universidade federal de ciÊncias da saÚde de … · a doença hepática gordurosa não alcoólica...

99
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA Alexandre Losekann DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA: FATORES DE RISCO PARA ESTEATO-HEPATITE EM PACIENTES COM OBESIDADE MÓRBIDA. Porto Alegre 2012

Upload: vantruc

Post on 23-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA

Alexandre Losekann

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA:

FATORES DE RISCO PARA ESTEATO-HEPATITE EM PACIENTES

COM OBESIDADE MÓRBIDA.

Porto Alegre

2012

Alexandre Losekann

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA: FATORES DE

RISCO PARA ESTEATO-HEPATITE EM PACIENTES COM

OBESIDADE MÓRBIDA.

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Hepatologia da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisito para a obtenção do grau de Doutor

Orientadora: Profa Dra.Gabriela Perdomo Coral

Porto Alegre

2012

Esse trabalho, assim como todas as coisas mais importantes da minha vida, é dedicado a vocês:

Dê e Raqui,

A Razão de tudo...

.

AGRADECIMENTOS

À Professora Dra. Gabriela Perdomo Coral por reunir conhecimento e disponibilidade, características essas que, habitualmente, um bom orientador deve ter. A Dra. Gabriela reúne, além dessas virtudes, a capacidade de transmitir ao aluno, em momentos de incertezas, a confiança de que chegará ao final do trabalho!

Aos Professores do Programa de Pós Graduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, em especial, ao Dr. Ajácio Brandão, ao Dr. Ângelo Mattos, ao Dr. Augusto Marroni e ao Dr. Paulo Fontes pela acolhida nesse Programa.

Aos Professores da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Dr. Ivan Antonello, Dra. Maria Helena Itaqui Lopes e Dr. Carlos Kupski que, na época do meu ingresso nesse Programa de Pós Graduacão, concederam-me a liberação para cursar as disciplinas.

À equipe do Centro de Tratamento da Obesidade do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre por disponibilizarem os dados para esse estudo.

À Professora Ceres de Oliveira, pela competência no apoio estatístico e por tornar este mistério algo divertido.

Aos colegas e amigos do Serviço de Nefrologia pelo incentivo.

Ao Ronivan Luis Dal Pra, farmacêutico responsável pelos Protocolos de Presquisa do Serviço de Nefrologia do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, pelo inestimável auxílio no cadastramento do Projeto no site Plataforma Brasil.

À secretária Sheila Tavares do Arquivo Central do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia Porto Alegre, pela importante auxílio na seleção dos prontuários dos pacientes estudados

À secretária Luciani Spencer, do Programa de Pós Graduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre pelo fundamental auxílio na logística acadêmica.

Ao funcionário Giquitibá Moraes de Melo, pelo fundamental auxílio na formatação e artes gráficas finais desse trabalho.

À Professora Dra. Cristiane Tovo, pela presteza e qualidade da revisão do trabalho.

À Dê e à Raqui, a primeira, já doutora, pelo apoio, incentivo, cumplicidade, e por ter me dado a Raqui. O amor comporta um conjunto de sentimentos. Entre eles, talvez o mais importante, seja a admiração pela pessoa amada. Dê eu te admiro muito. A segunda é o fruto desse amor. Raqui, obrigado pelo teu carinho e pela tua alegria.

“Não há coisa mais pungente e mais emocionante, do que a banha humana... A banha lubrifica as reações, amacia os sentimentos, amortece os ódios, predispõe ao amor... Há nos barrigudos uma imensa, uma inestancável cordialidade. Eles pingam simpatia como um guardachuva encharcado. Ao passo que, por uma funesta coincidência, os canalhas são sempre magros.”

Nelson Rodrigues

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mecanismo proposto para resistência à insulina induzida pela obesidade visceral

(teoria portal). ...........................................................................................................................18 

Figura 2 - Inflamação e Metabolismo Energético ....................................................................20 

Artigo 1

Figura 1 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da esteatose...................47 

Figura 2 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da esteato-hepatite não

alcoólica (EHNA). ....................................................................................................................48 

Figura 3 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da fibrose. .....................48 

Figura 4 – Associação entre a intensidade da esteatose e EHNA medida pelo coeficiente de

correlação de Spearman (r =0,460; p < 0,001).........................................................................49 s

Figura 5 – Associação entre a intensidade da esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e fibrose

medida pelo coeficiente de correlação de Spearman (r =0,583; p < 0,001).............................49 s

Artigo 2

Figura 1 – Grau de atividade da esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e o percentual de

pacientes de acordo com as alterações séricas de alanina aminotransferase (ALT) em A, de

glicose em B e de triglicerídios (TG) em C..............................................................................75 

Figura 2 – Grau de fibrose (Fb) e o percentual de pacientes de acordo com as dosagens de

alanina aminotransferase (ALT) A, de glicemia B e de triglicerídios (TG) C. ........................77 

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Relação da idade, do sexo, do índice de massa corporal e dos exames laboratoriais

com a presença de esteato-hepatite não alcoólica. ...................................................................74 

Tabela 2 – Relação da idade, do sexo, do índice de massa corporal e dos exames laboratoriais

com a presença de fibrose.........................................................................................................76 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AASLD - Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado

AGL - Ácidos graxos livres

ALT - Alanina aminotrasferase

AST - Aspartato aminotransferase

C282Y - Mutação genética envolvida na gênese da hemocromatose

CB - Cirurgia bariátria

CHC - Carcinoma hepatocelular

CK18 - Citoqueratina

CYP2E1 - Enzima que catalisa a peroxidação dos lipídios

CYP3A4 - Enzima da via do citocromo p450

DCV - Doença cardiovascular

DE - Disfunção endotelial

DHA - Doença hepática alcoólica

DHGNA - Doença hepática gordurosa não alcoólica

DM - Diabete melito

DM2 - Diabete melito tipo 2

EHNA - Esteato hepatite não alcoólica

EO - Estresse oxidativo

ERO - Espécies reativas de oxigênio

ES - Esteatose simples

Fb - Fibrose

FNT-R - Receptor de fator de necrose tumoral

FNTα - Fator de necrose tumoral alfa

H63D - Mutação genética envolvida na gênese da hemocromatose

HDL-C – Lipoproteína de alta densidade

HE – Hematoxilina eosina

HOMA-IR – Homeostasis model assessment

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IGF-1 - Fator de crescimento semelhante à insulina

IGFBP3 - Proteína transportadora de insulina 3

IL-1 - Interleucina 1

IL-1β - Interleucina 1β

IL-6 - Interleucina 6

IL-8 - Interleucina 8

IMC - Índice de massa corporal

LDL-C – Lipoproteína de baixa densidade

LLP - Lipase lipoproteica

MCP-1 - Proteína 1 quimiotáxica de monócitos

NAFLD - Non alcoholic fatty liver disease

OM - Obesidade mórbida

OMS - Organização Mundial da Saúde

PA-1 - Inibidor da ativação do plasminogênio

PCR - Proteína c reativa

PENSE - Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar

RE - Retículo endoplasmático

RI - Resistência à insulina

RPU - Proteínas unfolded

SM - Síndrome metabólica

SNC - Sistema nervoso central

s-RBP-4 - Proteína ligada ao retinol sérico

TG - Triglicerídios

VCAM-1 - Molécula de adesão celular-vascular-1

VLDL-C - Lipoproteína de muito baixa densidade

RESUMO

Objetivo: descrever os achados histopatológicos e os fatores de risco (FR) para esteato

hepatite não alcoólica (EHNA) na doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).

Método: biópsias hepáticas (250) e dados laboratoriais de obesos mórbidos (OM), submetidos

à cirurgia bariátrica (CB) foram analisadas retrospectivamente. Resultados: em 226 (90,4%)

amostras ocorreu esteatose: 76 (30,4%) de grau leve; 71 (28,4%) moderado e 79 (31,6%)

intenso. EHNA foi diagnosticada em 176 (70,4%) casos: 120 (48,4%) de grau leve; 50 (20%)

moderado e 6 (2,4%) intenso. Fibrose ocorreu em 108 (43,2%) biópsias: 95 (38%) de grau

leve, 2 (0,8%) moderado; 7 (2,8%) intenso e 4 (1,6%) apresentaram cirrose. O grau de

esteatose correlacionou-se com o nível de atividade inflamatória (rs=0,460; p < 0,001) e o

grau dessa atividade com o de fibrose (rs=0,583; p < 0,001). Apenas 13 (5,2%) amostras

apresentaram depósitos de ferro. Em 191 biópsias houve correlação de EHNA com os níveis

séricos de alanina aminotransferase (ALT) ≥ 60 U/l (RP=1,31; IC 95% = 1,22-1,41; p<

0,001), de glicose ≥ 126 mg/dl (RP = 1,16; IC 95% = 1,02 – 1,32; p = 0,022) e de

triglicerídios (TG) ≥ 150 mg/dl (RP = 1,15; IC 95% = 1,01 - 1,30; p = 0,035). A fibrose foi

associada com ALT > 60 U/l (RP=1,22; IC 95% = 1,00-1,48; p= 0,048), idade (RP = 1,01; IC

95% = 1,00 – 1,02; p = 0,006) e TGs ≥ 150 mg/dl (RP = 1,24; IC 95% = 1,07 - 1,45; p =

0,005). Conclusão: houve uma prevalência elevada de esteatose, de EHNA, uma correlação

de EHNA e fibrose, e uma baixa prevalência de depósitos de Fe nos pacientes com OM. A

ALT ≥ 60 U/l; a glicemia ≥ 126 mg/dl e os TGs ≥ 150 mg/dl indicam maior risco de EHNA

nesses pacientes. Esses parâmetros, somados à idade, são FRs para a presença de fibrose.

Palavras-chaves: Esteato-hepatite não alcoólica; obesidade mórbida; cirurgia bariátrica;

biópsia hepática, fatores de risco.

ABSTRACT

Objective: To describe the histopathologic findings and risk factors (RF) to steatohepatitis

alcoholic steatohepatitis (NASH) in nonalcoholic fatty liver disease (NAFLD). Methods:

Liver biopsies (250) and laboratory data of morbidly obese (MO), who underwent bariatric

surgery (BC) were analyzed retrospectively. Results: 226 (90.4%) samples showed steatosis:

76 (30.4%) mild, 71 (28.4%) moderate and 79 (31.6%) intense. NAFLD was diagnosed in

176 (70.4%) patients: 120 (48.4%) mild, 50 (20%) moderate and 6 (2.4%) intense. Fibrosis

occurred in 108 (43.2%) biopsies: 95 (38%) mild, 2 (0.8%) moderate, 7 (2.8%) intense and 4

(1.6%) had cirrhosis. The degree of steatosis was correlated with the level of inflammatory

activity (rs = 0.460, p <0.001) and the degree of this activity with fibrosis (rs = 0.583, p

<0.001). Only 13 (5.2%) samples showed iron deposits. in191 biopsies there was a correlation

of NASH with serum levels of alanine aminotransferase (ALT) ≥ 60 U / l (PR = 1.31, 95% CI

= 1.22 to 1.41, p <0.001), glucose ≥ 126 mg / dl (PR = 1.16, 95% CI = 1.02 to 1.32, p =

0.022) and triglycerides ≥ 150 mg / dl (PR = 1.15, 95% CI = 1.01 - 1.30, p = 0.035). Fibrosis

was associated with ALT > 60 U / l (PR = 1.22, 95% CI = 1.00 to 1.48, p = 0.048), age (PR =

1.01, 95% CI = 1.00 - 1.02, p = 0.006) and TGs ≥ 150 mg / dl (PR = 1.24, 95% CI = 1.07 to

1.45, p = 0.005). Conclusion: There was a high prevalence of steatosis, NASH, a correlation

of NASH and fibrosis, and a low prevalence of Fe deposits, in these samples. The ALT ≥ 60

U / l; blood glucose ≥ 126 mg / dl and TG ≥ 150 mg / dl indicates a higher risk of NASH in

these patients. These parameters, in addition to age, are RF for the presence of fibrosis.

Keywords: Nonalcoholic steatohepatitis, morbid obesity, bariatric surgery, liver biopsy, risk

factors

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13 

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OBESIDADE E INFLAMAÇÃO.......................13 

1.2 OS CAMINHOS DOS ÁCIDOS GRAXOS: DOS ADIPÓCITOS AOS HEPATÓCITOS

16 

1.3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO

ALCOÓLICA 21 

1.4 OBESIDADE MÓRBIDA E DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO

ALCOÓLICA............................................................................................................................27 

2 JUSTIFICATIVA 29 

3 OBJETIVOS 30 

3.1 GERAL 30 

3.2 ESPECÍFICOS 30 

REFERÊNCIAS 31 

4 ARTIGO 1 – VERSÃO EM PORTUGUÊS 42 

5 ARTIGO 1 – VERSÃO EM INGLÊS 55 

6 ARTIGO 2 - VERSÃO EM PORTUGUÊS 67 

7 ARTIGO 2 – VERSÃO EM INGLÊS 82 

8 CONCLUSÕES GERAIS 97 

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP 98 

13

1 INTRODUÇÃO

A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é, atualmente, uma das causas

mais comuns de doença hepática crônica. Essa enfermidade compreende desde a esteatose

simples (ES) até formas mais graves de hepatopatia, tais como cirrose e carcinoma

hepatocelular [1]. A esteato-hepatite não alcoólica (EHNA), que representa uma complicação

e um estágio evolutivo da DHGNA, é, frequentemente, associada à síndrome metabólica

(SM), à obesidade, à resistência à insulina (RI) e ao diabete melito tipo 2 (DM 2).

A partir dessas informações iniciais, cabe destacar que este referencial teórico aborda

alguns tópicos referentes à fisiopatologia da DHGNA, incluindo: 1) considerações gerais

sobre obesidade e inflamação; 2) os caminhos dos ácidos graxos: do adipócito ao hepatócito;

3) considerações gerais sobre DHGNA e; 4) considerações gerais sobre obesidade mórbida

(OM) e DHGNA.

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OBESIDADE E INFLAMAÇÃO

A obesidade é fortemente associada à DHGNA, à RI, ao DM2, à disfunção endotelial

(DE), e à doença cardiovascular (DCV). Além disso, é uma situação crônica cuja incidência

vem aumentando de forma alarmante, afetando não só adultos, mas também crianças e

adolescentes. A prevalência de excesso de peso tem crescido ao redor do mundo, atingindo

em torno de 300 milhões de pessoas. Estudos conduzidos em países desenvolvidos têm

demonstrado uma prevalência de obesidade na ordem de 20% [2, 3]. Dados de 2007-2008

sinalizaram que 32,2% dos homens e 35,5% das mulheres americanas apresentavam excesso

de peso [4, 5]. No Brasil, em 2009, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava acima do

peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A parcela da população

masculina de 10 a 19 anos de idade com sobrepeso passou de 3,7% (1974-1975) para 21,7%

(2008-2009) e, entre a população feminina dessa mesma faixa etária passou de 7,6% para

19,4%. O sobrepeso em homens adultos também saltou de 18,5% para 50,1% e ultrapassou,

em 2008-2009, o das mulheres, que subiu de 28,7% para 48%. Neste panorama, destaca-se a

Região Sul, cuja população apresenta percentuais de obesidade na ordem de 15,9% nos

homens e de 19,6% nas mulheres. Resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar

(PENSE), realizada em 2009 com 58.971 estudantes do 9.o ano (8.ª série) do ensino

fundamental em diferentes cidades do país, demonstraram que, na média das capitais, Porto

Alegre apresentou uma das maiores prevalências de obesidade (10,5%) [6].

14

O excesso de adiposidade, particularmente na região abdominal (obesidade central), é

fortemente associado com DHGNA e RI. Isso predispõe à ocorrência de hipertensão arterial

sistêmica, dislipidemia e inflamação, fatores presentes na chamada SM. A associação entre

essas situações clínicas e o excesso de tecido adiposo envolve mecanismos metabólicos e

inflamatórios [7].

Desde 1994, ano da descoberta da leptina, o tecido adiposo deixou de ser considerado

apenas um reservatório passivo de energia e assumiu o papel de órgão endócrino[8-10]. Tal

função endócrina do tecido adiposo está envolvida na patogênese das principais complicações

da obesidade, como a RI, o DM2 e a DHGNA [11, 12]. Recentemente, inúmeras citocinas e

mediadores da resposta inflamatória têm sido relacionados à presença de obesidade [9, 13].

Além da secreção de ácidos graxos livres (AGL), o tecido adiposo expressa e secreta vários

peptídios bioativos, as chamadas adipocinas, atuantes em nível tanto local (ação

parácrina/autócrina), quanto sistêmico (ação endócrina) [9]. Tais substâncias desempenham

diversas funções metabólicas, como a regulação do acúmulo e gasto energético, a regulação

do metabolismo de glicose e lipídios, além de exercerem efeitos imunológicos que inibem ou

estimulam o processo inflamatório [13-15]. Dentre as adipocinas secretadas exclusivamente

pelo tecido adiposo, a adiponectina, que está envolvida no controle da glicemia e no

catabolismo dos AGLs, apresenta níveis séricos inversamente relacionados ao percentual de

gordura corporal no indivíduo normal e, na obesidade e no diabetes, seus níveis séricos

encontram-se reduzidos[16-18].

O tecido adiposo contém, ainda, uma complexa maquinaria metabólica, capaz de

interagir com diversos órgãos e sistemas à distância, tais como o sistema nervoso central

(SNC), regulando a fome e a saciedade, e o sistema cardiovascular e renal, com o qual

interage por intermédio da secreção de proteínas do sistema renina-angiotensina [9, 11].

Outras substâncias, como os fatores do complemento e os componentes da cascata da

coagulação e fibrinólise, têm ganhado destaque como participantes desse contexto, mediando

complicações metabólicas e cardiovasculares associadas à obesidade [19]. Mais ainda, o

tecido adiposo produz também o inibidor da ativação do plasminogênio (PAI-1), a resistina, a

lipase lipoproteica (LLP), a proteína estimuladora de acilação, a proteína de transporte de

éster de colesterol, a proteína ligadora do retinol, os estrogênios, o angiotensinogênio, o fator

de crescimento semelhante à insulina (IGF-I) e a proteína transportadora de insulina 3

(IGFBP3) [20-22]. Além disso, a obesidade também se associa com níveis plasmáticos

elevados de interleucina 1 (IL-1), P- seletina e molécula de adesão celular-vascular-1

(VCAM-1), [20, 23].

15

O fator de necrose tumoral alfa (FNT-α), produzido pelos macrófagos no tecido

adiposo [23, 24], inibe a atividade da LLP e aumenta a lipólise, determinando a liberação de

AGLs na circulação sanguínea. Sabe-se que a produção do FNTα é estimulada pelo estresse

do retículo endoplasmático (RE) e pelos AGLs. Assim, após ser produzido e liberado, o FNT-

α liga-se a receptores específicos denominados receptores de FNT (FNT-R) I e II, produzindo

seu efeito biológico [24-26].

A atividade da LLP é inibida pelo FNT-α e existe um significativo aumento desta

citocina na obesidade. No estudo de Kern et al. (1995), foi demonstrada uma correlação

significativa entre os níveis de FNT-α e o percentual de gordura corporal. Além disso, houve

um significativo decréscimo do FNT-α com a perda de peso. Nesse estudo, os indivíduos

obesos que perderam até 27% do peso inicial diminuíram os níveis desta citocina em 58%

[27]. Nos obesos, a LLP é responsável pela hidrólise dos triglicerídios (TG) e da lipoproteína

de muito baixa densidade (VLDL-C). De forma semelhante, a redução da secreção dessa

enzima aumenta a produção de FNT-α pelos adipócitos e pode explicar, em parte, a

hipertrigliceridemia na obesidade [27]. Em diferentes modelos de obesidade animal, ocorre

uma superprodução de FNT-α, sendo esta considerada como uma das moléculas que faz a

ligação entre a inflamação e a obesidade. Em pacientes obesos com DM2, as concentrações de

FNT-α encontram-se elevadas e se correlacionam com a glicemia e a insulinemia de jejum

[28].

A proteína ligada ao retinol sérico (s-RBP-4), secretada pelo fígado e pelos adipócitos,

é uma proteína da família das lipocalinas, associada à adiposidade visceral e à RI. As

concentrações plasmáticas dessa proteína diminuem na vigência de infecção aguda e estresse

e aumentam em situações em que ocorrem baixos graus de inflamação crônica [29]. Em

modelos animais, a sRBP-4 tem sua secreção induzida pela RI no fígado e no músculo

esquelético e suas concentrações são associadas com a melhora da resposta glicêmica [29, 30].

A proteína-c reativa (PCR) é um marcador inflamatório produzido,

predominantemente, no fígado, em resposta à interleucina 6 (IL-6). Altas concentrações de

PCR são observadas nas infecções agudas e nos estados inflamatórios sistêmicos, embora

modestas elevações possam ocorrer cronicamente, indicando uma situação de baixo grau de

inflamação que pode durar meses ou anos. O excesso de adiposidade é associado com

aumento dos níveis séricos de IL-6 e PCR e essas altas concentrações se correlacionam com

hipertrofia dos adipócitos [31]. Além da produção hepática, um terço da IL-6 circulante é

liberada pelo tecido adiposo, e sua síntese está predominantemente associada à adiposidade

visceral do que à gordura subcutânea [26]. A associação entre adiposidade e PCR é observada

16

em adultos com SM. Este marcador é considerado um fator de risco independente para a

ocorrência de DM2 e DCV [31, 32]. Além disso, dados do estudo de Cook et al. (2000)

mostraram que a adiposidade foi o maior determinante dos níveis de PCR em crianças de 10

a 11 anos [33]. Estes dados sugerem que os indivíduos obesos se encontram em um estado de

inflamação crônica de baixo grau.

1.2 OS CAMINHOS DOS ÁCIDOS GRAXOS: DOS ADIPÓCITOS AOS HEPATÓCITOS

Vague (1956) foi o primeiro a observar que a distribuição da gordura corporal poderia

estar relacionada com a predisposição para doenças metabólicas [34]. Vários estudos

epidemiológicos demonstraram uma estreita associação entre RI e um grupo de diferentes

doenças metabólicas em indivíduos com obesidade central (também chamada de obesidade

em forma de maçã), que acumulam gordura, principalmente, na região intra-abdominal e na

região superior do tórax [34-40]. A RI está frequentemente associada à EHNA e assume um

papel importante na fisiopatologia desta enfermidade [35]. Por outro lado, os indivíduos que

acumulam mais gordura periférica (também conhecida como tipo ginoide ou obesidade com

“forma de pera”), em que os depósitos lipídicos se situam, principalmente, nas regiões

femoral e glútea – provocando acúmulo de gordura principalmente no subcutâneo –

apresentam menos complicações metabólicas da obesidade, estando até mesmo protegidos do

desenvolvimento de RI e dislipidemia[36-41]. Estimulantes debates e controvérsias têm

surgido na literatura sobre os mecanismos pelos quais a gordura visceral torna-se mais

deletéria ao organismo do que a periférica.

