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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL
Patricia de Castro Thais Travençoli da Luz
Futebolistas: vídeo documentário sobre a representação
da mulher no futebol
CURITIBA
2014
FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL
Patricia de Castro Thais Travençoli da Luz
Futebolistas: vídeo documentário sobre a representação da
mulher no futebol
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Jornalismo à Escola de Comunicação das Faculdades Integradas do Brasil, sob orientação do professor mestre Hendryo André.
CURITIBA
2014
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que me fez escolher esta profissão e me deu forças para
chegar até aqui. Aos meus pais, Inez e Joaquim, pelo amor incondicional e por
acreditaram na minha escolha. Aos meus irmãos, Renato e Ricardo, pelo
cuidado e por me apoiarem desde o início da faculdade. À minha cunhada,
Priscila, pelo carinho e pelo incentivo durante o desenvolvimento deste
trabalho. Ao meu sobrinho e afilhado, Théo, que mesmo pequeno, me ensinou
o quanto um sorriso faz bem à alma. À minha amiga e companheira de TCC,
Patricia, pela paciência e por caminhar ao meu lado desde o Ensino
Fundamental. Ao meu namorado, Maikon, pelo companheirismo, amor
indescritível e por estar presente nos momentos de fraqueza e felicidade.
Obrigada por acreditarem neste sonho. Eu amo vocês.
Thais Travençoli
Primeiramente agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado em todos os
momentos. A toda a minha família, em especial aos meus pais Vanira e João
que sempre estiveram presentes para me apoiar. Ao meu namorado Alisson,
que permaneceu ao meu lado disponibilizando do seu conhecimento para
enriquecer o nosso trabalho. E a minha amiga e companheira de TCC, Thais,
que contribuiu muito para realização deste projeto.
Patricia Castro
Agradecemos a todos os professores que contribuíram para nossa formação,
em especial ao nosso orientador Hendryo André, pela dedicação, paciência,
pelas horas de orientação e por acreditar neste trabalho desde o início.
Agradecemos também ao time de futebol feminino de Colombo, pela atenção e
por contribuírem para a realização deste produto. Ao amigo Denis Barbosa,
pelo incentivo e por acreditar na cobertura jornalística de esportes amadores.
Ao amigo Rafael Passos, pelo apoio e por nos ensinar a editar. A todos, nosso
muito obrigada. Sem vocês não seria possível.
Nós
“O rei de amanhã pode ser uma rainha.
E então? E se as mulheres conseguirem
fazer isso mais bem feito?
Como é que ficaremos?”
(Eugênio Bucci)
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo criar uma reflexão a respeito da imagem da mulher no esporte, principalmente no futebol. Por meio de uma análise de conteúdo quantitativa este estudo pretende entender como a mulher é tratada na mídia esportiva. A partir desta pesquisa foi realizado um vídeo documentário na tentativa de expor a realidade do futebol feminino no Brasil. O principal objetivo deste trabalho é criar uma discussão sobre como a mulher é tratada na mídia esportiva, além de colaborar para uma mudança de comportamento da sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Vídeo documentário; futebol feminino; relações de gênero.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8
2. TEMA E PROBLEMA ........................................................................................................ 8
2.1. A mulher no esporte ..................................................................................................... 8
2.2. O progresso da mulher no esporte ............................................................................. 13
2.3. O futebol no Brasil ....................................................................................................... 15
2.4. Sociedade Beneficente Recreativa Colombo Futebol Clube ....................................... 20
3. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 21
3.1. Objetivo geral .............................................................................................................. 22
3.2. Objetivos específicos ................................................................................................... 22
4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 22
4.1. A mulher atleta nos âmbitos sociais ........................................................................... 23
4.2. Cobertura jornalística .................................................................................................. 24
4.4. A invisibilidade da mulher no esporte......................................................................... 27
5. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 28
5.1. A comunicação ............................................................................................................ 28
5.2. O papel do jornalismo ................................................................................................. 29
5.3. A identidade cultural ................................................................................................... 32
5.4. Produção documentária e teoria culturológica .......................................................... 35
6. METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................. 39
6.1. Investigação e história ................................................................................................. 39
6.2. Análise de conteúdo .................................................................................................... 41
6.3 A representação da mulher no programa Globo Esporte, do Paraná .......................... 44
7. DELIMITAÇÃO DO PRODUTO ..................................................................................... 54
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 57
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 59
10. CRONOGRAMA ........................................................................................................... 62
ANEXOS .................................................................................................................................... 63
APÊNDICE ................................................................................................................................ 65
8
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca compreender a participação da mulher no
esporte, especificamente, no futebol. Primeiro buscou-se estudar como a
mulher se inseriu no esporte e conquistou espaço. Depois foi necessária uma
breve apresentação da origem do futebol, que chegou ao Brasil no século XIX
e se tornou o principal esporte do país. No início do século XX as mulheres
começam a praticar a modalidade no Brasil e aos poucos foram quebrando
barreiras sociais e culturais. No entanto, apesar dos avanços da mulher no
esporte, ainda há o preconceito e a falta de incentivo à prática do futebol
feminino no Brasil.
Outro ponto abordado neste estudo é a cobertura da mídia esportiva
em assuntos relacionados à mulher no esporte. O espaço para divulgação de
notícias voltadas às atletas ainda é pequeno.
Tendo em vista a necessidade de uma reflexão social do papel da
mulher no esporte e também uma mudança de comportamento por parte da
mídia esportiva, este trabalho propõe a realização de uma análise de conteúdo
quantitativa e qualitativa do programa Globo Esporte, no Paraná. Acredita-se
que por meio deste estudo é possível entender como a mulher atleta é
retratada no meio social e no jornalismo esportivo.
Por meio da produção de um vídeo documentário, este trabalho busca
apresentar aspectos da realidade do futebol feminino. Além disso, pretende-se
levantar uma discussão da igualdade de direitos no esporte.
2. TEMA E PROBLEMA
2.1. A mulher no esporte
Indiferente da sexualidade, o esporte se tornou uma forma de
expressão de bem estar e liberdade. Principalmente para as mulheres que não
tinham oportunidades em nenhuma área social. É bom ressaltar também que
esse espaço na área esportiva conquistado pela mulher é limitado. A mulher é
9
vista com um símbolo sexual tanto pela mídia quanto culturalmente (SIMÕES,
CONCEIÇÃO, NERY, 2004).
Mudanças sociais ocorreram com o passar dos anos e, principalmente,
o comportamento das mulheres que se tornou mais independente encarando
os preconceitos culturais. É claro que muitas destas mudanças se devem ao
feminismo que se sobressaiu diante dos conflitos. O discurso inserido na
sociedade de que a mulher é frágil, carregada de emoções e sentimentos já
está na essência cultural. Essas emoções atribuídas somente às mulheres
justificam por muitas vezes a sua má atuação no esporte. Ou seja, a “Natureza
Feminina” (SIMÕES, CONCEIÇÃO, NERY, 2004).
De acordo com Simões, Conceição e Nery, pode-se dizer que o mito de
que a mulher não seria capaz de realizar determinados esportes se acaba com
a inserção dessas atletas no âmbito esportivo. A necessidade de vencer os
obstáculos esportivos para mostrar sua capacidade física e psicológica fez com
que a mulher buscasse de qualquer maneira resultados positivos na área
esportiva. “A necessidade de vencer para obter status social mobiliza
ansiedades e angústias – diante delas, o comportamento seria colocado à
prova em suas emoções, sentimentos, assertividade e violência” (SIMÕES;
CONCEIÇÃO; NERY, 2004, p. 74).
A mulher vem conquistando espaço no esporte, quebrando as barreiras
sociais do preconceito e se inserindo em atividades esportivas que há pouco
tempo eram praticadas somente por homens. De acordo com Vasquez (apud
SIMÕES, 2004), em algumas culturas há 3.500 a.C – muitas mulheres
participavam de atividades esportivas tendo espaço e valorização nesta área.
O que podemos notar com este exemplo é que com o passar dos anos o
esporte entre as mulheres sofreu mutações de retrocessos e avanços
(SIMÕES, 2004).
A mulher conseguiu construir o seu espaço na área esportiva apenas
na metade do século XX (ALONSO apud SIMÕES 2002). Segundo o autor, a
vontade de se inserir na sociedade para obter mais notoriedade, não somente
em questões esportivas, foi o que ocasionou o progresso da mulher em
diversos setores da sociedade.
As atividades realizadas por essas atletas rompem a teoria
conservadora de que a mulher é frágil, sedentária e doméstica. Pelo contrário,
10
inserida no esporte, ela busca novos ideais interagindo, trazendo emoções,
sentimentos, prazer e qualidade de vida. Sentimentos que antes estavam
reprimidos e que agora estão livres (ibid).
Nos últimos 25 anos, as mulheres conseguiram detonar as muralhas da segregação e discriminação que definitivamente defendiam a exclusão delas por inúmeras razões, que vão desde a eterna superioridade masculina até as diversas formas de pensar as mulheres como desportistas e atletas de alto nível. Enquanto no passado, o ser mulher desportista/atleta preocupava o poder institucionalizado (educacional, religioso, político), hoje elas invadem todas as áreas dos esportes tradicionais e dos radicais (SIMÕES, 2004, p. 30).
Atualmente, o homem consegue se inserir em todas as áreas
esportivas. Sendo assim, o esporte se torna uma esfera conhecida como
“masculina”. O homem assume um papel de predominância no esporte. “A
mulher foi considerada usurpadora de um espaço consagrado ao usufruto
masculino” (KNIJNIK, SOUZA, 2004, p. 198).
A mulher está conquistando espaço no esporte a passos lentos.
Entretanto, ganha mais espaço assumindo altas posições no esporte onde
antes não era possível. “Não houve, no esporte, um movimento feminino,
menos ainda feminista, pela equalização do gênero, devido à ausência de um
movimento contestador das esportistas brasileiras” (KNIJNIK; SOUZA, 2004, p.
198).
A desigualdade dos gêneros ainda é um grande obstáculo em pleno
século XXI. Segundo Freitas (apud SIMÕES, 2004), as esportistas ainda são
por muitas vezes ignoradas ou representadas como símbolos sexuais pela
mídia contemporânea. Um exemplo que o autor relata é quando a ex-jogadora
de basquete brasileira Hortência virou notícia após posar nua em uma revista
masculina quando ainda jogava.
O esporte já está integrado em nossa sociedade há muitos anos e a
mulher busca notoriedade e valor nesta área. O fato é que essa procura por
reconhecimento no esporte não surtiu muito efeito visto que a desigualdade
entre os gêneros ainda predomina.
(...) as mulheres não conseguem receber o mesmo tratamento dado aos homens, tendo em vista a criação de
11
padrões sociais em que as conquistas masculinas são mais valorizadas do que as femininas, tanto pela televisão quanto pelos meios de comunicação como um todo (SIMÕES, 2004, p. 38).
Pressupõe-se que entre alguns esportes praticados pelas mulheres a
desvalorização surte um efeito maior, como por exemplo, no futebol, tema de
estudo deste trabalho.
A mídia contemporânea vem priorizando a visibilidade dos atletas
masculinos por acreditar que o receptor se interessa mais por esportes que
envolvam homens do que mulheres. Isso resulta numa desigualdade de
gêneros, criando-se um “muro” de diferenças entre homens e mulheres no
esporte.
A participação ou relutância feminina para entrar no esporte reflete a indissociabilidade entre mulher/esporte e sociedade machista – constituída de valores sociais e culturais além das crenças e crendices que incorporam elementos de instrumentalidade e expressividade andrógena, que seria um perfil ligado à participação das mulheres no mundo dos esportes institucionalizados (SIMÕES, 2004, p. 38).
O desejo da mulher em buscar reconhecimento e sucesso trouxe certo
desconforto aos atletas masculinos, ao passo em que elas ganharam um
espaço social. Ainda que esse espaço seja pequeno, pode-se dizer então que
a grande dificuldade da mulher no esporte é de se estabilizar com notoriedade.
(SIMÕES, 2004). No meio esportivo, a conduta da mulher tem que surtir
sempre elevados padrões de desempenhos como força e habilidade.
Características essas que são estabelecidas por seus grupos.
O problema é que a mulher se comporta de acordo com as estereotipias das práticas socioesportivas e esportivas competitivas. Exemplo disso é quando as mulheres usam fitas nos cabelos e/ ou meias de determinada cor, geralmente todas seguem esse movimento (...) essa estereotipia é considerada masculinizada (SIMÕES, 2004, p. 40).
Pressupõe-se então que mulher tem que se adequar aos padrões que
são estabelecidos a ela nos âmbitos esportivos para que haja visibilidade sobre
si. Porém, nem todas as atletas conseguem traçar tais metas a que são
solicitadas. Conforme Simões (2004), pode-se dizer então que para se obter
mais notoriedade no esporte se exige muito mais da mulher que do homem.
12
A mulher no esporte é o resultado de seu desempenho progressista
social que se moldou ao longo dos séculos. Tarefas que anteriormente eram
feitas somente por homens, hoje já podem ser feitas pelas mulheres que, por
meio do esporte, apresentam socialmente as suas subjetividades.
O universo esportivo, portanto, representaria um cenário propício para as mulheres expressarem suas subjetividades, espontaneidades, movimentos, sentimentos e emoções – despertando a vitalidade feminina em relação ao significado que legitima a sua participação tanto no mundo social com no mundo dos esportes (SIMÕES, 2004, p. 41).
Por muito tempo foi negado o direito da mulher de ter um espaço no
esporte. Até hoje as dificuldades prevalecem, todavia, bem menos que antes.
O homem acreditava que a mulher no esporte se masculinizaria por isso não
aceitava que o sexo oposto entrasse nesta área. Durante muitos anos essa
ideia prevaleceu na sociedade e os resquícios deste ideal ainda são
idealizados por muitos (Ibid.).
As conquistas das mulheres em diversos âmbitos sociais vêm
ocorrendo com frequência com o passar dos tempos. E no esporte não podia
ser diferente. “O chamado sexo frágil tornou-se ativo, passando a ocupar os
últimos espaços típicos da resistência patriarcal” (Ibid.).
Os esportes definidos como “masculinos” agora são ocupados também
pelas atletas femininas que se moldam plenamente a todas as modalidades
esportivas. Áreas essas que contribuem para a modificação do cenário social e
cultural (Ibid.).
É possível dizer que o início embrionário da mulher no esporte se dá
desde os tempos da Grécia antiga na origem das Olimpíadas em 776 a. C. Um
exemplo sobre o fato, de acordo com Ferrando (apud SIMÕES; CONCEIÇÃO;
NERY, 2004), foi Calipátira, a primeira mulher da história no esporte.
Naquela época era lei que as mulheres casadas não pudessem nem
assistir os jogos esportivos. Entretanto, segundo Ferrando (apud SIMÕES;
CONCEIÇÃO; NERY, 2004), Calipátira se escondeu com uma túnica para
participar de um torneio esportivo da época e acabou ganhando a competição.
