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    Fazer DiferentePreparar Polticas PblicasMoo de Estratgia Global ao XXV Congresso do CDS-PP

    Adolfo Mesquita NunesAfonso ArnaldoAna Rita Bessa

    Beatriz Soares CarneiroCatarina Arajo

    Ceclia Meireles GraaDiogo Belford HenriquesDiogo Duarte de Campos

    Francisco AguiarFrancisco Mendes da Silva

    Joo Maria CondeixaJoo Moreira Pinto

    Joo MuozJoo Pinheiro da SilvaJoo Pinho de Almeida

    Joo VacasJos Carmo

    Jos Maria Pereira CoutinhoJos Pedro AmaralLeonardo Mathias

    Manuel Castelo-Branco

    Maria Graa SilveiraMichael SeufertMiguel Morais Leito

    Pedro MoutinhoPedro Sampaio NunesRal Relvas Moreira

    Tiago LoureiroTiago Pessoa

    Toms BelchiorVnia Dias da Silva

    Vera Rodrigues

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    Fazer Diferente

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    ndice

    1. Introduo.......................................................................................................................... 4

    2. As questes estruturais:................................................................................................ 7

    a) Demografia..................................................................................................................... 7

    b) Estado............................................................................................................................. 9

    i. O Servio Pblico e o servio prestado ao Pblico............................................ 10

    ii. O Estado e a Justia................................................................................................ 12

    iii. Um Estado mais eficiente........................................................................................ 13

    c) Europa........................................................................................................................... 15

    d) Competitividade.......................................................................................................... 17

    i. A Educao como condio de competitividade................................................. 18

    ii. A Fiscalidade como instrumento de competividade............................................ 22

    e) Coeso Social............................................................................................................. 24

    i. Desemprego, Proteco e Respostas Sociais..................................................... 24

    ii. Sustentabilidade do sistema de Segurana Social............................................. 26

    iii. Sade......................................................................................................................... 26

    f) Territrio....................................................................................................................... 28

    i. Assimetrias territoriais.............................................................................................. 28

    ii. Floresta...................................................................................................................... 30

    iii. A descontinuidade territorial................................................................................... 31

    g) Participao Poltica.................................................................................................. 32

    3. A organizao do CDS-PP:.............................................................................................. 36

    a) O Gabinete de Estudos................................................................................................ 36

    i. Organizao e Funcionamento do Gabinete de Estudos.................................. 36

    ii. Enquadramento institucional.................................................................................. 37

    iii. A formao poltica................................................................................................... 37

    iv. A sustentao e enquadramento das polticas do CDS-PP.......................... 38

    v. A atraco e preservao de quadros.................................................................. 39

    vi. Academia CDS...................................................................................................... 40

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    vii. A presena online................................................................................................. 40

    b) A comunicao........................................................................................................... 41

    c) A articulao interna................................................................................................. 44

    i. Os Grupos Parlamentares...................................................................................... 46

    ii. As estruturas e os opion-makersdo CDS-PP...................................................... 46

    iii. Os Autarcas............................................................................................................... 47

    4. Programa Poltico Para Um Novo Ciclo................................................................... 48

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    1. Introduo

    Portugal est prestes a concluir o programa de assistncia econmica e

    financeira, assinado com a Comisso Europeia, o Banco Central Europeu e oFundo Monetrio Internacional.

    Em trinta anos, a terceira vez que Portugal est sujeito a uma intervenoexterna por incapacidade de se financiar em mercado.

    Uma situao destas no pode voltar a acontecer.

    No entanto, se tudo continuar como at aqui, dificilmente evitaremos essarepetio.

    por isso que preciso fazer diferente.

    Portugal tem problemas estruturais graves aos quais necessrio darresposta. Ignorar esses problemas, por opo ideolgica ou simples vontadede tudo deixar na mesma, em nada contribuir para os eliminar, apenasagravar. Fugir desses problemas, por clculo eleitoral ou simples inrcia, emnada contribuir para os resolver, apenas intensificar.

    Por outras palavras, ignorar ou fugir dos nossos problemas estruturais o maisrpido passaporte para uma quarta interveno externa.

    Em nossa opinio, as questes para as quais o CDS-PP deve procurarcaminhos e solues so as seguintes:

    a) Demografiab) Estadoc) Europad) Competitividadee) Coeso socialf) Territriog) Participao Poltica

    Se a evoluo demogrfica condiciona a sustentabilidade do nosso modelosocial, o desequilbrio permanente das contas pblicas torna essasustentabilidade impossvel. Se a nossa competitividade no permite umcrescimento econmico suficientemente forte, a burocracia, a morosidade dajustia e a excessiva carga fiscal limitam a capacidade de atrair investimento.Se o estado acumula ineficincias com falhas de equidade, a ineficaz gestodo territrio torna-o ainda mais vulnervel. Se a participao cvica e poltica cada vez menor, a ausncia de uma viso clara sobre o futuro da Europa fazde Portugal um participante frgil num processo exigente.

    So estes problemas que pretendemos enunciar. No so novos, muitos tmdcadas, e por isso no somos os primeiros a identific-los.

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    Por isso, do que se trata aqui no de fazer um diagnstico. de propor umtrajeto para a definio de polticas pblicas destinadas a dar resposta a essediagnstico.

    Fugimos deliberadamente de evidncias por demonstrar e dos fundamentos dopoliticamente correcto, sempre impressivos em textos inflamados ou emexerccios de notvel oratria, mas insuficientes para orientar um caminho, que difcil mas que o nosso.

    Propomo-nos identificar as questes e os problemas a que as polticas pblicasdevero dar resposta nos prximos anos, e para as quais, em nosso entender,o CDS-PP ter de apresentar propostas.

    Normalmente, nos documentos polticos no faltam respostas, ainda que tantasvezes irreflectidas ou inexequveis. Aqui concentramo-nos nas perguntas e nos

    desafios.

    Defini-los com rigor to ou mais importante que dar as respostas. Tanto maisque essa definio, como se ver, encerra j uma viso de pas e de liberdade,que a nossa e que nos une.

    Identificadas as questes e os problemas, propomo-nos contribuir compropostas metdicas para que o CDS-PP possa organizar-se de forma aencontrar as solues.

    Estas devem resultar de investigao, ponderao, debate e, s depois, dedivulgao meditica eficaz.

    Para isso prope-se o fortalecimento dos quadros do CDS-PP, quer seja pelaformao poltica dos seus militantes, dirigentes, autarcas e demais eleitos,quer seja por uma estratgia de atraco de novos quadros.

    Prope-se, atravs do Gabinete de Estudos, a organizao da participao demilitantes e independentes que se interessem e possam dar contributos emreas especficas.

    Valoriza-se a ligao permanente do CDS-PP aos vrios sectores dasociedade.

    Avanam-se novas propostas para a comunicao interna e externa do partidocom o objectivo de, com eficcia, circular informao e veicular mensagens.

    Por fim, lanam-se sugestes de articulao interna entre os diferentes rgose representaes autrquicas e parlamentares no sentido de melhorar oacesso informao e a coordenao.

    Fazer diferente criar condies para que Portugal vena os seus desafios

    estruturais.

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    Com a presente moo pretendemos dar um contributo para a preparao daspolticas pblicas necessrias a esse sucesso.

    Esse deve ser um objectivo claro do CDS-PP, como partido essencial dademocracia portuguesa. Um partido bem implantado na sociedade, credvel

    nas suas propostas e competente no exerccio dos mandatos.

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    2. As questes estruturais:

    a) Demografia

    Tal como no resto da Europa, Portugal vive uma crise demogrfica semprecedentes que est inquestionavelmente ligada a muitos dos problemas comos quais temos hoje que lidar, por exemplo, no que respeita aos sistemaslaboral, de segurana social, de sade ou de educao.

    Esta crise pode ser caracterizada pelos seguintes fenmenos1:

    a) Uma evoluo muito positiva da esperana mdia de vida que, nomeio do sculo que terminou em 2010, aumentou 16 anos, para 79,6anos. Se consideramos a esperana de vida aos 65 anos, esta passoude 18,8 para 23,8 anos s nas ltimas quatro dcadas.

    b) Uma acentuada reduo da fecundidade, traduzida numa diminuiodo nmero de nascimentos o ndice Sinttico de Fecundidade2foi,em 2011, de 1,35 filhos vs 3,2 filhos em 1960 e no retardar donascimento do primeiro filho em 2011 a idade mdia da mulher de29,5 anos vs 25 anos em 1960.

    c) Uma evoluo negativa do saldo migratrio mais sadas do queentradas no pas a partir de 2011, contrariando o cenrio verificadoentre 1993 e 2010 que havia trazido alguma compensao baixa danatalidade.

    Da conjugao destes factores resulta3:

    a) Uma populao envelhecida, em que a mdia etria superior a 40anos, enquanto, em 1960, era de 28 anos. Apenas 15% dosresidentes tm menos de 15 anos e cerca de 20% tm idade superiora 64 anos. H cerca de dois milhes de portugueses com 65 ou maisanos, dos quais um milho com 75 e mais anos e mais de duzentosmil com idade superior a 85 anos.

    b) Uma tendncia de declnio do nmero de ativos por pensionista,atualmente situado em 1,5.

    c) Um processo de transio demogrfica que, para alm

    do envelhecimento da populao, tem como consequncia umamenor criao de riqueza potencial para o pas e ter efeitosmarcantes na sociedade portuguesa futura: o reduzido nmero dejovens hoje, transformar-se- num reduzido nmero de cidados emidade ativa no futuro.

    Assim, apesar de a questo demogrfica no ser tradicionalmente umproblema poltico central, a verdade que a demografia condiciona j econdicionar no futuro parte relevantssima das polticas pblicas4.

    1Fonte:http://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdf

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    ndice mdio de fertilidade reflete o nmero mdio de filhos por mulher em idade frtil.3Fonte:http://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdf

    4Adaptado dehttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdf

    http://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdfhttp://www.presentenofuturo.pt/encontros/downloads/factos-para-o-debate-funchal.pdf
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    Urge desenvolver e reforar polticas que atuem sobre as causas e mitiguem asconsequncias desta evoluo demogrfica, atravs de opes que permitam ofomento da natalidade e favoream o envelhecimento activo.

