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Exposição à Raiva Humana no Município de Cuiabá – MT: Epidemiologia e Avaliação das Medidas Preventivas Ana Paula Miranda Mundim Orientador: Prof. Dr. João Henrique G. Scatena Cuiabá-MT 2005 Dissertação apresentada no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso para obtenção do grau de mestre Área de concentração: Epidemiologia

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Exposição à Raiva Humana no Município de Cuiabá – MT:

Epidemiologia e Avaliação das Medidas Preventivas

Ana Paula Miranda Mundim

Orientador: Prof. Dr. João Henrique G. Scatena

Cuiabá-MT

2005

Dissertação apresentada no Programa

de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

do Instituto de Saúde Coletiva da

Universidade Federal de Mato Grosso

para obtenção do grau de mestre

Área de concentração: Epidemiologia

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Exposição à Raiva Humana no Município de Cuiabá – MT:

Epidemiologia e Avaliação das Medidas Preventivas

Ana Paula Miranda Mundim

Orientador: Prof. Dr. João Henrique G. Scatena

Cuiabá-MT

2005

Dissertação apresentada no Programa

de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

do Instituto de Saúde Coletiva da

Universidade Federal de Mato Grosso

para obtenção do grau de mestre

Área de concentração: Epidemiologia

Autorizo a reprodução total ou parcial desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.

MUNDIM, Ana Paula Miranda

Exposição à Raiva Humana no município de Cuiabá – MT: Epidemiologia e Avaliação das Medidas Preventivas

Dissertação (mestrado) - Instituto de Saúde Coletiva.

Universidade Federal de Mato Grosso, 2005.

Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva.

Área de concentração: Epidemiologia.

Orientador: Prof. Dr João Henrique Scatena.

1. Agressão animal 2. Raiva 3. Atendimento profilático anti-rábico 4. SINAN 5. Município de Cuiabá

“Que cada um considere a si mesmo, não

como um homem procurando satisfazer

sua própria sede de conhecimento [...]

mas como um colaborador numa grande

obra comum relacionada com os

interesses supremos da humanidade”.

Hermann Van Helmhotz

(1821 – 1894)

Dedicatória

À memória da minha avó, Áurea

Gomes de Miranda, com muito amor.

Agradecimentos

A Deus, pai de infinito amor e bondade, pelo meu bem maior: a vida;

Aos meus pais Altamir e Marlene pelo apoio, incentivo e amor, elementos fundamentais

para que eu tivesse condições de vencer os obstáculos ao longo da caminhada e

conseguisse concluir mais esta etapa no processo de aprendizado. Especialmente à

minha mãe, origem de todo meu interesse pela ciência e vida acadêmica;

Às minhas irmãs Silmara e Fabiana, por compartilharmos tantos momentos de bênçãos

e provações no período de desenvolvimento deste estudo, e ao meu único sobrinho,

Bruno, quem tanto amo;

Ao Professor Doutor João Henrique Scatena, pela dedicação, apoio e estímulo com que

sempre conduziu sua orientação e pelo exemplo de cientista;

Aos professores do Instituto de Saúde Coletiva, que doaram um pouco de si para

construirmos conhecimento;

Aos colegas do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva, especialmente

Solanyara, Conceição, Eliane, Elibene e Hea pela amizade e disposição em ajudar em

qualquer situação;

Às Médicas Veterinárias Moema Blatt e Silene Rocha, cujo amor por seu trabalho na

profilaxia da raiva fez com que despertasse em mim o interesse pelo assunto;

À Gerencia de Controle de Zoonoses ligada à Secretaria Estadual de Saúde e Centro de

Controle de Zoonoses ligado à Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, pelo auxílio

prestado;

Ao CNPq, pela concessão da bolsa, que possibilitou a realização deste estudo;

A todos que direta e indiretamente contribuíram para a conclusão deste trabalho, meus

sinceros agradecimentos.

Resumo Mundim APM. Exposição à raiva humana no Município de Cuiabá-MT: Epidemiologia

e avaliação do atendimento profilático. Cuiabá; 2005. [Dissertação de Mestrado-

Instituto de Saúde Coletiva da UFMT].

Existe grande preocupação, por parte dos profissionais em saúde pública, com os

acidentes humanos envolvendo animais em virtude da possibilidade de transmissão da

raiva. Esforços das autoridades competentes têm determinado redução dos casos de

raiva humana e animal, porém não tem ocorrido a redução proporcional no número de

seres humanos vítimas de agressões por animais e submetidos à profilaxia pós-

exposição. Faz-se necessário maior conhecimento acerca das agressões, das espécies

agressoras e do perfil da vítima para determinação com maior segurança de prescrições

e orientações a serem seguidas. Com essa finalidade este estudo caracterizou o perfil

epidemiológico de vítimas humanas e de animais domésticos envolvidos em agressões

passíveis de transmissão da raiva urbana e identificou ações e procedimentos

relacionados à profilaxia da anti-rábica humana, no Município de Cuiabá-MT. Trata-se

de um estudo observacional descritivo, com base em dados secundários oriundos das

fichas utilizadas pelo Programa de Controle da Raiva (VE – 7), dados das fichas do

Centro de Controle de Zoonoses e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN). As informações obtidas dos diferentes instrumentos sobre o mesmo assunto

nem sempre foram coincidentes, no entanto elas estiveram de acordo com o fato de que

o principal animal agressor foi o cão, de que durante os meses de junho a outubro

ocorreu maior procura aos serviços de Profilaxia da Raiva e que a maior freqüência de

agressão foi encontrada nas áreas mais populosas do município. As demais informações

são complementares, aparecendo apenas em alguns dos instrumentos utilizados.

Palavras-chave: Agressão animal; Raiva; Atendimento profilático anti-rábico; SINAN;

Município de Cuiabá.

Lista de Tabelas

Tabela 1. Freqüência de atendimento e tratamento anti-rábico humano, Cuiabá-MT,

1998 – 2003.....................................................................................................................

33

Tabela 2. Distribuição da agressões segundo animais agressores, Cuiabá-MT, 1998 -

2003 ................................................................................................................................

35

Tabela 3. Freqüência do tratamento anti-rábico humano segundo tipo e dose de

imunobiológicos utilizados, abandono do tratamento, reações adversas e acidentes

vacinais, Cuiabá, 1998 – 2003........................................................................................

36

Tabela 4. Distribuição dos cães e gatos observados para decisão de tratamento

segundo VE – 7 e CCZ, Cuiabá-MT, 1998 – 2003.........................................................

39

Tabela 5. Distribuição do número e percentual das amostras enviadas ao Laboratório

de Apoio a Sanidade Animal – INDEA, Cuiabá-MT, 1998 – 2003...............................

41

Tabela 6. Distribuição das espécies positivas para raiva, Cuiabá-MT, 1998 a 2003...... 42

Tabela 7. Distribuição da vacinação canina segundo estratégia e ano de realização,

Cuiabá-MT, 1998 a 2003................................................................................................

44

Tabela 8. Distribuição da vacinação em gatos segundo ano de vacinação, Cuiabá-

MT, 1998 – 2003.............................................................................................................

45

Tabela 9. Estimativa da população animal e distribuição da cobertura vacinal,

Cuiabá-MT, 1998 – 2003................................................................................................

46

Tabela 10. Distribuição dos cães capturados segundo ano de captura de acordo com

dados do VE – 7 e CCZ, Cuiabá-MT, 1998- 2003.........................................................

48

Tabela 11. Distribuição dos animais que sofreram eutanásia, Cuiabá-MT, 1998 –

2003.................................................................................................................................

49

Tabela 12. Percentual de preenchimento das variáveis relacionadas à vítima nas

fichas de notificação e investigação referentes ao tratamento anti-rábico humano

(SINAN), Cuiabá-MT, 2003...........................................................................................

52

Tabela 13. Distribuição proporcional do preenchimento das variáveis relacionadas

ao ferimento nas fichas de notificação e investigação referentes ao tratamento anti-

rábico humano (SINAN), Cuiabá-MT, 2003..................................................................

53

Tabela 14. Distribuição proporcional do preenchimento das variáveis relacionadas ao

animal agressor nas fichas de notificação e investigação referentes ao tratamento

anti-rábico humano (SINAN), Cuiabá-MT, 2001 a 2003...............................................

54

Tabela 15. Distribuição proporcional do preenchimento das variáveis relacionadas ao

tratamento nas fichas de notificação e investigação referentes a profilaxia anti-rábica

humana, Cuiabá-MT, 2003.............................................................................................

55

Tabela 16. Atendimento anti-rábico humano, devido agressão por animais

potencialmente transmissores de raiva (por 10.000), segundo mês de notificação,

Cuiabá-MT, 2003............................................................................................................

56

Tabela 17. Características das vítimas de agressão por animais potencialmente

transmissores da raiva segundo faixa etária, Cuiabá-MT, 2003.....................................

58

Tabela 18. Distribuição das agressões nas diferentes faixas etárias segundo sexo,

Cuiabá-MT, 2003............................................................................................................

59

Tabela 19. Distribuição dos indivíduos agredidos por animais potencialmente

transmissores da raiva segundo a raça/cor (declarada pela vítima ou responsável),

Cuiabá-MT, 2003............................................................................................................

60

Tabela 20. Distribuição dos indivíduos agredidos por animais potencialmente

transmissores da raiva segundo grau de escolaridade (por ano de estudo concluído),

Cuiabá-MT, 2003............................................................................................................

62

Tabela 21. Distribuição dos indivíduos agredidos por animais potencialmente

transmissores da raiva por Distrito Sanitário, Cuiabá-MT, 2003...................................

63

Tabela 22. Distribuição das agressões quanto ao tipo de exposição, Cuiabá-MT,

2003.................................................................................................................................

65

Tabela 23. Distribuição das agressões segundo o tipo de lesão, Cuiabá-MT, 2003....... 66

Tabela 24. Distribuição das lesões segundo local do corpo afetado, Cuiabá-MT,

2003.................................................................................................................................

66

Tabela 25. Característica do ferimento quanto à profundidade da lesão, Cuiabá-MT,

2003.................................................................................................................................

68

Tabela 26. Característica dos animais agressores, segundo espécie, Cuiabá-MT,

2003.................................................................................................................................

69

Tabela 27. Característica dos animais agressores, segundo sua condição no momento

da agressão, Cuiabá-MT, 2003.......................................................................................

70

Tabela 28. Característica dos cães agressores, segundo sua condição no momento da

agressão, Cuiabá-MT, 2003............................................................................................

70

Tabela 29. Características do animal agressor, segundo modo de ocorrência da

agressão, Cuiabá-MT, 2003............................................................................................

72

Tabela 30. Características do animal agressor, segundo situação da agressão, Cuiabá-

MT, 2003.........................................................................................................................

73

Tabela 31. Distribuição das agressões, segundo situação das mesmas e idade da

vítima, Cuiabá-MT, 2003................................................................................................

74

Tabela 32. Distribuição dos animais agressores, segundo diagnóstico clínico e

laboratorial para raiva, Cuiabá-MT, 2003.......................................................................

75

Tabela 33. Distribuição do tratamento indicado às vítimas de agressão por animais

potencialmente transmissores da raiva, Cuiabá-MT, 2003.............................................

76

Tabela 34. Distribuição dos tratamentos segundo vacinas utilizadas, Cuiabá-MT,

2003.................................................................................................................................

78

Tabela 35. Distribuição dos casos de interrupção do tratamento profilático, Cuiabá-

MT, 2003.........................................................................................................................

79

Tabela 36. Distribuição da interrupção de tratamento segundo motivo, Cuiabá-MT,

2003.................................................................................................................................

80

Índice 1. Introdução............................................................................................................... 1

2. Objetivos................................................................................................................. 25

2.1 Objetivos Gerais.............................................................................................. 25

2.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 25

3. Material e Método................................................................................................... 26

3.1 Tipo de estudo................................................................................................. 26

3.2 Caracterização da área de estudo.................................................................... 26

3.3 População de estudo........................................................................................ 26

3.4 Fontes de Informação...................................................................................... 27

3.5 Varíaveis estudadas: Identificação, coleta e processamento........................... 29

3.6 Processo de análise e tratamento estatístico dos dados................................... 31

3.7 Considerações éticas....................................................................................... 31

4. Resultados e discussão............................................................................................ 32

4.1 Análise das informações da ficha VE-7........................................................... 33

4.1.1 Atendimento e tratamento anti-rábico humano......................................... 33

4.1.2 Diagnóstico laboratorial............................................................................ 40

4.1.3 Profilaxia animal....................................................................................... 43

4.2 Análise das informações providas pelo SINAN............................................... 51

4.2.1Qualidade do preenchimento dos instrumentos alimentadores do SINAN 51

4.2.2 Distribuição temporal................................................................................ 56

4.2.3 Características das vítimas humanas de agressão..................................... 58

4.2.4 Características da lesão............................................................................. 64

4.2.5 Caracterização do animal agressor............................................................ 69

4.2.6 Tratamento anti-rábico humano................................................................ 75

4.3 Análise conjunta dos Sistemas de Informação................................................... 81

5. Conclusões.............................................................................................................. 86

6. Recomendações....................................................................................................... 88

7. Referências Bibliográficas...................................................................................... 90

8. Anexos..................................................................................................................... 97

1. Introdução

Existe grande preocupação por parte dos profissionais em saúde pública, com os

casos de acidentes humanos envolvendo animais em virtude da possibilidade de

transmissão da raiva. De todas as zoonoses, a raiva é a mais temida delas,

principalmente em razão de suas conseqüências em termos de mortalidade (MIRANDA

2003).

A raiva é uma doença letal, causada pelo vírus rábico do gênero Lyssavirus,

família Rhabdoviridae, caracterizada por sintomas de comprometimento do sistema

nervoso central, sob a forma de encefalite. Uma vez manifestados os primeiros

sintomas, o tratamento limita-se, até o presente momento, a diminuir o sofrimento do

paciente (MINISTÉRIO DA SAÚDE 1996).

A epidemiologia da raiva depende claramente da passagem deste vírus de um

indivíduo infectado a outro suscetível. A transmissão da doença se dá

predominantemente pela inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal

infectado, em conseqüência de mordedura, lambedura, ferimento de mucosa ou

arranhões. Nos felinos a possibilidade de arranhões transmitirem o vírus ocorre devido

ao hábito de limpeza das garras ser realizada pela lambedura (ACHA e SZYFRES 1986,

FENNER 1993, CARVALHO 2002).

Existe também o relato na literatura científica de oito casos comprovados de

transmissão inter-humana que ocorreram através de transplante de córnea. A via

respiratória também é aventada, mas com possibilidade remota (MINISTÉRIO DA

SAÚDE 2002).

São conhecidos dois ciclos epidemiológicos de raiva: a raiva urbana, mantida

por cães e gatos e a raiva rural, mantida por animais silvestres. O ciclo urbano da

doença continua sendo o mais importante para a raiva humana. Em áreas urbanas, nas

situações onde as medidas de controle não atingem seu objetivo de interromper a cadeia

de transmissão, a espécie de maior relevância epidemiológica para a transmissão do

vírus é o cão, principal reservatório e fonte de infecção (CARVALHO 2002).

Por ter como reservatório na natureza um grande número de espécies animais, o

controle da raiva passa a exigir a aplicação de medidas dirigidas à redução da circulação

do vírus naquela espécie de maior importância epidemiológica numa determinada região

geográfica (PASSOS 1998).

Mesmo nas áreas onde a raiva canina foi erradicada, esta pode ser reintroduzida

por animais silvestres se a população de cães não é imunizada adequadamente (ACHA e

SZYFRES 1986).

No homem, a doença se manifesta após um período de incubação que varia de cinco

dias a um ano, com média de dois meses (ACHA e SZYFRES 1986) e clinicamente

desencadeia sintomas de intranqüilidade, dores de cabeça e hipersensibilidade no

lugar da mordedura. Posteriormente, manifesta-se a hiperexcitabilidade

desencadeada por vários estímulos, inclusive a água, razão pela qual a raiva era

conhecida na antiguidade como hidrofobia. A visão de um vaso de água e/ou o som

da água corrente, provocam um ataque caracterizado por espasmos dolorosos da

musculatura da laringe, faringe e esôfago. A hiperexcitabilidade é seguida de

paralisia que, geralmente, produz a morte em poucas horas devido à paralisia

respiratória. A duração da doença costuma ser de 2 a 4 dias, tendo o óbito como

desfecho (BEER 1988).

A cada ano, mais de 50 mil seres humanos morrem vítimas da raiva nos países

menos desenvolvidos, sendo 90% no sudeste asiático (WORLD HEALTH

ORGANIZATION 1992).

A Índia é provavelmente o país com maior número de casos de raiva, pois são

estimados mais de 15.000 casos por ano (STEELE e FERNANDES 1991, citados por

ARAÚJO 2002).

As epizootias urbanas colocam em risco extensos segmentos populacionais, de modo

particular aqueles que habitam áreas periféricas de cidades de terceiro mundo, onde

cães errantes se reproduzem com rapidez e vivem em situação de grande

proximidade com seres humanos (PASSOS 1998).

Países da América Latina, como Peru, Equador, México e Brasil, também ainda não

conseguiram controlar a raiva urbana, na qual o cão representa a principal fonte de

infecção (WORLD HEALTH ORGANIZATION 1992).

Assim como nos demais países industrializados, a raiva canina no Brasil tem como

característica comum, a maior incidência em áreas carentes ou em desenvolvimento

precário (SCHNEIDER 1996).

No período de 1990 a 2001, foram registrados no Brasil 458 casos de raiva

humana. A média foi de 38 casos por ano, com variação de 73 casos (1990) a 21 (2001).

Entre 1990 a 1994, houve redução de 70% no número de casos, passando de 73 para 22.

No entanto, a partir de 1995 e até 2000, o número de casos manteve-se em torno de 26

por ano, correspondendo à redução de 30% em relação à média dos 5 anos anteriores

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

A distribuição da raiva não é uniforme. No Brasil a raiva é endêmica, em grau

diferenciado, de acordo com a região geopolítica. A região Nordeste responde com

61,50% dos casos humanos registrados entre 1986 a 1996, seguindo-se as regiões Norte

com 18,38%, Sudeste com 11,21%, Centro-Oeste e Sul com 8,71% e 0,20%

respectivamente (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

ARAÚJO (2002), em seu estudo sobre a raiva humana no Brasil de 1992 a 2001,

detectou variações consideráveis nos coeficientes de incidência nos diferentes estados

do Brasil. Entretanto, a tendência foi de redução deste índice, na maioria dos estados.

No ano de 1992 o coeficiente foi de 0,4/1.000.000 habitantes e em 2001 apresentou

0,1/1.000.000 habitantes

Os maiores focos de raiva animal do país estão nas capitais e regiões metropolitanas,

como Grande Recife, Grande Salvador, Grande Fortaleza, Grande Cuiabá e Porto

Velho. O autor aponta falhas no sistema de vigilância epidemiológica de alguns

locais, uma vez que se identificam casos de raiva canina a partir de casos de raiva

humana (ARAÚJO 2001).

No entanto sabe-se que os esforços das autoridades de saúde pública, no Brasil,

relativa ao controle da raiva, têm determinado grande redução dos casos da doença em

humanos e animais. Porém não tem ocorrido a redução proporcional no número de seres

humanos vítimas de agressões por animais e submetidos a tratamentos profiláticos anti-

rábicos pós-exposição (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

Na América Latina, no período de 1992 a 1997, foram notificados anualmente,

em média, 799.625 pessoas agredidas por animais. Em 1997, de 796.144 vítimas desses

acidentes, 407.340 pacientes iniciaram tratamento preventivo anti-rábico. Portanto, a

indicação de tratamento foi para 51% dessas vítimas (OMS/OPAS 1999).