Ao ser descoberta, muitas regras da competição foram mudadas fazendo com
que a mulher se destinasse em apenas cumprir o papel familiar de mãe.
13
A história tem indicado que as mulheres desportistas, embora sendo discriminadas, conseguiram ascender e conquistar o pódio olímpico. A conquista é uma abordagem sem barreiras nem limites, que torna impotentes quaisquer tipos de restrições ao comportamento das mulheres em busca de resultados, à medida que foram quebrando paradigmas e tornado- se mais influentes, sustentando padrões de comportamento que envolve até mesmo a transgressão das leis da sociedade (SIMÕES; CONCEIÇÃO; NERY, 2004, p. 69).
2.2. O progresso da mulher no esporte
Na era Moderna, em Atenas, nos Jogos Olímpicos de 1896, a mulher
foi proibida de participar das competições. Atualmente, as atletas
“conquistaram resultados cada vez mais expressivos, e hoje a mulher atleta
carrega consigo um significado que rende uma série de questionamentos
intrigantes. Algumas veem o esporte de rendimento como um modelo provedor
de ascensão social, de status e de provável fonte de emancipação financeira”
(SIMÕES; CORTEZ; CONCEIÇÃO, 2004, p. 133). Para se inserir na sociedade
e ser aceita culturalmente, a mulher tem que se aperfeiçoar de uma forma
aceitável em muitos fatores como citam Simões, Cortez e Conceição:
É oportuno lembrar que elas são manipuladas, exploradas, despersonalizadas e alienadas com os mais diferentes tipos de treinamento, não escapando sequer do uso de produtos farmacológicos – por isso abrem mão do que se convencionou chamar de feminino, estético, ternura, obediência em troca de assertividade, agressividade e métodos de procedimento que as levem ao topo da hierarquia do mundo esportivo (SIMÕES; CORTEZ; CONCEIÇÃO, 2004, p.134).
As regras no meio esportivo são estabelecidas para que a mulher
possa se inserir no esporte. Essas regras são aceitas por muitas atletas sem
questionamento. De acordo com os autores, há um processo de conformismo
de muitas mulheres nesse meio. Já a atleta que não aceita certas regras
estabelecidas, por sua vez, é afastada do meio esportivo ou se destaca na
mídia pela sua singularidade.
Existem muitos fatores na sociedade que explicam a desigualdade dos
gêneros. Uma das explicações seria a questão científica, pois de acordo com
14
análises da ciência, a mulher geneticamente é mais frágil que o homem em
questões de força, por isso que a atleta feminina não se igualaria ao homem.
Outro fator levantado seriam as questões hormonais da mulher, que afetaria o
seu desempenho como atleta (Ibid.).
Questões como essas são levantadas frequentemente pela sociedade.
A mulher atleta tenta se reerguer diante de sua desvalorização no meio
esportivo que é o reflexo social, não somente da contemporaneidade, mas sim,
dos primórdios dos tempos (Ibid.).
Os comportamentos sociais apresentados acima só legitimam a
desigualdade dos gêneros (Ibid.). Cabe como o exemplo o tema discutido neste
trabalho sobre o futebol feminino, no qual a mulher se iguala ao homem em
questões físicas e psicológicas. Entretanto, pelo fato do futebol ser
culturalmente reconhecido como um esporte “masculino”, a atleta encontra
dificuldades em sua inserção no esporte e a difícil tarefa de conquistar
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade e a mídia.
A vontade de buscar novos desafios é um dos quesitos para a inserção
da mulher no esporte. Provar à sociedade que ela é capaz de realizar as
mesmas tarefas que os homens se tornou um objetivo. Ou seja, por meio do
esporte a mulher visa que as desigualdades dos gêneros diminuam (Ibid.).
O esporte faz parte da cultura de diversos povos. Podemos dizer que o
esporte desperta na população o interesse, a paixão e um estilo de vida. Sendo
assim, o esporte possui uma longa história que foi crescendo com o passar dos
anos (GOELLNER, 2004).
A mulher no Brasil iniciou suas práticas esportivas em 26 de junho de
1932, quando a delegação brasileira com 82 atletas desembarcou em Los
Angeles, nos Estados Unidos, para participar da sua primeira Olimpíada. Até
então, as mulheres no Brasil não haviam participado da competição, nem de
nenhuma área esportiva. Foi a partir deste momento que a mulher começou a
inserir neste meio esportivo em busca de um espaço. O século XX foi o
pontapé inicial para a mulher no esporte. “A partir da segunda metade do
século XX, modalidades como vôlei, basquete, natação, tênis e atletismo
tornam-se cada vez mais praticadas, possibilitando que a participação das
mulheres nas competições nacionais e internacionais tivesse, também, um
significado avanço” (GOELLNER, 2004, p. 369).
15
Nos anos de 1980 e 1990 as mulheres começaram a ganhar mais
espaço. Modalidades que anteriormente eram consideradas masculinas como,
por exemplo, o futebol de campo, começam a ser praticadas pelas mulheres
(GOELLNER, 2004).
O futebol – principal modalidade esportiva praticada pelo país – exemplifica bem essa situação. O número de mulheres brasileiras que hoje pratica futebol em clubes e áreas de lazer aumentou se comparado à década anterior; os campeonatos regionais proliferam a cada momento. Porém, não há um número considerável de mulheres nas comissões técnicas dos clubes de futebol feminino, nem no nível administrativo das entidades que reagem esse esporte (GOELLNER, 2004, p. 370).
Para estudar a participação da mulher no futebol, tema de estudo deste
trabalho, é importante conhecermos como esse esporte chegou ao Brasil e se
tornou parte da cultura brasileira.
2.3. O futebol no Brasil
O futebol teve origem na Inglaterra por volta do século XVIII e era
praticado por estudantes da elite inglesa. Segundo Souza (1996), as escolas
transformaram alguns passatempos populares em exercícios corporais da elite.
Além de uma ocupação para os jovens, o futebol era um meio de ensiná-los a
ter caráter.
O amadorismo no futebol europeu daquela época foi uma dimensão de uma filosofia aristocrática, que, apesar de torná-lo uma atividade tão desinteressada quanto, digamos, a arte, seria mais conveniente à formação de futuros líderes, devido ao seu aspecto de moldar o caráter e inculcar a vontade de vencer (SOUZA, 1996, p. 14).
No Brasil, a prática do futebol surgiu no final do século XIX. Conforme
Souza (1996), o esporte era praticado por funcionários ingleses e pelos filhos
da classe privilegiada que viajava à Europa. O brasileiro Charles Muller marcou
esta fase da história do futebol no Brasil quando, em 1984, trouxe duas bolas e
um manual com regras, depois de um período de estudos na Inglaterra. Muller
ficou conhecido então como o “pai do futebol brasileiro”, segundo Souza
(1996), expressão que por si só o remete como um esporte genuinamente
16
masculino. “Nenhum esporte gozou, em tempo algum, de tanta popularidade no
Brasil como o futebol. Qualquer cidade brasileira, grande ou pequena, possui
nos campos de futebol um referencial em sua paisagem” (SOUZA, 1996, p.16).
O futebol passa a ser visto então como espetáculo e parte da cultura popular.
Os jogadores profissionais e amadores, que representem alguma coletividade quando jogam futebol, são os sujeitos e atores do espetáculo, ou seja, eles são os participantes diretos; enquanto os torcedores, via identificação obtida com os jogadores, tornam-se também sujeitos simbólicos do espetáculo, ou dele participam indiretamente (SOUZA, 1996, p. 25).
DaMatta (1982) faz uma comparação do futebol com aspectos do
universo humano. Segundo o autor, vivemos em campos de futebol e estamos
norteados por regras. Estamos rodeados de pessoas que estão contra nós,
mas também há pessoas que vestem a “mesma camisa”. Mas neste campo de
futebol da vida, como é chamado pelo autor, existe ainda “figuras intocáveis a
quem devemos obediência e respeito, pois detêm o poder de fazer cumprir um
conjunto de regras impessoais que se aplicam a todos” (DAMATTA, 1982, p.
14). Nas palavras do autor, discutir futebol seria argumentar sobre os
problemas e lances da vida:
Este nosso jogo sempre termina um dia, ao passo que o jogo continua. As regras delimitam ações e tempo e, assim fazendo, abrem, paradoxalmente, o jogo para a eternidade. É precisamente o instante em que a regra não pode ser cumprida ou que ela foi levada às últimas consequências, o momento mágico que imortalizamos (DAMATTA, 1982, p. 15)
DaMatta (1982) buscou entender porque o futebol tornou-se um
esporte de massa no Brasil. Primeiro é preciso compreender que “o jogo está
na sociedade tanto quanto a sociedade no jogo” (DAMATTA, 1982, p. 16). É a
própria sociedade que faz o futebol um aliado na busca de melhorias para a
população. O autor acredita que há “outro jogo que se passa na vida real,
jogado pela população brasileira, na sua constante busca de mudança para
seu destino” (DAMATTA, 1982, p. 26). E continua:
O futebol permite exprimir no caso brasileiro o importante conflito entre destino impessoal e vontade individual. Sendo assim, são muitos os jogos de futebol que, no Brasil,
17
permitem sua leitura enquanto paradigmas de um combate entre forças coletivas e impessoais (do destino) e as vontades individuais que buscam escapar do ciclo da derrota e da pobreza (DAMATTA, 1982, p. 27).
No Brasil, o futebol e a política chamam praticantes (Ibid.). Algumas
expressões aparecem tanto no futebol quanto na política. Uma delas, citada
pelo autor, é “ter jogo de cintura”. Trata-se de uma pessoa que sabe lidar com
alguma situação sem sair perdendo. O autor ainda classifica essa expressão
como malandragem, que seria uma forma de defesa marcante do brasileiro.
O bom jogador de futebol e o político sagaz sabem que a regra de ouro do universo social brasileiro consiste precisamente em saber sair-se bem. Em poder safar-se nas situações difíceis, fazendo isso com alta dose de dissimulação e elegância, de modo que os outros venham a pensar que para o jogador tudo estava muito fácil (DAMATTA, 1982, p. 28).
O futebol passa a ser estudado então como sendo capaz de provocar
dramatizações no mundo (DAMATTA, 1982). O futebol não serve apenas para
ser visto, ele também serve para colocar em foco os temas da sociedade.
DaMatta vê a experiência de uma união de um país com o futebol como
positivo quando “ela permite à massa destituída ter o sentimento de totalidade
nacional, do valor do povo representado pelos seus ídolos e, mais importante
que tudo isso, da vitória plena e merecida” (DAMATTA, 1982, p. 35).
Mas nesse esporte, que até aqui se mostrou ser pacífico, começamos
a encontrar aspectos conflitantes como o machismo e a violência. Neves (apud
DAMATTA, 1982) cita a frase “futebol é coisa pra homem” e diz que se a frase
enfraqueceu hoje com a presença feminina nas arquibancadas, ainda é válida
para os atletas. Com esse pensamento, o jogador não deve ter medo do
adversário fisicamente. Ele deve agir quando for agredido e não se abater com
uma derrota.
Segundo Neves (ibid.), a violência é legitimada pela torcida. Um
exemplo é quando ocorrem faltas violentas contra uma equipe e a torcida pede
para revidar. Outro ponto de violência no futebol é o conflito entre torcedores
de times adversários. Além disso (ibid.), também lembra que as vaias a atletas,
comissão técnica e arbitragem são um ato de violência.
18
Esta (a torcida) tende a negar a maioria dos valores das regras e os mais evidentes símbolos do poder, sem, contudo, deixar de ser atingida pelos traços ideológicos relativos às representações do indivíduo – e sua ascensão social num regime suposto democrático; sem ficar alheia às definições possíveis do espaço e tempo do jogo; sem se manter imune às representações nacionalistas, populistas e paternalistas que envolvam – como ideologia da permanência a mais importante (e também a mais contínua) manifestação de massas do Brasil de hoje: o futebol (NEVES apud DAMATTA, 1982, p. 57).
A mulher no futebol
Começamos agora a estudar a história das mulheres no futebol,
espaço eminentemente masculino. Vale citar aqui o estudo de Franzini (2005),
que procurou analisar a presença das mulheres dentro e fora de campo. De
acordo com o Franzini, os valores embutidos no futebol estabelecem limites
que mesmo não estando claros “devem ser observados para a perfeita
manutenção da „ordem‟, ou da „lógica‟, que se atribui ao jogo que nele se
espera ver confirmada” (FRANZINI, 2005, p. 02). Segundo o autor, a entrada
das mulheres em campo altera tal ordem e as reações “daí decorrentes
expressam muito bem as relações de gênero presentes em cada sociedade:
quanto mais machista, ou sexista, ela for, mais exacerbadas as suas réplicas”
(Ibid.).
Vale citar aqui o pensamento de Simões (2004), de que ainda existe na
sociedade a ideia de que os homens são o sexo dominante. Tabu esse que
ainda não foi quebrado pelas mulheres, que vem lutando por um espaço ao
longo dos séculos XX e XXI, inclusive na área esportiva, momento em que
rompe com identidades sociais e culturais, integrando-se em setores que eram,
e que ainda são, por muitas vezes, ditados como masculino. “Graças a essas
outras conquistas, as mulheres estão criando valores sociais e culturais que
modificam ou se opõem aos diferentes modelos dominados patriarcais”
(SIMÕES, 2004, p. 37).
A ideologia de que o homem é superior à mulher em questões físicas,
biológicas e psicológicas, segundo Simões, vêm sendo construída pela
sociedade ao longo dos anos e isso acaba criando a ideia da masculinização
da atleta feminina.
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Franzini (2005) traz algumas referências do futebol feminino em seu
estudo. O autor cita Witter, que contextualiza o início da modalidade no país:
No Brasil, o primeiro jogo de futebol feminino de que se tem notícia foi disputado em 1913, entre times dos bairros da Cantareira e do Tremembé, de São Paulo. Cercado de preconceitos o esporte não chegou a se firmar entre as mulheres, mas a partir de 1981 formaram-se várias equipes femininas em clubes como São Paulo, Guarani, América e outros (Witter apud FRANZINI, 2005, p.317).
Na Europa, o futebol feminino alcançou muito mais sucesso do que no
Brasil entre o final da década de 1910 e o início dos anos 1920 (FRANZINI,
2005). Segundo Franzini, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) os
homens trocaram os campos de futebol pelas batalhas, assim coube às
mulheres formarem equipes e montarem jogos beneficentes para arrecadar
fundos para ajudar os soldados que estavam na guerra. Na França, o futebol
feminino ficou em ascensão um pouco mais de tempo do que na Inglaterra.