    O CDS-PP foi, alis, at hoje, o nico partido portugus a debruar-se sobreeste problema de forma sistematizada e rigorosa5.

    Importa no entanto deixar claro, no que ao fomento da natalidade diz respeito,as decises pertencem esfera de liberdade e escolha dos pais.

    Seguindo este princpio, a primeira preocupao do Estado dever ser a de seabster de fomentar polticas pblicas que, de uma forma ou de outra,constituam entraves livre escolha de modelos familiares pelos pais, nos quaisse inclui um nmero de filhos menor do que o desejado.

    Por outro lado, sabemos que vivemos tempos de crise e austeridade queinfluenciam em muito as decises de parentalidade e que, no mesmo sentido,limitam a capacidade poltica de criar condies favorveis a uma decisomenos condicionada.

    Em nossa opinio, o CDS-PP deve ponderar dois eixos de atuao polticaprioritrios para alterar esta tendncia, que identificamos da seguinte forma6:

    a) O aumento do rendimento econmico disponvelonde se inclui, paraas famlias com filhos, as prestaes sociais relacionadas comeducao, sade, habitao e alimentao e a reduo de impostos a ttulo de exemplo, a capacidade contributiva em sede de IRS decada agregado familiar deve tomar em conta o nmero total deelementos que o compe e que depende dos rendimentos a tributar eno apenas o casal.

    b) A facilitao das condies de trabalho para quem tem filhos ondese inclui a oportunidade de trabalho a tempo parcial e a flexibilidade dehorrios.

    Na justa medida do alvio das contas pblicas, devero ser assumidas

    iniciativas orientadas a polticas amigas da famlia, no como cartilhaideolgica, mas como condio de sobrevivncia do pas.

    No que diz respeito ao favorecimento do envelhecimento activo, assentamosno princpio de que o envelhecimento resultado, e em parte uma medida desucesso, da aco conjunta das polticas pblicas, designadamente de Sade,cuja orientao deve ser prosseguida.

    Mas o mbito das polticas pblicas no se cinge ao aumento biolgico daesperana mdia de vida, antes abrange as condies materiais para viveresse tempo maior de forma activa, digna e com qualidade.

    5http://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdf

    6Fonte:http://www.ffms.pt/estudo/686/inquerito-a-fecundidade-2013

    http://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdfhttp://www.ffms.pt/estudo/686/inquerito-a-fecundidade-2013http://www.ffms.pt/estudo/686/inquerito-a-fecundidade-2013http://www.ffms.pt/estudo/686/inquerito-a-fecundidade-2013http://www.ffms.pt/estudo/686/inquerito-a-fecundidade-2013http://www.cds.pt/pdf/relatorios/Natalidade.pdf
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    O envelhecimento activo no pode ser um conceito terico, dada a expressoque este segmento tem e ter na nossa pirmide etria.

    Desta forma, o CDS-PP deve apresentar propostas tendentes sua

    operacionalizao, atravs de uma cultura de novos valores e modelosflexveis, designadamente no mbito laboral, que permita que os cidados quehoje so considerados idosos contribuam para a populao activa por maistempose assim o desejareme se permita que a sociedade beneficie do seuconhecimento.

    Finalmente, como adiante se dar conta, o CDS-PP deve cuidar de trazer ademografia para a discusso de polticas de garantia de proteco socialadequada, acautelando a equidade entre as geraes, circunstncia que nopode nem deve ser esquecida.

    Quaisquer medidas de ajuste ao cenrio demogrfico atual ou de promoo deuma demografia mais saudvel tero progresso lenta e dependero darecuperao econmica em curso. Por outro lado, o crescimento econmicoter condies para ocorrer de forma mais sustentada no tempo se ademografia se for tornando mais favorvel.

    A gesto deste equilbrio ter que ser um ponto central da ao poltica nosprximos anos.

    b) Estado

    Apesar da urgncia - conjuntural - perante o peso do dfice e da dvida nosfazer questionar o peso do Estado, no devemos confundir esta discusso coma questo - estrutural das funes e modos de interveno do Estado. Nofugimos a nenhuma das discusses.

    A premncia dos problemas concretos e imediatos no impede uma reflexomais geral sobre o Estado que queremos. Pelo contrrio, esta ponderao maisabstracta pode fornecer uma grelha de anlise para cada problema concreto.

    essa anlise que o CDS-PP tem tambm de fazer. Uma anlisefundamentada, com base em nmeros concretos, em factos comprovveis,

    sem medo de uma discusso alargada. Aceitamos e no tememos quaisquerposies de princpio, mas comeamos por querer discutir, realmente, o queexiste.

    Se a despesa do funcionamento do Estado tem como principal receita osimpostos sobre os contribuintes, temos o direito e o dever, de querer aferir asua eficincia e procurar o melhor modo de actuao.

    No questionando as funes de soberania, percebemos que, em Portugal, oalcance e a interveno do Estado j existe, em muitas reas concretas, emparceria com os sectores privados e sociais; que a interveno directa e a

    deciso nica estatal j evoluiu para participaes mistas, para a intervenocomo financiador e regulador, alm da funo nica de prestador universal de

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    servios. No entanto, qualquer discusso actual parece cair em trincheirasideolgicas longe at dos exemplos prticos e fica-se com a ideia quediscutir a interveno estatal querer acabar com o Estado.

    O que pretendemos , exactamente, questionar: as reas onde insubstituvel;

    as reas onde pode delegar, regular ou, simplesmente, financiar; as situaesonde existem agentes privados a fazer mais com menos; os servios onde aconcesso ou a privatizao resultam em maior eficincia.

    E queremos questionar, tambm, o modo de actuao do Estado. Depois detrinta anos de democracia, o Estado autoritrio na burocracia em que tudodepende de requerimentos, autorizaes e pedidos ao soberano tem de ficarpara trs. A democracia e a liberdade de escolha de cada um implicam umEstado ps-burocrtico, mais gil e flexvel. Um Estado que no desconfia decada projecto, que no atrasa qualquer desenvolvimento, que garanta aequidade e proteja os nossos direitos sem impedir as liberdades. Um Estado

    que no exista para se justificar a si mesmo, mas que tem o dever de sejustificar perante os cidados.

    por isso que a questo no apenas o desperdcio de dinheiro, odesperdcio de oportunidades.

    Sendo assim, como identificar as situaes em que o Estado deve intervir, deque modo o pode fazer, quais as alternativas assentes na nossa iniciativa ,para atingir determinados fins?

    Respondendo, em cada caso, de forma sequencial a cinco perguntas:

    a) A situao ou necessidade tem, em teoria, de ser objecto de polticaspblicas?b) Existindo essa necessidade, h algum outro enquadramento

    institucional que no o estatal que possa, ou deva, resolv-la?c) No existindo alternativas satisfatrias interveno estatal, qual a

    melhor forma do Estado intervir? Regular, colaborar na sua soluo,ou intervir directamente com a certeza de que o Estado seempenhe efectivamente na satisfao e no meramente gesto danecessidade?

    d) No existindo alternativas interveno estatal, e estando criadascondies para o Estado responder necessidade, tem o Estado a

    capacidade e o conhecimento para lhe dar resposta e avaliar a suaprpria aco?e) S depois de termos respondido a estas quatro perguntas que

    podemos responder a uma ltima: o que deve o Estado fazer parasuprir essa necessidade?

    i. O Servio Pblico e o servio prestado ao Pblico

    O conceito de servio pblico remete-nos sempre para a ideia de Estado. E aideia de Estado de cada um de ns tem muito a ver com a definio de serviopblico em que acreditamos. Ser praticamente unnime a concepo de que

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    o servio pblico corresponde actuao do Estado de modo a garantir asatisfao dos direitos e das necessidades colectivas.

    Mas menos unnime ser a forma como cada um acredita que o Estado o devefazer. O CDS-PP tem obrigao de combater a ideia de que o Estado deve ser

    um agente com responsabilidade exclusiva e directa, atravs das instituies edos mecanismos da sua rede muito burocratizada, na prestao de serviopblico.

    Se verdade que faz sentido olhar o Estado como o agente que garante aexistncia do servio pblico, no menos verdade que o monoplio daprestao do servio pblico no lhe universalmente devido.

    Se existem servios que devem ser universais e de acesso a todos, no tem deexistir um dogma de que deve ser o Estado o seu nico prestador.

    Assim, acreditamos que o Estado deve abdicar da pretenso de ter um papel

    de prestador activo em todas as reas, para assumir uma condio subsidiria iniciativa e oferta privada, sob variadas formas, garantindo e regulando acontinuidade do servio.

    Assim como, com a Democracia, chegmos ao princpio da subsidiariedade eda proximidade o poder local, a descentralizao no h razo para esteprincpio s ser aplicado a agentes do prprio Estado. Se h funes que secumprem melhor a nvel autrquico, h razo para que no se discuta seoutras podem ser melhor cumpridas pelo sector social ou privado?

    Onde o privado tem condies para assumir esse servio, o Estado deve

    contratualizar com aquele as condies dessa oferta. Onde o privado tenhadificuldade em faz-lo, o Estado deve ser o complemento facilitador. Onde aoferta privada no chegar de forma eficaz, deve ento o Estado intervir.

    Deste modo, ficaro definidas as reas em que o Estado necessita deconcentrar recursos, ao mesmo tempo que se definem as reas nas quais oservio pblico pode ser garantido por uma melhor oferta privada. Deste modo,teremos uma redefinio das prioridades do Estado, em ordem garantia deque a prestao do servio pblico a mais eficiente e equitativa possvel.

    Este pensamento, em que se abre mo da concepo ideolgica que coloca oEstado como nico prestador directo de servio pblico, viabiliza a actuao deinstituies surgidas do impulso e da iniciativa dos indivduos, seja de formamais autnoma, seja sob a forma de parceria, como se explicar melhor deseguida.

    H sectores em que o Estado se dever manter como nico agente, dos quaisso exemplo as funes de soberania e na garantia da defesa e da segurananacional; o Estado dever tambm assumir sempre a responsabilidade nocuidado dos cidados que perderam o acesso a outras formas de rendimento eque ficaram excludos de todas as outras redes de segurana social.

