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FACULDADE BOA VIAGEM DeVRY BRASIL CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - CPPA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL VERA LÚCIA DA SILVA CABRAL A DIGNIDADE NAS RELAÇÕES COMERCIAIS: UM ESTUDO COM UMA EMPRESA VAREJISTA E SEUS FORNECEDORES NA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE - PE RECIFE 2015

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FACULDADE BOA VIAGEM – DeVRY BRASIL

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - CPPA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

VERA LÚCIA DA SILVA CABRAL

A DIGNIDADE NAS RELAÇÕES COMERCIAIS: UM ESTUDO COM UMA

EMPRESA VAREJISTA E SEUS FORNECEDORES NA REGIÃO

METROPOLITANA DE RECIFE - PE

RECIFE

2015

VERA LÚCIA DA SILVA CABRAL

A DIGNIDADE NAS RELAÇÕES COMERCIAIS: UM ESTUDO COM UMA

EMPRESA VAREJISTA E SEUS FORNECEDORES NA REGIÃO

METROPOLITANA DE RECIFE - PE

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional

em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e

Pós-Graduação em Administração da Faculdade

Boa Viagem, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Gestão Empresarial, sob a

orientação da Profa. PhD. Lúcia Maria Barbosa de

Oliveira e da coorientação do Prof. Dr. Michel

Mott Machado.

RECIFE

2015

Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

C117a Cabral, Vera Lúcia da Silva. A dignidade nas relações comerciais: um estudo com uma

empresa varejista e seus fornecedores na Região Metropolitana de

Recife - PE / Vera Lúcia da Silva Cabral. – Recife: FBV | DeVry,

2015.

167 f. : il.

Orientador (a): Lúcia Maria Barbosa de Oliveira

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

Inclui apêndice.

1. Dignidade. 2. Stakeholders. 3. Relações comerciais. 4.

Comunicação. I. Título. DISS

658[15.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha coordenadora,

amiga e irmã (do coração) Rita de Cássia

Tabosa de Freitas, por sempre ter acreditado em

mim e propiciar tantas vitórias em minha vida.

Ela é um exemplo de dignidade.

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos especiais aos professores Lúcia Maria Barbosa de Oliveira e Michel Mott

Machado que, diante de tantos afazeres, disponibilizaram atenção na orientação e condução

desta pesquisa.

Agradeço também especialmente ao meus queridos amigos Fernando Cardoso, Caio Sousa,

Daniella Ramos, Marcílio Galdino e Rossana Reis, pois, sem a ajuda e o companheirismo de

vocês, eu jamais teria conseguido.

Agradeço também especialmente ao meu marido Wander Sales pela paciência e conforto

ofertado nas horas mais difíceis de insegurança e incredibilidade.

Agradeço não menos especial aos queridos familiares pelo carinho e compreensão de minha

ausência nesta jornada.

Agradeço com imenso carinho a profa. Hajnalka pelos ensinamentos tão maravilhosos.

Agradeço a todos aos meus amigos de trabalho (UNIFAVIP), pelo carinho e companheirismo

nesta meta em minha vida.

RESUMO

Os estudos sobre dignidade organizacional e stakeholders vêm ampliando espaços cada vez

maiores no campo das ciências sociais aplicadas no século XXI. No ambiente empresarial,

escolheu-se como objetivo de pesquisa a compreensão de dignidade organizacional na visão de

dois stakeholders: dois diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores industriais, nas

relações comerciais estabelecidas entre eles. A fundamentação teórica pauta-se na

elementarização de dignidade organizacional nas relações comerciais, de como se estabelecem

as condições expressas nas negociações comerciais, tendo dignidade em termos de informação

e poder dos atores envolvidos e também de como se comportam os atores nas negociações

comerciais em termos de prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência como indicadores de

dignidade. A pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa, através de estudo exploratório e

descritivo. A coleta dos dados se deu através de documentos e entrevista semiestruturada e por

pauta. Participaram das entrevistas dois diretores de um grupo empresarial e três fornecedores

industriais. Na pesquisa, verificou-se que as ações dos dois stakeholders são pautadas na boa-

fé, na confiança e nos ganhos mútuos entres eles, o que confirma a teoria da ação comunicativa

de Jürgen Habermas, abordada nos estudos de dignidade organizacional de Maria Luísa M.

Teixeira, que afirma que a dignidade organizacional tem implicações de ações que afetam a

vida de outrem, o que implica que os acordos devem ser baseados na comunicação inteligível

entre as organizações e os stakeholders, todos pautados em benefícios mútuos.

Palavras-chave: Dignidade. Stakeholders. Relações comerciais. Comunicação.

ABSTRACT

Studies of organizational dignity and stakeholders has been expanding more space in the field

of applied social sciences in the XXI century.In the business environment, has chosen such as

research objective the understanding of organizational dignity in two stakeholder’s view of two

stakeholders: two directors of a business group and its industrial suppliers, in the business

relations between them. The theoretical foundation is guided in elementarization organizational

dignity in trade relations, how to establish the conditions expressed in the trade negotiations,

and dignity in terms of information and power of the actors involved and how they behave

actors in trade negotiations in terms term, price, quality, quantity and assistance as dignity

indicators. The research followed a qualitative approach, through exploratory and descriptive

study. Data collection was through documents and semi-structured interview and agenda. They

participated in the interviews, two directors of a business group and three industrial suppliers.

In the survey it was found that the actions of the two stakeholders are guided in good faith ,

trust and mutual gains enters them, which confirms the theory of communicative action of

Jürgen Habermas , addressed in organizational dignity studies of Maria Luisa M . Teixeira that

organizational dignity has implications for actions that affect the life of another, which implies

that the agreements must be based on intelligible communication between organizations and

stakeholders. All guided by mutual benefits.

Key – Words: Dignity. Stakeholders. Business relations. Communication.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Artigos acadêmicos publicados entre 2008 e 2015 ............................................... 15

Quadro 2 – Elementos de promoção da dignidade a partir dos processos sociais conduzidos por

pessoas singulares ou coletivas................................................................................................. 19

Quadro 3 - Elementos de violação da dignidade a partir dos processos sociais conduzidos por

pessoas singulares ou coletivas................................................................................................. 22

Quadro 4 - Elementos de dignidade organizacional no vínculo laboral ................................... 25

Quadro 5 - Elementos de dignidade organizacional ................................................................. 28

Quadro 6 - Elementos formadores dos contratos comerciais ................................................... 31

Quadro 7 - Comparação dos elementos de dignidade organizacional com elementos formadores

dos contratos comerciais ........................................................................................................... 32

Quadro 8 - Forma de Poder nas negociações de compra e venda ............................................ 45

Quadro 9 - categorias para identificação de dignidade organizacional .................................... 71

Quadro 10 - Categorias para realização das entrevistas ........................................................... 76

Quadro 11 - Subcategorias: elementos de dignidade organizacional nas relações comerciais 77

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ameaças enfrentadas pelas organizações no mercado competitivo ........................ 49

Figura 2 - Desenho da pesquisa ................................................................................................ 67

Figura 3 - Sujeitos da pesquisa ................................................................................................. 68

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1.1 Contextualização do problema .................................................................................................... 11

1.2 Objetivos da pesquisa ....................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................................................................ 14

1.2.2 Objetivos específicos ...........................................................................................................................14

1.3 Justificativas da pesquisa.......................... ....................................................................... 15

1.3.1 Justificativa teórica .............................................................................................................................. 15

1.3.2 Justificativa prática .............................................................................................................................. 16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 18

2.1 A compreensão dos elementos de dignidade organizacional nas relações comerciais 18

2.1.1 Elementos de dignidade ..................................................................................................................... 18

2.1.2 Elementos da dignidade organizacional ........................................................................................ 26

2.1.3 Elementos formadores de acordos comerciais entre organizações ........................................ 30

2.2 Dignidade organizacional nas condições expressas nas negociações comerciais como

informação e poder ................................................................................................................. 36

2.2.1 Dignidade organizacional e as condições expressas nas negociações comerciais ............ 36

2.3 Dignidade organizacional com relação aos acordos comerciais firmados entre os

diretores de um grupo empresarial com seus fornecedores industriais, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência. .............................................................. 49

2.3.1 A dignidade organizacional nos acordos firmados nas relações comerciais entre os

stakeholders. .................................................................................................................................................... 49

2.3.2 Relacionamento com fornecedores nas negociações comerciais ........................................... 51

2.3.3 Negociação entre stakeholders: compradores e fornecedores, em termos de prazo, preço,

qualidade, quantidade e assistência dos produtos e serviços ............................................................. 55

2.3.3.1 Os fatores: prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência nos acordos e

negociações comerciais.............................................................................................................56

3 METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................... 67

3.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................................... 67

3.2 Desenho da pesquisa ......................................................................................................... 67

3.3 Lócus da pesquisa ............................................................................................................. 68

3.4 Sujeitos da pesquisa .......................................................................................................... 69

3.5 Dimensões da pesquisa ..................................................................................................... 70

3.6 Instrumentos de coleta de dados ..................................................................................... 70

3.7 Métodos de análise dos dados............................................................................................72

3.8 Limites da pesquisa .......................................................................................................... 73

3.8 Limitações da pesquisa ..................................................................................................... 73

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .......................................................................... 75

4.1 Construção da pesquisa de campo .................................................................................. 75

4.2 Elementos designadores de dignidade organizacional nas relações comerciais entre

dois stakeholders: diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores industriais .. 78

4.3 Informação e poder como indicadores de dignidade organizacional nas relações

comerciais entre dois stakeholders: diretores de um grupo empresarial e seus

fornecedores industriais ......................................................................................................... 96

4.4 A visão dos diretores de um grupo empresarial sobre dignidade organizacional, com

relação aos acordos comerciais firmados com seus fornecedores industriais, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência. ............................................................ 104

4.5 A visão dos fornecedores industriais sobre dignidade organizacional, com relação aos

acordos comerciais firmados com os diretores de um grupo empresarial, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência. ............................................................ 111

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 124

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 132

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA POR PAUTA AO GRUPO

EMPRESARIAL E ALGUNS FORNECEDORES............................................................137

APÊNCIDE B – ENTREVISTA REALIZADA COM OS DOIS DIRETORES DO

GRUPO EMPRESARIAL SOBRE A COMPREENSÃO DELES A RESPEITO DOS

ELEMENTOS DE DIGNIDADE ORGANIZACIONAL..................................................138

APÊNCIDE C – ENTREVISTA REALIZADA COM OS TRÊS FORNECEDORES

INDUSTRIAIS SOBRE A COMPREENSÃO DELES A RESPEITO DOS ELEMENTOS

DE DIGNIDADE ORGANIZACIONAL............................................................................141

APÊNCIDE D – ENTREVISTA REALIZADA COM OS DOIS DIRETORES DO

GRUPO EMPRESARIAL A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE A

INFORMAÇÃO E O PODER SÃO INDICADORES DE DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL NAS RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS TRÊS

FORNECEDORES INDUSTRIAIS....................................................................................146

APÊNCIDE E – ENTREVISTA REALIZADA COM OS TRÊS FORNECEDORES

INDUSTRIAIS A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE A INFORMAÇÃO

E O PODER SÃO INDICADORES DE DIGNIDADE ORGANIZACIONAL NAS

RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS DOIS DIRETORES DO GRUPO

EMPRESARIAL...................................................................................................................149

APÊNCIDE F – ENTREVISTA REALIZADA COM OS DOIS DIRETORES DO

GRUPO EMPRESARIAL A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE COMO

O ACORDO COMERCIAL BASEADO NO PRAZO, NO PREÇO, NA QUALIDADE,

NA QUANTIDADE E NA ASSISTÊNCIA REFLETEM A DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL NAS RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS TRÊS

FORNECEDORES INDUSTRIAIS....................................................................................157

APÊNCIDE G – ENTREVISTA REALIZADA COM OS TRÊS FORNECEDORES

INDUSTRIAIS A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE COMO O

ACORDO COMERCIAL BASEADO NO PRAZO, NO PREÇO, NA QUALIDADE, NA

QUANTIDADE E NA ASSISTÊNCIA REFLETEM A DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL NAS RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS DOIS DIRETORES

DO GRUPO EMPRESARIAL.............................................................................................161

11

1 INTRODUÇÃO

Este capítulo aponta a problematização da pesquisa, os objetivos - geral e específicos-, e a

justificativa teórica e prática para a realização do estudo.

1.1 Contextualização do problema

Estudar o tema dignidade organizacional, num cenário de constantes oscilações financeiras,

políticas e indefinição de uma política tributária que norteie as tomadas de decisões das

organizações, é desafiador. Nessa conjuntura, as empresas têm que realizar esforços

extraordinários para manter as relações com seus stakeholders.

Manter a dignidade trata-se de um princípio moral e ético que, mesmo sendo desafiador

conservar esse valor, é essencial para a construção e continuidade de relações sadias que

contribuam para o bem-estar de todos. Ao longo dos anos, como poderá ser visto adiante,

pesquisadores vêm observando e estudando a dignidade no campo das organizações que

assumem papel importante na vida das pessoas, por movimentarem a economia, as relações

comerciais, o mercado financeiro, trabalhista e consumerista e, consequentemente, tributário de

uma sociedade, de um país.

Margolis (1997) deu início aos primeiros estudos sobre dignidade organizacional na construção

de um modelo que abordava as relações de trabalho. À luz de sua tese, outros trabalhos, tais

como: Jacobson (2007); Teixeira (2008); Louback (2011); Araújo (2012); Santos (2012) e

Malini (2014) vêm abordando o assunto e ampliando cada vez mais os estudos sobre o tema,

cujo enfoque tem sido as organizações e os stakeholders.

Nos estudos sobre a dignidade organizacional, a relação entre as empresas e os stakeholders,

pode ser compreendida como relação jurídica, pois trata-se de “relação entre duas ou mais

pessoas, regulada por normas legais” (GUIMARÃES, 2006, p. 480). Compreende-se que a

relação pode ocorrer entre sócios, diretores, acionistas de uma empresa, bem como, entre estes

agentes com os agentes de outras organizações, nas negociações comerciais. E ainda, as ações

estão dentro dos padrões estabelecidos como regras de conduta social.

12

As relações comerciais, ou seja, “os negócios recíprocos, de ordem comercial, estabelecidos e

mantidos entre os comerciantes” (SILVA, 2005, p. 1192-1993), dizem respeito à produção de

bens e serviços por determinadas empresas e comercializadas por outras, a partir de acordos e

benefícios mútuos. A dignidade organizacional se estabelece justamente do cumprimento

desses negócios firmados, não só com os comerciantes, mas com todos os stakeholders

vinculados à organização.

Nesse sentido, dignidade não tem preço ou prazo de validade, pois é advinda de relação de

confiança entre os agentes. A dignidade tem significação de valor absoluto, aliada à forma de

tratar o outro como o valor intrínseco que ele tem (ABBAGNANO, 2007). Parafraseando o

autor, tem-se que o estudo de dignidade organizacional emerge deste embasamento, que tem a

dignidade como valor supremo, inviolável e não quantificável para a organização.

Desse modo, para que a dignidade seja entendida e praticada como valor supremo, as relações

sociais devem ser pautadas nas interações entre os agentes sociais, no sentido de que dignidade

pode ser entendida como resultante das interações sociais das pessoas e que a partir deste

relacionamento constituído, pode haver a promoção ou violação da dignidade (JACOBSON,

2007).

A violação de dignidade, de acordo com Jacobson (2007), ocorre quando há uma relação de

assimetria, quando um ator tem mais poder, autoridade, conhecimento, riqueza e força do que

o outro. A violação de dignidade está envolta numa relação social formada por desigualdades.

A promoção da dignidade, em contrapartida, reflete uma relação de confiança, de solidariedade,

de reciprocidade e rapport (JACOBSON, 2007). A promoção de dignidade ocorre quando a

justiça faz parte da ordem social. A dignidade, nos estudos de Jacobson (2007), se constitui

quando há interação dos agentes nas relações sociais; e essas relações podem sofrer ameaças,

se houver a quebra de confiança, a partir de uma relação de assimetria de poder e informação.

Para alterar essa assimetria de poder e informação, que viola a dignidade, a teoria da ação

comunicativa de Habermas (1988) propõe um agir baseado no diálogo democrático entre os

agentes. Com relação à teoria, Gutierrez e Almeida (2013, p.153) afirmam que “é uma teoria

que se fundamenta no conceito de ação, entendida como a capacidade que os sujeitos sociais

têm de interagirem intra e entre grupos, perseguindo, racionalmente, objetivos que podem ser

13

conhecidos pela observação do próprio agente da ação”. É uma teoria embasada no agir racional

dos agentes, ou seja, no agir que não busca benefícios próprios, utilizando o outro agente como

meio, apenas. Por isso, a inteligibilidade das ações e a preponderância da confiança.

Com relação à interação da ação comunicativa, Habermas (1988, p. 145) afirma que “[...] todos

os participantes harmonizam entre si seus planos individuais de ação e perseguem, portanto,

sem reserva alguma, seus fins ilocucionários”. A interação entre os agentes se voltam na

obtenção de fins comuns, legítimos e válidos, pois subentendidos e aceito por todos.

Interação e inteligibilidade nas relações que as organizações mantêm com os stakeholders é a

proposta de discussão sobre a dignidade organizacional por Teixeira (2008, p. 86), conforme o

exposto a seguir: “Dignidade organizacional [...] consiste na relação entre pessoas da

organização e outras, denominadas de stakeholders, onde o que se diz é o que se pensa, de

forma inteligível, e onde se estabelecem acordos baseados no entendimento”.

A dignidade organizacional deve estar contida nas relações entre as organizações com os

stakeholders que, juntos, estabelecem acordos mútuos, baseados no entendimento das partes

envolvidas, que apresentam implicações às empresas e terminam por conduzir em proposições

nas práticas organizacionais (TEIXEIRA, 2008). Por isso, as ações organizacionais devem

considerar os atores no mesmo pé de igualdade no momento dos acordos, afastando, assim, os

valores substantivos que consideram o outro como meio de obtenção de interesses próprios e

não como um fim (HABERMAS, 2003).

Nesse sentido, Teixeira (2008, p. 92) contempla a organização como “construções sociais – e,

no caso das organizações de negócio, jurídicas -, que não se esgotam nos muros físicos”. Por

isso, os acordos firmados entre as organizações e os stakeholders utilizam uma comunicação

inteligível, baseada na confiança e na reciprocidade, baseada na teoria da ação comunicativa de

Habermas (1988).

Da compreensão desse pressuposto de concepção da dignidade organizacional, embasada numa

racionalidade não substantiva e aliada a um cenário de constantes flutuações econômicas,

financeiras, políticas e de muitas outras adversidades, é que tem ocorrido as relações comerciais

entre organizações na negociação de produtos e serviços, quando as ameaças internas e externas

a essas organizações também são constantes, principalmente, nos momentos de crises, as quais

o Brasil vem enfrentando no início do século XXI.

14

Da observação desse cenário, surgiu o interesse de continuar os estudos sobre dignidade

organizacional, com relação aos stakeholders, só que com outro olhar, qual seja, o da

compreensão dos diretores empresariais, como também de seus fornecedores industriais sobre

dignidade organizacional nos acordos comerciais firmados; se o que é dito, compreendido e

aceito no momento das negociações é praticado na execução dos acordos firmados. Desse

modo, fez surgir o seguinte questionamento:

Qual a visão sobre dignidade organizacional dos diretores de um grupo empresarial, bem como,

de seus fornecedores industriais, nas relações comerciais realizadas na Região Metropolitana

do Recife – PE?

1.2 Objetivos da pesquisa

A partir do contexto descrito parte-se agora para definição dos objetivos (geral e específicos)

da pesquisa.

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a visão sobre dignidade organizacional dos diretores de um grupo empresarial,

bem como, de seus fornecedores industriais, nas relações comerciais realizadas na Região

Metropolitana do Recife – PE.

1.2.2 Objetivos específicos

Identificar a compreensão dos diretores de um grupo empresarial, bem como, de seus

fornecedores industriais, sobre os elementos de dignidade organizacional nas relações

comerciais.

Analisar a dignidade organizacional a partir da igualdade de condições expressas nas

negociações comerciais estabelecidas pelos diretores de um grupo empresarial com seus

fornecedores industriais, tendo dignidade como informação e poder.

Analisar a visão dos diretores de um grupo empresarial sobre dignidade organizacional com

relação aos acordos comerciais firmados com seus fornecedores industriais, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

15

Analisar a visão dos fornecedores industriais sobre dignidade organizacional com relação

aos acordos comerciais firmados com os diretores de um grupo empresarial, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

1.3 Justificativas da pesquisa

A pesquisa tem sua importância do ponto de vista teórico, por trazer uma discussão sobre

dignidade organizacional na visão dos diretores de um grupo empresarial, bem como, de seus

fornecedores industriais nas relações comerciais; e, do ponto de vista prático, por tratar a

dignidade organizacional como elemento fundamental na comunicação entre os atores, nos

acordos comerciais firmados por estas empresas na contratação de produtos e serviços.

1.3.1 Justificativa teórica

A dignidade organizacional é um tema que desperta interesse nas pesquisas realizadas nos

séculos XX e XXI. De início, as pesquisas acadêmicas buscavam discussões sobre a dignidade

no aspecto da pessoa humana, e as organizações destacadas nos estudos realizados eram

concebidas como entidades que primavam pelo respeito a essas dignidades.

Uma das primeiras pesquisas sobre dignidade organizacional foi a de Margolis (1997) que, em

sua tese, tratou sobre dignidade organizacional como aquela na qual as empresas contabilizam

não só os valores econômicos, mas os valores éticos, primando pelo bem-estar físico, emocional

e intelectual dos empregados.

Jacobson (2007) defendeu em sua pesquisa a dignidade social, dividindo-a em auto dignidade

(dignity-of-self) e a dignidade na relação (dignity-in-relation). A dignidade individual e a social

(de identidade e de relação), entendendo-se, a partir dela que as organizações devem respeitar

os direitos dos indivíduos como valores intrínsecos e comportamentais, senão violarão a

dignidade deles.

A dignidade organizacional, defendida por Teixeira (2008), exprime a dignidade no trato com

que as organizações mantêm com os stakeholders. Compreende-se, dos estudos realizados por

ela, que a dignidade organizacional é estabelecida a partir dos acordos mútuos, cujos propósitos

16

não devem residir em benefícios pessoais apenas, mas no entendimento de ganhos recíprocos,

com base na confiança e na sintonia das partes.

Quando pesquisada a temática “dignidade organizacional” no quadro 1, verificou-se na

investigação realizada no site da SPELL, 46 (quarenta e seis) trabalhos. Esses trabalhos foram

publicados em sites vinculados a SPELL/ANPAD, por algumas instituições descritas: a

Mackenzie com 25 publicações, a Rounimp com 9 publicações, a DeVry/Brasil com 8

publicações, a Editora Senac com 12 publicações, a Linkedln com 8 publicações entre outras.

Há de se destacar que existem repetições de trabalhos publicados em mais de uma instituição

vinculada a SPELL/ANPAD.

Quadro 1 – Artigos acadêmicos publicados entre 2008 e 2015

Temática

Número de publicações 2008-2015

Capes EBSCO Mackenzie Scielo Spell

Dignidade organizacional 03 03 03 03 46*

Fonte: elaborado pela autora (atualizado em 29.02.2016)

Com relação aos stakeholders, em especial os fornecedores, não se verificou ainda um estudo

que contemplasse o assunto: a visão dos diretores de um grupo empresarial e dos fornecedores

industriais sobre dignidade organizacional com relação aos acordos firmados nas relações

comerciais entre esses atores, por isso, surgiu o interesse e a oportunidade da presente pesquisa,

de fazer um estudo que contemple a visão de atores empresariais sobre dignidade

organizacional nas relações comerciais, que traz como contribuição acadêmica a proposta de

uma discussão sobre este tema.

1.3.2 Justificativa prática

Do ponto de vista prático, este estudo traz contribuições substanciais quando destaca a

dignidade organizacional, na visão dos diretores de um grupo empresarial e dos fornecedores

industriais, na comercialização de produtos, frente às constantes ameaças internas e externas,

principalmente nos momentos de crises como a que se depara o país no momento.

Ainda na justificativa prática, destaca-se outro aspecto que se levanta como contribuição da

pesquisa, que agrega valor não só para as empresas pesquisadas, mas também para outras: o

17

fato de se estabelecer uma comunicação clara, que transpareça confiança com fornecedores,

parceiros e concorrentes nas relações comerciais estabelecidas no dia-a-dia.

E por fim, no campo da justificativa prática, mas com uma visão jurídica, é demonstrar que o

estudo da dignidade organizacional nas relações comerciais entre cliente e fornecedor,

estabelecida no contrato, que representa o compromisso assumido pelos agentes envolvidos, é

entendida como “leis obrigatórias às partes envolvidas”. Entretanto, as regras constantes desses

contratos, devem contemplar uma linguagem clara e de ganhos mútuos para os envolvidos,

evitando assim, prejuízos e ações judiciais, em busca do cumprimento jurídico dos acordos e

respeito à dignidade da organização.

18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na construção teórica será descrita a compreensão dos elementos de dignidade organizacional,

interpretando as diversas concepções dos teóricos sobre o tema, aliada ao modo como a

igualdade de condições expressa nas negociações comerciais tem a dignidade como informação

e poder na comunicação estabelecida entre os atores. Por fim, como os fatores prazo, preço,

qualidade, quantidade e assistência são relevantes nos acordos comerciais, considerando a

confiança como cerne dos negócios.

2.1 A compreensão dos elementos de dignidade organizacional nas relações comerciais

Nesta seção será feito um estudo sobre o significado dos elementos de dignidade. Em seguida,

serão abordados os elementos de dignidade organizacional e quais deles compõem as relações

comerciais entre as organizações e os stakeholders.

2.1.1 Elementos de dignidade

Para se discutir sobre os elementos de dignidade, se fez necessário buscar os conceitos destes

dois termos “elementos” e “dignidade” no dicionário jurídico, pois, como a proposta é

compreender a visão do que seja dignidade organizacional dos diretores de empresas e dos

fornecedores, a conceituação que se entendeu mais adequada ao contexto foi a jurídica porque

a norma pertinente estabelece regras de conduta (dever-ser) na formação das relações entre as

pessoas em sociedade.

Dignidade, no dicionário Latino/português e jurídico, significa:

[...] derivado do latim dignitas/dignitatis significa título, honra, posto, cargo

honorífico. Autoridade merecimento. Estimação (CRETELLA JUNIOR, 1950, p. 327

e no jurídico, significa: (virtude, honra, consideração), em regra se estende a qualidade

moral, que possuída por uma pessoa, serve de base ao próprio respeito em que é tida.

Compreende-se também como o próprio procedimento da pessoa, pelo qual se faz

merecedor do conceito público (SILVA, 2005, p.458).

Elemento, em direito, significa “tudo que entra na formação de alguma coisa, de um ato ou um

fato” (SILVA, 2005, p.510). Entendendo fato como “que possuem repercussão no mundo

jurídico” [...] “acontecimentos da natureza ou da ação ou omissão humana” (GOMES, 2015, p.

19

273) e atos como sendo “fatos provocados pela ação ou omissão humana ou ainda das pessoas

jurídicas que produzam efeitos no mundo jurídico” (Idem).

Ao se comparar os dois conceitos, percebe-se que um tem estreita relação com o outro, pois,

elemento significa a formação de um ato ou de um fato que constitui algo, e dignidade significa

uma qualidade que possui uma pessoa, pela sua atitude. Atitude, no sentido do ato dela diante

de um fato, num contexto aceito pelos valores morais na qual ela está inserida.

Assim, quando se estuda os elementos da dignidade, se estuda os atos ou fatos que irão

significar a dignidade em determinado contexto social. Estudando os elementos de dignidade

num contexto social, no âmbito laboral, Nord (1978) e Vredenburgh; Brender (1998) discutem

as relações de poder e dignidade do trabalhador e trabalho como atributos presentes no trato das

organizações para com seus empregados, considerando a subjetividade do empregado, como

pessoa humana, portadora de dignidade, considerada absoluta e que não deve ser violada.

Na área de dignidade no trabalho, Araújo (2012), em sua pesquisa sobre a dignidade no campo

dos estudos organizacionais, situa os estudos em três áreas: a dignidade do trabalhador, a

dignidade no trabalho e a dignidade organizacional em si. Informa o autor que, na área de

dignidade do trabalhador, já foram realizadas pesquisas envolvendo dignidade do empregado

“no processo de desligamento (BAYER, 2000); em processo de downsizing (BARBEE, 2001;

GREENSPAN, 2002), em expatriação (MENDE; HOULIHAN, 2007) e no Brasil, nos estudos

realizados por (MEDEIROS; TEIXEIRA, 2011) no tocante à emancipação de docentes de

instituições de ensino superior” (ARAÚJO, 2012, p. 31).

Araújo (2012, p. 32) afirma que “há uma distinção entre dignidade no trabalho e dignidade do

trabalhador”, pois, o enfoque das pesquisas realizadas na primeira ultrapassa a temática de

poder como aspecto central. Dignidade no trabalho promove o bem-estar a partir de ambiente

limpo, ferramentas de boa qualidade, tecnologia da informação e de boas práticas na rotina

laboral.

Na área de dignidade organizacional, o enfoque das pesquisas se volta para as organizações e

seus stakeholders. Margolis (1997) está entre os primeiros estudiosos que tratou sobre o termo

‘dignidade organizacional’ e, no Brasil, Teixeira (2008), a partir de uma perspectiva

habermasiana, na qual se estabelece acordo com base no entendimento dos envolvidos na

relação (ARAÚJO, 2012).

20

Com o foco ainda nas relações sociais, Jacobson (2009), em sua pesquisa, denominada A

taxonomy of dignity, apresenta um rol de elementos intitulados como marcadores da dignidade,

dentre eles, os elementos promotores e os violadores da dignidade. Nessa mesma pesquisa,

foram realizadas 64 entrevistas com pessoas marginalizadas por sua saúde ou status social e os

indivíduos que prestaram serviços sociais e de saúde a essas populações que estudavam sobre

direitos humanos ligados à saúde.

Quanto aos elementos trazidos por Jacobson (2009) acerca da dignidade promovida ou violada

na área de saúde, pode-se fazer algumas associações dos elementos lá abordados para a área

organizacional, quando se busca uma pertinência de significados para se compreender o que

seja dignidade organizacional a partir de elementos, significando atos marcadores do que seja

dignidade.

Desse modo, dos elementos estudados por Jacobson (2009), como promoção da dignidade da

pessoa humana, alguns poderão ser adaptados para designar a dignidade das organizações,

conforme apresentado no quadro 2.

Quadro 2 - Elementos de promoção da dignidade a partir dos processos sociais conduzidos por pessoas

singulares ou coletivas Elementos Significado dos elementos

Aceitação Não julgar os diferentes, primar pela diversidade.

Advocacia Defender os mais oprimidos ou menos favorecidos.

Amor Buscar honrar e estimar o outro.

Autenticidade Ser você mesmo, privilegiar os valores individuais.

Contribuição Partilhar com os outros os benefícios recebidos de forma voluntária.

Controle Ter conhecimentos das diversas situações para tomar decisões justas.

Cortesia Pregar o respeito para consigo mesmo e para com o outro.

Criatividade Fazer e compartilhar as atividades de forma promissora.

Disciplina Organizar e cumprir as atividades rotineiras, demonstrando responsabilidade.

Empoderamento Buscar o aumento das capacidades e competências do outro.

Enriquecimento Consumir apenas o que vai aprimorar você. Evitar os excessos.

Independência Buscar a autossuficiência.

Nivelamento Reduzir a assimetria. Busca pela aceitação dos outros em igualdade de valores.

Perseverança Buscar sobreviver em determinadas situações extremas e em outras menos

agravantes, mas difíceis, fazer o melhor possível. Ver a luz no fim do túnel.

Preparação Buscar o auto fortalecimento para enfrentar as diversidades e violações da dignidade.

Presença Ser companheiro nas situações difíceis.

Realização Promover o trabalho correto que atenda ou mesmo supere as expectativas da

organização.

Reconhecimento Perceber a humanidade nos outros e mostrar o apreço pela disseminação da

humanização.

Resistência Buscar a autoafirmação às diversidades.

Restrição Buscar o autocontrole emocional e comportamental.

Transcendência Colocar-se acima das provocações ou tentações destrutivas.

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Jacobson (2009)

21

Observa-se que a promoção da dignidade, a partir dos elementos trazidos por Jacobson (2009),

reflete a ideia de criar, manter e de difundir a dignidade nos diversos processos sociais, para

redução das ameaças a ela ou mesmo à possibilidade do falecimento dela.

A promoção da dignidade traz muitos benefícios na vida das pessoas, quando realizada por

agentes individuais ou agentes coletivos, cuja finalidade é a busca do bem-estar do outro. Para

que isso ocorra, se faz necessária a redução das assimetrias e da configuração de uma ordem

social que promova o poder, mantendo as situações de vulnerabilidade para, assim, estabelecer

um ambiente laborativo mais humanizado e salutar aos pacientes e agentes de saúde

(JACOBSON, 2009).

Percebe-se, nos elementos de dignidade abordados por Jacobson (2009), que a elementarização

de dignidade assume duas perspectivas.

O primeiro elemento diz respeito à dignidade do homem para consigo mesmo. O auto respeito,

autossuficiência, ser ele mesmo, elevar a si mesmo diante das diversidades, ter equilíbrio

emocional e comportamental, fazer o consumo de forma a desenvolver o auto aprimoramento,

visualizar as situações, fazer o melhor possível em situações desconfortáveis e nas difíceis,

suportar o que puder, sem excessos que violem ou matem sua dignidade (JACOBSON, 2009).

Tendo em vista que o foco da pesquisa diz respeito à relação entre as pessoas nas relações

comerciais, há de se destacar apenas no tocante da dignidade do homem para consigo mesmo

que, cada elemento atribuído à dignidade do homem voltado para si mesmo, trazido por

Jacobson (2009), reflete valores universais do homem e invioláveis, pois são revestidos de

divindade e, por isso, absolutos e sem preço.

O segundo elemento diz respeito ao homem com o outro homem, que pode ser refletido no trato

com o indivíduo em particular ou com a coletividade de pessoas. No trato com o outro, em

particular, diz respeito à contribuição para o crescimento do outro, sendo criterioso nas

afirmações e busca de honrar a própria individualidade e a de outrem, evitar ações ou atividades

que violem a dignidade do outro, como também, situações que o deixem embaraçado, aceitar o

outro na sua diferença, não o julgar, ser cortês e estimar o outro como ele é (JACOBSON,

2009).

Esses elementos de dignidade do homem para com seu semelhante ou outro, em particular,

refletem o respeito à dignidade no trato diário e nas diversas situações em que a ponderação

22

para tomar determinadas decisões e/ou ações deve contemplar o outro como a si mesmo, tendo

em vista que qualquer mácula à dignidade alheia reflete infâmia à própria dignidade.

Nas relações sociais, seja no trabalho, na comunidade, nos grupos, nas organizações, etc., a

dignidade do outro deve ser valorizada, por ser ele uma pessoa, e cada pessoa tem seu valor em

si. Ser digno não é apenas olhar como você é tratado, mas como trata o semelhante, é socializar

a dignidade.

Por último, os elementos de dignidade com relação ao outro coletivo dizem respeito às ações

tomadas pelo indivíduo que contribuam para retornar ao grupo o que recebeu, uma forma de

gratidão que se repassa através do voluntariado; fazer sem ganhar nada em troca. Ter disciplina

nas ações diárias, nas atividades rotineiras, de forma a demonstrar respeito e responsabilidade

para com o grupo; fazer seu trabalho com zelo e superar-se; compartilhar as vitórias com o

grupo, disseminando o sentimento de ganhos coletivos em vez do ganho individual; reconhecer

a humanidade nos outros, demonstrando sempre apreço às atitudes dos companheiros; buscar

tirar o grupo de situações difíceis, mantendo a harmonia dentro dos grupos; advogar, ou seja,

buscar defender sempre os oprimidos; destacar positivamente cada vez mais as capacidades e

competências coletivas e sempre honrar e estimar o respeito comum (JACOBSON, 2009).

Ao se analisar cada elemento, conforme feito acima, percebe-se que nem todos os elementos

poderão ser adaptados às organizações, apenas alguns, tais como: aceitação e nivelamento no

reconhecimento e trato com a diversidade, ou seja, respeito às diferentes atividades

empresariais, sejam elas grandes, pequenas, médias ou microempresas, todas são portadoras de

dignidade; e que cada atividade se estabelece com a competência do fundador da organização,

por isso, o respeito à diversidade é um elemento que designa dignidade organizacional.

Ainda no tocante à respeitabilidade organizacional, extrai-se a autenticidade, ou seja, o

privilégio aos valores individuais de cada organização no mercado. Dignidade organizacional

também se exprime nesse elemento. O controle é outro elemento de expressão para designar a

dignidade organizacional, pois expressa todo o conhecimento, antes da tomada de decisão. Ser

digno reflete visão macro de cenário na busca de decisões assertivas (JACOBSON, 2009).

A cortesia é outro elemento que se adapta à dignidade organizacional, pois possibilita o respeito

mútuo e diz respeito ao trato pautado com confiança, interação e linguagem clara e fidedigna

nos acordos firmados. A competitividade, a partir desse elemento, assume um aspecto mais

colaborativo e de ganhos mútuos para os envolvidos na relação (JACOBSON, 2009).

23

A organicidade é considerada um elemento eficaz, pois reflete a imagem da organização no

trato com os fornecedores, clientes, compradores, comunidade, empregados, os stakeholders,

num todo. O enriquecimento, a independência e resistência também são elementos adaptados à

dignidade organizacional, pois refletem a autossuficiência e a capacidade de evitar excessos e

atuar em mercados, muitas vezes, oscilantes, mantendo-se flexível às mudanças, atrelando

ganhos econômicos e financeiros.

Perseverança e transcendência são elementos atrelados aos anteriores, pois são reflexos da

capacidade de sobreviver a situações extremas e modificar os valores, a missão e objetivos - ou

não-, de acordo com as necessidades e possibilidades de enfrentar as ameaças constantes.

Por fim, a presença, elemento que também se adapta ao significado de dignidade

organizacional, quando do trato companheiro e humanitário na condução dos contratos e

acordos comerciais, representados pelo entendimento e aceitação a partir da confiança

estabelecida entre os pares na competitividade. Presença como sinônimo de competitividade

com ganhos mútuos em contraposição às propostas de ganhos individualizados (JACOBSON,

2009).

A adaptação dos elementos de promoção de dignidade apontados por Jacobson (2009) na área

da bioética com os elementos de dignidade organizacional, nas relações sociais, perece ser

possível, pois a adaptação e a associação é viável ao que se propõe no estudo, como elementos

designadores de dignidade organizacional. Entretanto, ao lado da promoção da dignidade da

pessoa humana, está a violação da dignidade, proposta por Jacobson (2009), conforme ver-se-

á no quadro 3.

24

Quadro 3 - Elementos de violação da dignidade a partir dos processos sociais conduzidos por pessoas

singulares ou coletivas Elementos Significado dos elementos

Agrupamento Perder a individualidade. Ver o outro como apenas membro de grupo e não

individualmente.

Asco Ter repulsa ao outro, como se ele fosse nojento, contaminado.

Assalto Agir com violência contra o outro, maculando seu corpo ou seu espírito.

Bullying Ameaçar ou intimidar o outro, constrangendo-o.

Condescendência Ter modos no trato com o outro, especialmente no volume vocal.

Degradação Macular as crenças do outro, humilhando e forçando-o a práticas impuras,

contrárias às suas crenças.

Demissão Ignorar as habilidades, competências, percepções, preocupações, necessidades e

sentimentos do outro.

Dependência Ser forçado a depender dos outros nas necessidades básicas.

Desprezo Tornar o outro invisível e sem voz.

Difamação Tornar o outro ameaçador e perigoso.

Diminishment Trazer o sentimento de impotência, de se sentir diminuído em conhecimento nas

interações com os grupos.

Discriminação Tratar o outro com base em status positivo ou negativo.

Etiquetagem Marcar a deficiência moral ou inferioridade social do outro. Estigmatizar.

Exclusão Fazer com que o outro sinta-se indesejado, deixá-lo fora das relações sociais.

Exploração Fazer do outro um meio para alcançar os fins desejados.

Fraude Mentir, manipular para ter ganhos materiais e vantagens psicológicas.

Grosseria Praticar atos que desconsideram o outro de forma generalizada.

Indiferença Agir com falta de consideração, atenção e cuidado para com o outro.

Intrusão Transgredir os limites pessoais do outro.

Objetificação Tornar o outro objeto/coisa, perda da identidade pessoa.

Privação Não disponibilizar o acesso absoluto ou relativo à vida aos necessitados, em face

das doenças.

Restrição Retirar do outro a capacidade de dirigir sua própria vida.

Suspeita Desconfiar ou tratar o outro como se ele tenha cometido algo ruim.

Fonte: quadro realizado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Jacobson (2009)

A elementarização de violação da dignidade a partir da proposta trazida por Jacobson (2009)

reflete várias concepções negativas da dignidade; concepções estas que são verificadas em

contextos de trabalho, prisões, hospitais, lojas, restaurantes, locais públicos, etc., ou seja,

ambientes fechados ou abertos nos quais existam as relações sociais. Entretanto, a violação da

dignidade não fica restrita apenas aos locais ou situações, mas rotulações ao outro por gênero,

racismo, sexismo, estigmas e outros que denigrem a dignidade do outro agente individual ou

agente coletivo.

Os elementos trazidos como violadores da dignidade por Jacobson (2009) exprimem o

desrespeito à dignidade do outro, apenas o indivíduo particular e não à coletividade de pessoas.

Com relação ao outro como agente, o coletivo, percebe-se apenas quando ela descreve o

elemento ‘privação’, que significa a não disponibilização do acesso absoluto ou relativo à vida

aos necessitados, em face das doenças, ou seja, discriminação que priva os necessitados por

atendimento mais pontual, quando não há preocupação por parte dos agentes públicos – Estado

– ou outros órgãos, como os hospitais que, não oferecendo o acesso imediato na busca de

25

resolver as enfermidades dos necessitados, terminam por restringir o direito à vida, não

primando por uma vida saudável.

Os elementos apontados como atributos de violação da dignidade, voltados ao indivíduo em

particular, como se percebe, em grande maioria, expressam diversas situações, atitudes, ações,

omissões, descaso e restrição de direitos, entre outras conjunturas.

Diferentemente da promoção da dignidade, a violação fere, principalmente, o indivíduo em si,

pois as atitudes lesivas atingem cada pessoa de acordo com seu grau de fragilidade e situação

de vulnerabilidade. Assim, o desrespeito e o asco podem ser direcionados por um mesmo agente

a duas pessoas diferentes, e o grau de violação da dignidade vai se dá ou não de acordo com o

estado emocional, psíquico e físico da vítima.

Como a pesquisa foi realizada em diversos locais, hospitais, lugares públicos, restaurantes e por

três grupos de pessoas, marginalizados, pessoas que prestam serviços de saúde e dos direitos

humanos e pessoas que trabalham na arena (advogam pelo bem-estar social), os elementos de

violação de dignidade assumiam interpretações de acordo com os estados de cada um dos

entrevistados.

Verificou-se que a violação da dignidade se caracteriza a partir de diversos elementos, contextos

e situações dos envolvidos no processo social. Se os entrevistados eram pacientes de hospitais

públicos, os elementos destacados foram desrespeito, indiferença, agrupamento, asco, etc., pois

a própria situação de vulnerabilidade situacional, tanto de saúde como econômica, os faziam se

sentir violados na dignidade, nestes aspectos.

