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FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS DE
PRESIDENTE PRUDENTE
ESPIRITUALIDADE E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Renan Lacerda Zaccharias
Presidente Prudente – SP
2013
FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS DE
PRESIDENTE PRUDENTE
ESPIRITUALIDADE E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Renan Lacerda Zaccharias
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado a Faculdade de Ciências Jurídicas, Contábeis e Administrativa de Presidente Prudente. Curso de Administração, Universidade do Oeste Paulista, como parte dos requisitos para a sua conclusão.
Orientador: Prof. Dr. Jerson J. da Silva
Presidente Prudente – SP
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela vida, agradeço ao meu amigo e orientador Jerson pela paciência e dedicação e agradeço também a professora Fátima Cristina.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a Isabela pelo incentivo e companheirismo em todo este período. Dedico também a minha mãe Miryan, irmãos Ricardo e Junior, tias e
amigos.
Epígrafe
Uma nova filosofia com enfoque holístico é a alternativa para combater o
materialismo de hoje e o nefasto modelo econômico, onde,
lamentavelmente, o que importa é o lucro, não as pessoas.
Leonardo Boff
RENAN LACERDA ZACCHARIAS
ESPIRITUALIDADE E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Trabalho de conclusão de curso, apresentado à Faculdade de Ciências Jurídicas, Administrativas e Contáveis, Curso de Administração, Universidade do Oeste Paulista, como parte dos requisitos para a sua conclusão.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________ Prof. Dr. Jerson Joaquim da Silva _________________________________ Profa. Fátima Cristina Luis Leonardo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.................................................................... 8
1.1 Problemáticas............................................................................................... 9 1.2 Hipóteses..................................................................................................... 9 1.3 Objetivos.......................................................................................................10 1.3.1 Objetivo Geral.......................................................................................... 10 1.3.2 Objetivos Específicos................................................................................10
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS....................................................................12
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................14
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS....................27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................31
Resumo
A espiritualidade no trabalho vem se mostrando como uma alternativa na gestão de equipes e na forma de liderar uma organização e seus colaboradores. Diante das inúmeras opressões existentes no ambiente organizacional, a concorrência predatória e desleal, o assédio moral, a pressão competitiva, o achatamento cada vez maior da estrutura hierárquica, o medo do desemprego, entre outros vários fatores, levam-nos a busca de um sentido, de um propósito de vida, de uma razão para viver e vencer os obstáculos do mundo corporativo. Portanto, a espiritualidade no trabalho pode ser um caminho para uma nova noção de valores, considerando que os colaboradores estão sempre em busca de um sentido, um significado e um propósito de vida no exercício de sua função, galgando a realização, fazendo com que o trabalho seja um “alimento” para a alma. Com isso, realizamos uma pesquisa
qualitativa de caráter bibliográfico, onde usamos referencial teórico de autores que tratam dessa temática nas organizações. A pesquisa mostrou que a espiritualidade praticada em forma constante, separada da religiosidade pode ser uma ferramenta eficaz na manutenção da qualidade de vida, otimizando relacionamentos, desenvolvendo a autoestima dos integrantes de uma equipe de trabalho. Podemos considerar, também, que a prática da espiritualidade, de modo constante, torna a pessoa mais resiliente, pois a fé praticada, é uma ferramenta salutar na manutenção da saúde.
Palavras-Chave: Espiritualidade, qualidade de vida, trabalho, organização.
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1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Observamos nos dias atuais, a busca de alternativas na forma de
administrar uma organização, buscando um tipo de liderança que mais se adeque
à realidade. Diante dos inúmeros conflitos existentes no ambiente organizacional,
gerados pela concorrência predatória e desleal, pelo assédio moral, pela pressão
competitiva e pelo achatamento cada vez maior da estrutura hierárquica, o medo
do desemprego, entre outros vários fatores, levam-nos à busca de um sentido, de
um propósito de vida, de uma razão para viver e vencer os obstáculos do mundo
corporativo.
Em consonância com as inúmeras mudanças sobre a maneira de se
enxergar a realidade atual, e com a quebra de antigos paradigmas, suscita a
necessidade de uma nova perspectiva quanto à gestão, tanto de pessoas, como
organizacional. Essa pode estar enraizada e solidificada na espiritualidade, em
que a organização e seus lideres reconhecem que seus colaboradores possuem
uma vida interior que é estimulada pela realização de uma tarefa, com sentido
num contexto existencial, superando a ideia do homem como apenas uma força
produtiva no desempenho de uma função, muitas vezes, monótona e sem
significado.
Pressupomos que o trabalho exerce uma função fundamental sobre
o ser humano, na esfera capitalista na qual vivemos e, muitas vezes, é por meio
dele que o indivíduo projeta suas realizações pessoais e materiais. Todavia, o
comprometimento e dedicação demasiada ao trabalho, isto é, a aplicação de
tempo, energia e vigor descomedido, levam-nos ao desequilíbrio na busca pela
realização em outros aspectos da vida.
