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  • 7/31/2019 EXPRESSES!_12

    1/50

    Ed. 12

    E X P R E S S E S

    A Confraria Potica.....................................................................................

    Csar Augusto, Rafael de Andrade, Ana Paiva, Laisa Winter, Melquizedeque Alemo, Jos Danilo RanDaniel A. Lima, Bruno Honorato, Maria Teresa Castelo Branco, Boca, Mari Azuelos, Leo Vincey

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    2/50EXPRESSES! Julho 2012 | 02

    EDITOR

    Jos Danilo Rangel

    CO-EDITOR:Rafael de Andrade

    COLABORADORES:Elias Balthazar - Conto

    Leo Vincey - CrnicaMaria Teresa Castelo Branco - Fotos

    Mari Azuelos - FotosSrgio P. Cruz - Fotos

    Ana Paiva - FotosBruno Honorato - PoesiaDaniel A. Lima - Poesia

    Melquizedeque Alemo - PoesiaCsar Augusto - Poesia

    Capa: Muito Alm da Persona

    e x p e d i e n t e

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    3/50EXPRESSES! Julho 2012 | 03

    NDI CE

    Prembulo..................................................................04A Confraria Potica.................................................................06O Engolidor de Sapos...........................................121 ano de EXPRESSES!..............................................................15Apontamentos Sobre LiteraturaEnquanto Arte e Confronto........................2010 Dicas de Literatura na Rede.........................................25O Futuro de Maria - Cap. 33: Captulo dos Vinhos.....................29Vises Poticas - Hoje No Tem Poesia.............................................32Entre a Vertigem e a Epifania......................................................33Respirar......................................................34

    Sintomatologia do Mistrio..........................................35Moreninha Que Sabe Mexer..................................................36Quadro a Quadro: Elefante..............................................................40EXTRA: Os Nacarados Confeitos de Ana............................42Do leitor...............................................................................................48Ao leitor....................................................................................49

    N m e r oA n t e r i o r

    A C o n f r a r i a P o t i

    c a

    E l i a s B a l t h a z a r 0 6

    2 0 A p o n t a m e n t o s S o b r e L i t e r a t u r a

    E n q u a n t o A r t e e C o

    n f r o n t o

    R a f a e l d e A n d r a d e

    2 9 O F u t u r o d e M a r i a C a p. 3 3 - C a p t u l o d o s V i n h o s B o c a

    http://pt.scribd.com/doc/96620456/EXPRESSOES-11
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    4/50EXPRESSES! Julho 2012 | 04

    PREMBULO.............................

    Quando voc deseja alguma coisa, o Universo no est nem a - esta umadas rases que usei no primeiro nmero da revista, quando ela ainda nem era umarevista, mas apenas, um in ormativo muito mal diagramado. No ano que passou,no mudei de ideia, continuo acreditando que o Universo no liga muito para oque queremos ou deixamos de querer, reconheo, contudo, que nele h pessoas

    interessadas em colaborar, pessoas dedicadas, comprometidas, pessoas a quemdevo mais que minha gratido, a prpria elaborao da revista, ms a ms, e osucesso sobre os des avores do Acaso, nem sempre amigo. Obrigado, eu digo, atodos vocs que nos ltimos meses tm combinado es oros para tirar do nada,uma revista inteira, este nmero para vocs, meus amigos.

    Abrindo este nmero, temos um conto antstico de Elias Balthazar, ACon raria Potica, um passeio por entre becos escuros, mas, mais que isso, umpasseio por dentro. Em seguida, Leo Vincey, com a crnica o Engolidor de Saposnos mostra uma gura incomum, mas nem tanto, nos azendo pensar sobresujeio e voo. Depois, umas coisas que escrevi sobre a revista, e depois, Ra ael deAndrade resume sua luta, sua arte, em Apontamentos Sobre Literatura EnquantoArte e Con ronto.

    E ainda, 10 Dicas de Literatura na Rede, um apanhado de escritores locaisque tm ocupado a net, para a nossa alegria! Entre eles, Boca, que nos cedeu o33 captulo do livro que est disponibilizando no Facebook. Laisa Winter, emEle ante, ala do lme homnimo por dentro da tica do Diretor. Hora da Poesia,Csar Augusto com Hoje No Tem Poesia, em Vises Poticas, Bruno Honorato,Daniel A. Lima, Melquizede Alemo e eu, ocupamos o resto do espao. Finalizandotempos, no EXTRA, Os Nacarados Con eitos de Ana. Como no nmero anterior,as otos de Maria Teresa Castelo Branco e Mari Azuelos adornam, per eitamente,o entressees.

    Espero que gostem.

    Porto Velho - Julho de 2012Jos Danilo Rangel

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    5/50EXPRESSES! Julho 2012 | 05

    p a r c e i r o s :

    Torna-te quem tu sNietzsche

    Para acessar s clicar sobre a imagem.

    http://www.expressoespvh.blogspot.com/http://www.facebook.com/pages/Revista-EXPRESS%C3%B5ES/219207738122421http://dosedeatmosfera.blogspot.com/http://douglasdiogenes.blogspot.com/
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    6/50EXPRESSES! Julho 2012 | 06

    A Confraria Potica.................................................................................

    onto

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    7/50EXPRESSES! Julho 2012 | 07

    notrio o quanto alguns escritos tmexercido deveras uma infuncia que se no digo negra,por compreender o mau uso que se az dessa palavrano cotidiano da lngua, digo ao menos signi cativa noimaginrio de almas inquietas e notvagas. Almas decriaturas ansiosas por preencher sua vaga existnciaomentando antasias advindas de um alm-olhos.Buscando substncias em escritos que, apesar de ditossombrios, tocam o escuro mais ntimo do espritohumano. Ora, para os humanos, a escurido consiste justamente no que no se pode en rentar sem que ocorao palpite levemente amedrontado. O que leva concluso de que coraes demasiados covardes jamais conhecero os segredos escondidos em lugaresque a luz no alcana e assim, sempre existiro olhosobstrudos para determinadas particularidades da vida, cegados pelo medo que desperta o conhecimento.

    Poe e outros poetas sombrios haviamse tornado um arol em meio ao negro mar,desconhecido e incerto, em que habitava aqueleinslito ser. J no poderia explicar como a solido desua alma havia se constitudo ou mesmo se era estaalgo que azia parte de sua prpria constituio. Deato j tentara compreender a solido, essa estranhamusa, companheira invisvel, incompreendida, es vezes mesmo indesejada, mas que lhe consentia ver o mundo com olhos peculiares e perceber oque dis aram as alegrias cultuadas sob s luzeshipngenas de bares, danceterias e outros modernostemplos pagos. Acreditava que os seres humanoshaviam aprendido a encenar e abricar emoes paraugir de seus prprios medos. Mas, a cada um cabeescolher como lidar com estes e por isso mesmo,pre eria se ausentar a comentar qualquer coisa aesse respeito ou pior ainda, pensava: Compartilharde tais prticas pro anas. Assim, talvez se explicassesua loso a da solitude. Claro, havia pra ele umadi erena entre solido e solitude. Aquela primeiraconsistia em algo mrbido, em um isolamento so ridoe insuportvel a que nos entregamos por medo oupor alta de opo; Esta segunda, no entanto, diziarespeito ao modo de vida genuno daqueles que nose contentam com a verdade dada e buscam em seuprprio interior o sentido da existncia. Costumavapensar serem estas duas, aces de uma mesma moeda,

    mas que a ace negra deste signo amedronta tanto osseres comuns, socialmente dependentes que acabapor empalidecer e desvirtuar a lmpida sionomiada solitude, to necessria ao autoconhecimentohumano. Assim, suas noites de estudante, distante

    de suas interioranas origens, eram preenchidascompulsiva e silenciosamente pelas vises um tantoterrveis e obscuras de escritos que discorriam sobreacetas ignoradas da vida. Lugares ocultos a que nose chega por vias habituais. Dos quais nos tm aladoenigmaticamente os poetas.

    O lugar em que habitava era um destesprdios antigos que apesar de possuir certa pompaaos olhos de quem se dedicasse a uma observaomais atenta de sua antiga arquitetura, so imprestveisdevido ao tempo e ao descuido a qualquer outro usoque no o de servir de moradia barata a estudantese trabalhadores impossibilitados de pagar por algomelhor. A alcova, como chamada por ele mesmo,possua como todos os aposentos que pertenciam ala traseira do velho edi cio uma janela que dava vista a uma ruela existente entre os undos de trsprdios antigos, todos em igual desmazelo, que seintersectavam ormando um pequeno beco sem sada.Um destes recnditos peonhentos que somente asgrandes cidades suportam.