Os elementos de dignidade abordados por Jacobson (2009) exprimem que a dignidade pertence

a todos os indivíduos, os que prestam os serviços e os que recebem os serviços, tanto individual

como coletivo; e que existe uma ligação entre os dois, por isso, se há ameaça à dignidade de

um, há reflexos na dignidade do outro.

E como associar esses elementos violadores de dignidade na área da bioética para a área das

organizações? Há na classificação feita por Jacobson (2009) elementos que não podem ser

adaptados às organizações, entretanto, existe elementos que podem ser adaptados. O

agrupamento e objetificação da dignidade da pessoa humana são elementos violadores que

podem ser adaptados às organizações, pois refletem a perda da individualidade, ou mesmo

26

coisificar a organização, quando ela é apenas trampolim para crescimento de seus parceiros ou

concorrentes.

O asco e a exclusão são elementos violadores por refletirem a repulsa e o afastamento do outro

do mercado, através de práticas excludentes e voltadas a apresentar uma má imagem da empresa

aos concorrentes e clientes. O bullying, uma prática de constrangimento à pessoa humana

pautada na ameaça, intimidação, aliado a degradação que macula os valores e crenças, também

pode ser adaptado às organizações, pois, da mesma forma que constrange a pessoa física, coage

a empresa reprimida por essas práticas.

A dependência e a restrição, aliadas ao desprezo e à discriminação, obriga a organização a

depender de outras em face do controle de informação e poder de uma sobre a outra, aliada a

prática de tornar a outra invisível, todas originárias de práticas desleais e de amplitude dos

interesses individuais sobre os coletivos.

A difamação aliada ao diminishment e a caracterização de suspeita da empresa, diz respeito a

uma prática violadora de dignidade, porque pretende tornar a outra impotente e ameaçadora, na

manutenção de cumprir obrigações contratuais, cujo intuito é retirar a outra da competitividade,

obtendo ganhos isolados frente aos ganhos mútuos. Por fim, a exploração e etiquetagem, que

reflete estigmatizar para alcançar ganhos individuais, através de uma prática de competitividade

que torna o concorrente impotente e sem condições de interação com os grupos, o mercado em

si.

Percebe-se que as práticas violadoras de dignidade são ações contrárias aos conceitos e

significados de dignidade discutidos pelos diversos autores abordados nesta pesquisa, tais como

Nord (1978), Vredenburgh; Brender (1998) e Araújo (2012). Assim, depois de estabelecidos

alguns elementos de dignidade da pessoa humana e adaptados às organizações, o próximo

tópico tratará como os estudos de dignidade que vêm sendo desenvolvidos apontam os

elementos de dignidade organizacional.

2.1.2 Elementos da dignidade organizacional

Alguns teóricos apontados nas pesquisas realizadas por Araújo (2012), tais como Bayer (2000);

Barbee (2001); Greenspan (2002); Mende; Houlihan (2007); Medeiros; Teixeira (2011) que se

27

voltaram a estudar dignidade organizacional, discutem a dignidade como atos e fatos no mundo

jurídico, constantes das relações de trabalho. O quadro 4, demonstra o foco destes estudos.

Quadro 4 - Elementos de dignidade organizacional no vínculo laboral Elementos Significado dos elementos

Dignidade do trabalhador Sentimento de dignidade para o trabalhador.

Dignidade no trabalho Condições descentes no ambiente de trabalho.

Dignidade organizacional Dignidade no nível das organizações.

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Araújo (2012)

Os elementos de dignidade no campo das organizações partem dos estudos que envolvem

relações de trabalho. Considerando a conceituação de elementos de dignidade proposta por

Silva (2005), elemento designador de dignidade, ora se apresenta como ato isolado, ora como

fato jurídico que, de alguma forma, cria, modifica ou extingue situações nas relações de

trabalho.

Assim, quando se aborda a dignidade do trabalhador, conforme descrito no quadro 04, os

elementos de dignidade, de acordo com os estudos de Araújo (2012), são: o cuidado com os

empregados no processo de desligamento, de rescisão do contrato de trabalho (BAYER, 2000);

o olhar para os empregados afastados das organizações nos processos de downsizing ou

enxugamento do quadro (BARBEE, 2001; GREENSPAN, 2002); o zelo que as organizações

devem ter com seus empregados encaminhados a outros mercados, outros ambientes, quando

dos processos de expatriação, ou seja, quando o empregado é convidado a trabalhar em um

outro ambiente diferente de sua cultura, de sua nacionalidade (MENDE; HOULUHAN, 2007),

e, por fim, o cuidado pela integridade psicológica do trabalhador durante o vínculo

empregatício, na gestão de práticas que reflitam dignidade e emancipação do trabalhador nos

contratos de trabalho (MEDEIROS; TEIXEIRA, 2011).

Nesse contexto trazido por Araújo (2012), dignidade organizacional é compreendida como um

ato e fato jurídico que reflete o cuidar do outro. É quando a organização volta seu olhar para

seus colaboradores ou mesmo seus ex-colaboradores, nos processos de afastamento do

indivíduo do locus/espaço de trabalho.

Ao abordar a dignidade no trabalho, o atributo de dignidade diz respeito às condições de

higiene, limpeza no ambiente laboral; no olhar sobre as dificuldades nas rotinas laborais e as

consequências no uso das ferramentas e tecnologia da informação pelos empregados e, ainda,

aliada a aspectos subjetivos no ambiente de trabalho, quando se fala do assédio moral.

28

O significado de elementos de dignidade no trabalho se dá pelo cuidado com o espaço e pelos

instrumentos utilizados pelo empregado na execução das atividades diárias. Dignidade diz

respeito ao direito a um ambiente higienizado, limpo, com iluminação adequada, com móveis

adequados aos empregados sob o aspecto ergonômico e ainda com relação às ferramentas, que

devem ser adequadas e estar em bom estado de conservação para uso. A tecnologia da

informação deve ser clara e contemplar todas as categorias, envolvendo todos no processo.

Por isso, relacionando ao que estabelece Silva (2005) ao definir elementos como ato e fato

jurídico que formam as relações entre as pessoas, aliado à discussão sobre dignidade por Araújo

(2012), ter-se-á dignidade organizacional significando atos e fatos praticados pelas

organizações que, conforme categorização de Jacobson (2009), são elementos de promoção ou

violação de dignidades, de acordo com a postura dos agentes organizacionais.

Percebe-se nos estudos de Araújo (2012) que o que representa a categorização de violação da

dignidade da pessoa humana diz respeito às metas e ao poder diretivo do empregador, que

submete o empregado a situações e espaços de forma impositiva, sem um diálogo aberto e

consensual e, assim, termina por causar lesão a dignidade do empregado. Muitas vezes, são

práticas constrangedoras, que contemplam o assédio moral, o que macula o ambiente laborativo

e o empregado em si, além de causar lesão à saúde do trabalhador.

O enfoque dos elementos de dignidade contemplados nas organizações, estudados por Araújo

(2012), refletem as relações de trabalho entre a organização e os empregados, foco dos estudos

de Margolis (1997). Mas este é apenas uma primeira abordagem, pois o termo dignidade

organizacional vem assumindo outros conceitos e atrelando também outros elementos.

Teixeira (2008), em suas pesquisas, vai ampliar o conceito e os elementos da dignidade

organizacional, quando afirma que organização digna pressupõe aquela que contempla as

pessoas da organização e outras, os stakeholders. Desse modo, os elementos de dignidade neste

campo das organizações, refletem várias relações, internas e externas ao grupo empresarial, não

só as de vínculo trabalhista.

Nos estudos de Teixeira (2008), a dignidade organizacional reflete além da relação empresa e

empregado, outras relações, empresa e consumidor, empresa e comunidade, empresa e cliente,

empresa e fornecedor, entre outros. A autora, embasada nas conceituações trazidas por outros

teóricos, descreve tipologias de stakeholders.

29

Araújo (2012), ao discutir sobre o que sejam Stakeholders, relata em sua pesquisa as tipologias

de stakeholders em algumas perspectivas, tais como: financista, baseada nos estudos de

Clarkson (1994), que afirma ser os stakeholders grupos que representem ameaças ao grupo

corporativo; na perspectiva jurídica, stakeholders são aqueles nas quais a empresa mantém

relação contratual, com fundamento nos estudos de Cornell; Shapiro (1987); na perspectiva

ecológica, stakeholders são situações/fatos além da perspectiva humana, a exemplo: a

atmosfera terrestre, a litosfera e a biosfera, ampara seus estudos nas pesquisas de Starik (1994).

Nos estudos sobre tipologia de stakeholders, proposto por Araújo (2012), destaca-se que

existem duas categorias tipológicas: as transacionais, que atuam de forma direta nos negócios

das organizações, e as contextuais, estas não atuam de forma direta nos negócios das

organizações, mas influenciam no desempenho econômico, apoiadas nos estudos de Steger

(2006).

Ao relacionar os estudos sobre dignidade organizacional, a partir de Teixeira (2008) e Araújo

(2012), que destacam outros trabalhos, conforme descrito anteriormente, constata-se que os

elementos de dignidade propostos por Jacobson (2009), aliado ao conceito de elemento

abordado por Silva (2005), no qual ato e fato jurídico significam elementos, quando originários

de relações sociais entre indivíduos, grupos e sociedade, que podem ensejar promoção ou

violação de dignidade, contemplam aspectos jurídicos, negociais, contratuais, entre outros

fatores nas diversas relações existentes entre as organizações e os stakeholders.

Na relação entre organização e stakeholders, o trabalho de Teixeira (2008) trilha pelo caminho

da teoria da ação comunicativa de Habermas (2003), também denominada de racionalidade

comunicativa, na qual ele classifica como pretensões de validade do conhecimento do que é

dito e do que não é dito, a partir da interpretação e entendimento pelo receptor do que foi dito

pelo orador. As pretensões são divididas em cinco ideias.

A) O enunciado do que é colocado é verdadeiro para o falante (critério de verdade),

mesmo que, eventualmente, possa estar errado;

B) A ação pretendida é correta em relação ao contexto normativo vigente;

C) A intenção expressa pelo falante coincide com aquilo que ele pensa;

D) Há inteligibilidade, isto é, os enunciados são – quer no plano semântico, quer no

gramatical ou no fonético – inteligíveis para as partes em interação. (TEIXEIRA,

2008, p. 85)

Nos estudos de Teixeira (2008), embasados por Habermas (2003), o significado dos elementos

de dignidade organizacional pode se apresentar como atos (SILVA, 2005), conforme expostos

no quadro 5.

30

Quadro 5 - Elementos de dignidade organizacional Elementos Significado dos elementos

Acordo Consenso, pacto, contratado, combinado entre partes envolvidas.

Boa-fé Transparência, lisura, verdade.

Comunicação Elo que liga os envolvidos nas relações sociais.

Dizer o que pensa Clareza, franqueza e sucinto.

Entendimento Conhecimento, compreensão, saber, assimilar o conteúdo do que é dito.

Inteligibilidade Compreensível por todos.

Linguagem Idioma, vocabulário, expressões verbais e orais, os códigos, sinais, etc.

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Teixeira (2008)

A partir dos elementos destacados como designadores de dignidade organizacional, de acordo

com os estudos de Teixeira (2008), percebe-se que esses elementos envolvem não só o

indivíduo em si, mas o que é dito nas relações e processos sociais entre as organizações e os

stakeholders, o indivíduo como agente coletivo. Por isso, quando relacionado ao significado

discutido por Silva (2005), reflete mais os fatos do que os atos isolados na formação das relações

sociais.

Dignidade organizacional significa as ações, os valores, a cultura e o que é dito e entendido nos

acordos firmados entre as organizações e os stakeholders, pressupondo decisões vantajosas a

todos os envolvidos e não privilegiando um em detrimento de outro (s) (TEIXEIRA, 2008).

Os estudos até aqui realizados destacaram os elementos de dignidade organizacional a partir

dos significados apontados por Silva (2005), como ato e fato jurídico, aliado aos estudos de

Jacobson (2009) sobre violação e promoção da dignidade da pessoa humana, bem como, o

significado de dignidade organizacional com relação aos stakeholders. Busca-se apontar

elementos que designem a dignidade organizacional a partir das relações entre as empresas e

os stakeholders, internos, os diretores e o externo, os fornecedores industriais.

Como o estudo aborda a dignidade organizacional a partir das relações comerciais firmadas

entre os fornecedores industriais e os diretores de um grupo empresarial, faz-se necessário

descrever os elementos formadores dos acordos comerciais, advindos das negociações.

2.1.3 Elementos formadores de acordos comerciais entre organizações

Os negócios realizados por organizações nas tratativas comerciais formalizam contratos. Desse

modo, para tratar sobre os elementos dos acordos nos negócios comerciais entre organizações,

se faz necessário compreender, inicialmente, o que é um contrato. Rizzardo (2010) afirma que

a partir do direto romano, contrato representa um acordo de vontades, que pode resultar em

31

obrigações ou não. No raciocínio de Rizzardo (2010), contratar significa um pacto de vontades

estabelecidas entre os envolvidos que pode determinar uma obrigação a ser cumprida, ou não

disciplinar qualquer obrigação.

Rizzardo (2010) traz uma distinção entre contrato e convenção ao afirmar que:

[...] os romanos empregavam o termo ‘convenção’, com o significado amplo de

contrato, considerando-a o gênero, [...] e o termo contrato que aparecia como espécie

e era a relação jurídica constituída por obrigações exigíveis mediante ações cíveis. [...]

daí ser possível afirmar que a convenção é acordo de duas ou mais pessoas, sobre um

objeto de interesse público e particular, e o contrato se delineia como uma espécie

particular de convenção (RIZZARDO, 2010, p.5).

Compreende-se a partir do autor que se pode interpretar, num primeiro momento, contratos e

convenções como sinônimos, pois estabelecem um mesmo pensar, estrutura e acepção jurídica.

Entretanto, a convenção é mais geral, ampla, pois abarca acordo de vontades de mais de duas

pessoas sobre objetivações privadas ou públicas, enquanto o contrato se exprime como uma

espécie de convenção na esfera privada.

Amato (2014, p. 249) afirma que “os contratos são uma formalização jurídica de operações

econômicas ou instrumentos jurídicos de operacionalização das relações econômicas”.

Conforme se percebe, Amato (2014) aborda uma outra concepção de contrato, mais voltada

para aspectos econômicos e jurídicos. Formalização jurídica exprime uma declaração de

vontade amparadas por lei, para resguardar os interesses dos envolvidos no pacto firmado. A

operacionalização das relações econômicas diz respeito às tratativas dos contratos, que sempre

têm o caráter patrimonial, pois estabelecem regras de transferências de propriedade dos

envolvidos, que podem ser valores pecuniários ou utilidades com valor econômico.

Entende-se então que contratos representam os acordos das partes envolvidas nos negócios

celebrados, amparados por lei, para garantia dos interesses expressos e validam as

transferências de propriedades econômicas dos contraentes.

Então, depois de estabelecido o conceito de contrato, quais os elementos formadores dos

contratos?

Amato (2014) elenca seis elementos necessários à existência do contrato. O primeiro diz

respeito à forma, ou seja, como as declarações de vontade são expressas, sejam na forma oral,

escrita, gestual, etc., O contrato deve ser imbuído de uma forma para conhecimento e aceitação

32

nos processos sociais. A forma mais comum dos contratos organizacionais é a escrita, pois fica

evidenciado e documentado tudo o que foi acordado, para ciência e cumprimento pelas partes

contratantes. Entretanto, esta não é a única, as negociações verbais, confirmadas através de

correspondências comerciais, tipo e-mail, celulares (WhatsApp), e outras formas de

comunicação através da internet, também geram obrigações e compromissos, desde que

confirmados.

O segundo elemento é o objeto do negócio jurídico. O objeto, sobre o que o contrato versa,

deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. No saber de Rizzardo (2010), lícito

porque deve seguir as regras morais e éticas da sociedade, não deve ferir a ordem pública e os

bons costumes. Possível porque a operação na qual versa o objeto deve ser realizável, viável,

as prestações estabelecidas têm que ser efetiváveis para validade do negócio firmado.

Determinado ou determináveis porque o objeto tem que ser identificado, localizado, possível

de ser descrito e individualizado ou partilhado.

O terceiro elemento diz respeito às circunstâncias negociais que devem ser viáveis ao

fechamento do negócio, não uma situação de risco iminente ou de simulação que venha macular

o estado situacional de realização do negócio. Pois, de outro modo, entender-se-ia eivado de

falhas em face da situação que se encontrava o agente no momento de aceitação do

compromisso estabelecido.

O quarto elemento diz respeito às partes contraentes. Quando se fala das partes, fala-se dos

agentes e de suas capacidades para realização do negócio jurídico. No dizer de Rizzardo (2010)

as partem têm que ser capazes, ou seja, atenderem o que determina a lei, previsto nos artigos 3º

ao 5º do código civil brasileiro.

O quinto elemento diz respeito ao tempo da contratação, se por pessoas presentes ou ausentes

e de como fica a validade da aceitação das obrigações por presentes e ausentes no pacto

realizado, conforme estabelecem os artigos 427 ao 434 do código civil brasileiro. Tempo de

formalização do contrato corresponde ao momento da presença ou não de um dos agentes e a

validade da formalização do acordo.

33

O sexto elemento diz respeito ao local de celebração do negócio jurídico. Quanto a este

elemento, o artigo 435 do código civil pátrio estabelece o lugar onde foi proposto e firmado o

negócio.

Ditos os elementos designadores dos contratos comerciais, o quadro 6 demonstra os elementos

contratuais propostos por Rizzardo (2010) e Amato (2014).

Quadro 6 - Elementos formadores dos contratos comerciais Elementos Significado dos elementos

Forma Como o contrato é estabelecido: oral, escrito, gestual.

Objeto do negócio A definição do contrato. Tem que ser lícito, possível, determinado ou

determinável.

As circunstâncias negociais Não pode ter vício de vontade; pode ser nulo ou anulável se houver erro ou

ignorância da parte; o dolo; a coação; o estado de perigo; a lesão; a fraude contra

credores.

As partes Ser capaz (absolutamente ou relativamente incapaz); cessação da menor idade

civil.

O tempo Partes presentes ou ausentes e validade da aceitação.

Local Lugar de celebração do contrato.

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Rizzardo (2010) e Amato (2014)

Dos elementos contratuais destacados a partir dos estudos de Rizzardo (2010) e Amato (2014),

percebe-se que esses elementos envolvem não só os agentes dos contratos, mas um rol de

situações, circunstâncias, tempo, o objeto em si, o estado emocional, psíquico e social dos

agentes e, principalmente, que o que for pactuado não seja proibido por lei. Assim, ao se

comparar os elementos de dignidade organizacional estudados por Teixeira (2008), perceber-

se-á que há semelhança, mas que os elementos dos contratos são mais abrangentes do que os

elementos de dignidade organizacional estudados por Teixeira, pois contemplam todos os tipos

de contratos, não só os entre empresas.

Uma das variáveis ou aspectos diferenciadores entre os elementos de dignidade organizacional

e os elementos dos contratos comerciais diz respeito aos aspectos objetivos e subjetivos. Os

elementos dos contratos são mais gerais e abrangentes, e também apontam objetivos não

contemplados nos elementos de dignidade organizacional, conforme se verifica no quadro 7.

34

Quadro 7 - Comparação dos elementos de dignidade organizacional com elementos formadores dos

contratos comerciais Elementos de dignidade organizacional

(TEIXEIRA, 2008)

Elementos formadores dos contratos

(RIZZARDO, 2010; AMATO, 2014)

Acordo Forma

Boa-fé Objeto do negócio

Comunicação As circunstâncias negociais

Dizer o que pensa As partes

Entendimento O tempo

Inteligibilidade Local

Linguagem

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Teixeira (2008), Rizzardo (2010) e

Amato (2014)

Desse modo, ao se comparar os elementos de dignidade organizacional aos elementos

formadores dos contratos no direito, percebe-se que o elemento de dignidade organizacional

“acordo”, estudado por Teixeira (2008), tem semelhança com os elementos “forma” e “tempo”

do contrato comercial, descrito por (RIZZARDO, 2010; AMATO, 2014), pois “acordo” pode

refletir consenso e a “forma” pode ser escrita, verbal ou gestual que, aliada ao “tempo”,

significando aceite do receptor tanto na presença quanto na ausência de uma das partes,

designam consenso dos envolvidos, independente de se fechar o acordo pessoalmente ou por

representante.

Dignidade, nesse viés, é um ato e um fato jurídico (SILVA, 2005) que pode ser promovido

quando privilegiada a concordância das partes, a partir da comunicação verbal ou escrita, desde

que confirmado o querer do outro em pactuar o negócio. Será violado, se eivado de vício, no

caso, a falta de aceite ou mesmo na ausência e sem a ciência de uma das partes, independente

da presença ou ausência dela, quando a má-fé predominar. Diz respeito à adaptação feita a

taxonomia de Jacobson (2009).

A “boa-fé”, outro elemento de dignidade organizacional analisado por Teixeira (2008), é

subentendida nos elementos formadores dos contratos; por ser um elemento subjetivo, tendo

em vista que a boa-fé é presumida no direito. De acordo com Rizzardo (2010, p.861) “A boa-

fé é exigência essencial nas declarações das partes, embora, seja princípio que deva encontrar-

se presente em todos os contratos”. Nesse sentido, a transparência do que é dito e aceito como

verdadeiro no pacto contratual pode promover ou violar a dignidade, de acordo com a ação, a

situação factual das partes no momento de celebração do negócio. Entende-se que a má-fé tem

que ser provada, contrária à presunção de boa-fé.

35

Situação factual diz respeito às circunstâncias negociais que podem ter vício de vontade,

podendo ser nulo ou anulável o que for pactuado, se houver erro ou ignorância da parte, o dolo,

a coação, o estado de perigo, a lesão, a fraude contra credores, elementos violadores de

dignidade, a partir dos ensinamentos de Jacobson (2009). São elementos violadores porque a

intenção é tirar vantagem individual em detrimento da outra parte. A intenção é de ganhos

pessoais e não mútuos.

Para esclarecer se houve esses vícios ou não, precisa-se ter o entendimento de que existiu uma

comunicação prévia, que é o elo entre as partes e que, nessa comunicação, há o entendimento,

compreensão e ciência, pois, as partes devem dizer o que pensam com clareza e franqueza, o

que gera a inteligibilidade, ou seja, a compreensão por todos. Estes fatos e ações jurídicas

(SILVA, 2005) representam promoção da dignidade, de acordo com Jacobson (2009).

Ressaltando-se que, para formalização do negócio jurídico, um dos elementos de dignidade

organizacional diz respeito à linguagem, que deve ser clara e objetiva; deve-se considerar

também o idioma, a língua comum a todos os envolvidos no contrato; no caso do Brasil, a

previsão é o português, por ser o idioma oficial, conforme disciplina o artigo 13 da Carta Magna

de 1988. Outro elemento formador do contrato é o objeto de negócio, que deve lícito, pautado

na ética, moral e bons costumes sociais, contemplando a capacidade das partes, se podem ou

não fazer acordo, de acordo com a capacidade civil de ser parte.

Quando se fala na capacidade dos indivíduos, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, este último

são as organizações. Deve-se considerar o direito da personalidade, que tem início com o

nascimento do indivíduo/organização, muito bem disciplinado no Código Civil pátrio, nos

artigos 2º e o 45. A capacidade é a possibilidade de responder pelos atos praticados, conforme

disciplinam os artigos 2º ao 10º do mesmo código. Violar o direito da personalidade é violar a

dignidade, a personalidade organizacional, assim como da pessoa física, a personalidade

organizacional é entendida como sinônimo de dignidade e é o bem maior, nas normas nacionais

e internacionais. Por isso, os agentes representantes das organizações devem pautar-se pela boa-

fé no momento das negociações comerciais, para evitar danos e lesões às organizações.

Outro elemento formador do contrato diz respeito ao “local”, lugar de celebração do negócio

jurídico. Como se trata de um elemento, representa um fato jurídico estabelecido por Silva

(2005) e também um elemento de promoção da dignidade, conforme aborda Jacobson (2009),

36

quando respeitado como consenso de todos, a partir do acordo de vontade das partes, sem

qualquer vício de consentimento ou entendimento.

Dessa forma, ficam propostos elementos de dignidade organizacional a partir dos estudos feitos

e aceitos por Silva (2005), Teixeira (2008) e Jacobson (2009) na categorização de dignidade

organizacional a partir da compreensão do que seja ato e fato jurídicos; do que seja dignidade

organizacional com relação ao trato com os stakeholders e o que seja promoção e violação da

dignidade, como forma de respeito aos valores sociais. A partir desta elementarização, busca-

se ampliar os estudos de dignidade organizacional a partir dos contratos comerciais e as

condições expressas.

2.2 Dignidade organizacional nas condições expressas nas negociações comerciais como

informação e poder

Nesta seção, partir-se-á da compreensão de dignidade organizacional, tendo por embasamento

a teoria da ação de comunicação de Habermas (1984), tratando sobre o diálogo entre os sujeitos

na formação contratual, a partir dos acordos mútuos nas condições expressas nos contratos

comerciais. Em seguida, abordar-se-á a comunicação nas negociações comerciais como

informação e poder.

2.2.1 Dignidade organizacional e as condições expressas nas negociações comerciais

Para tratar de dignidade organizacional, com base nos acordos comerciais, mais

especificamente, nas condições expressas nas negociações, deve-se estabelecer o que significa

compromisso. Para Porter (2004, p. 104) “estabelecer um compromisso é essencialmente a

forma de comunicar os recursos e as intenções da empresa sem margem de equívocos”. Dessa

forma, compreende-se que assumir um compromisso significa informar ao outro qual a intenção

da empresa e quais recursos ela disponibiliza para que não haja nenhum tipo de ruído na

comunicação e, consequentemente, desacordos no que foi pactuado.

“A comunicação de um compromisso reduz a incerteza [...]” (PORTER, 2004, p. 104), isto quer

dizer que deve haver clareza, entendimento e segurança às partes na formação dos

compromissos, para que o elo estabelecido não sofra qualquer quebra.

37

Porter (2004) aborda três tipos de compromissos dentro de um cenário competitivo. O primeiro

diz respeito ao empenho no movimento que esteja fazendo, denominado de ‘dissuadir a

retaliação’. O segundo diz respeito ao movimento de continuar retaliando, de acordo com o

movimento de um concorrente, denominado ‘dissuadir a execução de movimentos ameaçadores

em primeiro lugar’. O terceiro e último, mais condizente com esta pesquisa, diz respeito a

obrigação de permanecer com o compromisso assumido e não pensar em renúncia em

determinada situação ou ação, que ele denomina de ‘criar confiança’.

Compreende-se que, quando se cria confiança, no sentido trazido por Porter (2004) refere-se a

um diálogo aberto, sincero com os concorrentes e que, no lugar de ampliar a concorrência e

competitividade predatória, ao contrário, promova-se o juntar de forças que, no lugar de

guerrear, todos se emprenhem em permanecer atuando no mercado, através de um ‘jogo’ limpo.

Desse modo, “a empresa consegue convencer os rivais” a ter ganhos mútuos (PORTER, 2004,

p. 105). Convencer os rivais, fazendo uso da persuasão, ou seja, através de um discurso claro e

sincero, fácil de atrair o oponente para formar parceiros, em vez de concorrentes.

Compromisso é discutido no sentido de um acordo firme e irreversível, de certo modo, que

atraia os concorrentes através de uma prática de regras claras, entendidas e aceitas por todos,

em prol de uma melhor maximização das atividades empresariais para todos. A comunicação

no compromisso é vital, pois, ao criar credibilidade, fortalece as relações estabelecidas no

campo das organizações e as oscilações mercadológicas.

Porter (2004, p.106) descreve quatro formas de construção dos compromissos. A primeira diz

respeito ao “ativo”, significando os recursos e outros mecanismos para executar o

compromisso”, que quer dizer que a comunicação deva ser, além de clara, fidedigna do ativo e

dos recursos que a empresa demanda para o mercado. A comunicação deve apresentar os

recursos realmente existentes e disponibilizados aos clientes; ou seja, a empresa não deve

boicotar, deve informar com veracidade tudo sobre seus produtos e serviços, só assim reduzirá

a má interpretação e risco com relação à sua atuação frente a seus concorrentes.

A segunda diz respeito a “uma intenção clara de executar o compromisso e mais adesão histórica

aos compromissos anteriores” (PORTER, 2004, p. 106). Nesse caso, o mote está no

comportamento da organização de assumir compromissos, demonstrar a intenção de cumprir os

acordos firmados e manter uma postura de credibilidade. Assim, se a organização traz em seu

currículo a marca de assumir compromissos e cumpri-los, apresenta uma imagem persuasiva

38

de intenções positivas, o que termina por minimizar ações de retaliação por parte dos

concorrentes. Fica claro que a comunicação deve ser pautada por seriedade no comportamento

dispensado aos stakeholders, no geral.

A terceira diz respeito a “impossibilidade de recuar ou a resolução moral percebida de não

recuar” (PORTER, 2004, p. 106). O compromisso, nesse caso, diz respeito ao cumprimento de

obrigações de longo prazo e o estabelecimento de outros compromissos. Assim, a empresa que

apresenta um portfólio de não atuar na ‘irracionalidade’, ou seja, de não agir de forma criteriosa,

o que termina por demandar ações judiciais e declarações públicas de suas atitudes

‘inconsequentes’, atrai tanto o olhar dos concorrentes como o dos clientes quando ela toma

determinadas atitudes, até mesmo de baixar o preço, diante da concorrência. A lealdade expressa

com todos os stakeholders através de sua comunicação demonstra ao público seu maior ou

menor grau de seriedade nos negócios.

O cuidado com a irracionalidade, ou seja, de agir pautado em ‘apagar fogo’ e ter posicionamento

drástico diante da concorrência quanto às ameaças, pode referendar negativamente uma

organização, através de suas atitudes expressas nos diálogos afirmados e ações realizadas frente

ao cumprimento dos compromissos assumidos.

Habermas (1996, p. 206) ao abordar em seus estudos sobre a ação comunicativa versus ação

estratégica diz que, “os participantes que estão orientados para o sucesso, apenas poderão

coordenar seus planos se um deles aceitar a seriedade das intenções ou imperativos proferidos

pelo outro”. Isto implica que, na ação de comunicar com um enfoque de ação estratégica, os

envolvidos só estarão orientados para o sucesso se houver seriedade no que for estabelecido,

estabelecendo-se um diálogo aberto de intenções e finalidade afins, daí poderá haver a ação

comunicativa entre comunicador e receptor.

A sinceridade deve ser imperiosa para que todos os envolvidos alcancem o sucesso, sendo

estabelecida como uma verdade dita por um e entendida pelo outro, e também como uma

verdade imperativa, que cerca a comunicação.

Ainda em Habermas (1996, p. 206), “[...] há duas pretensões de validade envolvidas nesta

situação: a sinceridade da resolução ou decisão, e a verdade daquilo que se acredita”. O que

compreende por pretensões de validade é a sinceridade na decisão ou resolução tomada por um

componente do pacto. A pretensão deve estar amparada por uma verdade do agente emissor e,

por outro lado, que esta pretensão seja também a mesma verdade de validade para o receptor, o

39

outro componente do pacto. As verdades devem ser únicas e acreditáveis pelos envolvidos, pois

eivadas de sinceridade.

Assim, a racionalidade está no fato de que a decisão ou resolução seja pautada na sinceridade

que vai envolver o outro, sem qualquer intenção de enganar. Todos chegarão ao sucesso, se os

ganhos forem recíprocos.

A irracionalidade significa o sentido que o compromisso contratual é firmado pelas

organizações. Estabelece um agir desleal, causador de ruídos nas relações estabelecidas no

mercado, a falta de ponderação e visão macro das situações advindas por determinadas atitudes

tomadas no presente, que podem ter repercussão favoráveis ou desfavoráveis no futuro e deixar

as máculas no passado, pois contaminada pelos interesses pessoais em desfavor dos recíprocos.

A quarta e última construção trazida por Porter (2004, p.106) diz respeito a “possibilidade de

detectar concordância com os termos aos quais se refere o compromisso”. Nesse caso, o

compromisso em detectar concordância traz o sentido de perceber as manobras do mercado,

realizadas por organizações que visam trapacear os concorrentes. Assim, se uma empresa

percebe a postura da outra em fraudar, sua postura diante de tal situação deve ser firme quanto

a realização de seu negócio, demonstrando, assim, sua seriedade e segurança competitiva diante

das ameaças dos concorrentes fraudulentos atuantes neste mercado.

A comunicação de um compromisso firmado com seriedade com os stakeholders, a partir da

percepção de trapaças por determinados concorrentes, pode engrandecer a imagem de uma

organização, diante de sua postura firme e de sua comunicação clara e pautada pela boa-fé, nas

suas declarações verbais e escritas.

Desse modo, percebe-se que a construção de compromisso fidedigno por parte de uma

organização está pautada, essencialmente, na confiança expressa na comunicação voltada aos

stakeholders, demostrando a sua seriedade e firmeza no lidar com a competitividade e

concorrência.

Assim, depois de estabelecido o significado de compromisso nas relações entre as organizações

e os stakeholders, trabalhar-se-á o entendimento de ‘ação social da comunicação’ como

estratégia organizacional, pautada na confiança e na reciprocidade.

Teixeira (2008, p.86) afirma que a dignidade organizacional proposta em seus estudos é

embasada na ação comunicativa apoiada por Habermas, que “consiste na relação entre pessoas

40

da organização e os stakeholders, que a partir da ação comunicativa, se diz o que se pensa, de

forma inteligível, cujos acordos são baseados no entendimento formalizado, na qual não há

intenção de usar o outro no alcance dos próprios fins”.

Habermas (2012) em seus estudos sobre teoria da ação comunicativa, inicialmente, afirma que

na teoria das ciências sociais, o sentido de ação pode assumir quatro conceitos básicos. O

primeiro diz respeito ao agir teleológico que, de acordo com a teoria filosófica de ação, “é a

decisão entre diversas alternativas voltadas à realização de um propósito, derivada de máximas

e apoiada em uma interpretação da situação” (HABERMAS, 2012, p. 163). Significa que o

agente, ao partir de uma intenção, verifica a possibilidade de várias alternativas e daí decide por

uma ação que, de acordo com sua interpretação, é a mais viável.

O segundo diz respeito ao agir estratégico, muitas vezes interpretado de maneira utilitarista.

“Supõe que o ator escolhe e calcula os meios e fins segundo aspectos da maximização do

proveito ou das expectativas do proveito” (HABERMAS, 2012, p.164). Nesse caso, entende-se

que o indivíduo vai agir de acordo com a utilidade da ação em seu proveito, ou seja, ação tem

que gerar um proveito que maximize os ganhos pessoais.

O terceiro conceito diz respeito ao agir regulamentado por normas, cujo foco central de

“cumprimento de uma norma significa a satisfação de uma expectativa de comportamento

generalizada” (HABERMAS, 2012, p.167). O sentido de ação, neste aspecto, diz respeito a uma

ação do indivíduo que esteja normatizada para sua aceitação e validação, pois este agir deve

estar de acordo com o papel esperado do agente vivendo em sociedade e de acordo com as

regras de conduta.

O quarto conceito de ação diz respeito ao agir dramatúrgico, cujo conceito central é

“autorrepresentação”, que não significa um comportamento expressivo espontâneo, mas a

estilização da expressão de vivências próprias, endereçada a espectadores” (HABERMAS,

2012, p. 165), quer dizer que a ação dramatúrgica não é real, mas representa um fenômeno

extraído de atuação estilizada das diversas vivências com uma finalidade de atingir um público

alvo. Por isso, se diz que não é espontânea, mas estilizada. A ação do agente é figurada com o

intuito de, através da representação, demonstrar vivências dos grupos sociais.

O conceito do agir comunicativo nas conceituações trazidas por Habermas (2012, p. 166)

“refere-se à interação de, pelo menos, dois sujeitos capazes de falar e agir que estabeleçam uma

41

relação interpessoal. [...] que buscam entendimento sobre a situação da ação para, de maneira

concordante, coordenar seus planos de ação e, com isso, suas ações”.

Ação tem o significado de habilidade que as pessoas desenvolvem vivendo em grupos; de se

relacionarem dentro dos grupos e entre os grupos, ou seja, é a habilidade do indivíduo no

convívio mútuo.

Está na relação do indivíduo com os membros de seu grupo e também na relação de seu grupo

com outros grupos. Está também na capacidade de extensão das relações desenvolvidas num

grupo, que se estenderá também na formação de outros grupos que não são de formação

originária daqueles membros, mas construídos a partir de novos relacionamentos. A

comunicação perpassa no diálogo entre os membros de um mesmo grupo para diálogos entre

grupos, desde que os objetivos sejam expressos com clareza e entendidos por todos.

Este entendimento por todos diz respeito à intervenção de todos os sujeitos na construção da

comunicação que, se pautada na racionalidade, é circundada pela sinceridade das informações

prestadas e recebidas.

Habermas (2012, p. 159) descreve o ‘Mundo da Vida’ como “sendo os próprios sujeitos

socialmente coletivizados que, ao tomar parte de processos interpretativos cooperativos,

empregam implicitamente o conceito de mundo”. Isso quer dizer que o mundo da vida significa

a difusão de valores culturais que, interpretados, entendidos e aceitos por todos, representam o

agir comunicativo de forma coletiva, denominado de mundo da vida, pois extraído de

experiências vividas, as tradições, que são difundidas entre os grupos através da comunicação.

Ressalte-se que nos estudos trazidos por Gutierrez; Almeida (2013), no ‘Mundo da Vida’

sugerido por Habermas (1998, p.435), “a racionalidade aparece como uma reestruturação dele,

que atua sobre a comunicação cotidiana através da diferenciação do sistema de saber, afetando

assim, as formas de reprodução cultural, interação social e socialização”. Afirmam os autores

que “Habermas abandona a divisão mais comum, na teoria crítica, entre o agir racional com

respeito a fins e a razão substantiva. [...] a diferença fundamental não está no sentido que

orienta, mas no princípio de integração social” (GUTIERREZ; ALMEIDA, 2013, p. 154).

Racionalização no dizer de Habermas (1988) é estabelecida como um princípio de integração

social, ou seja, o racional como mecanismo de interação dos indivíduos que agem com

sinceridade e intenções comuns para alcançarem o sucesso. A integração vai se originar da

42

relação comunicativa, cujo emissor e receptor têm fins recíprocos e são conduzidos pela mesma

compreensão de verdade incutida no que é dito.

Reprodução cultural de acordo com Habermas (1988) diz respeito ao acúmulo de consensos e

acordos de vontades, na qual não se precisa discussão para se chegar a um entendimento. A

reprodução cultural é o continuar do processo de entendimentos das coisas através da

comunicação, passado de geração em geração, não como acervo simbólico, mas como vivências

concretas, compreendidas e aceitas pelos grupos como verdadeiras.

Interação social e socialização no saber de Habermas (1988) significam difundir os valores

culturais aceitos por todos os grupos a outros grupos, através de um agir comunicativo aceito e

entendido como verdadeiro e vantajoso à coletividade.

Para Habermas (1988, p. 179) “[...] o “Mundo da Vida” é o lugar transcendental em que falante

e ouvinte saem ao encontro”. Transcendental, pois, acima dos valores culturais de determinados

grupos individualizados, no qual todos estão imbuídos da necessidade de se comunicar e de

trocar as experiências vivenciadas e compreendidas como verdadeiras, estas são repassadas

pelos agentes oradores aos seus ouvintes, receptores e trocadas as informações inter e intra

grupos.

É interessante que a compreensão do agir comunicativo, estudado por Habermas (1988) e outros

pesquisadores, como Teixeira (2008), se estenda ao conceito de agir comunicativo entre os

grupos de indivíduos inseridos nos diversos grupos sociais, inclusive, as empresas, para que a

comunicação organizacional seja pautada na inteligibilidade proposta por Habermas (1988).

Como o foco deste estudo diz respeito às organizações, iniciar-se-á, a partir do agir estratégico

proposto por (HABERMAS, 2012, p.164), que “supõe que o ator escolhe e calcula os meios e

fins segundo aspectos da maximização do proveito ou das expectativas do proveito”.

Estratégico, nesse sentido, significa retirar o máximo possível de proveito útil nas decisões

tomadas, calculando os meios e os fins mais vantajosos. No ambiente organizacional,

estratégico assume diversas conceituações.

Para Ansoff (1990), estratégico diz respeito ao conjunto de normatizações e decisões

desenvolvidas para gerir as organizações para alcançar seus objetivos, a partir de determinados

comportamentos.

43

Porter (1999) aborda a estratégia sob outra ótica, pois afirma ser a estratégia uma possibilidade

de ter diversidade a partir de uma situação em que a organização esteja confortável e flexível

para sobreviver à concorrência e ser competitiva.

Motta (2001) afirma ser a estratégia, a organicidade da empresa, que toma suas decisões com

foco em sua missão, objetivos e na gestão, considerando a organização como um todo que tem

setores inter-relacionados, necessitando, portanto, de um planejamento tático a seguir.

Por fim, Araújo; Garcia (2010, p. 249) afirmam que estratégia é:

[...] uma somatória de planos e ações integradas que, considerando as frequentes

variações ambientais, visa a assegurar vantagens competitivas contínuas, geradoras

de estímulos internos à sua estrutura social e de diferenciações excelentes de seus

produtos e/ou serviços, atingindo plenamente o segmento de mercado desejado.

Compreende-se a partir dos autores (ANSOFF, 1990; PORTER, 1999; MOTTA, 2001 e

ARAÚJO; GARCIA, 2010) que estratégia, além de abarcar os conceitos trazidos anteriormente,

deve considerar o ambiente externo e suas variações como estímulos internos para atingir

plenamente os objetivos desejados, se mantendo competitiva no mercado com excelência na

produção de produtos e serviços ofertados.

A partir da compreensão do que seja uma ação estratégia da organização, e dentre esta ação,

está o cumprimento das obrigações assumidas com compradores e fornecedores. Como se

estabelece a comunicação na negociação?

Para uma boa negociação, as partes devem estar munidas de habilidades para formalizarem

acordos mútuos a partir de concessões e obtenções para atender, assim, suas necessidades.

Correia (2014, p. 200) afirma que “a comunicação é o processo de interação utilizado entre

indivíduos para explicitar as concessões e obtenções durante uma negociação e depende dos

códigos utilizados, da estruturação das mensagens e dos canais de comunicação”.

A partir da conceituação de Correia, entende-se que, havendo um diálogo claro sem ruído e com

consenso e aceitação das propostas pelos envolvidos, bem como, a mediação nas concessões e

obtenções dos interesses, há possibilidades de uma negociação eficiente e eficaz, o que gera

compromissos promissores nas transações comerciais.

44

Assim, Correia (2014, p. 214) afirma ainda que o acordo final e sua formalização refletem “o

contrato, que deverá reproduzir o acordo decorrente de um processo de negociação eficaz,

fazendo valer suas decisões e seus interesses, e não as pessoas”.

A interpretação trazida por Correia (2014) reflete o que foi estudado até aqui sobre a teoria da

comunicação proposta por Habermas (2012), que exprime que o agir organizacional deve estar

pautado na confiança e reciprocidade para, assim, se configurar a dignidade organizacional

trazida por Teixeira (2008), baseada no entendimento mútuo, cujo interesse é de ganhos mútuos,

não pessoais.

A formação contratual comercial deve contemplar, além dos acordos mútuos, condições

expressas e claras sem qualquer vício de consentimento ou de objeto.

