famílias em camadas médias: perspectivas antropológicas

Upload: liciasilva4

Post on 10-Jan-2016

225 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Famílias em Camadas Médias, Tânia Salem

TRANSCRIPT

  • Famlia em Camadas Mdias: Uma Perspectiva Antropolgica*

    Tania Salem

    Neste tex to proponho-m e a resenhar trabalhos que tom am , como objeto, a fam lia em camadas mdias urbanas ou que, de algum m odo, aludem a esta questo. No tenho aqui a pretenso de esgotar to d a a literatura: alm de restringir-me produo recente, focalizo apenas os estudos que vm sendo desenvolvidos no Rio de Janeiro - notadam ente no Museu Nacional. Este recorte se justifica com base no fato de que neste centro que vem se constituindo uma tradio que privilegia a tem tica das camadas mdias e , ainda, que o faz segundo uma perspectiva terica e um estilo acadmico particulares.1 No obstante, so tam bm aqui considerados trabalhos que vm sendo elaborados em outras instituies como a Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro PU C/RJ, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e o Institu to Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro - Iupeij - que, grosso m odo, apresentam afinidades significativas com a produo do Museu Nacional. D e qualquer form a, parece inegvel que esta tradio se inicia com a publicao,'em 1973, de A Utopia Urbana, de Gilberto Velho.2

    Os trabalhos aqui exam inados diferem consideravelm ente em term os de seu acabam ento final: ao lado de teses j concludas e de artigos j publicados, so tam bm considerados tex tos

    que ensaiam resultados parciais (e po rtan to sujeitos a revises) de teses em fase de elaborao. Dos estudos j finalizados apenas alguns poucos esto explicitam ente dedicados anlise de representaes sobre a fam lia ou parentesco. Entre estes, cabe m encionar alguns artigos de Velho (1981, cap. 4 e 8; 1983), os trabalhos de Abreu Filho (1980, 1981 e 1982) - que investigam as categorias que organizam o dom nio do parentesco tom ando como objetivo 34 famlias elementares ligadas entre si por critrios de consanginidade e de afinidade em um a cidade do interior de Minas Gerais - e ainda o estudo de Salem (1980) que exam ina a relao entre pais e filhos-adultos quando ainda coabitando sob um m esmo teto .

    Trs teses recm-defendidas tam bm trazem im portantes contribuies para a tem tica aqui considerada: a de Rocha (1985) que pesquisa o assunto da separao privilegiando m ulheres de camadas mdias urbanas de Porto Alegre; a de Almeida (1985b) que, tom ando o conceito de desm apeam ento com o fio terico condutor, contrasta representaes de mulheres que foram mes na dcada de 50 com as de suas filhas que tm filhos nos anos 80 e ainda a de Lins de Barros (1986) que se dedica a exam inar representaes e vivncias familiares tom ando os avs como referncia fundam ental.

    * Agradeo a Luiz Fernando Dias D uarte pelos comentrios e sugestes feitos a este tex to .

    BIB, R io de Janeiro, n 21, pp . 25-39, 1_ Semestre 1986 25

  • Dos trabalhos em andam ento, e que elegem a fam lia como foco im portante de suas preocupaes, cabe citar os de Dauster (1984, 1984a e 1985) que buscam depreender concepes de m aternidade e de paternidade em um segm ento intelectualizado e psicanalizado carioca; os de Salem (1983, 1984a, e 1985) que, focalizando o chamado casal grvido , analisa as relaes do ncleo familiar em constituio com as famlias de origem do casal e ainda o de C osta (1984) que versa sobre a prtica da adoo em famlias de segmentos mdios.

    Afora estes, os outros trabalhos tm , como objetivo central, a apreenso dos valores, da viso de m undo e do estilo de vida de determ inados segm entos das camadas mdias. Nestes casos a anlise da fam lia ou do parentesco , em princpio, trabalhada como um tem a subsidirio em relao a esta outra questo, tom ada como central. No obstante, como veremos adiante, em term os etnogrficos, a tem tica familiar desponta com o um a dimenso fundam ental e como um valor chave na estruturao da viso de mundo destes segmentos.3

    Uma das questes com a qual se defrontam estes trabalhos diz respeito ao valor heurstico da noo de camadas m dias . Verifica-se entre os autores um consenso no que tange s reservas feitas tan to vertente de estratificao social quan to a que escolhe a perspectiva de classes. De um m odo geral, ambas so vistas como incapazes de dar conta das descontinuida- des observveis em term os de e thos e de viso de m undo apelando exclusivamente para indicadores que procuram situar estes segmentos a partir de sua situao e posio n a estrutura social.4 Por conseguinte, ainda que na discriminao do universo, os trabalhos aqui examinados faam apelo a critrios sociolgicos (como renda, educao, insero profissional etc.), insiste-se, por um lado, na auto-representao destes segmentos e, por ou tro , no recurso as noes com o grupo de status, ethos, eidos - e outras que privilegiam os aspectos simblicos - como os instrum entos tericos mais adequados para lidar analiticam ente com os grupos pesquisados.

    Estas opes esto visceralmente comprometidas com as premissas tericas e m etodolgicas que inform am esta produo. Assim que, ao incidir na m oralidade de segmentos de camadas m dias com o o cam po tem tico privilegiado, estes trabalhos sustentam que a compreenso da lgica simblica e dos padres ticos no pode ser m ecanicam ente deduzida ou apreendida a partir de critrios scio-econmicos. Evidentem ente no se nega que as diferenas eco

    nmicas forneam parm etros gerais im portantes que perm item estabelecer demarcaes significativas entre grupos; apenas insiste-se que a elas devem estar associadas outras distines de cunho mais simblico. Com efeito, quando estas ltim as so levadas em considerao, o mapeam ento, bem como as fronteiras que demarcam os diferentes segmentos das camadas mdias, assume contornos distintos daqueles estabelecidos com base apenas em critrios scio- econmicos.

    Assim, por exem plo, o fato de os grupos investigados serem afeitos linguagem e ao ethos psicanaltico pode se constituir em um critrio relevante na caracterizao do universo em virtude de sua presumvel afinidade com relao aos preceitos do individualismo qualitativo (Simmel, 1971).5

    bem verdade que a nfase nestes aspectos mais propriam ente culturais rem ete para a questo de localizar experincias suficientemente significativas para criar fronteiras simblicas (Velho, 1981: 16), ou seja, para o problema da demarcao de experincias capazes de gerar um a identidade comum en tre os indivduos. Retom o esta questo mais adiante quando exam inar os critrios segundo os quais os autores recortam o universo social a ser considerado.