No Brasil, de 1995 a 1999, foram atendidas 1.554.674 pessoas agredidas, o que

corresponde à média anual de 388.668 pessoas e foram indicados tratamentos anti-

rábicos a 870.512 vítimas, ou seja, 217.628 vítimas/ano, resultando na indicação média

de tratamento de 56% (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

Entre 1997 e 2001, no Brasil, mais de 400.000 pessoas ao ano procuraram

atendimento médico, por terem sido expostas ou se julgarem expostas ao vírus da raiva.

A taxa média de exposição nesse mesmo intervalo de tempo foi de 245,51 por 100.000

habitantes, mantendo-se praticamente estável, com variação de 228,33 (1997) a 253,58

(1999) (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

De 1998 a 2000, 27,2% dos óbitos por raiva ocorreram em detrimento de

tratamento profilático inadequado e/ou porque houve abandono do tratamento

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

Em Uberlândia-MG, de 1997 a 1998, 2.114 pessoas foram agredidas por animais

e submetidas ao tratamento anti-rábico profilático (BONITO 2002).

Na cidade de Fortaleza-CE no ano de 1999, de um total de 8.055 ocorrências de

agressão por animais registradas, 96,2% tiveram como agentes cães e gatos

domiciliados, semidomiciliados, comunitários e animais silvestres (sagüis, raposas e

morcegos) e 3,8% foram devidos a cães e gatos errantes, sendo neste ultimo caso

administradas 4.004 doses de vacinas para o tratamento profilático das pessoas

agredidas (LOPES 2001).

A Organização Mundial de Saúde, na publicação Guidelines for dog population

management (1990) classifica os cães como: cão supervisionado ou controlado, em que

o animal é totalmente dependente e totalmente controlado (no Brasil recebe a

denominação de cão domiciliado); cão de família, em que este animal é totalmente

dependente e parcialmente controlado (no Brasil é o cão semidomiciliado); cão

comunitário ou de vizinhança, em que o animal é parcialmente dependente,

parcialmente controlado ou sem controle, é denominado cão errante ou cão sem dono;

cão selvagem, é o animal independente, sem qualquer controle, obtém sua alimentação

através de caça e abrigos em reservas de matas, grutas e procriam livremente além de

comporta-se como predador.

Em Curitiba-PR o atendimento anti-rábico profilático humano é o agravo de maior

volume entre aqueles de notificação obrigatória. Entre 1998 e 1999, 15.530 pessoas

foram atendidas (LANGE 2002).

Em Maringá-PR, de acordo com o estudo realizado em 1997, a situação

epidemiológica da raiva e dos fatores de exposição à raiva no município foi compatível

com a do estado (CARVALHO 2002). A maior proporção de atendimentos profiláticos

foi prestada a menores de 15 anos, do sexo masculino, devido a ferimentos superficiais,

por mordeduras em membros inferiores e mãos. O cão foi o principal agressor, estando

sadio no momento da agressão, não vacinado ou com estado vacinal desconhecido. A

taxa de abandono de vacinação por parte das vítimas foi de 4,0%.

Ainda de acordo com a autora supra referida, a maior proporção de atendimentos ocorreu em crianças e pessoas do sexo masculino. No entanto nas faixas etárias de 20 a 49 anos e maiores de 65 anos, a maior proporção de agressões ocorreu em mulheres.

RIBEIRO NETO (1970), citado por CARVALHO (2002) conclui que nas agressões envolvendo crianças, devido à letalidade da doença, seus familiares, além das próprias vítimas, são envolvidos emocionalmente, se preocupam e buscam atendimento. Já os adultos, quando agredidos podem considerar alguns tipos de exposição como um evento de menor importância e não procurar pelo serviço de saúde, subestimando o número absoluto de agressões.

No Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2002, ocorreram 12.532

notificações de agressão por cães (120,40 notificações por 100.000 habitantes) e 15.551

notificações em 2003 (147,95 notificações por 100.000 habitantes). Do total de

atendimentos de agressão pelas diversas espécies animais, 51,83% dos pacientes

iniciaram tratamento profilático contra raiva em 2002 e 54,94 em 2003 (PECPR 2004

citado por SCHABBACH 2004).

Em Rio Grande – RS, ocorreram 354 notificações de agressão por cão no ano de

2002 (186,79 notificações por 100.000 habitantes) e 550 no ano de 2003 (288,12

notificações por 100.000 habitantes). Dos indivíduos agredidos pelas diversas espécies

animais e que notificaram o agravo, 59,52% iniciaram o tratamento profilático anti-

rábico em 2002 e 67,56% em 2003 (SMS-RG, 2004 citado por SCHABBACH 2004).

No Município de São Paulo, no período de 1995 a 1999, foram atendidas

106.904 pessoas vítimas de acidentes com animais. Deste total, 83.552 vítimas foram

atendidas pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, através do Programa de

Prevenção da Raiva em Humanos, e indicados tratamentos anti-rábicos a 8.874 dessas

vítimas, o que equivale a 10,5% de indicações de tratamento (RAMOS 2001).

Em São Paulo, no período de 1987 a 1996, foram observados clinicamente para raiva

100.067 animais, envolvendo cães e gatos, sendo que 94.580 animais (94,6%) foram

observados pelo proprietário do animal e pela vítima. A visita domiciliar de um

Médico Veterinário ocorreu em 3.778 casos (3,8%) e foram levados para canil de

isolamento 1.709 animais (1,7%) (RAMOS 1998).

De acordo com o Instituto Pasteur citado por DIAS (2001), anualmente são atendidas

no Estado de São Paulo cerca de 130.000 pessoas envolvidas com acidentes com

animais, para uma população canina estimada de 5 a 6 milhões de cães. Ainda

segundo informações do Instituto Pasteur, 1998, os grupos de risco em relação às

agressões por cães em humanos são representados por crianças, e profissionais como:

leituristas de consumo de gás, água e energia elétrica, carteiros, coletores de lixo,

tratadores de animais.

Segundo RAMOS (2001), no ano de 1998, foram estudados os acidentes com

cães em relação ao local onde ocorreu a agressão, no Município de São Paulo e

constatou-se que, dos acidentes com cães (94,1% do total), 66,0% dos casos ocorreram

na própria residência e 34,0% dos casos em locais públicos (ruas, praças, escolas).

Destes acidentes ocorridos em locais públicos, 18,8% das vítimas conseguiram

identificar o agressor, permitindo observação clínica. Estes acidentes em sua grande

maioria ocorreram na rua onde morava a vítima e o cão era de propriedade de vizinhos.

Nos demais casos a vítima não identificou o agressor e foi indicado o tratamento anti-

rábico. Neste caso, na maioria das vezes a vítima era criança, sendo também alta a

porcentagem de alcoólatras envolvidos nestes acidentes.

GARCIA (1999), através da análise das fichas de investigação de raiva, em

Osasco-SP, no período de 1984 a 1994, chegou à conclusão da existência de maior risco

de exposição para a raiva para os indivíduos do sexo masculino, com cinco a nove anos

de idade. As agressões ocorreram com maior freqüência no domicílio da vítima e os

cães foram os principais responsáveis. Os agressores em sua maioria não haviam sido

imunizados contra raiva, situação observada em 51,0% dos cães e 73,2% dos gatos. Nos

indivíduos com até nove anos de idade as localizações mais freqüentes da lesão

proveniente de agressão foram cabeça e membros superiores. Quando a faixa etária

ultrapassava os nove anos as áreas mais acometidas foram membros superiores e

membros inferiores.

Em Cuiabá - MT, um levantamento retrospectivo caracterizando as agressões por

animais aos seres humanos foi realizado e constatou-se que, no período de janeiro de

2000 a outubro de 2001, das espécies envolvidas em agressões 80,8% foram cães, a

forma de agressão mais comum foi a mordedura (79,2%). No que se refere à vítima a

região do corpo afetada foi principalmente o membro inferior (41,9%), mão (24,1%),

e membro superior (15,7%). O agressor na maioria dos casos era conhecido da

vítima, sendo em 52,7% seu próprio animal de estimação e em 14,9% animais de

vizinhos (BLATT 2002). Já no ano de 1998, segundo RAMOS (2000), 1.254 pessoas

receberam tratamento anti-rábico, sendo a maior proporção dentre os que receberam

o tratamento os indivíduos de 5 a 14 anos do sexo masculino. A forma mais comum

de agressão foi a mordedura (62,9%), infligida principalmente pelo cão (71,4%),

acometendo com mais freqüência os membros inferiores (34,1%). O local mais

comum de ocorrência da agressão foi a própria residência da vítima (59,3%).

Ainda segundo RAMOS (2000) o Distrito Sanitário Leste foi o que registrou a maior

freqüência (38,3%) de tratamento anti-rábico, seguido pelo Distrito Sanitário Oeste

(24,1%).

Em Cuiabá, um inquérito epidemiológico foi conduzido no Bairro Pedra 90 com

3.789 domicílios ocupados por uma população de 14.662 habitantes (CARAMORI

JUNIOR et al, 2003). Seu objetivo era conhecer as características dos animais passíveis

de transmitir a raiva. Os resultados revelaram que 59,9% da população canina tinha

acesso à rua, 93,5% dos animais não eram castrados e 87,0% foram vacinados contra a

raiva.

A agressão animal pode ser um comportamento normal (reação normal a

determinados estímulos) ou problemático, principalmente motivado por

enfermidades que alteram o padrão comportamental (BEAVER 2001).

De acordo com este autor, as agressões nem sempre se dão por animal suspeito

de raiva, podendo se caracterizar como agressão por dominação, direcionada a pessoas

e/ ou a outros animais. Entre 65 a 90% dos cães agressivos dominadores são machos, e

dentre os machos, mais de 90% encontram-se não castrados. Essa agressão pode ocorrer

entre cães jovens com apenas 6 semanas de idade, sendo nesta fase que os filhotes de

uma mesma ninhada estabelecem sua hierarquia, geralmente sobre o alimento. No

entanto essa agressão entre filhotes não está relacionada à maneira como um animal se

relacionará com pessoas, como filhote ou como adulto.

A agressão pode também se caracterizar como induzida pelo medo, a segunda

forma de agressão mais comum em cães, descrita por terapeutas comportamentais,

constituindo-se entre 6 a 23% dos casos agressivos. Outra forma é a agressão ensinada

proposital ou inconscientemente. No primeiro caso, os cães são treinados para exibir

agressão, no segundo, seus proprietários reforçam involuntariamente o comportamento

agressivo. Há também agressão protetora de materiais, onde alguns cães tornam-se

bastante protetores de objetos específicos, como bolas ou brinquedos, couro mastigável

ou “prêmios” roubados (lixo, por exemplo). O cão pode até apresentar o objeto ao

proprietário, mas tornar-se-á agressivo se o proprietário pegá-lo (BEAVER 2001).

Na agressão protetora de alimentos, ela tende a ser mais acentuada no caso de

alimentos mais saborosos. Alguns filhotes são bastante protetores de alimento, sem

exibir nenhum outro tipo de agressão. A agressão maternal ocorre depois do parto

quando as cadelas exibem um comportamento protetor forte em relação a seus filhotes e

podem exibir agressão sem uma exibição de ameaça. Este comportamento se relaciona

ao estado hormonal pós-parto e à presença física de filhotes, não necessariamente os

seus próprios. Nas semanas seguintes, a intensidade da reação agressiva diminui

(BEAVER 2001).

Há ainda a agressão protetora do proprietário. Quando algumas pessoas criam

cães para proteção ou querem inconscientemente que eles sejam protetores, o resultado

disso é, algumas vezes, um cão superprotetor.

Na agressão induzida por dor, um cão que se encontra ferido, pode responder

agressivamente com relação à origem à dor. Este é um problema freqüente quando há

crianças pequenas no ambiente, situação em que as interações cão e criança devem ser

sempre supervisionadas.

Quanto à agressão protetora de território, alguns cães possuem uma tendência

instintiva forte de proteger seu território de intrusos. Esse comportamento ocorre

independente do fato do proprietário se encontrar presente ou não. Em geral, a defesa

territorial é mais forte perto do centro do território e enfraquece gradualmente a medida

que a distância a partir do centro aumenta (BEAVER 2001).

Nos gatos é mais difícil observar algumas destas formas de agressão, sendo a

mais comum a arranhadura ao invés da mordedura, considerando que o temperamento

do gato é diferente do apresentado pelos cães (BEAVER 2001).

Ao contrário do cão, o gato não vivencia junto ao homem uma hierarquia de

dominância. Frente ao ser humano, o gato pode manifestar vários comportamentos que

poderão tornar-se incômodos e acarretar-lhes riscos físicos. São exemplos: a utilização

do ser humano como árvore para poder escalar, o jogo de luta com as mãos, o

comportamento de caça aos tornozelos, a agressividade redirigida. Os gatos que vivem

em apartamentos costumam apresentar comportamento do tipo agressivo (DEHASSE e

BUYSER 1996).

O manejo inadequado de cães e/ou gatos, também gera risco de agressão à

população humana e a outros animais domésticos e favorece a transmissão de doenças.

Considera-se como exemplo de manejo inadequado a semidomiciliação, a manutenção

de número elevado de animais em residências particulares, a falta de higiene onde eles

permanecem e os maus tratos (SCHOENDORFER 2001).

A referida autora acrescenta que possuir um animal de estimação implica

também em assumir responsabilidades quanto a sua saúde, ao seu bem estar, o seu

manejo e ações sanitárias adequadas evitando assim que desta relação resultem danos à

saúde e ao bem estar da população humana.

De acordo com DEL CIAMPO (2000), é sabido que crianças e adolescentes na

faixa etária de 1 a 15 anos estão sujeitos a altos índices de acidentes preveníveis,

inclusive mordeduras de animais, cuja prevenção pode ser melhor efetuada quando se

conhecem os diversos fatores envolvidos na gênese desse tipo de acidente.

É imprescindível avaliar tanto as características comportamentais e sociológicas

do animal envolvido no acidente, como o seu estado de saúde no momento da agressão.

O acidente ocasionado pós-provocação geralmente indica uma reação normal, enquanto

que a agressão espontânea (sem causa aparente), pode indicar alteração do

comportamento, levantando a possibilidade do acometimento pela raiva. Neste caso a

possibilidade de observação do animal por dez dias, mesmo que o animal esteja sadio

no momento do acidente é importante para a confirmação clínica da raiva

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

Nos cães e gatos o período de incubação da raiva pode variar de alguns dias a

anos, mas em geral, é de cerca de 60 dias. No entanto, a eliminação de vírus pela saliva,

ou seja, o período em que o animal transmite o patógeno só ocorre a partir do final do

período de incubação, variando entre dois e cinco dias antes do aparecimento dos sinais

clínicos, persistindo até sua morte que ocorre em até cinco dias após o início dos

sintomas. Por isso o animal deve ser observado por dez dias. Portanto, se em todo esse

período (dez dias) o animal permanecer vivo e saudável não há riscos de transmissão do

vírus. É importante também conhecer a procedência do animal e seus hábitos de vida,

pois animais domiciliados, aqueles que vivem exclusivamente dentro do domicílio, não

têm contato com outros animais desconhecidos e só saem à rua acompanhados de seu

dono, podem ser classificados como de baixo risco em relação à transmissão da raiva

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

No Brasil, assim como na maioria dos países onde a raiva foi considerada um

problema de saúde pública, para seu controle efetivo foi necessária a criação de um

programa de prevenção e controle, determinando-se uma política única com objetivos e

metas bem definidas, voltadas em primeiro lugar para a eliminação da raiva nos seres

humanos e controle da raiva animal (ARAÚJO 2002).

O programa de profilaxia da raiva, criado em 1973 pelo Ministério da Saúde (MS),

prevê como uma das principais medidas de controle da doença, a vacinação em

massa de cães e gatos com o objetivo de se deter o ciclo transmissão do vírus.

Concomitante à vacinação animal implementou-se a descentralização do tratamento

humano, que dos centros de referências passou a ser instituído na maioria das

unidades de saúde (MIRANDA 2003).

O programa de profilaxia da raiva inclui também a apreensão de cães errantes,

tratamento de pessoas envolvidas em agravos com animais, observação clínica de cães e

gatos, tratamento de pessoas expostas ao risco de infecção rábica e vigilância

epidemiológica (BRITO 2002).

A vacinação de cães e gatos enquanto ação para profilaxia da raiva tem sua

efetividade atrelada ao conhecimento sobre a população animal e sua distribuição. É

importante conhecer o número de propriedades com animais, densidade populacional,

estrutura etária, relação de cães com outras espécies de reservatórios, bem como os

fatores culturais que envolvem as atitudes das pessoas modificando a influência do cão

no ambiente e na saúde humana (PARANHOS 2002).

A cobertura vacinal recomendada pela organização mundial de saúde (OMS), é

de pelo menos 80% da população canina, o que ressalta a necessidade do conhecimento

do universo de cães a serem submetidos à vacinação.

O Instituto Pasteur (1999) recomenda utilizar uma proporção entre a população

canina e humana de 1:7 (um cão para sete humanos). Entretanto o cálculo da cobertura

vacinal realizado com base no número de animais vacinados e nessa estimativa de

população resultava, no Município de Guarulhos-SP, em coberturas maiores que 100%

indicando a imprecisão da estimativa do denominador. Essa imprecisão compromete a

avaliação dos resultados da campanha de vacinação e do programa de controle de raiva

animal (DIAS 2001). Um levantamento feito por PARANHOS (2002) mostrou que a

estimativa da população canina pode variar de 1:3 a 1:10, conforme o local e sua

estrutura demográfica. DIAS (2001), acrescenta que essa situação evidencia a

necessidade de se produzir novos indicadores para a população animal, que devem ser

produzidos de modo a considerar a estrutura sócio econômica das regiões, o que

permitiria a sua aplicação em regiões semelhantes de maneira mais segura.

Outra ação profilática é a apreensão de cães errantes que, de acordo com

SALLUM (2005), é indicada com particular ênfase para as áreas de foco de raiva ou de

outras zoonoses. Tem por objetivo a remoção do extrato populacional de animais que

atuem como transmissores dos agentes patogênicos, comportando-se como

mantenedores de enzootias ou de epizootias e que ficam sem qualquer controle da

comunidade na área de procedência do animal de origem do foco, favorecendo a

infecção de pessoas e outros animais.

Outra ação que integra o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva é o tratamento de

pessoas envolvidas em agravos com animais. Este tratamento desde que oportuna e

corretamente aplicado, conforme as orientações do MS (Anexos 1, 2 e 3), é o único

meio disponível para evitar a morte de um indivíduo infectado por meio da

mordedura, arranhadura ou lambedura causadas por animal raivoso. Por outro lado, a

indicação de um tratamento anti-rábico desnecessário, além de submeter o paciente a

riscos de reações pós-vacinais indesejáveis, tanto de ordem local como geral, é um

desperdício de recursos públicos, que compromete a qualidade do sistema de saúde

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 1996).

Somente uma análise sistemática das circunstâncias da mordedura (baseada na

classificação dos tipos de agressão), do risco epidemiológico de raiva numa determinada

região e da anamnese sobre o animal agressor, permite a tomada de decisão correta e

segura para a dispensa ou a prescrição do tratamento para profilaxia pós-exposição

(BLATT 2002).