    Mas h reas em que a existncia de um servio pblico importante no

    sendo preponderante que ele seja prestado pelo Estado. Na Educao, naSade e na Previdncia, por exemplo, o aparecimento de servios operadores

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    privados que prestam servio pblico funciona e deve continuar a funcionar. OEstado, alis, ganha capacidade de fiscalizao e de arbitragem se seconcentrar na regulao e no for parte interessada que no na garantia dointeresse pblico.

    Por fim h sectores onde o estado no tem necessariamente que ser nemprestador nem garante, mas onde nos quais a regulao ou a garantia dumaboa autorregulao importante. O sector financeiro, por exemplo, ondeperdas privadas se podem tornar em perdas pblicas para impedir um colapsodo sector, deve manter-se debaixo de apertadas regras de funcionamento porreguladores setoriais independentes.

    tempo de decidirmos se queremos um Estado que funcione para si, ou umEstado verdadeiramente orientado ao servio dos cidados. Um Estado queseja a base para a liberdade de cada um e uma rede que nos proteja se houvernecessidade.

    neste enquadramento que o CDS-PP deve ter a capacidade de repensar opapel do Estado, seja quanto ao seu permetro de actuao seja quanto ao tipode funes que por este devam ser desempenhadas diretamente.

    ii. O Estado e a Justia

    A crise da Justia , tambm (ou em si mesma), a crise do Estado.

    Nesse sentido, a crise da Justia no um problema dos operadores

    judicirios ou meramente tcnico, tambm um problema poltico, porque detoda a comunidade; um problema poltico porque est em causa a prpriaconfiana dos cidados nas instituies; um problema poltico porque estem causa o acesso a um direito fundamental. A convico na eficcia daaplicao e boa administrao da justia pressuposto de um Estado deDireito.

    Sem prejuzo da sua dimenso institucional e de soberania, a crise da Justia tambm um problema econmico, apresentando-se como um dos principaiscustos de contexto que inibem o investimento, retraem a actividade comercial edesqualificam Portugal como centro ou ambiente de negcios, em comparaocom destinos onde as leis so mais estveis, onde a sua interpretao maisfacilmente antecipvel e os conflitos se resolvem mais celeremente.

    Desta forma facilmente se compreende que muitas das medidas negociadascom os nossos credores tenham includo um nmero significativo de acessobre a Justia, as quais se encontram j executadas ou em fase de execuo.Todavia, h mais a fazer.

    Significa isto que as reformas empreendidas tenham falhado? No.Contrariando um sentimento muito nacional, julgamos que tempo de deixar

    sedimentar as reformas, sem prejuzo de, ao mesmo tempo, prosseguir umareflexo sria sobre os vrios problemas de base da Justia.

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    Ademais, h que reconhecer que a generalidade das medidas tomadas tiveramem mente resolver, sobretudo, os problemas econmicos da Justia, sendotempo de, no futuro, se reflectir sobre os problemas institucionais, bem comosobre a Justia como direito fundamental.

    Assim, o CDS-PP dever estar preparado para discutir e encontrar soluesnos seguintes temas:

    a) Organizao constitucional do sistema judicirio.b) Acesso Justia.c) Segredo de Justia.d) Meios alternativos de resoluo de litgio.e) Responsabilizao e prazos de actuao.

    iii. Um Estado mais eficiente

    Sendo indiscutvel que muitas so reas onde o Estado no precisa nem deveestar, certo que em muitas outras tem um papel vital.

    Tendo presente o contexto, h um caminho que no pode deixar de ser feito, ode tornar o Estado mais eficiente. Se h um papel a desempenhar, no que nofor possvel fazer menos, temos todos a obrigao de procurar pelo menosfazer o mesmo, gastando menos ou melhor.

    possvel no por em causa os compromissos que temos com a qualidade dosservios pblicos, otimizando os recursos que so aplicados.

    Deveremos promover a otimizao da capacidade instalada e uniformizar ocusto dos servios a nvel nacional. Hoje a mobilidade uma realidade, asinfraestruturas de comunicao, sejam fsicas, sejam virtuais, so umaconstante para todos os portugueses. Associada a uma deficiente distribuioda capacidade est uma estrutura heterognea dos custos dos servios a nvelnacional, o que promove assimetrias incompreensveis no financiamento dosservios.

    Nesta medida recomendvel que muitos dos servios prestados pelo Estado

    que atualmente esto pensados, desenhados e so executados segundo algica do prestador sejam fundidos e passem a estar organizados e otimizadosnuma lgica de cliente o contribuinte. Muitas das divises, diferenas efronteiras existentes no funcionamento do Estado tm uma lgica burocrtica,administrativa, poltica, no fazendo qualquer sentido para os cidados a suaseparao.

    certo que nos ltimos anos tm sido dados passos significativos, do ponto devista legislativo, para a simplificao e desburocratizao dos procedimentosadministrativos. No entanto, esses passos tm-se revelado insuficientes paracriar uma verdadeira cultura dialgica entre o Estado e o cidado e as

    empresas, que permita ou no desincentive nem atrase o investimento.

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    Na verdade, as vrias reformas que tm sido feitas, aliceradas nasimplificao procedimental e no reforo ou alterao de meios necessrios,parecem, depois, esbarrar na resistncia da mquina estatal em incorporar onovo esprito de simplificao e desburocratizao, o que significa que no foiefetivamente realizado tudo o que deveria ter sido feito. Contribuem para essa

    circunstncia, em nossa opinio, essencialmente os seguintes factoresinibidores:

    a) Os procedimentos administrativos aos quais esto associados taxas,que constituem receitas prprias dos servios do Estado.

    b) A simplificao e desburocratizao, no especial contexto deracionalizao da despesa do Estado, que faz nascer o receio de quea mesma possa levar extino da relao jurdica de emprego.

    c) A necessidade de eliminao da participao procedimental de algunsservios ou departamentos, o que visto, na maior parte das vezescomo perda de poder ou com receio de perda de relevncia;

    d) O processo legislativo no interior do Governo, demasiado dependentede circulao ministerial, necessariamente departamental e sectorial eque no promove uma viso de conjunto.

    e) A agilizao procedimental, por via das novas tecnologias, vista comreceio, seja por critrios de incluso social seja por critriosoramentais.

    Em resultado da conjugao destes factores, as reformas tm ficado aqum donecessrio, apesar da aposta crescente, no contribuindo para o investimentonem fomentando a transparncia.

    Para que a simplificao e desburocratizao possam sair do papel, e ter umimpacto real na economia, torna-se necessrio contrariar estes desincentivos.

    H vrias formas de dar essa resposta e propomos aqui que o CDS-PP sedebruce sobre algumas delas:

    a) Determinao de que Portugal no pode ter procedimentos, burocraciaou requisitos e critrios mais exigentes do que os exigidos pelos seuspases concorrentes no mbito comunitrio.

    b) Identificao e simplificao de todos os procedimentos

    administrativos que envolvam a participao de mais do que doisservios estatais.c) Consagrao, no processo legislativo, de uma grelha de avaliao e

    filtro de burocracias.d) Obrigatoriedade de descriminar, com valores, os servios associados

    a cada taxa.e) Alterao do modelo de processo legislativo dentro do governo.f) Criao de infraestruturas transversais de servios, nomeadamente:

    Servios de pagamento ao Estado; Servios de apoio ao cidado; Aquisio de servios; Servios que o Estado presta ao prprio Estado.

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    c) Europa

    As circunstncias polticas dos prximos meses exigem que o CDS-PPconstrua uma viso clara sobre o estado da Unio Europeia (UE) e da UnioEconmica e Monetria (UEM). Desde logo, porque em 2014 decorrero

    eleies europeias.

    Depois, porque o CDS-PP, como muitos dos partidos europeus do centro-direita que foram gradualmente normalizando o seu discurso sobre a UE,aceitando pragmaticamente o essencial das suas caractersticas institucionaise funcionais encontram-se actualmente bastante desprovidos de capacidadecrtica estruturada, numa circunstncia histrica em que a realidade tratou dedemonstrar que a Unio tem insuficincias de funcionamento, provavelmentecom raiz na sua gnese e na sua prpria ideia fundacional.

    O modo como so alcanadas as decises e a forma como elas so validadas

    tem imposto um caminho nico construo europeia, que deve ser debatido eperspectivado.

    Este modelo cava um fosso entre as posies polticas dos eleitores, osprogramas polticos dos partidos, por um lado, e a prtica poltica europeia, poroutro.

    Em boa parte, a revelao daquelas insuficincias, a propsito da crise do euroe da aparente incapacidade das instituies europeias lidarem com ela, veioprovar que muitos dos alertas de outros tempos no estavam afinal incorrectos.

    De facto, hoje unnime que a UEM assentou em trs premissas que no seconfirmaram:

    a) A de que era possvel aos Estados-membros abdicarem apenas dasua soberania em termos de poltica monetria, sem maisconstrangimentos ao nvel da poltica oramental e fiscal,

    b) A de que era possvel reunir numa s moeda economias muitodiferentes, nada fazendo para minimizar os desequilbriosmacroeconmicos internos da zona euro e

    c) A de que era possvel manter a UEM sem um mecanismo de

    preveno e resoluo de crises monetrias e oramentais.Alm do mais, cabe ao CDS-PP sublinhar que a crise econmica grave comque a UE se debate hoje apenas foi aprofundadae no criadapela crise doeuro (ou das dvidas soberanas). Esta ltima, bem pelo contrrio, um sintomadaquele declnio econmico, gerado pela incapacidade de os Estadoseuropeus se adaptarem aos desafios da globalizao e de um mundomultipolar, no qual a competitividade econmica passa cada vez mais pelainovao e diferenciao e no pelo proteccionismo, pelo cerrar fronteiras epela hiper-regulao econmica.

    Este aspecto tem sido sistematicamente ignorado por todos quantos tm faladode Europa, como se, na verdade, uma mera reforma institucional e poltica

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    pudesse pr cobro a um declnio econmico que se sente e a uma perda decompetitividade que se evidencia.

    Em nossa opinio, a UE no pode continuar a ser a fonte de um manancial deregras e regulamentos que restringem, limitam e dificultam a vida s famlias e

    s empresas.

