famÍlias psicÓticas e a abordagem sistÊmica

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  • 7/23/2019 FAMLIAS PSICTICAS E A ABORDAGEM SISTMICA

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    Centro Universitrio de Braslia

    FACS FACULDADE DE CINCIAS DA SADE

    CURSO: PSICOLOGIA

    FAMLIAS PSICTICAS E A ABORDAGEM SISTMICA

    Ana Paula Souza de Andrade

    BRASLIA

    JUNHO/2003

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    ANA PAULA SOUZA DE ANDRADE

    FAMLIAS PSICTICAS E A ABORDAGEM SISTMICA

    Monografia apresentada como requisito para

    concluso do curso de Psicologia do

    UniCEUB Centro Universitrio de Braslia

    Profa. Orientadora: Morgana de Almeida

    Queiroz.

    Braslia -DF, junho de 2003

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    Agradeo especialmente Professora Morgana

    por sua capacidade de acolhimento, conhecimento

    e disposio para orientar o meu trabalho,

    possibilitando que eu o realizasse da forma como

    desejava.

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    SUMRIO

    Introduo.........................................................................................................................................7

    CAPTULO I

    A famlia no contexto sistmico .....................................................................................................9

    1.1 Sistemas e subsistemas .............................................................................................................10

    CAPTULO II

    A viso sistmica da psicose .........................................................................................................13

    CAPTULO III

    Estudos sobre a terapia familiar ....................................................................................................14

    3.1 Emoes Expressas .................................................................................................................14

    3.2 Circularidade ...........................................................................................................................15

    3.3 Duplo vnculo ..........................................................................................................................16

    3.4 Papis familiares ......................................................................................................................17

    3.5 O padro homeosttico.............................................................................................................17

    CAPTULO IV

    A relao patolgica .....................................................................................................................204.1 Circularidade patolgica .........................................................................................................22

    4.2 A ruptura do sistema ...............................................................................................................24

    4.3 Jogos psicticos ......................................................................................................................24

    CAPTULO V

    Trabalho psicoterpico ..................................................................................................................27

    5.1 O caso Roland .........................................................................................................................28

    5.2 Paradoxos ................................................................................................................................305.3 Jogos ........................................................................................................................................31

    5.4 Induo de crise .......................................................................................................................33

    5.5 O processo de fuga ...................................................................................................................34

    CAPTULO VI

    A mudana ....................................................................................................................................37

    6.1 Novas formas de inter-relao ................................................................................................37

    6.2 Multidimensionalidade ...........................................................................................................38

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    6.3 A cura .....................................................................................................................................38

    Concluso .....................................................................................................................................41Referncias bibliogrficas ............................................................................................................44

    RESUMO

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    Neste trabalho procura-se estudar o inter-relacionamento familiar atravs da abordagem sistmica,

    considerando que a dificuldade de inter-relao possa ser a formadora de um sistema psictico. apresentado um estudo de um caso extrado da literatura, a fim de demonstrar tais questes, assimcomo esclarecer seu tratamento, para que se possa criar uma viso mais ampliada do assunto. Otrabalho organizado em sete captulos. No captulo um procura-se mostrar a importncia daconvivncia familiar. No captulo dois apresentado como abordagem sistmica considera apsicose. No captulo trs o contedo histrico da terapia sistmica familiar est em destaquefocalizando sua origem no aprofundamento dos distrbios esquizofrnicos. No captulo quatro anfase na relao psictica esclarece como o inter-relacionamento conturbado contribui para amanuteno do quadro patolgico. No captulo cinco so destacadas formas de tratamento paraque se possa romper o padro disfuncional do sistema. No captulo seis so verificadas assolues produzidas por estes trabalhos teraputicos capazes de trazer um processo de inter-

    relacionamento equilibrado dentro do sistema.

    Este presente trabalho traz como tema central de discusso a relao entre psicose e

    famlia de acordo com a abordagem sistmica. O problema direciona-se para estudar e aprofundar

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    as questes tericas da relao familiar, como esta sendo uma possvel geradora e mantendedora

    de uma psicose dentro do sistema familiar.O objetivo geral deste trabalho estudar o indivduo e o sistema familiar psictico na sua

    relao, a forma como essa correlao e o compartilhamento das convivncias afetam a cada

    membro e ao grupo, ao mesmo tempo, sendo o vnculo e a interao capazes de produzir diversas

    estruturas, processos e efeitos no sistema podendo citar, entre eles, a psicose.

    A contribuio deste estudo se dirige para um maior esclarecimento sobre as

    caractersticas, que possam passar desapercebidas numa relao familiar psictica, mas que so

    significativas para o aparecimento e a manuteno do distrbio. Assim, a viso ampliada do

    problema pode, pelo seu maior conhecimento, produzir um tratamento focalizado e adequado,

    devido ao melhor conhecimento sobre tal questo tendo assim, um conseqente direcionamento

    eficiente.

    A abordagem sistmica interessa-se em estudar as relaes entre pessoas, caracterizando a

    famlia como um sistema mltiplo, com cada indivduo interferindo sobre o sistema como um

    todo.

    Sabe-se que a famlia um sistema determinante para a formao e para a integridade do

    indivduo. Este, por sua vez, se desenvolve atravs de caractersticas mltiplas que esto presentesao seu redor e so capazes de interferir na sua subjetividade. A relao familiar pode ser

    considerada um dos elementos que produz diversos graus de equilbrio dentro do sistema.

    Neste sentido, de acordo com cada relao familiar, diante do surgimento de um conflito

    caso a reao apresente-se de forma inadequada, a psicose pode aparecer como forma de sintoma.

    Seja qual for o tipo de situao que atinja, mesmo que, somente um indivduo. A

    influncia desta sobre os demais persiste, produzindo uma nova forma de inter-relao no sistema

    que devido a ter que se adaptar passa agora a conviver com outro tipo de processo de inter-relacionamento.

    O desenvolvimento desta relao pode produzir diversos distrbios no ciclo familiar. Estes

    podem passam a ser formadores de padres de comportamento que mantm a caracterstica de

    competio entre os subsistemas no grupo.A patologia transcende num processo circular capaz de

    impedir que o grupo livre-se dela, devido sua manuteno pelas caractersticas desarticuladas do

    sistema.

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    O processo teraputico sistmico quando trabalhado numa famlia psictica, apresenta-se

    atravs de mtodos que podem ser capazes de demonstrar o conflito encoberto, at ento, geradordo sistema psictico do grupo.

    O modelo sistmico vem atravs de todos estes padres produzindo mudanas

    significativas nas famlias psicticas.

    Dentro desta perspectiva, a resoluo dos conflitos e da reformulao da famlia psictica

    na abordagem sistmica demonstra que, o tratamento adequado do sistema, torna-o equilibrado e

    capaz de se responsabilizar por seus problemas.

    A inter-relao torna-se saudvel e cada membro desenvolve uma forma de participar

    desse novo sistema que representa um exemplo de formulao social adequado para a sua

    convivncia e para os padres sociais.

    Este trabalho est organizado em captulos. O captulo um esclarece a apresentao dos

    aspectos formadores de uma famlia enquanto sistema, o captulo dois visa o esclarecimento da

    psicose atravs da abordagem sistmica, o captulo trs direciona-se para a terapia familiar

    contextualizando seus estudos, o captulo quatro entra no processo da relao psictica enfocando

    suas caractersticas essenciais, o captulo cinco apresenta o trabalho teraputico atravs de um

    estudo de caso extrado da literatura direcionando-se para o uso de mtodos que possam desfazero conflito, o captulo seis traz o resultado deste trabalho quais mudanas pode criar e, finalmente,

    apresentada uma concluso sobre todo o assunto abordando uma discusso que envolve todas as

    questes apresentadas neste estudo.

    1. A FAMLIA NO CONTEXTO SISTMICO

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    A famlia a unidade bsica do indivduo, assim como da doena, suas condies de vida

    esto relacionadas ao seu tempo e lugar. A civilizao desenvolveu desde os ancestrais, umaforma paternalista para a famlia. Os vnculos familiares so mantidos por fatores biolgicos,

    psicolgicos, sociais e econmicos. A famlia se adapta sociedade de acordo com sua evoluo,

    seguindo sua maneira de nascimento, crescimento e desenvolvimento, estabelecendo uma

    capacidade de adaptar-se s mudanas e conflitos. Existe a tradio na sociedade de impor ao

    homem o dever de zelar por seus filhos como um tipo de manter o direito que ele tem sobre sua

    esposa.

    Segundo ries (1981) na Idade Antiga percebia-se a prevalncia da famlia externa que

    defendia seu latifndio. Na Idade Moderna houve transformao do bem rural para o capital, a

    formao da famlia nuclear, com a presena, ainda das relaes hierrquicas de poder. Os papis

    familiares foram modificados, mas no perderam seu valor. As casas passaram a ser subdivididas

    e a privacidade da famlia nuclear respeitada. A mudana destas estruturas, culturais, sociais,

    econmicas e psicolgicas tm como base a afetividade, ausente na antiguidade onde os interesses

    econmicos e o poder predominavam.

    A relao familiar quando se constitui tem como base uma histria, que se estabelece

    atravs das relaes triangulares (pai-me-filho), primeiramente. A famlia forma tipos deindivduos de acordo com suas necessidades e, assim, cada membro concilia suas condies do

    passado com as do presente, num processo contnuo de desenvolvimento.

    O controle emocional dos membros da famlia, normalmente, determinado pelos pais,

    seus caracteres j esto enraizados na famlia originados dos seus antepassados. Numa famlia

    saudvel h um padro de equilbrio emocional que mantido de acordo com os padres de

    convivncia. O comportamento de cada membro afetado por outros membros, ou seja, qualquer

    mudana na interao altera a atitude do grupo.Bateson (1972) considera a famlia como um sistema homeosttico, em que a organizao

    mantida por caracteres e regras especficas que produzem a organizao entre os membros e a

    previsibilidade dos comportamentos. As regras familiares so organizadas de acordo com suas

    relaes e com a cultura.