De acordo com Amato (2014, p. 245), o contrato deve ser amparado pela “autonomia da vontade

ou autonomia privada”. [...] “todo contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral,

gerador de obrigações, pois é formado por declarações de vontades convergentes de duas ou

mais pessoas, as partes contratuais” (AMATO, 2014, p.246).

Compreende-se a partir de Amato (2014) que, autonomia da vontade diz respeito ao interesse

demonstrado pelas partes de desejarem pactuar o compromisso. Negócio jurídico bilateral ou

plurilateral, em face da quantidade de pessoas envolvidas, e quem se obriga a prestar a

obrigação, se todos ou apenas um; e a declaração de vontades convergentes, diz respeito aos

interesses mútuos, por exemplo, um deseja vender seus produtos e o outro deseja comprar;

estabelecendo-se obrigações mútuas assumidas no contrato.

Para existência, validade e eficácia de um contrato, há a necessidade de uma forma bem definida

na operacionalização das relações econômicas, pois, os contratos em regra têm o caráter

patrimonial de pactuar transferências de bens entre as partes. Estes bens têm utilidade

econômica, pois são fruto de procura e oferta no mercado de consumo.

Conforme já foi dito na primeira seção, para validade de um contrato, se faz necessário alguns

elementos, tais como: forma, objeto, circunstâncias, partes, tempo e local. Assim, para

estabelecimento das condições expressas nos contratos comerciais, se faz necessário,

incialmente, estabelecer alguns critérios de validade e eficácia. Para validade, não deve haver

vício de vontade, ou seja, não deve haver má-fé, ameaça e vontade de fechar o negócio.

Conforme bem explicita Amato (2014, p. 251) precisa ser “resultante de um processo volitivo,

45

que lida com a plena consciência da realidade por todos, pois, escolhida com liberdade e

deliberada sem má-fé”.

Quando há vício de vontade, pode ocasionar à nulidade ou anulabilidade do contrato. Conforme

disciplina o artigo 166 do Código Civil:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção

É anulável, conforme disciplina o artigo171 do mesmo diploma legal:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, anulável o negócio

jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra

credores.

A anulação do contrato ocorrerá quando realizado por pessoa absolutamente incapaz, que não

possa gerir sua vida, não tenha a capacidade para assumir compromisso; quando o objeto for

ilícito ou impossível, contrário aos bons costumes e impraticável; O motivo de pactuação

contratual for contrária aos bons costumes e a lei, não for escrito e não obedecer às regras

previstas em leis, não considerar os critérios exigidos pela lei para formalização do negócio

jurídico; quando o interesse for fraudar terceiros de boa-fé e quando não houve a chamada

cláusula penal, pela falta de cumprimento das obrigações assumidas.

Quanto à nulidade, diz respeito à incapacidade relativa do agente, ou seja, quando envolver

limitações quanto a pessoas e seu poder de realizar o negócio jurídico e quando houver vício de

consentimento, erro ou ignorância, que significa desconhecer as regras dos contratos; dolo,

vontade de prejudicar a outra parte; coação, ou seja, a parte se obriga no contrato em face de

ameaça sofrida ou estado de perigo e lesão a direitos, situações em que a parte envolvida não

tem condições de assumir o compromisso imposto por conta da situação em que se encontra,

pois, as condições expressas e estabelecidas nos contratos vinculam os envolvidos. E o que é

condição? De acordo com o artigo 121 do Código Civil Pátrio:

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade

das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

46

Ao se interpretar o artigo em comento, entende-se que condição diz respeito a um critério

contido como cláusula contratual que, estabelecido pelas partes, submete as partes a cumprirem

o que foi pactuado, observando os termos e encargos advindos com a obrigação assumida.

O termo diz respeito a ocorrência de evento ou fato que trará a eficácia do contrato. De acordo

com Amato (2014, p. 253) “termo inicial e final, a eficácia do negócio é submetida a um

determinado evento futuro, cuja ocorrência é certa – pode-se, assim, determinar as datas a partir

da qual até a qual o contrato produzirá efeitos, vinculando as partes”.

Entende-se termo como norma de início e fim da eficácia do contrato, dependendo da data de

ocorrência de determinado fato.

O encargo diz respeito a uma obrigação de fazer ou de não fazer algo; entregar a coisa certa ou

incerta, para daí vincular os envolvidos nas obrigações constantes da cláusula contratual. Ainda

em Amato (2014, p. 253) “encargo ou modo, é a eficácia do negócio que está subordinada à

prática de algum ato por uma das partes; após praticado tal ato, o negócio passa a ser eficaz”.

Assim, o encargo é o ônus que assume uma das partes ou as partes para que se cumpra o vínculo

obrigacional pactuado.

Ainda no trato da eficácia, há necessidade de publicidade do pactuado em contrato, para que

seja oponível a terceiros, ou seja, o contrato deve ter data de início, com aceitação e ciência das

partes, em algumas situações deve ser registrado, para assim ter valor diante de outras pessoas

que venham questionar sobre a existência ou objeto pactuado. Amanto (2014, p. 253) afirma

que “a publicidade permite que os negócios que vinculam somente as partes contraentes

(eficácia inter partes) passem a ser oponíveis a terceiros (ganhando eficácia contra todos, erga

omnes)”.

Assim, as condições expressas devem ser pautadas na confiança e inteligibilidade, a partir de

uma comunicação clara e pautada na verdade para se atingir ganhos mútuos. A dignidade

permeia nas condições expressas no contrato, quando todos têm amplitude de direitos na

construção do consenso, e sempre regulado com benefícios mútuos, em detrimentos de

interesses particulares, apenas.

Depois de estabelecido o que significa e como se pratica uma condição contratual, deve-se

abordar o poder e a informação nas negociações.

47

Poder, uma palavra que assume muitos significados, dependendo do contexto na qual esteja

inserida. Poder relativo às partes numa relação, no saber de Correia (2014, p. 192), diz respeito

“a capacidade que uma das partes tem de influir e modificar, por meio de persuasão, as

convicções da outra, fazendo com que as coisas sejam realizadas da forma que deseja”.

O significado de poder por Correia (2014) parece contraditório ao que se vem estudando sobre

comunicação, contrato e relações comerciais no sentido de dignidade organizacional.

Entretanto, conforme ver-se neste estudo, poder assume diversos significados e, por isso, pode

ser estudado sob vários aspectos.

Boulding (1989) assevera que o poder se manifesta de três formas (destrutivo, produtivo e

integrador). O mesmo autor afirma que o poder pode se apresentar sob diferentes categorias

(ameaçador, de troca e do amor). Dentre estas categorias, destaca-se o poder de “troca” para o

presente estudo, pois requer alta intenção produtiva e baixa intenção destrutiva e integradora

(BOULDING, 1989). Esta categoria se relaciona aos contratos comerciais, quando o foco é a

produtividade e sucesso para os envolvidos no pactuado. Nas negociações comerciais, o poder

se manifesta de diversas formas, conforme nos diz Correia (2014, p. 192-193).

Quadro 8 - Forma de Poder nas negociações de compra e venda Poder Significado

Informação Quem tem mais informação tem mais argumentos

para persuasão.

Recompensa O comprador manifesta mais poder que o

vendedor.

Coerção Pressão e imposição que ocorre nas negociações

que, de acordo com as circunstâncias econômicas,

políticas ou sociais pode trazer consequências

negativas às organizações.

Legal Posição hierárquica do comprador ou vendedor na

negociação de compra e venda para tomar decisão.

Especialistas Domínio específico sobre o objeto da negociação.

Referência Reputação, credibilidade com comprador ou

vendedor que, na negociação, deve ser ético e

confiável.

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa a partir dos estudos de Correia (2014)

Conforme se depreende do quadro 8, o poder se manifesta de diversas formas, de acordo com

o tipo do agente e do objeto de negociação. Assim, poder pode assumir aspectos positivos ou

negativos, de acordo com a situação e a forma que é manifestado. O tipo de poder vai se

sobressair de acordo com o status do agente e do objeto de negociação, que demonstra ter maior

grau de persuasão sobre o outro.

48

Destaque-se que o poder de informação para objeto deste estudo, compreende “aquele que tiver

mais informação na negociação passa a ter mais argumentos de persuasão” (CORREIA, 2014,

p. 192). Então, a informação deve ser entendida como elo que permeia os contratos, pois as

partes devem estar imbuídas do conhecimento de seus negócios e, quando das tratativas

comerciais, buscam persuadir as contratantes nas negociações para obter prazos, preços,

qualidade e assistência, adequados ao seu empreendimento e sua situação econômica e

financeira. Ressaltando-se que o poder advém também da especialidade, do máximo de

conhecimento que os agentes têm do objeto foco das negociações.

O poder legal, ou seja, o poder adquirido de uma posição hierárquica de um dos agentes no

momento das negociações pode afetar, de certo modo, a dignidade organizacional dos atores

envolvidos nas relações comerciais.

A percepção de dignidade organizacional numa relação comercial pode-se dizer que é subjetiva,

mas a subjetividade advém do conteúdo das informações comunicadas e recebidas, aliadas às

intenções dos agentes.

Comunicar no saber de Correia (2014, p. 200) significa “o processo de interação utilizado entre

os indivíduos para explicar as concessões e obtenções durante uma mensagem e depende dos

códigos (símbolos) utilizados, da estruturação das mensagens e dos canais de comunicação”.

Percebe-se que há toda uma construção de procedimentos, ações e interesses no que se deseja

relatar ao outro, e também a preocupação com a compreensão dele, se conhecedor dos códigos

utilizados.

Quando se comunica, se transmite informações. Estas informações vêm carregadas de

expressões e simbologias que devem ser ou não interpretadas pelo receptor da mensagem. O

poder da informação reside em comunicar apenas o que se deseja, ou seja, a proposta do emissor

é passar ao receptor a mensagem de interação entre ambos, que expresse sua proposta tal qual

seu desejo (CORREIA, 2014).

O chamado poder relativo entre as partes diz respeito “a capacidade que uma das partes tem de

influir e modificar, por meio de persuasão, as convicções da outra, fazendo com que as coisas

sejam realizadas da forma como deseja” (CORREIA, 2014, p. 192). A compreensão que se tem

do poder relativo é a de que há intenção do emissor em modificar o comportamento do receptor

da mensagem, de forma tal que esse último aja de acordo com os interesses do emissor.

49

Nas relações comerciais, nas tratativas de compra e venda, a forma de utilização do poder

apresenta algumas características, de acordo com os interesses envolvidos. Há o poder da

informação; o poder de recompensa; o poder de coerção e o legal, entre outros estabelecidos

por Correia (2014), que expressam o sentimento de promoção ou violação de dignidade e,

consequentemente, de ser digno ou não digno na relação. O poder também pode se estabelecer

através de práticas negociais que expressam termos que devem ser celebrados no fechamento

dos acordos. Estes termos referendam prazo, preço, qualidade, quantidade e a assistência no

vínculo comercial.

2.3 Dignidade organizacional com relação aos acordos comerciais firmados entre os

diretores de um grupo empresarial com seus fornecedores industriais, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

Nesta terceira seção, será abordada a dignidade organizacional a partir da ação comunicativa

proposta por Habermas (2012), aliado ao estudo sobre a formalização das relações comerciais

no estabelecimento de prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

2.3.1 A dignidade organizacional nos acordos firmados nas relações comerciais entre os

stakeholders.

A comunicação nos acordos comerciais é o instrumento que pode gerar, manter ou destruir a

relação entre os agentes envolvidos, compradores e fornecedores, se não for bem estabelecido

um bom diálogo. Quem bem discute o poder da comunicação organizacional é Teixeira (2008,

p.89) que, em seus estudos, propôs um modelo de dignidade, apresentando algumas implicações

a partir de uma racionalidade comunicativa entre os envolvidos nas relações. Dentre elas,

propôs que a “linguagem empregada pelos membros da organização para se comunicarem entre

si e com os demais segmentos deve ser inteligível”, ou seja, a linguagem deve ser compreendida

e entendida por todos que fazem parte da organização e os que não fazem parte também. Nesse

sentido, todos estariam empoderados, pois são conhecedores das informações.

Teixeira (2008, p. 91) também aborda algumas proposições para as implicações propostas e,

dentre elas, destaca-se que “as práticas organizacionais relativas aos stakeholders (empregados,

clientes, fornecedores, governo e comunidade) refletem a dignidade organizacional praticada

50

pela organização”, ou seja, as ações das organizações com relação aos ‘parceiros’ internos e

externos refletem sua dignidade diante de sua postura com terceiros.

Com base no entendimento de dignidade organizacional ser aquela que ventila ações de

dignidade, Teixeira (2008, p. 91) afirma que “não basta que me guie por uma racionalidade por

valores (substantiva), sem me preocupar com as consequências e sem considerar o outro como

um meio”. No dizer da autora, que se fundamenta na teoria de ação comunicativa de Habermas,

ser racional e ter atitude racional, está bem acima dos valores praticados, mas na busca do

entendimento e estabelecimento de ações cujas consequências priorizem o outro não como um

meio para obtenção de desejos, mas como elo de crescimento e ganhos mútuos.

Daí Teixeira (2008, p. 91) conclui que “é necessário que aja o outro em pé de igualdade comigo.

É preciso que o outro seja considerado enquanto um ser capaz de pensar, de comunicar-se, de

defender suas razões; e comunicar-me com ele nesta condição”. Ser digno e se sentir digno é

manter uma comunicação, clara, inteligível, que transmita confiança, que inclua o outro para,

assim, haver interação entre as partes e ganhos mútuos. O outro deve ser visto, pensado e

compreendido como ser e capaz de atributos pessoais divergentes dos da organização, mas que

deve ser valorizado como é.

Outra implicação trazida por Teixeira (2008, p. 91) exprime que “a dignidade organizacional

[...] pressupõe que as decisões que afetavam as vidas dos atores sociais que interagem sejam

acordadas com base no entendimento”. Isto implica em dizer que as decisões tomadas pelas

organizações devem ser baseadas em acordos mútuos, compreendida e entendida por todos os

envolvidos, isto é, “mesmo pé de igualdade” entre os pares nas negociações e decisões.

Esta implicação origina a seguinte proposição “A dignidade organizacional está associada a

participação e acordos baseados no entendimento entre os membros da organização entre si, e

entre os stakeholders – acerca das decisões que afetam suas vidas” (TEIXEIRA, 2008, p. 92).

Esta implicação reflete uma linguagem na qual os interesses sejam comuns e expressos de forma

clara e objetiva entre os envolvidos. A postura digna diz respeito em pensar nas ações tomadas

ou não tomadas, considerando os reflexos nas vidas próprias e alheias.

Consubstanciado nos estudos de Correia (2014) e Teixeira (2008), pode-se inferir que,

informação e poder relacionam-se no desenvolvimento de uma linguagem comercial clara,

51

inteligível, pois ensejará em decisões com alcances mútuos e que devem refletir benefícios para

todos. Daí a percepção de ser digno ou não digno aumentar ou diminuir, de acordo com as

características dos parceiros da postura dos agentes no momento das negociações, buscando-se

sempre o mesmo nível de igualdade de condições expressas.

O sentimento de dignidade deve permear os acordos comerciais, nos relacionamentos

estabelecidos entre os atores, sejam esses acordos flexíveis ou inflexíveis, de acordo com a

postura dos agentes. Desse modo, como se estabelecem os relacionamentos?

2.3.2 Relacionamento com fornecedores nas negociações comerciais

Para se estabelecer o relacionamento com os fornecedores numa relação comercial, observa-se

as ameaças as quais as organizações enfrentam no dia-a-dia. Falar em ameaças diz respeito às

forças atuantes no mercado competitivo que, nos estudos de Porter (2004), ao tratar sobre a

gestão estratégica competitiva das organizações, descreve a ameaça como força ou barreiras

que influenciam na estratégia competitiva das organizações e, se identificadas antecipadamente,

as tornam fortes para enfrentar esses obstáculos.

Nas ameaças ou forças que governam a competição no modelo de Porter (1999), encontra-se o

poder de negociação dos fornecedores, como limitações a serem enfrentadas pela organização,

que deve constar no rol das medidas estratégicas. As ameaças são:

52

Figura 1 – Ameaças enfrentadas pelas organizações no mercado competitivo

Fonte: Adaptado de Porter (1999, p.28)

A partir do cenário indicado na figura 1, o foco de estudo deste tópico se volta para ‘o poder de

negociação dos fornecedores’, tendo em vista que o estudo sobre a dignidade organizacional na

comunicação estabelecida nos acordos comerciais entre stakeholders: os diretores de um grupo

empresarial, com seus fornecedores industriais.

Ressalte-se que o cliente, neste estudo, não se refere ao consumidor, mas à organização que

adquire produtos e serviços, que são os insumos, para desenvolvimento de sua atividade

empresarial, no caso o comprador.

Como o mercado de produção de bens representa constante competitividade às organizações, é

salutar que a empresa contemple, em sua estratégia, as ameaças latentes, aliadas à concorrência.

Porter (1999, p. 28) afirma que “o objetivo da estratégia empresarial é encontrar uma posição

na qual a empresa seja capaz de melhor se defender contra estas forças ou influenciá-las a seu

favor”. Desse modo, uma estratégia competitiva é encontrar a melhor maneira de se defender,

ou seja, fazer uso de movimentos defensivos.

Um dos elementos de destaque de movimentos defensivos é justamente perceber o poder dos

fornecedores nas relações comerciais. Porter (1999) afirma que os fornecedores podem exercer

um poder persuasivo intensivo nas negociações, principalmente no tocante ao aumento de preço

ou mesmo da redução da qualidade dos bens e serviços.

53

Porter (1999) elenca um rol de cinco características que tornam um fornecedor poderoso nas

negociações comerciais.

a) Ter domínio sobre as poucas empresas para barganhar;

b) Produto exclusivo;

c) Não ter concorrentes;

d) Representa uma ameaça de integração ao setor de compras;

e) O setor (cliente) não é comprador importante.

Percebe-se nas características trazidas por Porter (1999) que os fornecedores se tornam

poderosos quando se verifica a fragilidade do cliente; neste caso, a organização que negocia

com fornecedores deve evitar contratos nos quais os fornecedores tenham o domínios sobre as

negociações, ditando as regras unilateralmente; evitar contratos de exclusividade de produtos

ou de serviços, o que fragiliza uma das partes na relação; verificar o nível de concorrentes dos

fornecedores, para evitar os carteis; não deixar que aquele fornecedor ‘x’ seja uma ameaça aos

demais departamentos/setores da organização, principalmente pela exclusividade e elevado

poder de barganha e, por fim, não pactuar contratos em que esteja em situação de desigualdade,

principalmente, em posição inferior nas negociações.

Ressalte-se que, ser digno, na percepção de cliente de fornecedores ‘poderosos’, pode ser

compreendido como negociar estabelecendo uma mesma posição de igualdade de condições,

que devem ser expressas nas tratativas comerciais e firmar contratos com ganhos mútuos.

Amato Neto; Marinho (2014) a partir de seus estudos sobre fornecedores poderosos descrevem

formas de amenizar o poder desses fornecedores e aumentar a capacidade de barganha. Os

autores apontam cinco possibilidades:

a) Não comprar a apenas um único fornecedor (compras dispersas);

b) Ter fontes alternativas de fornecedores (aumentar os parceiros);

c) Padronizar suas especificações de insumos (redução de diferenciação entre

fornecedores)

d) Produção parcial ou integral de seus insumos (independência de insumos externos).

A proposta trazida por Amato Neto; Marinho (2014) ressalta uma postura de independência

organizacional, no momento de negociação com fornecedores, o que diminui o elevado poder

54

de barganha dos fornecedores poderosos, pois se encontrarão numa mesma posição de

igualdade de condições expressas nas tratativas comerciais.

Para se estabelecer um relacionamento comercial de ganhos mútuos entre a organização e seus

fornecedores, se faz necessários constituir parcerias. Amato Neto; Marinho (2014, p. 107)

descrevem condições mínimas para estabelecimento de parcerias com fornecedores:

Entendimento prévio do contrato;

Respeito e cooperação mútuos;

Métodos de avaliação acordados mutuamente;

Planos acordados para evitar discussões;

Intercâmbio de informações essenciais;

Performance adequada;

Responsabilidade do fornecedor pela entrega de bons produtos e dados de

suporte;

Preeminência dos interesses do consumidor;

Comprometimento explícito e apoio da administração.

Conforme se verifica nas condições descritas pelos pesquisadores, a presença de elementos de

dignidade abordados na primeira seção desta pesquisa, quando se estudou os elementos de

dignidade por Jacobson (2009), e dignidade organizacional, por Teixeira (2008) e outros.

Desse modo, a percepção de um cliente sobre dignidade organizacional com relação aos

fornecedores, pode atrelar elementos de bom relacionamento entre parceiros, tais como:

“cooperação, transparência, compartilhamento e confiança recíproca”, conforme descrevem

Amato Neto; Marinho (2014, p. 108).

Estes elementos de bom relacionamento entre parceiros devem ser privilegiados no momento

de negociação e propostas entre cliente e fornecedor para, no estabelecimento de parcerias, o

cliente tentar diminuir as ameaças no poder de barganha do fornecedor, ou vice-versa. Mas, as

ameaças do poder do fornecedor existem; e como tentar reduzi-las, aliadas a outros problemas,

como, o estabelecimento de relações baseadas em acordos de longo prazo?

Conforme se verifica na prática, o acordo de longo prazo induz às organizações investirem em

melhorias para atendimento diferenciado e de destaque aos seus clientes; quando elas procuram

ser empresas competitivas para consolidar relacionamento, ofertando produtos e serviços com

qualidade, menor preço e prazos estabelecidos para cumprimento das obrigações.

No tópico a seguir, será discutido acerca das negociações entre cliente e fornecedor com relação

aos critérios de prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência na realização dos acordos

comerciais.

55

2.3.3 Negociação entre stakeholders: compradores e fornecedores, em termos de prazo, preço,

qualidade, quantidade e assistência dos produtos e serviços

Negociar é uma ação dos indivíduos, que sempre que se veem às voltas com dificuldades de

obter bens para saciar seus desejos, buscam de meios mais acessíveis possível para conseguir

satisfazer os desejos. Desde bebê, o indivíduo tenta negociar ou mesmo barganhar para saciar

seus desejos. Quando tem fome, chora e aí recebe a alimentação e, ao tempo que vai

amadurecendo, faz uso do poder de persuasão para fazer com que o outro lhe atenda em seus

pedidos ou anseios.

Nas organizações, o processo de negociação não é diferente. De acordo com Correia (2014, p.

189) “a negociação se faz necessária quando duas ou mais partes interdependentes têm um

conflito de interesses e decidem resolver esse conflito por meio de um acordo resultante de um

processo de ajustes mútuos de concessões e de obtenções”. Na afirmação trazida por Correia

(2014), percebe-se que as negociações são processos de busca de solução dos conflitos entre

organizações com mútuas vinculações, nos quais há a prática de concessões e ganhos mútuos,

mantendo salutar a relação.

As negociações realizadas entre cliente e fornecedor precisam ser pautadas na obtenção de

ganhos partilhados, no ganha-ganha, pois quando há o ganha-perde ou o perde-perde, há ruídos

nas negociações e, possivelmente, nas relações que podem não ter o interesse de longo prazo.

Correia (2014) afirma que, nas negociações ganha-perde, quantidades, prazos e preços são alvos

de vantagens individuais sobre as vantagens mútuas. Por isso, não há prosperidades nessas

negociações, quando o interesse é de garantir a vantagem sem preocupação de negociações

futuras.

Nas negociações perde-perde, um negociador acredita ter perdido a vantagem, daí ele tenta

fazer com que o outro perca também. A transação não é boa para ninguém, por isso, todos

perdem. E no final há a soma-zero. A competição é de grau elevado e no final não há ganhos

(CORREIA, 2014).

56

Interessante que, nestes dois tipos de negociação, cujo interesse é de atender aos anseios

pessoais e imediatos, em detrimento de ganhos mútuos, as relações tendem a ser de curta

duração, sem qualquer perspectiva de outros acordos e tratativas.

Por outro lado, existem as negociações ganha-ganha, na qual a intenção é que todos devem

ganhar, deve-se ter benefícios mútuos. As condições predominantes são o alto grau de confiança

e o conhecimento real de cada parte envolvida por todos. Todas trabalham em conjunto em prol

da melhor transação de bens e serviços de alto valor (CORREIA, 2014).

Nas negociações, os benefícios e ganhos sendo mútuos, atrela mais confiança, sinceridade e

parceria aos envolvidos nos negócios.

2.3.3.1 Os fatores: prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência nos acordos e negociações

comerciais

Os contratos comerciais têm vários fatores que induzem as partes a aderirem, permanecerem

ou extinguirem os acordos pactuados. Dentre esses fatores, destaca-se o prazo, o preço, a

qualidade e a assistência prestada pelo fornecedor, com relação aos produtos e serviços, objeto

de transações.

Estes quatro elementos fazem parte do consenso de vontades, concessões e compromissos

pactuados e que, no momento das negociações, são discutidos de acordo com os contextos

sociais aos quais as organizações estão inseridas, por isso, é relevante não os estudar

distintamente, mas como elementos de um conjunto que, em separado, pode não surtir o mesmo

efeito nos contratos.

Por isso, prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência dizem respeito a elementos

fundamentais às organizações competitivas, para atribuição de ser digno ou não digno no

cumprimento desses fatores.

O fator prazo nos acordos e negociações comerciais

Prazo é um termo que faz parte da vida das pessoas. O uso de concessão de prazo na rotina

diária das pessoas se faz necessário em face de um ordenamento de ações para cumprimento

57

das obrigações assumidas. Guimarães (2006, p. 448) afirma que “prazo é lapso de tempo em

que um ato deve ou não ser praticado”. Compreende-se prazo no sentido de manifestação de

ações ou não dos indivíduos, de acordos com momentos estabelecidos para fazê-lo.

O prazo tem vários significados de acordo com as ações das pessoas e as diversas situações a

que são submetidas. Guimarães (2006) explica que existem vários tipos de prazos,

convencional ou contratual, se ajustado pelas partes; consuetudinários, se decorrente

de usos e costumes; contínuo, é aquele que flui continuamente, mesmo em domingos

e feriados; de graça ou favor, aquele que o credor concede por tolerância,

graciosamente; determinado ou certo, aquele suspensivo ou resolutivo, cuja duração

é fixada com antecedência, com previsão; extinto ou de decadência, dentro do qual

decai o direito que não foi exercido; indefinido, quando não tem fixada a sua duração;

indeterminado ou incerto, quando fixado; legal, aquele fixado por lei; em relação a

acontecimento futuro necessário, tendo seu término no dia em que ele ocorrer [...]

(GUIMARÃES, 2006, p. 448-449).

De acordo com a proposta trazida por Guimarães (2006), o fator prazo nas relações comerciais

se apresenta em alguns tipos estabelecidos por ele. Convencional ou contratual, o mais comum

nas relações comerciais, ocorre quando os agentes negociam os prazos de faturamento dos

produtos e serviços transacionados e os prazos para pagamento das dívidas assumidas. Também

consta desse tipo, o prazo de entrega dos produtos e serviços contratados.

O prazo baseado no costume diz respeito aquele em que os agentes, através de contatos

telefônicos, e-mails ou outros estabelecem, sem nenhum rigor formal. Esta modalidade de

prazo sempre se baseia e formaliza na boa-fé dos envolvidos. O prazo legal, aquele dito por lei,

deve ser cumprido pelas partes, independentemente de suas vontades, pois não é negociável,

mas cumprido, a exemplo, o pagamento dos tributos oriundos das relações comerciais

(GUIMARÃES, 2006).

Alguns dos prazos apontados por Guimarães (2006) ocorrem se preestabelecidos pelas partes

nas negociações, o de graça, o suspensivo de alguma obrigação, o determinado, etc. Importante

ressaltar que, os prazos são estabelecidos para cumprimento pelas partes envolvidas, que

concordaram de anuírem na fixação da obrigação no lapso temporal pactuado, mas se por um

motivo ou outro, o agente que se obrigou não cumprir, pode ser considerado não digno,

dependendo da atitude dele para com o credor.

Como o foco da pesquisa é a concepção de dignidade organizacional pelos stakeholders:

diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores industriais, se faz necessário estudar os

58

motivos, a situação, o cenário, na qual a organização está envolta para se estabelecer o que é

digno ou não digno, de acordo com as relações comerciais. Aliado ao prazo, nas negociações

existem outros fatores nas discussões, um deles é o preço.

O fator preço nos acordos e negociações comerciais

O preço, muitas vezes, se apresenta como a ferramenta principal e decisiva nas negociações

comerciais. Amato Neto; Marinho (2014, p. 98) afirmam que “o preço pode ser utilizado como

uma primeira pista até mesmo antes de decidirmos pela escolha que nos agrade”. Assim, o preço

é uma ferramenta fortíssima e muito atrativa para dar início às negociações e acordos

comerciais, pois depreende-se dos autores que ele pode ser a primeira investida no interessado

em contratar com o fornecedor de produtos e serviços.

No passado, uma estratégia muito utilizada para atrair o cliente era o menor preço. Essa prática

ainda é comum hoje. A estratégia de menor preço “chamada de tradicional, geralmente leva o

relacionamento entre o comprador e o fornecedor para uma situação de confronto [...], o que

gera antagonismo e conflito nas relações” (AMATO NETO; MARINHO, 2014, p. 103). Mas,

conforme afirmam os autores, esta prática leva a uma situação, muitas vezes, indesejada pela

organização, pois termina por refletir um relacionamento pouco duradouro. Quando a relação

está envolta por antagonismos e conflitos não tende a permanecer por muito tempo; neste

sentido, o preço pode ser o causador de desavenças e quebras de relacionamentos comerciais.

Angelo; Silveira et al (2000) afirmam que os preços não são estabelecidos apenas pelas contas

financeiras. Eles são estabelecidos pelo mercado de consumo”. De acordo com os autores, a

determinação do preço considera o poder do consumidor, pois, ele é o verdadeiro determinante

das propostas de marketing dos concorrentes e das variáveis ambientais. Depreende-se então

que, no preço do produto e serviços determinado pelo fornecedor, estão incluídos os custos e a

tributação, além de outros fatores, mas o principal fator é o poder de compra do consumidor,

pois todo o mercado se mobiliza para atender às necessidades dele.

Porter (2004, p. 15) ao discorrer sobre a análise estrutural de industrias, afirma a existência de

um tipo de preço, “o preço de entrada dissuasivo”, que significa:

[...] a estrutura de preços em vigor (e as condições relacionadas como qualidade de

produto e serviço) que apenas equilibra os benefícios potenciais provenientes da

59

entrada (previstos pelo pretendente em potencial à entrada) com os custos esperados

para superar as barreiras estruturais de entrada e arriscar-se à retaliação.

De acordo com Porter (2004), o preço diz respeito às oportunidades de entrada e saída no ramo

industrial, assim, quanto mais alta a barreira de oportunidade de entrada, mais alto o custo de

saída da atividade industrial, de determinado seguimento da indústria. Desse modo, sempre que

reduzidas as ameaças de entradas, menores se apresentarão os custos de saída daquele ramo de

empreendimento industrial. O preço dissuasivo diz respeito ao preço que o empresário deseja

arriscar para investir num empreendimento.

Correia (2014, p. 228) afirma que uma das avaliações econômicas do contrato é o preço

contratual, que desagrega “o preço básico (considerado o local de entrega e incluindo a

embalagem e o transporte), mais os tributos (impostos e taxas) incidentes no fornecimento, com

os valores e responsabilidades previstos na legislação vigente”. Percebe-se, na visão do autor,

que o chamado preço contratual é diferente do preço dissuasivo, abordado por Porter (2004),

tendo em vista que, este considera mais os custos de fabricação, aliados à tributação a que a

organização está adstrita quando inserida no mercado, do que as barreiras de entrada e saída de

uma atividade empresarial.

Entende-se, a partir do estudo feito em Porter (2004); Correia (2014), que à concepção do preço

dos produtos e serviços ofertados no mercado de consumo, se faz necessárias várias ações

estratégicas, dentre elas, a prática de preço adequada e agregadora de confiança no

relacionamento com concorrentes e parceiros. Um estudo sobre as barreiras de entrada e saída

em um negócio; e uma avaliação dos custos na produção de determinado produto ou serviço,

ou mesmo ambos, de acordo com a legislação e observância do mercado, se promissor ou não

àquela atividade organizacional desejada.

Assim, mesmo o preço sendo um fator determinante numa relação comercial, outros fatores são

importantes, como a influência nas negociações e acordos firmados pelo cliente com seus

fornecedores, por isso, a discussão e convenção deve ser atrativa aos agentes negociadores, na

construção de um sentimento de ser digno.

E ainda, se há uma obrigação de prestar assessoria por parte dos fornecedores com relação aos

produtos e serviços ofertados no mercado de consumo, assim como se dá essa obrigação nas

60

relações mercantis com relação ao subsídio prestado pelo fornecedor quando do produto

defeituoso; pois o que se busca numa compra é a qualidade.

O fator qualidade nos acordos e negociações comerciais

Qualidade é um fator muito atrelado à necessidade humana, pois o homem sempre busca se

aprimorar ou aprimorar os produtos e serviços para atender seus anseios com mais plenitude.

Carvalho (2005) ao falar em qualidade, reporta-se a ‘era da qualidade’, na qual este atributo

estava relacionado aos produtos na atividade industrial. A classificação da qualidade era

determinada de acordo com os ajustes para reduzir as falhas nos produtos, e a oportunidade de

novos rumos.

Carvalho (2005), no estudo da ‘era da qualidade’, analisa as propostas de David Garvin (1988),

quando ele descreve uma tabela denominada “era da qualidade”, na qual, a qualidade assume

significados, desde um problema a ser resolvido até uma oportunidade de ser diferente diante

da concorrência. Diante deste significado do que seja qualidade, o interesse trazido por ela

também assume diversas ações, desde a verificação da falha, até causar um impacto estratégico

no mercado produtivo.

Percebe-se que o conceito de qualidade na produção industrial, no primeiro momento, refletia

ajustar as falhas de produção e buscar a resolução das falhas ocorridas, até se chegar a

compreensão de que uma produção com qualidade sinalizava uma oportunidade para atingir

novos mercados com produtos diferentes.

Ao observar a qualidade no ciclo produtivo, Carvalho (2005, p. 14) afirmava que “um sistema

eficaz gera integração dos esforços dos diversos grupos em uma organização, no tocante ao

desenvolvimento, a manutenção e na melhoria da qualidade”, por isso, o trato da qualidade nas

organizações deveria ocorrer de forma sistêmica, que agregasse procedimentos e gerências

técnicas guiados para atender as necessidades do cliente, atrelados a custos adequados

(CARVALHO, 2005).

Qualidade corresponde então a um sistema que envolva diversos esforços dos grupos numa

organização que, unindo forças, produzam produtos de acordo com as necessidades dos clientes

e com custos também adequados.

61

Interessante ressaltar outra dimensão de qualidade nos estudos de Carvalho (2005, p. 17),

quando afirma que “qualidade é satisfazer radicalmente ao cliente, para ser agressivamente

competitivo”. Na visão desta autora, qualidade significa atender aos desejos do cliente e ainda

ter uma postura ameaçadora no mercado competitivo.

Observa-se que este último significado de qualidade trazido pela autora não se assemelha ao

teor desta pesquisa, cujo enfoque é trabalhar a dignidade organizacional sob o prisma de ter a

confiança como atributo da competitividade comercial; e “ser agressivo”, ao contrário, termina

por afastar esta característica das relações comerciais.

Paladini (2005, p. 27), quando aborda o assunto estratégia da qualidade, afirma que:

[...] deve-se considerar a qualidade como fator de sobrevivência para as organizações;

elevar a qualidade à categoria de diferencial competitivo das organizações; que as

decisões quanto à qualidade agreguem implicações tais como cenário, insumos e

resultados e adotar uma visão de futuro, considerando os prováveis cenários para

mercado e sociedade.

Na visão do autor, qualidade não é apenas ajustes e correções de falhas, mas ações que reflitam

a gestão organizacional com foco no presente e no futuro. A qualidade deve ser identificada

pela organização como ‘ferramenta’ estratégica, pois é primordial a sobrevivência dela no

mercado com tantas implicações.

Sashkin; Kiser (1994, p. 58) quando abordaram os pontos de verificação da qualidade, com

foco nos materiais e peças, ou seja, suprimentos que fazem parte dos projetos e fabricação dos

produtos, afirmaram que qualidade também é “trabalhar junto aos fornecedores e distribuidores

de modo a fornecer-lhes as informações necessárias para que ofereçam materiais com qualidade

exigida pela organização”.

No conteúdo trazido pelos autores acima, a qualidade também significa ter insumos adequados

à fabricação dos produtos e serviços, a partir da comunicação entre fornecedor e comprador,

para a partir do conhecimento do que vai ser produzido, se tenha entendimento de apresentar

insumos viáveis àquela produção.

Por isso, afirmam Sashkin; Kiser (1994, p. 59) que “um de seus catorze pontos exorta as

organizações a acabar com a prática de fazer negócios com base apenas no preço”. Aconselham

62

os teóricos a busca da qualidade dos produtos e serviços em primeira ordem e não o preço

ofertado.

Com o passar dos tempos, o elemento qualidade dos produtos e também dos serviços passou a

ser alvo de discussão normativa nacional e internacional a partir de 1987, com o surgimento da

série ISO 9000 (CORREIA, 2014).

No Brasil, nos anos 1990, com a abertura do mercado comercial nacional, o fator qualidade

passou a ter inferência tanto interna quanto externa, buscando o fator qualidade como elemento

essencial na produtividade e na competitividade, de acordo com os padrões internacionais

(CORREIA, 2014).

Como o processo de produção de bens e serviços não é finito no âmbito das organizações, “[...]

o conceito de qualidade – tão imprescindível para a competitividade – passa a ser uma das bases

do novo padrão de relacionamento entre as empresas fornecedoras e as empresas clientes”

(CORREIA, 2014, p. 94). Produzir com qualidade total necessita ter o engajamento de todos os

parceiros envolvidos no processo de produção.

Por isso, as empresas precisam tornar-se cada vez mais “word class companies”, ou seja, “[...]

sejam capazes de fornecer e comprar peças, equipamentos e serviços de todos e para todos no

mundo” (CORREIA, 2014, p. 94). A chamada global sourcing, uma espécie de terceirização

globalizada que, pela sua estrutura, gera uma interdependência entre fornecedores e clientes,

traduzindo um tipo de padrão de relacionamento baseado na confiança e abatimento dos custos

e aumento da qualidade do produto ou serviço final.

Quando busca estabelecer o que é um produto com qualidade, que atenda a todos os anseios de

consumidor, que é para eles todo o momento entre fabricante e lojista, Certo; Peter (1993),

afirmam que não há uma resposta exata para se caracterizar o porquê de um produto ter vida

longa e lucratividade; e outros sejam tão dispendiosos e levem ao fracasso. Eles afirmam existir

dois parâmetros que podem ser considerados: “as vantagens diferencial competitiva e o

simbolismo do produto” (CERTO; PETER, 1993, p. 394).

Vantagem diferencial competitiva diz respeito “a característica do produto que o tornam

superior ao do concorrente” (CERTO; PETER, 1993, p. 394). Esta característica está atrelada

63

a muitos fatores: qualidade, preço, cor, inovação, estratégia de divulgação, entre outros, que

levam ao sucesso do produto e rentabilidade ao fabricante.

Já o simbolismo do produto diz respeito “ao que o produto significa para os consumidores e o

que os consumidores experimentam ao comprar e usá-lo” (CERTO; PETER, 1993, p. 395). O

que representa aquele produto para o consumidor, satisfação pessoal, profissional, emocional,

status, utilidade funcional, entre outras.

Qualidade é muito subjetivo para cada consumidor, e o fabricante e o lojista precisam estar

muito bem engajados para produzir e ofertar produtos de sucesso. Qualidade é um requisito

essencial para o sucesso.

Qualidade também está atrelada ao tempo de atendimento e diz respeito ao cumprimento do

tempo estabelecido pela empresa para atender suas demandas, se ela estabelece um prazo, e se

não há um estabelecimento preciso sobre o tempo de espera, como a empresa se comporta para

atender seu cliente e não o deixar esperando por tempo indeterminado (AMATO NETO;

MARINHO, 2014).

Ainda com relação a qualidade, o consumidor quando compra os bens, espera que o produto

não apresente defeito, que seja adequado ao que se propõe. Entretanto, pode acontecer por

motivos diversos, seja de acomodação no estoque, seja no transporte para entrega, ou mesmo

um erro de fabricação, que torne o produto inviável ao consumo. E a segurança indicativa na

compra do objeto ofertado?

Quanto à segurança, é uma obrigação que todo fabricante, produtor, construtor, etc., deva

depositar no cliente, de que o produto defeituoso será consertado ou substituído, para que torne

adequado ao uso, e não causar insegurança por estar incompletos ou inadequados ao uso ou

consumo (AMATO NETO; MARINHO, 2014). Aí entra a assistência prestada.

O fator quantidade nas negociações comerciais

A quantidade nas negociações comerciais é um atributo que determina o aumento ou não do

preço, também da dilação ou dos prazos, inclusive, o parcelamento ou não da dívida, de acordo

com a qualidade dos produtos e/ou serviços ofertados. Quantidade de mercadoria, de acordo

64

com (SILVA, 2005, p. 1.139) refere-se a uma “terminologia alfandegaria, é a expressão usada

para designar o número total da mercadoria, calculado pela unidade, em que se especifica a

tarifa, para efeito de taxação ou cobrança dos direitos aduaneiros, quando não exigidos segundo

o valor específico”.

Nas negociações comerciais, a quantidade tem muito peso, pois os lojistas só compram produtos

que “rodam”, por isso, quantidade está muito atrelada à qualidade. Duane Ireland; Hoskisson;

Hitt (2014, p. 132) afirmam que: “Sem qualidade, os produtos de uma organização perdem

credibilidade, significando que os clientes não pensarão neles como opções viáveis. [...] a

qualidade afeta a rivalidade competitiva”. Percebe-se na fala dos teóricos que a qualidade

interfere no volume de vendas, no total vendido ou vendável de uma organização.

A avaliação de sucesso, ou insucesso, de uma empresa na sua contabilidade, dentre alguns

fatores, por exemplo, a boa ou a má gestão, ter ou não dívidas, está no volume vendido durante

um tempo previsto. O termômetro para saber se os negócios estão indo bem numa indústria é a

saída dos produtos fabricados para os clientes e a quantidade de novos pedidos.

Na seara mercadológica, “uma empresa que avalia um concorrente cujos produtos são de má

qualidade pode prever que a receita de vendas do concorrente cairá até que ele resolva as

questões de qualidade” (DUANE IRELAND; HOSKISSON; HITT, 2014, p. 132). De acordo

com os autores, a qualidade influencia muito na quantidade de produtos vendidos e,

consequentemente, a situação competitiva de uma organização.

A quantidade pode atribuir um poder ao comprador, que buscará a baixa dos preços, em face

de grandes volumes. Quantidade é um poder de barganha de preço, se ela influencia os custos.

(AMATO NETO; MARINHO, 2014). A quantidade deve estar atrelada a outros fatores nos

termos dos negócios, para que ela seja reduzida ou ampliada. Dentre estes fatores, existe um

muito significativo, que é a assistência.

O fator assistência nas negociações comerciais

A assistência nas relações comerciais tem o sentido de ajuda, apoio, suporte, nos quais os

fornecedores, que são os fabricantes de produtos, disponibilizam especialistas aos seus

clientes/grupo empresarial, para agilizar os processos de montagem, ajustes, consertos e

65

especificação de materiais, com vistas a demonstrar melhor garantia dos produtos ofertados no

mercado de consumo.