    Se verdade que, em muitas matrias, a legislao europeia veio permitirmelhorias significativas na proteco dos consumidores e no funcionamento domercado, em muitos outros casos tais regras apenas representam um nuspara os operadores econmicos, os quais tm que competir num mundo globalonde outras empresas no esto sujeitas a constrangimentos equivalentes.

    O CDS-PP, assim como o Estado portugus, tm o dever de se envolveractivamente no processo decisrio europeu e de coordenar a sua acopoltica nos nveis nacional, europeu e regional, de modo a evitar disperso de

    recursos e perdas de eficincia.

    Assim, cabe ao CDS responder s seguintes preocupaes:

    a) Dever uma maior integrao econmica e monetria ditar,obrigatoriamente, um maior aprofundamento da unio poltica ou, pelocontrrio, deve contrapor-se quela um maior relevo do princpio dasubsidariedade em matrias mais polticas, para as quais os Estadosdevem manter a sua autonomia?

    b) A necessria integrao, para efeitos de salvaguarda da UEM, deveser acompanhada de uma arquitectura institucional renovada, querespeite os princpios da democraticidade, da subsidiariedade e dasolidariedade entre os Estados-membros? E de que forma seassegura essa arquitectura sem redundar, na prtica, num reforo docentralismo?

    c) Deve assumir-se que a soluo da crise do euro poder implicar, emalguns aspectos, um maior grau de integrao e novas reas departilha de soberania? Em que sentido?

    No sentido da robustez dos poderes da Comisso Europeia? No sentido do fortalecimento de outras instituies europeias ou

    da criao de novas, com outros poderes?

    No sentido da existncia do chamado visto prvio aosOramentos nacionais e s opes econmicas estruturais dosEstados, com a possibilidade de estas serem alteradas?

    No sentido do reforo do Mecanismo Europeu de Estabilidade?

    No sentido da criao de uma Unio Bancria?

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    No sentido da emisso de dvida mutualizada por parte dosEstados do euro?

    d) A integrao no mbito da UEM deve ser acompanhada de um muitomenor centralismo burocrtico, com a eliminao de barreiras e

    entraves ao funcionamento do mercado interno? Uma verdadeiraliberdade de circulao de pessoas, mercadorias, servios e capitaiscomo a base de um mercado livre, aberto e dinmico?

    e) Como deve a UE agir em face da globalizao econmica? Fechar-se? Diferenciar-se? De que formas?

    f) No ser uma verdadeira poltica de concorrncia aquela que tem realvocao para assegurar o adequado funcionamento do mercadointerno e no a de regulao tantas vezes excessiva e criadora deum falso sentimento de livre concorrncia?

    g) Poder a UE continuar a impor regras que representam um nus e umcusto para os produtores europeus e para as indstrias europeias, noimpondo regras idnticas queles que exportam para a UE e que,dessa forma, conseguem colocar os seus produtos, no nossomercado, em vantagem competitiva?

    h) Como que Portugal pode valorizar a sua dimenso atlntica nombito da sua integrao na UE?

    d) Competitividade

    O World Economic Forum (WEF) define competitividade como o conjunto deinstituies, polticas e fatores que determinam o nvel de produtividade de umpas.

    Outros estudos descrevem a competitividade como a capacidade relativa deum pas criar e manter ambientes nos quais as empresas podem competir,gerando um aumento do nvel de prosperidade.

    Na ltima dcada, Portugal encetou um processo de divergncia face mdiada Unio Europeia. Tal divergncia resultou de condicionantes conjunturais, decausas estruturais e de polticas econmicas erradas, que no foram capazesde promover um crescimento econmico sustentvel, nem de ajudar o pas aultrapassar os desafios suscitados por diversos choques externos.

    Tais desequilbrios levaram ao endividamento dos agentes econmicos(Estado, famlias e empresas) e penalizaram a nossa produtividade.

    O CDS-PP deve comear por identificar quais so os principais problemas decompetitividade em Portugal, considerando entre outros aqueles que

    normalmente costumam ser apontados:

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    Competitividade nos mercados; As instituies e gesto pblica; Educao e formao; O mercado de trabalho; Fiscalidade; Financiamento; Custos da energia.

    Para responder ao desafio da competitividade, necessrio que o CDS-PPresponda s seguintes perguntas:

    a) Quais os incentivos necessrios melhoria da competividade danossa economia e dos nossos mercados?

    b) Quais as alteraes a promover ao nvel institucional e de actuao doEstado no sentido de remover barreiras nossa competitividade?

    c) Como permitir um melhor funcionamento do mercado de trabalho?

    d) Como reforar e promover a investigao e desenvolvimento?

    e) Como remover as barreiras ao empreendorismo?

    f) Como reduzir os custos de contexto, designadamente os da energia?

    g) Como promover o acesso a financiamento e a sustentabilidade dos

    custos inerentes?

    i. A Educao como condio de competitividade

    A Educao fonte primria de liberdade e, nessa medida, a evoluo dasociedade resultar, tambm, do que os seus jovens sejam capazes deaprender e realizar. A Educao por isso uma garantia de progresso e umespao inclusivo de oportunidades, equidade e de futuro. Como tal, deve serum meiodesejavelmente subsidirio famlia, a primeira educadora para aformao de pessoas conscientes do valor das suas ideias, dos seus direitos e

    deveres e das suas responsabilidades sociais.

    No momento atual, acreditamos ser urgente recentrar o discurso e a aoeducativa para o melhor servio dos alunos e suas famlias, devendo tudo oresto governance do sistema, meios humanos e infraestruturas, curricula eavaliaoestar subordinado a este fim, numa lgica de corresponsabilidade.Alis, o CDS-PP reconhecidamente o partido que mais tem defendido aprimazia dos interesses das famlias na educao dos seus filhos.

    igualmente importante compreender e integrar a experincia do passado, quenos diz que nada se muda contra os stakeholders, e que s com umaparticipao informada e empenhada podero os professores, os alunos, as

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    famlias e a restante comunidade educativa escola, autarquias, empresas,rede socialdesempenhar com confiana e sucesso a sua misso de educar.

    Por outro lado, h que assumir tambm que as mudanas tm, por regra, umdesfasamento no tempo entre custos, no curto prazo, e resultados, num ciclo

    mais alargado, e que, portanto, essencial viabilizar uma lgica de ensaio eavaliao, permitindo estabilidade e tempo de maturao, para alcanar boassolues, confiveis, consensualizadas e consequentes.

    A Educao em Portugal depara-se hoje com um conjunto de circunstncias squais preciso dar respostas concretas e que podemos sintetizar muitosumariamente nos seguintes vectores:

    a) (In)Sucesso escolar: O recente relatrio PISA 2012 (Programme forInternational Student Assessment) 7 deu conta de resultados muitointeressantes para Portugal, em termos do progresso compsito

    verificado ao longo dos ltimos anos no que respeita proficincia emMatemtica, Lngua Portuguesa e Cincias. Portugal aproximou-se damdia da OCDE e os alunos revelaram ter conhecimentos ecompetncias semelhantes aos de estudantes de pases como oReino Unido, Frana e Itlia. Os resultados mostraram ainda umaumento do nmero de muito bons alunos e uma diminuio donmero de estudantes com piores resultados.

    No entanto, se considerarmos outros indicadores de base nacional attulo de exemplo, as notas positivas nos exames nacionais em 2012:9. ano, 52% Portugus e 41,9% Matemtica, e 12. ano, 55,7%Portugus A e 50,2% Matemtica A , verificamos existir uma gritantemargem de melhoria, requerendo-se iniciativas concretas para aalcanar.

    b) Abandono escolar e empregabilidade: Muito embora venha a serrealizado um trabalho persistente e bem-sucedido no combate aoabandono escolar j praticamente inexistente no 1. e 2. Ciclos ,Portugal continua a ter das mais altas taxas europeias no que respeitaao abandono no Ensino Secundrio (2001: 39,4% - 2012:20,1%) 8 ,ainda muito longe do valor de 10% com que se comprometeu no

    documento de Estratgia Europeia 2020

    9

    .Acresce que os agentes educativos no terreno esto legitimamentepreocupados com o impacto que o alargamento da escolaridadeobrigatria possa ter sobre esta matria, assim como os efeitos dacrise atual, que tanto podem levar manuteno dos jovens emcontexto escolar, como incentivar ao abandono por falta deexpectativas.

    7

    Fonte:http://www.oecd.org/pisa/8Fonte:http://www.dgeec.mec.pt/np4/96/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=145&fileName=EducacaoEmNumeros2013.pdf

    9Fonte: COMMISSION STAFF WORKING DOCUMENT, Country Analysis (novembro de 2012)

    http://www.oecd.org/pisa/http://www.oecd.org/pisa/http://www.oecd.org/pisa/http://www.dgeec.mec.pt/np4/96/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=145&fileName=EducacaoEmNumeros2013.pdfhttp://www.dgeec.mec.pt/np4/96/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=145&fileName=EducacaoEmNumeros2013.pdfhttp://www.dgeec.mec.pt/np4/96/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=145&fileName=EducacaoEmNumeros2013.pdfhttp://www.dgeec.mec.pt/np4/96/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=145&fileName=EducacaoEmNumeros2013.pdfhttp://www.oecd.org/pisa/
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    A experincia em curso do ensino dual, o reforo da vertente doensino profissional e a atuao das redes locais de proximidade serofatores crticos na erradicao do abandono e na aproximaoescolas-empresas, como porta de empregabilidade.

    Nesta matria, a formao de adultos outra das preocupaes a terem conta, sabendo que em 2012 cerca de 10% da populao commais de 15 anos no tinham nenhum grau de escolaridade, 17,8%tinham completado o Secundrio e apenas 14,5% tinham terminadoum nvel Superior10.

    c) Demografia e dimensionamento do Sistema Educativo: As questesdemogrficas afetam o sistema educativo em mltiplos sentidos e,desde logo, em questes de dimensionamento.

    O nmero de alunos no sistema est em tendncia decrescente,

    sendo que, no 1. Ciclo, j se fez sentir o impacto: 927.852 alunos em1980 vs 454.003 em 201211. Naturalmente, este efeito propagar-se-aos restantes ciclos, embora a potencial mitigao do abandonoescolar e a escolaridade obrigatria de 12 anos possam diluir o efeitono tempo.