Esteve em destaque até 1926 (FRANZINI, 2005). No entanto, com o fim da
guerra, a realidade do futebol feminino mudou. “Esses times entraram em
choque com os interesses dos supostos donos do jogo, e logo as mulheres
viram-se mais uma vez segregadas às arquibancadas” (FRANZINI, 2005, p.
317).
Durante a formação das primeiras equipes de futebol feminino no Brasil
o preconceito não estava ligado diretamente ao fato das mulheres praticarem o
esporte, mas sim à subversão de papéis que era promovida pelas mulheres,
visto que elas estariam ingressando num espaço masculino. A mulher deveria
contribuir com o fortalecimento da nação gerando filhos saudáveis e para isso
deveria cuidar da própria saúde (FRANZINI, 2005). Praticar o futebol poderia
afetar a saúde delas. A participação feminina neste esporte começa a ser vista
então como um interesse do Estado.
O futebol feminino, portanto, só poderia mesmo representar um “desvio de conduta” inadmissível aos olhos do Estado Novo e da sociedade brasileira, pois abria possibilidades outras além daquelas consagradas pelo estereótipo da “rainha do lar”, que incensava a “boa mãe” e a “boa esposa” (de preferência seguindo os padrões hollywoodianos de beleza), principalmente, restrita ao espaço doméstico (FRANZINI, 2005, p.321).
20
Segundo Franzini, em 1940 até a Subdivisão de Medicina
Especializada recomendava que fosse feito uma campanha mostrando os
malefícios causados pelo futebol para que as mulheres deixassem de praticar o
esporte. A campanha não aconteceu, mas contribuiu para a interferência dos
poderes públicos. Em abril de 1941, o decreto-lei 3.199 (artigo 54), proibia a
prática de futebol pelas mulheres: “Às mulheres não se permitirá a prática de
desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para
este feito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções
às entidades desportivas do país” (BRASIL, 1941).
De acordo com Franzini (2005), o Conselho Nacional de Desportos
definia quais os esportes que poderiam ser praticados por mulheres. Além
disso, a Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde
recomendava alguns esportes para o público feminino. Entre as modalidades
estavam tênis, voleibol, natação e ciclismo (FRANZINI, 2005). Na opinião de
Franzini não houve sensibilidade para compreender a entrada das mulheres no
futebol.
A relação tolerada das mulheres com o futebol funcionava assim como metáfora de sua posição na sociedade brasileira da época, já que nesta seu papel não era muito diferente de ficar nos reservados da assistência, vendo os homens “construírem a nação” (FRANZINI, 2005, p. 325).
Depois da crise no futebol feminino vivida nos anos 1940, no Brasil a
modalidade seguiu com manifestações dispersas ao longo dos anos
(FRANZINI, 2005). No início da ditadura militar (1964-1985), o Conselho
Nacional de Desportos chegou a proibir as mulheres a praticarem futebol, tanto
no campo de grama, como na praia e nas quadras de salão. A proibição só foi
revogada por volta de 1980, quando surgiu a criação de departamentos de
futebol feminino em vários clubes do país (FRANZINI, 2005). No entanto,
apesar da evolução nos últimos anos, as mulheres ainda buscam a valorização
dentro das quatro linhas.
2.4. Sociedade Beneficente Recreativa Colombo Futebol Clube
21
Depois de uma breve contextualização das relações de gênero no
futebol brasileiro, passamos a conhecer a história do clube de futebol feminino
de Colombo.
Pressupõe-se que os clubes de futebol feminino do Brasil enfrentam
dificuldades semelhantes. A proposta deste trabalho é produzir um vídeo
documentário para entender a realidade deste esporte sob o olhar das atletas
do clube de futebol feminino de Colombo. Para isso, é importante uma breve
apresentação do clube.
De acordo com o técnico Alexandro Teodoro1, a Sociedade
Beneficente Recreativa Colombo Futebol Clube foi fundada em 20 de setembro
de 1947, com sede no município de Colombo, na Região Metropolitana de
Curitiba (PR). Em 1998 surgiu a primeira equipe de futebol feminino do Clube.
Hoje 35 atletas integram o elenco. Todas jogam sem receber salários
ou benefícios. É importante lembrar que a equipe de Colombo não realiza
treinos frequentemente devido ao envolvimento das atletas com outras
atividades, como trabalho e estudos. Muitas vezes as jogadoras se encontram
apenas no dia das partidas.
A equipe de Colombo já participou das seguintes competições:
-Campeonato Metropolitano de Futebol Feminino 2000, 2005, 2012 e
2013
- Campeonato Paranaense de Futebol Feminino 2003 e 2012
- Copa Sul-Brasileira de Futebol Feminino 2002 e 2003
Como apresentado, as atletas de Colombo jogam sem receber nenhum
benefício. Diante do cenário do futebol feminino no Brasil e da condição das
jogadores de Colombo pretende-se responder a seguinte questão: O que faz
com que atletas de futebol feminino tenham motivação para jogar diante da
desvalorização deste esporte?
3. OBJETIVOS
1 Entrevista realizada no dia 15 de setembro de 2013, na final entre Quitandinha e Colombo, durante o
Campeonato Metropolitano de futebol feminino.
22
3.1. Objetivo geral
- Expor, a partir da produção de um vídeo documentário, aspectos da realidade
do futebol feminino sob a ótica do clube de futebol feminino de Colombo.
3.2. Objetivos específicos
- Mostrar a realidade social do futebol feminino (reconhecimento e
profissionalização).
- Analisar como o tema é tratado pela mídia.
- Levantar a discussão de igualdade de direitos no campo do esporte.
4. JUSTIFICATIVA
A escolha do tema se dá por acreditar que o futebol feminino não tem
visibilidade na sociedade. Por acreditar também que por meio deste trabalho é
possível diminuir o preconceito. Mediante uma análise de conteúdo quantitativa
pretende-se avaliar um programa de esportes de grande audiência na televisão
local para entender como o tema é hegemonicamente tratado na mídia. O
produto vídeo documentário foi utilizado por entender que a imagem é a melhor
forma de apresentar o futebol feminino e suas particularidades como cita
Nichols:
A estrutura institucional do documentário suprime grande parte da complexidade da relação entre representação e realidade, e também adquire uma clareza ou simplicidade que deixa subtendido que os documentários têm acesso e verdadeiro ao real. Isso funciona como um dos principais atrativos do gênero (NICHOLS, 2010. p. 51).
O documentário é um produto histórico. De acordo com Nichols (2010),
o vídeo documentário consegue transparecer o mundo por meio de suas
técnicas auditivas e visuais. Desta forma o documentário representa muito bem
os fatos da mesma forma que um advogado representa os interesses de seu
cliente, conforme Nichols.
23
O documentário por sua vez discute um assunto mais singularizado de
seu ator social, aborda aquilo que não é discutido, fala sobre o que não é
questionado nos meios sociais e midiáticos. É um produto que tem um intuito
social e que não é estético como um filme ficcional (NICHOLS, 2010).
4.1. A mulher atleta nos âmbitos sociais
Com o passar dos anos a mulher no esporte começa a conquistar seu
espaço quebrando barreiras da discriminação social. O equilíbrio entre os
gêneros ainda pouco existe nesta área em que o homem é ditado ainda como
superior. Entretanto, a mulher consegue a cada dia afirmar sua independência
e conquista (SIMÕES; CONCEIÇÃO; NERY, 2004).
É notável que o enfraquecimento da mulher no esporte seja devido a
fatores sociais e econômicos. É visível também que pouco é investido na
esfera feminina e muito na masculina. Podemos citar como exemplo o futebol
de campo, no qual segundo matéria2 do site Globo Esporte, publicada no dia
15 de setembro de 2013, o atleta de futebol masculino Cristiano Ronaldo,
renovou contrato com o time espanhol Real Madri e ganhará R$ € 51 milhões
por ano, fora o valor das campanhas publicitárias milionárias realizadas pelo
atleta. Por outro lado, em uma comparação, o site UOL publicou uma matéria3
no dia 16 de setembro de 2013, informando que a Caixa Econômica Federal
patrocinará o futebol feminino na tentativa de que o esporte se reerga já que há
falta de patrocínio aos times de futebol feminino.
Com esses exemplos citados é possível notar as diferenças sociais e
econômicas entre os gêneros. Porém, não fosse a determinação destas atletas
muito provavelmente as mulheres não estariam inseridas no meio esportivo.
Tal realidade criou uma situação em que tudo está inquieto, porque nada é impossível para as mulheres, que se agregam superando e reivindicando espaços, desenhado trajetórias e superando seus próprios limites. Um exemplo claro dessa situação está presente na luta de boxe, no judô, no futebol de campo, dentre outras atividades esportivas destinadas a sociedade de consumo (SIMÕES; CONCEIÇÃO; NERY, 2004, p. 77).
2 Ver anexo 1
3 Ver anexo 2
24
Seguindo o pensamento dos autores, de que nada é impossível para as
mulheres no esporte, passamos a estudar o papel da mídia na divulgação de notícias
relacionadas à mulher atleta.
4.2. Cobertura jornalística
Bueno (2005) estudou alguns equívocos do jornalismo esportivo
brasileiro. O autor lembra que o futebol é um esporte de multidões no Brasil,
mas há uma grande diferença no tempo e espaço dedicado a outros esportes
na mídia. Ele se lembra do vôlei, do basquete e do futebol de salão, que são
muito praticados no país, mas não recebem a mesma atenção dos meios de
comunicação. A partir da análise de Bueno (2005) podemos acrescentar o
futebol feminino como um das modalidades esquecidas pela mídia.
Em geral, a mídia só contempla determinados esportes no instante das grades competições internacionais (as Olimpíadas e os Jogos Pan-americanos), penalizando os que deles se ocupam com dedicação, quase sempre solitários ou empreendedores. De maneira egoísta e mesquinha, só reconhece os vencedores (os medalhistas), relegando os demais ao esquecimento, deixando de cumprir o seu papel de estimular as novas vocações e de valorizar o espírito de competição (BUENO, 2005, p. 21).
Estudar a mulher no esporte é também contribuir para o jornalismo
esportivo. Na televisão encontramos diversos tipos de programas com foco no
esporte, mas o número de modalidades exibidas é cada vez maior, segundo
Camargo (2005). É preciso ter uma postura mais crítica diante deste meio de
comunicação.
Mesmo com a ascensão do esporte na mídia televisiva, percebemos que o número de modalidades esportivas levadas ao ar pela televisão brasileira na programação diária é cada vez mais reduzido, e dificilmente se chegará a dez modalidades fora dos grandes eventos como as Olimpíadas (CAMARGO, 2005, p. 31).
Com este trabalho é possível entender como a mídia esportiva ainda
precisa evoluir. Aos jornalistas e estudantes de jornalismo cabe uma reflexão
sobre o papel da mulher no mundo esportivo.
25
As universidades, os meios de comunicação e as entidades que promovem e financiam o esporte em nosso país devem assumir, integralmente, a sua função de elevar a qualidade da informação jornalística associada ao esporte. Se não dermos uma sacudida nesse time, vai ser difícil virar o jogo. Já é tempo de nos livrarmos dos dirigentes, marqueteiros e jornalistas pernas-de-pau (BUENO, 2005, p. 25).
4.3. A relação de gênero na mídia
Pressupõe-se que até mesmo antes da globalização midiática a
sociedade já separava homens e mulheres para cumprirem devidos papéis
sociais. No esporte isso também não foi diferente. A mulher sempre sofreu
limitações para se inserir no esporte e quando conseguiu teve que aceitar as
normas impostas pela sociedade (KNIJNIK; SOUZA, 2004).
Com o surgimento das mídias, o esporte se tornou um dos principais
assuntos discutidos, fator que contribuiu para sua popularização. No início do
século XX e XXI, o esporte ganha mais espaço, notoriedade e o contexto da
mulher neste meio muda também (KNIJNIK; SOUZA, 2004).
Com o início da globalização midiática, assuntos sobre questões de
gênero são mais discutidos na sociedade e a mulher consegue ganhar outro
conceito do que anteriormente tinha. Porém, esse espaço ainda está em um
progresso vertiginoso (KNIJNIK; SOUZA, 2004). “Não estamos aqui afirmando
que as mídias criam diretamente as representações sociais. Estas já existem
na sociedade; são frutos dos processos interativos e comunicacionais dos
grupos sociais” (KNIJNIK, SOUZA, 2004, p. 195).
O esporte é um dos assuntos mais comentados na sociedade. E só é
assim porque a mídia realiza sua cobertura jornalística a todo o momento
levando mais informações ao receptor. A disputa por um espaço nos
programas de TV, rádio, jornal impresso e web é muito grande. Existem
expectativas do espectador referentes à mulher no esporte. A ideia de que
modalidades como futebol e hóquei devem ser realizadas por homens, e nado
sincronizado e ginástica artística devem ser praticados por mulheres é uma das
expectativas do receptor (KNIJNIK; SOUZA, 2004).
Já a atleta que passa por cima desses conceitos sociais já
estabelecidos sofre a dificuldade de reconhecimento e visibilidade como citam
os autores Knijnik e Souza. “Como resultado dessa representação social,
26
mulheres que praticam esportes considerados masculinos têm de enfrentar
estereótipos de gênero, combatendo a crença de que a participação nesses
esportes é menos valiosa que a dos homens” (KNIJNIK; SOUZA, 2004, p. 199).
Os autores Knijnik e Souza, analisaram algumas revistas sobre a
representação da mulher no esporte na mídia, entre os anos de 1998 a 2000.
Entre elas, vale citar uma reportagem sobre a ginástica olímpica. Aqui segue
um trecho: “Svetlena tem 21 anos, boca carnuda, olhar de veludo, perigoso, e
pernas de modelo. O corte de cabelo à la garçonne, repartido no meio, e a
linguagem do corpo sugerem uma sensualidade contida, pronta para irromper.
Foi a única a seduzir fotógrafos do mundo inteiro” (Veja, 04/10/2000, p. 169).
Nesse caso, podemos entender que o esporte praticado por homens é considerado normal e universal, enquanto o esporte praticado por mulheres, anormal. Os comentários relacionados às atletas utilizam termos infantis e quase sempre são chamadas pelo primeiro nome; já os homens são tratados com termos adultos e pelo sobrenome. Essa linguagem constrói e legitima a superioridade dos homens no esporte (KNIJNIK; SOUZA, 2004, p. 201).
Entende-se neste caso que a mulher é representada na mídia
primeiramente por seus atributos pessoais como, por exemplo, olhos, boca,
cabelo, roupa e unha. O seu desempenho atlético é diminuído. Já os homens
são representados pela força, desempenho e atitude no esporte (KNIJNIK,
SOUZA, 2004).