    Nesse sentido, pode-se considerar a famlia como um sistema que se relaciona por meio de

    regras propriamente de sua auto-manuteno, podendo estas serem atingidas por desestabilizaes

    ou desequilbrios, mas que dentro de um sistema saudvel retornam ao processo de estabilizao

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    novamente, atravs de um mecanismo especfico que a prpria famlia desenvolve para se

    restabelecer de forma adequada e manter o equilbrio homeosttico.A homeostase regulada pela retroalimentao negativa. Assim, pode-se visualizar a

    famlia como capaz de manter um equilbrio, mas tambm de adaptar-se a novas situaes que

    surgem de acordo com a intensidade das mudanas que a afetarem. Esse processo pode ser visto

    como retroalimentao positiva. Isso demonstra a importncia deste aspecto na famlia para

    manter o equilbrio que freqentemente atingida por modificaes sendo estas de extrema

    relevncia para a mesma e capazes de indicar o seu grau de equilbrio e estabilizao.

    No entanto, o equilbrio pode vir diante de situaes conflituosas o que produz o problema

    da manuteno de um quadro de disfuno. Considerando a relao do sistema, caso o desvio das

    normas atinja a um membro, esta situao pode fazer com que a famlia necessite se adequar a

    uma nova estrutura e, assim, criar outro processo de homeostasia familiar, diferente do anterior

    podendo ser tambm mantendedor de um conflito sendo este capaz de desestruturar o sistema.

    Calil (1987) coloca que a relao familiar passa por fronteiras que demonstram a forma

    como lidar com a sociedade, consigo prpria e com cada membro pertencente mesma. Numa

    relao saudvel o sistema permevel o que permite a comunicao adequada entre si, seus

    subsistemas e sistemas externos.1.1 Sistemas e subsistemas

    Os subsistemas representam partes do grupo familiar, esposos, irmo, filhos. Estes, por sua

    vez, funcionam influenciando uns aos outros atravs das suas funes especficas, criando assim,

    um sistema de interdependncia no qual a situao torna-se saudvel quando o sistema desenvolve

    seus papis de forma adequada, atuando uns sobre os outros, mas com cada um possuindo suas

    caractersticas prprias e trabalhando em conjunto. Num sistema de reciprocidade a forma como o

    sistema familiar e seus subsistemas se relacionam consigo e com a sociedade deve seguir umlimite de permeabilidade. As interaes devem ser desenvolver, mas com cada sistema mantendo

    suas especificidades, a diferenciao deve existir de forma que cada grupo continue aberto, mas

    sem perder sua identidade.

    Essa diferenciao representa a necessidade de coeso e manuteno do grupo. Sabe-se

    que o indivduo parte do grupo, mas que com o passar do tempo este deve ser tornar

    independente do sistema familiar, formando sua prpria identidade para que possa a partir de

    novas funes, ser capaz de formar um novo sistema. Esse processo de separao e individuao

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    deve ser capaz de criar autonomia e capacidade de inter-relao no indivduo que tem como base

    suas estruturas de formao do sistema de origem.No entanto, importante considerar que esse novo sistema se tornar um subsistema parte

    de uma rede de relaes em que o sujeito se enriquece atravs de novos inter-relacionamentos,

    mas mantendo sua individuao num processo evolutivo.

    A capacidade de adaptar-se a mudanas, enfrentar perodos de desequilbrio com a

    manuteno das relaes adequadas, propiciam a passagem para um novo equilbrio. A

    diferenciao entre os membros ponto fundamental para que esta situao acontea. A

    estimulao da coeso e da diferenciao traz a estabilidade da relao e aceitao das

    diferenciaes. Nesse sentido, o sistema enriquecido, h a troca de inter-relacionamentos em

    que cada um mantm seu prprio sistema e respeita o outro.

    Numa famlia funcional, h uma maneira de saber lidar com os conflitos.Os pais possuem

    alianas e flexibilidade o que auxilia a maneira de reagirem aos desequilbrios. Existe o apoio aos

    filhos, sem deixar de demonstrar o sinal de autoridade, quando necessrio.

    Uma doena emocional pode integrar ou desintegrar uma relao familiar. Atualmente, v-

    se famlias abertas onde h trocas, ou ento, famlias totalmente fechadas que trazem consigo as

    patologias. O aparecimento dos papis indefinidos tambm traz consigo a formao de patologiase a no estruturao familiar.

    Na famlia moderna percebe-se cada vez mais o desequilbrio entre a interao e os papis.

    O mecanismo triangular est desordenado e, assim, todo o grupo se compromete num emaranhado

    de situaes que podem levar a formao de laos patologizados.

    Percebe-se que, na maioria dos casos, o comportamento dos pais est voltado somente

    para suas relaes. A ateno para os filhos fragilizada e a alegria dos mesmos naturalmente

    suprimida e, alm disso, recebem ansiedades e os impulsos hostis originados das relaes deperturbao de seus prprios pais. Assim, a preocupao exagerada com suas relaes, leva-os a

    tentar reparar esse dano com bens materiais, a fim de no terem que ampar-los adequadamente.

    Percebe-se, nesta situao expresses de atitudes totalmente desproporcionais e inadequadas. O

    descontrole inter-pessoal presente o que produz uma relao fragilizada capaz de desvistualizar

    completamente o sistema tornando-o desequilibrado e imparcial.

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    Esse processo de instabilidade favorece o aparecimento de distrbios patolgicos como

    ansiedade, agresso, bode expiatrio, isolamento, chegando ao patamar do disfuncionamento querepresenta a psicose.

    A famlia contempornea traz em si a desintegrao dos papis em que a

    complementaridade tambm afetada. Enquanto que em determinadas famlias h uma extrema

    rigidez, em outras a flexibilidade excessiva trazendo o impedimento da reciprocidade e um

    desenvolvimento de relao saudvel.

    2. A VISO SISTMICA DA PSICOSE

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    O modelo sistmico trouxe uma mudana na viso da psicopatologia. A enfermidade, a

    partir da, passou a ser vista como uma sinalizadora da perturbao coletiva. Assim, passou-se dopensamento linear com a explicao de que para cada efeito existe uma causa para o pensamento

    circular que determina no haver causa ou efeito, mas sim sistemas de influncias recprocas.

    De acordo com Osrio (1996), enfatizando o distrbio psictico, a teoria sistmica a

    considera que o doente responsvel pela representao do conflito do sistema que originado

    pelas formas de relaes inadequadas existentes no grupo. Neste contexto, a esquizofrenia se

    caracteriza por um dos transtornos psicticos mais comuns e avassaladores da populao, sendo

    seu aparecimento e sua permanncia interligados ao relacionamento familiar. Diante de tal

    patologia a situao do sistema se modifica para se adaptar aos padres de novas convivncias.

    Verificando-se, nestes casos, o envolvimento da famlia, neste processo, para se manter enquanto

    sistema. Da pode se perceber a importncia de tal estudo neste contexto.

    Laing (1979) afirma que a famlia uma varivel patognica na origem da esquizofrenia.

    Pode-se notar que tal distrbio um evento psicossocial e no apenas qumico-cerebral. Neste

    contexto, no se tem um critrio clnico que comprove o seu diagnstico de forma concreta e

    precisa.

    Andolfi (1996) considera que na viso sistmica passa-se do diagnstico ao estudosistmico do comportamento perturbado. H a mudana do paradigma mecanicista causal linear

    para o holstico e circular, o estudo sai do significado individual para os acontecimentos e das

    pessoas em funo da dinmica interativa. H a descentralizao sobre o sintoma para focalizar as

    interaes e a rede de acontecimentos presente entre os membros.

    A interao esclarece a relao que se mantm dentro do sistema e pode ser indicativa do

    sintoma. No estudo familiar sistmico, h a redefinio da relao cliente-terapeuta de que a

    responsabilidade de curador no cabe exclusivamente ao terapeuta, mas que as partes estoempenhadas num esforo comum, em que o sofrimento passa a ser entendido como um sintoma

    de uma perturbao mais ampla que afeta e afetada por outros fatores. Sendo assim, temos,

    portanto, que buscar o significado interativo deste sintoma e suas implicaes na famlia e no

    contexto social em que aparece.

    3- OS ESTUDOS SOBRE A TERAPIA FAMILIAR

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    O estudo da possvel cura da esquizofrenia, juntamente com a descoberta de que h

    influncias familiares sobre a patologia, simboliza um dos estudos sobre a famlia na constituiodas psicoses. O precusor deste trabalho foi Freud (1911) que atravs do estudo do relato sobre o

    Dr. Shreber, considerou que o relacionamento do paciente com o pai poderia produzir iluses.

    Reichman (1948) tambm se interessou pela famlia hospitalar por afirmar ser importante

    para a soluo dos episdios esquizofrnicos, pois considerava esta como substituta da famlia do

    paciente dentro do hospital. Assim, criou o conceito de me esquizofrenognica, caracterizando a

    dupla parental patognica em que a me esquizofrnica era considerada dominadora, autoritria,

    ambivalente e rejeitante, esta vinha acompanhada, normalmente, por um pai passivo, indiferente e

    ausente.

    3.1 Emoes Expressas

    As grandes teorias direcionadas para o estudo da esquizofrenia e da relao familiar,

    tiveram seu auge entre a dcada de cinqenta e sessenta. Os estudos voltaram-se para o estresse

    no especfico, relacionado com o surgimento dos surtos esquizofrnicos no produtivos. Os

    aspectos foram denominados de EE.

    Brown (1959) procurou observar a correlao entre o grupo social e notou que, aqueles

    que retornavam para suas famlias apresentavam um nmero de recadas significativamente maiordo que os outros. Atravs de uma bateria de entrevistas com estes pacientes, eram analisados

    fatores como hostilidade, calor afetivo e superenvolvimento emocional. (Scazufca,1988)

    Devido ao processo de desospitalizao presente nesta poca, percebia-se que os pacientes

    ao retornarem para a comunidade, os sintomas apareciam novamente mesmo com o uso dos

    medicamentos. Neste contexto, observou-se que as respostas altamente crticas estavam

    relacionadas aos dficits de relacionamento interpessoal.(Vavghn,1977)

    Fallow (1988) conclui que os altos nveis de EE eram indicativos de dificuldadesfamiliares para lidar com situaes estressantes, particularmente, as associaes com os pacientes

    e suas dificuldades de comportamento.

