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PESQUISA Research Volume 19 Número 2 Páginas 135-142 2015 ISSN 1415-2177 Revista Brasileira de Ciências da Saúde Fatores de Risco à Segurança do Enfermeiro na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Geral Risk Factors to the Safety of Nurses Working In the Intensive Care Unit of a General Hospital SAEMMY GRASIELY ESTRELA DE ALBUQUERQUE 1 RICARDO DIAS DE CASTRO 2 GABRIELA LACET SILVA FERREIRA 2 KARLA DE LIMA OLIVEIRA 3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil Enfermeira. 1 2 3 RESUMO Introdução: As unidades de terapia intensiva constituem locais onde a enfermagem presta assistência qualificada a pacientes graves. Objetivo: Identificar os fatores de riscos aos quais o enfermeiro intensivista está exposto e que podem ocasionar acidentes de trabalho. Material e Métodos: Foi utilizada uma abordagem indutiva com procedimento comparativo e estatístico através da observação direta extensiva, utilizando questionários. A amostra foi composta por 15 enfermeiros atuantes há dois anos ou mais em um hospital de referência de João Pessoa – PB. Dentre os itens avaliados nos questionários, buscou-se caracterizar e avaliar as exigências do contexto de trabalho e os riscos aos quais os enfermeiros estão expostos. Resultados: Verificou-se que 60% dos sujeitos responderam que às vezes o ritmo de trabalho é excessivo; 73,3% disseram que às vezes as condições de trabalho são precárias; 46,6% responderam que frequentemente existe muito barulho no ambiente de trabalho; 53,4% assinalaram que é bastante exigido ter controle das emoções. Além disso, 86,7% dos participantes referiram ter sentido três ou mais vezes dores no corpo e 46,6% referiram três ou mais episódios de estresse desencadeado pelo convívio com a dor, o sofrimento e a morte. Conclusão: Foram identificados riscos biológicos, como acidentes com perfurocortantes e fluidos gerais de pacientes, riscos físicos, a exemplo de exposição à radiação e ruídos, riscos químicos devido à exposição a substâncias como antissépticos, ergonômicos, associados a esforços repetidos entre outros, assim como risco ocupacional, remetendo principalmente ao ritmo de trabalho excessivo. DESCRITORES Riscos Ocupacionais. Unidade de Terapia Intensiva. Equipe de Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Enfermagem do Trabalho. ABSTRACT Introduction: Intensive care units (ICUs) are facilities where the nursing staff provides specialized care to critically-ill patients. Objective: To identify the risk factors that can cause accidents in ICUs to which nurses are exposed. Material and Methods: This study used an inductive approach, with comparative statistical procedure, and extensive direct observation by means of a questionnaire. The sample consisted of 15 nurses who had been working for two years or more in a reference hospital located in Joao Pessoa, PB. Based on the topics covered in the questionnaire, we aimed to characterize and evaluate the requirements of the working environment and the risks to which nurses are exposed. Results: A total of 60% of subjects reported that sometimes the pace of work is excessive; 73.3% said that working conditions are precarious; 46.6% reported that there is often a lot of noise in the workplace; 53.4% indicated that they are strongly required to have enough control of emotions. In addition, 86.7% of participants reported having felt body aches three or more times; and 46.6% reported three or more episodes of stress caused by living with the pain, suffering and death. Conclusion: We identified biological hazards, such as accidents with needlestick and general fluids of patients; physical risks, such as exposure to radiation and noise; chemical hazards, one of them due to exposure to substances such as antiseptics; ergonomic issues, associated with repeated efforts and others, as well as occupational hazards, referring mainly to the excessive pace of work. DESCRIPTORS Occupational risks. Intensive Care Unit. Nursing staff. Worker’s health. Occupational Health Nursing. http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs DOI:10.4034/RBCS.2015.19.02.08

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PESQUISA

Research Volume 19 Número 2 Páginas 135-142 2015ISSN 1415-2177

Revista Brasileira de Ciências da Saúde

Fatores de Risco à Segurança doEnfermeiro na Unidade de Terapia

Intensiva de um Hospital GeralRisk Factors to the Safety of Nurses Working In the Intensive

Care Unit of a General Hospital

SAEMMY GRASIELY ESTRELA DE ALBUQUERQUE1

RICARDO DIAS DE CASTRO2

GABRIELA LACET SILVA FERREIRA2

KARLA DE LIMA OLIVEIRA3

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil.Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, BrasilEnfermeira.

