos na parte permanente e 73 no ato das disposições

constitucionais transitórias. Silva (2002, p. 237-238) relata o seguinte sobre essa

carta:

Uma constituição, como a de 1988 institui uma nova ideia de Direito e uma nova concepção de Estado, que inspiram em princípios e valores que incorporam um componente revolucionário de transformação da situação existente, tais como o princípio da constitucionalidade, o princípio democrático e o princípio da proteção dos direitos fundamentais.

No cenário econômico, o país enfrentava uma crise fiscal, inflação em alta e,

no plano internacional, a moratória mexicana contribuía para a recessão internacional

nos países emergentes. A Guerra Fria dava sinais de que estava chegando ao fim

com despontamento dos Estados Unidos como única superpotência militar no mundo.

Para Villa (2011, p. 116), essa carta “acabou se transformando em um

programa econômico-político-social para o país” em face do seu caráter prolixo. Além

disso, apresentou as seguintes características: a manutenção dos princípios

fundamentais relativos à dignidade da pessoa humana; a criação do Superior Tribunal

de Justiça; a instituição do mandado de segurança coletivo, do mandado de injunção

e o habeas data; a reforma eleitoral estabelecendo a faculdade de exercício do direito

do voto aos analfabetos e brasileiros maiores de dezesseis e menores de dezoito

anos; e a inserção de novos direitos trabalhistas.

Foi uma constituição diferente das anteriores em face do seu caráter

extremamente humanista, o que pode ser explicado pelo período de regime de

exceção que antecedeu a sua elaboração com restrição de alguns direitos que foram

retomados, exaltados e protegidos.

A atual Constituição Federal foi elaborada em um cenário que se denominou

de década perdida em um ambiente conturbado de segurança pública no país, pois a

grave crise econômica, o descontrole da inflação e o desemprego em alta impactaram

Page 37: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

35

a criminalidade e a violência. Ela já enuncia a segurança pública como dever do

Estado e apresenta as forças policiais responsáveis para o desempenho desse papel.

A novidade em relação à carta anterior é a presença das polícias rodoviária e

ferroviária federal, o que ampliou a participação da União:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

No tocante às Forças Armadas, além da reprodução da sua missão

constitucional preconizada nas Cartas de 1946 e 1967, houve ainda previsão de lei

complementar visando à regulamentação do seu emprego, o que viria a ocorrer

mais tarde.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

§ 1º - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.

Na prática, não houve alteração do modelo de segurança existente na carta

anterior, mas, com o esboço de um Sistema Nacional de Segurança Pública, pela

primeira vez, todas as instituições policiais foram explicitadas e agrupadas em um

mesmo dispositivo constitucional.

A seção 4 destinará a apresentar a estrutura da União para fazer face à

Segurança Pública por meio de seus órgãos e instituições.

Page 38: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

36

4 A ATUAL PARTICIPAÇÃO DA UNIÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA

Consiste na principal seção da pesquisa e se destina a compulsar toda a

legislação federal no sentido de levantar em quais normas a União emerge com

alguma competência em relação à Segurança Pública. O levantamento buscou

identificar não somente atribuições por meio do emprego de força mas também por

meio de órgãos destinados a desenvolver ou executar algum tipo de política voltada

para a Defesa Social.

Vale lembrar que, desde a Carta Imperial até a Constituição cidadã, o papel da

União na Segurança Pública sempre oscilou ora apresentando participação mais

contundente, ora na direção de descentralização para os Estados. Nos ciclos militares

compreendidos pelas Cartas de 1934, 1937 e 1967, houve uma clara vinculação das

forças policiais estaduais às Forças Armadas como reservas e em condições de

mobilização.

A atual Constituição estabeleceu, mesmo que de forma simplista, o esboço de

um Sistema Brasileiro de Segurança Pública contendo apenas as policias federais e

estaduais com suas respectivas competências. Esse sistema foi complementado por

leis que ampliaram a participação da União na segurança por meio de outros órgãos.

Destarte, após identificar a participação do Governo Federal na segurança e

por questões metodológicas, dividiu-se sua atuação em dois âmbitos: operacional e

de articulação. No âmbito operacional, foram agrupadas as corporações com atuação

de emprego da força em especial as policias e as Forças Armadas. No âmbito de

articulação, foram agrupados os órgãos com competência de articulação junto aos

Estados e aos Municípios visando à cooperação no sentido de formular e/ou viabilizar

políticas ou financiar projetos para investimento nas polícias ou em ações e atividades

voltadas para a prevenção e a contenção da criminalidade. Abaixo o quadro 03

sintetiza e explicita a participação da União na Segurança Pública.

Page 39: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

37

Âmbito Instituições Responsabilidade

Operacional

Polícias Federais

Polícia Federal Ministério da Justiça Polícia Rodoviária Federal

Polícia Ferroviária Federal

Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem Ministério da Defesa

Força Nacional de Segurança Pública Ministério da Justiça

Articulação

Departamento Nacional de Trânsito Ministério das Cidades

Departamento Penitenciário Nacional Ministério da Justiça

Secretaria Nacional de Segurança Pública Ministério da Justiça

Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas Quadro 03 - Participação da União na Segurança Pública. Fonte: dados da pesquisa

Estão presentes neste rol de instituições órgãos não policiais e sem vínculos

diretoscom a segurança, como o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) e

o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em razão do grande impacto

produzido pelo trânsito viário e pelo sistema prisional na Segurança Pública.

A seguir serão detalhadas por ordem cronológica do marco legal as

instituições/órgãos da União com presença na Segurança Pública, quais sejam: o

DENATRAN, o DEPEN, as Polícias Federais, a Secretaria Nacional de Políticas sobre

Drogas (SENAD), o emprego das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem, a

Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e a Força Nacional de

Segurança Pública.

Órgãos/instituições Marco legal

Departamento Nacional de Trânsito Decreto-Lei nº 237 de 28/02/67

Departamento Penitenciário Nacional Lei nº 7210 de 11/07/84

PolíciasFederais CF de 1988

Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas MP nº 1669 de 19/06/98

Forças Armadas na GLO LC nº 97 de 09/06/99

Secretaria Nacional de Segurança Pública Lei nº 10.201 em 14/02/2001.