Análises funcionais têm identificado diferenças entre os tipos de depósitos de gordura

[42]. Por exemplo, a taxa basal de lipólise é maior nos adipócitos localizados no mesentério e

no omento do que nos adipócitos do subcutâneo [43-45]. Mais ainda, o efeito estimulatório

das catecolaminas sobre os adipócitos que incrementam a lipólise é mais intenso do que os

efeitos inibitórios (lipogênese) que a insulina exerce sobre essas mesmas células no omento e

mesentério. Outro achado interessante diz respeito à adiponectina, que, sabidamente, tem

efeitos insulino-sensibilizantes e anti-inflamatórios [46-48]. Essa substância apresenta níveis

plasmáticos diminuídos em paralelo com a progressão da obesidade e do DM 2 [49]. Mais

interessante é o fato de que a concentração plasmática de adiponectina, derivada dos

adipócitos do omento, nos indivíduos obesos, apresenta-se reduzida [50]. Portanto, pode-se

sugerir, com base nessas constatações, que o padrão de expressão e secreção de várias

adipocinas difere entre os diferentes depósitos de gordura. Assim, este fato constitui uma

17

explicação parcial do diferente impacto da obesidade central versus periférica na sensibilidade

à insulina e no metabolismo da glicose.

A gordura intra-abdominal, no indivíduo normal, constitui em torno de 10 % dos

depósitos do organismo. Ela é constituída das gorduras que circundam as vísceras internas, o

omento e o mesentério [51]. A drenagem venosa da gordura visceral varia conforme a região.

Enquanto a drenagem venosa do omento e mesentério se dá pelo sistema porta, a drenagem da

gordura perirrenal, retroperitoneal e gonadal é feita diretamente pela circulação venosa

sistêmica, isto é, pela veia cava inferior e superior. Assim, o fígado está exposto diretamente

às citocinas e a AGLs liberados pelo tecido adiposo visceral (omento e mesentério), enquanto

os mesmos metabólitos liberados sistemicamente pelo tecido adiposo de outras regiões

alcançam o fígado de forma já diluída pela circulação sistêmica (Figura 1). Na “teoria portal”

da DHGNA, há uma exagerada liberação de AGLs e de citocinas pró-inflamatórias da gordura

visceral que atingem o fígado, via sistema porta, promovendo o desenvolvimento de

resistência hepática à insulina e esteatose hepática nos indivíduos obesos[7, 45, 51-53].

Outros autores observaram que a omentectomia, realizada juntamente com a colocação de

banda gástrica no tratamento cirúrgico da obesidade, melhora significativamente o

metabolismo da glicose e a sensibilidade à insulina dos pacientes [54]. No entanto, não está

claro se esses resultados são decorrentes da perda de peso ou da omentectomia per-se. Além

dessa, duas outras publicações não relataram benefício adicional com a omentectomia no

metabolismo da glicose e na RI [55, 56].

18

Figura 1 - Mecanismo proposto para resistência à insulina induzida pela obesidade visceral

(teoria portal).

Obesidade central FígadoResistência à insulinaEsteatoseInflamação

Veia porta

Intestino

Mesentérica / tecido adiposo do omento

Adiponectina 

Ácidos graxos

livres  ?

Envolvimento  da transcrição gênicano “turnover” e gliconeogênese

Fatores pró‐inflamatórios

Fatores bacterianosex.: endotoxinas

Fatores pró‐inflamatóriosex.: IL‐6, IL‐

Fatores  anti‐inflamatórios

Indivíduos com obesidade central acumulam gordura principalmente nos depósitos intra-abdominais, isto é, no mesentério e/ou no tecido adiposo do omento. A liberação aumentada de AGLs e/ou fatores pró-inflamatórios a partir desses depósitos são drenados via sistema porta diretamente ao fígado. Além disso, a liberação aumentada de endotoxinas e fatores pró-inflamatórios derivados do intestino também podem contribuir para a teoria portal. A exposição do fígado a esses fatores resultará na resistência hepática à insulina, esteatose e inflamação. Adaptado de Item F. Konrad D. Visceral fat and metabolic inflammation. Ref 7.

Embora existam numerosos estudos demonstrando a importância da drenagem portal

da gordura visceral na fisiopatologia da DHGNA, existem também alguns argumentos que

contestam essa teoria. Estudos demonstram que a oferta de glicose mediada pela insulina está

inversamente relacionada com gordura visceral e também com a gordura subcutânea

abdominal, indicando que a drenagem sistêmica do tecido adiposo subcutâneo, e não somente

a visceral, possa ter efeitos deletérios sobre a homeostase da glicose [51, 57-59]. Além disso,

outros estudos encontraram uma quantidade relativa de AGLs na veia porta, oriunda de

gordura visceral, muito menor que a quantidade de AGLs, oriunda da gordura subcutânea. Foi

calculado que, aproximadamente, 5-30% dos AGLs drenados pelo sistema porta têm origem

na gordura visceral, tanto em indivíduos magros quanto em obesos. Esses dados sugerem que

a gordura visceral não é uma fonte tão importante de AGLs para o fígado [60-62]. No entanto,

é presumível que a composição dos AGLs presentes nos indivíduos obesos seja diferente,

19

contribuindo diretamente para os efeitos deletérios no tecido hepático. É possível também,

que os AGLs per se não sejam tão danosos ao tecido hepático. Talvez a exposição direta do

fígado a substâncias pró-inflamatórias provenientes da gordura visceral, por meio do sistema

porta, seja a principal causa do desenvolvimento de RI hepática, observada nos pacientes com

EHNA [63, 64].

Diante da indagação: quais os mecanismos intracelulares que determinam o depósito

de gordura no hepatócito e consequente dano celular que leva ao aparecimento de EHNA?, a

pesquisa fundamental tem encontrado algumas respostas. Alguns trabalhos demonstram que o

armazenamento de excesso de gordura nos adipócitos leva à hipertrofia e à hiperplasia dessas

células que, por sua vez, provocam anormalidades intracelulares, particularmente no RE e na

mitocôndria em nível celular, e aumento da circulação de AGLs, RI, acúmulo de lipídios no

músculo cardíaco, inflamação e DE, em nível sistêmico [65]. Postula-se que a instabilidade

gerada na membrana do adipócito pelo acúmulo de AGLs provoque o rompimento e a

liberação desses, que vão desencadear o processo inflamatório mediante a liberação de

adipocinas e a ativação de macrófagos, que, por sua vez, determinarão anormalidades no

tecido hepático e no tecido muscular liso (Figura 2). Uma dessas anormalidades é a ativação

da resposta de proteínas unfolded (RPU) que levam ao chamado estresse do RE, caracterizado

por uma situação em que o funcionamento normal dessa organela é perturbado, alterando a

capacidade que tem de processar proteínas e gorduras. O estresse do RE também causa

estresse oxidativo (EO) mitocondrial, com produção de espécies reativas de oxigênio (ERO)

[66]. Este mecanismo pode ser demonstrado pela ativação de RPUs em camundongos,

motivando a esteatose hepática transitória [67]. Além disso, foi observado estresse do RE em

fígados de camundongos ob/ob com deficiência de leptina, sugerindo que este mecanismo

possa estar envolvido na patogênese da RI hepática tanto em roedores quanto em humanos

[68]. Mathew et al. (2010) avaliaram o efeito dos anormalidades em algumas organelas como

o RE. As alterações ocorridas no RE determinaram liberação de AGLs em concentrações

semelhantes às encontradas em indivíduos obesos. Neste estudo, a infusão de lipídios

intercelulares aumentou a concentração plasmática de moléculas de adesão vascular,

indicando que os AGLs parecem ter um efeito direto na DE [69]. Outra evidência do

envolvimento deste mecanismo na patogênese da RI é a redução de marcadores de estresse do

RE após cirurgia para redução de peso [70]. Vários outros modelos animais têm sido

empregados para demonstrar o papel dos mecanismos intracelulares na patogênese da

DHGNA e da RI hepática [71-73].

20

Figura 2 - Inflamação e Metabolismo Energético

Fígado

Oxidação lipídica

Lipogênese Macrófago

Balanço energético

Citocinas

Ácidos graxos

Lipólise

Oxidação lipídica

Músculoesquelético

Proteólise

Tecidoadiposobranco

Jejum

Quimiocinas

Sobrecarga lipídica dadisfunção dos adipócitos

Dentro de certas condições (p.ex., disfunção de adipócitos ou jejum), a liberação de citocinas e/ou lipólise do tecido adiposo promove a ativação de macrófagos. Os macrófagos ativados sinalizam outros tecidos via liberação de várias citocinas (p.ex., TNFα, IL-6, etc.). Nos adipócitos, citocinas promovem a lipólise diminuindo a expressão de proteínas estabilizadoras da “gota” de lipídios (p.ex., perilipina ou FSP27). Nas células musculares, as citocinas podem promover um aumento na oxidação lipídica e, dentro de situações extremas podem promover a atrofia muscular através do aumento da proteólise. No fígado, as citocinas podem aumentar a lipogênese e prejudicar a oxidação lipídica. Os efeitos no balanço energético dependem, em grande parte, da ativação de citocinas específicas e, também, da dimensão dessa ativação. Adaptado de Samuel, V.T. and G.I. Shulman, Mechanisms for insulin resistance: common threads and missing links. Ref 67.

Resumindo, é plausível que o aumento da concentração dos AGLs e das adipocinas

pró-inflamatórias, provenientes da lipólise das gorduras viscerais, drenadas diretamente no

sistema porta, sejam a causa do acúmulo excessivo, intra-hepatocitário, de AGLs e TGs,

determinando esteatose (teoria portal; primeiro hit). O excesso de gordura intra-hepatocitário

ativa as RPUs, que, por sua vez, causam mais liberação de citocinas, como o FNTα, levando à

apoptose e à necrose celular (segundo hit) e, consequentemente, à EHNA.

21

1.3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO

ALCOÓLICA

A associação de esteatose, inflamação e cirrose, em pacientes obesos e diabéticos, foi

descrita pela primeira vez em 1958 [74], mas o termo EHNA foi aplicado, pela primeira vez,

em 1980, quando Ludwig et al. observaram esteatose, inflamação lobular e fibrose em

biópsias de indivíduos que apresentavam fatores de risco para EHNA [75].

A definição de DHGNA requer a presença de esteatose hepática, seja documentada

por exames de imagem ou pela análise histológica, não havendo outra causa para o acúmulo

secundário de gordura como o consumo excessivo de álcool, uso de medicação esteatogênica

ou de doenças hereditárias [76]. A DHGNA ainda pode ser histologicamente subclassificada

em ES e EHNA. A primeira é definida como a presença de depósitos de gordura sem dano

hepatocelular; a segunda – a EHNA – é definida pela presença de esteatose hepática associada

à lesão hepatocelular (balonização ou degeneração hidrópica dos hepatócitos) com ou sem

fibrose [76]. Dessa forma, a DHGNA engloba um espectro de alterações clínico-patológicas

incluindo desde a ES até a EHNA, podendo chegar à cirrose e até ao carcinoma hepatocelular

(CHC).

Pesquisas que relatam a incidência de DHGNA são escassas. Dois trabalhos japoneses

relataram uma incidência de 31 e 86 casos de suspeita de DHGNA por 1000 indivíduos/ano,

respectivamente [77, 78]. Um estudo inglês apresentou uma incidência mais baixa de

DHGNA (29 casos por 100.000 indivíduos/ano) [79].

A prevalência relatada de DHGNA sofre uma grande variação, dependendo da

população estudada e da definição usada. É estimada uma prevalência mundial de DHGNA

que varia de 6,3 a 33%, com uma média de 20% na população geral [76]. No Japão, a

prevalência da DHGNA é de 14% nos indivíduos não etilistas[80]. Vale lembrar que, em

estudos realizados em potenciais doadores vivos de fígado, foi relatada uma prevalência,

histologicamente definida, de 20 a 51% [81, 82]. Também tem sido demonstrada uma

prevalência de DHGNA, definida por ecografia, que varia entre 17 e 46%, dependendo da

população estudada [83]. Nos Estados Unidos, essa doença é a principal causa de aumento

dos níveis séricos das enzimas hepáticas, com taxas de prevalência que alcançam 23% nos

americanos adultos [84]. No Brasil, Leite et al. (2011) avaliaram 125 pacientes com DM2

demonstrando uma prevalência de DHGNA de 4% [85]. Em uma análise de 912 pacientes

obesos, Zamin et al. (2002) indicaram biópsia em 33 pacientes com alterações de

22

aminotransferases, encontrando uma prevalência de 3,18% de EHNA; destes, 58,6% tinham

grau leve [86].

A prevalência real da EHNA é difícil de ser conhecida, tendo em vista que a doença se

apresenta de forma indolente e assintomática. O diagnóstico definitivo é realizado apenas por

uma avaliação de achados histopatológicos. Mesmo assim, têm sido relatadas prevalências de

3 a 5% na população geral [76].

A patogênese da EHNA ainda não foi completamente elucidada, e a teoria geral mais

aceita, atualmente, é a hipótese dos two hits, proposta por Day e James, em 1998. No primeiro

hit, ocorre o acúmulo de gordura no tecido hepático, especificamente AGLs e TGs,

determinando a esteatose. Nessa situação, ocorrem adaptações celulares que permitem a

viabilidade celular, mesmo com níveis aumentados de EO. Entretanto, a célula fica mais

vulnerável ao segundo hit, possivelmente de origem ambiental ou genética, que vai

determinar apoptose e até mesmo necrose, acompanhada de inflamação[87].

Como alteração inicial, a esteatose acontece quando existe um desequilíbrio na

homeostase das gorduras. Os TGs e os AGLs chegam ao fígado por meio de duas principais

rotas metabólicas. As gorduras são transportadas ao fígado por intermédio de lipoproteínas,

após sua absorção no intestino; pela lipólise do tecido adiposo, ou, ainda, pela síntese dentro

do próprio fígado na lipogênese. Os ácidos graxos acumulados no hepatócito são esterificados

em TGs e, pela exocitose, são devolvidos à circulação na forma de VLDL-C [88]. O excesso

ou acúmulo de AGLs causa um desarranjo celular, o qual leva a uma diminuição da síntese e

secreção da VLDL-C, causando, por isso, maior acúmulo de AGLs. Os fatores que levam ao

desenvolvimento de inflamação no hepatócito, com o aparecimento de balonização, necrose e,

finalmente, fibrose ainda são matéria de intensa pesquisa e constituem o chamado segundo

hit. Existem evidências que apontam respostas no sentido do desencadeamento de uma

cascata de eventos que levam, em alguns indivíduos, a progressão da ES para a EHNA. O EO

é a alteração principal que determina o surgimento da EHNA. Os AGLs acumulados no

hepatócito produzem oxidação através da mitocôndria, dos microssomas e de peroxissomas,

gerando, dessa forma, EROs. O acúmulo de AGLs induz a um aumento da atividade de uma

enzima que catalisa a peroxidação dos lipídios (CYP2E1) [89]. Outras enzimas da via do

citocromo p450, como a CYP3A4, também têm sido implicadas no processo de peroxidação

lipídica [90]. O excesso de ferro dentro do hepatócito também aumenta o EO, determinando o

surgimento de radicais reativos hidroxilados [91].

A geração de EROs causa alterações na membrana celular, determinando a liberação

de fator de FNTα a partir dos hepatócitos, células de Kupfer e adipócitos. O FNTα é

23

sabidamente uma citocina pró-inflamatória, que dará inicio ao processo inflamatório que

culminará com fibrose, e, mais tardiamente, com desarranjo estrutural do tecido hepático [27].

Esses mecanismos fisiopatogênicos foram muito bem observados em um estudo, conduzido

por Sanyal et al. (2001), que demonstrou aumento do EO e anormalidades ultraestruturais nas

mitocôndrias em pacientes com EHNA, comparado a pacientes com apenas ES [92].

O papel da presença de ferro no tecido hepático e sua relação com EHNA tem sido

alvo de alguns estudos. A quantidade de ferro encontrada no tecido hepático, em pacientes

com fibrose e cirrose, devido à hemocromatose e à talassemia, é superior à 200-250 µmol/g,

muito acima de 35 µmol/g, que representa o limite superior usualmente encontrado em

fígados normais [93]. Na EHNA, os depósitos de ferro encontrados estão muito longe

daqueles encontrados na hemocromatose ou talassemia, no entanto, pequenas quantidades de

ferro encontradas no tecido hepático podem representar risco para toxicidade. O ferro pode

atuar como fator potenciador do EO no hepatócito determinado por gorduras, aumentando a

toxicidade e direcionando para a fibrogênese e carcinogênese [94, 95]. Mendler et al. (1999)

estabeleceram uma relação entre RI e a presença de ferro em biópsias de indivíduos obesos

[96]. É possível, também, que a presença de ferro no tecido hepático esteja associada à

hiperinsulinemia encontrada na EHNA, visto que a flebotomia melhora a resistência à RI em

pacientes com DHGNA [97]. Um argumento favorável ao não envolvimento do ferro na

fisiopatogenia da EHNA é o resultado do estudo de Zamin et al. (2006). Esses autores não

encontraram correlação entre a mutação do gene C282Y e H63D (mutação envolvida na

gênese da hemocromatose) em 20 biópsias hepáticas de pacientes com EHNA. [98].

O avanço no conhecimento da fisiopatologia da DHGNA tem motivado o

aparecimento de estudos clínicos conduzidos com o objetivo de identificar marcadores

clínico/laboratoriais não invasivos de EHNA. Nesse sentido, a idade, a obesidade, o diabete

melito (DM), a hipertensão arterial sistêmica, os marcadores de inflamação, a relação

aspartato aminotransferase (AST) / alanina aminotransferase (ALT) > 1 e os níveis de TGs >

150 mg/dl são apontados como fatores risco para a presença de EHNA[99].

A citoqueratina CK18 tem sido investigada como novo biomarcador de presença de

EHNA em pacientes com DHGNA. Recente metanálise publicada por Musso et al. (2011)

demonstra que o os níveis plasmáticos de CK18 têm uma sensibilidade de 78% e

especificidade de 87% em predizer EHNA em pacientes com DHGNA [100]. Embora esse

teste seja promissor, atualmente não está disponível comercialmente, e o último consenso da

Associação Americana para o Estudo das Doenças do Fígado (AASLD) considera prematuro

recomendá-lo na prática clínica [76]. Uysal et al. (2011) sugerem que outros marcadores, tais

24

como interleucinas e óxido nítrico, estejam associados à EHNA; no entanto, os autores não

comparam seus achados sorológicos com a biópsia hepática (padrão ouro para o diagnóstico

de EHNA), o que torna os resultados muito discutíveis [101].

Como salientado, a obesidade se caracteriza por um estado inflamatório crônico, que

pode determinar alterações funcionais em diferentes tecidos do organismo humano. Muitos

fatores pró-inflamatórios como a interleucina 1β (IL-1β), IL-6, interleucina 8 (IL-8), FNT-∞ e

proteína 1 quimiotáxica de monócitos (MCP-1) são produzidos pelas células adiposas (tanto

quanto por macrófagos), contribuindo, assim, para um estado de “baixo grau” de inflamação

crônica [102]. Também já está demonstrado que diferentes tipos e localizações das gorduras

corporais causam um maior ou menor grau dessas alterações [34].

A EHNA progride desde uma forma leve (com pouca inflamação), chegando até à

fibrose avançada. As células estrelares são, primariamente, responsáveis pela fibrogênese. A

ativação dessas células e a perpetuação de sua atividade envolvem o estímulo de substâncias

denominadas de não-citocinas como o malonaldeido e 4 hidroxinonenal, produtos da

peroxidação lipídica [103]. As citocinas pró-inflamatórias derivadas das células de Kupfer

(IL-1β, IL-6, e FNTα) também são cruciais na perpetuação da atividade das células estrelares.

Esse sistema multifatorial é o responsável pelo desenvolvimento de fibrose na EHNA [104,

105].

A terminologia “não alcoólica” deve-se ao fato de que as alterações encontradas no

tecido hepático não podem ser distinguidas das alterações causadas pela hepatite alcoólica.

Embora exista uma forte associação entre obesidade, RI, DM e hipertensão arterial sistêmica

com DHGNA e EHNA, as alterações histológicas podem ocorrer também em indivíduos

magros sem essas características [99, 106, 107]. Portanto, assim como o clínico não pode

diagnosticar esteato-hepatite, o patologista não pode determinar a origem não alcoólica da

alteração, sem a informação clínica [108]. Logo, o diagnóstico de DHGNA e EHNA tem base

em uma correlação clínico-patológica.

Os exames de imagem não são capazes de distinguir entre ES e EHNA, principalmente

no que concerne à presença de inflamação, balonização e fibrose. Entretanto, a indicação de

biópsia hepática deve ser limitada. O último consenso da AASLD recomenda a biópsia nos

pacientes com DHGNA e risco aumentado de EHNA e fibrose avançada, que são aqueles com

SM e com escore Non alcoholic fatty liver disease (NAFLD) alterado. Tal escore tem base em

seis variáveis clínico/laboratoriais facilmente identificadas: idade, índice de massa corporal

(IMC), hiperglicemia, contagem de plaquetas, albumina e razão AST/ALT. Além disso, é

25

recomendada a biópsia em indivíduos nos quais outras etiologias para a alteração hepática não

possam ser afastadas sem a biópsia [76].

Alguns estudos demonstram que o desfecho clínico relacionado com a histopatologia

da DHGNA varia desde benigno, esteatose de natureza não progressiva, até fibrose avançada

e cirrose em 15 a 19% dos casos, presumivelmente resultantes da EHNA [109]. A EHNA

caracteriza-se, histologicamente, pela presença de esteatose predominantemente

macrovesicular associado à balonização hepatocelular e ao infiltrado inflamatório misto

lobular (constituído basicamente por polimorfonuclares). Ocasionalmente, também, podem

ser encontrados os Corpúsculos de Mallory, a megamitocôndria e a vacuolização glicogênica

nuclear. Essas alterações se localizam, principalmente, na zona 3, onde também se deposita a

fibrose inicial da EHNA (fibrose sinusoidal e/ou pericelular)[110]. Nos pacientes pediátricos

e naqueles com OM, o infiltrado tende a se localizar preferencialmente no espaço porta [111].

Ângulo et al. (1999) avaliaram os fatores de risco para ocorrência de fibrose septal ou cirrose

em 144 pacientes com EHNA, demonstrando que, em análise multivariada, a idade avançada,

a obesidade, a presença de DM2 e a razão AST/ALT > 1 foram independentemente

associadas a esse desfecho [112].