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RESUMOIntrodução: As unidades de terapia intensiva constituem locaisonde a enfermagem presta assistência qualificada a pacientesgraves. Objetivo: Identificar os fatores de riscos aos quaiso enfermeiro intensivista está exposto e que podem ocasionaracidentes de trabalho. Material e Métodos: Foi utilizada umaabordagem indutiva com procedimento comparativo eestatístico através da observação direta extensiva, utilizandoquestionários. A amostra foi composta por 15 enfermeirosatuantes há dois anos ou mais em um hospital de referênciade João Pessoa – PB. Dentre os itens avaliados nosquestionários, buscou-se caracterizar e avaliar as exigênciasdo contexto de trabalho e os riscos aos quais os enfermeirosestão expostos. Resultados: Verificou-se que 60% dossujeitos responderam que às vezes o ritmo de trabalho éexcessivo; 73,3% disseram que às vezes as condições detrabalho são precárias; 46,6% responderam quefrequentemente existe muito barulho no ambiente de trabalho;53,4% assinalaram que é bastante exigido ter controle dasemoções. Além disso, 86,7% dos participantes referiram tersentido três ou mais vezes dores no corpo e 46,6% referiramtrês ou mais episódios de estresse desencadeado peloconvívio com a dor, o sofrimento e a morte. Conclusão: Foramidentificados riscos biológicos, como acidentes comperfurocortantes e fluidos gerais de pacientes, riscos físicos,a exemplo de exposição à radiação e ruídos, riscos químicosdevido à exposição a substâncias como antissépticos,ergonômicos, associados a esforços repetidos entre outros,assim como risco ocupacional, remetendo principalmente aoritmo de trabalho excessivo.

DESCRITORESRiscos Ocupacionais. Unidade de Terapia Intensiva. Equipede Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Enfermagem doTrabalho.

ABSTRACTIntroduction: Intensive care units (ICUs) are facilities wherethe nursing staff provides specialized care to critically-illpatients. Objective: To identify the risk factors that can causeaccidents in ICUs to which nurses are exposed. Materialand Methods: This study used an inductive approach, withcomparative statistical procedure, and extensive directobservation by means of a questionnaire. The sampleconsisted of 15 nurses who had been working for two yearsor more in a reference hospital located in Joao Pessoa, PB.Based on the topics covered in the questionnaire, we aimedto characterize and evaluate the requirements of the workingenvironment and the risks to which nurses are exposed.Results: A total of 60% of subjects reported that sometimesthe pace of work is excessive; 73.3% said that workingconditions are precarious; 46.6% reported that there is oftena lot of noise in the workplace; 53.4% indicated that they arestrongly required to have enough control of emotions. Inaddition, 86.7% of participants reported having felt bodyaches three or more times; and 46.6% reported three ormore episodes of stress caused by living with the pain,suffering and death. Conclusion: We identified biologicalhazards, such as accidents with needlestick and generalfluids of patients; physical risks, such as exposure toradiation and noise; chemical hazards, one of them due toexposure to substances such as antiseptics; ergonomicissues, associated with repeated efforts and others, as wellas occupational hazards, referring mainly to the excessivepace of work.

DESCRIPTORSOccupational risks. Intensive Care Unit. Nursing staff.Worker’s health. Occupational Health Nursing.

http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs

DOI:10.4034/RBCS.2015.19.02.08

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ALBUQUERQUE et al.

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O termo saúde do trabalhador refere-se a umcampo do saber que visa compreender asrelações entre trabalho e processo saúde-

doença. Parte do princípio de que a forma de inserçãodos indivíduos nos espaços de trabalho contribuidecisivamente para formas específicas de adoecer emorrer1.