Força Nacional de Segurança Pública Decreto nº 5.289 29/11/2004

Quadro 04 - Órgãos/instituições federais com marco legal de participação na Segurança Pública

Fonte: dados da pesquisa

Page 40: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

38

4.1 O DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO

O DENATRAN está presente no contexto da Segurança Pública, em face do

forte vínculo existente entre trânsito e segurança. É por esta razão que as Polícias

Rodoviária Federal e Militar integram o Sistema Nacional de Trânsito. Além disso, o

mesmo artigo constitucional que trata da Segurança Pública inseriu as polícias

responsáveis pela fiscalização e policiamento do trânsito rodoviário, o que denota a

íntima relação entre segurança no trânsito e Segurança Pública.

Ademais, a segurança no trânsito está inserida no contexto de preservação da

ordem pública, atribuição constitucional concedidaàs forças policiais previstas no

artigo 144 da Constituição Federal.

O DENATRAN é uma autarquia criada pelo Decreto-lei nº 237 de 28/02/67que

modifica o então existente Código Nacional de Trânsito. Hoje ele integra o Sistema

Nacional de Trânsito na condição de órgão máximo do sistema e tem sua competência

prevista no artigo 19 da Lei nº 9503 de 23/09/97,que institui o Código de Trânsito

Brasileiro (CTB) em substituição ao Código Nacional de Trânsito.

Dentre suas atribuições, destacam-se: cumprir e fazer cumprir a legislação de

trânsito e a execução das normas e diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional

de Trânsito (CONTRAN); proceder à supervisão, à coordenação, à correição dos

órgãos delegados, ao controle e à fiscalização da execução da Política Nacional de

Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; articular-se com os órgãos dos sistemas

nacionais de trânsito, de transporte e de Segurança Pública, objetivando o combate à

violência no trânsito, promovendo, coordenando e executando o controle de ações

para preservação do ordenamento e da segurança do trânsito; supervisionar a

implantação de projetos e de programas relacionados com a engenharia,a educação,

a administração, o policiamento e a fiscalização do trânsito; e administrar o Fundo

Nacional de Segurança e Educação no Trânsito.

O que também evidencia a necessidade da presença do DENATRAN como

braço de Segurança Pública é o próprio conceito de policiamento ostensivo de trânsito

preconizado no anexo I do CTB:

Page 41: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

39

Função exercida pelas Polícias Militares com o objetivo de prevenir e reprimir atos relacionados com a segurança pública e de garantir obediência às normas relativas à segurança de trânsito, assegurando a livre circulação e evitando acidentes.

Portanto, há clara evidência de que todas as questões que envolvam o trânsito,

seja ele urbano ou rodoviário é altamente relevante para a Segurança Pública.

O gráfico abaixo demonstra a evolução dos recursos destinados ao Fundo

Nacional de Segurança e Educação no Trânsito (FUNSET) nos últimos anos, cujo

objetivo foi o financiamento de projetos voltados para a educação e a segurança no

trânsito.

Fonte: Portal da transparência acessado em 29/04/15 – www.portaltransparencia.gov.br

Page 42: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

40

4.2 O DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL

A gestão da execução penal consiste em um dos elos do sistema de Segurança

Pública, o qual é integrado também pelos ciclos policial e de justiça criminal. A última

fase dentro desse sistema consiste no efetivo cumprimento da pena do condenado

após o devido processo legal. A má qualidade do cumprimento da pena ou a

incapacidade de reinserção social favorecem a reincidência criminal comprometendo

o ambiente de Segurança Pública. Meireles (2007, p.122) descreve a relevância do

sistema prisional para a Segurança Pública da seguinte forma:

É extremamente oportuno que a sociedade se aperceba e o Estado se conscientize de que a reinserção social resulta de esforços harmônicos da persecução penal e da reintegração social, reconhecendo a importância que a administração prisional, ou administração penitenciária ou polícia prisional tem em nossos dias, tanto quanto a polícia administrativa, a polícia ostensiva, a polícia de desastres e a polícia judiciária.

No âmbito federal, o DEPEN é órgão responsável pela gestão penitenciária no

Brasil. Foi criado pela Lei nº 7210 de 11/07/84 que instituiu a Lei de Execução Penal

no país e tem, com base no seu artigo 72, as seguintes atribuições: acompanhar a fiel

aplicação das normas de execução penal em todo o território nacional; inspecionar e

fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços penais; assistir tecnicamente

as unidades federativas na implementação dos princípios e regras estabelecidos

nessa lei; colaborar com as unidades federativas mediante convênios, na implantação

de estabelecimentos e serviços penais; colaborar com as unidades federativas para a

realização de cursos de formação de pessoal penitenciário e de ensino

profissionalizante do condenado e do internado e estabelecer, mediante convênios

com as unidades federativas, o cadastro nacional das vagas existentes em

estabelecimentos locais destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade

aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em especial para presos sujeitos a

regime disciplinar; e gerenciar o Fundo Nacional Penitenciário (FUNPEN).

Um dos grandes juristas brasileiros, Albergaria (apud Brito, 2013, p. 193),

também destaca a importância do papel do DEPEN da seguinte forma:

É o órgão diretamente ligado ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), prestando-lhe o apoio administrativo e financeiro e em âmbito nacional assegura a aplicação das normas gerais do regime penitenciário. É o órgão executivo encarregado da integração das normas e

Page 43: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

41

da uniformização de sua aplicação e colabora com os Estados na transferência de recursos e orientações técnicas.

Já para Lyra (apud Brito, 2013, p. 193), esse Departamento Penitenciário

apresenta papel mais significativo do que é revelado pela simples interpretação da

norma conforme relata:

Sua missão revela-se mais importante do que aparenta, pois para garantir-se a legalidade e a jurisdicionalidade da execução não se pode abandoná-la ao alvedrio de cada executor, pois o prejuízo à legalidade que pode causar a diversidade de tratamentos de Estado para Estado, estabelecimento a estabelecimento com rigores ilícitos segundo os meios disponíveis e a flutuação de critérios excessivamente discricionários.

O gráfico abaixo demonstra a evolução dos recursos destinados ao FUNPEN

nos últimos anos, cujo objetivo foi o financiamento de projetos voltados para a

execução penal.

Fonte: Portal da transparência acessado em 29/04/15 – Disponível em:www.portaltransparencia.gov.br

Page 44: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

42

4.3 AS POLíCIAS FEDERAIS

As Polícias Federais são órgãos permanentes e estão presentes no artigo 144

da atual Constituição Federal sendo compreendidas pelas Polícias Federal,

Rodoviária Federal e Ferroviária Federal.

