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LINGUAGEM JURÍDICA PROFª MSc. ZILDA M. FANTIN

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LINGUAGEM JURÍDICA

PROFª MSc. ZILDA M. FANTIN

UNIDADE IX

DOMÍNIOS DISCURSIVOS,

TIPOS E GÊNEROS

TEXTUAIS

7.2.2 Texto Narrativo

Discurso narrativo é a exposição de

fatos (reais ou fictícios) que se passa

com alguém em determinado tempo

e lugar. Narrar é fazer um relato de

determinada sequência de

acontecimentos, reais ou

inventados. O hábito de narrar é

muito antigo.

As narrativas têm sido transmitidas

por diversas linguagens: pela

imagem (linguagem visual), pela

palavra (linguagem verbal: oral ou

escrita), pelos gestos (linguagem

gestual), pelos sons (linguagem

musical).

A Narração refere-se a um tipo de

texto escrito onde se conta uma

história envolvendo personagens

que, diante de determinados

acontecimentos, agem, reagem,

pensam, falam, sentem. Narrar é

contar o que se passou com certos

seres, em determinado local

(espaço) e época.

Uma narração não deve ser um

amontoado de fatos; deve ser uma

sequência de acontecimentos

significativos inter-relacionados. Na

narração, sempre há ideias que dão

o sentido da história – esse sentido é

o Tema.

De acordo com o tipo de narrativa,

encontram-se presentes estes ou

aqueles elementos, podendo estar,

assim, todos ou alguns deles, mas

sempre há a necessidade de permitir

ao leitor ter um registro da cena.

Também, é de se notar a presença do

ponto de vista.

Considerando a diferença entre o acontecido e o fictício, costuma-se reservar a denominação relato para gêneros midiáticos, cujo objetivo

básico é informar sobre fatos realmente acontecidos, e narrativa para gêneros ficcionais, como o conto ou o romance. O relato e a narrativa podem

ser empregados de forma indistinta dentro do texto.

São elementos estruturais da narrativa: o quê o fato que se pretende contar; quem as partes envolvidas; como

o modo como o fato aconteceu; quando a época, o momento, o tempo do fato; onde o registro

espacial do fato, o lugar; porque a causa ou motivo do fato; por isso resultado ou consequência do fato.

Há aqueles que respondem a só uma ou duas dessas perguntas, contanto

com a ativa participação do leitor.

O discurso narrativo está presente em texto de vários gêneros:

domínio ficcional (contos, romances, cordéis, canções ficcionais),

domínio jornalístico (nas notícias e reportagens),

domínio jurídico (atas, textos do domínio jurídico que relatam decisões tomadas em reunião),

relatórios de projetos e atividades escolares, acadêmicas e de trabalho.

Enfim, o discurso narrativo

serve a diferentes objetivos

comunicativos, dependendo

gênero do texto,

intencionalidade do locutor e

situação comunicativa.

A Natureza do Discurso Narrativo

Tempos verbais de Ação: presente,

pretérito perfeito, pretérito imperfeito

ou pretérito + que perfeito.

Enunciados declarativos com entoação

assertiva.

Advérbios, locuções adverbiais e

orações adverbiais.

Ordenação temporal: linear (sem um tempo definido), cronológica

(ordenação crescente ou decrescente dos fatos), retrospecção (citando fatos

passados), prospecção (projetando acontecimentos futuros).

As Narrativas Ficcionais mostram conflitos, cria expectativas e suspense por um desfecho. As Narrativas Reais não costumam criar suspenses e nem

desfechos inesperados.

O locutor-narrador narra como:

protagonista (fala na 1ª pessoa,

submete os fatos relatados às

suas próprias percepções);

observador externo (sabe dos

fatos apenas em seus aspectos

perceptíveis externamente);

onisciente (sabe tudo o que está

acontecendo com todas as

personagens e pode penetrar em

seu mundo interior); onisciente

seletivo (narra sob o ponto de

vista de uma das personagens);

introdutor de fala alheia (recorre a

outras sequências discursivas

como discurso direto, indireto e

indireto livre).