Muitos não alcançam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal,
outros, apesar das dificuldades e de um mercado que exige cada vez mais,
alcançam essa harmonia. Esses profissionais têm sido valorizados pelas
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organizações, pois por serem pessoas equilibradas, conseguem direcionar suas
energias em seu propósito de vida.
Não obstante, ser um assunto pouco explorado e por não possuir
vasta bibliografia, o intuito desta pesquisa é cooperar na busca de informações e
conhecimentos sobre a espiritualidade nas organizações, desde sua possível
origem, seu significado, suas contribuições e sua aplicabilidade.
Pressupomos que as organizações no intuito de amenizar os
conflitos existentes, lançam mão de muitos expedientes para poder amenizá-los
em função das consequências de uma globalização que nos desafiam diariamente
na prática de nossas competências, acirrando a competitividade intra e inter
organizações.
Talvez esteja colaborando no sentido de ajudar a descobrir um novo
universo dentro das organizações e com isso, notamos que esse momento atual
conturbado, tem levado muitos gestores e seus gerenciadores permanecerem
abertos a qualquer possibilidade de ajuda.
Visualizamos que a tensão e a ansiedade têm sido muito intensas
na vivência diária no ambiente de trabalho das organizações, em decorrência de
relacionamentos interpessoais mal administrados, de conflitos camuflados, da
inveja, do medo da demissão, etc. Não se pode perder oportunidades e a
espiritualidade pode ser um expediente positivo ao mostrar-se como um caminho
adequado na busca dessa harmonia.
Contudo, não há possibilidade das organizações colherem os
expressivos frutos resultantes da espiritualidade, se empresários e seus gestores
não estiverem, verdadeiramente, envolvidos com seus propósitos. Acreditamos
que se qualquer organização quiser sobreviver, terá que promover radicais
transformações em si mesmas. Essas não se referem à estrutura, mas sim aos
valores, sem perder seus princípios.
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1.1 Problemáticas
Para darmos prosseguimento a esta pesquisa, inicialmente, torna-se
importante levantarmos algumas questões sobre a espiritualidade nas
organizações, que serão respondidas no decorres deste estudo.
De acordo com Rudio (apud Lakatos e Marconi, 2010, p. 225),
“formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível
e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos
resolver, limitando seu campo e apresentando suas características.”
Conforme explicitado pelos autores supracitados, as problemáticas
são questões que nos restringem, e que devemos, ao decorrer desta pesquisa,
respondê-las. Por meio deste conceito foram elaboradas as seguintes questões:
De que maneira as organizações encaram a questão da
espiritualidade?
De que forma a espiritualidade pode trazer benefícios às empresas?
Quais as desvantagens que a Espiritualidade pode apresentar na
organização e no relacionamento interpessoal?
1.2 Hipóteses
Tendo em vista responder as problemáticas levantadas, utilizamos
das hipóteses, que são respostas provisórias, as quais são possíveis soluções
para os problemas apresentados.
De acordo com Marconi e Lakatos (2001, p. 161):
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A hipótese é um enunciado geral de relações entre variáveis (fatos, fenômenos), formulado como solução provisória para determinado problema, apresentando caráter explicativo ou preditivo, compatível com o conhecimento científico (coerência externa) e revelando consistência lógica (coerência interna), sendo passível de verificação empírica em suas consequências.
Foram levantadas algumas hipóteses para nossa pesquisa:
Presumimos que as organizações manifestam três tipos de
comportamento com relação à espiritualidade, uma delas é a abertura e o estímulo
à espiritualidade de seus colaboradores, porém agindo com imparcialidade face a
pluralidade de religiões. Existem as organizações que, por meio de seus sócios,
demonstram sua predisposição a um segmento religioso e diante disso contratam
apenas colaboradores que professam a mesma fé. E por último, existem as
organizações que são indiferentes à espiritualidade, não exercendo nenhum
estímulo a prática da mesma.
Pressupomos que uma organização espiritualizada busca na
realização da sua missão atingir um objetivo maior do que aspectos materiais. Por
meio da ética e baseada em princípios, a organização alicerça seus valores
transmitindo-os aos seus colaboradores, trabalhando em comum para uma maior
harmonia no ambiente organizacional.
Vemos que, assim como o ser humano é detentor da racionalidade,
esse possui, também, uma espiritualidade, sendo ela uma dimensão universal. No
entanto, a religião pode ser a forma de como o indivíduo organiza e expressa a
sua espiritualidade.
Acreditamos que uma organização espiritualizada tem seus valores
enraizados em princípios morais e éticos e diante desses valores existe um
comprometimento com a verdade e com a probidade, despertando em seus
colaboradores confiança.
Supomos que a espiritualidade, quando tratada com imparcialidade e
respeito pela organização, gera inúmeros benefícios, no entanto, quando há uma
predisposição à um gênero espiritualista, isto é, a uma religião, diante da
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pluralidade existente na atualidade, essa preferência pode levar a conflitos
nocivos no ambiente organizacional.
1.3 Objetivo
Segundo (LAKATOS e MARCONI, 1991), Objetivo responde a
questão para que e para quem, e apresenta o tema, a delimitação do tema, o
objetivo geral e específico.