A Polícia Federal tem sua competência explicitada nos incisos I ao IV do

parágrafo 1º do mesmo artigo, cabendo-lhe basicamente apurar as infrações penais

de interesse da União e outras de impacto interestadual ou internacional, prevenir e

reprimir o tráfico ilícito de drogas, exercer as funções de polícia marítima,

aeroportuária e de fronteiras e atuar com exclusividade como polícia judiciária da

União.

O art. 109 da Constituição Federal estabelece quais ações são julgadas pela

Justiça Federal, ou seja, as situações em que a competência de apuração cabe à

Polícia Federal dentre elas: os crimes políticos e as infrações penais praticadas em

detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas

ou empresas públicas; os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,

quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no

estrangeiro; as causas relativas a direitos humanos com a qual o país tenha se

comprometido em tratado internacional; os crimes contra a organização do trabalho e

contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; os crimes cometidos a

bordo de navios ou de aeronaves que não sejam da competência da Justiça Militar; e

os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro.

Já a Polícia Rodoviária Federal tem sua competência prevista no parágrafo 2º

do mesmo artigo, cabendo-lhe o patrulhamento ostensivo das rodovias federais. Suas

atribuições estão detalhadas no art. 20 da Lei nº 9.503 que institui o Código de Trânsito

Brasileiro(CTB), as quais destacam-se: cumprir e fazer cumprir a legislação e as

normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; realizar o patrulhamento ostensivo,

executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de

preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de

terceiros;e aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações de trânsito, as

medidas administrativas decorrentes e os valores provenientes de estada e remoção

Page 45: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

43

de veículos, objetos, animais e escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou

perigosas.

A Polícia Ferroviária Federal tem sua competência prevista no parágrafo 3º do

mesmo artigo, cabendo-lhe o patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. Não

existe legislação que estabeleça o detalhamento das atribuições da Polícia Ferroviária

Federal e nem Policiais Ferroviários de carreira.

Apesar da atividade de policiamento em ferrovias ter sido criada ainda no

império por Dom Pedro II com a denominação de polícia dos caminhos de ferro para

prover segurança no principal meio de transporte naquela época, com a decadência

do transporte ferroviário, a segurança ferroviária também declinou e, apesar de ser

constitucionalizada, está hoje praticamente inexistente, sem estrutura, sem servidores

e sem política.

4.4 A SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS

A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) foi criada pela

Medida Provisória nº 1669 de 19/06/98 e se destina a estabelecer políticas públicas

de prevenção às drogas. Entende-se que essa Secretaria seja parte integrante do

braço federal de atuação na Segurança Pública em face do protagonismo exercido

pelas drogas no cenário de criminalidade e violência.

Existem correntes contundentes e forte evidência de que a força motriz da

violência e principal desestabilizadora no ambiente da Segurança Pública no Brasil

seja o uso e o consequente tráfico ilícito de drogas. A Diretriz para a Prestação de

Serviços de Segurança Pública nº 3.01.03/2010-CG, que regula a atuação da Polícia

Militar de Minas Gerais na prevenção da demanda e da oferta de drogas, estabelece

o seguinte em relação ao vínculo das drogas com a criminalidade e a necessidade de

articulação para seu combate:

A complexidade do problema das drogas exige a conexão de várias abordagens técnicas relacionadas ao tema que, sem embargo, demonstram que a Polícia Militar sozinha não conseguirá sobressair-se contra as drogas. Na busca por um modelo policial eficaz no combate ao tráfico e na prevenção ao uso indevido de drogas, torna-se de fundamental importância partir da premissa da Multidisciplinaridade do tema e da interdependência das ações

Page 46: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

44

e iniciativas dos diversos atores sociais que prestam, a sua maneira, valorosas contribuições. A atuação isolada dos diversos órgãos públicos, cada um cumprindo sua “obrigação”, não tem produzido os resultados desejados pela sociedade.

A SENAD possui uma série de atribuições legais, dentre elas podem-se

destacar: articular e coordenar as atividades de prevenção do uso indevido de drogas,

a atenção aos usuários e a reinserção social de dependentes; propor a atualização da

política nacional sobre drogas, na esfera de sua competência; consolidar as propostas

de atualização da política nacional sobre drogas; definir estratégias e elaborar planos,

programas e procedimentos, na esfera de sua competência, para alcançar os

objetivos propostos na política nacional sobre drogas e acompanhar a sua execução;

promover o intercâmbio com organismos nacionais e internacionais na sua área de

competência; propor medidas na área institucional visando ao acompanhamento e ao

aperfeiçoamento da ação governamental relativa à política nacional sobre drogas; e

gerir o Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD).

O gráfico abaixo demonstra a evolução dos recursos destinados ao FUNAD nos

últimos anos, cujo objetivo foi o financiamento de projetos voltados para a prevenção

ao uso e ao tráfico de drogas.

Fonte: Portal da transparência acessado em 29/04/15 – Disponível em:www.portaltransparencia.gov.br

Page 47: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

45

4.5 O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

As Forças Armadas estão constitucionalizadas desde a primeira Carta

Republicana de 1891 e até a atual Constituição Federal sua missão praticamente

permaneceu a mesma, ou seja, a defesa da pátria, a garantia dos poderes

constitucionais e a GLO. O grande diferencial da Carta atual foi a previsão de

regulamentação do seu emprego, o que ocorreu em 09/06/99 por meio da Lei

Complementar nº 97, devidamente revisada em 2004 e 2010, e que estabelece duas

hipóteses de emprego conforme quadro abaixo:

Emprego principal Atribuição subsidiária

Defesa da Pátria

(art. 15)

Cooperar com o Desenvolvimento Nacional

(art. 16)

Garantia dos Poderes constitucionais

(art. 15)

Cooperar cm a Defesa Civil

(art. 16)

Garantia da Lei e da Ordem

(art. 15)

Ações preventivas e

repressivas na faixa

de fronteira contra

delitos

transfronteiriços e

ambientais

(art. 16-A)

Patrulhamento

(inciso I)

Participação em Operações de paz

(art. 15)

Revista de pessoas, de

veículos terrestres, de

embarcações e de

aeronaves (inciso II)

Prisões em flagrante

delito (inciso III)

Quadro 05 – Hipóteses de emprego das Forças Armadas conforme Lei Complementar nº 97

Fonte: dados da pesquisa

Pode-se verificar, portanto, que de acordo com a aludida Lei Complementar, a

GLO está dentre as atribuições principais e, apesar das ações preventivas e

repressivas nas fronteiras por meio de patrulhamento, revistas e prisões em flagrante

constituírem em atribuições subsidiárias, são atividades típicas de GLO.