Na continuação da pesquisa realizada pelos autores, que analisaram a
representação da mulher no esporte na mídia entre os anos de 1998 a 2000, os
autores ressaltam também outro trecho de uma matéria jornalística, em que a
Federação Paulista de Futebol preferiu as atletas mais bonitas às jogadoras
habilidosas:
No lugar dos cabelos ralos, longos rabos-de-cavalo. Dos calções masculinos, shorts minúsculos. Da cara limpa, a maquiagem. Em seu campeonato feminino, que começará em 7 de outubro, a Federação Paulista de Futebol vê a beleza como requisito fundamental para selecionar as meninas que disputarão a competição [...] Conforme as regras do Paulista, a meia Sissi, principal jogadora da história do futebol feminino brasileiro, não teria vez no torneio. Sissi tem cabelos raspados (Folha de S.Paulo, 16 set. 2001, p. D5).
27
Pode-se dizer que o atleta masculino adquire uma condição de forte e
herói, tornando-se um exemplo de vida e carreira. Suas características são
bem mais detalhadas do que das atletas femininas pela mídia. As reportagens
retratam que o homem é capaz de cumprir seus deveres, superar obstáculos,
como por exemplo, uma lesão na perna. Ou seja, se sobressair das
dificuldades (KNIJNIK; SOUZA, 2004). A mulher assume o papel de relevância
esportiva de importância menor. Segundo os autores, as atletas femininas são
menos valorizadas do que em esportes realizados por atletas masculinos.
4.4. A invisibilidade da mulher no esporte
A submissão da mulher está praticamente em todas as etnias ou
grupos sociais. O pensamento de que a mulher perderia sua feminilidade
diante de esportes que utilizassem a força física, ainda existe nos meios sociais
(ROMERO, 2004).
Culturalmente, o homem sempre se manteve hierarquicamente acima
da mulher e as diferenças entre os sexos se tornaram motivo de pretexto para
que essa posição se mantivesse. Um exemplo foi a proibição da mulher no
início dos Jogos Olímpicos (ROMERO, 2004).
Os conceitos midiáticos sobre o homem refletidos ao receptor são de
um atleta forte, bem sucedido, independente, autoritário e entre outras
atribuições positivas. Já a mulher é representada como responsável, vaidosa,
meiga, atraente, alegre e espontânea. Ou seja, padrões sociais são
estabelecidos e perfis de ambos os sexos são construídos (ibid).
”No caso específico dos jogos Pan–Americanos, os homens são estampados
comemorando abraçados ou abraçando um (a) companheiro (a), sorridentes e
felizes com os resultados. As mulheres, porém, são exibidas chorando, de
alegria ou de tristeza” (ROMERO, 2004, p.242).
Percebe-se que a mídia reflete o que ainda está impregnado em nossa
sociedade, o preconceito da mulher no esporte. A visão midiática limita-se em
visualizar a mulher pelo viés sexual e não por suas habilidades.
2
28
5. REFERENCIAL TEÓRICO
5.1. A comunicação
Antes de iniciarmos uma pesquisa em jornalismo é importante
delinearmos uma concepção de comunicação. Segundo Martino (2001), o
significado de comunicação pode ser expresso de maneira simples por meio do
termo comum “+ ação”, que significa “ação em comum”. O autor acredita que
esta ação não está ligada a coisas materiais, mas sim ao mesmo objeto de
consciência em comum. Sendo assim, o termo comunicação “refere-se ao
processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, ele exprime a
relação entre consciências” (MARTINO, 2001, p. 14).
Já a informação pode ser ativada desde que uma consciência venha
resgatá-la (MARTINO, 2001). Desta forma, o autor acredita que a consciência
interpreta os traços materiais para depois reconstituir uma mensagem:
O termo informação se refere à parte propriamente material, ou melhor, se refere à organização dos traços materiais por uma consciência, enquanto que o termo comunicação exprime a totalidade do processo que coloca em relação duas (ou mais) consciências (MARTINO, 2001, p. 15).
Por meio da comunicação é possível ter algo em comum, um mesmo
objeto de consciência (MARTINO, 2001). Segundo Martino, desta maneira a
informação é considerada parte do processo de comunicação ou um sinônimo
dele. Então “não temos comunicação sem informação, e, por outro lado, não
temos informação senão em vista da possibilidade dela se tornar comunicação”
(MARTINO, 2001, p. 18).
Comunicar tem o sentido de tornar similar e simultânea as afecções presentes em duas ou mais consciências. Comunicar é simular a consciência de outrem, tornar comum (participar) um mesmo objeto mental (sensação, pensamento, desejo, afeto) (MARTINO, 2001, p. 23).
França (2005) faz outra reflexão sobre o papel da comunicação como
objeto. Quando falamos em comunicação, o senso comum já nos faz pensar
em objetos que estão em nossa frente. Objetos que podemos ver, ouvir e sentir
(FRANÇA, 2001). Todavia, para a autora, “o objeto da comunicação não são os
29
objetos „comunicativos‟ do mundo, mas uma forma de identificá-los, de falar
deles – ou de construí-los conceitualmente” (FRANÇA, 2001, p. 42). A ideia é
que quando falamos em objeto da comunicação é preciso pensar nos objetos
que a comunicação constrói e não em objetos disponíveis no mundo.
Desde os primeiros dias de vida aprendemos a nos comunicar e
conhecer novos modelos comunicativos. Os usos constantes dos meios de
comunicação os tornam objetos familiares e parte da sociedade (FRANÇA,
2001). “Falamos deles, de seus conteúdos, do desempenho dos personagens
que os habitam; dominamos, em certa medida, seu funcionamento; dirigimo-
lhes críticas” (FRANÇA, 2001, p. 44).
Segundo França (2001), tudo isso é conhecimento vivo e traz riquezas
para o nosso cotidiano, entretanto, esse conhecimento tem limites que o
conhecimento científico busca ultrapassar por meio de métodos e técnicas de
pesquisa.
Digamos que as formas intuitivas de apreensão, o senso comum, constroem o conhecimento possível, imediato; o conhecimento necessário em face das situações vividas, conjugando aspectos de experiências anteriores e a criatividade ativada pelo novo (FRANÇA, 2001, p. 44).
Já a ciência é menos imediata e estaria comprometida com a busca
permanente do conhecimento aprofundado e sistemático da realidade
(FRANÇA 2001). Porém não podemos esquecer, conforme França, que a
ciência é um fenômeno social que também está sujeito a erros. Muitas vezes
ela não ultrapassa o senso comum. Ainda assim, a autora alerta que se a
pesquisa mantém uma permanente autocrítica dos métodos e dos resultados
“constitui sem dúvida o caminho mais profícuo para uma maior compreensão
da realidade – que é o ponto de partida e de retorno de toda reflexão”
(FRANÇA, 2001, p. 45).
5.2. O papel do jornalismo
O jornalismo compõe-se de histórias da vida real contadas mediante a
profissionais da comunicação da área jornalística. O jornalismo é uma
enciclopédia diária na qual são abordados diversos assuntos de interesse
30
público e relevância social (TRAQUINA, 2005). “Os jornalistas responderiam
prontamente, como define a ideologia profissional desta comunidade, que o
jornalismo é a realidade” (TRAQUINA, 2005, p. 19).
A atividade se torna diferenciada da ficção porque é um produto real.
Aborda acontecimentos verídicos de cunho social importante. O personagem
traz consigo uma visão de mundo que é apresentada por meio do jornalismo
revelando visões mais singularizadas de um assunto, conforme Traquina.
Pressupõe-se que o jornalismo é a arte de captar o real despertando interesse
público sobre um fato. “Poder-se-ia dizer que os jornalistas são modernos
contadores de „estórias‟ da sociedade contemporânea, parte de uma tradição”
(ibid).
Criatividade intelectual define um jornalista como também a
responsabilidade da publicação de uma matéria em qualquer segmento
jornalístico. Os jornalistas são favoráveis à liberdade de expressão e autonomia
em sua criação e publicação de matérias. “O jornalismo historicamente desde o
século XIX chamado o „Quarto Poder‟, talvez porque séculos de domínio
autocrático e por vezes despótico criaram um legado de desconfiança, suspeita
e medo em relação ao poder político” (TRAQUINA, 2005, p. 23).
Os jornalistas são parte da notícia. Investigam, apuram, questionam e
pesquisam. “Os jornalistas são participantes ativos na definição e construção
das notícias, e, por consequência, na construção da realidade” (ibid).
O jornalismo é uma profissão crítica por parte da sociedade. Erros não
são aceitáveis neste meio comunicacional, que torna esta profissão um desafio
diário ao profissional que a exerce. Com o passar dos anos, o jornalismo se
tornou um negócio, uma fonte econômica na qual muitas notícias são
vinculadas mediante interesses políticos e econômicos. Todavia, o jornalismo
consegue ainda se sobressair diante desses empecilhos mantendo seu
compromisso com a sociedade (TRAQUINA, 2005).
O jornalismo contemporâneo iniciou o seu progresso nos primórdios do
século XIX. Os jornais começaram a crescer e as oportunidades de trabalho
também.
A vertiginosa expansão dos jornais no século XIX permitiu a criação de novos empregos neles; um número crescente de pessoas dedica-se integralmente a uma atividade que,
31
durante décadas do século XIX, ganhou um novo objetivo – fornecer informação e não propaganda. Este novo paradigma será a luz que viu nascer valores que ainda hoje são identificados com o jornalismo: a notícia, a procura da verdade, a independência, a objetividade, e uma noção de serviço ao público – uma constelação de ideias que da forma a uma visão do “pólo intelectual” do campo jornalístico (TRAQUINA, 2005, p. 34).
Com o passar dos anos o trabalho jornalístico foi se moldando e
desempenhando o papel de serviço social para a população. A busca do
jornalista pela notícia cresceu assim como a vontade em trazer ao receptor
notícias verídicas de relevância social, proximidade e até mesmo a busca pelo
furo de reportagem (ibid).
A curiosidade jornalística sobre a apuração dos fatos se inicia na
década de 1970 e a ideia de construção de notícia também. Naquela época a
teoria do espelho estava começando a se enfraquecer e já que se discutiam
possíveis distorções da realidade no jornalismo. Na mesma época o
pensamento jornalístico, centrado na teoria do espelho, foi se desfazendo. A
ideia de total imparcialidade, apresentação do fato de uma forma inteiramente
fiel foi desconstruída. Surgem então as teorias construcionistas. “O filão de
investigação que concebe as notícias como construção rejeita as notícias como
espelho por diversas razões. Em primeiro lugar, argumenta que é impossível
estabelecer uma distinção radical entre a realidade e os media noticiosos que
devem „refletir‟ essa realidade, porque as notícias ajudam a construir a própria
realidade” (TRAQUNA, 2005, p. 168).
Pode-se dizer que as teorias construcionistas obtêm bases mais firmes
em questão de notícia. Um vídeo documentário sobre a representação da
mulher no futebol, tema deste trabalho, pode ser um exemplo de construção
jornalística. Desde a escolha do tema até sua produção, cabe somente ao
jornalista realizar sua construção do fato. Cada jornalista tem suas
subjetividades que diferencia seu produto jornalístico dos demais, isso não
quer dizer que será um conteúdo sem relevância social ou sem veracidade,
mas sim um conteúdo feito de escolhas e planejado. Ou seja, construído a
partir de pesquisa, apuração e informação.
De acordo com Traquina, a imparcialidade jornalística é um quesito
impossível diante da representação dos fatos, pois cada profissional da
32
comunicação enxerga a notícia de um jeito. Entretanto, a construção de um
fato é o mais próximo da realidade que podemos chegar.
5.3. A identidade cultural
É a partir do conceito de identidade Cultural proposto por Hall (2003),
que passamos a refletir sobre em que medida a mulher ao se inserir no
esporte, neste caso, no futebol, rompe com uma determinada identidade já
estabelecida pela sociedade. Segundo Hall (2003), o que vem acontecendo
nos últimos tempos é a rápida destruição de estilos específicos para a
transformação de algo novo. “A „transformação cultural‟ é um eufemismo para o
processo pelo qual algumas formas e práticas culturais são expulsas do centro
da vida popular e ativamente marginalizadas” (HALL, 2003, p.248). A
sociedade é frequentemente um objeto de mudanças, mas é importante
lembrar que ela resiste a essas alterações mesmo com elas persistindo ao
longo dos anos. Isso se deve as diferentes relações estabelecidas uns com os
outros. Essa transformação também faz parte de um processo de reeducação
da sociedade (Ibid.).
As tradições populares dos trabalhadores pobres e das classes
populares do século XVIII, na Inglaterra, hoje parecem toleradas. Já que foi
inserida uma nova identidade inglesa. A história do que Hall chama de
“sociedade refinada” ganhou o acréscimo da história de um povo turbulento e
ingovernável.
Mas mesmo que formalmente essas tenham sido as culturas da gente de "fora das muralhas", distante da sociedade politica e do triangulo do poder, elas nunca de fato estiveram fora do campo mais amplo das forças sociais e das relações culturais. Elas não apenas pressionavam constantemente a "sociedade"; mas estavam vinculadas a ela através de inúmeras tradições e práticas (HALL, 2003, p. 249)
De acordo com Hall a transformação na cultura das classes populares
que ocorreu entre 1880 e 1920 foi um dos principais obstáculos que se
interpõem à periodização da cultura popular. Neste período não houve apenas
mudança nas relações de força, mas uma reformulação também na luta
política. Muito do que entendemos hoje por cultura popular “tradicional” surgiu a
33
partir daquele período. Já no final do século XVIII e começo do século XX há
um novo tipo de imprensa, que consegue audiência em massa da classe
trabalhadora. “Isso exigiu um reorganização geral da base de capital e da
estrutura da indústria cultural; o atrelamento a uma nova tecnologia e a novos
processos de trabalho; o estabelecimento de novas formas de distribuição, que
operavam através dos novos mercados culturais de massa” (HALL, 2003, p.
251). Um dos efeitos principais dessa nova imprensa é a mudança das
relações políticas e culturais entre as classes. Segundo Hall, é possível notar
isso ainda hoje.
Uma imprensa popular, que quanto mais se encolhe mais se torna estridente e virulenta; organizada pelo capital "para" as classes trabalhadoras; contudo, com raízes profundas e influentes na cultura e na linguagem do "Joao ninguém", "da gente"; com poder suficiente para representar para si mesma esta classe da forma mais tradicionalista. Esta e uma fatia da historia da "cultura popular" que vale a pena elucidar (HALL, 2003, p. 251)
Hall também estudou o termo “popular”, que pode ter diversos
significados. Mas ao senso comum “popular” trata-se daquilo que a massa
consome e é associada à manipulação. O autor é contra este significado e
apresenta duas importantes justificativas. Em um primeiro momento, Hall
acredita que, se no século XX um grande número de pessoas consomem
produtos culturais da moderna indústria cultural, então um número fundamental
de trabalhadores deve estar entre esses receptores.