1.3.1 Objetivo geral
Segundo (LAKATOS e MARCONI, 1991), Objetivo geral é a visão
ampla do tema que demonstra diretamente a principal proposta da tese. A
presente pesquisa busca em seu objetivo geral obter informações sobre como a
espiritualidade pode interferir nas organizações e no seu interior.
1.3.2 Objetivos específicos
Do objetivo geral, emanaram os seguintes objetivos específicos:
Estudar o papel da espiritualidade no ambiente organizacional.
Analisar como a espiritualidade interfere na administração e na liderança de
uma organização, bem como o impacto desta em seus colaboradores.
Apontar como as organizações lidam com a espiritualidade, assim como
analisar seus aspectos positivos e negativos.
Este trabalho está organizado em cinco capítulos, sendo que a
introdução constitui o capítulo um. Nele, estão inseridos a justificativa do tema; os
problemas que emergiram os objetivos; os objetivos, tanto o geral como os
específicos e as hipóteses, como possíveis explicações plausíveis dos
questionamentos levantados.
O capítulo dois aborda a metodologia adotada na busca dos
resultados pretendidos. Teve uma abordagem qualitativa e por se tratar de uma
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pesquisa bibliográfica, não se fez uso de instrumentos como a entrevista,
observação participante e questionário.
Os capítulos três e quatro trabalham com o referencial teórico. Pelo
fato de escassez de material bibliográfico, poucos autores foram pesquisados.
Lançamos mão, também de material da internet, através de artigos publicados
com autores que abordam e discutem tal temática.
A discussão e análise dos resultados estão no capítulo cinco. Nele
discutimos a percepção da espiritualidade e foram discutidos os dados coletados
que viessem ao encontro dos objetivos propostos enquanto projeto.
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2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Todo trabalho que se intitule científico, necessita de métodos como
forma de assegurar que os resultados encontrados são de fato verdadeiros.
Segundo Cervo e Bervian (2006 p.63): “a pesquisa é uma atividade
voltada para a solução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de
processos científicos”. De acordo com o que foi dito pelo autor, a pesquisa foi
direcionada para reflexão sobre a questão da espiritualidade no ambiente de
trabalho, e para tanto, utilizamos como instrumento de coleta de dados, a
pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória, tendo uma abordagem qualitativa.
Oliveira (2001, p.117) aponta que:
As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a integração de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formatação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.
Para Lakatos e Marconi (2003, p.83) “[...]o método é o conjunto das
atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo[...]”, assim sendo método é o conjunto de
procedimentos e etapas que serão tomadas para se chegar a um objetivo, o
estabelecimento dos métodos de pesquisa é de extrema importância em um
trabalho científico, pois estes ajudaram a tornar mais claros e precisos os
procedimentos mais eficazes e menos custosos para se chegar a resultados
confiáveis e seguros.
Dessa forma, o presente trabalho de pesquisa utilizou-se da
seguinte abordagem:
- Qualitativa – Gil, (1999), considera que há uma relação dinâmica entre o mundo
real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. Afirma, ainda,
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que a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no
processo de pesquisa qualitativa.
- Pesquisa bibliográfica, segundo Lakatos e Markoni (2003, p.183) “A pesquisa
bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública
em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais,
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc [...]”.
Portanto, esse estudo foi realizado de forma bibliográfica,
qualitativa e descritiva, pois o pesquisador foi pesquisar a respeito do tema
proposto em livros, artigos e monografias para então, após embasamento
comprovado e confiável, apresentar suas próprias teorias sobre o tema e
conclusões sobre as problemáticas apresentadas.
Quanto aos objetivos da pesquisa, a mesma foi:
- Exploratória, pois visou proporcionar maior familiaridade com o problema com
vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, envolvendo levantamento
bibliográfico.
- Descritiva, pois descreveu as características que determinaram o fenômeno, no
caso a espiritualidade no ambiente de trabalho e as relações com a qualidade de
vida dos trabalhadores.
- Explicativa, pois procurou identificar os fatores que esclarecem a ocorrência dos
fenômenos, aprofundando o conhecimento da realidade, isso porque explica a
razão, o “porquê” das coisas.
A pesquisa foi realizada nos meses de julho a setembro de 2013.
Portanto, ela procurou discutir, à luz de referencial teórico, a questão
da espiritualidade, possibilitando ao eleitor uma reflexão sobre esta problemática
no ambiente de trabalho e sua implicação nos relacionamentos e na busca de
resultados.
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3 A BUSCA PELA ESPIRITUALIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO
A busca pela espiritualidade está, constantemente, presente na
história da humanidade, apesar de demonstrada de diversas formas, porém em
sua maioria, explícita por meio da religião. Assim como o ser humano é detentor
da racionalidade, este possui também a espiritualidade, e como este ser possui
necessidades fisiológicas, como alimentação, descanso, afeto, entre outros, o ser
humano possui também necessidades espirituais por meio da fé, esperança e
confiança em um plano superior.