Assistência diz respeito ao serviço e, na era da servitização, como ocorre atualmente, serviço é

um fator primordial às relações comerciais. No dizer de Amato Neto; Marinho (2014, p. 106)

“a parceria exige um envolvimento entre compradores e fornecedores que vai além de um

contrato que defina, preço, quantidade e prazo de entrega”. Esta fala do autor nos remete à

assistência, que está inclusa num relacionamento entre os agentes comerciais, nos quais os

interesses não são mais individuais, mas de grupo, pois todos pretendem ganhos mútuos. “[...]

os interesses entre empresa-origem e empresa-destino devem ser comuns e, além disso,

compartilhados e discutidos francamente” (AMATO NETO; MARINHO, 2014, p. 106).

Percebe-se, a partir dos autores Amato Neto; Marinho (2014) que, nas relações comerciais, o

cliente, o grupo empresarial e os fornecedores devem demonstrar interesses comuns, no sentido

de compartilhar os deveres e obrigações entre si e com terceiros, o consumidor, para, assim,

obterem ganhos mútuos.

Com o sentido de colaboração mútua entre os agentes nas relações comerciais, (AMATO

NETO; MARINHO, 2014, p. 106) estabelecem o conceito de parceria,

[...] é o processo no qual duas ou mais empresas se associam para a consecução de

objetivos comuns ou complementares, baseadas em um relacionamento de longo

prazo, ético, transparente e cooperativo, com canais de comunicação abertos de modo

a possibilitar a clara definição de expectativas e dos critérios de avaliação dos

resultados.

O conceito de parceria, trazido pelos autores, muito se assemelha ao conceito de assistência e,

talvez, é bem mais amplo, pois, analisando o contexto, tem-se que, processo, no qual duas ou

mais empresas se associam, são os acordos firmados, sejam verbais ou escritos pelas

organizações, que primam por relacionamentos duradouros e, por isso, a tendência é manter a

ética, boa-fé, cumprimento dos prazos, ter uma comunicação clara, aberta e que todos se sintam

à vontade para propor suas ideias e alternativas de melhoria.

A conceituação de parceria aqui estudada muito se assemelha à proposta da ação comunicativa

de Habermas (2003), quando propõe laços de confiança nas relações entre organizações, mesmo

em cenário competitivo. Até porque, como todos os negócios transacionados e pactuados estão

66

envoltos em cenários diversos, e ligados por redes de relacionamentos, se um membro da rede

cair, tem-se a possibilidade de derrubar os demais.

Porter (2004, p. 95) assinala o movimento cooperativo como “movimentos que não ameaçam

as metas dos concorrentes”, isso implica que, mesmo numa concorrência e competitividade, há

confiança entre os concorrentes para praticar determinadas ações ou mesmo omissões no

mercado.

A assistência, é compreendida, então, como parcerias feitas entre cliente (grupo empresarial) e

fornecedores, com vistas a disponibilizar o melhor produto e serviço aos parceiros e ao

consumidor, na qual o tempo de atendimento, o tempo de espera e o próprio atendimento em si

são definidores no conceito de ser digno ou não digno. Entendendo tempo de atendimento como

aquele dispendido para realizar o serviço; o tempo de espera, aquele na qual se aguarda para

receber o atendimento e o atendimento em si, o trato do agente quando acionado para auxiliar

o solicitante.

Estabelecida a fundamentação teórica, que permeia toda a discussão trazida sobre dignidade

organizacional nas relações comerciais entre os dois stakeholders: o comprador e o fornecedor,

cuja proposta é a percepção destes agentes sobre dignidade nos acordos firmados entre eles, a

partir da descrição do procedimento metodológico percorrido, na busca de analisar na prática

diária, nas ações dos diretores de um grupo empresarial, bem como, de seus fornecedores

industriais, o significado de dignidade organizacional para eles na relação comercial mantida

através dos negócios.

67

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo apresenta a estrutura e as diretrizes perseguidas para desenvolvimento da parte

empírica da pesquisa. A finalidade é atender ao objetivo proposto, qual seja: analisar qual a

visão dos diretores de um grupo empresarial e de seus fornecedores industriais sobre dignidade

organizacional nas relações comerciais realizadas na Região Metropolitana do Recife – PE.

3.1 Tipo de pesquisa

O estudo é de natureza qualitativa, pois, descreve a pesquisa como uma representação dos atos

e das expressões humanas (GODOI; BALSINI, 2006), ainda que não se faça necessária “uma

amplitude e totalidade das experiências estudadas, mas apenas sopesar as experiências

consideradas mais relevantes para contribuição da pesquisa” (STAKE, 2011, p. 68). No estudo

em comento, se fez necessário voltar o olhar apenas para as experiências de dois stakeholders,

dos diretores e dos fornecedores industriais, de um grupo empresarial sobre dignidade

organizacional das relações comerciais entre eles.

A pesquisa é exploratória, na qual, de acordo com Migueles (2004), seu objeto corresponde em

situar um problema no qual o pesquisador não tinha informações ou conhecimentos o bastante

para traçar os planos estratégicos que o possibilitem atender aos objetivos da pesquisa. Também

é descritivo, porque se propõe fazer um relato detalhado do fenômeno (COLLIS; HUSSEY,

2005), ou seja, colher as informações pouco estudadas sobre determinado problema. Merriam

(2002) afirma que o resultado do estudo qualitativo é de grande valor descritivo. Neste estudo,

foi identificado e descrito o significado de dignidade organizacional nos negócios realizados

por diretores de empresas fornecedoras e compradoras de produtos industriais.

3.2 Desenho da pesquisa

A figura 2 demonstra o caminho perseguido na busca pela resposta ao objetivo, tendo como

embasamento teórico, o estudo da teoria da ação comunicativa de Habermas (2003), do conceito

de dignidade organizacional de Teixeira (2008) e da perspectiva de dignidade social de

Jacobson (2009) e, como embasamento metodológico, os estudos de Bardin (2011) e Vergara

(2012); para elaboração da dissertação e descrição das considerações finais.

68

Figura 2 – Desenho da Pesquisa

Fonte: elaborado pela autora e adaptado a partir de Gil (2008)

3.3 Locus da pesquisa

O locus da pesquisa diz respeito ao objeto a ser pesquisado (LAKATOS; MARCONI, 2010).

O foco de estudo foi a dignidade organizacional e os stakeholders. Optou-se por um grupo

Definição do problema de pesquisa: Qual a visão sobre dignidade organizacional dos diretores de

um grupo empresarial, bem como, de seus fornecedores industriais, nas relações comerciais realizadas

na Região Metropolitana em Recife – PE?

Construção dos objetivos:

Objetivo geral:

Analisar qual a visão sobre dignidade organizacional dos diretores de um grupo empresarial, bem

como, de seus fornecedores industriais, nas relações comerciais realizadas na Região Metropolitana

em Recife – PE.

Objetivos específicos:

Identificar a compreensão dos diretores de um grupo empresarial, bem como, de fornecedores

industriais, sobre dignidade organizacional nas relações comerciais.

Analisar a dignidade organizacional a partir da igualdade de condições expressas nas

negociações comerciais entre os diretores de um grupo empresarial, bem como, de fornecedores

industriais, tendo dignidade como informação e poder.

Analisar a visão dos diretores de um grupo empresarial sobre dignidade organizacional com

relação aos acordos comerciais firmados com seus fornecedores industriais em termos de prazo, preço,

qualidade, quantidade e assistência.

Analisar a visão dos fornecedores industriais sobre dignidade organizacional com relação aos

acordos comerciais firmados com os diretores de um grupo empresarial em termos de prazo, preço,

qualidade, quantidade e assistência.

Elaboração da dissertação: Descrição dos resultados e respostas ao problema de pesquisa, de acordo

com os objetivos traçados.

Técnica de análise dos dados: Análise do conteúdo de Bardin (2011).

Instrumentos de coleta de dados: Pesquisa de campo: documental e entrevista por pauta

(semiestruturada) e categorizada.

Determinação do tipo de pesquisa: abordagem de natureza qualitativa.

Quanto aos fins: exploratória e descritiva.

69

empresarial situado na Região Metropolitana do Recife – PE, composto por três empresas. A

primeira empresa do grupo tem vinte e quatro anos e foi fundada em agosto de 1991.

Atualmente, tem seis funcionários; a segunda empresa tem onze anos, foi fundada em fevereiro

de 2004, está atualmente com cinco funcionários e a terceira empresa, que tem cinco anos, foi

fundada em dezembro de 2010, tem dois funcionários. As três empresas atuam no comércio

varejista de móveis e também colchões; a última possui um diferencial, móveis infantis.

Optou-se também pelos fornecedores industriais do grupo empresarial de maior volume de

vendas, menor tempo na entrega, proximidade, afinidade e agilidade na assistência ofertada.

Dois situados no sertão pernambucano e um situado na região metropolitana do Recife – PE.

Todos os fornecedores têm mais de trinta anos de atuação na atividade empresarial de

fabricação de móveis.

3.4 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa são os stakeholders. Do grupo empresarial, dois sócios gestores (Diretor

1 e 2). Dos fornecedores industriais, dois diretores (Fornecedor 1 e 2) de duas indústrias

moveleiras situadas no sertão pernambucano e a diretora (Fornecedor 3) de outra indústria

moveleira situada na região metropolitana de Recife – PE. Ver figura 3.

Figura 3 – Sujeitos da pesquisa

Fonte: elaborado pela autora da pesquisa

Stakeholders

Grupo Empresarial

Diretor 1 Diretor 2

Fornecedores Industriais

Fornecedor 1

Fornecedor 2

Fornecedor 3

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa.

70

Atualmente, o grupo empresarial vem fazendo negócios com oito fornecedores, dos quais,

foram acessados três. As outras cinco não foram acessadas por diversas razões: uma delas foi a

indisponibilidade para atender a pesquisadora, em face das dificuldades financeiras que essas

indústrias vêm passando por conta da crise econômica e política atual; bem como, pela distância

e custos dispendidos para fazer a entrevista in loco, tendo em vista alguns fornecedores se

situarem nas regiões Sul e Sudeste do país.

Os sujeitos da pesquisa foram entrevistados em seus ambientes profissionais, com agendamento

prévio e confirmação e ciência do objeto da pesquisa pela carta de intenção apresentada a todos

antes do encontro. Todos são empresários, uns da atividade do comércio varejista de móveis e

colchões, os diretores do grupo empresarial, e outros da atividade industrial de produção de

móveis, os fornecedores industriais.

3.5 Dimensões da pesquisa

A pesquisa teve por base a verificação de quais elementos de dignidade estavam presentes nas

relações comerciais entre fornecedores industriais com um grupo empresarial. Para tanto, foi

observada a percepção dos diretores do grupo empresarial, bem como, de seus fornecedores

industriais, sobre o significado de dignidade organizacional, a partir da elementarização

discutida. Verificou-se também se, nos acordos fechados nas negociações celebradas entre os

fornecedores industriais com o grupo empresarial, havia igualdade de condições expressas, com

relação a informação e poder, que pudessem refletir dignidade organizacional nos termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência estabelecidos, e se a intenção dos atores era

ter benefícios mútuos.

3.6 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram documentos, como dados e entrevistas.

A utilização de documentos como dados se deu para identificar, inicialmente, como começavam

as tratativas comerciais entre o grupo empresarial e seus fornecedores. De acordo com Bardin

(2011, p. 51), “a análise documental é, portanto, uma fase preliminar da constituição de um

serviço de documentação ou de um banco de dados”. A proposta foi analisar a forma de

realizações dos negócios entre as empresas e, para tanto, foram examinados os e-mails,

catálogos e notas de pedidos.

71

O outro instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista que, de acordo com Marconi;

Lakatos (2010, p. 178), “é um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de

dados ou para ajudar no diagnóstico ou tratamento de um problema social”. E, por pauta, ou

mesmo parcialmente estruturada, porque, de acordo com (GIL, 2002, p. 117), “[...] é guiada por

relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso”. Neste

caso, a entrevista foi por pauta, cujo roteiro foi previamente estabelecido e encontra-se no

Apêndice A e categorizado no quadro 10. A entrevista foi gravada e transcrita na íntegra num

total de trinta e sete páginas.

Foram realizadas cinco entrevistas com os stakeholders. A primeira e segunda entrevistas foram

realizadas com os dois fornecedores industriais situados no sertão pernambucano, no dia

02.10.2015. O Fornecedor 1 foi entrevistado pela manhã e a entrevista durou cerca de duas

horas, num ambiente acolhedor e muito tranquilo. À tarde, foi entrevistado o Fornecedor 2, cuja

entrevista durou cerca de três horas, num ambiente agradável, com visitação em toda a área de

produção da fábrica.

A terceira e quarta entrevistas foram realizadas com os dois diretores do grupo empresarial, no

dia 03.10.2015, no período vespertino. A entrevista com o Diretor 1 durou cerca de uma hora e

meia, realizada em ambiente agradável e descontraído. A entrevista com o quarto entrevistado,

o Diretor 2, durou cerca de uma hora e quarenta minutos, no mesmo local da terceira, entretanto,

sem a presença do Diretor 1. A visita ao quinto entrevistado, o Fornecedor 3, foi realizada no

dia 07.10.2015, à tarde e durou cerca de duas e meia hora, num ambiente confortável e

descontraído.

Todos os entrevistados se mostraram muito acolhedores e desejosos de participar da pesquisa

como voluntários, pormenorizando situações relevantes de suas atividades e de suas vidas, para

exemplificar as falas.

Como projeto piloto para testar o roteiro da entrevista, foi realizado um pré-teste com duas

empresas de prestação de serviço. A primeira, empresa de consultoria em projetos de

engenharia industrial, atuando como cliente (não consumidor) na entrevista, e a segunda

empresa, prestadora de serviço contábil, atuando como fornecedor, também na entrevista.

72

Neste pré-teste, foram entrevistados três sócios da empresa cliente e um sócio da empresa

fornecedora. O resultado encontrado foi satisfatório para manutenção do roteiro da entrevista

por pauta, com poucas alterações nas perguntas propostas. Os entrevistados compreenderam

bem as perguntas feitas, demonstraram estar bem à vontade e tranquilos com as propostas.

3.7 Métodos de análise dos dados

A análise de conteúdo, proposta por Bardin (2011, p. 51), tem a finalidade de “esclarecer a

especificidade e o campo de ação da análise de conteúdo”. Com base no entendimento dela,

buscou-se, inicialmente, fazer uma análise documental para, em seguida, realizar as entrevistas

por pauta. Na pesquisa documental, buscou-se verificar nos documentos, as mensagens nas

comunicações estabelecidas, categorizá-las para depois inferir o conteúdo dos diálogos, de

acordo com as propostas do objetivo da pesquisa.

“A análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa

identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema” (VERGARA, 2012, p.7).

Conforme o entendimento da autora, a pesquisa foi feita com base em “entrevista por entrevista

ou pessoas por pessoas”, cujo foco foi em uma maior produtividade da informação final.

Privilegiou-se fazer a análise partindo-se de um grupo de categorias, observado no quadro 9,

identificando frases ou mesmo palavras que fossem comuns em todas as entrevistas juntas,

sobre a compreensão de dignidade organizacional dos diretores de um grupo empresarial e de

seus fornecedores industriais nas relações comerciais.

Quadro 9 - categorias para identificação de dignidade organizacional

Objetivo específico 1 Atos e fatos como identificadores de dignidade

organizacional.

Objetivo específico 2 Informação e poder como indicadores de

dignidade organizacional.

Objetivos específicos 3 e 4 Prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência

como indicadores de dignidade organizacional.

Fonte: quadro elaborado pela autora da pesquisa, a partir das entrevistas realizadas.

A categorização seguiu a “análise de valores”, proposta por Bardin (2011), construindo um

conjunto de três categorias e subcategorias de que serviu de base à análise. O quadro 10, na

página 76, apresenta as três categorias definidas e as subcategorias.

73

Quanto à categoria 1, que corresponde ao primeiro objetivo específico da pesquisa, as

subcategorias encontradas referem-se aos valores sociais, tidos como elementos indicadores de

dignidade organizacional, conforme descrito nos Apêndices B e C.

Quanto à categoria 2, que corresponde ao segundo objetivo específico, as subcategorias

encontradas descrevem valores relativos ao ego, qual seja, a “informação” e o “poder” na

comunicação estabelecida entre os stakeholders, como indicadores de dignidade

organizacional, conforme descrito nos Apêndices D e E.

Quanto à categoria 3, que corresponde aos terceiro e quarto objetivos específicos da pesquisa,

as subcategorias especificadas refletem outros valores específicos da relação comercial, tais

como: prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência, estudados como indicadores de

dignidade organizacional, conforme descrito nos Apêndices F e G.

3.8 Limites da pesquisa

A pesquisa teve como limites:

Estudar dois stakeholders, um interno e outro externo.

Entrevistar dois dos quatro diretores do grupo empresarial, tendo em vista que os outros

dois são investidores e não atuam com a administração.

Entrevistar três fornecedores industriais dos oito fornecedores que negociam com o

grupo empresarial.

3.9 Limitações da pesquisa

A pesquisa documental foi limitada, devido não ser possível o acesso aos documentos dos anos

anteriores a 2015. O banco de dados do grupo empresarial era composto de pedidos de produtos

industriais realizados por e-mail, por catálogos ou por notas de pedidos de vendas realizadas de

janeiro a agosto de 2015.

Disponibilidade de ter acesso aos fornecedores industriais em maior número, por alguns fatores:

aceitar ser voluntário na pesquisa – em contato com alguns dos fornecedores industriais, dois

não aceitaram participar da entrevista, alegando dificuldades financeiras por conta da crise

político-econômica que o país enfrenta atualmente.

74

Descrença nas pessoas – os gestores das empresas têm receio de abrir seu empreendimento a

pesquisadores, com medo de fraude ou golpe. Denota-se precaução, ou mesmo medida de

segurança para não ser alvo de golpes por falsários ou estelionatários que mantêm contato com

empresas com interesses de subtrair informações ou patrimônio.

Custos com despesas de viagens a outros estados brasileiros pela pesquisadora – a entrevista

semiestrutura foi um dos instrumentos da pesquisa, porque mostra-se muito viável em face da

possibilidade de, em contato pessoal com os entrevistados, obter respostas mais profundas para

responder ao objetivo da pesquisa.

O estudo deu-se por satisfatório, apesar das limitações encontradas durante o percurso. Não

houve prejuízos, pois, o método qualitativo não pressupõe uma elevada fonte de dados para

validar a pesquisa, como também, por meio das entrevistas realizadas foi possível atender aos

objetivos propostos.

O próximo capítulo versará sobre a análise e discussão dos resultados da pesquisa, com base

nos documentos catalogados e no teor das entrevistas realizadas com os dois stakeholders: os

diretores do grupo empresarial e seus fornecedores industriais.

75

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Neste capítulo, será feita a análise e discussão dos resultados da pesquisa, seguindo a

categorização constante na metodologia. Entretanto, antes de fazer a análise e discussão dos

documentos e das entrevistas realizadas neste estudo, se faz necessário descrever um pouco

sobre a forma de construção da pesquisa de campo a que se debruçou a pesquisadora, para

conhecer o locus e os sujeitos da pesquisa e, assim, descrever o que está por trás de cada palavra

sobre dignidade organizacional na visão de dois stakeholders: os diretores de um grupo

empresarial e seus fornecedores industriais.

O locus da pesquisa é um ambiente empresarial, de um lado o lojista que trabalha diretamente

com o consumidor final e, do outro, os fornecedores industriais, que fabricam os produtos e

desejam alcançar o máximo do mercado comercial possível. A partir do locus da pesquisa, já

se pode verificar consenso de interesses dos sujeitos; o do lojista, como cliente, de comprar

produtos que “rodem”, ou seja, que não fiquem guardados no estoque, que representa prejuízo,

e os fornecedores. Estes fabricantes de móveis produzem o máximo que podem, na busca de

ampliarem o mercado de consumo com seus produtos, nas relações comerciais com os lojistas.

4.1 Construção da pesquisa de campo

A pesquisa documental

Antes das entrevistas, foi realizada pesquisa documental nos arquivos do grupo empresarial, no

dia 12.09.2015, para descoberta de como se dão as relações comerciais com seus fornecedores

industriais.

A análise documental não se mostrou totalmente satisfatória, pois, nos arquivos pesquisados,

só existiam documentos de janeiro até agosto do corrente ano. É relevante destacar que o

contato do cliente com o fornecedor sempre ocorre com os representantes comerciais dos

fornecedores que, mesmo sem agendar, visitam os possíveis clientes. Outra forma de contato

com os fornecedores são as feiras de móveis e colchões para empreendedores, às quais os

comerciantes são convidados.

76

Os representantes, quando chegam nas dependências das empresas, nas lojas, apresentam

catálogos/mostruários com informações de cada produto de fabricação do fornecedor que ele

representa. Todos os fornecedores têm representantes locais. A presença do representante,

geralmente, é por agendamento, mas alguns sempre vêm por conta própria, sem prévio aviso.

A direção do grupo empresarial sempre agenda os encontros para a parte da tarde, momento

mais tranquilo para fazer negócios. Palavras do diretor 1:

“Depois de muitos anos lidando com os mesmos representantes, há certa intimidade

para realização dos acordos” (D1).

Com a apresentação dos mostruários e dos produtos em lançamento ou não, pelos

representantes, faz-se os pedidos. Estes sempre são feitos de acordo com demanda, ou seja, dos

produtos que têm “giro”, venda mais rápida, de acordo com a demanda local, do bairro. Os

pedidos também são feitos por e-mail ou através de ‘nota de pedido’. No e-mail, qualifica e

quantifica o produto por cor e modelo, descrevendo o produto.

Por nota de pedido, da mesma forma, o pedido de venda já vem pronto, basta discriminar o

produto (descrevendo o produto, a cor, o modelo e quantidade). Não há diferença na compra

realizada nas duas formas. A diferença entre fornecedores, além da marca e nome da empresa,

também se dá pela cor da nota do pedido, verde, rosa, azul, amarelo, branco, etc. A descrição

do pedido ocorre da seguinte forma:

Código do produto:

Descrição do produto:

Quantidade:

Cor:

Preço unitário:

Preço Total:

E o prazo de entrega é acordo com a produção pronta. Quando não tem o produto já feito, a

entrega demora no máximo trinta dias para chegar.

Da análise documental, percebe-se que só existe um contrato propriamente dito, para realização

das negociações e estabelecimento da relação comercial em si. O convívio é baseado na

comunicação verbal, na confiança que um tem no outro. O representante comercial, de certa

forma, além do elo entre o cliente e o fornecedor, é a pessoa que mantém quase todos os contatos

e diálogos nas tratativas comerciais.

77

A documentação comprova a literatura estudada anteriormente, quando afirmado por Rizzardo

(2010) e Amato (2014) que a forma de contratação não precisa ser necessariamente escrita,

pode ser verbal ou gestual. A verbal é a mais utilizada nas relações comerciais realizadas pelos

sujeitos da pesquisa. Os documentos pesquisados, e-mails, catálogos e notas de pedidos apenas

confirmam a existência de uma relação entre o cliente e o fornecedor, sem muito formalismo.

As entrevistas

Depois de realizada a pesquisa documental, foram agendadas as entrevistas com todos os

sujeitos. A interview realizada foi semiestruturada e por pauta. A pauta foi dividida em três

etapas, conforme roteiro de entrevista no apêndice A.

Da análise de dados surgiram três categorias, conforme quadro 10. Elas foram estabelecidas de

acordo com os objetivos específicos, e serão analisadas separadamente, e subdividas em

subcategorias, conforme ver-se-á no quadro 10.

Quadro 10 - categorias para realização das entrevistas

Categoria 1 Atos e fatos como identificadores de dignidade organizacional.

Categoria 2 Informação e poder como indicadores de dignidade organizacional.

Categoria 3 Prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência como indicadores de dignidade

organizacional.

Fonte: quadro elaborado pela autora adaptado a partir de Bardin (2011)

O resultado encontrado nas categorias estabelecidas foram subdivididos em subcategorias, a

partir da análise dos valores propostos por Bardin (2011), que são os valores sociais, para

responder a busca dos elementos indicadores de dignidade organizacional constante do primeiro

objetivo específico; os valores relativos ao ego, para responder à interpretação de “informação”

e “poder” como designadores de dignidade organizacional, correspondendo ao segundo

objetivo específico, e outros valores, estes mais específicos da relação comercial, pois buscou-

se analisar prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência como indicadores de dignidade

organizacional, todos na relação comercial entre stakeholders: os diretores de grupo

empresarial e seus fornecedores industriais.

78

4.2 Elementos designadores de dignidade organizacional nas relações comerciais entre

dois stakeholders: diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores industriais

Nesta seção, a proposta é verificar se a análise e discussão dos dados atende a proposta do

primeiro objetivo específico deste estudo, seguindo a categorização constante na metodologia.

Categoria: Elementos

O resultado encontrado na análise das entrevistas feitas com o objetivo de responder ao primeiro

objetivo específico foi subdividido em sete subcategorias, conforme quadro 11.

Quadro 11 – Subcategorias: elementos de dignidade organizacional nas relações comerciais

Elementos Significado dos elementos

Insegurança Ficar à mercê dos agentes externos

Credibilidade Confiar na proposta/preço do fornecedor

Reciprocidade Fazer um negócio que seja bom para os dois lados

Profissionalismo Fazer a atividade que desempenha com qualidade e amor

Esperteza Vender sem nota fiscal e prejudicar a concorrência

Usurpação Ofertar preço, quantidade e produtos com aparência de vantajoso e

endividar o comprador

Blefe Omitir-se do cumprimento das obrigações assumidas. Fonte: da pesquisa de campo elaborada pela autora da pesquisa (2015) com base em Jacobson (2009).

Elemento: Insegurança

O elemento “insegurança”, significando ficar à mercê dos agentes externos, é identificado como

um dos atos e fatos identificadores de dignidade organizacional nas relações comerciais

realizadas pelos diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores industriais, como um

fator de desrespeito a dignidade porque os agentes externos, sejam eles, o governo, os

concorrentes as oscilações políticas, econômicas e financeiras, todos contribuem para deixar a

organização vulnerável nas negociações comerciais, conforme se verifica nos depoimentos dos

entrevistados, quando arguidos sobre como as influências de políticas econômicas interferem

nas relações comerciais.

“Como cliente, ela influencia bastante porque a economia é que gera o país e a

economia estando ruim [...] tem um pouco de dificuldade de fazer as negociações

com os fornecedores. A política econômica no Brasil tem um peso muito grande”

(D1).

79

“Hoje, o mercado, o país trava por conta disso aí. [...] mas a crise política está muito

pior que a crise financeira. [...] eu vejo dessa maneira, essa crise, no mínimo, 60% é

pela política. Isso influencia muito. Aí quem sofre é a gente, que fica sem cliente e,

consequentemente, não pode comprar da indústria e, assim, ela também sofre” (D2).

“Sofre de várias maneiras. O governo dá benefícios fiscais para alguns e não dá para

outros, os benefícios não são gerais, não são amplos, são setorizados”. [...] outra

coisa é que não se trabalha a questão fiscal. Nós trabalhamos com uma empresa

‘redonda’ do ponto de vista fiscal, não queremos comprar ou vender nada sem

nota, e assim fazemos há muitos anos. No entanto, o governo não consegue

monitorar quem está trabalhando com subfaturamento” (F1).

“ O Brasil, como um país emergente, depende do equilíbrio da economia. Então, essa

instabilidade causa receio, insegurança. Aí o mercado é nervoso, se ele der uma

negativa, mesmo que não esteja de fato, negativo, ele vai prejudicar, naturalmente”

(F2).

“Eu acho que ela influencia o tempo todo. Porque eu entendo política econômica

como o crédito do mercado, é a forma de você poder repassar para o seu cliente o

melhor preço, uma melhor forma, ou você financiar melhor o seu cliente” (F3).

De acordo com os depoimentos dos dois diretores do grupo empresarial, as influências políticas,

econômicas e mesmo financeiras atormentam as relações, pois causam instabilidade e

insegurança na realização dos negócios, o que termina por trazer prejuízos para todos, em forma

de cadeia. Este fator insegurança é um elemento que indica um potencial de violação da

dignidade organizacional para compradores e fornecedores no mercado comercial, como um

fator externo de muita influência e poder manipulador dos negócios.

Na compreensão dos fornecedores industriais, a influência das políticas econômicas também é

causadora de infortúnios, pois, no depoimento dos três fornecedores industriais, as influências

políticas, econômicas e financeiras causam inseguranças às relações, ou por falta de uma

fiscalização do fisco quanto à tributação, ou mesmo no movimento de desequilíbrio da

economia, por ser um país emergente, precisa ter mais cautela com as políticas praticadas, pois,

o resultado sendo positivo ou negativo, interfere nas relações comerciais, e todos compradores

e fornecedores saem perdendo. Este fator se evidencia como um descritor de insegurança e

violador da dignidade organizacional, quando reflete uma imagem irreal dos fatos e interfere

na comunicação, causando ruídos e desvios de intenções.

A influência das políticas econômicas que causam interferências nas relações comerciais entre

os stakeholders desta pesquisa confirmam os estudos de Gomes (2005), que afirma que ato ou

fato correspondem a ações ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que causam efeitos no

mundo jurídico. Neste, os atos ou fatos são as interferências políticas e econômicas que, não

80

sendo bem administradas, causam insegurança e reflexos negativos no mercado comercial. O

mundo jurídico é exatamente o mundo das relações comerciais que, de acordo com os impactos

das ações ou omissões governamentais, tornam-se alvo deste agente público.

A omissão governamental, que pode causar insegurança e reflexo negativo nas relações

comerciais, ocorre justamente pela falta de fiscalização da circulação de mercadorias sem nota,

conforme relato do fornecedor a seguir: “No entanto, o governo não consegue monitorar quem

está trabalhando com subfaturamento. [...] Às vezes, é cedido benefício fiscal para empresas

que não geram empregos, que não geram renda, benefícios para o Estado” (F1). Percebe-

se que a omissão estatal, de fazer uma fiscalização mais efetiva, termina por interferir nas

relações comerciais e causa desigualdades e desvantagens para os fabricantes que atuam na

legalidade, compras e vendas de produtos e insumos com nota fiscal. Situações dessa ordem

podem causar o surgimento ou fortalecimento da credibilidade ou, por outro lado, a quebra dela,

e isso gera insegurança, principalmente, para o empreendedor ‘correto’.

Elemento: Credibilidade

A credibilidade, significando a confiança na proposta/preço do fornecedor é também um dos

atos e fatos identificadores de dignidade organizacional nas relações comerciais realizadas

pelos diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores industriais, pois é advinda da

comunicação estabelecida entre os agentes.

“A única coisa que vai influenciar é, justamente, a credibilidade do fabricante. [...]A

gente tem que saber distinguir isso muito bem. São os preços que eles praticam e se

realmente vale a pena para que a gente coloque no nosso comércio e tenha

rotatividade porque, muitas vezes, tem mercadoria que a gente olha e acha que ela

vai rodar e ela não roda porque não tem, realmente, uma boa aceitação do

consumidor” (D1).

“A gente não entra para ver preço de concorrente. Mas quando eu passo na rua, eu

vejo. Mas se eu vejo um concorrente – desde que não seja rede – do mesmo porte ou

menor que o meu com um preço melhor eu ligo para o fornecedor para saber o que

está acontecendo” (D2).

“[...] eu vendo um produto de boa qualidade, com um bom preço e ele também vende

e se satisfaz, porque a venda só é concluída quando o cliente e o usuário começar

a usar aquilo e gostar. [...]A venda só vai estar concluída quando chegar na casa

do consumidor, ele usar e gostar” (F1).

“Nós temos uma dificuldade com o concorrente nesse sentido, de oferecer preço e

estabelecer uma quantidade maior, com isso, pessoas que eram bons pagadores,

se tornaram maus pagadores. Então, essa oferta que oferece vantagens por

quantidade, interfere muito. Se o lojista tiver o pé no chão, ele tem o discernimento

81

que vai se endividar e, assim, cresce. Mas se ele não tiver, vai interferir em cadeia. O

mercado não é brinquedo, tem que ser trabalhado os critérios, a ética, a

responsabilidade para quem a gente está vendendo tem que ter. É lógico que tem

que haver essa concorrência, mas no sentido sadio, que possa viabilizar melhor, mas

sem forçar a barra” (F2).

“Hoje, é um mercado comprador de preço, não um mercado comprador de produto.

Então, à medida que ele é um mercado comprador de preço, qualquer alteração na

concorrência, por exemplo, para você ter uma ideia, nós temos um concorrente que

está oferecendo um preço financiado que equivale ao meu preço de à vista. Que

argumento eu tenho, tecnicamente, para o meu cliente? A não ser que eu sou uma

empresa idônea,de 30 anos de mercado. Aí ele olha para mim e pergunta: ‘mas

como é que ele pode e você não pode?’ Eu não posso responder por ele, eu só posso

responder por mim” (F3).

Percebe-se que credibilidade para o D1 é um ponto positivo nas relações comerciais, desde que

sejam claras e sinceras as informações. Na fala de D1, a credibilidade está nos preços praticados

pelos fornecedores, se realmente satisfazem os consumidores, pela boa aceitação, pois gera

rotatividade constante do produto para o lojista, porque se não ‘rodar’ é sinal de um produto

que não vale a pena comprar, acumulando apenas no estoque e capital parado.

Na visão do D2, credibilidade está em o fornecedor não disponibilizar os produtos para os

concorrentes do lojista com preços mais baixos, o que termina por causar uma concorrência

desleal, podendo até quebrar o comprador. Fica evidente na fala do D2 que existe um sentimento

de confiança e parceria com seu fornecedor, através de um diálogo claro e sincero,

principalmente quando ele afirma “[...] eu ligo para o fornecedor para saber o que está

acontecendo”. Na fala dele, percebe-se que há confiança no fornecedor, até que ele não

apresente um comportamento de privilegie outros compradores com preços diferenciados na

mesma região de seu negócio, que o prejudica e, consequentemente, quebra a relação

estabelecida.

Na visão de F1, credibilidade está na satisfação do consumidor final, pois o termômetro é ele,

que quando compra o produto, usa e aprova, é sinal de venda realizada. Credibilidade é isso:

produto tem que ter boa qualidade, aliada a um bom preço e que reflita a satisfação do usuário.

Já para F2, credibilidade é sinônimo de responsabilidade do concorrente, pois determinadas

ofertas e vendas em maior quantidade terminam por tornar o cliente endividado e, aquele cliente

bom pagador, se torna mau pagador, com as propostas com aparência de vantagens, quando na

82

realidade não o é. O mercado termina por perder, pela falta de critérios, de ética e de

responsabilidade do concorrente ‘desleal’.

Na visão de F3, de imediato, percebe-se que o mercado não se importa com a qualidade do

produto, mas com o preço. Preço mais baixo domina o mercado. E ele questiona a prática dos

valores de preços financiados nos mesmos moldes que o à vista. Como explicar ao cliente

porque determinado fornecedor pode negociar com preços à vista de forma parcelada? A

resposta deste entrevistado é a sua permanência do mercado por mais de trinta anos, atuando

sempre de forma idônea.

Da interpretação da fala dos entrevistados, percebe-se uma certa analogia com o pensamento

sobre a promoção da dignidade e os benefícios colhidos, cuja finalidade é a busca do bem-estar

do outro, proposta por Jacobson (2009). Principalmente quando ela fala da necessidade de

redução das assimetrias e da configuração de uma ordem social que promova o poder, reduzindo

as situações de vulnerabilidade, e estabelecendo um ambiente mais humanizado na atividade

laborativa (JACOBSON, 2009).

O empoderamento concedido ao comprador, advindo de um poder de compra maior, sem

considerar critérios de endividamento, ao contrário da proposta de Jacobson (2009), aumenta a

assimetria nas relações comerciais, promove a concorrência desleal e, pior, quebra a cadeia de

negócios que move o mercado mercantil.

A concorrência deve ocorrer, mas para se manter um ambiente salutar a todos os empresários,

pois, de outro modo, todos perdem, inclusive, aquele que desencadeia a desestrutura

mercadológica. Para realizações das negociações comerciais, o ambiente deve ser salutar,

semelhante ao ambiente humanizado laboral proposto por Jacobson (2009), na qual todos têm

benefícios mútuos. Isto é pensar numa concorrência promissora.

A prática de preços de forma a angariar mercado, sem responsabilidade, inclusive, causando o

endividamento de determinados clientes, de acordo com os relatos dos entrevistados, é

insustentável, e se cliente e fornecedor “não tiver o pé no chão” (F2), todos quebram e todos

perdem em cadeia. A experiência de todos os stakeholders atuantes no mercado comercial hà

mais de vinte anos, demonstra a seriedade que deve ter o empreendedor de uma organização

83

para tomar inúmeras decisões, principalmente, em se tratando de preço e qualidade dos

produtos.

Elemento: Reciprocidade

A reciprocidade significa que fazer negócio deve ser bom para os dois lados. Bom para o

fornecedor e para o cliente. Do lado do fornecedor, de fabricar produtos que circulem no

mercado de consumo, ou seja, que tenha rotatividade, aceitação e satisfação do consumidor

final, que é o termômetro do mercado comercial. Do outro lado, o cliente, lojista, que deve

ofertar um bom atendimento e boa conservação dos produtos para promover as vendas dos

artigos de seus fornecedores industriais.

“[...] tem que ser bom para os dois lados, jamais só para um. O preço tem que ser

bom para que eu faça uma compra boa e ele tem que saber que o preço que ele está

vendendo – porque todo fabricante tem um custo – então eu não gosto, jamais, de

desprezar um e valorizar outro. [...] A negociação só fica realmente interessante

quando a gente consegue fazer um negócio que seja bom para os dois lados” (D1).

“[...]a gente trabalha de uma maneira que seja bom para os dois lados. Às vezes, a

pessoa pode vender até por uma necessidade, mas não ficou satisfeita e fica com

um sentimento negativo. Quando a gente compra e todos ficam satisfeitos é quando

vende o produto numa margem que dá para pagar todos os compromissos, todos os

custos. [...] então, geralmente, a gente trabalha com o preço que ele coloca, que dá

para vender e ganha satisfação na parceria” (D2).

Com relação ao consumidor: “Por que se o cliente comprou, foi para usar, não

para dar defeito. Tem que trocar sem cobrar nada” (D2).

“A minha empresa não sobreviveria se eu não tivesse todo um leque de clientes que

trabalhassem nessa situação de conforto, de acordo mútuo, em que todos vão se

beneficiar. Eu vendo um produto de boa qualidade, com um bom preço e ele também

vende e se satisfaz, porque a venda só é concluída quando o cliente e o usuário

começar a usar aquilo e gostar. [...]A venda só vai estar concluída quando chegar

na casa do consumidor, ele usar e gostar”. [...]” (F1).

“[...] porque todos ganham. Esse é o grande desafio. [...]Desfrutar do conhecimento

que você adquire, ser ponderado, coerente, saber como conduzir as coisas, esse é um

dos pontos” (F2).

“Para mim não tem cliente bom ou ruim, cliente é aquele que eu sento e o negócio é

um pedaço para mim e um pedaço para ele. Para mim, o negócio tem que ser bom

para os dois lados” (F3).

O elemento reciprocidade no relato dos entrevistados reflete exatamente a proposta de Teixeira

(2009) em seus estudos sobre dignidade organizacional e stakeholders, com o embasamento

teórico advindo da racionalidade comunicativa de Habermas (2003).

84

Habermas (2003) classifica como pretensões de validade do conhecimento, o entendimento pelo

receptor do que foi dito pelo orador. Ele divide as pretensões em cinco etapas. Estas pretensões

estão presentes no elemento reciprocidade, no relato dos entrevistados.

A primeira, denominada “critério de verdade”, diz respeito ao que é colocado como verdadeiro

pelo falante e é entendido como verdadeiro pelo receptor, mesmo que, depois, chegue-se à

conclusão de que não era verdade. No elemento reciprocidade, este critério é evidente, pois em

todas as falas dos dois stakeholders, sejam eles os diretores do grupo empresarial ou os

fornecedores, há o consenso de opinião que o negócio tem que ser bom para os dois lados.

Embora na prática, em determinadas situações, principalmente de crise, como a atual, que

algum agente, se sentindo empoderado, tente negociar propostas mais benéficas para si do que

para o outro, conforme se depreende da fala seguinte:

“O cliente está com o poder na mão, principalmente, quando é um cliente visto

pelo mercado como bom pagador. Você nunca ouviu falar de leilão de cliente? O

cliente liga para um e para o outro, eu tenho aqui fulano que faz por um preço,

você faz por quanto? Isso acontece” (F3).

E ainda “Às vezes, do outro lado, você sente que o cliente está fazendo o jogo do

‘171’1, de esconde-esconde, então eu também começo, mas chega uma hora que não

dá mais para onde ir” (F3).

Na fala de F3, percebe-se, exatamente, o momento de que o critério de verdade se apresentou

como uma inverdade, justamente no jogo de “ganha-perde” ou “perde-ganha”, que não há

benefícios mútuos e a comunicação deixa de ser inteligível para as partes envolvidas no

negócio.

A segunda pretensão está relacionada à ação realizada pelos agentes da comunicação como uma

ação dentro do contexto normativo vigente. Neste caso, a reciprocidade está correlacionada à

compra e venda pactuada através da emissão de nota fiscal. Nas falas dos dois stakeholders

percebe-se o cumprimento da norma que é, exatamente, em não realizar a sonegação fiscal.

“[...] geralmente, a gente tem uma dificuldade porque compramos tudo por nota e

vendo tudo com nota, então isso gera um custo maior, e nem todos fazem isso” (D2).

“Nós trabalhamos com uma empresa ‘redonda’ do ponto de vista fiscal, não

queremos comprar ou vender nada sem nota, e assim fazemos há muitos anos”

(F1).

1Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém

em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Código Penal Brasileiro.

85

“Eu não acho que seja questão de segurança, pois quem dá segurança é a nota fiscal.

Quando eu recebo a nota fiscal, eu tenho um canhoto que eu assino e aquilo ali está

sacramentado” (F3).

Esta pretensão diz respeito a um elemento presumido à dignidade das pessoas, que é a

honestidade. Neste caso, ser honesto tem o sentido de realizar a compra e venda mercantil com

a emissão de nota fiscal.

A terceira pretensão está correlacionada à verdade pessoal e individual de cada agente, no que

se refere a fazer o que diz e expressar ao ser receptor, exatamente o que pensa, sem subterfúgios

ou interesses e intenções diversas do que fala.

“Todo fabricante tem um custo – então eu não gosto, jamais, de desprezar um e

valorizar outro. [...]” (D1).

“Para trabalhar com os clientes, primeiro é preciso ter o dom de servir, se não gostar

de servir, está na profissão errada. Nós temos que aprender a nos colocar no lugar

do outro, cada um tem seus problemas e todos tem suas virtudes e a gente tem que

procurar entender. É um relacionamento que dá muito trabalho, mas faz parte do dia

a dia” (D2).

“Esse é o grande desafio. [...]Desfrutar do conhecimento que você adquire, ser

ponderado, coerente, saber como conduzir as coisas, esse é um dos pontos”. [...] A

gente tem uma filosofia de que mesmo errado, o cliente ainda está certo e ele compra

de quem ele quiser. Eu sou grato de ele nos atender, porque não é fácil. Mesmo

quando ele está exagerando, nós temos que ter paciência, tolerância porque ele é

quem nos dá essa oportunidade” (F2).

“Eu não posso responder por ele, eu só posso responder por mim”. [...] Para mim

não tem cliente bom ou ruim, cliente é aquele que eu sento e o negócio é um pedaço

para mim e um pedaço para ele”. (F3).

