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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial Kleber Rodrigues do Nascimento VALORES PESSOAIS DOS CONSUMIDORES RECIFENSES DA CLASSE C PRESENTES NO CONSUMO DE SMARTPHONES RECIFE Maio,2016

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

Kleber Rodrigues do Nascimento

VALORES PESSOAIS DOS CONSUMIDORES RECIFENSES DA CLASSE C

PRESENTES NO CONSUMO DE SMARTPHONES

RECIFE

Maio,2016

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Kleber Rodrigues do Nascimento

VALORES PESSOAIS DOS CONSUMIDORES RECIFENSES DA CLASSE C

PRESENTES NO CONSUMO DE SMARTPHONES

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do grau de

Mestre em Gestão Empresarial do Centro

de Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração – CPPA da Faculdade Boa

Viagem - DeVry Brasil, sob a orientação

da Profa. Dra. Janaína de Holanda Costa

Calazans.

RECIFE,

Maio de 2016

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Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

N244v Nascimento, Kleber Rodrigues do. Valores pessoais dos consumidores Recifenses da classe C

presentes no consumo smartphones / Kleber Rodrigues do

Nascimento. – Recife: FBV | DeVry, 2016.

71 f.

Orientador(a): Janaina de Holanda Costa Calazans.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

Inclui apêndice.

1. Classe C. 2. Nova classe média. 3. Valores. 4. Valores

pessoais. 5. Smartphones. I. Título. DISS

658[16.1]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à minha orientadora, Professora Doutora Janaína de Holanda Costa

Calazans, pela paciência, compreensão e estímulo durante todo o tempo que convivemos na

sala de aula e nas orientações desta Dissertação.

Sou grato a todos os meus professores do MPGE pela imensa contribuição na jornada de

busca pelo conhecimento.

Agradeço aos professores Olímpio José de Arroxelas Galvão e Daniel Lins Barros, meus

avaliadores, pelas valiosas contribuições.

Aos colegas de turma, muito obrigado pelos momentos e conhecimentos compartilhados de

maneira tão respeitosa que durante estes dois anos de alegrias, preocupações, ansiedade,

aprendizagem e, sobretudo, amizade que marcaram nossa passagem pelo MPGE.

Agradeço, de todo o coração, à minha esposa Ana Paula e minha filha Ana Clara, por

compreender as minhas ausências e me suportar principalmente quando a minha impaciência

era tão evidente.

Agradeço à minha mãe, Estelita Rodrigues, pelo estímulo, pelo carinho e dedicação ao longo

de toda a minha vida.

Não poderia deixar de agradecer ao senhor Artur Heider, gerente de compras da Rede Eletro

Shopping por viabilizar a realização das pesquisas de campo e dar o suporte necessário

juntamente com a sua equipe gerencial.

Agradeço à coordenação do MPGE, aos diretores da Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil e

a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho.

Finalmente, sou grato a Deus. Pois me deu forças, reacendeu a esperança e, a despeito das

adversidades que passei, me tornou um vencedor.

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RESUMO

O fenômeno recente da inserção dos participantes da classe C na sociedade de consumo, bem

como o seu deslumbramento com as possibilidades de aquisição de bens eletrônicos é

evidenciado pelo sentimento de aceitação e pertencimento social acomodado pelo consumo de

produtos supérfluos que proporcionam prazer no ato de adquirir e reconhecimento social por

possuir. A utilização cada vez mais frequente de estratégias de marketing, objetivando a

substituição de produtos que funcionam perfeitamente por outros mais modernos, tem

sensibilizado a nova classe média, que é neófita no mercado de consumo. Apelos emocionais

sobrepondo os valores individuais sobre coletivos, objetiva atrair e envolver os consumidores

no processo de aquisição de produtos eletrônicos supérfluos. Aspectos como atributos do

produto, percepção de valor da marca , preço, e reconhecimento social têm sido

constantemente adaptados às necessidades e desejos da classe C, também chamada de nova

classe média por ser nova ingressante no mercado do consumo. A investigação tem caráter

qualitativo utilizando a técnica de entrevista em profundidade e proporciona uma

compreensão aprofundada do comportamento dos valores pessoais do consumidor de

smartphones na cidade do Recife.

Palavras chaves: classe c; nova classe média; valores; valores pessoais; smartphones.

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ABSTRACT

The recent phenomenon of insertion of the lower middle class in the consumer society, as

well as its enchantment with the possibilities of acquiring electronic goods is evidenced by the

feelings of acceptance and social belonging accommodated by consumption of superfluous

products that provide pleasure when they‟re bought and social recognition for owning them.

The increasing use of marketing strategies aiming the replacement of products that are

working perfectly and their substitution by more modern ones has touched the new middle

class, which is neophyte at consumption market. Emotional appeals overlapping individual

values over collective ones, aim to attract and to involve the consumers in the acquisition

process of superfluous electronic products. Aspects such as product‟s attributes, brand

perception value, price and social recognition have been constantly adapted to the needs and

desires of the lower middle class, which is also called the new middle class for being the new

entrant into the consumer market. The research has a qualitative nature using in-depth

interview method that provides a deepen comprehension of the personal values of Smartphone

consumers behavior from Recife.

Key words : class c ; new middle class ; values , personal values; smartphones .

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas

AMA American Marketing Association

BRICS Brasil, Rússia , Índia , China e África do Sul

CCEB Critério de Classificação Econômica Brasil

CPS Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas

FGV Fundação Getúlio Vargas

FMI Fundo Monetário Internacional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMF International Monetary Fund

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio

PIB Produto Interno Bruto

SAE Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - BRICS - Principais indicadores ............................................................................... 12

Tabela 2 - Critério Brasil 2014 ................................................................................................. 17

Tabela 3 - Fatores de consumo para a população de baixa renda............................................. 18

Tabela 4 - Tabela de categorização e descrição de ladders ...................................................... 50

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura dos valores de Schwartz ........................................................................... 28

Figura 2 - Relação entre constructos e o lócus ........................................................................ 33

Figura 3 - Cadeia meios-fim ..................................................................................................... 40

Figura 4 - Matriz de implicação ............................................................................................... 42

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Recentes pesquisas acadêmicas utilizando entrevistas em profundidade .............. 35

Quadro 2 - Roteiro das perguntas da entrevista e relação com os objetivos específicos ......... 47

Quadro 3 - Sumário de códigos ................................................................................................ 48

Quadro 4 - Formação de ladders .............................................................................................. 51

Quadro 5 - Relações entre ladder, atributo e valor ................................................................... 53

Quadro 6 - Simplificação Gráfica da Matriz de Implicação ..................................................... 55

Quadro 7 - Mapa Hierárquico de Valor (MHV) ....................................................................... 57

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11

1.1 Contextualização ............................................................................................................. 11

1.2 Pergunta da pesquisa ....................................................................................................... 21

1.3 Objetivos ......................................................................................................................... 21

1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 21

1.3.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 21

1.4 Justificativa da pesquisa .................................................................................................. 22

1.4.1 Justificativas práticas ...................................................................................................... 22

1.4.2 Justificativas teóricas ...................................................................................................... 22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 23

2.1 Comportamento do consumidor ...................................................................................... 24

2.2 Valores ............................................................................................................................ 25

2.3 Valores pessoais e atitudes .............................................................................................. 26

2.4 Consumo e consumismo ................................................................................................. 28

3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 30

3.1 Delineamento da Pesquisa............................................................................................... 31

3.2 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................................ 33

3.3 Coleta de Dados .............................................................................................................. 35

3.3.1 Instrumento ..................................................................................................................... 37

3.3.2 Processo .......................................................................................................................... 38

3.4 Métodos de Análise ......................................................................................................... 38

3.5 Limites e limitações ........................................................................................................ 45

3.5.1 Limites ............................................................................................................................ 45

3.5.2 Limitações ....................................................................................................................... 45

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................... 46

4.1 Caracterização dos sujeitos ............................................................................................. 46

4.2 Análise de conteúdo ........................................................................................................ 48

4.3 Matriz de Implicações ..................................................................................................... 54

5 CONCLUSÕES ............................................................................................................. 60

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 63

APENDICE ................................................................................................................... 63

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1 INTRODUÇÃO

Durante muito tempo, o mercado consumidor formado pelos sujeitos da classe C foi ignorado

pelas empresas e pelos acadêmicos.

Contudo, graças ao crescimento do poder aquisitivo desta classe social, novas perspectivas de

inserção social através do consumo de bens e serviços tem sido cada dia mais frequentes. O

acesso a produtos que só eram acessados pelos ricos, tem conduzido estes novos ingressantes

no consumo a super valorizarem o consumo de produtos que transcendem às suas

necessidades básicas e lhe proporcionam a sensação de bem-estar e prazer.

A problematização deste trabalho busca compreender os valores pessoais dos consumidores

integrantes da classe C movendo-os ao consumo de telefones móveis inteligentes, os

smartphones.

Para este objetivo ser alcançado, propusemos buscar a compreensão da importância dada

pelos consumidores da Classe C aos smartphones, bem como outros aspectos não menos

importantes, como o prazer da aquisição, e a inclusão social proporcionada pelo produto, seja

pelo alto custo financeiro ou ainda pela sensação de realização pessoal.

Considerando que restrições do orçamento familiar são aspectos a serem considerados,

procuramos entender os aspectos motivadores do consumo. Para tanto, adotamos como

técnica de entrevista em profundidade, pois essa técnica nos permite adentrar o âmago das

questões revelando aspectos subjacentes e adjacentes.

Portanto, diante dessa realidade, fomos movidos pela curiosidade de entender os porquês do

alto índice de consumo de ítem de alto preço, tradicionalmente considerado supérfluo, por

uma classe social que , devido a atual recessão , tem reduzido seus gastos com as suas

necessidades básicas.

1.1 Contextualização

A partir de 1990, o Brasil firmou-se como país emergente no cenário econômico mundial,

dando os programas sociais governamentais e da iniciativa privada grande contribuição para

essa presença no grupo dos países de economias emergentes (NERI, 2011). O'neill (2011) nos

indica que países emergentes são aqueles que apresentam grande potencial de crescimento e

têm buscado se reordenar em aspectos como política e mercado. Esses países têm se

caracterizado por desenvolver processos de industrialização e políticas de expansão do

comércio exterior como estratégia de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a

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unidade utilizada para medir o valor dos bens e serviços comerciais produzidos a cada ano em

um país.

A recente desaceleração da economia brasileira tem criado um cenário de recessão no país, e

em decorrência dessa situação, começou a ocorrer desemprego em vários segmentos do setor

privado e cortes de investimentos do setor público. Os aumentos salariais das categorias

trabalhadoras têm sido, muitas vezes, abaixo dos índices oficiais de inflação. A perda de

poder aquisitivo associada à instabilidade política tem sido um problema diário que a

população economicamente ativa tem que enfrentar.

Contudo, a despeito do cenário desanimador, onde esperava-se uma redução drástica no

consumo de bens de consumo, os consumidores da classe C continuam a consumir produtos

eletrônicos de caráter supérfluo como smartphones.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda dos países

emergentes, representada pela taxa de crescimento do PIB, tem características semelhantes em

termos de taxa de crescimento.

Tabela 1 - BRICS - Principais indicadores

País Área (km2)

População

(milhões)

PIB(US$

bilhões)

PIB per

capita(US$ 100)

População

economicamente Ativa(%

no PIB)

2013 2013 2013 2012

Brasil 8.514.876 201 2.246 11.171 65,9

Rússia 17.075.200 143,3 2.096 14.604 52,9

Índia 3.287.590 1.224,0 1.726 1.418 39,5

China 9.600.000 1.357 9.185 6.768 56,6

África do

Sul

1.221.000 52 382 7.810 35,4

Fonte: BRICS : joint statistical publication : 2014 ; Brazil, Russia, India, China, South Africa / IBGE.

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- Rio de Janeiro : IBGE, 2014. 212p. 1

Os países emergentes têm procurado reagir aos problemas que foram ocasionados pela

instabilidade econômica que acarretou inflação de preços, desemprego e redução do

consumo. Baixos níveis de escolaridade, pouco acesso a bens culturais e bens de consumo

compunham o cenário vivenciado pelas classes sociais que formam a base da pirâmide.

Contudo, em alguns países desse bloco como Brasil, Índia e África do Sul, a sociedade está

passando por profundas mudanças em suas estruturas sociais, tais como a consolidação dos

direitos civis e a redução das desigualdades sociais, e hoje pode-se perceber que, após a

adoção de políticas governamentais de estímulo à abertura da economia ao capital estrangeiro

em seus territórios e redistribuição de renda entre as classes sociais, vem se viabilizando a

inclusão de novas pessoas no mercado de consumo, após décadas de exclusão.

Prahalad (2010) foi pioneiro em chamar a atenção simultaneamente da academia e da

indústria a respeito das características e potencialidades dos consumidores de baixa renda dos

países emergentes. Essas pessoas que estavam excluídas do consumo são potenciais usuários

de produtos e serviços de comunicações, como celulares, por exemplo, pois desejam interagir

e incluir-se em novos grupos. Para isso, as empresas devem oferecer esses produtos e serviços

de modo que eles possam pagar por eles, possibilitando a inclusão gradual na economia desse

contingente populacional.

