riscos socioambientais pensamentos de ulrich beck -publicado olam dez. 2010

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 RISCOS SOCIOAMBIENTAIS: PENSAMENTOS DE ULRICH BECK Yoshiya Nakagawara Ferreira 1 Introdução O presente artigo faz um resgate dos principais pensamentos do sociólogo e filósofo alemão Ulrich Beck, considerado um filósofo que se expressa de forma integrada à sociedade no mundo contemporâneo. Desde a primeira publicação da sua obra em 1986, Risikogesellschaft: Auf de m weg in ei ne an de re Mo de rne, na lí ng ua alemã, a repercussão do seu pensamento se espalhou pelo mundo, acrescentando e reafirmando pensamentos de nível global sobre os riscos que a sociedade atual enfrenta e enfrentará, tendo em vista a forma desorganizada, sem um planejamento socioambiental de grande alcance que a questão ambiental requer. O cerne das suas ideias foi amplamente conhecido e difundido somente a partir de 1992, após a publicação da tradução inglesa da sua obra, tornando mais fácil a apreensão dos seus pensamentos, em forma de alerta sobre os riscos que a sociedade está exposta, sua governabilidade e as alternativas para enfrentá-los. Apresentamos uma síntese dos principais pensamentos contidos nas suas obras, fazendo algumas referências sobre a importância destes pensamentos-alerta, difundindo a ideia de Risk Socie ty . Ent re as inúmeras conferências pro fer ida s recentemente, observamos atentamente a realizada em novembro de 2008, na Universidade de Harward, na publicação autorizada pelo autor e intitulada Risk Society’s Cosmopolitan Moment , na qual Beck faz um rápido retrospecto das suas ideias e sintetiza o atual momento, que o autor considera como um momento cosmopolita quando afirma que a “[...] sociologia cosmopolita distingue claramente a si própria de uma universalista, porque ela não parte de algo abstrato [...].”, pois, “[...] OLAM – Ciência & Tecnologia – ISSN 19827784 – l Rio Claro / SP, Brasil http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/olam/index Ano X, Vol. 10, n. 2, AgostoDezembro / 2010, p. 1

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OLAM – ISSN 1982-7784 – Rio Claro/SPAno X. Vol.10, n.2, Agosto-Dezembro/2010.

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RISCOS SOCIOAMBIENTAIS: PENSAMENTOS DE ULRICH BECK

Yoshiya Nakagawara Ferreira1

Introdução

O presente artigo faz um resgate dos principais pensamentos do sociólogo e

filósofo alemão Ulrich Beck, considerado um filósofo que se expressa de forma

integrada à sociedade no mundo contemporâneo.

Desde a primeira publicação da sua obra em 1986, Risikogesellschaft: Auf 

dem weg in eine andere Moderne, na língua alemã, a repercussão do seu

pensamento se espalhou pelo mundo, acrescentando e reafirmando pensamentos

de nível global sobre os riscos que a sociedade atual enfrenta e enfrentará, tendo

em vista a forma desorganizada, sem um planejamento socioambiental de grande

alcance que a questão ambiental requer.

O cerne das suas ideias foi amplamente conhecido e difundido somente a

partir de 1992, após a publicação da tradução inglesa da sua obra, tornando mais

fácil a apreensão dos seus pensamentos, em forma de alerta sobre os riscos que a

sociedade está exposta, sua governabilidade e as alternativas para enfrentá-los.

Apresentamos uma síntese dos principais pensamentos contidos nas suas

obras, fazendo algumas referências sobre a importância destes pensamentos-alerta,

difundindo a ideia de Risk Society . Entre as inúmeras conferências proferidas

recentemente, observamos atentamente a realizada em novembro de 2008, na

Universidade de Harward, na publicação autorizada pelo autor e intitulada Risk 

Society’s Cosmopolitan Moment , na qual Beck faz um rápido retrospecto das suas

ideias e sintetiza o atual momento, que o autor considera como um momento

cosmopolita quando afirma que a “[...] sociologia cosmopolita distingue claramente a

si própria de uma universalista, porque ela não parte de algo abstrato [...].”, pois, “[...]

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segue o caminho empírico e metodológico que outras disciplinas – como a

antropologia, a geografia e a etnologia contemporânea – já tomaram com

entusiasmo.” (BECK, 2008a, p.9-10).

Beck inicia a conferência de forma critica e irônica sobre a sociedade

contemporânea: “Com o fanatismo dos convertidos, banqueiros – agora banksters

uma fusão de banqueiro com gangster aos olhos do público – estão exigindo a

intervenção do Estado para cobrir suas perdas”. Em seguida, propõe uma pergunta

que exige muita reflexão para uma resposta, a seguir:

Então, será que a forma estatal chinesa de gerir como a indústria privada,até aqui ridicularizada, maldita e temida, também começa a encontrar seucaminho nos centros anglo-saxões do capitalismo laissez-faire? Comopodemos explicar esse poder revolucionário de riscos financeiros globais?(BECK, 2008a, p. 1).

 

Beck se refere à ironia do risco e da ambivalência do risco, pois, estar em

risco é a maneira de ser e de governar no mundo da modernidade; estar em risco

global é a condição humana no início do século XXI (BECK, 2008a, p.1).

Prosseguindo em sua análise propõe outra questão, como um dos eixos de

sua exposição sobre a natureza do sentimento de desgraça, atualmente difundido:

[...] qual artifício da história é igualmente inerente à sociedade de risco eemerge com sua realização? Ou, formulando de maneira mais firme: háuma função iluminadora, um momento cosmopolita da sociedade de riscomundial? Assim, quais são as oportunidades da mudança climática e dacrise financeira, e que formato elas tem? (BECK, 2008a, p.1).

Beck incorpora o pensamento de que nas fundações do pensamento

sociológico europeu há certa nostalgia que nunca desapareceu e que

paradoxalmente, essa nostalgia pode ser superada com a teoria da sociedade de

risco mundial.

Iniciaremos o texto com algumas considerações gerais sobre a crise

ambiental da sociedade contemporânea. Como são ideias mais conhecidas e

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difundidas, localizaremos alguns aspectos pontuais e emergentes, que indicam a

necessidade inadiável de uma governabilidade solidária, com uma conscientização

voltada para a ecologia da mente e da vida, visando um habitar mais qualitativo e

digno à sobrevivência neste planeta.

Planeta emergente

Logo após a Segunda Guerra Mundial, houve uma grande corrida para

recuperar a organização social e econômica dos países envolvidos nesse sufrágio. A

reorganização planejada envolveu a submissão e a expansão de domínios

territoriais, onde os direitos humanos e a justiça social ainda não tinham alcançado

um estágio de compreensão do desenvolvimento humano. A tecnologia e os

conhecimentos científicos tiveram um avanço considerável, como também os meios

de comunicação. A difusão tecnocientífica se ampliou de forma acelerada e

localizada em algumas regiões de maior interesse econômico ou de dominação

política. A industrialização crescente dos países desenvolvidos e países emergentes

na época, não teve a preocupação ecossistêmica e ecológica que o momento exigia.Houve um grande crescimento industrial, novas formas de dominação geopolítica se

configuraram. Essa mundialização trouxe uma série de consequências que refletiram

na qualidade de vida do ambiente e de todos os seres vivos.