Apesar do fato de que as pessoas passam a maior parte de suas
vidas dentro das organizações, onde o principal objetivo é o sucesso de uma
carreira e o acúmulo de capital, o fator espiritual continua presente, mesmo que
adormecido, porém quando a espiritualidade é despertada pode contribuir para um
melhor aprendizado no trabalho, reciprocidade, harmonia, e acima de tudo uma
forma de alcançar a plenitude e satisfação pessoal.
De acordo com Ashmos e Duchon (2000), embora a espiritualidade
não seja um tema novo, a sua aplicabilidade no ambiente profissional ainda se
encontra no início, e quiçá por esse motivo ainda seja visto com receio por muitas
organizações e seus líderes. Nesse sentido, torna-se de grande valia a exploração
sobre o tema e seus efeitos no mundo corporativo, pois a combinação entre
Espiritualidade e trabalho é um assunto que vem despertando interesse de
pessoas, concordem as empresas ou não.
Segundo Briskin (1997, p.35) “quanto mais compulsivamente
materialistas nos tornamos, mais desesperada e neurótica se torna nossa busca
pela satisfação espiritual”. Desse modo, entendemos que a busca por um sentido
de vida por meio do consumo exacerbado e do acúmulo de bens, não leva o ser
humano a plenitude da satisfação, deixando então a busca da espiritualidade
como forma de encontrar um sentido para a vida.
De acordo com Eisler e Montuori (2003, p. 51):
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As conversas reinantes sobre o paradigma espiritual nos ambientes de trabalho e nas práticas de fazer negócios, em que prevalece o respeito pela dignidade e direitos humanos e pela implementação de políticas responsáveis em termos sociais e ambientais, representam uma relevante forma de parceria.
Com base nos argumentos apresentados pelo autor, podemos
encontrar algumas respostas para a questão do despertar da espiritualidade
atualmente nas organizações, isto é, já não é mais interessante para as empresas
objetivar apenas lucros crescentes, crescimento de produção, muito embora essa
política egoísta ainda venha sendo amplamente aplicada.
Levar somente em consideração os interesses e a lucratividade dos
acionistas, esquecendo-se da importância da qualidade de vida de seus
colaboradores, levam-nos a ambiente de trabalho hostil, emocionalmente tóxico,
altamente estressante, aumentando o turnover, absenteísmo e limitando a
criatividade. Desse modo, a implantação da espiritualidade não traz apenas
benefícios para o negócio, aumentando a lucratividade, mas também para todos
os colaboradores, de todos os níveis hierárquicos.
Outro fator importante que tornou relevante o encontro entre
espiritualidade e a organização, é a desvalorização e a degradação do capital
humano. Temos visto demissões em massa em virtude de grandes fusões, desde
as pequenas até as gigantescas organizações, o enxugamento da estrutura
hierárquica visando à diminuição de custos, a substituição do homem pelo
computador, tudo isso trazendo grandes incertezas e preocupações, diminuindo o
padrão de vida e perspectivas de carreira do trabalhador.
“Trabalhar até os limites extremos do desempenho na era da
informação exige uma espécie de resistência potencialmente tão destrutiva quanto
à força física exigida na era industrial” (BRISKIN, 1997, p. 154). Todavia, é
possível considerar que o desgaste atual é tão nocivo quanto ao praticado nos
primórdios da era industrial, onde o trabalhador era exposto a uma carga horária
de dezesseis horas de trabalho.
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De acordo com Lennick e Kiel (2005, p. 174)
Apesar das boas intenções, demissões devem ser feitas pelo bem das organizações, dos seus clientes, acionistas e dos empregados que permanecem. Contudo, a maneira como esse assunto é manejado revela mais sobre o caráter dominante na corporação do que qualquer outra atividade.
Com base nos argumentos do autor, supomos que apesar de
algumas demissões serem inevitáveis, muitas vezes elas são feitas como forma
de terrorismo aos demais colaboradores que permanecem, servindo de ameaça,
levando a altos níveis de insegurança.
Segundo Vasconcelos (2008, p. 10):
É inegável que a espiritualidade tem uma ligação umbilical com o nosso trabalho. É por meio dele que externamos a educação ética, os valores morais e os princípios de cidadania que aprendemos ao longo da existência. Ao falarmos na assimilação dessas dimensões, estamos falando na projeção e exteriorização da nossa própria espiritualidade.
Segundo o autor, a espiritualidade e o trabalho estão interligados,
pois é no ambiente de trabalho, em nossa convivência com outros colaboradores
que exteriorizamos toda nossa bagagem ética e moral adquirida durante a vida,
fatores presentes na espiritualidade, ou em diversas religiões.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Kurt (2003) argumenta que o
trabalho e o crescimento espiritual andam juntos. Diante disso, o inverso também
procede. Nesse crescimento existe a possibilidade de disseminar no ambiente
corporativo valores éticos e morais, respeito à vida e meio ambiente,
reconhecendo que tudo que envolve a vida tem valor sagrado.
Portanto, inferimos que a espiritualidade no trabalho, pode ser um
caminho para uma nova noção de valores, considerando que os colaboradores
estão sempre em busca de um sentido, um significado e um propósito no exercício
de sua função, buscando a realização, fazendo com que o trabalho seja um
alimento para a alma.