    Por ora cabe ressaltar que subjaz noo de fronteira simblica um modo particular de conceber a identidade dos grupos examinados. A importncia concedida auto-classificao dos segmentos estudados (no s como sendo mdios mas tam bm como vanguarda , por exemplo) aliada ao recurso a conceitos com o grupos de status, marcas de distino, etc. - engendra o recorte de entidades sociais com base em fronteiras simblicas. Estas teriam , como caracterstica central, o fato de que, ao se segmentarem indefinidam ente, deslocam para sempre questo da substncia da diferenciao e da hierarquia sociais. No prprio a este tipo de classificao um reconhecim ento absoluto das diferenas, ou seja, uma positivao das posies atribudas (Heilbom , 1984:3). Em outras palavras - e descortina-se aqui mais uma significativa diferena entre a perspectiva que examinamos e a da estratificao social afirma-se a impossibilidade de um a demarcao universal e irrelativizvel das identidades sociais. Decorre da que a identificao destes segmentos como mdios , vanguardistas , individualistas ou modernosno aponta para uma identidade substantivada mas sim para um a identidade em situao ou em relao a outras identidades sociais.6

    26

  • Destas consideraes resulta tam bm que a unidade dos segmentos mdios no postulada como uma necessidade.7 Pelo contrrio, a diversidade de ethos no interior das chamadas camadas mdias, bem como sua condio plural, reconhecida como um a premissa da abordagem aqui examinada. Este princpio, por sua vez, est ancorado na idia de que uma das peculiaridades simblicas definidoras das sociedades complexas m odernas (ou da vida m etropolitana) a coexistncia, bem como a produo por parte dos agentes sociais nejas inseridas, de mltiplos cdigos culturais. O objetivo central dos trabalhos aqui considerados justam ente o de apreender o modo de operao ou a lgica que inform a estes diferentes cdigos.

    As observaes at aqui feitas - e que confluem no sentido da nfase atribuda aos aspectos simblicos conduzem questo de quais os critrios utilizados para recortar o universo social a ser considerado; em outros termos, de como demarcar fronteiras simblicas com relao a outros grupos ou identidades sociais. O papel estratgico que a noo de netw ork desempenha, enquanto consubstanciali- zando uma unidade de anlise privilegiada por esta literatura, no casual. Com efeito, este conceito tem sido utilizado para denotar uma unidade social cuja sociabilidade se encontra destacada tan to das redes de fam lia e de parentesco quanto de ancoragens geogrficas e residenciais restritas. Neste sentido, a noo de netw ork qualifica, de m odo apropriado, a form a tpica de organizao da sociabilidade no espao urbano ou, ao menos, a das camadas mdias. Mais do que isso: justam ente por promover a conexo entre indivduos geralmente dispersos no meio urbano e p o r ser construdo com base em critrios de escolhas e afinidades , o netw ork implica, quase que por definio, em fronteiras simblicas com relao a outras identidades sociais. com base nesse conceito que Velho (1981), Dauster (1985), Abreu Filho (1980) e Heilbom (1984) demarcam os universos sociais a serem investigados.9 Contudo, cabe ressaltar que nos dois ltimos autores - que focalizam respectivamente representaes sobre parentesco em uma cidade de interior tom ando como ponto de partida um grupo de siblings e o estudo dos valores das camadas m dias em um subrbio carioca privilegiando, como recurso de aproximao do objeto, um netw ork de jovens- este conceito assume um colorido especial e, num certo sentido, no tp ico . Ou seja, as situaes p o r eles focalizadas se afastam do modo preferencial pelo qual as classes mdias urbanas organizam sua sociabilidade na medida em que,

    em ambos estes casos, o netw ork, alm de profundam ente enraizado nas relaes de parentesco, est ancorado na localidade, implicando em uma sociabilidade espacialmente concentrada. Poder-se-ia dizer como alis o faz Heilborn que esta configurao particular rem ete para o que B ott (1976) denom inou de netw ork do tipo malha estreita , caracterizada por um a densidade expressiva de relaes e onde no s parentes, vizinhos e amigos se conhecem uns aos outros como tam bm freqentem ente as mesmas pessoas ocupam estas difentes categorias. Como veremos adiante, esta um a das caractersticas que perm ite definir os universos pesquisados por Abreu e por Heilbom como tradicionais. Im portante tam bm para esta qualificao a segregao dos papis conjugais e dos espaos femininos e masculinos - fenmeno que, segundo B o tt, estaria associado organizao da rede de malha estreita.

    Uma outra form a de recortar o objeto de investigao porquanto tam bm demarcando fronteiras simblicas ou um a identidade comum- rem ete o que pode ser chamado de experincias sintetizadoras . Ser psicanalizado, utilizar-se de txicos de modo regular im putando um significado particular a esta prtica (Velho, 1975), aderir ideologia do casal grvido (Salem, 1983, 1984 e 1985) ou, ainda, ser acusado de subversivo ou de drogado (Velho, 1981, cap. 3) podem ser concebidas como experincias sintetizadoras na medida em que no s condensam um a viso de m undo com o tambm exigem, ou expressam, um tipo especfico de ethos por parte dos agentes que aderem a estas prticas.10 Por exemplo, independentem ente de coloridos idiossincrticos, o casal grvido est, em termos tpicos, comprom etido com uma concepo mais igualitria de papis e identidades sexuais, com a crtica ao sistema mdico dom inante, com a valorizao do natural - enfim, com a m udana . A prtica de ser psicanalizado, por sua vez, vem sendo destacada por diferentes autores como um a experincia visceralmente associada a uma form a particular de individualismo que confere proem inncia ao indivduo e subjetividade, que atribui importncia verbalizao e elaborao das emoes e ainda que sacraliza as experincias pessoais como sendo irredutivelmente nicas e singulares. O nvel de com prom etim ento entre o ser psicanalisado (ou o prprio saber psicana- ltico) e a ideologia iiidividualista expressa-se na proposta de Figueira (1981) que assinala uma homologia entre a psicanlise individualista, a cultura psicanalista individualizante e o individualismo psicologizado . Neste mesmo artigo o

    27

  • autox sugere sinda que para o desgosto de uns e alvio de outros a psicanlise se to rnou , no Brasil, viso de m undo endossando assim a idia de q u e a experincia de ser psicalisado expressa uma experincia sintetizadora.

    Em suma, ao mesmo tem po que a cada .uma destas experincias sintetizadoras est atrefda uma configurao de valores, elas demarcam fronteiras simblicas com relao a outras identidades sociais. Mas, cabe assinalar, esta noo pode ser rem etida tan to a um nvel mis e tnogrfico quanto a um plano mais propriam ente analtico. Ou seja, por um lado, um a experincia pode ser considerada como sintetizadora pelos prprios sujeitos observados de ta l modo que ela pode reforar ou at mesmo gerar - uma identidade comum. Este parece ser o caso, por exemplo, do netw ork investigado p o r Velho (1975): ainda que seus m em bros j funcionassem com o um grupo antes da in troduo dos txicos no seu interior, esta prtica redundou em um reforo de suas fronteiras e de sua identidade.1 Por outro lado, precisamente por condensar um elenco de valores e um tipo especfico de ethos, a experincia sintetizadora pode ser identificada, pelo analista, com o recortando um universo simblico. Se fato que esta fronteira simblica pode coincidir com os lim ites de um n e tw o k , parece tam bm plausvel postular que a experincia sintetizadora pode no estar ancorada em nenhum n e tw o k especfico. Em outras palavras, neste ltim o caso, a experincia sintetizadora perm ite estabelecer, de um ponto de vista analtico, a passagem de um grupo de netw ork para um grupo de ethos. A experincia do ser pscanalsado e a do casal grvido, por exemplo, so ilustrativas do fato de que possvel recortar um a realidade sociolgica, um a fronteira simblica ou um a identidade comm sem qualquer ancoragem em uma entidade tipo netw ork ou grupo em sentido estrito .

