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Fábio Ferreira de Moura FATORES PREDITIVOS DE ESTEATOHEPATITE EM PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA RECIFE / 2007

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Fábio Ferreira de Moura

FATORES PREDITIVOS DE ESTEATOHEPATITE EM PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA

GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA

RECIFE / 2007

Livros Grátis

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ii

Fábio Ferreira de Moura

FATORES PREDITIVOS DE ESTEATOHEPATITE EM PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA

GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA

Dissertação Apresentada á Universidade de Pernambuco – Faculdade de Ciências Médicas e Instituto de Ciências Biológicas - para Obtenção do Título de Mestre em Ciências Médicas.

ORIENTADORA

Profa. Dra. Leila Beltrão Pereira

CO-ORIENTADOR Prof. Dr. Francisco Bandeira

RECIFE / 2007

iii

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

REITOR Carlos Fernando de Araújo Caldo

VICE-REITOR

Reginaldo Inojosa Carneiro Campello

COORDENADOR DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO: Rivaldo Mendes

COORDENADOR DO MESTRADO

Leila Beltrão Pereira

CHEFE DA DIVISÃO DE CURSOS Maria do Socorro de Mendonça Cavalcanti

MEMBROS DO COLEGIADO

Adriano Calado Cláudio Moura Lacerda

Dário Celestino Sobral Filho Demócrito de Barros Miranda Filho Emmanuel Rodrigues de França

Francisco Alfredo Bandeira e Farias Kátia Cristina Lima de Petribú

Leila Maria Moreira Beltrão Pereira Lia Giraldo

Luciana Patrizia Alves de Andrade Valença Maria do Socorro de Mendonça Cavalcanti

Othon Coelho Bastos Filho Raul Antônio de Moraes Melo

Ricardo Arraes de Alencar Ximenes Ricardo Carvalho de Lima

Rosa Amália Fireman Dutra Teresa Cartaxo Zulma Medeiros

AUXILIAR ADMINISTRATIVA

Azimar Rocha

iv

Fábio Ferreira de Moura

FATORES PREDITIVOS DE ESTEATOHEPATITE EM PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA

GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA

PRESIDENTE DA BANCA

Prof. Dr. Ricardo Ximenes

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Helma Cotrim ____________________________________

Profa. Dra. Maria do Socorro de M. Cavalcanti ___________________

Prof. Dr. Ricardo Ximenes ___________________________________

DISSERTAÇÃO APRESENTADA EM: 05/02/2007.

RECIFE / 2007

v

DEDICATÓRIA

A minha esposa, Adriana.

Aos meus filhos, Lucas, Letícia e Thiago.

Aos meus pais, Eládia e José.

À vida.

vi

AGRADECIMENTOS

A minha esposa, Adriana, pelas correções técnicas nessa dissertação,

e pela cumplicidade, carinho e dedicação a mim e aos nossos filhos, minha

melhor produção, fonte inesgotável de força e alegria.

Aos meus pais, Eládia e José, por sempre terem me estimulado e

acreditado em mim.

Aos meus orientadores, Dra. Leila Beltrão Pereira e Dr. Francisco

Bandeira, pela paciência e pela assistência nos momentos necessários.

Aos meus colegas de mestrado, Anchieta Brito, Fátima Mendizabal e

Salete Lundgren, pela solidariedade e camaradagem.

Aos meus eternos preceptores Chicão, Creso Falcão, Cláudio Novaes,

Fernando Maciel, Henrique Cruz (Clínica Médica), Francisco Bandeira, Geisa

Macedo, Gustavo Caldas e Luiz Griz, pelo exemplo de ética e competência

profissional, do gosto pelo estudo e pela pesquisa, pela solicitude e pelo carinho

com o qual sempre me trataram. Ao Dr. Paulo Meirelles, por que me fazer

acreditar na possibilidade de ser médico. Aos Drs. Luiz Carlos e Severino

Gondim, pelas oportunidades.

A minha família – toda ela - que, graças à vida é grande, presente,

solidária e marcante. Em especial, ao meu primo Marcus Augusto cuja

contribuição foi imprescindível para essa dissertação e ao meu tio Amauri (in

memorian) pela boa influência.

Aos meus amigos, muitos, verdadeiros, leais, uma verdadeira extensão

da família. Em especial a Ulisses Montarroyos, pela grande contribuição para

essa dissertação.

A todos os funcionários do HUOC, em especial a Azimar Rocha e

Gerson Neto, e do Instituto do fígado, em especial as secretárias Márcia e

Tarciana pela solicitude para comigo.

A essa força, apenas parcialmente compreendida, fonte de toda vida,

que rege o universo e a qual convencionamos chamar de Deus.

A todos que, de alguma forma, tenham contribuído para essa

dissertação.

vii

RESUMO

A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) vem se tornando uma das

hepatopatias crônicas mais prevalentes no mundo. Existem formas leves

(esteatose simples) e formas avançadas (esteatohepatite), com risco de evolução

para cirrose e insuficiência hepática. A diferenciação inequívoca entre as formas

só pode ser feita através da avaliação histológica do tecido hepático, o quê

implicaria em submeter todos os pacientes à biópsia hepática. O objetivo desse

estudo foi identificar fatores preditivos de Esteatohepatite Não Alcoólica (EHNA)

entre os pacientes com DHGNA, atendidos no período de 1998 a 2006, no

ambulatório de Hepatologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC),

Recife, Pernambuco, Brasil. Os prontuários de todos os pacientes atendidos no

ambulatório de hepatologia do HUOC entre 1998 e 2006 foram avaliados. Os

pacientes foram divididos em dois grupos, EHNA e esteatose simples, de acordo

com o resultado da biópsia hepática, baseados na classificação de Brunt.

Múltiplas variáveis (biológicas, clínicas e laboratoriais) foram submetidas a análise

uni e multivariada, no intuito de detectar qualquer diferença significativa entre os

grupos. Cento e treze pacientes foram selecionados para o estudo. Cinqüenta e

oito tinham EHNA (51%) e cinqüenta e cinco tinham esteatose simples (49%).

Após análise multivariada, a Glicemia em jejum maior que 100mg/dl (OR = 2.74,

IC = 1.1 – 7.4, p = 0,046), o índice de HOMA-IR maior que 3,0 (OR = 5.30, IC =

1.16 – 24.1, p = 0.038), os níveis séricos de AST uma e meia vezes acima dos

normais (OR = 6.0, IC = 1.71 – 20.1, p = 0.005) e os níveis séricos de ferritina

elevados – maiores que 180mg/dl no gênero feminino e 300mg/dl no gênero

masculino - (OR = 5.03, IC = 1.67 – 15.1, p = 0.0041), foram fatores associados

com EHNA. As variáveis glicemia em jejum, índice HOMA-IR, níveis séricos de

AST e níveis séricos ferritina foram fatores preditores de EHNA, forma grave de

DHGNA, nos pacientes atendidos no ambulatório de Gastro-Hepatologia do

HUOC, em Recife, Pernambuco, Brasil, no período de 1998 a 2006.

viii

ABSTRACT

Non alcoholic fatty liver desease (NAFLD) is emerging as one of the most

common chronic liver deseases. The spectrum of NAFLD ranges from simple

steatosis, wich appears to be “benign”, to steatohepatitis, with inflamation, fibrosis,

and ultimately cirrhosis with end stage liver desease. Liver biopsy with

histopathologic evaluation is the only method able to distinguish between these

forms. To identify predictive factors for non alcoholic steatohepatitis (NASH), the

more advanced for of NAFLD, in patients treated at the hepatology department of

Oswaldo Cruz Hospital, in Recife, Pernambuco, Brazil, between 1998 to 2006.

Methods: The medical records of all patients diagnosed with NAFLD beetwen

1998 and 2006 at Oswaldo Cruz hospital were evaluated. The patients were

separeted in two groups, simple esteatosis and steatohepatitis, acording to the

result of a liver biopsy, based upon Brunt´s score. Multiple variables were

analyzed with univariate and multivariate analysis to determine any significant

difference between groups. One hundred thirteen patients were selected to the

study. Fifty eight patients had NASH (51%) and fifty five (49%) had simple

Steatosis. After multivariate analyses, Fasting glycemia greater than 100mg/dl

(OR = 2.74, IC = 1,1 – 7.42, p = 0.046), HOMA – IR greater than 3,0 (OR = 5.30,

IC = 1,16 – 24.1, p = 0.038), AST greater than one and half the normal range ( OR

= 6.00, IC = 1.71 – 20.9, p = 0.005) and elevated serum ferritin – a serum ferritin

greater than 180mg/dl in females and greater than 300mg in males - ( OR = 5.03,

IC = 1.67 – 15.1, p = 0.004) were associated with NASH. Fasting glycemia, HOMA

– IR, serum AST and serum ferritin levels were predictive factors for NASH in

patients treated at the hepatology department of Oswaldo Cruz hospital, in Recife,

Pernambuco, Brazil, between 1998 to 2006,

ix

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... xiii 1.1 Pergunta Condutora ........................................................................................ xiii 1.2 Justificativa para Escolha do Tema ................................................................. xiii 1.3 Objetivos ........................................................................................................ xiv

1.3.1 Objetivo Geral......................................................................................... xiv 1.3.2 Objetivos Específicos .............................................................................. xiv

2 Revisão Bibliográfica .............................................................................................. 16 2.1.1 Definição ................................................................................................. 16 2.1.2 Patogenia ................................................................................................. 18 2.1.3 História Natural da Doença ...................................................................... 19 2.1.4 Quadro Clínico......................................................................................... 20 2.1.5 Histopatologia .......................................................................................... 22 2.1.6 Fatores de Preditores de EHNA................................................................ 23 2.1.7 Tratamento............................................................................................... 28

3 PACIENTES E MÉTODOS .................................................................................... 30 3.1 Desenho do Estudo .......................................................................................... 30 3.2 Local do Estudo ............................................................................................... 30 3.3 População do Estudo........................................................................................ 30 3.4 Definição de Caso e Controle........................................................................... 30 3.5 Critérios de Inclusão ........................................................................................ 31 3.6 Critérios de Exclusão ....................................................................................... 31 3.7 Operacionalização da Pesquisa......................................................................... 31 3.8 Tamanho da amostra e análise estatística.......................................................... 32 3.9 Variável Dependente........................................................................................ 32 3.10 Variáveis Independentes .................................................................................. 32 3.11 Ética em Pesquisa ............................................................................................ 33

