feijão com arroz

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GABRIEL ARAÚJO WILL DENARO

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Esta é a Feijão com Arroz! Um projeto de parceria que, segundo o santo google, significa "associação de entidades (duas ou mais) para desenvolverem ação conjunta com vista a atingirem um objetivo determinado". Feijão com Arroz está além dessa definição. Feijão com arroz é uma coletânea que traz os pequenos esforços desta dupla em produzir seu próprio material. É uma forma de divulgar estes trabalhos e produzir um zine de maneira independente.

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  • GABRIEL AR

    AJO

    WILL DENA

    RO

  • GABRIEL ARAJO

    WILL DENARO

    Roteiro - Textos - Poemas

    Ilustraes - Projeto Grfico

    2015

  • EDITORIAL

    Criado em 2008

  • GABRIEL ARAJONascido no final do sculo XX, na cidade de

    So Paulo, tornou-se um contnuo estudante de arte de viver. Com um sempre-terno sorriso no rosto, tenta fazer de seus textos algo que valha a pena ser lido, chegou at a fazer faculdade para isto - pois amiguinhos ele no poupou esforos: um escritor em busca de sua prpria voz, de seu prprio universo, de seu prprio caminho.

    A seguir alguns de seus trabalhos: um poema que comps e, posteriormente, ilustrado por Will Denaro; uma pequena crnica; uma ilustrao que demonstra com perfeio o que ser um desenhista frustrado - sim, as piores ilustraes fazem parte do meu show, no tenham dvidas; um roteiro que nunca fora desenhado; e uma prosa potica. A deciso de expor alguns trabalhos, que algumas vezes distoam da qualidade da obra no geral, para mostrar o processo evolutivo desta parceria.

  • NO JARDIMAs folhas balanando ao ventoE eu sentado ao relento,Aos ps de uma macieira, lendo.Lendo um livro de poesiaQue nada me dizia,Mas me enriquecia por dentroE me deixava mais sedentoPor uma sabedoria que ningum sabiaE que s a poesia me dizia.

  • ANTENOR

    O que era que Antenor escondia dentro de sua sacola? Antenor, com suas mos nervosas, remexia o interior da sacola de papelo que carregava consigo, deixava seu contedo depositado l dentro sem retir-lo. Depois de um tempo voltava a remexer. O homem em seus 56 anos, mantinha seu bigode sempre bem aparado, sapatos bem engraxados e escovados. Vestia sempre o mesmo uniforme: cala social bege e camisa social azul clara, com meias marrons e sapatos marrons.

    Ao seu lado, afastada pelo nervosismo do momento, estava Iara, com seus 30 anos, corpo ainda enxuto, e alegria nos olhos sempre vivos, disfarava um sorriso. Morena de cabelos bem escovados.

    Os dois estavam juntos a seis anos. Iara falou do aniversrio de casamento, coisa que Antenor no queria ouvir e definia seu relacionamento com uma economia de palavras: - Estamos juntos.

    - Pra mais de seis anos que estamos juntos, Tenor. Isso no casamento? Argumentava Iara, com um jeito faceiro, dengosa sem retroceder um centmetro na sua firmeza de olhar Antenor e mostrar sua felicidade nos olhos.

    - Hunf. - Antenor bufava, dando de ombros. E assim Iara decidiu fazer uma ceninha.

    Pouco a pouco, a tenso baixou e Antenor remexia a sacola, olhava Iara, como que querendo dizer algo e no dizia, se empertigando e permanecendo amuado. No era a primeira vez que uma mulher lhe fazia dengo, para que Antenor lhe fizesse as vontades. No era a primeira vez que remexia com mos nervosas a sua sacola. Mas era a segunda vez que sentia vontade de ceder e Antenor no sabia o que fazer. Mas o que sabe um homem de sua prpria sentimentalidade.

    Iara esperava. Logo sentia o corpo dele se aproximando, suas mos se entrelaando. Toda a declarao de amor que ela precisava. Iara se aninhava nos braos de Antenor, buscando o calor para se proteger um pouco do frio.