Por outro lado, o acelerado crescimento demográfico do mundo, trouxe

necessidades emergentes para a qualidade de vida, como também planejamentos

socioeconômicos e políticos, que se expandiram além das fronteiras do Estado-Nação. Houve uma alteração na distribuição urbana como rural e, a partir dos

meados da década de 1970, ocorreu uma grande mudança no ritmo de crescimento

da população urbana: “[...] quando a taxa de crescimento mundial da população

urbana subiu e passou a ser o dobro da que teve a população rural [...]”, incremento

dado ao enorme aumento populacional das cidades nos países em vias de

desenvolvimento (MONTEIRO, 2010, p.8).

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Essa nova configuração da distribuição populacional redesenha a

necessidade de novas formas de organização e gestão do território, pois essa

redistribuição, segundo Monteiro (2010), trouxe novos desenhos, distintos dos

séculos anteriores. O tipo de ocupação do solo e de consumo de recursos naturais

no planeta é substantivamente diferente do que acontecia na primeira metade do

século XX. A população se concentrou principalmente nas cidades, ocupando muito

menos espaço per capita, mas com um estilo de vida e padrão de bem estar urbano.

Isto, significou um aumento substantivo da sua pegada ecológica.

Com a facilidade dos meios de comunicação no “período tecnocientífico e

informacional” (SANTOS, 1994), emerge um mundo com mais riscos de toda ordem,

produzindo desigualdades, alem de exclusões sociais e econômicas.

A globalização não produz riscos, mas os amplifica, distribui e acentua asdesigualdades produzidas pela globalização econômica. Contudo, a açãolocal será determinante. Ian Burton, Robert W. Kates e Gilbert F. White,geógrafos pioneiros nos estudos dos hazards, nos Estados Unidos, afirmamque a percepção dos riscos e as tomadas de decisão, ou seja, as respostashumanas aos riscos, ocorrem nos níveis individual, comunitário e nacional,procurando superar os efeitos negativos dos riscos mediante a percepção

individual e grupal. (BURTON; KATES; WHITE, 1978; POLTRONIÉRI, 1988apud MARANDOLA JR.; FERREIRA, 2004, p.10-11).

  Há uma “contingência climática”, que Mendonça (2010), detalha no seu

trabalho sobre Riscos e Vulnerabilidades Socioambientais Urbanos, onde analisa a

urbanização como um processo de dinamização das cidades. Mendonça destaca

também a necessidade de inserir o estudo da cidade e o clima, em particular o clima

urbano, como um recorte fundamental à compreensão dos problemas urbanos e à

sua gestão no presente e no futuro1.

Um dos últimos pensamentos de Beck sobre a atual situação socioambiental

deste planeta é a realidade expressa no cotidiano da nossa vida, não importa o

lugar, o país ou a comunidade, tudo está contido numa totalidade que oferece ou

recebe influência das nossas ações, individuais ou coletivas: “Vivemos numa

sociedade mundial do risco, não só no sentido de que tudo se transforma em

decisões, cujas conseqüências se tornam imprevisíveis, ou no sentido das

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sociedades de gestão do risco, ou naquele das sociedades do discurso sobre o

risco.” (BECK, 2008b, p.1).

Para Beck, a sociedade de risco é,

[...] uma constelação na qual a idéia que guia a modernidade, [...] idéia dacontrolabilidade dos efeitos colaterais e dos perigos produzidos pelasdecisões, tornou-se problemática, uma constelação na qual o novo saber serve para transformar os riscos imprevisíveis em riscos calculáveis [...] mas[...] produz novas imprevisibilidades [...]. Através desta "reflexividade daincerteza", a indeterminabilidade do risco no presente se torna, pelaprimeira vez, fundamental para toda a sociedade, de modo que devemosredefinir nossa concepção da sociedade e nossos conceitos sociológicos(BECK, 2008b, p.1).

Desta forma, a sociedade mundial de risco gera um “impulso cosmopolita”,

que Beck confronta com as ideias anteriores de risco: “[...] no confronto histórico

com o antigo cosmopolitismo, com o   jus cosmopoliticum do iluminismo (Kant) ou

com os crimes contra a humanidade (Hannah Arendt, Karl Jaspers); os riscos

globais colocam-nos em confronto com ‘o outro’, aparentemente excluído.” (BECK,

2008b, p.1).

As tendências sobre a “reflexividade da incerteza” e o “impulso cosmopolita”

de Beck possibilitam uma meta-mudança da sociedade no século XXI, explicitado

abaixo em quatro itens:

1-Os níveis local, nacional e global estão em cena ao mesmotempo;

2-O futuro é integrado ao presente no risco mundial pela suainteriorização e possibilidades de criação de modelosorganizacionais desconhecidos;

3-Grandes riscos indesejados como a alteração climática eoutros como os ataques terroristas, criando uma grandeexpectativa pública;

4-Realiza-se uma mudança cultural geral, com um novo modode entender a natureza e suas relações com a sociedade,entendendo nós e aos outros, com racionalidade social,

liberdade, democracia e legitimação.

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Assim no pensamento de Beck,

Todos os perigos essenciais se tornaram perigos mundiais, a situação decada nação, de cada etnia, de cada religião, de cada classe, de cadaindivíduo em particular é também o resultado e a origem da situação dahumanidade. O ponto decisivo é que, de agora em diante, a principal tarefaé a preocupação pelo todo. Não se trata de uma opção, mas da própriacondição (BECK, 2008b, p.1).

Complementando esse pensamento, Beck analisa que, o conceito de

sociedade mundial de risco se perfila como uma mudança da sociedade, da política

e da história, que até permaneceu incompreendida e que a principal tarefa, agora, é

de todos, porque ninguém jamais o previu, desejou ou escolheu, mas brotou de

decisões da soma de suas conseqüências, e se tornou uma “condição humana”.

Os pensamentos de Beck, acima expostos de forma bem sintética, têm tido

uma ressonância positiva, principalmente neste século XXI, quando os seus escritos

se tornaram mais conhecidos e estudados em academias do mundo inteiro. Nos

itens seguintes, alguns pensamentos serão mais detalhados, principalmente a noçãode “momento cosmopolita”.

Alertas de Ulrich Beck na década de 1980 e seus pensamentos

Na década de 1980, os organismos internacionais e as universidades ainda

não tinham incorporado, como questão da condição humana, a necessidadeinadiável de retomar de forma premente e irreversível, o processo desumano e

diferenciado do desenvolvimento capitalista. Nesse período, Beck, publicou

originalmente em alemão a obra Risikogesellschaft: Auf dem weg in eine andere

Moderne. Esta obra teve pouco acesso até a sua tradução inglesa em 1992, quando

seus pensamentos tiveram algum alcance nas academias e nas instituições de

pesquisa.

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Na apresentação da obra inglesa há uma referência sobre o seu conteúdo,

que consistia de duas teses centrais inter-relacionadas. Uma se refere à

modernização reflexiva e a outra, ao risco. A primeira edição teve um impacto muito

grande, não somente como um texto acadêmico, mas também nas leis da esfera

pública.

O pensamento de Beck sobre a originalidade, não está somente na

sociologia, mas também na crítica do conhecimento científico, aplicada à sociedade

contemporânea. Modernização, portanto não se trata somente de uma mudança

estrutural, mas também de mudanças relacionadas às estruturas sociais e aos

agentes sociais.