    Kuipers & Bebbington (1988) apresentaram trs possibilidades de resposta para parte dos

    familiares de esquizofrnicos. Num grupo estaria aqueles de muito alta EE que teriam

    problemas mltiplos e no conseguiriam lidar adequadamente com os pacientes em nenhuma das

    circunstncias. Em outro estariam as questes relacionadas com o modo de atitudes das famlias

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    de alta EE, os inter-relacionamentos com o paciente seriam os responsveis pelas recadas,

    devido as famlias serem mais ansiognicas. (Scazufca,1988)Sendo assim, o tratamento psicoterpico, com os pacientes psiquitricos, era direcionado

    somente para o indivduo, considerando a famlia como participantes de um ambiente estvel e

    confivel podendo o terapeuta contar com a famlia se necessrio. No entanto, percebia-se que

    quando o paciente melhorava outra pessoa da famlia piorava ou a famlia em geral comeava a

    aparentar distrbios, parecia ser necessria a presena de sintoma na mesma. O comportamento

    dos membros era modificado a ponto de provocar o retorno dos sintomas no paciente

    esquizofrnico.

    3.2 A circularidade

    Em 1956, Gregory Bateson criou o grupo de Palo Alto. Estes valorizavam a circularidade

    em que a estabilidade familiar era conseguida atravs da retroalimentao que controla o

    comportamento familiar e de seus membros. O salto do pensamento linear para o circular que

    considera que para cada efeito h uma causa, representa um avano no estudo familiar. Assim,

    cada efeito retroativamente altera a causa que o determina, os sistemas apresentariam influncias

    recrprocas. Havendo perturbao deste sistema o comportamento ameaado e procurar

    equilbrio.O trabalho atravs da observao da causalidade circular permite a concentrao nas

    interaes que originam problemas, esta podem ser modificadas, ao invs de inferir em causas

    subjacentes que no so observveis e freqentemente no sujeitas a mudanas. Um grupo de

    personalidades interagindo capaz de atuar como uma unidade composta na qual os

    comportamentos esto inter-relacionados e dependem-se mutuamente.

    Todo esse processo rompe com o avano da adoo do mtodo linear e mecanicista,

    trazendo novas formas de se avaliar o indivduo e a sua interao. Passa-se, a partir da, a notar acomplexidade de cada um e que este se desenvolve por seus inter- relacionamentos, tornando-se

    parte de um grupo.

    O padro ciberntico foi um dos primeiros a ser utilizado para as famlias esquizofrnicas,

    devido nfase na retroalimentao negativa. Esta teoria aplicava-se adequadamente por tratarem

    de pessoas resistentes mudana e mantendedoras da homeostase.

    Considerando como hiptese esquizofrenia resultado da interao familiar - o objetivo

    era identificar seqncias de experincias que poderiam induzir estes sintomas, a nfase estava

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    direcionada para os padres de comunicao familiar. A comunicao esquizofrnica

    aprendida na famlia devido presena de padres de fala confusos e desconcertantes. (Bateson,1956 , Nichols & Schwatz, 1998, p.316)

    3.3

    Duplo vnculo

    O conceito de duplo vnculo foi criado por Bateson (1956) atravs da observao dos

    comportamentos da me, sendo definido como situaes comportamentais que geram instrues

    paradoxais, deixando o sujeito impossibilitado de discriminar entre o certo e o errado. O pai era

    visto como uma figura negativa e incapaz de ajudar a criana a resistir ser capturada por tal

    distrbio. Foram criadas caractersticas que facilitariam enxergar a presena do duplo vnculo:

    1 Trata-se de relaes entre duas ou mais pessoas, sendo uma delas a vtima;

    2- A experincia se repete ao longo da existncia da vtima;

    3- Emite-se uma injuno secundria primria negativa combinada com uma ameaa;

    4- H uma injuno secundria em conflito com a primeira;

    5- A injuno negativa terciria probe a vtima de qualquer escapatria;

    6- Qualquer um dos itens relacionados pode ser suficiente;

    Todo grupo de Bateson estava interessado na importncia da comunicao e na

    organizao familiar, mas tambm havia desacordos. Enquanto Bateson interessava-se pelo duplovnculo outros terapeutas estudavam padres de comunicao nos diferentes tipos de famlias,

    Haley (1979) afirmava ser a luta pelo controle como o contexto do relacionamento esquizofrnico

    e o motivo do duplo vnculo. Porm, todos concordavam que:

    - para compreender as famlias teria que ser usada a teoria dos sistemas a fim de identificar

    regras e estabilidade;

    - para compreender a interao, teriam que identificar os nveis de mensagens, as regras e

    os processos de comando;- o comportamento esquizofrnico era adaptativo ao contexto familiar e que entre os

    familiares reao era originada do erro que influenciava uns aos outros;

    3.4 Os papis familiares

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    Lidz (1965) considerava que a influncia do pai era freqentemente mais destrutiva que a

    da me. Afirmava que poderia ser melhor crescer sem um pai do que com um pai indiferente oufraco demais para servir como modelo de identificao.

    Os padres de paternidade patolgica eram classificados como dominador, hostil em

    relao aos filhos, indiferentes ou distantes, fracassados na vida, passivos e submissos.

    O conceito da ausncia da reciprocidade de papel tambm foi criado representando aquela

    famlia em que no havia unidade conjugal, devendo o pai ser adaptativo e instrumental e a me

    basicamente integrativa e expressiva. Havendo a troca destes papis surgiriam dificuldades no

    relacionamento. Dentro destes aspectos, foram criados os conceitos de cisma conjugal

    representado pela competio agressiva dos pais pelo afeto dos filhos sem a reciprocidade de

    papel e o conceito de desvio conjugal que significava a dominao de um pai sobre o outro.

    A forma como o pensamento patolgico era transmitido na famlia foi foco de estudo de

    Ninh (1947). O estudo com famlias esquizofrnicas foi formulado pelo atendimento aos pais dos

    pacientes hospitalizados em que observava a presena de emoes irreais tanto positivas quanto

    negativas. Estas emoes foram chamadas de:

    - pseudomutualidade fachada de intimidade familiar. No h interesses prprios nem

    independncia, no h conflitos e nem intimidade;- pseudo-hostilidade qualidades irreais positivas e negativas das emoes. H um

    conluio que encobre as alianas e as cises;

    - cerca de borracha permite o envolvimento extra-familiar que essencial, mas se for

    longe demais este se encolhe. A famlia permanece isolada pela sua rigidez e no h aberturas;

    - desvio de comunicao interacional e mais observvel nos duplos vnculos a forma

    de transmisso dos transtornos de pensamentos;

    Nota-se, neste contexto, que os papis familiares so absorvidos pelo indivduo durantetodo seu processo de convivncia com os mesmos. O sistema de interao que se estabiliza dentro

    daquela famlia caracteriza um importante fator para o desenvolvimento e a formao da

    personalidade de cada membro.

    3.5 O padro homeosttico

    Jackson (1965) descreveu as famlias como unidades de homeostase As famlias realam

    a homeostase por que so aquelas que possuem maior probabilidade de resistir mudana.

    (Nichols & Schawrtz, 1998, p. 234). Ao se considerar o mecanismo homeosttico v se que a

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    famlia pode piorar se o problema melhorar. O indivduo pode querer melhorar, mas a famlia

    precisa de algum para desempenhar o papel de doente. s vezes, o progresso uma ameaa ordem defensiva das coisas. Neste ponto de vista, a definio do comportamento sintomtico

    enfatizada como mantendedora do equilbrio.

    Assim, de acordo com sua experincia, era realado que, as famlias que procuravam um

    processo teraputico estavam paralisadas dentro de regras desnecessariamente rgidas. Assim, a

    mudanas das regras passaram a ser uma forma de tcnica de tratamento.

    Haley (1979) frisava seu estudo no cnjuge sintomtico em que os sintomas do paciente

    avanavam pela maneira como o paciente se comportava e pela ao dos outros. O controle dos

    relacionamentos era seu enfoque e seu mtodo teraputico diretivo. A prescrio do

    comportamento sintomtico partiu dos seus estudos.Para ele a homeostase no significava a

    rigidez da famlia, mas a possibilidade de manter seu status quo, um processo dinmico em que a

    mudana era sinal de estabilidade

    Cotrell (1989) afirma que na prtica atual da psiquiatria, a preocupao com a histria

    familiar tem sido um item constante de anamnese, em geral os psiquiatras que sejam influenciados

    particularmente pela terapia familiar ou no, consideram essencial a informao sobre a histria

    clnica e psiquitrica familiar e informaes sobre o crescimento e desenvolvimento e as relaesfamiliares atuais. Esses profissionais tm demonstrado conscincia de que o aparecimento de uma

    doena mental num membro familiar invariavelmente um desastre no qual todos so vtimas do

    evento e suas seqelas.

    O conceito de jogo psictico criado por (Selvini & Palazzoli, 1985) cria um novo objetivo

    para o processo teraputico descobrir porque certas famlias agem psicoticamente. Nesse sentido,

    buscava-se criar uma teoria geral dos jogos humanos. Tendo como base os estudos da terapia

    familiar sistmica de Milo que enfatizava o controle unilateral de cada indivduo sobre os outros.As tentativas de controle produziriam ameaas que levariam a criar uma reao sobre a mesma. O

    controle tentado pelos membros o que leva a um interminvel jogo, em que ningum pode

    ganhar ou perder.

    O padro homeosttico essencial para o equilbrio do sistema, porm quando mantido de

    forma rgida cria uma desestabilizao que o elimina. Para a famlia em estado de conflito aquele

    padro o ideal, pois a adaptao quele sistema produziu este conceito. No entanto, ao se

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    analisar devidamente a situao, v-se que todo o grupo est convivendo num esquema de rigidez

    que foi produzido pelas reaes s situaes desestruturantes com a qual conviveram.Todo processo de interao familiar depende da troca de comportamentos que agem sobre

    cada membro e produzem uma determinada reao no grupo. A mobilizao, de acordo com a

    abordagem sistmica, alcana a todos. Assim, para haver um equilbrio no indivduo o grupo deve

    estar equilibrado.