    Antenor deixava seu rosto perder as rugas do mau humor, olhava para a sacola, sem se permitir um sorriso. Depositara a sacola no cho, entre os ps. Suas mos encontravam um certo sossego nas mos de Iara. Estavam juntos, era o que ele precisava.

  • LEITURASRoteiro no desenhado

    Quadro 1 - Plano geral, panormica, cena aberta. Mostra

    o interior de um trem em perspectiva. H vrias pessoas dentro do trem do mais variado tipo.

    Narrativa: Desde que li numa revista que tenho que observar as pessoas a minha volta para melhorar os desenhos que fao, no parei mais.

    Narrativa: Tudo que vejo tento reproduzir no papel.

    Quadro 2 Panormica horizontal, cena aberta. Mostra as janelas do vago do trem, podemos ver as pessoas dentro do trem atravs das janelas.

    Narrativa: O garoto com a HQ, e todo engravatado.

    Narrativa: A menina chorando encobrindo o rosto.

    Narrativa: O senhor bravo, que no quis sentar no lugar que lhe foi oferecido e ainda xingou a moa que lhe oferecia.

    Quadro 3 Plano mdio, cena fechada como um close. Mostra uma folha de A3, os quadros acima esto desenhados nela, podemos ver uma mo que segura um lpis e desenha os quadros.

    Narrativa: Essas pessoas agora povoam minhas histrias.

    Quadro 4 Plano mdio, ngulo superior. Mostra a cabea de uma mulher na parte inferior do quadro, ela est diante do que parece ser uma mesa de desenho, com muitos materiais de desenho, ela est desenhando na folha descrita acima.

    Narrativa: Eu fao vrias leituras do mundo.

    Quadro 5 Plano geral, cena aberta. Mostra uma mulher de perfil, sentada diante de uma mesa prpria para desenho.

    Narrativa: E com elas posso criar um novo mundo de possibilidades.

    - Fim

  • Onde o sol se deita?Logo de manh, voc acorda e no h bom dia. Move os olhos ao redor, olha as paredes

    para saber onde est. Mecanicamente seus movimentos se fazem: levantar, fazer suas ablues, quem sabe tomar um banho, vestir-se, tomar caf.

    Antes que voc possa se perder em divagaes sobre necessidades e vontades, de onde deve ir ou no, sobre o que deve fazer ou no, sobre responsabilidades, o relgio dispara o alarme novamente, chamando-te mais uma vez para o fluxo das horas: preciso partir em sua jornada.

    Sempre a mesma jornada em direo a casa onde o sol se deita. No que pense muito nisso, mas sempre o mesmo rumo. Passa por um fantasma ou dois do condomnio, e outro, e automaticamente lhes d bom dia, so s fantasmas. Passa pelo guardio do portal e lhe d bom dia, s outro fantasma. Eles esto ali e passam rumo mesma jornada que a sua, embora tomem caminhos diferentes. Nunca pensou em perguntar-lhes nada, pois sabe que nada podem fazer contra voc, pois voc os domina, j que sabe seus verdadeiros nomes: so Vizinhos e o ltimo, que tem apenas a funo de lhe abrir a porta, chama-se Porteiro.

    Ao vencer esta etapa, voc se v mais uma vez diante do labirinto cinza. No h nada de especial nele, e h tanta coisa que se esconde em seu horizonte disforme. E voc apenas se move, misturando-se a tantos outros fantasmas que percorrem os caminhos do labirinto cinza. Com eles, voc compartilha sua jornada, de forma desejada ou indesejada, quanto a isso voc sente que no tem muita escolha. Vocs adentram o ventre da baleia para cruzar mais rpido as ruas que compem este labirinto, to largo quanto o oceano. E quando chega o seu ponto de parada, voc salta.

    Deste lado, h tantos fantasmas, mas nem eles podem lhe fazer mal, voc tambm lhes conhece o nome e alguns at o sobrenome: o Jovem Estudante, o Colega de Sala, o Gordo, a Menina Mais Bonita da Escola, a Professora, a Diretora, a Tia da Escola, a Tia da Cantina, o Padeiro, o Engenheiro, o Lixeiro, o Entrevistador, a Gerente, a Diretora, o CEO, a Atendente, a Ficante, a Amante, a Namorada, a Esposa, a Megera, a Velha, o Senhor Engravatado, o Mendigo, o Empresrio de Futuro, a Gerente Bancria, o Advogado... So tantos.