    Deste facto, inexorvel, resulta que haver que tomar decisespolticas e operacionais complexas no que respeita alocao derecursos humanos e infraestruturais, com vista garantia de eficinciae eficcia, salvaguardadas questes sociais e de equidade.

    d) Liberdade de Educar e Autonomia da escola: A educao faz parte doncleo de funes essenciais que o Estado no pode deixar deassegurar. Mas considerar que a educao um servio pblico, nonos leva a defender que tenha que ser prestado, obrigatoriamente, poruma entidade pblica. Independentemente da natureza pblica,cooperativa, privada ou social dos prestadores, a Educao sersempre um servio pblico.

    Por outro lado, a liberdade de educao um direito fundamental decada pessoa que se desdobra, por assim dizer, em vrias liberdades

    especficas, desde logo a liberdade de aprender, a liberdade deensinar e a liberdade de escola.

    Compete ao Estado respeitar e garantir quer a existncia de umservio pblico de Educao em diversidade , quer a prevalnciada Liberdade de Educaoem benefcio das famlias.

    Nesta aco, h que assumir a discusso pblica informada e oensaio no terreno de casos que permitam aferir das condies

    10Fonte:

    http://www.pordata.pt/Portugal/Populacao+residente+com+15+e+mais+anos+por+nivel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-88411

    Fonte: http://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+total+e+por+nivel+de+ensino-1002

    http://www.pordata.pt/Portugal/Populacao+residente+com+15+e+mais+anos+por+nivel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884http://www.pordata.pt/Portugal/Populacao+residente+com+15+e+mais+anos+por+nivel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884http://www.pordata.pt/Portugal/Populacao+residente+com+15+e+mais+anos+por+nivel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884http://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+total+e+por+nivel+de+ensino-1002http://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+total+e+por+nivel+de+ensino-1002http://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+total+e+por+nivel+de+ensino-1002http://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+total+e+por+nivel+de+ensino-1002http://www.pordata.pt/Portugal/Populacao+residente+com+15+e+mais+anos+por+nivel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884http://www.pordata.pt/Portugal/Populacao+residente+com+15+e+mais+anos+por+nivel+de+escolaridade+completo+mais+elevado+(percentagem)-884
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    exigveis e avaliar o sucesso para todos os stakeholders, mas emespecial para os alunos e famliasde novos modelos de autonomia eLiberdade de Educao.

    O CDS-PP dever focar a sua aco, procurando respostas ao contexto

    identificado, designadamente:

    a) Como devem ser redesenhados os contratos de autonomia no sentidode permitir um maior poder de concretizao de projetos educativoslocalizados, respeitando certos parmetros nacionais?

    b) Como podem ser viabilizados projetos educativos diferenciadores,liderados por professores/pais/IPSS, descontinuando um sistema deforma nica no reconhecimento de que essencial estimular otalento (e a sua profissionalizao) onde quer que esteja, desde quegarantida a neutralidade de custos e a qualidade, avalizadas pelo

    MEC?

    c) Como testar modelos de descentralizao da educao, devidamenteavaliados quanto aos indicadores de educao e quanto satisfaoda populao servida, no pressuposto de que uma aproximao dapoltica educativa s pessoas permitir respostas mais ajustadas e,como tal, uma maior eficincia e eficcia dos vrios agenteseducativos integrantes da rede local?

    d) Como promover uma cultura de avaliao, constitutiva da prticaescolar? Tendo em conta que num tempo de recursos escassos essencial determinar o que queremos fazer, o que faseadamentepodemos fazer, quais os meios necessrios e quais os resultadospblicos e escrutinveis. A prtica avaliativa poder ganhar, numsentido formativo e consequente, um papel fundamental, com umaincidncia de 360, incluindo escolas, direes, professores, alunos,estruturas do MEC e Programas Pblicos.

    e) Como valorizar publicamente os professores, a sua autoridade e a suamisso? Considerar possibilidades como (i) a atualizao dascompetncias formativas para o exerccio da funo docente exigveis

    aos novos entrantes, (ii) a avaliao de desempenho dos professoresem exerccio e consequentes planos formativos de melhoria, (iii) adelegao progressiva ao nvel local da responsabilidade pela escolhae recrutamento docente, de acordo com regras nacionais, paragarantia de adeso e pleno ajuste dos docentes aos projetoseducativos que tero de desenvolver.

    f) Como reforar a relao das famlias as primeiras e principaiseducadorascom a escola, na construo e na procura de soluesprticas que permitam a todos uma efetiva liberdade na escolha doprojeto educativo que melhor sirva os interesses dos seus filhos (no

    esquecendo de um modo particular as famlias numerosas, maiscarenciadas e com filhos com necessidades educativas especiais)?

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    No que respeita ao Ensino Superior, os desafios mantm-se os mesmos hmuitos anos, ressalvadas as alteraes introduzidas pelo Processo de Bolonha.

    Portugal tem uma rede lata de instituies de ensino superior. A fixao deuniversidades ou institutos politcnicos funcionou, por vezes, como poltica dedesenvolvimento regional, verificando-se que existem regies que, perdendo asua instituio de ensino superior, perdero uma ncora de atraco.

    Mas as instituies de ensino superior devem servir, em primeira instncia,para ministrar formao de excelncia e atrair crebrose investigadores paraa produo cientfica e, s depois, permitir o desenvolvimento duma regio.Esse bem-vindo efeito secundrio no deve ser esquecido no desenho da rede,tambm pelo seu papel mitigador de assimetrias regionais.

    As grandes questes a que o CDS deve hoje responder so, sucintamente:

    a) Como implementar uma necessria reforma da rede de ensino superiorpermitindo uma reduo da disperso geogrfica e assegurando anecessria massa crtica e induzindo melhores resultados educativos?

    b) Como aproximar a oferta de cursos de ensino superior s necessidadesda economia, sem menosprezar a diversidade de formaes em todasas reas do saber?

    c) Como reagir ao efeito demogrfico que nos prximos anos atingir oensino superior?

    d) Como balancear o financiamento do sistema: manter a prepondernciado estado (via Oramento do Estado ou via FCT), ou criar incentivos epossibilidades para mais financiamento privado?

    ii. A Fiscalidade como instrumento de competividade

    A fiscalidade uma matria na qual o CDS-PP tem historicamente propostas

    de polticas pblicas mais reconhecveis e sedimentadas. Somos o partido quesempre representou melhor a defesa dos direitos dos contribuintes, de umsistema fiscal competitivo, moderado na captao da riqueza produzida pelaeconomia e promotor da mobilidade social.

    Porm, a participao do CDS-PP no actual governo, cujo programa constituiessencialmente o cumprimento de um plano de resgate financeirointernacional, obrigou o partido a desviar-se de parte das suas prioridades narea da fiscalidade.

    No consideramos que tal tenha verdadeiramente constitudo uma violao dos

    princpios do CDS-PP, mas apenas o respeito pelo princpio superior da

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    salvaguarda da soberania do Estado, que um pressuposto fundamental dapossibilidade de aplicao dos princpios do partido em matria de fiscalidade.

    O manifesto com que o CDS-PP se apresentou s eleies de 2011 quanto aisso bastante honesto e transparente, ao deixar evidente que o resgate originou

    um cenrio de anormalidadepoltica, no qual a prioridade no pode deixar deser dada s medidas destinadas ao cumprimento do PAEF e recuperao dasoberania financeira, instrumento essencial das polticas subsequentes decrescimento econmico e solidariedade social.

    Ainda assim, so de sublinhar os ganhos de causa obtidos pelo CDS-PP,precisamente em cumprimento das prioridades expostas no seu manifestoeleitoral por exemplo na luta contra a fraude e evaso e na injeco decompetitividade fiscal que significa a histrica reforma do IRC, uma vitriapoltica assinalvel num ambiente de forte retraco oramental e relaoexigente com os representantes dos credores institucionais.

    No obstante, o CDS-PP deve ter a noo no s de que o que se logroucumprir no suficiente como que em matria de fiscalidade que se jogar,no futuro prximo, a definio de uma parte essencial da sua relevncia ecredibilidade (bem como, alis, das do prprio Estado portugus).

    preciso reconhecer que o CDS-PP apenas conseguir manter a confianados portugueses na exacta medida em que os convena de que a carga fiscalactual (inaceitvel numa situao de regularidade das contas pblicas) , defacto, o fruto da excepcionalidade oramental, financeira e poltica do pas.

    Como bvio, no ser possvel convencer ningum disso se o governo, doqual o CDS-PP faz parte, no incluir nos seus planos para o perodo posteriorao fim do PAEFe cumprir efectivamenteum programa que signifique, maisdo que o mero regresso situao imediatamente anterior ao pedido deauxlio, um verdadeiro processo reformista em nome da competitividade,modernidade e justia tributrias (antes do PAEF, Portugal tinha j um sistemacom clara necessidade de reformulao).

    De acordo com o Global Competitiveness Report (2012/2013) do WorldEconomic Forum, Portugal ocupa a posio 135 (em 144 pases) no que se

    refere amplitude e efeitos positivos do sistema tributrio na competitividade. evidente, portanto, a necessidade de o pas se focar de forma mais vincadana utilizao da fiscalidade como um instrumento de atraco e potenciao deinvestimento, ultrapassando a viso de um sistema fiscal apenas vocacionadopara a angariao de receitas com vista satisfao das necessidadesfinanceiras do Estado e redistribuio da riqueza, objectivos que tendem acolocar presso no sentido do aumento da carga fiscal (de acordo com dadosdo Eurostat de 2012, 34,8% do PIB).

    Sabemos, contudo, que este propsito apenas se conseguir, face aos

    constrangimentos oramentais que vivemos, em conjunto com uma reforma doEstado e uma reduo sustentada da despesa.

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    Tendo em considerao aqueles que so unanimemente considerados osprincipais obstculos do sistema fiscal portugus competitividade econmica,as polticas pblicas a propor pelo CDS-PP devero ser orientadas no sentidode gradualmente conferir ao mesmo as seguintes caractersticas de

    moderao, simplicidade e neutralidade da tributao.