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    4. A RELAO PATOLGICA

    A descrio sistmica de famlias esquizofrnicas veio a partir das pesquisas produzidas

    por Haley (1960). Atravs dos seus trabalhos constatou-se a existncia de uma me

    esquizofrenognica e um pai inadequado como alicerce para a formao dos quadros psicticos.

    Segundo seus estudos, a famlia esquizofrnica incongruente no seu discurso, a desqualificao

    est presente, as discordncias so ocultadas, mas devido incompreenso do outro, nenhum dos

    membros se considera responsvel pelos acontecimentos presentes. As alianas entre si no so

    permitidas, a culpa transfervel, as mes desculpam-se o tempo todo e os pais as transferem para

    as mesmas, rejeitando sua falha prpria.

    Nota-se que a rigidez presente, diante de uma mensagem duplo-vinculada, o

    esquizofrnico responde metaforicamente, as modalidades de resposta podem ser de forma

    hebefrnica, paranide ou catatnica o que na verdade representa uma fuga da relao.

    O indivduo representa um sistema em relao, sendo que suas mudanas necessitam das

    mudanas no sistema; a manuteno e a sobrevivncia dos sistemas mais amplos dependem das

    mudanas produzidas nos subsistemas que os constituem. Observar a famlia como um todo o

    fator incisivo, pois estes comportamentos s adquirem sentido quando esto em relao com ogrupo. As regras de formao da famlia podem, em certos momentos, produzirem esse

    desequilbrio na associao e na comunicao do sistema o que, conseqentemente, afetar os

    membros.

    Assim, o sistema pode criar uma falta de autonomia, formando indivduos que vivero

    apenas em funes do grupo. H o enfraquecimento da identidade que, por sua vez, afetar a

    todos. O sistema passa a viver em funo das necessidades dos outros, como se fosse forado a

    desenvolver esse comportamento para manter a relao. Cria-se sempre, uma expectativa e umapreviso das aes do outro o que leva ao desenvolvimento de obstculos que impedem cada

    membro de individuar-se ou libertar-se desse sistema disfuncional.

    Esse processo de nvel de disfuno do sistema enfraquece a honestidade entre as trocas

    que se tornam cada vez mais superficiais e indefinidas. A interdependncia representa uma forma

    de traio. H sempre a necessidade de interromper o processo de autonomia do outro, deixando o

    sistema num esquema de escassez e decadncia relacional.

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    Andolfi (1979) considera a mudana como um processo que necessita de adaptao e

    mudana de regras para que a famlia crie um novo contexto de coeso tornando possvel ocrescimento psquico dos membros e da familia.

    No entanto, pode-se notar que, nestas situaes, a mudana vista como traumtica, assim

    ou se escolhe um membro para representar o conflito e o disfuncionamento ou o sistema se

    rompe.

    Calil (1987) afirma que as fronteiras excessivamente rgidas provocam o enfraquecimento

    da relao entre os membros. A lealdade enfraquecida, assim como a interdependncia e a

    informao de necessidade de auxlio.Todos se mostram como satisfeitos com a relao, no h

    expresso das verdadeiras emoes entre si, o que propicia o aparecimento do disfuncionamento

    por um processo de acting outcomo a necessidade da liberao das expresses escondidas.

    Nestas famlias, h que se ter a presena de um membro representante do sintoma para que

    a homeostase se mantenha e a famlia se desenvolva. Assim, o processo psictico mantido para

    que seja possvel a permanncia da unio familiar e da relao que se torna fixa naquele

    distrbio e cria o processo de permanncia do mesmo.

    A mudana sentida como ameaa, ao que o sistema reage negativamente com posterior

    rigidez. Todos obedecem s regras do jogo e este perpetua atravs de ameaas e contra-ameaas,entre as que figuram uma potentssima guerra em que ningum se separa e deixa o campo. Para

    compreender o jogo, deve-se limitar a observar tudo que aparece nas famlias, s como efeito

    pragmtico de jogadas que, sua vez, provocam outras contra-jogadas a servio do jogo e de sua

    perpetuao. Considerar "jogadas" a hostilidade, a ternura, a frieza, a depresso, a ineficincia, a

    insensatez, a angstia, o pedido de ajuda e, de acordo com ele aquela mais vistosa e mais

    verossmil em termo de realidade a invocao mudana por parte do paciente designado. A

    declarao de culpa outra "jogada" a servio da oculta escalao simtrica vigente no sistema.O jogo funciona para que se mantenha uma falsa homeostase qual o grupo teve que se

    adaptar para que continuasse unido. O desenvolvimento deste esquema produz novas formas de

    inter-relacionamento que podem ser consolidadas de forma desapercebidas, mas que se tornam

    representativas daquele sistema, que as consideram normais para o seu crescimento. Assim, os

    padres de rigidez se fixam, enquanto que todo processo estabelecido fora deles passam a serem

    vistos como estranhos ou anormais.

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    Algumas evidncias da relao familiar e esquizofrnicas so resumidas por Waring

    (1993) atravs das seguintes afirmaes:- os pais de esquizofrnicos apresentam mais distrbios psiquitricos que pais de crianas

    normais;

    - me de esquizofrnicos so mais superprotetoras e preocupadas que mes normais;

    - as crianas pr-esquizofrnicas demonstram mais doenas fsicas e necessitam de

    cuidados especiais do que as crianas normais;

    - os pais de esquizofrnicos demonstram mais conflitos e desarmonias entre o casal do que

    os pais de pessoas com outros problemas psiquitricos;

    - os esquizofrnicos que possuem maior proximidade com seus pacientes ou cnjuges so

    mais propensos a recadas;

    - os pais de esquizofrnicos comunicam-se de forma anormal, mas o conceito de pseudo-

    mutualidade no foi confirmado;

    Cada um parte com enorme desejo de receber uma confirmao, desejo tanto mais intenso

    quanto mais cronicamente insatisfeito. Nestas famlias de origem a luta pela definio da relao,

    caracterstica do ser humano, to exasperada que os pais da primeira gerao se comportaram

    como se ao dar uma confirmao fosse um sinal de debilidade. Em outras palavras, se algum fazbem algo, pretende ser confirmado, aprovado. Neste caso confirm-lo seria ceder ao seu desejo,

    seria uma perda de prestgio, de autoridade. Para manter tal autoridade ser necessrio, portanto,

    no dar nunca confirmao e responder sempre por argumentos evasivos.

    4.1 Circularidade patolgica

    Pode-se considerar que os conflitos entre os membros de uma famlia e aqueles que

    existem em cada indivduo relacionam-se num processo de circularidade, ou seja, o conflito

    intrapessoal afeta o conflito interpessoal e, assim sucessivamente.A ligao e a patologia extremamente circular, o que impede a possibilidade de qualquer

    membro se tornar imune ao distrbio emocional.

    Calil (1987) considera que nas famlias esquizofrnicas h uma configurao de fronteiras,

    como uma massa de diferenciao do ego familiar. H uma interdependncia exagerada e intensa,

    em que as identidades individuais so difusas, no h diferenciao o que o principal sintoma

    dos patologizados.

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    No entanto, o desvio dos distrbios pode fixar-se em diferentes membros em momentos

    diferentes. O descontrole pode atingir aquele que se tornar mais vulnervel no momento, mas semdeixar de representar o resultado da inter-relao desequilibrada entre o sistema. A possibilidade

    de contgio coletivo, tambm no pode ser descartada, o sintoma pode afetar a todos, mas de

    forma diferente de pessoa para pessoa.

    As divises familiares, barreiras de isolamento e faces entre as partes sucumbem o

    conflito. O colapso inicia-se na famlia atravs das dificuldades de tomar decises de alguns

    membros, o distrbio invade por completo afetando cada vez mais as funes bsicas da famlia.

    O padro de desenvolvimento do grupo familiar pode gerar estados de estresse, conflito

    entre os pais e filhos, quando no h uma complementaridade entre os membros. Assim, as falhas

    de adaptao nos papis confundem a relao como um todo mantendo a famlia naquele estado

    permanente.

    Todo processo homeosttico da famlia gira em torno do doente psictico. De uma

    maneira mais ampla, pode-se dizer que uma parte da famlia livra-se de uma doena psiquitrica,

    mas projeta sobre o outro seus problemas no resolvidos. Aquele que pode ser escolhido torna-se

    o depositrio dos aspectos no reconhecidos dos familiares que podem se sentir melhor, mais

    capazes ou mais rgidos.4.2 A ruptura da relao

    Brendler (1994) classifica a famlia esquizofrnica como severamente sintomtica. H o

    embarao diante do sintoma, um ciclo de problemas domina o processo de desenvolvimento. A

    possibilidade de crescer e satisfazer as necessidades torna-se impossibilitada. Os padres so to

    rgidos que os sintomas ficam impermeveis. Os membros no se envolvem mutuamente,

    ningum conhece suas necessidades nem as dos outros. A manipulao predomina

    impossibilitando o processo de mudana.Andolfi (1982) coloca que o comportamento sintomtico vem para que toda a ateno seja

    jogada sobre ele nos momentos de instabilidade do grupo. Assim, ao ser mantido o sintoma sobre

    um dos membros, os outros podem voltar sua ateno para ele. Porm, caso esse mecanismo no

    funcione como um estabilizador, pode-se criar um sistema de funes rgidas e repetitivas, que

    funcionam como reforos no momento de busca de novas solues.

    A desconexo comunicativa na famlia sintomtica constante. Os membros permanecem

    numa situao de isolamento e alienao. As relaes familiares esto rompidas. O

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    comportamento sintomtico age como uma forma de necessidade de aceitao, respeito e ateno.

    O paciente funciona conectando os membros a ele, mas desconectando-os entre si. Sua situao de poder e ao mesmo tempo de prisioneiro, pois no pode desenvolver-se sua maneira.

    A famlia procura encontrar uma soluo, no entanto, reage desorganizando ainda mais

    seu desenvolvimento diante do distrbio. Nesse sentido, ocorre a desesperana e a falta de

    motivao, o que torna a famlia totalmente enclausurada naquela situao e incapaz de chegar a

    uma soluo. Surgem, neste momento, situaes de desconfiana em destaque.