Outra observação relevante é que os achados histológicos implicados na progressão da

doença, em alguns estudos, são a inflamação lobular, a balonização, o grau de esteatose e a

presença de ferro [113, 114].

Embora as lesões encontradas na DHGNA, EHNA e cirrose apresentem um aspecto

muito semelhante ao da doença hepática alcoólica (DHA), os patologistas reconhecem que a

DHGNA e a EHNA não são, necessariamente, idênticas àquelas da DHA. Os aspectos

similares entre as duas entidades incluem esteatose macrovesicular, balonização

hepatocelular, inflamação lobular com infiltrado de leucócitos polimorfonuclares na zona 3,

fibrose perisinusoidal e corpúsculo de Mallory [110]. No entanto, existem lesões encontradas

na DHA que não foram ainda descritas na DHGNA e EHNA, tais como: necrose esclerosante

hialina, lesão veno-oclusiva, proliferação ductal, colangiolite e colestase aguda [115, 116].

Outros autores consideram que a esteato-hepatite com numerosos Corpúsculos de Mallory é

mais comumente encontrada na DHA do que na EHNA [117].

Um estudo realizado por meio de autópsias demonstrou que pequenas quantidades de

esteatose estão presentes em fígados normais, e que esses depósitos aumentam com a idade

[118]. Considera-se normal uma quantidade de até 5% (por amostra) de depósitos de lipídios

nos hepatócitos [119]. A intensidade da esteatose é classificada, semiquantitativamente, em

grau 1 (presença de depósitos de 5-33%); grau 2 (presença de depósitos entre 33 e 66%); e

26

grau 3 (presença de depósitos > de 66%). Com relação à atividade da EHNA, Brunt et

al.(1999) propuseram uma classificação em graus (1, 2 e 3), de acordo com a intensidade do

infiltrado inflamatório e da balonização hepatocelular (leve, moderada e severa);

similarmente, para a fibrose, foi proposta uma classificação em estágios 1, 2, 3 e 4, conforme

a intensidade e a localização desta. O estágio 1 remete à fibrose pericelular/perisinusoidal em

zona 3; o estágio 2 refere-se também à fibrose pericelular/perisinusoidal, mas se associa à

fibrose periportal; o estágio 3 remete às alterações anteriores mais fibrose em ponte;

finalmente, o estágio 4 relaciona-se à cirrose [110]

Kleiner et al. (2005) apresentaram o delineamento e a validação de um sistema de

escore da DHGNA. Nessa classificação, os autores utilizaram um escore que compreendia 14

achados histológicos, observando que, em análise multivariada, somente 5 características

foram independentemente associadas ao diagnóstico de EHNA: esteatose, inflamação lobular,

balonização, fibrose e ausência de lipogranulomas. Com relação à fibrose, esses autores

propõem uma subclassificação do grau 1 proposto por Brunt et al(1999), na qual o grau 1A

refere-se à fibrose sinusoidal/celular discreta; o grau 1B, à fibrose sinusoidal/celular densa e

difusa e o 1C, à fibrose portal. [120].

No entanto, tais classificações têm base em medidas semiquantitativas que refletem

um momento da eventual progressão da doença. Por exemplo, o escore de esteatose severa,

sem a presença de inflamação, portanto sem EHNA, pode representar apenas um momento

evolutivo que não afasta um prognóstico mais grave. Este escore tem sido considerado mais

como uma escala contínua para classificar a atividade da doença, do que uma ferramenta para

um diagnóstico mais preciso [121]. Alguns autores postulam que, se excluirmos a presença de

fibrose e lesões óbvias na zona 3, poderá existir uma ampla zona “cinza”, que dificulta um

diagnóstico mais preciso, ou uma esteatose acentuada em que a EHNA poderá ou não existir.

Esse assunto permanece, ainda, como objeto de debate entre os patologistas[120, 122, 123].

Recentemente, Bedossa et al. (2012) propõem um algoritmo para a categorização das

doenças hepáticas relacionadas à obesidade. Esses autores analisaram, prospectivamente, uma

ampla série de pacientes com OM e, retrospectivamente, uma série de biópsias hepáticas

realizadas em pacientes com SM sem OM. Realizando correlações com marcadores

bioquímicos comuns (AST, ALT, γ GT, colesterol e frações, entre outros), não foram

encontradas discrepâncias entre o tradicional escore de atividade e o algoritmo proposto.

Esses autores concluem que, para o diagnóstico de EHNA, é fundamental a presença de

esteatose associada à balonização e ao infiltrado inflamatório. Portanto, as biópsias que

apresentam esteatose associada apenas à balonização ou apenas ao infiltrado são classificadas

27

como DHGNA. Com base nesse estudo, esses autores sugerem uma nova nomenclatura

semelhante à classificação metavir das hepatites crônicas, o SAF score [121].

A importância da biópsia para a confirmação de EHNA é inquestionável [124]. No

entanto, sua relevância na prática clínica é tema de alguma controvérsia, uma vez que as

opções terapêuticas para essa patologia, excetuando-se a mudança do estilo de vida, a

diminuição dos fatores de risco e o – discutível – uso de algumas drogas, não são muitas além

do fato de que ainda estejam sob investigação [125].

1.4 OBESIDADE MÓRBIDA E DHGNA

Em pacientes candidatos à cirurgia bariátrica, cujo IMC é ≥ 35 ou ≥ 40 Kg/m2, é

estimada uma prevalência de DHGNA entre 84 e 96%, e de EHNA entre 25 e 55%, estando a

fibrose demonstrada em uma frequência de 34 e 47%. Nos indivíduos com EHNA, a fibrose

em ponte ou a cirrose são observada em uma frequência entre 2 e 12% [126]. Moretto et al.

(2011) encontraram fibrose em 35 (44,8%) das biópsias realizadas no transoperatório de 78

indivíduos obesos mórbidos que realizaram cirurgia bariátrica [127].

Na última década, a cirurgia da obesidade, ou cirurgia bariátrica (CB), tem se tornado

uma importante opção terapêutica no tratamento da OM, embora ainda existam resultados

conflitantes em relação à eficácia desse tratamento na melhora da EHNA. Em uma

metanálise, publicada em 2008, sobre os efeitos da CB na DHGNA, Mummadi et al. (2008)

apresentaram uma melhora da esteatose em 92% dos pacientes, uma melhora ou resolução da

EHNA em 81% e uma melhora ou resolução da fibrose em 65% dos pacientes [128]. Outros

autores como Andrade et al. (2008) encontraram melhora em todos os parâmetros

relacionados à DHGNA em 40 pacientes submetidos à CB com um segmento de 12 e 30

meses após a perda de peso [129]. Por outro lado, Dixon et al. (2004), comparando biópsias

pareadas, durante a CB e após perda de peso, realizadas em 36 pacientes portadores de

DHGNA, demonstraram que, apesar da melhora da esteatose e da atividade necroinflamatória,

o infiltrado portal permaneceu inalterado [130]. Dados do Nonalcoholic Steatohepatitis

Clinical Research Network, em que foram analisadas biópsias de 728 adultos e 205 crianças

com DHGNA, mostram que o aumento da inflamação crônica portal está associado a aspectos

clínicos e patológicos de progressão da DHGNA nesses pacientes. Os autores sugerem que a

inflamação crônica portal seja um marcador histológico de DHGNA avançada [131]. Em um

importante estudo, no qual foram acompanhados 381 pacientes, com biópsias sucessivas

realizadas antes, em 1 ano e em 5 anos após CB, Mathurin et al. (2009), encontraram

28

esteatose severa, no pré-operatório, em 32,5% dos casos. Destes, houve uma persistência da

esteatose em apenas 8,8%, ao final de 5 anos. Também houve uma diminuição da

balonização, embora o grau de inflamação não tenha se alterado durante o período de

observação. Esse estudo também demonstrou que a RI e o IMC, foram associados com pior

prognóstico e com maior índice de fibrose. Ao final dos 5 anos de pós-operatório, houve piora

dos níveis de fibrose em 19,8% dos casos, enquanto que, em 80,2%, a fibrose regrediu ou

permaneceu estável. O único fator de risco para piora da fibrose, em análise multivariada, foi

o estágio da fibrose nas biópsias do pré-operatório [132]. Por outro lado, o estudo brasileiro

de Furuya et al. (2007), avaliando uma menor casuística, não encontrou piora da fibrose após

perda de peso maciça (mais de 60% do peso inicial)[133].

Novas técnicas cirúrgicas, como a banda gástrica ajustável e by pass gástrico com Y

em Roux, são melhor toleradas pelos pacientes com OM e apresentam menor

morbimortalidade pós-operatória [134]. Pela análise dos achados histopatológicos de 160

pacientes submetidos à CB, incluindo aqueles com marcadores sorológicos positivos para

hepatite viral (B ou C) e com ingestão alcoólica elevada (mais de 30g/dia em homens e mais

de 20g/dia em mulheres) Liew et al. (2006) encontraram uma prevalência de EHNA em

33,8% casos. Destes, 9,2% apresentavam fibrose em ponte. Nessa série, foi observado que a

glicemia e as transaminases são preditores de balonização hepatocelular; além disso, a análise

histológica demonstrou que a presença de esteatose e balonização foi fator de risco

independente para EHNA, quando comparado com pacientes com hepatite crônica B. Os

autores ressaltam que a presença de esteatose, de SM e dano hepatocelular são comuns em

pacientes obesos e sinalizam para a coexistência de EHNA com outras patologias hepáticas

[135]. Mosko et al. (2011) identificaram altas taxas de mortalidade em pacientes que foram à

CB, que já apresentavam cirrose, sugerindo que esse procedimento deve ser realizado em

centros com grande experiência em CB [136].

Os dados indicados fortalecem os argumentos favoráveis à realização de biópsia

hepática, num subgrupo de pacientes com risco aumentado de cirrose, na rotina da avaliação

pré-operatória de pacientes que vão se submeter à CB.

29

2 JUSTIFICATIVA

Tendo em vista o alarmante aumento da incidência de obesidade em diversas regiões

do mundo, incluindo o estado do Rio Grande do Sul, e também o aparecimento de novas

opções terapêuticas, dentre elas a cirurgia da obesidade, torna-se muito importante o

desenvolvimento de protocolos de estudo com o objetivo de aumentar o conhecimento sobre a

doença gordurosa do fígado.

O desenvolvimento de técnicas cirúrgicas para o tratamento da OM tem determinado

uma melhora no prognóstico dos pacientes e oferecido excelentes dados para o estudo clínico

da DHGNA e EHNA. Moretto et al. (2011), relataram uma redução da prevalência de fibrose

em biópsias realizadas durante a CB, e após a perda de peso, em 78 pacientes com OM [127].

O crescente aumento do número de cirurgias bariátricas, realizadas no Centro de

Tratamento da Obesidade do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre, fornece

uma substancial casuística para a análise das alterações hepáticas que ocorrem nestes

pacientes. A partir da análise de dados histológicos de biópsias hepáticas e sua correlação com

dados laboratoriais esse estudo procurou ampliar o conhecimento sobre as alterações

hepáticas relacionadas à OM.

30

3 OBJETIVOS

3.1 GERAL

Determinar os fatores de risco para a ocorrência de EHNA e/ou fibrose na DHGNA

em indivíduos com OM submetidos à CB.

3.2 ESPECÍFICOS

- Avaliar a severidade da esteatose nos pacientes com OM tratados com CB;

- Determinar a prevalência de EHNA nos pacientes com esteatose tratados com CB;

- Avaliar a presença de siderose hepatocitária nos pacientes com OM e DHGNA.

31

REFERÊNCIAS

[1] White DL, Kanwal F, El-Serag HB. Association Between Nonalcoholic Fatty Liver Disease and Risk for Hepatocellular Cancer, Based on Systematic Review. Clin Gastroenterol Hepatol.2012 Dec;10(12):1342-59 e2.

[2] Misra A, Khurana L. Obesity and the metabolic syndrome in developing countries. J Clin Endocrinol Metab. 2008 Nov;93(11 Suppl 1):S9-30.

[3] Marquezine GF, Oliveira CM, Pereira AC, Krieger JE, Mill JG. Metabolic syndrome determinants in an urban population from Brazil: social class and gender-specific interaction. International Journal of Cardiology. 2008 Sep 26;129(2):259-65.

[4] Cali AM, Caprio S. Obesity in children and adolescents. J Clin Endocrinol Metab. 2008 Nov;93(11 Suppl 1):S31-6.

[5] Flegal KM, Carroll MD, Ogden CL, Curtin LR. Prevalence and trends in obesity among US adults, 1999-2008. Jama.2010 Jan 20;303(3):235-41.

[6] Instituto Brasileiro de geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009 despesas recdv. http://wwwibgegovbr 2010 (cited 2012 Oct 16) [cited; Available from:

[7] Item F, Konrad D. Visceral fat and metabolic inflammation: the portal theory revisited. Obes Rev.2012 Dec;13 Suppl 2:30-9.

[8] Zhang Y, Proenca R, Maffei M, Barone M, Leopold L, Friedman JM. Positional cloning of the mouse obese gene and its human homologue. Nature. 1994 Dec 1;372(6505):425-32.

[9] Kershaw EE, Flier JS. Adipose tissue as an endocrine organ. J Clin Endocrinol Metab. 2004 Jun;89(6):2548-56.

[10] Sbarbati A, Osculati F, Silvagni D, Benati D, Galie M, Camoglio FS, et al. Obesity and inflammation: evidence for an elementary lesion. Pediatrics. 2006 Jan;117(1):220-3.

[11] Fruhbeck G, Gomez-Ambrosi J, Muruzabal FJ, Burrell MA. The adipocyte: a model for integration of endocrine and metabolic signaling in energy metabolism regulation. Am J Physiol Endocrinol Metab. 2001 Jun;280(6):E827-47.

[12] Lazar MA. How obesity causes diabetes: not a tall tale. Science. 2005 Jan 21;307(5708):373-5.

[13] Cartier A, Lemieux I, Almeras N, Tremblay A, Bergeron J, Despres JP. Visceral obesity and plasma glucose-insulin homeostasis: contributions of interleukin-6 and tumor necrosis factor-alpha in men. J Clin Endocrinol Metab. 2008 May;93(5):1931-8.

32

[14] Brook RD, Bard RL, Rubenfire M, Ridker PM, Rajagopalan S. Usefulness of visceral obesity (waist/hip ratio) in predicting vascular endothelial function in healthy overweight adults. Am J Cardiol. 2001 Dec 1;88(11):1264-9.

[15] Grundy SM, Brewer HB, Jr., Cleeman JI, Smith SC, Jr., Lenfant C. Definition of metabolic syndrome: report of the National Heart, Lung, and Blood Institute/American Heart Association conference on scientific issues related to definition. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2004 Feb;24(2):e13-8.

[16] Han SH, Quon MJ, Kim JA, Koh KK. Adiponectin and cardiovascular disease: response to therapeutic interventions. J Am Coll Cardiol. 2007 Feb 6;49(5):531-8.

[17] Ouchi N, Ohishi M, Kihara S, Funahashi T, Nakamura T, Nagaretani H, et al. Association of hypoadiponectinemia with impaired vasoreactivity. Hypertension. 2003 Sep;42(3):231-4.

[18] Wolk R, Berger P, Lennon RJ, Brilakis ES, Davison DE, Somers VK. Association between plasma adiponectin levels and unstable coronary syndromes. Eur Heart J. 2007 Feb;28(3):292-8.

[19] Ahima RS, Flier JS. Adipose tissue as an endocrine organ. Trends Endocrinol Metab. 2000 Oct;11(8):327-32.

[20] Berg AH, Scherer PE. Adipose tissue, inflammation, and cardiovascular disease. Circ Res. 2005 May 13;96(9):939-49.

[21] Aeberli I, Biebinger R, Lehmann R, L'Allemand D, Spinas GA, Zimmermann MB. Serum retinol-binding protein 4 concentration and its ratio to serum retinol are associated with obesity and metabolic syndrome components in children. J Clin Endocrinol Metab. 2007 Nov;92(11):4359-65.

[22] Janke J, Engeli S, Boschmann M, Adams F, Bohnke J, Luft FC, et al. Retinol-binding protein 4 in human obesity. Diabetes. 2006 Oct;55(10):2805-10.

[23] de Ferranti S, Mozaffarian D. The perfect storm: obesity, adipocyte dysfunction, and metabolic consequences. Clin Chem. 2008 Jun;54(6):945-55.

[24] Gregor MF, Hotamisligil GS. Thematic review series: Adipocyte Biology. Adipocyte stress: the endoplasmic reticulum and metabolic disease. J Lipid Res. 2007 Sep;48(9):1905-14.

[25] Petersen KF, Befroy D, Dufour S, Dziura J, Ariyan C, Rothman DL, et al. Mitochondrial dysfunction in the elderly: possible role in insulin resistance. Science. 2003 May 16;300(5622):1140-2.

[26] Mohamed-Ali V, Goodrick S, Rawesh A, Katz DR, Miles JM, Yudkin JS, et al. Subcutaneous adipose tissue releases interleukin-6, but not tumor necrosis factor-alpha, in vivo. J Clin Endocrinol Metab. 1997 Dec;82(12):4196-200.

[27] Kern PA, Saghizadeh M, Ong JM, Bosch RJ, Deem R, Simsolo RB. The expression of tumor necrosis factor in human adipose tissue. Regulation by obesity, weight loss, and

33

relationship to lipoprotein lipase. The Journal of clinical investigation. 1995 May;95(5):2111-9.

[28] Miyazaki Y, Pipek R, Mandarino LJ, DeFronzo RA. Tumor necrosis factor alpha and insulin resistance in obese type 2 diabetic patients. Int J Obes Relat Metab Disord. 2003 Jan;27(1):88-94.

[29] Yang Q, Graham TE, Mody N, Preitner F, Peroni OD, Zabolotny JM, et al. Serum retinol binding protein 4 contributes to insulin resistance in obesity and type 2 diabetes. Nature. 2005 Jul 21;436(7049):356-62.

[30] Wolf G. Serum retinol-binding protein: a link between obesity, insulin resistance, and type 2 diabetes. Nutr Rev. 2007 May;65(5):251-6.

[31] Pearson TA, Mensah GA, Alexander RW, Anderson JL, Cannon RO, 3rd, Criqui M, et al. Markers of inflammation and cardiovascular disease: application to clinical and public health practice: A statement for healthcare professionals from the Centers for Disease Control and Prevention and the American Heart Association. Circulation. 2003 Jan 28;107(3):499-511.

[32] Bahceci M, Gokalp D, Bahceci S, Tuzcu A, Atmaca S, Arikan S. The correlation between adiposity and adiponectin, tumor necrosis factor alpha, interleukin-6 and high sensitivity C-reactive protein levels. Is adipocyte size associated with inflammation in adults? J Endocrinol Invest. 2007 Mar;30(3):210-4.

[33] Cook DG, Mendall MA, Whincup PH, Carey IM, Ballam L, Morris JE, et al. C-reactive protein concentration in children: relationship to adiposity and other cardiovascular risk factors. Atherosclerosis. 2000 Mar;149(1):139-50.

[34] Vague J. The degree of masculine differentiation of obesities: a factor determining predisposition to diabetes, atherosclerosis, gout, and uric calculous disease. Am J Clin Nutr. 1956 Jan-Feb;4(1):20-34.

[35] Marchesini G, Brizi M, Morselli-Labate AM, Bianchi G, Bugianesi E, McCullough AJ, et al. Association of nonalcoholic fatty liver disease with insulin resistance. Am J Med. 1999 Nov;107(5):450-5.

[36] Misra A, Garg A, Abate N, Peshock RM, Stray-Gundersen J, Grundy SM. Relationship of anterior and posterior subcutaneous abdominal fat to insulin sensitivity in nondiabetic men. Obes Res. 1997 Mar;5(2):93-9.

[37] Snijder MB, Dekker JM, Visser M, Bouter LM, Stehouwer CD, Kostense PJ, et al. Associations of hip and thigh circumferences independent of waist circumference with the incidence of type 2 diabetes: the Hoorn Study. Am J Clin Nutr. 2003 May;77(5):1192-7.

[38] Tanko LB, Bagger YZ, Alexandersen P, Larsen PJ, Christiansen C. Peripheral adiposity exhibits an independent dominant antiatherogenic effect in elderly women. Circulation. 2003 Apr 1;107(12):1626-31.

34

[39] Porter SA, Massaro JM, Hoffmann U, Vasan RS, O'Donnel CJ, Fox CS. Abdominal subcutaneous adipose tissue: a protective fat depot? Diabetes Care. 2009 Jun;32(6):1068-75.

[40] Snijder MB, Dekker JM, Visser M, Yudkin JS, Stehouwer CD, Bouter LM, et al. Larger thigh and hip circumferences are associated with better glucose tolerance: the Hoorn study. Obes Res. 2003 Jan;11(1):104-11.

[41] Bays HE, Fox KM, Grandy S. Anthropometric measurements and diabetes mellitus: clues to the "pathogenic" and "protective" potential of adipose tissue. Metab Syndr Relat Disord. Aug;8(4):307-15.

[42] Yang X, Smith U. Adipose tissue distribution and risk of metabolic disease: does thiazolidinedione-induced adipose tissue redistribution provide a clue to the answer? Diabetologia. 2007 Jun;50(6):1127-39.

[43] Arner P. Not all fat is alike. Lancet. 1998(351):1301-2.

[44] Bjorntorp P. "Portal" adipose tissue as a generator of risk factors for cardiovascular disease and diabetes. Arteriosclerosis. 1990 Jul-Aug;10(4):493-6.

[45] Ostman J, Arner P, Engfeldt P, Kager L. Regional differences in the control of lipolysis in human adipose tissue. Metabolism. 1979 Dec;28(12):1198-205.

[46] Berg AH, Combs TP, Scherer PE. ACRP30/adiponectin: an adipokine regulating glucose and lipid metabolism. Trends Endocrinol Metab. 2002 Mar;13(2):84-9.

[47] Kim JY, van de Wall E, Laplante M, Azzara A, Trujillo ME, Hofmann SM, et al. Obesity-associated improvements in metabolic profile through expansion of adipose tissue. The Journal of clinical investigation. 2007 Sep;117(9):2621-37.

[48] Yamauchi T, Kamon J, Waki H, Terauchi Y, Kubota N, Hara K, et al. The fat-derived hormone adiponectin reverses insulin resistance associated with both lipoatrophy and obesity. Nat Med. 2001 Aug;7(8):941-6.

[49] Lafontan M, Berlan M. Do regional differences in adipocyte biology provide new pathophysiological insights? Trends Pharmacol Sci. 2003 Jun;24(6):276-83.

[50] Motoshima H, Wu X, Sinha MK, Hardy VE, Rosato EL, Barbot DJ, et al. Differential regulation of adiponectin secretion from cultured human omental and subcutaneous adipocytes: effects of insulin and rosiglitazone. J Clin Endocrinol Metab. 2002 Dec;87(12):5662-7.