A passagem histórica da tradição da modernidade era supostamente paradescobrir um mundo social livre de escolha, individualismo e democracialiberal, baseado no interesse racional próprio. Ainda, a pós-modernidadecrítica tem exposto como modernidade, propriamente dita, restrições denaturezas tradicionais – culturas não livremente impostas por escolhas – emtorno do ícone moderno da ciência quase religioso. Essa forma cultural écientificismo, que sociólogos da ciência argumentam que é um elementointrínseco da ciência como conhecimento público (BECK, 1992, p.2).

O subtítulo colocado por Beck na obra Risk Society: Towards a New 

Modernity , refere-se essencialmente a três estágios na periodização da mudança

social. Inicialmente, a pré-modernidade, seguida de modernidade simples e

modernidade reflexiva. No seu ponto de vista, modernidade é coextensiva com a

sociedade industrial e a modernidade reflexiva com a sociedade de risco. Por outro

lado, a sociedade industrial e a sociedade de risco possuem distintas formações,

pois o eixo principal da sociedade industrial é a distribuição de mercadorias,

enquanto que na sociedade de risco é o perigo.

A obra de Beck é composta por três partes: Na primeira parte é intitulada

Morando no vulcão da civilização: os contornos da Sociedade de risco. Na segunda

parte, Beck trata da Desigualdade social da individualização: Formas de vida e a

morte da tradição e na terceira, sobre a Modernização reflexiva: na generalização da

ciência e da política.

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Goldblatt, contemporâneo de Beck, analisou na obra Teoria Social e

 Ambiente (1996), uma série de questões acerca dos costumes de degradação do

ambiente e da política do ambiente, realizada por quatro dos mais importantes

sociólogos europeus contemporâneos: Anthony Giddens, André Gorz, Jürgen

Habermas e Ulrich Beck.

As principais ideias se referem às características, os efeitos e as ameaças

causadas pelo processo de modernização e industrialização, evidenciando a forma

como estas alteram a dinâmica e a constituição da sociedade industrial clássica que

a ocasionou, e, na análise de Goldblatt (1996, p.231), o processo de modernização

reflexiva anuncia uma sociedade de risco proveniente do corpo de uma sociedade

industrial em decadência. Essas ideias estão contidas no cerne de vários

desdobramentos colocados sobre a sociedade de risco.

Beck, na conferência em Harvard, fez uma crítica sobre o pensamento

sociológico europeu assim se referindo: “Meu objetivo é uma teoria nova, não

nostálgica, crítica, para olharmos para o passado e futuro da modernidade”, e

prossegue afirmando que o seu argumento quer: “[...] manter as duas visõescontraditórias da modernidade – a autodestruição e a capacidade de recomeçar –

em equilíbrio uma com a outra.” (BECK, 2008a, p.1).

Beck demonstra em três etapas esse seu argumento:

1. Velhos perigos – novos riscos: o que há de novo sobre asociedade de risco?

2. “Momento cosmopolita": o que isso significa?

3. Consequências: há necessidade de uma mudança deparadigma nas ciências sociais?

Abaixo detalharemos de forma sintética esses três aspectos.

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Velhos Perigos, Novos Riscos

Os riscos modernos são os riscos que a própria sociedade produziu, e

também é um indicativo de “[...] uma histeria e de uma política do medo incitadas e

agravadas pelos meios de comunicação de massa”. (BECK, 2008a, p.2).

Inicialmente, é preciso que se faça uma distinção entre risco e catástrofe, pois

na concepção de Beck risco não significa catástrofe,

Risco significa a antecipação da catástrofe. Os riscos existem em um estadopermanente de virtualidade, e transformam-se “atuais" somente até o ponto

em que são antecipados. Riscos não são "reais", eles estão se tornando"reais" [...]. Neste momento em que os riscos se tornam reais – por exemplo, na forma de um ataque terrorista – eles deixam de ser riscos etornam-se catástrofes (BECK, 2008a, p.2).

Desta forma, os riscos já estão em outras partes, como por exemplo, na

antecipação de novos ataques, nas mudanças climáticas, ou em uma crise

financeira potencial. Portanto, “[...] riscos são sempre eventos ameaçadores. Sem

técnicas de visualização, sem formas simbólicas, sem suportes, sem meios de

comunicação de massa, etc, os riscos não são nada.” (BECK, 2008a, p.2).

Na primeira publicação, em 1986, Beck descreve a “Sociedade de Risco”

como: “[...] uma condição estrutural inegável da industrialização avançada”,

criticando a “moralidade matematizada” do pensamento do especialista e do

discurso público sobre “fatores de risco”. Ainda aponta que, “a orientação política a

respeito da avaliação de risco pressupunha a viabilidade dos riscos e [...] mesmo o

cálculo objetivo mais contido e moderado sobre as implicações do risco envolve umapolítica, uma ética e uma moralidade por trás.” (BECK, 2008a, p.2).

Assim, para o autor, o risco “[...] não é redutível ao produto da probabilidade

da ocorrência multiplicada pela intensidade e pelo alcance do dano potencial. É

antes, um fenômeno socialmente construído, no qual algumas pessoas têm uma

capacidade maior de definir riscos do que outras.” (BECK, 2008a, p.2).

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Nas sociedades modernas, a teoria da Sociedade de Risco pressupõe que os

riscos são moldados sempre por novos tipos de riscos e essas percepções de risco

global ou catástrofes globais são caracterizadas por três aspectos, que Beck detalha

com pertinência:

1. Des-localização de riscos: suas causas e consequências não

são limitadas a uma posição ou espaço geográfico; são, em

princípio, onipresentes e ocorre em três níveis incalculáveis e

interdependentes. São eles:

Espacial: os riscos novos (por exemplo, a mudança

climática) não respeitam ao Estado-nação ouqualquer outra fronteira;

Temporal: a atual antecipação das catástrofesfuturas não pode mais ser baseada emexperiências passadas; assim, o risco é como aexpectativa do inesperado; os novos riscos têm umperíodo de latência longo, por exemplo, o lixonuclear;

Social: graças à complexidade dos problemas e da

duração dos efeitos em cadeia, a atribuição dascausas e consequências, já não é possível nenhumgrau de confiabilidade (por exemplo, as crisesfinanceiras).

Na concepção de Beck, é não somente a descoberta da importância de não

saber, mas que simultaneamente, a reivindicação do conhecimento, do controle e da

segurança do Estado e da sociedade deveria ser renovada, aprofundada e

expandida. A ironia está na reivindicação institucionalizada da segurança, para se

ter que controlar algo mesmo se não se sabe se ele existe. Mas, por que deve a

ciência ou uma disciplina se preocupar com algo que nem ao menos conhece? Há

certamente uma resposta sociológica conclusiva, nesse caso: porque face à

produção de incertezas manufaturadas insuperáveis, a sociedade, mais do que

nunca, confia e insiste na segurança e no controle.

Beck assinala que, “A sociedade de risco está diante de um problema

complicado [...] de ter que tomar decisões sobre inimagináveis bilhões de dólares,

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libras e euros ou mesmo sobre guerra e paz (terrorismo nuclear), com base no não-

conhecimento mais ou menos inadmissível.” (BECK, 2008a, p.4).