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Acreditamos que apesar das promessas da modernidade em levar a
vida a uma satisfação, tanto na vida particular quanto no ambiente organizacional,
com inúmeras facilidades que o mundo globalizado oferece à humanidade nos
tempos atuais, o estímulo ao acúmulo de capital e o consumismo levando muitos
à ilusão de uma felicidade efêmera, no entanto, notamos que o despertar para a
espiritualidade, seja em virtude da frustração em não encontrar satisfação neste
materialismo oferecido pela modernidade, pode ser uma ferramenta muito eficaz
para a autoestima do trabalhador.
Pressupomos que as pessoas passaram a acreditar e a notar que
são apenas peças de descarte em um grande sistema, onde não se leva em
consideração a posição hierárquica na organização, tampouco o suor derramado e
dedicação em benefício da empresa. A estabilidade nas organizações vem
cedendo espaço cada vez maior à insegurança. A falta de ética vem sendo
praticada pelas organizações para com seus funcionários e justificada por
subterfúgios inválidos e desleais.
O paradigma atual ainda em vigência, solidificado no capitalismo, é
por muitas vezes desprovido de qualquer sensibilidade à satisfação de seus
colaboradores. No entanto, um dos intuitos desta pesquisa é levar a consciência
dos benefícios da espiritualidade, e mostrar que é possível reverter a situação
atual, e mostrar que a espiritualidade tem se mostrado um paradigma emergente,
pois os colaboradores vêm apresentando sinais de insatisfação com a estrutura
atual carente de valores morais e éticos.
Contudo, a busca pela posse da razão tem causado conflitos ao
longo da história das empresas e, ainda, é responsável pela perda de muitos
talentos. A espiritualidade no trabalho consiste também em usar seus sentidos,
tornando o trabalhador um observador mais ponderado, respeitando limites. Para
isso é necessário ter sentimentos sem nenhum tipo de preconceito.
Com uma visão mais profunda e menos crítica de tudo ao seu redor,
todo profissional desfrutará da possibilidade de relacionar-se melhor com as suas
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idéias e as dos outros, buscando resultados positivos, não somente nas metas,
mas, também, na certeza de estar agindo pelo bem.
Finalizando, entendemos que a espiritualidade é um processo de
crescimento e maturidade da sua essência como ser humano, daquilo que está
além do físico e habita o etéreo. Está além da mente! Ela pode vencer a mente.
Portanto, supomos que nas organizações, enquanto a motivação
incentiva à competição, a espiritualidade incentiva ao compartilhamento. Em uma
organização voltada à motivação, somente o lado profissional vence, enquanto
numa que está voltada à espiritualidade, o trabalhador vence por completo, ou
seja, na esfera física, no lado emocional e na magnitude espiritual.
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4 CONCEPÇÕES SOBRE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
O termo Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) foi muito ressaltado
por Louis Davis na década de 1970 quando desenvolvia um projeto sobre desenho
de cargos. Para ele, conceito Qualidade de Vida no Trabalho, refere-se à
preocupação com o bem-estar geral e a saúde dos colaboradores no desempenho
de suas atividades.
De acordo com Rodrigues (2007, p. 76), “a qualidade de vida no
trabalho tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência
com outros títulos em outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer
satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução de suas tarefas”.
Muito se tem falado sobre a qualidade de vida no trabalho. Mas a
satisfação no trabalho não pode ser isolada da vida do indivíduo como um todo.
Segundo Rodrigues (2007, p. 93), “os empregados que possuem uma vida familiar
insatisfatória tem o trabalho como o único ou maior meio para obter a satisfação
de muitas de suas necessidades, principalmente as sociais”. Com isso, o trabalho
assume dimensões enormes na vida do homem.
Portanto, pressupomos que o crescimento da qualidade de vida no
trabalho, está ligado ao conjunto de ações das empresas para a implantação de
melhorias e inovações tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da
qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que a empresa e as
pessoas estão focadas em um só objetivo, tornando-se como um todo, e nesse
sentido, a espiritualidade torna-se uma ferramenta eficaz na obtenção dessa
meta.
De acordo com Limongi-França, (2007), o movimento pela Qualidade
de Vida no Trabalho surgiu a partir da segunda metade do século XX, com o
objetivo de melhorar as condições de trabalho dos colaboradores e,
consequentemente, incrementar seu desempenho para as empresas.
Vale ressaltar que o desafio imaginado pelos seus idealizadores
persiste, isto é, tornar a QVT uma ferramenta gerencial efetiva e não apenas mais
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um modismo, como tantos outros que vêm e vão. E esse desafio torna-se mais
instigante neste momento em que nos vemos às voltas com uma rotina diária cada
vez mais desgastante e massacrante.
Quando se pensava que os seres humanos poderiam finalmente
desfrutar do rápido progresso alcançando em várias ciências, paradoxalmente o
que temos visto atualmente é que as pessoas têm trabalhado cada vez mais, e,
por extensão, têm tido menos tempo para si mesmas.