[51] Abate N, Garg A, Peshock RM, Stray-Gundersen J, Grundy SM. Relationships of generalized and regional adiposity to insulin sensitivity in men. The Journal of clinical investigation. 1995 Jul;96(1):88-98.

[52] Bergman RN, Ader M. Free fatty acids and pathogenesis of type 2 diabetes mellitus. Trends Endocrinol Metab. 2000 Nov;11(9):351-6.

[53] Boden G. Role of fatty acids in the pathogenesis of insulin resistance and NIDDM. Diabetes. 1997 Jan;46(1):3-10.

35

[54] Thorne A, Lonnqvist F, Apelman J, Hellers G, Arner P. A pilot study of long-term effects of a novel obesity treatment: omentectomy in connection with adjustable gastric banding. Int J Obes Relat Metab Disord. 2002 Feb;26(2):193-9.

[55] Csendes A, Maluenda F, Burgos AM. A prospective randomized study comparing patients with morbid obesity submitted to laparotomic gastric bypass with or without omentectomy. Obesity surgery. 2009 Apr;19(4):490-4.

[56] Fabbrini E, Tamboli RA, Magkos F, Marks-Shulman PA, Eckhauser AW, Richards WO, et al. Surgical removal of omental fat does not improve insulin sensitivity and cardiovascular risk factors in obese adults. Gastroenterology. 2010 Aug;139(2):448-55.

[57] Abate N, Garg A, Peshock RM, Stray-Gundersen J, Adams-Huet B, Grundy SM. Relationship of generalized and regional adiposity to insulin sensitivity in men with NIDDM. Diabetes. 1996 Dec;45(12):1684-93.

[58] Banerji MA, Chaiken RL, Gordon D, Kral JG, Lebovitz HE. Does intra-abdominal adipose tissue in black men determine whether NIDDM is insulin-resistant or insulin-sensitive? Diabetes. 1995 Feb;44(2):141-6.

[59] Goodpaster BH, Thaete FL, Simoneau JA, Kelley DE. Subcutaneous abdominal fat and thigh muscle composition predict insulin sensitivity independently of visceral fat. Diabetes. 1997 Oct;46(10):1579-85.

[60] Miles JM, Jensen MD. Counterpoint: visceral adiposity is not causally related to insulin resistance. Diabetes Care. 2005 Sep;28(9):2326-8.

[61] Jensen MD. Is visceral fat involved in the pathogenesis of the metabolic syndrome? Human model. Obesity (Silver Spring). 2006 Feb;14 Suppl 1:20S-4S.

[62] Nielsen S, Guo Z, Johnson CM, Hensrud DD, Jensen MD. Splanchnic lipolysis in human obesity. The Journal of clinical investigation. 2004 Jun;113(11):1582-8.

[63] Rytka JM, Wueest S, Schoenle EJ, Konrad D. The portal theory supported by venous drainage-selective fat transplantation. Diabetes.2011 Jan;60(1):56-63.

[64] Catalano KJ, Stefanovski D, Bergman RN. Critical role of the mesenteric depot versus other intra-abdominal adipose depots in the development of insulin resistance in young rats. Diabetes. 2010. Jun;59(6):1416-23.

[65] Poirier P, Giles TD, Bray GA, Hong Y, Stern JS, Pi-Sunyer FX, et al. Obesity and cardiovascular disease: pathophysiology, evaluation, and effect of weight loss: an update of the 1997 American Heart Association Scientific Statement on Obesity and Heart Disease from the Obesity Committee of the Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism. Circulation. 2006 Feb 14;113(6):898-918.

[66] Hosogai N, Fukuhara A, Oshima K, Miyata Y, Tanaka S, Segawa K, et al. Adipose tissue hypoxia in obesity and its impact on adipocytokine dysregulation. Diabetes. 2007 Apr;56(4):901-11.

36

[67] Samuel VT, Shulman GI. Mechanisms for insulin resistance: common threads and missing links. Cell. 2012 Mar 2;148(5):852-71.

[68] Ozcan U, Cao Q, Yilmaz E, Lee AH, Iwakoshi NN, Ozdelen E, et al. Endoplasmic reticulum stress links obesity, insulin action, and type 2 diabetes. Science. 2004 Oct 15;306(5695):457-61.

[69] Mathew M, Tay E, Cusi K. Elevated plasma free fatty acids increase cardiovascular risk by inducing plasma biomarkers of endothelial activation, myeloperoxidase and PAI-1 in healthy subjects. Cardiovasc Diabetol.2010 Feb 16; 9:9.

[70] Gregor MF, Yang L, Fabbrini E, Mohammed BS, Eagon JC, Hotamisligil GS, et al. Endoplasmic reticulum stress is reduced in tissues of obese subjects after weight loss. Diabetes. 2009 Mar;58(3):693-700.

[71] Yamamoto K, Takahara K, Oyadomari S, Okada T, Sato T, Harada A, et al. Induction of liver steatosis and lipid droplet formation in ATF6alpha-knockout mice burdened with pharmacological endoplasmic reticulum stress. Molecular Biology of the Cell.2010 Sep 1;21(17):2975-86.

[72] Zhang X, Xu A, Chung SK, Cresser JH, Sweeney G, Wong RL, et al. Selective inactivation of c-Jun NH2-terminal kinase in adipose tissue protects against diet-induced obesity and improves insulin sensitivity in both liver and skeletal muscle in mice. Diabetes. 2011 Feb;60(2):486-95.

[73] Kammoun HL, Chabanon H, Hainault I, Luquet S, Magnan C, Koike T, et al. GRP78 expression inhibits insulin and ER stress-induced SREBP-1c activation and reduces hepatic steatosis in mice. The Journal of clinical investigation. 2009 May;119(5):1201-15.

[74] Westwater JO, Fainer D. Liver impairment in the obese. Gastroenterology. 1958 Apr;34(4):686-93.

[75] Ludwig J, Viggiano TR, McGill DB, Oh BJ. Nonalcoholic steatohepatitis: Mayo Clinic experiences with a hitherto unnamed disease. Mayo Clin Proc. 1980 Jul;55(7):434-8.

[76] Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Diehl AM, Brunt EM, Cusi K, et al. The diagnosis and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice Guideline by the American Association for the Study of Liver Diseases, American College of Gastroenterology, and the American Gastroenterological Association. Hepatology 2012 Baltimore, Md. Jun;55(6):2005-23.

[77] Suzuki A, Angulo P, Lymp J, St Sauver J, Muto A, Okada T, et al. Chronological development of elevated aminotransferases in a nonalcoholic population. Hepatology (Baltimore, Md. 2005 Jan;41(1):64-71.

[78] Hamaguchi M, Kojima T, Takeda N, Nakagawa T, Taniguchi H, Fujii K, et al. The metabolic syndrome as a predictor of nonalcoholic fatty liver disease. Ann Intern Med. 2005 Nov 15;143(10):722-8.

37

[79] Whalley S, Puvanachandra P, Desai A, Kennedy H. Hepatology outpatient service provision in secondary care: a study of liver disease incidence and resource costs. Clin Med. 2007 Apr;7(2):119-24.

[80] Nomura H, Kashiwagi S, Hayashi J, Kajiyama W, Tani S, Goto M. Prevalence of fatty liver in a general population of Okinawa, Japan. Jpn J Med. 1988 May;27(2):142-9.

[81] Lee JY, Kim KM, Lee SG, Yu E, Lim YS, Lee HC, et al. Prevalence and risk factors of non-alcoholic fatty liver disease in potential living liver donors in Korea: a review of 589 consecutive liver biopsies in a single center. Journal of hepatology. 2007 Aug;47(2):239-44.

[82] Marcos A, Fisher RA, Ham JM, Olzinski AT, Shiffman ML, Sanyal AJ, et al. Selection and outcome of living donors for adult to adult right lobe transplantation. Transplantation. 2000 Jun 15;69(11):2410-5.

[83] Vernon G, Baranova A, Younossi ZM. Systematic review: the epidemiology and natural history of non-alcoholic fatty liver disease and non-alcoholic steatohepatitis in adults. Aliment Pharmacol Ther 2011 Aug;34(3):274-85.

[84] Clark JM, Brancati FL, Diehl AM. Nonalcoholic fatty liver disease. Gastroenterology. 2002 May;122(6):1649-57.

[85] Leite NC, Villela-Nogueira CA, Pannain VL, Bottino AC, Rezende GF, Cardoso CR, et al. Histopathological stages of nonalcoholic fatty liver disease in type 2 diabetes: prevalences and correlated factors. Liver Int. 2011 May;31(5):700-6.

[86] Zamin I, Jr., de Mattos AA, Zettler CG. Nonalcoholic steatohepatitis in nondiabetic obese patients. Canadian journal of gastroenterology = Journal canadien de gastroenterologie. 2002 May;16(5):303-7.

[87] Day CP, James OF. Steatohepatitis: a tale of two "hits"? Gastroenterology. 1998 Apr;114(4):842-5.

[88] Koteish A, Diehl AM. Animal models of steatosis. Semin Liver Dis. 2001;21(1):89-104.

[89] Zangar RC, Novak RF. Effects of fatty acids and ketone bodies on cytochromes P450 2B, 4A, and 2E1 expression in primary cultured rat hepatocytes. Arch Biochem Biophys. 1997 Jan 15;337(2):217-24.

[90] Leclercq IA, Farrell GC, Field J, Bell DR, Gonzalez FJ, Robertson GR. CYP2E1 and CYP4A as microsomal catalysts of lipid peroxides in murine nonalcoholic steatohepatitis. The Journal of clinical investigation. 2000 Apr;105(8):1067-75.

[91] Bacon BR, O'Neill R, Britton RS. Hepatic mitochondrial energy production in rats with chronic iron overload. Gastroenterology. 1993 Oct;105(4):1134-40.

[92] Sanyal AJ, Campbell-Sargent C, Mirshahi F, Rizzo WB, Contos MJ, Sterling RK, et al. Nonalcoholic steatohepatitis: association of insulin resistance and mitochondrial abnormalities. Gastroenterology. 2001 Apr;120(5):1183-92.

38

[93] Angelucci E, Brittenham GM, McLaren CE, Ripalti M, Baronciani D, Giardini C, et al. Hepatic iron concentration and total body iron stores in thalassemia major. N Engl J Med. 2000 Aug 3;343(5):327-31.

[94] Sorrentino P, D'Angelo S, Ferbo U, Micheli P, Bracigliano A, Vecchione R. Liver iron excess in patients with hepatocellular carcinoma developed on non-alcoholic steato-hepatitis. Journal of hepatology. 2009 Feb;50(2):351-7.

[95] Pietrangelo A. Iron in NASH, chronic liver diseases and HCC: how much iron is too much? J Hepatol. 2009 Feb;50(2):249-51.

[96] Mendler MH, Turlin B, Moirand R, Jouanolle AM, Sapey T, Guyader D, et al. Insulin resistance-associated hepatic iron overload. Gastroenterology. 1999 Nov;117(5):1155-63.

[97] Valenti L, Fracanzani AL, Dongiovanni P, Bugianesi E, Marchesini G, Manzini P, et al. Iron depletion by phlebotomy improves insulin resistance in patients with nonalcoholic fatty liver disease and hyperferritinemia: evidence from a case-control study. Am J Gastroenterol. 2007 Jun;102(6):1251-8.

[98] Zamin I, Jr., Mattos AA, Mattos AZ, Migon E, Bica C, Alexandre CO. Prevalence of the hemochromatosis gene mutation in patients with nonalcoholic steatohepatitis and correlation with degree of liver fibrosis. Arq Gastroenterol. 2006 Jul-Sep;43(3):224-8.

[99] Harrison SA, Kadakia S, Lang KA, Schenker S. Nonalcoholic steatohepatitis: what we know in the new millennium. Am J Gastroenterol. 2002 Nov;97(11):2714-24.

[100] Musso G, Gambino R, Cassader M, Pagano G. Meta-analysis: natural history of non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD) and diagnostic accuracy of non-invasive tests for liver disease severity. Annals of Medicine 2011 Dec;43(8):617-49.

[101] Uysal S, Armutcu F, Aydogan T, Akin K, Ikizek M, Yigitoglu MR. Some inflammatory cytokine levels, iron metabolism and oxidan stress markers in subjects with nonalcoholic steatohepatitis. Clin Biochem. 2011 Dec;44(17-18):1375-9.

[102] Diehl AM, Goodman Z, Ishak KG. Alcohollike liver disease in nonalcoholics. A clinical and histologic comparison with alcohol-induced liver injury. Gastroenterology. 1988 Oct;95(4):1056-62.

[103] Friedman SL. Seminars in medicine of the Beth Israel Hospital, Boston. The cellular basis of hepatic fibrosis. Mechanisms and treatment strategies. The New England journal of medicine. 1993 Jun 24;328(25):1828-35.

[104] Ikejima K, Takei Y, Honda H, Hirose M, Yoshikawa M, Zhang YJ, et al. Leptin receptor-mediated signaling regulates hepatic fibrogenesis and remodeling of extracellular matrix in the rat. Gastroenterology. 2002 May;122(5):1399-410.

[105] Saxena NK, Ikeda K, Rockey DC, Friedman SL, Anania FA. Leptin in hepatic fibrosis: evidence for increased collagen production in stellate cells and lean littermates of ob/ob mice. Hepatology (Baltimore, Md. 2002 Apr;35(4):762-71.

39

[106] Bacon BR, Farahvash MJ, Janney CG, Neuschwander-Tetri BA. Nonalcoholic steatohepatitis: an expanded clinical entity. Gastroenterology. 1994 Oct;107(4):1103-9.

[107] DeFronzo RA, Ferrannini E. Insulin resistance. A multifaceted syndrome responsible for NIDDM, obesity, hypertension, dyslipidemia, and atherosclerotic cardiovascular disease. Diabetes Care. 1991 Mar;14(3):173-94.

[108] Brunt EM. Nonalcoholic steatohepatitis. Semin Liver Dis. 2004 Feb;24(1):3-20.

[109] Falck-Ytter Y, Younossi ZM, Marchesini G, McCullough AJ. Clinical features and natural history of nonalcoholic steatosis syndromes. Semin Liver Dis. 2001;21(1):17-26.

[110] Brunt EM, Janney CG, Di Bisceglie AM, Neuschwander-Tetri BA, Bacon BR. Nonalcoholic steatohepatitis: a proposal for grading and staging the histological lesions. The American journal of gastroenterology. 1999 Sep;94(9):2467-74.

[111] Liu X, Lazenby AJ, Clements RH, Jhala N, Abrams GA. Resolution of nonalcoholic steatohepatits after gastric bypass surgery. Obesity surgery. 2007 Apr;17(4):486-92.

[112] Angulo P, Keach JC, Batts KP, Lindor KD. Independent predictors of liver fibrosis in patients with nonalcoholic steatohepatitis. Hepatology (Baltimore, Md. 1999 Dec;30(6):1356-62.

[113] George DK, Goldwurm S, MacDonald GA, Cowley LL, Walker NI, Ward PJ, et al. Increased hepatic iron concentration in nonalcoholic steatohepatitis is associated with increased fibrosis. Gastroenterology. 1998 Feb;114(2):311-8.

[114] Ratziu V, Giral P, Charlotte F, Bruckert E, Thibault V, Theodorou I, et al. Liver fibrosis in overweight patients. Gastroenterology. 2000 Jun;118(6):1117-23.

[115] Brunt EM. Alcoholic and nonalcoholic steatohepatitis. Clin Liver Dis. 2002 May;6(2):399-420, vii.

[116] Brunt EM, Tiniakos DG. Pathology of steatohepatitis. Best Pract Res Clin Gastroenterol. 2002 Oct;16(5):691-707.

[117] Ludwig J, McGill DB, Lindor KD. Review: nonalcoholic steatohepatitis. Journal of gastroenterology and hepatology. 1997 May;12(5):398-403.

[118] Hilden M, Christoffersen P, Juhl E, Dalgaard JB. Liver histology in a 'normal' population--examinations of 503 consecutive fatal traffic casualties. Scand J Gastroenterol. 1977;12(5):593-7.

[119] Burt AD, Mutton A, Day CP. Diagnosis and interpretation of steatosis and steatohepatitis. Semin Diagn Pathol. 1998 Nov;15(4):246-58.

[120] Kleiner DE, Brunt EM, Van Natta M, Behling C, Contos MJ, Cummings OW, et al. Design and validation of a histological scoring system for nonalcoholic fatty liver disease. Hepatology (Baltimore, Md. 2005 Jun;41(6):1313-21.

40

[121] Bedossa P, Poitou C, Veyrie N, Bouillot JL, Basdevant A, Paradis V, et al. Histopathological algorithm and scoring system for evaluation of liver lesions in morbidly obese patients. Hepatology 2012 Baltimore, Md. Nov;56(5):1751-9.

[122] Brunt EM, Kleiner DE, Wilson LA, Belt P, Neuschwander-Tetri BA. Nonalcoholic fatty liver disease (NAFLD) activity score and the histopathologic diagnosis in NAFLD: distinct clinicopathologic meanings. Hepatology 2011 Baltimore, Md. Mar;53(3):810-20.

[123] Brunt EM, Kleiner DE, Behling C, Contos MJ, Cummings OW, Ferrell LD, et al. Misuse of scoring systems. Hepatology 2011 Baltimore, Md. Jul;54(1):369-70; author reply 70-1.

[124] Angulo P. Nonalcoholic fatty liver disease. The New England journal of medicine. 2002 Apr 18;346(16):1221-31.

[125] Cotrim HP, Daltro C. Liver: Does bariatric surgery reduce the severity of NAFLD? Nat Rev Gastroenterol Hepatol.2010 Jan;7(1):11-3.

[126] Clark JM. The epidemiology of nonalcoholic fatty liver disease in adults. J Clin Gastroenterol. 2006 Mar;40 Suppl 1:S5-10.

[127] Moretto M, Kupski C, da Silva VD, Padoin AV, Mottin CC. Effect of Bariatric Surgery on Liver Fibrosis. Obes Surg. 2011 Nov 23.

[128] Mummadi RR, Kasturi KS, Chennareddygari S, Sood GK. Effect of bariatric surgery on nonalcoholic fatty liver disease: systematic review and meta-analysis. Clin Gastroenterol Hepatol. 2008 Dec;6(12):1396-402.

[129] de Andrade AR, Cotrim HP, Alves E, Soares D, Rocha R, Almeida A, et al. Nonalcoholic fatty liver disease in severely obese individuals: the influence of bariatric surgery. Ann Hepatol. 2008 Oct-Dec;7(4):364-8.

[130] Dixon JB, Bhathal PS, Hughes NR, O'Brien PE. Nonalcoholic fatty liver disease: Improvement in liver histological analysis with weight loss. Hepatology (Baltimore, Md. 2004 Jun;39(6):1647-54.

[131] Brunt EM, Kleiner DE, Wilson LA, Unalp A, Behling CE, Lavine JE, et al. Portal chronic inflammation in nonalcoholic fatty liver disease (NAFLD): a histologic marker of advanced NAFLD-Clinicopathologic correlations from the nonalcoholic steatohepatitis clinical research network. Hepatology (Baltimore, Md. 2009 Mar;49(3):809-20.

[132] Mathurin P, Hollebecque A, Arnalsteen L, Buob D, Leteurtre E, Caiazzo R, et al. Prospective study of the long-term effects of bariatric surgery on liver injury in patients without advanced disease. Gastroenterology. 2009 Aug;137(2):532-40.

[133] Furuya CK, Jr., de Oliveira CP, de Mello ES, Faintuch J, Raskovski A, Matsuda M, et al. Effects of bariatric surgery on nonalcoholic fatty liver disease: preliminary findings after 2 years. Journal of Gastroenterology and Hepatology. 2007 Apr;22(4):510-4.

41

[134] Colquitt JL, Picot J, Loveman E, Clegg AJ. Surgery for obesity. Cochrane Database Syst Rev. 2009(2):CD003641.

[135] Liew PL, Lee WJ, Lee YC, Wang HH, Wang W, Lin YC. Hepatic histopathology of morbid obesity: concurrence of other forms of chronic liver disease. Obesity Surgery. 2006 Dec;16(12):1584-93.

[136] Mosko JD, Nguyen GC. Increased perioperative mortality following bariatric surgery among patients with cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol 2011 Oct;9(10):897-901.

42

4 ARTIGO 1 – VERSÃO EM PORTUGUÊS

ACHADOS ANATOMOPATOLÓGICOS EM FÍGADO DE PACIENTES OBESOS

MÓRBIDOS, SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICA, EM UM CENTRO DE

REFERÊNCIA.

Losekann A., Coral GP.

43

RESUMO

Introdução: a doença hepática gordurosa não alcoólica engloba um espectro de alterações

histopatológicas que abrangem desde a esteatose simples (ES) até a esteato-hepatite não

alcoólica (EHNA). Trabalhos sugerem que depósitos de ferro (Fe) no fígado estão envolvidos

na fisiopatologia da EHNA. Objetivo: determinar a prevalência de ES e de EHNA nos

pacientes com obesidade mórbida, submetidos à cirurgia bariátrica e estabelecer uma

correlação dos achados anatomopatológicos com a presença de fibrose hepática. Método:

foram analisadas 250 biópsias hepáticas realizadas no transoperatório das cirurgias.

Resultados: a esteatose esteve presente em 226 (90,4%) das amostras, sendo, 76 (30,4%)

classificadas como leves; 71 (28,4%), como moderadas e 79 (31,6%) como intensas. A EHNA

foi diagnosticada em 176 (70,4%) casos, nos quais, 120 (48,4%) eram de grau leve; 50 (20%)

moderado, e 6 (2,4%) intenso. A fibrose foi referida em 108 (43,2%) biópsias, das quais 95

(38%) eram leves; 2 (0,8%), moderadas; 7 intensas (2,8%) e, em 4 (1,6%) casos, foi

diagnosticado cirrose. Observou-se uma correlação entre o grau de esteatose e o nível de

atividade inflamatória (rs=0,460; p < 0,001) e entre o grau dessa atividade com o de fibrose

(rs=0,583; p < 0,001). Apenas 13 (5,2%) amostras apresentaram depósitos de Fe. Conclusão:

existe uma prevalência elevada de EHNA nesses pacientes e uma correlação positiva dos

graus de EHNA com a intensidade da fibrose. A baixa prevalência de depósitos de Fe

encontrada torna questionável que a presença deste íon tenha alguma participação na

fisiopatogenia da DHGNA.

Palavras-chave: esteato-hepatite não alcoólica; histopatologia hepática; obesidade mórbida;

cirurgia bariátrica.