Apesar do elevado número de acidentes humanos envolvendo animais, as altas

taxas de indicação de tratamento anti-rábico pós-exposição na América Latina e no

Brasil poderiam ser drasticamente reduzidas, desde que se procedessem a identificação

e a observação clínica do cão ou gato agressor (RAMOS 2001).

Ressalta-se, no caso de agressão por animais errantes, a impossibilidade de

identificação e observação do agressor, e nesse caso procede-se o esquema completo de

profilaxia anti-rábica (LOPES 2001).

Para a estruturação de um sistema de vigilância da raiva humana e animal, a

realização de ações conjuntas de vacinação animal, vacinação pré e pós-exposição em

humanos, além de uma política nacional de controle de população animal e de um

processo de educação em saúde na área, são ações determinantes para a redução e

eliminação da doença em nosso meio (ARAÚJO 2002).

É observada grande evolução, nos últimos anos, no aprimoramento das técnicas

de produção e de aplicação das vacinas anti-rábicas de uso humano, no entanto essas

práticas ainda encerram considerável risco de ocorrência de complicações pós-vacinais

(GARCIA 1999).

A vacina atualmente preconizada pelo Ministério da Saúde para uso humano é a

vacina de cultivo celular, sendo esta mais potente e segura que a vacina Fuenzalida &

Palácios modificada (usada no Brasil até 2003).

A vacina Fuenzalida & Palácios modificada pode levar aos seguintes eventos

adversos: manifestações locais como dor, prurido, eritema, enduração no local da

aplicação; manifestações sistêmicas como febre, mal estar geral, cefaléia, insônia,

palpitações, linfadenopatia generalizada, dores musculares e articulares; manifestações

neurológicas e por último, reações de hipersensibilidade tardia e imediata.

Já as vacinas de cultivo celular são produzidas em cultura de células (células

diplóides humanas, células de embrião de galinha etc) com amostras de vírus inativados

pela betapropiolactona. São apresentadas sob forma liofilizada, acompanhada de

diluente. A vacina não tem contra indicação (gravidez, doença intercorrente ou outros

tratamentos). Sempre que possível recomenda-se a interrupção do tratamento com

corticóides e/ou imunossupressores, ao iniciar o esquema de vacinação. As

manifestações adversas relatadas com maior freqüência são: reação local, febre, mal-

estar, náuseas e cefaléia. Ainda não houve relato de óbito associado ao uso da vacina de

cultivo celular. Até junho de 1996, segundo a OMS, tinham sido relatados seis casos de

reações neurológicas associados à vacina. Em cinco casos foram registrados quadros de

fraqueza ou parestesia, sendo que em um dos pacientes ocorreu déficit muscular

permanente do músculo deltóide. O sexto paciente apresentou quadro neurológico

semelhante ao da esclerose múltipla. A incidência de manifestações neurológicas,

considerando-se todos estes casos como realmente provocados pela vacina, é de cerca

de 1 para 500.000 pacientes tratados (0,11%). As reações variam de urticária a

anafilaxia e ocorrem principalmente após as doses de reforço; em 1/10.000 tratamentos

é registrada reação anafilática do tipo I; a maioria das reações (10/10.000) é de

hipersensibilidade do tipo III. A evolução é boa e a maioria dos pacientes não necessita

internação hospitalar (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2000).

De acordo com COSTA (1999) e DEL CIAMPO (2000), a mordedura animal,

principalmente a canina, é um dos principais tipos de acidentes na infância, o que tem

sido objeto de grande preocupação, pois o tratamento, além de expor as crianças aos

possíveis riscos, envolve alto custo financeiro. Além disso, as seqüelas psicológicas que

podem advir em função da exposição da vítima infantil, e mesmo da profilaxia pós-

exposição, podem levar a tratamento e apoio especializado por períodos prolongados, o

que se traduz em custo econômico e social muitas vezes incalculáveis.

Esses autores também afirmam que os custos diretos e indiretos relacionados ao

tratamento médico dos acidentados são elevados, consumindo recursos que poderiam

ser aplicados em programas de promoção à saúde que atenderiam um grande número de

pessoas.

A experiência tem demonstrado que a equipe multidisciplinar, envolvendo equipe de

atendimento ambulatorial e de medicina veterinária, proporciona uma considerável

redução do número de tratamento anti-rábico, mediante a observação clínica e

diagnóstico laboratorial do animal agressor em apoio ao serviço de atenção médica

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 1996).

A raiva apresenta muitas interfaces entre os mundos humano e animal. Portanto

a vigilância epidemiológica da doença guarda estreita relação entre o tratamento de

pessoas expostas e as atividades de controle da raiva animal. A ênfase unilateral (ou na

área humana ou animal) faz com que não se perceba os determinantes da doença e,

conseqüentemente, se perca a qualidade das intervenções. Sem dúvida um caso de raiva

humana representa a falência de um sistema de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE

2002), podendo ser considerado como um “evento sentinela”.

É imprescindível conhecer a realidade acerca da raiva para que se possa

fundamentar o planejamento e as ações correlatas a esse agravo. É justamente este o

propósito da vigilância epidemiológica, fornecer orientação técnica para os que têm a

responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos.

Sua operacionalização, em linhas gerais, compreende a coleta de dados, o

processamento, a análise do dado e a disseminação da informação. Sobressaem-se, no

caso da exposição à raiva, a notificação compulsória e a investigação epidemiológica

como principais fontes de dados (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2004).

A doença instalada (raiva humana) é uma doença de notificação compulsória, desde a

criação do Sistema de Vigilância Epidemiológica (SVE), em 1975. Já a exposição à

raiva e o tratamento profilático anti-rábico humano são agravos de interesse nacional,

e também de notificação, em conformidade com a Portaria n° 2325/GM (BRASIL

2004). Esta portaria regulamenta a lista de doenças de notificação compulsória em

todo território nacional e estabelece o Sistema de Notificação de Agravos de

Notificação – SINAN, como sistema responsável pela normalização dos

instrumentos utilizados para a notificação compulsória, de seu fluxo e periodicidade.

O SINAN tem cobertura universal e responde a uma imposição legal, qual seja a

da obrigatoriedade de notificação de doenças e agravos, definidos a cada dois anos por

portaria do Ministério da Saúde (Lei nº 6.259/75 e Decreto n° 78.321/76).

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) foi desenvolvido no

início da década de 90, tendo como objetivo a coleta e processamento dos dados

sobre agravos de notificação em todo o território nacional, fornecendo informações

para a análise do perfil da morbidade e contribuindo, dessa forma, para a tomada de

decisões nos níveis municipal, estadual e federal. Para isso o aplicativo SINAN-DOS

foi implantado em 1993, sendo concebido originalmente, para armazenar, a partir de

instrumentos e códigos de acesso padronizados em nível nacional, as informações

das doenças de notificação compulsória, coletadas pelas respectivas fichas de

notificação e investigação. No entanto foi somente em 1998, que o uso do SINAN foi

regulamentado por meio de portaria ministerial, tornando obrigatória a alimentação

da base de dados nacional pelos municípios, estados e Distrito Federal, designando a

Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), por meio do extinto Centro Nacional de

Vigilância Epidemiológica (CENEPI) – atualmente incorporado pela Secretaria de

Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde – como a gestora nacional do sistema.

Em setembro do mesmo ano iniciou-se o projeto SINAN Windows e, através de

discussões da temática na “Oficina de Trabalho de Reformulação do SINAN”, deu-se

a padronização de conceitos, definição de fluxos e concepção de formulários para

coleta de informações como resposta aos problemas oriundos da utilização da versão

SINAN-DOS. Entre eles, salientam-se: a ausência de clareza quanto ao objetivo

primário do sistema e conseqüente mau desempenho global; concomitância de fluxos

de informações de diferentes naturezas; gestão múltipla do sistema; ausência de

padronização de tabelas e a não utilização tanto das fichas de notificação pré-

numerada quanto das rotinas de consistência e validação de dados (LAGUARDIA

2004).

O SINAN, se bem alimentado, permite aos gestores do SUS uma abordagem

mais ampla dos diferentes agravos do que com qualquer outro sistema já desenvolvido

para a notificação e registro de casos. Torna-se possível uma melhor definição de grupo

de risco, na medida em que é possível avaliar as taxas ou coeficientes de incidência,

prevalência e letalidade a partir de variáveis como faixa etária, sexo e raça/cor. Além

disso, facilita a análise do perfil mórbido da população (CARVALHO 1997).

No entanto, alguns problemas foram identificados no SINAN, já no sistema

SINAN-Windows, estando na maioria das vezes, diretamente relacionados aos que vêm

sendo enfrentados pelo próprio sistema de vigilância epidemiológica. Um dos principais

é a ausência de clareza quanto ao seu objetivo primário, o que leva a um mau

desempenho global. Uma crítica verbalizada por técnicos de outras áreas do setor, diz

respeito à restrição da sua abrangência, voltando-se predominantemente às doenças

transmissíveis. A segmentação da área de vigilância, associada a uma concepção de

programa, torna impossível uma gestão única para o sistema, quer de informação quer

de vigilância; cada programa é gestor do “seu” SINAN, transformando-o em um

“ajuntamento” de vários sistemas cujas finalidades são distintas. Outro ponto de

estrangulamento detectado é o que se refere ao software propriamente dito; ele é pouco

flexível, não permitindo a inclusão de variáveis pelos demais níveis ou elaboração de

relatórios personalizados, por exemplo (CARVALHO 1997).

No Município de Maringá – PR, alguns aspectos do atendimento prestado pelos

serviços de saúde a pessoas agredidas por animais potencialmente transmissores da

raiva foram descritos e avaliados utilizando-se o SINAN, e identificaram-se problemas

na qualidade de registro e no sistema de contra-referência de vacinação (CARVALHO

2002).

No Município do Rio de Janeiro – RJ, das fichas de atendimento profilático anti-

rábico humano analisadas, referentes ao período de 1997 a 2002, que alimentam o

SINAN, a proporção dos campos não preenchidos foi muito elevada. Algumas variáveis

apresentavam percentuais de não preenchimento acima de 60%, tais como: ocorrência

de agressão, agressão provocada, raivoso, tratamento indicado, interrupção de

tratamento e motivo, e por último o abandono de tratamento (ROMARIZ 2004).

Em Osasco-SP, a freqüência de campos não preenchidos nas fichas de

investigação anti-rábica é muito elevada, dentre os aspectos com maior percentual de

falhas no preenchimento (superior a 60%), foram identificados: tipos de observação

adotada, o resultado da observação animal, o número de reforços vacinais aplicados, a

evolução da vacinação, os acidentes pós-vacinais e o local da vacinação (GARCIA

1999).

Tem-se a experiência relatada pela Vigilância Epidemiológica (VE) da Diretoria

de Ação Descentralizada de Saúde de Uberaba (DADS-MG). Em 2002 foi dado início à

revisão das fichas de atendimento profilático anti-rábico humano, que alimentam o

SINAN, dos municípios de sua área de abrangência com base nas normas preconizadas

pelo Ministério da Saúde. Das 3.153 fichas revisadas, em 800 o tratamento humano

estava inadequado e a taxa de abandono de tratamento encontrada foi de 8,72 %. Foram

então realizadas visitas em locais cujas fichas apresentavam problemas, com objetivo de

esclarecer a importância da referência técnica de tratamento anti-rábico e vigilância

epidemiológica no município enfatizando também a busca ativa de casos de abandono

de tratamento. E logo no ano seguinte, de janeiro a novembro de 2003, das 3.302 fichas

avaliadas, em 302 os tratamentos foram prescritos indevidamente, e os casos de

abandono de tratamento ficaram em 1,27% (CYRINO 2004).

Segundo SCHABBACH (2004), o SINAN, não contempla em sua ficha de

individual de investigação de atendimento anti-rábico, a possibilidade de informar a

situação de domiciliamento do animal, tampouco a circunstância da agressão, no que se

refere ao espaço geográfico onde esta ocorreu. Deste modo, estas importantes

informações são obtidas na anamnese do paciente ou durante o período de observação

do animal, quando o esquema de profilaxia anti-rábica já foi prescrito, mas não são

armazenadas nos sistemas de informações para análises futuras. Esta determinação da

influência da existência de cães deambulando livremente nas ruas, na ocorrência de

agressões e na utilização de soro e vacina anti-rábica, pode reforçar a necessidade de

implementar políticas de controle desta população.

A informação referente à condição do animal, informada no SINAN,

isoladamente, não permite a clara definição de hábito de vida do agressor (domiciliado,

semidomiciliado ou errante). As opções disponíveis: sadio, suspeito e raivoso

eventualmente conflitam com as demais: desaparecido, observável, sacrificado e

ignorado, pois um animal enquadrado nas três primeiras hipóteses pode ser observado

em determinados casos.

A inclusão das informações referentes à situação de domicílio do animal

agressor e o reestudo da informação relativa à condição do animal poderiam constituir

importantes avanços, com reflexos na formulação de estratégias de prevenção e controle

de ocorrência de novos agravos.

Face ao exposto, pode-se dizer que há elementos suficientes para caracterizar a

raiva como um problema de saúde pública, salientando-se:

1. A magnitude das agressões e acidentes envolvendo animais e com algum

potencial de risco para a doença;

2. O impacto social, econômico e psicológico que tanto os acidentes/agressões

envolvendo animais, como os raros (mas fatais) casos de raiva humana representam

para a população e para o SUS;

3. A vulnerabilidade do agravo às medidas preventivas relativamente simples e

de custo não elevado, tanto relacionadas aos animais transmissores como às vítimas

humanas de agressões.

Ressalta-se a necessidade da qualidade das informações que fundamentam as

decisões para intervenções relacionadas à raiva humana e seus fatores de exposição,

pois o Sistema de Informação depende da periodicidade do fluxo de fornecimento de

dados e do criterioso preenchimento dos instrumentos de coleta.

Nada pode ser feito em vigilância epidemiológica sem a obtenção da

informação, daí a clássica expressão “informação para ação”.

Tais considerações fundamentam o interesse em investigar melhor esse

problema de saúde pública no Município de Cuiabá, na expectativa de oferecer

subsídios aos gestores para uma atuação mais efetiva sobre ele.

2. Objetivos

2.1.Objetivo geral

1. Analisar o perfil epidemiológico de vítimas humanas e de animais domésticos

envolvidos em agressões passíveis de transmissão da raiva, bem como as

medidas preventivas relacionadas à doença.

2.2.Objetivos específicos

1. Identificar as vítimas segundo sexo, idade, raça/cor, escolaridade, bairro de

residência, grau de relação com o animal agressor.

2. Caracterizar as exposições quanto ao tipo de lesão e região do corpo atingida.

3. Caracterizar o animal agressor segundo a espécie, condição clínica no momento

da agressão, situação de ocorrência da agressão e conduta profilática anti-rábica

adotada.

4. Identificar as condutas profiláticas anti-rábica direcionadas aos animais.

5. Analisar as indicações do tratamento anti-rábico às vítimas de agressão,

considerando o esquema de orientação para tratamento anti-rábico humano

proposto pelo Ministério da Saúde.

6. Analisar comparativamente os dados do SINAN com os dados do Sistema de

Vigilância da Raiva (VE – 7).

3. Material e Método

3.1 Tipo de estudo

Estudo observacional descritivo, com base em dados secundários de Sistemas de

Informação e dados de instituições que atuam na atenção à raiva humana e animal no

Município de Cuiabá-MT, no período de 1998 a 2003.

3.2 Caracterização da área de estudo

O estudo se restringiu ao Município de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso,

o qual possui uma extensão territorial de 3.971 Km2, ou seja, 0,35% da área total do

estado e está situado na porção centro sul (MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA

1982).

De acordo com IBGE (2001) a população do município no último recenseamento

era de 483.346 habitantes e sua estimativa para 2003 foi de 508.157 habitantes, dos

quais 97,0% residindo na região urbana.

3.3 População de estudo

O universo da pesquisa corresponde à parcela da população residente no

Município de Cuiabá, que procurou atendimento em decorrência de agressões por

animais, e que tenha sido inserida em um dos sistemas de informação que registram

esses agravos. Por se tratar de uma zoonose, também são abarcados no universo de

estudo, os animais relacionados àquelas agressões.

3.4 Fontes de Informação

O estudo foi desenvolvido em duas etapas que consistiram, respectivamente

na busca de:

• dados de cunho quantitativo, presentes no Sistema de Informação de Agravos

de Notificação (SINAN), sobre as agressões por animais, ações e procedimentos

profiláticos humanos pós-exposição, no ano de 2003;

Foram analisadas variáveis presentes nos instrumentos que alimentam o SINAN

- a Ficha Individual de Notificação-FIN, Ficha Individual de Investigação-FII, (Anexo 4

e 5);

No que se refere ao SINAN, a entrada de dados é feita mediante a utilização de

formulários padronizados: a Ficha Individual de Notificação (FIN) e a e a Ficha

Individual de Investigação (FII). A FIN é preenchida para cada paciente quando da

suspeita clínica da ocorrência de agravos notificáveis e é composta por dois blocos

básicos que abrigam 26 variáveis. No primeiro bloco constam, caracterizados como

dados gerais: o número da notificação definido pelo estado ou município, data e semana

epidemiológica da notificação, nome e código do município e da unidade notificadora.

Já no segundo bloco são registrados os dados do caso, que além da identificação

completa do paciente, contém ainda as variáveis responsáveis pela caracterização

genérica do agravo. A Ficha Individual de Investigação configura-se na maioria das

vezes como um roteiro de investigação para o agravo, e além dos dois blocos já

identificados e que nela se repetem, contém outros blocos que podem ser agrupados em

três categorias: a de dados complementares do caso, a de métodos de confirmação de

diagnóstico e evolução do caso e a de seguimento do paciente. Esse instrumento é

utilizado preferencialmente pelos serviços municipais de vigilância ou unidades de

saúde capacitados para realização da investigação epidemiológica, permitindo assim

obter dados que possibilitem a identificação da fonte de infecção e mecanismo de

transmissão da doença (CARVALHO 1997).

• dados oriundos do Sistema de Vigilância da Raiva, coletados através de

ficha específica (VE-7), no período de 1998 a 2003 (anexo 6). A ficha VE-7 é utilizada

pelas Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, contemplando informações sobre da

profilaxia da raiva humana, diagnóstico laboratorial e clínico para raiva e profilaxia da

raiva animal, alimentado respectivamente pela Secretaria Estadual de Saúde

(Coordenadoria de Vigilância Ambiental – Gerência de Controle de Zoonoses), pela

Secretaria de Agricultura (Laboratório de Apoio à Saúde Animal – LASA/INDEA–

MT), pela Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, através do Centro de Controle de

Zoonoses (CCZ);

• dados adicionais e complementares a respeito dos acidentes envolvendo

vítimas humanas e animais domésticos, além das atividades de profilaxia da raiva

animal, no mesmo período, obtidos nas fichas de registro e avaliação de animais

agressores, nos prontuários de animais agressores em período de observação e avaliação

e relatórios de atividades realizadas no Centro de Controle de Zoonoses da Fundação de

Saúde de Cuiabá (CCZ) (anexos 7 e 8), órgão que tem como uma de suas atribuições e

responsabilidades executar atividades de profilaxia da raiva.

Desses instrumentos foram levantados dados secundários de interesse para a

pesquisa.