Produtos a preços acessíveis possibilitam a ativação do mercado de consumo na base da

pirâmide social. Os novos consumidores têm impulsionado os negócios de várias empresas

multinacionais e os países de economias emergentes conhecidos pelo acrônimo Brics – Brasil,

Rússia , Índia, China e agora a África do Sul, já apresentam números significativos relativos

ao consumo das classes populares.

Isso se deve ao fato de que com a crise econômica que se abateu sobre os Estados Unidos da

América, no ano de 2008, e posteriormente atingiu os países europeus da Zona do Euro,

vários investimentos empresariais privados foram deslocados para os „Brics‟, proporcionando

a geração de empregos, renda e o consequente acesso a bens de consumo, em especial aos

supérfluos.

Os pobres também empregam seu dinheiro como reflexo de um conjunto

diferente de prioridades. Por exemplo, não gostam, em geral de pagar

1 http://brics.ibge.gov.br/downloads/BRICS_Joint_Statistical_Publication_2014.pdf Acesso

em 27/10/2015

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esgoto, água tratada e habitação, mas facilmente são tentados a gastar em

supérfluos. Não sendo proprietários das casas em que vivem, pouco se

dispõem a investir na melhoria da moradia, menos ainda no sustento dos

serviços públicos do bairro ou vila (PRAHALAD, 2010,p.57).

Ao referir-se aos pobres, Prahalad (2010) tem como pressuposto o trinômio bem-estar social,

pobreza e desigualdade. As diversas possibilidades de classificação das classes econômicas

baseiam-se nesse pressuposto como referencial para estabelecer os seus critérios. Desta forma,

moradia, posse de bens e renda são alguns dos indicadores mais comuns nas análises dos

dados econômicos e sociais.

O Governo Brasileiro, através da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), implementou

ações de inclusão social através de programas assistenciais de distribuição de renda, acesso à

programa de moradia popular e acesso ao ensino superior. Dados do projeto Vozes da Classe

Média (SAE, 2012), informam que entre os anos de 2004 e 2008, 32 milhões de pessoas

obtiveram elevação socioeconômica, inserindo-se, especialmente, nas classes C e D. Todavia,

a classe C apresentou uma ascensão mais notável e um fortalecimento poucas vezes visto em

uma classe mediana, pois, no ano de 2003, representava cerca de 63,9 milhões de pessoas e,

em 2012, verificou-se que está constituída por 105,4 milhões de pessoas (SAE, 2012).

Pela primeira vez no Brasil, a classe C corresponde a mais da metade da

população. Hoje, 95 milhões de pessoas fazem parte dessa camada social,

com renda mensal familiar entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. Isso significa que o

perfil socioeconômico do país mudou. Nos últimos sete anos, a chamada

nova classe média – composta, sobretudo, por jovens com emprego formal,

alto potencial de consumo e características heterogêneas – teve um aumento

superior a 40% em sua renda familiar, o que permitiu maior poder de

compra, acesso à tecnologia e ingresso em faculdades, por exemplo. Na

última década, 31 milhões de pessoas entraram na classe média brasileira,

resultado das políticas de proteção social, da retomada do crescimento

econômico inclusivo, da expansão do emprego e do acesso ao crédito, assim

como do aumento no grau de escolarização da sociedade. Os dados, da

Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), com base na Pesquisa Nacional

por Amostra de Domicílios (PNAD), mostram que esse desenho atual exige

a implementação de ações de governo específicas, voltadas para esse

segmento. 2

Assim, segundo essa nova configuração, a classe C equivale a 98 milhões de pessoas, sendo

que essa classe contribuiu para o crescimento do mercado, adquirindo produtos e se inserindo

2 (http://blog.planalto.gov.br/index.php?s=seminario+politicas+publicas) Acesso em 31 de julho de

20152

NR: A literatura apresenta valores diferentes para mensurar o número de pessoas que compõem a

Classe C

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no mercado formal bem como no acesso ao crédito.

A pesquisa Vozes da Classe Média (SAE, 2012) ainda relata alguns fenômenos sociais que

ocorreram na última década, demonstrando através de métodos quantitativos o crescimento da

classe C e os desdobramentos decorrentes desse aumento.

A classe C, composta por famílias com renda entre R$ 1.064,00 e R$

4.561,00, cresceu 22,8% entre abril de 2004 e abril de 2008, chegando a

52,7% da população, o equivalente a quase 98 milhões de pessoas. Ela

aponta, também, como “indicadores substantivos” e “simbólicos” do

aumento da classe C, os níveis recordes de acesso ao crédito, de trabalhos

formais e de compra de bens duráveis como carro e computador. Em vez de

piramidal, a geometria da sociedade brasileira estaria ganhando forma

losogonal. 3

A classe C acabou sendo proveniente das pessoas oriundas das classes D e E, que foram

inseridos no mercado de trabalho, o que elevou o índice de consumo por essa nova classe

média que surge.

Importante salientar que com o aumento da renda das classes populares houve um aumento

substancial no consumo, em especial, de eletroeletrônicos. Se observarmos atentamente esse

fato econômico-social, perceberemos que dentre os gastos mais comuns das famílias de baixa

renda, entre os quais estão alimentação, habitação, transporte, vestuário e assistência à saúde,

uma outra despesa vem se destacando: os eletrônicos e o turismo (ROCHA; ARAÚJO ;

MOTA, 2014). Salienta-se que essas aquisições são realizadas com a utilização de crédito

pessoal e tem grande significação dentro do contexto de inclusão social.

O critério adotado como parâmetro do governo brasileiro para mensurar o aumento de renda e

consumo da população brasileira é proveniente dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicilio (Pnad). O levantamento é feito anualmente, com abrangência nacional realizada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e envolve mais de 400 mil

indivíduos pesquisados por ano.

De acordo com o IBGE a Pnad tem as seguintes características:

Obtém informações anuais sobre características demográficas e

socioeconômicas da população, como sexo, idade, educação, trabalho e

rendimento, e características dos domicílios, e, com periodicidade variável,

3 (http://bibliotecadigital.fgv.br acesso em 07/07/2015)

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informações sobre migração, fecundidade, nupcialidade, entre outras, tendo

como unidade de coleta os domicílios. Temas específicos abrangendo

aspectos demográficos, sociais e econômicos também são investigados. 4

As variáveis pesquisadas são principalmente população; pobreza; renda; educação; classes

econômicas além da percepção do produtor e do consumidor. Todos os dados coletados

podem ser analisados pelas características sócio-demográficas dos entrevistados.

A Pnad tem sido estruturada com três níveis de pesquisa para compensar a impossibilidade de

pesquisar continuamente todos os temas de interesse. A pesquisa básica investiga

continuamente os temas definidos como de maior importância para medir e acompanhar o

nível socioeconômico da população: habitação e mão-de-obra, além de características

demográficas e educacionais. As pesquisas suplementares aprofundam os temas permanentes

e investigam outros assuntos de interesse que se interliguem com os da pesquisa básica. As

pesquisas especiais abordam assuntos de maior complexidade, que exigem tratamento à parte

da pesquisa básica, podendo até requerer um esquema de amostragem distinto.

No Brasil, as classes econômicas são definidas pelo potencial de consumo. Assim ao

considerarmos a realidade de nosso país e as suas peculiaridades faz-se necessário adotar

parâmetros que permitam entender as correlações entre renda familiar e consumo de bens.

Para atender a esse quesito, abordamos nesse trabalho o critério adotado pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE , o Critério Brasil de Classificação Econômica –

CCEB.

Uma forma usual de definir as classes econômicas (E,D,C,B e A) é pelo

potencial de consumo. O critério Brasil analisa o acesso e o número de bens

duráveis(TV, rádio, lava-roupa, geladeira e freezer, DVD),banheiros, se a

pessoa possui empregada doméstica, entre outros. Esse critério estima os

pesos, com base em uma equação clássica minceriana de renda, e classifica

as pessoas por faixas de pontos, usando características mais permanentes que

a renda corrente. (NERI, 2011, p.78).

Com a ascensão da nova classe média no Brasil e a necessidade de adaptação a esse novo

momento conjuntural de inserção de novos ingressantes no mercado de consumo, o governo

brasileiro instituiu a criação de programas sociais objetivando a redução da pobreza através de

políticas sociais de distribuição de renda. Outro fator de fomento que auxiliou o crescimento

da classe C foi o estímulo à educação, com a formação de técnicos e a facilitação do acesso ao

4 (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=40)

Acesso em 31 de julho de 2015.

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ensino superior, objetivando diminuir as desigualdades e inserir a população de baixa renda

no mercado de trabalho e de consumo.

Essa nova configuração do mercado de consumo que até então estava direcionado para as

classes sociais A e B, tem exigido das empresas novos produtos, novos serviços e novas

maneiras de se comunicar com os novos consumidores, que recentemente tornaram-se a nova

classe média brasileira. A busca pelo entendimento dessas novas demandas tem estimulado

pesquisadores e profissionais de marketing a procurarem entender as nuances e mutações que

afetam o ambiente de negócio, como as percepções desses consumidores no tocante à

satisfação de suas necessidades e desejos de consumo e a sua potencialidade de efetivar o

consumo de bens e serviços.

Portanto, faz-se necessário em nosso trabalho, classificarmos esses novos consumidores. Para

esse intento, utilizaremos a seguinte estratificação por renda familiar, de acordo com o

Critério Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). As classes

econômicas são divididas em oito categorias, conforme demonstrado na tabela 1. Entretanto,

efetuamos um recorte e focamos o trabalho nas classes C1 e C2.

Tabela 2 - Critério Brasil 2014

Classe Pontos Renda média familiar (Valor

Bruto em R$)

A 35 a 46 11.037,00

B1 29 a 34 6.006,00

B2 23 a 28 3.118,00

C1 18 a 22 1.865,00

C2 4 a 17 1.277,00

D 8 a 13 895,00

E 0 a 7 Não informado

Fonte: ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, (2014, p. 2).

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Os dados coletados pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Domicílios – PNAD5 servem para

demonstrar as divisões econômicas e o crescimento numérico das classes sociais e revelam a

expressividade do aumento da classe C, que no ano de 2011 correspondia a 95 milhões de

brasileiros bem como o seu consumo de bens. Esses dados divulgados pelo IBGE indicam que

os consumidores que pertencem à Classe C são consumidores ávidos por produtos, bens e

serviços.

Explica-se dessa forma o porquê dessa classe social também ser chamada de classe

emergente. Esse círculo retroalimenta-se e tem sido imperativo às organizações a realizarem

adaptações das orientações do marketing às novas realidades socioeconômicas. Esse mesmo

estudo comprova que a nova classe consumidora tem hábitos bem distintos das classes A e B.

Ao mesmo tempo, que após décadas de exclusão devido à falta de poder aquisitivo, ela

descobriu o consumismo, tem correspondido aos apelos publicitários e ido às compras

(BARBOSA,2010). Sendo assim, o comércio popular e shopping centers têm recebido esses

ávidos novos entrantes e tentado atraí-los com abordagens de produtos através de promoções

(comunicações), que ressaltam atributos como qualidade a preços acessíveis, flexibilização de

prazos de pagamento e pontos-de-venda cada dia mais parecidos com a face do novo

consumidor (PARENTE,2008). A população de baixa renda possui características que os

distinguem das demais classes sociais conforme detalhadas na tabela 3.

Tabela 3 - Fatores de consumo para a população de baixa renda

Valores e conservadorismo

A população de baixa renda adota

comportamentos muito mais conservadores

quando comparados à atitude mais liberal da

elite brasileira.

Gosto pela fartura

Gosto acentuado pela fartura que pode ser

observado em diferentes contextos.

Baixa auto-estima

Os consumidores de baixa renda sentem-se

inferiorizados e percebem que são

considerados como cidadãos de “segunda

classe”.

Dignidade

Os consumidores de baixa renda desejam

tratamento digno

Preferência por lojas da vizinhança

No caso de varejo alimentar, um critério

fundamental que determina a escolha da loja

5 www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/.../0000000402.pdf. Acesso em 22/05/2015

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19

é a proximidade física.

Flexibilidade no crédito

Muitos consumidores de baixa renda não

participam do mercado formal de trabalho e

têm uma maior inconstância em seus

rendimentos, sem dia certo para receber o

pagamento pelos seus serviços.

Fidelidade a marcas

Os consumidores da baixa renda também

demonstram uma forte preferência e

fidelidade por marcas.

O paradoxo do poder e frustração no processo

de compra

Com poucas alternativas de entretenimento,

visitas a lojas representam uma fonte de lazer.

No processo de compra os consumidores

demonstram muito prazer e revelam também

um sentimento de “poder”. Por outro lado, o

seu limitado orçamento provoca constantes

frustrações.

Exclusivo x Inclusivo

Uma diferença de comportamento entre a

classe baixa e a população de maior renda

está no sentimento de exclusivo x inclusivo.

Enquanto a classe alta gosta de produtos

feitos sob medida que ofereçam uma imagem

de exclusividade para que o indivíduo se sinta

único, o consumidor de classe baixa busca

produtos que ofereçam a ideia de inclusão, de

um sentimento de pertencimento. Este

consumidor já se sente excluído e o consumo

é uma forma de sentir- se parte integrante da

sociedade.