44

INTRODUÇÃO

A obesidade está aumentando sua prevalência de forma alarmante, atingindo,

aproximadamente, 300 milhões de pessoas no mundo. Estima-se tal prevalência em 20% [1,

2]. Entre as maiores complicações da obesidade, encontra-se a doença hepática gordurosa não

alcoólica (DHGNA). A DHGNA engloba um amplo espectro de alterações histopatológicas

que abrangem desde a esteatose simples (ES) até a esteato-hepatite não alcoólica (EHNA),

podendo evoluir para cirrose e carcinoma hepatocelular [3]. A ES é definida como a presença

de depósitos de gordura sem dano hepatocelular, enquanto a EHNA é definida pela presença

de esteatose associada à lesão hepatocelular com ou sem fibrose [4, 5] . Alguns fatores de

risco têm sido associados ao desenvolvimento de EHNA, tais como síndrome metabólica,

idade, obesidade e diabete melito (DM) [6, 7]. O papel da presença de Fe no tecido hepático e

sua relação com EHNA tem sido alvo de inúmeros estudos. Pequenas quantidades de Fe,

encontradas no tecido hepático, podem atuar como fator potenciador do estresse oxidativo no

hepatócito determinado por gorduras, vírus e álcool, aumentando a toxicidade e direcionando

para a fibrogênese e carcinogênese [8] . Mendler et al. (1999) estabeleceram uma relação

entre a resistência à insulina e a presença de Fe em biópsias de fígado de indivíduos obesos

[9].

Pacientes com obesidade mórbida (OM) submetidos à CB têm sido uma população na

qual a DHGNA vem sendo muito estudada, graças à possibilidade de realização de biópsia

hepática transoperatória com baixa morbidade. Os resultados dessa cirurgia têm determinado

uma melhora na histopatologia hepática desses pacientes [10, 11]. Por outro lado, tem sido

objeto de discussão a necessidade de biópsia hepática na avaliação pré-operatória, em alguns

casos selecionados, tendo em vista que pacientes com fibrose avançada no pré-operatório

apresentam maior chance de descompensar no pós operatório, aumentando a

morbimortalidade dessa modalidade cirúrgica [4, 12, 13]

O objetivo desse estudo foi determinar a prevalência de ES e de EHNA nos pacientes

com OM, submetidos à CB no Centro de Tratamento da Obesidade do Complexo Hospitalar

da Santa Casa de Porto Alegre, e estabelecer uma correlação dos achados anatomopatológicos

(esteatose, atividade inflamatória e depósitos de Fe) com a presença de fibrose hepática

45

METODOLOGIA

Nesse estudo retrospectivo foram analisadas 250 biópsias hepáticas realizadas no

transoperatório de pacientes submetidos à CB de 2007 a 2012, no Centro de Tratamento da

Obesidade do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. Excluíram-se pacientes

menores de 18 anos, aqueles que apresentaram marcadores sorológicos para hepatite viral e

aqueles que com ingestão alcoólica > 20g/dia.

As biópsias hepáticas foram avaliadas pelo mesmo patologista. As técnicas

histoquímicas utilizadas para análise do espécime foram hematoxilina/eosina (HE), tricrômico

de Masson (para avaliação da fibrose) e Perls (para avaliação dos depósitos de Fe). A

esteatose foi considerada como presente quando atingiu mais de 5% da amostra estudada. A

presença percentual de 5 a 33% foi considerada esteatose de grau leve (G1); de 33 a 66%,

grau moderado (G2) e maior que 66%, grau acentuado (G3) [5].

Para o diagnóstico de EHNA, foi considerada necessária a presença de esteatose

associada à balonização hepatocitária e/ou ao infiltrado inflamatório. A atividade da EHNA

foi classificada como leve (A1), moderada (A2) e severa (A3), conforme o que descreve o

Pathology Committee of the NASH Clinical Research Network. O grau de fibrose foi

classificado como estágio 1A, quando identificada fibrose sinusoidal/celular discreta; grau

1B, se reconhecida fibrose sinusoidal/celular densa e difusa; 1C, caso identificada fibrose

portal. No estágio 2, considerou-se fibrose pericelular/perisinusoidal associada à fibrose

periportal; no estágio 3, alterações anteriores associadas à fibrose em ponte e no estágio 4,

diagnosticou-se cirrose [14]. Para análise estatística, o grau de fibrose foi classificado como

leve (estágio 1A, 1B, 1C), moderado (estágio 2), acentuado (estágio 3) e cirrose (estágio 4).

Uma análise semiquantitativa dos depósitos de Fe nos hepatócitos e nas células de

Kupffer foi realizada, de acordo com a classificação utilizada por Sebastiani et al. (2006) em

que o grau 0 corresponde à ausência total de Fe; o grau 1, à mínima quantidade; o grau 2, à

leve quantidade; o grau 3, à moderada quantidade e o grau 4, a muita quantidade de Fe [15].

46

ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise dos dados foi realizada mediante utilização do software SPSS (Statistical

Package for the Social Sciences) versão 18.0. Esse tamanho de amostra suporta uma diferença

mínima entre grupos de 20%, com poder de 85% e nível de significância de 5%. As variáveis

contínuas foram descritas com utilização de média e desvio-padrão e as variáveis categóricas,

por meio de frequências absolutas e relativas.

Para avaliar a associação entre as variáveis categóricas, foi aplicado o teste qui-

quadrado de Pearson. Para as variáveis contínuas ou ordinais, empregou-se o teste da

correlação de Spearman.

O nível de significância estatística considerado foi de 5% (p ≤ 0,05).

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da

Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - ISCMPA, com o número 70375.

47

RESULTADOS

Das 250 biópsias analisadas, 200 (80%) eram de mulheres, e 50 (20%) de homens,

com uma média de idade de 36,8 ± 10,2 anos. O índice de massa corporal (IMC) médio foi de

43,6 ± 5,2 Kg/m2.

A esteatose esteve presente em 226 (90,4%) amostras. Com relação à intensidade

desta, foi observado que 76 (30,4%) se classificaram como leve; 71 (28,4%), moderada e 79

(31,6%), intensa (Figura 1).

Ausente Leve Moderada Intensa

Figura 1 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da esteatose.

Em 176 (70,4%) casos, foi diagnosticado EHNA. O grau leve foi encontrado em 120

(48,4%) casos; o moderado, em 50 (20%) dos casos e, o acentuado em 6 (2,4%) casos (Figura

2).

48

Ausente Leve Moderada Intensa

Figura 2 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da esteato-hepatite não

alcoólica (EHNA).

A presença de fibrose foi referida em 108 (43,2%) biópsias, das quais 95 (38%) eram

leve; 2 (0,8%), moderada; 7, intensa (2,8%) e, em 4 (1,6%) casos, foi feito o diagnóstico de

cirrose (Figura 3).

Ausente Leve Moderada Intensa Cirrose

Figura 3 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da fibrose.

49

Observou-se tanto uma correlação moderada entre o grau de esteatose com o nível de

atividade necroinflamatória/balonização (rs=0,460; p < 0,001), como também uma correlação

regular entre o grau de atividade e o grau de fibrose (rs=0,583; p < 0,001) (Figuras 4 e 5).

Figura 4 – Associação entre a intensidade da esteatose e EHNA medida pelo coeficiente de

correlação de Spearman (rs=0,460; p < 0,001).

Figura 5 – Associação entre a intensidade da esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e fibrose

medida pelo coeficiente de correlação de Spearman (rs=0,583; p < 0,001).

50

Em 13 (5,2%) amostras foram encontrados depósitos de Fe de forma leve, sendo que,

em 9 o Fe se localizava nas células de Kupffer e em 7 nos hepatócitos.

51

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostram uma prevalência de 90,4% de DHGNA nos

pacientes com OM que realizaram CB. Tal resultado está em consonância com a literatura que

relata uma prevalência de 84 e 96% de DHGNA, nesses pacientes [16].

A DHGNA apresenta um amplo espectro de alterações que vão desde a ES até a

fibrose com desarranjo estrutural da histologia hepática. Dentro dessas alterações, esta análise

demonstra que o grau de esteatose foi distribuído quase que uniformemente nas amostras

(30,4%, 28,4% e 31,6%), para grau leve, moderado e severo, respectivamente. Concomitante,

encontrou-se EHNA em, aproximadamente, 70% da amostra, havendo uma correlação

moderada com o grau de esteatose. Este achado vai ao encontro da fisiopatologia da DHGNA,

em que o excesso de gordura no hepatócito desencadeia o processo inflamatório, levando à

EHNA, que pode culminar em fibrose [17]. Entretanto, tal correlação não foi forte, já que

alguns casos apresentaram intenso grau de esteatose com leve ou nenhuma inflamação, fato

que demonstra que a biópsia hepática, antes de fornecer um diagnóstico definitivo, reflete,

principalmente, um estágio evolutivo da DHGNA.

Ao se analisar o grau de fibrose das amostras desta investigação, observou-se que, em

48,3% delas, já havia fibrose; destas, 38% eram de grau leve e apenas 4,4% (11 casos) foram

considerados de grau intenso. Nos últimos anos, a CB tornou-se uma importante opção

terapêutica para a OM. Alguns estudos documentam uma redução significativa da fibrose em

biópsias hepáticas realizadas durante a cirurgia e após a perda de peso nesses pacientes [10,

11, 18, 19]. Entretanto, os mesmos trabalhos relatam que, se o grau de fibrose é avançado, as

chances de regressão diminuem, mais ainda, existe um aumento da morbimortalidade pós CB

em pacientes com fibrose avançada.

Até o presente momento não existe um marcador laboratorial de diagnóstico e

gravidade da EHNA. Neste sentido, a biópsia hepática talvez deva ser indicada, em casos

selecionados, na avaliação pré-operatória de pacientes com OM e indicação de CB. Embora

no último consenso da American Association for Study of Liver Diseases essa indicação já

esteja descrita, para pacientes com DHGNA e com fatores de risco para EHNA, é importante

que protocolos com delineamentos específicos, visando elucidar tal controvérsia, sejam

desenvolvidos [4].

Alguns autores sustentam que a presença de Fe no tecido hepático é um possível fator

envolvido na gênese da inflamação [8]. O excesso de Fe não ligado à transferrina é retirado da

circulação pelo hepatócito mediante atuação de um peptídeo chamado hepcidina, que regula a

52

homeostase do Fe [20]. As células de Kupffer (CK) também exercem um importante papel na

depuração do Fe, visto que acumulam esse íon, quando os hepatócitos se encontram

saturados. É possível que as CK, quando também saturadas de Fe, percam o controle sobre

outras agressões sofridas pelo fígado (vírus, álcool etc...), o que favorece a progressão da

fibrose [8]. Na casuística deste estudo, foram encontrados leves depósitos de Fe em apenas 10

casos (4%), sem predomínio em hepatócitos ou em CK. Não parece, portanto, que o Fe tenha

um papel importante na fisiopatogenia da EHNA. Corroborando nossos resultados, o estudo

de Zamin et al. (2006), não estabeleceu correlação entre a mutação do gene C282Y e H63D

(mutação envolvida na gênese da hemocromatose), em 20 pacientes com EHNA. Isso reforça

a não participação dos depósitos de Fe na fisiopatologia da EHNA [21].

Em conclusão, os achados da presente investigação confirmam uma prevalência

elevada de ES e de EHNA nos pacientes com OM. A correlação de EHNA e fibrose reforçam

a indicação da CB no tratamento da OM e a importância da biópsia hepática na avaliação pré-

operatória de alguns pacientes. Mais ainda, a baixa prevalência de depósitos de Fe nas

amostras aqui analisadas torna muito questionável a participação do Fe na fisiopatogenia da

DHGNA.

53

REFERÊNCIAS

[1] Marquezine GF, Oliveira CM, Pereira AC, Krieger JE, Mill JG. Metabolic syndrome determinants in an urban population from Brazil: social class and gender-specific interaction. Int J Cardiol. 2008 Sep 26;129(2):259-65.

[2] Misra A, Khurana L. Obesity and the metabolic syndrome in developing countries. J Clin Endocrinol Metab. 2008 Nov;93(11 Suppl 1):S9-30.

[3] White DL, Kanwal F, El-Serag HB. Association Between Nonalcoholic Fatty Liver Disease and Risk for Hepatocellular Cancer, Based on Systematic Review. Clin Gastroenterol Hepatol 2012 Dec;10(12):1342-59 e2.

[4] Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Diehl AM, Brunt EM, Cusi K, et al. The diagnosis and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice Guideline by the American Association for the Study of Liver Diseases, American College of Gastroenterology, and the American Gastroenterological Association. Hepatology 2012 Baltimore, Md. Jun;55(6):2005-23.

[5] Brunt EM, Janney CG, Di Bisceglie AM, Neuschwander-Tetri BA, Bacon BR. Nonalcoholic steatohepatitis: a proposal for grading and staging the histological lesions. The American Journal of Gastroenterology. 1999 Sep;94(9):2467-74.

[6] Harrison SA, Kadakia S, Lang KA, Schenker S. Nonalcoholic steatohepatitis: what we know in the new millennium. The American Journal of Gastroenterology. 2002 Nov;97(11):2714-24.

[7] Yamauchi T, Kamon J, Waki H, Terauchi Y, Kubota N, Hara K, et al. The fat-derived hormone adiponectin reverses insulin resistance associated with both lipoatrophy and obesity. Nat Med. 2001 Aug;7(8):941-6.

[8] Pietrangelo A. Iron in NASH, chronic liver diseases and HCC: how much iron is too much? Journal of Hepatology. 2009 Feb;50(2):249-51.

[9] Mendler MH, Turlin B, Moirand R, Jouanolle AM, Sapey T, Guyader D, et al. Insulin resistance-associated hepatic iron overload. Gastroenterology. 1999 Nov;117(5):1155-63.

[10] Mathurin P, Hollebecque A, Arnalsteen L, Buob D, Leteurtre E, Caiazzo R, et al. Prospective study of the long-term effects of bariatric surgery on liver injury in patients without advanced disease. Gastroenterology. 2009 Aug;137(2):532-40.

[11] Moretto M, Kupski C, da Silva VD, Padoin AV, Mottin CC. Effect of bariatric surgery on liver fibrosis. Obesity Surgery 2012.Jul;22(7):1044-9.

[12] Vyberg M, Ravn V, Andersen B. Pattern of progression in liver injury following jejunoileal bypass for morbid obesity. Liver. 1987 Oct;7(5):271-6.

[13] Mosko JD, Nguyen GC. Increased perioperative mortality following bariatric surgery among patients with cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol 2011.Oct;9(10):897-901.

54

[14] Brunt EM. Nonalcoholic steatohepatitis. Semin Liver Dis. 2004 Feb;24(1):3-20.

[15] Sebastiani G, Vario A, Ferrari A, Pistis R, Noventa F, Alberti A. Hepatic iron, liver steatosis and viral genotypes in patients with chronic hepatitis C. Journal of Viral Hepatitis. 2006 Mar;13(3):199-205.

[16] Clark JM. The epidemiology of nonalcoholic fatty liver disease in adults. Journal of Clinical Gastroenterology. 2006 Mar;40 Suppl 1:S5-10.

[17] Zangar RC, Novak RF. Effects of fatty acids and ketone bodies on cytochromes P450 2B, 4A, and 2E1 expression in primary cultured rat hepatocytes. Arch Biochem Biophys. 1997 Jan 15;337(2):217-24.

[18] de Andrade AR, Cotrim HP, Alves E, Soares D, Rocha R, Almeida A, et al. Nonalcoholic fatty liver disease in severely obese individuals: the influence of bariatric surgery. Ann Hepatol. 2008 Oct-Dec;7(4):364-8.

[19] Mummadi RR, Kasturi KS, Chennareddygari S, Sood GK. Effect of bariatric surgery on nonalcoholic fatty liver disease: systematic review and meta-analysis. Clin Gastroenterol Hepatol. 2008 Dec;6(12):1396-402.

[20] Fleming RE, Ponka P. Iron overload in human disease. The New England Journal of Medicine 2012 Jan 26;366(4):348-59.

[21] Zamin I, Jr., Mattos AA, Mattos AZ, Migon E, Bica C, Alexandre CO. Prevalence of the hemochromatosis gene mutation in patients with nonalcoholic steatohepatitis and correlation with degree of liver fibrosis. Arquivos de Gastroenterologia. 2006 Jul-Sep;43(3):224-8.

                      

55

5 ARTIGO 1 – VERSÃO EM INGLÊS

TITLE

ANATOMOPATHOLOGICAL FINDINGS IN THE LIVER OF MORBID OBESE

PATIENTS, SUBJECTED TO BARIATRIC SURGERY, IN A REFERENCE SITE

Losekann A., Coral GP.

56

ABSTRACT

Nonalcoholic fatty liver disease encompasses a spectrum of histopathological changes that

range from simple steatosis (SS) to nonalcoholic steatohepatitis (NASH). Works suggest that

iron (Fe) deposits in the liver are involved in the physiopathology of NASH. The aim of this

study was to determine the prevalence of SS and NASH in patients with morbid obesity,

subjected to bariatric surgery and to establish a correlation of the anatomopathological

findings with the presence of liver fibrosis. A total of 250 liver biopsies were conducted in the

transoperation of the surgeries. Steatosis was present in 226 (90.4%) of the samples, 76

(30.4%) being classified as mild; 71 (28.4%) as moderate and 79 (31.6%) as intense. NASH

was diagnosed in 176 (70.4%) cases, where 120 (48.4%) were mild; 50 (20%) were moderate,

and 6 (2.4%) cases were intense. Fibrosis was referred to in 108 (43.2%) biopsies, 95 of

which (38%) were mild; 2 (0.8%) were moderate; 7 were intense (2.8%), and cirrhosis was

diagnosed in 4 (1.6%) cases. There was a correlation between the degree of steatosis and the

level of inflammatory activity (rs=0.460; p < 0.001) and between the degree of this activity

and the degree of fibrosis (rs=0.583; p < 0.001). Only 13 (5.2%) samples showed Fe deposits.

In conclusion, there is a high prevalence of NASH in these patients and a positive correlation

of the degrees of NASH with the intensity of fibrosis. The low prevalence of Fe deposits

found makes it questionable that the presence of this ion has any participation in the

physiopathogeny of NAFLD.

Keywords: Nonalcoholic steatohepatitis, hepatic histopathology, morbid obesity, bariatric

surgery.

57

INTRODUCTION

Obesity is increasing its prevalence at an alarming rate, reaching approximately 300

million people worldwide. Said prevalence is estimated at 20% [1, 2]. Nonalcoholic fatty liver

disease (NAFLD) is among the biggest complications of obesity. NAFLD encompasses a

wide spectrum of histopatological changes ranging from simple steatosis (SS) to nonalcoholic

steatohepatitis (NASH), which can evolve to cirrhosis and hepatocellular carcinoma [3]. SS is

defined as the presence of fatty deposits without hepatocellular damage, while NASH is

defined as the presence of steatosis associated with hepatocellular lesion with or without

fibrosis [4, 5] . Some risk factors have been associated with the development of NASH, such

as metabolic syndrome, age, obesity and diabetes mellitus (DM) [6, 7]. The role of the

presence of Fe in liver tissue and its relation with NASH has been the target of countless

studies. Small quantities of Fe, found in liver tissue, can act as factor enhancing oxidative

stress in the hepatocyte determined by fats, virus and alcohol, increasing toxicity and leading

to fibrogenesis and carcinogenesis [8] . Mendler et al. (1999) established a relationship

between the resistance to insulin and the presence of Fe in liver biopsies of obese individuals

[9].

Patients with morbid obesity (MO) subjected to bariatric surgery have been a

population in which NAFLD has been much studied, thanks to the possibility of conducting

transoperative liver biopsy with low morbidity. The results of this surgery have determined an

improvement in the hepatic histopathology of these patients [10, 11]. On the other hand, the

need for liver biopsy in pre-operative evaluation has been the object of discussion, in some

selected cases, considering that patients with advanced fibrosis in pre-operation have greater

chance of decompensation in the post-operation, increasing morbimortability of this surgical

modality [4, 12, 13]

The aim of this study was to determine the prevalence of SS and NASH in patients

with MO, subjected to Bariatric Surgery in the Obesity Treatment Center of the Santa Casa de

Porto Alegre Hospital Complex, and to establish a correlation of the anatomopathological

findings (steatosis, inflammatory activity and iron deposits) with the presence of liver fibrosis

58

METHODOLOGY

In this retrospective study, a total of 250 liver biopsies were analyzed, conducted in

the transoperation of patients subjected to Bariatric Surgery from 2007 to 2012, in the Obesity

Treatment Center of the Santa Casa de Porto Alegre Hospital Complex. Patients aged less

than 18 years were excluded, as well as those who presented serological markers for viral

hepatitis and those with alcohol intake > 20g/day.

The liver biopsies were evaluated by the same pathologist. The histochemical

techniques used to analyze the specimen were hematoxylin/eosin (HE), Masson’s trichrome

(to evaluate fibrosis) and Perls (to evaluate iron deposits). Steatosis was considered to be

present on reaching over 5% of the sample studied. The percentage presence of 5 to 33% was

considered to be mild steatosis (G1); of 33 to 66% as moderate steatosis (G2) and greater than

66% as severe steatosis (G3) [5].

To diagnose NASH, the presence of steatosis associated with hepatocyte ballooning

and/or inflammatory infiltrate was deemed necessary. The activity of NASH was classified as

mild (A1), moderate (A2) and severe (A3), as described by the Pathology Committee of the

NASH Clinical Research Network. The degree of fibrosis was classified as stage 1A, when

sinusoidal/discrete cellular fibrosis was identified; degree 1B if sinusoidal/dense and diffuse

cellular fibrosis; and 1C in case portal fibrosis was identified. In stage 2,

pericellular/perisinusoidal fibrosis was considered, associated with periportal fibrosis; in stage

3, the anterior changes associated with bridging fibrosis and in stage 4, cirrhosis was

diagnosed [14]. For statistical analysis, the degree of fibrosis was classified as mild (stage 1A,

1B, 1C), moderate (stage 2), severe (stage 3) and cirrhosis (stage 4).

A semi-quantitative analysis of the iron deposits in the hepatocytes and in the Kupffer

cells was conducted, according to the classification used by Sebastiani et al. (year) in which

degree 0 corresponds to the total absence of Fe; degree 1 to the minimum quantity; degree 2

to mild quantity; degree 3 to moderate quantity and degree 4 to great quantity of Fe [15].

59

STATISTICAL ANALYSIS

The data analysis was conducted using the SPSS (Statistical Package for the Social

Sciences) software, version 18.0. This sample size supports a minimum difference between

groups of 20%, with power of 85% and significance level of 5%. The continuous variables

were described with use of mean and standard deviation and the categorical variables by

means of absolute and relative frequencies.

To evaluate the association between the categorical variables, the Pearson chi-square

test was applied. For the continuous or ordinal variables, the Spearman correlation test was

used.