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 35 5 DISCUSSÃO........................................................................................................... 39 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 44 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 45 8 ANEXOS ................................................................................................................ 53

x

LISTA DE TABELAS

Tabela.1: Relação entre as idade e gênero com EHNA e esteatose simples, em

pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006...................................................... 35

Tabela.2:Relação entre as Obesidade (IMC) e HAS (PAS/PAD) com EHNA e esteatose simples, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006 .................................. 35

Tabela 3: Relação entre as variáveis laboratoriais com EHNA e esteatose simples, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006...................................................... 36

Tabela 4: Modelo 1 - Análise multivariada da associação entre EHNA e as variáveis laboratoriais, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006........................... 37

Tabela 5: Modelo Final - Análise multivariada da associação entre esteatohepatite não alcoólica e as variáveis laboratoriais, com ajuste para idade, em pacientes atendidos no HUOC entre 1998-2006...................................................................................... 38

xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A E = Atividade Enzimática

ALT = Alanina Aminotransferase

Anti HBs = Anticorpo Contra o Vírus da Hepatite B

Anti HCV = Anticorpo Contra o Vírus da Hepatite C

AST = Aspartato Aminotransferase

C A = Circunferência Abdominal

C T = Colesterol Total

HDL C = Colesterol HDL

LDL C = Colesterol LDL

DCV = Doença Cardiovascular

DHGNA = Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica

DM tipo 2 = Diabetes Melitus Tipo 2

EHNA = Esteatohepatite Não Alcoólica

EUA = Estados Unidos da América do Norte

FAL = Fosfatase Alcalina

FAN = Fator Anti Nuclear

FOO = Febre de Origem Obscura

GGT = Gama Glutamil Transferase

GJ = Glicemia em Jejum

GPP = Glicemia Pós Prandial

HAS = Hipertensão Arterial Sistêmica

HBSag = Antígeno de Superfície do Vírus B

HOMA = “Homeostatic Model Assessment”

HUOC = Hospital Universitário Oswaldo Cruz

I C/Q = Índice Cintura / Quadril

IDF = “International Diabetes Federation”

IMC = Índice de Massa Corpórea

IR = Insulino-Resistência

Kg/m2 = Quilogramas por Metro Quadrado

NCEP/ATP III = “National Cholesterol Education Program”

xii

NHANES III = “National Health and Nutrition Examination Survey”

OMS = Organização Mundial de Saúde

PA = Pressão Arterial

PAD = Pressão Arterial Diastólica

PAS = Pressão Arterial Sistólica

PCR = Proteína C Reativa

RNM = Ressonância Nuclear Magnética

SM = Síndrome Metabólica

T P = Tempo de Protrombina

TG = Triglicérideos

TNF Alfa = Fator de Necrose Tumoral Alfa

OR = Odds Ratio

IC = Intervalo de Confiança

xiii

1 INTRODUÇÃO

A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) vem se

tornando a patologia hepática mais comum em todo mundo, com relatos de

prevalências crescentes vindos das Américas, Europa e Ásia (Farrell GC, 2003;

McCullogh AJ, 2004; Clark JM, 2006; Ishi H, 2006).

A doença tem um espectro amplo, variando de esteatose simples,

forma branda, com baixo risco de evolução para cirrose hepática, até

esteatohepatite, forma mais avançada, com inflamação intensa e risco aumentado

de evolução para cirrose e insuficiência hepática, além do aumento no risco de

câncer de fígado (Adams LA & Angulo P, 2006; DiBisceglie AM, 2003; Mofrad P S

et al, 2003; Grant LM & Lisker-Melman, 2004; Liou I & Kowdley KV, 2006).

Os métodos de avaliação disponíveis até o momento não conseguem

diferenciar formas leves de formas graves, o quê só é feito com certeza através

da análise histológica do fígado, com fragmentos obtidos através de biópsia

hepática. Isto implica em expor os pacientes aos riscos de um procedimento

invasivo, com complicações significativas, como dor intensa, hemorragias,

hematomas e, mais raramente, óbito.

Na tentativa de fazer uma estratificação para o risco de formas

avançadas de DHGNA e, por conseqüência, uma seleção mais acurada do grupo

de pacientes que apresentariam um maior benefício de serem submetidos a uma

biópsia hepática, vários autores tem pesquisado a utilidade de algumas variáveis

biológicas, clínicas e laboratoriais como marcadores para a identificação dos

pacientes com maior risco de Esteatohepatite Não Alcoólica (EHNA).

1.1 Pergunta Condutora

Quais seriam os fatores preditivos da presença de EHNA nos pacientes

com DHGNA avaliados no ambulatório de Gastro-hepatologia do HUOC, no

período de 1998 a 2006?

1.2 Justificativa para Escolha do Tema

Em todo o mundo – Américas, Europa e Ásia – e em todas as faixas

etárias, incluindo crianças e adolescentes, a prevalência de DGNAF está

xiv

aumentando de modo exponencial. As projeções mais conservadoras sugerem

que, em breve, provavelmente será a patologia hepática mais comum do mundo,

superando a hepatite por vírus C e passando a ser um problema para a saúde

pública mundial.

Antes encarada como um processo “benigno”, um simples “marcador

de excesso de peso”, a DGNAF hoje é encarada como uma doença

potencialmente grave, relacionada com cirrose e insuficiência hepática, com

aumento da morbi-mortalidade na população geral. Os métodos não invasivos

disponíveis até o presente momento não conseguem distinguir formas leves de

formas avançadas da doença, fazendo com que, potencialmente, todos os

pacientes sejam candidatos à biópsia hepática, o quê aumenta riscos e custos,

tanto financeiros quanto humanos. Dentro desse contexto, a busca por fatores

associados a formas avançadas, que tornem possível traçar um “perfil de risco

para esteatohepatite”, e por conseqüência, fazer uma seleção mais adequada

daqueles pacientes que terão maior benefício de serem submetidos ao

procedimento, passa a ter suma importância.

No Brasil, mais especificamente no estado de Pernambuco, os dados

são escassos, o quê justifica a realização desse estudo sobre identificação de

fatores preditivos de EHNA na DHGNA, em pacientes atendidos no serviço de

Gastro-hepatologia do HUOC, em Recife, Pernambuco, Brasil, no período de

1998 a 2006, com o intuito de contribuir para a identificação dos “pacientes de

risco para EHNA”, que terão maior benefício ao serem submetidos à biópsia

hepática.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

- Identificar fatores preditivos de ENHA, em pacientes com DHGNA,

acompanhados no ambulatório de Gastro-hepatologia do HUOC, no período de

1998 a 2006.

1.3.2 Objetivos Específicos

- Analisar a associação entre fatores biológicos, como idade e sexo, e o

risco de EHNA, em pacientes com DHGNA, acompanhados no ambulatório de

Gastro-hepatologia do HUOC, no período de 1998 a 2006.

xv

- Analisar a associação entre fatores antropométricos, como IMC, e o

risco de EHNA em pacientes com DHGNA acompanhados no ambulatório de

Gastro-hepatologia do HUOC, no período de 1998 a 2006.

- Analisar a associação entre variáveis clínicas, como PAS e PAD e o

risco de EHNA em pacientes com DHGNA acompanhados no ambulatório de

Gastro-hepatologia do HUOC, no período de 1998 a 2006.

- Analisar a associação entre variáveis laboratoriais (Níveis séricos de

ALT, AST, Ferritina, Triglicérides, C T, HDL C, LDL C, Glicemia em jejum, FAL e

GGT) e o risco de EHNA em pacientes com DHGNA acompanhados no

ambulatório de Gastro-hepatologia do HUOC, no período de 1998 a 2006.

- Analisar associação entre o índice HOMA-IR e o risco de EHNA em

pacientes com DHGNA acompanhados no ambulatório de Gastro-hepatologia do

HUOC, no período de 1998 a 2006.

16

2 Revisão Bibliográfica

2.1.1 Definição

A terminologia “Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica” (DHGNA) é

utilizada para definir a esteatose hepática - acúmulo de gordura no fígado, em

uma quantidade que corresponda a no mínimo 5% do peso do órgão - que ocorre

na ausência de ingestão significativa de álcool e após a exclusão de outras

causas secundárias de esteatose, como drogas, vírus e doenças auto-imunes

(Angulo, 2006)

Embora o termo “Doença Gordurosa Não Alcoólica do Fígado” seja o

mais usado, vários outros foram utilizados para descrever a condição, tais como

“Hepatite do Fígado Gorduroso”, “Doença de Laennec Não Alcoólica”, “Hepatite

do Diabético”, “Pseudo-Hepatite Alcoólica” (Angulo, 2006) (Grant & Lisker-

Melman, 2004) e, mais recentemente, “Doença Hepática Secundária a Transtorno

Metabólico”, em uma referência à síndrome metabólica, da qual a DGNAF faria

parte, (Loria et al, 2005).

Até o início da década de 1990, a DHGNA era considerada uma

doença pouco freqüente, restrita a mulheres de meia idade, obesas, com

Diabetes Melitus Tipo 2 (DM tipo 2), e sempre com excelente prognóstico. Porém,

desde então a sua incidência vem aumentando progressivamente, em todas as

partes do mundo, quer por um aumento real no número de casos da doença, quer

por uma maior atenção ao seu diagnóstico, ou por uma soma desses dois fatores.

De qualquer modo, o aumento do número total de casos possibilitou a melhor

compreensão da doença, e por conseqüência, a percepção da existência de

formas mais graves como esteatohepatite não alcoólica - EHNA, que tem maior

risco de evolução para cirrose hepática. Tal conhecimento causou uma maior

preocupação com o diagnóstico dessas formas (Angulo, 2006; Mofrad , 2003;

Grant e Lisker-Melman , 2004; Cadweel e Crespo , 2004).