Contato Face a Face

A cultura popular brasileira valoriza

fortemente o contato face a face.

Redes de Contato

Um canal bastante interessante, criativo, e

muito forte no mercado popular, é o porta a

porta.

Fonte: Parente ; Barki, 2005.

Estudos recentes sobre os consumidores brasileiros de baixa renda identificaram que a

limitação de renda e as suas consequentes adversidades provocam a sensação de baixa

autoestima e pouca sensação de poder (CAMPBELL, 2006 ; PARENTE, 2008 ; NERI, 2011)

. Isto em decorrência dos valores predominantes na sociedade brasileira associarem prestigio à

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20

boa situação econômica do indivíduo. As pessoas de baixa renda sentem-se inferiorizadas ao

tomarem consciência desses julgamentos que a sociedade faz ao valorizar a posse de bens

como condição de destacar-se no ambiente onde vivem. (LIVRAMENTO; HOR-MEYLL;

PESSÔA, 2013). Desta forma, o consumo tem se tornado uma das maneiras encontradas pelos

consumidores de baixa renda para combater, ou pelo menos conviver, com o sentimento de

exclusão social, pois consumir os inclui e lhes dá visibilidade.

A percepção desses novos ingressantes no mercado de consumo tem interessado a

organizações que passaram a utilizar estratégias de produto com foco no cliente de baixa

renda. A valorização da experiência de consumir como sinônimo de inclusão social tem

permeado o conjunto de interesses das organizações no mercado consumidor.(PARENTE,

2008). Isto tem proporcionado o desenvolvimento de pontos de contato entre a empresa e seus

públicos. Esses pontos de contato sensibilizam o mercado através de ações estratégicas de

produto, preço, pontos de venda e comunicação. A esses elementos, chamamos de composto

de marketing, os quais são essenciais para o planejamento e desenvolvimento das estratégias

mercadológicas das organizações. A articulação estratégica do composto de marketing

possibilita ao consumidor ter contato com o mercado de bens e serviços e objetiva conduzir os

consumidores a adquirirem produtos cada vez mais sofisticados a despeito das restri es

or ament rias, pois a decisão de compra dos consumidores da base da pir mide, segundo

Prahalad , est baseada em alguns aspectos como capacidade de compra, tamanho da

embalagem , facilidade de crédito, distribuição ou capacidade de entrega no local escolhido.

A renda familiar, que é a soma da renda individual dos moradores de um determinado

domicilio, tem sido bastante disputada no comércio ao mesmo tempo que a aspiração por

adquirir produtos de categorias que vão além do essencial como alimentação, habitação,

transporte e vestuário e efetivamente consumir produtos de grande valor agregado como os

que compõem a categoria de supérfluos que caracterizam-se pela diferenciação em seu preço,

promoção e local de venda.

Em contrapartida, para o IBGE, a categoria bens de consumo duráveis inclui mercadorias com

uma vida útil esperada de mais de um ano e com valores relativamente elevados, tais como

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21

refrigeradores e máquinas de lavar, juntamente com outras mercadorias com uma vida útil de

três anos ou mais. 6

O consumo desses produtos é estimulado por interposição da propaganda, da disponibilização

do crédito através de parcelamentos do pagamento das compras e satisfação da necessidade de

inclusão social.

Para De Plácido e Silva (2010), o termo “supérfluo”, foi originado do latim: “Superfluus

(superabundante, o que sobra, ou que excede), aplicado notadamente em relação às despesas,

exprime o que é desnecess rio, inútil, exagerado”.

E ainda explica:

Assim, os gastos ou as despesas supérfluas entendem-se as que resultam

num esbanjamento, ou numa inutilidade, porquanto não se justificam pela

utilidade ou pela produtividade. Em relação a outros fatos, o supérfluo é

sempre o excessivo, ou o que extravasa os limites do normal ou do

ordinário.(Verbete:supérfluo. DE PLÁCIDO E SILVA.Vocabulário Jurídico,

p. 1.336)

Portanto, por definição, supérfluos são produtos não essenciais (SCHWERINER, 2010). Ao

considerarmos fatores como vida útil, obsolescência e descarte dos produtos, delimitamos

nesse trabalho o termo produtos supérfluos aos produtos eletrônicos, pois são substituídos por

outros mais modernos rapidamente.

1.2 Pergunta da pesquisa

Os valores universais – tradição, poder, hedonismo, universalismo - se fazem presentes no

consumo de produtos supérfluos eletrônicos dos consumidores recifenses da classe C ?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Investigar a presença dos valores pessoais universais – tradição, poder, hedonismo,

universalismo - no consumo de smartphones.

1.3.2 Objetivos específicos

6 ftp://ftp.ibge.gov.br/Informacoes_Gerais_e_Referencia/Classificacoes/cgce.pdf Acesso em 15

agosto de 2015

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I - Compreender a importância da tradição do produto na aquisição de smartphones pela

classe C.

II - Identificar se há prazer envolvido na aquisição de smartphones pela classe C.

III - Revelar a sensação de realização pessoal do consumidor da classe C ao adquirir

smartphones.

IV - Compreender a percepção de inclusão social do consumidor da classe C ao adquirir

smartphones.

1.4 Justificativa da pesquisa

1.4.1 Justificativas práticas

O fenômeno da inclusão da classe C no consumo tem impactado fortemente os negócios no

cenário econômico do nosso país. Tem sido evidente a relevância do consumo atual e

potencial desses novos consumidores.

Contudo, os motivadores do consumo dessa nova classe média, que têm impulsionado o

mercado de bens e serviços, ainda não têm sido devidamente entendidos. Por isso, é imperioso

às organizações que pretendem dirigir seus negócios a esses novos consumidores

compreender seus comportamentos de compra, percepções e valores pessoais envolvidos no

processo de compra.

A realização desta pesquisa justificou-se como norteadora para empresas que desejem

compreender os valores pessoais dos consumidores da classe C e suas atitudes ante o

consumo de produtos supérfluos eletrônicos e possibilitou a abertura de caminho para novas

discussões sobre esses novos entrantes no mercado de consumo.

1.4.2 Justificativas teóricas

A literatura que explora o fenômeno da inserção das classes populares no consumo

(PRAHALAD,2010; NERI,2011; PARENTE,2008) tem demonstrado a importância do poder

contido nas massas ávidas por consumir, especialmente nos países emergentes como o Brasil,

onde há uma demanda crescente de consumidores da classe C.

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23

Percebe-se um número crescente de estudos sobre o consumo das classes populares,

especialmente tendo como base a Pesquisa Nacional de Amostras a Domicílio (PNAD) do

IBGE e do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas, fato que demonstra

a relevância do tema.

O produto deste trabalho agrega valor à academia, posicionando-se a partir de um tema atual e

pertinente, o que possibilita o relacionamento mais próximo entre academia e mercado, pois

inexistem estudos sobre o consumo de supérfluos eletrônicos e em especial, os smartphones

pelos consumidores da classe C no Brasil, lacuna essa que pretendeu-se preencher com esse

estudo.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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24

A compreensão do comportamento do consumidor de smartphones demandou uma

fundamentação teórica que subsidiou a reflexão sobre o processo de decisão de compra bem

como sobre os valores pessoais envolvidos no ato de consumir como um meio para atingir um

fim. Portanto, fundamentos reconhecidamente aceitos pela Academia nos auxiliaram a dirimir

dúvidas sobre conceitos e permitiram uma reflexão mais acurada sobre a temática que está

sendo proposta neste estudo e para tal intento, nesse capítulo abordaremos os fundamentos

conceituais teóricos que embasaram esse trabalho.

2.1 Comportamento do consumidor

Solomon (2012) descreve consumidor como uma pessoa que identifica uma necessidade, um

desejo, faz uma compra de um produto e então o descarta em três fases que podem ser

descritas da seguinte maneira:

a) Fase da aquisição – Quando o consumidor decide qual produto adquirir. esta fase é de

grande importância porque nela são criadas expectativas quanto ao desempenho do

produto adquirido.

b) Fase de consumo – Quando utiliza o produto e comprova se as suas expectativas

foram correspondidas conforme o esperado, transformando-se em informações para

futuras ações de consumo. Nesta fase e em seguida, o consumidor forma o seu

julgamento com relação ao produto o que resulta em satisfação ou insatisfação.

c) Fase de descarte – Quando o produto é descartado ou não existe mais devido ao

consumo físico.

Ainda de acordo com Solomon (2012), o comportamento do consumidor é caracterizado pelas

atividades mentais e emocionais realizadas na seleção, compra e uso de produtos e serviços

para a satisfação de necessidades e desejos. Para Kotler e Keller (2012), uma vez que o

propósito do marketing centra-se em atender e satisfazer as necessidades e os desejos dos

consumidores, torna-se fundamental conhecer o seu comportamento de compra.

Certamente que consumidores vivem em sociedade e o ato de consumir se dá em um contexto

social moldado pela cultura vigente. Portanto, podemos vislumbrar estabelecimento do

contexto de consumo que se processa ao ter os consumidores conduzidos por sentimentos

individuais de alcance de seus desejos buscarem realização através do consumo, e é no ato de

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25

consumir que se chega ao ápice da satisfação pessoal dentro de uma perspectiva de consumir

ser sinônimo de existir.

Por certo, a experiência de compra e valorização do ter carecem de investigação social a fim

de proporcionar revelações a respeito desse comportamento do consumidor. Campbell (2006)

nos dá sua opinião a respeito desse tema:

O consumismo moderno tem mais a ver com sentimentos e emoções (na

forma de desejos) do que com razão e calculismo, na medida em que é

claramente individualista, em vez de público, em sua natureza. Essas são as

duas características que fornecem uma conexão explícita com a cultura,

assim como proporcionam a base para as declarações de que o consumismo

moderno se baseia em hipóteses metafísicas (CAMPBELL, 2006 p. 49).

2.2 Valores

O conceito de valor e sua aplicação em marketing têm recebido atenção especial por parte de

pesquisadores e profissionais, pois conduz à maior compreensão sobre o significado atribuído

a produtos, favorecendo o aprimoramento de estratégias de marketing (VELUDO-DE-

OLIVEIRA e IKEDA, 2005).

Se no âmbito da economia, valor tem aspecto utilitarista, associado à relação custo-benefício,

representando a percepção do consumidor sobre sua utilidade, que afeta seu desejo em possuir

o produto e sua predisposição para gastar, através de análise racional no contexto de troca; No

campo da psicologia, valores se reportam aos aspectos comportamentais com a conotação de

valores pessoais (LEAO, 2001; VELUDO-DE-OLIVEIRA e IKEDA, 2005)

Rokeach (1973) define valor como uma crença que orienta as ações para se atingir objetivos

específicos, representando o estado-final preferido. Valores constituem o padrão que guia e

determina atitudes, ações, julgamentos, avaliações e comparações de si mesmo em relação aos

outros. O conjunto de valores de um indivíduo exerce papel fundamental em suas decisões de

consumo, visto que o indivíduo compra produtos e serviços porque acredita que o ajudarão a

atingir uma meta relacionada a um valor. Indivíduos com o mesmo comportamento podem ter

valores distintos (SOLOMON, 2011). Um valor internalizado passará a integrar o sistema de

crenças do indivíduo e, portanto, será ordenado de forma hierárquica, respeitando a prioridade

que o indivíduo atribui aos demais valores. Um valor pode ser: (1) instrumental – orienta a

conduta do individuo, cria um padrão e (2) terminal – expressa o esforço do indivíduo no

sentido de uma realização que gera uma motivação (ROKEACH, 1973).

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26

A escala de Rokeach (1973) divide os valores em terminais e instrumentais:

Valores Instrumentais representam os meios através dos quais o indivíduo persegue os valores

terminais, como honestidade, coragem, gentileza.

Valores Terminais representam os estados-finais desejados, que são as metas que os

indivíduos buscam na vida, como paz, felicidade, igualdade.

Os valores humanos podem ajudar a explicar o fenômeno comportamental de consumo pela

relação de causalidade que se estabelece com ele.

valor é uma crença duradoura de que um modo específico de conduta (valor

instrumental) ou estado final de existência (valor terminal) é pessoalmente

ou socialmente preferível a um modo de conduta ou estado final de

existência oposto ou diferente (ROKEACH , 1973 , p. 65).

Essa perspectiva está apoiada na concepção de que existem valores constantes que

transcendem indivíduos e situações ou de que os valores são representações cognitivas das

necessidades humanas universais. Rokeach (1973) afirma que as pessoas usam seus valores

aprendidos culturalmente para ajudar a racionalizar sobre atitudes e comportamentos que

poderiam de outra forma ser pessoalmente ou socialmente inaceitáveis. Valores estão mais

relacionados com comportamentos do que com traços de personalidade; valores são mais

centrais, menos numerosos e mais imediatamente relacionados à motivação do que às atitudes

e ainda de acordo com essa perspectiva, os valores são culturalmente derivados, definindo,

mantendo e regulando a estrutura social, dando-lhe coesão e estabilidade.

Solomon afirma que “as op es de consumo simplesmente não podem ser

compreendidas sem o contexto cultural em que são feitas: a cultura é a „lente‟ através da qual

as pessoas enxergam o consumo”. Ele ainda assegura que ao compararmos valores e atitudes,

conclui que os valores são determinantes de atitudes e comportamentos e, portanto, promove

um entendimento do consumidor de forma mais estável e auto-orientada.