3.5 Variáveis estudadas: Identificação, coleta e processamento

Com base nos dados do SINAN, analisou-se o período posterior à implantação

do SINAN-WINDOWS (1998) e à definição das agressões por animais como agravo de

notificação compulsória no estado (2001). Como os dados de 2001 e 2002 eram

inconsistentes, optou-se por analisar apenas o ano de 2003 com base neste sistema.

Do SINAN as variáveis analisadas referem-se:

a) às vítimas de agressão: sexo, idade, raça/cor, escolaridade, residência, profissão.

b) ao tipo de lesão: tipo de exposição (mordedura, arranhadura, lambedura),

multiplicidade da lesão, região do corpo atingida, profundidade da lesão.

c) aos animais agressores: espécie: condição clínica no momento da agressão e situação

vacinal.

d) às ações e procedimentos da profilaxia anti-rábica: conduta adotada, doses prescritas

e administradas de vacinas e soro anti-rábico, reações adversas e abandono de

tratamento.

Os dados do SINAN foram coletados do banco de dados da Secretaria Municipal

de Saúde de Cuiabá e processados pelo programa TabWin, software desenvolvido pelo

Datasus, para tabulação e cálculo estatístico e apresentação gráfica dos dados gerados

pelos grandes sistemas nacionais de informação em saúde.

Com base na ficha VE -7 foi feita a caracterização da raiva no período de 1998 a

2003. Este período foi definido em função de disponibilidade de dados e por oferecer

um programa razoável da tendência temporal do agravo em estudo.

Do VE – 7 as variáveis analisadas foram: número de atendimento, número de

tratamento, amostras enviadas ao Laboratório de Sanidade Animal, espécies com

diagnóstico positivo para raiva, tipo de tratamento anti-rábico humano, abandono de

tratamento, doses de imunobiológicos aplicada, reações adversas e animais observados.

Os dados da ficha VE – 7 foram disponibilizados pela Secretaria Estadual de

Saúde especificamente pelo Setor de Vigilância Ambiental – Gerência de Controle de

Zoonoses, sendo processados manualmente.

Do CCZ as variáveis analisadas foram: animais observados, cães e gatos

vacinados em rotina, foco, campanha e área de risco, cobertura vacinal, estimativa da

população canina, animais capturados e animais eliminados.

Os dados do Centro de Controle de Zoonoses foram coletados de registros do

seu próprio Setor de Profilaxia da Raiva e também processados manualmente.

Para cálculo dos coeficientes de incidência foram utilizadas as populações

disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatística, baseada no censo de

2000.

Os resultados foram redigidos no aplicativo Word versão 2000. Para a produção

de tabelas e gráficos foram utilizadas planilhas eletrônicas do programa Excel versão

2000.

3.6 Processo de análise e tratamento estatístico dos dados

Inicialmente foi analisado o conjunto de dados levantados do SINAN, buscando caracterizar as vítimas humanas e os animais agressores e descrevendo a epidemiologia da exposição no município. Das vítimas humanas foram analisadas as variáveis relacionadas a tempo, espaço, características pessoais, características da lesão e profilaxia adotada. Dos animais agressores, foram analisadas as variáveis que caracterizam esses animais, bem como as condutas adotadas em relação a eles. Os dados do Sistema de Vigilância da Raiva (VE-7) e do Centro de Controle de Zoonoses complementaram os do SINAN, quando (e se) não tinham sido captados por este Sistema, o que também permitiu analisar a Cobertura do SINAN.

Nessa etapa, foram utilizadas medidas de freqüência, medidas de tendência

central que se fizeram necessárias para análise dos dados.

Foi possível a comparação e confrontação dos dados de mesma fonte e de

distintas fontes pesquisadas, no sentido de avaliar o Sistema de Informação responsável

pela coleta, processamento, análise e disseminação da informação sobre raiva humana.

3.7 Considerações Éticas

O projeto de pesquisa foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital Universitário Júlio Müller, de acordo com a resolução 196/96 do Ministério da

Saúde, obtendo aprovação por atender os requisitos para pesquisas envolvendo seres

humanos (Protocolo nº 185/CEP – HUJM/04).

4. Resultados e Discussão

O maior conhecimento acerca das agressões, das espécies agressoras e do perfil

da vítima, além de lançar luz sobre a epidemiologia da raiva humana, deve orientar,

com mais segurança, as medidas profiláticas a serem seguidas.

Em princípio, os instrumentos de coleta e consolidação de dados do Sistema de

Vigilância da Raiva (a ficha VE-7), do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e do

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (as Fichas Individuais de Notificação

e de Investigação) deveriam prover informações para essa finalidade, razão de terem

sido as fontes de dados para este estudo.

Os instrumentos de sistemas ou serviços, como as fichas VE-7 e do CCZ, por terem

lógica, fluxo, interesses, fontes, variáveis, processamento e crítica distintos daqueles do

SINAN, não têm a mesma abrangência e nem permitem o mesmo conhecimento que

aquele permitido pelo SINAN (pelo menos no plano teórico). Esse motivo

fundamentou a decisão de dividir o capítulo dos resultados com suas respectivas

discussões em tópicos, de acordo com os instrumentos analisados:

1. Análise das informações da ficha VE-7, que contemplam também as

informações do CCZ, uma vez que o VE-7 se utiliza destas informações.

2. Análise das informações providas pelo SINAN.

3. Análise conjunta dos Sistemas de Informação.

4.1. Análise das informações da Ficha VE-7

Inicialmente são explorados os dados deste instrumento uma vez que ele reflete

melhor a magnitude do problema, expressa através da freqüência de atendimento anti-

rábico humano.

4.1.1. Atendimento e tratamento anti-rábico humano

Analisando-se o período de 1998 a 2003, observa-se que tanto a freqüência de

atendimento como de tratamento anti-rábico apresentaram comportamentos

semelhantes ao longo da série histórica, mantendo-se o percentual de

tratamento entre 67,0 a 85,0% dos atendimentos realizados (Tabela 1).

Tabela 1. Freqüência de atendimento e tratamento anti-rábico humano, Cuiabá-MT,

1998 – 2003.

Ano

Atendimento Tratamento

%** N Taxa* N Taxa*

1998 2.693 60,2 2.282 51,0 84,7

1999 5.010 110,4 3.608 79,5 72,0

2000 7.071 146,3 4.711 97,4 66,6

2001 7.557 153,3 5.127 104,0 67,8

2002 4.269 85,3 3.615 72,2 84,7

2003 4.244 83,5 3.614 71,1 85,2 Fonte: VE – 7 * (por 10.000 hab.) ** Percentual de tratamento em relação ao atendimento

Deu-se uma elevação no número absoluto e taxa (por 10.000 hab.) de

atendimentos e tratamentos, de 1998 a 2001, ano em que o agravo atingiu seu

pico (taxas de 153,3 atendimentos e 104,0 tratamentos por 10.000 habitantes),

seguindo-se um decréscimo em 2002 e 2003. Acredita-se que a elevação

observada em 2000 e 2001 tenha sido influenciada pela ocorrência de um caso

confirmado de raiva humana em 2000, sabendo-se que o surgimento de um caso

estimula, no setor público, maior vigilância em relação às agressões envolvendo

animais, e na população, um alerta que a mobiliza para a busca de atendimento

a qualquer tipo de contato suspeito. Como o caso confirmado ocorreu em

setembro de 2000, sua influência se estendeu até o ano seguinte. Outro dado que

sustenta essa hipótese é a comprovação de que naqueles dois anos o percentual

de tratamento em relação aos atendimentos caiu consideravelmente,

informando que grande parte da demanda aos serviços de saúde redundou em

orientação, sem necessidade de tratamento.

O principal animal agressor foi o cão, em todos os anos analisados concentrando

quase 90,0% de todas as agressões informadas (Tabela 2).

Os gatos aparecem em seguida, como segundo principal animal agressor,

ressaltando-se o crescimento de sua participação percentual na gênese dos acidentes e

agressões. Foi pequena a participação dos demais animais, como quirópteros, bovino,

macaco, rato, eqüino, suíno, cutia, queixada, quati, tamanduá, que representaram, em

média, 1,0% das agressões informadas. A comparação das Tabelas 1 e 2 informa maior

número de atendimentos que de agressões, pois foram notificados 4.244 indivíduos

agredidos e 3.334 animais, suscitando dúvidas acerca da qualidade de preenchimento

desses dados.

Embora o cão se mantenha como principal agressor, o número de cães

agressores de acordo com a série histórica apresenta uma leve oscilação. De 1999 a

2000 a freqüência de agressões por cães aumenta gradativamente até começar a

diminuir a partir de 2001. Em 2003 percebe-se um aumento de aproximadamente 20,0%

em relação ao ano anterior.

Outros estudos como o de GARCIA (1996), RAMOS (2001), BLATT (2002) e

CARVALHO (2002) também constataram que o cão é o principal animal agressor.

Destas pesquisas duas foram realizadas no Município de Cuiabá.

Além de ser o principal agressor, o cão também é o principal transmissor da

raiva na área urbana (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

Tabela 2. Distribuição das agressões segundo animais agressores, Cuiabá-MT, 1998-

2003.

Animais Agressores

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Canina 2.508 3.182 4.053 3.201 2.189 2.859

Felina 160 310 470 873 579 447

Outros* 25 41 32 100 30 28

Total 2.693 3.533 4.555 4.174 2.480 3.334

Fonte: VE – 7 *Outros agressores: quirópteros, bovino, macaco, rato, equino, suíno, cutia, queixada, quati, tamanduá.

Já no que se refere aos gatos agressores a situação difere daquela apresentada

pelos cães agressores. Há um aumento nas agressões por gatos de 1999 a 2001 e em

seguida ocorre uma queda em 2002 que se mantêm em 2003.

Na ficha VE-7, não há especificação da procedência do animal, nem da situação

de domicílio: animal domiciliado, semidomiciliado, comunitário ou errante. Segundo

SCHABBACH (2004) seria importante especificar os casos de agressão por cães

errantes e por gatos de rua, pois neste caso é necessário instituir esquema completo de

tratamento anti-rábico profilático, mediante a impossibilidade de observação dos

animais agressores, o que indicaria a necessidade de uma política específica para o

controle dessa população de animais.

Em relação à profilaxia humana nos anos de 2000 e 2001 deu-se a maior

utilização tanto de vacinas como da combinação vacina e soro. Muito provavelmente

condutas adotadas nestes dois anos foram influenciadas pelo caso de raiva humana

ocorrido em 2000 (Tabela 3).

Tabela 3. Freqüência do tratamento anti-rábico humano segundo tipo e dose de

imunobiológicos utilizados, abandono do tratamento, reações adversas e

acidentes vacinais, Cuiabá-MT, 1998 – 2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Tratamento com vacina* 1.772 3.387 4.628 4.012 3.093 3.268

Tratamento soro e vacina 487 380 975 938 502 338

Nº abandono tratamento 346 436 179 373 194 103

Nº de doses aplicadas 14.577 13.875 16.994 16.330 11.482 8.512

Nº de reações adversas 06 - 01 03 - 1

Nº acidentes com vacina** --- --- - - - -

Fonte: VE – 7 * Esta série histórica contempla o momento da transição da vacina utilizada no tratamento profilático. A vacina do tipo Fuenzalida e Palácios modificada foi substituída pela de cultivo celular em 2003.

** Variável inserida em 2000

O tratamento profilático é indicado face a situações de pré-exposição, pós-

exposição ou reexposição, e essas condições não são esclarecidas na ficha VE – 7, o que

também dificulta sua análise.

Chama a atenção o elevado percentual de indicação de tratamento profilático

(média de 78,9% dos atendimentos nos seis anos analisados) ressaltando-se,

positivamente, a menor relação entre tratamento combinado e tratamento apenas com

vacina, nos dois últimos anos, o que pode estar sugerindo uma indicação mais criteriosa

da utilização de soro anti-rábico.

O tratamento com soro e vacina é utilizado, segundo o MINISTÉRIO DA

SAÚDE (2002), no caso de acidentes considerados graves com animal sem

suspeita de raiva em que o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso; em

acidentes graves em que há cão ou gato clinicamente suspeito de raiva no

momento da agressão; em acidentes envolvendo animais raivosos desaparecidos

ou mortos. No VE – 7 não é possível identificar o motivo do uso do soro. Essa

informação poderia auxiliar na identificação das agressões por animais errantes

o que subsidiaria a formulação de políticas de controle da população animal,

visando o controle e a erradicação da raiva.

Em 1998 houve a maior taxa de abandono de tratamento desta série histórica,

15,3% dos 2.259 tratamentos. Este percentual diminui gradativamente até 2000,

quando atinge 3,8%. Embora o abandono de tratamento tenha se elevado

discretamente em 2001 e 2002 (7,5% e 5,4% respectivamente), em 2003 ele

atinge seu menor patamar, em todo o período, 2,9% dos 3.606 tratamentos.

Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2002) é de responsabilidade do serviço

que atende o paciente realizar busca ativa imediata daqueles que não

comparecem nas datas agendadas, para a aplicação de cada dose da vacina.

Além da ficha VE – 7 não contemplar essa atividade, não se obteve informações

sobre a busca ativa dos casos de abandono do tratamento, somente informações

sobre a freqüência deste último.

Vale a pena ressaltar a redução no número médio de doses de vacina anti-rábica

administradas no período analisado. Se em 1998 eram aplicadas 6,45 doses por

indivíduo tratado, esse número vai se reduzindo até atingir 3,2 doses por

tratamento em 2002 e 2,3 doses por tratamento em 2003. Isso indica maior

racionalidade no tratamento e certamente está influenciado pela introdução da

vacina de Cultivo Celular, em 2003, pois o esquema vacinal difere de acordo

com o tipo de vacina utilizada.

A eficácia e segurança dos imunobiológicos são preocupações que acompanham

o tratamento anti-rábico desde a sua introdução por Pasteur, em 1885. Apesar

da ficha VE - 7 contemplar variáveis relacionadas à eficácia e segurança dos

imunobiológicos, como reação adversa e acidente vacinal, este último só passou

a ser incluído nesse instrumento a partir do ano 2000, e ainda assim não houve

nenhuma notificação ao longo destes 4 anos, não se descartando a hipótese de

subnotificação. Já quanto às reações adversas, com exceção do ano de 1998,

quando foram notificados 6 casos, a notificação mantém-se muito baixa

reforçando a hipótese de subnotificação.

COSTA (1999) afirma que, em relação às taxas de reações adversas, não há

informações recentes e seguras disponíveis, devido à falta de um bom sistema de

vigilância epidemiológica no país, portanto não é possível concluir qual é a taxa

real de reações adversas.

Como visto na Tabela 1, 85,2% dos indivíduos atendidos devido a agressões por

animais, em 2003, iniciaram tratamento profilático pós-exposição. No tocante às

agressões animais, a norma técnica preconizada pelo Ministério da Saúde

estabelece a necessidade de observação do animal agressor permitindo ao

profissional optar por não prescrever a profilaxia anti-rábica ou interrompê-la.

Dos 4.244 atendimentos, 3.614 resultaram em tratamento (Tabela 1) e dos 3306

animais cujas espécies eram passíveis de observação, apenas 104 (3,1%) animais

foram observados (Tabela 4). Apesar da importância da observação do cão e

gato agressores, a sua freqüência na ficha VE – 7, de 1999 a 2002, é inexistente

ou não foi registrada.

Os dados do Centro de Controle de Zoonoses, no entanto, indicam que houve

observação de animais agressores (Tabela 4), o que implica em dizer que esta

informação, de extrema importância para a decisão da prescrição ou não do

tratamento profilático, não está sendo registrada no VE - 7 e que, além disso,

não está havendo comunicação entre os diferentes setores que trabalham com a

profilaxia da raiva, ou seja, observa-se a ênfase unilateral (na área humana),

desprezando as interfaces entre os diferentes setores da Vigilância Sanitária da

Raiva, e com possibilidade de comprometimento da qualidade das intervenções.

Tabela 4. Distribuição dos cães e gatos observados para decisão de tratamento

segundo VE – 7 e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Cuiabá-MT, 1998 –

2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Animais

observados

segundo VE – 7

129 - - - - 104

Animais

observados

segundo CCZ

656 564 307 459 164 127

Fonte: VE – 7 e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ)

Evidencia-se assim a não captação pelo VE – 7 de parcela expressiva dos

animais mantidos em observação mesmo quando da existência de caso de raiva

humana (2000).

Levando-se em consideração o número de agressões animais aos humanos,

considera-se pequeno o total de observações. A subenumeração dessa informação

implica, mais uma vez, na possibilidade de tratamento anti-rábico profilático

desnecessário.

Segundo RAMOS (2001), as altas taxas de indicação de tratamento anti-rábico

pós-exposição no Brasil e na América Latina poderiam ser drasticamente reduzidas,

desde que se procedessem a identificação e a observação clínica do cão ou gato

agressor.

4.1. Diagnóstico laboratorial

O diagnóstico laboratorial é um ponto fundamental de suporte e apoio à

vigilância epidemiológica da raiva. O exame laboratorial do encéfalo do animal deve ser

realizado sempre que possível, pois o resultado negativo possibilita a dispensa do

tratamento do paciente ou sua interrupção, caso tenha sido iniciado. No entanto

evidencia-se, no período estudado, uma queda gradativa na quantidade de amostras

enviadas para análise laboratorial (Tabela 5).

A prova diagnóstica recomendada pelo Ministério da Saúde é a de

imunofluorescência direta (é rápida, muito sensível e específica). Quando o diagnóstico

laboratorial do animal agressor for negativo pela técnica de imunofluorescência, o

tratamento a critério médico, pode ser suspenso aguardando-se o resultado da prova

biológica de inoculação em camundongos lactentes.

Em relação a tecnologias para diagnóstico de raiva animal, constatou-se uma

queda contínua e gradativa no número absoluto e relativo de amostras enviadas para

análise laboratorial no Laboratório de Referência para Raiva de Mato Grosso (Tabela

5). Comparando-se os dados de 2003 àqueles de 1998, decresceu em 83,3% o número

de amostras analisadas e como houve importante variação no número de animais

agressores, a redução no percentual de exames realizados foi ainda mais acentuada

(86,5%). Essa evolução constatada em Cuiabá não é condizente com o que ocorre no

país, onde o número de amostras remetidas aos laboratórios de referência tem

apresentado curva crescente de 1997 a 2001 (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002).

Na tabela 5 foram consideradas apenas as amostras enviadas pelo CCZ, pois o

laboratório recebe amostras para exame de raiva também de outras procedências como é

o caso dos médicos veterinários autônomos e médicos veterinários do Instituto de

Defesa Agropecuária (INDEA) e nesses casos nem sempre a amostra é de um animal

agressor. Grande parte das amostras analisadas é de bovinos. Esses animais quando

infectados apresentam especialmente como sintomatologia a forma paralítica da doença

o que justifica a rara observação de agressão por parte dos bovinos infectados aos

humanos e conseqüentemente a maior dificuldade na transmissão da raiva

(RADOSTITS 2002).