    Voc no v escapatria e arrastado pela turba de espectros. Eles te deram um nome, por isso voc no pode lhes fazer mal, por isso no pode erguer sua cabea acima da manada. Eles te deram um nome e te dominam. assim que as coisas so. O que mais voc poderia fazer, alm de esquecer o seu prprio nome? Voc segue a corrente e se perde.

    Logo o relgio mais uma vez te traz de volta para o fluxo das horas, voc olha o cu e no horizonte disforme, dentre os prdios, o sol se esconde em sua casa para se deitar. Voc, to cansado, retorna, prometendo a si mesmo que amanh ir mais longe, e finalmente encontrar a casa onde o sol se deita.

  • WILL DENARO

    - Minha arte me define. - E continuou desenhando. Foi assim que este descendente de japons com italiano respondeu ao pedido de se escrever um pequeno relato autobiogrfico. Formado em design, segue a vida entre um trao e outro, curtindo o som dos pssaros.

    Nesta primeira parte do projeto, mostra-nos sua habilida com ilustraes sem ttulo, feitas entre 2004 e 2015.

  • OFICINA FANZINE NA PANELA

    ...o Movimento Cultural Penha...

    ...e o coletivo La Panela, apoiado pelo Programa Vai da Prefeitura de So Paulo, em

    junho de 2008, para uma srie de encontros e a produo de

    um fanzine ao final da oficina.

    O que eu coloco aqui pra apresentar

    o Na Panela?

    Ah, diz que o Projeto Fanzine na Panela

    (Oficina de Fanzine) uma parceria entre...

    No vamos falar que Vamos falar que teve palestrantes como o Gazy Andraus, Cadu Simes, Michael Franklin e

    Cludio Donato.

    Sim, pe a. E a a gente explica que os trabalhos que seguem deram incio a parceria feijo com arroz: a primeira HQ denominada Viagens de autoria de Gabriel Arajo; a

    ilustrao denominada Deslizamento de autoria de Will Denaro.

    j a HQ de duas pginas denominada Nmade tem desenhos e roteiro de Will Denaro e texto criado por

    Gabriel Arajo; finalizando esta sesso, h o projeto Poesia de Bolso, que conta com poemas de Gabriel e Projeto Grfico de

    Will Denaro.

    Beleza.

    Beleza?

  • Capa | Poesia de Bolso

  • TUDO VIRA PRETRIOPassa tudo,Passarada! Passa boiw,Passa boiada.Passa nada!

    Passa tudo,Passarada!Passa-tempo,Passa e sara.Passa nada!

    Passa tudo,Passarada!Passa nada!

    Passa,com jeitinhotudo passa.

    FLERTED-me um beijo,Pois s teu beijoPode agora me salvarDeste vazio em que me encontroDo solo infrtil que piso,Que a incerteza da espera...

    VIDATemer a sombra do desconhecido...Tentar a possibilidade da conquistaAmar compreender, respeitar.Evitar deixar de viver.

    Poemas | Poesia de Bolso

  • OFICINA QUADRINHOS POLTICOS

    Ah, ok

    Curti essa oficina!

    De qual voc est falando?

    Da Oficina de Quadrinhos Polticos, ministrada

    por Gilberto Maringoni, no SESC Pompia em fevereiro de 2014

    E o que voc curtiu?

    Curti a gente criar histrias em quadrinhos a partir de notcias de jornal, para pensar as HQs

    como exerccio de cidadania e do pensamento poltico nas HQs.

    No entanto, as histrias que criamos no tem,

    necessariamente, um teor poltico: Lolota foi baseado num obiturio; Mais um dia foi um exerccio de narrativa

    seu, que fez roteiro e ilustrou.

    Mas Sobre meninos e uma bola, j tem um teor mais poltico e resultado das notcias sobre a Copa de

    2014 no Brasil.Concordo. Concordo. Vale apena colocar

    esses trabalhos aqui.

  • SOBRE MENINOS E UMA BOLA

    passado

    presente

    futuro

    ps descalos se divertem com uma bola. Esta a

    imagem gravada emrelevo na memria.