    Nesse sentido, o CDS-PP deve considerar:

    a) Como diferenciar Portugal relativamente s jurisdies concorrentes,para promoo do investimento de fonte interna e externa, doemprego e do crescimento econmico?

    b) Como reformar o IRS no sentido da simplificao do regime doimposto, da reduo da carga fiscal e da sua transformao eminstrumento de mobilidade social?

    c) Como impedir que o IRS seja um entrave constituio e crescimentode famlias?

    d) Quais os critrios e os instrumentos jurdicos necessrios para definiro limite mximo de carga fiscal?

    e) Como assegurar a celeridade e justia do procedimento e do processotributrios?

    e) Coeso Social

    Portugal possui como enorme mais-valia uma forte coeso social, preservadamesmo nos tempos mais difceis.

    No entanto, Portugal enfrenta tempos de necessria mudana para ser maiseficaz, mais sustentvel e mais solidrio, mas o valor da coeso social tem queser preservado. E nesta, como noutras dimenses, o Estado tem de saber comquem deve contar para o fazer.

    H reas prioritrias para manter a coeso social que se agrupam,

    essencialmente, em:

    Desemprego, Proteco e Respostas Sociais Sustentabilidade do sistema de Segurana Social Sade

    i. Desemprego, Proteco e Respostas Sociais

    A crise e o ajustamento a que Portugal foi submetido tiveram forte impactosobre os nveis de emprego no nosso pas. Dentro da reduzida margem de

    manobra que Portugal dispunha, foi possvel acautelar este fenmenoreduzindo para 12 meses o prazo de garantia de acesso prestao

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    correspondente, alargando a base de abrangncia do subsdio de desempregoe subsdio social de desemprego ou criando uma majorao para casaisdesempregados, entre outras medidas.

    Hoje, a taxa de cobertura no desemprego, isto , o nmero de pessoas com

    proteco social em ordem ao nmero total de desempregados, cresceu 9,3%12

    face ao primeiro trimestre de 2011, o que mostra que a proteco foi alargada.Mas ainda insuficiente.

    O desemprego atual transgeracional e levanta especiais preocupaes nasfaixas etrias mais jovens para quem falham as oportunidades e nosdesempregados acima dos 45 anos de idade, que tendencialmente tm maisdificuldade em regressar ao mercado de trabalho.

    Esta , alis, uma realidade europeia comum a todos os Estados-Membros.Uma preocupao global, que exige o esforo concertado dos pases membros

    e em que Portugal dever estar particularmente empenhado nos prximosanos.

    A economia portuguesa vai comeando a dar sinais de inverso da tendnciaregistada at aqui e o desemprego vai consolidando a descida dos ltimos 10meses. Mas h ainda um longo caminho a percorrer.

    Para tal, o CDS-PP ter de responder s seguintes questes ou problemas:

    a) Como criar uma rede solidria de partilha de recursos para respostassociais?

    b) Como implementar e melhor aproveitar a Garantia Jovem respostaeuropeia, qual Portugal aderiu?

    c) Como promover uma qualificao e reconverso profissional quepermita o regresso ao mercado de trabalho, para os desempregados delonga durao?

    d) Como racionalizar e simplificar as medidas activas de emprego,garantindo que estas se focam nas condies de investimento e

    emprego das empresas e no em mecanismos artificiais, garantindo asustentabilidade dos empregos criados?

    e) Numa lgica de eficincia do sistema pblico de emprego, qual o papeldos agentes privados de colocao dos desempregados?

    f) Como melhor combater a fraude no acesso s prestaes sociais?

    g) Como introduzir um tecto s prestaes no contributivas?

    12IEFP

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    h) Em que condies pode ser desenvolvido um sistema de vouchersquelimite e balize efectivamente os bens ou apoio social a que se destinem?

    Todos estes factores acautelados contribuiro para um Estado socialmentejusto e sustentvel.

    Importa que o Estado, no sendo o nico agente a desenvolver o combate excluso social, possa e queira sem abdicar das suas responsabilidades, fundar parcerias que permitam uma maior abrangncia e qualidade na respostaprestada.

    ii. Sustentabilidade do sistema de Segurana Social

    A sustentabilidade da segurana social e o sistema previdencial preocupa,legitimamente, muitos portugueses. uma questo indissocivel da evoluodemogrfica acima exposta,

    A grande maioria dos pases europeus optou por aumentar a idade da reforma;o dfice contributivo, tambm por via do desemprego, aliado a um aumento dadespesa por via da proteco social que importa conferir neste tempo de crise,sobrecarregou ainda mais o modelo que temos.

    No futuro, e com muitos portugueses expostos demasiado tempo aodesemprego, teremos reformas sem histrico contributivo suficiente para seremformadas. Tambm isto pressionar o sistema e tambm para isso teremos deter respostas.

    Assim, numa perspetiva de mdio prazo, ser necessrio construir um sistemaonde seja definido, por pragmatismo resolutivo, o plafonamento das pensesfuturas.

    Desta forma, o CDS-PP deve encontrar resposta para as seguintes questes:

    a) Como definir o sistema de plafonamento?

    b) Como assegurar a transio para esse sistema sem prejudicar asustentabilidade do regime geral de segurana social?

    c) Como determinar o limite mximo sobre o qual devem ser feitos osdescontos para o sistema pblico e, bem assim, como determinar o valormximo da penso a pagar nesse mesmo sistema?

    iii. Sade

    O debate sobre a Sade em Portugal assenta em duas grandes premissas que,do nosso ponto de vista, no so rigorosas.

    A primeira premissa a que afirma que, em Portugal, convivemos com vrios

    sistemas de sade: pblico, privado, convencionado e seguros.

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    No verdade. Em Portugal, todo o sistema de sade pblico. O que difere a propriedade da instituio que presta o servio: esta pode ser do Estado,pode ser de um grupo privado, ou pode ser mista (por exemplo, um regime emque o espao fsico de um mas a gesto de outro, como acontece nasparcerias pblico-privadas).

    Mais, o Estado garante assistncia de cuidados de sade quer em instituiesdas quais dono, quer em instituies com as quais apenas contratualizou aprestao de um ou mais servios.

    Mesmo em instituies do Estado pode haver lugar a pagamento de taxas, que,em alguns regimes contributivos, mais alto do que o mesmo servio prestadonuma instituio 100% privada (por exemplo, as consultas de especialidade daADSE). Mesmo as transferncias de oramento que o Estado faz para asinstituies de que dono na maioria das vezes feito atravs da figura dosHospitais-Empresa, obedecendo a regras prprias, mas muito parecidas com a

    relao do Estado com empresas privadas.

    Neste sentido, o Sistema de Sade Portugus um s.

    A segunda premissa que a Sade apenas fonte de despesa. A Sade, emPortugal (e em todo o mundo), , claro, dispendiosa mas deve procurar-se asua sustentabilidade. A evoluo da Medicina progresso tecnolgica, novosfrmacos, mais exames complementares de diagnstico , a par do aumentoda esperana de vida, fazem com que os cuidados prestados sejam mais emais caros. Logo, os gastos no Sistema de Sade tm tendncia a aumentar.

    No entanto, existem oportunidades de negcio que podero ter algum retorno,como exemplo o turismo de sade, experimentado em outros pases, comcomprovado sucesso.

    Apresentados estes dois preconceitos em relao Sade, devemos recentraro nosso debate, na melhoria e actualizao do Sistema de Sade que j existe,tornando-o mais eficiente e equitativo. Nesse sentido, as principais questes aatender na preparao de polticas pblicas na rea da Sade so:

    a) Como equilibrar o binmio centralizao/descentralizao de servios,

    atendendo s vantagens e inconvenientes de cada opo,nomeadamente no que diz respeito ao controlo de despesa e competitividade interna?

    b) Como fomentar a autonomia de gesto das Unidades de Sade Familiare dos Hospitais e como monitorizar os seus resultados?

    c) Como atrair procura externa para a prestao de cuidados de sade emPortugal?

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    d) Como valorizar a participao em ensaios clnicos, no sentido de obtervantagem financeira?

    e) Como promover a investigao e o desenvolvimento de patentes?

    f) Como repensar a referenciao de patologias mais raras?

    f) Territrio

    i. Assimetrias territoriais

    Uma poltica coerente de territrio tem sido um desgnio eternamente adiadoem Portugal. Se verdade que as opinies so praticamente unnimes no que

    toca necessidade de maior descentralizao, de maior equilbrio entre litoral einterior, e de maior coeso territorial, a verdade que quando chega a hora depassar das palavras aos actos pouco tem sido feito.

    A situao difcil que Portugal est a passar veio acentuar a complexidadedeste tema. A necessidade de racionalizar despesa e servios tornou imperiosofazer escolhas. Escolhas difceis, at porque em matria de territrio asreformas no se fazem para alguns anos, mas sim para muitas dcadas.

    Para comear a fazer estas escolhas temos que responder a algumasperguntas fundamentais que aqui enunciaremos.

    A primeira questo tem a ver com a optimizao de estruturas de gesto eservios pblicos. Que fique muito claro que no pomos em causa anecessidade de racionalizar servios. Sabemos que isso implicarnecessariamente, pelo menos em alguns casos, encerr-los. Mas estasdecises tm que ser tomadas tendo em conta uma matriz equilibrada ecoerente nas reestruturaes territoriais de funes pblicas de diferentesministrios. O territrio tem de ser analisado de uma forma global e integrada,no podendo estas reformas ser feitas apenas sectorialmente, sem uma noode consequncias da sua aplicao simultnea ou sequencial.

    Mas para que o trabalho seja bem feito, temos tambm que saber que territrioqueremos. A prioridade deve ser preservar servios pblicos em todos osmunicpios, em todas as freguesias ou em todos os ncleos territoriais? Ou,diferentemente, devemos favorecer a criao de cidades de pequena e mdiadimenso, concentrando em determinados concelhos ou locais um ncleofundamental de servios pblicos que levem a populao e os transportes aconvergirem para a?

    Sendo este problema sentido sobretudo no Interior, fundamental que estapergunta seja respondida pensando no que ser melhor para a qualidade de

    vida de quem vive em territrios de baixa densidade populacional e,consequentemente, para a fixar populao.