A defesa da pátria ocorre em caso de guerra prevista no inciso XIX do artigo 84

da Constituição Federal. Já a garantia dos poderes constituídos tem previsão também

constitucional nos artigos 136 e 137 nas decretações de estados de defesa e de sítio

Page 48: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

46

respectivamente. Ainda na garantia dos poderes, há previsão legal da segurança

pessoal de autoridades nacionais e estrangeiras em missão oficial.

O emprego das Forças Armadas na GLO é de responsabilidade do Presidente

da República com competência do Ministro da Defesa. Vale ressaltar que este

emprego está condicionado ao esgotamento dos instrumentos destinados à

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,

relacionados no artigo 144 da Constituição Federal. O anexo único estabelece com

clareza a sistemática de emprego das Forças Armadas na GLO.

O Decreto nº 3897 de 24/08/2001 estabeleceu as diretrizes para emprego das

Forças Armadas na GLO, especialmente por meio dos artigos 3º e 5º, conforme

abaixo:

Art. 3º Na hipótese de emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e da ordem, objetivando a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, porque esgotados os instrumentos a isso previstos no art. 144 da Constituição, lhes incumbirá, sempre que se faça necessário, desenvolver as ações de polícia ostensiva, como as demais, de natureza preventiva ou repressiva, que se incluem na competência, constitucional e legal, das Polícias Militares, observados os termos e limites impostos, a estas ultimas, pelo ordenamento jurídico. Art. 5º O emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, que deverá ser episódico, em área previamente definida e ter a menor duração possível, abrange, ademais da hipótese objeto dos artigos 3º e 4º, outras em que se presuma ser possível a perturbação da ordem, tais como as relativas a eventos oficiais ou públicos, particularmente os que contem com a participação de Chefe de Estado, ou de Governo, estrangeiro, e à realização de pleitos eleitorais, nesse caso quando solicitado.

Portanto, a Portaria Normativa nº 3.461/MD de 19/11/2013 do Ministério da

Defesa conceitua Operação de GLO da seguinte forma:

é uma operação militar conduzida pelas Forças Armadas, de forma episódica, em área previamente estabelecida e por tempo limitado, que tem por objetivo a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio em situações de esgotamento dos instrumentos para isso previstos no art. 144 da Constituição ou em outras em que se presuma ser possível a perturbação da ordem.

O que se pode abstrair da legislação sobre o emprego das Forças Armadas se

resume na defesa da pátria, na garantia dos poderes constitucionais, na participação

em operações de paz, na cooperação com o desenvolvimento nacional, na

cooperação com a defesa civil, nas operações fronteiriças e na GLO. Em relação a

este último item, percebe-se que duas premissas norteiam as Forças Armadas na

Page 49: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

47

GLO, quais sejam: o esgotamento dos instrumentos previstos no artigo 144 da

Constituição Federal concernente à competência das Políciais Militares com objetivo

direcionado à preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do

patrimônio. Resumidamente, a GLO se traduz no exercício do papel executado pelas

Políciais Militares quando elas se apresentem com esgotamento de cumprir seu papel

constitucional.

4.6 A SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) foi criada pelo Decreto

nº 2.315, de 4/09/97 e teve papel pouco relevante até o ano de 2000, quando foi criado

o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) por meio da Medida Provisória nª

2.126-8 de 27/12/2000, convertida na Lei nº 10.201 em 14/02/2001.

Durante bom tempo, a SENASP, por meio do FNSP, funcionava precariamente

no financiamento de projetos, pois os recebia de forma isolada dos Estados,

examinava sua adequação formal às exigências estabelecidas e, burocraticamente,

repassava os recursos.

A partir de 2002, melhorou a sua metodologia de atuação, passando a exigir a

substituição de projetos isolados por planos sistêmicos que se mostrassem capazes

de promover reformas significativas nas organizações policiais, tais como: o aumento

da eficiência policial, a valorização profissional, o policiamento comunitário e o

respeito aos direitos humanos.

São atribuições legais da SENASP preconizadas pelo Decreto nº 6.061 de

15/03/07, dentre outras atividades:assessorar o Ministro de Estado na definição,

implementação e acompanhamento da Política Nacional de Segurança Pública e dos

programas federais de prevenção social, controle da violência e da criminalidade;

planejar, acompanhar e avaliar a implementação de programas do Governo Federal

para a área de segurança pública; elaborar propostas de legislação e regulamentação

em assuntos de segurança pública, referentes ao setor público e ao setor privado;

Page 50: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

48

promover a integração dos órgãos de segurança pública; estimular a modernização e

o reaparelhamento dos órgãos de segurança pública; promover a interface de ações

com organismos governamentais e não-governamentais, de âmbito nacional e

internacional; e realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados para a redução da

criminalidade e da violência.

O gráfico abaixo demonstra a evolução dos recursos destinados ao Fundo

Nacional de Segurança Pública nos últimos anos, cujo objetivo foi o financiamento de

projetos voltados para a prevenção da criminalidade e da violência.

Fonte: Portal da transparência acessado em 29/04/15 –Disponível em:www.portaltransparencia.gov.br

4.7 A FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

A Força Nacional de Segurança Pública foi criada em 29/11/2004 pelo Decreto

nº 5.289, que estabelecia a criação de um programa de cooperação federativa no

âmbito da administração pública federal por meio de atos formais específicos. Esse

Decreto é motivado pelo disposto nos artigos 144 e 241 da Constituição Federal

baseando-se no princípio de solidariedade federativa que orienta o desenvolvimento

das atividades do sistema único de segurança pública.

Page 51: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

49

O artigo 144 estabelece o rol dos órgãos federais e estaduais encarregados da

segurança pública, já o artigo 241 preconiza os consórcios públicos, bem como os

convênios de cooperação:

Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos

Essa força poderá ser empregada em qualquer parte do território nacional

mediante determinação do Ministro da Justiça, após solicitação expressa do

respectivo Governador de Estado, do Distrito Federal ou do Ministro de Estadovisando

à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Trata-se de uma força mobilizável para atuação em todo o território nacional e

integrada por policiais das políciais federais, militares e servidores civis dos estados

federados. Segundo a norma, o Ministério da Justiça deve manter pelo menos

quinhentos homens permanentemente treinados para emprego imediato.