    Independentem ente de como efetuado o recorte do objeto, o fato que - vale repetir - o tem a unificador dos trabalhos a lgica das regras que constituem a m oralidade do grupo estudado. E, mesmo que a questo da fam lia no seja o foco inicialmente privilegiado, ela acaba por se revelar, de um p on to de vista etnogrfico, como um tpico fundam ental na construo da m oralidade do grupo. Com efe ito , a fam lia aparece, na representao dos agentes, como uma referncia crucial na definio de suas identidades sociais ou na elaborao de seus projetos de vida. Mais precisamente, ainda que esta referncia possa estar investida de uma conotao positiva ou negativa (sugerindo, no

    primeiro caso, valores centrados n a permanncia, na continuidade e na reproduo e, no segundo, um a nfase valorativa na m udana e na diferenciao) - o fa to que a tem tica familiar se im pe, aos olhos dos prprios agentes, como fundam ental. Boa pa rte da literatura aqui examinada tem recorrido ao marco terico do individualism o/hierarquia tan to para qualificar a viso de m undo ou moralidade prevalescente no universo investigado, quanto para caracterizar o m odo preferencial atravs do qual se verifica a construo social da pessoa ou das identidades - quer individuais, quer familiares - no segmento eleito para investigao. Em outras palavras, a form a com o se estrutura e se articula no s a relao ego/fam lia, como tam bm a relao en tre unidades familiares ou grupos domsticos, vem sendo pensada, e trabalhada, luz da m aior ou m enor proximidade do universo investigado com relao ideologia individualista.

    bem verdade que no h um consenso absoluto en tre os autores quanto ao m odo de conceber a questo do individualismo, ainda que todos se inspirem basicamente em Simmel e/ou D um ont.12 Tentando conciliar suas diferenas pode-se dizer que, enquanto categoria terica, o individualismo alude tanto a um fenm eno historicam ente engendrado e localizado quanto ao valor m oral central da configurao ideolgica m oderna. Ou seja, tal conceito refere-se, em term os modelares, a um processo de segmentao no hierrquico do to d o em dom nios crescentem ente autnom os promovendo, concom itantem ente, um deslocam ento da representao e do valor - da totalidade para o indivduo. Mas o term o indivduo refere-se no apenas ao indivduo sujeito m oral como tam bm ao indivduo coletivo , isto , ao grupo que se destaca (ou que visa se destacar) de instncias mais encom passadoras.13 Nesta medida, o fenm eno do individualismo pode ser enfocado em dois planos, no necessariamente excludentes en tre si: de um lado, com o um de seus desdobram entos, o indivduo, agente emprico, erigido categoria de sujeito moral e psicolgico, isto , ele passa a ser pensado e a se pensar como um ser liberto de redes sociais mais encom passadoras e tam bm a se auto-re- presentar com o em en te singular, nico e dotado de um inner-self De outro, o fenm eno do individualismo diz respeito tam bm individualizao de grupos que se destacam de instncias sociais mais abarcantes: neste sentido, a famlia nuclear (ou o valor a ela im putado) - enquanto um conceito que denota um a unidade desprendida de redes de parentesco mais extensas -

    28

  • constituiria tam bm um a m anifestao do individualismo.

    Alm do investimento na idia de indivduo (singular ou coletivo), o individualismo visto como m antendo um compromisso gentico com os valores da igualdade e da liberdade, de um lado, e, de outro, com os da m udana e do progresso m oral (associados representao do tem po como linear e evolutivo). Quando o foco de anlise recai sobre a vertente psicologizante da ideologia individualista - ou sobre o que Simmel denom inou de individualismo qualitativo em distino ao de tipo quantitativo - surgem outros valores associados tais como a nfase na diferenciao, na conscincia do self, na autenticidade , na coerncia , nas escolhas pessoais, na noo de projeto , e tc ..14

    Incidindo em um ponto de vista mais etnogrfico, alguns dos autores aqui exam inados, ao trabalharem com a tem tica do individualismo, destacam o acelerado processo de modernizao pelo qual atravessou a sociedade brasileira a partir dos anos 50 . A ideologia desenvolvimentista, o recrudescim ento da influncia norte-america- na e o boom da Psicanlise verificado nos anos 60/70 nos grandes centros urbanos teriam provocado alteraes significativas nos valores e na viso de m undo das camadas mdias urbanas atingindo, inclusive, a famlia. Velho (1981, cap. 4) sugere que, sob o impacto da ideologia capitalista m odernizante, a fam lia de alguns segmentos das camadas mdias sofreu um processo de nuclearizao. Ou seja, articulada em torno de um projeto de ascenso social, verificou-se a contrao da sociabilidade da unidade dom stica, acarretando um a densificao- e concentrao de emoes dentro de seu limitado mbito. Figueira (1981, 1985 e 1985a) prope que, ao lado da fam lia hierrquica - no interior da qual as diferenas por sexo e idade so reconhecidas como definidoras da pessoa - instala-se o valor da famlia igualitria , onde estas distines tendem a desaparecer: somos form alm ente iguais mas pessoas diferentes ( . . . ) as diferenas so resultado de opes subjetivas (1985a). Visto sob uma outra tica, o valor im putado opo , vida pessoal, privada e subjetiva ao eu, enfim so vistos com o tem as que se afirmam com m aior vigor e com maior legitimidade a partir dos anos 60/70. O boom psicanatico observado nestas dcadas interpretado por estes estudiosos como fornecendo um a linguagem para a modernizao e tambm destacado como conseqncia, ao mesm o tem po que p rodutor, deste tipo de individualismo.

    Por ou tro lado, esta literatura assinala tambm que a ideologia individualista no se encontra igualment'5 disseminada no interior das camadas mdias brasileiras, postulando-se, por conseguinte, a questo de nfases culturais diferenciais no tocante ao individualismo. D e um m odo geral, os autores estabelecem um a correlao positiva entre, po r um lado, a complexidade de tram a soial, a fragmentao de dom nios e de papis e a heterogeneidade de experincias sociais e, de outro , a atualizao de um individualismo mais pleno. Em outras palavras, a maior ou m enor permeabilidade dos grupos sociais ideologia individualista explicada, ao menos em parte, com base em variveis sociolgicas: quanto mais exposto estiver o a to r a experincias diversificadas, quanto mais tiver de dar conta de ethos e vises de m undo contrastantes, quanto menos fechada fo r sua rede de relao ao nvel do seu cotidiano, mais marcada ser a sua autopercepo de individualidade singular. (Velho, 1981:32).

    C ontudo, os autores ressaltam que, mesmo nos segmentos onde esta ideologia mais preg- nante, observa-se um a constante tenso en tre os valores individualistas e os hierrquicos. Colocando de form a mais genrica: tom ando como pano de fundo a d icotom ia individualismo/hierarquia, esta literatu ra insiste na questo de uma dom inncia relativa, e no exclusividade absoluta, da ideologia que adquire proeminncia em ium dado segmento social. Nesta medida, e de m odo recorrente, alude-se a um a tenso derivada da presena de orientaes culturais bordinadas que, em determinadas situaes e contextos, deixam-se vazar, contraditando os padres ideolgicos dom inantes. So estas questes - traduzidas para a tem tica da fam lia - que ocupam agora nossa ateno.