Tabela 5. Distribuição do número e percentual das amostras de tecidos do sistema

nervoso enviadas ao Laboratório de Apoio a Sanidade Animal, Cuiabá, 1998-2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Amostras analisadas 919 600 727 341 170 153

Animais agressores 2.693 3.533 4.555 4.174 2.480 3.334

Percentual de exames

realizados

34,1 16,9 15,9 8,7 6,8 4,6

Fonte: CCZ e VE – 7

A redução no número de amostras encaminhadas ao laboratório de referência do

estado limita a probabilidade de confirmação (ou exclusão) de raiva animal, interferindo

na continuidade ou modificação de medidas profiláticas, tanto relativas às eventuais

vítimas humanas como à população animal da área. Salienta-se a eficácia das provas

clássicas realizadas para diagnóstico da raiva post-mortem, todas realizadas pelo

Laboratório de Sanidade Animal (LASA) de Cuiabá: segundo CARRIERI (1998), em

relação à sensibilidade, a prova de Imunofluorescência Direta apresenta 95,6%, a

inoculação em camundongo para o isolamento do vírus apresenta 99,5% e a prova

histológica utilizando coloração de Sellers apresenta 75,6%.

No que se refere ao pequeno envio de material biológico para comprovação

diagnóstica, THOMÉ (1999) afirma que a redução do envio de amostras de material

suspeito para o diagnóstico laboratorial da raiva faz com que municípios sejam

considerados como áreas silenciosas e não como livres de raiva animal ou que a tenham

sob controle.

A redução no número de amostras encaminhadas ao LASA acompanhou a

redução na freqüência de resultados positivos para raiva animal. De 1998 para 2003 essa

redução foi de 95,4% para o conjunto dos animais, de 95,6% para a espécie canina e de

100,0% para a espécie felina (Tabela 6).

Tabela 6. Distribuição das espécies positivas para raiva, Cuiabá-MT, 1998 a 2003. 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Humana - - 1 - - -

Canina 385 375 194 117 35 17

Felina 12 13 3 - 1 -

Outras* 12 21 4 1 1 2

Total 409 409 202 118 37 19

Fonte: VE – 7 *Outras espécies: quirópteros, bovino, macaco, rato, eqüino, cervídeo, caprino, asinina, ovino, suíno.

A redução no número absoluto de exames positivos foi também acompanhada de

uma importante redução no percentual de positividade em relação às amostras

encaminhadas. Em 1998 quase 40,0% dos exames encaminhados eram positivos

enquanto em 2003 esse percentual não atingiu 11,0%. A elevação ou manutenção do

número de agressões notificadas (Tabelas 1 e 2) e a redução absoluta e relativa tanto no

envio de amostras para o laboratório (Tabela 5), quanto na positividade dos exames para

raiva sugerem a maior preocupação com as medidas preventivas, ainda que haja

evidências da redução na circulação do vírus rábico entre os animais.

O exame laboratorial além de ser necessário para a indicação do tratamento do

paciente, possibilita o mapeamento do risco da doença na região de procedência

do animal.

4.1.2. Profilaxia animal

As intervenções relacionadas ao animal, no que se refere à profilaxia da raiva,

são de responsabilidade do Centro de Controle de Zoonoses e entre elas se incluem não

apenas a observação, mas também as vacinações executadas em diversas situações,

como: em rotina, no caso dos animais serem levados ao CCZ pelo proprietário ou

responsável; em campanhas de vacinação realizadas em posto fixo ou casa a casa; em

foco, quando se faz bloqueio vacinal devido a suspeita de cão raivoso no local; e por

último em área de risco, que seria o retorno até a área de foco.

Observa-se uma baixa cobertura de vacinação na rotina (Tabela 7), o que indica

que parte dos animais podem estar deixando de ser vacinados no período preconizado,

na espera das campanhas de vacinação realizadas pela Prefeitura Municipal através do

Centro de Controle de Zoonoses, geralmente no mês de agosto de cada ano. A grande

quantidade de animais vacinados nos períodos de campanha confirma essa afirmação. A

falta de informação e a dificuldade de acesso ao CCZ podem atuar como fatores

determinantes para a não utilização do posto permanente de vacinação anti-rábica do

CCZ, nos períodos fora de campanha.

Segundo SCHNEIDER (1996), o controle da raiva animal baseia-se

principalmente na vacinação de animais domésticos, sendo esta uma atribuição dos

estados e prefeituras.

A vacinação em massa de cães e gatos é considerada como principal medida de

controle da doença. CARRIERE (1998) relata que o decréscimo de número de casos de

raiva pode ser atribuído, sem dúvida, às campanhas de controle da doença.

Tabela 7. Distribuição da vacinação canina segundo estratégia e ano de realização,

Cuiabá-MT, 1998 a 2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Cães vacinados em

rotina – CCZ

678 438 12.121 1.304 435 373

Cães vacinados em

campanha

72.138 41.725 94.963 64.988 109.790 68.712

Foco 24.845 9.405 9.254 8.299 3.057 2.197

Área de risco - 506 - 745 1.727 -

Fonte: VE – 7

Constata-se um aumento abrupto de animais vacinados, tanto em campanhas

como na rotina do CCZ no ano 2000. Isso pode ser atribuído ao caso de raiva humana

notificado no mesmo ano, salientando-se novamente o impacto que um óbito humano

por raiva causa na demanda aos serviços e nas medidas profiláticas: elevação de 266,7%

na vacinação canina de rotina; 127,6% na vacinação canina de campanha; 41,1% no

número de atendimentos humanos e 30,6% no número de tratamentos profiláticos

humanos.

Considerando as vacinas de rotina e de campanha observa-se, para os gatos,

situação semelhante aos cães, ou seja, existe baixa cobertura vacinal fora das campanhas

de vacinação, cerca de 0,2 a 3,0% do total de gatos vacinados recebe a vacina em

períodos extra campanha de vacinação (Tabela 8), o que reforça a hipótese de que a

população acaba atribuindo ao Estado, através da campanha, a responsabilidade de

vacinar seus animais contra raiva canina.

A campanha de vacinação de cães e gatos, enquanto ação para profilaxia da

raiva, tem sua efetividade atrelada ao conhecimento da população animal e sua

distribuição.

Tabela 8. Distribuição da vacinação em gatos segundo ano de vacinação, Cuiabá-MT,

1998 – 2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Gatos vacinados em rotina

52 540 91 67 26 28

Gatos vacinados em campanha

25.386 16.871 27.258 11.962 21.492 15.939

Foco 6.892 3.607 3.582 3.008 1.015 849

Em área de risco 0 0 0 250 592 475

Fonte: VE – 7

No Brasil as campanhas de vacinação anti-rábica em pequenos animais são

tradicionalmente planejadas e avaliadas considerando-se estimativas de população

canina, calculadas com base em recomendações feitas pela Organização Mundial de

Saúde (OMS) e pelo Instituto Pasteur de São Paulo, Brasil. De acordo com essas

instituições, as razões entre a população humana e canina variam de 10:1 a 7:1 e para o

controle adequado da raiva em áreas urbanas, recomendam uma cobertura vacinal

mínima de 80,0% da população canina total.

No entanto o cálculo da cobertura vacinal realizado com base no número de

animais vacinados e nessa estimativa de população resultou, no Município de Cuiabá,

no período de 1998 e 1999, em coberturas maiores que 100% (Tabela 9). Essa

imprecisão compromete a avaliação dos resultados da campanha de vacinação e do

programa de controle de raiva uma vez que não se pode determinar a cobertura vacinal,

e estabelecer metas para o programa.

Segundo DIAS (2001) para conhecer o tamanho da população canina, alguns

municípios adotaram a estratégia de realização de censo animal e outros optaram pela

realização de amostragens, a custos comparativamente mais baixos, tornando viável a

sua aplicação a grandes centros urbanos. O autor ainda conclui que a adoção de uma

razão única para a América Latina, como preconizado pela OMS, atribuiria um grande

erro às estimativas de população canina baseados na população humana.

Além de conhecer a população seria importante conhecer sua distribuição por

distritos e bairros da cidade a fim de possibilitar melhor planejamento da distribuição

espacial dos postos de vacinação durante as campanhas.

Tabela 9. Estimativa da população animal e distribuição da cobertura vacinal, Cuiabá-

MT, 1998 – 2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

População humana

447.390 453.813 460.263 482.498 492.893 500.286

População canina estimada

67.108 68.071 92.053 72.375 73.934 75.042

Cobertura vacinal (%)

105,8 102,7 99,6 84,94 86,25 89,81

Fonte: CCZ

No Município de Cuiabá, até 1997 a população canina era estimada em 10,0%

da população humana. No entanto, coberturas vacinais muito superiores a 100,0%

justificaram a alteração, a partir de 1998, da estimativa da população canina para 15,0%

da população humana (Tabela 9). Observa-se que esta proporção não foi respeitada no

ano 2000 e isso ocorreu em função da realização de um censo canino, que identificou a

população canina como sendo 20,0% da população humana. Apesar de a cobertura

vacinal de 2000, próxima a 100,0%, ratificar a existência de uma população canina da

ordem de 20,0% da população humana, nos anos que se seguiram a estimativa manteve-

se em 15,0%, sem motivos que a justificassem.

Em se considerando uma relação de 5:1 entre a população humana e animal,

como o evidenciado no ano de 2000, as coberturas vacinais dos anos de 2001, 2002 e

2003 seriam bem menores (65,1%, 64,7% e 67,4%, respectivamente), ficando aquém da

cobertura mínima preconizada para o controle do agravo. Esta constatação reitera a

necessidade de se buscar metodologias para maior aproximação da real população

canina do município.

A definição adequada da população canina é importante não só para conhecer a

cobertura vacinal, mas também para planejar e posteriormente avaliar o impacto da

captura.

É possível evidenciar que a freqüência de captura declina de 1998 a 2003,

pois em 2003 o total de atividades de captura em rotina e em áreas de foco

corresponde a apenas 10,7% do total de 1998 (Tabela 10). Este declínio não ocorre

de maneira homogênea de um ano para outro ao longo de toda a série histórica. Em

todos os anos estudados o maior número de capturas ocorre em atividades de rotina

Tabela 10. Distribuição dos cães capturados segundo ano de captura de acordo com dados do VE –7 e CCZ, Cuiabá-MT, 1998 – 2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Cães capturados em rotina (VE – 7)

1.085 704 729 192 182 210

Cães capturados em área de foco (VE – 7)

1.023 318 469 78 97 15

Total capturas (VE- 7) 2.108 1.022 1.198 270 279 225

Cães capturados- CCZ 1.295 921 1.182 275 254 226 Fonte: VE – 7 e CCZ

Segundo MIRANDA (2003) a captura de cães errantes é uma prática pouco utilizada.

Dados sobre a profilaxia da raiva animal, são repassados pelo CCZ para o Programa

de Vigilância da Raiva, portanto as diferenças entre os dados do CCZ e VE-7 quanto

à captura de animais, principalmente no período de 1998 a 1999, devem ser

decorrentes de falhas no processo de consolidação dos dados, em qualquer das duas

instâncias. A tendência observada, no entanto, mantém-se independentemente da

fonte.

O CCZ alega ter dificuldades em desempenhar atividades de captura por motivo de

segurança, pois existem focos localizados em áreas violentas.

A eutanásia também se inclui como uma das atividades do Programa de Profilaxia da

Raiva, e constata-se que, assim como a atividade de captura de animais, a

distribuição dos animais que sofreram eutanásia também declinou consideravelmente

(Tabela 11). No ano de 2003 apenas 13,3% do total de animais de 1998 sofreram

eutanásia. Essa diminuição também não ocorreu de maneira uniforme ao longo dos

anos estudados e a apresentação também é similar ao encontrado na situação de

captura de animais.

O método de eutanásia utilizado pelo CCZ até o ano 2000 era o uso de gases tóxicos,

especificamente monóxido de carbono (CO), em animais previamente tranqüilizados

com acepromazina. A partir de 2001 passou a ser utilizado o método por

administração de produtos não inalatórios (acepromazina e tiopental seguido de

cloreto de potássio).

Tabela 11. Distribuição dos animais que sofreram eutanásia, Cuiabá-MT, 1998 – 2003.

1998 1999 2000 2001 2002 2003

Eliminados em rotina (VE – 7)

620 519 664 214 205 155

Eliminados em foco (VE – 7)

844 282 449 100 104 40

Total (VE – 7)

1464 801 1.113 314 309 195

Eliminados em rotina (CCZ)

1.295 921 1.182 275 201 134

Fonte: VE – 7 CCZ

A aplicação de técnicas de controle de populações animais, através de sacrifício

sistemático por qualquer método preconizado gera impreterivelmente discussões que

questionam sua eficácia e causam desgaste político no serviço público, suscitando

questões emocionais nos envolvidos nesse processo. SALLUM (2005) questiona em

sua tese a necessidade de se eliminar cães, face aos custos operacionais que são altos

e que desestimulam investimentos, e ressalta a inocuidade da ação, pois a reposição

da população canina é maior que a capacidade de retirada de animais errantes, por

parte dos órgãos responsáveis pelo controle de zoonoses.

Segundo SOTO (2003) a eutanásia e a captura não foram mecanismos eficientes

de controle populacional canino no Município de Ibiúna – SP. A razão cão/habitante

foi crescente mesmo com a realização destas práticas.

A determinação de estratégias que privilegiassem ações de controle populacional e

de mobilidade através de programas de controle de fertilidade e de natalidade das

fêmeas poderia ser uma opção positiva em detrimento das medidas de captura e

eliminação dos animais.

Da mesma forma como acontece na distribuição de animais capturados, os dados do

CCZ diferem dos dados do VE – 7 quanto aos números absolutos, embora ambos

apresentem o mesmo comportamento ao longo da série histórica analisada.

A comunicação entre os sistemas e a qualidade de preenchimento dos

instrumentos de coleta e consolidação dos dados são deficientes, uma vez que mesmo

os dados do CCZ utilizados para alimentar o VE – 7 apresentam diferenças

substanciais em suas respectivas fichas.

4.2. Análise das Informações Providas pelo SINAN

O SINAN constitui um dos mais importantes sistemas de informação de orientação

epidemiológica. Embora o sistema tivesse sido desenvolvido no início da década de

90, os dados de agressões passíveis de risco para raiva humana só estão disponíveis a

partir do segundo trimestre de 2001.

A análise dos dados do SINAN no período proposto inicialmente nesse estudo,

2000 a 2003, foi prejudicada uma vez que as notificações referentes à raiva, disponível

através do TabWin, são inexistentes até o primeiro trimestre de 2001 e se encontram

pouco consistentes inclusive com queda brusca das notificações a partir de julho de

2002 sem motivo que a justifique.

A decisão de concentrar a análise no ano de 2003 fundamentou-se no fato de

que, neste ano, o SINAN passou a captar um maior volume de notificações e deu-se

uma melhoria na qualidade do preenchimento das variáveis que ele contempla, como se

evidencia a seguir.

4.2.1 Qualidade do preenchimento dos instrumentos alimentadores do SINAN

O preenchimento dos vários campos das fichas de notificação e investigação

das agressões animais de risco para a raiva (os instrumentos alimentadores do

SINAN), pode ser analisado da mesma forma que MELLO JORGE e OLIVEIRA

(1998) procederam, em relação ao SINASC. Os autores avaliaram a qualidade das

informações registradas nas declarações de nascidos vivos, mesmo que

indiretamente, a partir do número de campos preenchidos com informação útil,

definindo-o como excelente quando 90,1 a 100,0% dos campos estão preenchidos

(sem que o sejam pela opção “ignorado”, onde ela existe); o preenchimento é bom

quando 70,1 a 90,0% dos campos estão preenchidos, e mau quando 70,0% ou menos

dos campos estão preenchidos. É obvio que essa freqüência não reflete a

fidedignidade da informação registrada, mas é a forma mais simplificada e de menor

custo para avaliar o Sistema de Informação, sendo importante que seja seguida de

estudos mais aprofundados.

Ao extrapolar essa sistemática para o SINAN, observa-se que algumas das

variáveis relacionadas à vítima – sexo e idade – já tinham preenchimento excelente, em

2001, embora outras não o tivessem (raça/cor, escolaridade e bairro de residência eram

considerados bons e ocupação apresentava mau preenchimento). Em 2003, no entanto, o

preenchimento excelente se dá para o conjunto das variáveis, exceto ocupação, cujo

preenchimento permanece ruim (Tabela 12).

Tabela 12. Percentual de preenchimento das variáveis relacionadas à vítima nas fichas de notificação e investigação referentes ao tratamento anti-rábico humano, Cuiabá-MT, 2001 a 2003.

Variáveis Relacionadas à Vítima* 2001 2002 2003

Sexo 100,0 (E) 100,0 (E) 100,0 (E)

Idade 100,0 (E) 100,0 (E) 100,0 (E)

Raça/Cor 72,0 (B) 89,9 (B) 91,7 (E)

Escolaridade 86,7 (B) 89,7 (B) 91,7 (E)

Ocupação 1,2 (M) 23,4(M) 28,5 (M)

Bairro de residência 86,1 (B) 93,9 (E) 96,9 (E)

Fonte: SINAN (E) Excelente: 90,1 - 100%, (B) Bom: 70,1 – 90%, (M) Mau: ≤ 70,0%

Para as variáveis relacionadas ao ferimento é possível evidenciar que em 2001 todos

os campos se apresentavam pouco preenchidos (Tabela 13), pois tinham níveis de

preenchimentos abaixo de 11,0%. Entretanto no ano seguinte houve uma melhora

substancial no preenchimento, passando então a apresentar níveis em torno de

80,0%, sendo a partir daí considerado bom. Em 2003 esses níveis melhoraram para

todas essas variáveis uma vez que todos os campos já se encontravam com mais de

90,0% dos campos preenchidos, podendo então ser classificados como excelentes.

Tabela 13. Distribuição proporcional do preenchimento das variáveis relacionadas ao ferimento nas fichas de notificação e investigação referentes ao tratamento anti-rábico humano, Cuiabá-MT, 2001 a 2003.

Relacionadas ao ferimento* 2001 2002 2003

Tipo de exposição

Contato Indireto 10,4 (M) 82,4 (B) 98,0 (E)

Lambedura 9,5 (M) 81,1 (B) 98,6 (E)

Arranhadura 9,8 (M) 82,2 (B) 98,6 (E)

Mordedura 10,7 (M) 83,2 (B) 98,7 (E)

Multiplicidade da lesão 10,4 (M) 82,4 (B) 98,0 (E)

Local do corpo onde ocorreu a lesão

Membro inferior 10,4 (M) 82,2 (B) 98,7 (E)

Mãos/pés 10,1 (M) 81,7 (B) 98,7 (E)

Membro superior 9,8 (M) 81,3 (B) 98,7 (E)

Cabeça/pescoço 9,9 (M) 81,7 (B) 98,6 (E)

Tronco 9,8 (M) 81,1 (B) 98,7 (E)

Mucosa 9,9 (M) 81,3 (B) 98,6 (E)

Profundidade da lesão

Ferimento profundo 10,1 (M) 81,7 (B) 98,3 (E)

Ferimento superficial 9,8 (M) 81,5 (B) 98,2 (E)

Ferimento dilacerante 9,4 (M) 80,4 (B) 98,1 (E)

Fonte: SINAN (E) Excelente: 90,1 - 100%, (B) Bom: 70,1 – 90%, (M) Mau: ≤ 70,0%

Evidencia-se, dessa forma, uma melhora significava nos níveis de preenchimento

para variáveis relacionados à lesão; informação de muita importância, uma vez que

pode ser determinante na escolha do tratamento a ser prescrito.

Quanto às variáveis relacionadas à agressão, a melhoria do preenchimento

também foi bastante evidente (Tabela 14). No entanto para as variáveis “Condição de

animal agressor” e “raivoso clínico”, a opção ignorada pode significar a ausência de

informação ou o desconhecimento da condição do animal, dificultando a análise do seu

preenchimento.