    O ciclo sintomtico cria um estado em que os membros s se sentem respeitados quando

    concordam uns com os outros. Porm, para isso necessrio que ele no opine, da possvel sua

    aceitao, por esconder aquilo que ele realmente . Assim, a comunicao sempre indireta e

    camuflada, mas a hostilidade submerge causando o isolamento e o aparecimento de bodes

    expiatrios.

    Os padres de interao e as funes individuais podem se tornar to enrigecidos at que

    se apresentem atravs da psicose. Quanto maior a necessidade de estabilidade do sistema, maior a

    agressividade e a irreversibilidade da patologia. Assim, o sistema se organiza a ponto de no ter

    que mudar. A rigidez predomina em todas as relaes.

    O paciente torna-se a possibilidade de mudanas, assim como a impossibilidade. Nopsictico, seus aspectos contraditrios tm o efeito de imobilizar o movimento de diversas

    direes, a ponto de que todos s se movimentem em direo a ele. Assim, todos os membros se

    perdem, esquecem de si mesmo, perdem sua identidade, trabalhando somente em funo de um

    nico membro. No h mais um sistema, mas sim um grupo que se movimenta para um nico

    lado, mostrar-se individualmente pode representar uma ameaa, deve-se evitar ao mximo

    expressar seus sentimentos pessoais que pode ser vista como uma agresso ao paciente

    sintomtico.O membro sintomtico pode ser visto, em alguns casos, como o responsvel pela quebra

    da estabilidade familiar e a adaptao a novos meios de funcionamento familiar. Assim, o

    tratamento sobre o mesmo pode ser fornecido, mas com a falsa idia de culpado. Nesta situao,

    todo processo de revolta pode produzir a ruptura familiar na qual a culpa recai sobre apenas um

    indivduo enquanto outros membros se excluem de tal responsabilidade negando, e, algumas

    situaes, auxlio quele que necessita ser tratado.

    4.3 Jogos psicticos

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    Os jogos psicticos funcionam como uma forma de auto-engano, pois tm como

    caracterstica o encobrimento e a obliquidade que podem passar desapercebidos por quem est osexecultando. Pode ser uma forma de inter-relao comum para a famlia, mas que num

    determinado momento revela-se como um sintoma para um dos membros do grupo. Existem

    vrios tipos de jogos psicticos entre eles, o impasse e o imbrglio.

    O imbrglio representa um conjunto integral de comportamentos de comunicao que

    vrios membros da famlia intercambiam a partir de um certo movimento. Um processo interativo

    complexo que parece se estruturar e evoluir em torno de uma ttica comportamental especfica

    posta em prtica por um dos pais, caracterizados por ostentar como privilegiados uma relao

    didica intergeracional que na realidade no existe. (Selvini & Palazzoli, 1985 p. 285)

    O paciente esquizofrnico sente-se trado por um dos seus pais como o qual parece sentir

    afinidade. As tticas usadas nesse processo estariam relacionadas manipulao das relaes,

    simulao, fingimentos ou ameaas.

    nos casos de psicose, sobretudo de esquizofrenia, que se pode encontrar a presena de

    um impasse. Este pode ser considerado uma disputa entre dois adversrios que se enfrentam

    sempre numa disputa sem fim, em que no h um ganhador. Os adversrios assumem papis

    diferentes, um representa o provocador, enquanto o outro a vtima.O impasse um tipo de jogo que evita a ruptura, pois o movimento de um barrado pelo

    contramovimento do outro que anula o processo de vantagem de um membro sobre o outro. No

    entanto, neste tipo de situao de casais que surgem filhos psicticos, pois este jogo pode ser

    utilizado com o filho. O ativo provoca e o empurra para o outro genitor, enquanto que o passivo

    seduz o mesmo. Nasce, desta situao, uma promessa ambgua que envolve o paciente, s que

    esta, posteriormente, torna-se negada, o que gera tpicas oscilaes e coalizes.

    Selvini & Palazzoli (1985) colocam que surgem o comportamento psictico e o impasseentre o casal, assim cria-se um jogo sem soluo. O pai que possui papel caracterstico de

    provocador passivo dirige seu impasse para o cnjuge e no para o filho que assume o papel de

    cnjuge substituto. Para o filho que cresceu num jogo de impasse, a arma psictica lhe permitir

    prevalecer. Assim, ele domar o vencedor e o perdedor, mostrar o que ele capaz de fazer.

    Dentro deste contexto, pode-se notar que uma das caractersticas essenciais do jogo o

    encobertamento. s vezes, o impasse pode est presente em casais que se apresentam como

    perfeitos, a ttica expressa esconde o verdadeiro sintoma. O impasse fica escondido enquanto o

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    sintoma o que aparece. O conflito encoberta os verdadeiros sofrimentos da famlia, mas

    possibilitando que, atravs do surgimento do sintoma, possa ser investigado. Nesse papel, afamlia torna-se semelhante definio de famlia sintomtica dada por Brendler (1994) em que a

    verdadeira relao encoberta, os cnjuges no manifestam seus verdadeiros problemas criando a

    falsa aparncia de famlia equilibrada, atravs do paralelismo e da complementaridade dos medos.

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    5. O TRABALHO TERAPUTICO

    O sistema psictico pode ser considerado como uma forma de manter o equilbrio

    homeosttico, isso se percebe nas famlias patolgicas. Jackson (1965) considera que a

    homeostase o ponto chave. Os padres inflexveis pendem as famlias sintomticas. O processo

    teraputico deve afroux-los atravs da retroalimentao positiva para que o equilbrio se quebre.

    O sistema deve ser modificado afim de que no seja mais necessria a presena do sintoma como

    meio de equilbrio homeosttico.

    Os terapeutas da comunicao percebiam que a conversa do esquizofrnico da famlia

    fazia algum sentido para chegar soluo dos problemas familiares. O indivduo buscava uma

    melhora, mas a famlia necessitava de que algum membro representasse o sintoma. Assim, os

    terapeutas, tornavam-se opositores das famlias que eram vistas como rgidas. Isso se tornou uma

    luta no processo teraputico.

    A psicoeducao, atualmente, vem sendo considerada um meio de tratamento (Anderson,

    Reiss & Horyart, 1986; Fallon et al. 1985) tm sugerido que o tratamento resultado de uma

    interao entre vulnerabilidade biolgica e estresse ambiental, caracterstica da famlia

    disfuncional EE.Segundo Mioto (1993) o processo teraputico de famlias esquizofrnicas est marcado

    basicamente por trs momentos que se intercruzam:

    - o acolhimento da famlia como paciente;

    - a compresso do contexto familiar e as indicaes teraputicas;

    - a interveno com base nas possibilidades familiares;

    Poppe e colaboradores (1990) perceberam atravs dos atendimentos de famlias de

    esquizofrnicos um padro de no permisso para o crescimento e de no diferenciao dos seusmembros e sintetizaram, a partir da literatura algumas caractersticas:

    - o paciente representando a parte doente da famlia com liberao de outros membros das

    cargas e conflitos;

    - a uniformizao e diferenciao dos membros da famlia;

    - a ligao entre a negao das diferenas e o medo das fantasias de aniquilamento;

    - as famlias representando um pobre refgio emocional associado presena de

    isolamento das famlias do meio externo;

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    - satisfao das necessidades do casal atravs do matrimnio ou procriao

    Neste trabalho, a apresentao de um caso extrado da literatura (Benoit, 1994, p. 71-80)propicia a viso detalhada das caractersticas de um esquema familiar psictico. Assim, pode-se

    verificar a grande importncia do processo de relao como formador de um distrbio, que

    mesmo direcionado apenas um indivduo do grupo, esclarece a disfuno do sistema como um

    todo, sendo este criador e mantendendor da patologia.

    5.1 O caso Roland

    Roland um rapaz de vinte e cinco anos que apresentado para tratar-se pela me. Esta

    relata que o mesmo possui uma neurose obsessiva e estava sendo atendido numa clnica. Roland

    fazia terapia de que lhe estava ajudando muito.

    Roland tem uma aparncia inexpressiva, tem o rosto rechonchudo e simptico. A me

    relata que o filho toma vrios medicamentos e lcool quando se sente angustiado, porm, torna-se

    violento. Nunca trabalhou, mas acredita que isto seria bom para ele. No entanto, este foi o nico

    encontro.

    Aps dois anos, o caso retorna com a descrio de um doente psictico, com a seguinte

    descrio: nunca fez nada est doente desde os dezoito anos. Se droga, se est internado no quer

    deixar o hospital. E acrescentado pelos pais, todo mundo diz que ele precisa de psicoterapia.Est sendo tratado por um psiquiatra psicoterapeuta. Porm, o necessrio seria estar num hospital

    se tratando e trabalhando simultaneamente. No faz nada e a inatividade irrita-o. Portanto, no

    aceitaria qualquer trabalho orgulhoso e tem medo de fracassar.

    Um ano aps, a me de Roland procura marcar uma hora para seu filho, alegando que o

    mesmo no trabalha, no consegue dormir e sofre de angstias graves. Me e filho vo at

    clnica para consulta. Durante o ano, Roland passou o tempo num hospital, saiu para frias, mas

    no retornou. A me relata que ele est tomando medicamentos e que conseguiram um empregopara ele, mas Roland est com medo.

    Roland se apresenta com o rosto sombrio, as mos entre os joelhos mexendo um pouco,

    participa episodicamente do dilogo. Fala sobre sua dificuldade com clareza, toma medicamentos

    para ter alvio e independncia. Neste momento, desencadeia-se uma cena familiar. A me acusa o

    filho de colocar a sade em risco, de ter maus hbitos e ser insuportvel em casa. Roland

    resmunga, rejeitando o que a me diz afirma ir ao mdico e tomar os medicamentos receitados. A

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    me diz que ele s escolhe os medicamentos que prefere abusando dos hipnticos e descuidando-

    se dos neurolpticos que o acalmam.Os encontros so marcados durante o ms. A me retorna com um paradoxo os

    medicamentos esto ajudando Roland. Assim, deveria pegar o trabalho que o propuseram. Roland

    reage contra a afirmao da me, tem medo do trabalho. Afirmando: se vivo em famlia no

    posso sair dela.