The statistical significance level considered was 5% (p ≤ 0.05).

This study was approved by the Institutional Review Board of Irmandade da Santa

Casa de Misericórdia de Porto Alegre - ISCMPA, with number 70375.

60

RESULTS

Out of the 250 biopsies analyzed, 200 (80%) were of women, and 50 (20%) of men,

with an average age of 36.8 ± 10.2 years. The average body mass index (BMI) was 43.6 ± 5.2

Kg/m2.

Steatosis was present in 226 (90.4%) samples. With regard to its intensity, it was

observed that 76 (30.4%) were classified as mild; 71 (28.4%) as moderate and 79 (31.6%) as

intense (Fig. 1)

No. o

f Patients 

None  Mild Moderate Severe 

Intensity Steatosis 

Figure 1 – Sample distribution with regard to the presence and intensity of steatosis.

NASH was diagnosed in 176 (70.4%) cases. Mild degree was found in 120 (48.4%)

cases; moderate in 50 (20%) cases, and severe in 6 (2.4%) cases (Fig. 2).

 

61

 

No. o

f Patients 

None  Mild Moderate Severe 

NASH Intensity 

Figure 2 – Sample distribution with regard to the presence and intensity of

nonalcoholic steatohepatitis (NASH).

Fibrosis was referred to in 108 (43.2%) biopsies, 95 of which (38%) were mild; 2

(0.8%) were moderate; 7 were intense (2.8%), and cirrhosis was diagnosed in 4 (1.6%) cases

(Fig. 3).

No. o

f Patients 

None  Mild  Moderate  Severe  Cirrhosis 

Fibrosis Intensity 

Figure 3 – Sample distribution with regard to the presence and intensity of fibrosis.

There was a moderate correlation between the degree of steatosis and the level of

inflammatory activity/ballooning (rs=0.460; p < 0.001) and also a regular correlation between

the degree of activity and the degree of fibrosis (rs=0.583; p < 0.001) (Fig. 4 and 5).

62

NASH

 Intensity 

Steatosis Intensity

Figure 4 – Association between steatosis intensity and NASH intensity measured by the

Spearman correlation coefficient (rs=0.460; p < 0.001).

 

Fibrosis Intensity 

NASH Intensity

Figure 5 – Association between nonalcoholic steatohepatitis (NASH) intensity and fibrosis

intensity measured by the Spearman correlation coefficient (rs=0.583; p < 0.001).

Iron deposits were found in mild concentration in 13 (5.2%) samples, being that in 9

the iron was located in the Kupffer cells and in 7 in the hepatocytes.

63

DISCUSSION

The results of this study show a prevalence of 90.4% of NAFLD in patients with MO

who underwent bariatric surgery. This result is consistent with the literature that reports a

prevalence of 84 and 96% of NAFLD in these patients [16].

NAFLD has a wide spectrum of alterations that range from SS to fibrosis and

eventually to cirrhosis. Within these alterations, this analysis shows that the degree of

steatosis was distributed almost uniformly in the samples (30.4%, 28.4% and 31.6%), for

mild, moderate and severe degree respectively. Concomitantly, NASH was found in

approximately 70% of the sample, there being a moderate correlation with the degree of

steatosis. This finding is consistent with the physiopathology of NAFLD, in which excess fat

in the hepatocyte triggers the inflammation process, leading to NASH, which can result in

fibrosis [17]. However, this correlation was not strong, since some cases showed intense

degree of steatosis with mild or no inflammation, a fact that shows that the liver biopsy,

before providing a definitive diagnosis, mainly reflects a stage of evolution of NAFLD.

On analyzing the degree of fibrosis of the samples of this investigation, it was noticed

that fibrosis was already present in 48.3% of them; out of these, 38% were mild and only

4.4.% (11 cases) were considered of intense degree. In recent years, bariatric surgery has

become an important therapeutic option for MO. Some studies document a significant

reduction of fibrosis in liver biopsies conducted during the surgery and after weight loss in

these patients [10, 11, 18, 19]. However, the same works report that, if the degree of fibrosis

is advanced, the chances of regression reduce, moreover, there is an increase in

morbimortality after bariatric surgery in patients with advanced fibrosis.

To date, there is no lab marker for diagnosis and gravity of NASH. In this wise, liver

biopsy should perhaps be indicated, in select cases, in the pre-operative evaluation of patients

with MO and indication of bariatric surgery. Although this indication is already described, to

patients with NAFLD and with risk factors to NASH, in the last consensus of the American

Association for Study of Liver Diseases, it is important to develop protocols with specific

outlining, aiming at shedding light on this controversy [4].

Some authors support that the presence of Fe in the liver tissue is a possible factor

involved in the genesis of the inflammation [8]. The excess Fe not linked to transferrin is

removed from circulation by the hepatocyte by operation of a peptide called hepcidin, which

regulates the homeostasis of Fe [20]. The Kupffer cells (KC) also play an important role in the

elimination of iron, since they accumulate this ion when the hepatocytes are saturated. It is

64

possible that the KC, when saturated with Fe, lose control over other aggressions suffered by

the liver (virus, alcohol, etc.), favoring the progression of fibrosis [8]. In the casuistic of this

study, mild deposits of Fe were found in only 10 cases (4%), without predominance in

hepatocytes or in KC. It does not seem, however, that Fe has an important role in the

physiopathogeny of NASH. Corroborating our results, the study by Zamin et al. (2006) did

not establish correlation between mutation of the C282Y and H63D gene (mutation involved

in the genesis of hemochromatosis), in 20 patients with NASH. This reinforces the

nonparticipation of Fe deposits in the physiopathology of NASH [21].

In conclusion, the findings of this investigation confirm a high prevalence of SS and

NASH in patients with MO. The correlation between NASH and fibrosis reinforce the

indication of Bariatric Surgery in the treatment of MO and the importance of liver biopsy in

the pre-operative evaluation of some patients. Moreover, the low prevalence of iron deposits

in the samples analyzed herein makes the participation of Fe in the physiopathogeny of

NAFLD questionable.

65

REFERENCES

[1] Marquezine GF, Oliveira CM, Pereira AC, Krieger JE, Mill JG. Metabolic syndrome determinants in an urban population from Brazil: social class and gender-specific interaction. Int J Cardiol. 2008 Sep 26;129(2):259-65.

[2] Misra A, Khurana L. Obesity and the metabolic syndrome in developing countries. J Clin Endocrinol Metab. 2008 Nov;93(11 Suppl 1):S9-30.

[3] White DL, Kanwal F, El-Serag HB. Association Between Nonalcoholic Fatty Liver Disease and Risk for Hepatocellular Cancer, Based on Systematic Review. Clin Gastroenterol Hepatol, 2012. Dec;10(12):1342-59 e2.

[4] Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Diehl AM, Brunt EM, Cusi K, et al. The diagnosis and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice Guideline by the American Association for the Study of Liver Diseases, American College of Gastroenterology, and the American Gastroenterological Association. Hepatology, 2012 (Baltimore, Md. Jun;55(6):2005-23.

[5] Brunt EM, Janney CG, Di Bisceglie AM, Neuschwander-Tetri BA, Bacon BR. Nonalcoholic steatohepatitis: a proposal for grading and staging the histological lesions. The American journal of gastroenterology. 1999 Sep;94(9):2467-74.

[6] Harrison SA, Kadakia S, Lang KA, Schenker S. Nonalcoholic steatohepatitis: what we know in the new millennium. The American journal of gastroenterology. 2002 Nov;97(11):2714-24.

[7] Yamauchi T, Kamon J, Waki H, Terauchi Y, Kubota N, Hara K, et al. The fat-derived hormone adiponectin reverses insulin resistance associated with both lipoatrophy and obesity. Nat Med. 2001 Aug;7(8):941-6.

[8] Pietrangelo A. Iron in NASH, chronic liver diseases and HCC: how much iron is too much? Journal of hepatology. 2009 Feb;50(2):249-51.

[9] Mendler MH, Turlin B, Moirand R, Jouanolle AM, Sapey T, Guyader D, et al. Insulin resistance-associated hepatic iron overload. Gastroenterology. 1999 Nov;117(5):1155-63.

[10] Mathurin P, Hollebecque A, Arnalsteen L, Buob D, Leteurtre E, Caiazzo R, et al. Prospective study of the long-term effects of bariatric surgery on liver injury in patients without advanced disease. Gastroenterology. 2009 Aug;137(2):532-40.

[11] Moretto M, Kupski C, da Silva VD, Padoin AV, Mottin CC. Effect of bariatric surgery on liver fibrosis. Obesity surgery, 2012. Jul;22(7):1044-9.

[12] Vyberg M, Ravn V, Andersen B. Pattern of progression in liver injury following jejunoileal bypass for morbid obesity. Liver. 1987 Oct;7(5):271-6.

[13] Mosko JD, Nguyen GC. Increased perioperative mortality following bariatric surgery among patients with cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol, 2011. Oct;9(10):897-901.

66

[14] Brunt EM. Nonalcoholic steatohepatitis. Semin Liver Dis. 2004 Feb;24(1):3-20.

[15] Sebastiani G, Vario A, Ferrari A, Pistis R, Noventa F, Alberti A. Hepatic iron, liver steatosis and viral genotypes in patients with chronic hepatitis C. Journal of viral hepatitis. 2006 Mar;13(3):199-205.

[16] Clark JM. The epidemiology of nonalcoholic fatty liver disease in adults. Journal of clinical gastroenterology. 2006 Mar;40 Suppl 1:S5-10.

[17] Zangar RC, Novak RF. Effects of fatty acids and ketone bodies on cytochromes P450 2B, 4A, and 2E1 expression in primary cultured rat hepatocytes. Arch Biochem Biophys. 1997 Jan 15;337(2):217-24.

[18] de Andrade AR, Cotrim HP, Alves E, Soares D, Rocha R, Almeida A, et al. Nonalcoholic fatty liver disease in severely obese individuals: the influence of bariatric surgery. Ann Hepatol. 2008 Oct-Dec;7(4):364-8.

[19] Mummadi RR, Kasturi KS, Chennareddygari S, Sood GK. Effect of bariatric surgery on nonalcoholic fatty liver disease: systematic review and meta-analysis. Clin Gastroenterol Hepatol. 2008 Dec;6(12):1396-402.

[20] Fleming RE, Ponka P. Iron overload in human disease. The New England journal of Medicine, 2012. Jan 26;366(4):348-59.

[21] Zamin I, Jr., Mattos AA, Mattos AZ, Migon E, Bica C, Alexandre CO. Prevalence of the hemochromatosis gene mutation in patients with nonalcoholic steatohepatitis and correlation with degree of liver fibrosis. Arquivos de Gastroenterologia. 2006 Jul-Sep;43(3):224-8.

67

6 ARTIGO 2 - VERSÃO EM PORTUGUÊS

FATORES DE RISCO PARA A PRESENÇA DE ESTEATO-HEPATITE NÃO

ALCOÓLICA EM PACIENTES OBESOS MÓRBIDOS SUBMETIDOS À CIRURGIA

BARIÁTRICA.

Losekann A., Coral GP.

68

RESUMO

Introdução: a esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) caracteriza-se histologicamente pela

presença de esteatose, predominantemente macrovesicular, associada a infiltrado

inflamatório/balonização hepatocelular. Alguns estudos têm sido conduzidos com o objetivo

de identificar marcadores não invasivos de EHNA, no entanto, apresentam resultados

diversos. Objetivo: descrever os fatores de risco (FR) para a ocorrência de EHNA. Método:

os achados histopatológicos de 191 biópsias hepáticas foram analisados e correlacionados

com parâmetros laboratoriais (dosagem de ferro, de ferritina, de aminotransferases - AST -

ALT, de glicose, de plaquetas, de triglicerídios, de colesterol total e frações), coletados no

pré-operatório de pacientes obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica. Resultados:

houve uma correlação significativa dos níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT) ≥ 60

U/l (RP=1,31; IC 95% = 1,22-1,41; p< 0,001), de glicose ≥ 126 mg/dl (RP = 1,16; IC 95% =

1,02 – 1,32; p = 0,022) e de triglicerídios ≥ 150 mg/dl (RP = 1,15; IC 95% = 1,01 - 1,30; p =

0,035) com EHNA. A fibrose esteve significativamente mais associada com ALT > 60 U/l

(RP=1,22; IC 95% = 1,00-1,48; p= 0,048), idade (RP = 1,01; IC 95% = 1,00 – 1,02; p =

0,006) e TGs ≥ 150 mg/dl (RP = 1,24; IC 95% = 1,07 - 1,45; p = 0,005). Conclusão: a ALT ≥

60 U/l; a glicemia ≥ 126 mg/dl e os TGs ≥ 150 mg/dl indicam maior risco de EHNA nesses

pacientes. Além disso, ALT ≥ 60 U/l e TGs ≥ 150 mg/dl, somados à idade, são FR para a

presença de fibrose.

Palavras chave: Esteato-hepatite não alcoólica; obesidade mórbida; cirurgia bariátrica; biópsia

hepática; fatores de risco

69

INTRODUÇÃO

A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) engloba um espectro de

alterações clínico patológicas, incluindo desde a esteatose simples (ES) até a esteato-hepatite,

podendo chegar à cirrose e carcinoma hepatocelular. A esteato-hepatite não alcoólica (EHNA)

caracteriza-se, histologicamente, pela infiltração difusa de gordura e pela presença de

balonização hepatocelular e inflamação. A inflamação e a balonização hepatocelular se

localizam, especialmente, na zona 3, podendo ser também encontrado, ocasionalmente,

Corpúsculo de Mallory [1]. Estudos de prognóstico relatam achados histológicos, tais como

inflamação lobular com leucócitos polimorfonucleares, grau de esteatose e presença de Fe

como fatores preditivos de fibrose (Fb) avançada [2, 3].

A verdadeira prevalência da EHNA é difícil de ser conhecida, tendo em vista que a

doença se apresenta de forma indolente e assintomática e o diagnóstico definitivo pode ser

feito apenas por uma avaliação de achados histopatológicos[3]. Pacientes com obesidade

mórbida (OM), isto é, que se apresentam com um índice de massa corporal (IMC) ≥ 35 ou ≥

40 Kg/m2 e submetidos à cirurgia bariátrica (CB) têm sido uma população na qual a DHGNA

vem sendo bastante estudada, graças à possibilidade de realização de biópsia hepática

transoperatória com baixa morbidade. Nesses pacientes, é estimada uma prevalência de

DHGNA entre 84 e 96% e de EHNA entre 25 e 55%, destacando-se que estes pacientes

apresentam Fb numa frequência de 34 e 47%. Ainda cabe salientar que, nos pacientes com

EHNA, encontra-se Fb em ponte ou cirrose em uma frequência entre 2 e 12% [4].

Alguns estudos têm sido conduzidos no sentido de avaliar parâmetros clínico

laboratoriais com achados histopatológicos. Liew et al. (2006) apresentaram resultados

retrospectivos de 152 pacientes submetidos à CB laparoscópica, nos quais a resistência à

insulina (RI), avaliada pelo índice Homeostasis model assessment (HOMA-IR), foi

correlacionada com o diagnóstico de EHNA [5]. Em um estudo prospectivo, com biópsias

sequenciais, Mathurin et al. (2009) observaram os efeitos da CB sobre a DHGNA e EHNA.

Estes autores demonstraram uma melhora de todos os parâmetros histológicos e laboratoriais

na DHGNA em cinco anos. Interessante ressaltar que a melhora da RI, que acontece no

primeiro ano de pós-operatório, é um fator preditivo de regressão dos parâmetros histológicos

e laboratoriais da DHGNA [6].

Até o momento, a lesão e a Fb hepática não podem ser detectadas por exames de

imagem ou por testes laboratoriais. Alguns trabalhos têm procurado identificar marcadores

clínico/laboratoriais de EHNA, como idade, obesidade, diabetes melito (DM), hipertensão

70

arterial sistêmica, marcadores de inflamação, relação aspartato aminotransferase (AST) /

alanina aminotransferase (ALT) > 1 e níveis de triglicerídios (TG) > 150 mg/dl. Os estudos

que tentam correlacionar marcadores inflamatórios, como algumas citocinas e outros de

estresse oxidativo, apresentam resultados diversos [2, 3, 7]

O objetivo desse estudo foi examinar se os parâmetros clínicos e laboratoriais

avaliados de rotina no pré-operatório de pacientes submetidos à CB podem predizer o grau de

alterações histológicas encontradas nas biópsias hepáticas realizadas no transoperatório desses

pacientes.

71

METODOLOGIA

Neste estudo retrospectivo foram analisados os parâmetros clínico laboratoriais, pré-

operatórios, realizados de rotina em pacientes portadores de OM submetidos à CB no Centro

de Tratamento da Obesidade do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre, no

período de janeiro de 2007 a julho de 2012. Os dados analisados foram IMC, dosagem de

ferro (Fe), ferritina, AST e ALT, glicemia de jejum, plaquetas, colesterol total,TGs,

lipoproteína de alta densidade (HDL-C) e lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), coletados

até 90 dias antes da cirurgia. Esses parâmetros foram comparados com os achados

histológicos de biópsias hepáticas realizadas no transoperatório da CB (bypass gástrico en Y

de Roux). Foram excluídos pacientes menores de 18 anos, os que apresentaram marcadores

sorológicos para hepatite viral e/ou com ingestão alcoólica maior do que 20g/dia.

As biópsias hepáticas foram realizadas no transoperatório da cirurgia e avaliadas pelo

mesmo patologista. As técnicas histoquímicas utilizadas para a análise do espécime foram

hematoxilina/eosina (HE), tricrômico de Masson (para avaliação da Fb) e Perls (para

avaliação dos depósitos de Fe). A esteatose foi considerada presente quando atingiu mais de

5% da amostra estudada. A presença de 5 a 33% foi considerada esteatose de grau leve (G1);

de 33 a 66% foi identificada como grau moderado (G2) e, quando presente em mais de 66%,

foi considerada como grau acentuado (G3)[1].

Para o diagnóstico de EHNA, era necessária a presença de esteatose associada à

balonização hepatocitária e/ou infiltrado inflamatório. A atividade da EHNA foi classificada

em leve (A1), moderada (A2) e severa (A3), conforme a classificação descrita pelo Pathology

Committee of the NASH Clinical Research Network. O grau de Fb foi classificado como

estágio 1A, na presença de Fb sinusoidal/celular discreta; grau 1B, quando identificada Fb

sinusoidal/celular densa e difusa; 1C, para Fb portal. O estágio 2, foi diagnosticado quando

havia pericelular/perisinusoidal associada à Fb periportal e o estágio 3 na presença das

alterações anteriores associadas à Fb em ponte. Finalmente, o estágio 4, correspondeu à

cirrose. Para análise estatística, o grau de Fb foi classificado como leve 1A, 1B, 1C; moderado

(estágio 2); acentuado (estágio 3) e cirrose (estágio 4) [8].

72

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Mediante a utilização do software SPSS (Statistical Package for Social Sciences)

versão 17.0, realizou-se a análise dos dados. As variáveis contínuas foram descritas por meio

de média e desvio-padrão ou mediana e amplitude interquartílica. As variáveis categóricas

foram descritas por intermédio de frequências absolutas e relativas.

Para comparar as variáveis contínuas entre os grupos, foi utilizado o teste t-student.

Em caso de assimetria, o teste de Mann-Whitney foi aplicado.

Para comparar as variáveis categóricas, foi aplicado o teste qui-quadrado de Pearson.

Para controlar fatores de confusão e analisar variáveis independentemente associadas

com a EHNA e Fb, a análise de Regressão de Poisson foi aplicada. A medida de associação

utilizada foi a Razão de Prevalências, com o intervalo de 95% de confiança para estimativa de

risco na população. Para controlar o efeito da multicolinearidade, foram realizados dois

modelos de regressão, um deles inserindo a variável glicemia e o outro, a variável

triglicerídios. O critério para a entrada da variável no modelo multivariado foi de que

apresentasse um valor p < 0,20 na análise bivariada. O nível de significância estatístico

considerado foi de 5% (p ≤ 0,05).

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da

Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - ISCMPA.

73

RESULTADOS

Dos 191 pacientes analisados, 153 (80,1%) eram mulheres e 38 (19,9%) homens, com

uma média de idade de 37,2 ± 10,6 anos. O IMC médio foi de 43,7 ± 5,2 Kg/m2.

A esteatose esteve presente em 179 (93,7%) amostras. Em relação à sua intensidade

foi observado que 62 (32,5%) amostras foram classificadas como esteatose leve, 54 (28,3%)

como moderada e 63 (33,0%) como intensa. Em 143 (74,9%) casos foi diagnosticado EHNA,

sendo que o grau leve foi encontrado em 95 (49,7%), o moderado em 43 (22,5%) e o

acentuado em 5 (2,6%).

A presença de Fb foi encontrada em 84 (44%) biópsias, das quais 73 (38,2%) eram de

grau leve, 1 (0,5%) de grau moderado, 6 de grau intenso (3,1%) e, em 4 (2,1%) casos foi

diagnosticado cirrose.

Apenas 10 biópsias (5,2%) apresentaram depósitos de Fe de forma leve. Destas, 6

continham Fe nas células de Kupffer e 6 nos hepatócitos.

A Tabela 1 apresenta as varáveis estudadas de acordo com a presença ou ausência de

EHNA. Não foram observadas diferenças significativas entre a idade (p = 0,208), o sexo (p =

0,661) e o IMC (p = 0,535). Em relação às variáveis bioquímicas, igualmente não foram

encontradas diferenças significativas entre os níveis séricos de ferritina (p = 0,120), de Fe (p =

0,587), de glicose ≥ 126 mg/dl (p = 0,086), de plaquetas (p = 0,086), de colesterol total (p =

0,52), de LDL-C (p = 0,438) e de HDL-C (p = 0,427). Entretanto, a análise bivariada

demonstrou que os pacientes com EHNA apresentaram níveis significativamente mais

elevados de AST (p = 0,007), de ALT (p < 0,001), de ALT ≥ 60 U/l (p = 0,002), de TGs (p =

0,004), de TGs ≥ 150 mg/dl (p = 0,007) e de glicose (p = 0,036). Ressalta-se que todos os

pacientes com ALT ≥ 60 U/l tiveram o diagnóstico de EHNA.

74

Tabela 1 - Relação da idade, do sexo, do índice de massa corporal e dos exames laboratoriais com a presença de esteato-hepatite não alcoólica.