    Para no se dizer que esta ruela era desertase observava gatos e ces que a habitavam e algumas vezes um uncionrio dum dos bares e lanchonetesda avenida principal que viesse largar o lixo. Re eiodos animais esquelticos ou de mendigos queatormentados pela insanidade da ome viessem asuperar as rosnadas dos bichos, que no raras vezesatacavam seus concorrentes.

    No apenas isso assombrava os serespensantes daqueles quarteires como tambm meiadzia de relatos sobre corpos que, denunciadospelo mau cheiro de sua putre ao, haviam sidoencontrados entre elementos, smbolos e objetos quelembravam alguma espcie de ritual pago. Ele mesmo j havia lido das mos de um dos vizinhos um recortede jornal antigo em que trs ou quatro pargra oshaviam sido escritos sobre o ocorrido no nal dapgina policial. Por conseqncia disto os habitantesdo edi cio, amedrontados, raramente abriam as janelas que davam vista ao beco. Mantinham-nastranca adas e encortinadas por tecidos pesados emolambentos, vedadas com pginas de revistas usadase jornais; ou at mesmo emparedadas em concreto,com a compreensvel autorizao do proprietrio,

    no caso de uma velha senhora aparentementeperturbada e duas seguidoras suas; A pobre senhoratremia ao contar um episdio em que jurava, emnome de santos h muito esquecidos, ter visto de sua janela um grupo usando mscaras; as quais ao tentar

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    descrever, azia uma expresso mista de espanto earrebatamento e perdia o olhar em qualquer detalheda parede; abandonar um corpo entre velas vermelhase negras e desenhos geomtricos riscados no cho.Assim, exceto por uma luz amarelenta que emanavade uma janela despreocupadamente aberta atravsdas madrugadas, aquele beco era escuro e solitrio epouco lembrado pelas pessoas que o tinham em umaevitao automtica.

    Ele mesmo jamais havia visto qualquercoisa que se pudesse chamar satnica ou apenassuspeita que osse, e excetuando o odor que em noitesquentes evaporava s alturas no poderia citar motivopara que se cerrasse a janela. No mais, dos dois quartosque compunham o pequeno apartamento este era oque ele usava como sala de estudos. Precisando assimmant-lo iluminado e arejado. A alcova, em verdade,era ormada por apenas cinco acanhados cmodos:Os dois quartos mencionados, um pequeno banheiro,sala e cozinha.

    Era um destes cidados a que poucas vezes vemos por serem dados a hbitos inversos, trocava anoite pelo dia e a vida gregria pela ermitagem los cae literria, sendo grande admirador dos antigospoetas por entender que estes eram seus semelhantesna maneira de compreender a vida. Devido ditasolitude reconhecia no cello o instrumento que melhorlhe traduzia havendo adotado o som deste comotrilha para suas empreitadas intelectuais noturnas.Em noites de xtase e jbilos tocava seus estudos deHaydn, Debussy e Bach, mas em verdade era bemmais dado literatura que msica. Assim decorria

    sua vida, nanciada pela pouca renda provinda doaluguel de alguns imveis deixados por seus pais quealeceram ainda cedo em sua existncia.

    Numa noite elegida especialmente inslitadentre todas suas noites veladas aconteceu-lhe aquiloque mais tarde veio a ser a nica obra que escrevera emsua rida carreira literria: Um conto. Um pequeno edesvairado conto, sobre o qual jamais pudera a rmarse oi real ocorrido ou se produto psicodlico dedevaneios o erecidos simultaneamente por sua musada recluso, por Baco em sua garra a e meia de vinhobarato e pelo cachimbo de ervas.

    Assim sucedeu, pois que, em um de seusdias de insnia, no qual despertou com um gritosurdo de um pesadelo, suado e trmulo em plenocalor da tarde, antes que o sol tivesse se posto e a noiteaberto as cortinas do imaginrio; derramou sobresi o azeite rubro de Dionsio, no intuito de dissipara incmoda sensao desperta pelo pesadelo. Apssecar a primeira meia garra a que j tinha abertasobre a escrivaninha dirigiu-se a cozinha em busca deoutra e na volta oi de cara ao cho ao tropear em um volume antigo do Fausto de Goethe que se encontravacado sobre o piso. No se lembrava como este haviaparado ali. Todavia, interpretando como um sinal,lanou-se sobre a vermelha poltrona aveludada da salae olheou-lhe algumas pginas entre taa e outra. DeGoethe oi a lvares; Sim! - O de Azevedo. Da tavernaoi a Poe. Do corvo novamente taa, da taa aocachimbo e do cachimbo ao cello. Mas naquela noiteno tocou um Bach sequer, no arranhou uma msicaconhecida nem buscou onte em suas partituras,apenas improvisou rases densas e brias como umhino das saturnais. A msica lentamente o levou umestranho pas:

    Inexplicavelmente, acordou estiradoao cho e sua cabea latejava. O recinto aindaes umaado e ortemente impregnado pelo aromadas ervas; A poltrona cada de lado completandoa posio de seu corpo; o cello jogado com uma desuas cordas rompida; No piso uma mancha estranhacomposta pela mistura rubra do vinho e cinzas docachimbo. No pde compreender. Levantou-se desbito, assustado ao irromper o pensamento de quealgum embusteiro pudesse t-lo desmaiado a golpena inteno de roubar-lhe. Antes que conseguisse veri car outros cmodos ouviu o vento uivar aoatingir-lhe a ace lvida com uma lu ada mida e ascortinas da sala de estudos estalarem contra o vidro

    Trocava a noite pelo dia e a vida gregria pela ermitagem

    flosfca e literria, sendo

    grande admirador dos antigospoetas por entender que estes

    eram seus semelhantes namaneira de compreender a

    vida

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    9/50EXPRESSES! Julho 2012 | 09

    da janela. O tempo pareceu lento de repente e suaateno aumentada pela adrenalina que agora corria-lhe as veias ez sua audio aumentar ao extremo deescutar seu corao ecoar nas paredes, apavoradopelo medo do que pudesse se suceder. Todavia,seguiu. Encontrou a sala escura ao adentrar. Notouum crculo enegrecido no teto e cacos nos pelotapete. Talvez um curto circuito houvesse ocorrido.Atravessou o cmodo em seu clima esttico e apesarde seus passos cautelosos, para no dizer apavorados,nada o deteve. A viso que testemunhou ao alcanara janela com suas cortinas agitadas o ez espremer-seinstintivamente rente parede:

    L embaixo, com a ausncia da luae de lmpadas, o beco era trevas e odores, comohabitualmente, mas uma ventania incomum contorciaas vestes compridas de algumas guras adornadas emsobretudos cinzas e pretos sobre ternos e vestidos.Encontravam-se dispostos em rente parede doprdio que azia undo ao beco. No pde compreendero que aziam a princpio at perceber uma mulher decachecol vermelho entrar parede adentro atravs deuma pequena passagem, a qual ele nunca havia visto.Os outros a seguiram enquanto seu pavor elevava-sesubstancialmente. O derradeiro, antes de sumir pelassombras olhou para trs como se con erisse a presenadalgum intruso. E a abertura se echou de dentro paraora encaixando-se per eitamente na parede.

    No pde crer em seus olhos. Muitomenos conter as prprias pernas. Desceu as escadasde seu andar em um lance, atingiu a avenida principalem rente ao prdio, dobrou esquerda rumo ao becoe quando deu por si j havia atravessado por entre osmiados, latidos e rosnados dos animais amintos, dosquais no ouvira um gemido sequer quando minutoatrs observava as pessoas que sumiram pela parede.Em lampejos as estrias dos vizinhos, a pequenamanchete do jornal e imagens mrbidas de corpossem vida entre objetos ritualsticos passavam por suamente causando-lhe cala rios. Mas j no poderiaretornar; atravessou por entre a orquestra desesperadade animais escondidos nas grandes lixeiras encostadasnos cantos encontrando, ao m do beco, a alta paredegeometrizada pelo desenho das lajotas. Haviamtantos vestgios de entradas ali quanto poderiamhaver elevadores para o cu. Apalpou a super ciecom as mos abertas como a duvidar de seus olhos.Seus dedos esbarram-se sobre um retngulo also.Empurrou-o, mas nada ocorreu. Tentou remov-lo e

    ento o teve cil para ora da parede. Um buraco comaproximadamente oito centmetros de pro undidadecontendo um relevo mais ou menos preciso de umcrnio surgiu ao undo. Possua dois buracos nolugar dos olhos. Aps um breve instante de cautelaen ou dois dedos pelos ori cios oculares sentindo-os empurrar algo e, instantaneamente a parede seabriu em uma estreita passagem, sombria e silenciosa.Penetrou em um salto sem nem mesmo ponderar seseria seguro. Um corredor se ez longo e escuro suarente.