    Antes porm cabe observar que, em bora os autores examinados associem a ideologia individualista ao m oderno (isto , onde o indivduo adquire proeminncia sobre o todo) e a ideologia hierrquica ao tradicional (ou seja, onde a totalidade tem precedncia sobre as partes), eles procuram tam bm dem arcar suas diferenas com relao ao senso comum (mas no s ele) onde o binm io tradicional/m oderno encontra-se com prom etido com bias evolucionis- ta. Assim, est presente na dicotom ia tradicional/m oderno a representao da sociedade como m onoltica. E la admite a diferena sob um eixo diacrnico mas postula um a substanciali- dade idntica, na m edida em que o caminho que a m udana indica para o tradicional aquele que desemboca num determ inado lugar e cepo de m oderno (Heilbom , 1984: 173/-

    29

  • 174). Esta literatura. lida criticamente com esta idia em vrios sentidos: em primeiro lugar, retira da definio do tradicional , bem como da do m oderno , qualquer qualificao valora- tiva; em segundo, a m odernidade no pensada sob um prisma evolucionist na medida em que no se tra ta de distinguir dois m odos de ser, ou de pensam ento, que se opem e se sucedem mas, antes, modalidades que, em bora se diferenciando, coexistem e no necessariamente se sucedem. A hiptese de um a linearidade evolutiva postulada a priori tam bm descartada em funo dos prprios pressupostos desta literatura que insiste na diversidade de ethos das camadas mdias (mas no s delas) como um fenm eno intrnseco sociedade m oderna complexa. Por ltimo, a prpria tenso vislumbrada pelos autores entre princpios individualistas e hierrquicos seja em segmentos onde dom ina a lgica individualista, seja em segmentos onde prevalece a ordem hierrquica revela, desde logo, que o' binm io tradicional/m oderno no pod ser pensado como composto de categorias estanques.

    Feita esta ressalva, vejamos quais so as principais concluses etnogrficas sobre fam lia passveis de serem depreendidas com base nestes estudos sobre camadas mdias. Pode-se postular, grosso m odo, dois paradigmas de representaes sobre fam lia estreitam ente associadas a dois ethos contrastantes os quais, por sua vez, encontram-se fundados em experincias sociais distintas. Ou seja, o plo tradicional congrega representaes de segmentos sociais m oradores em subrbios ou em cidades de in terio r enquanto que o plo m oderno alude s representaes de grupos que, alm de moradores na Zona Sul, so intelectualizados e freqentem ente psicanalisados. justam ente este ltim o universo que abraa a ideologia individualista com maior vigor.

    Os trabalhos de Abreu Filho (1980, 1981, 1982), de Heilborn (1984, 1984a) e tam bm , o de Salem (1984) - que exam ina a configurao familiar em camadas mdias tom ando como material algumas peas da dramaturgia de Nelson Rodrigues focalizam os segmentos mdios tradicionais . Sobressai, nestes estudos, o papel crucial que o parentesco, bem com o a vizinhana, desempenha na estruturao da viso de m undo dos agentes, na construo e elaborao de suas identidades sociais e, ainda, na p r pria organizao de sua sociabilidade. Com efeito , os casos exam inados ajustam-se clssica definio de uma rede de malha estreita har vendo um a superposio significativa dos dom nios do parentesco, da vizinhana e das amiza

    des. Neste contexto os autores sociais, alm de reconhecerem e valorizarem a im portncia das relaes de parentesco, se auto-representam como englobados e encapsulados pela ordem familiar. Tomemos, a ttu lo de ilustrao, a categoria de sangue, bem como as de raa e nome de famlia, destacada por Abreu Filho enquanto demarcadora do dom nio do parentesco. O sangue percebido pelos agentes como um vetor fsico-moral, ou seja, ele significa no apenas um a substncia form adora do corpo mas tambm um elemento que form a o carter, recobrindo assim o campo de moral. Infere-se da que os indivduos, bem com o as famlias elementares, no se percebem como individualidades irredutveis e autnom as, mas antes, com o partes de uma totalidade que os transcedem e os cons- troem.

    Os segmentos modernos estudados se organizam preferencialmente sob a form a de net- worfcs que, em term os modelares, prom ovem a conexo de indivduos ou de famlias dispersos no meio urbano: [estas] pessoas circulam mais por diferentes regies morais do que um a pequena classe mdia de Zona N orte do Rio de Janeiro ou a maioria dos grupos de baixa renda. Essa camada m dia intelectualizada, psicologi- zada da Zona Sul conta com recursos materiais e simblicos que perm item que sua identidade dependa menos da fam lia ou de um a rede de vizinhana como grupo de referncia mais exclusivo ( . . . ) Nem o parentesco, nem a religio englobam esses indivduos que circulam entre diferentes dom nios e instituies . (Velho, 1983: 7 e 8). De fa to , ainda que seus netw orks possam incluir alguns familiares, a rede de sociabilidade destes indivduos dom inantem ente construda com base em critrios de.-escolhas pessoais e de afinidades. Numa certa medida, estes mesmos critrios revelam-se tam bm presentes na prpria determinao do que seja famlia: Dauster (1985: 18 e 27) e Salem (1980: 118/119) m ostram como que estes sujeitos, sem desprezarem por com pleto os vnculos de con- sanguineidade e de afinidade, relativizam sua im portncia ou, ao menos, os reinterpretam com base em noes como afeto, solidariedade, em patia etc.

    A tnica individualista que caracteriza estes segmentos expressa-se ainda no valor conferido autonom ia do indivduo e sua liberdade. De fato, de m odo no raro, as reservas feitas instituio familiar fundamentam-se na idia que ela com prom ete os m ovim entos do eu (Velho, 1975 ; Salem, 1980 e 1985). Colocando em te rmos mais genricos, neste segmento individualista, o relacionam ento en tre o indivduo - sin-

    30

  • guiar ou coletivo - e a unidade m aior que o contm tende a ser sempre representado como ambivalente, quando no conflitivo. Assim, em nome da preservao de sua identidade e da integridade de seu projeto de um a gravidez a dois que o casal grvido evita, ao m enos durante a gestao, a intensificao de contatos ensejada pelas famlias de origem cujo com portam ento considerado como intrusivo e controlador (Salem , 1985). Da mesma form a, o casal m oderno o u emancipado consti i seu projeto de um relacionamento aberto advogando a prevalncia do indivduo sobre a dade (Heilbom , 1980 e 1981). Os singles estudados por Moraes (1985) - que optam por morarem sozinhos em nom e de maiores possibilidades de desenvolvimento profissional, mais autonomia, m aior privacidade, acesso a novas experincias sexuais etc. e ainda, a form a de relacionamento entre casais que decidem pela coabitao separada em nom e da preservao de um espao prprio , da liberdade , da igualdade e da autonom ia pessoal de cada parceiro (Vaitsman, 1985) - tam bm invocam, de algum modo, a tenso entre o indivduo e a unidade maior que o abarca.15

    Em um de seus artigos, Velho sugere que as camadas mdias vivem, de form a dramtica, o dilema de mudar ou permanecer (1981: 108). Ou seja, em bora no descartando que este dilema esteja tambm presente em outras categorias sociais, o au to r prope que este um fenmeno quase que constitutivo do ethos dos segmentos mdios justam ente por estarem eles mais expostos a veculos e ideologias de modernizao. Nas concluses de seu trabalho, Heilbom (1984) discute e relativiza a generalidade desta proposta. O fato de a autora eleger os jovens como recurso de aproxim ao para estudar a m oralidade das camadas mdias suburbanas to rna a questo ainda mais interessante posto que a literatura especializada destaca esta categoria etria como especialmente sujeita e sensvel mudana social. Ora, com base nos dados levantados, a autora atesta a pouca veemncia dos conflitos geracionais, no registrando ainda nenhum a ruptura significativa dos jovens com relao s aspiraes, valores e projetos de vida das geraes mais velhas. Heilborn sublinha que o universo investigado no est distante do cotidiano da m etrpole: alm de exposto aos meios de comunicao de massa, os jovens tm conscincia das diferenas culturais que os separam de outros grupos - e, mesmo assim, valorizam sua opo e seu modo de vida. Ela sugere ainda que o papel desempenhado pela famlia, pelo parentesco e pela vizinhana d suporte a

    uma experincia social que no objetiva a mudana . (1984 :112).