Variáveis Amostra total Com EHNA Sem EHNA p

Idade (anos)* 37,2±10,6 (n=183)

37,6±11,0 (n=141)

35,5±9,0 (n=42)

0,208

Sexo feminino° 153(80,1) (n=191)

113(79) (n=143)

40(83,3) (n=48)

0,661

IMC (Kg/m2) * 43,7±5,2 (n=191)

43,5±5,0 (n=143)

44,1±5,7 (n=48)

0,535

Ferritina (µ/l)# 119(67-208) (n=169)

123(75-239) (n=128)

97(58,5-173) (n=41)

0,120

Ferro (µ/l) * 76,4±25,2 (n=163)

75,8±24,1 (n=125)

78,4±29,1 (n=38)

0,587

**AST (U/l) # 24(19-31) (n=183)

25(20-34) (n=139)

21,5(16,3-26,8) (n=44)

0,007

**ALT (U/l) # 29 (21-47,8)

(n=183) 32(23-51) (n=139)

25(17-29,5) (n=44)

<0,001

ALT > 60 U/l° 28(15,2) (n=183)

28(20,1) (n=139)

0(0,0) (n=44)

0,002

Glicose (mg/dl) * 103,7±34,3

(n=188) 106,7±37,7

(n=142) 94,5±17,9

(n=46) 0,036

Glicose > 126 mg/dl° 24(12,8) (n=188)

22(15,5) (n=142)

2(4,3) (n=46)

0,086

Plaquetas (mil/mm3) * 278,5±68,6

(n=172) 283,3±64,8

(n=131) 269 ±68,8

(n =41) 0,233

Colesterol total (mg/dl) * 193±42 (n=186)

196,6±42,8 (n=138)

182,9±38,3 (n=48)

0,052

LDL-C (mg/dl) * 116±41 (n=186)

117,4±41,1 (n=138)

112±41,1 (n=48)

0,438

HDL-C (mg/dl) * 48,9±13,7 (n=186)

48,4±13,5 (n=138)

50,2±14,3 (n=48)

0,427

TG (mg/dl) # 122(91-193)

(n=186) 134(96-198)

(n=138) 105(72-135)

(n=48) 0,004

TG > 150 mg/dl° 68 (36,3) (n=186)

58 (42,0) (n=138)

9 (18,8) (n=48)

0,007

* Variáveis descritas por média ± desvio-padrão, #° mediana (percentis 25-75) ou °n (%). **Valores normais para ALT: 14-42 U/l e para AST: 10-42 U/l. EHNA = esteato-hepatite não alcoólica; IMC = índice de massa corporal; AST = aspartato aminotransferase; ALT = alanina aminotransferase; LDL-C = lipoproteína de baixa densidade; HDL-C = lipoproteína de alta densidade; TG = triglicerídios.

A Figura 1 apresenta as variáveis que permaneceram associadas com EHNA após o

ajuste pelo modelo multivariado (ALT > 60, glicemia ≥ 126 mg/dl e TGs ≥ 150 mg/dl).

75

Pacientes com ALT > de 60 U/l apresentaram uma prevalência de EHNA 31% maior, quando

comparados aos com ALT < 60 U/l (RP=1,31; IC 95% = 1,22-1,41; p< 0,001). Os pacientes

com glicemia > que 126 mg/dl apresentaram uma prevalência da doença 16% maior do que

aqueles com glicemia abaixo desse valor (RP = 1,16; IC 95% = 1,02 – 1,32; p = 0,022). Os

pacientes com TGs ≥ que 150 mg/dl tiveram uma prevalência de EHNA 15% maior do que

aqueles com valores abaixo deste ponto de corte (RP = 1,15; IC 95% = 1,01 - 1,30; p =

0,035). Percebe-se que os parâmetros que ficaram associados, após o ajuste multivariado,

estão predominantemente alterados nos graus moderado e severo da EHNA.

0

35,7

53,6

10,7

28,2

53,2

17,3

1,3

0

10

20

30

40

50

60

Sem EHNA EHNA leve EHNA moderada EHNA severa

% de pacientes

ALT>60

ALT<60

8,3

45,8

37,5

8,3

26,2

51,8

20,1

1,8

0

10

20

30

40

50

60

Sem EHNA EHNA leve EHNA moderada EHNA severa

% de pacientes

Glicemia>126mg/dl

Glicemia<126mg/dl

13,6

50

33,3

3

31

50

16,4

2,6

0

10

20

30

40

50

60

Sem EHNA EHNA leve EHNA moderada EHNA severa

% de pacientes

TG>150mg/dl

TG<150mg/dl

A B

C

Figura 1 – Grau de atividade da esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e o percentual de

pacientes de acordo com as alterações séricas de alanina aminotransferase (ALT) em A, de

glicose em B e de triglicerídios (TG) em C.

A Tabela 2 apresenta as varáveis relacionadas a presença ou ausência de Fb. Não

foram observadas diferenças significativas entre o sexo (p = 1,000) e o IMC (p = 0,479). Em

relação às variáveis bioquímicas, também não foram encontradas diferenças significativas

entre os níveis séricos de ferritina (p = 0,080), de Fe (p = 0,790), de plaquetas (p = 0,261), de

colesterol total (p = 0,102), de LDL-C (p = 0,934) e de HDL-C (p = 0,776). Entretanto, a

76

análise bivariada demonstrou que os pacientes com fibrose apresentaram níveis

significativamente mais elevados de AST (p = 0,040), de ALT (p < 0,008), de ALT ≥ 60 U/l

(p = 0,015), de TGs (p = 0,005), de TGs ≥ 150 mg/dl (p = 0,008), de glicose (p = 0,014) e de

glicose ≥ 126 mg/dl (p = 0,009).

Tabela 2 – Relação da idade, do sexo, do índice de massa corporal e dos exames laboratoriais com a presença de fibrose.

Variáveis Com Fb Sem Fb p

Idade (anos)* 40,0±11,4 (n=83)

34,8±9,3 (n=100)

0,001

Sexo feminino° 67(79,8) (n=84)

86(80,4) (n=107)

1,000

IMC (Kg/m2)* 43,4±5,4 (n=84)

43,9±5,0 (n=107)

0,479

Ferritina (µ/l)# 127(81-293) (n=73)

109(56-97) (n=96)

0,080

Ferro (µ/l)* 75,8±22,5 (n=73)

76,9±27,4 (n=90)

0,790

**AST (U/l)# 25(19-43) (n=83)

24 (18-28) (n=100)

0,040

**ALT (U/l) # 30(24-54)

(n=83) 26(19-39) (n=100)

0,008

ALT > 60 U/l° 19(22,9) (n=83)

9(8,9) (n=100)

0,015

Glicemia (mg/dl)* 110,9±40 (n=83)

98,0±27,9 (n=105)

0,014

Glicemia > 126 mg/dl° 17(20,5) (n=83)

7(6,7) (n=105)

0,009

Plaquetas (mil/mm3)* 273,6±59,3 (n=77)

285 ±70,6 (n =95)

0,261

Colesterol total (mg/dl)* 198,9±42,3 (n=80)

188,7±41,4 (n=106)

0,102

LDL-C (mg/dl)* 116,3±38,4 (n=80)

115,8±43,1 (n=106)

0,934

HDL-C (mg/dl)* 49,2±14,2 (n=80)

48,6±13,3 (n=106)

0,776

TG (mg/dl) # 148,5(100-199)

(n=80) 112,5(83,8-158)

(n=106) 0,005

TG ≥ 150 mg/dl° 40(50%) (n=80)

27(25,5) (n=106)

0,001

* Variáveis descritas por média ± desvio-padrão,# mediana (percentis 25-75) ou ° n (%). **Valores normais para ALT: 14-42 U/l e para AST: 10-42 U/l. Fb = fibrose; IMC = índice de massa corporal; AST = aspartato aminotransferase; ALT = alanina aminotransferase; LDL-C = lipoproteína de baixa densidade; HDL-C = lipoproteína de alta densidade; TG = triglicerídios.

77

A Figura 2 apresenta as variáveis que permaneceram associadas com Fb após o ajuste

pelo modelo multivariado (ALT > 60 U/l, idade e TGs ≥ 150 mg/dl). Pacientes com ALT > de

60 U/l apresentaram uma prevalência de Fb 22% maior, quando comparados aos com ALT <

60 U/l (RP=1,22; IC 95% = 1,00-1,48; p= 0,048). Em relação à idade, para um ano de

acréscimo, ocorreu um aumento de 1% na prevalência de Fb (RP = 1,01; IC 95% = 1,00 –

1,02; p = 0,006). Além disso, os pacientes com TGs ≥ que 150 mg/dl tiveram uma prevalência

24% maior do que aqueles com valores abaixo deste ponto de corte (RP = 1,24; IC 95% =

1,07 - 1,45; p = 0,005). Ainda, os pacientes com glicemia maior que 126 mg/dl tenderam a

apresentar uma prevalência de fibrose 22% maior do que os com glicemia abaixo deste valor

(RP = 1,22; IC 95% = 0,99 – 1,50; p = 0,058. Nota-se que, em relação à Fb, níveis elevados

de ALT, de TGs e de glicemia já são encontrados, mais prevalentemente, desde o grau leve.

A B

C

32,1

50

0

10,77,1

59

37,8

0,6 1,3 1,3

0

10

20

30

40

50

60

70

Sem Fb Fb leve Fb moderada Fb severa Cirrose

% de pacientes

ALT>60

ALT<6029,2

50

0

12,5

8,3

59,8

37,2

0,6 1,2 1,2

0

10

20

30

40

50

60

70

Sem Fb Fb leve Fb moderada Fb severa Cirrose

% de pacientes

Glicemia>126mg/dl

Glicemia<126mg/dl

39,4

54,5

03 3

65,5

29,3

0,92,6 1,7

0

10

20

30

40

50

60

70

Sem Fb Fb leve Fb moderada Fb severa Cirrose

% de pacientes

TG>150mg/dl

TG<150mg/dl

Figura 2 – Grau de fibrose (Fb) e o percentual de pacientes de acordo com as dosagens de

alanina aminotransferase (ALT) A, de glicemia B e de triglicerídios (TG) C.

78

DISCUSSÃO

O avanço no conhecimento da fisiopatologia da DHGNA tem motivado o

desenvolvimento de estudos clínicos conduzidos com o objetivo de identificar marcadores

clínicos e laboratoriais, não invasivos, de EHNA [9-12]. Nesse sentido, a idade, a obesidade,

o DM, a hipertensão arterial sistêmica, alguns marcadores de inflamação, a relação ALT /

AST > 1 e os níveis de TGs > 150 mg/dl são apontados como fatores risco para a presença de

EHNA[1]. Os resultados deste estudo mostraram que todos os pacientes cujos valores de ALT

foram maiores que 60 U/l (15% da amostra) apresentaram EHNA. Destaca-se que a ALT

maior que 60 U/l também esteve fortemente associada à Fb nesses pacientes. Este dado

ressalta a importância deste ponto de corte, até então não sinalizado na literatura, na avaliação

dos pacientes com OM que serão submetidos à CB. Além disso, aqueles pacientes cuja

mediana das aminotransferases foi mais alta, mesmo dentro dos valores de referência, já

apresentaram-se com maior prevalência de EHNA e Fb. Tal resultado não difere do que já é

preconizado no NAFLD fibrosis score [7].

Os níveis séricos de TGs e de glicose também se apresentaram associados com EHNA

e Fb no nosso estudo. Tal resultado está em conformidade do que se conhece em relação aos

fatores de risco desta doença[13]. Além dessas constatações, verificou-se que a idade também

esteve associada com a presença de Fb. Para um aumento de um ano na idade, existe um

aumento de 1% na prevalência de Fb. Esses dados são similares aos encontrados por outros

autores [14, 15].

É importante ressaltar que nesse estudo a EHNA leve não se correlacionou com as

variáveis ALT > 60 U/l, glicemia e TGs. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que o

critério diagnóstico de EHNA adotado foi o utilizado por Kleiner et al.(2005)[8]. No entanto,

recentemente Bedossa et al. (2012) propuseram um escore e algoritmo para a definição

histopatológica de EHNA nos pacientes com OM. Nesse estudo, os autores não classificam

como EHNA os pacientes que não apresentavam inequívoca balonização hepatocitária,

levando em consideração critérios adicionais para este diagnóstico, tais como, o tamanho e a

forma do hepatócito [16]. De acordo com esses critérios os autores encontraram uma

prevalência de EHNA em 34% nos pacientes com OM, que é um valor bem inferior aos do

nosso estudo. Portanto, é possível que nos nossos resultados exista uma supervalorização dos

critérios utilizados para o diagnóstico de EHNA. Outros autores descrevem uma prevalência

de EHNA entre 55 e 60%, porém os critérios de diagnóstico histopatológico não são

homogêneos, o que torna a real prevalência de EHNA difícil de ser estabelecida [17, 18].

79

A CB tem sido um tratamento importante da OM e se mostra efetiva no controle das

alterações histopatológicas encontradas na DHGNA. Estudos que compararam biópsias

hepáticas, antes e depois da perda de peso ocasionada pela cirurgia, demonstraram que este

tratamento determina uma melhora ou uma estabilização da ES, da EHNA e da Fb [6, 18]. No

entanto, em casos nos quais existe Fb avançada e até mesmo cirrose, a CB pode não alterar o

curso da EHNA e, além disso, pode aumentar a morbidade pós-operatória [19]. Com base nos

resultados desse estudo e considerando que a CB apresenta complicações inerentes ao

procedimento per-se, a realização de biópsia hepática na avaliação pré-operatória poderia ser

indicada, em casos selecionados (aqueles com ALT ≥ 60 U/l; glicemia ≥ 126 mg/dl e TGs ≥

150 mg/dl). É importante salientar que o último Consenso Americano para o Diagnóstico e

Manejo da Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (2012) recomenda a realização de

biópsia hepática em indivíduos com risco aumentado para EHNA e Fb [20].

Ao contrário de outros estudos, os resultados desse trabalho não mostraram uma

correlação positiva do IMC com o grau de esteatose, EHNA e Fb [6, 10]. Isto se deve, muito

provavelmente, ao fato de que o IMC não correspondeu, temporalmente, à realização da

biópsia, podendo ter ocorrido alguma dispersão de dados. Além disso, o IMC não traduz o

grau de adiposidade visceral, sabidamente a mais envolvida na fisiopatologia da DHGNA. É

possível que a medida da circunferência abdominal tenha uma correlação mais estreita com as

alterações hepáticas observadas nas biópsias, porém, infelizmente, este dado não foi avaliado

no presente estudo.

Em conclusão, os nossos resultados indicam que a ALT ≥ 60 U/l; a glicemia ≥ 126

mg/dl e os TGs ≥ 150 mg/dl são indicadores para um maior risco de EHNA em pacientes com

OM que foram submetidos à CB. Além disso, tais parâmetros, somados à idade, são fatores de

risco para a presença de fibrose hepática nesses pacientes.

80

REFERÊNCIAS

1. Brunt, E.M., et al., Nonalcoholic steatohepatitis: a proposal for grading and staging the histological lesions. Am J Gastroenterol, 1999. 94(9): p. 2467-74.

2. Uysal, S., et al., Some inflammatory cytokine levels, iron metabolism and oxidan stress markers in subjects with nonalcoholic steatohepatitis. Clin Biochem 2011 44(17-18): p. 1375-9.

3. Harrison, S.A., et al., Nonalcoholic steatohepatitis: what we know in the new millennium. Am J Gastroenterol, 2002. 97(11): p. 2714-24.

4. Clark, J.M., The epidemiology of nonalcoholic fatty liver disease in adults. J Clin Gastroenterol, 2006. 40 Suppl 1: p. S5-10.

5. Liew, P.L., et al., Hepatic histopathology of morbid obesity: concurrence of other forms of chronic liver disease. Obes Surg, 2006. 16(12): p. 1584-93.

6. Mathurin, P., et al., Prospective study of the long-term effects of bariatric surgery on liver injury in patients without advanced disease. Gastroenterology, 2009. 137(2): p. 532-40.

7. Musso, G., et al., Meta-analysis: natural history of non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD) and diagnostic accuracy of non-invasive tests for liver disease severity. Ann Med 2011 43(8): p. 617-49.

8. Kleiner, D.E., et al., Design and validation of a histological scoring system for nonalcoholic fatty liver disease. Hepatology, 2005. 41(6): p. 1313-21.

9. Marchesini, G., et al., Association of nonalcoholic fatty liver disease with insulin resistance. Am J Med, 1999. 107(5): p. 450-5.

10. Sanyal, A.J., et al., Nonalcoholic steatohepatitis: association of insulin resistance and mitochondrial abnormalities. Gastroenterology, 2001. 120(5): p. 1183-92.

11. Pagano, G., et al., Nonalcoholic steatohepatitis, insulin resistance, and metabolic syndrome: further evidence for an etiologic association. Hepatology, 2002. 35(2): p. 367-72.

12. Chitturi, S., et al., NASH and insulin resistance: Insulin hypersecretion and specific association with the insulin resistance syndrome. Hepatology, 2002. 35(2): p. 373-9.

13. Ratziu, V., et al., Liver fibrosis in overweight patients. Gastroenterology, 2000. 118(6): p. 1117-23.

14. Guidorizzi de Siqueira, A.C., et al., Non-alcoholic fatty liver disease and insulin resistance: importance of risk factors and histological spectrum. Eur J Gastroenterol Hepatol, 2005. 17(8): p. 837-41.

15. Rocha, R., et al., Body mass index and waist circumference in non-alcoholic fatty liver disease. J Hum Nutr Diet, 2005. 18(5): p. 365-70.

81

16. Bedossa, P., et al., Histopathological algorithm and scoring system for evaluation of liver lesions in morbidly obese patients. Hepatology 2012. 56(5): p. 1751-9.

17. Zamin, I., Jr., A.A. de Mattos, and C.G. Zettler, Nonalcoholic steatohepatitis in nondiabetic obese patients. Can J Gastroenterol, 2002. 16(5): p. 303-7.

18. Moretto, M., et al., Effect of bariatric surgery on liver fibrosis. Obes Surg 2012. 22(7): p. 1044-9.

19. Mosko, J.D. and G.C. Nguyen, Increased perioperative mortality following bariatric surgery among patients with cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol 2011 9(10): p. 897-901.

20. Chalasani, N., et al., The diagnosis and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice Guideline by the American Association for the Study of Liver Diseases, American College of Gastroenterology, and the American Gastroenterological Association. Hepatology.2012 55(6): p. 2005-23.

82

7 ARTIGO 2 – VERSÃO EM INGLÊS

TITLE

RISK FACTORS FOR THE PRESENCE OF NONALCOHOLIC

STEATOHEPATITIS IN MORBID OBESE PATIENTS SUBJECTED TO

BARIATRIC SURGERY

Losekann A., Coral GP.

83

ABSTRACT

Nonalcoholic steatohepatitis (NASH) historically characterized by the presence of

predominantly macrovesicular steatosis, associated with inflammatory infiltrate/hepatocellular

ballooning. Some studies have been conducted with the aim of identifying noninvasive

markers of NASH, however, presenting various results. The aim of this study was to correlate

the body mass index, dosage of iron, ferritin, aminotransferases (AST - ALT), fasting

glycemia, platelets, triglycerides, total cholesterol and fractions, collected in the pre-operation

of morbid obese patients subjected to bariatric surgery, with the histological changes found in

liver biopsies, conducted in the trans-operation. The serum levels of AST (p = 0.007), of ALT

(p < 0.001) and of glucose (p = 0.036), as well as the dosages of ALT ≥ 60 U/l (p = 0.002)

and of triglycerides ≥ 150 mg/dl (p = 0.007) correlate significantly with the presence of

NASH. In addition, triglyceridemia ≥ 150 mg/dl (p = 0.008), glycemia ≥ 126 mg/dl (p =

0.009) and age (p = 0.006) showed a higher prevalence in individuals with fibrosis in the

biopsy. In conclusion, these results indicate that ALT ≥ 60 U/l; glucose ≥ 126 mg/dl and

triglycerides ≥ 150 mg/dl are parameters that increase the risk for presence of NASH in

patients with morbid obesity who were subjected to bariatric surgery. In addition, age, added

to these indicators, is a risk factor for the presence of liver fibrosis in these patients.

Keywords: Nonalcoholic steatohepatitis, morbid obesity, bariatric surgery, liver biopsy, risk

factors

84

INTRODUCTION

Nonalcoholic fatty liver disease (NAFLD) encompasses a spectrum of pathological

clinical changes, ranging from simple steatosis (SS) to steatohepatitis, being able to reach

cirrhosis and hepatocellular carcinoma. Nonalcoholic steatohepatitis (NASH) is histologically

characterized by the diffuse infiltration of fat and by the presence of hepatocellular ballooning

and inflammation. The inflammation and hepatocellular ballooning are located mainly in zone

3; Mallory Body and can also be found occasionally [1]. Prognostic studies report histological

findings, such as lobular inflammation with polymorphonuclear leukocytes, degree of

steatosis and presence of Fe as predictive factors of advanced fibrosis (Fb) [2, 3].

The real prevalence of NASH is not easily known, considering that the disease is

presented in indolent and asymptomatic form and that the definitive diagnosis can only be

done by an evaluation of histopathological findings [3]. Patients with morbid obesity (MO),

that is, who have body mass index (BMI) ≥ 35 or ≥ 40 Kg/m2 and subjected to bariatric

surgery (BS) have been a population in which NAFLD has been widely studied, thanks to the

possibility of conducting transoperation liver biopsy with low morbidity. In these patients, a

prevalence of NAFLD is estimated between 84 and 96% and of NASH between 25 and 55%,

pointing out that these patients present Fb at a rate of 34 and 47%. Also note that, in the

patients with NASH, there is bridging fibrosis or cirrhosis at a rate of 2 and 12% [4].

Some studies have been conducted to evaluate clinical lab parameters with

histopathological findings. Liew et al. (2006) presented retrospective results of 152 patients

subjected to laparoscopic Bariatric Surgery, in which the insulin resistance (IR), evaluated by

the HOMA-IR index, was correlated with the diagnosis of NASH [5]. In a prospective study,

with sequential biopsies, Mathurin et al. (2009) observed the effects of Bariatric Surgery on

NAFLD and NASH. These authors showed an improvement in all histological and lab

parameters IN NAFLD in five years. It is interesting to note that the improvement in IR,

which occurs in the first year after surgery, is a predictive factor of regression of the

histological and lab parameters of NAFLD [6].

To date, hepatic lesion and Fb cannot be detected by image or lab tests. Some works

have sought to identify clinical/lab markers of NASH, like age, obesity, diabetes mellitus

(DM), systemic arterial hypertension, inflammation markers, aspartate aminotransferase

(AST)/alanine aminotransferase (ALT) ratio > 1 and triglyceride (TG) levels > 150 mg/dl.

The studies that try to correlate inflammatory markers, like some cytokines and others of

oxidative stress present various results [2, 3, 7]

85

The aim of this study was to examine if the routinely evaluated clinical and lab

parameters in the pre-surgery of patients subjected to Bariatric Surgery can predict the degree

of histological changes found in the liver biopsies conducted in the transoperation of these

patients.