Na fala dos dois stakeholders, principalmente, na opinião de cada um sobre como se comportar

em determinadas situações nas negociações com o outro, fica clara na fala, a similitude de fala

e pensar dos entrevistados. É interessante ressaltar que, durante todos os encontros, cada

entrevistado se mostrou muito firme em dizer exatamente o que pensava sobre cada tópico

tratado.

A quarta pretensão reflete a inteligibilidade na comunicação, ou seja, a compreensão pelas

partes no sentido semântico e gramatical de tudo que é dito e pactuado nas negociações, para

que haja interação. Nas falas dos agentes, percebe-se a busca de esclarecer todos os dados

necessários às negociações, já que envolve ganho ou perda monetária, pois, se um pedido foi

feito errado, por qualquer que seja o motivo, o fornecedor tendo a perder, principalmente, se o

erro partiu dele, de seu representante ou de departamento de vendas, quando do recebimento

86

dos pedidos; a perda é com a insatisfação do cliente, com a duplicidade de carga tributária e

também pela troca de produtos, o que termina por inviabilizar o trâmite normal de seu

empreendimento.

Da mesma forma, ocorre com o cliente que, ao fazer um pedido errado, o produto ficará no seu

estoque, e é dinheiro sem “rodar” e, muitas vezes, gera atraso na entrega do produto comprado

pelo consumidor que, insatisfeito, pode até demandar ações judiciais por descumprimento da

obrigação contratual, que seria a entrega do produto de acordo com a oferta e venda.

“Geralmente, a gente não conversa com os fornecedores, a gente conversa mais com

os representantes. [...]O representante é uma ponte para chegar ao dono da fábrica”.

[...] Se a quantidade que eu comprei não ‘bater’, eu entro em contato diretamente

com a fábrica e pergunto o que eles vão fazer para prorrogar o pagamento, porque eu

não pedi e eles que resolvam ou, senão, eu tiro uma nota de devolução e a mercadoria

segue. [...] Aí dá-se um jeito, eles colocam a duplicata mais adiante, frete mais

adiante, dá o jeito deles e a mercadoria é descarregada. Raramente há devolução

porque eles acham que não vale a pena devolver, acham melhor resolver tudo aqui

mesmo” (D1)

“Tem que haver respeito, tanto nosso quanto do fornecedor. Às vezes, a gente faz o

pedido e o representante acrescenta mais produtos do que a gente pediu ou, então,

pedia um produto e, se faltava, encaixava outro produto. Às vezes, tem produtos que

eles colocam um preço, na minha tabela tem um preço, mas quando a gente vai

procurar saber, tem uns reais a mais do que havia na tabela, diziam que foi erro do

sistema. Isso desgasta, aí eu não vou procurar mais a ele, já vou falar com o dono,

procurar saber o que está acontecendo. [...] Tem que haver parceria porque a gente

sabe que a responsabilidade é grande” (D2).

“Isso é muito difícil. Por que a gente faz tudo dentro do sistema. Burocraticamente

falando, é tudo muito bem esclarecido, todas as condições, tudo o que foi negociado.

[...] não existe esse ruído de comunicação porque hoje é tudo no computador, é

tudo codificado, a nossa tabela de preço tem a foto do produto do lado, tem o

código, o preço do produto, então ele vê no catálogo e vê na tabela. [...] como tudo

na vida, existe uma margem de erro, uma margem de risco, mas ela é ínfima. A

gente não tem muito conflito sobre isso” (F1).

“Acontece, sobretudo, na cor, de o representante errar. Esse episódio já aconteceu

várias vezes, de o representante repassar o pedido via e-mail e errar em alguma

coisa. Isso tem sido contornado de uma forma fantástica porque, às vezes, o cliente

não devolve. Talvez o trato que nós temos, essa confiança, então a gente resolve

sem que façam a troca do material” (F2).

“Eu descobri que comunicação é uma caixinha de surpresas. [...]Comunicação é

você saber qual é o idioma da tribo. [...] Muitas vezes, eu atento para o que vou

falar, porque as pessoas podem não entender. Palavras que tem um sentido para

mim, pode ser absorvido com outro sentido para outra pessoa. Para mim,

comunicação é uma arte, que eu não domino muito. Às vezes, ainda me enrolo um

pouco” (F3).

A comunicação, conforme foi dito por F3 é uma arte, e nem todos têm o domínio para fazê-la

bem e agradar aos seus ouvintes. Deste modo, pensar na comunicação racional de Habermas

(2003), muitas vezes, parece ser uma utopia, pois, a expressão gramatical e a semântica

87

compreendidas por todos os envolvidos no comunicar-se é a forma ideal de diálogo. Entretanto,

alguns ruídos podem ocorrer e pode ser resolvido da forma mais salutar às partes envolvidas.

Nas negociações comerciais, a comunicação tem de ser eficaz, pois, conforme dito acima,

qualquer percalço representa perdas financeiras ou mesmo insatisfações, que podem até

macular a relação estabelecida. Nas negociações comerciais, geralmente, as tratativas de

compra e venda ocorrem por e-mail, pelos representantes comerciais, através de notas de

pedidos e por catálogos com discriminação dos produtos e preços. As relações, nestes casos,

são verbais, quando realizadas pelos representantes, mas também são escritas, quando feitas via

e-mails.

No discurso dos dois stakeholders verifica-se que, mesmo havendo a existência de algumas

dificuldades por falhas diversas, o interesse é sempre de se chegar a um denominador comum.

O diálogo é a melhor saída para resolução dos impasses.

Interessante ressaltar a dificuldade de comunicação demonstrada pelo F3, principalmente

quando da afirmação “comunicação é uma caixinha de surpresas. [...]Comunicação é você

saber qual é o idioma da tribo”, na fala dela, percebe-se que, na comunicação, pode haver um

desencontro de compreensão das informações proferidas pelo emissor e entendida de forma

distorcida pelo receptor, ou mesmo pelo desconhecimento do código por um dos agentes.

Neste caso, dialogar com Habermas (2012) em seus estudos sobre teoria da ação comunicativa,

quando ele afirma que, na teoria das ciências sociais, o sentido de ação pode assumir quatro

conceitos básicos. O primeiro conceito “do agir teleológico”, que consubstanciado na teoria

filosófica de ação, cuja máxima é “ diante de diversas alternativas para um propósito, se apoie

na interpretação que mais se adequa à situação (HABERMAS, 2012), é compreender o que está

nas entrelinhas das palavras de (F3), principalmente, em saber “qual a tribo”, que dá o

entendimento de compreender qual o signo linguístico para se comunicar e alcançar o objetivo,

afastando os entraves.

Nas relações comerciais diárias, parece que fazer uso desta estratégia é salutar para as

organizações no trato com os stakeholders diversos. Dominar bem a comunicação e conseguir

um diálogo que reflita benefícios mútuos é realmente uma arte, mas possível, o que torna a

teoria discutida por Habermas (2003) uma verdade inquestionável e não utópica.

88

Elemento: Profissionalismo

Nas relações comerciais, o sentido de profissionalismo é realizar a atividade empresarial que

exerce com qualidade e com amor. Ser um profissional que atua na área comercial de produção

e venda de móveis é um desafio diário, em face das ameaças da concorrência e o

estabelecimento de estratégias inovadoras para atender as demandas por produtos

diferenciados. Nas entrelinhas das falas, percebe-se o profissionalismo por cada stakeholders

para realização de sua atividade.

“[...] eu quero assistência para meu cliente porque quando a pessoa compra algo, a

pessoa compra sonhos, aí chega em casa, abre a caixa e está danificado o produto,

então a gente tem que agilizar o mais rápido possível para poder deixar o cliente

satisfeito. [...] “estou deixando de comprar a vocês porque vocês não são competentes

de dar assistência ao cliente de vocês e eu dar ao meu cliente”. Eu tenho que

preservar o nome da loja” (D1).

“Uma coisa que temos que pôr na cabeça é que o foco não é o dinheiro, o foco é a

satisfação do cliente. Para trabalhar com os clientes, primeiro é preciso ter o dom

de servir, se não gostar de servir, está na profissão errada. Tem que ter o prazer

de servir, senão não dá certo, qualquer coisa que fizer, já vai achar que está fazendo

um favor” (D2).

“A nossa especialidade é ter um representante que atende, pessoalmente, cada

lojista, corpo a corpo. É assim que é feito, é assim que funciona. É tudo burocrático,

no papel, devidamente identificados” (F1).

“[...]quando a gente trata bem, automaticamente, coloca o outro na obrigação de

também tratar bem. Esse é um ponto forte que eu não abro mão. [...] Nós,

enquanto indústria, dependemos muito do profissional representante, da pessoa que

faz essa ponte, ele tem que tratar as coisas com veracidade, ter zelo no trabalho

porque ele também vive disso, então ele tem que ter uma qualidade de serviço.

Essa confiança é mais por intermédio do representante” [...] (F2)

É o meu suor diário, meu suor de 30 anos. [...] O meu produto é esse, eu faço dessa

forma, o preço é esse. Se eu tivesse um preço mais barato eu já havia oferecido. [...]A

gente tem uma confiança na marca, muito forte, por conta disso. Se for errado, a

gente troca. Se estiver faltando, a gente manda. A gente acompanha nossos

clientes desde a época em que eles começam, muitas vezes” (F3).

O profissionalismo assume vários aspectos nas falas dos entrevistados, mas o objetivo parece

ser um só, trabalhar com competência e se manter no mercado, não só por dinheiro, mas por

amor à profissão exercida. Este sentimento é percebido nas entrelinhas dos discursos. Na fala

de (D1) é bem clara, quando afirma que “quando se compra um produto, se compra sonho"

e, de certa forma, o sonho não deve ser danificado. Na fala de (D2) é bem forte o sentimento de

profissionalismo na afirmação “o foco não é dinheiro, mas o prazer em servir. Quem não

gosta de servir está na profissão errada”.

89

No dizer de (F1) está na palavra “especialidade em ter um atendimento diferenciado, que é

justamente, o atendimento pessoal, presencial pelos representantes”. Pela experiência de

(F1), esta forma diferenciada de atendimento é o sucesso de um bom relacionamento.

Já na fala de (F2) há o profissionalismo no trato com os colaboradores “tratar bem o outro, é

trazer a obrigação nele de tratar bem também”, bem como, do profissional que o

representante deve ser, trabalhar com “veracidade, ter zelo e qualidade no fazer o serviço”

E, por último, no dizer de (F3), profissionalismo está na valorização do seu trabalho de trinta

anos. A experiência e permanência no mercado representa conhecimentos sobre o processo e

como estabelecer os procedimentos para sanar os problemas que ocorrem no dia-a-dia.

Ressaltando ainda que, para (F3) o respeito do cliente no preço do seu produto é essencial, pois

é fabricado com qualidade e sem “gorduras”, quando apresentado para ele. Além da assistência

imediata, em caso de percalços.

O profissionalismo muito se assemelha aos elementos de dignidade abordados por Jacobson

(2009), porque ser profissional exprime a dignidade como pertencente a todos os indivíduos, os

que prestam os serviços e os que recebem os serviços, tanto individual como coletivo, e que

existe uma ligação entre os dois. Por isso, se há falta de profissionalismo, a relação não é

duradora e os reflexos são nefastos.

A organização que tem essa visão de profissionalismo, destacada nas palavras e sentimentos

dos entrevistados, pode ser entendida como uma organização digna nos moldes estudados por

Teixeira (2008) em suas pesquisas sobre dignidade organizacional, como sendo aquela que

pressupõe, contempla e valora todas as pessoas da organização, os stakeholders.

Elemento: Esperteza

Esperteza, no contexto deste estudo, significa uma atitude antiprofissional do agente comercial

que vende seus produtos ou serviços sem a emissão da nota fiscal e prejudica a concorrência.

Conforme já foi dito anteriormente, a concorrência deve existir, mas lícita, ou seja, de acordo

com os valores éticos e legais determinantes da conduta dos agentes. Nas falas dos dois

stakeholders é visível a dificuldade de se manterem no mercado em face desta prática por outros

atores.

90

“Por que a gente tem um volume de compra bom e eu não estou conseguindo

vender ao mesmo preço que ele, então tem alguma coisa errada. Geralmente, a

gente tem uma dificuldade porque compramos tudo por nota e vem tudo com nota,

então isso gera um custo maior, e nem todos fazem isso. Assim, termina ficando com

o preço maior que o seu concorrente. Mas a gente tenta compensar isso com a

qualidade do serviço” (D2).

Nós trabalhamos com uma empresa ‘redonda’ do ponto de vista fiscal, não

queremos comprar ou vender nada sem nota, e assim fazemos há muitos anos. [...]

Temos um fornecedor que, para salvar suas contas, colocou em nossa região 10 mil

mesas, com meia nota, a 2/3 do valor de custo, pois o principal comprador dele parou

de comprar e ele colocou toda essa mercadoria aqui. Mercadorias que custam 200

reais, ele está vendendo por 120” (F1).

E continua o fornecedor 1:

“[...] Os concorrentes terminam retirando os clientes, agora mesmo eu perdi, porque

o outro fornecedor vendeu 10 mil mesas em um mercado que ele não vendia nenhuma,

essa mercadoria era para ser vendida por minha empresa. O Estado perdeu porque ele

vendeu sem nota, [...]. Isso é feito à espreita. O Estado não fiscaliza as fronteiras,

não existem mais fiscais motorizados para isso [...] Hoje, o que influencia

negativamente, que era uma coisa que estava acabando, mas agora voltou com força,

é a mercadoria negociada, sem nota. [...]Se eu fizer uma venda sem uma nota

fiscal de saída, como eu vou receber ?” (F1).

“Quando se trata de faturamento, nós perdemos muito dinheiro quando dizemos

que não podemos superfaturar” (F2).

“Eu não acho que seja questão de segurança, pois quem dá segurança é a nota fiscal”

(F3).

Percebe-se que a prática de comprar e vender sem nota fiscal ocorre no seguimento industrial,

bem como, no comercial, pelos lojistas. No comercial, o lojista que compra e vende com

emissão de nota fiscal, tem os custos maiores com relação aos que vendem sem nota, isso causa

insegurança nas relações comerciais, porque é difícil enfrentar a concorrência desleal, quando

a legalização tem um custo muito elevado, com a tributação alta como é no Brasil.

No seguimento industrial, a prática de preços é vil, em face da não emissão de nota, que gera o

superfaturamento, onera os fabricantes legalizados, que enfrentam situações de desigualdade,

para vender com o preço justo e para comprar também com preço justo. Nas falas de todos os

fornecedores é visível o sentimento de insegurança e perda de mercado, em face dessa prática

ilegal, de comprar e vender sem nota.

Um fator que chama muito a atenção no discurso de F1 é a fragilidade da fiscalização pelo

poder público na circulação das mercadorias de um Estado para outro, de um Município para

outro e, principalmente, de um estabelecimento para outro sem a emissão da nota fiscal. A saída

91

para enfrentar este tipo de concorrente tem sido a qualidade no atendimento (serviço) e no

produto, que gera um laço de fidelidade com o consumidor final.

A esperteza em manipular o mercado para obter ganhos pessoais em detrimento dos ganhos

coletivos é uma prática vil, que termina por violar a dignidade das organizações.

Jacobson (2009) em seus estudos trata de situações análogas a essas, quando descreve que a

violação de dignidade ocorre quando há uma relação de assimetria, ou seja, quando um ator tem

mais poder, autoridade, conhecimento, riqueza e força do que o outro. No caso da

comercialização de produtos sem nota, o que burla as regras comerciais têm esse poder e,

consequentemente, mais riqueza e força, forçando o outro a baixar seus preços de modo a não

mais ter lucratividade, mas de tentar segurar os clientes, senão entrará no processo de

endividamento, que poderá chegar à falência. A violação de dignidade está envolta numa

relação social formada por desigualdades, como essa que se apresenta.

Ressaltando ainda que o agir sem emissão de nota fiscal, na busca de benefícios próprios,

utilizando o outro como meio apenas para obtenção desses benefícios, vai de encontro à teoria

da ação comunicativa de Habermas (1988) que propõe um agir baseado no diálogo democrático

entre os agentes. O diálogo e o agir racional é exatamente a proposta de partilhar os ganhos e

todos saírem satisfeitos com a prática de vantagens recíprocas.

Gutierrez; Almeida (2013), baseados nos estudos de Habermas (1998), afirmam que os sujeitos

têm uma capacidade de interagirem intra e entre grupos, e o agir racional é o agir em que não

se busca benefícios pessoais em detrimento de benefícios coletivos, pois, a inteligibilidade das

ações é a preponderância da confiança.

Num mercado como se demonstra no discurso dos atores, o que parece ser ganho em dado

momento, termina sendo uma ilusão ou mesmo benefício de curto prazo, pois, o mercado

econômico e comercial vive em cadeia. Se um membro deste ciclo quebra, termina por

desequilibrar o grupo, ou até mesmo quebrar toda a cadeia. Deste modo, o agir racional é

exatamente ter atitudes éticas e de ganhos partilhados.

92

Elemento: Usurpação

Este elemento, como o anterior, reflete uma prática de violação da dignidade organizacional,

pois, a usurpação, neste estudo, tem o sentido de ofertar preço e quantidade dos produtos com

a aparência de vantajosos para o comprador, e termina por endividá-lo.

“Hoje, o melhor prazo que eu tenho é 60 dias, este é o melhor prazo de compra. Eu

não quero mais porque quanto mais longe você compra, parece que sua dívida

não acaba nunca. Mas hoje o mercado está ditando isso. Você pega o máximo na

compra e dá o máximo na venda. Isso acarreta num endividamento em massa, de

todas as empresas, de todas as pessoas, de todas as lojas, porque é todo mundo

buscando, cada vez, colocar para mais longe os prazos, o que causa um

endividamento a médio e longo prazo” (F1).

“Mas tem essa dificuldade de alguém ofertar, oferecer alguma vantagem. Às vezes,

essas vantagens tem uma segunda intenção, que eu vejo como negativa. [...] Esse é

o grande X da questão, principalmente, de viabilizar um trabalho, de não ficar

inadimplente. Eu tento oferecer a ele o que ele pode comprar e que todo mês ou,

no máximo, 60 dias, ele possa pagar, porque ele vai ganhar ‘no giro’. Alguns

fabricantes de indústrias maiores, no Sul e Sudeste, tentam vender um volume

maior, oferecendo essa questão do preço. A gente mesmo faz, enquanto

consumidor. Vai comprar uma peça, aí leva duas, mas pergunta se o preço fica

melhor. Tem essa questão do quantitativo, eu não acho que é uma saída, porque

prejudica o comerciante” (F2).

E continua o fornecedor 2,

“Nós temos uma dificuldade com o concorrente nesse sentido, de oferecer preço e

estabelecer uma quantidade maior, com isso, pessoas que eram bons pagadores,

se tornaram maus pagadores. Então, essa oferta que oferece vantagens por

quantidade, interfere muito. Se o lojista tiver o pé no chão, ele tem o discernimento

que vai se endividar e, assim, cresce. Mas se ele não tiver, vai interferir em cadeia.

O mercado não é brinquedo, tem que ser trabalhado os critérios, a ética, a

responsabilidade para quem a gente está vendendo tem que ter. É lógico que tem que

haver essa concorrência, mas no sentido sadio, que possa viabilizar melhor, mas sem

forçar a barra” (F2).

Nas falas dos dois fornecedores, a prática de vender por preço baixo com mais quantidade, que

parece atraente é uma armadilha, pois o lojista tem que comprar produtos que “girem”, ou seja,

que sejam vendidos, que não fiquem nos estoques por muito tempo. O lojista que compra muito

de uma vez por conta do preço, pode correr o risco de não vender e ficar endividado. Esta

prática, que parece ser vantajosa, não o é, pois todos estão em cadeia, e se um começa a não

cumprir com seus prazos e pagamentos, a tendência é desequilibrar o todo.

A vantagem é apenas uma aparência, quando ocorre o endividamento geral, veja-se na fala de

(F1) “Isso acarreta num endividamento em massa, de todas as empresas, de todas as

pessoas, de todas as lojas”. Então, a prática de ofertar preço baixo com a elevação da

93

quantidade de vendas é uma desvantagem de forma geral; a vantagem é que o lojista compre

pouco e com frequência e que o produto “rode” em seu estabelecimento, pois ele não fica

endividado, e, consequentemente, continua mantendo a relação comercial com todos os

fornecedores.

O estendimento de prazo também é um fator que parece ser vantajoso, mas, de certo modo fica

só na aparência. O quantitativo de tempo para quitar a obrigação contraída se transforma em

prorrogar a dívida. Conforme afirma (F2), “Se o lojista tiver o pé no chão, ele tem o

discernimento que vai se endividar e, assim, cresce. Mas se ele não tiver, vai interferir em

cadeia”. Essa prática termina por violar também a dignidade organizacional, porque reflete um

agir individualista em detrimento do agir coletivo, mais vantajoso para o grupo.

Com base na teoria da ação comunicativa de Habermas (1996), a ação estratégica

organizacional deve orientar a obtenção do sucesso, quando todos aceitam com seriedade as

intenções proferidas pelo outro. Neste caso, a seriedade está em não apresentar propostas com

aparência de vantajosas, com interesses camuflados de ganhos pessoais, utilizando o outro

como meio apenas, pois a responsabilidade exigida nas relações comerciais é de todos

partilharem de lucratividade, através da confiança no que é dito por todos, clientes,

concorrentes, consumidor, parceiros, entre outros.

Elemento: Blefe

Este elemento diz muito sobre o comportamento dos atores. O blefe significa a não resolução

das dificuldades surgidas nas relações comerciais. É omitir-se do cumprimento das obrigações

assumidas.

“Eu vejo da seguinte forma: pode ser que, naquele período, tenha ocorrido algo que

fez com que ele não me entregasse, mas se for toda vez a mesma coisa, você vê

que não é um fornecedor sério” [...]Agora quando o problema é recorrente, aí

mudamos de fornecedor (D1).

“Qualquer cliente que não cumpre aquilo que foi previamente combinado... [...]

Quando o cliente não paga correto, a gente coloca ele numa fila de espera, na lista

de cliente de risco” (F1).

É aquele cliente que faz um acordo e cumpre ou, se não cumpre, volta para

renegociar. [...] Mas quando você fica ligando para o cliente e só recebe não como

resposta fica sem subsídios de ter jogo de cintura com esse cliente para mais nada à

frente (F3).

94

Este elemento reporta à negligência do profissionalismo para com os stakeholders. Ocorre com

a reincidência de determinadas práticas na entrega dos produtos com atraso, ou mesmo na troca

dos produtos propositalmente, para aliviar o estoque. São ações que quebram a confiança dos

parceiros nos negócios.

A prática do blefe é entendida por (F1) como um cliente de risco, pois, é o cliente que não

cumpre com suas obrigações e não se preocupa em manter o relacionamento sadio. É o cliente

que não dialoga, é omisso com relação aos seus compromissos.

Porter (2004) afirma que significa informar ao outro qual a intenção da empresa e quais recursos

ela disponibiliza para que não haja nenhum tipo de ruído na comunicação e, consequentemente,

desacordos no que foi pactuado. O blefe é justamente a quebra do compromisso, é o

estabelecimento de cizânias nos negócios.

Este agir pode ser compreendido como irracional, no sentido de que o rompimento do

compromisso contratual estabelece um agir desleal, causador de ruídos nas relações

estabelecidas no mercado. A falta de ponderação e visão macro das situações advindas por

determinadas atitudes tomadas no presente que pode ter repercussão favorável ou desfavorável

no futuro, e deixar as máculas no passado, pois é contaminada pelos interesses pessoais em

desfavor dos recíprocos, conforme dito anteriormente.

Em Habermas (1984), a racionalidade está no fato de que a decisão ou resolução seja pautada

na sinceridade que vai envolver o outro, sem qualquer intenção de enganar. Todos chegarão ao

sucesso, se os ganhos forem recíprocos. Por isso, este elemento, blefe, vai de encontro às

propostas de Habermas (1984), e os resultados de ações enganosas refletem a violação da

dignidade das pessoas. Nas organizações, é falta de respeito aos stakeholders. A falta de

lealdade.

Da análise geral que se faz da compreensão que os sujeitos entrevistados têm sobre os elementos

de dignidade organizacional com relação aos acordos comerciais firmados com seus clientes, é

que as respostas se relacionam com a literatura utilizada para embasamento da pesquisa.

Verifica-se no conteúdo das respostas de todos, que as afirmações descrevem alguns dos

elementos de dignidade organizacional proposto por Jacobson (2009), quando define os

elementos de promoção e de violação da dignidade.

95

Na promoção da dignidade, os elementos “controle” e “criatividade se destacam no discurso,

porque as decisões, de acordo com eles, devem ser tomadas para beneficiar os envolvidos nos

negócios.

Outros elementos de promoção da dignidade por Jacobson (2009) são a “cortesia” e a

“presença”, que refletem a empatia nas relações entre os indivíduos. Percebe-se no discurso de

todos, o pensar no outro e no respeito ao trabalho que o outro desenvolve na fabricação e

comercialização dos produtos, quando do respeito ao preço atribuído aos produtos por seus

fornecedores e compradores.

Interessante a harmonia existente entre todos, pois as respostas são semelhantes e as entrevistas

foram feitas de forma que um não tivesse contato com o outro no momento do encontro,

principalmente com os dois diretores do grupo empresarial; pois as entrevistas se realizaram de

modo que não houve contato entre eles antes das suas falas. O pensar o outro como um parceiro,

e que todos devem ascender e ter satisfação de forma igualitária é muito comum na fala e gestos

de todos, durante as entrevistas. Percebeu-se que os dois diretores têm muito respeito aos seus

fornecedores, e estes últimos vice-versa. Visível em todos a possibilidade de um diálogo muito

aberto e sincero, o que denota confiança na relação comercial.

No discurso de todos, identificou-se o elemento de promoção da dignidade proposto por

Jacobson (2009) “nivelamento”, que significa reduzir as assimetrias e a aceitação do outro com

igualdade de valores, quando ambos falam que a satisfação deve ser recíproca, que não vale a

pena a venda só pela venda, mas quando os ganhos são satisfatórios. Percebe-se, na fala de

todos, o respeito às diferenças e a valorização do indivíduo em seus defeitos e qualidades, como

fazendo parte da vida, um dever que deve ser respeitado e considerado nas relações comerciais.

Outros elementos de promoção da dignidade propostos por Jacobson (2009), muito evidentes

no discurso de todos, é a “autenticidade” e o “reconhecimento”, no sentido de mostrar apreço

pela disseminação da humanização.

O que se percebe nas entrelinhas das falas de todos é o sentimento de humanidade, tanto entre

cliente e fornecedores, como também, para o consumidor, pois o trato comercial envolve

relacionamento com pessoas nas duas esferas, com os compradores versus fornecedores de

produtos, bem como, lojistas versus consumidores (crianças, adultos, idosos, homens,

96

mulheres, adolescentes, etc.); sendo assim, deve-se ter tato para manter bons relacionamentos

com todos, sempre privilegiando os valores individuais e, sobretudo, ser você mesmo, íntegro.

4.3 Informação e poder como indicadores de dignidade organizacional nas relações

comerciais entre dois stakeholders: diretores de um grupo empresarial e seus fornecedores

industriais

Nesta seção, a proposta é verificar se a análise e discussão dos dados atende a proposta do

segundo objetivo específico deste estudo, seguindo a categorização metodológica proposta.

Categoria: Informação e Poder

Transparência nas negociações

Nesta seção, abordar-se-á como o diálogo, entre os agentes nas negociações comerciais, é

compreendido de forma inteligível, no qual o que é dito é aceito e praticado por todos.

“Ela é transparente quando coloca um preço justo. Ela avisa um prazo de entrega

e cumpre com o prazo que ela está prometendo. Aí fica uma relação transparente

entre a gente e o fornecedor, fica fácil de a gente fazer as negociações. Prometeu tal

data, cumpriu aquela data, isso é muito importante. Isso vai influenciar bastante e

fica transparente para a gente e também para eles” (D1).

“Tem que haver respeito, tanto nosso quanto do fornecedor” (D2).

“É tudo muito às claras. [...] É tudo muito claro, muito limpo. [...] Todos trabalham

na mesma linguagem. Não existem negociações paralelas. [...] A negociação, para

que não haja conversa paralela junto ao meu cliente é dessa forma, se ele quiser

trabalhar com alguém de uma forma que não é o padrão, fique à vontade, eu não posso

acompanhar. [...] É todo um circuito de pessoas idôneas” (F1).

“Nós sempre tivemos essa preocupação de prestar esse serviço com qualidade. Eu me

preocupo também com o respeito no sentido da confiabilidade, da credibilidade,

do que com uma venda, seja ela no preço que for. O valor da compra não é o que me

incomoda, mas o relacionamento, é estar trabalhando de uma forma transparente,

que possa somar, que todos possam ganhar” (F2).

“Eu acho que a forma como a gente opera aqui é transparente. [...]Eu acho que essa

transparência é você ser realista” (F3).

A comunicação clara e transparente é entendida pelos atores nas relações comerciais sob

diversas óticas. A fala de (D1) corresponde ao cumprimento do acordo nos prazos e a prática

de preço justo. Preço justo sendo aquele que traga satisfação às duas partes envolvidas nos

97

negócios. Para (D2) a transparência na comunicação está no respeito mútuo praticado por todos

nas negociações.

Transparência na comunicação para (F1) é trabalhar dentro da legalidade, sem transações

paralelas. Todos devem falar a mesma linguagem e buscar manter-se idôneos em seus

compromissos. Para (F2), a transparência está na credibilidade e confiança estabelecida entre

os agentes. O relacionamento deve seguir um rumo em que todos tenham benefícios e

lucratividade mútua. Para (F3) é ser realista. De acordo com o relato de (F3) na entrevista, todas

as dificuldades ocorridas com algum dos envolvidos nos negócios deve ser evidenciado ao

parceiro, “sentar e conversar”, afirma (F3). O diálogo é a forma adequada de estabelecer um

bom relacionamento, mas um diálogo sincero.

Transparência na comunicação leva ao entendimento de equilíbrio do poder e da informação no

convívio entre os agentes das relações comerciais. Este fato é bem definido por Rizzardo

(2010), ao tratar da boa-fé como essencial nos contratos. Neste sentido, a transparência do que

é dito e aceito como verdadeiro no pacto contratual, deve promover a dignidade para todos.

Percebe-se a confirmação dos estudos de Correia (2014) no sentido que a comunicação é um

processo de interação entre as pessoas. O consenso e acordos firmados depende do código

utilizado, da estrutura da mensagem e dos canais de comunicação. No discurso de todos, fica

claro este código, linguagem comum a todos, clara e objetiva; a estrutura, são as negociações e

tratativas de preço e prazo para desfecho dos negócios e os canais utilizados, que são os

representantes comerciais, os e-mails e as notas de pedidos, juntamente com os catálogos.

A Comunicação pautada na confiança, na inteligibilidade e no diálogo claro e verdadeiro para

se atingir ganhos mútuos, traduz-se em promoção da dignidade, pois, todos têm amplitude de

direitos na construção do consenso, que é regulado por benefícios recíprocos, em detrimento de

interesses particulares. Essa proposta confirma a teoria da ação comunicativa de Habermas

(1984).

O poder dos agentes nas negociações

Nesta seção, o foco do estudo contempla se existe um poder de hierarquia entre os agentes nas

negociações comerciais.

98

“Tem muitas fábricas que elas “se acham”, entendeu? Ela se acha a “top dos tops”,

só ela que domina aquele mercado, mas não é bem assim. A gente tem que ter,

realmente, esse senso, dizer que eles precisam da gente e a gente precisa deles,

então não tem que ser um melhor ou o outro menor. Agora, obviamente, que redes

grandes tem um preço de barganha melhor. Eles fazem um preço mais acessível

do que a gente, aqui. E se ele vender um produto a um fornecedor que compra em

grande quantidade, aí eu não compro, eu já compro outro produto para que eu

não venha a chocar preço, para que não fique com a imagem da loja que vende mais

caro. Eu corro daquele produto, deixo de comprar ou mudo para outro” (D1).

“Não. Sempre no mesmo nível” (D2).

“[...] Agora, é frequente, por causa desses grupos. [...] os pequenos formaram as

redes, que está pegando a mesma formulação desses grupos. A rede são vários

lojistas que estão se unindo, fazendo tipo uma cooperativa e negociam da mesma

forma, só que, na hora de comprar, compram como um usuário, não compram 10 ou

20 produtos, querem comprar um produto pela condição de quem comprou mil, o

que é pior ainda. [...] não estamos conseguindo vender porque causa disso. Isso é

uma coisa que tem crescido, esse tipo de prática” (F1).

“É muito raro isso acontecer, mas, devido a oferta, que é o que corrompe e confunde

o comerciante, a oferta muito maior do que a procura, então, às vezes, ele se

envaidece, e o ego pode confundir, então pode haver de forçar a barra, nesse sentido.

É achar que está fazendo um favor ou dizer que só compra por tal preço. Às

vezes, as redes de loja, de uma forma terceirizada, acontece de eles exagerarem, nesse

sentido” (F2).

“Várias vezes. Existe duas situações bem claras. O cliente hoje tem tudo nas mãos,

inclusive, o poder de pagar, afinal de contas, tanto eu como ele, não vive para fazer

graça para ninguém, a gente vive para transformar o nosso trabalho em algum

dinheiro. Então eu acho que, sempre, o cliente está com o poder na mão,

principalmente, quando é um cliente visto pelo mercado como bom pagador. Você

nunca ouviu falar de leilão de cliente? O cliente liga para um e para o outro, eu tenho

aqui fulano que faz por um preço, você faz por quanto? Isso acontece” (F3)

Continua o fornecedor 3,

“Eu nunca me senti no lado inverso, a não ser pelo fato de o produto da gente ter

uma marca, tem muita gente nova que quer trabalhar com a gente, mas não

conseguimos informações do mercado para trabalhar. É uma situação em que eu sinto

que tenho uma força, mas não uma força imperativa. Eu tenho uma força de

atrair o novo para um produto legal, bom, mas força de fazer com o cliente o que

eu quiser, não. Em momento nenhum a gente tem esse tipo de poder. Eu acho que

só as grandes empresas possuem esse tipo de poder (Apple, Microsoft, Coca-Cola,

Danone). Quem tem quase que uma ‘comodit’ não tem como trabalhar de outra forma”

(F3).

No discurso de todos os entrevistados, o poder aparece como uma faculdade de dominar o

mercado, dependendo do movimento econômico de demanda e oferta. Dada a situação, o poder

muda de lado. Quando entrevistados, os diretores do grupo empresarial (D1) afirmam que o

poder está nas mãos de fornecedores que negociam com grandes empresas. Assim, o poder de

barganha das empresas de grande porte é maior do o poder das empresas de médio e pequeno

porte. Por isso, não é viável negociar com os mesmos produtos que são direcionados àquelas

99

empresas, pois a prática de preço é inviável e termina por prejudicar os pequenos, em face da

não atratividade de preços, que tendem a ser mais altos pelas empresas de pequeno porte.

Nos argumentos trazidos por (D1), é interessante a proposta de que todos devem se perceber

como dependentes uns dos outros. O fornecedor precisa do lojista para vender seus produtos

e o lojista precisa do fornecedor, pois não fabrica produtos, apenas vende-os.

No discurso dos fornecedores, percebe-se várias informações. A informação de (F1) descreve

o surgimento de uma espécie de cooperativas, nas quais os associados, em grupos, buscam as

melhores propostas para comprar a preço no mercado. As propostas não são boas para os

fornecedores, segundo (F1), porque os clientes compram pouco e desejam preços de quem

compra muito, o que é inviável para o fabricante.

Na opinião de (F2), o poder se estabelece no movimento de oferta e procura do mercado. Quem

está em alta determina o preço, por entender que está prestando um favor ao outro.

Na opinião de (F3), o cliente tem o poder em mãos, principalmente, aquele cliente conhecido

como bom pagador. Entretanto, o fornecedor de produto de ‘marca’, às vezes, consegue

negociar com os clientes, inclusive, pesquisar e ver clientes bons para vender seus produtos.

(F3), como fornecedor, afirma nunca ter ficado com o poder em mãos. Só quem tem o poder

em mãos, enquanto fornecedor, são as grandes corporações.

Conforme se verifica no falar de todos, o poder modifica comportamentos e pode causar

grandes estragos, se não for bem conduzido pelo empoderado. Correia (2014), em seus estudos,

classifica o poder no processo de compra e venda, em diversas formas de manifestação.

Analisando os discursos, percebe-se que algumas características da classificação de poder feita

por Correia (2014), no quadro 8, aparece nas falas dos entrevistados.

O poder de informação é objeto de estudo de Correia (2014), que assinala que pode ser

compreendido como detentor do poder a pessoa que tem mais conhecimento e poder de

persuasão. Este tipo de poder aparece na fala de (D1) “Ela se acha a “top dos tops”, só ela que

domina aquele mercado”, o fornecedor transparece ter o poder supremo, por ditar as regras

do mercado comercial, pela imposição de seu gigantismo. O discurso de sua publicidade e

100

propaganda impinge aos receptores da mensagem a grandiosidade de domínio que ele deseja

ostentar.

O poder de coerção (CORREIA, 2014) é evidente no discurso de (F2), quando afirma as

circunstâncias mercadológicas atuantes na pressão e imposição de preços e prazos nas

negociações comerciais. O cenário atual, de crise, de redução de demanda, confirma este poder

de coerção, pois todos os entrevistados estão apreensivos com a situação atual, aliada à queda

das vendas.

O poder especialista, também estudado por Correia (2014), comprova-se na fala do fornecedor

3, quando afirma que:

“Eu nunca me senti no lado inverso, a não ser pelo fato de o produto da gente ter

uma marca, tem muita gente nova que quer trabalhar com a gente, mas não

conseguimos informações do mercado para trabalhar. É uma situação em que eu sinto

que tenho uma força, mas não uma força imperativa. Eu tenho uma força de

atrair o novo para um produto legal, bom, mas força de fazer com o cliente o que

eu quiser, não” (F3).

O poder de (F3), se encontra na especialidade de fabricar produtos conhecidos pela boa

qualidade e, ainda, pelo fato de a marca ser consagrada no mercado. Isso demonstra seu

domínio, de certa forma, na escolha de novos clientes.

O poder de recompensa, também estudado por Correia (2014), se confirma na fala de (F1)

quando afirma existir a formação de cooperativas de lojistas para obter preços e prazos

diferenciados. O poder de recompensa se manifesta, dessa forma, quando o comprador tem mais

poder que o vendedor.

O poder estabelecido entre os dois stakeholders, conforme se verifica ao longo deste estudo, é

benéfico às partes, pois há respeito, confiança e sinceridade, haja vista que todos demonstram

desejos afins de lucratividade comum.

No dizer de todos os entrevistados, percebe-se que, nas relações com outros stakeholders, o

poder parece ser o violador da dignidade organizacional, estudado por Jacobson (2009), pois

existe a sobreposição de interesses; promove a assimetria na ordem social e mantém as situações

de vulnerabilidade, que não é salutar aos agentes nas relações comerciais. Esta violação de

dignidade se assemelha à violação de dignidade na área da saúde, proposta por Jacobson (2009).

101

A forma de expressão do poder nas relações comerciais, evidenciadas nas falas dos

entrevistados com relação a outros stakeholders, que não são os participantes da pesquisa,

perece ir de encontro à comunicação inteligível de Habermas (2012), pois ele afirma que o

princípio de integração social convoca a interação dos indivíduos que agem na sinceridade e na

intenção de todos alcançarem o sucesso. Entretanto, o poder identificado no resultado da

pesquisa no pensar dos entrevistados com relação aos outros stakeholders que não foram objeto

da pesquisa, se apresenta de forma contrária aos estudos de Habermas (2012), pois não existe

harmonia, sinceridade, confiança e desejos afins, quando a proposta é obter melhor preço e

prazo, numa conquista à força. A expressão do poder hierarquizado viola o que seja

racionalização no dizer de Habermas, pois a comunicação não é a mesma entre o emissor e o

receptor da mensagem.

A informação nas relações comerciais

Nesta seção, o foco do estudo se propõe em verificar como fica a relação comercial em situações

de ações não ditas, mas praticadas por uma das partes.

“Se a quantidade que eu comprei não ‘bater’, eu entro em contato diretamente

com a fábrica e pergunto o que eles vão fazer para prorrogar o pagamento,

porque eu não pedi e eles que resolvam ou, senão, eu tiro uma nota de devolução

e a mercadoria segue. Por que eu só quero pagar, realmente, o que eu estou

comprando. Aí dá-se um jeito, eles colocam a duplicata mais adiante, frete mais

adiante, dá o jeito deles e a mercadoria é descarregada. Raramente há devolução

porque eles acham que não vale a pena devolver, acham melhor resolver tudo

aqui mesmo. Às vezes, as fabricas mandam os produtos com outras cores, aí a gente

deixa de comprar a esse fornecedor porque sabe que não é uma firma séria. Você

compra uma cor e vem outra, não pode! Aí manda o que tem lá, no depósito. Tem

que trabalhar sério. Se eu peço essa cor é porque eu estou precisando dessa cor,

se manda outra, eu não quero” (D1).

“Se identifica antes, a gente faz devolução. [...]se identifica depois, na casa do

cliente, a gente para de trabalhar com o fornecedor. Se eu peço uma determinada

quantidade e vem a mais, a gente faz negociação. Tem representantes que gostam

de fazer o que eles chamam de “venda programada”, aí vem muitos produtos,

tivemos que alugar um depósito para colocar, e como eles não querem que a

carga volte – por conta do frete - a gente negocia a data de pagamento e,

geralmente, eles aprendem a não fazer mais isso. [...] se você não comprou é

porque não precisa” (D2).

“Tem o cliente que pediu uma cor, aí vai outra, mas ele está acostumado a vender

todas, dá um adiamento naquele título, considerando o que ele ia comprar depois,

para compensar. Se for do interesse dele, devolve o produto e vai o produto que

ele pediu, ou seja, a gente sempre faz o que precisa ser feito. A gente trabalha

para não errar, mas se o erro acontecer, vamos corrigi-lo, não tem trauma quanto

a isso. A gente não vai forçar o cliente a ficar com o produto ou qualquer coisa,

quem erra tem que assumir o seu erro e corrigir. Pedir desculpas” (F1).

102

“Acontece, sobretudo, na cor, de o representante errar. [...] Isso tem sido contornado

de uma forma fantástica porque, às vezes, o cliente não devolve. Talvez o trato que

nós temos, essa confiança, então a gente resolve sem que façam a troca do

material” (F2).

“Acontece. Quando eu identifico o problema antes do cliente, eu mesmo que ligo

para realizar a troca, quando o cliente percebe antes de mim, ele quem liga.[...]

Às vezes, só o cliente está certo, ou o representante anotou alguma coisa errada

e ir uma cor, uma estampa errada. A gente recolhe, na hora, e troca. Eu não

lembro de haver nenhuma situação com relação ao envio equivocado na

quantidade de produtos para um cliente” (F3).

E ainda afirma o fornecedor 3,

“Ocorre de, às vezes, eu ter um pedido e faltar um tanto de produtos para

completar, por falta de material. Aí eu ligo para o cliente e falo que a carga vai

faltando alguns produtos, envio um documento de pendência e, assim que chegar,

eu mando. Cliente que pagou a mais, nós ligamos para avisar ou, na próxima

compra, abate. Os nossos clientes têm muita confiança no que é dito aqui. Se

ocorrer de ir um produto com uma cor errada, eles ficam com o produto. Eles ligam

para perguntar o que está vendendo, a gente fala e eles compram, eles sabem que nós

não somos de ‘empurrar’ produtos” (F3).