2.3 Valores pessoais e atitudes

Os valores pessoais tornam-se visíveis através do comportamento social dos indivíduos. A

revelação de suas crenças e visão de mundo dos sujeitos permeia todas as suas relações

sociais.

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27

De acordo com Rokeach 968 , “o valor é uma cren a única que guia transcendentalmente

ações e julgamentos através de objetos ou situações específicas não somente para objetos

imediatos , mas para estados finais da existência.”

Atitude é definida conceitualmente pelo mesmo autor como “uma organiza ão de cren as

relativamente duradoura em torno de um objeto ou situação, predispondo um indivíduo a

responder de alguma maneira preferencial”. As atitudes representam v rias cren as

concentradas num objeto ou situação específica.

Rokeach (1973) demonstrou que os valores são precedidos principalmente pela cultura, pela

sociedade e pela personalidade, e estes fatores influenciam na criação e no estabelecimento da

hierarquia de valores de cada ser humano. Já as atitudes, conjuntamente com o

comportamento, são consideradas resultado da cultura, da sociedade em que a pessoa vive, da

personalidade e dos valores da pessoa.

Um avanço sobre as conceituações realizadas por Rokeach foi promovido por Schwartz

(1992; 1994; 2005). O Modelo de Valores de Schwartz (2005) revela as necessidades

humanas e as respostas que os indivíduos e sociedades atribuem às três necessidades

universais: organismo(existência), interação e grupo. Baseado em pesquisas multiculturais,

ele estruturou os valores humanos dividindo-os em dez tipos motivacionais em termos dos

objetivos que estes expressam: Autodeterminação (pensamento e ação independente),

Estimulação (excitação, novidade, desafio na vida), Hedonismo (prazer ou gratificação

sensual para si mesmo), Realização (sucesso pessoal por meio de demonstração de

competência), Poder (status social e prestígio, domínio sobre pessoas e recursos), Segurança

(harmonia e estabilidade da sociedade, relacionamentos e de si mesmo), Conformidade

(restrição de ações e impulsos que tendem a prejudicar aos demais ou violam normas sociais),

Tradição (respeito, compromisso como costumes e ideias que a cultura ou religião fornecem),

Benevolência (preservar e fortalecer o bem estar do grupo que o sujeito tem mais próximo) e

Universalismo (compreensão, agradecimento e proteção do bem estar de todas as pessoas e da

natureza). Por essa Teoria podemos compreender os valores humanos de maneira

multidimensional, classificados em quatro dimensões: abertura a mudança; auto-promoção;

conservação; auto-transcendência. Conforme mostrado na Figura 1.

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28

AUTO-TRANSCENDÊNCIA

Universalismo Benevolência

Tradição Auto-direção

Conformidade

Hedonismo Segurança

Realização Poder

Estimulação

AB

ER

TU

RA

À M

UD

AN

ÇA

C

ON

SE

RV

ÃO

Figura 1 - Estrutura dos valores de Schwartz

Fonte : Schwartz, 1992

A abordagem dada por Schwartz é orientada pela prioridade dada a conjuntos de valores que

possuem entre si as relações de conflito e de oposição. Para o autor, as prioridades dos

indivíduos contribuem para a sua visão do mundo, do relacionamento com as pessoas e os

interesses na vida. Portanto, os valores expressam as metas motivacionais do indivíduo o que

diferencia um valor de outro nada mais é do que o tipo de meta motivacional que os valores

expressam.

2.4 Consumo e consumismo

Em rela ão ao consumo, é pertinente destacar o conceito deste fen meno na sociedade atual.

O tema é abordado por Baudrillard dessa maneira:

AUTO-PROMOÇÃO

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29

O consumo não é nem a pr tica material, nem uma fenomenologia da

“abund ncia”, não se define nem pelo alimento que se digere, nem pelo

vestu rio que se veste, nem pelo carro que se usa, nem pela subst ncia oral e

visual das imagens e mensagens, mas pela organiza ão de tudo isto em

subst ncia significante; é ele a totalidade virtual de todos os objetos e

mensagens constitu das de agora então em um discurso cada vez mais

coerente. O consumo, pelo fato de possuir um sentido é uma atividade de

manipula ão sistem tica de signos AUDR ARD, , p. 6 .

Para Schweriner (2006, p.151-152), o consumo é a compra saudável, aquela que busca o

atendimento de verdadeiras necessidades do consumidor. Já o consumismo é a patologia desta

conduta, a transgressão do consumo saudável. O autor resume tal raciocínio da seguinte

forma: “Necessidades – Bens Essenciais – Consumo – Desejos – Bens Supérfluos –

Consumismo”. Entretanto, adverte que: “o mero ato de consumir supérfluos, mesmo muito

supérfluos, não implica consumismo. Trata-se de uma op ão de consumo” .

Torna-se necessário estabelecer distinção entre consumo e consumismo. Para tal intento, o

autor nos oferece uma reflexão a respeito de algumas situações que representam o

consumismo.

Compras (compulsivas : o „shopaholic‟, para quem o ato da aquisi ão em si

é gratificante, podendo até sobrepujar em significância a posse e o uso.

Vários consumidores fazem do ato da compra um ritual de alugar o tempo e

a atenção do vendedor, fazendo a troca do dinheiro pela mercadoria um fim

em si mesmo. Posses (desmesuradas): acumulação e retenção, levando o

indivíduo a possuir muito mais bens do que o necessário para uma vida

saudável. Uso (abuso do prazer/ostentação): quer dizer, o prazer sem limites,

ou a utilização do bem transcendendo seu valor de utilidade. O sujeito faz

uso do bem mais pelo que representa para os outros. (SCHWERINER , 2006

p.154)

O consumismo, em suma, é um estado de consumo exagerado ou desmedido de produtos, que

nem sempre são necessários (supérfluos). Por isso, a sociedade de consumo estimula os

indivíduos a consumirem para serem reconhecidos como pessoas. Nesse sentido, ter é

sinônimo de ser e não basta ter tido, o importante é ter sempre para ser reconhecido sempre.

Essa tensão causa uma insatisfação pessoal, que necessita de uma solução existencial.

Vejamos como esse processo acontece.

Entre as maneiras com que o consumidor enfrenta a insatisfação, a principal

é descartar os objetos que a causam. A sociedade de consumidores

desvaloriza a durabilidade, igualando „velho‟ a „defasado‟ , impróprio para

continuar sendo utilizado e destinado à lata do lixo. (BAUMAN, 2008 p.

71).

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Nesse estudo propusemos a construção do entendimento das correlações entre os costrutos

dos valores pessoais dos consumidores da classe C, tendo como locus o consumo de

supérfluos eletrônicos, especificamente os telefones celulares inteligentes, os smartphones .

Consideram-se os valores pessoais desses consumidores e o reconhecimento desses valores

nos atributos dos smartphones adquiridos.

À luz dessas fundamentações esperou-se compreender o nosso problema de pesquisa e

interpretar as situações subjacentes.

3 METODOLOGIA

Nesse capítulo abordaremos os procedimentos metodológicos que foram adotados na

pesquisa. Serão apresentados o delineamento, os sujeitos, a coleta de dados, os instrumentos,

o processo e métodos de análise escolhidos.

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3.1 Delineamento da Pesquisa

A metodologia da pesquisa foi delineada visando, em sua primeira etapa, contemplar os

requisitos de revisão e análise bibliográfica pela leitura e análise de livros e artigos. Foi

adotado como protocolo metodológico, a partir da revisão bibliográfica, a apresentação e

caracterização de conceitos preliminares importantes para a estruturação do trabalho. A

pesquisa bibliográfica teve como finalidade conhecer as várias contribuições científicas

existentes acerca do tema investigado e levou em consideração a importância do material

analisado. Esse procedimento nos deu base para conhecer as investigações científicas já

realizadas e que nos auxiliou no entendimento do nosso objeto de estudo. Para Vergara (2006,

p. 48 , “Pesquisa bibliogr fica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material

publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público

em geral”.

Entendemos que o ato de pesquisar o comportamento da sociedade traz em si um desafio

enorme, pois é necessário desvelar relações, significados e importância que os indivíduos

atribuem a elementos sociais como participação, inclusão e exclusão social. Para o

pesquisador é imperioso interpretar cientificamente os elementos que, presentes nas relações

sociais, por diversas vezes encontram-se implícitos e requerem maior cuidado em sua

interpretação.

Pesquisa social é a análise sistemática das questões de pesquisa por meio de

métodos empíricos (p. Ex., perguntas, observação, análise dos dados, etc.).

Seu objetivo é fazer afirmações de base empírica que possam ser

generalizadas ou testar essas declarações. Várias abordagens podem ser

distinguidas e também vários campos de aplicação(saúde, educação,

pobreza, etc.). Diferentes objetivos podem ser buscados, variando desde uma

descrição exata de um fenômeno até sua explanação ou avaliação de uma

intervenção ou instituição (FLICK , 2013 p.18).

Compreender o problema sobre o qual nos debruçamos, entender suas implicações, descobrir

razões e motivações subjacentes para os comportamentos dos sujeitos pesquisados foram

objetivos de nossa investigação. Portanto, ao nos deparar com o problema da pesquisa fez-se

necessário escolher o melhor caminho metodológico para encontrar a resposta aos

questionamentos suscitados pela pergunta: Quais os valores pessoais dos consumidores

recifenses da classe C presentes no consumo de smartphones ?

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32

Para atender ao intento quanto aos fins, em nosso estudo fez-se uma pesquisa exploratória

objetivando maior conhecimento da situação problema e melhor discernimento sobre o

assunto estudado. Esclarecimento dessa perspectiva nos foi dada por Gil:

Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma

investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico,

tornam- se necessários seu esclarecimento e delimitação, o que exige revisão

da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. O produto

final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de

investigação mediante procedimentos mais sistematizados (GIL,2008 p. 27).

Almejamos entender quais os valores pessoais dos consumidores recifenses da classe C

presentes no consumo de smartphones, portanto a pesquisa foi essencialmente qualitativa,

pois de acordo com Malhotra “A pesquisa qualitativa é uma metodologia de pesquisa

exploratória e não-estruturada que se baseia em pequenas amostras com o objetivo de prover

percep es e compreensão do problema”. Na pesquisa qualitativa os critérios de validade e de

confiabilidade assumem aspectos particulares. Isso se deve a algumas de suas características.

Uma delas diz respeito ao fato de que a pesquisa qualitativa é sempre, em alguma instância,

de caráter interpretativo. Com isso, a subjetividade do pesquisador está presente em todo o

desenvolvimento da pesquisa. Por outro lado, a investigação qualitativa também assume pelo

menos certo grau de indução, que pode chegar à sua forma mais pura, despojada de teoria e

sem a formulação de hipóteses, mas permanecendo aberta à descoberta, mesmo quando se

utiliza de um quadro teórico prévio, uma vez que este não será operado no nível de variáveis

(LEÃO; MELLO; VIEIRA, 2009)

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Figura 2 - Relação entre constructos e o lócus

Fonte: Elaboração própria

Portanto, compreender os desdobramentos estratégicos de marketing e a percepção dos

indivíduos enquanto consumidores foi alvo de nossa pesquisa delineada nesse trabalho.

Para tal intento, traçamos o nosso desenho da pesquisa seguindo as seguintes etapas:

1. Pesquisa bibliográfica

2. Classificação dos sujeitos da pesquisa

3. Realização de uma entrevista pré-teste

4. Ajustes do roteiro estruturado

5. Agendamento das entrevistas

6. Coleta dos dados com a realização das entrevistas

7. Documentação dos dados através da transcrição das entrevistas

8. Análise e interpretação dos dados

3.2 Sujeitos da pesquisa

Valores pessoais

Consumo de smartphones Classe C

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Os sujeitos alvos dessa pesquisa tiveram o seguinte perfil: consumidores de ambos os sexos,

maiores de 18 anos pertencentes à classe C de acordo com o Critério Brasil de Classificação

Econômica – CCEB, e que realizam compras frequentes de produtos eletrônicos na cidade de

Recife, Pernambuco.

Quanto à técnica de amostragem, decidiu-se pela utilização de amostragem não probabilística

por conveniência. Segundo Malhotra (2012, p. 275), essa técnica pode ser usada em pesquisas

exploratórias a fim de gerar ideias, intuições ou hipóteses e a seleção das unidades amostrais é

deixada a cargo do pesquisador.

A coleta de dados deu-se através de entrevistas pessoais em profundidade. A decisão de

utilizar essa técnica também foi embasada em Malhotra (2012, p.122), ao afirmar que “Essa

técnica fornece uma maneira de investigar os motivos psicológicos e emocionais profundos e

subjacentes do consumidor que afetam as suas decisões de compra.”

Por tratar-se de pesquisa essencialmente qualitativa, o estabelecimento do tamanho da

amostra não foi um fator decisivo para a validade e confiabilidade dos resultados.