    Roland diz que gostaria de encontrar um trabalho. A me afirma que ela compra os

    produtos, quer manter esse poder. Afirma, ainda, que no deixa o filho fora de um controle, tanto

    dentro quanto fora de casa. Roland rejeita o controle da me, diz que quer beijar uma garota. A

    me responde: voc no pode fazer isso. A me fala dos hospitais e da promiscuidade. Roland

    diz que felizmente l existem garotas, gostaria de sair de carro ter a chave do seu quarto.

    A me vive com medo de que Roland tome barbitricos durante o dia. O apartamento

    totalmente controlado por chaves, guardas, controle. Quando vai ao banheiro Roland deve deixar

    a porta aberta.

    Um ms depois, retornam. A me diz que ainda no pode confirmar o resultado do

    processo teraputico, que s vir quando for positivo. Fala da vontade de prossegu-lo. Roland

    fala que no tem opinio. A me diz que fizeram um trato, agora Roland pode ficar sozinho noquarto de vez em quando durante meia hora.

    H um dilogo difcil entre me e filho. Novamente, a me toca no assunto do emprego,

    ele reage e diz na clnica eu tinha o direito de sair e passear. A me afirma no poder contar

    com a participao do marido, deseja que o filho comece a prosseguir sem recadas. Reconhece a

    melhoria. Roland diz enquanto eu estiver em casa no ficarei bem. A me rebate com: se eu te

    protejo para que sejas independente.

    Um ms depois o assunto o mesmo. Roland diz, estou farto de que me vigiem. A meafirma que o filho a agride, porm, parece est melhor. Est fazendo uma programao de sadas e

    de trabalho e que isso poder ajud-lo a pensar em coisas diferentes. Mas difcil se tivesse dado

    liberdade ao filho antes, ele no estaria atingido a situao positiva de agora. Roland responde, diz

    que acha que a me vai mal mentalmente e que se compensa aborrecendo-o. Lembra outros

    problemas, enfatizando a ausncia do pai.

    A me se defende, diz que equilibrada e que so os outros que lhe atacam com

    facilidade, Roland a critica, mas aceita as medidas que ela toma. Faz concesses ao marido, pois

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    ele precisa de calor humano. A me diz que a enfermeira lhe indicou o ltio. Roland diz isso no

    para o meu caso. A me acusa-o de no se interessar pelas coisas da vida e diz no acreditar napossibilidade de cura. Diz que preciso escolher entre o pessimismo passivo e o lgico. E

    acredita que o trabalho ajudaria seu filho.

    Um ms depois, a me telefona para cancelar o encontro, diz que Roland est trabalhando.

    5.2 Paradoxos

    Uma das caractersticas de comunicao das famlias patolgicas paradoxo que

    representa uma contradio, esta segue a deduo correta de premissas lgicas. Atravs dele pode-

    se identificar os efeitos pragmticos dos sintomas, no h interesse pelo processo histrico e

    evolutivo do indivduo.

    Nichols & Schwartz (1998) afirmam que o mtodo de tratamento paradoxal serviu de base

    para a criao da tcnica contraparadoxal que trabalha atravs da conotao positiva, tentando

    lidar com o problema no seu contexto mais amplo, esse processo teve maior nfase atravs dos

    tericos de Milo.

    O paradoxo adequado para famlias esquizofrnicas, sabe-se que ao mesmo tempo em

    que a famlia pede ajuda ela rejeita auxlio.A utilizao do paradoxo feita de forma diretiva a

    fim de provocar mudanas alterando as solues e reestrutur-las o que representa a interpretaoe orientao sutil, proporcionando um novo modo de comportamento e uma mensagem indireta

    para mudar.

    A linguagem metafrica tambm pode ser utilizada de diversas maneiras e contribui para

    desvendar o sintoma em grupos rgidos e defensivos.

    No entanto, necessrio ter cuidado para trabalhar com as prescries paradoxais, pois em

    algumas famlias o mtodo pode no funcionar devido diversidade que estas possuem e, ainda,

    trabalhar sobre o sintoma pode negligenciar o contexto familiar e, assim, o sintoma continuamantido. necessrio ser flexvel e no se fixar nos sintomas como principal falha da famlia,

    pois a ateno deve est frisada, tambm, no contexto inter-relacional do grupo.

    Atravs da anlise do caso de Roland, percebe-se que me e filho encontram-se num

    esquema de jogo mtuo. Ambos procuram contrariar um ao outro. O caso torna-se semelhante

    teoria de jogos de sintoma exposto por Haley (1965) em que o sintoma posto em prtica, mas

    o sujeito mostra que no pode evit-lo, sendo levado por uma fora superior que impede de

    eliminar o mesmo.

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    O esquema me-filho funciona atravs de uma comunicao duplo-vinculada,

    transformando o dilogo num jogo ordenado e simtrico que propicia o desequilbrio. Um procuracontrariar ao outro. No existe uma relao saudvel entre os membros o que propicia a perda da

    identidade individual, ambos se perdem no contexto e no se desenvolvem.

    A situao de paradoxo de comunicao conturba a relao familiar gerando o

    comportamento psictico de Roland. A contradio mantm o comportamento de autoritarismo da

    me e a negao do filho. A relao sintomtica produzida atravs do rebate das questes entre

    ambos. Roland luta contra a atitude de controle da me, mas ao mesmo tempo, tem que lutar para

    no se manter submisso as suas ordens.

    O pai, enquanto membro do sistema, est ausente, na participa da relao familiar o que

    intensifica o processo de simbiose e rigidez da relao me-filho. Roland relana o sintoma para a

    me afirmando que a mesma no possui uma boa capacidade mental. Esse contraste produz uma

    relao desequilibrada e um sistema que convive atravs do controle mtuo, do impedimento e da

    rivalidade.

    Roland afirma ser melhor ir para o hospital, pois l possua liberdade, sua percepo de

    que a me tornar-o preso e doente clara. Nesta situao, convm relembrar os casos de emoes

    expressas, em que a relao com os parentes torna-se responsvel pelas recadas dos pacientes queretornam para casa aps tratamento hospitalar.

    A possibilidade de melhora, na terapia familiar, permanece direcionada para a famlia.

    Porm, no caso de Roland, esta limitada, no depende de si. O aprisionamento ao inter-

    relacionamento conturbado com uma me autoritria e controladora, com um pai ausente e

    submisso, impende-o de progredir. A situao torna-se enclausurada num ciclo patolgico em que

    no h sada.

    Neste grupo, no h papis independentes que so essenciais para a sade do mesmo, massim uma no diferenciao dos membros, sendo a viso do sistema desvirtualizada, no se sabe

    exatamente qual a identidade de cada indivduo. O esquema de jogo faz com que se percam

    totalmente. A me trabalha em funo do filho, este procura contrari-la e o pai permanece como

    uma figura praticamente inexistente, nenhum dos membros se desenvolve por si mesmo e assim,

    impede o crescimento do sistema como um todo.

    5.3 Jogos

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    Selvini & Palazzoli (1985) afirmam que o jogo refere-se troca de comportamentos entre

    as pessoas. A ateno est voltada para pares de conceitos opostos com indivduos e sistemas.Cooperao, conflito, autonomia e dependncia, conservao e mudanas. Esses processos para os

    autores fogem aos padres sistmicos.

    A teoria do jogo contrape-se teoria sistmica, pois afirma no ignorar os indivduos

    baseando-se de forma direcionada para o sistema. Sendo assim, a subjetividade no deixa de ser

    enxergada o que impede o cancelamento do indivduo. A circularidade est presente na histria

    um processo temporal que passa pelo sistema e tambm pelo indivduo.

    O jogo atua como facilitador de aceitao do terapeuta no grupo familiar, servindo como

    um meio de obter informaes sobre o sistema especialmente nos casos de impermeabilidade e

    rigidez nas ligaes dos sistemas e subsistemas. Pode-se tambm ajudar a observar a rigidez do

    membro doente, devido a associaes com as idias das limitaes e das inutilidades, facilitando a

    procura de novas modalidades de relao e funes familiares. Alm de contribuir para a

    percepo de contradies de determinadas mensagens.

    O jogo considerado como uma das melhores tcnicas para trabalhar com famlias

    esquizofrnicas. O jogo um modelo geral do processo psictico na famlia que nos da

    exatamente a orientao que por tanto tempo nos fez falta. (Selvini & Palazzoli,1985, p. 15)No processo teraputico, o trabalho transforma-se num jogo, em que ocorre um

    movimento baseado no esquema metafrico. O terapeuta adota uma posio de contraste em

    relao famlia, considerando que o indivduo sintomtico o doente. Assim, o terapeuta

    assume que o esquema compreendido dentro do perfil interativo, para que possa,

    posteriormente, aprofundar o contexto interativo. O terapeuta concorda com o esquema montado

    pela famlia para que seja facilitada a sua penetrao no conflito propriamente dito, pela maioria

    da complementaridade com os membros.Aps, deve-se, pela penetrao no sistema, convidar a famlia a jogar outro tipo de jogo,

    ou seja, trabalhar o conflito de forma colaborativa, a fim de que ambos alcancem um ponto

    comum que ocorre aps as explicitaes das verdadeiras razes do sofrimento familiar.

    O seu percurso parte da revelao do jogo psictico da famlia, permitindo ao terapeuta ter

    mais informaes sobre: dados elementares que, anteriormente, permaneciam encobertos pelo

    sintoma. As prescries atuam quando se quebra o jogo e a famlia passa a encontrar novas

    modalidades de relacionamento facilitadoras da viso de outros tipos de informaes.

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    O terapeuta tem como funo, nestas situaes, de observar a conexo entre as disfunes

    familiares e o sintoma do paciente.Assim, o terapeuta segue uma seqncia lgica, mas no de forma rgida e impositiva.

    Podendo criar um clima cordial de acordo com as necessidades da famlia naquele momento, sem

    seguir todas as regras e sem perder a estratgia teraputica.

    No caso apresentado, o jogo j faz parte da situao familiar, uma forma de comunicao

    entre o sistema. A luta contra o outro que se mantm, de forma infindvel, cria a contrariedade e o

    controle.