Ora, se as formas e relações das quais depende a participação nesse tipo de cultura comercialmente fornecida são puramente manipuláveis e aviltantes, então as pessoas que consonem e apreciam esses produtos devem ser, elas próprias, aviltadas por essas atividades ou viver em um permanente estado de "falsa consciência". Devem ser uns "tolos culturais" que não sabem que estão sendo nutridos por um tipo atualizado de opio do povo (HALL, 2003, p. 253)
Em segundo lugar, o autor acredita que é possível entender essa
questão deixando de se atentar ao aspecto manipulador da cultura comercial
popular. Hall diz que isso pode ser uma cultura “alternativa” e não que a classe
trabalhadora seja enganada pela indústria cultural. Mas pensar assim seria
34
deixar de lado a relação de poder cultural, entre o dominante e o subordinado.
“Quero afirmar o contrário, que não existe uma “cultura popular” íntegra,
autêntica e autônoma, situada fora do campo de força das relações de poder e
de dominação culturais” (HALL, 2003, p.254)
As indústrias culturais têm o poder de remodelar aquilo que
representam. A partir da repetição e seleção, são capazes de impor e implantar
definições de nós mesmos de maneira a ajustá-la às descrições da cultura
dominante (Hall, 2003). Para o autor, há uma luta desigual por parte da cultura
dominante quando busca desorganizar ou reorganizar a cultura popular.
A segunda definição de “popular” segundo Hall, é a que classifica
cultura popular como todas as coisas que o povo faz. Primeiro, o autor diz que
se pensarmos que tudo que o povo faz é popular, também temos que entender
que há uma lista infinita de coisas e também não podemos juntar em uma única
categoria.
Em outras palavras, o principio estruturador do “popular” neste sentido são as tensões e oposições entre aquilo que pertence ao domínio central da elite ou da cultura dominante, e à cultura da “periferia”. É essa oposição que constantemente estrutura o domínio da cultura e da categoria do “popular” e do “não-popular” (HALL, 2003, p. 256)
Já a terceira definição do termo popular para Hall, é a que “considera,
em qualquer época, as formas e atividades cujas raízes se situam nas
condições sociais e matérias de classes específicas; que estiveram
incorporadas nas tradições e práticas populares” (HALL, 2003, p.257). No
entanto, para o autor, o que importa não são os objetos culturais, mas as
relações culturais. Ou seja, o que conta é a luta de classes.
Por fim, segundo o autor o termo “popular” indica um relacionamento
deslocado entre a cultura e as classes. “A cultura dos oprimidos, das classes
excluídas: esta é a área à qual o termo „popular‟ nos remete” (HALL, 2003,
p.262). O lado oposto é o do poder cultural, da classe dominante. O autor
chama isso de terreno de luta cultural, que são as forças populares versus o
bloco do poder. Na verdade, Hall acredita que as pessoas não são “tolos
culturais” e que são capazes de reconhecer como uma classe é representada.
35
Seguindo o pensamento de Hall é possível compreender que quando a
mulher aparece em programas esportivos com a imagem de exemplo de
superação, os receptores são capazes de entender que o gênero feminino é
representado de uma forma inferior. Também, a partir do estudo de Hall, é
possível entender que ao se inserir no esporte, especificamente no futebol, a
mulher quebra um padrão já estabelecido pela sociedade e cria algo novo.
Essa transformação de estilos também acontece na própria mídia esportiva,
quando a mulher conquista espaço nesta área por meio de suas próprias
habilidades, criando assim uma nova identidade.
5.4. Produção documentária e teoria culturológica
Outra importante referência para este trabalho é a teoria culturológica.
A principal característica desta teoria é “o estudo da cultura de massa,
distinguindo os seus elementos antropológicos mais relevantes e a relação
entre o consumidor e o objeto de consumo” (WOLF, 2003, p. 100).
A cultura de massa constitui, com efeito, o único terreno de troca e de comunicação para a classe que está a surgir, ou seja, a nova camada de assalariados que, progressivamente, vai englobando franjas cada vez mais vastas das classes anteriores. Para lá das diferenciações (de prestígio, hierarquia, convenções, etc.) (WOLF, 2003, p. 103).
Segundo Wolf (2003), a partir destes valores é que a cultura de massa
coloca a comunicação em diferentes categorias sociais. Segundo ele, “tendo
por base e sendo portadora de uma ética consumo, a lei fundamental da
cultura de massa é a do mercado e a sua dinâmica resulta do diálogo contínuo
entre produção e o consumo” (WOLF, 2003, p.103). Os principais conteúdos da
cultura de massa, conforme Wolf, são aqueles voltados às necessidades
privadas. Assim, a cultura de massa se torna um autoconsumo da vida das
pessoas.
A cultura de massa é a moderna religião da salvação terrena que contém em si as potencialidades e os limites do seu próprio desenvolvimento: por outro lado, aponta o caminho que, necessariamente, toda sociedade de consumo seguirá mas, por outro, é vulnerável a todos os movimentos
36
colectivos que são portadores de exigências meta-individuais e espirituais (WOLF, 2003, p. 104)
Podemos concluir a partir do estudo de Wolf que a cultura de massa é
voltada para interesses mercadológicos. Sendo assim, os meios de
comunicação mostram aquilo que gera consumo. Outras culturas não
encontram espaço nos meios de comunicação, é o caso do futebol feminino,
tema de estudo deste trabalho e que ainda busca reconhecimento por parte da
sociedade.
Pierre Bourdieu também buscou estudar os discursos exibidos na TV.
Vale citar aqui a análise do autor sobre a cobertura jornalística nos Jogos
Olímpicos. Segundo Bourdieu (1997), ninguém vê que as Olimpíadas são um
espetáculo olímpico de fato. Cada televisão dá mais espaço a determinados
atletas ou determinadas práticas esportivas de acordo com a capacidade
destes de satisfazer o orgulho nacional (BOURDIEU, 1997). “A representação
televisiva, embora apareça como um simples registro, transforma a competição
esportiva entre atletas originários de todo o universo em um confronto entre os
campeões (no sentido de combatentes devidamente delegados) de diferentes
nações” (BOURDIEU, 1997, p.124).
Para entender esse discurso televisivo nos Jogos Olímpicos, Bourdieu
(1997) diz que é preciso analisar, além da construção do evento e das
competições, também a produção da imagem das Olimpíadas na televisão, que
segundo ele: “Enquanto suporte de spots publicitários, torna-se um produto
comercial que obedece a lógica do mercado e, portanto, deve ser concebido de
maneira a atingir e prender o mais duradouramente possível o público mais
amplo possível” (BOURDIEU, 1997, p.124). Então, de acordo com Bourdieu, as
Olimpíadas se submetem ao que gera audiência nos países economicamente
dominantes. “Daí decorre, por exemplo, que o peso relativo de diferentes
esportes nas organizações esportivas internacionais tende a depender cada
vez mais de seu sucesso televisual e dos lucros econômicos correlatos”
(BOURDIEU, 1997, p.125).
Um exemplo apresentado pelo autor é que nos Jogos Olímpicos de
Seul, em 1988, os horários das finais da prova de atletismo foram agendados
de forma que as provas acontecessem no horário de maior audiência no
começo da noite nos Estados Unidos.
37
Da mesma maneira que, na produção artística, a atividade diretamente visível do artista mascara a ação de todos os agentes, críticos, diretores de galeria, conservadores de museu, etc., que, em e por sua concorrência, colaboram para produzir o sentido e o valor da obra de arte e, mais profundamente, a crença no valor da arte e do artista que está no fundamento de todo o jogo artístico (BOURDIEU, 1997, p. 127).
O vídeo documentário foge desse caráter mercadológico, visto que o
diretor leva o espectador a um mundo construído por ele e não pela vontade do
mercado, que se preocupa com o capital, como mostrado anteriormente. Os
equipamentos tecnológicos atuais nos permitem avançar em questões de
produção de um produto. Porém, cabe somente a quem o produz trazer
autenticidade na construção do vídeo. O documentário aguça o espectador a
discutir e refletir assuntos sobre outro ângulo. Esse é o objetivo, mostrar o que
não é visto, sair do clichê. Esse é um dos pontos fortes de um documentário já
que cada produção e produto têm sua subjetividade (NICHOLS, 2010).
De acordo com Nichols (2010), para o desenvolvimento de um
documentário existem diversas formas de produção. Um delas é quando o
diretor é substituído por uma voz, que também é chamada “voz de deus”. Outra
opção é quando o diretor fala por meio da câmera. Os atores ou atores sociais
apresentam ao espectador visões de um fato de singular. A ideia é que o
público tenha a sensação de que essa esteja falando com ele. Segundo
Nichols, os documentaristas criam grandes expectativas sobre a produção do
documentário. Seu interesse não é a ficção, mas sim a representação do real
de um mundo histórico. De acordo com o Nichols, podemos considerar o
documentário como testemunho da realidade.
O produto documental se molda ao passo da percepção de seu diretor.
Se a ideia de quem o produz muda, o documentário também muda. Todo
documentário segue um gênero onde é classificado. Existem características
que distinguem o documentário de filmes ficcionais, como por exemplo, a voz
de deus, trilhas sem pausas, entrevistas, comentários, imagens ilustrativas e
explicativas, além de outros fatores (NICHOLS, 2010).
O filme começa propondo um problema ou tópico; em seguida, transmite alguma informação sobre o histórico desse tópico e prossegue com um exame de gravidade ou
38
complexidade atual do assunto. Essa apresentação, então, leva a uma recomendação ou solução conclusiva, que o expectador é estimado a endossar ou adotar como sua (NICHOLS, 2010. p. 54).
Existem subjetividades em cada documentário capazes de torná-lo
único. Quesitos como a história abordada e as montagens realizadas no
produto. São informações reais e de relevância ao público, que resultam em
bases fortes de argumentação para que o tema abordado se torne um bom
documentário.
Um produto é realizado com base em assuntos reais e histórias de
valores sociais. O vídeo documentário oferece um ponto de vista diferente ao
espectador sem alterações antiéticas, como por exemplo, o comportamento
habitual de seu personagem. A solicitação de modificações nestas tarefas
poderia acarretar a não autenticidade do produto. A preocupação com esses
detalhes é crucial para que o vídeo documentário seja totalmente ético,
respeitando os seus personagens (Ibid.).
No vídeo documentário a ética é uma das questões mais importantes
para a produção documental. Comentários e julgamentos ofensivos exibidos no
material documental não fazem parte do cronograma de produção. A conduta
de quem o faz é de grande relevância para que haja respeito tanto com
personagem quanto com espectador (Ibid.).
O documentário pode ser estruturado de diversas formas, não existe
um padrão determinado. A escolha da estrutura documental pode-se inovar,
não há regras. A liberdade para a produção é um desafio de quem o produz
(Ibid.).
Os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam um conjunto de formas ou estilos. Nem todos documentários exibem um conjunto único de características comuns. A prática do documentário é uma arena onde as coisas mudam (NICHOLS, 2010, p. 48).
Com base nas questões levantadas por Nichols acredita-se que o
vídeo documentário é a melhor forma para apresentar ao espectador o atual
cenário do futebol feminino. É importante que o receptor conheça mais sobre a
mulher no futebol, reflita sobre o assunto e renove suas ideias com relação à
presença dela neste esporte.
39
O vídeo documentário é um meio de transmissão da realidade. Quando
se fala em documentário ao público, tem se a percepção de um produto que vai
abordar algo relevante e não ficcional. Sendo assim, grandes expectativas são
criadas diante de um produto documental. O documentário é o mais próximo da
realidade, um ponto de vista único elaborado por meio de sons e imagens,
tendo autenticidade. Um tratamento criativo da realidade (NICHOLS, 2010).
“Como público, ao assistir a documentários, estamos especialmente atentos às
formas pelas quais som e imagem testemunham a aparência e o som do
mundo que compartilhamos” (NICHOLS, 2010, p. 65).
Segundo Lins e Mesquita (2008), a relação do documentário com a
mídia se tornou fundamental deste o início dos anos 1990. De acordo com as
autoras, coube ao documentário se voltar para grupos urbanos que eram
praticamente invisíveis, já que nos anos anteriores ao regime militar as
imagens da televisão mostravam imagens estáveis. Mas no fim dos anos 1980,
temas antes só vistos em documentários ganham visibilidade na produção
jornalística. Para a Lins e Mesquita, a imagem está se tornando um meio de
legitimação. “As imagens são frágeis, impuras, insuficientes para falar do real,
mas é justamente com todas as precariedades, a partir de todas as lacunas,
que é possível trabalhar com elas” (LINS; MESQUITA, 2008, p. 82).
6. METODOLOGIA DE PESQUISA
6.1. Investigação e história
O campo de estudos em jornalismo tem profunda ligação com a história
(ROMANCINI, 2008). De acordo com o autor, “não são apenas os historiadores
que recorrem a jornais para elaborar suas narrativas (e jornalistas que utilizam
o conhecimento histórico), mas os jornalistas têm, por vezes, papel importante
e ao mesmo tempo polêmico na elaboração da chamada „história imediata‟”
(ROMANCINI, 2008, p. 24). Antes de iniciarmos uma pesquisa, vale aqui uma
reflexão sobre este campo do jornalismo.
40
Segundo Romancini (2008) é a partir da segunda metade do século
XIX que começa uma atividade de pesquisa sobre jornalismo no Brasil com
historiadores ligados aos Institutos Históricos e Geográficos (IHGs). Alguns
autores como Alfredo de Carvalho e Afonso de Freitas criam levantamentos
sobre jornais para elaborarem a história da imprensa no Brasil (ROMANCINI,
2008, p. 31). Mas de acordo com o autor, esse estudo não se configurou como
uma linha de pesquisa. “É possível que o esgotamento do modelo dos IHGs
tenha colaborado para a descontinuidade dessa historiografia tradicional:
descritiva, relatorial, cronologista e preocupada com o levantamento de
documentação sobre e dos jornais” (ROMANCINI, 2008, p. 31).
A história passaria a ser trabalhada então nas universidades e mais
tarde colocariam o estudo da história do jornalismo em outro patamar
(ROMANCINI, 2008).
O conjunto dos trabalhos posteriores à produção da história positivista constitui-se, pois, de estudos relativamente isolados – embora por vezes de excelente qualidade –, comparado a um modelo ideal de trabalho cumulativo e mais orgânico a respeito da história da imprensa e do jornalismo (ROMANCINI, 2008, p. 33)
É a partir dos anos 1970 que a historiografia acadêmica se intensifica e
vários trabalhos passam a ser publicados e apontam para “a continuidade de
linhas tradicionais na pesquisa histórica com o jornalismo e, depois uma
ampliação do leque de temas” (ROMANCINI, 2008, p. 37). Segundo o autor,
todos estes trabalhos tinham preocupação com padrões científicos.