    Mais adiante avistou uma luz emanandodas mos imveis de duas esttuas gmeas, estilo gregase de tamanho prximo ao de um indivduo mediano.Duas mulheres segurando uma bola de cristal de ondeprovinha a pouca claridade que iluminava o recinto. Epostas cada uma em um lado do corredor constituamuma entrada ornamentada para uma antessala. Oresto do pequeno cmodo se compunha de so sem torno das paredes laterais e das anteriores e umaporta dupla em madeira esculpida que encontrava-seem linha reta com o corredor. Pde perceber que estaera entalhada como um livro posto em p na verticalexpondo suas pginas. Provavelmente aludindo queao ultrapass-la entrar-se-ia em uma estria. Haviamestatuetas de bustos e retratos antigos em moldurasdependuradas na mesma parede em que cava a porta.Pde perceber que eram de grandes personalidadesdo passado e tinham o ato em comum de terem sidostodos escritores. Viu Goethe azendo lado a Byron eao retrato vermelho de Dante, um Shakespeare calvo,Cames, Voltaire... Nos extremos otos de poetasmenores os quais perderam sua ateno para sons de vozes advindas do interior do cmodo que existia dooutro lado da grande porta. Haveria de saber o queestas pessoas praticavam l dentro. Haveria de saberou morrer louco imaginando o qu.

    Adentrou, vagarosamente girou o mar mesbranquiado da maaneta em orma de coraohumano, empurrou a pesada porta que abriu-se emduas metades e adentrou. O que viu oram pessoassentadas ao redor de uma ampla e slida mesa circularde bano, entre taas, garra as de vinho, charutos emanjares. Olharam-no xamente como se esperassemque se identi casse demonstrando no reconheceremseu rosto. Sentiu uma gota gelada de suor escorrer porsua ace, mas antes que pudesse cometer algum erroque o denunciasse um dos comensais elevou sua vozsoberba:

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    11/50EXPRESSES! Julho 2012 | 11Foto : Maria Teresa Castelo Branco | Modelo: Ana Beatriz

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    12/50EXPRESSES! Julho 2012 | 12

    -Acorda, Amparo! T na hora de ir protrabaio. ta, home durminhoco! Assim num dmeu querido, v se toma jeito!

    -S mais um pouquinho, disps eu v,inda muito cedo.

    Todos os dias eram assim, antes dasua abluo, ouvia, quase sempre calado,nada respondia a sua esposa. Para ele, elaestava sempre com a razo. Chegava sempre

    atrasado no emprego, os colegas de repartio j estavam acostumados com isso. Tanto ques iniciavam o trabalho quando ele aparecia.A comunidade que esperasse, nada era maisimportante que esse ritual dos colegas. Seu

    corpo ranzino denunciava a ragilidade de suapersonalidade, raras vezes isso acontece, sabe-se que a proporcionalidade enganosa, mas nocaso dele, o bvio era mais do que evidente. Elenem percebia as chacotas de todos a sua volta,encarava com naturalidade as brincadeiras quelhe impunham. O che e do setor, volta e meia,dizia-lhe que as coisas mudariam na empresa.Era a orma como ele se re eria ao rgo

    pblico. Pobre coitado, mal sabe da morosidadee descaso com as coisas pblicas, mas che e temque mostrar servio, a nal oi indicado e che e um cargo de con ana. A copeira do localapiedava-se do jovem Amparo, sempre solcita,

    Crnica

    O Engolidor de Sapospor Leo Vincey

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    14/50EXPRESSES! Julho 2012 | 14Foto : Mari Azuelos

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    15/50EXPRESSES! Julho 2012 | 15

    D3C0D1F1C4NDO

    Um dia, decidi que ia azer um sarau.Depois de muito tempo sem escrever, seno segundo

    intentos diversos da expresso artstica e seusequivalentes, z as pazes com a Poesia, e oi de umaorma to total que nos entendemos que percebi eraa hora. Da a vontade de ir para algum lugar declamarao mundo o que andava escrevendo. Como sempre,embevecido pelas ideias e tendo a vista embaada pelaempolgao, no ponderei sequer sobre os obstculosque en rentaria. Dentro da minha cabea, como emmuitos outros momentos, tudo era muito cil, tudoseria muito cil. Mas no oi. E seis meses depois de

    andar envolvido com burocracia, tendo que pegaruma assinatura aqui e outra ali, um carimbo nestaou naquela secretaria, saltei por cima de todas essas

    Mais que dizer - transmitir.

    E X P R E S S E S 1 ano de

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    16/50EXPRESSES! Julho 2012 | 16

    1 nmero da EXPRESSES!Para conferir s clicar na imagem.

    di culdades muito acilmente. Reduzi ao mnimoo que era necessrio para satis azer meu intento depoeta.

    Concebi o primeiro ISSO POESIA?e a orma de realiz-lo considerando o que estariamais acilmente disponvel: uma caixa de som, ummicro one e um lugar, desta maneira, conseguiprescindir de outros recursos reconhecidamentemais avorveis, contudo, incrivelmente, di ceisde ser angariados pelas vias mesmas que deveriamacilitar o seu acesso. A caixa de som e o micro oneoram emprestados, e quanto a isso, sempre umgrande tanto da minha gratido est comprometidacom Vanessa Galvo e seus amiliares, pela ajuda queme deram ela muito mais e de muito mais diversasmaneiras do que eles. O lugar escolhido oi a praadas Trs Caixas Dgua, quem me conhece sabe quetenho uma relao de muito tempo com praas. Almdisso, convidei uns amigos poetas. O pensamento simples, alm de mim, quantos outros no estariamesperando poder compartilhar com o mundo suasprodues, aquilo que andavam preparando htempos na obscuridade dos quartos? Outra coisa,parte do que az a Poesia ser atrativa recai sobre o atode ela se mani estar de muitas ormas, por que noexpor essas diversas mani estaes? MelquezedequeAlemo aceitou o convite, alm dele, Rmulo Zanon eMorgana Dartiballe, que apareceram na hora, tambmcontriburam com poemas e ditos. O pblico totalalcanado no ultrapassou 20 pessoas, isso contandocom um bando de bbados que, de vez em quando,gritava elogios diversos. Em todo caso, quei eliz,depois de tanto andar tentando satis azer essa vontadede alar ao mundo, ei-la, satis eita. E acredito queaqueles que oram declamar tambm experimentaram,seno o mesmo sentimento de realizao, ao menos,algo bem prximo. Foi divertido.

    Antecipando a escassez de pblico, a nalnem sempre supervalorizo os acontecimentos a partirdas minhas quase sempre desmedidas expectativas,pedi a uma amiga, Raiane Arajo, para tirar otos, elaaceitou e por isso, tem um pedao da minha gratido.A ideia era disponibilizar as imagens na internet juntos poesias declamadas. Acho que isso se daria peloOrkut, ou por algum blog. Logo depois, do ISSO POESIA?, contudo, me entreguei a pensar em outras

    ormas de azer render o que tnhamos eito naquelatarde. Quando penso em pblico, entre conhecidos,penso em voz alta, ando para l e c, indagando deum e outro, e ouvindo, e de novo andando, e olhandopara cima e para baixo, e oi, alando, e andando, eperguntando a um e outro que ouvi da Cris Coelho,outra amiga, por que no az um jornalzinho?Per eito! - respondi a mim mesmo. E logo em seguida,toda a montanha de procedimentos envolvidos naelaborao de umas olhas impressas em tiragem,me su ocaram a ideia, mas a ideia insistiu, tomououtras ormas, adaptou-se. Assim, conclui queseria maravilhoso azer um in ormativo em PDF,como um jornal, e em vez de disponibilizar apenasas otos e poesias, disponibilizar todo um roteirocomo registro do sarau. Foi assim que nasceu arevista EXPRESSES!, tendo como primeiro nomeEXPRESSES de PVH.

    http://pt.scribd.com/doc/64164370/Expressoes-de-PVH-n%C2%B01
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    17/50EXPRESSES! Julho 2012 | 17

    O seu ormato inicial se coadunaper eitamente a conjuntura que a trouxe luz registrar o ISSO POESIA?. Funcionou. Atmesmo posso dizer que oi alm. Quando mostreio trabalho para meus amigos, um total de cincopginas mal diagramadas, eles acharam divertido,um tanto inusitado, e houve at quem tenha gostadodas poesias e comentado acerca delas. Percebi, ento,que trans orma o in ormativo digital numa revista deliteratura seria outra orma de expor o meu trabalho,assim como o de outros, como eu, des avorecidosde tantas maneiras. Alis, esse o pressuposto quecou do in ormativo para a revista, criar um espaoe compartilh-lo. Como hbito, a ideia correu soltae oi at a lua, quando retornou, as di culdades de seazer algo, pelo menos, parecido com uma revista,surgiram, opressoras. Precisava de gente para escrever,gente para ilustrar, gente para otogra ar, gente paradiagrama, um diretor de arte, e no sei mais quaisgentes e cargos existem e so necessrios realizaode uma revista. Me concentrei, contudo, numa outraquesto: dava pra azer? E me respondi com um dosmeus lemas S azendo pra ver. Ento z. Entreiem contato com uma pancada de gente, mas talvez euno tenha sido muito claro. Ctia Cernov, contudo, j praticante da literatura do espao ora, gostouda ideia e me permitiu colocar na revista o conto A

    Guilhotina. Alm dela, Tiago Oliveira, Maicon Rogere Leo Lino me mandaram textos. Aprendi um poucode diagramao, peguei umas imagens na internet, eui azendo e aprendendo.