    O trabalho, neste caso com o uso dos jogos representaria a incluso do terapeuta no

    esquema de contrariedade dos membros (me-filho). Assim, poderia-se obter o esclarecimento

    mais aprofundado do que realmente mantm este jogo, alm das contradies. A observao da

    conexo disfuncional seria melhor apresentada, promovendo o conhecimentos de outros conflitos

    que possivelmente, estariam prejudicando a situao de inter-relao.

    Aps, a penetrao no grupo e o conhecimento do seu conflito atravs de diversos

    ngulos, seria possvel prescrever quais prescries realmente seriam adaptveis para a

    estabilizao da relao familiar. Neste contexto, seria possvel trabalhar o conflito de forma mais

    sucinta e alcanar o controle e equilbrio do sistema.5.4 Induo de Crise

    Neste processo busca-se a transformao da famlia que busca uma ao imediata. Os

    conflitos so expostos para que o sintoma seja transformado. O objetivo deste trabalho fazer

    com que a famlia retorne ao estado saudvel atravs de um novo nvel de funcionamento.O

    terapeuta deve procurar uma forma de penetrar na rigidez familiar, para que ajude os membros a

    abandonar suas convices e comear a experimentar novos padres de relao.

    Brendler (1994) coloca o processo dividido em quatro fases:A loucura significa o momento de explorao dos relacionamentos, busca-se o

    entendimento do sintoma e o contexto do comportamento sintomtico. So avaliados a natureza

    do ciclo sintomtico e o estabelecimento do contexto teraputico. A desorientao deve ser

    causada diante do sistema mantido pela famlia, o que levar a mudana da forma da interao

    com o sintoma e a interao entre os membros. A intensidade emocional produzida conduzir

    chegada da crise, devendo ser feita atravs de intervenes e de diferentes maneiras devido

    rigidez presente na famlia;

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    O caos esclarece os padres sintomticos que emergiro como resposta desorientao e

    desestabilizao construdas na primeira fase. O terapeuta deve seguir a ambivalncia e dandamento ao processo;

    A violncia designada pelo clmax da induo da crise. O terapeuta ataca os padres

    familiares que se do pela produo de novos relacionamentos do grupo e a quebra do bloqueio de

    desenvolvimento. Os conflitos so desafiados, pois so duradouros e no resolvidos. Neste

    momento, as ligaes destrutivas passam a se desgastarem. O terapeuta deve proporcionar o

    aparecimento de mais conflitos, para que eles atinjam uma nova resoluo. A violncia produzida

    pelos membros passa a ser justificada pelo mesmo comportamento do outro, que antes no se

    expressava, aceitava e se escondia tudo. Assim, os conflitos passam a vir tona, as expectativas

    de mudana tornam-se ameaadoras por interferirem nos relacionamentos.

    O resultado do processo o surgimento de novos padres familiares que se do pela

    produo de novos relacionamentos do grupo e a quebra do bloqueio de desenvolvimento.

    A partir da, segundo Brendler (1994) a confiana no terapeuta facilita o desafio entre os

    membros. Deve-se insistir no conflito entre os membros, a fim de que redefinam os seus

    relacionamentos. Os terapeutas necessitam estarem atentos para uma possvel negociao da

    famlia e para a quebra de obstculos o que desafiar o relacionamento de confiana.No caso Roland, o processo de induo de crise poderia ser trabalhado atravs dos passos

    apresentados. O questionamento da comunicao e do comportamento me-filho de forma aberta,

    estaria produzindo a induo da crise. A partir da, poderia comear a interveno para que as

    mesmas pudessem comear a quebrar o vnculo doentio e contraditrio, at ento, presente.

    O processo de desestabilizao auxiliaria no processo de esclarecimento do padro

    sintomtico, podendo ser trabalhado e aprofundado a contradio entre membros.

    A fase de violncia viria para atacar diretamente o padro sintomtico da famlia, comocomportamento de controle da me, ausncia do pai, padres de duplo-vnculo, a fim de que se

    rompesse o controle, o processo de ataque e a ambivalncia. Este se torna o incio do processo de

    mudana, quebrar o esquema patolgico, para ser possvel o aparecimento de novas formas de

    inter-relao e a formao da identidade de cada membro.

    5.5 O processo de fuga

    A fuga uma caracterstica da segunda fase. A experincia da primeira fase pode produzir

    um retorno aos padres sintomticos, pela desconfiana e a insegurana relacionada ao terapeuta.

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    Para Satir (1988) em famlias severamente sintomticas isto freqente abortando o

    processo teraputico mesmo antes da primeira fase, sem o estabelecimento de um contrato. Oresultado uma diviso ulterior da famlia, em que cada um culpa o outro pelo acontecimento e o

    senso de desesperana. Isso demonstra que a famlia ainda opera sob a pressuposio do sistema

    sintomtico.

    Deve-se evitar a tentativa inicial de abraar a fuga, pois isto no consiste meramente numa

    tcnica, mas num fortalecimento dos relacionamentos.

    Um dos objetivos da terapia ajudar a famlia a se tornar emocionalmente expressiva, isto a

    torna mais viva e mais feliz. No entanto, o objetivo do terapeuta resolver os problemas

    apresentados. No adianta expressar melhor os sentimentos, mas no resolver o verdadeiro

    problema

    O trabalho com famlias psicticas contraditrio, pois ao mesmo tempo em que a procura

    e famlia participar do processo teraputico, a fim de chegar a uma soluo, o que mais a famlia

    teme a mudana. Assim, a famlia pode se apresentar de forma que evite a retirada do equilbrio

    que eles adquiriram atravs da manuteno dos seus sintomas. A satisfao e a tentativa de

    convencer o terapeuta de que a situao irremedivel pode servir como forma de manipulao.

    O processo de induo de crise deve ser trabalhado de forma precisa para que todo o seuandamento possa produzir um bom resultado.

    A situao de fuga apresentada durante o processo teraputico, no caso Roland, pode ter

    sido uma forma de evitar a mudana que temida, devido adaptao aos novos padres

    relacionais, produzida durante o processo teraputico.

    O terapeuta deve trabalhar sobre as condies manipuladoras da famlia, considerando que

    estas representam e declaram a forma do inter-relacionamento entre o sistema.

    Andolfi (1985) coloca que ao se acreditar naquilo que a famlia planeja uma maneira dereforar sua patologia. Assim, a famlia somente mantm os seus padres disfuncionais e os

    papis enfraquecidos de cada membro, o que empobrece a identidade substituda pelos padres

    repetitivos. Nesta situao, a famlia inibe o terapeuta de querer afetar o processo e provocar

    novos tipos de patologias no grupo. O sistema teraputico tambm se torna rgido, pois no

    oferecem oportunidade de mudanas, as funes estticas das funes estticas para uma nova

    diferenciao.

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    Um grande momento para trabalhar conjuntamente com a mobilizao familiar quando a

    sintomatologia alcana um ponto em que a famlia decide procurar as mudanas que realmentenecessita. Isso representa um momento de instabilidade do sistema, mas que tem valor

    fundamental para o alcance do equilbrio e da diferenciao.

    A deciso do grupo para a procura de mudanas j significa um salto para o processo

    teraputico. Percebe-se como necessitado de auxlio, demonstra uma busca de novas formas de

    inter-relao e a viso do sistema fora dos padres sociais saudveis.

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    6. A MUDANA

    6.1 Novas formas de inter-relao

    Um dos indcios do processo de mudanas surge quando os pais no so acusados,

    excludos e nem paralisados pela rigidez da relao do sistema, mas pelo contrrio, vo sendo

    valorizados e recuperados na colaborao para a mudana.

    Nesses padres de relacionamento da qual a psicose responsvel por sua origem, no se

    pode culpar a famlia como causa do sintoma. Ele no est numa pessoa, mas sim entre elas. A

    inflexibilidade crnica uma caracterstica importante nas famlias psicticas, a rigidez

    avassaladora sendo impossvel de se desenvolver de forma saudvel neste contexto.

    Brendler (1994) coloca que o objetivo do momento de criar novas formas de interao

    representa ajudar a famlia na explorao e consolidao dos novos padres de interao que

    surgiro pela recuperao do equilbrio.

    A separao do grupo consiste numa ajuda para produzir novos meios de conexo de

    forma mais slida. O terapeuta deve estar atento para manter a integrao e ao mesmo tempo,

    criar a autonomia de cada membro. Ocorre, como conseqncia, um processo semelhante

    individuao em que cada um ter capacidade para assumir suas responsabilidades aceitar suasdiferenas e posicionar-se no meio em que interage de forma slida, a fim de que o sistema se

    fortifique e torne-se saudvel, com a presena da mutualidade e da negociao.

    Nesta fase, o sintoma e o impasse desaparecem, cria-se um processo de maior autonomia e

    inter-relacionamentos que se torna o referencial da mudana.

    O trabalho teraputico, agora, consiste em tarefas, prescries para que a famlia possa

    desenvolver seus prprios questionamentos e trabalharem conjuntamente para chegar resposta

    trazendo assim, a consolidao da mudana.Deve-se estar atento para a possibilidade ao retorno dos sintomas nestes momentos de

    transio. O terapeuta deve procurar coloca as famlias em contato com projetos sociais, a fim de

    que se quebrem os falsos vnculos e a mutualidade se fortalea.

    No final do tratamento necessrio deixar claro que o estresse familiar pode acontecer,

    mas que a mudana e o fortalecimento do inter-relacionamento do grupo ser responsvel pelo

    equilbrio do grupo se for mantido, evitando que ocorra o retorno ao ciclo sintomtico pr-

    existente.

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    Selvini & Palazzoli (1998) afirmam que o terapeuta deixa de ser um terapeuta caador

    para ser um terapeuta educador. O processo de induo da crise se d nas primeiras sesses. Deacordo com as reaes do grupo, procura-se direcionar para a procura do jogo familiar. Neste

    processo, a aproximao das famlias feita de forma menos urgente e mais colaboradora. As

    capacidades de autonomia e de auto-suficincia esto relacionadas capacidade de partilhar e

    pertencer, sendo assim, ambos os processos se fortalecem.