Após o National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III),

o 3º inquérito americano de avaliação de saúde e estado nutricional, realizado

entre 1988-1994, Ruhl e Everhart (1994) estimaram em 2,8% a prevalência de

DGNAF na população dos Estados Unidos da América (EUA). Na análise desses

dados, chamava atenção à associação entre os componentes da chamada

“síndrome metabólica” – Índice de Massa Corpórea (IMC), Índice Cintura / Quadril

17

(I C/Q), triglicérides (TG) e insulinemia em jejum elevados, com colesterol HDL

(HDL C) baixo - e o aumento inexplicado de transaminases, o quê sugeria uma

correlação entre as variáveis. Tal achado fez com que os autores levantassem

várias hipóteses: que a maior parte dos casos de aumento inexplicado de

transaminases seria secundária a DHGNA; que esta condição seria a

manifestação hepática da síndrome metabólica; que, provavelmente, a DHGNA

seria a principal causa do aumento inexplicado de transaminases nos EUA (Clark

et al, 2003).

Uma década após o NHANES III, Mofrad (2003). estimou a presença

de DGNAF em 15% da população adulta dos EUA, um número cinco vezes maior

que o observado previamente. Em 2006, a prevalência foi estimada em

aproximadamente 24% na população adulta americana em geral, com 25 a 55%

desses casos tendo diagnóstico de EHNA e 3 a 12% de cirrose (Clark et al.2006).

Em outras partes do mundo a tendência ao aumento da prevalência de

DHGNA também vem sendo percebida; Farrel (2003) chamou a atenção para o

aumento progressivo no número de casos de DGNAF nas ilhas do Pacífico Sul

nos últimos 20 anos, com prevalências variando entre 5 a 40%, o quê implica em

um aumento de seis a oito vezes no número de casos em alguns países, como na

Malásia. No Japão, a prevalência de DGNAF foi estimada em 16% da população,

com 10% desses casos correspondendo a EHNA (Ishi et al, 2006). O autor

responsabiliza “o estilo de vida ocidental... Com ingestão de alimentos de alta

densidade calórica... inatividade quase completa... e o aumento do número de

recursos para evitar esforço físico...” por esse aumento em progressão

geométrica.

A prevalência de DGNAF foi estimada em 18.7% na coréia do sul (Park

et al, 2004) e 11.5% na China (Chen et al, 2006). Em Israel, Zelber-Sagi (2006)

estimou em 30% a prevalência de DGNAF na população geral.

No Brasil, em estudo realizado no Hospital Sírio-Libanês em São

Paulo, a prevalência de DGNAF foi de aproximadamente 18.7% em uma

população de 9.340 pacientes ambulatoriais (Parise et al, 2003).

Na sub-população com obesidade grau III - pacientes com IMC maior

que 40 kg/m2 – a prevalência é extremamente elevada, chegando a 96%. Esse

subgrupo de pacientes tem sido alvo da análise de vários autores e fonte de

muitos dados. Machado et al (2006), em Lisboa, encontraram uma prevalência de

18

92% de DGNAF, 37% de EHNA e 1,7% de cirrose hepática; Lima ML et al (2005),

em Belo Horizonte - Brasil, analisando 101 pacientes submetidos à cirurgia

bariátrica, encontraram 99% de DGNAF, com 57% de EHNA.

O aumento na prevalência de DGNAF também é uma realidade entre

as crianças. Sathya et al (2002) chamou atenção para a prevalência crescente de

DGNAF, inclusive com casos de EHNA com fibrose, na população pediátrica de

Montreal, Canadá.

2.1.2 Patogenia

A patogênese da DHGNA permanece não totalmente esclarecida. O

modelo fisiopatológico mais aceito é o chamado “teoria dos dois golpes” (Day,

2002; Metha et al, 2002) onde ocorreriam duas etapas distintas e seqüenciais na

progressão de esteatose para esteatohepatite e fibrose.

No “primeiro golpe”, ocorreria a esteatose hepática como conseqüência

do acúmulo de triglicérides no fígado, decorrente do aumento no aporte de ácidos

graxos livres para o fígado. Esse aumento na oferta de ácidos graxos livres seria

uma das conseqüências da resistência à insulina, com hiperinsulinemia

compensatória, lipólise do tecido gorduroso periférico e aumento na concentração

de ácidos graxos livres circulantes (Angulo, 2006; Namikawa et al, 2006)

O “segundo golpe”, a inflamação progressiva, não tem o seu autor, ou

autores, totalmente definidos, embora existam vários candidatos. Possivelmente,

estresse oxidativo, com peroxidacão dos lipídeos e geração de radicais

superóxido, somado a ação das citocinas pró-inflamatórias, como o fator de

necrose tumoral e interleucina 6, causariam a esteatohepatite, e a ação pró-

fibrótica de alguns fatores de crescimento do colágeno, estimulados pela

hiperinsulinemia e pela hiperglicemia, seriam os responsáveis pela fibrose

(Angulo, 2006; Namikawa et al, 2006)

As alterações na oxidação dos lipídeos, que acontecem nas

mitocôndrias, têm recebido atenção especial. Chitturi e Farell (2001) encontraram,

estudando modelos animais, que o aumento na peroxidação dos lipídeos é a

diferença crucial entre os ratos normais, que desenvolvem EHNA, e ratos ob/ob,

geneticamente modificados (sem o gene para obesidade), que quando expostos a

dieta hipercalóricas e hiperlipídicas só desenvolvem esteatose hepática.

19

Begriche et al (2006) afirmaram que a beta-oxidação mitocôndrial

exerceria um papel primordial na fisiopatologia da EHNA e que uma disfunção

nessa via levaria a geração de radicais reativos de oxigênio, com peroxidação

lipídica e formação de derivados aldeídicos altamente reativos, lesivos aos

hepatócitos. Estes radicais reativos de oxigênio também estimulariam a produção

de citocinas que aumentariam a inflamação e a fibrose, alimentando um ciclo

vicioso.

2.1.3 História Natural da Doença

Assim como a patogenia, a história natural da doença na DHGNA

permanece não totalmente esclarecida, havendo vários questionamentos sobre

quais pacientes desenvolverão formas mais avançadas e quais os motivos que os

levarão a isso.

Sabe-se que aproximadamente 5% dos pacientes com DHGNA

desenvolverão cirrose em um período de 10 anos, e que as características

histológicas são, possivelmente, o mais importantes preditores desse risco (Liou

et al, 2006).

Pacientes com esteatose simples têm baixa probabilidade de evoluir

para cirrose enquanto pacientes com EHNA tem alto risco de evolução para

cirrose e outras complicações, como câncer de fígado.

Em análise por subgrupo, a chance de um paciente com esteatose

simples evoluir para cirrose foi de 1-4% em 10 anos, enquanto nos pacientes com

EHNA foi de 5-8% em cinco anos (Adams et al, 2005). O risco de desenvolver

cirrose em pacientes com EHNA foi estimado em 20% em 10 anos por

Mccullough (2006) e de 25% em 10 anos por Shimada e Takage (2006).

Em 1990, Powell et al descobriram que em paralelo ao aumento da

extensão da fibrose hepática ocorria uma diminuição do grau de esteatose, ou

seja, quanto mais fibrose menos esteatose. Baseados nesse achado, os autores

lançaram a hipótese que haveria uma associação entre DGNAF e cirrose sem

causa óbvia (cirrose criptogênica). Outros pesquisadores (Al-Osaime et al, 2003,

Clark, 2003; Cadweel e Crespo, 2004) comparando dados de achados

histológicos com características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais em

diferentes populações, chegaram a conclusões semelhantes, fortalecendo essa

possibilidade.

20

A presença de DGNAF também parece ser um marcador de

mortalidade geral. Em uma coorte de 420 pacientes nos EUA, os pacientes com

DGNAF apresentaram uma taxa de mortalidade maior que a população geral,

decorrente principalmente de Doença Cardiovascular (DCV) e complicações de

cirrose hepática (Adams et al, 2005). O risco de câncer de fígado também foi

maior nessa população.

2.1.4 Quadro Clínico

A maioria dos pacientes adultos é assintomática. A hipótese

diagnóstica de DHGNA é levantada no diagnóstico diferencial de pacientes com

sobrepeso e hepatomegalia, ou com sobrepeso e discretas elevações das

enzimas hepáticas Aspartato Aminotransferase (AST), Alanina Aminotransferase

(ALT), Gama Glutamil Transferase (Gama GT)) sem causa óbvia, ou ainda em

pacientes com sobrepeso e ultra-sonografia abdominal que evidencie esteatose,

na ausência de consumo de álcool em quantidades importantes (menores que 20

gramas/dia em mulheres e menores que 30 gramas/dia em homens), doenças

virais, drogas (Tamoxifen, Amiodarona, Estrógenos e Corticóides) e doenças

auto-imunes (Reid, 2001; Cortez-Pinto e Camilo, 2004). Os sintomas, quando

presentes, são inespecíficos, como astenia, plenitude epigástrica e desconforto no

hipocôndrio direito, presentes em 30 a 50% dos casos. O exame físico também

contribui pouco para o diagnóstico, não existindo achados sugestivos ou

patognomônicos da condição. Em 50-60% dos casos há hepatomegalia não

dolorosa. Nos pacientes com doença avançada, teremos os sinais e sintomas

pertinentes ao quadro de cirrose e insuficiência hepática. (DiBisceglie , 2003:

Hashimoto, 2006)

Em crianças chinesas com DHGNA, foi encontrada uma freqüência

maior que a esperada de Acantose Nigricans (FU et al, 2006), um achado que nos

remete a resistência a insulina, da qual a acantose seria a manifestação cutânea.

A apresentação laboratorial clássica é de um aumento discreto das

transaminases, com valores de ALT entre duas a três vezes maiores que os

normais para o método, valores de AST uma a duas vezes maiores que o normal

e relação ALT/AST menor que um, associado a um aumento discreto de Gama

Glutamil Transferase (GGT) e Fosfatase Alcalina (FA). Os níveis séricos de

bilirrubina, albumina e o tempo de protrombina, marcadores clássicos de falência

21

hepática estão normais, só ocorrendo alteração em fase avançada da doença.

(DiBisceglie , 2003; Angulo, 2006)

Vale a pena ressaltar que a ausência de alterações laboratoriais não

exclui o diagnóstico de DGNAF. Mofrad (2003) analisando uma série de 51 casos

encontrou 18 com níveis séricos de transaminases normais, incluindo 12 com

fibrose avançada.