86

METHODOLOGY

In this retrospective study, the pre-surgical, clinical lab parameters were analyzed,

conducted routinely in patients with MO subjected to BS in the Obesity Treatment Center of

Santa Casa de Porto Alegre Hospital Complex, in the period from January 2007 to July 2012.

The data analyzed were BMI, iron dosage (Fe), ferritin, AST and ALT, fasting glycemia,

platelets, total cholesterol, TGs, high density lipoprotein (HDL-C) low density lipoprotein

(LDL-C), collected up to 90 days before the surgery. These parameters were compared with

the histological findings of liver biopsies conducted in the transoperation of the Bariatric

Surgery (Roux-en-Y gastric bypass). Patients aged less than 18 years were excluded, as well

as those who presented serological markers for viral hepatitis and/or those with alcohol intake

> 20g/day.

The liver biopsies were conducted in the surgery’s transoperation and evaluated by the

same pathologist. The histochemical techniques used to analyze the specimen were

hematoxylin/eosin (HE), Masson’s trichrome (to evaluate Fb) and Perls (to evaluate iron

deposits). Steatosis was considered to be present on reaching over 5% of the sample studied.

The presence of 5 to 33% was considered to be mild steatosis (G1); of 33 to 66% as moderate

steatosis (G2) and greater than 66% as severe steatosis (G3) [1].

To diagnose NASH, the presence of steatosis associated with hepatocyte ballooning

and/or inflammatory infiltrate was deemed necessary. The activity of NASH was classified as

mild (A1), moderate (A2) and severe (A3), according to classification described by the

Pathology Committee of the NASH Clinical Research Network. The degree of Fb was

classified as stage A1, in the presence of sinusoidal/discrete cellular Fb; degree 1B, when

sinusoidal/dense and diffuse Fb is identified; 1c for portal Fb. Stage 2 was diagnosed when

there was pericellular/perisinusoidal associated with periportal Fb and stage 3 in the presence

of the anterior changes associated with bridging Fb. Finally, stage 4 corresponds to cirrhosis.

For statistical analysis, the degree of Fb was classified as mild stage 1A, 1B, 1C; moderate

(stage 2); severe (stage 3) and cirrhosis (stage 4) [8].

87

STATISTICAL ANALYSIS

The data was analyzed using the SPSS (Statistical Package for Social Sciences)

software, version 17.0. The continuous variables were described by means of mean and

standard deviation or median and interquartile range. The categorical variables were described

by means of absolute and relative frequencies.

To compare the continuous variables among the groups, the t-student test was used. In

case of asymmetry, the Mann-Whitney test was applied.

To compare the categorical variables, the Pearson chi-square test was applied.

To control factors of confusion and analyze variables independently associated with

NASH and Fb, the Poisson Regression analysis was applied. The measure of association used

was the Prevalence Ratio, with the confidence interval of 95% to estimate the risk in the

population. To control the effect of multicollinearity, two regression models were made, one

of them inserting the glycemia variable and the other the triglycerides variable. The criterion

for entering the variable in the multivariate model was that it have a value of p < 0.20 in the

bivariate analysis. The statistical significance level considered was 5% (p ≤ 0.05).

This study was approved by the Institutional Review Board of Irmandade da Santa

Casa de Misericórdia de Porto Alegre - ISCMPA.

88

RESULTS

Out of the 191 patients analyzed, 153 (80.1%) were of women and 38 (19.9%) men,

with an average age of 37.2 ± 10.6 years. The mean BMI was 43.7 ± 5.2 Kg/m2.

Steatosis was present in 179 (93.7%) samples. With regard to its intensity, it was

noticed that 62 (32.5%) samples were classified as mild steatosis, 54 (28.3%) as moderate and

63 (33.0%) as severe. NASH was diagnosed in 143 (74.9%) cases, being that the mild degree

was found in 95 (49.7%), the moderate in 43 (22.5%) and the severe in 5 (2.6%).

Fb was present in 84 (44%) biopsies, 73 (38.2%) of which were mild, 1 (0,5%)

moderate, 6 severe (3.1%), and cirrhosis was diagnosed in 4 (2.1%) cases.

Only 10 biopsies (5.2%) showed deposits of Fe mildly. Out of these, 6 contained Fe in

the Kupffer cells and 6 in the hepatocytes.

Table 1 presents the variables studied according to the presence or absence of NASH.

No significant differences were found among age (p = 0.208), gender (p = 0.661) and BMI (p

= 0.535). With regard to the biochemical variables, there were also no significant differences

among the serum levels of ferritin (p = 0.120), Fe (p = 0.587), glucose ≥ 126 mg/dl (p =

0.086), platelets (p = 0.086), total cholesterol (p = 0.52), LDL-C (p = 0.438) and HDL-C (p =

0.427). However, the bivariate analysis showed that the patients with NASH had significantly

higher levels of AST (p = 0.007), ALT (p < 0.001), ALT ≥ 60 U/l (p = 0.002), TGs (p =

0.004), TGs ≥ 150 mg/dl (p = 0.007) and glucose (p = 0.036). Note that all the patients with

ALT ≥ 60 U/l had the diagnosis of NASH.

89

Table 1 – Ratio of age, gender, body mass index and lab tests with the presence of

nonalcoholic steatohepatitis.

Variable* Total sample With NASH Without NASH p

Age (years) 37.2±10.6 (n=183)

37.6±11.0 (n=141)

35.5±9.0 (n=42)

0.208

Female 153(80.1) (n=191)

113(79) (n=143)

40(83.3) (n=48)

0.661

BMI (Kg/m2) 43.7±5.2 (n=191)

43.5±5.0 (n=143)

44.1±5.7 (n=48)

0.535

Ferritin (µ/l) 119(67-208) (n=169)

123(75-239) (n=128)

97(58.5-173) (n=41)

0.120

Iron (µ/l) 76.4±25.2 (n=163)

75.8±24.1 (n=125)

78.4±29.1 (n=38)

0.587

**AST (U/l) 24(19-31) (n=183)

25(20-34) (n=139)

21.5(16.3-26.8) (n=44)

0.007

**ALT (U/l) 29 (21-47.8) (n=183)

32(23-51) (n=139)

25(17-29.5) (n=44)

<0.001

ALT > 60 U/l 28(15.2) (n=183)

28(20.1) (n=139)

0(0.0) (n=44)

0.002

Glucose (mg/dl) 103.7±34.3 (n=188)

106.7±37.7 (n=142)

94.5±17.9 (n=46)

0.036

Glucose > 126 mg/dl

24(12.8) (n=188)

22(15.5) (n=142)

2(4.3) (n=46)

0.086

Platelets (thou/mm3)

278.5±68.6 (n=172)

283.3±64.8 (n=131)

269 ±68.8 (n =41)

0.233

Total cholesterol (mg/dl)

193±42 (n=186)

196.6±42.8 (n=138)

182.9±38.3 (n=48)

0.052

LDL-C (mg/dl) 116±41 (n=186)

117.4±41.1 (n=138)

112±41.1 (n=48)

0.438

HDL-C (mg/dl) 48.9±13.7 (n=186)

48.4±13.5 (n=138)

50.2±14.3 (n=48)

0.427

TG (mg/dl) 122(91-193) (n=186)

134(96-198) (n=138)

105(72-135) (n=48)

0.004

TG > 150 mg/dl 68 (36.3) (n=186)

58 (42.0) (n=138)

9 (18.8) (n=48)

0.007

* Variables described by mean ± standard deviation, median (percentiles 25-75) or n (%). **Normal values for ALT: 14-42 U/l and for AST: 10-42 U/l. NASH = nonalcoholic steatohepatitis; BMI = body mass index; AST = aspartate aminotransferase; ALT = alanine aminotransferase; LDL-C = low density lipoprotein; HDL-C = high density lipoprotein; TG = triglycerides.

Figure 1 shows the variables that remain associated with NASH after the adjustment

by the multivariate model (ALT > 60, glycemia ≥ 126 mg/dl and TGs ≥ 150 mg/dl). Patients

90

with ALT > 60 U/l showed a prevalence of NASH 31% greater, compared to those with ALT

< 60 U/l (RP=1.31; CI 95% = 1.22-1.41; p< 0.001). Patients with glycemia > 126 mg/dl

showed a prevalence of the disease 16% greater than those with glycemia below this value

(RP = 1.16; CI 95% = 1.02 – 1.32; p = 0.022). Patients with TGs ≥ 150 mg/dl showed a

prevalence of NASH 15% greater than those with values below this cutoff (RP = 1.15; CI

95% = 1.01 – 1.30; p = 0.035). Note that the parameters that were associated, after the

multivariate adjustment, are predominantly altered in the moderate and severe degrees of

NASH.

60

Figure 1 – Degree of activity of nonalcoholic steatohepatitis (NASH) and the percentage of patients

according serum alterations of alanine aminotransferase (ALT) in A, glucose in B and triglycerides

(TG) in C.

Table 2 presents the variables related to the presence or absence of Fb. No significant

differences were found between age (p = 1.000) and BMI (p = 0.479). With regard to the

biochemical variables, there were also no significant differences among the serum levels of

ferritin (p = 0.080), Fe (p = 0.790), platelets (p = 0.261), total cholesterol (p = 0.102), LDL-C

(p = 0.934) and HDL-C (p = 0.776). However, the bivariate analysis showed that the patients

0

35.7

53.6

10.7

28.2

53.2

17.3

1.3

0

10

20 % de pacientes 30

40

50 A 60 B

51.8

5045.8

37.5 40

ALT>60

W/o NASH Mild NASH Moderate NA H S

Severe NASH

ALT<60

8.3 8.3

26.2

20.1

1.8

0

10

20

30 Glycemia>126mg/dl

Glycemia<126mg/dl

% de pacientes

Moderate NASH W/o NASH Mild NASH Severe NASH

60

50 C

50 50

40 33.3

31

30 TG>150mg/dl

13.6

3

16.4

2.6

0

10

20% de pacientes

TG<150mg/dl

W/o NASH Mild NASH Severe NASHModerate NASH

91

with fibrosis had significantly higher levels of AST (p = 0.040), ALT (p < 0.008), ALT ≥ 60

U/l (p = 0.015), TGs (p = 0.005), TGs ≥ 150 mg/dl (p = 0.008), glucose (p = 0.014) and

glucose ≥ 126 mg/dl (p = 0.009).

Table 2 – Ratio of age, gender, body mass index and lab tests with the presence of fibrosis.

Variable* With Fb Without Fb p Age (years) 40.0±11.4

(n=83) 34.8±9.3 (n=100)

0.001

Female 67(79.8) (n=84)

86(80.4) (n=107)

1.000

BMI (Kg/m2) 43.4±5.4 (n=84)

43.9±5.0 (n=107)

0.479

Ferritin (µ/l) 127(81-293) (n=73)

109(56-97) (n=96)

0.080

Iron (µ/l) 75.8±22.5 (n=73)

76.9±27.4 (n=90)

0.790

AST (U/l) 25(19-43) (n=83)

24 (18-28) (n=100)

0.040

ALT (U/l) 30(24-54) (n=83)

26(19-39) (n=100)

0.008

ALT > 60 U/l 19(22.9) (n=83)

9(8.9) (n=100)

0.015

Glycemia (mg/dl) 110.9±40 (n=83)

98.0±27.9 (n=105)

0.014

Glycemia > 126 mg/dl 17(20.5) (n=83)

7(6.7) (n=105)

0.009

Platelets (thou/mm3) 273.6±59.3 (n=77)

285 ±70.6 (n =95)

0.261

Total cholesterol (mg/dl) 198.9±42.3 (n=80)

188.7±41.4 (n=106)

0.102

LDL-C (mg/dl) 116.3±38.4 (n=80)

115.8±43.1 (n=106)

0.934

HDL-C (mg/dl) 49.2±14.2 (n=80)

48.6±13.3 (n=106)

0.776

TG (mg/dl) 148.5(100-199) (n=80)

112.5(83.8-158) (n=106)

0.005

TG ≥ 150 mg/dl 40(50%) (n=80)

27(25.5) (n=106)

0.001

* Variables described by mean ± standard deviation, median (percentiles 25-75) or n (%). **Normal values for ALT: 14-42 U/l and for AST: 10-42 U/l. Fb = fibrosis; BMI = body mass index; AST = aspartate aminotransferase; ALT = alanine aminotransferase; LDL-C = low density lipoprotein; HDL-C = high density lipoprotein; TG = triglycerides.

Figure 2 shows the variables that remain associated with Fb after the adjustment by the

multivariate model (ALT > 60 U/l, age and TGs ≥ 150 mg/dl). Patients with ALT > 60 U/l

showed a prevalence of Fb 22% greater, compared to those with ALT < 60 U/l (RP=1.22; CI

95% = 1.00-1.48; p< 0.048). In relation to age, for a year of addition, there was an increase of

1% in the prevalence of Fb (RP = 1.01; CI 95% = 1.00 – 1.02; p = 0.006). In addition, patients

with TGs ≥ 150 mg/dl showed a prevalence 24% greater than those with values below this

92

cutoff (RP = 1.24; CI 95% = 1.07 – 1.45; p = 0.005). Also, the patients with glycemia greater

than 126 mg/dl tended to show a prevalence of fibrosis 22% higher than those with glycemia

below this value (RP = 1.22; CI 95% = 0.99 – 1.50; p = 0.058. Note that, with regard to Fb,

higher levels of ALT, TGs and of glycemia are already found, more prevalently, from the

mild degree.

A B

C

32.1

50.0

0

10.77.1

59.0

37.8

0.6 1.3 1.3

0

10

20

30

40

50

60

70

% of patients

ALT>60

ALT<6029.2

50.0

0

12.58.3

59.8

37.2

0.6 1.2 1.2

0

10

20

30

40

50

60

70

% of patients

Glycemia>126mg/dl

Glycemia<126mg/dl

39.4

54.5

03.0 3.0

65.5

29.3

0.92.6 1.7

0

10

20

30

40

50

60

70

W/o Fb Mild Fb Moderate Fb Severe Fb Cirrhosis

% of patients

TG>150mg/dl

TG<150mg/dl

W/o Fb Mild Fb Moderate Fb Severe Fb Cirrhosis W/o Fb Mild Fb Moderate Fb Severe Fb Cirrhosis

Figure 2 – Degree of fibrosis (Fb) and the percentage of patients according to the dosages of alanine

aminotransferase (ALT) A, of glycemia B and of triglycerides (TG) C.

93

DISCUSSION

Advance in the knowledge of the physiopathology of NAFLD has motivated the

development of clinical studies conducted with the aim of identifying noninvasive clinical and

lab markers of NASH [9-12]. In this wise, age, obesity, DM, systemic arterial hypertension,

some inflammation markers, the ALT / AST > 1 ratio and the levels of TGs > 150 mg/dl are

pointed out as risk factors for the presence of NASH [1]. This study’s results show that all

patients whose ALT values were greater than 60 U/l (15% of the sample) presented NASH.

Note that the ALT higher than 60 U/l is also strongly associated with Fb in these patients.

This data stresses the importance of this cutoff, until then not signalized in literature, in the

evaluation of patients with MO that will be subjected to Bariatric Surgery. In addition, those

patients whose median of aminotransferases was higher, eve if within the reference values,

already showed greater prevalence of NASH and Fb. This result does not differ from what is

already established in NAFLD fibrosis score [7].

The serum levels of TGs and of glucose were also associated with NASH and Fb in

our study. This result is consistent with that is known regarding the risk factors of this disease

[13]. In addition to these findings, it was verified that age was also associated wit the presence

of Fb. For a year of age increase, there is an increase of 1% in the prevalence of Fb. This data

is similar to that found by other authors [14, 15].

Note that in this study, mild NASH did not correlate with the variables ALT > 60 U/l,

glycemia and TGs. This result can be explained by the fact that the diagnostic criterion of

NASH adopted was used by Kleiner et al.(2005)[8]. However, recently Bedossa et al. (2012)

proposed a score and algorithm for the histopathological definition of NASH in patients with

MO. In this study, the authors did not classify as NASH the patients that did not show

unequivocal hepatocyte ballooning, taking into account the additional criteria for this

diagnosis, such as the size and form of the hepatocyte [16]. According to these criteria, the

authors found a prevalence of NASH in 34% in patients with MO, which is a value much

lower than that of our study. It is therefore possible that our results have an overvaluing of the

criteria used for the diagnosis of NASH. Other authors describe a prevalence of NASH

between 55 and 60%, however, the histopathological diagnostic criteria are not homogeneous,

which makes the actual prevalence of NASH difficult to be established [17, 18].

Bariatric surgery has been an important treatment of MO and has proven effective in

the control of the histopathological changes found in NAFLD. Studies that compared liver

biopsies, before and after the weight loss caused by the surgery, showed that this treatment

94

determines an improvement or stabilization of SS, of NASH and of Fb [6, 18]. However, in

cases where there is advanced Fb and even cirrhosis, Bariatric Surgery did not change the

course of NASH and, in addition, can increase post-surgical morbidity [19]. Based on the

results of this study and considering that Bariatric Surgery has complications inherent to the

procedure per se, conduction of liver biopsy in pre-surgical evaluation could be indicated in

select cases (those with ALT ≥ 60 U/l; glycemia ≥ 126 mg/dl and TGs ≥ 150 mg/dl). It is

important to note that the last American Consensus for the Diagnostic and Management of

Nonalcoholic Fatty Liver Disease (2012) recommends the conduction of liver biopsy in

individuals with increased risk of NASH and Fb [20].

Contrary to other studies, the results of this work did not show a positive correlation of

BMI with the degree of steatosis, NASH and Fb [6, 10]. This is much likely due to the fact

that the BMI did not temporarily correspond to the conduction of biopsy, and a dispersion of

data may have occurred. In addition, the BMI does not translate the degree of visceral

adiposity, knowingly more involved in the physiopathology of NAFLD. It is possible that the

measure of abdominal circumference has a closer correlation with the hepatic changes

observed in the biopsies, however, unfortunately, this data was not evaluated in this study.

In conclusion, our results show that ALT ≥ 60 U/l; glycemia ≥ 126 mg/dl and TGs ≥

150 mg/dl are indicators of a higher risk of NASH in patients with MO who were subjected to

Bariatric Surgery. In addition, such parameters, added to age, are risk factors for the presence

of liver fibrosis in these patients.

 

95

REFERENCES

1. Brunt, E.M., et al., Nonalcoholic steatohepatitis: a proposal for grading and staging the histological lesions. Am J Gastroenterol, 1999. 94(9): p. 2467-74.

2. Uysal, S., et al., Some inflammatory cytokine levels, iron metabolism and oxidan stress markers in subjects with nonalcoholic steatohepatitis. Clin Biochem, 2011. 44(17-18): p. 1375-9.

3. Harrison, S.A., et al., Nonalcoholic steatohepatitis: what we know in the new millennium. Am J Gastroenterol, 2002. 97(11): p. 2714-24.

4. Clark, J.M., The epidemiology of nonalcoholic fatty liver disease in adults. J Clin Gastroenterol, 2006. 40 Suppl 1: p. S5-10.

5. Liew, P.L., et al., Hepatic histopathology of morbid obesity: concurrence of other forms of chronic liver disease. Obes Surg, 2006. 16(12): p. 1584-93.

6. Mathurin, P., et al., Prospective study of the long-term effects of bariatric surgery on liver injury in patients without advanced disease. Gastroenterology, 2009. 137(2): p. 532-40.

7. Musso, G., et al., Meta-analysis: natural history of non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD) and diagnostic accuracy of non-invasive tests for liver disease severity. Ann Med, 2011. 43(8): p. 617-49.

8. Kleiner, D.E., et al., Design and validation of a histological scoring system for nonalcoholic fatty liver disease. Hepatology, 2005. 41(6): p. 1313-21.

9. Marchesini, G., et al., Association of nonalcoholic fatty liver disease with insulin resistance. Am J Med, 1999. 107(5): p. 450-5.

10. Sanyal, A.J., et al., Nonalcoholic steatohepatitis: association of insulin resistance and mitochondrial abnormalities. Gastroenterology, 2001. 120(5): p. 1183-92.

11. Pagano, G., et al., Nonalcoholic steatohepatitis, insulin resistance, and metabolic syndrome: further evidence for an etiologic association. Hepatology, 2002. 35(2): p. 367-72.

12. Chitturi, S., et al., NASH and insulin resistance: Insulin hypersecretion and specific association with the insulin resistance syndrome. Hepatology, 2002. 35(2): p. 373-9.

13. Ratziu, V., et al., Liver fibrosis in overweight patients. Gastroenterology, 2000. 118(6): p. 1117-23.

14. Guidorizzi de Siqueira, A.C., et al., Non-alcoholic fatty liver disease and insulin resistance: importance of risk factors and histological spectrum. Eur J Gastroenterol Hepatol, 2005. 17(8): p. 837-41.

15. Rocha, R., et al., Body mass index and waist circumference in non-alcoholic fatty liver disease. J Hum Nutr Diet, 2005. 18(5): p. 365-70.

96

16. Bedossa, P., et al., Histopathological algorithm and scoring system for evaluation of liver lesions in morbidly obese patients. Hepatology, 2012. 56(5): p. 1751-9.

17. Zamin, I., Jr., A.A. de Mattos, and C.G. Zettler, Nonalcoholic steatohepatitis in nondiabetic obese patients. Can J Gastroenterol, 2002. 16(5): p. 303-7.

18. Moretto, M., et al., Effect of bariatric surgery on liver fibrosis. Obes Surg, 2012. 22(7): p. 1044-9.

19. Mosko, J.D. and G.C. Nguyen, Increased perioperative mortality following bariatric surgery among patients with cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol, 2011. 9(10): p. 897-901.

20. Chalasani, N., et al., The diagnosis and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice Guideline by the American Association for the Study of Liver Diseases, American College of Gastroenterology, and the American Gastroenterological Association. Hepatology, 2012 55(6): p. 2005-23.

 

97

8 CONCLUSÕES GERAIS

1) A análise dos resultados

desse trabalho permite concluir que a ALT ≥ 60 U/l, a glicemia ≥ 126 mg/dl e os TGs

≥ 150 mg/dl foram associados com a presença de EHNA em pacientes com OM que

foram submetidos à CB. Além disso, a ALT ≥ 60 U/l e os TGs ≥ 150 mg/dl,

juntamente com a idade, foram associados com o aparecimento de fibrose nas biópsias

hepáticas.

2) A severidade da

esteatose foi de 30,4% para o grau leve, 28,4% para o moderado e 31,6% para o

intenso.

3) A prevalência de EHNA

nos pacientes com OM submetidos à CB foi de 70,4%.

4) Em apenas 5,2% dos

casos foram encontrados leves depósitos de Fe.

98

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP

99

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP (cont.)