Contudo, podemos supor que qualidade de Vida no Trabalho é a
busca inevitável da qualidade inserida no meio das organizações, onde o intuito é
estar preparado para o mercado cada vez mais acirrado, onde as empresas
necessitam da velocidade das informações do mundo globalizado.
4.1 Qualidade de Vida no Trabalho e seu impacto no trabalhador
De acordo com Etzioni (2004, p. 9), “as organizações são unidades
sociais, intencionalmente constituídas e reconstituídas, a fim de atingir objetivos
específicos”. As organizações dependem das condições de pensar e de fazer da
sociedade a que inserem. As organizações estabelecem linhas mestras para suas
atividades. Os objetivos constituem, também, uma fonte de legitimidade que
justifica as atividades de uma organização e, na verdade até sua existência.
As organizações são sistemas sociais. As organizações combinam
ciência e pessoas, menos tecnologia e humanismo. A tecnologia é suficientemente
difícil entre si mesma. Mas quando se junta às pessoas, chega-se a um sistema
social imensamente complexo cuja compreensão é realmente desafiante.
A sociedade deve compreender as organizações e fazer delas um uso adequado porque são necessárias para que se atinja os benefícios da civilização. Elas são necessárias para a paz mundial, para o sucesso do sistema de ensino, bem como para outros objetivos benefícios que as pessoas perseguem. O progresso da nossa sociedade depende de organizações eficazes (DAVIS e NEWSTRON, 1992, P. 4).
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Portanto, pressupomos que o comportamento humano nas
organizações, é bastante imprevisível, isso ocorre porque ele nasce das
necessidades humanas e dos sistemas de valores. Todavia, ele pode ser
parcialmente compreendido em termos de pressupostos das ciências do
comportamento da administração e outras disciplinas.
Entendemos que não existem fórmulas simples para se trabalhar
com pessoas. Não existe uma solução perfeita para os problemas da organização.
Tudo o que pode ser feito é aumentar o nosso conhecimento e habilidades de tal
forma que os relacionamentos no trabalho possam ser mais bem avaliados. Os
objetivos são desafiadores e valem a pena.
A tecnologia de qualidade de vida no trabalho pode ser utilizada para
que as organizações renovem suas formas de organização no trabalho, de modo
que, ao mesmo tempo em que se eleva o nível de satisfação pessoal, eleve-se
também a produtividade das empresas como resultado de maior participação dos
empregados nos processos relacionados ao seu trabalho.
A grande lição da teoria organizacional é a de que os indivíduos que compõem uma organização e sobre tudo os membros menos categorizados na hierarquia, recusam-se a ser tratados como instrumentos e reivindicam, através de comportamentos, que a elite administrativa frequentemente define como ineficientes, e ineficazes, a sua condição humana (RODRIGUES, 2007, p. 52).
Um programa de qualidade de vida no trabalho tem como meta,
gerar uma organização mais humanizada e também mais espiritualizada, na qual
os trabalhadores envolvem, simultaneamente, relativo grau de responsabilidade e
de autonomia em nível do cargo, recebimentos de recursos de feedback sobre o
desempenho, com tarefas adequadas, variedade, enriquecimento pessoal do
indivíduo.
É evidente que nem todos os problemas de produtividade das
empresas, e nem todo tipo de insatisfação do empregado, em qualquer nível,
podem ser resolvidos pela qualidade de vida no trabalho, mas com a
espiritualidade praticada, esses tornam-se mais amenos.
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A palavra que designa QVT é, portanto, “respeito” e não
“produtividade”, ou melhor, “humanismo”, e não “eficiência”. Humanismo segundo
Amatuzzi (1999, p. 90), “pode ser aplicado a qualquer filosofia que coloque o
homem no centro de suas preocupações, em relação a um desprezo pelo que é
essencialmente humano, como o trabalho, por exemplo”.
Para Limongi-Franca (2007, p. 51) “o trabalho submetido à ditadura
de princípios econômicos jamais conduzirá ao pleno desenvolvimento do homem.
E este será apenas possível quando, ao lado de diretrizes técnicas [...], o trabalho
for regulado por imperativos de natureza ética”.
Para Rodrigues (2007, p. 83), “a expressão qualidade de vida tem
sido usada com crescente frequência para descrever certos valores ambientais e
humanos, negligenciados pelas sociedades industriais em favor do avanço
tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico”.
Tendo como base as falas de Rodrigues (2007), pressupomos que a
qualidade de vida visa, além da saúde física e mental, proporcionar satisfação ao
trabalhador em decorrência do trabalho que ele executa.
Nesse sentido, entendemos que a satisfação é um conjunto de
sentimentos favoráveis ou desfavoráveis com os quais os empregados vêem seu
trabalho. Há uma diferença importante entre estes sentimentos associados ao
cargo e dois outros elementos das atitudes dos empregados. Satisfação do
trabalho é um sentimento de relativo prazer ou dor que difere de raciocínios
objetivos e de intenções comportamentais.