    No esperei contar com o pessoalnecessrio para azer a revista, porque sei que nadaala mais que o eito, que o pronto. Ter boas ideias uma coisa, ter algo j em andamento outra.Resultado do segundo nmero da revista, conheciRa ael de Andrade. Conversamos umas horassobre literatura e ele oi bastante claro quanto suadisposio para participar da revista. Assim, estreia noterceiro nmero o Literatura em Rede, comentando,e mais que comentando, desossando-o, um conto deDostoivski, Sonho de Um Homem Ridculo. A partirda, um nem sempre divertido turbilho de eventosse encadeiam e eu no seria capaz de sintetiz-lo semser en adonho ou parcial, por isso, j desenhados osprimeiros passos da EXPRESSES!, passo a alar deoutras importncias.

    Todos os meses, um grande nmerode invenes do Acaso surgem contra o intentode realizar o arquivo PDF que chamamoscarinhosamente de revista digital, um outro grandenmero, entanto, de aes, de um grande nmero depessoas, aparece tambm, em avor da publicao.Eis o que importante. Desde o comeo e at estadcima segunda edio, a revista um projeto emandamento, que vai se desdobrando de acordo comas possibilidades e com os es oros de muitas pessoasque aceitam o desa o de tratar contra as Vicissitudesde Todas as Coisas. Sempre co muito agradecidoe compartilho o mrito de estarmos azendo umagrande coisa conseguindo espao. Aos leitores, aquem compartilha e curte, obrigado, sem essa equipede marketing, nada aramos. E com a certeza do vosso apoio e considerao, a rmando reciprocidade,que olho na cara do Acaso e lhe digo: estamos prontospara mais um ano.

    Acho que isso. Valeu.

    Jos Danilo Rangel.....................................................................

    Desde o comeo at estadcima segunda edio, a revista um projeto em andamento, que vaise desdobrando de acordo com aspossibilidades e com os es oros de

    muitas pessoas que aceitam o desa ode tratar contra as Vicissitudes deTodas as Coisas.s.

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    18/50

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    19/50EXPRESSES! Julho 2012 | 19

    Esse o texto que est presente na dcimasegunda edio da Revista Expresses, e o oitavo textoda seo Literatura em Rede, que escrevo, ora sozinho,ora com a ajuda de amigos como Ricardo Bezerra(no ensaio A Arte que nos cerca) e com CamilaSousa no texto da dcima primeira edio (sobre aEstrada de Ferro). E mais, escrevem junto comigo oprprio Jos Danilo, o artista plstico Joser Alvarez(o pai, pois ele e o lho tentam imitar AlexandreDumas, mas no na literatura) dentre tantos outrosque me criticam e me ajudam a construir o texto,os pequenos textos publicados e o grande texto que a minha (a nossa) vida. E isto me deixa bem eliz.

    Gostaria de escrever e me expressar que agrande responsabilidade pelo um ano da RevistaExpresses do meu camarada Jos Danilo Rangel,um dos caras responsveis pela divulgao da arte emRondnia nos ltimos meses. Completo dizendo quesou um mero uncionrio que permitido trabalhardentro da maior liberdade que se pode conceder.Nenhuma vez me senti reprimido ou direcionadopelo editor Danilo Rangel, ao contrrio, ui semprequestionado para ter ainda mais rmeza em minhasa rmaes que, con esso, so sempre to imparciais eradicais. No que o radicalismo seja de todo mal, muitopelo contrrio, considero-o quase em sua maioriaresponsvel pelo bem azer das coisas. Noventa enove por cento da revista da responsabilidadeda capacidade criadora do nosso editor.

    A Literatura em Rede nasceu com o intuitode azer ligaes (rede, algo prximo e em menorescala da weltliteratur) entre a literatura local,clssica, as engajadas e as art by art que temoscontato. Obviamente que, enquanto artista e todos osartistas que lerem sabero o porque, que no possose esquivar de minha leitura, minha orma de escrita,de criao, de perspectiva do mundo. Dizia Nietzscheque no existe ser mais orgulhoso que o artista eum dos meus amigos mais distante sempre repetia

    isto com sua boca cheia de dentes. E h aqueles quedis aradamente dizem que no so orgulhosos desua criao, mas que adoram colocar em redes sociais,declamar em saraus, divulgar para os amigos a suacriao com a desculpa es arrapada de ajudar nadivulgao da arte ou da alegria, quando na verdade sedeseja impor sua leitura sobre os outros para que, simou no, se gere outra leitura, outra refexo, ou no.

    Talvez eu nunca tenha dito com todas aspalavras, mas minha perspectiva de arte se pautana luta. Alis, a luta pouco saiu de minha vida.Quando secundarista me dizia anarquista, publicavapanfetos libertrios. Quando acadmico passei a lerChe Guevara, Rosa Luxemburgo, Karl Marx e maisrecentemente Adorno e a teoria crtica da Escolade Frank urt, ainda de orma modesta esta ltima.Somando perspectiva de alguns tericos e crticosliterrios (entre eles Tolstoi, Wilde, Casanova, Bourdieu,Candido, Goldmann, etc.) e com a experincia criativae crtica que obtive no Centro de Hermenutica doPresente com Alberto Caldas, Eliaquim, Zairo, Sheila,Nilson Santos, dentre outros, soma-se tudo isto ecom minha prpria trajetria de vida e pode-se dizerque orma a perspectiva de arte, vida e literatura quehoje escrevo, pautada no debate, na discusso, nocombate s/das estruturas sociais que condicionam acriao literria pois no creio que ainda existaminocentes que acreditem no gnio criador isolado.

    E sobre esta perspectiva que escrevo neste novonmero. Agradeo a amigos e inimigos literrios, queora da literatura, no passam de estranhos estranhos.

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    Saudaes Edio Nmero 12Rafael Ademir Oliveira de Andrade

  • 7/31/2019 EXPRESSES!_12

    20/50EXPRESSES! Julho 2012 | 20

    Primeiro, no se pode mais crer (a noser com uma grande ingenuidade) que a criaoartstica parta do gnio criador que concebe a arteisolado das relaes sociais de poder. No se podeconceber um artista que no seja infuenciado porsua classe social de origem, por seu processo deeducao ( ormal e no ormal), pelo cargo que ocupana escala do trabalho e qual o nvel de relao da suaora de trabalho com o capital, sua sexualidade, suasescolhas tericas, suas intenes polticas em geral.O artista um ser poltico como qualquer outroe mais, segundo Balzac (na introduo da comdiahumana), tenderia a ter uma viso privilegiada dasociedade graas sua percepo di erenciada.

    Literatura em Rede

    Apontamentos sobreLiteratura enquanto Arte e ConfronRafael Ademir Oliveira de Andrade

  • 7/31/2019 EXPRESSES!_12

    21/50EXPRESSES! Julho 2012 | 21

    Balzac s errou em uma coisa, se queos religiosos da arte me permitem discordar dogrande autor da comdia humana, que ele tinhauma viso privilegiada da sociedade, justamentepela prtica de seu cio matinal, pelas refexes queazia da sociedade que levaram a Marx e Engels nodiscutirem sobre a importncia de Balzac para lera Frana de sua poca. O autor de Ferragus (meupre erido, sendo que li pouco mais de 03 dezenas dosmais de 80 romances da comdia humana) poderiater esta perspectiva di erenciada, mas ns, artistas doagora instantneo, podemos no ter.

