família de miguel calmon cultiva e comercializa produtos orgânicos

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Com os primeiros raios de sol da manhã, vão chegando os clientes às barracas da Feira Orgânica Chão Verde, no município de Miguel Calmon, semiárido da Bahia. A venda de produtos orgânicos acontece às sextas-feiras e aos sábados: são 13 barracas de agricultores e agricultoras familiares, oriundos das comunidades de Alma, Assa-peixe, Brejo Grande, Tamanco e Cabral. As pessoas se aproximam, a maioria com seu aió de lado - uma espécie de sacola artesanal de palha - onde se carregam os produtos da feira. “Banana, cheiro-verde, tomate, cenoura, tudo vai no aió; é comida e tempero para cozinhar pra toda a família. Só consumo verdura orgânica porque é sem veneno, não prejudica nossa saúde”, explica Dona Rosália Souza, 72 anos, comprando na barraca de Rose Félix, 31 anos, e de Gislânio Félix, 31 anos, conhecido como Minho, um casal de produtores orgânicos da comunidade de Cabral. Diante do depoimento, Rose exclama: “Precisa explicar”? Foi Rose que deu início ao cultivo orgânico da família; nascida e criada na comunidade de Cabral, casou-se aos 15 anos com Minho e atualmente são pais das filhas: Raiane, 10 anos e Gislane, 5 anos. Iniciaram a vida de casados trabalhando no cultivo de feijão e morando na casa dos pais de Minho. Depois, com o plantio de mandioca, abacaxi e banana, conseguiram construir uma casa. Já não usavam veneno, mas aplicavam adubo químico na plantação. A coisa mudou quando Rose resolveu participar de cursos sobre produção orgânica, mesmo sem o esposo concordar: “Minho achava que era coisa de quem não tinha o que fazer. Mesmo assim eu fui e quando quis fazer mudanças na roça, ele não acreditava”, declara Rose, sobre a teimosia do marido. Após essas primeiras capacitações, algumas mudanças foram introduzidas: passaram Bahia Ano 6 | nº 998 | outubro | 2012 Miguel Calmon - Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Família de Miguel Calmon cultiva e comercializa produtos orgânicos 1 Rose atende clientes na feira orgânica em Miguel Calmon O sustento da família de Rose e Minho vem da roça

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Page 1: Família de Miguel Calmon cultiva e comercializa produtos orgânicos

Com os primeiros raios de sol da manhã,

vão chegando os clientes às barracas da Feira

Orgânica Chão Verde, no município de Miguel

Calmon, semiárido da Bahia. A venda de

produtos orgânicos acontece às sextas-feiras e

aos sábados: são 13 barracas de agricultores e

agr icu l toras fami l iares, or iundos das

comunidades de Alma, Assa-peixe, Brejo

Grande, Tamanco e Cabral.

As pessoas se aproximam, a maioria com

seu aió de lado - uma espécie de sacola

artesanal de palha - onde se carregam os

produtos da feira. “Banana, cheiro-verde, tomate, cenoura, tudo vai no aió; é comida e tempero para

cozinhar pra toda a família. Só consumo verdura orgânica porque é sem veneno, não prejudica nossa

saúde”, explica Dona Rosália Souza, 72 anos, comprando na barraca de Rose Félix, 31 anos, e de

Gislânio Félix, 31 anos, conhecido como Minho, um casal de produtores orgânicos da comunidade de

Cabral. Diante do depoimento, Rose exclama: “Precisa explicar”?

Foi Rose que deu início ao cultivo orgânico da família; nascida e criada na comunidade de Cabral,

casou-se aos 15 anos com Minho e atualmente são pais das filhas: Raiane, 10 anos e Gislane, 5 anos.

Iniciaram a vida de casados trabalhando no cultivo de feijão e morando na casa dos pais de

Minho. Depois, com o plantio de mandioca,

abacaxi e banana, conseguiram construir uma

casa. Já não usavam veneno, mas aplicavam

adubo químico na plantação.

A coisa mudou quando Rose resolveu

participar de cursos sobre produção orgânica,

mesmo sem o esposo concordar: “Minho achava

que era coisa de quem não tinha o que fazer.

Mesmo assim eu fui e quando quis fazer

mudanças na roça, ele não acreditava”, declara

Rose, sobre a teimosia do marido.

Após essas primeiras capacitações,

algumas mudanças foram introduzidas: passaram

Bahia

Ano 6 | nº 998 | outubro | 2012Miguel Calmon - Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Família de Miguel Calmon cultiva e comercializa produtos orgânicos

1

Rose atende clientes na feira orgânica em Miguel Calmon

O sustento da família de Rose e Minho vem da roça

Page 2: Família de Miguel Calmon cultiva e comercializa produtos orgânicos

a substituir o carbureto por maracujina madura, obtendo maiores resultados com o amadurecimento da

banana, que além de atingir o cacho inteiro, conserva o sabor da fruta. Outra novidade foi na forma como

passaram a fazer os canteiros de hortaliças:

plantando fileiras que seguem o curso natural da

água. Com essa técnica, evitam que o plantio seja

destruído durante as chuvas mais intensas,

principalmente porque o casal utiliza a baixada da

propriedade para o plantio e a água retirada de um

cacimbão erguido com alvenaria, onde a água

acumula por minação do subsolo.

Na roça, produzem alface, coentro,

cebolinha, salsa, couve-flor, repolho, tomate,

feijão, mamão, pepino, abobrinha, beterraba,

cenoura, banana, mandioca, abacaxi, milho,

aipim e pimentão. Para complementar a renda

familiar, ainda criam porco e galinha caipira e finalmente Minho se convenceu que a esposa estava

certa: “Hoje vejo os resultados, nossos produtos eram desvalorizados e agora pagam até mais dinheiro

porque nossa verdura é orgânica, natural”.

COMERCIALIZAÇÃO EM GRUPO

A partir da organização dos agricultores e

agricultoras, a vida de famílias como a de Rose e

Minho melhorou. Obtiveram um espaço próprio

para comercialização com a Feira Orgânica

Chão Verde e já conseguiram vender produtos

para a merenda escolar, por meio do Programa

Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Rose e Minho pretendem aumentar a

produção, a partir de 2013, quando já poderão se

utilizar nos tempos de seca, da reserva de água que será garantida com uma tecnologia de captação de

água de chuva construída na roça. O casal adquiriu uma cisterna enxurrada através do Programa Uma

Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), que na região está sendo

executada pela Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa, uma instituição sem fins lucrativos que há 52 anos

atua nos municípios da região de Ruy Barbosa e nos últimos 20 anos vem trabalhando na perspectiva

da convivência com o Semiárido.

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O plantio é adequado ao terreno da horta

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Bahia

Apoio:

Programa Cisternas

Horta orgânica: saúde de produtores e consumidores