    Bastante diversas so as concluses dos autores que se centram nos segmentos mdios permeados pela ideologia individualista. Nestes, o oompromisso com o novo e com a m udana (sobretudo no sentido de um aperfeioam ento pessoal ou em direo a um a m aior autenticidade) constituem temas-chave. So eles os grandes consumidores das terapias alternativas que aparecem no m ercado - como hom eopatia, bionergtica, trabalhos com o corpo, alimentao natural etc. - como tam bm so eles que ensaiam form as alternativas de relacionamento familiar: os casais grvidos, os casais emancipados , os singles e as mes solteiras estudadas por Dauster (1985a) so casos ilustrativos. Justifica-se assim sua recorrente auto-imagem vanguardista . O anseio por dis- tm gr-se , de um p o n to e vista m oial, das famlias de origem um a tnica bastante presente nestes segmentos e, de modo no raro, seus projetos alternativos so estruturados tom ando, com o m odelo negativo, a m oralidade prevalescen- te na gerao parental. Nessa medida, tanto quanto nas camadas mdias tradicionais , famlia consta como referncia fundam ental na construo de suas identidades s que, no caso dos segmentos individualistas, esta construo se verifica antes pelo contraste do que pela similaridade.

    As ideologias concernentes a diviso de papis de gnero so nitidamente distintas no universo das camadas mdias tradicionais e no dos m odernos . No parece casual o fa to de que todos os autores que elegeram, como objetos de investigao, os primeiros segmentos tenham recorrido ao conceito de honra m editerrnea , tal como desenvolvido por Pitt-Rivers. para descrever o m odo como a se alocam os atributos especficos a cada um dos sexos. Neste contexto, hom em e mulher so concebidos como distintos e complementares: a m ulher - smbolo da m oral domstica - est basicamente referida famlia e ao lar ao passo que o homem, ao dom nio pblico e ao trabalho. Enquanto que as mulheres so avaliadas em funo de sua conduta moral, os hom ens o so com base no seu desempenho profissional. Observa- se assim um a nfase valorativa em um a demarcao rgida entre os papis sexuais bem como entre os dom nios e as fronteiras do masculino e do feminino. Os segmentos individualistas - calcados no valor da igualdade - dispem-se a uma reviso neste arranjo. Ou seja, no s contestam a diviso tradicional de papis sexuais como tam bm propugnam, em certos casos, o

    31

  • esmaecimento das diferenas entre o masculino e o feminino. Este valor parece dramatizar-se, de form a paroxstica, na experincia do casal grvido. Em algumas sesses dos cursos pr-na- tais que estes casais freqentam prope-se, como exerccio, a simulao conjunta de contraes uterinas e, em dramatizao sobre a hora do nascim ento, o hom em que desempenha o papel da m ulher que est parindo: este fenmeno ilustra, em suma, um caso limite da concepo igualitria entre gneros porquanto estimula uma com-fuso entre entidades, e corpos, femininos e m asculinos e precisamente em uma situao na qual a condio feminina encontra- se biologicam ente inscrita (Salem, 1985: 36).

    A nfase diferencial na hierarquia e na igualdade reproduz-se ainda no m odo como estes dois universos concebem o relacionamento entre pais e filhos: no espao tradicional, o con- convvio domstico m arcado pela assimetria e noo de respeito e autoridade (Heborn, 1984) ao passo que os segmentos individualistas propugnam um relacionamento aberto , franco e pautado no dilogo , alm de dedicarem especial ateno aos aspectos subjetivos e psicolgicos da personalidade infantil (Dauser,1984, e Salem, 1985). Lo Bianco destaca, como um dos desdobram entos da cultura psicanalti- ca , o fenmeno da psicologizao do feto entendido como expresso da busca de um aperfeioamento de relao m atem o-infantil que feita retroceder poca anterior ao prprio nascim ento da criana (1 9 8 5 :95).

    Cabe ressaltar que apenas por razes de recurso de exposio as caractersticas morais pertinentes a cada um dos segmentos foram listadas separadamente. Em realidade, cada uma das colunas form a um a espcie de totalidade na qual os valores descritos encontram-se interligados uns aos outros redundando num sistema dotado de um a certa coerncia interna. Por outro lado, o material etnogrfico dos trabalhos aqui examinados tam bm leva a um a subverso ou, ao menos, a um a necessidade de m atizar a oposio entre a ideologia hierrquica e a individualista.

    Em outras palavraSj com o j referido, os autores assinalam, em cada universo, um a constante tenso derivada da presena de cdigos culturais subordinados que, em determinadas situaes, vm se afirm ar contraditando assim os padres ideolgicos dom inantes. No que concerne ao espao tradicional , Abreu Filho destaca que as categorias de nom e e de luta acionadas pelos inform antes (a primeira demarcando a construo pessoal de status, a honra e reputao individuais e a segunda apontando para os

    mecanismos desta construo) direcionam o pensamento para uma dimenso biogrfica, onde a trajetria pessoal o foco das reflexes e onde os projetos so avaliados em term os mais individualizados (1982 :105). Ou seja, enquanto que as categorias de sangue, raa e nom e de famlia subordinam o indivduo a uma totalidade de tal modo que o com portam ento individual pode ser lido a partir de uma lgica familiar, as de nom e e de luta rem etem para um plano onde o indivduo enquanto categoria m oral tom ado como unidade de reflexo. Salem (1984) sugere que a violao de tabus sexuais levada a cabo por alguns dos personagens femininos rodrigueanos (como a infidelidade e o rom pim ento do tabu da virgindade) pode ser interpretada como situaes nas quais a m ulher faz de sua sexualidade para afirmar-se como um valor individual em si mesmo s expensas da unidade familiar e revelia do poder do patriarca - quando no, contra ele.

    A literatura que lida com os segmentos individualistas, por sua vez, est eivada de evidncias que apontam em direo diversa, seno inversa, aos preceitos ideolgicos p o r eies propalados. Assim que o valor que im putam famlia nuclear - como uma entidade individualizada e destacada das redes de parentesco - esbarra em uma srie de constrangimentos e de contra-ten- dncias. Situaes ou experincias crticas como separao, o nascim ento de um a criana ou ser me solteira so reveladoras do fa to de que a famlia nuclear, bem como o indivduo, est longe de ser o ponto de referncia exclusivo. Com efeito, no m om ento em que um a aliana desfeita, toda a rede de relaes do casal parentes e amigos - de algum m odo afetada, revelando que a unio entre dois pareceiros, por mais que suportada na escolha pessoal e na liberdade, cim enta um a totalidade que os transcende (Velho, 1983). Com o rom pim ento do casamento, tan to quanto na experincia de ser me solteira, os laos de dependncia (inclusive material) com relao s famlias de origem tendem a recrudescer. Lins de Barros (1984, 1985) m ostra com o os avs sentem-se usados por seus filhos no cuidado com os netos. Este sentim ento de sobrecarga toma-se especialmente agudo nos casos em que a aliana m atrim onial da segunda gerao desfeita: nestas circunstncias os avs sentem-se responsveis - mesmo porque so freqentem ente convocados - por amparar as crianas. Alm disso, o nascimento de um beb, ao invs de isolar os cnjuges de suas famlias de provenincia (tal como projetado pelo casal grvido durante a gestao), acaba

    32

  • promovendo uma soldagem entre unidades familiares.