    Todos os dias uma massa de trabalhadoresacorda para realizar os desejos mais secretos da eliteburguesa de todos os tempos! Desde a apropriaoprimitiva de terras e acmulo de capital, desde a vitria dos pases capitalistas na segunda guerramundial (especialmente os EUA), desde a superaoda crise estrutural do capital na dcada de 60-70do sculo 20, desde o m das revoltas proletriascom a compra dos sindicatos e dos organismossociais de representao dos trabalhadores, desde aderrota da contradio e a a rmao elitista do mda histria e o repasse sistemtico deste m para osnovos educandos do capital, desde estes tempo idosque o capitalista sonha com a ormao deste novosujeito que ocupa os carros, as motos e os coletivosda modernidade.

    A literatura utpica de Moore eCampanella sonharam com sociedades, as ilhassempre chamadas de Utopia ou de nomes to belos

    e ideais, como na bela e mtica Atlntida dos dragese animais alantes. Essas sociedades eram ormadaspor lderes de grande capacidade intelectual, artsticae senso de comunidade (no consigo deixar de pensarem Plato, nos lso os-reis), onde o povo era dirigidoe se pensava a partir destes lderes comunais. Estaliteratura oi superada pelo sculo 20 pelas distopias(onde Foucault tocou) de Admirvel Mundo Novo eFahrenheit 451. Estas distopias so alas do mundoque se orma, do mundo que vivemos, so alegorias

    crticas do m da histria (com a queima dos livros)e a vitria absoluta do capital sobre os sujeitos (com aproduo de indivduos em srie).

    Elas surgem, pelo menos da leitura queposso azer a partir do que li at ento, da iminncia

    da destruio que surgiu a partir das grandes guerrasdo sculo XX e da crise estrutural do capitalismoque gerou outros con rontos de ordem social almda expanso violenta da ome, do desemprego eo aumento do abismo entre os ricos e os pobres.Assim sendo, as distopias so momentos onde ocapital ameaado se trans orma em uma mquinade controle. E eis a rmula para o controle: se ossujeitos, as massas, so aqueles que so controladosa partir da imposio da ideologia dominante epelo poder econmico, so eles que se revoltamcontra esta situao, gerando o con ronto e a alta deestabilidade. Em palavras simples, os oprimidos soaqueles que se revoltam.

    A rmula para o controle segue quandoao invs de se reprimir com violncia as revoluese revoltas, se ormam indivduos mansos e calados,com o verdadeiro intuito de obedecer e servir aoinvs de achar ruim ou incmoda a situao emque se encontram. E neste intuito que caminhamas literaturas das distopias que apontei aqui ealguns lmes contemporneos, como Matrix e V deVingana que apesar de seguirem a mesma linha,estranhamente oram sucessos de venda nos cinemas.Estranhamente digo eu, mas Adorno no diria queno h intencionalidade nisso.

    Esta orma de amansar indivduos sed em vrias rentes, na educao ormal e amiliar,na moralidade, na represso pelas leis, no controlee alienao provocada pela prpria estrutura dotrabalho e pelos produtos culturais di undidos e

    vendidos. Diversos autores como Marx, Durkheim(dentro de seu positivismo), Foucault, Nietzsche(discutindo a moral), Sartre (algum leu o dramadeste autor), Brecht, e por m os que eu estou lendorecentemente, Adorno e Horkheimer. E para se veresta orma de amansamento no se precisa ir longe.

    Basta ver como os sujeitos se perdemnas telenovelas, como suas vidas, ormas de vestir,ormas de alar so projetadas a partir do aparelhode televiso. Como os sujeitos matam e morrem por

    times de utebol, que so geradores de renda, muitas vezes de orma ilcita, de uma minoria corrupta.Basta ver como o pas comandado por umaparcela de poderosos que tratam com descaso casosimportantes como a sade e a educao de uma

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    22/50EXPRESSES! Julho 2012 | 22

    nao e de como o povo, ligado sempre ao acebook eao big brother, incapaz de se rebelar. Basta ver comoa mdia trans ormou as primeiras paradas GLBTem um novo carnaval, mostrando apenas a esta,mostrando alas da arra e chamando, nas ediesposteriores apenas o pblico interessado em azeresta. No caberia revista para os inmeros exemplos.

    Esta orma de dominao, que sepode chamar indstria cultural, mquina tribal,modernidade tardia, ps-modernidade ou apenasde capitalismo, extremamente perversa, atingindo massa de trabalhadores. Como gado, samos todosos dias de manh para trabalhar e voltamos noite,com um jogo, um lme, um programa, uma esta queir reproduzir a lgica do trabalho e do mercado,o lucro determinando o sexo, a diverso que no visa refetir a sociedade e quando leva refexo,

    gera a apatia instantnea. Assim descansamos ata hora de voltar ao trabalho. Nas rias, o merecidodescanso, onde a natureza vendida, onde crianasso vendidas, onde estamos cansados demais para verpobreza, prostituio e misria. A elite usa nossa vidae nos descarta, sem reciclar, jogando os velhos (comomquinas ultrapassadas) nos asilos e nos caixes,sem pensar, sem remorso, o rico, ateu e eliz, vendereligiosidade s massas, para que sejam humildes esubmissas.

    No Admirvel Mundo Novo que vivemos, descrito por socilogos, lso os, artistas,educadores, economistas mais srios, temos queen rentar esta realidade. Tudo oi envolvido por ela,especialmente os revolucionrios e vanguardistas.

    O jovem Oswald e seu movimento religioso (sim, acrena no modernismo se tornou religio) era umaorma de se adaptar Europa de orma mais vendvel,a arte brasileira mais extica e mais atraente para osmercados internacionais.

    A amosa oto de Che Guevara se tornouuma bela camiseta, vestida pela juventude alienadapelos mercadores dos Estados Unidos, sem saber queoi o prprio EUA que matou o lder revolucionrio.As igrejas protestantes (em geral, nem todas) semadaptam lgica do mercado ao lotar suas cadeiras, visando o maior nmero de is, sem saber que onmero e o acmulo a lgica dos pro etas do capital,no do cristianismo. As jovens meninas gritam queum homem lindo e per eito, sem saber que oglamour da mdia que os deixa bonito ou mesmo seudinheiro acumulado. A imagem, os heris, o dinheiropenetra em todos os lugares de orma suja e cruel, atmesmo em nossas lhas mais amadas.

    neste momento que o cinema maisadmirado o que vende mais. aquele que se dizCult e revolucionrio, mas que seus admiradoresso vermes apticos que se dizem vanguarda. neste momento que o Best-Seller vendido comogua para uma massa de leitores. Neste momentoque as msicas repetem o mesmo re ro, como umarmula para o sucesso. No mesmo momento em quemeia dzia de palavras no papel se tornam poesia,porque deixam o homem rindo, a mulher corada.Neste momento mais vil da histria que a arte sesubmete aos gostos do capital, mesmo aonde ela se

    diz revolucionria.Se aproximando de nossa realidademais circundante. At em que medida os saraus, osmovimentos, os encontros, os projetos da literaturalocal so ormas de de esa contra este avano docapital? Na verdade, as Usinas esto a (sim com umaisculo: elas so pro etas do progresso) para dizerque nada oi eito antes e muito se chorou depois.Em que medida estes saraus, encontros, projetosso ormas de se manter os artistas rindo e elizes,

    pensando ingenuamente que zeram seu trabalho,quando, na verdade, o capital continua a atravessar,a matar animais, a destruir a regio que os poetasadoram tanto cantar e prosear.

    Se escrever sobre a regio no uma

    Esta forma de dominao,que se pode chamar indstria

    cultural, mquina tribal,modernidade tardia, ps-

    modernidade ou apenas decapitalismo, extremamente

    perversa, atingindo massa de

    trabalhadores.

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    23/50EXPRESSES! Julho 2012 | 23

    orma de de esa e combate avor da regio quedescreve, qual a utilidade disto? Sem saber, osque escrevem sem combater so apenas vagoshistoriadores (estoriadores) que registraro a vitria do capital sobre as rvores, sobre os animais,sobre os sujeitos. Dentro das ormaes (no sentidode ormar, coisi car homens) h espao para todaorma, toda rma: os artistas so aqueles que daroimpresso de serem do contra, mas so reprodutorescomo quaisquer outros, ingnuos que sem nenhumasubjetividade, pensam que a possuem.