    No caso Roland, o processo de novas formas de inter-relacionamento, surgiria atravs da

    conscientizao do problema da famlia. Cada membro percebendo sua deficincia vista pela

    dificuldade de comunicao, sua participao no grupo e sua identidade. Assim, a possibilidade

    de que o processo de diferenciao quebraria o processo de controle, possibilitaria o

    reconhecimento da identidade de cada um, sem que seja necessrio controlar uma ao outro para

    criar uma relao comunicativa e saudvel. A unio do ciclo familiar, pai-me-filho, seria fator

    primordial, a fim de alcanar a unio do grupo e a independncia das partes, to importante

    quanto a interao. Neste sentido, passaria de um processo de jogo para um processo de auxlio.

    6.2 Multidimensionalidade

    No processo relacional, as relaes so vistas como reguladoras dos processos individuais,

    pois selecionam o aparecimento de determinados comportamentos, deixando escondidas outrascaractersticas que permanecem em estado potencial.

    O processo multidimensional recupera o indivduo para entender e compreender os

    sentimentos que os movem, assim como sua situao interativa. Porm, Selvini & Palaszzoli

    (1998) consideram que o essencial est no jogo e no entrosamento, que so capazes de manter o

    indivduo presente, mesmo com a auto-organizao sistmica.

    Os membros da famlia passam a negociar vantagens e desvantagens de suas cooperao.

    necessrio observar o sujeito de acordo com a sua forma multidimensional.A famlia uma organizao baseada em intercmbios de inter-relaes que se influeciam

    reciprocamente. Sendo o ser humano um ser hipercomplexo, num universo complexo.

    Numa famlia psictica o processo se espalha de extremos nveis de intercomplexidade.

    Nesse sentido, a necessidade de estabelecer um sistema multidimensional presente.

    6.3 Cura

    Uma famlia saudvel dinmica e no esttica est evoluindo e mudando, num processo

    sempre em movimento. Tem a capacidade de usar as crises para considerar o conflito como

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    fertilizador da vida um organismo aberto. O processo de mudana constante e a evoluo

    dinmica.O processo de resoluo do conflito torna-se claro quando a famlia tem coragem de tomar

    suas prprias iniciativas, expor seus problemas, se encararem e agir verdadeiramente entre si.

    nesse sentido, que prevalece o sistema de inter-relao. Atravs da ao de um dos membros os

    outros podem tomar iniciativas e participarem mutuamente no novo processo, produzindo, assim,

    um sistema de cooperao, transparncia e novos padres de convivncia.

    A capacidade de poder estar disponvel no s para um novo inter-relacionamento, mas

    tambm para auxiliar na elaborao de atividades e projetos direcionados para a sociedade como

    instituies, mostra que a famlia est aberta. Essa participao demonstra que as relaes

    atrofiadas, anteriormente, fortificaram-se novamente e se mantm flexveis.

    Nesse sentido, o grupo tem o privilgio de explorar novas representaes sociais que

    quebram a rigidez numa relao, antes, doentia onde a culpa, o sofrimento e a negatividade

    estavam presentes.Isso implica numa motivao para a reconstruo de novos padres de vida

    atravs de uma realidade, at ento, enclausurada, mas que agora, propicia novas formas de

    pensamento e de resoluo de problemas que trazem consigo a liberdade e o compartilhamento de

    novos conhecimentos.Os espaos pessoais so isolados, ao mesmo tempo, que novos canais de interveno so

    reabertos, trazendo um grande potencial para a comunicao e o processo de reestruturao, o que

    demonstra que a famlia tornou-se capaz de funcionar adequadamente, trazendo benefcios para

    seus membros com cada um agindo autonomamente.

    A mudana no processo teraputico chega quando a famlia percebe que seu sistema de

    funcionamento est alterando e assim, passam a no enfatizar mais a patologia, mas sim a

    procurar um significado para a relao. Neste momento, comea a surgir autonomia de cadamembro. O grupo tornar-se capaz de enfrentar problemas e no mais fugir deles. A reflexo sobre

    seu prprio modo de relacionar-se produz um cada indivduo a centralizao nas suas dvidas e

    esperanas.

    H agora um grupo de indivduos, funcionando autonomamente, mas que tambm

    interagem, sem deixar que haja total influncia do todo sobre as partes. O espao pessoal

    descoberto e a identidade se mantm para todos os membros.

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    A cura, no caso Roland, apareceria quando o grupo percebe-se a verdadeira necessidade de

    cada membro. V-se que Roland exige liberdade para que sua identidade seja formada. Otratamento da expresso das mensagens duplo-vinculadas da me facilitaria o processo de quebra

    do jogos. Solicitar a presena do pai nos processos teraputicos, traria um maior esclarecimento

    da unio do grupo e do inter-relacionamento entre os membros. Roland ao passar a ter um maior

    contato com sistemas externos, poderia ser capaz de desenvolver-se, produzir sua autonomia para

    que no fosse necessrio depender do controle materno.

    A abertura do sistema possibilitaria novas vises e maiores contatos, para que fosse

    possvel ampliar a relao do grupo com a sociedade. Assim, a tendncia a surgir um novo padro

    de convivncia traria a capacidade de crescimento de cada indivduo e do grupo como um todo.

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    CONCLUSO

    O trabalho e o estudo com famlias psicticas ainda esto sendo explorados de forma

    precria. A abordagem sistmica apresenta este assunto de forma transparente e real,

    demonstrando a importncia do inter-relacionamento na formao da identidade. Assim, pode-se

    ver uma situao em que o sistema analisado por vrios pontos de enfoque, mas sem deixar de

    basear-se no processo interacional. Nesse sentido, a reciprocidade de papis funciona como a

    mantendendora e reforadora da situao.

    Assim, comea-se a ter a noo de que os distrbios daqueles indivduos esto refletidos

    nas suas relaes sociais. A doena mental passa a ser uma expresso das relaes do indivduo

    com o seu grupo. O envolvimento inter-relacional promove tanto as tendncias doentias como as

    sadias. Sendo assim, no se pode restringir a doena mental ao indivduo somente, ela deve

    englobar o grupo como um todo sendo o sujeito parte deste grupo.

    A situao explorada atravs da anlise do relacionamento das diferenas individuais e

    suas semelhanas, ao mesmo tempo. neste sentido, que o sistema torna-se um todo complexo

    com partes que possuem importncia nica para a sua existncia.

    A formao de relaes psicticas surge quando todas as partes se envolvem e perdem suaidentidade, criando um sistema sem caractersticas individuais no seu interior.Este tipo de relao

    patolgica se cria num emaranhado que dificulta o trabalho teraputico e a convivncia com o

    grupo. Muitas vezes, comum haver profissionais que se repelem para lidar com este tipo de

    situao. A tentativa juntamente com a dificuldade de atuar com estes tipos de famlias pode gerar

    um sentimento de incompetncia no terapeuta, devido necessidade de esforo excessivo para

    tentar compreender e encontrar uma soluo para tal problema.

    H a necessidade de se entender um tipo de trabalho que possa ser til a esse sistema, poiso mesmo dotado de capacidades que podem dificultar a excluso do sintoma. Pode-se notar que

    em alguns casos, quando se estar prximo de curar o doente, outro membro absorve o conflito

    familiar o que confirma a circularidade patolgica. Nestes sistemas inevitvel que se tenha

    algum para representar o equilbrio disfuncional da famlia e proporcionar que esta no se rompa

    at que todo sistema esteja consciente do seu distrbio e busque uma forma de encar-lo para

    viver de forma saudvel.

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    Neste momento, o estudo relacional torna-se essencial. Estudar cada comportamento

    individualmente e a forma como este se relaciona com o grupo, define uma possibilidade deesclarecimento, em que no h como se negar a sua eficincia e utilidade. A resoluo, a partir

    da, desenvolver novas formas de interao no grupo, para que terapeuta e cliente (famlia),

    vejam alm do que est sendo mantido e exposto. Assim, a circularidade passa a funcionar com a

    incluso do terapeuta na relao, mas enfatizando que a famlia ser a responsvel pelo seu

    processo de cura atravs do enquadramento de cada indivduo no seu papel, sem a presena da

    rigidez, mas sim com a unio do sistema.

    O desenvolvimento da identidade do indivduo produz a sua capacidade de maior

    amplitude de inter-relacionamentos. A partir do estilo de convivncia e interao, cada um passa a

    expor suas idias, sendo capaz de defend-las diante dos argumentos dos outros componentes do

    sistema. O respeito mtuo caracteriza a interao de acordo com as diferenas de cada um. Assim,

    o processo de inter-relao torna o individuo autntico e portador de mltiplas informaes

    originadas da convivncia com diferentes grupos. A individualidade se constitui mesmo ele sendo

    parte do todo, que serve como modelo para o seu crescimento e diferenciao.

    A abordagem sistmica ao enfatizar a relao do grupo, no descaracteriza o indivduo,

    pelo contrrio, valoriza-o, no momento em que necessrio o desenvolvimento da sua autonomiapara que seja capaz de aprimor-la atravs das mltiplas interaes que envolvem sistema familiar

    e a sociedade como um macro sistema.

    O estudo e a interveno das famlias psicticas atravs da abordagem sistmica torna-se,

    portanto, fundamental para novas respostas e tratamentos que ampliem a integrao social do

    indivduo de forma harmoniosa.

    A fraca explorao do assunto, no demonstra a sua no existncia, mas sim a presena de

    uma precariedade de informao sobre trabalhos, pesquisas, projetos, etc. Estes poderiaminformar e esclarecer dados que passam desapercebidos devido ao no conhecimento dos mesmos

    e, por tal motivo, dificultam o trabalho teraputico devido falta de conhecimentos maiores.

    impressindvel que o terapeuta tenha uma boa formao e esteja bem informado para lidar com

    estes tipos de famlias e produzir um resultado eficaz.

    H a exigncia da sociedade para possuir servios de orientao familiar e infantil para

    enfrentar o desenvolvimento da doena mental na populao em geral. O trabalho das instituies

    governamentais seria uma proposta de auxlio e soluo possvel que possibilitaria maior

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    esclarecimento do assunto a estes grupos. Assim, a inteno seria de preveno da formao de

    um circuito patolgico capaz de trazer maiores danos tanto para indivduo, sistema e sociedade.Sabe-se que a relao do sistema passa pelo processo de inter-relao com a sociedade.

    Isso demonstra que uma situao dinmica que influencia e contribui para o desenvolvimento de

    novos sistemas e