2.1.4.1 Diagnóstico por Imagem

A ultra-sonografia de abdômen é o método de imagem mais usado em

todo o mundo para o diagnóstico de esteatose hepática, devido ao seu custo

relativamente baixo, a ser não invasivo e disponível na maioria dos serviços. Os

achados sugestivos de esteatose hepática são de aumento da ecogenicidade do

parênquima hepático e o borramento das margens vasculares. A sensibilidade do

método é de 89% e a especificidade 93%. O método apresenta como limitações o

fato de ser dependente da capacidade de resolução do aparelho, da destreza do

operador e do grau de obesidade do paciente, pois, em grandes obesos, a

visualização dos órgãos intra-abdominais é dificultada. No entanto, a principal

deficiência da avaliação da DGNAF por ultra-sonografia, inerente ao método,

consiste na incapacidade de identificar os pacientes com maior grau de

inflamação (EHNA), ou seja, na incapacidade do método em diferenciar os

pacientes com esteatose simples dos pacientes com esteatohepatite e fibrose.

A tomografia computadorizada de abdômen tem sensibilidade e

especificidade um pouco maiores que a ultra-sonografia, além de não ser

influenciada pela destreza do operador e pelo grau de obesidade do paciente,

porém, é mais cara que a ultra-sonografia, menos disponível e possui a mesma

limitação crucial: não diferencia esteatose simples de esteatohepatite.

A ressonância nuclear magnética (RNM) de abdômen é útil nos casos

de esteatose hepática focal, pois consegue distinguir entre esteatose hepática

localizada e “massa” hepática, o quê não pode ser feito através de ultra-

sonografia ou da tomografia computadorizada de abdômen (Angulo, 2002;

DiBisglecie, 2003; Clark, 2003).

2.1.4.2 Biópsia Hepática

É considerado o método “padrão ouro” para o diagnóstico de EHNA e o

único capaz de fazer a distinção inequívoca entre esteatose simples e

22

esteatohepatite (Talwalkar J A, 2002; Cortez Pinto H, 2004), firmando o

diagnóstico de esteatohepatite e determinando o prognóstico.

Para alguns autores, todos os pacientes com DGNAF seriam

candidatos à biópsia (Talwalkar, 2002). Para outros, o risco inerente ao

procedimento é maior que o benefício, haja vista o diagnóstico histológico não

alteraria substancialmente o tratamento (Laurin , 2002).

Para De Ledinghen et al, (2004) a realização de biópsia hepática deve

ser considerada apenas em pacientes com níveis séricos de AST

persistentemente elevados ou com níveis séricos de ALT maiores que o dobro do

normal. Em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, Shalub et al (2004)

sugerem a realização de biópsia hepática como rotina.

A importância da coleta de múltiplos fragmentos durante a biópsia

hepática foi destacada por Ratziu et al, (2005); comparando achados histológicos

presentes em fragmentos obtidos do mesmo fígado. Os autores encontraram uma

discordância de até 41% entre as amostras, sugerindo que as lesões

características de EHNA não estão distribuídas de modo homogêneo pelo

parênquima hepático, o quê torna imperiosa a coleta de múltiplas amostras.

2.1.5 Histopatologia

Os achados histológicos da DGNAF são praticamente indistinguíveis

daqueles causada pelo álcool, sendo sua principal característica histológica a

presença de esteatose hepática do tipo macro vesicular, onde o citoplasma da é

substituído por uma grande bolha de gordura que desloca o núcleo para a

periferia da célula, embora possa existir algum grau de esteatose micro vesicular,

onde o citoplasma é substituído por pequenas bolhas que não deslocam o núcleo.

Outros achados incluem: infiltrado inflamatório misto, causado por

polimorfonucleares e linfócitos, a “Balonização” dos hepatócitos, uma alteração na

morfologia dos hepatócitos caracterizada pela presença de células edemaciadas,

ou células “em forma de balão”, como conseqüência do acúmulo progressivo de

líquidos no intracelular, e a presença de corpúsculos de Mallory (Mofrad, 2003).

Quando a infiltração gordurosa é leve, ela tipicamente se concentra na zona

acinar 3, tornando-se mais difusa a medida que aumenta o grau de esteatose

(Ângulo, 2002)

23

A fibrose hepática, quando presente, acontece com um padrão

característico: o depósito de colágeno se inicia no espaço pericelular, ao redor da

veia central do hepatócito, e na região perisinusoidal da zona três, acometendo,

posteriormente, outras áreas do fígado. Esse acometimento ocorre de maneira

diferente das outras doenças hepáticas, onde a fibrose geralmente se inicia com

uma distribuição portal.

A EHNA é a combinação de esteatose e infiltrado inflamatório,

associados à balonização progressiva e, posteriormente, graus variáveis de

fibrose. Não existe um consenso universal sobre como classificar o estágio da

DHGNA (ângulo, 2006). O sistema mais utilizado para avaliar os pacientes é o

proposto por Brunt et al, 2004, que estratifica os pacientes em função do grau de

esteatose (graus 1, quando até 33% dos hepatócitos estão acometidos, grau 2,

quando estão acometidos entre 33 e 66% dos hepatócitos e grau 3, quando estão

acometidos mais de 66% dos hepatócitos) ou de esteatohepatite (graus 1, 2 e 3,

levando-se em consideração o número de hepatócitos com balonização, o grau

de inflamação lobular e portal), e do estágio (escore) da fibrose, classificado em

estágio 1, onde a fibrose é restrita a região perivenular ou perisinusoidal da zona

3, estágio 2, onde a fibrose acomete a região periportal, estágio 3, com pontes de

fibrose e estágio 4, onde há cirrose estabelecida.

Vale a pena ressaltar que à medida que aumenta o grau de fibrose

diminui o grau de esteatose, como demonstrado por Powell, 1990.

2.1.6 Fatores de Preditores de EHNA

A percepção de que a DHGNA poderia se manifestar sob formas

avançadas, como EHNA, com alto risco de cirrose, associado ao fato de não

existirem métodos complementares capazes de diferenciar esteatose simples de

EHNA, desencadeou a busca por marcadores que possibilitassem a identificação

dos pacientes de maior risco, com maior benefício da indicação de biópsia

hepática.

Em 1999, Angulo et al publicaram o artigo “Preditores Independentes

do Risco de Fibrose na Esteatohepatite Não Alcoólica”, onde avaliaram 124

pacientes, todos com biópsia hepática e diagnóstico histopatológico, e relataram

que a presença de idade maior que 50 anos, grau de obesidade (avaliada pelo

IMC) e DM tipo 2 foram fatores preditores de esteatohepatite e fibrose.

24

Em 2000, Ratziu et al identificaram como fatores preditivos de fibrose

hepática em pacientes com sobrepeso (IMC maior que 25kg/m2), a idade acima

de 45 anos, o IMC maior que 30kg/m2, níveis séricos de triglicérides superiores a

150mg/dl e níveis séricos de ALT maiores que duas vezes o limite máximo do

normal para o método.

Dixon et al (2001), em um estudo prospectivo que avaliou 105

pacientes com obesidade grau III - índice de massa corpórea maior que 40 kg/m2

- que foram submetidos à cirurgia bariátrica por via laparoscópica, com biópsia

hepática trans-operatória em todos os pacientes, verificaram que níveis séricos de

AST superiores aos limites máximos normais para o método, presença de

Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e resistência à insulina aumentada, definida

no estudo como um índice de QUICKI maior que 5,0, seriam fatores preditores de

EHNA e fibrose em pacientes com obesidade graus II e III.

Em 2002, Fierbientanu-Braticevici et al, na Romênia, estudaram 80

pacientes e encontraram que a idade maior que 45 anos, os triglicerídeos séricos

acima de 180mg/dl, o IMC maior que 30Kg/m2, além de DM tipo 2 foram fatores

de risco para fibrose e EHNA.

Macculogh et al (2002) voltaram a enfatizar a importância do grau de

obesidade, da presença de DM tipo 2 e da idade maior que 50 anos, como fatores

preditores do risco para EHNA; os autores sugeriram que a inversão do quociente

de Ritz (relação entre os níveis séricos de ALT e AST) – AST maior que ALT –

também seria um fator de risco.

Kichian et al (2003) analisaram 49 pacientes em Edmont, no Canadá,

no período de 1996 a 2000, e encontraram idade maior que 40 anos, em

pacientes não diabéticos, e a presença de DM tipo 2, independentemente da

idade, como fatores preditores do risco de esteatohepatite.

Os autores asiáticos também mostraram seus achados. Tsang et al

(2006), em Hong Kong, avaliaram, de modo prospectivo, 60 pacientes chineses

adultos, todos com diagnóstico histológico de esteatose simples ou EHNA, e

verificaram que a presença de DM tipo 2 e os níveis séricos de AST superiores a

duas vezes os valores normais estavam relacionados com risco de EHNA e

fibrose.

Na Coréia do Sul, Parks et al (2004) estudando 60 pacientes adultos,

encontraram que o único fator diretamente relacionado ao risco de

25

esteatohepatite era o IMC, embora idade avançada (acima de 50 anos) e

plaquetopenia (menor que 150.000 plaquetas) poderiam estar relacionados à

fibrose hepática.

No Brasil, Rocha et al (2005) encontraram obesidade (IMC maior que

30kg/m2), circunferência abdominal e resistência à insulina, definida como HOMA-

IR maior que 3,0, como fatores associados com a presença de EHNA.

A distribuição de gordura corporal parece ser relevante nessa relação

entre adiposidade e risco de EHNA. A presença de obesidade central,

caracterizada pelo depósito preferencial de gordura na região abdominal e

avaliada clinicamente através da aferição da circunferência abdominal, parece

estar mais relacionada com o risco de desenvolver EHNA e cirrose do que a

obesidade em si, avaliada pelo IMC.

Stranges et al. (2004) encontraram em uma população adulta de 2.704

pacientes residentes no estado de Nova York, uma associação mais consistente

entre a quantidade de gordura abdominal, avaliada pela circunferência abdominal,

e elevação dos níveis séricos de transaminases, do que com o grau de

obesidade, avaliado pelo IMC, em ambos os sexos.

Ida e Yoshimura (2006), no Japão, encontraram, em crianças,

resultados semelhantes, ou seja, uma relação mais forte entre a presença de

obesidade visceral e os níveis séricos elevados de ALT.