    Os que alam sobre a regio e nada azempara de end-la uma rma (excluo aqui o Boca,a Betnia, a Valria, por sua militncia ecolgica, eexcluo outros que no conheo, mas que por venturasejam colegas de combate) de aliados, so o cala bocadas massas, algo como: Sou protetor do verde, euouo e apoio as poesias do Fulano, curte a, no ace.Dentro desta rma h os que ouvem e apoiam estesautores regionais, mas que sua atuao advm deoutra orma de preocupao. A grande massa toalienada quanto os poetas e msicos.

    A outra rma gosto de chamar deultra-modernos. Estes grupos so ormadas pelosartistas que gostam de declamar sobre o nada, sobreo vazio dos seres e mais especi camente, sobre oserto, sendo que sempre moraram na zona urbanae o serto apenas uma imagem de Euclides e dasaulas de geogra a do ensino mdio. Por sua postura vanguardista, lquida, eles so tomados como seresseparados da sociedade e certamente autnomos.

    De ato, o que a indstria cultural (Adorno eHorkheimer) espera que o artista mantenha asmassas buscando sentido onde no h, acreditandoque esto trans ormando alguma estrutura sociala partir da negao de uma palavra ou de umh en, quando na verdade esta orma espec ca deentretenimento mais uma orma de ocupao detempo que leva continuao do status quo.

    A arte diverso. Esta a de esa de todoartista srio, pro ssional e reconhecido. A diverso

    exatamente o oposto da arte como concebemos intelectuais e crticos que eu me apoio. A artecomo entretenimento das massas exatamente acon rmao da morte da arte e do surgimento deum pastiche sem contedo aparente e repetitivo e da

    trans ormao da expresso enquanto mercadoriaimagine: se os homens so mercadorias, imagine suaproduo dita individual.

    Ento, o que seria arte? Seria aquiloque era tranca ado em Admirvel Mundo Novo eo que queimado em Fahrenheit 451. So aquelasormas de expresso que remetem a refexespro undas sobre a vida social, para a histria doshomens, para os sentimentos mais abaladores,que poderiam prejudicar a ormatao, a estruturasocial, a estabilidade aptica que conseguimos. Poreste motivo as distopias queimam os livros, porqueelas remetem histria, aos sentimentos de revolta einstabilidade.

    O capital s trans orma em arte aquiloque paci cador, que alienante. Como diz Adorno,o que no se encaixa neste per l, descartado comoloucura, como violncia desnecessria, como ala dealgum sem preparo. Assim que eu deveria me sentirao ler algumas poesias de Rondnia? Ou deveria mesentir eliz por pertencer ao Estado? Ao Brasil? A umanao que me protege? Ou at mesmo revoltado, masme calar em seguida para ouvir o hino do estado nomercado cultural?

    Por isso, Arte guerrilha. E s pode seormar enquanto isso. Uma resistncia ativa levaria morte dos revoltosos. Ela deve atacar e recuar,se escondendo na calada da noite, ou nos subsoloscomo certo mascarado que tambm virou modinhados revoltosos de acebook. J penso o que artee o que no . Agora como a arte deve agir dentro

    desta orma de controle social e resistindo quelesque amam aquilo que os prendem algo que deveser pensando e experimentado no que me resta detrajetria de vida.

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    24/50EXPRESSES! Julho 2012 | 24Foto : Mari Azuelos

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    25/50EXPRESSES! Julho 2012 | 25

    10 Dicas de

    Literatura na Rede

    1. Gabi AmadioUm desses dias, me disseram que poesia tem que ser bonita. Entendo que poesia tem tantas qualidades

    quantas as que os poetas querem lhe dar, em todo caso, a poesia praticada por Gabi Amadio bonita, delicada, terna, e quando passeio por outras impresses, mantm o que lhe mais caracterstica os apelos imagticos. Dentro desta imagtica antstica, s vezes desenhando um quadro com grilos e menininhas, s vezes, delineando a boa malandragem de um bomio, contudo, semprepincelada com cuidado e um incrvel poder desntese e sugesto, Gabi modula um canto doce,que ala s emoes, que gera movimentos, que sedesdobra em cores, texturas e movimento, o queresultada num todo que acende sensaes, que asdesperta, como uma boa conversa. Recentementeela ez sua anpage no acebook, para acessareexperimentar o que digo basta clicar na imagem.

    foto: Meryelle Oliveira

    A internet maravilhosa: nada como ter disponvel aqualquer momento do dia, todo o dia de besteirol possvele mesmo alguns, quase inconcebveis, nada melhor que vervdeos esdrxulos e rir at no aguentar mais. Contudo,talvez falemos mais detidamente sobre isso numa outraoportunidade. Por agora, vou vos apresentar a links dediversos autores, nossos conhecidos ou ainda por conhecer,que esto ocupando a rede com suas produes.

    Jos Danilo Rangel

    https://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadiohttps://www.facebook.com/gabiiamadio
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    27/50EXPRESSES! Julho 2012 | 27

    5. Leo VinceyLeo Vincey, um escritor verstil, que passeia entre

    a prosa e a poesia, atualmente passando por uma ase

    de renovao, mistura o que sabe de uma e de outramodalidade de expresso, enchendo seus contos e crnicascom pitadas de poesia e temperando os seus versos comrecursos da prosa. Assim, suas descries poticas, comono seu trabalho recente Na Curva do Rio, apresentaum qu das narraes mais longas, descries ricas emdetalhes, inter erncias de di erentes vozes, o resultado?Uma poesia fuente, boa para ir descobrindo o que vem aseguir. Para con erir s clicar na imagem e visitar o blogPoesia em Foco:

    6. Ctia Cernov Ctia Cernov adora o Caos, mas no como

    o destruidor, ama, contudo, as possibilidades queo corruptor da Ordem enseja. Sacudir as coisas de vez em quando necessidade bsica, dar adeus Pasrgada, despedir-se do rei, e seguir adiante nogera apenas o divertimento do revoltado, possibilitaa liberdade atravs da experimentao. Dama danossa poesia, com um estilo orte e incendiador,usando de imagens ortes e que pulsam a quase viver,ela nos o erta os seus momentos de revelao, deinquietao e saber e revolta, com versos de mtrica varivel, como as alas de algum que de repente tomado por muitos pensamentos simultneos,quer ver como ? s clicar na imagem e ir curtira sua anpage.

    7. Melquizedeque AlemoA poesia praticada por Melquizedeque

    Alemo resulta de seu gosto pela leitura degrande pensadores, seu amor por teorias, seu vasto vocabulrio, a predileo pelo xadrez, pelaquebra dos padres e a inveno de novos, mas,acredito que o segredo para se entender o que eleescreve est num dos seus pressupostos revelar abeleza do no belo. Seguidor, talvez sem saber, deAugusto dos Anjos, ele arranca dos verbetes secosda cincia a substncia humana e assim, escravodessa prtica libertadora- como ele se con essa emSintomatologia do Mistrio, que pe para ora oque dentro j no cabe. Seu blog o Arte-Hstico, s clicar na imagem e se assombrar.

    http://poesiemfoco.blogspot.com.br/http://www.arte-histico.blogspot.com/https://www.facebook.com/GirassoisTranslucidos
  • 7/31/2019 EXPRESSES!_12

    28/50EXPRESSES! Julho 2012 | 28

    8. Elias BalthazarComungando com os poetas de sua

    predileo, Drummond, Gullar e Joo Cabral de

    Melo Neto, e ainda uma grande srie de outros,inclusive bandas de metal e rock, Elias Balthazarproduz uma poesia densa, compacta, onde omnimo esconde o mltiplo. O apelo de seus versos, muitas vezes imbudos de visceralidade,como qualquer coisa de carne e osso, qualquercoisa que respira, est exatamente a, no tanto queexpe e na possibilidade de se desdobrarem emmuitos sentidos, mas no apenas a. Suas alegoriassempre sintetizam um mundo de conceitos,

    como em Os Poetas So Canibais, trabalho ondecondensa, com horror e vivacidade, a antropo agiade que nos alam os poetas modernos. Mordidopela mosca azul do Facebook, ele tambm montouuma anpage e por l, est expondo a sua obra emconstruo. s clicar na imagem e se divertir, eestranhar, e ter espantos.

    9. Carlos MoreiraApesar das controvrsias levantadas, e talvez

    por elas mesmas, o que se convencionou chamar

    Movimento Madeirista, Carlos Moreira, um dosseus iniciadores e responsveis pelo mani estoMadeirista, o mani esto do no basta, gura napotica portovelhense como um dos seus nortes.Tendo uma poesia, s vezes con undida commero verbalismo extravagante, Moreira passeiapor conceitos, ormas, atos, e torna-se muitospor poetar de muitos modos. Clique na imagem eaproveite sua densidade.