Em conjunto, estes três componentes do conceito de atitude ajudam
os administradores a compreenderem as relações dos empregados em relação ao
tipo de trabalho que executam e a preverem o efeito destas reações sobre o
comportamento futuro. A satisfação do trabalho pode ser encarada como uma
atitude global ou então, ser aplicada a determinadas partes do cargo ocupado pelo
funcionário.
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A valorização humana na empresa importa na consideração da plenitude de realização do homem, cujos referenciais para nós são os quatros polos existenciais: fé, amor, trabalho e lazer. Esses são os fundamentos de uma política de valorização do ser humano no trabalho, que compreende, em uma visão integrada, as funções clássicas de recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvimento gerencial, benefícios, cargos e salários, avaliação de desempenho, promoção sucessão e comunicação interna (MATOS, 1997, p. 17).
A satisfação do trabalho, como qualquer outro tipo de atitude, é
geralmente formada durante determinado período de tempo, na medida em que o
empregado vai obtendo informações sobre o ambiente de trabalho. Todavia, a
satisfação no trabalho é dinâmica uma vez que se pode deteriorar-se muito mais
rapidamente do que o tempo necessário para se desenvolver.
Os administradores não podem estabelecer as condições que levam
hoje à satisfação mais elevada e não dar atenção, ainda mais porque as
necessidades dos empregados podem mudar de repente. Os administradores
precisam prestar atenção nas atitudes dos colaboradores semana a semana, mês
após mês, ano após ano.
Segundo Davis e Newstron (1992, p. 123), “a satisfação no trabalho
representa uma parcela da satisfação da vida [...] a satisfação no trabalho
influencia também o sentimento de satisfação global com a vida de uma pessoa”.
Portanto, entendemos que a qualidade de vida pode, sim, ser fruto
de uma espiritualidade praticada pela empresa e internalizada pelo colaborador,
despertando nele uma autoestima mais presente em todas atitudes praticadas por
esse nas suas tarefas diárias.
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5. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A PESQUISA
Por meio de uma vasta pesquisa sobre espiritualidade e qualidade de
vida no trabalho, em que no referencial teórico buscamos as mais variadas
concepções sobre esses dois temas, e nesse sentido, procuramos, neste capítulo
tecer uma interface entre os dois e em forma de discussão e descrição, traçar
alguns comentários que julgamos ser pertinentes à elucidação dos propósitos da
pesquisa.
De tudo que foi abordado e pesquisado, supomos que a
espiritualidade no trabalho é saber conviver com a diversidade generalizada,
desde o ponto de vista das ideias até as emoções. Somente com uma maturidade
espiritual existe a possibilidade de substituirmos a comodidade de estar com a
razão para massagear o cargo, pelo sentimento de prioridades que a função exige
e que a organização precisa para proporcionar um ambiente de trabalho
agradável.
Supomos, também, que profissionais espiritualizados são muito mais
sensíveis, razão pela qual os tornam mais próximos de seus clientes e capazes de
sugerir soluções em diversas áreas. A espiritualidade extermina o interesse pelo
negócio e implanta o respeito e interesse por uma constante troca de
possibilidades, com resultados positivos para ambas as partes.
Por outro lado, cabe ressaltar que espiritualidade não é
motivação. Motivação é um estado de performance que podemos desenvolver
todos os dias atuando com técnicas pré-estabelecidas, pois somos os únicos
elementos da natureza que geneticamente fomos projetados pelo universo com
"design motivante".
Dessa maneira, entendemos que a espiritualidade é o centro de um
universo de máxima compreensão de nossos pecados capitais e de nossos
“diabinhos interiores” e, ainda, de nossa verdadeira missão neste planeta: um
movimento universal pelo bem e respeito ao próximo. A espiritualidade não está
baseada em fatos passados como as religiões, pois ela vive, a cada dia, o seu
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presente e mostra o seu futuro em favor do seu próximo.
Uma outra hipótese que podemos considerar é que a
espiritualidade é a qualidade de espiritual. Vemos esse espiritual como “tudo o que
não é material” ou como o encontro pessoal com a divindade (energia ou força
criadora), enfim, com aquilo que transcende a materialidade do homem. Podemos
dizer que a espiritualidade é algo que surge de dentro para fora do indivíduo. No
meio empresarial é tomar decisões de negócios com outros critérios que não só os
racionais, lógicos, objetivos, econômicos, financeiros e técnicos.
Enquanto que religiosidade é a qualidade de religioso, é a disposição
para a religião. É a repetição do “caminho” para voltar a ter o encontro com o
divino, através de orações, ritos, danças sagradas, etc. Quando esse caminho é
formatado com dogmas, leis, escritos, mandamentos, doutrinas, rituais próprios,
preceitos éticos, estrutura para a formação de religiosos, controle da qualidade
dessa formação, e se cristaliza numa identidade com conteúdo intelectual, aí
temos uma religião. As grandes religiões do mundo estabeleceram as normas do
comportamento ético. Temos como exemplo, os Dez Mandamentos. A religião é
algo que vem de fora para dentro do indivíduo.
A Humanidade (ou seja, nós!) está numa encruzilhada: ou acha um
novo caminho, ou mergulha definitivamente num estado de tecnização, de
desumanização, de caos moral, de completa automatização despersonalizada.