Tabela 14. Distribuição proporcional do preenchimento das variáveis relacionadas ao

animal agressor nas fichas de notificação e investigação referentes ao tratamento

anti-rábico humano, Cuiabá-MT, 2001 a 2003.

Relacionadas à agressão* 2001 2002 2003

Espécie Agressora 10,8 (M) 82,9 (B) 98,3 (E)

Condição do animal agressor 100,0 (E) 100,0 (E) 100,0 (E)

Raivoso clínico 4,6 (M) 52,3 (M) 79,2 (B)

Agressão provocada 6,6 (M) 72,2 (B) 92,6 (E)

Situação de ocorrência da agressão 6,8 (M) 69,3 (M) 87,1 (B)

Fonte: SINAN (E) Excelente: 90,1 - 100%, (B) Bom: 70,1 – 90%, (M) Mau: ≤ 70,0%

De todos os grupos de variáveis considerados na ficha de investigação, as

relacionadas ao tratamento profilático são as que apresentam menores índices de

preenchimento. São as únicas em que o preenchimento permanece classificado como

ruim no ano de 2003 para 3 das 7 variáveis analisadas (Tabela 15).

Situação semelhante foi encontrada por GARCIA (1999) em que as falhas de

preenchimento nos campos referentes ao tratamento anti-rábico superam a 60,0%. O

campo destinado ao registro de complicações pós-vacinais não foi preenchido em 91,2%

das fichas analisadas pela autora.

Tabela 15. Distribuição proporcional do preenchimento das variáveis relacionadas ao

tratamento nas fichas de notificação e investigação referentes a profilaxia anti-rábica

humana, Cuiabá-MT, 2001 a 2003.

Relacionadas ao tratamento 2001 2002 2003

Tratamento indicado 8,4 (B) 75,5 (B) 96,8 (E)

Avaliação sorológica 0,3 (M) 0,9 (M) 0,4 (M)

Vacina utilizada 7,9 (B) 70,7 (B) 96,2 (E)

Indicação do soro 5,2 (M) 57,1 (M) 90,3 (E)

Reações adversas 2,8 (M) 0,0 (M) 0,9 (M)

Interrupção de tratamento 5,5 (M) 59,1 (M) 93,3 (E)

Motivos da interrupção do tratamento 2,1 (M) 14,6 (M) 25,3 (M)

Fonte: SINAN (E) Excelente: 90,1 - 100%, (B) Bom: 70,1 – 90%, (M) Mau: ≤ 70,0%

As tabelas com um todo (12 a 15) indicam que houve um aumento gradativo na

proporção de preenchimento das variáveis, principalmente quanto ao ferimento, animal

agressor e tratamento profilático. As variáveis relacionadas à vítima, embora em sua

maioria tivessem seu preenchimento melhorado, eram as únicas com 83,3% das

variáveis com percentuais satisfatórios em anos anteriores. Assim, em 2003, das 32

variáveis analisadas 26 têm preenchimento excelente; 2 preenchimento bom e 4

preenchimento ruim. Esse quadro favorece o estudo epidemiológico do agravo com base

no SINAN.

4.2.2 Distribuição temporal

Foram atendidas, de acordo com o SINAN, 1.467 pessoas residentes no

Município de Cuiabá, agredidas por animais potencialmente transmissores da raiva, no

ano de 2003. A sazonalidade dos atendimentos é mostrada na Tabela 16, e na Figura 1.

Tabela 16. Atendimento anti-rábico humano, devido a agressão por animais

potencialmente transmissores de raiva (por 10.000), segundo mês de

notificação, Cuiabá-MT, 2003.

Mês N %

Janeiro 93 6,3

Fevereiro 114 7,8

Março 113 7,7

Abril 103 7,0

Maio 107 7,3

Junho 156 10,6

Julho 141 9,6

Agosto 133 9,1

Setembro 133 9,1

Outubro 153 10,4

Novembro 119 8,1

Dezembro 102 7,0

Total 1.467 100

Fonte: SINAN

Observa-se que no ano de 2003 a distribuição proporcional de

atendimento anti-rábico humano manteve-se num mesmo nível no período

de janeiro a maio, elevou-se em junho mantendo-se discretamente nesse

patamar até outubro, a partir do qual apresenta uma queda voltando à

posição inicial.

Com base nos dados de 2003, pode-se dizer que o período de junho a outubro é o de

maior probabilidade para a ocorrência de agressões por animais passíveis de

transmissão do vírus rábico.

Figura 1. Sazonalidade do atendimento profilático anti-rábico humano Cuiabá 2003

0

2

4

6

8

10

12

Jane

iro

fevere

iro Abril

MaioJu

nho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novem

bro

Dezem

bro

Pro

porç

ão

Fonte: SINAN

Situação semelhante foi relatada por MAURELLI (2001) citada por ARAÚJO

(2002) que estabelece julho, agosto e setembro como os meses do ano em que ocorre

um aumento no número de pessoas atendidas e tratadas profilaticamente contra a raiva

no Município de Belo Horizonte-MG.

4.2.3 Características das vítimas humanas de agressão

Dos 1.467 acidentes com animais envolvendo vítimas humanas 698 envolvem

indivíduos com até 14 anos de idade, sendo 431 meninos e 297 meninas (Tabela 17). A

população de 1 a 14 anos concentra quase 50,0% das agressões e também é a de maior

risco, enquanto a população idosa (≥ 65 anos) concentrando 4,8% das vítimas é a

segunda mais exposta ao risco.

Tabela 17. Características das vítimas de agressão por animais potencialmente

transmissores da raiva segundo faixa etária, Cuiabá-MT, 2003.

Faixa Etária

(anos)

N Freqüência

%

Freqüência

acumulada

Incidência

(por 10.000)

Menor de 1 19 1,3 1,3 21,4

1 – 4 225 15,3 16,6 61,6

5 – 9 270 18,4 35,0 55,6

10 – 14 184 12,5 47,5 34,2

15 – 19 97 6,6 54,1 16,8

20 – 34 256 17,4 71,5 17,9

35 – 49 224 15,3 86,8 22,7

50 – 64 122 8,3 95,1 28,5

65 – 79 60 4,1 99,2 39,0

80 e mais 10 0,7 99,9 30,7

Total 1.467 100,0

Fonte: SINAN

Segundo DEL CIAMPO (2000), os acidentes causados por cães envolvendo

crianças podem ser atribuídos muitas vezes à maior liberdade, movimentação e espaço

social ocupado por essas crianças, que utilizam como áreas de lazer o quintal de suas

casas, a rua, praças e locais públicos. Isso explicaria não apenas a maior freqüência

entre crianças menores de 14 anos como o maior número de vítimas entre meninos de 1

a 14 anos (52,1%) que meninas (39,2%) (Tabela 18).

Tabela 18. Distribuição das agressões nas diferentes faixas etárias segundo

sexo, Cuiabá-MT, 2003.

Faixa Etária Masculino Feminino

N % N %

< 1 ano 13 1,6 6 0,9

1 – 4 131 16,3 94 14,1

5 – 9 171 21,3 99 14,9

10 – 14 116 14,5 68 10,2

15 – 19 49 6,1 48 7,2

20 – 34 137 17,1 119 17,9

35 – 49 97 12,1 127 19,1

50 –64 52 6,5 70 10,5

65 – 79 30 3,7 30 4,5

80 e mais 5 0,6 5 0,7

Total 801 100,0 666 100,0

Fonte: SINAN

De acordo com CARVALHO (2002), em seu estudo na cidade de Maringá – PR, a maior proporção de atendimentos ocorre em crianças do sexo masculino. A autora cita RIBEIRO NETO (1970), que ressalta a preocupação dos pais e responsáveis em buscar atendimento, pois devido à letalidade da doença, seus familiares, além das crianças, são envolvidos emocionalmente. Já quando a vítima é um adulto não é incomum que se considerem alguns tipos de exposição como um evento de menor importância e não se procure pelo serviço de saúde, subestimando o número absoluto de agressões.

No que se refere à raça/cor, as vítimas de raça branca e negra, quando somadas,

aparecem como as mais atingidas pelas agressões (Tabela 19). No entanto ao se

considerar a taxa de acordo com cada etnia o risco de ser agredido foi maior nos

indivíduos que se declararam de raça/cor amarela seguido da seguinte ordem: indígena,

branca e por fim negra.

Tabela 19. Distribuição dos indivíduos agredidos por animais potencialmente

transmissores da raiva segundo a raça/cor (declarada pela vítima ou responsável),

Cuiabá-MT, 2003.

Raça/ cor* N % Incidência** (por 10.000 habitantes)

Branca 651 48,4 32,6

Negra 668 49,7 24,2

Amarela 18 1,3 60,4

Indígena 8 0,6 36,8

Total 1.345 100,0

Fonte: SINAN; IBGE *excluídas as agressões a pessoas cuja raça é ignorada; **foi considerada a população de acordo com o censo 2000.

Historicamente a população negra se apresenta com nível sócio econômico

inferior ao apresentado pela população considerada branca. Como os fatores

socioeconômicos parecem influenciar o risco de ocorrência de agressões por animais e

de dispersão do vírus rábico, se esperaria que a população negra estivesse mais exposta.

Não é esta situação que se observa, pois a população negra é justamente a que apresenta

um menor risco de ser agredida por animais passíveis de transmissão por vírus rábico.

Como há evidências de subnotificação de casos de agressão, levanta-se a hipótese de

esta ser maior entre a população negra.

Conhecer a distribuição das vítimas de agressão segundo variáveis sócio-

econômicas, principalmente quando associadas ao grau de escolaridade, auxilia na

elaboração de estratégias educativas permanentes e adequadas aos diversos níveis

sociais e culturais a fim de reduzir riscos para a saúde da população.

Analisando a escolaridade, constata-se que a maioria das agressões se deu no

grupo de crianças abaixo de 7 anos (Tabela 20). Esse fato reforça a informação de que a

freqüência de agressões é maior em crianças.

O segundo maior número de agressões ocorreu entre o grupo com 4 a 7 anos de

estudo, diferente do grupo com menor escolaridade (nenhum ano de estudo) que foi o

que obteve menor número de agressões. Isto indica que a agressão pode estar ocorrendo

independente do nível de escolaridade, ou novamente, que a subnotificação dos casos

foi maior entre grupos populacionais menos favorecidos, também em termos de

escolaridade.

Segundo MIRANDA (2003), os fatores sociais funcionam como facilitadores ou

empecilhos para a dispersão do vírus em uma determinada área. Quanto menor a

situação de desenvolvimento local, maior é a promiscuidade observada na relação

homem/animal e menores também os cuidados sanitários tomados. A autora ainda

afirma ter encontrado graus de risco diferenciados para raiva humana no Estado de

Minas Gerais e que as áreas de alto risco coincidem com as maiores áreas de pobreza e

analfabetismo do estado.

Tabela 20. Distribuição dos indivíduos agredidos por animais potencialmente

transmissores da raiva segundo grau de escolaridade (por ano de estudo

concluído), Cuiabá-MT, 2003.

Anos de estudo N %

Nenhum 65 4,8

De 1 a 3 253 18,8

De 4 a 7 334 24,8

De 8 a 11 216 16,1

12 e mais 110 8,2

Não se aplica* 368 27,3

Total 1.346 100,0

Fonte: SINAN *Crianças abaixo de 7 anos; ** foram excluídos 121 registros com anos de estudo ignorados

A variável “Ocupação” apresenta seu preenchimento classificado como ruim,

desde 2001. Esta informação permitiria intervenção especifica para grupos de

profissionais mais expostos ao risco de sofrer agressão e conseqüentemente ser

infectado com vírus rábico. O mau preenchimento interfere no conhecimento da

realidade dificultando também o planejamento de intervenções.

Nos registros de 2003, considerando-se as 419 notificações que identificam a

ocupação, os segmentos que foram mais freqüentemente submetidos ao tratamento

profilático foram os estudantes (51,3%), seguidos pelas pessoas que desempenham

trabalhos do lar (33,6%) e dos aposentados (7,4%). Salienta-se que 71,4% têm esse

dado ignorado.

Administrativamente, o Município de Cuiabá é dividido em quatro regiões, cada

uma delas composta por um distrito sanitário (Norte, Sul, Leste e Oeste) responsável

pela atenção à saúde das suas respectivas áreas de abrangência.

Quase metade das agressões registradas (48,2%) deu-se entre moradores do

Distrito Sanitário Sul, o mais populoso de Cuiabá, correspondendo também ao de maior

risco para este agravo (Tabela 21).

As agressões são maiores nas regiões em que há maior densidade demográfica

humana, o que é esperado, uma vez que o incremento da população canina é

diretamente proporcional ao verificado na população humana.

PASSOS (1998) relata que os segmentos populacionais que habitam em áreas

periféricas de cidades de terceiro mundo vivem em situação de extrema proximidade

com os animais, especialmente os animais errantes que por sua vez se reproduzem com

grande rapidez.

Os residentes da zona rural embora apresentassem um percentual pequeno de

vítimas, compuseram o quarto grupo mais exposto ao risco de ser agredido por animal

potencialmente transmissor do vírus rábico.

Tabela 21. Distribuição dos indivíduos agredidos por animais potencialmente

transmissores da raiva por Distrito Sanitário, Cuiabá-MT, 2003.

Distritos Sanitários N % Incidência (10.000 habitantes)

Distrito Sanitário Sul 685 48,17 55,8

Distrito Sanitário Norte 109 7,66 9,5

Distrito Sanitário Leste 337 23,69 22,8

Distrito Sanitário Oeste 276 19,41 23,3

Zona Rural 15 1,05 20,9

Total* 1.422 100,0

Fonte: SINAN *Excluídas 45 agressões sem informação sobre distrito de residência.

A variável “Grau de relação da vítima com o agressor” não está presente na ficha

de investigação do SINAN. Esta variável permitiria identificar o risco de ser agredido

por animal próprio ou vizinho; ou o risco de ser agredido por animal de rua (errante).

Conhecer a procedência do animal favoreceria a análise para indicação do tratamento

profilático e forneceria dados para subsidiar a implantação de programas educativos

permanentes que pudessem promover a posse responsável e o conhecimento dos

cuidados que o homem deve dedicar aos seus animais de companhia.

4.2.4 Características da lesão

Quanto ao tipo de lesão, os dados do SINAN informam que a mais freqüente é a

mordedura, seguida pela arranhadura (Tabela 22). Essas duas formas de exposição

quando somadas passam a representar 96,7% das exposições. O contato indireto é pouco

freqüente e totaliza 1,5% das exposições. Vale informar que se considera contato

indireto aquele que ocorreu com objetos contaminados e secreções de animais suspeitos.

O domínio da mordedura entre os demais tipos de exposição é compatível com a

situação encontrada em outros estudos. RAMOS (2000), CARVALHO (2002),

BLATT (2002) relatam que a maior proporção de atendimentos profiláticos são

prestados devido a mordeduras por cães.

Tabela 22. Distribuição das agressões quanto ao tipo de exposição,

Cuiabá, 2003.

Tipo de Exposição N %

Contato Indireto 25 1,5

Arranhadura 335 20,0

Mordedura 1.283 76,7

Lambedura 15 0,9

Ignorado 15 0,9

Total* 1.673 100,0 Fonte: SINAN * O total de tipos de lesão supera 1.467 (total de casos) porque

uma mesma vítima pode sofrer mais de um tipo de exposição

GARCIA (1999) relata que é provável que na maioria das situações a

mordedura seja a principal forma de notificação devido à existência de uma

conscientização da população de que este tipo de exposição envolve grande risco de

contaminação pelo vírus da raiva, o que não acontece no caso de arranhaduras,

lambeduras ou o simples contato. Nesse sentido há possibilidade de uma

subnotificação daquelas exposições consideradas pelas vítimas e/ou familiares, às

vezes erroneamente, “menos graves”.

Observa-se que o tipo de lesão, podendo ser único ou múltiplo, apresenta

diferença sutil com predominância das lesões múltiplas, consideradas mais graves

(Tabela 23).

Tabela 23. Distribuição das agressões segundo o tipo de lesão, Cuiabá-

MT, 2003.

Tipo N %

Único 645 43,9

Múltiplo 793 54,0

Ignorado 29 1,9

Total 1467 100,0 Fonte: SINAN

Os locais do corpo mais freqüentemente afetados são os membros inferiores

seguidos pela lesão nas mãos/pés e membros superiores (Tabela 24). Somadas, as lesões

nesses locais representam quase 80,0% das agressões, sugerindo situações de defesa e

fuga.

Tabela 24. Distribuição das lesões segundo local do corpo afetado, Cuiabá-

MT, 2003.

Localização da lesão N %

Membros Inferiores 627 37,1

Mãos e pés 445 26,3

Membros Superiores 258 15,3

Cabeça e pescoço 190 11,2

Tronco 96 5,7

Mucosa 54 3,2

Ignorado 19 1,2

Total* 1689 100,0 Fonte: SINAN

* O total de localização das lesões supera 1.467 (o total de casos) porque uma mesma vítima pode sofrer lesão em mais de uma parte do corpo

DEL CIAMPO (1999) afirma que as crianças costumam sofrer lesões em

mais de uma parte do corpo devido à pequena estatura desta vítima e à tentativa de

fuga e defesa quando a criança está brincando ou até mesmo provocando o cão.

Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2002) todas as lesões localizadas na

cabeça/pescoço, mão e pé estão classificadas como graves e aquelas localizadas nas

pernas, braços e tronco podem ser consideradas graves ou leves, dependendo da

extensão e profundidade da lesão.

Conclui-se, a partir desta informação, que a maioria das lesões apresentadas na

Tabela 24, podem ser consideradas graves, uma vez que atingiram cabeça e pescoço

(11,2%), mãos e pés (26,3%). Além disso, 73,2% das lesões de membros inferiores e

89,5% das lesões de membros superiores foram profundas ou dilacerantes, o que

também lhes confere gravidade. Consolidando-se os percentuais das lesões graves com

as potencialmente graves, este ele atingiria 78,4% de todas as 1689 lesões.

Observa-se que essa situação nem sempre é compatível com a encontrada em outros

estudos. RAMOS (2000); CARVALHO (2002); BLATT (2002) relatam que a maior

proporção de atendimentos profiláticos são prestados devido a lesões em membros

inferiores e mão, coincidindo com o referido neste estudo. No entanto, GARCIA

(1996) conclui que para o grupo com idade menor ou igual a nove anos, a cabeça foi

a principal sede de lesão, seguida pelos membros superiores. Já nos indivíduos com

idade superior a nove anos, foram mais acometidos os membros superiores, seguido

dos membros inferiores. Esse resultado difere do que foi encontrado neste estudo,

pois para o grupo com idade menor ou igual a nove anos os membros inferiores

foram a principal sede de lesão (30,5%), seguida da cabeça (27,3%). Estas lesões

foram predominantemente múltiplas (65,8%). É importante ressaltar que a lesão na

cabeça/pescoço obteve maior freqüência para as crianças com até nove anos (80,0%),

quando comparada a outras faixas etárias, o que pode estar ocorrendo em função da

baixa estatura das crianças. Já nos indivíduos com idade superior a nove anos foram

mais acometidos os membros inferiores, seguidos de mãos e pés.