Boza et al, (2005), no Chile, em um estudo prospectivo com 127

pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, encontraram DHGNA em 80 pacientes

(63%), com 47 pacientes (37%) sem DHGNA, 47 pacientes (37%) com esteatose

simples e 33 pacientes (26%) de EHNA. Os autores sugeriram que,

provavelmente, o IMC estaria relacionado com DGNAF, não necessariamente

EHNA, e que níveis séricos elevados de AST (AST acima do valor normal para o

método) e aumento da resistência à insulina, definido no estudo como HOMA-IR

maior que 5,8, seriam os fatores preditores da presença de EHNA.

Machado et al (2006), em uma meta-análise de 12 estudos sobre a

prevalência de DGNAF e EHNA em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica,

com um total de 1620 pacientes, encontraram alta prevalência de DHGNA

(aproximadamente, 91%), porém sem associação com EHNA. No estudo, DM tipo

2 e resistência à insulina foram às condições mais associadas com EHNA, e

Gênero masculino esteve associado com risco de fibrose hepática.

26

Para alguns atores, a presença de “síndrome metabólica”, um conjunto

de sinais e sintomas associados com obesidade visceral, aumento na resistência

à insulina, intolerância a glicose, deslipidemia e HAS estariam associados com

um alto risco para EHNA e fibrose.

Marchesini et al (2003) encontraram um risco 3,2 vezes maior de

fibrose nos pacientes com DGNAF e síndrome metabólica, diagnosticada pela

presença de 3 das 5 características citadas no parágrafo anterior. Moon et al

(2004) encontraram uma correlação estreita entre os componentes da síndrome

metabólica e a presença de DHGNA, porém não verificaram tal correlação em

relação ao risco de EHNA.

O grupo étnico e o gênero poderiam ser fatores de risco para DHGNA

e, provavelmente, EHNA. A presença de um aumento inexplicado nos níveis

séricos de transaminases foi seis vezes mais freqüente em adolescentes de

ascendência hispânica e do sexo masculino do que em outros grupos da mesma

faixa etária (Schwimmer et al, 2005). Em adultos, também foram encontradas

diferenças em relação ao risco de EHNA entre brancos hispânicos e brancos não

hispânicos.

Alazmi et al (2006) estudando 80 pacientes adultos, 42 hispânicos e 38

caucasóides, encontraram que a relação AST/ALT era fator associado com EHNA

entre os hispânicos, não sendo entre os caucasóides; idade maior que 40 anos e

a presença de DM tipo 2 eram preditores do risco de EHNA em ambos os grupos,

embora, a presença de DM tipo 2 era melhor preditor entre os caucasóides.

A presença de intolerância a glicose estaria associada com EHNA e

fibrose hepática. Buganese et al (2004) encontraram que níveis séricos elevados

de ferritina e intolerância a glicose, avaliada por um teste de tolerância com 75gr

de dextrosol, eram preditores independentes do risco de fibrose na DHGNA.

Haukeland et al (2005) estudaram 83 pacientes com síndrome

metabólica e DGNAF, submetidos à análise histopatológica do tecido hepático, e

encontraram “glicemia alterada” – intolerância a glicose ou DM tipo 2, como único

fator de risco independente para EHNA.

O grau de resistência à insulina, avaliada através do HOMA-IR, um

modelo matemático desenvolvido para estimar a resistência à insulina, tem se

mostrado um importante fator associado ao risco de EHNA, mesmo em pacientes

com peso normal (Chitturi et al, 2002). Nos pacientes com sobrepeso e

27

obesidade, vários autores (Dixon, 2001, Park et al, 2004, Boza et al, 2005, HU,

2006) demonstraram essa intima associação.

No Brasil, o grupo de Gastro-hepatologia da Universidade Federal da

Bahia (Guidorizzi et al, 2005) encontrou o índice HOMA-IR superior a 3,0 como

fator de risco para EHNA.

Marcadores de fase aguda, relacionados com inflamação, como níveis

séricos de Proteína C Reativa (PCR), vêm sendo avaliados como fatores

preditores de EHNA, com resultados conflitantes. Koruk et al (2004), na Turquia,

Parks et al (2004), na Coréia, e Uchirara et al (2006), no Japão, estabeleceram

associação entre níveis elevados de PCR e risco de EHNA, resultados que não

foram reproduzidos por outros autores.

Níveis séricos aumentados de ferritina parecem estar associados tanto

com a presença de DGNAF quanto com o risco aumentado de esteatohepatite.

Em estudo realizado em Taiwan (Hsiao et al, 2004), com 210 pacientes,

observou-se que o aumento na circunferência abdominal, a resistência à insulina

elevada e os níveis séricos elevados de ferritina foram os principais preditores de

DHGNA, em pacientes assintomáticos, com sobrepeso, transaminases elevadas e

diagnóstico utrassonográfico de DGNAF, após exclusão de outras causas de

esteatose.

No estudo Fargion et al, 2001, que avaliou uma população de 40

pacientes adultos, todos com análise histológica do fígado, os níveis séricos de

ferritina foram os fatores mais fortemente relacionados com a presença de EHNA.

Os níveis séricos de algumas proteínas produzidas pelos adipócitos

(células do tecido gorduroso), as chamadas “adipocinas”, vem sendo avaliadas

como marcadores de risco para EHNA, principalmente a Adiponectina e Leptina.

Foi demonstrada uma associação entre baixos níveis séricos de Adiponectina e o

maior risco de EHNA (Pagano et al, 2005, Lee et al, 2006, Wong et al, 2006). Os

níveis séricos elevados de Leptina foram fatores preditivos de fibrose hepática

(Kim et al, 2005).

Os níveis séricos de ácido hialurônico parecem estar associados ao

risco de fibrose hepática em pacientes com DGNAF, sendo um marcador bastante

promissor. Vários autores (Susuki et al, 2005, Santos, 2005), têm demonstrado

que níveis elevados de ácido hialurônico – acima de 46mcg/L – têm sensibilidade

28

e especificidade de aproximadamente 80% e 85%, respectivamente, para o

diagnóstico de fibrose em pacientes com DHGNA.

2.1.7 Tratamento

O tratamento da DGNAF é inespecífico e multifatorial, ou seja, não

existe nenhuma medida específica ou isolada capaz de tratar adequadamente a

condição (Angulo, 2006). Para vários autores, o grau de inflamação irá determinar

a “agressividade” do tratamento.

Mudanças no estilo de vida, com diminuição na ingestão de alimentos

com alta densidade calórica, ricos em gordura saturada, associados à atividade

física regular (30 minutos de exercício aeróbico por dia, cinco vezes por semana)

causaram diminuição da esteatose avaliada pela ultra-sonografia e diminuição

dos níveis séricos de transaminases (Cinar et al, 2006, Athyros , 2006, Baba et al,

2006).

O uso diário de 1gr de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa

por um ano diminuiu o grau de esteatose (Capanni et al, 2006).

Huang et al. (2005) avaliaram 15 pacientes com EHNA comprovada por

biópsia e observaram melhora histológica (diminuição de inflamação) após um

ano de tratamento com dieta e exercícios. Um resultado impressionante, porém

que precisa ser confirmado em estudos com maior número de pacientes.

Várias classes de drogas têm sido utilizadas na tentativa de

proporcionar um melhor tratamento paras DHGNA. Uma limitação para a

recomendação formal do uso da maioria delas é a falta de estudos que

demonstrem melhora histológica, sendo considerado como critério de melhora, na

maioria dos estudos, a redução dos níveis séricos de transaminases e a

diminuição do grau de esteatose avaliada por ultra-sonografia.

Drogas que aumentam a perda de peso, como Orlistat (Zelber-Sagi et

al, 2006) e Sibutramina (Angulo, 2006) provocaram diminuição ultrassonográfica

da esteatose e dos níveis séricos de transaminases, sendo opções possivelmente

úteis para o tratamento.

O uso de drogas que aumentam a sensibilidade à insulina, como a

metformina e as glitazonas (Adams e Ângulo, 2006) são uma grande esperança

para o tratamento da DGHNA.

29

Em estudo prospectivo, com 55 pacientes (Belfort et al, 2006), a

Pioglitazona, na dose de 45mg/dia, por um período de 6 meses, causou melhora

histológica da EHNA, com diminuição da inflamação

As estatinas, como a Atorvastatina (Gómez-Dominguez et al, 2006),

também foram efetivas no tratamento da DHGNA, embora, até o momento, o

número de pacientes estudado seja pequeno.

O Losartam (Yokohama et al, 2006), um bloqueador do receptor de

angiotensina II, teria propriedades anti-fibróticas, e causou melhora histológica da

EHNA em modelos animais. Não existem modelos humanos que possam

comprovar essa tese, porém, é um resultado bastante promissor.

Drogas com possíveis ações antioxidantes, como a vitamina E,

antagonistas das interleucinas e do TNF alfa, como a Pentoxifilina, além de anti-

fibróticos, com o ácido Ursodesoxicólico, têm sido testadas no tratamento da

DHGNA, porém, com resultados conflitantes, sendo seu uso um tópico polêmico

(Adams e Angulo, 2006).

A cirurgia bariátrica tem sido utilizada com sucesso no tratamento de

pacientes obesos com DHGNA, inclusive com melhora histológica (Srivasta e

Younossi, 2005, de Almeida et al, 2006, Shafer, 2006).

30

3 PACIENTES E MÉTODOS

3.1 Desenho do Estudo

A necessidade de realizar um estudo de baixo custo, em tempo curto,

que pudesse avaliar vários fatores de maneira simultânea, associado ao desejo

de avaliar os dados existentes até então, fez com que o modelo escolhido fosse

um caso-controle, retrospectivo, baseado em revisão dos prontuários dos

pacientes avaliados entre 1998-2006.

3.2 Local do Estudo

Ambulatório de Gastro-hepatologia do HUOC – UPE, em Recife, PE,

Brasil, um serviço de referência para o atendimento de pacientes com doenças do

aparelho digestivo na região nordeste, recebendo pacientes provenientes da

região metropolitana do Recife, do interior do estado de Pernambuco e dos

demais estados da região. Por conseqüência, possui uma clientela heterogênea,

composta por pacientes de diferentes grupos etários, raças, gêneros e classes

sociais, embora, haja um predomínio das classes mais pobres.