O tradicional fôlego investigativo dos jornalistas, sua capacidade de estabelecer boas intenções pessoais com fontes de informação, preocupação com a clareza na produção textual são algumas qualidades que podem e devem ser “levadas” de um campo para o outro, mas existe um investimento necessário em formação em pesquisa científica, em termos do estudo de métodos e teorias da Comunicação, História etc. (ROMANCINI, 2008, p. 40).
Romancini acredita que é preciso expor com clareza as fontes quando
um pesquisador do campo da comunicação pretende utilizar reconstruções
históricas. Isso deve ser feito para que outros pesquisadores consultem o
estudo.
41
A lógica de que “tudo é História” – e portanto legitima-se qualquer abordagem, todo tipo de “resgate”, todas as formas e abordagens narrativas: o biografismo, a ficção história etc. – tem contrapartida na noção de que, se isso é verdade, nem tudo é conhecimento histórico (ou comunicacional) (ROMANCINI, 2008, p. 41).
Seguindo o pensamento de Romancini, de que jornalistas, assim como
historiadores, são capazes de investigar e desvendar vários temas, passamos
a conhecer um método de pesquisa importante no jornalismo e que foi aplicado
neste trabalho, a análise de conteúdo.
6.2. Análise de conteúdo
A análise de conteúdos é um método das ciências humanas e sociais
destinado à investigação de fenômenos simbólicos por meio de técnicas de
pesquisa (FONSECA, 2008). Vale citar aqui Herscovitz (2008), que diz que, se
um dia parte da humanidade desaparecesse, a análise de conteúdo da mídia
seria um dos métodos mais eficientes para rastrear uma civilização. Isso
porque a análise de conteúdo tem a capacidade de fazer conclusões sobre o
que ficou gravado, fato que a relaciona com o campo da história, conforme
relatado no item anterior. Segundo Herscovitz (2008), esse método de
pesquisa é muito importante para o jornalismo e pode ser utilizado para
detectar tendências e modelos na análise de critérios de noticiabilidade,
enquadramentos e agendamentos.
Serve também para descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de indivíduos, grupos e organizações, para identificar elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias e para comparar o conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas (HERSCOVITZ, 2008, p. 123).
Quando analisamos a frequência de situações que acontecem na mídia
é possível comparar o conteúdo que é transmitido (HERSCOVITZ, 2008).
Conforme a autora, por meio da análise de conteúdos é possível entender
sobre quem produz e quem recebe a notícia. Já para Bauer (2002), a análise
de conteúdo “permite reconstruir indicadores e cosmovisões, valores, atitudes,
opiniões, preconceitos e estereótipos e compará-los entre comunidades”
42
(BAUER, 2002, p. 192). Entre as vantagens da análise de conteúdos, segundo
Bauer está que ela faz o uso principalmente de dados brutos que acontecem
naturalmente, lida com grandes quantidades de dados e é capaz de oferecer
um conjunto de procedimentos maduros e bem documentados.
A análise de conteúdos da mídia surgiu em 1927, com Harold Lasswell,
um dos fundadores dos estudos de comunicação nos Estados Unidos. No
entanto é importante lembrar que esse método já era aplicado em outras áreas
das ciências sociais, principalmente na sociologia (HERSCOVITZ, 2008).
A análise de conteúdos se consagrou como um método eficiente de
pesquisa na metade do século XX com os trabalhos de Klaus Krippendorff e de
Robert Weber (HERSCOVITZ, 2008). Mas neste mesmo período também
surgem criticas a este método, quando a análise passa a ser considerada
superficial por muitos críticos. No entanto, Herscovitz explica que “a
característica híbrida da análise de conteúdo – pode ser vista como um método
que reúne elementos quantitativos e qualitativos – coloca-a num gueto
metodológico de onde ela sai reforçada e não enfraquecida, como defendem
alguns críticos” (HERSCOVITZ, 2008, p. 125).
É importante lembrar que, segundo a autora, outros métodos também
foram alvo de críticas. Entre eles estão a enquete, a entrevista longa e o grupo
de foco. No entanto, Herscovitz (2008) faz uma reflexão sobre as criticas. “Não
existe método de pesquisa perfeito, mas todo aquele que é bem construído e
bem conduzido tem mais chances de responder às hipóteses propostas em
estudos científicos do que outros” (HERSCOVITZ, 2008, p. 125).
Os pesquisadores que utilizam a análise de conteúdo são como detetives em busca de pistas que desvendem os significados aparentes e/ou implícitos dos signos e das narrativas jornalísticas, expondo tendências, conflitos, interesses, ambigüidades ou ideologias presentes nos materiais examinados (HERSCOVITZ, 2008, p. 127).
Neste sentido, de desvendar as narrativas jornalísticas, que o presente
trabalho elaborou uma pesquisa de conteúdo quantitativa e qualitativa para
entender como a mulher é tratada na mídia esportiva. Antes de tudo, é
importante conhecermos as diferenças entre pesquisa quantitativa e qualitativa.
Segundo Bauer, Gaskell e Allum (2002), a pesquisa quantitativa lida com
números e usa modelos estatísticos para explicar dados. Já a pesquisa
43
qualitativa evita números e lida com interpretações das realidades sociais. Os
autores acreditam que não há quantificação sem qualificação. Antes de
qualquer frequência ou porcentual, as atividades sociais devem ser
distinguidas. O pesquisador precisa ter uma noção das distinções qualitativas
entre categorias sociais (BAUER, GASKELL, ALLUM, 2002).
Se não há quantificação sem qualificação, também não há análise
estatística sem interpretação, já que os dados não falam tudo que precisamos
para desenvolver uma pesquisa. No entanto, os autores alertam para a escolha
das informações. Se colocarmos informações sem relevância para serem
analisadas, teremos estatísticas irrelevantes. “A vantagem didática e prática da
pesquisa numérica é sua clareza de procedimentos e seu elaborado discurso
de qualidade no processo de investigação” (BAUER, GASKELL, ALLUM, 2002,
p. 27).
Por acreditar na eficiência da análise de conteúdo, a pesquisa
metodológica deste trabalho foi realizada por meio da técnica da semana
artificial proposta por Bauer (2002). A amostra seleciona cada dia de uma
semana diferente. Entretanto, esta técnica pode se expandir também para uma
quinzena ou mês artificial. Neste trabalho, foi utilizado o mês artificial, no qual
cada semana será a analisada de um mês distinto. “Para que serve esta
estratégia? Para obter-se uma amostra variada, com distribuição equitativa e
contendo o mínimo possível de distorções” (HERSCOVITZ, 2008, p. 131).
Neste trabalho foi analisada a primeira semana do mês de agosto, a
segunda semana de setembro, a terceira semana de outubro e última semana
de novembro de 2013. Tal pesquisa foi aplicada por meio de uma análise do
programa televisivo Globo Esporte, da Rede Globo de televisão, maior
emissora do Brasil4. O estudo foi feito no programa exibido no estado do
Paraná.
Primeiramente, foram definidas as questões5 sobre o que analisar no
programa. Na pergunta “tipo de reportagem” foram selecionadas as seguintes
categorias: nota coberta, quando uma notícia é apresentada com imagens e
com narração off do apresentador. Nota pelada: notícia formada apenas de
texto lido pelo apresentador sem imagens. Stand-up: quando o repórter fala
4 Caprino; Santos (2012)
5 Ver apêndice
44
uma notícia gravada no local do fato. Link ao vivo: possui as mesmas
características do stand-up, com a diferença de ser ao vivo. (REZENDE, 2000).
Reportagem: considerada uma narrativa com personagens, ação e descrições
de ambiente (SODRÉ e FERRARI, 1986). Reportagem especial: aprofunda
mais um assunto. Faz uma análise minuciosa de algo que está repercutindo.
Um tema pouco discutido ou um furo de reportagem são possíveis ideias para
a realização de uma reportagem especial (CARVALHO, DIAMANTE,
BRUNEIRA e UTSCH, 2010). A partir destas categorias a proposta é descobrir
em que tipo de produção jornalística a mulher mais aparece no programa.
Na pergunta “tempo da peça jornalística” buscou-se descobrir quanto
tempo de programa é dedicado a assuntos relacionados à mulher no esporte. A
questão “número de entrevistados” foi criada para que mais tarde fosse
possível desvendar quantas mulheres são entrevistadas ao longo do programa.
Outra questão importante do questionário é definir se a mulher aparece como
fonte primária ou secundária em uma peça jornalística. Entende-se por fontes
primárias “aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de
uma matéria; fornecem fatos, versões e números” (LAGE, 2003, p. 65-66). Já
as fontes secundárias “são consultadas para a preparação de uma pauta ou
construção das premissas genéricas ou contextos ambientais” (LAGE, 2003, p.
66).
Também se buscou descobrir em que bloco a peça jornalística foi
veiculada, para analisar a importância da notícia dentro do programa.
Buscando identificar o alcance geográfico das notícias relacionadas à mulher
no esporte, criou-se também uma questão para descobrir a origem da notícia,
classificadas como regional, nacional e internacional. Outro objetivo foi
responder de que assunto tratava a peça jornalística, para descobrir em quais
temas a mulher estava inserida. Por fim, foi fundamental a criação de uma
categoria para identificar de que gênero se tratava a peça jornalística.
6.3 A representação da mulher no programa Globo Esporte, do Paraná
Foram analisados o total de 24 programas Globo Esporte no estado
Paraná, cada um com média de tempo entre 20 e 24 minutos. Durante o mês
artificial 261 peças jornalísticas foram exibidas, destas, 241 tratavam do gênero
45
masculino, enquanto que 10 eram relacionadas ao gênero feminino. Já o
número de produções jornalísticas que tratavam de ambos os gêneros não
passaram de 10 peças, como mostra o Gráfico I:
GRÁFICO I:
Com relação ao assunto da peça jornalística, como mostra o Gráfico II,
a pesquisa aponta que o programa trata predominantemente de futebol. Dos
261 produtos analisados, 191 tratavam de futebol. Os outros temas que se
destacaram, mas que não chegaram ao número expressivo como o futebol
foram o vôlei com 11 peças jornalísticas, o automobilismo com 10 e o tênis com
9. É importante destacar que nestas modalidades o predomínio também é
masculino. Dos 191 produtos jornalísticos voltados ao futebol, apenas 1 tratava
do gênero feminino, enquanto que 190 eram masculinos. Na modalidade vôlei
os números também mostram o predomínio do homem neste esporte. Das 11
peças analisadas, 9 falavam do gênero masculino, enquanto que apenas 1 do
46
feminino e 1 sobre ambos os gêneros. No automobilismo, das 10 peças
analisadas, todas eram masculinas. Já na modalidade Tênis, das 9 produções
analisadas, 7 eram voltadas ao gênero masculino enquanto que 2 falavam da
mulher neste esporte.
GRÁFICO II:
Os dados também mostram os tipos de reportagens exibidos no
programa Globo Esporte durante a análise. A reportagem é o principal produto
do programa, foram 139 peças, como mostra a Tabela I. Mas é importante
ressaltar o predomínio é masculino. Das 139 reportagens, 130 eram voltadas
ao homem no esporte, enquanto que apenas 4 eram relacionadas à mulher.
Outro predomínio está na nota coberta, foram 82 peças, destas 76 falavam do
gênero masculino e somente 2 do feminino. Em algumas peças o gênero
feminino não chegou a aparecer, é o caso do link ao vivo, em que foram 9
exibições, todas masculinas. No stand-up o número de exibições chegou a 6,
47
mas nenhum estava relacionada à mulher. Sobre a nota pelada, os dados
mostram que das 10 peças exibidas, 9 eram masculinas e 1 tratava de ambos
os gêneros. Com relação à reportagem especial a mulher aparece mais vezes
do que nos outros produtos, como apresentados, mas ainda há desigualdade.
Das 15 peças especiais, 11 falavam do homem e 4 da mulher.
TABELA I:
Tipo de reportagem: * Gênero
Gênero Total
Ambos Feminino Masculino
Tipo de reportagem:
Link ao vivo 0 0 9 9
Nota coberta 4 2 76 82
Nota pelada 1 0 9 10
Reportagem 5 4 130 139
Reportagem especial 0 4 11 15
Stand-up 0 0 6 6
Total 10 10 241 261
Quando se fala em tempo da peça jornalística, os produtos voltados à
mulher são de predomínio de tempo entre 1 e 2 minutos, no entanto, quando
comparado ao gênero masculino, é possível notar a desigualdade, já que do
total de 90 exibições entre 1 e 2 minutos, 83 referem-se ao homem e apenas 3
à mulher. Nas produções entre 2 e 3 minutos os dados também são
desproporcionais. No total de 56 peças, 55 tratavam do gênero masculino e
apenas 1 do feminino. A variação também está nas peças entre 3 a 4 minutos,
visto que das 22 produções com este tempo, 20 eram masculinas e somente 2
femininas, como mostra a Tabela II:
48
TABELA II:
Tempo da peça jornalística * Gênero
Gênero Total
Ambos Feminino Masculino
Tempo da peça jornalística:
Até 1 minuto 2 2 42 46
Entre 1 e 2 minutos 4 3 83 90
Entre 2 a 3 minutos 0 1 55 56
Entre 3 a 4 minutos 0 2 20 22
Mais de 4 minutos 0 2 6 8
Menos de 30 segundos 4 0 35 39
Total 10 10 241 261
Na análise das fontes, os dados mostram que das 261 peças
jornalísticas, 235 não apareciam mulheres como fontes. Quando aparecia, era
como fonte secundária chegando ao total de 15 peças. Já nas exibições como
fonte primária, a mulher apareceu em 11 peças, como mostra a Tabela III:
TABELA III:
Com relação as fontes, a mulher aparece como * Dos entrevistados, quantos são mulheres
Dos entrevistados, quantos são mulheres: Total
Dois 4
entrevistados
Acima de 5
entrevistados
Apenas 1
entrevistado
Nenhum
Fonte primária 3 1 1 6 0 11
Fonte secundária 2 0 0 13 0 15
Não aparece 0 0 0 0 235 235
Total 5 1 1 19 235 261
A pesquisa também mostra, conforme Tabela IV, que a maioria das
peças jornalísticas do programa são exibidas no primeiro bloco. Do total 261
produções, 136 foram exibidas na primeira parte do programa. É possível notar
que as peças voltadas ao gênero feminino são exibidas predominantemente no
primeiro bloco, no entanto, os valores ainda são desproporcionais, já que das
49
136 exibições de primeiro bloco, 126 tratavam do gênero masculino, 5 do
feminino e 5 de ambos os gêneros.
TABELA IV:
Em que bloco a peça jornalística foi veiculada? * Gênero
Gênero Total
Ambos Feminino Masculino
Em que bloco a peça
jornalística foi veiculada?