As Unidades de Terapia Intensiva (UTI)constituem locais onde se internam pacientes graves,que requerem um cuidado especial, necessitando assimde recursos técnicos e humanos especializados parasua recuperação, onde os profissionais de enfermagematuantes, por exemplo, os enfermeiros, vivenciam váriosestressores no seu ambiente de trabalho, em decorrênciadas suas diversas atribuições, o que pode vir adesencadear riscos à sua saúde, tanto física quantopsíquica, uma vez que o contato contínuo com opaciente, o excesso de trabalho, a falta de treinamento ede precaução nesse setor pode resultar em transmissãode doenças infecto-contagiosas e em outros tipos deacidentes do trabalho2.

A equipe multidisciplinar de uma UTI deve levarem conta os riscos ambientais e ocupacionais aos quaisos profissionais dessas unidades estão expostosdiariamente3. Os principais fatores de riscos à segurançado enfermeiro na unidade de terapia intensiva são dotipo: biológicos, físicos, químicos, ergonômicos eocupacionais.

Os riscos biológicos dizem respeito àsexposições contínuas a microrganismos e as secreçõesno geral; o risco físico associa-se às condições doambiente de trabalho; o risco químico inclui asexposições a materiais químicos utilizados na rotina dodia-a-dia; o risco ergonômico está relacionado aotransporte de pacientes que exige esforço físico e podedesencadear Distúrbios Osteomusculares Relacionadosao Trabalho (DORT); e por fim os riscos ocupacionaisestão ligados no geral a situações de trabalho quecontribuem na quebra do equilíbrio biopsicossocial doindivíduo3-6.

A literatura relata que os profissionais deenfermagem estão mais expostos a microrganismos esecreções, pelo contato direto com o paciente que sefaz necessário na realização dos inúmeros procedi-mentos e intervenções terapêuticas que necessitamutilizar materiais perfurocortantes, incisões, sondagense cateteres4.

Dentre os riscos físicos, destacam-se a exposiçãoà radiação e a ruídos, bem como problemas decorrentesde instalação elétrica, iluminação e climatização5. Cercade 85% das afecções cutâneas são dermatites alérgicasou por irritação, e têm os agentes químicos comocausadores. Os principais agentes de dermatoses são

antibióticos, antissépticos, desinfetantes, detergentes,luvas de borracha e sabões6.

Em relação ao risco ergonômico, estudo afirmaque este afeta os profissionais, podendo interferir nascaracterísticas psicofisiológicas do trabalhadorcausando desconforto ou afetando a sua saúde3.

Um estudo analisou os riscos relacionados àequipe de Enfermagem numa Unidade de TerapiaIntensiva em 19 profissionais de enfermagem da UTI,constatou-se que os principais riscos ocupacionaisencontrados foram o excesso de ruídos na unidade, atemperatura inadequada do ambiente, a inobservânciado controle de gases e vapores, a utilização inadequadados equipamentos de proteção individual durante osprocedimentos (observada na manipulação e no preparodas medicações e durante os cuidados de enfermagemao paciente) e a exposição radioativa. Também seregistrou a exposição diária a agentes biológicos, fatorespsicossociais e de natureza ergonômica7.

Os riscos inerentes ao trabalho da equipemultiprofissional na UTI foram descritos por um estudoque caracterizou o perfil dos profissionais que atuamna unidade de adultos e identificou os riscos à equipemultiprofissional que presta assistência nesse serviço,através da percepção do próprio profissional. A amostrado estudo foi composta por 15 profissionais da área dasaúde, dentre estes cinco eram enfermeiros. Constatou-se que o risco mais apontado pelos profissionais foi ode acidente com material perfurocortante (riscomecânico/acidentes), com oito citações; seguido de seiscitações em relação ao risco com a manipulação deprodutos químicos e quatro em relação ao risco deexposição aos fluidos infectantes (risco biológico)8.

É sabido que os riscos ocupacionais da equipeintensivista estão relacionados com os riscos de seuspacientes, os quais, em intervenção diagnóstica devidoa doenças diversas, passam por um elevado número deprocedimentos e intervenções terapêuticas quenecessitam utilizar materiais perfurocortantes e expõemprofissionais de saúde ao contato com sangue,secreções, fluidos corpóreos por incisões, sondagense cateteres.

Através da educação em saúde, pode-se realizara prevenção de acidentes de trabalho desencadeadospor esses riscos, levando informações aos profissionaissobre o que estão expostos diariamente no seu ambientelaboral, levando a conscientização de cada um e tambémmostrando aos mesmos como evitar práticas de risco,bem como levar a busca de resoluções para essaproblemática5.