A Lei nº 11.473 de 10/05/2007, que dispõe sobre cooperação federativa no

âmbito da segurança pública, estabelece em seu artigo 1º que o objeto desse acordo

deve repousar sobre “atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. O artigo 3º do mesmo

diploma legal estabelece o que se considera serviços imprescindíveis:

O policiamento ostensivo, o cumprimento de mandados de prisão, o cumprimento de mandados de soltura, a guarda, a vigilância e a custódia de presos, os serviços técnico-periciais, qualquer que seja sua modalidade e o registro de ocorrências policiais.

Portanto, trata-se de uma força tarefa criada para atender às necessidades

emergenciais dos Estados, mediante adesão voluntária e que já foi empregada em

ações de combate ao tráfico, de cultivo ilícito de drogas, em operações durante

rebeliões em presídios e casas de detenção, no combate a crimes ambientais como

exploração ilegal mineral, operações de controle de distúrbios, operações de defesa

civil e ações humanitárias.

A seção 5 destinar-se-á às considerações finais, ocasião em que serão

apresentadas as conclusões e as propostas de sugestões.

Page 52: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho destinou-se a identificar a participação atual da União na

Segurança Pública. O tema é de singular relevância, no presente panorama de

degradação do ambiente pela criminalidade e violência no país. Buscou-se ainda

mostrar a relevância da Segurança Pública para a Estratégia Nacional e apresentar a

trajetória constitucional da União na Segurança Pública desde o Império até a

Constituição Federal de 1988. Portanto, serão apresentadas abaixo as principais

constatações, bem como algumas propostas factíveis e viáveis para a evolução da

gestão da Segurança Pública no país.

5.1 CONCLUSÕES

Ficou evidente, após acurada análise de alguns conceitos doutrinários, bem

como de premissas legais, a estreita relação existente entre Segurança Pública e a

Estratégia Nacional, pois ela é relevante senão imprescindível tanto para o Poder

Nacional quanto para os Objetivos Nacionais Fundamentais.

Quanto à análise histórica do papel da União na Segurança Pública, procurou-

se levantar como as Cartas Constitucionais trataram a questão na distribuição de

competências, em especial quanto ao governo central conforme quadro-resumo

constante no apêndice “E”. Foram sete Cartas, sendo uma do Império e seis

Republicanas, das quais quatro delas foram elaboradas por Assembleias

Constituintes, quais sejam: as de 1891, 1934, 1946 e 1988. Apenas as cartas de 1824,

logo após o processo de independência, e a de 1937, que inaugurou o Estado Novo,

foram outorgadas.

Cada Constituição foi elaborada em cenários internos e externos que deram

contornos sociais e políticos bem característicos conforme cada época. Os apêndices

“C” e “D” retratam de forma simples e resumida os contextos históricos nacional e

internacional respectivamente em que as Cartas foram elaboradas. A Segurança

Pública aparece em todas as cartas, mas de formas bem distintas, mesmo porque o

termo Segurança Pública somente surge pela primeira vez na atual Carta. Algumas

Page 53: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

51

expressões utilizadas, tais como:segurança interna, ordem e tranquilidade dos

estados, manutenção das leis no interior, serviços policiais, prevenção, repressão da

criminalidade, garantia da lei e da ordem e manutenção da ordem foram objeto de

análise para avaliar a presença da União na Segurança Pública.

Há entendimento por meio da interpretação da Carta Magna, de que a União é

um ente tão responsável pela segurança quanto os Estados federados e os

Municípios, devendo inclusive ser a protagonista nesse processo, tendo em vista que

a insegurança pública compromete a Estratégia Nacional.

Não há percepção de clamor público direcionado para a União, pois a

sociedade não tem clareza do seu real papel na segurança e nem da sua estrutura

para o cumprimento de suas missões previstas no artigo 144, parágrafos 1º ao 3º da

Constituição da República, em face do senso comum de que a competência recai

sobre os Estados federados.

Vale ressaltar que todas as Cartas, em especial a atual, valorizaram muito a

segurança, colocando-a como direito e garantia fundamentais, e também atribuiram

expressamente ao Estado brasileiro o dever de proporcioná-la conforme o caput do

artigo 144.

Todavia, ainda é preciso desmistificar a corrente reinante de que a regra é

atribuir a competência principal da Segurança Pública aos Estados membros

mediante ação das polícias estaduais com suplemento da União em apoio à estrutura

estadual.

Hoje, a interpretação mais coerente está na direção do estabelecimento da

Segurança Pública como dever do Estado brasileiro com responsabilidade

compartilhada entre todas as três esferas de governo e não mais como atribuição

principal do Estado-membro e apenas secundária da União. O que corrobora com este

pensamento é a Proposta de Emenda à Constituição nº 33 que altera os artigos 23 e

24 da Constituição Federal no sentido de tornar comum a competência para União,

Estados e Municípios em relação à segurança pública.

O que se pode inicialmente depreender da análise de cada uma das Cartas

Constitucionais, sob o ponto de vista da presença da União na Segurança Pública, é

Page 54: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

52

a ausência de padrão em relação ao papel desempenhado pelo ente federal, mesmo

porque o conceito de Segurança Pública aparece pela primeira vez somente na

Constituição Federal de 1988. Mesmo assim, a expressão prevenção e repressão à

criminalidade, intimamente vinculada à Segurança Pública, já surgia na Constituição

de 1934.

Todavia, é importante que haja uma interpretação analítica de cada Carta para

que se possa entender, com base nos respectivos contextos políticos e sociais e por

meio das instituições citadas, o posicionamento da União no âmbito da segurança.

No contexto geral, percebe-se que em todas as Constituições, com exceção da

carta de 1937, existem alguns dispositivos alusivos à presença da União quanto aos

aspectos de segurança e de defesacom evidência de significado de Segurança

Pública.

Sob o ponto de vista quantitativo, cada Carta apresentou em média 02 artigos

sobre o assunto, sendo que a de 1824 apresentou apenas um e a de 1934 explicitou

quatro. Em relação aos aspectos de conteúdo, a Carta de 1934 trouxe importantes

novidades como a previsão da mobilização das polícias estaduais, a previsão de

acordos entre União e Estados para prevenir e reprimir a criminalidade, a

constitucionalização das Polícias Militares e a consolidação das Forças Armadas

como garantidora da lei e da ordem.