Emprego de discursos:

discurso direto com marcas

gráficas (aspas, travessões,

mudança de parágrafo) ou com

expressões dicendis (segundo

fulano, de acordo com beltrano,

explica siclano...);

discurso indireto, paráfrase da fala

de outrem ou expressões dicendis

(disse que, perguntou se, indagou

se...);

discurso indireto livre com

marcas do narrador e marcas

do discurso do personagem e

discurso direto com o

destinador, quando o locutor

narrador, “conversa”

diretamente com o seu leitor

virtual.

Organização do Discurso Narrativo

Locutor narrador: Aquele que narra, sob um foco narrativo ou ponto de vista. Ele é o intermediário entre o Plano da Narrativa (Enunciado) e Plano da Narração (Enunciação).

Plano da narrativa/enunciado: É o produto da enunciação, o “mundo” espacial e temporal onde os personagens e fatos são narrados.

Plano da narração/enunciação: Ato que originará a interlocução (a troca) entre o locutor-narrador e o destinatário (leitor/ouvinte).

História: É o conjunto de eventos que constitui o conteúdo narrado. Desenvolve-se pela ação dos personagens em determinado tempo e espaço.

Enredo ou Trama: É a forma como os eventos são interligados e apresentados ao receptor/destinador/ ouvinte/leitor.

Etapas da narração são: exposição, complicação, clímax e desenlace ou

desfecho.

Exposição: etapa em que o narrador faz a ambientação da história em seu estado inicial, localizando-a no tempo e no espaço e identificando personagens.

Complicação: momento em que se rompe o equilíbrio inicial da ação, passando o protagonista vivenciar um problema ou um conflito, que pode trazer-lhe consequências desastrosas ou positivas.

Clímax: momento de maior tensão da

narrativa, quando o antagonismo

gerado pelo problema ou conflito

chega a seu ponto máximo.

Desenlace ou Desfecho: corresponde

à resolução do conflito ou repouso da

ação. Pode apresentar uma avaliação

do narrador a respeito da história

e/ou também uma moral que orientará

a interpretação da história narrada.

Marcas Linguísticas do

Discurso Narrativo

Enunciados narrativos

predominantemente

declarativos, marcados por

entoação assertiva (afirmativa)

e narrações situadas no tempo

e no espaço.

Estruturas com verbos de ação, argumento agente (sujeito ou

agente da passiva), argumento paciente ou alvo da ação (objeto

direto ou indireto) e adjunto indicador de tempo e espaço.

Se o que está sendo narrado já aconteceu, é comum que os verbosnos pretéritos perfeito e imperfeito

do indicativo.

Exemplo

Aos seis anos de idade partia, em cima de meu cavalo, para o que,

naquele tempo, era longe, viagem comprida, de Itaporanga à Bahia.

Tinham-me botado cedo na cama, pois sairíamos de madrugada. Meu

pai tinha essa mania... viajar de noite. O que ele chamava madrugada

era uma hora da manhã, escuro como breu. Às vezes, nem galo

cantava.

Grilo só. E o esparso rumor múrmuro da noite. Estrelas. Ruas de vaga-lumes

nos pés dos cavalos. Não sei como aguentei. Meu pai, tão cuidadoso, não

via no entanto inconveniente em criança passar noites assim em claro.

Ah, quanto cochilo eu dava em cima da sela, até sonhava. Quantas vezes não

fui acordado por uma chamada brusca, um arranco súbito nas rédeas do

cavalo. 'Quem quer dormir, fica na cama'. E toca o galope, para me

despertar. E eu galopava, abria os olhos, procurava ver... não via nada

(Gilberto Amado).

“Como a narrativa é o retorno aos

tempos de infância para reviver

situações, o verbo no imperfeito

denuncia o imaginário das recordações

que traçam dados descritivos. O

diálogo, raro e embutido na narrativa,

mostra o antagonista – o pai –

revelando o ponto de vista do autor:

mais do que narrar o fato, pretende

apontar o autoritarismo da educação

de seu tempo”.