Vriens ; Hofstede (2000) consideram 30 pessoas entrevistadas um ótimo número, contudo isto

não é um padrão fixo e as recentes pesquisas acadêmicas publicadas tanto no âmbito nacional

quanto no internacional têm obtido bons resultados com números de entrevistados a partir de

12 sujeitos respondentes, pois a decisão do número exato de entrevistas a serem realizadas

depende, fundamentalmente, do alcance dos objetivos propostos pelo pesquisador evidenciado

pela saturação das respostas das entrevistas. No nosso estudo, encontrou-se a saturação dos

dados com 18 respondentes devidamente enquadrados nos critérios que foram

preestabelecidos como parâmetros para os sujeitos entrevistados.

O tamanho da amostra não se revela tão importante na construção do corpus,

contanto que haja evidência de saturação dos dados. Quando não surgem

mais relatos inusitados no processo de coleta de dados da pesquisa,

recomenda-se o critério de finalização dessa coleta por meio da saturação

das respostas das entrevistas, uma vez que os discursos não constituem

contribuições adicionais significativas para as análises de dados e conclusões

do estudo (PAIVA JÚNIOR; LEÃO; MELLO, 2011 p. 199).

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35

Quadro 1 - Recentes pesquisas acadêmicas utilizando entrevistas em profundidade

Estudo Enfoque Número de entrevistados

Leão e Melo (2001,2002) Jornal Virtual 78

Foot e Lamb (2002) Valores pessoais 9

Veludo-de-Oliveira(2003) Serviços educacionais 27

Dibley (2004) Fast food 44

Melo, Pimenta, Vilas Boas,

Nunes e Boaventura (2006)

Comportamento do

consumidor em

supermercado

21

Pimenta, Yokoyama, Vilas

Boas, Moriguchi e Macedo

(2008)

Valores pessoais e

consumo de café

16

Piato, Pimenta e Fowler

(2011-2012)

Aquisição de

automóveis

30

Livramento, Hor-Meyll e

Pessoa (2013)

Cosméticos 17

Picolli (2013) Processo decisório de

utilização de produto

agrícola

12

Fonte: Elaboração própria

Os sujeitos pesquisados quando foram entrevistados não receberam remuneração, pois foram

voluntários; tiveram seu anonimato preservado e foram informados logo no início da

entrevista de que ela seria gravada em áudio para proporcionar maior fidelidade na transcrição

das falas.

3.3 Coleta de Dados

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36

A coleta de dados é considerada na literatura (VERGARA, 2006; SAMARA, 2007;GIL,

2008) como uma das etapas imprescindíveis de uma pesquisa. Um processo de coleta bem

executado possibilita uma maior fidelidade na análise dos dados coletados e discussão dos

resultados encontrados. Por essa razão, a escolha do locus dessa pesquisa considerou como

ponto de partida o encontro dos sujeitos pesquisados em sua ação de compra.

O Locus da pesquisa foi a loja Eletro shopping. Justificamos essa escolha por ser a loja líder

em vendas de smartphones na cidade do Recife e pelo seu gestor de vendas ter demonstrado

interesse e acesso à pesquisa.

A empresa forneceu o acesso ao seu banco de dados de clientes que possuem o perfil traçado

como sujeitos dessa pesquisa.

Os dados foram colhidos através da utilização do método entrevista em profundidade – não

estruturada utilizando a técnica de encadeamento - Laddering.

A entrevista não estruturada, longe de ser um empecilho à acurácia da pesquisa, permitiu uma

sondagem adequada da problemática proposta pelo nosso estudo.

A entrevista “em profundidade” classificada como não estruturada apresenta

inicialmente, a vantagem de se basear adequadamente na realidade do

entrevistado, permitindo que estes falem o mais livremente possível, dando-

lhes a escolha dos assuntos que eles julgam pertinentes, reduzindo até certo

ponto os riscos de pré-estruturação do discurso presentes na entrevista

estruturada. Outra vantagem, é que este tipo de entrevista é visto como uma

forma de enriquecer o material de análise e o conteúdo da pesquisa, o que

também está relacionado à flexibilidade do método que favorece a

emergência de dimensões novas não imaginadas, de início, pelo pesquisador,

as quais podem ser determinantes para a compreensão do universo do

entrevistado e do objeto pesquisado. A terceira vantagem apresentada é que a

entrevista não estruturada oferece a possibilidade de explorar mais “em

profundidade” as diferentes facetas da experiência do entrevistado, o qual

goza de mais tempo para se expressar. Ainda como vantagem, menos

frequentemente mencionada, é que este tipo de entrevista possibilitaria uma

melhor exposi ão da experiência do entrevistado, explorando “em

profundidade” o contexto de vida e do meio de pertencimento do

entrevistado, que permite situar e melhor compreender o seu discurso, bem

como evidenciar a sua experiência e seu ponto de vista

(OLIVEIRA;MARTINS; VASCONCELOS, 2012 p.10-11).

Quanto a laddering , trata-se de uma técnica de entrevista cuja origem aconteceu no campo da

psicologia e foi introduzida nas pesquisas de marketing por Reynolds e Gutman (1988) e

desde então tem sido bastante utilizada em estudos a respeito do comportamento do

consumidor para compreender como eles traduzem os atributos dos produtos em associações

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37

mentais com significados sociais. A utilização dessa técnica possibilita a revelação de

sistemas de significados pessoais dos indivíduos em vários níveis de abstração.

Veludo-de-Oliveira e Ikeda (2004, p. 201) nos dão a definição dessa técnica de entrevista.

“Laddering se refere a uma técnica de entrevista em profundidade, individual, usada para

compreender como os clientes traduzem o atributo de produtos em associações com

significado a respeito de si mesmos, seguindo a teoria de cadeias meios-fins”.

As autoras também relatam que essa terminologia provém do inglês “ladder”, que significa

“escada” e é desse termo que depreende-se o principal sentido da técnica que é passar do nível

mais superficial ao mais profundo, do mais concreto ao mais abstrato, do mais tangível ao

mais conceitual, por meio de questões abertas, e assim descobrir insights e chegar à raiz do

problema.

Portanto, com a utilização dessa técnica objetivou-se identificar os atributos e benefícios e as

cadeias de meio-fim associadas ao consumo do produto em análise.

3.3.1 Instrumento

O instrumento foi entrevista em profundidade realizadas de maneira individual e pessoal.

Seguiram um roteiro com perguntas interativas que contemplou vários aspectos de

investigação a fim de compreender o valor percebido na aquisição de smartphones como

consequência da identificação dos consumidores com os produtos e de seus valores pessoais.

Veludo-de-Oliveira e Ikeda (2004) asseguram que através da aplicação da técnica, o

pesquisador passa a conduzir a entrevista de maneira a explorar as respostas dadas a um nível

de abstração correspondente às consequências e aos valores dos indivíduos. Por meio de

perguntas repetidas e interativas – como questionamentos do tipo “Por que isso é

importante?” e “O que isso significa para você?” – os entrevistados são estimulados a se

aprofundar acerca dos atributos, expressando progressivamente as consequências originadas

por esses atributos e os valores que se correlacionam.

As entrevistas foram primeiramente gravadas em áudio, logo em seguida transcritas,

documentando os dados coletados em material linguístico. Finalizada essa etapa, analisamos

cuidadosamente o conteúdo para permitir a categorização das palavras e expressões. Portanto,

foram observadas palavras-chaves que compuseram os códigos de conteúdo obedecendo aos

critérios de serem idênticas, sinônimas ou próximas a nível semântico.

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38

Para assegurar a eficácia do instrumento de pesquisa e prover os ajustes necessários no

desenvolvimento da entrevista, realizamos um pré-teste com duas pessoas que possuíam o

perfil delineado como sujeitos-alvo de nossa investigação.

3.3.2 Processo

Para a realização da pesquisa adotaram-se parâmetros técnicos que permitiram assegurar o

contato com os sujeitos pesquisados e extrair dados que possibilitaram a compreensão do

problema e a resposta à pergunta da pesquisa. Para tal intento, realizaram-se entrevistas

individuais não-estruturadas utilizando questões abertas. As entrevistas seguiram um esquema

predeterminado e que tem similaridade com o esquema utilizado pelos moderadores de grupos

focais (VELUDO-DE-OLIVEIRA; IKEDA, 2004).

Reynolds e Gutman (1988, p.791-793) recomendam três fórmulas para estimular essa etapa,

trabalhando principalmente nas características distintas entre diferentes ofertas, que são: (i)

escolhas entre três (triadic sorting): são apresentadas três opções distintas (de marcas, por

exemplo) e solicita-se ao entrevistado indicar diferenças e similaridades de duas em relação à

terceira; (ii) diferenças de preferência: uma ordem de preferência para depois citarem as

razões e (iii) diferenças de ocasião: o cliente é inserido em um contexto (de consumo, por

exemplo) em que descreve as características relativas a esse contexto. A terceira opção

mostrou-se mais adequada ao nosso contexto de pesquisa, pois o sujeito entrevistado era

levado a se inserir completamente no contexto de consumo.

O cerne das entrevistas foi levar os consumidores a mencionarem os atributos que eles

percebem nos produtos. As perguntas procuraram lançar luz sobre os pontos sensíveis

relacionados ao consumo de smartphones e suas correlações. A duração média de cada

entrevista foi de cinquenta minutos.

3.4 Métodos de Análise

A técnica proposta utilizou-se de uma categorização própria dividida em três dimensões que

foram encadeadas.

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39

A adoção dessa técnica objetivou estabelecer associações entre as características dos

smartphones adquiridos pelos entrevistados, ou seja, atributos do produto (A), com as

consequências comportamentais (C) e os valores pessoais (V) dos consumidores

entrevistados.

O encadeamento das dimensões A-C-V, Atributos, Consequência e Valores pessoais

proporcionou uma análise mais acurada das respostas dos entrevistados quando foram

estimulados a falarem dos motivadores do consumo.

De acordo com o modelo, os “meios” são os produtos ou as atividades nas

quais as pessoas estão envolvidas A ou C , e os “fins” são os estados

valorados da existência (V) . Traça-se, então, um caminho para formar o

encadeamento A-C-V, onde os “meios” levam a “fins”, ou seja, atributos de

produto (A) levam a consequências (C) que, por sua vez, ajudam a alcançar

os valores pessoais do indivíduo (V). São quatro as suposições principais: (a)

os valores são fatores dominantes no padrão de compras dos consumidores;

(b) os consumidores agrupam produtos baseados na função de satisfazer

valores; (c) todas ações tem consequências e (d) há uma ligação entre

consequências e atributos dos produtos (GUTMAN, 1982 p. 62)

A literatura especializada nessa técnica relata que as características dos produtos, serviços ou

comportamento que podem ser preferidas ou procuradas pelos consumidores são os atributos

(A). Esses atributos podem ter dois níveis: atributos concretos e abstratos. Por exemplo, o

preço e a boa qualidade, respectivamente. É comum as pessoas esperarem consequências e

benefícios de um determinado produto, serviço ou comportamento. Na maior parte das vezes

do ponto de vista do cliente, não são os atributos do produto que contam, mas a solução do

problema (o benefício recorrente) que deriva de certa combinação de atributos.

Para Gutman (1982), os consumidores fazem escolhas e assim aprendem quais atributos irão

produzir as consequências desejadas.

Para o autor, os consumidores buscam as consequências e as situações de consumo fornecem

a oportunidade para que as consigam. Com isso, as consequências (C) são definidas como:

“[...] qualquer resultado fisiológico ou psicológico proveniente, direta ou indiretamente do

consumidor (comportamento primeiro e consequências depois) que pode ser desejável ou

indesejável para ele” GUTMAN, 98 p. 6 .

As consequências podem ser diretas ou indiretas, o autor exemplificou essa diferença

descrevendo que, ao comprar um produto, há uma consequência direta que faz com que o

consumidor se sinta melhor, e porque se sente melhor, as pessoas reagem de forma mais

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favorável a esse indivíduo (uma consequência indireta). As consequências/benefícios podem

ser classificadas em funcionais e psicológicas. As consequências funcionais influenciam

diretamente o ato do consumir/comprar, enquanto as consequências psicológicas são

produzidas por meio das consequências funcionais, tais como quando a utilização de um uso

de um produto pode produzir uma imagem sofisticada ou de status. A figura 3 mostra a

relação da Cadeia meios-fim.

Figura 3 - Cadeia meios-fim

Fonte: Reynolds, 1988

A interpretação dos dados foi dividida em quatro fases, utilizando critérios pré-estabelecidos

por Reynolds; Gutman, (1988) as quais mencionamos a seguir:

a) Análise de conteúdo;

Para atender os nossos propósitos investigativos, o início do trabalho analítico deu-se através

da análise de conteúdo que, de acordo com Bardin (1977, p. 38 , é “ Um conjunto de técnicas

de análises das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição

do conteúdo das mensagens”. A abordagem de análise de conteúdo qualitativa permitiu

análises mais profundas de palavras e conceitos emitidos pelos sujeitos pesquisados e, neste

Atributos

Características concretas do produto

Benefícios

Consequências do uso do produto

Valores

Estados desejados pelo consumidor

Atributo concreto

Atributo abstrato

Benefício funcional

Benefício psicosocial

Valor instrumental

Valor terminal

CONSUMIDOR PRODUTO

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41

sentido, possibilitou a identificação de relações em torno de termos, ou temas centrais à nossa

pesquisa. Adotou-se o procedimento de agrupamento de sinônimos para perceber quais

atributos, consequências e valores eram percebidos pelos entrevistados. Dentro desse

procedimento metodológico, as palavras foram codificadas e os dados fornecidos pelos

sujeitos da pesquisa foram interpretados dentro de um contexto que envolveu vários

significados dados pelos respondentes. Certamente fez-se necessário sistematizar esse

processo e Bardin (1977, p. 95) nos esclarece que a análise de conteúdo desenvolve-se em

três fases: (1) pré-analise; (2) exploração do material; e (3) tratamento dos dados, inferência e

interpretação.