Aliás, as Forças Armadas são citadas com sua missão em todas as sete

Constituições, com exceção da carta de 1937 que não menciona seu papel. É

importante frisar esta presença das Forças Armadas nas Cartas Constitucionais, pois

evidencia o seu papel de garantidora da lei e da ordem como missão teoricamente

secundária. A Constituição de 1988 apresentou nesta direção a previsão de

regulamentação desse papel por meio de lei complementar.

A Constituição de 1891 preconiza que a União não intervirá nos Estados,

exceto para restabelecer a ordem e a tranquilidade, mediante requisição dos

respectivos governos estaduais, o que significa o caráter de suplementação e apoio

da segurança nos Estados membros, que antes desta carta tinham o status de

províncias. Outra particularidade dessa carta que também a diferencia das demais é

a previsão das Forças Armadas na manutenção da lei no interior.

Page 55: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

53

A Carta de 1937 estabeleceu como competência da União a organização da

polícia, bem como legislar sobre a ordem, a tranquilidade e a Segurança Pública

quando necessário. Pode-se inferir que o termo polícia tratado nessa Carta se refere

à Polícia Federalque passou a ter esta nomenclatura em 1944, sendo

constitucionalizada apenas em 1967. Esta Constituição Federal foi omissa e não

introduziu nenhum aspecto relevante para a União sob o prisma da Segurança

Pública.

Já a carta de 1946, em um de seus três artigos que faz menção à segurança e

à defesa, introduziu pela primeira vez em uma Constituição Federal a missão das

Polícias Militares que se traduziu na manutenção da ordem nos Estados.

A Carta de 1967 inovou com a constitucionalização da Polícia Federal e a

consolidação dos mesmos pressupostos das Cartas anteriores, tais como: a

competência das Políciais Militares e a missão das Forças Armadas na garantia da lei

e da ordem.

A Constituição Federal de 1988 estabelece a Segurança Pública como dever

do Estado brasileiro e apresenta as forças de segurança para exercer tal mister nos

âmbitos federal e estadual com conotação de um sistema nacional de segurança

pública. Esta Carta inovou com a constitucionalização no âmbito federal das Polícias

Rodoviária e Ferroviária Federal e no âmbito estadual da Polícia Civil.

Pode-se extrair, após a análise de todas as Constituições, algumas breves

constatações em relação à segurança pública:

A Segurança Pública esteve presente em todas as Constituições, mas com

terminologias diferentes. O termo segurança pública aparece pela primeira

vez somente em 1988.

A relevância e a importância oscilaram em cada Carta. Algumas Cartas

foram tímidas em relação ao assunto, como a de 1937, enquanto outras

apresentaram vários dispositivos com avanços relevantes, como a de 1934.

Embora a Segurança Pública seja responsabilidade do Estado brasileiro e

não apenas dos Estados-membros, a União nunca foi protagonista com

participação mais efetiva sob o ponto de vista Constitucional.

Page 56: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

54

Ficou evidente, em praticamente todas as constituições, que a GLO sempre

foi uma das atribuições das Forças Armadas, o que ensejou

regulamentação após a Constituição Federal de 1988.

Na identificação da atual estrutura da União para fazer face à Segurança

Pública, constatou-se que ela se apresenta por meio de duas vertentes, quais sejam:

a operacional e a de articulação. A vertente operacional se traduz na presença de

forças de segurança por meio de ações ostensivas ou investigativas. O nível

operacional é constituído pelas Polícias Federais, pelas Forças Armadas na GLO e

pela Força Nacional de Segurança Pública. Já a vertente de articulação é integrada

por órgãos responsáveis pela formulação de políticas, pela articulação com Estados

e Municípios e pela gestão no financiamento de projetos por meio de fundos

específicos para investimento nas polícias ou em ações que impactam o ambiente de

Segurança Pública. Além disso,é integrada pelo Departamento Nacional de Trânsito,

pelo Departamento Penitenciário Nacional, Secretaria Nacional de Políticas sobre

Drogas e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.

5.2 PROPOSTAS E SUGESTÕES

Embora a União tenha participação significativa na Segurança Pública, seus

órgãos e suas atribuições legais estão esparsas, não havendo concentração dos

esforços em um mesmo ministério. A ausência de clareza do seu papel é perceptível

a começar pelo marco legal constitucional que enseja interpretação dúbia. Aliás,

embora a Carta de 1988 tenha avançado muito em relação as demais no sentido de

esboçar um Sistema Nacional de Segurança Pública com a definição das forças

policiais e suas respectivas competências, quase três décadas já se passaram e urge

a necessidade de uma atualização em relação ao artigo 144.

Outra questão importante repousa na revisão da estrutura organizacional da

União para fazer face ao cenário de criminalidade e violência, o que exige uma pasta

com um foco bem definido no sentido de gerenciar, no âmbito do governo central, a

coordenação das polícias federais e o fomento de políticas públicas de combate à

violência e à criminalidade.

Page 57: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

55

Dessa forma, sugere-se medidas urgentes e fundamentais em dois níveis: a

revisão do marco legal constitucional e a atualização da estrutura organizacional do

Governo Federal.

No tocante à revisão constitucional, sugere-se uma proposta de emenda

constitucional (PEC) visando a reformular totalmente o artigo 144 estabelecendo um

real e verdadeiro Sistema Nacional de Segurança Pública. No caput do artigo 144,

deve haver a assertiva de que a segurança pública em face da sua relevância,

transversalidade e multisetorialidade é função estatal e comum à União, Estados

membros e Municípios. Em seguida, deve haver a identificação de cada força policial

com suas respectivas competências, porém com algumas alterações em relação ao

texto atual conforme abaixo:

Exclusão da Polícia Ferroviária Federal, pois foi constitucionalizada em

1988, mas não existe como instituição permanente.

Constitucionalização da Polícia Técnico Científica, corporação já existente

em vários estados da Federação e que vem evoluindo e se

profissionalizando no campo pericial.

Inserção da Guarda Municipal como força no âmbito dos municípios e com

criação obrigatória em cidades com mais de cem mil habitantes.