Acredita-se que a forma de apresentação das variáveis “membros inferiores”,

“membros superiores”, “pés e mãos”, na Ficha de Investigação, pode levar a erros no

momento do registro na Unidade de Saúde, uma vez que mãos e pés constituem

respectivamente partes dos membros superiores e inferiores. O preenchimento

inadequado pode resultar posteriormente em vieses na análise dos dados.

Os ferimentos profundos superam em freqüência os ferimentos superficiais com

uma diferença de 12,4% (Tabela 25).

Para todos os tipos de ferimentos, no que se refere à profundidade, predominam

lesões múltiplas. Dos ferimentos superficiais 55,1% são múltiplos; dos profundos e

dilacerantes são múltiplos 62,7% e 74,2%, respectivamente. É provável que os

ferimentos múltiplos possam desencadear maior preocupação por parte da população,

resultando em procura por atendimento.

Tabela 25. Característica do ferimento quanto à profundidade da lesão,

Cuiabá-MT, 2003.

Profundidade N %

Superficial 688 39,1

Profundo 904 51,5

Dilacerante 140 8,0

Ignorado 24 1,4

Total* 1.756 100,0

Fonte: SINAN * O total supera 1.467 porque há possibilidade de uma mesma vítima apresentar

mais de uma lesão com características distintas. 4.2.5 Caracterização do animal agressor

Informações sobre o animal agressor são fundamentais na decisão da indicação

do tratamento.

Praticamente 98,0% das agressões envolvem cães e gatos, os primeiros

representando 84,3% delas (Tabela 26).

Tabela 26. Característica dos animais agressores, segundo espécie,

Cuiabá-MT, 2003.

Espécie Agressora N %

Ignorada/branco 25 1,7

Canina 1.237 84,3

Felina (Gato) 191 13,0

Outros 14 1,0

Total 1.467 100,0

Fonte: SINAN

Pela distribuição dos animais agressores, segundo os critérios de condição do

animal, 80,6% dos animais tinham condições de ser observados, classificados nas

categorias observável ou sadio; 11,0 % não possuíam essa condição, por terem sido

declarados nas categorias desaparecido ou ignorado (Tabela 27). É possível constatar

falta de coerência em relação ao alto percentual de animais sadios ou observáveis com a

freqüência igualmente alta de atendimento e tratamento anti-rábico humano.

Tabela 27. Característica dos animais agressores, segundo sua

condição no momento da agressão, Cuiabá-MT, 2003.

Condição do Animal N %

Sadio 1.127 76,8

Suspeito 101 6,9

Desaparecido 59 4,0

Raivoso 9 0,6

Observável 56 3,8

Sacrificado 12 0,8

Ignorado 103 7,0

Total 1.467 100,0 Fonte: SINAN

Para os cães agressores observa-se a mesma distribuição daquela encontrada

para os animais agressores, 84,3% dos cães tinham condições de ser observados,

classificados nas categorias observável ou sadio; 8,3 % não possuíam essa condição, por

terem sido declarados nas categorias desaparecido ou ignorado (Tabela 28).

Tabela 28. Característica dos cães agressores, segundo sua condição

no momento da agressão, Cuiabá-MT, 2003.

Condição do cão N %

Sadio 995 80,4

Suspeito 75 6,1

Desaparecido 37 3,0

Raivoso 7 0,6

Observável 48 3,9

Sacrificado 7 0,6

Ignorado 65 5,3

Total 1.237 100,0 Fonte: SINAN

Segundo SCHABBACH (2004), a informação referente à Condição do Animal,

informada no SINAN, isoladamente, não permite a clara definição de hábito de vida do

agressor (domiciliado, semidomiciliado ou errante). Além disso, as opções disponíveis:

Sadio, Suspeito e Raivoso eventualmente conflitam com a opção Observável, pois um

animal enquadrado nas três primeiras hipóteses pode ser observado em determinados

casos.

Dos animais não classificados como observável ou sadio, seria importante

conhecer a razão pela qual isso se dá, se são animais errantes ou não. Essa precária

disponibilidade de informação sobre a participação de animais errantes (ou não) pode

ser interpretada de diversas formas, a fim de sustentar posições favoráveis ou contrárias

à realização de políticas de controle populacional de cães errantes.

De acordo com SCHABBACH (2004) o Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN) não contempla a situação de domiciliamento do animal, tampouco

a circunstância da agressão, no que se refere ao espaço geográfico onde esta ocorreu,

informações importantes a serem consideradas pelo seu poder de reforçar a necessidade

de implementar políticas de controle de população animal.

O modo de ocorrência da agressão indica o motivo da mesma, informação que

associada às demais colabora na prescrição do tratamento profilático anti-rábico

humano. Conforme se constata na Tabela 29, não há predominância de agressão devido

ao comportamento alterado do animal, variável que poderia incluir a suspeita de animal

raivoso. Predominam, com freqüências muito próximas, situações de agressões por

animais ferozes e em situação de lazer.

Tabela 29. Características do animal agressor, segundo modo de

ocorrência da agressão, Cuiabá-MT, 2003.

Modo de ocorrência N %

Lazer 601 47,0

Animal feroz 609 47,6

Comportamento alterado 69 5,4

Total* 1.279 100,0

Fonte: SINAN *excluídas 189 notificações com situação de agressão ignorada

O número de agressões acidentais supera o de agressões provocadas em

26,2% (Tabela 30), o que demonstraria, a princípio, a necessidade de vigilância uma

vez que as agressões acidentais podem ocorrer por comportamento alterado do

animal pela raiva.

Ao se confrontarem as variáveis “situação da agressão” (acidental/provocada) e

“modo de ocorrência da agressão” (lazer/animal feroz/comportamento alterado -

Tabela 29) tem-se que, das agressões cujo modo de ocorrência foi o lazer, 47,6%

delas foram provocadas e 49,7% ocorreram acidentalmente. No entanto é possível

que exista alguma dificuldade quanto à classificação do modo de agressão, pois as

agressões declaradas como acidentais podem ter sido inconscientemente provocadas,

uma vez que situações como correr e andar de bicicleta, entre outras atividades do

dia-a-dia, principalmente das crianças e adolescentes, embora não sejam

provocativas, podem irritar os animais e a partir daí despertar resposta agressiva.

Tabela 30. Características do animal agressor, segundo situação da

agressão, Cuiabá-MT, 2003.

Situação da agressão N %

Provocadas 501 36,9

Acidentais 857 63,1

Total* 1.358 100,0

Fonte: SINAN * excluídos 109 registros ignorados

Os animais que apresentaram comportamento alterado, o que pode ser um indicativo

de raiva, agrediram mais de forma acidental que provocada, superando esta última

em 51,5%.

A freqüência de agressões acidentais supera a freqüência de agressões

provocadas em cada uma das estratificações etárias, exceto na faixa de 1 a 4 anos

(Tabela 31). Nesse grupo etário a agressão provocada é superior à acidental em 14,0%.

Nos demais grupos a agressão acidental supera a provocada com uma variação de

20,8% a 60,0%.

Um trabalho educativo pode beneficiar um grande número de vítimas potenciais,

ensinando o homem a lidar mais adequadamente com o temperamento e instinto do cão.

Tabela 31. Distribuição das agressões, segundo situação das mesmas e idade da

vítima, Cuiabá-MT, 2003.

Idade

Agressão provocada

Agressão acidental

Total

N % N % N %

< 1 ano 5 31,2 11 68,7 16 100,0 1 – 4 118 57,0 89 43,0 207 100,0 5 – 9 101 39,6 154 60,4 255 100,0 10 – 14 55 31,6 119 68,4 174 100,0 15 – 19 24 27,6 63 72,4 87 100,0 20 – 34 75 32,7 154 67,2 229 100,0 35 – 49 70 33,5 139 66,5 209 100,0 50 – 64 29 25,4 85 74,5 114 100,0 65 – 79 22 38,6 35 61,4 57 100,0 80 e mais 2 20,0 8 80,0 10 100,0 Total* 501 36,9 857 63,1 1.358 100,0

Fonte: SINAN

*Excluídas 109 agressões ignoradas

No que se refere ao diagnóstico constata-se uma alta freqüência de ignorados,

principalmente no que tange ao diagnóstico laboratorial (Tabela 32). Devido ao relativo

controle da doença, é possível que esteja ocorrendo uma menor preocupação com o

diagnóstico da raiva animal, e conseqüentemente, com o envio de amostra para o

laboratório.

É positiva a constatação de que das 1.467 agressões apenas 173 (11,8%) tinham

diagnóstico clínico para raiva e destes, 8 (0,5%) animais tiveram confirmação do

diagnóstico.

Os elevados percentuais de animais “negativos” não significam que os mesmos

estejam sadios, mediante diagnóstico clínico e principalmente laboratorial, haja vista

que o número de animais efetivamente submetidos a exames laboratoriais (153) foi

muito inferior ao número informado pelo SINAN (857).

Tabela 32. Distribuição dos animais agressores, segundo diagnóstico clínico e

laboratorial para raiva, Cuiabá-MT, 2003.

Positivo Negativo Ignorado

N % N % Total %

Diagnóstico clínico 173 11,79 989 67,41 305 20,79

Diagnóstico laboratorial 8 0,54 857 58,42 602 41,03

Fonte: SINAN

4.2.6 Tratamento anti-rábico humano

Conforme foi mencionado na análise do preenchimento das fichas que

alimentam o SINAN, dentre todas as variáveis estudadas as relativas ao tratamento anti-

rábico humano foram as que tiveram menor preenchimento. Existem variáveis como

avaliação sorológica e reações adversas que têm um nível de preenchimento inferior a

1,0%. Esse fato acaba por dificultar o conhecimento da situação e conseqüentemente

dificulta o estudo de medidas de intervenção de acordo com a realidade local.

Fica então evidente a necessidade de mobilização de esforços para o treinamento

e reciclagem permanente das equipes de saúde pública para que os serviços cumpram

adequadamente o seu papel em termos de vigilância epidemiológica.

Acerca do tratamento indicado, tem-se que a profilaxia pós-exposição é

predominante, seguida do tratamento profilático de pré-exposição. Quando somados, os

tratamentos pré-exposição e de exposição resultam em 96,3% das intervenções (Tabela

33), sendo que o primeiro contribui com 9,5% do total. No entanto o tratamento pré-

exposição não necessita de investigação e de acordo com a totalização (1.467), constata-

se que ele foi considerado para todas as variáveis, como as que englobam características

do animal agressor e da vítima, o que conseqüentemente gerou vieses para as análises.

Seria coerente que os 140 registros de indivíduos submetidos ao tratamento de

pré-exposição, indicada essencialmente para as pessoas que estejam expostas ao risco de

infecção pelo vírus da raiva por força de suas atividades profissionais, fossem excluídos

deste total, passando a se tratar de 1.327 situações em que se exige a investigação ao

invés das 1.467.

Tabela 33. Distribuição do tratamento indicado às vítimas de agressão por

animais potencialmente transmissores da raiva, Cuiabá-MT, 2003.

Tratamento N %

Pré-exposição 140 9,5

Pós-exposição 1.274 86,8

Reexposição 7 0,5

Ignorado 46 3,1

Total 1.467 100,0 Fonte: SINAN

Dos indivíduos submetidos ao tratamento de pré-exposição 2,1% exercem

função de pedreiro, 22,1% são estudantes, 10,0% desempenham atividades do lar e

65,8% são ignorados. Não aparecem nesse grupo profissões consideradas de risco como

carteiros, vacinadores e médicos veterinários, que deveriam receber este tratamento. No

entanto observam-se indivíduos cujas atividades profissionais não têm indicação para o

tratamento, como pedreiros e donas de casa, que o recebem. A estratificação

“estudantes” não os identifica como estudantes nas áreas consideradas de risco, o que

dificulta a análise desta indicação especificamente nesse grupo. Considera-se grande o

número de ignorados, o que limita algumas discussões sobre a atividade funcional dos

indivíduos submetidos a tratamento profilático pré-exposição.

Os registros dos tratamentos realizados, de acordo com o SINAN, aparecem de

forma simplificada, uma vez que apresentam apenas as situações de pré-exposição,

pós-exposição e reexposição. Sabe-se que entre os tratamentos anti-rábico

profiláticos pós-exposição existem diferentes situações, pois as doses de vacinas e

indicação de soro variam dependendo do tipo de exposição e condições do animal

agressor. Esse contexto cria uma situação que impede avaliar a correta indicação do

tratamento.

No que se refere à avaliação sorológica constata-se que esta é ignorada em 99,6%

dos casos. Este dado tem sua importância atrelada à questão da avaliação do

indivíduo vacinado, pois o controle sorológico é exigência básica para a correta

avaliação da pessoa vacinada. O resultado da sorologia é considerado insatisfatório

quando o título for menor do que 0,5 UI/ml e satisfatório quando for maior que 0,5

UI/ml.

É preconizada pelo MINISTÉRIO DA SAÚDE (2002) a realização do controle

sorológico anual dos profissionais de risco de infecção ao vírus da raiva (profissionais e

estudantes das áreas de Medicina Veterinária e Biologia e profissionais e auxiliares de

laboratórios de Virologia e/ou Anatomopatologia para raiva, funcionários de

zoológicos), administrando-se uma dose de reforço sempre que os títulos forem

inferiores a 0,5 UI/ml. A sorologia deve ser repetida a partir do 14º dia, após a dose de

reforço. Já os indivíduos que executam (ou auxiliam) necropsia de animais com suspeita

de raiva devem ter seu soro dosado para anticorpos anti-rábicos duas vezes ao ano,

como forma de verificar a manutenção do título protetor.

O ano de 2003 também contempla a mudança do tipo de vacina utilizada, por isso

evidencia-se o uso da vacina Fuenzalida e Palácios e da vacina de cultivo celular,

havendo predominância do uso de vacina de cultivo celular (Tabela 34). Observa-se

que a mudança do tipo de vacina se dá de maneira gradativa. Essa mudança se

justifica principalmente pela vacina de cultivo celular apresentar menor risco de

eventos adversos neurológicos e maior antigenicidade que o imunobiológico

anteriormente preconizado.

Tabela 34. Distribuição dos tratamentos segundo vacinas utilizadas, Cuiabá-MT, 2003.

Vacinas N %

Fuenzalida e Palácios

Modificada

575 39,19

Cultivo celular 836 56,99

Ignorado 56 3,81

Total 1.467 100,0

Fonte: SINAN

Das 1.467 agressões, a indicação do soro heterólogo, preconizado pelo Ministério da

Saúde, ocorreu em 80 casos (5,4 %), com um registro de 142 opções ignorado

(9,7%). O fato de ter indicações de tratamento ignoradas revela que os profissionais

podem estar minimizando a importância dessas notificações e conseqüentemente

prejudicando análises que poderiam fundamentar intervenções específicas.

No que se refere às reações adversas praticamente não se tem informação quanto

à presença ou não destas reações por vacina anti-rábica humana. Quase a totalidade dos

registros (99,0%) é ignorada. Apenas 14 fichas (1,0%) registravam ausência de reações

adversas de qualquer tipo.

GARCIA (1999), ao analisar as fichas de investigação epidemiológica da raiva

do Município de Osasco-SP, encontrou situação semelhante, pois o campo destinado ao

registro da ocorrência de complicações pós-vacinais não foi preenchido em 91,2% das

fichas analisadas.

Embora a maioria das vítimas de agressões por animais (68,0%) dê continuidade

ao tratamento profilático anti-rábico, 25,3% delas interrompem o tratamento (Tabela

35).

Tabela 35. Distribuição das agressões segundo interrupção do tratamento

profilático, Cuiabá-MT, 2003.

Interrupção de Tratamento N %

Sim 371 25,3

Não 998 68,0

Ignorado/branco 98 6,7

Total 1.467 100,0

Fonte: SINAN

A interrupção do tratamento pode ocorrer por indicação da unidade de saúde, e isto

acontece quando é eliminada a suspeita de animal agressor positivo para raiva,

através da observação deste agressor ou por abandono do tratamento. Em Cuiabá a

interrupção do tratamento por indicação da unidade de saúde ocorreu em 14,3% dos

atendimentos (Tabela 36).

Já em relação ao abandono do tratamento, os dados do SINAN o informam como

muito alto (85,7%), o que se configura como um fator de risco para o surgimento de

casos de raiva humana. Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2002) 27,2% dos

óbitos por raiva no período de 1998 a 2000 ocorreram devido a tratamentos

profiláticos inadequados e/ou porque houve abandono de tratamento. O fato de não

ter ocorrido nenhum caso de raiva humana nos últimos 3 anos não isenta da

necessidade de vigilância. A freqüência de interrupção de tratamento por motivos

que não o da indicação da unidade de saúde é um fator importante a ser considerado

no planejamento de atividades de profilaxia da raiva.

Tabela 36. Distribuição da interrupção de tratamento, segundo motivo,

Cuiabá-MT, 2003.

Motivos de

Interrupção

N %

Indicação da Unidade 53 14,3

Abandono 318 85,7

Total 371 100,0

Fonte: SINAN

4.3 Análise conjunta dos Sistemas de Informação

O primeiro fato que chama a atenção na análise comparativa do SINAN com a

ficha VE –7 é a diferença no número de casos providos por cada um dos sistemas. Em

se considerando fidedigno o número de casos providos pela ficha VE – 7, foi muito

grande a subnotificação do SINAN, em 2003, tanto relativa aos atendimentos como aos

tratamentos. Por outro lado, ao se considerarem verdadeiros os números providos pelo

SINAN, há que se questionar a coleta de dados pela ficha VE – 7, que estaria

superestimando o problema. Uma possibilidade seria a de este instrumento computar

mais de uma vez um mesmo caso, à medida que uma vítima pode recorrer a mais de

uma unidade de saúde, para atendimento e/ou tratamento. Como a ficha VE – 7 não

identifica o usuário, não é possível a verificação de duplicidade de dados nem o linkage

com o SINAN. Acredita-se que ambas as situações coexistam, ressaltando como maior

preocupação a subnotificação do SINAN, que por oferecer maior número de variáveis,

permitiria o melhor conhecimento de agravo e mais adequada intervenção.

Conforme o VE –7 a proporção de tratamentos anti-rábicos realizados a partir dos

atendimentos, em 2003, foi de 85,2%. Já pelo SINAN os tratamentos realizados

totalizaram em 96,9% no mesmo ano, proporção obtida apenas através dos

tratamentos, com exclusão dos ignorados, porque o SINAN não permite de maneira

clara a identificação dos atendimentos que resultaram em tratamento. Na ficha

individual de investigação, especificamente nos campos destinados ao tratamento,

constam itens sobre número de doses indicadas, porém essas informações não

permitem que se diferenciem os casos de agressão que não demandaram tratamento

daqueles que iniciaram tratamento específico.

É possível quantificar as diferenças nos dados providos pelos dois instrumentos

acerca das agressões notificadas, em 2003. Enquanto no SINAN foram 1.467 agressões,

no VE – 7 tem-se 4.244, ou seja, o SINAN captou apenas 34,6% do total do VE –7,

reforçando a hipótese de sub-notificação daquele sistema. Pode-se observar nesse caso

uma discrepância, assim como acontece com outras variáveis nos diferentes

instrumentos. No entanto os dados do SINAN e VE – 7 concordam no fato de que o

animal que mais agride é o cão, seguido pelo gato.

Em alguns aspectos as fichas alimentadoras do SINAN e a ficha VE – 7 se

complementam, pois dados importantes fornecidos pelo SINAN não o são no VE – 7.