A relação entre compradores e fornecedores, neste estudo, se mostra tão equilibrada que o

resultado obtido em como lidar com ações não ditas, mas praticadas por um dos agentes,

demonstra que a informação não é um problema, neste contexto.

Percebe-se na fala, tanto dos diretores, como dos fornecedores industriais, o consenso na forma

de resolver situações extraordinárias sem macular a relação, ou mesmo de elevar os custos com

entregas e devolução de produtos circulados sem o pedido ou mesmo na cor divergente da

solicitada. A harmonia para resolver de forma que não traga prejuízos às partes é sinal de muita

confiança e respeito.

Interessante ressaltar determinadas falas, que demonstram a seriedade como é levada a relação

comercial. A exemplo de (D1), quando afirma não mais firmar negócios com fornecedores que

cometem erros contínuos, cujo interesse é repassar produtos de seus estoques, sem que houvesse

o pedido do produto ou cor divergente da solicitada. Mesmo afirmando que “dá um jeito”, se

percebe a má-fé do outro, devolve o que não pediu e desfaz a relação.

Na fala de (D2) também, percebe-se que o interesse é sempre de dialogar e fechar um acordo

viável para os dois, entretanto, se há interesses de angariar vantagens para esvaziar estoque, a

relação não se mantém e ele devolve o que não pediu.

103

Os três fornecedores são unanimes em afirmar que buscam corrigir os erros cometidos. (F1)

afirma que resolve da melhor forma, para não criar atritos. Considera que errar é humano, mas

busca o diálogo para resolver o impasse. (F2) diz que resolve tudo na confiança. (F3) também

afirma resolver da melhor forma. Quando toma conhecimento antes do cliente já o avisa, ou

vice-versa. Manda o produto correto, ou a peça que falta, troca a cor. Diz que trabalha com

seriedade e seus clientes estão cientes de que não gosta de “empurrar” produtos.

As informações obtidas neste contexto, coadunam com as estratégias organizacionais. Como

dito por Porter (2004, p. 104) “ a comunicação de um compromisso reduz a incerteza”. As

palavras de Porter (2004) ficam evidenciadas no resultado encontrado, quando todos os agentes

buscam o diálogo para resolver o não dito, mas praticado. Esta é uma estratégia empresarial,

muito bem tomada pelos dois stakeholders e para os compradores, porque ganham mais prazos

e, sabendo da confiança que têm em seus fornecedores na relação amistosa, não devolvem

quando vem em excesso ou em cor diferente. Para os fornecedores, a concessão de prazo para

o produto não retornar ao seu estabelecimento evita muitos problemas fiscais e mal-estar com

seus clientes. Dessa forma, a estratégia tomada agrada e satisfaz a todos.

A manutenção do cliente pelo fornecedor é interessante porque visa reduzir as ameaças dos

concorrentes. Quanto mais o cliente fica satisfeito com seus produtos, serviços e atenção

dispensados, mais os laços de afinidade se mantêm firmes.

Nestas situações, também se comprovam os pensamentos de Habermas (1996), quando afirma

que a sinceridade é imperiosa para que todos os envolvidos no processo tendam a alcançar o

sucesso. Nesse caso, a informação na comunicação estabelecida entre os agentes nas

negociações comprova que todos primam pelo sucesso partilhado, por isso, agem com

transparência e honestidade.

104

4.4 A visão dos diretores de um grupo empresarial sobre dignidade organizacional com

relação aos acordos comerciais firmados com seus fornecedores industriais, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

Nesta seção, a proposta é verificar se a análise e discussão dos dados atende à proposta do

terceiro objetivo específico deste estudo, seguindo a categorização metodológica especificada

anteriormente.

Categoria: Termos dos acordos comerciais

As relações comerciais entre os dois stakeholders, os compradores e os fornecedores se iniciam

a partir do contato com a empresa e com o representante comercial. Conforme afirmam os

diretores do grupo empresarial.

“Visita de um representante que faz uma visita até a loja, aí a gente olha o produto

e, se nos agradar, a gente compra. [...] Pode acontecer de algum representante querer

deixar um produto sem que você tenha a obrigatoriedade de faturar imediatamente.

Eles dão o nome de consignado. Se vender, você vê se vale a pena ou não” (D1).

“Nós ligamos para a empresa ou para o representante e ele vem aqui. Nós vemos

como estão os preços e, geralmente, seleciona o produto dele com um que seja

próximo, para ver se tem muita diferença nos valores, vê se o produto dele tem boas

vendas e o prazo que ele dá” (D2)

As primeiras compras são reduzidas e, às vezes, o fabricante entrega determinado produto em

consignação para o lojista vender. De acordo com a rotatividade dos produtos, os pedidos vão

aumentando. O consumidor final é o termômetro. A partir do volume de vendas e cumprimento

nos pagamentos, os prazos irão se alterando.

O prazo

Nas relações comerciais, prazos estão relacionados à forma de pagamento em parcelas do

faturamento dos produtos solicitados pelo cliente, bem como, da data de entrega dos pedidos

dos fabricantes aos lojistas.

“Atualmente, de 120 a 150 dias. Somente. Agora, com essa crise que está havendo,

teve fábricas que colocou até em 10 vezes, mas o certo é, no máximo, 150 dias. [...]Ela

avisa um prazo de entrega e cumpre com o prazo que ela está prometendo” (D1).

“Conseguimos prazos como se fossemos uma rede, eles nos dão o maior prazo que

podem, o maior desconto. Eles mesmo já negociam para nós. Somos honestos, a

gente não compra nada que não possamos pagar. Geralmente, eles já vêm com o

melhor que pode” (D2).

105

Na fala dos diretores do grupo empresarial, os prazos são acordados entre as partes, mas, com

relação a eles, os fornecedores concedem prazos diferenciados em face do relacionamento

amigável, e de longas datas, porque eles cumprem com os pagamentos no vencimento.

A concepção de prazo dita pelos entrevistados se relaciona com a característica de prazo alegada

por Guimarães (2006), quando afirma como “convencional”, pois ajustados pelas partes nas

negociações. Entretanto, neste caso, também se identifica o prazo classificado como “de graça”,

que é aquele que o credor concede gentilmente ao seu cliente, quando (D2) afirma

“Conseguimos prazos como se fossemos uma rede, eles nos dão o maior prazo que podem.

[...] Eles mesmo já negociam para nós”.

O cumprimento do prazo, seja de entrega do produto na data prevista, seja no pagamento no

vencimento, gera credibilidade e confiança na relação. A afinidade evolui de tal forma que os

prazos já não são mais objeto de negociação, pois, o credor já estabelece o melhor prazo ao seu

cliente, sem a necessidade de solicitação. Por outro lado, o cliente sente-se tão valorizado que

busca vender mais produtos daquele fornecedor. Confirma-se esta gratificação do cliente na

parceria com seu fornecedor de mais afeição na fala de (D2) “[...] porque quanto mais prazo

ele der, mais a gente acrescenta vendas”.

O prazo é, portanto, um termômetro que mensura a relação comercial, pois os agentes

comerciais buscam manter negócios com aqueles que são cumpridores de suas obrigações. Isto

é um sinônimo de dignidade organizacional.

O preço

Nas negociações comerciais, o preço é utilizado como instrumento de grande valia por todas as

pessoas, pois é alvo de muitas discussões e debates antes de fechamento das propostas. O preço

é a primeira impressão que chama a atenção do comprador.

“O preço é aquilo que realmente ele vale. Você tem que ver tudo quando vai

comprar um produto, se realmente aquele preço está sendo justo porque o que existe,

atualmente, no ramo moveleiro, é que são produtos muito parecidos. Eu até brinco: é

a mesmice! Aí você vai vendo o preço e vai comparando. Se é MDF, se é MDB,

aglomerado, se é de chapa de 15, chapa de 18, aí você começa a ver esses detalhes

que vão fazer toda a diferença na sua loja. Aí o preço, realmente, você tem que estar

bem atento às negociações” (D1).

106

“O mercado cota preço, mas a gente fideliza. [...] Nessa briga de preço não adianta

entrar, é qualidade no produto e ter o preço justo. [...]geralmente, a gente trabalha

com o preço que ele coloca, que dá para vender e ganha satisfação na parceria.

[...] Nós vemos como estão os preços e, geralmente, seleciona o produto dele com

um que seja próximo, para ver se tem muita diferença nos valores, vê se o produto

dele tem boas vendas e o prazo que ele dá. [...]a gente tenta negociar com eles o

maior prazo que eles puderem, o melhor preço, desde que não afete na comissão

deles. [...] O cliente, hoje, quer isso, ele quer qualidade e quer preço, mas entre o

preço sem qualidade, ele prefere levar uma coisa mais cara” (D2).

Na fala dos dois diretores do grupo empresarial, preço tem várias características nas

negociações. Inicialmente, o preço tem que ser ‘justo’, no sentido de pagar o preço certo de

acordo com a qualidade do produto, conforme aduz (D1,) “aí o preço, realmente”. Preço como

‘fonte de negociação, pois os lojistas buscam fechar negócios com custo o mais baixo possível

para também propor valores no mercado que possam superar os concorrentes. Desse modo, o

preço é uma “ferramenta, muitas vezes, decisiva nas negociações comerciais”. Na fala de (D1)

percebe-se, exatamente, o que propõem Amato Neto; Marinho (2014) sobre preço nos negócios.

O preço de ‘satisfação’ é aquele valor estabelecido que agrada a todos nas negociações. Ao

fabricante, porque fica dentro de sua margem de lucro e ao lojista, porque, além da margem de

lucro, pode combater seus concorrentes com preços mais atraentes aos consumidores. Na fala

de (D2), identifica-se esta postura de prática de preço satisfatória a todos os parceiros.

Há de se ressaltar que o preço nas negociações pode gerar antagonismo entre cliente e

fornecedor. Na fala de (D2) “em briga de preço não adianta entrar”, confirma exatamente o

que foi dito por Amato Neto, Marinho (2014), que o preço leva ao antagonismo e conflito nas

relações, podendo causar o rompimento de relacionamentos comerciais de muitos anos de

parceria. Por isso, preço é um termômetro também para avaliar como está a relação dos agentes

nos negócios comerciais.

Outro fator também relacionado ao preço é o que (D2) afirma: “preço é cotado pelo mercado”.

As palavras dele refletem os estudos de Angelo; Silveira et al. (2000), quando aduzem que o

preço é estabelecido pelo mercado de consumo, pois o consumidor é quem define o preço ideal

para os produtos, quando compra ou não compra determinado objeto, cuja avaliação é o preço.

107

A qualidade

Nas negociações comerciais, a qualidade também é alvo de muitas discussões, pois, é o

consumidor final quem avalia a qualidade dos produtos para pagar o preço que acha justo.

Qualidade é um requisito que vem passando por muitas concepções para fabricantes, lojistas e

consumidores.

“Você precisa ver os detalhes. Chapa de 15, chapa de 18, a profundidade. Tudo

isso vai influenciar na avaliação do fornecedor. [...] Você observa se a qualidade

é do seu cliente/consumidor, nesse momento da negociação. [...] Um produto sem

qualidade prejudica a gente porque tem que ir na casa do cliente trocar peça. Não

adianta, a gente tem que trabalhar olhando o produto para que seja bom para o

nosso consumidor. [...] O produto é bonito, mas a qualidade deixa a desejar, aí

não adianta. [...]A gente não pode perder a qualidade. Deu problema, a gente está

lá para resolver, junto do cliente” (D1).

O maior termômetro é a assistência deles. [...] Se o produto é bom, tem bom

acabamento, não tem muito retorno, mas se há muito retorno, é porque a

qualidade dele é fraca, desde a indústria. A gente vê empresas que vendem muito,

mas todos os dias voltam produtos. Então produtos bons para nós são aqueles que

têm bom acabamento, têm qualidade, têm uma boa visão do cliente, chama a

atenção e não nos traz nenhum transtorno. Esse é um produto com excelente

acabamento porque se trabalhou encima da qualidade, mesmo que ele custe um

pouco mais caro, mas ainda é viável. O cliente, hoje, quer isso, ele quer qualidade

e quer preço, mas entre o preço sem qualidade, ele prefere levar uma coisa mais cara”

(D2).

Qualidade no discurso dos diretores do grupo empresarial é tão primordial quanto um bom

preço, o preço justo. A qualidade dos insumos utilizados na fabricação dos bens diz muito no

momento das negociações com os lojistas. O lojista, diante do fabricante, representa o

consumidor, que busca ‘menor preço e melhor qualidade’.

A qualidade não é vista mais como uma forma de correção dos defeitos ou falhas de produção,

ela está associada em não apresentar defeitos. Conforme foi dito pelos entrevistados, a

qualidade está exatamente em o consumidor fazer uso dos bens e não solicitar assistência. Um

produto sem qualidade, por mais bonito que seja, leva a um desgaste o relacionamento

consumidor versus lojista, e em consequência, lojista versus fornecedor.

De acordo com (D2), diante de uma situação que implica preço baixo e qualidade baixa, o

consumidor deseja um produto caro, mas que tenha qualidade. Nesta afirmação, percebe-se que

Paladini (2005) está bem correto quando afirma que a qualidade tem de ser uma categoria

diferenciada para as organizações, pois representa sobrevivência, assim tem que estar na gestão

108

estratégica empresarial. Até porque o cenário requer produtos que não tragam insatisfação ao

consumidor, de ter que procurar a assistência técnica para resolver defeitos dos bens adquiridos.

O consumidor requer bens inovadores e com qualidade, não com defeito. A denominada ‘eterna

insatisfação’ do homem, e busca por novos produtos no marcado de consumo, não se dá pela

má qualidade, mas por trazer designers, capacidade, utilidade e segurança melhores a cada novo

modelo de determinado produto lançado no mercado.

Assim, o resultado das informações coletadas nas entrevistas sobre qualidade confirma a

teorização de Sashkin; Kiser (1994) e Correia (2014) que descrevem que qualidade deve vir em

primeira ordem, ou seja, dos insumos utilizados na produção dos bens. A qualidade é o dever

organizacional para se manter na competitividade mercadológica.

A quantidade

Nas negociações comerciais, a quantidade é motivo de muitas argumentações entre

compradores e fornecedores, pois o comprador, dependendo do volume que esteja levando,

barganha por menor preço e maior prazo. A quantidade também faz um diferencial nas vendas,

porque é um termômetro de produção com qualidade ou não, dependendo da demanda dos

lojistas, em face da rotatividade no mercado de consumo.

“E se ele vender um produto a um fornecedor que compra em grande quantidade,

aí eu não compro, eu já compro outro produto para que eu não venha a chocar preço,

para que não fique com a imagem da loja que vende mais caro. [...] Pela

quantidade, você tem um preço diferenciado, você tem um frete diferenciado, é

tudo diferenciado. É por isso que essas grandes lojas não compram no mesmo preço

da gente. Aí quando eu não tenho condições eu compro o produto, do mesmo modelo,

com outro fornecedor ou um produto de outro modelo, com o mesmo fornecedor”

(D1).

“Quanto mais você comprar, mais terá uma maior margem de desconto, uma

melhor negociação. Às vezes, ocorrem de os fornecedores fazerem promoções,

colocam um produto como se fosse um brinde. Geralmente, a quantidade

influencia no desconto” (D2).

A quantidade de produtos comprados na fala dos dois diretores do grupo empresarial, apresenta

duas características. A primeira é com relação à concorrência com as empresas de grande porte,

pois elas compram em grande volume e os preços são diferenciados, por isso, na fala de (D1),

não é viável comprar os mesmos produtos que elas negociam, pois, com preços diferentes, a

109

pequena empresa não consegue vender pelo mesmo preço da grande. Se for vender por preço

maior, vai vender mais caro. “[...] eu já compro outro produto para que eu não venha a chocar

preço, para que não fique com a imagem da loja que vende mais caro. (D1). A quantidade,

neste sentido, tem o condão de não negociar com produtos já negociados com concorrentes de

grande porte.

A quantidade também está no benefício de melhores condições, nos preços, nos descontos e

nos prazos. Fala de (D1) “é tudo diferenciado”, e (D2) “uma melhor negociação”. A

quantidade de produtos adquiridos pelos lojistas representa mais benefícios vindos dos

fabricantes para eles, inclusive, brindes. (D2) “Às vezes, ocorrem de os fornecedores fazerem

promoções, colocam um produto como se fosse um brinde”.

O conteúdo das falas dos dois diretores do grupo empresarial se afina com a teorização trazida

por (DUANE IRELAND; HOSKISSON; HITT, 2014), na qual os produtos com qualidade são

mais procurados pelos clientes, pois possui maior rotatividade, o que viabiliza a produção e,

consequentemente, as vendas pelos lojistas. E, ainda que, é na quantidade que existe um poder

de barganha do comprador, na busca de menores preços (AMATO NETO; MARINHO, 2014).

Percebe-se este poder de barganha do comprador na fala de (D1) “se ele vender um produto

a um fornecedor que compra em grande quantidade, aí eu não compro, eu já compro outro

produto para que eu não venha a chocar preço”.

Ressaltando-se que, no resultado da pesquisa, encontrou-se um diferencial que é, exatamente,

a busca por produtos diferenciados pelos pequenos e médios empreendedores, para não

concorrer com as grandes empresas e perderem cliente no mercado consumidor. Esta estratégia

diversifica os produtos do fabricante, que tem que produzir produtos diferenciados com mesma

qualidade e valor acessível, para atender ao pequeno empreendedor, que tem sua parcela de

consumidores no mercado consumerista.

A quantidade está muito atrelada à qualidade e ao preço, pois, na fala dos dois stakeholders,

percebe-se que todos primam por produtos com qualidade. Na fala de (D1) “Quando nós temos

um fornecedor e temos os concorrentes, nós temos que ver a qualidade do produto e o preço

do produto”; e (D2) “Nessa briga de preço não adianta entrar, é qualidade no produto e ter

o preço justo”. Sua fala confirma, exatamente, o que disseram Duane Ireland; Hoskisson; Hitt

(2014), quando afirmam que produto sem qualidade leva o cliente a procurar outros

110

fornecedores. Outro fator também essencial nas relações comerciais é a assistência. O serviço

prestador quando o produto apresenta defeito de fábrica.

A assistência

Nas relações comerciais, a assistência diz respeito à prestação de auxílio pelo fabricante,

quando o produto ou serviço apresenta defeito de fábrica e se torna inviável ao consumo. Nas

falas dos dois diretores do grupo empresarial, percebe-se o quanto prestar assistência é de suma

importância para constituição e manutenção da relação comercial.

“A situação que a gente, realmente, acha que dificulta é em termos de assistência. [...]

Se ele dá uma assistência rápida, aí o cliente fica satisfeito e a gente também fica

satisfeito. Eu já deixei de comprar a vários fornecedores por causa da assistência,

e já disse a eles mesmo: “estou deixando de comprar a vocês porque vocês não são

competentes de dar assistência ao cliente de vocês e eu dar ao meu cliente”. Eu

tenho que preservar o nome da loja. [...] A assistência é fator decisivo” (D1).

“Com relação à assistência, [...] eles têm que trocar o produto e se quiserem verificar,

que vá na casa do cliente. Foram eles que não tomaram cuidado para que o produto

não desse problema. [...] É fato decisivo, muito importante. Sem assistência, não

há compra” (D2).

A assistência é um fator decisivo nas negociações para os dois diretores do grupo empresarial,

pois, de acordo com eles, nas entrevistas, o fabricante é responsável pelos produtos que eles

vendem. “Eles não fabricam produtos, eles repassam”. A assistência é um requisito essencial

nas negociações comerciais e, como bem disse (D1), “[...]a pessoa compra sonhos, aí chega

em casa, abre a caixa e está danificado o produto, então a gente tem que agilizar o mais

rápido possível para poder deixar o cliente satisfeito”. Entende-se da fala de (D1), que o fato

de o produto apresentar defeito não fragiliza, de imediato, a relação com o fornecedor, mas a

agilidade dele em resolver o problema para o consumidor, que ficou insatisfeito com aquela

compra.

O lojista, percebe-se, fica numa situação complicada, pois ele não fabrica e não tem o

conhecimento técnico do produto, tanto quanto o consumidor. Então, se os produtos de

determinados fabricantes são reincidentes em apresentar defeitos e necessitar de assistência,

fragiliza a relação; e se a assistência não é bem prestada ou não é prestada, encerra a relação.

Fica bem claro na fala de (D1) “Eu já deixei de comprar a vários fornecedores por causa da

assistência, e já disse a eles mesmo: “estou deixando de comprar a vocês porque vocês não são

111

competentes de dar assistência ao cliente de vocês e eu dar ao meu cliente”. E (D2),

conforme dito acima “Sem assistência, não há compra”.

Confirmada a teoria abordada por Amato Neto; Marinho (2014), estamos na era da servitização,

e o serviço é um fator primordial às relações comerciais. Inclusive, tão essencial quanto

qualidade, preço e prazo nas negociações comerciais.

Confirma também a proposta de Habermas (2003), que afirma a necessidade dos parceiros se

unirem pela confiança num cenário competitivo, pois, se houver assimetrias, um caindo, os

demais tendem a cair em cadeia.

4.5 A visão dos fornecedores industriais sobre dignidade organizacional com relação aos

acordos comerciais firmados com os diretores de um grupo empresarial, em termos de

prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

Nesta seção, a proposta é verificar se a análise e discussão dos dados atende a proposta do

quarto objetivo específico deste estudo, seguindo a categorização metodológica especificada

anteriormente.

Categoria: Termos dos acordos comerciais

As relações comerciais entre os dois stakeholders, os compradores e os fornecedores se iniciam

a partir do contato com a empresa e com o representante comercial. Conforme afirmam os três

fornecedores industriais.

“Nós temos um representante, que tem um pedido padrão, com uma tabela que

tem preços, código e fotos, atende pessoalmente. [...] A nossa especialidade é ter

um representante que atende, pessoalmente, cada lojista, corpo a corpo. É assim

que é feito, é assim que funciona. É tudo burocrático, no papel, devidamente

identificados” (F1).

“Primeiro, falando de uma forma gradativa, o cliente faz a primeira compra e esse

é o ponto inicial, quando ele conhece, tem acesso ao produto. Primeiro, ele compra

poucas peças, depois a gente fala para ele comprar mais. Normalmente, começa-se

abrindo o mercado com o cliente vendendo poucas peças, como se fosse uma

mostra. Ás vezes, mandamos uma peça sem nenhum ônus, como se fosse

investindo, dando um bônus, gratificando, para que ele tenha acesso ao produto.

Com isso, ele faz uma avaliação, vê o produto, como tem vários fornecedores, ele

compara.

Continua o fornecedor 3:

112

“Para o lojista, é sempre difícil comprar de um novo fornecedor porque, na loja dele,

os espaços já estão todos ocupados, então para ele tirar um produto, ele tem que

tirar outro, então ele vai avaliar. A gente está sempre em um laboratório de

pesquisas do comerciante, que avalia como você está vendendo, então é preciso

vender serviço, vender qualidade, é um conjunto de coisas, além da confiança de

saber que, se tiver um problema, pode contar com a empresa, se precisa de uma

assistência, vamos dar. É preciso passar a confiança de que se comprar o meu produto,

ele não vai me dar prejuízo. Eu compro de fornecedores que também tem esse

perfil, então tem sido uma boa parceria, tanto com o fornecedor, como com o

nosso cliente, temos feito um trabalho que está dando certo” (F2).

“Pedido. A gente elegeu como canal de vendas um representante” (F3).

Todos confirmaram que o primeiro contato é através do representante comercial. As primeiras

compras são reduzidas e, às vezes, o fabricante entrega determinado produto como um bônus,

uma gratificação para o lojista vender e avaliar. De acordo com a avaliação do lojista, os pedidos

vão aumentando ou não. A intenção é ter um atendimento exclusivo para cada lojista. Deste

modo, vai se estabelecendo a confiança.

Interessante a fala de (F2) quando afirma ter fornecedores com o mesmo perfil que ele atende

seus clientes, uma parceria em cadeia “Eu compro de fornecedores que também tem esse

perfil, então tem sido uma boa parceria, tanto com o fornecedor, como com o nosso cliente,

temos feito um trabalho que está dando certo”. Esse discurso está conforme a teoria da ação

comunicativa de Habermas (2003), ao afirmar sobre as vantagens de parceiros unidos em

cenários competitivos, pois, de outro modo, se um deles quebra, todos tendem a quebrar em

cadeia.

O prazo

Nas relações comerciais, prazos estão relacionados à forma de pagamento em parcelas do

faturamento dos produtos solicitados pelo cliente, bem como, da data de entrega dos pedidos

dos fabricantes aos lojistas.

“O cliente quer um preço melhor, então a gente vê o que pode fazer; vai comprar um

volume maior; vai diminuir o prazo. [...] Para falar a verdade, você agora mexeu

numa ferida aberta, porque nós tínhamos um prazo médio de 30 dias para os

fornecedores. Há quinze anos atrás, eu recebia 80% da venda, à vista, porque tinha o

desconto e era vantajoso, mas o mercado foi ficando mais difícil e o lojista foi tendo

que dar mais prazo para quem compra e, naturalmente, foi pedindo mais prazo

para quem vende. Eu trabalhava com 30 dias, foi uma briga para ir para 45. Não

quero, não dá. Depois, por fulano está vendendo a 60, eu também fui obrigado a ir a

60 dias, fui obrigado a ir a 75, a 90, hoje nós temos um prazo de 30 até 150. Nós

sabemos de gente que entrega com 300 dias. Hoje, o melhor prazo que eu tenho é 60

dias, este é o melhor prazo de compra (F1).

113

“[...] a gente tem um preço, mas na hora de negociar, para vender, acaba fazendo outro,

maiores prazos, melhores condições. [...] Os prazos são um desafio para nós.

Porque, por exemplo, eu compro do meu fornecedor para pagar com um prazo

médio de 45 dias, mas o nosso cliente quer pagar com 30, 60, 90, 120, 150, então

tem esse capital de giro, que não é fácil” (F2).

“Eu compro matéria-prima num prazo estreito e financio 30, 60, 90, 120 para o

cliente, quem banca esse financiamento sou eu. [...]O meu acordo de negócio foi:

você quer um produto, eu tenho um preço e um prazo de pagamento. [...]à vista, 30,

60, 90, 120. É o máximo que eu faço” (F3).

Na fala dos três fornecedores industriais, percebe-se que os prazos são feitos de duas formas. A

primeira, com os fornecedores de insumos para eles, cujo prazo é muito apertado. Eles compram

a matéria-prima com preços quase à vista. Na fala de (F2) “eu compro do meu fornecedor

para pagar com um prazo médio de 45 dias”, e na fala de (F3) “Eu compro matéria-prima

num prazo estreito”. No discurso deles, dá para entender que o prazo é estabelecido pelo

fornecedor dos insumos. E tudo indica que os prazos praticados com seus clientes são diferentes

e mais elastecidos.

A outra forma da prática dos prazos, são com os clientes. Neste caso, percebe-se no discurso de

todos, que o mercado dita as regras, pois, à medida que o lojista concede maior prazo para o

consumidor, ele deseja também elasticidade para pagamento aos seus fornecedores. Na fala do

fornecedor 1, percebe-se a evolução na forma de dilatar os prazos para os lojistas, como vista

na citação anterior de (F1).

O mercado foi ditando as regras e todos os fornecedores foram aderindo para não perder o

cliente. Na fala de (F2) “[...]o nosso cliente quer pagar com 30, 60, 90, 120, 150”, e na fala

de (F3) “à vista, 30, 60, 90, 120. É o máximo que eu faço”. O prazo, na visão dos três

fornecedores, é uma imposição que eles têm que aderir, para se manterem no mercado, mesmo

não tendo a mesma prática de prazos elastecidos com seus fornecedores de matéria-prima.

Como (F2) e (F3) afirmam, o financiamento dos lojistas são deles, do capital de giro.

Existe também o prazo de entrega dos pedidos. Nas entrevistas com os dois stakeholders, ambos

afirmaram que o prazo de entrega do produto pelos fornecedores industriais é muito rápido. A

fala de (F1) confirma o que todos disseram, “A nossa entrega é muito rápida, muito

qualificada, é entregue no tempo do cliente. Se der para fazer a entrega em uma semana,

tudo bem, senão é uma semana e meia. É tudo muito tranquilo” (F1).

A concepção de prazo dita pelos três fornecedores se relaciona com a característica de prazo

“suspensivo ou resolutivo”, alegada por Guimarães (2006), pois é o prazo realizado com

114

previsão antecipada da forma de pagamento. Destacando-se ainda que, como é estipulado e

estimulado pelas práticas mercantis, pode ser ampliado ou reduzido, de acordo com as

oscilações financeiras, com aumento ou baixa dos juros e dos tributos.

O prazo é, portanto, um fator quase que unilateral para os dois stakeholders e, de certa forma,

mais salutar a uma das partes, os lojistas, tendo em vista que estes têm mais prazos de seus

fornecedores industriais e, estes últimos quase não são beneficiados por prazos elastecidos por

seus fornecedores de matéria-prima. Entretanto, este fato de divergências de prazos não macula

a relação entre os dois diretores do grupo empresarial e seus três fornecedores industriais,

porque a relação se baseia em muita confiança e respeito mútuo em todas as condições

estabelecidas.

Isto ficou bem claro nas entrevistas com todos. Esta prática confirma a teoria de Teixeira (2008),

quando estabelece como uma implicação, que as decisões tomadas entre stakeholders internos

e externos, contemplem o que causa na vida das pessoas; que propõe decisões baseadas em

entendimentos mútuos, em face da ciência e aceitação que envolve todos da relação, e isso

implica na dignidade organizacional.

O preço

Nas negociações comercias, para os três fornecedores industriais, o preço tem características

diversas, e possui grande influência nas negociações no mercado comercial.

A influência positiva ocorre quando os preços são vantajosos para todas as partes.

“O cliente quer um preço melhor, então a gente vê o que pode fazer; vai comprar

um volume maior; vai diminuir o prazo; vai pagar à vista, aí melhora ou quando

o representante diz que cede alguma coisa da sua condição. [...] Mas,

normalmente, não existe esse ruído de comunicação porque hoje é tudo no

computador, é tudo codificado, a nossa tabela de preço tem a foto do produto do

lado, tem o código, o preço do produto, então ele vê no catálogo e vê na tabela” (F1)

“É importante, porque todos ganham. Esse é o grande desafio. Às vezes, o preço de

um produto está no como ele é fabricando, no tempo em que ele leva para ficar pronto.

[...] Eu me preocupo também com o respeito no sentido da confiabilidade, da

credibilidade, do que com uma venda, seja ela no preço que for. O valor da

compra não é o que me incomoda, mas o relacionamento, é estar trabalhando de

uma forma transparente, que possa somar, que todos possam ganhar. [...]O preço

é importante, mas não é a parte principal. Eu acho que é importante ter um preço

competitivo, um preço bom, que possa dar lucro, tem que ter uma saúde para

ambos. Não adianta ter um cliente que tem um fornecedor que fornece hoje, mas

115

amanhã não pode fornecer mais. O preço é fundamental para as partes, todo mundo

tem que ganhar. Se alguém não estiver ganhando, vai quebrar essa cadeia” (F2).

“Na questão de satisfação, eu vejo que o meu cliente se satisfaz com o preço e eu

me satisfaço com o preço que eu preciso. No fim, eu acho que chega numa

equação de preço. (F3)

Na fala dos três fornecedores industriais, o preço é um requisito importante nas negociações,

mas o que deve privilegiar é a relação de lealdade estabelecida com o cliente. O preço benéfico

é aquele em que todos saem ganhando, conforme se verifica nas exposições feitas acima.

Satisfação é ter ganhos mútuos, pois não existirá o ‘ganha-perde’ ou o ‘perde-ganha’. Os ganhos

em cadeia fortalecem o grupo e dificilmente haverá a quebra da rede.

Esta postura dos fornecedores industriais confirma os valores de promoção da dignidade

proposto por Jacobson (2009), quanto aos elementos da ‘cortesia’ e ‘competitividade”, ambos

no sentido de buscar e manter o respeito mútuo, advindo do estabelecimento da confiança, a

partir de uma linguagem clara e inteligível, aliada à colaboração e harmonia de todos, para

obtenção de ganhos mútuos na relação comercial.

Confirma também a teoria da comunicação proposta por Habermas (2003) e enfatizada por

Correia (2014) e Teixeira (2008), quando aduzem, em suas pesquisas, que a relação deva

pautar-se numa linguagem clara e entendida por todos e com o mesmo sentido de benefícios

mútuos.

O preço também tem outras características nas relações comerciais que, ao contrário da

promoção da dignidade, violam-na, quando a busca é utilizar o outro como meios para obtenção

de ganhos pessoais. Uma delas é a concorrência desleal, baseada em ação ilícitas por alguns

stakeholders externos às organizações.

“Empresas do setor de Minas Gerais, do interior de São Paulo mandam produtos para

cá super subfaturados. Mandam 10 camas por um preço de duas. Eu não sei como

conseguem. O Estado de Santa Catarina também manda sem notas. O Único que não

manda é o Rio Grande do Sul” (F1).

“Eu acho que a maior dificuldade é essa questão de embate de preço, fornecimento.

[...]O consumidor final é o termômetro. Às vezes, o lojista se preocupa muito com

o preço, mas não se preocupa com a qualidade e o consumidor olha isso também.

Mesmo assim, fazendo um produto com preço competitivo, com um preço bom, a

gente ainda tem muita dificuldade nessa relação com o cliente. É um embate. A

economia é a vilã, a causa desse processo apelativo de quem produz, porque a

116

gente tem um preço, mas na hora de negociar, para vender, acaba fazendo outro,

maiores prazos, melhores condições. [...] (F2).

“Alguns fabricantes de indústrias maiores, no Sul e Sudeste, tentam vender um

volume maior, oferecendo essa questão do preço. A gente mesmo faz, enquanto

consumidor. Vai comprar uma peça, aí leva duas, mas pergunta se o preço fica

melhor. Tem essa questão do quantitativo, eu não acho que é uma saída, porque

prejudica o comerciante. Nós temos uma dificuldade com o concorrente nesse

sentido, de oferecer preço e estabelecer uma quantidade maior, com isso, pessoas que

eram bons pagadores, se tornaram maus pagadores. [...] É achar que está fazendo um

favor ou dizer que só compra por tal preço. Às vezes, as redes de loja, de uma forma

terceirizada, acontece de eles exagerarem, nesse sentido. (F2)

“[...] porque o mercado, hoje, é um mercado comprador de preço, não um

mercado comprador de produto. Então, à medida que ele é um mercado comprador

de preço, qualquer alteração na concorrência, por exemplo, para você ter uma idéia,

nós temos um concorrente que está oferecendo um preço financiado que equivale

ao meu preço de à vista. Mesmo sabendo que não é negócio para nenhuma das

partes, ele se mantém. [...] Quando a concorrência vira preço, vale tudo. É isso que

eu sinto e acho complicado. Cada vez menos o cliente percebe relacionamento, ele

percebe preço” (F3).

Na fala dos três fornecedores, percebe-se que a concorrência desleal, seja na venda de produtos

sem a emissão na nota fiscal, ou na prática de preços vis, aliada à oferta de vantagens

desproporcionais, todos tendem a perder. Ações desta natureza levam à quebra de todos da

cadeia. Não há satisfação, pois, estas posturas terminam por empoderar os clientes, e estes

começam a ditar regras de preços baixos nas negociações, o que termina por extinguir muitas

relações comerciais, ou ainda, os lojistas tornam-se endividados por ter comprado muitos

produtos a preços baixos, que não ‘rodaram’, e os estoques cheios inviabilizam os negócios

com todos os fornecedores. São perdas em cadeia.

Estas práticas confirmam uma das classificações de Porter (1999) sobre o empoderamento do

fornecedor, quando ele representa uma ameaça no poder do comprador. Isto é, quando ele torna

o comprador um devedor, conforme dito por (F2) “Nós temos uma dificuldade com o

concorrente nesse sentido, de oferecer preço e estabelecer uma quantidade maior, com

isso, pessoas que eram bons pagadores, se tornaram maus pagadores”. Esta prática é

violadora da dignidade organizacional, conforme muito bem defendido por Jacobson (2009).

A assimetria advinda destas relações, quando o comprador ‘pensa’ estar com o poder e compra

produtos aos fornecedores com uma postura de “[...] achar que está fazendo um favor ou

dizer que só compra por tal preço” (F2), termina por enfraquecer as parceiras com os

fornecedores, na situação de desigualdade que se encontram, conforme propõe Amato Neto;

Marinho (2014).

117

Outra situação de prática de preços vil, causadora da quebra em cadeia de compradores e

fornecedores, é a inadimplência por conta da crise político-financeira, e a quebra de contratos.

“O produto não vendeu por algum motivo, vou rebaixar o preço para vender e

você vai rebaixar também. Ou seja, todos os problemas que acontecerem por

incapacidade deles eu vou ter que responder. É um contrato malversado, é um

contrato agressivo, fora do padrão de comercialização mercantil” (F1).

“Existe por imposição, mas se pagar à vista, tem desconto. Porque esse negócio

de vender a prazo a preço de à vista, isso não é verdade. [...]Não era para ser,

porque nós já temos um preço muito enxuto, mas, para não perder venda e muita

gente apela, a gente perde na margem de lucro e, às vezes, vende até sem lucro” (F1).

“A indústria dos produtos seriados está com a sua margem de lucro muito

achatada. Num momento como esse, o cliente quer mais preço. Porém, tanto eu

quanto (F1) fidelizamos bem esse trabalho com nossos clientes. Já tentamos vender

para a Bahia, mas como é distante, a logística fica mais complexa, os custos são altos,

então atuamos mais na nossa região, em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do

Norte. Nós temos Piauí e Maranhão, que estamos tentando começar a trabalhar, mas

devido à distância, não foi possível. Alagoas e Sergipe é um mercado que tem um

problema de liquidez muito grande. Em especial, Alagoas, aqui no Nordeste, é um

dos piores para vender devido à liquidez. O pessoal compra, mas para pagar é

muito difícil” (F2).

“Quando o mercado fica difícil, não é barateando o preço, fazendo promoção, que

você vai resolver. Às vezes, tem um efeito, mas não é muito grande, porque quando

a gente está em dificuldade financeira, não vai comprar só porque está em

promoção, vai ter mais cuidado, se privar até do que está precisando” (F2).

Percebe-se na fala destes dois fornecedores que a crise que a economia vem passando nos

últimos tempos, conforme dito por eles nas entrevistas, vem elevando a inadimplência dos

compradores. Estes, por sua vez, quando participantes de consórcio ou cooperativas, juntos,

brigam por alterações contratuais unilaterais, cujos benefícios não são mútuos, mas apenas dos

poucos compradores vinculados a estes pactos. O pensar individualizado no momento de crise

fragiliza as relações comerciais e inviabiliza os negócios, principalmente de fornecedores que

trabalham com preços enxutos, como eles.

A última característica de briga de preços no mercado comercial é a possibilidade de atingir

terceiros de boa-fé, que são os consumidores.

“Uma dificuldade em fazer móveis seriados é que o comerciante está sempre

procurando o melhor preço e acha fornecedor que não é a ‘guia’ correta. Eu acho

que cada produto tem seu valor. [...] Então uma das dificuldades que nós temos com

o cliente é o preço, é essa briga de oferta que prejudica o produto e,

automaticamente, prejudica o consumidor. [...] ” (F2).

118

Conforme é dito pelo fornecedor 2, o embate por preços baixos pode provocar alteração na

composição dos produtos por alguns fornecedores, e o consumidor final, ao comprar um

produto com preço baixo, pode estar adquirindo produto de má qualidade.

Na fala de todos, confirma-se, exatamente, o que foi dito por Amato Neto, Marinho (2014), que

assinala que o preço que leva ao antagonismo e conflito nas relações pode causar o rompimento

de relacionamentos comerciais de muitos anos de parceria. Por isso, pode causar também

prejuízos aos consumidores, alvo de todo o processo de produção e relação dos dois

stakeholders, objeto desta pesquisa.

Ressalte-se que, apesar de todas estas dificuldades apontadas pelos fornecedores com seus

clientes, na pesquisa, todos demonstram ter um bom relacionamento com os dois diretores do

grupo empresarial. Portanto, todos estes fatos apontados como violadores da dignidade

organizacional não se aplicam aos dois stakeholders entre si, mas, necessário o destaque para

validação dos dados pesquisados.

A qualidade

Nos acordos e negociações comerciais, a qualidade dos produtos fabricados tem relevância,

pois é utilizada para combater embates de preços e também para encantar o consumidor.

Qualidade dos produtos e serviços ofertados pelos fornecedores industriais faz uma diferença

no momento das negociações com seus compradores.

“Eu vendo um produto de boa qualidade, com um bom preço e ele também vende e

se satisfaz, porque a venda só é concluída quando o cliente e o usuário começar a usar

aquilo e gostar. [...] Vendo o produto final, o conforto, a ergonomia, o sistema de

montagem porque, muitas vezes, o produto é bonito, mas não monta bem ou, por

exemplo, tem um vício de origem e a gente corrigiu isso, pois só vimos depois. Às

vezes, o lojista ajuda a gente. [...]É tudo muito tranquilo, qualidade, preço, tudo isso

a gente tem” (F1).

“Às vezes, você vai numa loja e não tem um padrão adequado de um produto, ele está

muito pequeno, muito compacto, não tem a largura suficiente, então os móveis

seriados tem perdido muito nisso, na qualidade, no sentido de tamanhos normais,

isso só encontra nos móveis sob medida, que são caríssimos. [...] Às vezes, o lojista

se preocupa muito com o preço, mas não se preocupa com a qualidade e o

consumidor olha isso também. (F2)

“Os investimentos da nossa empresa sempre foram muito voltados para isso, para a

melhoria de processos, fazer as coisas em um tempo menor, melhorando a qualidade

(F2)

119

“O cliente avalia a qualidade pelo acabamento, pela garantia do material, pelos

acessórios. A qualidade é avaliada com o tempo, ela não pode ser avaliada a curto

prazo. Vender um produto a um cliente, não pode ser realizada somente uma venda,

tem que dar continuidade a essa venda. Então a qualidade é avaliada nessa

continuação, em você fidelizar (F2).

“A gente até justifica, se você pegar um produto meu e um de qualquer concorrência

– aqui, não estamos falando de concorrência boa ou concorrência má, estamos

falando de concorrência, produtos similares – não tem ninguém que tenha a minha

qualidade. Isso não é porque eu quero lhe dizer isso, é porque é. 80% da

qualidade do meu produto é intrínseca” (F3)

“Mostrar qualidade. É a única forma que a gente tem de negociar preço. É ter

qualidade em tudo, no produto, no atendimento, na entrega, na assistência, no

pronto-retorno, ou seja, vender e ser reabastecido” (F3).

qualidade no discurso dos três fornecedores é motivo de satisfação. A qualidade para eles se

apresenta desde a matéria-prima utilizada até os serviços ofertados. Todos afirmam que mostrar

qualidade não é problema para o empreendimento deles. Na fala de (F1) “É tudo muito

tranquilo, qualidade, preço, tudo isso a gente tem”. Para (F2) “Os investimentos da nossa

empresa sempre foram muito voltados para isso, [...], melhorando a qualidade, e para (F3)

“não tem ninguém que tenha a minha qualidade”. A partir disso, percebe-se o rigor com

qualidade pelos três fornecedores, que se confirma também por serem os fornecedores

industriais de maior volume de negócios com os diretores do grupo empresarial.

Em todas estas afirmações, confirma-se, mais uma vez, a afirmação de Paladini (2005), quando

afirma a qualidade como um dos fatores primordiais às organizações, principalmente, pelo

cenário competitivo que elas encaram hodiernamente. A proposta é encantar o cliente, o lojista

e, principalmente, o consumidor final.