3.3 População do Estudo

A população do estudo englobou todos os pacientes maiores de 18

anos avaliados no ambulatório de Gastro-hepatologia do HUOC – UPE, com

diagnóstico de DHGNA confirmado por análise histológica, no período de 1998 a

2006. Ao final do estudo, foram avaliados 113 pacientes, 58 (53%) com EHNA e

55 (47%) com esteatose simples.

3.4 Definição de Caso e Controle

Caso: todo paciente com diagnóstico de DHGNA cuja histologia

hepática evidenciou EHNA – esteatose, infiltrado inflamatório e balonização dos

hepatócitos, não sendo considerada a intensidade da inflamação.

Controle: todo paciente com diagnóstico DHGNA cuja histologia

hepática evidenciou esteatose hepática simples – esteatose com infiltrado

inflamatório.

31

3.5 Critérios de Inclusão

Pacientes adultos, maiores de 18 anos;

Ambos os gêneros;

Com diagnóstico histológico de DHGNA, EHNA ou Esteatose simples.

3.6 Critérios de Exclusão

História de consumo diário de álcool superior a 70gr por semana para

mulheres e superior a 140gr por semana para homens, para afastar a

possibilidade de esteatohepatite alcoólica.

História de uso de drogas, lícitas ou não, além de exposição a

derivados de petróleo, causadoras de esteatose hepática, haja vista o objetivo do

estudo era avaliar os fatores preditivos de EHNA secundária a transtornos

metabólicos.

Presença de anticorpos anti HCV e anti HBc positivos, ou HBS Ag

positivo, para afastar a possibilidade de esteatose secundária a hepatites virais;

Presença de FAN positivo, para afastar a possibilidade de hepatite

auto-imune;

Saturação de Transferrina maior que 50%, para afastar a possibilidade

de Hemocromatose;

História familiar, com diagnóstico possível de doença hepática

hereditária.

3.7 Operacionalização da Pesquisa

A coleta de dados foi realizada através de revisão sistemática dos

prontuários de todos os pacientes atendidos no serviço de Gastro-hepatologia do

HUOC que tinham o diagnóstico clínico DGNAF, sendo aproveitados para o

estudo todos os pacientes adultos que tinham diagnóstico histológico de DHGNA

e não apresentavam nenhum critério de exclusão, mesmo que os prontuários

estivessem incompletos, ou seja, mesmo que aquele prontuário só contivesse

informação sobre uma parte das variáveis analisadas.

As informações obtidas dos prontuários eram inicialmente registradas

em um questionário padrão, desenvolvido para a pesquisa, baseado no ficha

clínica do grupo brasileiro para estudos da DHGNA (Vide Anexos), e

32

posteriormente, inseridas em um banco de dados do software “Statistical Package

for Social Science” – SPSS.

3.8 Tamanho da amostra e análise estatística

O intuito da dissertação foi avaliar toda a população de pacientes com

GHGNA atendida no HUOC no período entre 1998 a 2006. Por esse motivo,

foram analisados todos os dados disponíveis para cada variável de interesse da

dissertação, mesmo que o N obtido não fosse obrigatoriamente o N necessário.

De qualquer modo, para verificar a consistência dos resultados, foi calculada uma

estimativa de tamanho de amostra para cada variável analisada. Considerou-se a

prevalência de DHGNA na população geral em aproximadamente 18%, baseado

no estudo de Parise et al (2003) Para cada variável isolada, o N Foi calculado em

separado, tomando-se como referência os trabalhos de Angulo et al, (1999),

Ratziu et al, (2000) e Dixon et al, (2001). Foi realizada análise uni variada de cada

variável, seguida, de análise por regressão multilogística. O nível de significância

para rejeição da hipótese nula foi fixado em 0,05 (5%). O Power foi de 80%. Os

valores com significância estatística foram apresentados em negrito.

3.9 Variável Dependente

Variável dependente - EHNA.

3.10 Variáveis Independentes

Nesse estudo, foram analisadas variáveis biológicas, clínicas e

laboratoriais, como descritas abaixo:

- VARIÁVEIS BIOLÓGICAS:

o Idade - Superior ou inferior a 40 anos;

o Gênero - Masculino ou feminino;

- VARIÁVEIS CLÍNICAS:

o HAS – Hipertensão Sistólica (PAS superior a 140mmHg) ou

não hipertenso (PAS inferior a 140mmHg);

o HAS – Hipertensão Diastólica (PAD superior a 90mmHg) ou

não hipertenso (PAD inferior a 90mmHg);

33

o Obesidade – Obeso (IMC superior a 30kg/m2) ou não obeso

(IMC inferior a 30 kg/m2).

- VARIÁVEIS LABORATORIAIS:

o Níveis Séricos de Triglicérides (TG) superiores ou inferiores a

150mg/dl;

o Níveis Séricos de Colesterol Total (C T) superiores ou

inferiores a 200mg/dl;

o Níveis séricos de Colesterol HDL (HDL C) superiores ou

inferiores a 45mg/dl;

o Níveis séricos de Colesterol LDL (LDL C) superiores ou

inferiores a 100mg/dl;

o Glicemia em Jejum (GJ) superior ou inferior a 100mg/dl;

o Índice HOMA – IR superior ou inferior a 3,0;

o Níveis séricos de ALT superiores ou inferiores a duas vezes

os valores normais para o método (Valor Normal = até 41 UI);

o Níveis séricos de AST superiores ou inferiores a uma vez e

meia os valores normais para o método (Valor Normal = até

37 UI);

o Inversão do quociente de “RITZ” – Relação entre os níveis

séricos de AST > ALT maior que 1;

o Níveis séricos de FAL normais ou elevados (VN = até 117

UI);

o Níveis séricos de GGT normais ou elevados (VN = até 36 UI);

o Níveis séricos de Ferritina normais ou elevados (VN = até

180ng/dl em mulheres e até 300ng/dl em homens).

3.11 Ética em Pesquisa

Na questão da ética em pesquisa, dois pontos foram relevantes: a

permissão, obtida junto á direção do HUOC, para que os pesquisadores

pudessem ter o acesso às informações contidas nos prontuários dos pacientes

com DHGNA atendidos no ambulatório de Gastro-hepatologia do HUOC no

período de 1998 a 2006, e o compromisso formal, por parte de toda equipe de

pesquisadores, de manter a total confidencialidade sobre esses dados. Vale a

pena ressaltar que o estudo foi retrospectivo, limitando-se a revisão de

34

prontuários, não havendo interferência dos pesquisadores sobre as indicações de

biópsia hepática no serviço. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em

pesquisa do hospital Agamenom Magalhães, Recife/ PE.

35

4 RESULTADOS

Na tabela 1 são apresentados os resultados da relação entre variáveis

biológicas e EHNA. A idade maior que 40 anos foi um fator preditivo da presença

de EHNA, enquanto que o gênero não foi .

Tabela.1: Relação entre as idade e gênero com EHNA e esteatose simples, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006

GRUPOS

ESTEATO HEPATITE

ESTEATOSE HEPÁTICA

OR IC(95%) p-valor VARIÁVEIS

N % N % N %

Faixa etária

Menor de 40 anos 10 17,2 21 38,2 1,0

40 e mais anos 48 82,8 34 61,8 2,96 1.23-7.48 0.0146

Gênero

Masculino 32 55,2 29 52,7 1,0

Feminino 26 44,8 26 47,3 0.90 0.43-1.90 0.7944

Na tabela 2 são apresentados os resultados da relação entre variáveis

clínicas e EHNA. O IMC maior que 30 Kg/m2, a PAS maior que 140mmHg e a PAD

maior que 90mmHg não foram fatores preditivos da presença de EHNA.

Tabela.2:Relação entre as Obesidade (IMC) e HAS (PAS/PAD) com EHNA e esteatose simples, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006

GRUPOS

ESTEATO HEPATITE

ESTEATOSE HEPÁTICA

OR IC(95%) p-valor VARIÁVEIS

N % N %

IMC

Menor que 30Kg/m2 29 52,7 25 52,1 1,0 - -

Maior que 30 Kg/m2 26 47,3 23 47,9 0,97 0,44 – 2,11 0,9480

PAS

Menor de 140mmHg 24 42,9 25 49,0 1,0 - -

Maior que 140mmHg 32 57,1 26 51,0 1,28 0,59 – 2,74 0,5231

PAD

Menor de 90mmHg 27 48,2 28 54,9 1,0 - -

Maior que 90mmHg 29 51,8 23 45,1 1,30 0,61 – 2,79 0,4897

Na tabela 3 são apresentados os resultados da relação entre as

variáveis laboratoriais e EHNA. A Glicemia em jejum maior que 100mg/dl, o índice

HOMA-IR superior a 3,0, os níveis séricos de AST uma vez e meia superiores ao

36

máximo normal para o método e níveis séricos elevados de ferritina foram fatores

preditivos da presença de EHNA. Os níveis séricos de C total superiores a

200mg/dl, HDL C Inferior a 45mg/dl, LDL C superior a 100mg/dl, TG superior a

150mg/dl, FAL e GGT elevadas não foram fatores preditivos da presença de

EHNA.

Tabela 3: Relação entre as variáveis laboratoriais com EHNA e esteatose simples, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006.