O SINAN, por exemplo, detalha o perfil da vítima, da agressão, animal agressor e

tratamento, enquanto o VE – 7 apresenta situação da observação do agressor, do

diagnóstico laboratorial, captura, eutanásia (o VE – 7 capta dados do Centro de

Controle de Zoonoses e do laboratório responsável pelas análises). Daí dizer que em

alguns aspectos os bancos de dados do SINAN e VE – 7 são complementares. O

ideal seria ter um único instrumento de coleta de dados que suprisse a necessidade de

informação e que servisse, em última instância, para futuras avaliações do

atendimento.

Apesar do VE – 7 captar dados do CCZ, existem diferenças nos consolidados anuais

dos mesmos. Em 2000, por exemplo, o total de amostras registrada pelo CCZ como

material enviado ao laboratório totalizava 671, enquanto o VE – 7 apresentou o total

de 513 amostras recebidas pelo Laboratório de Apoio à Sanidade Animal. Neste

caso, a deficiência está focada em processos envolvendo a alimentação da ficha VE-

7, com evidentes falhas na captação dos dados disponíveis no CCZ.

Discrepâncias também foram observadas quando se tratam dos registros de animais

agressores submetidos à observação. Segundo o VE – 7 não foram registradas

observações de animais no período de 1999 a 2002; já no CCZ estão devidamente

documentados em prontuários de observação de agressor uma média de 373,5

animais observados em cada ano, no decorrer de quatro anos. Como neste caso a

fonte alimentadora da ficha VE-7 são as unidades de saúde, e não o CCZ, a origem

da discrepância é outra, centrada no não cumprimento, pelas unidades de saúde, das

normas de conduta frente a um animal suspeito. Essas diferenças evidenciam

também a baixa (ou não efetiva) inter-relação entre os setores voltados para a atenção

humana e animal.

Outras informações, como vacinação de cães e gatos (tanto em campanha como em

rotina ou foco), atividades de captura de animais e eutanásia, que são atribuições

exclusivas do CCZ, não apresentaram problemas.

Tanto no SINAN quanto na ficha VE-7 não existe especificação quanto à

procedência do animal, ou à situação de domicílio: animal domiciliado,

semidomiciliado, comunitário ou errante. Seria importante conhecer especificamente

esses casos, pois dele depende o esquema de tratamento anti-rábico profilático a ser

instituído, e também a determinação da possibilidade (ou não) da observação dos

animais agressores. Tal conhecimento também possibilitaria a indicação de uma política

específica para o controle da população de animais de animais errantes, caso necessário.

No que se refere ao diagnóstico laboratorial, percebe-se no SINAN um alto

percentual de registros com informação ignorada (41,03%). Além disso, o SINAN

informa 857 registros de exames laboratoriais negativos, o que sugere que havia este

número de animais clinicamente suspeitos, cujos exames laboratoriais foram negativos.

No entanto, as fichas VE-7 informam o encaminhamento de apenas 153 amostras ao

Laboratório de Sanidade Animal, com 17 confirmações. Pode-se afirmar, portanto, que

a maciça maioria dos registros de exames laboratoriais negativos informados pelo

SINAN não o são, devendo provavelmente tratar-se de animais não suspeitos de raiva

ou de informação ignorada.

Quanto à variável avaliação sorológica dos vacinados, percebe-se uma alta

freqüência de ignorados no SINAN, mas como a ficha VE – 7 não contempla essa

informação, a análise dessa variável fica comprometida. Em termos de vigilância

epidemiológica a realização do exame laboratorial e o preenchimento dos campos

correspondentes são importantes para a avaliação dos indivíduos vacinados. Em Cuiabá

tal avaliação, com base no SINAN, não é possível.

Quanto à presença de reação adversa, ao comparar o SINAN com o VE – 7,

observa-se que eles apresentam dados diferentes, pois no ano de 2003 o SINAN não

informou qualquer reação adversa (99,0% de registros “ignorados”), enquanto a ficha

VE-7 informou um caso de reação adversa, embora sem especificá-la.

Os dados do SINAN e do VE – 7 também não concordam quanto à freqüência de

abandono de tratamento profilático. O VE –7 apresenta 103 casos de abandono (Tabela

3) enquanto no SINAN 318 casos foram registrados (Tabela 36). Há que se analisar,

nesta situação, o modo como cada um dos sistemas coleta este dado. Como o SINAN o

coleta através do acompanhamento do caso, pela FII, o dado que ele fornece é mais

fidedigno. A fonte da ficha VE-7 é a própria unidade, onde os registros de doses

aplicadas, completadas e de abandono podem ser incompletos. Isto explicaria a menor

taxa de abandono registrada no VE-7.

O SINAN não contempla mais a informação específica acerca da situação

vacinal dos animais agressores. Esta variável foi excluída da ficha de investigação a

partir de 2001, não sem algumas potenciais perdas. Como a vacinação é uma das

principais medidas de controle da doença, a informação da situação vacinal dos animais

agressores, ainda que apenas “referida”, é um preditor dessas medidas. Além disso, tal

conhecimento pode auxiliar na tomada de decisão frente ao animal e à vítima.

De maneira geral, embora o preenchimento do SINAN tenha melhorado nos

últimos anos, ainda é possível identificar suas incoerências e inconsistências quando

comparado a outros instrumentos. Estas indicam a necessidade de capacitação e

conscientização dos profissionais envolvidos direta e indiretamente na profilaxia da

raiva, visando tanto a melhoria do sistema de notificação como o desenvolvimento de

estratégias de prevenção compatível com a realidade encontrada. Realidade esta que

exige o permanente fortalecimento de uma rede de vigilância epidemiológica com

capacidade de monitorar o perfil epidemiológico e suas alterações, detectando-as

prontamente, investigando e adotando medidas eficazes de prevenção e controle.

5. Conclusões

Neste estudo foram analisados em conjunto os bancos de dados do SINAN, VE –7 e

CCZ. Com base no que foi estudado pode-se dizer que:

1. No Município de Cuiabá, o principal animal agressor foi o cão; suas vítimas foram

predominantemente crianças que sofreram principalmente mordeduras, sendo que a

grande maioria destes atendimentos resultou em tratamentos profiláticos,

essencialmente no período de junho a outubro.

2. Estas agressões resultaram principalmente em lesões múltiplas, profundas em locais

como mãos, pés, cabeça/pescoço, membros inferiores e superiores, podendo então ser

consideradas graves.

3. O animal agressor se apresentava predominantemente sadio no momento da agressão,

e agrediu mais por ser feroz ou em atividades de lazer que por se apresentar suspeito

para a raiva.

4. Entre os animais agressores suspeitos de estarem infectados pelo vírus rábico, apenas

uma pequena proporção é encaminhada para confirmação laboratorial.

5. As agressões ocorrem com maior freqüência em regiões mais populosas do

município, primeiramente no Distrito Sanitário Sul, seguido pelo Distrito Sanitário

Leste.

6. Essas agressões estão ocorrendo sem predominância quanto ao nível de escolaridade.

7. Desde o último caso de raiva humana em Cuiabá, o número de doses de vacina

aplicada vem sendo reduzido, o mesmo comportamento é apresentado para a utilização

do soro. Já a redução do abandono de tratamento se inicia a partir de 2001.

8. Os animais observados pelo CCZ, por motivo de agressões, vêm decrescendo desde

2001 sendo desconhecido o número de agressões por animais errantes.

9. Entre as várias estratégias de vacinação animal, a campanha de vacinação é a que

atinge maior parcela da população animal.

10. Analisando isoladamente cada Sistema de Informação não seria possível chegar a

algumas destas constatações.

11. O banco de dados do SINAN individualmente não atende plenamente às necessidades de informação de informações de instituições, programas e serviços. Embora tenha se evidenciado a melhoria no preenchimento do SINAN, desde 2001, e ele seja o Sistema cujas variáveis, no caso da raiva, melhor permitem o conhecimento acerca de vítimas, de animais e da própria agressão, ele ainda apresenta muitas limitações. Salientam-se principalmente a subnotificação de dados e a baixa qualidade das informações relativas ao tratamento anti-rábico profilático.

12. Em Cuiabá, instrumentos de outros sistemas ou serviços, como as fichas VE-7 e do Centro de Controle de Zoonoses, revelaram melhor a magnitude do problema e a situação dos animais agressores.

13. O uso paralelo do SINAN e o VE – 7, vem acarretando duplicidade e divergência de dados e/ou informações. Estas poderiam ser equacionadas caso houvesse uma aproximação entre as instâncias responsáveis por cada um dos sistemas buscando a compatibilização, a troca ou a fusão de dados e informações.

6. Recomendações

Face aos aspectos levantados pelo trabalho, relacionam-se algumas sugestões que

poderiam melhorar a efetividade dos Sistemas de Informação, no que tange às agressões

por animais passíveis de transmissão da raiva humana. Isto permitiria o melhor

conhecimento sobre este problema de saúde pública e a proposição de intervenções mais

adequadas:

Comunicação e/ou integração entre os serviços responsáveis pelo controle da

raiva humana e animal no Município de Cuiabá, visando tanto a maior

abrangência de captação de dados e sua fidedignidade quanto a maximização de

recursos e a efetividade das medidas adotadas.

Introdução de dados que identifiquem a procedência do animal e situação de

domicilio (animal domiciliado, semidomiciliado, comunitário ou errante). A

inclusão destas informações aperfeiçoaria o importante instrumento de

Vigilância em Saúde que representa o SINAN.

Introdução de dados que identifiquem qual dos esquemas de pós-exposição é

adotado para cada situação de agressão que necessitem do tratamento profilático.

Dessa forma seria possível fazer associação e avaliação do tratamento indicado

segundo agressão e situação do animal agressor.

Introdução de dados acerca da situação vacinal dos animais agressores nas fichas

de interesse à vigilância em saúde, pois embora a história vacinal do animal

agressor não constitua isoladamente elemento suficiente para a dispensa da

indicação do tratamento anti-rábico humano, a vacinação em massa é a principal

medida de impacto para o controle da raiva transmitida por cães.

Substituição do termo canino e felino usado para os animais agressores

conforme consta na ficha VE-7 para o termo cães e gatos, pois o grupo

taxonômico canino representa outros animais além dos cães, como por exemplo,

os lobos, raposas, chacais e coiotes; e o mesmo ocorre como os felinos, pois

neste grupo se encontram além dos gatos, os leões, onças, jaguatiricas, tigre.

Promoção de programas educativos sobre os riscos de acidentes por animais na

infância a fim de evitá-los. A prevenção pode ser melhor efetuada quando se

conhecem os diversos fatores envolvidos na gênese desse tipo de acidente.

Conhecimento da população animal, através do censo animal ou do

cadastramento de animal de estimação junto ao Centro de Controle de Zoonoses,

a exemplo da capital paulista, que instituiu sua obrigatoriedade, para obtenção

de seu Registro Geral Animal (RGA). Tais estratégias podem propiciar

descobertas das peculiaridades da população animal, além de embasar futuras

políticas de saúde.

Conscientização da necessidade de priorização das atividades de vigilância

epidemiológica, observação de animais agressores (cães e gatos) e envio de

amostras de animais suspeitos para diagnóstico laboratorial.

Informação, atualização e interação constante entre os profissionais envolvidos

com a raiva nas diferentes instituições públicas responsáveis, direta e

indiretamente, com a profilaxia da raiva.

Introdução do controle da população animal urbana, com implantação de

programas de castração voluntária de cães e gatos – machos e fêmeas – a baixo

custo ou gratuita, dirigida à população de baixa renda.

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Anexo 1.

Quadro 1- Esquema de Tratamento Profilático Anti-Rábico Humano com a vacina

Fuenzalida & Palácios modificada

Condições do Animal Agressor

Cão ou Gato sem suspeita de raiva no momento da agressão

Cão ou Gato clinicamente suspeito de raiva no momento da agressão

Cão ou Gato raivoso desaparecido ou morto; animais silvestres (inclui domiciliados); animais domésticos de interesse econômico e de produção

Tipo de Agressão

Contato indireto Lavar com água e sabão; não tratar

Lavar com água e sabão; não tratar

Lavar com água e sabão; não tratar

Acidentes Leves

Ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente únicos em troncos e membros (exceto mãos e polpas digitais e planta dos pés); podem ocorrer em decorrência de mordeduras ou arranhaduras causados por unha ou dente Lambedura de pele com lesões superficiais

Lavar com água e sabão Observar o animal por 10 dias após exposição Caso permanecer sadio, após período de observação, encerrar o caso Se o animal se tornar raivoso, morrer ou desaparecer durante o período de observação, aplicar 1 (uma) dose diária de vacina até completar 7 (sete), mais 2 (duas)doses de reforço, sendo uma no 10º outra no 20º dia após ultima dose da série

Lavar com água e sabão Iniciar tratamento imediato com 1 (uma) dose da vacian nos dias 0, 2 e 4 Observar o animal por 10 dias após exposição. Se o mesmo permanecer sadio, após período de observação, encerrar o caso Se o animal se tornar raivoso, morrer ou desaparecer durante o período de observação, aplicar 1 (uma) dose diária de vacina até completar 7 (sete), mais 2 (duas)doses de reforço, sendo uma no 10º outra no 20º dia após ultima dose da série

Lavar com água e sabão Iniciar o tratamento imediatamente com 1 (uma)dose diária da vacina até completar 7 (sete)mais 2 (duas)doses de reforço, uma no 10º e outra no 20º dia após ultima dose da série.

Acidentes Graves Ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé/ ferimento profundos, múltiplos ou extensos, em qualquer região do corpo, lambedura de mucosas, lambedura de pele onde já existe lesão grave, ferimento profundo causado por unha de gato

Lavar com água e sabão Iniciar o tratamento imediatamente com 1 (uma)dose da vacina nos dias 0, 2 e 4. Observar o animal por 10 dias após exposição. Se o mesmo permanecer sadio, após período de observação, encerrar o caso. Se o animal se tornar raivoso, morrer ou desaparecer dar continuidade ao tratamento, administrando o soro e

Lavar com água e sabão Iniciar o tratamento imediatamente com soro 1 (uma)dose diária até completar 10 (dez) dias, mais 3 (três). Se o animal se tornar raivoso, morres ou desaparecer durante o período de observação, aplicar 1 (uma) dose diária da vacina até completar 7 (sete), mais 2 (duas) doses de reforço, sendo uma no 10° e outra no 20° dia após a exposição. Se a suspeita de raiva for

Lavar com água e sabão Iniciar imediatamente o tratamento com soro e com 1 (uma) dose diária de vacina até completar 10(dez) mais 3 (três) doses de reforço sendo a 1° no 10°, a 2° no 20° e a 3° no 30° após a ultima dose da série.

completando o esquema com 1 (uma dose mais 3 (três)doses de reforço sendo a 1° no 10°, a 2° no 20° e a 3° no 30° após ultima dose da série.

descartada após o 10° dia de observação, suspender o tratamento e encerrar o caso.

Fonte: (Brasil, 2002).

Anexo 2.

Quadro 2 – Esquema de Tratamento Profilático Anti-Rábico Humano com a vacina

Cultivo Celular

Condições do Animal Agressor

Cão ou Gato sem suspeita de raiva no

momento da agressão

Cão ou Gato clinicamente suspeito de

raiva no momento da agressão

Cão ou Gato raivoso desaparecido ou morto;

animais silvestres (inclui domiciliados); animais domésticos de interesse

econômico e de produção

Tipo de Exposição

Contato Indireto Lavar com água e sabão; não tratar

Lavar com água e sabão; não tratar

Lavar com água e sabão; não tratar

Acidentes Leves

Ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente únicos em troncos e membros (exceto mãos e polpas digitais e planta dos pés); podem ocorrer em decorrência de mordeduras ou arranhaduras causados por unha ou dente

Lambedura de pele com lesões superficiais

Lavar com água e sabão Observar o animal por 10 dias após exposição Caso permanecer sadio, após período de observação, encerrar o caso Se o animal se tornar raivoso, morrer ou desaparecer administrar 5 (cinco) doses de vacina (dias 0, 3, 7, 14 e 28)

Lavar com água e sabão Iniciar tratamento imediato com 2 (duas) doses da vacina nos dias 0 e 3. Observar o animal por 10 dias após exposição. Se o mesmo permanecer sadio, após período de observação, encerrar o caso Se o animal se tornar raivoso, morrer ou desaparecer completar o esquema até 5 (cinco) doses. aplicar 1 (uma) dose entre o 7º e 10º e uma dose nos dias 14 e 28

Lavar com água e sabão Iniciar tratamento imediato

com 5 (cinco) doses da vacina administradas nos

dias 0, 3, 7, 14, 28.

Acidentes Graves Ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé/ ferimento

profundos, múltiplos ou extensos, em qualquer

região do corpo, lambedura de mucosas, lambedura de pele onde já existe lesão

grave, ferimento profundo causado por unha de gato

Lavar com água e sabão Observar o animal por 10 dias após exposição Iniciar o tratamento com 2 doses da vacina uma no dia 0 e outra no dia 3. Caso permanecer sadio, após período de observação, encerrar o caso Se o animal tornar raivoso, morrer ou desaparecer dar continuidade ao tatamento, administrando soro e completando o esquema com até 5 doses. Aplicar uma dose entre o 7° e o 10º dia e uma dose nos dias 14 e 28.

Lavar com água e sabão Iniciar o tratamento

imediatamente com sors e 5 doses de vacina nos dias 0,

3, 7, 14 e 28 Observar o animal durante

10 dias após exposição Se a suspeita de raiva for descartada após o 10º dia

de observação suspender o tratamento e encerrar o

caso

Lavar com água e sabão Iniciar o tratamento

imediatamente com soro e 5 doses de vacina nos dias

0, 3, 7, 14 e 28

Fonte: Ministério da Saúde, 2002

Anexo 3.

Quadro 3 – Esquema de Reexposição, conforme o esquema e vacina prévios e a vacina

a ser utilizada por ocasião da reexposição.

Tipo de esquema anterior

vacina Esquema de reexposição Fuenzalida & Palacios Cultivo Celular

Completo Fuenzalida & Palácios modificada

a) Até 90 dias: não tratar b) após 90 dias: 3 doses em dias alternados

a) Até 90 dias: não tratarb) após 90 dias: 2 doses, uma no dia 0 e outra no

dia 3 Cultivo Celular a) Até 90 dias: não tratar

b) após 90 dias: 3 doses em dias alternados

a) Até 90 dias: não tratarb) 2 doses, uma no dia 0

e outra no dia 3 Incompleto Fuenzalida & Palácios

modificada a) Até 90 dias: completar

o n° de doses b)após 90 dias: ver esquema de pós exposição

a) Até 90 dias: completar o n° de doses

b)após 90 dias: ver esquema de pós

exposição Cultivo Celular a) Até 90 dias: vide

observação b)após 90 dias: ver

esquema de pós exposição

a) Até 90 dias: completar o nº de doses

b)após 90 dias: ver esquema de pós

exposição Fonte: Ministério da Saúde, 2002

Anexo 4. SINAN . Sistema de Informação de Agravos de Notificação Ficha Individual de Notificação

Anexo 5. SINAN . Sistema de Informação de Agravos de Notificação

Ficha de Individual de Investigação

Anexo 6. Sistema de Vigilância da Raiva

Ficha VE – 7

Anexo 7. Centro de Controle de Zoonoses (CCZ)

Ficha de registro e avaliação de animal agressor

Anexo 8. Centro de Controle de Zoonoses (CCZ)

Prontuário de observação e avaliação de animal agressor

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