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    A segunda pergunta fundamental a da organizao administrativa doterritrio. Apesar de j se ter avanado de forma muito significativa nestedomnio, permanecem ainda dois pontos em que h trabalho para fazer. Porum lado, coexistem no territrio municpios e freguesias com dimenses e

    caractersticas radicalmente diferentes, tornando extraordinariamente difcil aaplicao a todos de regras semelhantes. , por isso, necessrio avaliar apossibilidade de introduzir diferentes tipos de organizao e funcionamento,consoante as caractersticas territoriais e populacionais de cada autarquia.Essa experincia existe noutros pases, com sucesso. Por outro lado, devediscutir-se abertamente a melhor forma de reduzir municpios. Para isso, fundamental assegurar-se a necessria estabilidade e consenso interpartidrio.

    O terceiro problema fundamental o da descentralizao de competncias.Este desgnio tem que ser cumprido tendo em vista sobretudo o prisma doscidados e a necessidade de descomplicar e facilitar a sua vida. Ou seja, o

    ponto de partida no o que for mais conveniente para o Estado Central oupara os municpios, mas sim aquilo que mais convier aos cidados. Isto implicanecessariamente olhar no s para os organismos da Administrao Central,mas tambm para os das autarquias, quer cmaras municipais, querfreguesias, e eliminar duplicaes e justaposies de competncias. OGoverno tem avanado de forma significativa neste domnio, com aimplementao do Programa Aproximar.

    A questo das assimetrias territoriais hoje analisada de forma, por vezes,simplista atravs da comparao litoral vs. interior ou norte vs. sul. Mas aquesto essencial prende-se com a necessidade de compreenso do porqudessas diferenas.

    So vrios os factores que contribuem para a existncia de assimetrias,nomeadamente: as caractersticas dos territrios, a dotao dos recursosdisponveis, a localizao perifrica de algumas regies, as condies de vidadas populaes, os equipamentos pblicos existentes ou at o nmero derespostas sociais disponveis.

    No entanto, acresce hoje que a sociedade livre em que vivemos permite umacirculao de pessoas e capitais, que conduzem a fugas normais das regies

    perifricas para as regies mais desenvolvidas.Temos todavia verificado que, uma das actividades que tem combatido o efeitodessa polarizao de perda por parte das regies mais pobres de mo-de-obra mais jovem e qualificada tem sido o desenvolvimento da actividadeagrcola. Com efeito, o apoio de projectos a jovens agricultores tem permitido afixao de populao no interior, combatendo de forma positiva os elevadosndices de desemprego a registados. O papel do CDS-PP na concretizaodessa poltica deve continuar a ser decisivo, identificando novas formas deestmulo a esta actividade.

    Mas para o combate ao despovoamento necessria uma estratgia nacionalde ordenamento do territrio que permita aplicar de forma correcta os recursos

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    disponveis ao nvel dos fundos estruturais da Unio Europeia. Nesse sentido,Portugal dever construir um modelo de governo de gesto dos fundoseuropeus que permita potenciar a sua mxima utilizao em benefcio dosterritrios menos desenvolvidos.

    Assim, o CDS-PP dever ter um papel interventivo nesse modelo de governo,participando de forma activa no acompanhamento dos diferentes programasestruturais, semelhana do que j hoje realiza na gesto dos fundos queconcedem apoios ao sector agrcola e das pescas.

    Acreditamos que o despovoamento das zonas do interior s poder seratenuada atravs da prossecuo de um conjunto de polticas que permitammaximizar o potencial dessas regies, tornando-as desse modo maisapelativas fixao de populao.

    ii. Floresta

    O territrio continental portugus manifesta na floresta dos seus activos maisrelevantes. De facto, o uso do solo dominado pela floresta (35%), seguidapelos matos e pastagens (32%) e pela agricultura (24%) (guas interiores,improdutivos e rea urbana perfazem 9%)13, sendo tambm de destacar oimportante papel da floresta na economia nacional.

    Para alm da presena marcante no solo portugus e do seu papel naeconomia, a floresta apresenta variadssimas valncias, de onde se destaca oseu papel ambiental, social, cultural e paisagstico. Porm, como todos osbens, sofre de ameaas constantes, onde os incndios se revelam dasprincipais. Entre 1996 e 2012, 1998, 2003 e 2005 destacam-se como os anoscom mais rea ardida: 216.175ha (27% de floresta; 59% de matos epastagens) em 1998; 439.918ha (52% de floresta; 36% de matos e pastagens)em 2003; 346.382ha (50% de floresta; 38% de matos e pastagens) em 200514.Entre 1 de Janeiro e 15 de Outubro de 2013, a rea ardida foi 140.944ha (37%de floresta; 63% de matos e pastagens)15.

    Embora, de maneira geral, a floresta seja menos afectada do que os matos eas pastagens, todos os anos o valor ambiental, econmico e paisagsticoinerente floresta destrudo pelos incndios. Os dados estatsticos no

    mostram tendncias de declnio consistente dos incndios, mas deperiodicidade cclica, apesar das medidas pblicas de preveno e de combateaos incndios. Neste seguimento, algumas perguntas podem ser lanadas deforma a contribuir para a soluo deste problema:

    a) Se os incndios persistem, apesar das medidas e dos meiosdisponveis, no haver pessoas ou grupos interessados na suacontinuao? Como identific-los?

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    Fonte: ICNF (2013), 6 Inventrio Florestal Nacional14Fonte: ICNF

    15Fonte: ICNF (2013), Relatrio provisrio de incndios florestais 01 de Janeiro a 15 de Outubro

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    b) Relativamente aos incndios por dolo, como que as sanes legaispodem contribuir para diminuir drasticamente a incidncia dosincndios?

    c) Relativamente aos incndios por negligncia, quais so as medidas

    mais eficazes para os evitar?

    d) Relativamente ao combate, no poderia o mesmo ser evitado em muitasocasies com meios preventivos mais eficazes?

    e) Ainda, relativamente ao combate, quais so os meios mais eficazes eeconmicos para o fazer?

    iii. A descontinuidade territorial

    Localizados em pleno Oceano Atlntico os arquiplagos dos Aores e da

    Madeira tm uma posio geoestratgica muito relevante, mas sofrem asconsequncias da descontinuidade territorial.

    Essa descontinuidade relevante em ambos os casos, mas assume especialrelevncia nos Aores. O arquiplago caracteriza-se pela disperso geogrficadas suas 9 ilhas, ao longo de 600 km e pelo seu afastamento geogrfico docontinente, constitui uma ultraperiferia.

    A localizao de ambos os arquiplagos permite a Portugal ter uma das maisextensas Zonas Econmicas e Exclusivas, que com o projecto nacional de

    extenso da plataforma continental poder colocar Portugal como quintapotncia martima mundial.

    O potencial deste ativo geostratgico deve ser potenciado no mbito daspolticas nacionais nos mais diversos domnios. Desde logo a cincia, emdiversas disciplinas, com o aproveitamento das riquezas minerais e biolgicasque o nosso mar nos oferece, passando pela economia, com a exploraocomercial desses bens.

    Assim sendo, a importncia territorial e econmica de ambas as Regies

    Autnomas deve ser valorizada na definio de polticas de coeso territorial,importantes para a promoo da qualidade de vida das suas populaes.

    ainda relevante a promoo de uma relao financeira estvel entre asRegies e a Repblica. Situaes de total descontrolo financeiro - comoaconteceu na Madeira e acontece em alguns sectores nos Aores - e respostasque penalizam ainda mais as populaes - como aconteceu no Programa deAssistncia RAM - so maus exemplos do que deve ser o caminho dasfinanas regionais, da sua gesto e da relao entre a Repblica e as Regies.

    Devem ser procuradas respostas para vrias questes, nomeadamente:

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    a) Como combater a distoro introduzida pela descontinuidade territorial,periferia e ultraperiferia das Regies Autnomas dos Aores e daMadeira?

    b) Como valorizar os activos regionais na competitividade da economiaportuguesa?

    c) Como criar uma relao financeira transparente e equitativa entre asRegies e a Repblica?

    d) Como defender os interesses destas Regies no mbito da definio depolticas europeias?

    g) Participao Poltica

    A problemtica dos baixos ndices de participao dos cidados na vidapoltica, fenmeno transversal generalidade das democracias ocidentais, notem merecido a devida ateno por parte dos agentes polticos, e ameaatornar-se um dos mais relevantes desafios seno mesmo o mais relevante que actualmente se colocam aos sistemas democrticos.

    Tomando como exemplo as eleies para a Assembleia da Repblica, importa

    recordar que a absteno, em Portugal, tem aumentado de forma contnua,tendo-se situado, nas ltimas eleies legislativas, em 41,9% dos eleitores.Esta realidade secundada pela taxa de absteno que se verificou nasltimas eleies autrquicas, de 47,4%, e, ainda, pela que se registou nasltimas eleies presidenciais, de 53,5%. Estes valores correspondem a umintervalo situado entre os quatro e os cinco milhes de eleitores.

    A este fenmeno no ser alheia a ausncia, historicamente comprovada, deuma cultura de participao dos portugueses nos assuntos pblicos. Cabe,porm, reconhecer que a explicao est longe de se esgotar em factores denatureza histrica e tambm no reside apenas na circunstncia de Portugal

    atravessar um perodo economicamente difcil.

    Os baixos ndices de participao dos cidados na vida poltica traduzem umcrescente desinteresse, quando no verdadeira desconfiana e insatisfao,relativamente aos mecanismos tradicionais da democracia representativa.Afigura-se incontroverso que a sociedade portuguesa no est mobilizada paraa participao poltica pelos meios tradicionais, quer nas suas formas maisactivas, como sejam a militncia em partidos polticos ou a disponibilidade parao exerccio de cargos polticos, quer na dimenso mais basilar da intervenopolticao voto.

    Por outro lado, embora tenhamos assistido emergncia de novos espaosinformais de interveno, de que as redes sociais constituem exemplo

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    relevante, tambm no parece poder afirmar-se que o recurso aos meiostradicionais de participao dos cidados na vida democrtica tenha vindo aser significativamente substitudo pelo recurso a outros meios de intervenopoltica, eventualmente com origem na sociedade civil.