01) bloco 5 5 126 136
02) bloco 5 3 80 88
03) bloco 0 2 35 37
Total 10 10 241 261
A pesquisa também mostra que as matérias relacionadas à mulher são
predominantemente de origem nacional, porém, os dados são desiguais
quando comparados ao masculino, visto que das 114 peças de origem
nacional, 102 eram masculinas, 8 femininas e 4 de ambos os gêneros. É
importante destacar também que a mulher tem pouco espaço nas notícias de
origem regional. Das 108 peças locais, 104 falavam do homem, apenas 1 da
mulher e 3 travam de ambos os gêneros. Com relação às notícias
internacionais, do total de 39 peças, 35 davam destaque ao homem, apenas 1
destacava a mulher e 3 tratavam dos dois gêneros, como mostra a Tabela V:
TABELA V:
A notícia tem origem * Gênero
Gênero Total
Ambos Feminino Masculino
A notícia tem origem:
Internacional 3 1 35 39
Nacional 4 8 102 114
Regional 3 1 104 108
Total 10 10 241 261
Foi necessária também uma análise da abordagem dada nas 10 peças
jornalísticas que tratavam do gênero feminino. Antes de estudar cada peça, foi
50
necessário atentar-se para a cabeça de reportagem, texto lido pelo
apresentador antes de chamar a notícia. No dia 06 de agosto foi exibida uma
reportagem entre 1 e 2 minutos com o tema ginástica. A cabeça da matéria já
deixava claro o que era o assunto principal, a chegada do técnico
Alexander Alessandrov no comando da seleção brasileira feminina de
Ginástica: “Vamos a ginástica feminina do Brasil, que tem um novo
comandante e ele é russo”.
As primeiras imagens não mostram ginastas, mas sim o treinador, que
fala sobre o que acha do Brasil. A partir disso, há imagens das ginastas
treinando, enquanto o técnico observa. O foco no treinador fica ainda mais
claro na passagem do repórter: “É sob a vigilância desse par de olhos verdes
que estará a ginástica olímpica do Brasil pelos próximos três anos. O ciclo das
Olimpíadas do Rio de Janeiro”.
A reportagem também explica que o currículo foi um dos principais
requisitos para a contratação do novo treinador e deixa claro que ele é
fundamental para o sucesso das ginastas: “O treinador é responsável por 15
medalhas olímpicas. Foi cria de Alessandrov uma das maiores ginastas da
atualidade, a russa Aliya Mustafina”. Podemos dizer que, a partir dessa frase,
a reportagem coloca o treinador como principal responsável pelo desempenho
positivo das ginastas, deixando em segundo plano o trabalho realizado por
elas.
Apesar da peça jornalística tratar de uma modalidade feminina, apenas
uma mulher é entrevistada, a atleta Lorrane dos Santos, que em depoimento
reforça ainda mais o foco da reportagem no treinador. “A gente tem que estar
sempre mostrando pra ele o que a gente é capaz de fazer”. Desta forma,
podemos dizer que a matéria coloca a mulher como submissa ao homem.
Outra reportagem que tratou do gênero feminino foi exibida no dia 08
de agosto, também com o tema ginástica e com tempo entre 1 e 2 minutos.
Nesta matéria o tema central foi a cobertura do programa Globo Esporte ao
longo dos anos na ginástica brasileira, diferente do que foi apresentado na
cabeça da reportagem: “O Globo Esporte traz uma história feita de muito
51
sucesso, muito suor, muita técnica e muitas conquistas. Visitamos o centro de
excelência de ginástica em Curitiba, um celeiro de atletas de alto nível.
A matéria afirma que o Globo Esporte sempre acompanhou o trabalho
das ginastas do Brasil e esteve presente em grandes competições. Há várias
imagens de arquivo, que intercalam com uma sonora da ginasta Daiane dos
Santos exibida anos atrás. Por fim, a matéria mostra imagens do centro de
excelência de ginástica em Curitiba e faz um convite ao telespectador para
assistir a reportagem especial sobre ginástica, que será exibida no dia
seguinte.
No dia 09 de agosto é exibida uma reportagem sobre ginástica,
conforme anunciado no programa anterior, com mais de 4 minutos de duração.
Mais uma vez o programa deixa claro o foco nas coberturas feitas nesta
modalidade, como mostra a cabeça da reportagem: “A nossa reportagem de
abertura, de comemoração de trinta e cinco anos de Globo Esporte, muitos
deles dedicados a cobertura de nossas meninas da ginástica. Nós
acompanhamos o crescimento delas e agora um resumo emocionante pra
você”.
A reportagem fala sobre a trajetória de algumas atletas que treinaram
em Curitiba e que se destacaram na ginástica brasileira, como Camila Comin,
Daiane dos Santos, Lais Souza e Lorrane dos Santos. A matéria trabalha com
imagens de arquivo, mostrando a carreira de sucesso de cada uma delas e
relembrando trechos de reportagens antigas exibidas pelo Globo Esporte. De
maneira geral, o programa se auto promove com a reportagem quando
relembra as coberturas feitas na modalidade e faz com que a própria atleta fale
da influência do programa no sucesso deste esporte.
No dia seguinte, 10 de agosto, foi exibida uma reportagem sobre tênis
feminino, com tempo entre 1 e 2 minutos. Nesta matéria não houve cabeça, já
que a reportagem foi ao ar logo após o intervalo. Mais uma vez o tema voltou-
se ao trabalho do programa Globo Esporte na cobertura de uma modalidade.
Na reportagem a tenista Gisele Miró parabeniza o programa pelo aniversário de
35 anos e relembra reportagens feitas pelo Globo Esporte ao longo da carreira
da atleta. Ora, neste dia o programa dedicou um determinado tempo para tratar
52
de uma modalidade feminina, neste caso, o tênis. O problema é que o tênis
feminino e o trabalho feito por Gisele Miró não foram o foco da reportagem,
mas sim as coberturas feitas pelo Globo Esporte, deixando claro que a atleta
conseguiu ter visibilidade por meio do próprio programa. Um exemplo é que no
fim da matéria Gisele Miró pede para relembrar uma das reportagens
produzidas pelo Globo Esporte que marcaram a sua carreira.
Em 09 de setembro a mulher teve espaço no programa mais uma vez
com a modalidade tênis. A notícia foi por meio de uma nota coberta com tempo
de aproximadamente 1 minuto. O assunto era a final do Aberto de Tênis dos
Estados Unidos, quando Serena Wlliiams venceu Vitória Azarenka e sagrou-se
campeã. Nesta peça jornalística a atenção está voltada para a final do torneio.
Mas cabe a nós uma reflexão sobre o surgimento da notícia no programa,
quando avaliamos que o tênis feminino ganha espaço neste dia, mas é
importante lembrar que se trata de uma final de campeonato e que a tenista
Serena Williams, considerada uma das melhores tenistas do mundo é a
campeã. A questão que se propõe refletir é que se não fosse uma final de
campeonato ou se a tenista Serena Williams não estivesse presente a notícia
seria exibida.
No dia 12 de setembro foi ao ar uma reportagem especial sobre
Handebol, com tempo acima de quatro minutos. A cabeça da matéria diz: “O
técnico da seleção brasileira de Handebol está de olho nas atletas que
participam de jogos escolares, entre elas a Ana Carolina, uma menina do Rio
de Janeiro, que já enfrentou dificuldades enormes na vida e encontrou no
Handebol um jeito de virar esse jogo”. Já na cabeça da reportagem é possível
notar que a atleta é colocada como uma pessoa frágil e que busca superação
por meio do esporte. Na matéria é possível notar também que o Handebol fica
em segundo plano na vida da atleta e que entrar em uma faculdade para cursar
direito é algo mais concreto. Ou seja, a reportagem coloca o Handebol como o
incentivo para os estudos e não como profissão. Apesar da reportagem
destacar uma modalidade feminina, das cinco fontes entrevistadas, apenas
duas eram mulheres. Neste caso, além da sonora com a personagem, a
matéria trouxe uma entrevista com uma atleta de seleção com o intuito de
motivar a jovem. No último off do repórter ele reforça a ideia de que o Handebol
53
pode ser um auxílio na vida da atleta e não uma profissão: “Carol acredita,
confia, treina e estuda, ela sabe que carreira de atleta termina cedo e faz
planos, mas a advocacia é um sonho para depois de um sonho, Rio 2016”.
Reforça também o papel do Handebol como superação na vida: “Desde que o
Handebol entrou na vida da Carol ela aprendeu que vencer na vida é muito
mais do que o resultado de um jogo”.
Outra reportagem especial do gênero feminino foi exibida no dia 14 de
setembro. A peça teve duração entre três a quatro minutos, com o tema Vôlei.
A matéria conta a história de Gabriela Braga Guimarães, uma revelação do
Vôlei feminino. Já na cabeça a apresentadora passa a mensagem de que a
atleta conquistou espaço por ter o apoio dos dois principais treinadores do país
e não por sua capacidade como jogadora. “Com vocês um talento das quadras.
Revelação do time do Rio de Janeiro e da seleção brasileira, a queridinha dos
dois principais treinadores do país”. É importante lembrar que todas as
entrevistas destacavam as habilidades da atleta e que das mais de cinco
fontes, apenas duas eram mulheres.
Outra peça voltada a uma modalidade feminina foi ao ar no dia 14 de
outubro com o tema Punhobol. Tratava-se de uma nota coberta, de até um
minuto. A notícia destacava que as atletas do Clube Duque de Caxias, de
Curitiba, conquistaram pela terceira vez o titulo do mundial feminino de clubes.
Neste caso podemos notar que a modalidade feminina Punhobol virou notícia
porque se tratava de uma conquista de título mundial.
No dia 15 de outubro o Globo Esporte exibiu uma reportagem sobre
uma menina que joga futebol com meninos. A cabeça da matéria já coloca a
presença feminina no futebol como algo inusitado: “E olha essa, uma menina
de Mato Grosso, craque do time dela e das seleções brasileiras de base. Ela é
a camisa dez do time e joga diariamente na equipe de meninos”. Além de
abordar o fato de uma menina de destacar no meio de meninos jogando
futebol, a reportagem fala da carreira da jovem atleta, que já chegou a seleção
brasileira de base. Neste caso, a mulher ganha espaço no programa porque
jogava entre homens e não por suas conquistas pessoais.
54
A peça jornalística do dia 19 de outubro foi uma reportagem especial
sobre surf, com tempo entre 3 a 4 minutos. Logo na cabeça da matéria os
aspectos físicos da atleta são ressaltados: “Verão tem tudo a ver com esta
surfista modelo. Ou seria modelo de surfista. O Globo Esporte acompanha
Bruna Schimtt desde quando ainda era gatinha loira nas ondas de Matinhos.
Bruna cresceu no esporte, cresceu na atitude, vamos viajar com ela”. Ao longo
da reportagem são exibidas imagens da surfista destacando a beleza da atleta.
Também nesta matéria o programa se promove mais uma vez quando a
surfista lembra de reportagens produzidas pelo Globo Esporte no inicio da
carreira. A surfista também reforça o quanto o programa é importante para a
modalidade, tirando o foco da reportagem sobre suas habilidades e colocando
destaque no próprio programa. De maneira geral a reportagem foca na vida
pessoal da atleta e não no seu trabalho como sufista.
Com base nas dez peças analisadas, podemos concluir que a mulher
só apareceu no programa porque teve conquistas em algumas modalidades.
Também concluímos que na maior parte das matérias o foco na mulher
enquanto atleta se desvia para outros assuntos. Podemos citar como exemplos
a reportagem de Ginástica do dia oito de agosto, a matéria com a tenista Gisele
Miró no dia dez de agosto e a reportagem com a surfista Bruna Schimtt no dia
19 de outubro. Nestas peças o programa Globo Esporte se colocou como
fundamental para a visibilidade da mulher no esporte. Outro exemplo é a
matéria sobre ginástica do dia seis de agosto, em que o técnico
Alexander Alessandrov se torna o foco da notícia. Sobre os enquadramentos,
apenas a reportagem sobre a surfista Bruna Schimtt trazia planos que
remetiam à sexualidade da mulher.
7. DELIMITAÇÃO DO PRODUTO
Para a produção do vídeo documentário Futebolistas foram realizadas
entrevistas com cinco jogadoras do clube de futebol feminino de Colombo, com
o técnico Alexandro Teodoro, além de Renata Costa, jogadora do time FC
Kubanochka, da Rússia e com passagens pela seleção brasileira. A proposta é
mostrar a estrutura destas atletas no clube, os desafios para a prática deste
55
esporte, o apoio que recebem, a profissionalização e o que faz com que elas
continuem a praticar a modalidade mesmo diante do preconceito e da falta de
visibilidade na mídia, conforme roteiro6.
A denominação Futebolistas como título do vídeo documentário se deu
por acreditar que o nome representa o desejo de igualdade de gêneros neste
esporte, já que a palavra Futebolista significa jogador ou jogadora de futebol.
Em um primeiro momento a proposta do nome seria “As Futebolistas”, mas
após uma reflexão, foi possível entender que a partir da colocação do “As”
estaríamos criando uma divisão dos gêneros, quando na verdade a proposta
do produto é levantar a discussão de direitos no futebol. Ora, se vídeo
documentário fosse sobre o futebol masculino seria necessário denominarmos
a produção de “Os futebolistas”? A partir desta reflexão e pelo desejo das
autoras de trabalhar com apenas um nome a escolha se deu por “Futebolistas”.
A trilha utilizada foi Futebol e Mulher, da Banda pernambucana Eddie.
A escolha da música de seu a partir da identificação do produto com a letra,
que trata diretamente da relação entre a mulher e o futebol.
Com relação às imagens, foram registrados oito jogos do time de
Colombo. A proposta foi mostrar como é a preparação das atletas e a realidade
vivida por elas em campo. É importante lembrar que nestas partidas foram
registradas também imagens de bastidores como momentos de
confraternização das atletas, preparação antes de entrar em campo,
comemoração e planos de detalhe.
Os entrevistados foram selecionados a partir da convivência com as
atletas e o técnico durante as gravações de jogos. Estas jogadoras e o
treinador aprovaram a proposta do vídeo documentário e se dispuseram a
gravar, acreditando que a produção pode contribuir para maior visibilidade no
futebol feminino. Já a ideia de entrevistar a volante Renata Costa surgiu a partir
da notícia de que a jogadora estaria presente no jogo entre Colombo e Assaí,
time de futebol feminino fundado pela atleta na cidade de Assaí, no Paraná.
As entrevistas com Lisiane Linhares Nunes, Mariana Augusta Santiago,
Sara Rodrigues da Veiga, Alexandre Teodoro e Bruna Oliveira Rosa foram
feitas em uma quadra de futsal, onde as atletas treinam. A entrevista com
6 Ver apêndice
56
Bianca Cristine Bonifácio foi gravada na casa da jogadora, já que Bianca tinha
medalhas, troféus e camisas de clubes por onde jogou e estava disposta a
gravar estes detalhes. Já a entrevista com Renata Costa foi realizada no jogo
Colombo x Assaí, como já citado acima.