O processo de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo de mensagens,

promovido pela análise de conteúdo, foi organizado em três etapas realizadas em

conformidade com três pólos cronológicos diferentes. De acordo com Bardin (1977), essas

etapas compreendem:

1) A pré-análise: fase de organização e sistematização das ideias, em que ocorreu a escolha

das falas a serem analisados, a retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa em

relação ao material coletado, e a elaboração de indicadores que orientarão a interpretação

final. A pré-análise foi decomposta em quatro etapas: leitura flutuante, na qual houve um

contato exaustivo com o material de análise; constituição do Corpus, que envolveu a

organização do material de forma a responder a critérios de exaustividade, representatividade,

homogeneidade e pertinência; formulação de pressupostos iniciais flexíveis que permitiram o

surgimento de possibilidades a partir de procedimentos exploratórios; referenciação dos

índices e elaboração dos indicadores que foram adotados na análise, e preparação do material.

2) A exploração do material: trata-se da fase em que os dados brutos do material foram

codificados para se alcançar o núcleo de compreensão do texto. A codificação envolveu

procedimentos de recorte, contagem, classificação, desconto ou enumeração em função de

regras previamente formuladas.

3) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: nessa fase, os dados brutos foram

submetidos a operações de agrupamento, a fim de se tornarem significativos e válidos e de

evidenciarem as informações obtidas. De posse dessas informações, realizaram-se as

inferências e interpretações de acordo com o quadro teórico e os objetivos propostos.

b) Desenvolvimento da matriz de implicação;

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42

A construção da matriz de implicação é o segundo passo na análise do método laddering.

Todos os elementos selecionados na primeira fase foram alocados, por meio de seus códigos,

nas linhas e nas colunas de uma tabela numérica, formando uma matriz. Nessa fase, foram

analisadas as relações entre os elementos, por meio da verificação de quantas vezes dado

elemento leva a outro. Para a contagem das relações existentes entre os elementos, é

necessário analisar os ladders das entrevistas de cada respondente. Foram também

considerados os tipos de relação entre os elementos, pois em alguns momentos eles

relacionaram-se de forma direta, quando foram adjacentes, ou de forma indireta, quando

houve outros elementos entre eles. A quantidade de relações entre os elementos foi

apresentada na matriz na forma fracional, em que as relações diretas (XX) aparecem à

esquerda do ponto e as indiretas (YY) estão à direita do ponto final. A figura 4 mostra um

exemplo de Matriz de implicação.

Figura 4 - Matriz de implicação

Cód. DE

(XX;YY) PARA

(XX;YY) Cód.

DE (XX;YY)

PARA (XX;YY)

A1 31;216 00;00 C3 16;29 18;20

A2 09;36 00;00 C4 17;34 20;37

A3 11;26 05;00 C5 16;35 18;17

A4 09;36 00;00 C6 21;48 27;32

A5 11;43 00;00 C7 13;27 14;17

A6 20;36 10;00 C8 12;22 10;16

A7 09;36 00;00 D1 17;18 18;44

A8 09;36 00;00 D2 20;21 24;70

A9 05;20 00;00 D3 15;17 19;44

A10 05;20 00;00 D4 18;22 18;57

A11 05;20 00;00 D5 22;22 22;55

A12 10;42 00;00 D6 11;11 09;22

A13 08;34 00;00 D7 17;16 17;36

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A14 26;55 13;00 E1 11;00 29;101

A15 12;24 06;00 E2 27;00 12;37

A16 14;56 00;00 E3 12;00 16;54

B1 09;38 15;00 E4 10;00 10;43

B2 26;68 26;01 E5 30;00 32;131

B3 14;40 14;08 E6 08;00 10;34

B4 19;59 24;05 E7 12;00 11;41

B5 12;29 13;01 F1 00;00 16;76

B6 26;73 28;02 F2 00;00 14;58

B7 26;64 28;10 F3 00;00 27;165

B8 13;40 12;00 F4 00;00 27;131

C1 20;31 21;22 F5 00;00 06;32

C2 12;34 17;19 F6 00;00 20;96

Fonte: Reynolds, 1988

A importância dada pelo sujeito entrevistado aos atributos pode ser observada através da

coluna a partir de, enquanto que na identificação do valor mais importante, analisa-se a coluna

vindo para. Ambas as colunas são analisadas para identificar a consequência mais relevante.

c) Construção do mapa hierárquico de valor

Os valores humanos ajudam a explicar o fenômeno comportamental de consumo pela relação

de causalidade que se estabelece com ele. Para Rokeach (1973, p. 65, tradução nossa “Valor

é uma crença duradoura de que um modo específico de conduta (valor instrumental) ou estado

final de existência (valor terminal) é pessoalmente ou socialmente preferível a um modo de

conduta ou estado final de existência oposto ou diferente”. Essa perspectiva est apoiada na

concepção de que existem valores constantes que transcendem indivíduos e situações ou de

que os valores são representações cognitivas das necessidades humanas universais. Rokeach

(1973) afirmou que as pessoas usam seus valores aprendidos culturalmente para ajudar a

racionalizar sobre atitudes e comportamentos que poderiam de outra forma ser pessoalmente

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ou socialmente inaceitáveis. Valores estão mais relacionados com comportamentos do que

com traços de personalidade; valores são mais centrais, menos numerosos e mais

imediatamente relacionados à motivação do que às atitudes e ainda de acordo com essa

perspectiva, os valores são culturalmente derivados, definindo, mantendo e regulando a

estrutura social, dando-lhe coesão e estabilidade. Portanto, nessa etapa fizemos o mapeamento

das relações existentes entre os elementos, sejam elas relações diretas ou indiretas. Contudo,

nem todas as relações entre atributos, consequências e valores pessoais foram consideradas, e

sim as mais importantes, que, por sua vez, foram filtradas com o estabelecimento de um ponto

de corte, que se refere a um número mínimo de vezes em que as relações diretas e indiretas

aparecem na matriz de implicação. As relações que não atingiram o ponto de corte foram

descartadas. O ponto de corte ideal é o que leva o mapa a cobrir, pelo menos, dois terços das

relações apresentadas na matriz de implicação (REYNOLDS; GUTMAN, 1988).

Podemos também dizer que a construção do mapa implica a verificação dos tipos de relações

existentes entre os elementos, que podem ser: elementos adjacentes (A-D), elementos não

adjacentes (N-D), elementos adjacentes com muitas relações indiretas (A- I), elementos não

adjacentes com muitas relações indiretas (N-I) e, por fim, elementos não adjacentes com

baixo número de relações (N-O) (REYNOLDS; GUTMAN, 1988).

O processo de construção do mapa consistiu na estruturação de cadeias meios-fim, partindo

da primeira linha da matriz de implicação e indo até a última. Tendo em vista a primeira linha

da matriz, deve-se procurar a primeira coluna com um número de relações diretas ou indiretas

superiores ao ponto de corte estabelecido. O encontro da célula que combina a primeira linha

com tal coluna forma o início de uma sequência A-C-V. Para dar continuidade à sequência,

movimenta-se para baixo, indo até a linha que contém o número dessa coluna. REYNOLDS ;

e GUTMAN (1988) informam que o objetivo dessa etapa é inter-relacionar as cadeias

significativas, de modo a facilitar sua interpretação, de preferência, evitando o cruzamento de

linhas. Esse procedimento indica todas as relações importantes entre atributos, consequências

e valores pessoais. Após a construção do mapa, fez-se um resumo com as relações diretas

(XX) e indiretas (YY) de cada elemento (XX.YY). O resumo deve apresentar a quantidade de

rela es que “partiram” de cada elemento ou que “vieram” até ele. A relevância desse resumo

está em identificar facilmente quais são os elementos mais importantes em cada nível. Essa

etapa da análise deve originar o mapa hierárquico de valor (HVM).

Solomon (2011, p. 76 afirma que “as op es de consumo simplesmente não podem ser

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compreendidas sem o contexto cultural em que são feitas: a cultura é a „lente‟ através da qual

as pessoas enxergam o consumo”. Nessa etapa, onde comparamos valores e atitudes

evidenciou-se o entendimento do consumidor de forma mais estável e auto-orientada.

3.5 Limites e limitações

Este estudo pretendeu contribuir para a análise dos valores pessoais dos consumidores de

smartphones. Os sujeitos pesquisados são pertencentes a classe C de acordo com o Critério de

Classificação Econômica Brasil (CCEB), e adquiriram seus smartphones nas lojas Eletro

Shopping unidade Rua Nova, no centro da cidade do Recife e no Shopping Tacaruna, no

bairro de Santo Amaro, Recife.

3.5.1 Limites

A nossa proposta metodológica possui caráter qualitativo, portanto propiciou a revelação da

percepção dos sujeitos que compuseram a amostra. Não se objetivou generalizações

estatísticas e a amostra configurou-se como não probabilística já que os resultados não foram

projetados para a totalidade do universo dos consumidores da classe C.

3.5.2 Limitações

A técnica de laddering ofereceu excelentes condições para compreensão do fenômeno social

que estudamos. Houve uma limitação geográfica por estudarmos apenas a cidade do Recife,

Pernambuco. Outra limitação foi o número de sujeitos pesquisados, que, sob a ótica da

estatística é pequeno. Como o estudo se propôs a abordar o assunto pelo método qualitativo e

não pelo método quantitativo, o número de sujeitos pesquisados não invalidou ou

comprometeu os resultados alcançados, pois foram respaldados pelos critérios de relevância e

veracidade.

Quando a coleta dos dados foi iniciada, esperava-se um grande quantitativo de consumidores

nas lojas, contudo, devido ao declínio nas vendas no comercio varejista, percebeu-se a

escassez de consumidores no ponto de venda, ainda que a pesquisa estivesse sendo realizada

em dias e horários que tradicionalmente há um grande fluxo de clientes nas lojas.

Percebeu-se também um número expressivo de consumidores enquadrados nos critérios

socioeconômicos adotados para a realização da pesquisa que optaram por comprar aparelhos

de celulares com funcionalidades reduzidas e que não se enquadram na categoria

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smartphones, alegando contensão de despesas ou ainda o medo da violência. Tal

acontecimento impactou o cronograma da pesquisa.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Caracterização dos sujeitos

A pesquisa foi realizada em duas lojas da rede Eletro Shopping, as unidades foram Rua Nova,

no centro do Recife, e Shopping Tacaruna. As entrevistas aconteceram no período de 18 e 19

de dezembro de 2015 e 11 a 23 de janeiro de 2016. Para selecionar a amostra, foi aplicado

antes das entrevistas em profundidade, um questionário para obter os dados socioeconômicos

dos entrevistados. Verificou-se que todos os respondentes pertenciam à classe C, de acordo

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com o Critério Brasil de Classificação Econômica (CCEB) do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE).

Foram entrevistados 18 consumidores de smartphones, com idades entre 18 e 65 anos,

residentes na cidade do Recife, Pernambuco. Esse número de entrevistas se deu em função da

saturação das respostas, conforme orientam Paiva Júnior; Leão; Melo (2008) e Veludo-de-

Oliveira e Ikeda (2008).

Todas as entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas e submetidas à análise de conteúdo

para agrupamento de sinônimos e atribuição de códigos de resumo para cada sinônimo. Esse

procedimento teve como intuito determinar os elementos que constituem os ladders

(atributos, consequências e valores) e seguiram um roteiro predeterminado, composto por 12

perguntas que contemplaram a investigação dos objetivos gerais e específicos deste estudo,

conforme quadro abaixo:

Quadro 2 - Roteiro das perguntas da entrevista e relação com os objetivos específicos

Objetivos específicos Perguntas

1. Compreender a importância

da tradição do produto na

aquisição de smartphones pela classe C .

1- Por que você decidiu comprar o seu smartphone dessa

marca diante de tantas outras opções?

2- Você buscou informações ou referências a respeito da

marca?

3- Na sua opinião, qual é a importância da tradição da marca

de um smartphone?

2. Identificar se há prazer

envolvido na aquisição de

smartphones pela classe C .

4- Comprar este smartphone

realizou seu desejo de consumo? Por

que?

5- Qual é a palavra que representa o bem-estar que você

sentiu ao adquirir o seu smartphone?

Por quê?

6- Se o preço do smartphone que você comprou fosse mais

alto, você desistiria de comprá-lo?

3. Revelar a sensação de

realização pessoal do

consumidor da classe C ao

adquirir smartphones

7- Para você, é importante ter um smartphone “da moda”?

Por quê?

8- O smartphone contribui para sua realização pessoal?

9- Você acredita que possuir um smartphone lhe ajuda a

ser uma pessoa diferenciada? Por quê?

4. Compreender a percepção

de inclusão social do

consumidor da classe C ao

10- Em sua opinião, o seu smartphone vai lhe ajudar nos

relacionamento com as pessoas?