Portanto, no futuro, no contexto de promessas de segurança do Estado e a

fome causadas por catástrofes, transmitidos pelos meios de comunicação de massa,

não será fácil limitar e impedir ativamente um jogo de poder diabólico com a histeria

do não-conhecimento (BECK, 2008a, p.4).

2. Incalculabilidade: suas consequências são, em princípio,

incalculáveis; na base é uma questão de riscos "hipotéticos",

que não são menos baseados na falta de conhecimento

induzida pela ciência e dissidência normativa.

Beck cita que, a descoberta da incalculabilidade do risco está muito ligada à

descoberta da importância do não-conhecimento para arriscar o cálculo, e é parte de

um outro tipo de ironia, que essa descoberta do não-conhecimento,

surpreendentemente, ocorreu em uma disciplina que hoje não quer ter relação com

isso. Beck cita dois importantes autores economistas, Knight e Keynes, queinicialmente insistiram em uma distinção entre formas de contingência previsíveis e

não-previsíveis ou calculáveis e não-calculáveis. Em um artigo famoso no periódico

The Quarterly Journal of Economics (February, 1937), Keynes escreve:

[...] por 'conhecimento incerto', deixe-me explicar, não quero dizer meramente distinguir o que é sabido do que é meramente provável. Osentido em que estou usando o termo é aquele do preço do cobre e a taxade juros em vinte anos, toda a obsolência de uma nova invenção são

incertos. Sobre essas questões não há nenhuma base científica em que sepossa formar qualquer probabilidade calculável. Nós simplesmente nãosabemos.2 (KEYNES apud BECK, 2008a, p.3).

Entretanto, a advertência de Keynes para abrir o campo da tomada de

decisão econômica às incertezas das catástrofes sistemáticas futuras, escondidas

em práticas normalizadas da tomada de risco, foi inteiramente negligenciada no

desenvolvimento subsequente da atual economia (incluindo a economia keynesiana

em voga).

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3. Não-compensabilidade: Nesta terceira percepção do risco

global, para Beck, o sonho da segurança da primeira

modernidade foi baseado na utopia científica de tornar as

consequências inseguras e os perigos das decisões sempre

mais controláveis; acidentes poderiam ocorrer, contanto que

fossem considerados compensáveis. Uma vez que o sistema

global de finanças desmoronou, uma vez que o clima

irrevogavelmente mudou; uma vez que os grupos terroristas

possuem armas de destruição em massa – então é tarde

demais. Dada essa nova qualidade de “ameaças à

humanidade" – argumentada pelo filósofo François Ewald3 – a

lógica da compensação sucumbe e é substituída pelo princípio

de precaução pela prevenção. Não somente a prevenção está

ganhando prioridade sobre a compensação, mas estamos

igualmente tentando antecipar e impedir os riscos cuja,

existência não foi provada.

Momento Cosmopolita

Beck assinala que: “[...] os princípios fundamentais da modernidade, incluindo

o princípio do livre mercado e a ordem própria do Estado-nação, tornam-se sujeitos

à mudança, à existência das alternativas, e à contingência.” (BECK, 2008a, p.4). A

explicação está em admitir que:

A sociedade de risco é uma sociedade revolucionária latente em que oestado de normalidade e o estado de emergência se sobrepõem. Isso podeexplicar o poder histórico do risco global, que é negligenciado pela teoriasocial convencional e pela sociologia do risco: ao tratar de riscoscatastróficos o presente de um estado de emergência, o futuro está emnegociação (BECK, 2008a, p.4).

Portanto, o estado de emergência antecipado não é mais nacional, mas

cosmopolita, e a crença de que os riscos que a humanidade enfrenta tornam-se um

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recurso sem precedentes para o consenso e a legitimação, sejam eles nacionais ou

internacionais.

Prosseguindo em seu pensamento e aprofundando o significado da

expressão “momento cosmopolita”, Beck distingue duas variações, de importância

central para a teoria da Sociedade de Risco:

[...] de um lado, a antecipação dos efeitos colaterais não intencionadas decatástrofes (tais como a mudança climática e a crise financeira). Por outrolado, a antecipação de catástrofes intencionais, não intencionadas eintencionadas, tem como principal exemplo o terrorismo suicidatransnacional. É, de fato, uma questão de se desenvolver uma teoria política

da sociedade de risco em vista da distinção chave entre a antecipação decatástrofes intencionadas e não intencionadas (BECK, 2008a, p.4).

O próprio autor do Risk Society  lança a seguinte pergunta “O que é

‘cosmopolita’ sobre o momento cosmopolita?” E, ele mesmo detalha o que significa

tal momento da sociedade de risco: “O momento cosmopolita da sociedade de risco

significa a “conditio humana” da irreversível não-exclusão do estrangeiro distante.

Os riscos globais destroem os limites nacionais e confundem o nativo ao

estrangeiro.” Assim, para Beck: “O outro distante está se transformando no outroinclusivo – não através da mobilidade, mas através do risco.” (BECK, 2008a, p.4).

Portanto, o autor constata que a vida cotidiana está se tornando cosmopolita:

os seres humanos devem encontrar o significado da vida nas trocas com os outros e

não mais no encontro com o mesmo. Estamos todos presos num espaço global

compartilhado por ameaças – sem saída. Isto pode inspirar respostas conflituosas,

às quais igualmente pertencem a renacionalização, a xenofobia, etc. Um  delesincorpora o reconhecimento  dos outros como igual e diferente, a saber,

“cosmopolitanismo normativo”.

O momento cosmopolita pode ser exemplificado com a tragédia do furacão

Katrina, pois na atual sociedade de risco, há necessidade de reconhecer a

pluralidade do mundo, que poderia ser ignorada no panorama nacional, conforme

Beck específica: “[...] os riscos globais abrem um espaço moral e político que pode

produzir uma cultura civil da responsabilidade que transcende fronteira e conflitos.”

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(BECK, 2008a, p.5). Desta forma, os dois lados da crença do mundo no risco são:

como uma experiência traumática, que qualquer um está vulnerável e a

responsabilidade resultante para com os outros e também para com a sua própria

sobrevivência.

Abaixo ilustramos dois exemplos reais, em dois espaços geográficos

diferentes: Estados Unidos com o Furacão Katrina em 2005 e Brasil na região

serrana do Rio de Janeiro em 2011. Esses dois eventos catastróficos de

repercussão mundial, tanto do ponto de vista econômico-social, como político ético e

moral podem representar ícones do Risk Society .

Para Beck (2008a, p.5), “[...] a catástrofe assustadora é uma professora

implacável para toda humanidade”, e, contraditoriamente, de ampla solidariedade,

embora seja o momento da destruição. Detalhando, portanto, temos abaixo duas

realidades que são ao mesmo tempo frutos de uma mesma gênese que demonstram

o cosmopolitismo, onde a imprensa tem um papel fundamental, pelo seu alcance,

pela sua difusão e pela sua instantaneidade.

Conforme Beck, o perigo globalizado através dos meios de comunicação de

massa pode dar voz aos pobres, marginalizados e minorias na área pública global.

O furacão Katrina foi um ato terrível da natureza. Como evento midiático global, ele

também atuou como uma “função de esclarecimento” involuntária e não intencional.