O resultado das informações coletadas nas entrevistas sobre qualidade, na visão dos três

fornecedores industriais, também confirma a teorização de Sashkin; Kiser (1994) e Correia

(2014), que estabelece que qualidade é o diferencial para uma organização se manter no

mercado, na produção de bens e de serviços, enfrentando a concorrência.

A quantidade

Nas negociações comerciais, a quantidade não é critério de muitas discussões para os três

fornecedores industriais. Na fala deles, ressalta-se três requisitos que refletem a quantidade nas

relações comerciais.

120

“A quantidade reflete porque, quando eu faço uma entrega que eu vendi, por

exemplo, para 30 clientes, o carro vai levar de oito a dez dias para entregar. Ele vai de

porta em porta entregar cinco, dez, vinte unidades. Esse frete custa 6%, 10%, vai

depender do tempo que ele vai demorar, porque o frete gasta com combustível,

diária do motorista, diária do ajudante, seguro, é o custo do carro que eu tenho

que pagar. Quando eu faço uma venda de, por exemplo, um caminhão fechado,

acontece o que a gente chama de “um apanha, um entrega”.Ao invés de eu gastar,

seis, sete, oito, eu vou gastar 2% porque o caminhão, se for perto, faz em 24horas,

se for um pouco mais longe, em 42horas e se for mais longe ainda, 72horas, nunca a

mais que isso. Então, todos os custos despencam e a gente passa isso para o cliente.

Na verdade, a gente está devolvendo o que é dele, é um desconto que eles têm direito.

Esse é um dos fatores. Outro fator é ele estar comprando muito. Dá menos trabalho

para o revendedor, para a fábrica. Burocraticamente falando, se eu tenho 30 clientes,

é uma média de 4 títulos por cliente, então teremos 120 títulos. São muitos fatores

que precisam ser vistos” (F1).

“Então a gente tem um valor mínimo para faturar. Existe um custo de duplicata

que se você não tiver um valor mínimo para tentar diminuir aquele custo, não

vale a pena” (F3).

O primeiro é a quantidade de produtos comprados pelos clientes, pois, como tem o pagamento

do frete, quanto menos produtos os lojistas pedem, mais eles – fornecedores - arcam com custos

de “gasto com combustível, diária do motorista, diária do ajudante, seguro, é o custo do

carro que eu tenho que pagar” (F1) e, a depender do pedido, os custos para entrega se tornam

inviáveis. Juntar vários pedidos é bem interessante para uma mesma rota ou quando o lojista

compra um “caminhão fechado”, tendo em vista a redução significante com custos do frete,

afirma (F1) “Quando eu faço uma venda de, por exemplo, um caminhão fechado, acontece

o que a gente chama de “um apanha, um entrega”. Ao invés de eu gastar, seis, sete, oito,

eu vou gastar 2%”.

O segundo é a limitação de compras por conta dos custos com emissão de duplicata. Na fala de

todos três, confirma-se a necessidade de limitação de pedidos mínimos para os lojistas por conta

dos custos fiscais elevados. Afirma (F1), “Outro fator é ele estar comprando muito. Dá

menos trabalho para o revendedor, para a fábrica. Burocraticamente falando, se eu tenho

30 clientes, é uma média de 4 títulos por cliente, então teremos 120 títulos. São muitos

fatores que precisam ser vistos” e afirma também (F3), “Existe um custo de duplicata que

se você não tiver um valor mínimo para tentar diminuir aquele custo, não vale a pena”.

O terceiro diz respeito em não endividar o lojista, quando ele faz compras de produtos que não

precisa, conforme afirma (F2) “Eu tento oferecer a ele o que ele pode comprar e que todo

mês ou, no máximo, 60 dias, ele possa pagar, porque ele vai ganhar ‘no giro’”. Este

pensamento é relevante também, porque demonstra o pensar num todo, no momento das

121

negociações, pois “empurrar” vários produtos ao cliente e o produto não "rodar", termina o

prejudicando.

Das falas de (F1) e (F3) quanto aos custos com emissão de duplicata, confirma exatamente a

conceituação quantidade de mercadorias por (SILVA, 2005, p. 1139), quando ele afirma ser

“uma expressão usada para designar o número total da mercadoria, calculado pela unidade, em

que se especifica a tarifa, para efeito de taxação ou cobrança dos direitos aduaneiros, quando

não exigidos segundo o valor específico”. É exatamente os custos que os fornecedores

industriais têm com a emissão de duplicatas originárias das compras realizadas por seus

compradores. Se houver muitos pedidos, é muito bom para o fornecedor, por dois motivos:

quantidade de vendas e redução de custos com emissão de duplicatas e com frete. Se os pedidos

foram poucos, aumentam todos os custos.

A fala de (F2) contempla o diferente. Ele se preocupa mais em não endividar o lojista do que

reduzir seus custos neste sentido. Argumenta ele que, o lojista endividado quebra a cadeia no

geral, pois, se ele não compra, o fabricante não vende e, portanto, não produz bens. Não

produzindo bens, o mercado sente o reflexo na cadeia de oferta e demanda, o que influencia na

economia do país.

Esta atitude reflete a promoção da dignidade proposta por Jacobson (2009) no tocante ao

processo de empatia que deva existir entre as pessoas nas relações sociais. Outro fator também

essencial nas relações comerciais é a assistência. O serviço prestado quando o produto apresenta

defeito de fábrica.

A assistência

Nas relações comerciais, a assistência para os fornecedores industriais tem um peso muito

grande para manter os negócios com os lojistas, porque o conceito de assistência para o lojista

é muito amplo e, se não for feito nos moldes que o lojista e o consumidor desejam, ele pode

perder o cliente.

“Decisivo demais. O cliente que compra um produto, pede a assistência e não é

atendido, ele é um ex-cliente. Ele não compra mais, fica com raiva. Eu não perco

só ele, porque ele propaga essa informação. [...] De cada dez assistências perdidas,

nove foram eles que procederam errado na entrega ou na montagem, nós sabemos

disso estatisticamente” (F1)

122

A assistência é um fator decisivo porque comprar um produto com avaria, mesmo

que não tenha sido a fábrica, mas no manejo do cliente ou o montador arranhar uma

peça, ele não vai perder o produto, então ele quer sentir uma confiança da assistência.

[...] Muitos clientes trocam de fornecedores porque não tiveram assistência, então

é uma coisa decisiva” (F2).

“Logo que eu vim trabalhar aqui, a assistência era tudo. O cliente quebrou alguma

coisa e quer assistência, mas isso não é assistência. Assistência é um problema de

fábrica que chegou no cliente” (F3).

Conforme se percebe nas falas deles, a assistência é um fator decisivo nas negociações, pois

um cliente que não receber a assistência é um ex-cliente, conforme diz (F1), “pede assistência

e não é atendido, ele é um ex-cliente. Ele não compra mais, fica com raiva”. Para (F2), a

assistência é solicitada por tudo, mesmo que não seja problema de fabricação, “porque comprar

um produto com avaria, mesmo que não tenha sido a fábrica, mas no manejo do cliente ou o

montador arranhar uma peça, ele não vai perder o produto, então ele quer sentir uma confiança

da assistência”.

Na entrevista, (F2) disse que assume defeitos mesmo que sejam de fabricação para manter o

cliente. Arcar com os custos de danos causados por terceiros. Afirmou que a relação com os

dois diretores do grupo empresarial é de muita confiança e nunca recebeu um produto com

avaria da loja para ele retificar. Já (F3) afirma que quando começou a trabalhar no ramo

moveleiro, assistência era tudo, mesmo para os defeitos causados pelo consumidor, mas, com

o passar dos tempos, vem instruindo os lojistas e representantes que a assistência só é prestada

quando há falha de fabricação ou falta de peças, por erro da fábrica.

Na fala dos três fornecedores industriais, percebe-se a confirmação da teorização a partir de

Amato Neto; Marinho (2014), ao tratarem da era da servitização, em que o serviço é um fator

primordial nas relações comerciais. Aliada aos argumentos da ação comunicativa de Habermas

(1984), quando aduz ser a formação contratual, um conjunto de acordos mútuos, obtidos de

diálogos entre todos os envolvidos e o consenso leva à formação das condições expressas para

cumprimento de todos, de forma inteligível.

Há de se ressaltar que, na fala dos fornecedores, percebe-se que, com outros clientes, os diálogos

são mais difíceis, por conta da dificuldade de identificar a falha, se é de fábrica ou de mau uso

do produto pelo cliente, ou mesmo, de mau acondicionamento dos produtos nos estoques. Ao

se ponderar, é melhor assumir o problema, do que perder o cliente e a parceria.

123

Depois de analisados e discutidos todos os dados levantados na pesquisa de campo, documental

e entrevistas realizadas, percebe-se que há a promoção da dignidade organizacional nas relações

comerciais existentes entre estes dois stakeholders. A comunicação estabelecida entre eles é

inteligível, por isso, os compromissos assumidos nos acordos e tratativas comerciais vêm sendo

honrados ao longo desta relação. O que demonstra ser a dignidade organizacional fruto de

ganhos e benefícios mútuos.

124

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo posto nesta pesquisa foi o de analisar a visão sobre dignidade organizacional dos

diretores de um grupo empresarial, bem como, de seus fornecedores industriais, nas relações

comerciais realizadas na Região Metropolitana do Recife – PE.

Para descoberta do sentido de dignidade organizacional na visão destes dois stakeholders,

foram formulados objetivos específicos e, a partir desses objetivos, foi feita a pesquisa de

campo, através de entrevista por pauta, além da fundamentação teórica utilizada no estudo sobre

dignidade organizacional nas relações comerciais, consubstanciada nos estudos de dignidade

nas relações sociais de Jacobson (2009), na ação comunicativa de Habermas (2012) e na

teorização de dignidade organizacional a partir de uma visão baseada em stakeholders, de

Teixeira (2008).

O primeiro objetivo específico teve como proposição identificar a compreensão dos diretores

dos dois stakeholders, sobre os elementos de dignidade organizacional nas relações comerciais

estabelecida entre eles. Do resultado encontrado nas entrevistas, foram identificados sete

elementos indicadores de dignidade organizacional na percepção deles. Destes elementos, três

são promotores da dignidade, e quatro são violadores. Esse resultado corrobora com a discussão

trazida por Jacobson (2009) em suas pesquisas ligadas à área de saúde, comprovando que, nas

relações sociais, existem elementos que promovem e outros que violam a dignidade das pessoas

e os seus direitos.

O destaque que se dá aos resultados desta pesquisa é de que os elementos encontrados na fala

de todos os stakeholders demonstram a promoção da dignidade, pois a relação entre eles baseia-

se em companheirismo e confiança mútuos, que são mantidos através de relações contínuas e

de longas datas, inclusive, exercidas através dos representantes comerciais, que fazem a ligação

e estreitamento dessas relações.

A relação comercial entre os dois stakeholders é de base sólida, pautada na boa-fé. O respeito

no trabalho que o outro faz, mantém essa relação sadia, mesmo em situações de muitas

influências externas, a exemplo de: oscilações econômicas, ameaças constantes dos

concorrentes e das diversas situações do cotidiano. Então, os elementos de credibilidade,

125

reciprocidade e profissionalismo encontrados nos resultados superaram os elementos violadores

da dignidade, até porque os elementos negativos não fazem parte do contexto relacional entre

os dois stakeholders.

Os elementos violadores de dignidade, identificados nos resultados desta pesquisa, refletem

outras relações dos stakeholders, relações que eles mantêm com outros agentes comerciais. A

importância do destaque destes elementos violadores, valida a pesquisa, pois demonstram que,

quando as relações sofrem ruídos na comunicação e não há a busca pelos interesses e ganhos

mútuos, a possibilidade de violação da dignidade dos agentes internos e externos vai se

ampliando. A cada movimento de confronto há uma linguagem inteligível e de consenso que

deve existir entre os agentes nas relações jurídicas, sendo estas, comerciais.

O segundo objetivo específico se pautou em analisar a dignidade organizacional a partir

da igualdade de condições expressas nas negociações comerciais estabelecidas entre os dois

stakeholders, tendo dignidade como informação e poder exercidos por eles nas negociações.

Nos resultados encontrados, verificou-se que, na relação entre eles, tanto a informação como o

poder são mantidos de forma cordial e equilibrada.

As negociações são feitas com transparência, ou seja, não há imposição de produtos ou de

prazos entre eles que impeça o outros de dialogar com tranquilidade e aceitação. Não há também

um sentimento de hierarquização entre eles, nas negociações e tratativas comerciais. O que é

dito reflete confiança, tanto que, em situações de falhas, de atos ou fatos não ditos, mas

praticados por um, independente dos fatores, não causa um abalo na comunicação, em face da

confiança constituída em ambos.

Nas falas, verificou-se e confirmou-se, exatamente, o que propõem Habermas (1988) e

Gutierrez e Almeida (2013), quando afirmam em seus estudos que as relações entre as pessoas,

no caso, os dois stakeholders, quando se voltam para obtenção de fins comuns, ou seja, de

ganhos recíprocos, estes são legítimos e válidos para todos, pois, são compreendidos como

verdadeiros e aceitos por todos, em face da confiança e boa-fé estabelecidas. A interação entre

estes agentes é constante e, portanto, promissora para enfrentar as diversas situações de ameaças

que estas organizações enfrentam no mercado competitivo (PORTER, 1999).

126

Daí, pode-se entender que, dignidade nas relações comerciais estabelecidas entre os dois

stakeholders, sempre é pautada em diálogos abertos, sinceros e ajustados na legalidade e

confiança. Por isso, o compromisso entre eles vem se mantendo por muitos anos. A informação

é veiculada de forma clara e praticada por ambos, com vistas a ofertar o melhor produto e o

melhor serviço ao consumidor final. O poder, no momento das negociações, é mediado e

equilibrado. Não se verificou, no discurso de todos, a visão de interesses pessoais em detrimento

dos interesses do outro. Inclusive, é muito repetido na fala de todos, de vender e comprar

somente através da nota fiscal, e de buscar parceiros, também com esta visão de legalidade,

confiança e credibilidade, que existe entre eles. Informação e poder são exercidos de forma

equilibrada entre os dois stakeholders.

No achado da pesquisa, com relação a outros stakeholders, que se relacionam tanto com os

diretores do grupo empresarial, bem como, com os fornecedores industriais, percebe-se a não

negociação ou perda de mercado, por conta das ameaças desleais e ilegais praticadas por outros

agentes. Este achado também valida a pesquisa, pois demonstra que, quando as empresas não

estão pautadas na legalidade, lealdade e confiança, o que parece ser um benefício, termina por

ser um prejuízo, que pode se apresentar a curto ou longo prazo.

As experiências trazidas pelos entrevistados, de presenciarem a abertura e fechamento de

empresas inidôneas, nestes quase trinta anos lidando com o mercado comercial, apenas

corrobora à luz da teoria de Habermas (1998; 2012), de que a ação do indivíduo deva ser

pautada na racionalidade, ou seja, em benefícios mútuos, em detrimento de benefícios

individuais, e pela visão de maximização de utilidades viáveis para todos os envolvidos nas

relações estabelecidas entre os agentes, em oposição a supostos ganhos imediatos, mas de

prejuízos futuros.

No terceiro objetivo específico, a proposta foi de analisar a visão dos diretores de um grupo

empresarial sobre dignidade organizacional com relação aos acordos comerciais firmados com

seus fornecedores industriais, em termos de prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência.

No resultado encontrado, este stakeholder entende que dignidade reflete, primordialmente, em

cumprir todas as obrigações assumidas. Relata que, na relação deles com os três fornecedores

industriais, não há qualquer ruído com relação a estes fatores. Inclusive, os três fornecedores

foram muitos elogiados pela qualidade dos produtos fabricados, pela presteza na assistência

ofertada aos clientes, eles, lojistas, e aos consumidores, nos poucos casos de necessidade.

127

Afirmam que os prazos e preços estabelecidos são entendidos como adequados ao que ofertam,

enfim, que não existe qualquer mácula na relação. Há de se destacar que eles, diretores, dizem

que o termômetro do bom fornecedor industrial, é a facilidade de “rodar” os produtos em seus

estabelecimentos, ou seja, vendas rápidas e, mais ainda, a eventualidade da necessidade de

assistência, em face da qualidade dos produtos.

Outra característica relevante na relação dos dois stakeholders, citada pelos diretores do grupo

empresarial, é a compra e venda de produtos através da emissão de nota fiscal e das parcerias

que os fornecedores mantêm com seus fornecedores de insumos, pautados na qualidade e na

legalidade. Daí, surge a segurança, credibilidade e confiança de negociar com estes três

fornecedores.

A visão dos diretores industriais sobre a dignidade organizacional na relação comercial que eles

mantêm com seus fornecedores industriais, voluntários da pesquisa, confirma a teoria de

embasamento deste estudo, no que afirma Teixeira (2009) sobre dignidade organizacional e

stakeholders, um modelo de dignidade pautado em implicações e proposições estabelecidas na

comunicação entre os agentes.

No quarto objetivo específico, buscou-se analisar a visão dos fornecedores industriais sobre

dignidade organizacional com relação aos acordos comerciais firmados com os diretores de um

grupo empresarial, em termos de prazo, preço, qualidade, quantidade e assistência. Neste último

objetivo, o enfoque foi o oposto do terceiro, pois pretendeu-se avaliar a visão dos stakeholders

externos ao grupo empresarial, sobre a dignidade organizacional na execução destes fatores.

Nos resultados obtidos, verifica-se que, mesmo tendo uma visão um pouco diferenciada sobre

os termos propostos no objetivo, nas relações comerciais que os três fornecedores mantêm com

os diretores do grupo empresarial, não existe qualquer fato que gere insatisfação para qualquer

um deles. Com relação ao cumprimento de prazos, não existe inadimplência por parte do grupo

empresarial. Também não existe uma forma de imposição de prazos mais dilatados por eles,

pois respeitam as regras propostas por estes fornecedores com relação aos preços e prazos. No

tocante à quantidade, são comedidos e não compram em excesso, não ficando endividados e

com estoques abarrotados de produtos sem “rodar”. Os diretores do grupo empresarial são

vistos por eles, como pessoas de dignidade.

128

Há de se ressaltar que, na fala dos três fornecedores, identifica-se que o estabelecimento do

grupo empresarial acomoda bem os produtos no interior das lojas, bem como, nos estoques, o

que não causa avarias e a constante solicitação de assistência por falha de má conservação dos

produtos ou por falha na fabricação. Esta atitude dos diretores do grupo e de sua equipe de

colaboradores foi muito elogiada pelos fornecedores, no momento das entrevistas.

Outra característica dos diretores do grupo empresarial é a gentiliza e a acessibilidade no

contato, bem como, a lealdade obtida por comprar e vender produtos com a emissão de nota

fiscal. Ter parceiros e clientes que atuam na legalidade é uma virtude para os três fornecedores

industriais, e os diretores do grupo empresarial tem esta virtude.

Há de se ressaltar que, na pesquisa, foi dito, pelos três fornecedores industriais, que a dignidade

hoje está muito comprometida pela falta de confiança nos clientes, que compram e não pagam

e sempre desejam prazos e preços diferenciados, quase que desvalorizando o trabalho deles.

Que a crise político-econômica atual vem trazendo muitas inadimplências de clientes bons,

outrora, e a queda nas vendas, além do poder da concorrência de fabricar produtos com menor

qualidade para reduzir custos. Isso representa, para eles, ações de prejuízo e quebra em massa

de todos. Mas, estes achados não se relacionam às relações comerciais entre os dois

stakeholders, apenas discussões que validam o estudo quando demonstram que a teoria utilizada

na pesquisa se confirma.

A partir da discussão trazida, verifica-se que a problemática da pesquisa, de saber a visão sobre

dignidade organizacional dos dois stakeholders entrevistados, com relação aos negócios

realizados na Região Metropolitana do Recife – PE, foi identificada, porque descobriu-se que

a credibilidade, a reciprocidade e o profissionalismo são importantíssimos nas relações

comerciais, pois caracterizam o respeito ao próximo e o dever de agir de forma a não macular

sua capacidade de produzir bens ou serviços.

A implicação que este estudo apresenta é de que dignidade, em todas as esferas da vida, seja

pessoal ou comercial, deve ser promovida por ganhos mútuos, pois o que se comprovou na

pesquisa, foi que os ganhos individuais pautados na má-fé, em detrimento dos ganhos coletivos,

na qual se usa o outro apenas como meio para obtenção de autopromoção, é uma prática vil,

que parece promissora momentaneamente, mas de resultado negativo em algum momento, no

futuro.

129

5.1 Sugestões para futuros estudos

A proposição que se deixa para novos estudos no campo da dignidade organizacional é o agir

dos gestores organizacionais, como stakeholder interno que são as empresas, que resguardem a

dignidade organizacional da mesma forma que se acautelam e são diligentes na subscrição e

integralização do capital social empresarial. Assim, sugere-se estudos:

Dignidade organizacional no processo comunicativo: O papel dos representantes

comerciais nas relações entre stakeholders.

Dignidade organizacional e stakeholders: o respeito à dignidade da pessoa jurídica;

Dignidade organizacional nos relacionamentos com instituições financeiras: informação

e poder na comunicação dos contratos;

Dignidade organizacional e stakeholders: o poder do ator público e a dignidade da

pessoa jurídica da rede privada.

Para que se promova a dignidade organizacional das empresas, se faz necessário entender a

organização como uma pessoa, e resguardar a sua dignidade, da mesma forma que se garante a

dignidade das pessoas naturais.

5.2 Sugestões práticas para as empresas

A proposta que se lança depois dos resultados deste estudo, para os dois stakeholders,

voluntários nesta pesquisa e outras organizações no trato com seus fornecedores, clientes e

parceiros, entre outros, é de que o agir digno deve estar pautado em considerar o outro no

mesmo pé de igualdade que você mesmo. Este agir deve ser refletido em todas as práticas

sociais e, principalmente neste caso, comerciais, pois, conforme visto nas falas dos

entrevistados, a ética, a legalidade e o profissionalismo são ações que os mantêm no mercado

acerca de trinta anos.

A necessidade de aprimoramento dos diretores dos dois grupos, de compradores e fornecedores,

no investimento e no fomento de cursos de aperfeiçoamento de relações interpessoais para os

mesmos, e para seus colaboradores, é substancial para a boa continuidade do empreendimento.

130

Para outras organizações, é ter como exemplo a prática de dignidade desempenhada por estes

agentes comerciais e também fomentar cursos de aperfeiçoamento de relações interpessoais. A

todos, é interessante também buscar treinamentos na área de relações comerciais, porque as

experiências de outros empreendedores como estes pesquisados devem servir de exemplo do

agir com dignidade.

Outra sugestão que se lança é investir em consultorias de empresas especializadas em

administração de empresas, para se informar das inovações em gestões de pessoas que se

expandem nos mercados, aliado ao investimento em treinamento para os funcionários, se ainda

não o tem. Caso o tenha, dar continuidade ao programa de capacitação de pessoas, para fidelizar

e prevenir rotatividade, mantendo os bons colaboradores, conforme se percebeu em todas as

empresas visitadas. Se possível, estabelecer um plano de cargos e salários, que promove a

satisfação dos funcionários, que passam a sentir-se mais valorizados pelas empresas

empregadoras e, com isso, retém-se talentos, conforme também se identificou na visitação às

dependências das organizações, funcionários visionários e satisfeitos com o agir digno de seu

empregador.

Um incentivo que se lança às empresas estudadas e a outras empresas também é a necessidade

urgente de formar sucessores, pois todos os diretores que estão à frente dos negócios, que

investem muito no crescimento e desenvolvimento de seu empreendimento, precisam assinalar

quem os sucederá no futuro. Organizações dignas, com tanto tempo atuando no negócio, e com

resultados positivos devem expandir o sucesso, abarcando novos espaços no mercado. Para isso,

precisam de talentos com a mesma visão dos fundadores, visando a continuidade do

empreendimento. Com a globalização e a velocidade que as redes informacionais têm

transformado os mercados, se faz necessário acompanhar esta onda, e pensar em como estará

seu empreendimento no futuro próximo e distante.

Implementar programas de qualidade é outro incentivo que se sugere. Com os resultados da

pesquisa, percebeu-se que todas as organizações primam por boa qualidade de seus produtos e

serviços, mas devem buscar sempre, pois esta representa respeito, principalmente aos

consumidores, que são os destinatários de toda a produção. O conforto e a boa qualidade em

servir, conforme foi dito e entendido pelos entrevistados, é o que representa melhor seus

empreendimentos. Então, a qualidade contínua deve ser uma das metas empresariais.

131

Já que se fala em introduzir novos processos ou atualizar os atuais, implementar programas que

contemplem a sustentabilidade prática, que é bem vista por órgãos regulamentadores e clientes,

é outra sugestão, pois uma organização bem referendada pela sua prática sustentável em todos

os aspectos, torna-a líder de mercado ou mesmo, um exemplo de empreendimento competitivo,

com quem se deva trabalhar, firmar negócios e ter como parceiros, em vários aspectos

comerciais, sociais e mercadológicos.

Por fim, outra sugestão que se lança é observar e manter a prática da responsabilidade social.

As empresas foco da pesquisa demonstraram esta prática de responsabilidade socialmente,

principalmente, em trabalhar dentro da legalidade e buscar parceiros com a mesma intenção.

Assim, sugere-se a todas as organizações que busquem desenvolver práticas de

responsabilidade social, em gestão de pessoas, nas relações com a comunidade circunvizinha,

com compradores, fornecedores, meio ambiente natural, social e organizacional, no geral.

Por isso, a implicação que se faz às organizações estudadas com base nos resultados é de

estender este tratamento digno que existe entre cliente e fornecedor industrial a outros

stakeholders vinculados a elas, nas relações comerciais, inclusive, na prestação de serviço. Na

prática, em visita às dependências destas organizações, foi percebido que a gestão é pautada no

bom relacionamento intra e entre pessoas. Por isso, a divulgação do respeito, da dignidade com

práticas da promoção da credibilidade, reciprocidade e profissionalismo, identificados nas

relações, devem ser expandidos a outras organizações, inclusive, àquelas ditas por eles que não

primam por benefícios mútuos nos contratos, pois dignidade organizacional se apresenta como

expandir-se em conjunto, com ganhos mútuos.

132

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137

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA POR PAUTA AO GRUPO

EMPRESARIAL E ALGUNS FORNECEDORES

01 – ATOS PESSOAIS E SITUAÇÕES IDENTIFICADORAS DE DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL

1. Influência de políticas econômicas e financeiras.

2. Influências dos concorrentes.

3. O consenso de interesses versus satisfação nos acordos comerciais firmados.

4. Situações de influência negativa nas relações comerciais.

02 – INFORMAÇÃO/CONHECIMENTO E PODER COMO INDICADORES DE

DIGNIDADE ORGANIZACIONAL

1. Negociações transparentes.

2. Sentimento de hierarquização.

3. Comunicação positiva/negativa.

4. Postura no momento das negociações reflete confiança.

5. Ações não ditas e praticadas nos acordos comerciais.

03 – O ACORDO COMERCIAL BASEADO NO PRAZO, NO PREÇO, NA QUALIDADE,

NA QUANTIDADE E NA ASSISTÊNCIA REFLETEM DIGNIDADE NAS

ORGANIZAÇÕES

1. Formalização de acordo comercial.

2. Prazos praticados.

3. Estabelecimento de prazo diferenciado.

4. Cumprimento ou não cumprimento de prazo reflete na imagem.

5. Características do preço.

6. Negociação de preço.

7. Avaliação da qualidade nas negociações.

8. A quantidade dos produtos adquiridos e influência nas negociações.

9. Papel da assistência nas negociações.

10. Assistência fator decisivo nas negociações.

138

APÊNDICE B - ENTREVISTA REALIZADA COM OS DOIS DIRETORES DO

GRUPO EMPRESARIAL SOBRE A COMPREENSÃO DELES A RESPEITO DOS

ELEMENTOS DE DIGNIDADE ORGANIZACIONAL

Na entrevista realizada com os dois diretores do grupo empresarial, na primeira etapa da

pauta, foram elaboradas quatro questões cujo intuito foi identificar a compreensão deles sobre

os elementos de dignidade organizacional nas relações comerciais.

Observação Sequência Temática:

atos e fatos

Diretor 1 do grupo empresarial

Se as políticas

econômicas

influenciam nas

relações cliente

fornecedor

1

“Como cliente, ela influencia bastante porque a

economia é que gera o país e a economia estando ruim

[...] tem um pouco de dificuldade de fazer as

negociações com os fornecedores. A política

econômica no Brasil tem um peso muito grande”.

Política

econômica

Dificuldade

nas

negociações

Nas negociações

comerciais, as

influências dos

concorrentes

modificam os

comportamentos

do cliente e do

fornecedor

2

“A única coisa que vai influenciar é, justamente, a

credibilidade do fabricante. [...]A gente tem que saber

distinguir isso muito bem. São os preços que eles

praticam e se realmente vale a pena para que a gente

coloque no nosso comércio e tenha rotatividade

porque, muitas vezes, tem mercadoria que a gente olha

e acha que ela vai rodar e ela não roda porque não

tem, realmente, uma boa aceitação do consumidor”.

Concorrente

Credibilidade

do fabricante

Negociações

comerciais

Consenso de

interesse

Satisfação do

cliente do

fornecedor

3

“[...] tem que ser bom para os dois lados, jamais só

para um. O preço tem que ser bom para que eu faça

uma compra boa e ele tem que saber que o preço que

ele está vendendo – porque todo fabricante tem um

custo – então eu não gosto, jamais, de desprezar um e

valorizar outro. [...] A negociação só fica realmente

interessante quando a gente consegue fazer um

negócio que seja bom para os dois lados”.

Valorização

do outro.

O negócio

seja bom

para ambos

Situações de

influência negativa

Relações

comerciais entre

cliente e

fornecedor

4

“A situação que a gente, realmente, acha que dificulta

é em termos de assistência, [...]digo, aqui, a todos os

representantes e aos fornecedores, eu bato em cima:

não temos culpa! Se mandou numa carga, a carga

danificou o produto dentro da caixa, eu quero

assistência para meu cliente porque quando a pessoa

compra algo, a pessoa compra sonhos, aí chega em

casa, abre a caixa e está danificado o produto, então

a gente tem que agilizar o mais rápido possível para

poder deixar o cliente satisfeito. Então todos os

Falta de

assistência

Agilidade no

atendimento

139

fornecedores, nessa situação, ele influencia bastante.

Se ele dá uma assistência rápida, aí o cliente fica

satisfeito e a gente também fica satisfeito. Eu já deixei

de comprar a vários fornecedores por causa da

assistência, e já disse a eles mesmo: “estou deixando

de comprar a vocês porque vocês não são

competentes de dar assistência ao cliente de vocês e

eu dar ao meu cliente”. Eu tenho que preservar o

nome da loja”.

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Diretor 2 do grupo empresarial

Se as políticas

econômicas

influenciam nas

relações cliente

fornecedor

1

“Influencia em termos de compra. Por que é

uma cadeia. Se eu não tenho a quem vender,

ele também não vai ter a quem vender porque

eu não tenho como comprar deles se eu não

estou vendendo. Hoje, o mercado, o país

trava por conta disso aí. [...] mas a crise

política está muito pior que a crise

financeira. [...] eu vejo dessa maneira, essa

crise, no mínimo, 60% é pela política. Isso

influencia muito. Aí quem sofre é a gente, que

fica sem cliente e, consequentemente, não

pode comprar da indústria e, assim, ela

também sofre”.

Política

econômica

Dificuldade nas

negociações

Nas

negociações

comerciais, as

influências dos

concorrentes,

modificam os

comportamentos

do cliente e do

fornecedor

2

“A gente não entra para ver preço de

concorrente. Mas quando eu passo na rua, eu

vejo. Mas se eu vejo um concorrente – desde

que não seja rede – do mesmo porte ou menor

que o meu com um preço melhor eu ligo para

o fornecedor para saber o que está

acontecendo. [...] geralmente, a gente tem uma

dificuldade porque compramos tudo por nota

e vendo tudo com nota, então isso gera um

custo maior, e nem todos fazem isso. Assim,

termina ficando com o preço maior que o seu

concorrente. Mas a gente tenta compensar isso

com a qualidade do serviço. A concorrência

entre fornecedores é excelente para a

gente”.

Concorrente

Credibilidade

do cliente

Negociações

comerciais

Consenso de

interesse

Satisfação do

cliente do

fornecedor

3

“[...]a gente trabalha de uma maneira que seja

bom para os dois lados. Às vezes, a pessoa

pode vender até por uma necessidade, mas

não ficou satisfeita e fica com um

sentimento negativo. Quando a gente compra

e todos ficam satisfeitos é quando vende o

produto numa margem que dá para pagar todos

os compromissos, todos os custos. [...] então,

geralmente, a gente trabalha com o preço que

ele coloca, que dá para vender e ganha

satisfação na parceria, o que a gente precisa

Valorização do

outro.

O negócio seja

bom para ambos

140

ele atende, precisou de assistência ele troca,

eles não cobram pela assistência, eu não pago.

Por que se o cliente comprou, foi para usar,

não para dar defeito. Tem que trocar sem

cobrar nada”.

Situações de

influência

negativa

Relações

comerciais entre

cliente e

fornecedor

4

“Com relação à assistência, [...] eles têm que

trocar o produto e se quiserem verificar, que vá

na casa do cliente. Foram eles que não

tomaram cuidado para que o produto não

desse problema. [...] uma coisa que temos que

pôr na cabeça é que o foco não é o dinheiro, o

foco é a satisfação do cliente. Para trabalhar

com os clientes, primeiro é preciso ter o dom

de servir, se não gostar de servir, está na

profissão errada. Nós temos que aprender a

nos colocar no lugar do outro, cada um tem

seus problemas e todos tem suas virtudes e a

gente tem que procurar entender. É um

relacionamento que dá muito trabalho, mas faz

parte do dia a dia”.

Dar assistência

Se colocar no

lugar do outro

141

APÊNDICE C - ENTREVISTA REALIZADA COM OS TRÊS FORNECEDORES

INDUSTRIAIS SOBRE A COMPREENSÃO DELES A RESPEITO DOS ELEMENTOS

DE DIGNIDADE ORGANIZACIONAL

Na entrevista realizada com os três fornecedores industriais, na primeira etapa da pauta foram

elaboradas quatro questões cujo intuito foi identificar a compreensão deles sobre os elementos

de dignidade organizacional nas relações comerciais com os diretores de um grupo

empresarial.

Observação Sequência Temática:

atos e

fatos

Fornecedor Industrial 1

Influência

Políticas

econômicas

1

“Sofre de várias maneiras. O governo dá benefícios

fiscais para alguns e não dá para outros, os benefícios

não são gerais, não são amplos, são setorizados”. [...]

Outra coisa é que não se trabalha a questão fiscal. Nós

trabalhamos com uma empresa ‘redonda’ do ponto

de vista fiscal, não queremos comprar ou vender

nada sem nota, e assim fazemos há muitos anos. No

entanto, o governo não consegue monitorar quem está

trabalhando com subfaturamento. [...] Às vezes, é

cedido benefício fiscal para empresas que não geram

empregos, que não geram renda, benefícios para o

Estado”.

Vendas

com nota

fiscal

Dificuldad

e nas

negociaçõ

es

Fiscalizaç

ão frágil

do

governo

Influência da

concorrência

2

“Os concorrentes terminam retirando os clientes,

agora mesmo eu perdi, porque o outro fornecedor

vendeu 10 mil mesas em um mercado que ele não

vendia nenhuma, essa mercadoria era para ser vendida

por minha empresa. O Estado perdeu porque ele

vendeu sem nota, mas o Estado produtor perdeu na

saída, mas vai ganhar na volta, porque todo o dinheiro

volta integral. O lojista que comprou aqui, vai pagar

todo e o Estado vai perder comigo porque eu não vou

faturar. Não vou gerar imposto porque estou perdendo

a venda. O Estado perde duas vezes e eu perco por não

vender. Isso é feito à espreita”.

Concorren

te

Vender

sem nota

fiscal

Negociaçõ

es

comerciais

Consenso de

interesse

Satisfação do

cliente do

fornecedor

3

“Isso acontece com frequência. A minha empresa não

sobreviveria se eu não tivesse todo um leque de

clientes que trabalhassem nessa situação de conforto,

de acordo mútuo, em que todos vão se beneficiar. Eu

vendo um produto de boa qualidade, com um bom

preço e ele também vende e se satisfaz, porque a venda

Celebraçã

o de

acordo

comerciais

142

só é concluída quando o cliente e o usuário começar a

usar aquilo e gostar. [...]A venda só vai estar concluída

quando chegar na casa do consumidor, ele usar e

gostar”. [...]

Influência negativa

Relações

comerciais entre

cliente e

fornecedor

4

“Hoje, o que influencia negativamente, que era uma

coisa que estava acabando, mas agora voltou com

força, é a mercadoria negociada, sem nota”.

Dar

assistência

Não dar

assistência

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Fornecedor Industrial 2

Influência

Políticas

econômicas

1

“[...]O Brasil, como um país emergente,

depende do equilíbrio da economia. Então,

essa instabilidade causa receio,

insegurança. Aí o mercado é nervoso, se ele

der uma negativa, mesmo que não esteja de

fato, negativo, ele vai prejudicar,

naturalmente. [...] Então uma das

dificuldades que nós temos com o cliente é

o preço, é essa briga de oferta que prejudica

o produto e, automaticamente, prejudica o

consumidor. [...] Eu acho que a maior

dificuldade é essa questão de embate de

preço, fornecimento. [...]O consumidor

final é o termômetro. Às vezes, o lojista se

preocupa muito com o preço, mas não se

preocupa com a qualidade e o consumidor

olha isso também. Mesmo assim, fazendo

um produto com preço competitivo, com

um preço bom, a gente ainda tem muita

dificuldade nessa relação com o cliente. É

um embate. A economia é a vilã, a causa

desse processo apelativo de quem produz,

porque a gente tem um preço, mas na hora

de negociar, para vender, acaba fazendo

outro, maiores prazos, melhores condições.

Isso não ajuda o mercado, muito pelo

contrário, os materiais terminam perdendo

a qualidade”.

Crise política e

financeira

Dificuldade nas

negociações

143

Influência da

concorrência

2

“[...]quando se trata de faturamento, nós

perdemos muito dinheiro quando dizemos que

não podemos superfaturar. [...]se o

representante for mais técnico, ele vai vender

uma coisa que, de fato, não é como ele está

vendendo. Eu digo sempre que o produto é

quem vai vender e o consumidor é quem vai

avaliar isso. [...] Mas tem essa dificuldade de

alguém afetar, oferecer alguma vantagem. Às

vezes, essas vantagens tem uma segunda

intenção, que eu vejo como negativa. [...]Vai

comprar uma peça, aí leva duas, mas pergunta

se o preço fica melhor. Tem essa questão do

quantitativo, eu não acho que é uma saída,

porque prejudica o comerciante. Nós temos

uma dificuldade com o concorrente nesse

sentido, de oferecer preço e estabelecer uma

quantidade maior, com isso, pessoas que eram

bons pagadores, se tornaram maus pagadores.

Então, essa oferta que oferece vantagens por

quantidade, interfere muito. Se o lojista tiver o

pé no chão, ele tem o discernimento que vai se

endividar e, assim, cresce. Mas se ele não tiver,

vai interferir em cadeia. O mercado não é

brinquedo, tem que ser trabalhado os critérios,

a ética, a responsabilidade para quem a gente

está vendendo tem que ter. É lógico que tem

que haver essa concorrência, mas no sentido

sadio, que possa viabilizar melhor, mas sem

forçar a barra”.

Superfaturar

Quantidade

Mudança no

comportamento

do cliente

Negociações

comerciais

Consenso de

interesse

Satisfação do

cliente do

fornecedor

3

“É importante, porque todos ganham. Esse é o

grande desafio. [...]Desfrutar do conhecimento

que você adquire, ser ponderado, coerente,

saber como conduzir as coisas, esse é um dos

pontos. Uma dificuldade que a gente enfrenta

com o cliente é de ofertar, às vezes, uma ilusão

que, na prática, tem uma consequência que não

é muito boa”.

Celebração de

acordo

comerciais

144

Influência

negativa

Relações

comerciais entre

cliente e

fornecedor

4

“Quando não consegue alinhar os fatos. Às

vezes, pode ter tido um problema de assistência,

ou um desencontro, o representante não tenha

informado corretamente. A gente tem uma

filosofia de que mesmo errado, o cliente ainda

está certo e ele compra de quem ele quiser. Eu

sou grato de ele nos atender, porque não é fácil.

Mesmo quando ele está exagerando, nós temos

que ter paciência, tolerância porque ele é quem

nos dá essa oportunidade. Somos dependentes

do comerciante, nesse sentido. Quando

desalinha alguma coisa, a gente tenta contornar

da melhor maneira possível”.

Dar assistência

Se colocar no

lugar do outro

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Fornecedor Industrial 3

Influência das

políticas

econômicas

1

“Eu acho que ela influencia o tempo todo. Por

que eu entendo política econômica como o

crédito do mercado, é a forma de você poder

repassar para o seu cliente o melhor preço,

uma melhor forma, ou você financiar melhor o

seu cliente”.

Crise política e

financeira

Dificuldade nas

negociações

Influência da

concorrência

2

“Modifica completamente, porque o mercado,

hoje, é um mercado comprador de preço, não

um mercado comprador de produto. Então, à

medida que ele é um mercado comprador de

preço, qualquer alteração na concorrência, por

exemplo, para você ter uma ideia, nós temos

um concorrente que está oferecendo um preço

financiado que equivale ao meu preço de à

vista. Que argumento eu tenho, tecnicamente,

para o meu cliente? A não ser que eu sou uma

empresa idônea, de 30 anos de mercado. Aí ele

olha para mim e pergunta ‘mas como é que ele

pode e você não pode?’ eu não posso

responder por ele, eu só posso responder por

mim”.

Mercador

comprador de

produto

Preço baixo

Consenso de

interesse

Satisfação do

cliente do

fornecedor

3

“Na questão de satisfação, eu vejo que o meu

cliente se satisfaz com o preço e eu me

satisfaço com o preço que eu preciso. No fim,

eu acho que chega numa equação de preço.

[...] Para mim não tem cliente bom ou ruim,

cliente é aquele que eu sento e o negócio é um

pedaço para mim e um pedaço para ele. Para

mim, o negócio tem que ser bom para os dois

lados.

Negócio bom

para todos.

145

Influência

negativa

Relações

comerciais entre

cliente e

fornecedor

4

“Eu acho que é tudo que foge do que foi

acordado. Por que, na próxima negociação, eu

tenho que dar uma situação em que já caiba

aquilo que ele montou e ele não vai gostar,

porque vai envolver o preço mais alto do

produto. Para mim, relacionamento é tudo.

Todo mundo tem problema, vamos sentar e

tentar resolver. [...] Mas quando você fica

ligando para o cliente e só recebe não como

resposta fica sem subsídios de ter jogo de

cintura com esse cliente para mais nada à frente.

Eu prefiro que sente e diga”.

Dar assistência

Se colocar no

lugar do outro

146

APÊNDICE D - ENTREVISTA REALIZADA COM OS DOIS DIRETORES DO

GRUPO EMPRESARIAL A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE A

INFORMAÇÃO E O PODER SÃO INDICADORES DE DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL NAS RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS TRÊS

FORNECEDORES INDUSTRIAIS

Na entrevista realizada com os dois diretores do grupo empresarial, na segunda etapa da

pauta, foram elaboradas cinco questões cujo intuito foi identificar como informação e poder

são indicadores de dignidade organizacional nas relações comerciais com os diretores do

grupo empresarial.