Por quê?

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adquirir smartphones 11- Você acha um smartphone vai ajudar a ter um melhor

status perante os seus amigos?

12- Você prefere interagir com os amigos presencialmente

ou utilizando o smartphone?

Fonte: Elaboração própria

4.2 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo na técnica laddering processa-se em duas etapas. Na primeira etapa

realiza-se a leitura minuciosa das entrevistas e, como decorrência, a identificação de orações

ou palavras-chave que representem os conceitos expressos pelo entrevistado (REYNOLDS e

GUTMAN, 1988). Frases que possuem sentido semelhantes são representadas por uma

mesma oração (VELUDO-DE-OLIVEIRA e IKEDA, 2004). A segunda etapa é a

identificação e a classificação desses elementos em atributos (A), consequências (C) ou

valores (V), numerando todos os elementos em ordem crescente, a partir dos atributos, para os

valores.

O resultado da análise de conteúdo, permitiu a identificação de 27 elementos (código A1 ao

F3), bem como a classificação, conforme modelo da cadeia meios-fim.

Os elementos encontrados são apresentados abaixo:

Quadro 3 - Sumário de códigos

Código Atributos concretos Código Atributos abstratos

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49

A1 Preço acessível B1 Qualidade

A2 Preço alto B2 Marca reconhecida

A3 Memória do smartphone B3 Indicação de parentes e amigos

A4 GPS B4 Fácil de usar

A5 Tela grande

A6 Multifuncionalidade

Código Consequências funcionais Código Consequências psicológicas

C1 Comunicar-se com as pessoas D1 Sentir-se realizado

C2 Ajudar no meu trabalho D2 Ser moderno

C3 Ajudar na faculdade D3 Indispensável para a minha vida

C4 Baixar música D4 ser uma pessoa comum

C5 Fotografar e filmar D5 Ser aceito socialmente

C6 Apenas efetuar e receber chamadas

C7 GPS ajuda a encontrar as ruas

C8 Acessar a internet e redes sociais

Código Valores instrumentais Código Valores terminais

E1 Relacionamento F1 Trabalho

F2 Amizade

F3 Auto-estima

Fonte: Elaboração própria

Foram identificados dez atributos, sendo seis concretos e quatro abstratos. Tornaram-se

visíveis oito consequências funcionais e cinco psicológicas. Foram revelados quatro valores,

sendo um valor instrumental e três valores terminais. Para melhor entendimento dos

elementos obtidos na pesquisa, optou-se por colocar à frente do número uma letra

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50

correspondente ao grupo ao qual o elemento pertence. A letra corresponde aos atributos,

consequências e valores pessoais; e o número, ao código presente em cada um deles, por

exemplo:

Atributos concretos: A (A1, A2, A3, A4, A5, A6).

Atributos abstratos: B (B1, B2, B3, B4).

Consequências funcionais: C (C1, C2, C3, C4, C5, C6, C7, C8).

Consequências psicológicas: D (D1, D2, D3, D4, D5).

Valores pessoais instrumentais: E (E1).

Valores pessoais terminais: F (F1, F2, F3).

Após a categorização, buscamos a formação de ladders com o propósito de traduzir os

sentimentos dos entrevistados.

Tabela 4 - Tabela de categorização e descrição de ladders

Código Categorização Descrições

Entrevistas

A1 Preço acessível Preço abaixo da

expectativa do consumidor

1 ;2; 4; 6; 7; 8; 9; 14;

17

A2 Preço alto Preço acima da expectativa

do consumidor

2; 3;5; 10; 11; 12; 13;

15; 18

A3 Memória do smartphone Possibilidade de realizar

operações com o

smartphone

5; 8 ;16

A4 GPS Mapa e guia de endereços 9 ; 16

A5 Tela grande Boa visualização na tela

do smartphone

9

A6 Multifuncionalidade Capacidade de atender as

mais diversas necessidades

do consumidor

5; 7 ; 17

B1 Qualidade Grau de excelência do

smartphone

1; 6; 8 ; 17 ; 18

B2 Marca reconhecida Credibilidade e tradição 7 ; 10 ; 11 ; 13 ; 18

B3 Indicação de parentes e

amigos

Grupos de referência que

foram importantes na

escolhas

2 ; 4; 12

B4 Fácil de usar Funcionalidade e

versatilidade

4; 16; 18

C1 Comunicar-se com as

pessoas

Necessidade prioritária dos

consumidores

1; 4 ; 7; 12 ; 15 ; 18

C2 Ajudar no meu trabalho Ocasião de uso no âmbito 2; 4 ; 6 ; 8 ; 9 ; 11;

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51

profissional 12; 13

C3 Ajudar na faculdade Ocasião de uso do

smartphone pelo

consumidor estudante

8

C4 Baixar música Funcionalidade de lazer 5 ; 13

C5 Fotografar e filmar Funcionalidade lúdica 1 ; 5 ; 12

C6 Apenas efetuar e receber

chamadas

Função básica do aparelho 1; 2; 7; 14 ; 18

C7 GPS ajuda a encontrar as

ruas

Guia de endereços 9 ; 16

C8 Acessar a internet e redes

sociais

Funcionalidade esperada

do smartphone

3 ; 8 ; 9 ; 10 ; 11; 13 ;

14 ; 15 ; 16 ; 17 ; 18

D1 Sentir-se realizado Realização pessoal ,

hedonismo

1 ; 3 ; 4 ; 5 ; 6; 7 ; 8 ;

9; 10; 11; 12 ;13 ; 14;

15; 16 ; 17

D2 Ser moderno Sentir-se atualizado 4 ; 7; 10 ; 11 ; 12 ;

13; 14

D3 Não posso viver sem ele Dependência psicológica 9

D4 Não me destaca das

demais pessoas

Negação de percepção de

status social

1 ; 2 ; 6 ; 9 ; 16 ; 18

D5 Ser aceito socialmente Realização ;

Reconhecimento pela

sociedade, possuir respeito

e admiração.

1 ; 3 ; 4 ; 6 ; 7 ; 9 ;

11; 12 ; 13 ; 14 ; 15 ;

16 ; 17

E1 Relacionamento Relações sociais,

socialização, se comunicar

com pessoas de seu

convívio

1 ; 2 ; 3 ; 4 ; 6 ; 7 ; 8 ;

9; 10 ; 11 ; 12 ; 13;

14; 15 ; 16 ; 17 ;18

F1 Trabalho Modo digno de ganhar a

vida

1; 2 ; 4 ; 6 ; 7 ; 8 ; 9;

11 ; 13

F2 Amizade Benevolência 3 ; 4 ; 9 ; 13 ; 17 ; 18

F3 Auto-estima Hedonismo 1 ; 3 ; 4 ; 5 ; 6 ; 7 ; 8 ;

9; 10 ; 11 ; 12 ; 13 ;

14; 15 ; 16 ; 17

Percebeu-se que houve encadeamento entre os atributos (A), consequências (C) conforme

pode-se ver no quadro abaixo.

Quadro 4 - Formação de ladders

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52

Os valores pessoais são elementos essenciais no processo de decisão de compra, e de acordo

LADDER ATRIBUTO CONSEQUÊNCIA

A1 Preço acessível C1

C6

D1

D4

A2 Preço alto C2

C6

A3 Memória do

smartphone

C8

D1

D5

A4 GPS C1

C2

D1

D5

A5 Tela grande C2

C7

C8

D1

D3

D4

D5

A6 Multifuncionalidade C2

D1

D5

B1 Qualidade C1

D1

D5

B2 Marca reconhecida C2

C3

C8

D1

B3 Indicação de

parentes e amigos

C1

C2

C6

D1

D4

B4 Fácil de usar C1

C2

D1

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53

com Rockeach (1973), são categorizados como instrumentais e terminais. Valores

instrumentais são os modos para se chegar aos valores terminais, que são realizações da

pessoa humana.

Como valor instrumental foi identificado: relacionamento; como valores terminais: amizade,

trabalho (modo digno de ganhar a vida), auto-estima (hedonismo). Pode-se perceber que todas

as dimensões dos valores pessoais dos entrevistados apontam para o interesse individual

(SCHWARTZ, 2001).

A técnica aplicada mostrou-se eficaz ao possibilitar a verificação das correlações entre os

atributos dos produtos (A) e os valores pessoais (V).

Quadro 5 - Relações entre ladder, atributo e valor

LADDER ATRIBUTO VALOR

A1 Preço acessível E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

F3 - Auto-estima

A2 Preço alto E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

A3 Memória do smartphone E1 - Relacionamento;

F3 - Auto-estima

A4 GPS E1 - Relacionamento;

F2 - Amizade;

F3 - Auto-estima

A5 Tela grande E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

F2 - Amizade;

F3 - Auto-estima

A6 Multifuncionalidade E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

B1

Qualidade E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

F3 - Auto-estima

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54

B2 Marca reconhecida E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

F3 - Auto-estima

B3 Indicação de parentes e amigos E1 - Relacionamento;

F1 - Trabalho;

F2 – Amizade;

F3 - Auto-estima

B4 Fácil de usar E1- Relacionamento;

F1 - Trabalho;

F2 - Auto-estima;

F3 - Amizade

Fonte: Elaboração própria

4.3 Matriz de Implicações

De acordo com Reynolds e Gutman (1988), as implicações que foram evidenciadas na análise

de conteúdo devem ser analisadas verificando-se quantas vezes um elemento leva a outro,

dessa maneira os elementos enumerados na etapa anterior são organizados em uma matriz. A

contagem dessas relações ocorre após a análise dos ladders das entrevistas de cada sujeito

entrevistado, considerando o tipo de relação entre os elementos. As relações podem ser diretas

ou indiretas. As relações diretas ocorrem quando as relações entre os elementos são

adjacentes, já nas relações indiretas existem outros elementos entre eles. As relações são

representadas de maneira fracional, onde o número de relações diretas (XX) entre aqueles

elementos fica à esquerda do ponto, enquanto o número de relações indiretas (YY) fica à

direita. (REYNOLDS e GUTMAN, 1988).

Na fase de elaboração da Matriz de Implicação, deparamo-nos com a situação de termos

determinada relação de elementos em diferentes ladders de um mesmo entrevistado.

Considerando que uma contagem mal realizada comprometeria todo o resultado, ocorreu-nos

uma dúvida: deve ser considerada várias vezes, ou esta deve ser contada apenas uma vez?

Recorremos então a Leão (2001) para elucidar essa questão. Ele orienta que, seguindo a teoria

do laddering, a contagem das relações deve ocorrer apenas uma vez.

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Quadro 6 - Simplificação Gráfica da Matriz de Implicação

CÓDIGO ATRIBUTOS CONSEQUÊNCIAS VALORES

AT

RB

UT

OS

A1 Preço acessível C1(00.06);C6(00.05);

D1(17.00); D4(00.06)

E1(11.00);F1(05.00);

F3(22.00)

A2 Preço alto C2(00.08);C6(00.05) E1(08.00);F1(08.00)

A3 Memória do

smartphone

C8(03.00);D1(03.00);

D5(03.00);

E1(03.00);F3(03.03)

A4 GPS C1(00.02);C2(02.00);

D1(01.00); D5(02.00)

E1(02.00);F2(02.01);

F3(07.00)

A5 Tela grande C2(01.00);C7(01.00);

C8(00.01);D1(01.00);

D3(01.00);D4(00.01);

D5(01.00)

E1(00.01);F1(03;00);

F2(01.00);F3(03.00)

A6 Multifuncionalidade C2(01.00);D1(03.00);

D5(02.00)

E1(06.00);F1(03;00);

B1 Qualidade C1(01.00);C6(01.00);

D1(04.00);D5(04.00)

E1(00.01);F1(03.00);

F3(10.00)

B2 Marca reconhecida C2(01.00);C3(01.00);

C8(01.00);D1(01.00)

E1(04.00);F1(04.00);

F3(04.00)

B3 Indicação de

parentes e amigos

C1(01.00);C2(03.00);

C6(01.00);D1(02.00);

D4(01.00)

E1(07.00);F1(03.00);

F2(04.00);F3(02.00)

B4 Fácil de usar C1(02.00);C2(02.00);

D1(02.00)

E1(06.00);F1(02.00);

F2(05.00)

CO

NS

EQ

NC

IAS

C1 Comunicar-se com

as pessoas

D1(05.00);D2(03.00);

D4(02.00);D5(05.00);

E1(05.00);F1(13.00);

F2(03.00);F3(05.00)

C2 Ajudar no meu

trabalho

D1(05.00);D2(03.00);

D3(01.00);D4(03.00);

D5(05.00)

E1(00.01);F1(00.01);

F3(10.00)

C3 Ajudar na faculdade D1(01.00); D5(01.00) E1(00.01);F1(00.01);

F3(00.01)

C4 Baixar música D1(01.00);D2(01.00);

D5(01.00)

E1(02.00); F3(02.00)

C5 Fotografar e filmar D1(03.00);D2(01.00);

D5(01.00)

E1(02.00); F3(03.00)

C6 Apenas efetuar e

receber chamadas

D1(03.00);D2(01.00);

D4(03.00);D5(03.00)

E1(01.00);F1(04.00);

F2(04.00);F3(03.00)

C7 GPS ajuda a

encontrar as ruas

D1(02.00);D3(01.00);

D4(00.01);D5(00.02)

F1(01.00); F2(02.00);

F3(02.00)

C8 Acessar a internet e

redes sociais

D1(10.00);D2(04.00);

D3(01.00);D4(03.00);

D5(12.00)

E1(12.00);F1(04.00);

F2(12.00);F3(22.00)

D1 Sentir-se realizado E1(13.00);F1(09.00);

F2(05.00);F3(16.00)

D2 Ser moderno E1(07.00);F1(03.00);

F2(02.00);F3(xx.yy)

D3 Não posso viver sem

ele

E1(01.00);F1(01.00);

F2(01.00);F3(01.00)

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56

Fonte: Elaboração própria

Através da elaboração do mapa hierárquico de valor que permitiu localizar com facilidade as

cadeias de atributos, consequências e valores derivados das opiniões e percepções dos

entrevistados, sendo esta relação representada de forma agregada. Para a construção do

referido mapa, dois aspectos foram considerados, a princípio: o número de relações diretas e

indiretas e o ponto de corte estabelecido.

