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Page 1: Experiência na Mitigação dos Riscos Socioambientais no

Itaú Unibanco2021

Experiência na Mitigação dos Riscos Socioambientais no Financiamento de Projetos

O objetivo desse paper é dar publicidade e compartilhar conhecimento sobre a diligência socioambiental adotada pelo Itaú Unibanco no processo de financiamento a projetos.

Page 2: Experiência na Mitigação dos Riscos Socioambientais no

Por que fazemos isso?Para o Itaú Unibanco, o cliente está no centro de tudo. Parte significativa do valor que nossas operações podem trazer para a sociedade - e, naturalmente, para os nossos clientes - depende do nosso compromisso de construir um futuro sustentável por meio de nossos negócios.EnEntendemos que, ao incluir a dimensão socioambiental na nossa gestão de risco, assumimos a postura de agentes de transformação, contribuindo para a revisão das práticas do mercado, criando valor para a nossa sociedade atual e para as gerações futuras.

No que tange as operações de financiamento de projetos, nas quais sabemos para que e/ou para onde são direcionados os nossos recursos, a nossa responsabilidade pode ser ainda maior.PPor isso, nossa due diligence socioambiental é realizada previamente ao fechamento dessas operações e possuímos, durante toda a vigência de nossos contratos, um processo robusto de monitoramento da conformidade socioambiental que pode incluir, até mesmo, visitas às instalações.

Desde 2004 somos signatários dos Princípios do Equador - um conjunto de diretrizes e critérios que visa identificar e avaliar os riscos e impactos socioambientais em consultorias e financiamentos de projetos, empréstimos-ponte e fianças corporativas relacionadas a projetos.AlémAlém disso, mesmo para operações de financiamento de projetos para as quais os Princípios do Equador não são obrigatoriamente aplicados, realizamos uma due diligence socioambiental que contempla as fases de identificação, mitigação, gestão e monitoramento do risco socioambiental. Entendemos que parte de nosso papel como agentes de transformação é compartilhar conhecimentos e boas práticas. Com esse objetivo, compartilhamos nossas práticas e o que aprendemos com a gestão do risco socioambiental em operações de financiamento de projetos.

Como fazemos isso?AA gestão de risco socioambiental é aplicada a todos os financiamentos de projetos, incluindo empréstimos-ponte, e começa antes do fechamento do negócio. A assinatura e os desembolsos dos contratos estão condicionados à avaliação prévia de riscos socioambientais.

AAo aplicar os Princípios do Equador , somos guiados pelas melhores práticas do mercado internacional e focamos nossos esforços no engajamento de todas as partes interessadas em uma due diligence robusta e transparente. Nesse sentido, a análise começa com a categorização prévia do projeto com base em questões materiais e sensíveis, como seu impacto sobre as populações tradicionais, mudanças climáticas e direitos humanos, de acordo com os Padrões de Desempenho da IFC. Em seguida, a análise progride para um nível mais aprofundado e detalhado e, além dos impactos, avaliamos as práticas de gestão adotadas para tratar esses impactos. Tudo isso é então comparado aoaos padrões estabelecidos pela IFC e pela legislação local.

A categorização do projeto pode variar entre alto, médio ou baixo risco. Caso sejam identificadas lacunas entre os impactos e as medidas mitigadoras adotadas, exigimos melhorias no sistema de gestão socioambiental do projeto e poderá ser elaborado um plano de ação a ser inserido no contrato e monitorado periodicamente ao longo da vigência do financiamento. Além disso, os fatores socioambientais têm um impacto direto na classificação final do risk rating do projeto, permitindo uma precificação mais acurada, assim como para melhor alocação de capital baseada nos riscos identificados ou mitigantes encontrados.

PPara saber mais sobre nosso processo de due diligence socioambiental e saber o número de negócios relacionados a projetos fechados no último ano, consulte as informações disponíveis em nosso Relatório ESG.

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Nossos casos

1Engajando o cliente na investigação do risco socioambiental - Projeto Imobiliário

DDe maneira geral, os projetos imobiliários são classificados como de baixo risco socioambiental. Contudo, existe – em especial – uma situação que representa um risco socioambiental e que vale ser observada por uma instituição financeira durante a avaliação do crédito para a construção de um empreendimento. Trata-se de potencial contaminação do solo e da água subterrânea, situação relativamente comum em grandes centros urbanos, dado o cenário no qual novas áreas residenciais são constituídas em regiões que no passado possuíam atividades industriais, e que pode trazer diversos riscos e restrições não só para os futuros moradores, mas como também para os trtrabalhadores do empreendimento imobiliário.