O que nenhum movimento social, nenhum partido político, e certamente nenhuma

análise sociológica, não importa o quão brilhante e bem fundamentada, poderia ter 

conseguido. Esse episódio ocorreu no espaço de dois dias: a América e o mundoforam confrontados com as vozes e as imagens de uma outra América reprimida, a

face racista da pobreza na única superpotência remanescente. A televisão norte-

americana não se importa com imagens de povos pobres, mas foi ubíqua durante a

cobertura de Katrina. O mundo inteiro viu e ouviu falar que os distritos negros de

Nova Orleans foram destruídos pelas tempestades por causa de sua vulnerabilidade

social (BECK, 2008a, p.5).

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A mais recente catástrofe comentada em praticamente todas as mídias

internacionais, que pode ser fundamentada como outro exemplo, ocorreu no mês de

 janeiro de 2011, no Brasil.

No caso brasileiro, pontuando especificamente o estado do Rio de Janeiro em

vista de ocorrências de anos anteriores, houve a preocupação na realização de um

diagnóstico feito por entidades privadas e públicas, ambientais e sociais, conforme

alguns detalhamentos que serão apresentados. Em 2001, houve uma cooperação

técnica entre o Brasil e a Alemanha, isto é, exatamente há dez anos. Reportamo-nos

ao projeto denominado PLANÁGUA (COSTA, 2001), subsidiado pela Secretaria de

Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMADS) e Deutsche

Gesellschaft für Techbische Zusammenarbeit (GTZ), para a realização de um amplo

estudo sobre as enchentes e orientações técnicas para revitalização de rios.

O projeto PLANAGUÁ indicou, há dez anos, que é secular o problema de

enchentes no Estado Rio de Janeiro, fenômeno natural condicionado a fatores

climáticos, principalmente às chuvas intensas de verão, cujos efeitos são agravados

pelas características do relevo: rios e córregos com forte declividade, drenandobruscamente das serras para as baixadas, quase ao nível do mar.

 

Há orientações e advertências feitas anteriormente que parecem não ter tido

nenhuma receptividade: primeiro, a falta de conscientização da população referente

aos riscos envolvidos resulta em uma ocupação sempre mais progressiva de áreas

naturais de inundação; segundo, para reverter esse quadro é importante avaliar e

adaptar novas estratégias no controle de enchentes, já em andamento em outrospaíses. E ainda, nesse estudo, há o seguinte alerta,

Nessas novas concepções os interesses locais de proteger a própria áreadevem ser harmonizados aos interesses de toda a bacia, incluindo aproteção de toda a população, considerando os aspectos sociais eeconômicos, o ecossistema e as necessidades do próprio rio. Somentemedidas em harmonia com a natureza, e não contra ela, terão sucesso(COSTA, 2001, p.6).

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Como terceira advertência, observa que há necessidade de divulgar medidas

preventivas e conscientizar a população sobre os riscos os quais está exposta e a

possibilidade de aprender a conviver com o fenômeno.

[...] em lugar de direcionar e acelerar as águas das enchentes rio abaixo,deveria restabelecer o quanto possível a retenção natural já nas cabeceiras,nas matas, nas áreas ribeirinhas e conservar as áreas de inundação aindaexistentes. É impossível evitar as enchentes excepcionais, porém, épossível conter o agravamento contínuo das mesmas e reduzir os prejuízos(COSTA, 2001, p.6).

Como aconselhamento final, há uma série de recomendações, tendo como

unidade de gestão a Bacia Hidrográfica, baseado no planejamento integrado do

controle de enchentes, buscando sempre soluções, cujo objetivo principal deve visar 

a retenção das águas de chuvas, e, não havendo essa possibilidade, deve-se adotar 

medidas compensatórias que aumentam os riscos de inundação rio abaixo4

(COSTA, 2001, p. 145 e seguintes).

Na tragédia ocorrida na região serrana no Rio de Janeiro até o presente

momento foram contabilizadas mais de 900 vítimas fatais, mortes que poderiam ser 

evitadas, caso as recomendações feitas há dez anos contidas no projeto

PLANÁGUA tivessem sido consideradas, mesmo que fosse uma parte desses

aconselhamentos.

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Fig.01: Deslizamentos em morros do Rio do Estado do Rio de Janeiro em janeiro de 2011.Fonte: Dana (2011).

Fig. 02: Deslizamento em morro de Nova Friburgo na região serrana do Rio de Janeiro. Fonte: Marino (2011).

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Fig. 03: Tragédia no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Connect Brazil (2011).

Está em fase de aprovação no Congresso Nacional, desde 2010, o novo

Código Florestal Brasileiro. Mencionamos aqui, uma observação do professor de

engenharia florestal do Rio de Janeiro, Eleazar Volpato, que manifestou a sua

preocupação, pois as flexibilizações propostas no Relatório do deputado Aldo

Rebelo agravam de forma absoluta a situação das ocupações de morros e encostas,

em toda a região da Mata Atlântica,

[...] pelo relatório, as chamadas áreas ocupadas, mesmo que estejam emÁreas de Proteção Permanente (APP) ou reservas legais, poderão continuar sendo usadas por moradores ou para fins de exploração comercial. “O queaconteceu no Rio de Janeiro é de uma irresponsabilidade, eu diria atémesmo um sacrilégio. Praticamente ‘liberou geral’ naquelas cidades”, disse

Volpato sobre as construções em áreas de encostas nas cidades serranasdo estado do Rio (CHAGAS, 2011, p.2).

Volpato declarou ainda que, “[...] todas as pessoas atingidas pelas enchentes,

mesmo quem perdeu parentes e bens materiais, poderão permanecer nos mesmos

locais condenados, pois o projeto os considera ‘áreas consolidadas’”.

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Um outro professor de geociências, João Willy, da Universidade de Brasília,

alerta que. “[...] o problema passa também pela legalidade das ocupações.”

(CHAGAS, 2011, p.2).

Outras preocupações mencionadas por esse professor são a falta de

zoneamento para definir o tipo de ocupação, tanto urbana como rural, além da

análise detalhada das inclinações das encostas dos tipos de solo e de rocha, e, é

importante também levar em consideração o clima da região.

Para o ambientalista e consultor jurídico da Fundação SOS Mata Atlântica,

André Lima,[...] a liberação de atividades econômicas em áreas de encosta, prevista naproposta em discussão na Câmara, agravará o problema vivido hoje por muitos municípios brasileiros. Isso está diretamente ligado à área de risco.Não adianta querer jogar o problema para os Prefeitos. Diante das pressões[econômicas e políticas], ele vai se embasar na lei. (CHAGAS, 2011, p. 2).

Os exemplos aqui citados, e as três ilustrações representam visualmente e

materialmente que atingiram fortemente a mídia e a subjetividade, expressando bem

o que Beck denominou de “Sociedade de Risco e Momento Cosmopolita”.

De uma forma quase irônica, Beck relata que, nenhum sociólogo ou

economista pode prever essas catástrofes, sejam ambientais ou até financeiras,

reforçando a ideia da força e o poder da mídia, quando faz a seguinte assertiva:

Você realmente acredita que os sociólogos poderiam ter o método e o poder de descobrir as práticas ultrajantes dos banqueiros que causaram a criseglobal e as trazer para o público global? Não, é claro que não, mas a crisefinanceira e seu impacto nos meios de comunicação de massa globais ofizeram (BECK, 2008a, p.5-6).