    10. BocaBoca no consegue car parado, quando

    no est cantando, ou desenhando, ou lendo, estescrevendo. Quando o entrevistei para a 8 edio da EXPRESSES!, ele me alou que estava escrevendo um livro. E como no de esperar, encontrou umaorma de compartilhar sua literatura diretamente com o pblico: o acebook. Boca est disponibilizando,um livro inteiro, captulo por captulo. Um grandemosaico de estilos que se misturam se con undem secompletam, uturista, denso e a cada captulo algo sedesdobra. Para con erir s clicar na imagem. Abaixo,uma pequena mostra do que alo, o captulo 33.

    foto: Srgio P. Cruz

    foto: Srgio P. Cruz

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  • 7/31/2019 EXPRESSES!_12

    29/50EXPRESSES! Julho 2012 | 29

    Palcio Arte Imperial - Subsolo.

    Adega Particular... KainAM emcompanhia de sua coleo... divaga em pensamentossangrentos ermentados... Muito depois dosacri cio da colheita, a experincia diz que agarra a deve ser conservada deitada... longe da luz...longe do calor... em uma temperatura no superiora 15 graus Celsius. A elevao da temperatura ativaleveduras e bactrias que sobrevivem latentes nos

    vinhos... provocando nova ermentao e podecom isso promover ligaes qumicas contnuas eindesejveis. KainAM sabe que o vinho mais do queuma bebida... um ritual! ... e ele obedece a liturgia.

    Ao contrrio dos destilados (como usque

    ou vodca) que saem das destilarias prontos e acabados...o vinho carrega substncias vivas garra a, quetrabalham lentamente nas inter erncias e variveisque a uva so reu, desde o broto na videira, at poder serchamado de vinho. Ele sabe das inevitveis analogiascom o pensamento, a escrita (outra de suas paixes)e o ato da leitura... costuma traar comparaespor vezes geniais... na sutileza de um mestre.

    -... O vinho. Uma histria interessante!Todo o acar que a uva armazenada retirou

    do solo, vira lcool na ermentao por meio deungos, que podem ser encontrados livremente noar. Fermentao e maturao. KainAM conhece osigni cado desses termos como ningum. Caminhano seu mausolu de seres de sangue nobre, que

    Captulo dos Vinhos(ou uma metfora vermelha... aos apreciadores).por BOCA

    CAP. 33:

    O FUTURO DE MARIA

  • 7/31/2019 EXPRESSES!_12

    30/50EXPRESSES! Julho 2012 | 30

    como costuma chamar (no silncio de sua mente),sua adega particular. Felizmente no a etada pelotumulto de todos os acontecimentos ltimos. Cor,sabor e aroma so as caractersticas orgnicas dessesseres magn cos, aqui conservados em barris decarvalho. Os vinhos no so colocados nesses barrispara adquirir cor (como muitos pensam- Isso coisade usque...), o carvalho utilizado por ser uma dasmadeiras mais porosas que existem, permitindo assimque continuamente uma pequena quantidade deoxignio, entre em contato com a bebida. ele que vaidar abertura para que leveduras e bactrias promovamas oxidaes certas, tal pensamento... tal ao... talresultado. As oxidaes azem lcool virar aldedo...aldedos combinados com cidos viram steres, todoseles compostos orgnicos cada vez menos duros aopaladar, deixando o vinho, como dizem os en los,mais redondo. Os melhores vinhos levam de 5 a 20anos at atingirem o pice em termos de qualidadee sabor, e costuma responder altura do tratamentoque recebe. Alguns procedimentos com a garra a sotomados para o nascimento... por exemplo... o cuidadopara a garra a no car totalmente em p, pois h orisco de a rolha secar, murchar e deixar entrar maisar do que deveria, certo que permanea quieta, semagitao, para que o pouco ar que existe l dentro,no se incorpore ao lquido, o que traria oxidaes.

    Quando a garra a aberta, s ento,alguns apreciadores gostam que o ar se incorpore aolquido, que ca mais fuido, da a recomendao paraas garra as serem abertas algum tempo antes de seremconsumidas. KainAM gira o copo suavemente sob onariz, com ar embevecido, antes de tomar o primeirogole, e esse ato no representa apenas uma cenaritual sem sentido, j que um dos responsveis peloaroma vem de alcois complexos, como terpenos, porexemplo, que no por acaso, a mesma substnciaqumica que d aroma s rosas... sente-se excitadonessa situao... uma experincia singular e nica.

    Ele sabe que degustar um bom vinho muito mais do que beb-lo... mesmo porque, opaladar s poderia dizer que ele doce, salgado,

    azedo ou amargo. Para des rutar deste nctar de Baco,o homo sapiens (que quer dizer grande degustadore no superior, como alguns traduzem), se valede todos os sentidos desde a anlise visual da cor,transparncia e brilho e mesmo ao segurar a Tulipa(um copo especial, alto e de boca estreita), paraevitar que o aroma, o cheiro originrio da uva... eo bouquet (cheiro produzido na ermentao eno envelhecimento)... escape rapidamente. Tudomaravilhosamente calculado e esperado... toma-se vinho com a mente completamente alerta.

    bvio o envolvimento do corpo eda alma neste processo litrgico, de tendnciase apreciaes deveras religiosas. Pag. KainAMreconhece a prtica... o ato de apreciar um bom vinho, que sobretudo um exerccio de memria ecomparao... a seus olhos uma met ora per eita desua existncia... sensaes... saudosos ranceses, quenesse miservel mundo velho, se resumiriam aoseu melhor assassino. KainAm absorve mais um golesensivelmente exato... saber beber uma arte. E comoo pensamento, a escrita, o umo, a leitura, o cortejo...e o sexo... praticado com mestria... por poucos.

    KainAM est satis eito! E s ento...sorri... Lentamente re az o caminho de volta... pelapassagem secreta que serve de acesso uma dasmuitas dependncias de seu palcio. Ele az esse ritualem dias espec cos... e nas horas que antecedem asreunies da seita, dadas as circunstncias atuais....como mestre de cerimnias, ele sabe que a prximareunio de monstros pode muito bem ser a ltimaantes do grande dia do drago. Eles no podemmais colocar em risco, dcadas de trabalho aplicadoe controle... sobre o certeiro uturo da Cidade Paraso.

    .......................................................... ...........

    Saber beber uma arte. E como opensamento, a escrita, o fumo, a leitura,o cortejo... e o sexo... praticado commestria por poucos.

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    32/50EXPRESSES! Julho 2012 | 32

    Vises Poticas

    Hoje no tem poesia texto: Csar augusto

    Fotos: Henderson baena

    Hoje, forosos arreios apertam as costas,Cavalgam chicotes nos tropeos de agonia

    Hoje, no tem descanso, no tem poesia Tal cabresto que rasga o lbio e a prosa

    Hoje, os brides roubam o flego e a cleE o cavaleiro da obesidade e da ironi

    Avisa indolente: hoje no vai haver poes Trotando torto eminha pulsante aorta.

    Avisem que hoje no tem poesia, cavaleirHoje s tem a crina molhada e o esterco

    E a velocidade inaudvel das preocupae

    Hoje, piso onde ferraduras no protegemPuxo carroas que j me advertem:

    Hoje no tem poesia, s lamentaes.

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    33/50EXPRESSES! Julho 2012 | 33

    P o e s i a Entre a vertigem e a epifania

    Eu queria um poema que no precisasse de papel:

    Que dormisse em guas difanas de horas gastas a olhar o nada

    Que levantasse do seu trono de ar erguendo bandeiras invisveisE arrastando exrcitos imaginrios

    Que trocasse linhas lricas por dentes de leite da juventude enferrujada

    Que cerrasse os punhos para os tanques e fuzis de hoje e de amanh

    Um poema que escapasse pelas grades da mente anormal arrombasseos portes do pudor e da censura saltasse pela garganta molhada dedesespero escapasse pelas brechas de nossas mos sujas de humanidadee entrasse no frio do mundo de ns mesmos perguntando se viver ditanto quanto parece. AjoelhassePedisseChorasseMorresse

    Eu queria um poema que impedisse um pai de apagar a luzE que beijasse a boca dos que no merecem.

    Bruno Honorato

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    34/50EXPRESSES! Julho 2012 | 34

    P o e s i a Partida

    Os ces ladram num ganido acorrentado Abafados no quintal urbano. Vai e vem l fora E aqui o tec tec preguioso do ventiladorDe l e c.Gotculas de suor nesse calor opressor.Na TV beijos de amores eternos artificiais Vou-me daqui sem corpo.Noutro tempo o calor que sinto de tiE os sons que me invadem so teus.O suor escorre e penetra a nudezTua lngua inquieta pele salina fazem festa. Acordo de mim!O cenrio de sons, ces, carros e a teimosa brisa mecnica.Esse vai e vem montono segue agora mais irreal.Sons partidos em multido sem forma.