O ponto de corte se caracteriza pelo valor a partir do qual as células de entrada da matriz

foram utilizadas para a confecção do mapa hierárquico de valores. Para se construir o Mapa

Hierárquico de Valor (MHV) partiu-se da primeira coluna da Matriz de Implicação onde

havia número de relações diretas ou indiretas superior ao número de corte. As células que

possuem um número de relações abaixo deste ponto de corte foram descartadas da construção

do mapa por se caracterizarem como de fraca relação. Reynolds e Gutman (1988)

recomendam ponto de corte entre 3 e 5. Nessa pesquisa foi utilizado o ponto de corte três,

pois este representou de maneira mais adequada as relações relevantes de forma a não

comprometer a representatividade do mapa e, consequentemente, sua posterior análise.

D4 Não me destaca das

demais pessoas

E1(06.00);F1(04.00);

F2(02.00);F3(04.00)

D5 Ser aceito

socialmente

F2(05.00);F3(13.00)

VA

LO

RE

S E1 Relacionamento

F1 Trabalho

F2 Amizade

F3 Auto-estima

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Quadro 7 - Mapa Hierárquico de Valor (MHV)

(E1) RELACIONAMENTO (F1) TRABALHO (F2) AMIZADE (F3)AUTO-ESTIMA

(D5) Ser aceito socialmente

(D1) Sentir-se realizado (D2) Ser moderno (D3) Não posso viver sem ele (D4)Não me destaca das demais

pessoas

(C1) Comunicar-se com as pessoas (C2) Ajudar no meu trabalho

, que sã

(B1) Qualidade

(A1)Preço acessível (A2) Preço alto (A6)Multifuncionalidade

Fonte: Elaboração própria

Percebeu-se ao analisar o Mapa Hierárquico de Valor (MHV), que três atributos concretos (A)

geraram encadeamento. A saber, Preço acessível, Preço alto, Multifuncionalidade. O atributo

preço, nesta pesquisa, refere-se a percepção de valor dos smartphones atribuídos pelos

consumidores da classe pesquisada. Os preços dos produtos variaram entre R$ 689,00 e R$

2.500,00 a depender do fabricante, modelo e capacidade de memória, preços estes que

(C6)Apenas efetuar

E receber chamadas

(C8) Acessar internet

e redes sociais

sociais

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impactam fortemente o orçamento familiar dos entrevistados, contudo, não foram impeditivos

à compra. Observou-se que o atributo Multifuncionalidade é um diferencial do produto no

processo de compra, pois é a multiplicidade de funções, aplicativos e acesso à internet que

torna o smartphone atraente aos consumidores. A Qualidade foi dos atributos abstratos que

mais gerou encadeamentos. Em razão de sua abrangência semântica, esse atributo reuniu em

si os bons atributos da marca e conseguiu promover o encadeamento com as consequências

funcionais e psicológicas (C).

Ainda na dimensão das consequências (C), foi investigado a maneira pela qual o smartphone

afeta as relações dos sujeitos com o ambiente em que vive. A comunicação interpessoal

figurou como item fundamental nas atividades do trabalho e lazer dos entrevistados. A

utilização do smartphone para acessar a internet e redes sociais, que é uma consequência

funcional, foi citada como elemento propulsor da aceitação social do indivíduo. Portanto,

pode-se ver aqui uma gradação que conduz a uma consequência psicológica.

As entrevistas em profundidade revelaram que o smartphone é percebido pelos respondentes

como parte integrante de si mesmos, sendo, desta forma, uma condição para a realização

pessoal. Portanto, se o aparelho for utilizado apenas para efetuar e receber chamadas

telefônicas, isso não os destaca das demais pessoas, segundo os entrevistados.

Podemos constatar em nossa pesquisa que os atributos (A) valorizados pelos consumidores de

smartphones promovem ocasiões de uso e sensações psicológicas as quais são consequências

(C) da utilização do produto e os valores (V) que são inerentes aos consumidores enquanto

pessoas humanas.

Encontramos como valores Relacionamento, sendo entendido aqui como as relações sociais e

comunicacionais do dia-a-dia, promovidas pela comunicação humana; Trabalho, que é um

valor terminal, pois significa a maneira digna de ganhar a vida; Amizade, aqui traduzida por

fraternidade entre as pessoas, promovendo o desejo de compartilhar os momentos com

pessoas e grupos através da internet e aplicativos de relacionamento, gerando um sentimento

de pertencimento e acolhimento; Auto-estima, um nível de auto-aceitação proporcionado pela

sensação de inclusão, de poder e reconhecimento. Este valor esteve presente na maior parte

dos ladders e foi revelado pelas falas de satisfação em ter, possuir um smartphone pelo qual

ele, o consumidor pode pagar.

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60

5 CONCLUSÕES

A constatação do corrente fenômeno de crescimento da classe C, sendo atualmente a classe

social com maior número de participantes no país, cujos números equivalem a mais da metade

da população brasileira, confirma a relevância da realização de estudos a respeito de quem são

estes sujeitos e como se comportam na sociedade de consumo.

Devido às inúmeras possibilidades temáticas, optou-se por delimitar a abrangência do estudo

buscando-se como objetivo principal da pesquisa, investigar a presença dos valores pessoais

dos consumidores recifenses pertencentes a classe C no consumo de smartphones.

Compreender o comportamento de compra deste grupo social, suas motivações e valores foi

um intento desafiador, pois havia o risco de enveredarmos por caminhos enviesados o que

certamente nos conduziria a interpretações parciais e equivocadas. Tais equívocos foram

evitados com a adoção de metodologia adequada que identificou os sujeitos como

participantes da classe C de acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil

(CCEB). Todas as entrevistas em profundidade foram realizadas em pontos de venda de

smartphones utilizando um roteiro predeterminado que constou de 12 questões encadeadas e

que contemplou os objetivos específicos da pesquisa.

Certamente a técnica laddering contribuiu significativamente para sistematizar a investigação

por nós proposta. A metodologia empregada nos permitiu realizar uma substancial análise de

conteúdo dos questionamentos feitos durante a entrevista em profundidade e viabilizou o

estabelecimento de correlações entre atributos do produto, consequências da aquisição e

valores pessoais dos consumidores (A-C-V) apresentadas neste trabalho através da Matriz de

Implicação e do Mapa Hierárquico de Valor. Esta ordenação através da cadeia de meios e fins

possibilitou revelar aspectos adjacentes e subjacentes ao objeto pesquisado, que doutra

maneira passariam despercebidos ou simplesmente seriam ignorados.

Esta pesquisa evidenciou que o consumo de smartphones - telefones inteligentes, pelos

recifenses que compõem a classe C pode ser explicado pelo recente acesso destes

consumidores aos bens de consumo duráveis com grande valor agregado. Fato este que

possibilitou a aquisição de aparelhos celulares que permitem o acesso à internet e redes

sociais. Como consequência deste consumo, houve o surgimento de novos padrões de

interações sociais pautadas em relacionamentos virtuais. De maneira que, desde a execução

das várias atividades pertinentes ao trabalho cotidiano destes entrevistados, até o

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61

estabelecimento de vínculos de amizade e manutenção de relacionamentos já existentes, o

ambiente virtual tem sido o campo onde se processam as relações sociais, tendo o smartphone

como instrumento. As nuances deste comportamento foram comprovadas no nosso estudo.

Levaram-se em consideração as relações que se formaram entre consumo e valores. A

metodologia utilizada permitiu observar correlações advindas da percepção dos consumidores

pesquisados no tocante aos atributos concretos e abstratos dos produtos adquiridos,

consequências funcionais e psicológicas concernentes à sua utilização, com os valores

pessoais instrumentais e valores terminais dos sujeitos pesquisados.

Quanto ao alcance dos objetivos específicos, percebeu-se que as marcas que possuem boa

reputação no mercado foram reconhecidas como marcas de qualidade pela sua tradição.

A sensação de prazer presente no ato aquisição do smartphone mostrou-se como uma

compensação psicológica muito relacionada à autoestima e poder, independentemente do

preço que se paga pelo smartphone.

O aspecto aquisição do smartphone como realização pessoal esteve presente em todas as falas

dos entrevistados, seja pelo aspecto do trabalho (âmbito profissional) quanto pela sensação de

poder. Mesmo àqueles que afirmam que ter um smartphone não os torna uma pessoa

diferenciada, asseguram que não conseguem viver sem o aparelho.

As consequências funcionais e psicológicas percebidas pelos consumidores na aquisição de

smartphones nos conduzem à conclusão da correlação com os valores Relacionamento,

Trabalho, Amizade, Auto-estima.

Percebeu-se, portanto, que aceitação social e a convivência no ambiente virtual são elementos

agregadores e considerado pelos consumidores entrevistados como fundamentais para o

existir na atual sociedade.

Ao concluirmos este estudo, estamos certos de que possibilitamos um novo olhar a respeito da

classe C ao revelando suas aspirações e valores.

Certamente, novas abordagens e estudos podem ser desenvolvidos a respeito dessa temática

como o estudo do composto de marketing e sua aplicabilidade aos produtos e serviços

almejados pela classe C.

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62

Outra possibilidade de estudo é o comportamento de compra dos consumidores da classe C no

ambiente virtual.

Vislumbramos que as temáticas são correlatas e possibilitariam a compreensão de novos

aspectos a respeito do consumo, valores e vida em sociedade dos consumidores da classe C.

Page 67: Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós ... · qualitativo utilizando a técnica de entrevista em profundidade e proporciona uma compreensão aprofundada do comportamento

63

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APÊNDICE

APÊNDICE A – Pesquisa para determinar a classe econômica - Critério Brasil

A - Pesquisa para determinar a classe econômica - Critério Brasil

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Nome do respondente:

Data da entrevista:

Total de pontos: ______

Sistema de pontos :

Posse de ítens (bens)

Ítens 0 1 2 3 4 ou mais

Tv em cores

Rádio

Banheiro

Automóvel

Empregada

mensalista

Máquina de

lavar

DVD

Geladeira

Freezer(Geladei

ra duplex)

Total

Grau de instrução do chefe da família

Instrução Marcar “X”

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Analfabeto/ Fundamental 1 Incompleto

Fundamental 1 Completo / Fundamental 2

Incompleto

Fundamental 2 Completo/ Médio Incompleto

Médio Completo/ Superior Incompleto

Superior Completo

Total

Renda média bruta da família no mês :

Classe Renda média familiar

Valor ruto em R$ Marcar “X”

A 6.006,00 a 11.037,00

B1 3.119,00 a 6.006,00

B2 1.866,00 a 3.118,00

C1 1.277,00 a 1.865,00

C2 896,00 a 1.277,00

D / E 895,00

APÊNDICE B – Questões da entrevista em profundidade

Questões da entrevista em profundidade

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Bom dia / boa tarde / boa noite. Meu nome é Kleber, sou mestrando da FBV/DeVry e estou

realizando uma pesquisa sobre o consumo de smartphones. Gostaria de pedir licença para

gravar nossa entrevista. O objetivo da gravação é para facilitar o trabalho, para não perder

detalhes de nossa conversa e seus dados não serão divulgados.

Roteiro de entrevista

1- Por que você decidiu comprar o seu smartphone dessa marca diante de tantas outras

opções?

2- Você buscou informações ou referências a respeito da marca?

3- Na sua opinião, qual é a importância da tradição da marca de um smartphone?

4- Comprar este smartphone realizou seu desejo de consumo? Por quê?

5- Qual é a palavra que representa o bem-estar que você sentiu ao adquirir o seu

smartphone?

6- Se o preço do smartphone que você comprou fosse mais alto, você desistiria de

comprá-lo?

7- Para você, é importante ter um smartphone “da moda”? Por quê?

8- O smartphone contribui para sua realização pessoal?

9- Você acredita que possuir um smartphone lhe ajuda a ser uma pessoa diferenciada?

Por quê?

10- Em sua opinião, o seu smartphone vai lhe ajudar nos relacionamento com as pessoas?

Por quê?

11- Você acha um smartphone vai ajudar a ter um melhor status perante os seus amigos?

12- Você prefere interagir com os amigos presencialmente ou utilizando o smartphone?

Muito obrigado pela sua contribuição à nossa pesquisa.