Em relação à atualização da estrutura da União para o gerenciamento do

Governo central na Segurança Pública, sugere-se a criação do Ministério de Defesa

Social, conforme apêndice “F” com as seguintes mudanças:

Devem estar subordinados ao novo Ministério, as Polícias Federais, a Força

Nacional de Segurança Pública, a Secretaria Nacional de Segurança

Pública (SENASP), a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas

(SENAD) e o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN).

O Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), que atualmente está

subordinado ao Ministério das Cidades, passará a integrar o novo

Ministério.

Subordinação dos três Conselhos Deliberativos ao novo Ministério:

Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), o Conselho Nacional de

Page 58: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

56

Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), Conselho Nacional Anti Drogas

(CONAD) e o Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP).

A existência do Ministério deDefesa Sociel preenche a lacuna da inexistência

de uma pasta com negócio focado exclusivamente nas atividades de Segurança

Pública.

Page 59: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

57

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Page 64: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

62

APÊNDICE A – RELEVÂNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA PARA A ESTRATÉGIA NACIONAL

LEGENDA: Relevância para a segurança pública. Figura 02 – Relevância da segurança pública para a Estratégia Nacional.

Fonte: Adaptado da ESCOLA SUPERIOR DE GUEERA (Brasil). Fundamentos doutrinários da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 2000.

EX

PR

ES

ES

PODER NACIONAL OBJETIVOS NACIONAIS FUNDAMENTAIS

Política Poder dever estatal de promover a

segurança.

Construir uma sociedade

livre, justa e solidária.

Princíp

ios

Republicanismo

Econômica

Custo econômico da insegurança

pública.

Harmonia entre os poderes

Pluralidade política partidária

Alternância de Poder

Livre participação da sociedade

Garantia dos direitos

fundamentais

Responsabilidade dos governantes

Psicossocial

FA

TO

RE

S

Cultura e padrão comportamental

Garantir o desenvolvimento

nacional.

Cara

cte

rísticas

Adequado crescimento econômico

Bem-estar

Saúde Justa distribuição de renda

Habitação Capacidade de prover segurança

Saneamento Padrão de vida elevado

Educação Ética e eficácia na política

Trabalho Aperfeiçoamento moral

Segurança

pública

Constante avanço em C&T

Militar Emprego de recursos militares na

garantia da lei e da ordem.

Erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as

desigualdades sociais e

regionais.

Erradicar a marginalização

Ciência e

Tecnologia

Policiamento de meio ambiente na

polícia ambiental.

Promover o bem de todos

sem preconceitos de origem,

raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de

discriminação.

Promoção da paz social

Page 65: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

63

APÊNDICE B – POSIÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO ORGANOGRAMA DE PODER DA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL

. Figura 03 – Posição da segurança pública no organograma de poder da constituição imperial. Fonte: Adaptado da palestra EVOLUÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA proferida pelo Cel R1 Osvaldo Fonseca ao CAEPE em 25/03/2015.

Poder moderador

Poder judiciário

Supremo Tribunal de

Justiça

Poder executivo

Secretaria de estado dos negócios do Império do

Brasil

Intendência geral da polícia

da corte

Divisão militar da guarda real

da polícia

Presidentes de província

Conselhos provinciais

Conselho de estado

Poder legislativo

Assembleia geral

SenadoCâmara dos Deputados

Page 66: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

64

APÊNDICE C – AS CONSTITUIÇÕES NO CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO

Início da Nova República (crise fiscal,

inflação e moratória).

Ciclo Militar (Milagre econômico, II e III Plano

Nacional de Desenvolvimento),

República Populista

(fase desenvolvimentista

e crise política e

econômica)

Revolta dos

Marinheiros

Renúncia de Janio e

Crise econômica

Revolta dos

Sargentos Plano de metas JK

Estado Novo

(Era Vargas)

Forte processo de

industrialização nacional

Revolução constitucionalista

Revolução

República Velha* e

Políticado café com leite

Crise do café

Rebelião tenentista

Guerra dos canudos

Revolta armada

Proclamação da República

Monarquia e ciclo econômico do café

Abolição da escravatura

Revolução

Pernambucana

Conjuração Baiana

Inconfidência Mineira

(*) República velha: dividida em República da espada (1888-1894) e República Oliguárquica (1894-1930). Figura 4 – As constituições no contexto histórico brasileiro. Fonte: Dados da pesquisa.

1891

1934

1937

1946

1988

1798

1817

1892/94

1896/97

Década de 20

1929

1930

1932

1957/61

1961/64

1963

1964

1789

1824

1888

1889

1967

Page 67: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

65

APÊNDICE D – AS CONSTITUIÇÕES NO CONTEXTO HISTÓRICO INTERNACIONAL

Figura 5 – As constituições no contexto histórico internacional. Fonte: dados da pesquisa.

Recessão econômica nos países capitalistas

Moratória mexicana

Crise do petróleo

4ª Crise do capitalismo

II Guerra mundial

I Guerra mundial

Guerra do Paraguai

Guerra Cisplatina

Independência dos Estados Unidos

Guerra fria e consolidação do imperialismo

3ª Crise do captalismo

Revolução Russa

2ª Crise do capitalismo

2ª Revolução industrial e 1ª crise do capitalismo

Revolução Francesa 1789

1825

1824

1891

1869/70

1913 1914/18

1917

1929

1937

1939/45

1946

1988

Anos 70 1967

1979

1982

1776

1934

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66

APÊNDICE E – QUADRO RESUMO DAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS

EXTRATO DAS CARTAS CONSTITUCIONAIS PALAVRAS E TERMOS CHAVES

1824 – CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRASIL

Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado. São suas principais atribuições: XV. Prover a tudo, que fôr concernente á segurança interna, e externa do Estado, na forma da Constituição.

Segurança interna é competência

do Imperador

1891 –CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

Art 6º - O Governo federal não poderá intervir nos negócios peculiares aos Estados, salvo: 3º) para restabelecer a ordem e a tranquilidade nos Estados, à requisição dos respectivos Governos.

Obs: Redação alterada pela Emenda Constitucional nº 03 de 09set1926 que não mais cita a ordem e a tranquilidade públicas. Art 14 - As forças de terra e mar são instituições nacionais permanentes, destinadas à defesa da Pátria no exterior e à manutenção das leis no interior. Art. 34 – Compete privativamente ao Congresso Nacional: 20º) mobilizar e utilizar a Guarda Nacional ou milícia cívica nos casos previstos pela constituição.