GRUPOS

ESTEATO HEPATITE

ESTEATOSE HEPÁTICA

OR IC(95%) p-valor VARIÁVEIS

N % N %

Colesterol total

Até 199mg/dl 24 42,9 19 36,5 1,0 - -

Acima de 200mg/dl 32 57,1 33 63,5 0,76 0,35 – 1,66 0,5030

Colesterol LDL

Até 129mg/dl 19 44,2 16 36,4 1,0 - -

Maior que 130mg/dl 24 55,8 28 63,6 0,72 0,30 – 1,70 0,4575

Colesterol HDL

Até 44mg/dl 23 47,9 25 54,3 1,0 - -

Maior que 45mg/dl 25 52,1 21 45,7 1,29 0,57 – 2,91 0,5332

Triglicerídeos

Menor que 150mg/dl 16 30,8 20 38,5 1,0 - -

Maior que 150mg/dl 36 69,2 32 61,5 0,71 0,31 – 1,60 0,4104

Glicemia

Menor que 100mg/dl 20 35,1 35 67,3 1,0 - -

Maior que 100mg/dl 37 64,9 17 32,7 3,80 1,72 – 8,43 0,0010

HOMA-IR

Menos de 3,0 06 23,1 15 62,5 1,0 - -

Maior que 3,0 20 76,9 09 37,5 5,55 1,62 – 19,0 0,0237

AST

Menor que 1,5x o normal 32 55,2 50 90,9 1,0 - -

Maior que 1,5x o normal 26 44,8 05 9,1 8,12 2,82 – 23,3 0,0001

ALT

Menor que 2x o normal 27 46,6 36 65,5 1,0 - -

Maior que 2x o normal 31 53,4 19 35,0 2,17 1,01 – 4,64 0,0446

AST/ALT

Menor que 1 44 75,9 48 87,3 1,0 - -

Maior que 1 14 24,1 07 12,7 2,18 0,80 – 5,90 0,1245

Gama GT

Normal 13 30,2 14 43,8 1,0 - -

Elevado 30 69,8 18 56,2 1,79 0,69 – 4,66 0,2298

Ferritina

Normal 12 25,0 25 64,1 1,0 - -

Elevado 36 75,0 14 35,9 5,35 2,12 – 13,5 0,0004

Fosfatase alcalina

37

Normal 17 37,8 15 50,0 1,0 - -

Elevada 28 62,5 15 50,0 1,64 0,64 – 4,19 0,2959

Na tabela 4 são apresentados os resultados da associação entre

variáveis laboratoriais e EHNA, após serem submetidos à análise mutivariada. A

Glicemia em jejum maior que 100mg/dl, o índice HOMA-IR superior a 3,0, os

níveis séricos de AST uma vez e meia superiores ao máximo normal para o

método e níveis séricos elevados de ferritina persistiram como fatores preditivod

da presença de EHNA. Níveis séricos de ALT duas vezes superiores ao máximo

normal para o método deixaram de ser fatores preditivos da presença de EHNA.

Tabela 4: Modelo 1 - Análise multivariada da associação entre EHNA e as variáveis laboratoriais, em pacientes avaliados no HUOC entre 1998-2006.

VARIÁVEIS OR (IC) P OR AJUSTADOS NA

MULTIVARIADA (IC) P

Glicemia

Menor que 100mg/dl 1,0 - -

Maior que 100mg/dl 3,80 (1,72 – 8,43) 0,0010 2,74 (1,01 – 7,42) 0,0465

HOMA-IR 0,0930

Menos de 3,0 1,0 - -

Maior que 3,0 5,55 (1,62 – 19,0) 0,0237 5,30 (1,16 – 24,1) 0,0380

Sem informação - - 2,50 (0,63 – 9,90) 0,1898

AST

Menor que 1,5x o normal

1,0 - -

Maior que 1,5x o normal

8,12 (2,82 – 23,3) 0,0001 6,00 (1,71 – 20,9) 0,0050

AST/ALT

Menor que 1 1,0 - -

Maior que 1 2,18 (0,80 – 5,90) 0,1245 3,17 (0,86 – 11,6) 0,0828

Ferritina 0,0119

Normal 1,0 - -

Elevada 5,35 (2,12 – 13,5) 0,0004 5,03 (1,67 – 15,1) 0,0041

Sem informação - - 1,48 (0,41 – 5,27) 0,5379

* Modelo 1: Glicemia, HOMA, AST, ALT, relação AST/ALT e Ferritina. * Saiu do modelo: ALT (p = 0,3641)

Na Tabela 5 são apresentados os resultados da associação entre as

variáveis laboratoriais e o risco de EHNA, após análise multivarida final, com

ajuste para idade. A Glicemia em jejum maior que 100mg/dl, o índice HOMA-IR

superiores a 3,0, os níveis séricos de TGO uma vez e meia superiores ao máximo

normal para o método e níveis séricos elevados de ferritina persistiram como

38

fatores preditivos da presença de EHNA. A idade e os níveis séricos de TGP duas

vezes superiores ao máximo normal deixaram de ser fatores preditivos da

presença de EHNA.

Tabela 5: Modelo Final - Análise multivariada da associação entre esteatohepatite não alcoólica e as variáveis laboratoriais, com ajuste para idade, em pacientes atendidos no HUOC entre 1998-2006.

VARIÁVEIS LABORATORIAIS

OR (IC) P OR AJUSTADOS NA

MULTIVARIADA (IC) P

Glicemia

Menos de 100mg/dl 1,0 - -

Maior que 100mg/dl 3,80 (1,72 – 8,43) 0,0010 2,74 (1,01 – 7,42) 0,0465

HOMA-IR 0,0930

Menos de 3,0 1,0 - -

Maior que 3,0 5,55 (1,62 – 19,0) 0,0237 5,30 (1,16 – 24,1) 0,0380

Sem informação - - 2,50 (0,63 – 9,90) 0,1898

AST

Menor que 1,5x o normal 1,0 - -

Maior que 1,5x o normal 8,12 (2,82 – 23,3) 0,0001 6,00 (1,71 – 20,9) 0,0050

AST/ALT

Menor que 1 1,0 - -

Maior que 1 2,18 (0,80 – 5,90) 0,1245 3,17 (0,86 – 11,6) 0,0828

Ferritina 0,0119

Normal 1,0 - -

Elevada 5,35 (2,12 – 13,5) 0,0004 5,03 (1,67 – 15,1) 0,0041

Sem informação - - 1,48 (0,41 – 5,27) 0,5379

* Modelo Final: Idade, Glicemia, HOMA, AST, ALT, relação AST/ALT e Ferritina. * Saíram do modelo: Idade (p = 0,2898) e ALT (p = 0,3641).

39

5 DISCUSSÃO

Antes da discussão propriamente dita, queremos lembrar que essa

dissertação tinha o intuito de analisar, de modo retrospectivo, toda população de

pacientes atendidos no HUOC com o diagnóstico histológico de DHGNA, no

período de 1998 a 2006. Durante o estudo, percebemos que alguns prontuários

estavam preenchidos de maneira incompleta, não contendo informações sobre

todas as variáveis desejadas. Decidimos que analisaríamos todos os dados

disponíveis nos prontuários para cada variável, mesmo que o N obtido não fosse

o N estimado para demonstrar com segurança diferenças estatísticas entre os

grupos (análise “de conveniência”), o quê diminui a força de alguns dos resultados

obtidos.

A variável biológica idade superior a 40 anos foi um fator preditivo da

presença de EHNA após análise inicial, univariada, com OR = 2,96, IC = 1,23 e P

= 0.0146. Porém, após análise multivariada, analisou-se a interferência das

variáveis entre si, a idade superior a 40 anos deixou de ser um fator preditivo da

presença de EHNA.

Inicialmente, gostaríamos de esclarecer que escolhemos como ponte

de corte para idade 40 anos por que foi a idade mais baixa citada na literatura

(Kichian et al, 2003). Outros estudos prévios encontraram a associação entre

idade e risco de EHNA (Ratziu et al, 2001) (Parks et al, 2004). Assumindo que ela

realmente exista, a explicação que nos parece mais provável é o tempo de

exposição à doença, obviamente maior nos pacientes com idade mais avançada.

Para responder essa pergunta com mais convicção, um estudo de coortes seria

mais adequado que um caso-controle, o quê demandaria um tempo maior para

realização do estudo. Todavia, essa pode ser uma explicação minimalista, pois,

nas coortes observadas por Adams et al, 2005, McCulogh, 2006 e Li IU, 2006

apenas uma pequena parte dos pacientes evoluiu para formas graves de DHGNA

(EHNA e Cirrose), sendo as características histopatológicas iniciais o principal

fator preditor do risco.

Por outro lado, o aumento da idade está associado ao aumento na

resistência a insulina, e por conseqüência, com intolerância à glicose e

desenvolvimento de DM tipo 2 (DESIR study, França, 2006). Nessa dissertação,

essas variáveis foram fatores preditivos da presença de EHNA. Por esse motivo,

40

a nossa hipótese é de que a variável idade está indiretamente associada ao risco

aumentado para EHNA através do aumento da resistência a insulina, este sim um

fator associado com o risco aumentado de EHNA.

. A relação entre grau de obesidade, avaliada pelo IMC, e o risco

aumentado de formas graves, EHNA e cirrose, é amplamente relatada na

literatura. Vários autores (Angulo et al. 1999, Ratziu et al 2000, Fierbintenau-

braticevici et al 2002, Park et al 2004, Cotrim et al 2005) encontraram esta

associação. No entanto, a variável clínica obesidade, definida como IMC superior

a 30kg/m2 (critério da OMS), não foi fator preditivo da presença de EHNA nessa

dissertação, sendo esse o nosso resultado mais polêmico e surpreendente para

os autores. Para explicar esse achado, nos ocorreram duas possibilidades:

primeiro, a variável obesidade foi umas das variáveis cujo N disponível (106)

esteve aquém do N estimado (112). No entanto, essa seria uma explicação muito

simplista, além de que essa margem não nos parece justificar a ausência de

diferença entre os grupos analisados.

A Segunda hipótese nos parece mais plausível e parte do princípio que

o IMC não é melhor parâmetro para o diagnóstico de obesidade, pois, considera

apenas a relação entre peso e altura, não avaliando a composição corporal

(Bandeira, 2003). Sendo assim, o IMC não é capaz de diferenciar “massa magra”

– músculos, ossos - de gordura. Ele também não é capaz de diagnosticar a

presença de obesidade visceral (acúmulo maior de gordura na região abdominal),

um marcador de resistência à insulina, e que é clinicamente diagnosticado pela

aferição da cintura ou pela relação cintura/quadril. Alguns autores (Stranges et al

2004, Lima et al 2005, Fishbein et al 2006, Tsang et al 2006, Amarapurka et al

2006, Ida, 2006, Machado et al 2006), encontraram associação entre o grau de

obesidade e a presença de DHGNA, mas não entre o grau de obesidade e a

presença de EHNA. Nesses estudos, foi o padrão de distribuição da gordura, ou

seja, a presença de obesidade visceral avaliada clinicamente através da aferição

da circunferência da cintura ou da relação cintura/quadril que apresentou

associação EHNA. Infelizmente, como os dados referentes à circunferência

abdominal ou ao índice cintura/quadril eram muito escassos, pois só passaram a

ser rotina no serviço em 2006, não nos permitindo realizar uma análise

estatisticamente adequada, deixaremos essa pergunta, por enquanto, sem

resposta, aguardando por novos dados.