Sabendo que alguns eventos e estressoresdiários podem interferir na psicofisiologia do trabalhadore causar desconforto e/ou afetar a sua saúde, o presenteestudo buscou identificar os principais fatores de riscosaos quais o enfermeiro em uma unidade de terapia

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intensiva está exposto e que podem ocasionar umacidente de trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizou-se uma abordagem indutiva, comprocedimento comparativo-estatístico e como técnicade pesquisa a observação direta extensiva por meio deaplicação de questionários9. A amostra foi compostapor todos os enfermeiros atuantes há mais de dois anosna UTI de um hospital público de referência em JoãoPessoa – PB, totalizando 15 participantes (n = 15).

Os instrumentos foram compostos de duaspartes, a primeira referente à caracterização da amostracom dados sociodemográficos e profissionais, e asegunda parte consistiu em uma adaptação doinstrumento quantitativo com validação anterior paravários grupos ocupacionais, o Inventário de Trabalho eRiscos de Adoecimento (ITRA)10, avaliando os riscosno contexto de trabalho, as exigências decorrentes dasfunções exercidas, e a exposição a problemas físicos,psicológicos e sociais, como também a ocorrência deacidente laboral.

Após a coleta de dados, o processamento dessesobedeceu à seguinte sequência: pré-análise (organizaçãodo material), descrição analítica dos dados (codificação,classificação, categorização), interpretação referencial(análise descritiva). Foi realizado o confronto dos dadoscom estudos anteriores e literatura científica11.

Este estudo foi encaminhado ao Comitê de Éticaem Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderleyda Universidade Federal da Paraíba e aprovado sobprotocolo nº 622/10.

RESULTADOS

As tabelas a seguir referem-se à caracterizaçãodos enfermeiros atuantes nas Unidades de TerapiaIntensiva geral, cardiológica, neonatal e pediátrica emum hospital de referência de João Pessoa – PB no anode 2010 (Tabelas 1, 2 e 3), bem como a caracterização docontexto de trabalho (Tabela 4), avaliação das exigênciasdecorrentes do contexto de trabalho (Tabela 5), tiposde problemas físicos, psicológicos e sociais (Tabela 6)e riscos de exposição e ocorrência de acidentes detrabalho (Tabela 7).

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DISCUSSÃO

Os acidentes de trabalho estão presentes nodia-a-dia de todos os trabalhadores, e de certa formaestão vinculados ao tipo de trabalho desenvolvido porestes. Para os profissionais de saúde, como por exemplo,de uma UTI, pode existir uma relação causal com ascondições de trabalho, evidenciando a relação noprocesso saúde-doença-trabalho.

Neste estudo, o sexo feminino correspondeu aquase totalidade dos participantes. Sobre este aspecto,estudo prévio12, ao relacionar o gênero à sobrecarga detrabalho na enfermagem, sugere que as trabalhadoras,

além de acumularem jornadas de trabalho, somam estastarefas às atividades domésticas, o que pode levar àexaustão e ao desgaste físico e mental.

Em relação ao ritmo excessivo de trabalhocitado pelos participantes desse estudo, a literaturadestaca que a UTI é um local estressante, que se deveao fato de ser um ambiente com pacientes em estadograve, cheio de ruídos, que exige o convívio comsituações de angústia e morte, que muitos profissionaispodem não estar preparados2, podendo gerar um ritmode trabalho excessivo, quando a equipe profissionalreduzida seja insuficiente para atender a demanda depacientes.

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As condições de trabalho que oferecem riscosà segurança individual tiveram destaque frequentenesse estudo, a exemplo da manipulação deinstrumentos, como: desfibrilador, esfigmomanômetro,termômetros, lâmpadas fluorescentes, que contémmercúrio, elemento de extrema toxicidade13.