Observação Sequência Temática:

atos e

fatos

Diretor 1 do grupo empresarial

Negociações

transparentes

1

“Ela é transparente quando coloca um preço justo. Ela

avisa um prazo de entrega e cumpre com o prazo que

ela está prometendo. Aí fica uma relação transparente

entre a gente e o fornecedor, fica fácil de a gente fazer

as negociações. Prometeu tal data, cumpriu aquela

data, isso é muito importante. Isso vai influenciar

bastante e fica transparente para a gente e também para

eles”.

Preço

justo

Cumprir o

prazo

Sentimento de

hierarquização

2

“Olha, tem muitas fábricas que elas “se acham”,

entendeu? Ela se acha a “top dos tops”, só ela que

domina aquele mercado, mas não é bem assim. A gente

tem que ter, realmente, esse senso, dizer que eles

precisam da gente e a gente precisa deles, então não

tem que ser um melhor ou o outro menor. Agora,

obviamente, que redes grandes tem um preço de

barganha melhor. Eles fazem um preço mais acessível

do que a gente, aqui. E se ele vender um produto a um

fornecedor que compra em grande quantidade, aí eu

não compro, eu já compro outro produto para que eu

não venha a chocar preço, para que não fique com a

imagem da loja que vende mais caro. Eu corro daquele

produto, deixo de comprar ou mudo para outro”.

Quando

fornecedor

es se

sentem

“top dos

tops”.

Boa

parcela do

mercado

Comunicação

positiva/negativa

3

“Geralmente, a gente não conversa com os

fornecedores, a gente conversa mais com os

representantes. Os fornecedores a quem a gente está se

referindo, aqui, são mais a retaguarda, com os donos

mesmo a gente só encontra em feiras de móveis ou

quando a gente faz alguma visita à fábrica deles.

Quando a gente vai em feira de móveis, somos

apresentados diretamente ao dono. Mesmo sendo de

locais, estados diferentes. E devido ao convívio que a

gente tem, porque são várias feiras, já tem um vínculo,

que começou através de um representante que vem

O

representa

nte

comercial

147

aqui na loja. O representante é uma ponte para

chegar ao dono da fábrica ”.

Ações ditas e não

praticadas nos

acordos comerciais

4

É, justamente, quando a fábrica é séria; quando ela tem

serenidade; quando ela faz as coisas com lealdade.

Esse é o ponto. Quando você tem confiança de, por

exemplo, comprar naquela fábrica porque sabe que ela

vai entregar no prazo. Você sabe que aquela fábrica vai

honrar com o que ela está prometendo, com tudo o que

ela falou, em termos de prazo, assistência, qualidade,

aí você pega confiança”.

Lealdade

Dar prazo

e honrar

Dar

assistência

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Diretor 2 do grupo empresarial

Negociações

transparentes

1

“Tem que haver respeito, tanto nosso quanto

do fornecedor. Às vezes, a gente faz o pedido

e o representante acrescenta mais produtos do

que a gente pediu ou, então, pedia um produto

e, se faltava, encaixava outro produto. Às

vezes, tem produtos que eles colocam um

preço, na minha tabela tem um preço, mas

quando a gente vai procurar saber, tem uns

reais a mais do que havia na tabela, diziam que

foi erro do sistema. Isso desgasta, aí eu não

vou procurar mais a ele, já vou falar com o

dono, procurar saber o que está acontecendo.

O pessoal do depósito não tem a cópia do

pedido, o que eles colocarem lá, o cliente vai

receber e acaba pagando por produtos que não

comprou. Tem que haver parceria porque a

gente sabe que a responsabilidade é grande.

Houve casos de uma fábrica de quem a gente

comprava muito, que eles mandavam o

produto na cor errada para os clientes, estava

no auge do verde e laranja, eles mandavam

para o cliente o produto em uma caixa lacrada,

com outra cor diferente, a cor que tinha no

estoque, só para fechar o pedido. Aí nós

deixamos de comprar a este fabricante. Isso

fere a ética, e para o consumidor, não é a

fábrica, é aonde ele comprou. Aí a gente tem

que explicar. Alguns entendem, outros não”.

Respeito

Responsabilidade

Entrega do

produto correto

Comunicação

positiva/negativa

2

“Negativamente, é quando você faz o pedido,

por exemplo, para o final de ano e eles deixam

de nos entregar para entregar a empresas

maiores. É quando nos deixam na mão,

principalmente, com produtos de estofados

que vedem bem, então fica uma situação bem

difícil. Positiva é quando é parceiro, quando

está sempre preocupado em um satisfazer o

Falta de entrega

dos produtos por

privilégios a

outros clientes.

148

outro. Todo relacionamento do ser humano

deve ser desse jeito (pai com filho, marido

com esposa, colega de trabalho, colega de

faculdade). As coisas só dão certo quando um

ajuda o outro porque, se eu quero o bem do

meu cliente, jamais eu vou iludi-lo. Tem

clientes para todos. Essa loja deu trabalho

porque o pessoal veio muito cheio de vícios,

davam o preço ao produto pela cara do cliente.

Então eu digo que não se preocupe com a

venda, entre a venda e o cliente, eu prefiro o

cliente”.

Um tem que

ajudar o outro

Equipe

trabalhando

correto

Comunicação

positiva/negativa

3

“É ele ter pontualidade, cumprir com aquilo

que ele prometeu, com o que ficou acordado.

Da mesma maneira que é a nossa

responsabilidade com clientes, é a deles com a

gente. É entregar no dia que ficou acertado e

realmente o que foi pedido. Se eu tenho

confiança no meu fornecedor, eu posso vender

o produto para tal dia, mesmo não tendo na

loja, porque eu sei que vai chegar na data

certa”.

Pontualidade

Responsabilidade

com consumidor

Ações não ditas,

mas praticadas

4

“Quando se identifica antes, a gente faz

devolução. Quando só se identifica depois, na

casa do cliente, a gente para de trabalhar com o

fornecedor. Se eu peço uma determinada

quantidade e vem a mais, a gente faz

negociação. Tem representantes que gostam

de fazer o que eles chamam de “venda

programada”, aí vem muitos produtos,

tivemos que alugar um depósito para

colocar, e como eles não querem que a carga

volte – por conta do frete - a gente negocia a

data de pagamento e, geralmente, eles

aprendem a não fazer mais isso. A coisa, hoje,

é muito difícil, quanto mais concorrência, mas

a margem vai estreitando, os custos são altos,

os impostos também. Tem produtos que a gente

vende aqui que o imposto de saída é antecipado

ou quando vende em 10 vezes tem que pagar o

imposto à vista. Tem que ficar muito atento

para que não entre nada de errado nos depósitos

porque se você não comprou é porque não

precisa”.

Entrega errada

Quantidade

correta

Influência da

concorrência.

149

APÊNDICE E - ENTREVISTA REALIZADA COM OS TRÊS FORNECEDORES

INDUSTRIAIS A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE A INFORMAÇÃO

E O PODER SÃO INDICADORES DE DIGNIDADE ORGANIZACIONAL NAS

RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS DOIS DIRETORES DO GRUPO

EMPRESARIAL

Na entrevista realizada com os três fornecedores industriais, na primeira etapa da pauta,

foram elaboradas quatro questões cujo intuito foi identificar como informação e poder são

indicadores de dignidade organizacional nas relações comerciais com os diretores do grupo

empresarial.

Observação Sequência Temática: atos

e fatos

Fornecedor Industrial 1

Negociações

transparentes

1

“A nossa, em relação a nosso cliente, a gente não tem

nenhum plano B. A gente trabalha no plano A, que é

tudo correto. Os nossos fornecedores, em sua

maioria, são de grande porte. Não tem essa questão

de negociação em plano B, só se negocia no plano A,

que é tudo muito às claras. Basta dizer que a gente é

cliente da “empresa X”, que é uma multinacional, é do

Banco “X”. É tudo muito claro, muito limpo”.

Clareza nas

informações e

ações

Sentimento de

hierarquização

2

“Agora, é frequente, por causa desses grupos.

Eu estou trabalhando com uma empresa, tudo

normal, eu já havia trabalhado com ele antes, saí

porque o nosso produto é a montar, a entregar. Eu

entrego uma quantidade de caixas para a loja e a

loja faz a venda, entrega a caixa na casa do cliente,

isto é, faz uma reentrega. A função e o custo de

entregar para o cliente é da loja e a montagem

também é um problema dele. Então essa loja tinha

um serviço de entrega e de montagem, que era

terceirizado, muito ruim. Então toda semana minha

empresa estava no Procon, só por dessa empresa.

Eu vendo, duas, três, quatro mil mesas por mês e

nenhum outro cliente, em nenhum Estado deu

problema, só com aquela empresa, então o

problema de estar no Procon está comigo ou com

a empresa? Aí voltei agora e ela entrou nesse

sistema da máquina de vendas, e eu vou perdê-la

também porque para que eu trabalhe com ela, eu

vou ter que assinar um contrato malversado, um

contrato totalmente unilateral, um contrato que tem

uma causa que fala em equalização, que é: chega

um fornecedor, eu estou comprando um produto

seu por quinhentos, comprei por 300, mas chegou

um fornecedor que me ofereceu por 150, então

você vai ter que baixar o seu para 150 por que o

outro ofereceu esse valor. O produto não vendeu

Em face da

concorrência

Contratos

abusivos

150

por algum motivo, vou rebaixar o preço para

vender e você vai rebaixar também. Ou seja, todos

os problemas que acontecerem por incapacidade

deles eu vou ter que responder. É um contrato

malversado, é um contrato agressivo, fora do

padrão de comercialização mercantil. E outra

coisa, você não pode emitir duplicata. Te pago no

vencimento, se não puder, pago depois. E eu faço

o que com o meu fornecedor que tem data e tem

compromisso? Eu estou falando desse caso

específico, mas tem outros, por exemplo, na

Paraíba, no Rio Grande do Norte, os pequenos

formaram as redes, que está pegando a mesma

formulação desses grupos. A rede são vários

lojistas que estão se unindo, fazendo tipo uma

cooperativa e negociam da mesma forma, só que,

na hora de comprar, compram como um usuário,

não compram 10 ou 20 produtos, querem comprar

um produto pela condição de quem comprou mil,

o que é pior ainda. Aqui em Pernambuco foi

formado uma e a gente perdeu já porque estamos

com uma grande dificuldade. Perdemos uma boa

parte dos grandes clientes de Pernambuco, não

estamos conseguindo vender porque causa disso.

Isso é uma coisa que tem crescido, esse tipo de

prática. Começou na Paraíba, vazou para o Rio

Grande do Norte e agora chegou em Pernambuco.

Vendemos muito bem no Ceará, até agora não

apareceu esse tipo de situação no Ceará, é

setorizado”.

Postura do cliente

nas negociações

que reflete

confiança

3

“É aquele cliente que compra o que pode e cumpre

com aquilo que combinou. Esse é o crédito perfeito.

Não importa se ele compra uma ou mil mesas. O

melhor cliente do mundo é aquele que compra e paga

corretamente. Qualquer cliente que não cumpre aquilo

que foi previamente combinado... A gente tinha

melhorado muito a questão de inadimplência e a

questão de segurança porque, na época de inflação

galopante, no passado, a insegurança era muito

grande, até porque quando se atrasava trinta a

quarenta dias, a empresa perdia, muitas vezes, não só

a lucratividade, mas o próprio produto porque não

tinha mais condições de repor. Isso tinha melhorado

muito. A questão de pontualidade, de honestidade, de

responsabilidade, ano passado, a gente chegou a ter

uma inadimplência de 2%. Em 2013% a gente teve

uma inadimplência de 6%, 7%. Esse ano começou

bem, mas, atualmente, já está tendo muito problema.

Nós, hoje, poderíamos entregar uma infinidade de

produtos. Nós temos muitos pedidos feitos, no

entanto, são clientes que, se a gente entregar, o ruído

vai ser pesado. A margem de insegurança de liquidez,

Cumprimento

do acordo.

Inadimplência

Inflação

galopante.

151

é alta, aí a gente não está mais correndo risco, porque

até cliente bom está enfrentando dificuldades,

imagina aqueles que são duvidosos?!

Postura nas

negociações reflete

confiança

4

“É aquele cliente que compra o que pode e cumpre

com aquilo que combinou. Esse é o crédito perfeito.

Não importa se ele compra uma ou mil mesas. O

melhor cliente do mundo é aquele que compra e paga

corretamente. Qualquer cliente que não cumpre aquilo

que foi previamente combinado... A gente tinha

melhorado muito a questão de inadimplência e a

questão de segurança porque, na época de inflação

galopante, no passado, a insegurança era muito

grande, até porque quando se atrasava trinta a

quarenta dias, a empresa perdia, muitas vezes, não só

a lucratividade, mas o próprio produto porque não

tinha mais condições de repor. Isso tinha melhorado

muito. A questão de pontualidade, de honestidade, de

responsabilidade, ano passado, a gente chegou a ter

uma inadimplência de 2%. Em 2013% a gente teve

uma inadimplência de 6%, 7%. Esse ano começou

bem, mas, atualmente, já está tendo muito problema.

Nós, hoje, poderíamos entregar uma infinidade de

produtos. Nós temos muitos pedidos feitos, no

entanto, são clientes que, se a gente entregar, o ruído

vai ser pesado. A margem de insegurança de liquidez,

é alta, aí a gente não está mais correndo risco, porque

até cliente bom está enfrentando dificuldades,

imagina aqueles que são duvidosos?!”.

Cumprir o

acordo.

Inadimplência

Ações ditas e não

praticadas nos

acordos

5

“Tem o cliente que pediu uma cor, aí vai outra, mas

ele está acostumado a vender todas, dá um adiamento

naquele título, considerando o que ele ia comprar

depois, para compensar. Se for do interesse dele,

devolve o produto e vai o produto que ele pediu, ou

seja, a gente sempre faz o que precisa ser feito. A

gente trabalha para não errar, mas se o erro acontecer,

vamos corrigi-lo, não tem trauma quanto a isso. A

gente não vai forçar o cliente a ficar com o produto ou

qualquer coisa, quem erra tem que assumir o seu erro

e corrigir. Pedir desculpas e dizer que trabalha-se para

não errar mais. Isso acontece, mas é raro.

Eventualmente, um colaborador faz uma marcação

Compreensão

do cliente

152

equivocada, aí o produto vai numa caixa que, fora

dela, vai outra informação. Isso é muito difícil, mas,

infelizmente, acontece, pois estamos lidando com

humanos”.

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Fornecedor Industrial 2

Negociações

transparentes

1

“Nós, enquanto indústria, dependemos

muito do profissional representante, da

pessoa que faz essa ponte, ele tem que

tratar as coisas com veracidade, ter zelo

no trabalho porque ele também vive

disso, então ele tem que ter uma

qualidade de serviço. Essa confiança é

mais por intermédio do representante. É

claro que a fábrica precisa dar os subsídios

e contornar algumas falhas que podem

acontecer, vindo do representante, isso

acontece, esclarecendo pontos, tirando

dúvidas para que essa transparência ocorra

da melhor forma possível. Nós sempre

tivemos essa preocupação de prestar esse

serviço com qualidade. Eu me preocupo

também com o respeito no sentido da

confiabilidade, da credibilidade, do que

com uma venda, seja ela no preço que for.

O valor da compra não é o que me

incomoda, mas o relacionamento, é estar

trabalhando de uma forma transparente,

que possa somar, que todos possam

ganhar”.

Postura do

representante

Serviço de

qualidade

Manter bons

relacionamentos

153

Sentimento de

hierarquização

2

“É muito raro isso acontecer, mas, devido a

oferta, que é o que corrompe e confunde o

comerciante, a oferta muito maior do que a

procura [...]”.

Oferta maior

que procura.

Comunicação

positiva/negativa

3

“Ela é muito mais positiva. Essa outra parte é

quase imperceptível, mesmo porque quando a

gente trata bem, automaticamente, coloca o

outro na obrigação de também tratar bem. Esse

é um ponto forte que eu não abro mão. Eu

tenho que entender que, por estar do outro

lado, ele pode se equivocar e a nossa

obrigação é entender, não é desaprovar ou

entrar no jogo. Isso beneficia muito a empresa.

Nós deixamos sempre bem claro para os

colaboradores que não é porque eles trabalham

aqui há dez anos e entra uma pessoa, hoje, que

você vai dizer algo que desagrade. A

integridade da pessoa tem que ser preservada.

Os anos que ele trabalha aqui não valem, mas

vale o trato dele”.

Clareza no

diálogo.

Respeito à

integridade do

outro.

Postura do

cliente nas

negociações que

reflete confiança

4

“[...] então, às vezes, ele se envaidece, e o ego

pode confundir, então pode haver de forçar a

barra, nesse sentido. É achar que está fazendo

um favor ou dizer que só compra por tal preço.

Às vezes, as redes de loja, de uma forma

terceirizada, acontece de eles exagerarem,

nesse sentido”.

Vaidade

Sentimento de

poder

Ações não ditas

e praticadas nos

acordos

comerciais

5

“Acontece, sobretudo, na cor, de o

representante errar. Esse episódio já

aconteceu várias vezes, de o representante

repassar o pedido via e-mail e errar em

alguma coisa. Isso tem sido contornado de

uma forma fantástica porque, às vezes, o

cliente não devolve. Talvez o trato que nós

temos, essa confiança, então a gente resolve

sem que façam a troca do material”.

Erro do

representante

Resolver da

melhor forma

para o cliente

154

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Fornecedor Industrial 3

Negociações

transparentes

1

“Eu acho que a forma como a gente opera aqui

é transparente. Ontem veio aqui um filho de

uma cliente e eu mostrei a ele uma cadeira, e

ele perguntou o preço, eu dei. Então ele

perguntou: ‘se eu comprar, você me dá um

prazo?’ E eu falei que dava, para esse

lançamento e essa venda específica, a gente

pode ajeitar um preço melhor para você, leve o

produto. É isso o que eu chamo de

transparência. Ou se a gente estiver com

algum problema, um xeque fora de prazo, eu

digo que não posso lhe dar mais prazo, se você

já não cumpriu com o prazo anterior. Às

vezes, do outro lado, você sente que o cliente

está fazendo o jogo do ‘171’, de esconde-

esconde, então eu também começo, mas chega

uma hora que não dá mais para onde ir. Eu

acho que essa transparência é você ser

realista”.

Agir com

transparência

Quando os

clientes agem de

forma enganosa

Sentimento de

hierarquização

2

“Várias vezes. Existe duas situações bem

claras. O cliente hoje tem tudo nas mãos,

inclusive, o poder de pagar, afinal de contas, tanto eu como ele, não vive para fazer graça

para ninguém, a gente vive para transformar o

nosso trabalho em algum dinheiro. Então eu

acho que, sempre, o cliente está com o poder na

mão, principalmente, quando é um cliente visto

pelo mercado como bom pagador. Você nunca

ouviu falar de leilão de cliente? O cliente liga

para um e para o outro, eu tenho aqui fulano que

faz por um preço, você faz por quanto? Isso

acontece. Eu nunca me senti no lado inverso, a

não ser pelo fato de o produto da gente ter uma

marca, tem muita gente nova que quer trabalhar

com a gente, mas não conseguimos

informações do mercado para trabalhar. É uma

situação em que eu sinto que tenho uma força,

mas não uma força imperativa. Eu tenho uma

força de atrair o novo para um produto legal,

bom, mas força de fazer com o cliente o que eu

quiser, não. Em momento nenhum a gente tem

esse tipo de poder. Eu acho que só as grandes

empresas possuem esse tipo de poder (Apple,

Microsoft, Coca-Cola, Danone). Quem tem

quase que uma ‘comodit’ não tem como

trabalhar de outra forma”.

Diversas

quando o cliente

tem o poder

Poder de

empresas

grandes

155

Comunicação

positiva/negativa

3

“Depende. Eu descobri que comunicação é

uma caixinha de surpresas. Mês passado veio

um cliente aqui com uma peça de mesa dizendo

que não sabia se eu havia entregue a peça a ele

ou se ele entregou a peça para a cliente e ela

estava dizendo que ele não mandou. É

complicado, porque eu tinha três documentos

assinados por ele, afirmando que recebeu.

Quando eu disse isso, ele ‘voou’ em cima de

mim, ‘é um absurdo’, ‘é só ele que é errado’. Eu

tive medo. Eu vi a hora de ele partir para cima

de mim. E eu não sei o que foi que eu disse. Ele

entendeu que eu disse que eu estava certíssima

e que estava errado na situação só era ele,

quando eu só disse que tinha um documento

assinado por ele confirmando que eu havia

entregue tudo. Comunicação é você saber

qual é o idioma da tribo. Foi uma das coisas

que eu mais ‘penei’ aqui. É o que incomoda e o

que não incomoda. O que para você não é nada,

para os outros chega de uma maneira diferente.

Muitas vezes, eu atento para o que vou falar,

porque as pessoas podem não entender.

Palavras que tem um sentido para mim, pode

ser absorvido com outro sentido para outra

pessoa. Para mim, comunicação é uma arte,

que eu não domino muito. Às vezes, ainda me

enrolo um pouco”.

Interpretar a

comunicação

O saber

comunicar

Postura do

cliente nas

negociações

4

“É aquele cliente que faz um acordo e cumpre

ou, se não cumpre, volta para renegociar. É

um cliente que entende que a gente trabalhou

para ter aquele produto. Para mim, isso faz toda

a diferença. Uma pessoa que vende meu

produto e tem respeito pelo meu trabalho, isso

é muito importante. Quando um cliente me

defende enquanto marca, enquanto loja”.

Cumprir o

acordo.

Tentar negociar

Falar bem do

fornecedor

Ações não ditas,

mas praticadas

5

“Acontece. Quando eu identifico o problema

antes do cliente, eu mesmo que ligo para

realizar a troca, quando o cliente percebe

antes de mim, ele quem liga. Existe a gente,

o representante e o cliente. Às vezes, só o

cliente está certo, ou o representante anotou

alguma coisa errada e ir uma cor, uma estampa

errada. A gente recolhe, na hora, e troca. Eu

não lembro de haver nenhuma situação com

relação ao envio equivocado na quantidade de

produtos para um cliente. Ocorre de, às vezes,

eu ter um pedido e faltar um tanto de

produtos para completar, por falta de

material. Aí eu ligo para o cliente e falo que

a carga vai faltando alguns produtos, envio

um documento de pendência e, assim que

chegar, eu mando. Cliente que pagou a mais,

nós ligamos para avisar ou, na próxima

Resolver as

falhas da melhor

forma pata

156

compra, abate. Os nossos clientes têm muita

confiança no que é dito aqui. Se ocorrer de ir

um produto com uma cor errada, eles ficam

com o produto. Eles ligam para perguntar o

que está vendendo, a gente fala e eles

compram, eles sabem que nós não somos de

‘empurrar’ produtos”.

157

APÊNDICE F - ENTREVISTA REALIZADA COM OS DOIS DIRETORES DO GRUPO

EMPRESARIAL A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE COMO O

ACORDO COMERCIAL BASEADO NO PRAZO, NO PREÇO, NA QUALIDADE, NA

QUANTIDADE E NA ASSISTÊNCIA REFLETEM A DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL NAS RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS TRÊS

FORNECEDORES INDUSTRIAIS

Na entrevista realizada com os dois diretores do grupo empresarial, na segunda etapa da

pauta, foram elaboradas cinco questões cujo intuito foi identificar como o acordo comercial

baseado no prazo, no preço, na qualidade, na quantidade e na assistência refletem

dignidade nas organizações

Observação Sequência Temática:

atos e fatos

Diretor 1 do grupo empresarial

Formalização do

acordo comercial

1

“Começa através de um representante que faz uma

visita até a loja, aí a gente olha o produto e, se nos

agradar, a gente compra. Aí, justamente, o fornecedor

fica comprando às fábricas decorrente ao representante

comercial”.

Através do

representant

e comercial

Prazos praticados

2

“Atualmente, de 120 a 150 dias. Somente. Agora, com

essa crise que está havendo, teve fábricas que colocou

até em 10 vezes, mas o certo é, no máximo, 150 dias”.

Estendidos

Cumprimento ou

não de prazo

reflete a imagem

do fornecedor

3

“Eu vejo da seguinte forma: pode ser que, naquele

período, tenha ocorrido algo que fez com que ele não

me entregasse, mas se for toda vez a mesma coisa você

vê que não é um fornecedor sério. Mas tudo pode

acontecer, uma carga pode virar, o caminhão pode

ficar preso na fronteira porque, às vezes, fica preso no

posto fiscal uns cinco dias porque fulano não está

pagando o imposto, isso aí é normal. Às vezes, você

tem até pena porque fica a mercadoria para chegar e

não chega, mas houve um problema no percurso.

Agora quando o problema é recorrente, aí mudamos de

fornecedor”.

Se houver

casos de

situações

inesperadas

aceitável,

mas se for

para

enganar, é

melhor

trocar de

fornecedor

Preços praticados

4

“O preço é aquilo que realmente ele vale. Você tem

que ver tudo quando vai comprar um produto, se

realmente aquele preço está sendo justo porque o que

existe, atualmente, no ramo moveleiro, é que são

produtos muito parecidos. Eu até brinco: é a mesmice!

Aí você vai vendo o preço e vai comparando. Se é MDF,

se é MDB, aglomerado, se é de chapa de 15, chapa de

18, aí você começa a ver esses detalhes que vão fazer

toda a diferença na sua loja. Aí o preço, realmente, você

tem que estar bem atento às negociações. Aqui eu

trabalho sempre com catálogos. Tem produtos que você

vê que vale a pena colocar, então você coloca, mas tem

outros que podem chocar no preço com outros produtos.

O que vale.

O justo

158

Como é o caso da Magnum, eu estou trabalhando com

eles porque vale a pena, tem pezinho, é mais alto. São

detalhes. É o que vai, justamente, pesar na negociação”.

Qualidade

5 Você observa se a qualidade é do seu

cliente/consumidor, nesse momento da negociação. Por

exemplo, já aconteceu de determinado fornecedor ter

produtos que o consumidor venha muito reclamar, aqui

na loja ou venho parabenizar? [...] Você precisa ver os

detalhes. Chapa de 15, chapa de 18, a profundidade.

Tudo isso vai influenciar na avaliação do fornecedor.

[...] Um produto sem qualidade prejudica a gente

porque tem que ir na casa do cliente trocar peça. Não

adianta, a gente tem que trabalhar olhando o

produto para que seja bom para o nosso

consumidor”.

O reflexo de

qualidade

está na

aceitação do

consumidor

Quantidade 6 “Você tem um preço diferenciado, você tem um

frete diferenciado, é tudo diferenciado. É por isso

que essas grandes lojas não compram no mesmo preço

da gente. Aí quando eu não tenho condições eu compro

o produto, do mesmo modelo, com outro fornecedor ou

um produto de outro modelo, com o mesmo

fornecedor”.

Reflexo do

preço e

qualidade

O papel da

assistência

7 “É importante. Eu só fecho a compra se oferecer

assistência. Fabricantes que não dão assistência eu já

deixei de comprar e disse mesmo nas feiras. Eles só

querem vender, mas para nos ajudar quando a gente

mais precisa, quando o produto está danificado na casa

do cliente, eles não dão uma mão. Então eu só volto a

comprar quando melhorarem em termos de

assistência.

[...]A assistência é fator decisivo. É por isso que eu

sempre digo: a crise está, mas a loja continua com esse

mesmo perfil. A gente não pode perder a qualidade. Deu

problema, a gente está lá para resolver, junto do cliente,

e tem que cobrar deles, resolva, para que o cliente veja

que a gente resolveu o problema, que deu atenção a ele.

Assim, cria-se uma fidelidade e aquele cliente indica

para outras pessoas. Multiplica, porque você cria um

relacionamento com eles. E relacionamento, hoje em

dia, é tudo num comércio. Se você não tiver

relacionamento, não tem nada no comércio”.

Fator

decisivo nos

negócios

Mantém o

bom

relaciona-

mento

159

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Diretor 2 do grupo empresarial

Formalização

do acordo

comercial

1

“Primeiramente, nós ligamos para a empresa ou

para o representante e ele vem aqui. Nós vemos

como estão os preços e, geralmente, seleciona o

produto dele com um que seja próximo, para ver

se tem muita diferença nos valores, vê se o

produto dele tem boas vendas e o prazo que ele

dá [...] ”.

Através do

representante

comercial

Prazos

praticados

2

“Geralmente, no máximo, é 120 dias. Quando o

negócio está muito apertado, eles dão até 180

dias, porque quanto mais prazo ele der, mais a

gente acrescenta vendas. Hoje, praticamente

90% das nossas vendas são em dez vezes. Então,

para nós, é uma situação muito difícil, porque a

gente vende a longo prazo, mas compra a curto

prazo. A carga tributária é a curto prazo, então há

um desencaixe muito grande e a gente tenta

negociar com eles o maior prazo que eles

puderem, o melhor preço, desde que não afete na

comissão deles porque eles também precisam ter

sua comissão porque senão eles também não têm

mais prazer em vender. Tem que ter uma parceria

que seja boa para os dois lados”.

Esticados

Preços

praticados

3

“[...]o melhor preço, desde que não afete na

comissão deles porque eles também precisam ter

sua comissão porque senão eles também não têm

mais prazer em vender. Tem que ter uma parceria

que seja boa para os dois lados. Hoje, nós temos

uma ótima credibilidade com os fornecedores, eles

nos oferecem tudo que podem dar, conseguimos

prazos como se fossemos uma rede, eles nos dão o

maior prazo que podem, o maior desconto. Eles

mesmo já negociam para nós. Somos honestos, a

gente não compra nada que não possamos pagar.

Geralmente, eles já vêm com o melhor que pode”.

Acessível a todos

Qualidade

praticada

4

“[ ...] Se o produto é bom, tem bom

acabamento, não tem muito retorno, mas se há

muito retorno, é porque a qualidade dele é

fraca, desde a indústria. A gente vê empresas

que vendem muito, mas todos os dias voltam

produtos. Então produtos bons para nós são

aqueles que tem bom acabamento, tem qualidade,

tem uma boa visão do cliente, chama a atenção e

não nos traz nenhum transtorno. Esse é um

Produto bom, bem

acabado, que não

demande muita

reclamação do

consumidor

160

produto com excelente acabamento porque se

trabalhou encima da qualidade, mesmo que ele

custe um pouco mais caro, mas ainda é viável. O

cliente, hoje, quer isso, ele quer qualidade e quer

preço, mas entre o preço sem qualidade, ele

prefere levar uma coisa mais cara”.

Quantidade

praticada

5

“Quanto mais você comprar, mais terá uma maior

margem de desconto, uma melhor negociação. Às

vezes, ocorrem de os fornecedores fazerem

promoções, colocam um produto como se fosse

um brinde. Geralmente, a quantidade influencia no

desconto”.

Depende do preço

e da negociação de

prazo.

Papel da

assistência

6 “É fator decisivo, muito importante. Sem

assistência, não há compra. Por que senão você

vai ficar com um problema na mão sem poder

resolver ou terá um prejuízo muito grande para

poder resolver. Sem assistência, não tem como.

O ideal seria que não fosse preciso a assistência,

mas quando tiver, ela tem que ser humana”.

Fator decisivo nas

negociações

161

APÊNDICE G - ENTREVISTA REALIZADA COM OS TRÊS FORNECEDORES

INDUSTRIAIS A RESPEITO DA COMPREENSÃO DELES SOBRE COMO O

ACORDO COMERCIAL BASEADO NO PRAZO, NO PREÇO, NA QUALIDADE, NA

QUANTIDADE E NA ASSISTÊNCIA REFLETEM A DIGNIDADE

ORGANIZACIONAL NAS RELAÇÕES COMERCIAIS COM OS DOIS DIRETORES

DO GRUPO EMPRESARIAL

Na entrevista realizada com os três fornecedores industriais, na primeira etapa da pauta,

foram elaboradas quatro questões cujo intuito foi identificar como o acordo comercial baseado

no prazo, no preço, na qualidade, na quantidade e na assistência refletem dignidade nas

organizações.

Observação Sequência Temática:

atos e

fatos

Fornecedor Industrial 1

Formalização do

acordo comercial

1

“Nós temos um representante, que tem um pedido

padrão, com uma tabela que tem preços, código e

fotos, atende pessoalmente. Nós temos algumas

pessoas no escritório que ligam para tirar dúvidas,

para saber da satisfação do cliente, para saber se

precisa de mais alguma coisa e, eventualmente, é

comprado, às vezes, por exemplo, vai uma carga para

Pernambuco, aí falta mil quilos, aí a gente sai ligando

para aqueles clientes potenciais para o complemento,

para que o carro vá completo o máximo possível.

Invariavelmente, se consegue fazer isso, mas não é a

nossa especialidade. A nossa especialidade é ter um

representante que atende, pessoalmente, cada

lojista, corpo a corpo. É assim que é feito, é assim

que funciona. É tudo burocrático, no papel,

devidamente identificados”.

Represent

ante

comercial

Prazos praticados

2

“Para falar a verdade, você agora mexeu numa ferida

aberta, porque nós tínhamos um prazo médio de 30

dias para os fornecedores. Há quinze anos atrás, eu

recebia 80% da venda, à vista, porque tinha o

desconto e era vantajoso, mas o mercado foi ficando

mais difícil e o lojista foi tendo que dar mais prazo

para quem compra e, naturalmente, foi pedindo mais

prazo para quem vende. Eu trabalhava com 30 dias,

foi uma briga para ir para 45. Não quero, não dá.

Depois, por fulano está vendendo a 60, eu também

fui obrigado a ir a 60 dias, fui obrigado a ir a 75, a

90, hoje nós temos um prazo de 30 até 150. Nós

sabemos de gente que entrega com 300 dias. Hoje,

o melhor prazo que eu tenho é 60 dias, este é o

melhor prazo de compra. Eu não quero mais porque

quanto mais longe você compra, parece que sua

dívida não acaba nunca”.

Estendido

s

162

O não

cumprimento de

prazo reflete a

imagem do cliente

3

“Reflete. Quando o cliente não paga correto, a

gente coloca ele numa fila de espera, na lista de

cliente de risco.

Reflete

negativam

ente

Preço praticado

4

“Infelizmente, é. Não era para ser, porque nós já temos

um preço muito enxuto, mas, para não perder venda

e muita gente apela, a gente perde na margem de

lucro e, às vezes, vende até sem lucro”.

Manter a

clientela

Qualidade

praticada

5

“Vendo o produto final, o conforto, a ergonomia, o

sistema de montagem porque, muitas vezes, o

produto é bonito, mas não monta bem ou, por

exemplo, tem um vício de origem e a gente corrigiu

isso, pois só vimos depois. Às vezes, o lojista ajuda

a gente”.

O produto

tem que

ser bom

em todos

os

aspectos.

Quantidade

praticada

6

“Reflete porque, quando eu faço uma entrega que eu

vendi, por exemplo, para 30 clientes, o carro vai levar

de oito a dez dias para entregar. Ele vai de porta em

porta entregar cinco, dez, vinte unidades. Esse frete

custa 6%, 10%, vai depender do tempo que ele vai

demorar, porque o frete gasta com combustível, diária

do motorista, diária do ajudante, seguro, é o custo do

carro que eu tenho que pagar. Quando eu faço uma

venda de, por exemplo, um caminhão fechado,

acontece o que a gente chama de “um apanha, um

entrega”. Ao invés de eu gastar, seis, sete, oito, eu

vou gastar 2% porque o caminhão, se for perto, faz

em 24hrs, se for um pouco mais longe, em 42hrs e se

for mais longe ainda, 72hrs, nunca a mais que isso.

Então, todos os custos despencam e a gente passa isso

para o cliente. Na verdade, a gente está devolvendo o

que é dele, é um desconto que eles têm direito. Esse

é um dos fatores. Outro fator é ele estar comprando

muito. Dá menos trabalho para o revendedor, para a

fábrica. Burocraticamente falando, se eu tenho 30

clientes, é uma média de 4 títulos por cliente, então

teremos 120 títulos. São muitos fatores que precisam

ser vistos”.

Redução

dos

preços

Descontos

Assistência

praticada

7

“Decisivo demais. O cliente que compra um produto,

pede a assistência e não é atendido, ele é um ex-

cliente. Ele não compra mais, fica com raiva. Eu não

perco só ele, porque ele propaga essa informação”

Fator

decisivo

163

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Fornecedor Industrial 2

Formalização

do acordo

comercial

1

Primeiro, falando de uma forma gradativa, o

cliente faz a primeira compra e esse é o ponto

inicial, quando ele conhece, tem acesso ao

produto. Primeiro, ele compra poucas peças,

depois a gente fala para ele comprar mais.

Normalmente, começa-se abrindo o mercado

com o cliente vendendo poucas peças, como se

fosse uma mostra. Ás vezes, mandamos uma

peça sem nenhum ônus, como se fosse

investindo, dando um bônus, gratificando, para

que ele tenha acesso ao produto. Com isso, ele

faz uma avaliação, vê o produto, como tem

vários fornecedores, ele compara. Para o

lojista, é sempre difícil comprar de um novo

fornecedor porque, na loja dele, os espaços já

estão todos ocupados, então para ele tirar um

produto, ele tem que tirar outro, então ele vai

avaliar. A gente está sempre em um

laboratório de pesquisas do comerciante, que

avalia como você está vendendo, então é

preciso vender serviço, vender qualidade, é

um conjunto de coisas, além da confiança de

saber que, se tiver um problema, pode contar

com a empresa, se precisa de uma assistência,

vamos dar”.

De forma

gradativa

Prazos

praticados

2

“Os prazos são um desafio para nós.

Porque, por exemplo, eu compro do meu

fornecedor para pagar com um prazo

médio de 45 dias, mas o nosso cliente

quer pagar com 30, 60, 90, 120, 150”.

Elastecidos

Cumprimento

de prazos reflete

na imagem do

cliente

3

“Antes nós recebíamos por intermédio de

xeques e pouca duplicata. Há dez anos atrás

era mais fácil ter uma liquidez de xeque, numa

duplicata, a inadimplência era maior. Isso

mudou totalmente. O xeque passou a ser uma

coisa que desvalorizou. Eu não quero mexer

com xeque, só com duplicata, que passou a ser

uma coisa mais segura, que preocupa o cliente,

do que o xeque. Inverteu o processo do xeque

versus duplicata, que hoje é muito mais sadia,

melhor, o cliente se programa”.

A mudanças de

mercado tem

melhorado o

cumprimento

com o uso cada

vez maior da

duplicata

164

Preço praticado

4

“O preço é importante, mas não é a parte

principal. Eu acho que é importante ter um

preço competitivo, um preço bom, que possa

dar lucro, tem que ter uma saúde para ambos.

Não adianta ter um cliente que tem um

fornecedor que fornece hoje, mas amanhã não

pode fornecer mais. O preço é fundamental

para as partes, todo mundo tem que ganhar.

Se alguém não estiver ganhando, vai quebrar

essa cadeia. É importante que se tenha

resultados, mesmo que eles diminuam com a

competitividade, com a automação, com a

tecnologia, mas ainda assim, gera mais

empregos, tem maior competitividade, mais

acessível no preço e pessoas que não poderiam

comprar, passam a poder comprar porque os

móveis baratearam muito ao longo dos anos”.

É importante

quando existe

um preço

competitivo,

que possa dar e

todo mundo

ganha.

Qualidade

praticada

5

“O cliente avalia a qualidade pelo

acabamento, pela garantia do material, pelos

acessórios. A qualidade é avaliada com o

tempo, ela não pode ser avaliada a curto prazo.

Vender um produto a um cliente, não pode ser

realizada somente uma venda, tem que dar

continuidade a essa venda. Então a qualidade é

avaliada nessa continuação, em você fidelizar.

A mulher é responsável pelo desenvolvimento

da indústria no mundo inteiro, porque são elas

que não compram as mesmas coisas. Então as

mulheres fazem as vendas aumentarem, são

elas que regem o mercado. Ela é peça

importantíssima, ela não olha, ela toca, olha

tudo. Tem esse detalhe”.

Nos acabamento

acessórios

utilizados na

fabricação do

produto.

Quantidade

praticada

6

“Então, essa oferta que oferece vantagens por

quantidade, interfere muito. Se o lojista tiver o

pé no chão, ele tem o discernimento que vai se

endividar e, assim, cresce. Mas se ele não tiver,

vai interferir em cadeia. O mercado não é

brinquedo, tem que ser trabalhado os critérios,

a ética, a responsabilidade para quem a gente

está vendendo tem que ter. É lógico que tem

que haver essa concorrência, mas no sentido

sadio, que possa viabilizar melhor, mas sem

forçar a barra”.

Tem que ser

vantajosa a

prática e o

produto, para

que aja a

quantidade

165

Assistência

praticada

7

A assistência é um fator decisivo porque

comprar um produto com avaria, mesmo que

não tenha sido a fábrica, mas no manejo do

cliente ou o montador arranhar uma peça, ele

não vai perder o produto, então ele quer sentir

uma confiança da assistência. Normalmente,

ele não diz que foi ele, diz que chegou

danificado. Então nós damos assistência. Se

acontecer alguma coisa, nós repomos, o

produto completo ou a peça que danificou,

isso é peça fundamental. Muitos clientes

trocam de fornecedores porque não tiveram

assistência, então é uma coisa decisiva.

Observação Sequência Temática: atos e

fatos

Fornecedor Industrial 3

Formalização

do acordo

comercial

1

“Pedido. A gente elegeu como canal de vendas

um representante”.

Representante

comercial

Prazos

praticados

2

“À vista, 30, 60, 90, 120. É o máximo que eu

faço. [...] Se o cliente for sólido, a gente ajeita.

Compram com 120 dias para pagar como se

fosse 90 dias, por exemplo”.

Estendidos

Cumprimento

ou não de prazo

e reflexo na

imagem do

cliente

3

“O cliente que trabalha no comércio vive de

uma coisa chamada crédito. O crédito é o que

eu comprei versus o que eu paguei. Nós

utilizamos instrumentos. Eu pesquiso no SCI,

eu coloco o CNPJ e ele dizer quem é você,

como é o seu pagamento. Então, o não

cumprimento dos prazos reflete para todo o

mercado”.

Repercussão em

todo o mercado

Preço praticado

4

“Mostrar qualidade. É a única forma que a

gente tem de negociar preço. É ter qualidade em

tudo, no produto, no atendimento, na entrega,

na assistência, no pronto-retorno, ou seja,

vender e ser reabastecido. [...] o preço é... Eu

não diria que tudo, mas uns 70%”.

Reflete 70% das

negociações

Qualidade

praticada

5

“Eu acho que ele avalia 10”.

Alta exigência

166

Quantidade

praticada

6

“Eu vendo para lojistas, não vendo para pessoa

física. Então a gente tem um valor mínimo

para faturar. Existe um custo de duplicata

que se você não tiver um valor mínimo para

tentar diminuir aquele custo, não vale a pena.

Tem

quantidades

estabelecidas

Assistência

praticada

7

“Logo que eu vim trabalhar aqui, a assistência

era tudo. O cliente quebrou alguma coisa e

quer assistência, mas isso não é assistência.

Assistência é um problema de fábrica que

chegou no cliente. Mas antes não era assim, o

mercado de móveis tinha uma história de

troca-troca de móveis, de ajeita aqui e ali, que

eu penei muito quando eu vim para cá. Se for

erro de fábrica, eu faço tranquilamente. [...]

Cada vez menos o cliente percebe

relacionamento, ele percebe preço. Não é um

fator decisivo nas minhas negociações

porque eles sabem que se estiver errado, a

gente faz.

Não é fator

decisivo, mas é

feito