41

Foram selecionadas para análise nesse estudo as variáveis laboratoriais

disponíveis nos prontuários. Algumas variáveis potencialmente úteis, como os

níveis séricos de PCR ultra-sensível, estavam presentes em um número muito

pequeno de prontuários, o quê não permitiu que fosse realizada uma análise

adequada. Outras, com ácido Hialurônico, não são realizadas no serviço.

No presente estudo, a variável laboratorial glicemia em jejum

superior a 100mg/dl foi um fator preditivo da presença de EHNA. Vários estudos

prévios sobre o mesmo tema, já tinham encontrado tal associação entre DM tipo 2

(Angulo et al, 1999, Fierbinteanu-braticevici et all, 2002, Kichian , 2003, Mofrad ,

2003, Tsang , 2006), intolerância a glicose (Bugianese et al, 2004, e Haukeland et

al, 2005) e a presença de EHNA.

Nesse estudo, o índice HOMA-IR superior a 3,0, também esteve associado

com a presença de EHNA , outro achado também previamente encontrado (Dixon

, 2001, Park et al, 2004, Boza et al, 2005, HU , 2006). Especificamente no Brasil,

o grupo da Universidade Federal da Bahia (Siqueira, HC e Cotrim, HP, 2005)

encontrou que um índice HOMA-IR superior a 3,0 era um fator associado com

EHNA, o quê fez com que esse valor fosse adotado ponto de corte nessa tese.

Como o aumento na resistência à insulina está intrinsecamente

relacionado com o desenvolvimento de intolerância a glicose e DM tipo 2,

optamos por discutir a associação entre essas variáveis e o risco de EHNA

conjuntamente. Tomaremos como bases para fundamentar a nossa

argumentação, o modelo fisiopatológico mais aceitam para explicar o

desenvolvimento de EHNA, a “teoria dos dois golpes”. Segundo essa hipótese,

tanto a hiperglicemia quanto a hiperinsulinemia compensatória decorrentes do

aumento na resistência a insulina estimulariam de modo contínuo a produção de

citocinas e TNF alfa, o quê causaria aumento na produção de radicais superóxido,

peroxidação lipídica, com inflamação persistente e progressiva. Haveria também

um aumento na produção de fatores estimuladores dos fibroblastos, o que levaria

a fibrose hepática (Angulo, P, 2006; Namikawa et al, 2006). Em nossa opinião,

essa seria a explicação para a associação com EHNA e resistência à insulina

encontrada nessa dissertação.

A associação entre níveis elevados de AST e a presença de EHNA foi

observada por alguns autores et al, 2005, Tsang et al, 2006, Palekar , 2006). Na

nossa dissertação, essa associação também foi demonstrada. Antes de expor

42

nossos argumentos para explicar tal associação, gostaríamos de prestar dois

esclarecimentos: utilizamos o limite de níveis séricos uma vez e meia superior ao

normal como ponto de corte por que foram os valores mais baixos encontrados na

literatura. O outro ponto que nos Chamou a atenção foi o fato de que, embora o N

para essa variável tenha sido calculado e atingido, o intervalo de confiança foi

muito amplo, o quê sugeriu a necessidade de que uma amostra maior era

necessária para uma análise mais adequada.

A associação entre níveis séricos de AST e a presença de EHNA, em

tese, também poderia ser explicada pelo modelo fisiopatológico dos “dois golpes”:

A AST é uma enzima mitocôndrial. A peroxidação de lipídeos, provavelmente, a

etapa fundamental na evolução de esteatose simples para EHNA, como

demonstrado em modelos animais (Chitturi S e Farell GC 2001), (Begriche et al

2006), ocorre nas mitocôndrias; Portanto, parece-nos razoável a hipótese de que

quanto maior o grau de peroxidação lipídica (ou seja, maior o grau de disfunção

mitocôndrial) maiores os níveis séricos de AST. Tal fato explicaria a presença de

níveis mais elevados de AST em pacientes com EHNA observada nessa

dissertação.

Os Níveis elevados de ferritina sérica foram um fator preditivo da

presença de EHNA nessa dissertação. Os resultados na literatura são

controversos; alguns autores encontrando resultados semelhantes (Fargion et al,

2001, Bugianese et al, 2004, Hsiao , 2004) enquanto outros não (Moon et al,

2006). Assumindo que essa associação realmente existe, a nossa argumentação

mais uma vez tomará como esteio o aumento da resistência à insulina.

Os níveis séricos elevados de ferritina parecem estar relacionados com

o grau de resistência a insulina. Sheu et al (2003) demonstrou uma relação entre

níveis elevados de ferritina sérica e aumento da resistência à insulina em

mulheres. No estudo DESIR (DESIR study, França, 2006) o aumento de ferritina

sérica foi preditor do desenvolvimento de intolerância a glicose e DM tipo 2 em

ambos os sexos. Henandez et al (2000), estudando pacientes com hepatopatia

por vírus C, encontrou níveis séricos de ferritina mais elevados entre os

portadores de vírus C que eram diabéticos tipo 2, uma condição notoriamente

relacionada com aumento da resistência a insulina ou seja, parece haver uma

contribuição do metabolismo do ferro na gênese da resistência à insulina. Como a

resistência à insulina aumentada parece ser o “eixo” fisiopatológico na gênese da

43

DHGNA e na EHNA, parece-nos justo inferir que os níveis séricos elevados de

ferritina sejam fatores preditivos do risco de EHNA.

No presente estudo, a variável biológica gênero não foi fator preditivo

da presença de EHNA. Alguns autores têm sugerido a associação entre gênero

feminino (Palekar et al, 2006), ou masculino (Schwimwer et al., 2005), com o risco

aumentado de EHNA, embora a maioria dos trabalhos não tenha demonstrado tal

associação. Analisando os estudos supracitados, a nossa impressão é de que as

amostras avaliadas foram de tamanho insuficiente e isso torna o impacto de suas

conclusões questionável. Além disso, a associação entre gênero masculino e

EHNA foi detectada em grupos étnicos específicos (hispânicos, nos EUA),

podendo estar, talvez, limitada a estes grupos (Schwimwer et al., 2005).

As variáveis clínicas Hipertensão Sistólica e Diastólica, definidas como

PAS maior ou igual a 140mmhg e PAD maior ou igual 90mmhg, baseados no

“joint national committe for Hypertension”, 2003, não foram fatores preditivos do

risco de EHNA nesse estudo. Alguns autores sugeriram a existência dessa

associação entre HAS e EHNA (Dixon, 2001), embora a maioria dos estudos não

tenha demonstrado tal associação. A nossa impressão é de que HAS

simplesmente está inserida no contexto clínico de obesidade, deslipidemia e

intolerância a glicose (síndrome metabólica), possivelmente, associada com

DHGNA, não estando associada com a presença de EHNA.

As variáveis laboratoriais níveis séricos de ALT elevados, níveis séricos

de TGL superiores a 150mg/dl, níveis séricos de C Total superiores a 200mg/dl,

níveis séricos de CLDL superiores a 130mg/dl, níveis séricos de CHDL inferiores

a 45mg/dl, parte da síndrome metabólica, não foram fatores preditivos do risco de

EHNA nesse estudo. Provavelmente, assim como a HAS, estão associadas com

DHGNA.

Os níveis séricos de GGT elevados e níveis séricos de FA elevados

não foram fatores preditivos do risco de EHNA nesse estudo, provavelmente,

apenas fazendo parte do quadro clínico de DHGNA.

44

6 CONCLUSÃO

No presente estudo, as variáveis laboratoriais glicemia em jejum

superior a 100mg/dl, HOMA-IR superior a 3,0, níveis séricos de AST

superiores a uma vez e meia aos normais e níveis séricos elevados de

Ferritina apresentaram associação estatisticamente significativa com

esteatohepatite não alcoólica, sendo fatores preditivos dessa forma mais grave de

Doença Hepática gordurosa não alcoólica , enquanto as variáveis laboratoriais C

total, HDL C, LDL C, TG, AST, FAL e GGT não apresentaram associação

estatisticamente significativa com esteatohepatite não alcoólica, não sendo

fatores preditivos de esteatohepatite nos pacientes avaliados no HUOC, no

período de 1998 a 2006.

O objetivo dessa dissertação foi avaliar fatores preditivos de EHNA em

pacientes com DHGNA. Foi avaliada toda população adulta atendida no HUOC no

período entre 1998 e 2006. O fato de o estudo ser retrospectivo, baseado em

análise de prontuários, alguns, incompletos, gerou perda de informações, N

insuficiente para algumas variáveis e ausência de alguns dados que

possivelmente seriam importantes para a discussão, como a circunferência da

cintura, fez com que as suas conclusões possam ser questionáveis. De qualquer

modo, esperamos que os nossos achados tenham contribuído para ajudar na

estratificação de risco para EHNA e, por conseqüência, para aperfeiçoar a

seleção dos pacientes que serão submetidos à biópsia hepática. Uma

conseqüência imediata e positiva do estudo foi à criação de um grupo específico

para estudo da DHGNA dentro do serviço, o quê deve nos trazer, em breve,

dados mais esclarecedores e menos sujeitos a alguns vieses. Porém, mesmo

diante de algumas limitações do estudo, Parece-nos sensato sugerir que os

pacientes com intolerância a glicose, resistência à insulina aumentada, elevação

dos níveis séricos de AST superiores a 1,5 vezes o limite do normal e ferritina

sérica elevada devam ser considerados candidatos à biópsia hepática logo no

início da avaliação clínica e seguidos mais de perto, haja vista o risco aumentado

de formas avançadas de DGNAF.

45

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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53

8 ANEXOS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade de Pernambuco Sistema de Bibliotecas

M929f Moura, Fábio Ferreira de Fatores preditivos de esteatohepatite em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica / Fábio Ferreira de Moura. – Recife: (s.n.), 2007.

59f

Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife, 2007.

1. Doença Hepática. 2. Hepatopatia Crônica. I. Título. CDU: 616.36

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