    Daniel A. Lima

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    35/50EXPRESSES! Julho 2012 | 35

    P o e s i a

    Sintomatologia do Mistrio

    A senescncia precoce

    enruga minhas letras,amassa as pginas dosdirias onde escrevocom suspiros diabticos,e mantm meu ser escravodessa prtica libertadora.

    Envelheo dez anos num dia,mas cada palavra s rejuvenesce.Minhas lgrimas tornaram-se pedra por no seguirem seu curso natural;Constru castelos de estalactites.

    Minha pele marcada pelo temporecobre a osteoporose fetal...Sinto a dor crnica parassimptica,a amaciar os filamentos das terminaesnervosas em cada ataque de risosintetizado na solido dialtica.

    Essa arquitetura assimtrica das veias e artrias do corpodiminui tal presso sangunea;Desfaleo trigonometricamenteno aconchego do insulto catrtico.Homo hertico dio e iluso!

    As mitocndrias celularesesperam minha dose diria de paz,compactada no prazer da nicotina.

    Sentir a picada dos insetos me compraz. Apenas desejo ver aspecto do silncioque se propaga no processo mutanteda vida e da morte Exegese futurstica sobre a biografia pr-histrica da evoluo.

    Melquizedeque Alemo

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    36/50EXPRESSES! Julho 2012 | 36

    P o e s i a

    Moreninha que Sabe Mexer

    Moreninha! Moreninha! Voc sabe mexer.

    Olha no pe, pe, peMe fazendo enlouquecer!

    o tchan!

    Voc me embriaga com seus vinhos e vises, voc me embebeda com a morte de Diadorim,com os decasslabos de um antigo Cames,com esses olhos me apalpando,com essa boca me pedindo beijostaas e mais taas voc me oferece,em taas e mais taas voc se oferece.

    Eu bebo a grandes goles, eu tenho sede,

    deixo voc me inebriar,eu digo, dana comigo, e arrasto vocpelo brao, e danamos, porque precisoque o verbo se converta em gestoe que o gesto encarne os modosdo cinismo e da cretinagem,e ento, orbitamos, aos giros e saltos,e s gargalhadas em torno um do outro,No meio dos doidos que nos acham doidos.

    Voc abre a porta do quarto, enfim, voc me convida pro seu mundo,com seus olhos de desejo e medo,eu vou, voc quer que v e fique,e com todas as cores que conheo,e com todas as cores que voc conhece,colorimos o ar com palavras e espantos,e rabiscos e suspiros e retase ngulos e outros pequenos atos criativos.

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    37/50EXPRESSES! Julho 2012 | 37

    E ento, rimos como abestados,a partir das muitas coisas que vamos desdobrandono vazio de entre ns, ocupando-o, preenchendo-o,rimos como idiotas, enquanto passeamospara alm do que razovel,rimos a no poder mais, a doer o riso,felizes ou desesperados com todas as coisasque fazemos surgir da confuso de dentro,que agora desconstrumos,ainda s gargalhadas.

    Sempre s gargalhadas.Moreninha, voc sabe mexer,mas porque ainda no sabe onde, vai tateando com mos espertas, verificando o que o toque causa,e avanando e recuando,segundo a impresso de sucesso, vai perscrutando com perguntas e lisonja,E avanando e recuando, capciosa,Fingindo pacincia, mas a j saltar sobre mim.

    E, quando encontra onde pegar,quando mostro onde pegar, voc me suga pro seu vrtice de volpias,de ideias, de sonhos, de revoltas, de espasmos,de grandes e medocres pretenses,de pernas e seios e lbios e nsias,e com um sem nmero de revolues

    me atordoa com um turbilho de sensos e beijos,e apertos e dvidas e questes e mpetos,e carcias e msculos e coxas e quadris,e me desafia e me contraria s por diverso,e me d um abrao, de repente, terna,de repente, menina,e ento, cede, e me permite e se entrega: minha vez de atordoar!

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    38/50EXPRESSES! Julho 2012 | 38

    L fora, j dia, mas que importa o dia,se podemos alongar a noite no quarto?e de novo,tudo ao mesmo tempo e juntose desata em mil sentidos sobre ns,fasca sobre gasolina, partejado um furaco,e de novo,movimento gera movimento,e tanto mover aquece as formasque, de firmadas, fremem, fervem, falham,se liquefazem e fluem, flgidas, ferventes,e foram e transformam e se transformamoutras formas e transformaes forjando,afloram, afagam, ferem, findam,

    fazem-se e se desfazem,fogem, fria, fogos-ftuos, deformam-se,confundem-se, fundem-se, fodem-se,e, ento, do caos a dois desponta,em vez do colapso:o gozo.

    Jos Danilo Rangel

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    39/50EXPRESSES! Julho 2012 | 39Foto : Mari Azuelos

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    40/50EXPRESSES! Julho 2012 | 40

    Ele ante (Elephant, 2003), do diretor Gus Van Sant,nos mostra a histria de Columbine, o massacre cometido por doisestudantes, Eric Harris and Dylan Klebold, que resultou na mortede 12 jovens e um pro essor na escola Columbine High School, em1999.

    Sem violncia ou sensacionalismo, Van Sant retrataa vida sem rumo e sem sentido de adolescentes completamenteperdidos. No se trata de um lme com uma reconstituio, a nal,no altam sites e vdeos na internet para nos esclarecer passo apasso daquele dia. O diretor az uma abordagem neutra, sem

    uadrouadroa

    por Laisa Winter

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    41/50EXPRESSES! Julho 2012 | 41

    dramatizar. um lme simples de todas as ormas, protagonizadopor atores desconhecidos e com produo de baixo oramento,bem di erente do que se costuma ver em Hollywood.

    Ele ante nos mostra o cotidiano de vrios alunos,cada qual com seu drama particular, alguns no se conhecem,e mal trocam olhares no corredor, mas estaro todos juntos nonal, igualados, independente da panelinha a qual pertencem.O espectador se torna os olhos desses adolescentes, mostrandoo ponto de vista de cada personagem e para isso, o lme repetealgumas cenas.

    possvel ver e sentir certo vazio nos momentos ondea cmera deixa de ocar em algum, nos mostrando uma imagemdes ocada, em outros momentos o silencio que nos chama ateno,o lme no possui uma extensa trilha sonora. Ironicamente, emoutras cenas, longas cenas, a msica que causa estranheza, agora,pela alta de dilogos. O que no degenera o lme, mas nos azrefetir e analisar a cena com mais ateno.

    Na investigao eita pela polcia sobre os alunos quee etuaram a matana, possvel perceber que no se tratava deadolescentes viciados ou violentos, mas que pareciam so rer porno pertencerem aos grupos mais valorizados da escola, mesmoque tivessem companhia para o baile da escola. Ambos pareciamso rer de algo que atinge muitos jovens, a depresso, algo que oie continua sendo ignorado pela escolas e pelos pais de muitosoutros. Sempre pensamos ter o maior dos problemas, verdade ouno, aqueles que passam por momentos menos dolorosos, assimcomo ns, so rem.

    Em uma entrevista do Gus Van Sant ele disse o porqudo nome. Existem duas explicaes, os ele antes de porcelana,aquelas coisas que compramos, deixamos na estante e que nodamos ateno. Tambm citou uma parbola budista na qualalguns cegos tocam um ele ante, e cada um az sua descrio deacordo com a parte que tocou: a pata, a cauda, ou a orelha. Masnenhum consegue imaginar o animal por completo. A ns, mostrada a viso de todos os cegos da parbola, assim possveltirar nossas prprias concluses e visualizar o ele ante. Pois,quando se tem a viso de um s dos lados da histria, di cilmentecompreenderemos o que est acontecendo e nem o porqu.

    Se voc espera ao nal desse lme chegar a umaexplicao sobre o massacre, o lme pode no ajudar muito. SeVan Sant tem uma opinio, e deve ter, guardou para si.

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    possvel ver esentir certo vazio nos

    momentos onde a cmeradeixa de focar em algum.

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    42/50EXPRESSES! Julho 2012 | 42

    extra

    Os Nacarados Confeitos de Ana

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    43/50EXPRESSES! Julho 2012 | 43Os Nacarados Confeitos de Ana - Ana Paiva

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    AO LEITOR.............................

    Por m, o de sempre, quer participar? Mandealguma coisa pro e-mail.

    [email protected]

    Jos Danilo Rangel

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