    No pode ser ignorada a existncia de um clima de desconfiana permanenterelativamente s instituies democrticas, em particular aos partidos polticose aos seus processos decisrios internos. especialmente notrio umcrescente distanciamento dos eleitores face aos seus representantes polticos,criando dessintonias profundas que merecem reflexo. Tudo isto gera umempobrecimento gradual da democracia e degrada continuamente a qualidadedo debate pblico.

    Neste domnio, deve ser reconhecida a percepo generalizada de que, porregra, as expectativas criadas em torno de candidatos e programas, nosdiversos quadrantes do sistema, s muito limitadamente tm correspondncia

    na aco poltica, o que contribui significativamente para a degradao darelao de confiana em que assenta a participao na vida pblica. No rarasvezes, o discurso poltico percepcionado como um discurso hermtico,centrado nas questes menores da poltica, em detrimento dos temas queverdadeiramente relevam para a gesto dos assuntos pblicos.

    Por outro lado, h a noo clara de que o espao pblico meditico se encontrapermanentemente ocupado por uma mirade de comentadores polticos queactuam como caixas de ressonnciade anlises superficiais, repetidas at exausto, que pouco ou nada acrescentam ao debate que interessa aocidado. A saturao do espao pblico, tanto nas pessoas, como nas ideias,constitui um factor que contribui decisivamente para afastar os cidados davida poltica.

    Independentemente da justia ou injustia destas percepes, no parecepoder duvidar-se que as mesmas tm vindo, paulatinamente, a sedimentar-sena sociedade portuguesa, criando razes profundas que se manifestam emtodas as dimenses da participao poltica. De resto, pode bem afirmar-se,sem exagero, que o desinteresse que grassa pela sociedade portuguesa notocante ao envolvimento na vida democrtica corresponde a um crescentesentimento de desesperana, a que o CDS-PP no pode ficar indiferente.

    Trata-se de uma problemtica que o CDS-PP deve encarar, reflectindo sobreas suas causas e preparando as respostas adequadas. Ao propor esta reflexointerna, no podemos deixar de enunciar aquelas que nos parecem ser ascoordenadas gerais de uma tal reflexo, na certeza de que tambm nestedomnio se impe uma nova gerao de polticas pblicas, nomeadamente:

    a) Reforma do sistema eleitoral

    Um dos mais relevantes factores explicativos do desinteresse dos cidadospela vida democrtica a degradao do vnculo de representao entre

    eleitores e eleitos: uma parte significativa dos eleitores no se senterepresentada pelos eleitos. Importa, por isso, reflectir sobre uma eventual

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    reforma do sistema eleitoral tendente a reforar aquele vnculo, conferindo aoseleitores maiores possibilidades de escolha directa das pessoas quepretendem eleger como seus representantes.

    Neste contexto, deve ser ponderada a eventual reconfigurao dos crculos

    eleitorais, reconhecendo que o desenho actual assenta em critrios porventuradatados, a par da introduo da possibilidade de, em eleies com listasplurinominais, os eleitores conferirem o seu voto a um especfico candidato,independentemente da posio que ocupe na lista que integra.

    b) Reforma do funcionamento dos partidos polticos

    A reforma do funcionamento dos partidos polticos constitui, provavelmente, umdos maiores e mais complexos desafios que se colocam neste domnio. Noacreditamos nas virtudes de uma democracia sem partidos, pelo que devemostrabalhar afincadamente para que os cidados voltem a confiar nos partidos e

    se sintam motivados para a participao poltica no contexto partidrio.

    Podemos e devemos ambicionar um partido mais transparente quanto aosprocessos decisrios internos, mais participado quanto escolha dos seuscandidatos, mais aberto sociedade civil e s estruturas que nela tenhamorigem, mais mobilizador dos militantes e simpatizantes para tomarem parte nadiscusso, menos atento a disputas internas de poder e mais centrado naqualidade das suas propostas, dos seus dirigentes e dos seus candidatos. Asestruturas partidrias devem saber estimular o debate interno e respeitar adiferena de opinio, s assim podendo ambicionar atrair novos rostos para apoltica.

    Deve ser promovida a participao dos independentes na vida do partido. Aabertura sociedade passa por poder integrar os seus contributos sem exigir,como contrapartida, a filiao.

    O referendo interno (que carece de ser modernizado em razo dos avanostecnolgicos) deve ser encarado como um instrumento privilegiado departicipao dos militantes e simpatizantes na vida partidria. fundamentalcriar, no CDS-PP, uma cultura de participao directa na formao das ideiasdo partido. A utilizao do referendo interno nestes moldes poder servir de

    antecmara para a eventual abertura a todos os militantes e simpatizantes dopartido da escolha dos seus candidatos aos diversos cargos polticos.

    c) Reforma do modelo de financiamento dos partidos

    O actual modelo de financiamento dos partidos polticos constitui outro dosfactores que contribuem para o clima de desconfiana dos cidadosrelativamente ao sistema poltico no seu conjunto. H uma percepo de que adespesa pblica para financiamento partidrio desrazovel, principalmente noque diz respeito s campanhas eleitorais.

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    Importa, neste contexto, ponderar a alterao do critrio de clculo dosmontantes das subvenes pblicas para financiamento das campanhaseleitorais.

    d) Reforo dos mecanismos de participao directa nos processos

    decisrios

    A democracia no se vive apenas por intermdio dos partidos. A motivao dasociedade civil para a participao poltica no pode, por isso, prescindir deincentivos mais alargados a formas de participao directa nos processosdecisrios, aproveitando, para este desiderato, as numerosas possibilidadesoferecidas pela tecnologia. Sugere-se, por um lado, a reduo do nmeromnimo de subscritores exigido para o exerccio do direito de iniciativalegislativa e, por outro lado, a possibilidade de subscrio de projectos de leipor via electrnica, com dispensa da recolha de assinaturas manuscritas.

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    3. A organizao do CDS-PP:

    a) O Gabinete de Estudos

    O CDS-PP s poder crescer de forma consistente, e governar de forma

    consequente, se for capaz de defender propostas que concretizem e potenciemo seu posicionamento nico no espectro poltico portugus.

    No podemos responder a um socialismo entrincheirado apenas com filosofia.No podemos fazer Poltica sem polticas. No podemos reduzir a participaona poltica a ocasionais contagens de espingardas.

    Propomos assim a criao de um Gabinete de Estudos, que dever dar corpo auma misso tripartida:

    a) Reforar a consistncia e coerncia ao partido: o CDS-PP deve assumir

    aquilo em que acredita, beneficiando do facto de acreditar em algo, eapresentar ao pas uma alternativa poltica consistente. Cabe assim aoGabinete de Estudos planear e desenvolver uma actividade de formaopoltica aos militantes e dirigentes do CDS-PP.

    b) Desenvolver polticas que representem inequivocamente os seusvalores: as propostas do CDS-PP devero ser uma aplicao prtica danossa matriz ideolgica na definio de solues concretas paraproblemas concretos dos portugueses. Cabe assim ao Gabinete deEstudos desenvolver uma actividade que permita, a um mesmo tempo,sustentar e enquadrar as propostas do CDS-PP a vrios nveis eperspectivar novas reas e polticas que devam merecer a ateno dopartido.

    c) Identificar e congregar um conjunto alargado de pessoas que acreditenessas polticas e que esteja habilitado para as defender: o CDS-PP temde ter a capacidade de somar ao que j , envolvendo novos quadros,novas perspectivas e novos eleitorados na definio das suas polticas ena comunicao dos seus valores. Cabe assim ao Gabinete de Estudosfuncionar como uma estrutura de captao, enquadramento epreservao de quadros do CDS-PP.

    Para tal, o Gabinete de Estudos ter de assentar numa organizao queassegure no s sua a capacidade operacional mas tambm a sua relevncia,e numa articulao temtica e funcional com o restante partido.

    i. Organizao e Funcionamento do Gabinete de Estudos

    Pretende-se que o Gabinete de Estudos tenha uma estrutura reduzida eflexvel, mas eficaz.

    A liderana dever ser assegurada por uma Comisso Executiva constituda

    por um Director, que ser a sua face pblica, por um Director-Adjunto, queassegurar o seu funcionamento numa base diria, ambos nomeados pela

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    Comisso Directiva, e por um vogal indicado pelo Presidente do GrupoParlamentar, que assegurar a ligao ao Parlamento.

    O Gabinete de Estudos deve organizar-se de forma a poder desempenhar assuas funes de formao poltica, de sustentao poltica e de captao e

    preservao de quadros, devendo tais funes estar tanto quanto possvelentregues a responsveis distintos, que esto obrigados ao cumprimento deum plano de actividades anual determinado pela Comisso Executiva doGabinete de Estudos.

    Para ser consequente, o trabalho do Gabinete de Estudos dever serdesenvolvido de uma forma consistente, consistncia essa que s serpossvel se o Gabinete de Estudos tiver um oramento prprio que financie asua estrutura, da qual ter de fazer parte a tempo inteiro o Director-Adjunto, eassegure a continuidade da sua actividade.

    ii. Enquadramento institucional

    No que diz respeito articulao com o resto do partido, o Gabinete deEstudos dever ter como misso principal o apoio actividade da ComissoPoltica Nacional e dos Grupos Parlamentares. Esta ligao ser essencialtanto para dar consistncia aco poltica como para atrair pessoas e ideias.

    Para assegurar o alinhamento estratgico da actividade do Gabinete deEstudos com as orientaes da Comisso Poltica Nacional, os temas eobjectivos dos Grupos de Trabalho devero ser definidos pela mesma e,trimestralmente, cada Grupo de Trabalho dever apresentar um relatrio deprogresso quanto evoluo dos trabalhos e deve dele dar conta,presencialmente, Comisso Poltica Nacional ou Comisso Directiva.

    Ao nvel local e regional, o Gabinete de Estudos dever articular-se com oSecretrio-Geral para dar apoio s estruturas do partido que pretendam dar umseguimento descentralizado ao trabalho desenvolvido.

    De nada valer a pena ter um Gabinete de Estudos se todo o seu trabalho forignorado pela Comisso Poltica Nacional. nossa opinio que a ComissoPoltica Na