É importante dessa forma, que aprendamos rapidamente que a modernidade

está precisando, urgentemente, de regulamentações reflexivas de mercado, “[...] de

uma constituição internacional para negociar conflitos sobre respostas aos riscos

globais” e, na opinião de Beck essas regulamentações reflexivas terão que ser 

construídas “[...] com o consenso entre partidos, nações, religiões, amigo e inimigo.”

Entretanto, o próprio Beck afirma o seguinte “Naturalmente, isto não acontecerá.

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Mas, de repente, é senso comum que isso seja a pré-condição da sobrevivência.”

(BECK, 2008a, p.6).

Ainda, esses conflitos de risco global têm, de fato, uma função instrutiva. “[...]

eles desestabilizam a ordem vigente, mas podem ser vistos também como um passo

vital rumo à construção de novas instituições. O risco global tem o poder de

confundir os mecanismos de irresponsabilidade organizada e até de explorá-los para

a ação política.” Assim,

[...] a percepção pública do risco força as pessoas a comunicarem quemnão quer ter qualquer relação com o outro. [...] riscos de larga escala cortamcompletamente tanto a auto-suficiência de culturas, línguas, religiões esistemas quanto à agenda de políticas nacionais e internacionais; elessubvertem as prioridades e criam contextos para ação entre campos, partese nações inimigas que não sabem nada uma da outra e rejeitam e se opõemuma à outra (BECK, 2008a, p.7).

Essa explicação se refere ao que Beck chama de cosmopolitanização

forçada: “[...] os riscos globais ativam e conectam atores além das fronteiras, quem

não quer ter qualquer relação com o diferente.” (BECK, 2008a, p.7).

Na conferência de Harvard, Beck relata que, “[...] a crise financeira global e as

mudanças climáticas não são os únicos momentos cosmopolitas na história ou na

modernidade”, e cita estudos comparativos de momentos cosmopolitas porque são

necessários e úteis para fazer uma distinção e detalhamento da expressão

cosmopolita. Pois o antigo cosmopolitanismo, a cosmopolítica da instrução (Kant), e

o novo conceito de “crime contra a humanidade”, inventado para o Julgamento de

Nuremberg, confrontado com o Holocausto (o qual foi “legal” em relação à leinacional da Alemanha), pois houve o momento cosmopolita da ameaça atômica e a

autodestruição nuclear da humanidade.

Assim, o texto abaixo ilustra bem as distinções importantes sobre o

cosmopolitanismo:

A lógica de guerra e paz válida até aquele momento perdeu seu significado.

Onde a vitória não é mais vitória e a derrota não mais derrota, as partes emguerra têm que criar novas instituições que tornem possível continuar 

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vivendo, pensando e debatendo sob a espada de Dâmocles auto-aniquilação nuclear. O “impasse nuclear” da Guerra Fria levou a novasformas de cooperação entre os blocos militares hostis; na verdade, essa“ameaça nuclear” definitivamente tornou possível a "política do leste"(Ostpolitik, em alemão) transmitida pela “ajuda humanitária” do chanceler 

alemão Willy Brant. É um ponto interessante o quanto as normas globaispodem criar ao longo dos momentos cosmopolitas (BECK, 2008a, p.8).

É importante levar em consideração as transformações que podem ocorrer na

sociedade, como também possibilidades de aperfeiçoamento e crescimento do

próprio status quo deste planeta. É o que Beck tenta analisar e reforçar com a ideia

dos momentos cosmopolitas, detalhando com a seguinte explicação:

Advogados tipicamente pensam que as violações das normas só podem ser estabelecidas se as próprias normas já existem. No entanto, sociólogos dalei, e antropólogos da lei, em particular, também reconhecem o caso oposto:o de que as normas emergem quando as expectativas são desapontadas ecatástrofes ou antecipações de catástrofes tornam claro que isso não é demaneira alguma aceitável. Isso se aplica ao Holocausto, o qual se tornou abase para o regime de direitos humanos; também às sérias violações dasegurança nuclear ou do padrão mínimo de prudência ecológica, em relaçãoàs mudanças climáticas. Certamente é possível, nesse caso, observar processos onde, a partir de um momento cosmopolita, normas emergem aoredor do mundo (BECK, 2008a, p.8).

Em que medida a ameaça e o impacto da sociedade de risco mundial abremo horizonte para uma alternativa histórica de uma ação política? É uma questão

colocada por Beck, cujos argumentos como resposta estão detalhadas em “Power in

the global age”. O autor aponta duas premissas:

1- A sociedade de risco mundial traz uma nova e históricalógica-chave para daqui em diante: nenhuma nação poderáenfrentar seus problemas sozinha;

2- Uma política alternativa realista na era global é possível, eneutralizaria as perdas para o capital globalizado do poder de comando do Estado político. A condição é que aglobalização tem que ser entendida não como um fatoeconômico, mas como um jogo estratégico para o poder mundial.

Assim, é possível afirmar que, além da distinção nacional x internacional, uma

nova política doméstica global já está em funcionamento, cujo resultado ainda é bem

indefinido. Nesse jogo, as fronteiras, as regras básicas e as distinções básicas são

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renegociadas e “[...] nenhum jogador solitário ou oponente pode jamais jogar 

sozinho; todos dependem de alianças.”, independente se são esferas nacionais,

internacionais ou esferas também referentes ao mercado global e ao Estado.

(BECK, 2008a, p.9).

Para Beck, os riscos globais entregam poder aos Estados e aos movimentos

civis da sociedade, pois revelam novas bases de legitimação e opções para ação

desses grupos de atores e por outro lado, “[...] tiram poder do capital globalizado,

porque as consequências das decisões econômicas contribuem para criar riscos

globais e mercados desestabilizados e até para desestabilizar o sistema global de

mercado.” (BECK, 2008a, p.9).

Portanto, como uma síntese da necessidade de ações políticas globais e de

solidariedade entre as nações, nas palavras quase proféticas  de Beck, temos o

seguinte pensamento:

Quanto mais cosmopolitas forem as nossas estruturas e atividades políticas,mais elas serão bem sucedidas na promoção de interesses nacionais, emaior será o nosso poder individual nessa era global. Esse é o momento desuperar a noção antiquada de unilateralismo, mesmo nos Estados Unidos, etrazer a China, a Índia, a América do Sul e a Rússia à colaboração paraproduzir novas regras que liguem todos os jogadores. Mais que isso: nós, oOcidente, os países europeus, temos que aprender sobre a realidade dadependência, mesmo em nossas questões internas, com aqueles que aindaacreditamos ser um estrangeiro (BECK, 2008a, p. 9).

Um alerta é quanto ao preço da percepção do risco e o papel da comunicação

de massa:

[...] o poder histórico da percepção de risco global tem seu preço, já que elefunciona apenas por um curto período de tempo. Como tudo depende desua percepção pelos meios de comunicação de massa, a legitimação daatividade política global, à luz dos riscos globais, vai apenas até onde osmeios de comunicação de massa se atêm (BECK, 2008a, p. 9).

Hoje, muitas teorias não só econômicas, mas também, na área das ciências

sociais estão perdendo o pedestal por causa da dinâmica da sociedade de risco, que

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ainda não foi incorporada como realidade nos conceitos teórico-metodológicos da

ciência.