    Embaixadinha, pedaladas, chute de trivela... A bola

    que se transforma na arte coletiva que os

    meninos nunca esquecem.

    a falta de tempo para se divertir...

    Embaixadinha, pedaladas, chute de trivela... A bola que se transforma na arte coletiva que os meninos

    nunca esquecem

  • Esquecer da condio do seu barraco, sua casa cheia de

    goteiras. Esquecer

    Campos de terra em que homens

    crescem...Em que esquecem seus problemas.

    A falta de tempo para se divertir..

    A falta de saneamento

    bsico...

    Da rua sem asfalto...

    Crrego a cu aberto...

  • Esquecer um pai que foi comprar

    cigarros...

    ... e nunca mais voltou.

    Esquecer que ontem voltou pra casa bbado, batera na

    mulher e nos filhos.

    Esquecer que perdera o emprego.

  • Esquecer dos amigos que no esto mais aqui.

  • Mas nada disso importa, agora s iremos jogar bola.

    Neste instante no h derrotas.

  • OUTRAS PRODUESNesta sesso colocaremos os nossos trabalhos

    mais recentes: duas histrias em quadrinho de uma pgina, que foram exerccios muito produtivos, a primeira denominada Joo Qualquer e, a segunda, denominada Possibilidades; um conto entitulado 9:31 que fora escrito a partir de um ilustrao feita com pincel e nanquim.

  • POSSIBILIDADES

    fim

    Estou com fome.

    Poderia me levantar e

    preparar algo pra comer.

    Poderia vestir uma roupa e ir ao mercado. Comprar algumas coisas

    gostosas pra fazer um lanche.

    Quem sabe, meio sem querer...

    ...eu no flertasse com

    algum...

    Quem sabe.

    Quem sabe esta mulher no fosse a prpria caixa do

    mercado.

    Eu sei que ela me olha bastante quando vou l...

    Vou pedir uma pizza.

  • 9:31 Ser s 09:30hrs. Disse a voz ao telefone sem que Pedro Zanatta pudesse

    identific-la. Ele no pretendia pagar o resgate, mas estava ficando sem tempo para encontrar uma outra sada e s agora sabia o paradeiro de sua filha Snia.

    Ok. Vou levar o dinheiro. No toque na minha filha ou eu juro que...

    Isso aqui no filme, vacilo! interrompeu a voz. No dou a mnima. Atrase e sua filha j era.

    O sujeito desligou o telefone, era preciso seguir at o local da troca ou no chegaria l a tempo. Ficou ainda remoendo suas ideias na cabea: Era pra ser um trabalho simples, um caixa, uma exploso e uma boa grana pra gastar. Mas aquele filho da puta tinha que fazer o clculo errado e matar aquele tanto de gente. Agora tem algum me caando e no consigo saber quem .

    ***

    Tudo era escurido, mas para ela sempre fora assim desde que era criana. Sentia apenas o calor ou o frio e imaginava o amarelo do sol ou o branco do gelo. Seus dedos que sempre deram formas ao mundo, como agora no podiam dar, tendo as mos atadas, assim como os ps. Sentia a ljea fria tocando a pele de seu corpo nu. Tinha um crescente receio, sempre que escutava o som de passos cada vez mais prximos que de repente estancavam, para s se ouvir uma respirao forte de algum que a observava. Chamava, mas ningum respondia. Exceto agora:

    Voc no est mais com medo? Uma voz masculina se manifestou interrompendo o compasso de sua prpria respirao, era carregada de um sibilar de sinistras maldades.

    No. Snia respondeu tentando demonstrar certo controle sobre si mesma e no demonstrar o quanto estava apavorada com aquela situao. Isso um sequestro?

    Se eu disser que sim, o que importa?

    Mas eu no tenho nada, moo. Disse Snia j demonstrando um certo pnico em sua voz.

    No se preocupe, seu pai logo estar aqui e voc estar livre.

    Meu pai? A frase saiu em tom de dvida para logo virar raiva. No que aquele velho me meteu dessa vez? Pelo amor de Deus, moo, me deixa ir. Ela escutou passos e segurou a respirao. Sentiu que o homem pegou seus braos e cortou a fita adesiva que a amarrava.