A fim de mitigar esse risco, o Itaú adota algumas medidas: aplica-se um questionário ambiental, respondido pelo cliente, que investiga o uso atual e pretérito do terreno, também é solicitada toda documentação técnica, bem como aprovações ambientais. Contamos também com a visita de uma empresa terceira de engenharia que realiza, de maneira complementar, uma avaliação visual do terreno em busca de indícios de contaminação, além do acompanhamento de obra. As respostas dadas ao questionário ambiental, ainda podem passar por uma dupla checagem quando avaliamos não somente o imóvel em si, mas também características do seu entorno. Nos casos em que há indíciindícios de uma possível contaminação no local, exigimos também estudos ambientais específicos mais detalhados sobre o potencial de contaminação do solo e da água subterrânea.

Um bom exemplo dessa diligência foi o financiamento de um projeto imobiliário residencial na cidade de São Paulo: no início da avaliação o cliente alegou que o terreno do projeto a ser financiado não possuía histórico de ocupação sem ser residencial, não sendo, portanto, necessária a verificação da possibilidade de contaminação do solo e/ou águas subterrâneas no local. No entanto, ao fazer a dupla checagem do entorno, encontramos uma subestação de energia elétrica muito próxima ao local do empreendimento, sendo que, em sua grande maioria, essas subestações são antigas e possuem transformadores que se utilizam de óleos lubrificantes com grande potencial de contaminação.

DianDiante deste cenário, apesar da resistência do cliente em um primeiro momento, exigimos a elaboração de um estudo investigativo por um consultor técnico independente como condição precedente para desembolso. Para engajar o cliente e conscientizá-lo da importância de identificar e tratar eventuais riscos encontrados, realizamos uma série de diálogos com o intuito de explicar os possíveis desdobramentos de uma contaminação não remediada, como explosões durante as obras, riscos à saúde dos futuros moradores locais, bem como os benefícios provenientes da realização desse estudo. Conseguimos então que o cliente compreendesse que o estudo possuía um excelente cuscusto-benefício e tinha um grande potencial de evitar atrasos ou embargos na obra caso alguma situação de risco fosse identificada.

O estudo foi apresentado, conforme acordado, e confirmou-se através do histórico da subestação e dos documentos enviados pela distribuidora de energia, que não havia condições propícias para um cenário de contaminação no local. Dessa forma, o crédito foi liberado e os riscos socioambientais foram devidamente mitigados, garantindo condições seguras para os trabalhadores e possíveis moradores do local. Além disso, evitou-se possíveis atrasos e impactos financeiros na obra e uma possível exposição midiática negativa para o empreendimento e para o Itaú.

¹Os critérios de corte estabelecidos pelos Princípios do Equador estão disponíveis no site equator-principles.com

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Nossos casos

2Prevenindo impactos às populações tradicionais - Projeto de geração de energia

Um Um aspecto muito importante na gestão socioambiental realizada pelo Itaú no financiamento de projetos é o mapeamento de todas as populações que podem ser direta ou indiretamente afetadas pelo projeto, em especial, essa boa prática deve ser respeitada para identificar se o projeto apresenta potencial conflito com populações tradicionais. Além disso, o time de risco socioambiental do Itaú verifica os potenciais conflitos judiciais e extra judiciais existentes na região para confrontar com as práticas adotados pelo cliente e exige estudos que mapeiam, se necessário, a respectiva proposição de medidas mitigadoras.

Em Em 2020, ao realizar uma operação de fiança para um projeto de geração de energia no norte brasileiro, verificamos em nossa diligência que o projeto dependia, visto a falta de alternativas de transporte na região, da utilização de uma estrada que, em certo trecho, atravessa uma terra indígena com histórico de conflitos com caminhoneiros locais.

Quando quQuando questionado sobre esse possível impacto e quais as medidas mitigadoras que estavam sendo adotadas, o cliente nos informou que, de acordo com estudos socioambientais conduzidos, não foram identificados impactos diretos sobre essa população. No entanto, ele nos disse que poderia haver um risco indireto e que, portanto, um representante do projeto, especialista no relacionamento com comunidades do local, já havia entrado em contato - não somente com os indígenas - mas também com outras comunidades que vivem às margens da rodovia, para entender quais eram as suas demandas e/ou preocupações. Em suma, as comunidades haviam se queixado da falta de segurança e e tranquilidade por conta da velocidade dos veículos e do horário do tráfego próxima à aldeia. Assim, o cliente propôs aos indígenas duas medidas mitigadoras: o controle de velocidade máxima em sua frota, assim como o tráfego apenas nos horários combinados com os indígenas para evitar ocorrências de acidentes como, por exemplo, o atropelamento de animais noturnos.