É importante lembrar que as atletas do clube de Colombo não recebem
salários para jogar, diferente da jogadora Renata Costa, que recebe benefícios
e se dedica apenas ao futebol. Pretende-se mostrar que apesar das diferentes
vivências destas atletas no futebol, as dificuldades são semelhantes quando se
pensa em valorização por parte da sociedade e da mídia.
O vídeo documentário tem duração de 20 minutos e não tem voz off.
Os personagens que vão conduzir a narrativa. Com a proposta de que este
produto seja veiculado em programas de TV, a ideia foi criar um ápice no filme,
pensando em um possível intervalo comercial e para despertar curiosidade no
telespectador. O momento selecionado para intervalo é quando a atleta
Mariana Augusta Santiago explica porque não conseguiu se tornar uma
jogadora profissional, visto que a partir deste tema o filme começará a discutir
sobre a profissionalização no futebol e o preconceito.
A autenticidade no vídeo documentário é crucial para que o produto
apresente ao receptor o fato da forma mais fiel possível. É claro que esta
produção vai passar por diversas fases de edição e produção. Processo esse,
que faz parte da realização de um documentário. O intuito é filtrar ao
espectador o melhor conteúdo possível chegando o mais próximo do real
(NICHOLS, 2010).
De acordo com Nichols para a produção de um documentário, existem
diversas formas de produção. Um delas é quando os atores ou atores sociais
apresentam ao espectador visões de um fato de singular. A ideia é que o
público tenha a sensação de que o personagem esteja falando com ele.
Segundo Nichols, os documentaristas criam grandes expectativas sobre a
produção do documentário. Seu interesse não é a ficção, mas sim a
representação do real. De acordo com o autor, podemos considerar o
documentário como testemunho da realidade.
Com relação ao estilo do produto, o vídeo documentário foi produzido
baseado no modo reflexivo. Os documentários reflexivos nos pedem para que
57
o vejamos como ele é, falando não só do mundo histórico mais também sobre
diversos problemas.
Assim como o modo observativo do documentário depende da ausência aparente ou da não intervenção do cineasta nos acontecimentos filmados, o documentário em geral depende do descaso do espectador por sua situação real, diante da tela do cinema, interpretando um filme, em favor de um acesso imaginário aos acontecimentos mostrados na tela, como se apenas esses acontecimentos exigissem interpretação, e não o filme (NICHOLS, 2010. Pág 163)
O público-alvo do vídeo documentário será atletas de futebol feminino,
mulheres praticantes de outros esportes, comunicadores (jornalistas esportivos
e estudantes de comunicação), simpatizantes do esporte, além de pessoas que
não conhecem o futebol feminino. A proposta é que esse produto também seja
veiculado em programas televisivos
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o início deste trabalho nos surpreendemos com o envolvimento
das atletas de Colombo com o futebol. Cada jogo é especial para estas
mulheres, que definitivamente, jogam por amor e acreditam na
profissionalização deste esporte. A escolha do tema deste estudo se deu pela
afinidade das autoras com o futebol e também por acreditar que é preciso uma
reflexão e uma mudança de comportamento quando se pensa em mulher no
esporte e na mídia esportiva.
Não se pode negar que a presença feminina no esporte cresceu nos
últimos anos, no entanto, ainda é preciso um avanço dos órgãos esportivos e
da mídia para que a mulher seja, de fato, valorizada não só no futebol, mas em
todas as modalidades.
Acredita-se que por meio deste trabalho é possível contribuir para que
o futebol feminino seja visto de outro ângulo. O vídeo documentário, resultado
deste estudo, poderá atingir muitas pessoas, criando um pensamento crítico
sobre o tema. Portanto, a produção deste produto pode ser o pontapé inicial
para o progresso do futebol feminino na mídia. Já que, seguindo o pensamento
de Eugênio Bucci, “o rei de amanhã pode ser uma rainha. E então? E se as
58
mulheres conseguirem fazer isso mais bem feito? Como é que ficaremos?
Ouço dizer que é cada vez maior o contingente das alunas do sexo feminino
em escolinhas de futebol. A onda vai pegar” (BUCCI, 2000, p. 69).
Pode-se dizer também, que por meio deste estudo existirá uma
contribuição para o jornalismo esportivo paranaense, tendo em vista que a
partir da pesquisa metodológica deste trabalho foi possível identificar que a
mulher ainda não conquistou seu espaço na mídia esportiva. Por fim, com este
estudo foi possível contribuir para a valorização do futebol feminino, além de
uma reflexão do papel da mulher no esporte e no jornalismo esportivo.
59
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, Wilson da Costa. Chutando prá Fora: Os equívocos do Jornalismo Esportivo Brasileiro. In: MARQUES, J. C.; CARVALHO, S.; CAMARGO, V. R. T (Org.). Comunicação e esporte: tendências. Santa Maria: Pallotti, 2005. BRASIL. Decreto-lei 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 16 abr. 1941. BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. BAUER, Martin W.; GASKELL, George; ALLUM, Nicholas C. Qualidade, quantidade e interesses do conhecimento: evitando confusões. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. São Paulo: Boitempo, 2000. CAMARGO, Vera Regina Toledo. O comunicador e o educador esportivo: novos paradigmas para o jornalismo esportivo. In: MARQUES, J. C.; CARVALHO, S.; CAMARGO, V. R. T (Org.). Comunicação e esporte: tendências. Santa Maria: Pallotti, 2005. CAPRINO, Mônica P.; SANTOS, Marli. Alfabetização midiática e conteúdo gerado pelo usuário no telejornalismo. Comunicação e Sociedade. v. 34, n.1, p. 109-130, jul./dez. 2012. CARVALHO Alexandre, DIAMANTE Fabio, BRUNEIRA Thiago, UTSCH Sérgio. Reportagem na TV: como fazer, Como produzir, Como editar. Reportagem especial: o que é? Editora Contexto. São Paulo: 2010, p. 21-29. DAMATTA, Roberto. Esporte na sociedade: um ensaio sobre o futebol brasileiro. In: DAMATTA, Roberto. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakothere, 1982. FRANÇA, Vera Veiga. O objeto da comunicação: a comunicação como objeto. In:. Hohlfeldt, Antonio; Martino, Luiz; França, Vera. Veiga. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. FRANZINI, Fábio. Futebol é “coisa pra macho”? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História. São Paulo, V. 25, nº 50, 2005. FREITAS, Sidinéia Gomes. Atletas, Opinião Pública, Porta-Vozes. In: SIMÕES, Antônio Carlos, KNIJNIK, Jorge Dorfman. O Mundo Psicosocial da Mulher no Esporte: comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Editora Aleph, 2004.
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62
10. CRONOGRAMA
ATIVIDADES Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Análise dos dados metodológicos x x
Período de gravação de entrevistas x x
Decupagem das gravações x x x
Edição X
x x
Finalização da fundamentação teórica x x x
Protocolo final x
Banca X
65
APÊNDICE
Questões para a análise de conteúdo do programa Globo Esporte:
- Avaliador
- Data de veiculação do programa
- Tempo de duração do programa
- Tipo de reportagem
- Tempo da peça jornalística
- Número de entrevistados
- Dos entrevistados, quantos são mulheres
- Com relação as fonte, a mulher aparece como
- Em que bloco a peça jornalística foi veiculada
- Assunto da peça jornalística
- Qual a origem da notícia (regional, nacional, internacional)
- Gênero
66
ROTEIRO DOCUMENTÁRIO
Título do projeto: Futebolistas
Formato: Documentário
Direção / Produção: Patrícia Castro e Thais Travençoli
Edição: Patricia Castro e Thais Travençoli
Finalização: Drica Agnis
1. Declaração inicial.
Futebolistas relata a história de cinco mulheres que jogam futebol com
um único sentimento em comum, o amor pela modalidade. O
documentário levanta discussões como o preconceito com a mulher no
esporte, a falta de visibilidade na mídia e a valorização do futebol
feminino no Brasil. A partir de relatos de atletas do time de futebol
feminino de Colombo, no Paraná, Futebolistas promove uma reflexão
sobre o espaço da mulher no futebol.
2. Breve apresentação do assunto.
Por meio de entrevistas com cinco atletas do time de futebol feminino de
Colombo, Bianca, Mariana, Sara, Bruna e Lisiane, o vídeo documentário
propõe um debate entre as jogadoras, que contam as experiências no
futebol e as dificuldades vividas por elas. O documentário também conta
com a participação do técnico do time de Colombo, Alexandre, que fala da
realidade da equipe.
Bianca, de 22 anos, mesmo sofrendo de epilepsia e sem o apoio da mãe,
sonha em ser jogadora profissional e chegar à seleção brasileira. Das
entrevistadas, Bianca é a única que acredita que o futebol pode ser um dia
a sua profissão. O enredo também traz a visão de Renata Costa, volante do
FC Kubanochka, da Rússia, com passagens pela seleção brasileira, que
comenta sobre os desafios enfrentados por ela na modalidade e sobre o
futuro do futebol feminino no país.
67
3. Estratégias de abordagem, estrutura e estilo.
As gravações foram feitas durante os jogos disputados pela equipe de
Colombo no Campeonato Metropolitano e Campeonato Paranaense de 2013.
Além do registro das atletas durante os jogos, foram feitas imagens de detalhes
de chuteiras, bolas, gramado e medalhas. Cinco entrevistas foram realizadas
em uma quadra de futebol de salão, onde as atletas treinam. A entrevista com
a jogadora Bianca foi feita na casa da atleta e o depoimento de Renata Costa
foi registrado em campo, quando o time da atleta enfrentou a equipe de
Colombo. No vídeo documentário as jogadoras falam sobre o que o futebol
representa para elas, como começaram a jogar, como é a união do time de
Colombo, a falta de apoio ao futebol feminino, a relação com a família, a
invisibilidade na mídia e o preconceito.
4. Cenas
Cena 1: ((Sobe BG)) Imagens do time de Colombo (bandeira, cenas de
jogo e gol)
Cena 2: Vinheta de abertura
Cena 3: Imagens de momentos de emoção (grito motivacional, entrada
em campo e comemoração da conquista de titulo)
Cena 4: Atletas falam o que o futebol representa para elas (Sara,
Lisiane, Mariana e Bianca)
Cena 5: Imagens de apoio (cenas de jogos)
Cena 6: Atletas falam como começaram a jogar (Bruna, Lisiane, Sara e
Bianca)
Cena 7: Bianca fala dos clubes por onde passou
Cena 8: Sara fala como chegou ao time de Colombo (alternando com
imagem do estádio de Colombo e imagem de jogo)
Cena 9: Entra tela com informações sobre time de Colombo
Cena 10: Oração das atletas antes do jogo (áudio aberto)
Cena 11: Técnico Alex comenta sobre a união do time (alternando com
imagens de entrevista e trabalhando em campo)
Cena 12: Imagens de apoio (cenas de jogo)
68
Cena 13: Lisiane fala sobre a relação das atletas do time (alternando
com imagens de comemoração das jogadoras)
Cena 14: Sara fala da amizade com as atletas (alternando com imagem
de união)
Cena 15: Alex fala sobre a falta de apoio ao time de Colombo
(alternando com imagens do treinador em campo)
Cena 16: Jogadoras falam sobre a falta de apoio ao futebol feminino
(Bruna, Sara, Bianca e Lisiane)
Cena 17: Imagem atletas cantando hino nacional (abre áudio)
Cena 18: Bianca fala sobre a falta de salários
Cena 19: Bianca explica que joga por amor ao esporte
Cena 20: Bianca comenta sobre as lesões no futebol
Cena 21: Imagens de apoio (cenas atletas em campo)
Cena 22: Atletas falam sobre o apoio da família (Lisiane, Mariana, Sara
e Bianca)
Cena 23: Bianca fala que quer mostrar para a mãe que futebol é
profissão.
Cena 24: Bianca comenta sobre as premiações que conquistou com o
futebol
Cena 25: Imagens troféu e medalhas de Bianca
Cena 26: Atletas falam sobre suas profissões (Bruna, Mariana, Lisiane e
Sara)
Cena 27: Mariana explica porque não chegou a ser uma jogadora
profissional
Cena 28: Alex fala que há jogadoras com capacidade de chegar a
seleção
Cena 29: Sara diz que o futebol é um esporte para ela e não profissão
Cena 30: Imagens de apoio (cenas de jogo e detalhes)
Cena 31: Atletas falam sobre a desvalorização do futebol feminino no
Brasil (Mariana e Sara)
Cena 32: Jogadoras falam sobe a falta de visibilidade na mídia (Lisiane,
Sara e Bianca)
Cena 33: Atletas falam sobre o preconceito (Lisiane, Bianca e Sara)
69
Cena 34: Jogadoras explicam como lidam com o preconceito (Bianca e
Sara)
Cena 35: Imagens de apoio (cenas de jogo)
Cena 36: Bianca fala sobre a admiração pela seleção brasileira e o
sonho de um dia conquistar uma posição na equipe profissional
Cena 37: Renata Costa fala sobre o que é o futebol feminino para ela
(alternando com imagens de apoio da atleta em campo)
Cena 38: Entra tela com informações sobre Renata Costa
Cena 39: Renata Costa fala sobre as dificuldades e conquistas no
futebol
Cena 40: Bianca fala sobre o amor pelo futebol
Cena 41: Imagens de apoio (cenas de jogo)
Cena 42: Bianca fala sobre seu futuro no futebol (Divisão de tela)
((Sobe créditos e BG))
5. Cronograma de filmagem.
18 de agosto a 28 de
novembro - 2013
22 de fevereiro a 08
de março - 2014
22 de março a 16 de
maio – 2014
Primeira etapa de
filmagens: gravação
de jogos
Segunda etapa de
filmagens: gravação
de entrevistas
Edição e finalização
70
6. Orçamento.
Descrição Quantidade Valor
Unitário
Valor Total
Fitas mini DV 11 R$ 12,00 R$ 132,00
Gasolina/Transporte 11 R$ 15,00 R$ 165,00
Microfone Lapela 1 R$ 159,00 R$ 159,00
Arte Gráfica 1 R$ 200,00 R$ 200,00
Capa / DVD 5 R$ 1,00 R$ 5,00
Mídia / DVD 8 R$ 1,20 R$ 9,60
Impressão / Capa
DVD
5 R$ 2,50 R$ 12,50
Impressão / DVD 8 R$ 4,70 R$ 37,60
Total
R$ 720,70
7. Público-alvo.
Atletas do futebol feminino, mulheres praticantes de outros esportes,
comunicadores (jornalistas esportivos e estudantes de comunicação) e
simpatizantes do esporte.
8. Fontes
Lisiane Linhares Nunes
Bianca Cristine Bonifácio
Mariana Augusta Santiago
Sara Rodrigues da Veiga
Alexandre Teodoro
Renata Costa
Bruna Oliveira Rosa