    Desvela-se assim, como marca registrada dos segmentos individualistas, um a duplicidade, seno ambivalncia, entre crtica contundentem ente a estrutura familiar como comprometendo os movimentos do eu e, ao mesmo tem po, em t-la como referncia fundamental em passagens crticas da vida. Este fen- afirma com maior nitidez quando se considera que, por maior que seja a im portncia conferida por este universo teia de amizades, ela no substitui o espao ocupado pela parentela. Em suma, as situaes descritas pem em evidncia dispositivos tp icos do cdigo da aliana relati- vizando tan to a idia de fam lia nuclear quanto a de um indivduo auto-referido.

    Contudo, o relevante papel que o parentesco desempenha neste universo ultrapassa, em m uito, situaes ou m om entos crticos. J foi referido que a fam lia consta como referncia fundamental nos projetos vanguardistas destes segmentos no sentido de que, em boa parte, eles so form ulados em oposio ao ethos e viso de m undo abraados pelas famlias de provenincia. Mas a im portncia destas ltim as ex trapola tam bm seu carter de referncia negativa. No infreqente o fato destes sujeitos receberem algum tipo de apoio material de suas fam lias permitindo-lhes desfrutar de um padro de vida e at mesmo implementar seus projetos vanguardistas que seriam inviveis sem esta ajuda. Alm disso, observa-se tam bm que, por vezes, estes indivduos tendem a m anipular a origem familiar apresentando-se no s como um a aristocracia de esprito m as tam bm de sangue (Velho, 1975). Vrias outras evidncias poderiam ser fornecidas, mas elas apenas endossariam o que, desde j , pode ser concludo: o parentesco desempenha um papel crucial na elaborao das identidades sociais no universo das camadas mdias at mesmo nos processos mais radicais de individualizao (Velho, 1981: 119).16

    Resta, como ltim a questo, exam inar quais os argumentos levantados por esta literatura para explicar a tenso entre princpios individualistas e hierrquicos ou o dilema de m udar ou permanecer presente nos segmentos m odernos . No h consenso en tre os estudiosos quanto form a de responder a esta questo e, alm disso, um mesmo au to r pode recorrer a diferentes tipos de explicao em diferentes contextos.

    A tese de um descompasso entre uma m udana social acelerada e a persistncia de valores arcaicos a nvel inconsciente vem sendo defini

    da sobretudo por psicanalistas e psiclogos que tematizam a fam lia m oderna das camadas mdias brasileiras (cf., por exemplo, Figueira,1981, 1985a e Nicolaci-da-Costa, 1985, 1985a). Ou seja, estes autores sustentam que a tenso e a oscilao entre modelos modernos e tradicionais resultariam de uma descontinuidade entre sistemas simblicos internalizados em d iferentes m om entos da biografia dos sujeitos. O conceito de desmapeamento , tal com o desenvolvido por Figueira (1981), condensa esta proposta: o desm apeam ento no , como sugere a metfora, ausncia de ordem, form a ou mapa, mas a presena de ordens, form as e mapas contraditrios. A form a de fam lia que se realiza num determ inado m om ento e visvel convive, porque surgiu de um processo de m udana acelerada, em estado de conflito potencial, quando no deflagrado, com formas da famlia historicamente anteriores, abandonadas no processo de mudana social, mas m antidas invisveis, dentro dos sujeitos, porque internalizadas em algum m om ento de sua formao .17 Nicolaci- da-Costa (1985) sugere que os m odelos e valores arcaicos - supostam ente j ausentes da sociedade em virtude da mudana social acelerada manter-se-iam presentes dentro dos sujeitos pelo fato de terem sido internalizados durante a socializao primria, cujos contedos seriam, por uma srie de razes, mais renitentes m udana e a revises.

    Uma outra linha prefere interpretar a oscilao, por parte de um mesmo sujeito, entre cdigos dspares e freqentem ente contraditrios como sendo um fenmeno tipicam ente produzido pela prpria organizao das sociedades modernas complexas. Nestas, sugere-se, a coexistncia de vises de mundo concorrentes e ainda, a autonom ia relativa de dom nios sociais (como o pblico e o privado) - cada qual operando com uma linguagem particular - levariam os sujeitos no s a internalizarem cdigos diferentes como tambm a oscilarem entre eles dependendo do contexto em que estejam situados (Velho, 1975 e 1985).18

    A questo da tenso entre individualizar-se e ser englobado vem sendo pensada por alguns autores como um a questo universal presente em diferentes sociedades e m omentos histricos, embora seja mais visvel e acentuada em contextos onde o indivduo focalizado como categoria fundam ental: a tenso entre a individualizao propriam ente d ita e a insero em um a categoria mais ampla parece ser problem a universal. Sem dvida a conscincia desta tenso emerge com mais nitidez com a prpria ideologia individualista (Velho, 1981: 45).

    33

  • O utros autores restringem a interpretao do aludido dilem a encarando-o com o uma questo constitutiva da ideologia individualista. Assim, a tenso entre o sujeito - individual ou (letivo - que busca singularizar-se e a unidade maior que o contm fundamenta-se no prprio carter dual que a instncia mais encompassado- ra m anifesta em sua relao com as unidades que abarca operando na fronteira, tnue e oscilante, entre ser um preventivo contra a anomia a que estariam sujeitas as unidades modernas atomizadas e constituir um constrangimento sua individualizao. Resulta da que, no contexto scio-cultural onde o culto do eu se esboa como religio (cf. Duarte, 1983), o rela

    cionam ento en tre o indivduo (singular ou coletivo) e a unidade maior que o contm tender sempre a apresentar um cunho ambivalente, quando no conflitivo (Salem, 1983: 19/20).

    Finalm ente, cabe mencionar o argumento que alude dificuldade de im plem entar valores individualistas e igualitrios em uma sociedade como a nossa: em um a sociedade com o a brasileira, em que a hierarquia exerce um papel crucial, com a forte crena de que cada coisa tem e deve estar em seu lugar, o pertencim ento a uma famlia especfica elemento fundam ental no sistema de classificao dos universos investigados, at mesmo nos processos mais radicais de individualizao (Velho, 1981:119).

    Notas

    1. Alguns dos trabalhos aqui citados - como os de Abreu Filho, de Heilbom e de Lins de Barros - estiveram rinctaos pesquisa Estudo Comparativo de Camadas Mdias M etropolitanas e de Cidades de Interior coordenada pelo Professor Gilberto Velho e financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos Finep e pela Fundao Ford.

    2. Este livro reproduz sua dissertao de mestrado para o Programa de Ps-Graduao em A ntropologia Social, Museu Nacional, defendida em 1970.