8.2.3 Texto Injuntivo

Injunção é imposição, ordem

formal, exigência. Assim, o

discurso injuntivo é aquele

usado para orientar pessoas na

realização de tarefas ou para

regulamentar práticas sociais.

Funções do texto injuntivo:

orientar, aconselhar, advertir,

convidar, ameaçar, sugerir,

convencer (persuadir), instruir

regulamentar práticas sociais,

indicar o que fazer, como fazer

e/ou por que fazer.

Características do Texto Injuntivo

O locutor enunciador parece estar

em nível superior ao do alocutário,

mas dele se aproxima para alcançar

um objetivo maior.

Parece que o locutor enunciador

sabe fazer o que ele aconselha,

ensina, orienta, prescreve,

aconselha...

Comandos imperativos;

Gêneros Textuais Normativos ou

Prescritivos: leis, regimentos,

estatutos, resoluções, portarias...

Gêneros Instrucionais: regras de

jogos, receitas de saúde, de beleza

de culinária, manuais de uso, de

montagem, de instalação, operação

ou confecção;

Gênero de Aconselhamento:

comportamento para se ter salvação,

saúde, beleza, boa vida....

O foco desse tipo de discurso recai

sobre o destinatário, representado

como 2ª pessoa, indicando o que

fazer, como fazer e por que fazer.

As três etapas da injunção:

O que fazer: indicação de um macrobjetivo acional (ação maior

que o alocutário deve realizar – ação desejada) a ser atingido. O

macrobjetivo acional não precisa estar claro, pois pode ser inferido.

Exemplos: convites, horóscopo, sermões, discursos...

Como fazer: apresentação de um plano de execução, de comandos para se atingir o

macrobjetivo.

Em gêneros instrucionais, os comandos têm de obedecer uma ordem cronológica, uma sequência lógica ( receitas, manuais de instruções...);

Em gêneros prescritivos, os comandos precisam ser todos atendidos simultaneamente, para que o macrobjetivoseja atingido. (leis, estatutos, regimentos...);

Em gêneros de aconselhamento, os comandos dependem da interação entre o locutor-enunciador e o alocutário(conselhos sobre beleza, saúde, comportamento...).

Por que fazer: justificativa do macrobjetivo ou dos comandos apresentados para se atingir o

macrobjetivo acional. Justificar é convencer o alocutário com

argumentos lógicos, ou persuadi-lo, seduzi-lo, mediante apelos emocionais,

premiação e/ou brindes.

Às vezes a justificativa é apenas implícita (argumentos de autoridades,

depoimentos pessoais, indicadores percentuais ou de quantidades...)

Estratégias do discurso injuntivo:

utilizar o gerúndio para ensinar o

modo de realização;

explicar usando palavras como:

“pois”, “dois pontos”, ou o

pronome relativo “que” ou “o

qual”;

concluir usando: “portanto”, “pois”, “assim”;

formular uma condição usando explícita ou implicitamente o “se”;

ameaçar ou admoestar, usando expressões de alternância como “ou” ou “ora...ora”

formular finalidade, propósito ou

intenção usando a preposição

“para” ou palavras como

“finalidade”, “projeto”, “desejo”,

“meta”, “alvo”; “objetivo”,

“aspiração” ou verbos como

“desejar”, “pretender”.

Marcas Linguísticas Injuntivas

Verbos de ação no imperativo. Elipse do imperativo com formas de

expressão como: cuidado, é proibido, quero ver você sorrindo, é proibido pisar a grama, você deve fazer assim etc.

Verbos no infinitivo, gerúndio ou presente do indicativo.

Uso de modalizadores como: dever, ter de, ser preciso, ser aconselhável, ser bom, ser necessário etc.

Sem Atividade

“Às vezes somos reis, às

vezes peão”.

(Napoleão)