Governo federal somente poderá

intervir nos Estados para

restabelecer a ordem e a

tranquilidade.

As forças de terra e mar são

destinadas a manutenção das leis

no interior.

Competência do congresso

nacional para mobilização da

Guarda Nacional

1934 – CONSTITUIÇAO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL Art 5º - Compete privativamente à União: V - organizar a defesa externa, a polícia e segurança das fronteiras e as forças armadas; XI - prover aos serviços da polícia marítima e portuária, sem prejuízo dos serviços policiais dos Estados. XIX - legislar sobre: l) organização, instrução, justiça e garantias das forças policiais dos Estados e condições gerais da sua utilização em caso de mobilização ou de guerra; Art 9º - É facultado à União e aos Estados celebrar acordos para a melhor coordenação e desenvolvimento dos respectivos serviços, e, especialmente, para a uniformização de leis, regras ou práticas, arrecadação de impostos, prevenção e repressão da criminalidade e permuta de informações. Art 162 - As forças armadas são instituições nacionais permanentes, e, dentro da lei, essencialmente obedientes aos seus superiores hierárquicos. Destinam-

Compete à União os serviços de

polícia marítima e portuária

Compete àUnião legislar sobre os

casos de mobilização das forças

policiais dos Estados em caso de

mobilização.

Faculdade de acordo entre União e

Estados para prevenir e reprimir a

criminalidade.

Forças Armadas na garantia da lei

e da ordem.

Polícias Militares reservas do

Exército com as mesmas

prerrogativas quando mobilizadas.

Page 69: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

67

se a defender a Pátria e garantir os Poderes constitucionais, e, ordem e a lei. Art 167 - As polícias militares são consideradas reservas do Exército, e gozarão das mesmas vantagens a este atribuídas, quando mobilizadas ou a serviço da União.

1937 – CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL Art 15 - Compete privativamente à União: IV - organizar a defesa externa, as forças armadas, a polícia e segurança das fronteiras; Art 16 - Compete privativamente à União o poder de legislar sobre as seguintes matérias: II - a defesa externa, compreendidas a polícia e a segurança das fronteiras; V - o bem-estar, a ordem, a tranqüilidade e a segurança públicas, quando o exigir a necessidade de uma regulamentação uniforme;

Compete à União organizar a

polícia.

Compete à União legislar sobre a

polícia.

Compete à União legislar sobre a

ordem, a tranquilidade e a

segurança pública quando

necessário.

1946 – CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL Art 5º - Compete à União: IV - organizar as forças armadas, a segurança das fronteiras e a defesa externa; VII - superintender, em todo o território nacional, os serviços de polícia marítima, aérea e de fronteiras. XV - legislar sobre: f) organização, instrução, justiça e garantias das policias militares e condições gerais da sua utilização pelo Governo federal nos casos de mobilização ou de guerra; Art 177 - Destinam-se as forças armadas a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem. Art 183 - As polícias militares instituídas para a segurança interna e a manutenção da ordem nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, são consideradas, como forças auxiliares, reservas do Exército. Parágrafo único - Quando mobilizado a serviço da União em tempo de guerra externa ou civil, o seu pessoal gozará das mesmas vantagens atribuídas ao pessoal do Exército.

Compete à União superintender os

serviços de polícia marítima, aérea

e de fronteiras.

Compete à União legislar sobre as

prerrogativas das Políciais

Militares quando mobilizadas pelo

governo federal.

Forças Armadas na garantia da lei

e da ordem.

Polícias Militares na segurança

interna e na manutenção da ordem

nos Estados.

1967 – CONSTTUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Art 8º - Compete à União: VII - organizar e manter a polícia federal com a finalidade de prover: a) os serviços de política marítima, aérea e de fronteiras; b) a repressão ao tráfico de entorpecentes; c) a apuração de infrações penais contra a segurança nacional, a ordem política e social, ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União, assim como de outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei: Art 13 - Os Estados se organizam e se regem pelas Constituições e pelas leis que adotarem, respeitados,

Compete à União organizar a

Policia Federal.

Compete à União organizar a

polícia.

Compete à União legislar sobre a

polícia.

Page 70: FERNANDES, Sérgio Henrique Soares.O Papel da União na

68

dentre outros princípios estabelecidos nesta Constituição, os seguintes: § 4º - As polícias militares, instituídas para a manutenção da ordem e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, e os corpos de bombeiros militares são considerados forças auxiliares reserva do Exército, não podendo os respectivos integrantes perceber retribuição superior à fixada para o correspondente posto ou graduação do Exército, absorvidas por ocasião dos futuros aumentos, as diferenças a mais, acaso existentes. Art 92 - As forças armadas, constituídas pela Marinha de Guerra, Exército e Aeronáutica Militar, são instituições nacionais, permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei. § 1º - Destinam-se as forças armadas a defender a Pátria e a garantir os Poderes constituídos, a lei e a ordem.

1988 – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. § 1º - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas. Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Forças Armadas na garantia da lei

e da ordem. Com previsão de lei

complementar para regulamentar

seu emprego.

Estabelece que segurança pública é dever do Estado.

Estabelece a competência das Polícias Federais e estaduais.

Quadro 06 - Quadro-resumo das constituições federais Fonte: dados da pesquisa

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APÊNDICE F – ESTRUTURA PROPOSTA PARA O MINISTÉRIO DA DEFESA

SOCIAL

Figura 06 - Estrutura proposta para o Ministério da Defesa Social Fonte: Elaboração do autor / 2015

MINISTÉRIO DA DEFESA

SOCIAL

Secretaria Nacional de

políticas sobre drogas

CONTRAN

Departamento Penitenciário

Nacional

Polícia Federal

Polícia Rodoviária

Federal

CONAD

Força Nacional de Segurança

Pública

CNPCP

Departamento Nacional de

Trânsito

CONASP

Secretaria Nacional de Segurança

Pública

CONSELHOS:

CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito

CONAD – Conselho Nacional Antidrogas

CONASP – Conselho Nacional de Segurança

Pública

CNPCP – Conselho Nacional de Política

Criminal e Penitenciária

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ANEXO A – SISTEMÁTICA DE EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

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Figura 07 – Sistemática de emprego das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem. Fonte: Extraída da palestra ATUAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM proferida pelo Cel R1 Paulo Sérgio Ribeiro ao CAEPE em 08/05/2015