Mesmo com a excelente abordagem proativa do cliente frente a esse risco indireto, entendemos que seria necessária uma diligência complementar para abordar possíveis cenários de acidentes de transporte que poderiam afetar a população indígena. Solicitamos então, como condição para desembolso da operação, a elaboração de estudos adicionais para prever esses cenários de risco e o subsequente desenvolvimento de planos de emergência para mitigá-los.

CComo resultado dos estudos adicionais, identificou-se, entre outras coisas, a necessidade de se definir condições técnicas mínimas dos veículos para que explosões fossem evitadas, bem como o mapeamento de rotas alternativas para garantir a continuidade da operação fora dos horários liberados pelas comunidades na rota principal. Dessa forma, o Itaú entende que tenha agregado valor à gestão de risco do cliente ao apontar a necessidade de aprofundamento dos seus estudos e, consequentemente, ao serem adotadas medidas de segurança mais robustas para evitar possíveis impactos em populações tradicionais e na operacionalização do projeto.

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Nossos casos

3Visão integrada do risco socioambiental – Projeto de linha de transmissão

DDevido às extensas dimensões continentais e uma matriz energética integrada, o Brasil necessita de uma quantidade considerável de investimento em projetos de transmissão de energia de longa extensão. Nesse tipo de empreendimento, é comum que o processo de licenciamento ambiental de um único projeto seja fragmentado em diversas etapas.

DDe maneira mais detalhada, usualmente o licenciamento ambiental de projetos de linhas de transmissão inicia-se com uma licença prévia que aprova a concepção do projeto. O segundo passo consiste na obtenção das licenças ambientais de instalação, necessárias para início da construção. Em alguns casos, as licenças de instalação podem ser emitidas de forma fracionada, como é comum nos projetos de linhas de transmissão de longa extensão para facilitar o início da construção de trechos do projeto que não possuem restrições socioambientais.

No enNo entanto, essa fragmentação não mitiga a possibilidade de que um trecho com maior complexibilidade ou magnitude de impacto socioambiental acabe sendo o motivo de um grande sobrecusto ou atraso na conclusão da instalação do projeto. Dessa maneira, do ponto de vista de um credor, surgem dois grandes riscos socioambientais: o risco de crédito e o risco legal. O primeiro é relativo à possibilidade de o cliente ter dificuldades financeiras caso não consiga concluir o projeto no prazo e no custo orçado e o segundo é relativo ao fato de o banco não poder financiar uma obra cujo licenciamento ambiental esteja pendente, considerando que a legislação brasileira entende essa obra como ircomo irregular.

Um bom exemplo de como o Itaú lida com essas situações e faz a gestão desses riscos foi a diligência adotada no financiamento de um projeto de construção de linhas de transmissão que totalizavam mais de mil quilômetros de extensão, no estado de Minas Gerais, no qual o empreendedor não possuía ainda as licenças ambientais de instalação de todos os trechos da linha no momento da solicitação do crédito.

Para a mitigação do risco de crédito, foi estruturada junto à área de crédito uma proposta para o estabelecimento de garantias contratuais fortes que limitavam o risco do banco até a emissão das devidas licenças ambientais de instalação. Para a mitigação do risco legal, foi necessário que o cliente apresentasse um quadro detalhado do uso dos recursos solicitados. Com esse quadro, conseguimos, junto ao departamento jurídico, estabelecer um plano contratual de desembolso atrelado à obtenção das licenças necessárias. Este plano determinou a necessidade de dois desembolsos: o primeiro deveria ser destinado aos trechos já licenciados e para as atividades não passíveis de licenciamento e poderia poderia ser desembolsado imediatamente; já o segundo desembolso foi condicionado a apresentação das licenças ambientais pendentes e se destinava aos trechos restantes.

Dessa maneira, ao adotar uma visão integrada do risco socioambiental agregando as visões e expertise das áreas de crédito e jurídica, conseguimos estruturar o financiamento de maneira a mitigar eventuais riscos de inadimplência e de corresponsabilização jurídica para o banco.

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