Portanto, para o autor “Há uma situação de vazio: procura-se um teórico para

suceder transnacionalmente o Sr. Keynes. A necessidade, [...] é por uma engenhosa

regulação reflexiva (filosofia) em escala global, incluindo [...] corporações

transnacionais, Banco Mundial, FMI, Greenpeace etc”. Há necessidade idêntica de

instituições políticas mais fortes na Europa, um ministério europeu para assuntos

econômicos, para complementar o Banco Central. Mas a maior necessidade de

todas é a de uma nova teoria de economia mista, construída no lugar do mercado

global de hoje (BECK, 2008a, p.10).

Conseqüências: uma mudança no paradigma nas ciências sociais

Há necessidade de uma mudança de paradigma nas ciências sociais como

apregoa Beck? E, o que seria uma sociologia cosmopolita? Beck se refere a uma

sociologia que distingue claramente a si própria de uma universalista, [...] porque elanão parte de algo abstrato (geralmente derivado de um contexto e uma experiência

históricos europeus, como “sociedade” ou “sociedade mundial” ou “sistema mundial”

ou o “indivíduo autônomo” etc). Assim, conceitos chave como contingência,

ambivalência, interdependência, interconexão alcançam o palco central, juntamente

com as questões metodológicas apresentadas por eles. Concluindo a sua

conferência, Beck assim se refere:

A sociologia cosmopolita, portanto, abre indispensáveis novas perspectivaspara contextos aparentemente isolados, familiares, locais e nacionais. Comessa nova “visão cosmopolita”, ela segue o caminho empírico emetodológico que outras disciplinas – como a antropologia, a geografia e aetnologia contemporâneas – já tomaram com entusiasmo (BECK, 2008a,p.11).

E, para finalizar, Beck assinala que é preciso que o egoísmo nacionalista se

abra para uma direção cosmopolita, e, aprendendo que com a crise, o tipo de

capitalismo laissez-faire, de mercado aberto, caro ao neoliberalismo, não tem lugar 

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na era da sociedade de risco global. Hoje, o conhecimento e as ações terão que ser 

sempre compartilhados, como também os vários tipos de riscos da sociedade global.

Individualização

A socióloga australiana Deborah Lupton, produziu uma obra denominada Risk 

(1999), onde comenta sobre os vários aspectos envolvendo a questão do risco

desde a mudança do significado desta palavra e comenta uma parte da

modernização reflexiva e riscos abordando sobre o conceito de individualização, que

também é central no ponto de vista de Beck. A individualização não se refere à

alienação ou solidão, em vez disso, significa que é um requisito na modernidade

tardia, na qual os indivíduos devem produzir suas próprias biografias, na ausência

de normas fixas, obrigatórias e tradicionais e na certeza do surgimento de novos

modos de vida, que estão continuamente sujeitos a alterações. Individualização é o

outro, lado privado da globalização na modernidade reflexiva. O núcleo da

modernidade reflexiva é a transformação na aceitação de regras sociais tais como

gênero e classe social. Beck, vê a individualização como resultado do processo demodernização envolvendo a redução da influência da estrutura das instituições

tradicionais da sociedade na formação da identidade pessoal. Fatores tais como a

educação de massa, as melhorias nos padrões de vida, a segunda onda do

movimento feminista e mudanças no mercado de trabalho têm contribuído para a

tendência em direção à individualização (LUPTON, 1999, p.69).

Apoiando-se na obra de Beck (1994), Lupton assinala que, a individualizaçãosignifica, ainda “[...] a desintegração das certezas da sociedade industrial, como

também a compulsão para encontrar e inventar novas certezas para si mesmo e

para os outros.”  Tem havido um aumento da individualização social em que as

pessoas foram obrigadas a tornar-se o centro da conduta de vida, tendo

subjetividades múltiplas e mutáveis: “Visto de outro ângulo, significa liberdade de

escolha, e de outro a pressão para se conformar às demandas internalizadas, por 

um lado, ser responsável por si mesmo e do outro a ser dependente das condições

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que escapam completamente do seu alcance.” (BECK; BECK-GERNSHEIM apud

LUPTON, 1999, p.70).

Um quadro de comparação das teorias de risco

Eugene A. Rosa (2000) fazendo uma comparação das modernas teorias da

sociedade e o ambiente referente à sociedade de risco, apoiando-se em Tarnas em

1990, assinala que a história do pensamento Ocidental, desde a Grécia Clássica tem

sido pontuada por uma recorrência implacável de dualismos ontológicos. Esses

dualismos estão assim caracterizados:

Idealismo versus materialismo, nominalismo e relativismo versus realismo,romantismo versus ceticismo, romantismo alemão versus utilitarismo,idealismo Continental versus empirismo Britânico – esses são alguns dosdualismos mais destacados, oposições binárias, moldaram o pensamentoOcidental como diálogo (ROSA, 2000, p.81).

Houve uma evolução constatada quando Rosa demonstra que esses

dualismos sofreram substantivas modificações e refinamentos, mostrando aascendência de um lado e a subordinação do outro lado, seguido por uma grande

reversão e experimentado longos períodos de aparente coexistência pacífica,

seguido de confrontos abissais. Assemelhando-se a um diálogo ou a uma dialética,

um conflito ou uma complementaridade, o dualismo no pensamento Ocidental

passou por longo período histórico, sobrevivendo com influências subjacentes ao

pensamento moderno. De qualquer forma, Rosa observa que, talvez

involuntariamente e inconscientemente, as ciências sociais sobre o risco importam

esse dualismo dentro desse domínio teórico (ROSA, 2000, p.81).

Portanto, infere-se que todas as abordagens das ciências sociais para o risco

são imbuídas meta-teoricamente, sendo repletas de pressuposições ontológicas e

epistemológicas, não desafiando os princípios, e direcionando perspectivas sobre

vários métodos teóricos. Um dos caminhos para a caracterização meta-teórica na

ciência social do risco é categorizá-la por meio de dois eixos independentes, mas

continuums. O primeiro continuum, parte do dualismo importado do pensamento

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ocidental, descrito acima, refere-se a uma pressuposição do estado do mundo

(ontologia). O segundo, importado do pensamento Iluminista, se refere ao método

teórico adotado (ação componente da epistemologia) na presunção de que possa

ser mais efetivo no conhecimento sobre o mundo. O resultado disso é uma grade

classificatória cruzada – Figura 04 – onde a dimensão horizontal expressa a

natureza ontológica do mundo físico e a dimensão vertical expressa a orientação do

estudo do mundo social.

Fig. 04 – Duas dimensões do dualismo no Estudo de Risco . Fonte: Rosa (2000, p.82).

Construir a figura 04 foi um desafio epistemológico no sentido de tentar 

agrupar as grandes linhas teórico-metodológicas no âmbito das ciências sociais,

tendo como objeto o Estudo do Risco. Não entraremos em detalhes, pois uma leitura

superficial prejudicaria o contexto filosófico e o aprimoramento que a interpretação

requer e também por fugir do objetivo deste artigo5.

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Atualmente, há muitos estudos tratando da temática voltada ao risco, em

vários campos do conhecimento “[...] visando a construção de diversos instrumentos

capazes de subsidiar estratégias focadas na formulação de prioridades no campo

político institucional” (DUARTE e MONTENEGRO, 2008, p.592).