    3. Nesta associao entre fam lia e /o u parentesco e viso de mundo, merece ser comentada a proposta de Abreu Filho que, invertendo num certo sentido as premissas do ltim o bloco de trabalhos mencionados, elege as representaes sobre parentesco como entrada principal para compreender tan to os valores bsicos d o setor social estudado quanto a articulao das relaes sociais locais. Ou seja, sugere o autor que em grande parte, a ordem sociai pensada atravs de categorias fornecidas pelo sistema de representaes que define o parentesco enquanto dom nio autnom o (1981 :36).

    4. Para um a discusso dos problemas envolvidos nestas tradies tericas, cf. Velho (1975, cap. V e 1981), A breu Filho (1980 :114 e ss) e Heilborn (1984:1 e ss).

    5. Velho, por exemplo, vem privilegiando, como objeto de estudo, precisamente os segmentos intelectualizados e psicanalisados das camadas mdias cariocas moradoras na Zona Su: os grupos que estou particularm ente interessado em discutir, dentro do universo das camadas mdias, aparecem como portadores mais caractersticos da vertente psicologizante das ideologias individualistas (1985:171).

    6. Estas idias - que se fundam na noo de segmentariedade de Evans-Pritchard e na noo de princpio de situao elaborada por Dumont - j foram exemplarmente descritas e trabalhadas por Duarte (1985, em especial cap. II, item 1).

    7. Abreu Filho sugere que um dos embaraos presentes tanto na tradio de estudos de estratificao social quanto na da estrutura de classes no que respeita s camadas mdias situa-se justam ente na dificuldade de substancializar os diversos segmentos em uma categoria maior ( . . . ) Esse fato, em si no problem tico, passa a s-lo na medida em que a preocupao com a unidade dos setores mdios ( . . , . ) acom panha a maioria dos estudos (1980, p . 115).

    8. Em T he Metropolis and Mental Life (1971 [19031]), Simmel sugere que os mesmos fatores que convertem os centros urbanos em ncleos da mais alta impessoalidade prom ovem tam bm uma subjetividade altamente pessoal. O anseio por diferenciar-se, a atitude blas e a nfase na reser-

    34

  • va seriam, segundo este autor, mecanismos acionados pelo hom em m etropolitano para permanecer perceptvel para si mesmo. Gilberto Velho tam bm vem insistindo, ao longo de seus trabalhos, na coexistncia, e eventual concorrncia, entre cdigos culturais mltiplos ou mltiplas realidades. Ver, por exemplo, Velho (1981, cap. 1; 1985), alm de Velho & Viveiros de Castro (1978).

    9. Caberia tam bm a incluir dois trabalhos de Heilbom (1980, 1981) nos quais a autora trabalha com a idia de casal moderno ou emancipado que propugna o abandono da perenidade da relao conjugal e a flexibilizao da sua concepo monogmica (1980: 1). A autora examina esta concepo de casal tomando como unidade de anlise um netw ork de mais ou m enos 30 integrantes com idade varivel entre 22 e 30 anos.

    10. Vale ressaltar que no caso do subversivo e do drogado , ainda que os acusados possam ter, ou virem a desenvolver, um a identidade comum, as fronteiras so estabelecidas e geradas com base justam ente no sistema de acusao. Neste caso os prprios contedos acionados pelo acusador permitem inferir categorias e valores centrais que conformam sua viso de m undo. Foi esta a perspectiva privilegiada por Gilberto Velho no mencionado artigo.

    11. Cf. Velho (1975:74).

    12. Existem algumas diferenas significativas entre Simmel e D um ont no que tange noo de indivduo. A concepo de individualismo em Dum ont, estando presa ao espao econm ico, po ltico e filosfico, est tambm vinculada a um a viso form alstica e jurisdicista do indivduo. Simmel, por sua vez, encontra-se m uito mais com prom etido com uma sociologia das experincias pessoais ou com o contorno particular assumido pela vida psicolgica individual no espao da metrpole de tal m odo que, para ele, o indivduo m oderno, alm de ser um ente moral, tam bm concebido como um ser psicolgico. Esta dimenso desprezada nos trabalhos de Dum ont - j fora examinada no clssico artigo de Mauss (1971) sobre a noo de pessoa.

    13. O term o indivduo coletivo tom ado de Dum ont (1971), mas Simmel tam bm faz referncia ao fenm eno de individuao de coletividades (1971:264).

    14. Nas palavras de Velho: a essa conscincia da individualidade fabricada dentro de um a experincia cultural especfica - corresponder um a maior elaborao de um projeto. Este ser estimulado e encontrar um a linguagem prpria pa ta express-lo a psicanlise, especificamente, e o discurso psicolgico em geral, em parte conseqncia e em parte criador deste tipo de individualismo. Cada vez fica mais difcil pensar um sem o outro. Ver-se como unidade significativa bsica, procurando a sua verdade , desenvolvendo potencialidades particulares, rom pendo simbioses faz parte do credo analtico (Velho, 1981: 32). Cf. tam bm Velho (1985).

    15. Ainda que estas prticas e este padro discursivo paream mais recorrente nas geraes mais novas (cf. Almeida, 1985a), eles no lhes so exclusivos. O trabalho de Lins de Barros sobre a velhice em um grupo de mulheres catlicas atuantes (1981) revela que, aos olhos das informantes, a realizao de sua individualidade e a consecuo de seu projeto de m ilitncia religiosa-assistencial s era vivel na medida em que estabelecessem uma opo no-familiar para a velhice.

    16. Ou, como sugere uma das informantes de Heilbom que abraa a ideologia do casal emancipado : o pior que todo desvio' acaba voltando casa paterna (1 9 8 0 :9 ).

    17. Figueira argumenta que o fenm eno do desmapeamento - acirrado a partir dos anos 5 0 em virtude da mudana social acelerada atravessada pela sociedade brasileira - seria um dos fatores responsveis pelo boom psicanaltico verificado nas dcadas seguintes nos grandes centros urbanos.

    18. Esta situao pode gerar uma tenso existencial e o recurso psicanlise mencionado como um dos mecanismos privilegiados por segmentos das camadas mdias para atingir, ou ao. menos buscar, a coerncia. (Velho, 1985).

    35

  • Bibliografia

    Abreu Filho, O.1980. Sangue, Raa e Luta: identidade e parentesco em uma cidade do interior. Dissertaode Mestrado, PPGAS/ Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro, 237 pp., mimeo.

    Abreu Filho, O.1981. O Parentesco como Sistema de Representaes: um estudo de caso. In Velho, G. &

    Figueira S. (orgs.), Famlia, Psicologia e Sociedade. Campus, Rio de Janeiro, pp. 135-150.

    Abreu Filho, O.1982. Parentesco e Identidade Social. Anurio Antropolgico 80. Edies Universidade

    Federal do Cear, Fortaleza, Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, pp. 95-118.

    Almeida, M. I. M.1985a. A A maternidade, nova mas presa ao destino . Jornal do Brasil, 14 de julho,

    Caderno Especial, p. 4.

    Almeida, M. I. M.1985b. A Modernizao da Maternidade (1950 - 1980): uma abordagem sociolgica da

    construo da subjetividade na famlia de classe mdia brasileira. Tese de Mestrado, Iuperj, Rio de Janeiro, 296 pp . mimeo.

    Bott, E.1976. Famlia e R ede Social. Rio de Janeiro, Francisco Alves.