Também foi verificado que o espaço físico foicitado pelos trabalhadores como inadequado e esse fatopode estar relacionado a quedas por piso liso e/oumolhado e arranjo físico inadequado, desconfortotérmico, instalação elétrica e iluminação inadequadas4.Ressalta-se que os trabalhadores de enfermagem emUTI desenvolvem muitas atividades que exigem esforçofísico, tais como manusear o paciente, retirar e colocarmonitores de prateleiras e mesas auxiliares, organizaros equipamentos e mobiliário à beira do leito e em salasespeciais, dispor materiais de consumo no posto detrabalho e separar os equipamentos e mobiliários comproblemas técnicos para reparos4, requerendo, portanto,um ambiente físico adequado ao trabalho, necessáriopara manutenção da segurança aos trabalhadores eusuários.

Em consonância com os achados relacionadosaos problemas físicos, psicológicos e sociais da amostra,um estudo destacou que o convívio com a dor, osofrimento e a morte, apesar de fazer parte da vidaprofissional da equipe de enfermagem, apresenta-secomo forte fator estressante neste meio, ressaltando-seque a morte, mesmo quando inevitável, gera sofrimento.Este fato tem influência, em muitos casos, noaparecimento de problemas psicossociais em muitosprofissionais de enfermagem6.

A enfermagem é uma profissão estressante eesse fato se relaciona ao trabalho com pessoas quesofrem e requerem grande demanda de atenção,compaixão e simpatia. O enfermeiro quando lida comessa situação pode se sentir irritado, deprimido edesapontado. Esses sentimentos podem serconsiderados incompatíveis com o desempenhoprofissional, trazendo consequentemente a culpa e oaumento da ansiedade14.

Em relação aos riscos de exposição e ocorrênciade acidentes de trabalho encontrados nesse estudo,estes foram semelhantes em resultados de trabalhosanteriores, constatando que os ruídos são frequentes econtínuos no ambiente de uma UTI, dada a presençados variados tipos de alarmes integrados aos modernosequipamentos, correlacionando-se esses com estresse,podendo o indivíduo adquirir comprometimento em seuestado físico, mental e social, quando está exposto a

níveis elevados de ruído por um período de tempo longo.Entre estas consequências, a mais definida equantificada consiste em danos ao sistema auditivo edistúrbios relacionados ao sono e ao descanso dosprofissionais7.

Foi observada exposição à radiação, comfrequência de cinco vezes ou mais na maioria dostrabalhadores. Este dado é corroborado por um estudorealizado em UTI de um hospital universitário, onde 22%dos trabalhadores citaram a exposição à radiação comoum risco existente no ambiente de trabalho3. A exposiçãoé diária e periódica, devido a procedimentos radiológicosde rotina no leito (localização de cateteres, fraturas earteriografias), porém não contínua.

Com base nos resultados encontrados,observa-se o quão importante é o uso de equipamentosde proteção individual, bem como a necessidade deimplantação de diretrizes voltadas para a saúde dotrabalhador de enfermagem, uma vez que se sabe aproblemática que envolve o processo saúde-doençadesses profissionais. Além disso, a exposição doprofissional a riscos no ambiente laboral e asconsequências das exigências deste tipo de trabalhopodem afetar os processos humanísticos e psicossociaisda assistência, desencadeando prejuízos em proporçõesdiversas tanto para o cuidador como para o ser cuidado.

Este estudo possui limitações por ter sidorestrito a apenas um hospital público da cidade de JoãoPessoa, Paraíba, no entanto os resultados indicam queo tema merece atenção e, portanto, sugere-se acontinuidade do estudo em um universo maior, comotambém abrangendo hospitais privados, para que possaser estabelecida uma análise comparativa, além de poderinferir sobre a realidade dos profissionais deenfermagem atuantes em UTIs em município de grandeporte populacional.

CONCLUSÃO

Dentre os diversos fatores de risco aos quaisos enfermeiros de uma UTI estão expostos, foramidentificados, com maior frequência, riscos biológicos,como acidentes com perfurocortantes e fluidos geraisde pacientes, riscos físicos, a exemplo de exposição àradiação e ruídos, riscos químicos devido a exposição asubstâncias como antissépticos, ergonômicos,associados a esforços repetidos entre outros, assimcomo risco ocupacional, remetendo principalmente aoritmo de trabalho excessivo.

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CorrespondênciaSaemmy Grasiely Estrela de AlbuquerqueEndereço: Rua Oteca do Rego Luna, 29CEP: 58075-450João Pessoa, Paraíba, BrasilE-mail: [email protected]