  • Segure este copo. Snia segurou o copo que foi preenchido com algum lquido. vinho, voc deve estar com sede.

    Snia permaneceu sentada, ainda com os ps atados. Bebia o vinho do copo e logo tirava o resto de fita adesiva do pulso que deixou um relevo dolorido em sua pele de to apertada. Pensou em tentar fugir de alguma forma e como se o homem tivesse lido seus pensamentos: Melhor no tentar nada. Estamos num lugar que voc no conhece. Tudo que vai conseguir se machucar, esbarrando nas coisas e me dando trabalho.

    O que voc quer do meu pai? perguntou quando terminou o ltimo gole de vinho do copo. Houve uma pausa pesada, to longa, que Snia pensou que o homem a deixara sozinha novamente. Mas o silncio foi cortado pela seguinte palavra: Medo.

    Houve um clique e uma esttica tomou o lugar. Logo, parecia que o homem procurava por uma rdio. Snia pensou que ele havia desistido aps passar por algumas estaes e o som silenciar, quando comeou a tocar uma msica:

    Quantos aqui ouvem

    Os olhos eram de f

    Quantos elementos

    Amaram aquela mulher...

    Voc j sentiu medo da solido?

    Hein? Snia hesitou sem compreender a pergunta. Aquelas palavras soaram como um texto ensaiado, Snia se imaginou em meio a um trrido teatro, pensando que tipo de ser estava ali a observando em sua agonia. Sim, acho que sim.

    Eu tive medo da solido uma vez e o perdi... A voz soava num tom melanclico.

    Sei. Respondeu Snia tentando imaginar uma maneira de sair daquela situao com aquele homem louco.

    Eu o perdi at que seu pai o devolveu a mim. O tom melanclico passou para um tom mais srio. Essa noite para agradec-lo.

    O som da msica se ampliou e cobriu o som dos passos. Snia s pode sentir o gelo das mos frias que envolveram seu pescoo, enquanto escutava o copo

  • de vidro cair e se quebrar pelo cho. Tentou gritar, mas estava to apertado que mal conseguia soltar um gemido de dor. Tentou em vo lutar e no conseguiu, como se o ar que j lhe faltava no fosse mais suficiente nem para mover seus msculos. Ainda sentia medo e j no conseguia pensar em mais nada, apenas no cheiro forte de urina que no sabia dizer se era dela.

    ***

    Quando Pedro Zanatta chegou a casa que serviria como ponto de troca, encontrou o porto aberto. Passo a passo com seu jeito desconfiado, atravessou a garagem at a porta. J podia ouvir um som alto:

    ...Outonos caindo secos

    No solo da minha mo...

    A porta tambm estava destrancada. Adentrou pela cozinha de uma casa completamente vazia, sem qualquer moblia. Passou por um cmodo com uma escada que levava ao segundo andar do sobrado e avanou para o terceiro cmodo mais ao fundo, o nico iluminado, de onde parecia vir o som.

    ... Um olho cego vagueia

    Procurando por um...

    Seus olhos no podiam acreditar no que viam. Sua filha jogada no cho, entre cacos de vidros e uma garrafa de vinho, completamente nua, indefesa, seus longos cabelos vermelhos esparramados cobrindo a sua face, mas no cobriam seus olhos, que eram a exata expresso do medo. A msica tocava sem parar no rdio, e na parede branca da sala, desenhado e pintado em nmeros de um aparelho digital, a hora macabra que paralisou o tempo de Pedro Zanatta: 09:31.

  • E ae, cara! Voc acha que a gente fez um bom

    trabalho?

    Cara, o objetivo do Feijo com Arroz sempre foi organizar nossos trabalhos para

    public-los.

    E ns conseguimos isso. Portanto, acho que fizemos um bom

    trabalho.

    Agora dar a cara a tapa e ver o que a

    galera vai achar, certo?

    Hora de partir para o prximo projeto!

    E qual vai ser?

    No sei. Talvez aquela cidade de insetos, ou

    aquele serial killer que pensamos.

    Pode ser. Melhor a gente comear a planejar. Desliga a

    cmera.

    Ok