    Costa, M. C.1985. Sobre o Segredo: adoo em fam lias de camadas mdias. PPGAS/Museu Nacional/

    UFR J, Rio de Janeiro, 26 pp., mimeo.

    Dauster, T.1984. A Experincia Obrigatria: notas sobre o significado do filho em camadas mdias ur

    banas. PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, Rio de Jaheiro, 26 pp. mimeo.

    Dauster, T.1984a. A Inveno do Am or: amor, sexo e fam lia em camadas mdias urbanas. Trabalho

    apresentado no IV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Rio de Janeiro, 19 pp., mimeo.

    Daustr, T.1985. Laos e Ns: indivduo, fam lia e amigos. PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, Rio de

    Janeiro, 32 pp. mimeo.

    Dauster, T.1985a. A Desafiante Me Solteira . Jornal do Brasil. 14 de julho, Caderno Especial, p . 4.

    Duarte, L. F . D.1983. Trs Ensaios sobre Pessoa e W oQ vnfa^.Bol.M us.N .S.,Antropologia (41): 1-69,

    Duarte, L. F . D.1985. Da Vida Nervosa: pessoa e modernidade entre as classes trabalhadoras urbanas. Tese

    de D outorado, PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro, 662 pp., mimeo.

    Dumont, L.1971. Religion, Politics and Society in th e Individualistic Universe . Proceedings o f the

    Royat Anthropological Institu te o f Great Britain and Ireland fo r 1970, London, pp. 31-41.

    36

  • Figueira, S.1981 Psicanlise e Antropologia: um a viso de m undo brasileiro . Jornal do Brasil, 20 de

    dezembro, p . 6.

    Figueira, S.1985. Modernizao da Fam lia e Desorientao: uma das razes do psicologismo no Bra

    sil . / Figueira, S. (org.), Cultura da Psicanlise. Brasiliense, So Paulo.

    Figueira, S.1985a. No Reino da Opo . Jornal do Brasil. 14 de ju lho , Caderno Especial, p . 6.

    Heilborn, M. L.1980. Compromisso de M odernidade: casal, vanguarda e individualismo. PPGAS/Museu Na-

    cional/U FR J, R io de Janeiro, 24 pp., mimeo.

    Heilborn, M. L.1981. N otas para um Estudo sobre Casais: a fidelidade em questo. PPGAS/Museu Nacio-

    nal/U FR J, Rio de Janeiro, 13 pp. mimeo.

    Heilborn, M. L.1984. Conversa de Porto: juventude e sociabilidade em um subrbio carioca. Dissertao

    de M estrado, PPGAS/Museu Nacional/U FR J, Rio de Janeiro, 212 pp. m imeo.

    Heiiborn, M. L.1984a. Viso de Mundo e Eths em Camadas Mdias Suburbanas n o Rio de janeiro . In

    Rodrigues, L. M. e t al. Cincias Sociais Hoje. pp . 88-99. So Paulo. Cortez.

    Lins de Barros, M. M.1981. Testem unho de Vida: um estudo antropolgico de m ulheres na velhice . Perspecti

    vas A ntropolgicas da M ulher, Rio de Janeiro, Zahar, (2): 11-70.

    Lins de Barros, M. M.1984. Representao da Famlia pelos A vs. Comunicao apresentada no VIII E ncontro da

    Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais. guas de So Pedro, So Paulo, 46 p p . mimeo,

    Lins de Barros, M. M.1985. Avs, A utoridade e A feto . Jornal do Brasil, 14 de ju lho , Caderno Especial, p . 3.

    Lins de Barros, M. M.1986. A vs: autoridade e afeto. Um estudo de fam lias de camadas mdias urbanas. Tese de

    D outorado, PPGAS/Museu Nacional/U FR J, R io de Janeiro, 271 pp., mimeo.

    Lo Bianco, A. C.1985. A Psicologizao do A feto . In Figueira, S. (org.) Cultura da Psicanlise. So Paulo,

    Brasiliense.

    Mauss, M.1971. Sobre una Categoria dei Espxritu Humano: la nocin de persona y la nocin dei

    yo \ In Mauss, M. (org.) Sociologia y Antropologia. Madrid, Tecnos.

    Moraes, D. P.1985. A opo de Ser Solteiro . Jornal do Brasil, 14 de julho , Caderno Especial, p . 5.

    Nicolaci da Costa, A. M.1985. Mal-Estar na Fam lia: descontinuidade e conflito en tre sistemas simblicos . In

    Figueira, S. (org.), Cultura da Psicanlise. So Paulo, Brasiliense.

    37

  • Nicolaci da Costa, A. M.1985a. Escola Experim ental o u Antiga? Jornal do Brasil, 14 de ju lho , Caderno Especial,

    p . 2.

    Rocha, A. L. C.1985 A Dialtica do Estranhamento: a reconstruo da identidade social de mulheres sepa

    radas em Porto Alegre. Dissertao de M estrado, Curso de Ps- Graduao em A ntropologia Social da Universidade Federal do R io Grande do Sul, 440 pp., mimeo.

    Salem, T.1980 O Velho e o N ovo: um estilo de papis e con flito s familiares. Petrpolis, Vozes.

    Salem, T.1983. O iderio do Parto Sem Dor: um a leitura antropolgica . B o i Mus. Nae., A n tropo

    logia, (40): 1-27.

    Salem, T.1984. A Famlia em Cena: uma leitura antropolgica da dramaturgia de N elson Rodrigues.

    T rabalho apresentado no IV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Rio de Janeiro, 22 pp. mimeo.

    Salem, T.1984a. Etnografia de R eunies para Casais Grvidos. PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, Rio

    de Janeiro, 44 pp. mimeo.

    Salem, T.1985. A Trajetria do Casal Grvido: de sua constituio reviso de seu projeto . In

    Figueira, S. (org.), Cultura da Psicanlise. So Paulo, Brasiliense.

    Salem, T .1985a. Gravidez um projeto a dois . Jom al do Brasil, 14 de julho , Caderno Especial, p . 5.

    Simmel, G.1971. On Individuality and Social form s. Chicago, University o f Chicago Press.

    Vaitsman, J.1985. Casal, sim, m as cada um na sua casa . Jornal do Brasil, 14 de julho, Caderno

    Especial, p. 3.

    Velho, G.1973. A Utopia Urbana. Rio de Janeiro, Zahar.

    V elho.G .1975. Nobres e A njos: um estudo de txico e hierarquia. Tese de D outorado, FFLCH/USP,

    So Paulo, 184 pp . mimeo.

    Velho, G.1981. Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contempornea.

    Rio de Janeiro, Zahar.

    Velho, G.1^83. Aliana e Casamento na Sociedade M oderna: separao e amizade em camadas m

    dias urbanas . Boi. Mus. Nac., N .S., Antropologia, (39): 1-11.Velho, G.

    1985. A Busca de Coerncia: coexistncia e contradies en tre cdigos em camadas mdias urbanas . In Figueira, S. (org.), Cultura da Psicanlise. So Paulo, Brasiliense.

    38

  • Velho, G.1985a. Dramas e R otinas da Separao . Jornal do Brasil, 14 de julho, Caderno Especial,

    p. 2.

    Velho, G. & Viveiros de Castro, E.1978. O Conceito de Cultura nas Sociedades Complexas: uma perspectiva antropolgica .

    A rtefa to , Rio de Janeiro, Conselho Estadual de Cultura. I (1): 4-9.

    39