Devemos tomar o destino em nossas mãos, livres, conscientes, mas tendo como
ideal uma nova imagem do homem. Isso implica numa espiritualização lenta do
nosso mundo, por nós mesmos. Implica em ver sentido no que fazemos
profissionalmente. Em podermos exercitar solidariedade, compaixão, altruísmo,
respeito pelo pequeno e pelo diferente de nós, cidadania, responsabilidade social.
Todavia, temos que desenvolver a nossa consciência; dominar a
terra (o material) e espiritualizar-nos ao mesmo tempo. Mas, o que tem ocorrido é
que o homem está cada vez mais unilateral e sem a consciência desse processo.
Ele, ou inconscientemente despreza a terra e só valoriza o espiritual, ou nega o
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espiritual, achando que tudo se explicará e resolverá com a ciência, a matemática
e o racional.
Mario Kamenetzky, da World Business Academy, numa palestra,
contou a história de um jovem engenheiro, assessor de um presidente de um
conglomerado alimentício. Querendo contribuir com o negócio, após fazer um
minucioso estudo, o jovem apresentou ao presidente um plano de centralização de
dez unidades de processamento espalhadas em pequenas cidades, com o
fechamento das outras nove e dispensa de seus funcionários. Após digerir o
estudo, com todos os cálculos de retornos financeiros, que faziam grande sentido,
o presidente olhou o jovem e disse: “Engenheiro! E o aspecto humano, onde
está?” Esse presidente estava trazendo a espiritualidade para os negócios.
Vivemos um paradoxo muito estranho: de um lado falamos em
forças produtivas da economia e vemos uma explosão da produtividade. E de
outro, quando vemos os efeitos dessa produtividade (como desemprego,
influência na cultura de países subdesenvolvidos, cultura do consumismo, efeitos
na natureza e ecologia) podemos falar em forças destrutivas da vida econômica.
No limite, quando tivermos produtividade infinita teremos o mercado de consumo
com poder de aquisição zero, porque estarão todos desempregados.
Notamos que, com as revoluções tecnológicas e a
globalização, estamos vivenciando o chamado para que a vida econômica assuma
o bastão das grandes transformações da sociedade. Só que, com esse bastão,
vem junto a necessidade da responsabilidade ou, em outras palavras, da
consciência.
Estamos, portanto, no começo de uma nova era. Uma era de
mudanças para novos paradigmas. Um processo em que já temos novas
responsabilidades, mas para as quais ainda não desenvolvemos e consolidamos
totalmente novos critérios (ou paradigmas, ou valores) e no qual não poderemos
ser espectadores. Na vida econômica, em cada decisão que tomamos, somos os
atores principais e isso requer cuidado.
Na concepção de Boff, filósofo e teólogo, para se chegar ao
cuidado, devemos encontrar a justa medida, o equilíbrio entre o mais e o menos, o
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que ele chama de “a regra do ouro”. É na ética que a justa medida deve ser
buscada, com equilíbrio, para se chegar ao melhor cuidado possível com o
planeta, com a ecologia, com a sociedade sustentável, com os pobres, oprimidos
e excluídos, com o nosso corpo na saúde e na doença, com a cura integral do ser
humano, com o nosso espírito e, finalmente, com a morte, que ele chama de “a
grande travessia”. Com a prática da espiritualidade, tanto a nível pessoal como
profissional, torna a travessia mais tranquila e menos traumática.
Como vimos, precisamos praticar a espiritualidade no trabalho e em
todos os lugares, com dedicação e alegria, pois vivenciar a espiritualidade
somente nos templos não é o mais correto, visto que as religiões se constituem
apenas como uma das portas para o espiritual.
Leonardo Boff, já citado, defende a tese de que as religiões ainda
que revitalizem uma dimensão da existência, o espaço institucional do sagrado e o
seu poder histórico-social, não conseguem gerar nas pessoas um modo de ser
mais solidário e nem origina uma espiritualidade capaz de tudo religar, inclusive no
Deus criador. O importante, destaca Boff, não são as religiões, mas sim a
espiritualidade subjacente. A espiritualidade, sim, é capaz de ligar, religar e
integrar. A espiritualidade, sim, é o paradigma (o modelo, o padrão) da nova
civilização.
Vale aqui a lembrança do maior líder que a humanidade já conheceu,
Jesus Cristo. Ele vivenciou a sua espiritualidade com muito amor e alegria em
todos os lugares em que esteve, e diga-se, de passagem, muito pouco atuou
dentro de templos.
Urge de forma premente a necessidade de sermos integrais, seres
espirituais em todos os lugares e em nosso trabalho, preservando o meio
ambiente, cuidando inclusive dos animais, vivendo com amor, com alegria,
respeitando todos os seres, confiando nas pessoas, vendo-as com
parceiras, interagindo com empatia, para melhor entender o nosso semelhante, e,
por fim, servindo ao próximo com o melhor de nós, numa interação que frutificada
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em reciprocidade criará o verdadeiro laço fraterno, quando efetivamente
estaremos sendo, como de fato o somos, irmãos em espírito.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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