Sabe-se hoje que, existe uma outra modernidade, dinâmica, veloz e

imprevisível, que não pode ser compreendido ou assimilado no sistema da

sociedade industrial já constatado por Beck (1997), pois no processo de

“modernização reflexiva” o papel da tecnologia assume uma importância

considerável, muitas vezes fundamental para compreender os ricos e a insegurança

no cenário contemporâneo.

Haveria uma subjetividade pós-humana, como virtualidade para compreender 

a relação entre risco, poder e tecnologia? Chevitaresi e Pedro (2005) defendem a

ideia dessa relação para compreender o momento contemporâneo, considerando

que vivemos em uma “Sociedade de Hibridações”, onde proliferam híbridos

sociotécnicos que produzem efeitos de risco, fazendo emergir a subjetividade.

Como é possível viver a relação do sujeito reflexivo com a tecnologia e ainda

nas distopias que a elas estariam associadas? Podem ser citados três argumentos

fundamentais que se articulam e simultaneamente se constituem e dela decorrem

como efeitos. (CHEVITARESI; PEDRO, 2005, p.11).

Segundo os autores, o primeiro aspecto desta condição é a construção de um

sujeito que se compreende como um “gestor de riscos”, por meio de sua consciênciareflexiva que lhe confere autonomia, liberdade e responsabilidade. O segundo

aspecto é a construção da necessidade de um “poder social protetor”, que, no

contexto atual de falência da concepção tradicional de Estado-nação a quem caberia

desempenhar tal papel? Resgatar o Estado seria um dos caminhos e por fim,

[...] tanto a relação do indivíduo com a tecnologia como a configuração decontrole que a gestão social do risco articula encontram-se fortemente

enraizados em uma polarização que não apenas separa como, sobretudo,determina uma “oposição entre tecnologia e sociedade” – o que pode ser 

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tomado como o terceiro aspecto da Sociedade de risco. (CHEVITARESE;PEDRO, 2005, p. 12).

Tendo em vista alguns alinhamentos teóricos centrados no pensamento da

Sociedade de Risco de Beck, pode-se perceber a irreversibilidade do

cosmopolitanismo. Muitos filósofos, geógrafos, sociólogos e especialistas em

psicanálise e comunicação, procuram aproximar e sistematizar algumas ideias na

tentativa de entender o atual momento, que podemos denominar de “momento

cosmopolita” onde a reflexividade e o cidadão coletivo, planetário, liberto e

independente do Estado-nação, de certa forma pode administrar o seu papel e a sua

atuação na sociedade onde está inserido. Administrar a relação entre riscos,

tecnologia e a individualização sugere uma cidadania profundamente comprometida

com o humanismo e o multiculturalismo, onde o estrangeiro, o desconhecido e o

inimigo devem ser considerados como seu parceiro para enfrentar os riscos

sociopolíticos do momento contemporâneo.

Aceitando-se a coexistência das diferenças culturais, ideológicas e políticas é

possível reconhecer a possibilidade de uma dimensão transformadora dos encontros

sociais para um “humanismo cosmopolita”.

Esse cosmopolitismo estará imbuído de ambivalências e incertezas próprias

do atual momento. Mas, aceitar filosoficamente esse estado, certamente a

imaginação dos homens sempre estará aberta e capacitada a assimilar as

convergências e divergências da sociedade, na afirmação cada vez mais consistente

da identidade do humanismo que sempre persistirá nos homens, dada a sua própria

condição de vida. Hoje, viver em rede de qualquer natureza é uma condição dasobrevivência do homem e do planeta.

Notas finais

1Mendonça propôs acerca de dez anos, uma contribuição teórico-metodológica (2004 e2004a), de perspectiva interdisciplinar/diálogos de saberes e Sistema SocioambientalUrbano (SAL), para estudo e gestão das cidades. O artigo é rico e detalhado.

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2Citação feita por Beck, na Conferência realizada na Universidade de Harvard em 12 denovembro de 2008.

3Filósofo francês, membro do Comitê editorial da Revista Risques, um de seus fundadores;

ex-assistente de Foucault.

4São em número de onze as principais recomendações: 1-Garantir áreas livres parainfiltração e armazenamento temporário; 2-Reflorestamento em grande escala; 3-Aprimoramento da previsão de chuvas e sistemas de alerta; 4-Estação de tratamento deesgoto; 5-Reassentamento; 6-Recuperação da calha e do ecossistema e do plantio de mataciliar; 7-Aproveitamento das águas da chuva; 8-Obras de retenção planejadas e integradas anível de bacia; 9-Coleta de lixo e disposição final adequada; 10-Educação ambiental; e 11-Demarcação, divulgação e conservação de áreas sujeitas a inundações.

5Mais detalhes sobre esse assunto poderão ser verificados no artigo de Eugene A. Rosa

“Modern Theories of Society and the Environment: The Risk Society”, 2000. In “Environmentand global modernity”.

(As obras consultadas em lingua estrangeira foram traduzidas livremente pelo autor dotexto).

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RESUMOEste artigo aborda analiticamente os pensamentos de Ulrich Beck sobre os riscos do planetaTerra. Este pensador alemão, que formulou os fundamentos dos “Riscos Sociais”, nadécada de 1980, passa a ser mundialmente conhecido somente na década seguinte,

quando a sua obra “Risk Society” foi traduzida para o inglês. Após essa publicação, Beckpublicou várias obras, cujas temáticas sempre foram voltadas para compreender asociedade contemporânea. Os conteúdos da sua pesquisa sempre foram embasados nasdiscussões sobre o ambiente e as atividades humanas, do ponto de vista ecológico epolítico. Considerado como um filósofo e analista crítico da sociedade pós-industrial, fazalertas sobre as emergências e as incertezas do século XXI, considerando o presentemomento como “Cosmopolitan Moment”. Esta característica contemporânea, que gera umimpulso cosmopolita, possibilita transformações da sociedade atual, onde os níveis local,nacional e global se revestem de simultaneidade, abrindo espaços sobre mudançasculturais, solidariedade, racionalidade, liberdade, democracia e legitimação. É a nossaprópria condição e opção da sociedade de conhecimento. Os Riscos Sociais são complexose representam riscos para toda a sociedade. Os riscos estão onipresentes, não respeitando

fronteiras políticas ou culturais e pela sua incalculabilidade, e des-localização, tanto noespaço como no tempo, torna-se imprevisível. Desta forma, estamos diante de grandesdesafios sociais, político-econômicos e financeiros, onde mudanças paradigmáticas culturaise políticas terão que ser assumidas.

Palavras-chave: Ulrich Beck. Riscos Sociais. Momento Cosmopolita. PensamentoAmbiental. Planeta Emergente. Riscos Ambientais.

ABSTRACTThis paper discusses analytical Ulrich Beck’s thoughts about the risks of planet Earth. TheGerman thinker who formulated the concepts of the "Social Risks" in the 1980s, is widely

known only in the following decade, when his book "Risk Society" was translated intoEnglish. After this publication, Beck published several works whose themes have alwaysbeen directed to understanding contemporary society. The contents of his research hasalways been based on discussions about the environment and human activities, under ecological and political views, Regarded as a philosopher and critical analyst of post-industrial society, did alerts about emergencies and the uncertainties of XXI century,considering the present moment as "Cosmopolitan Moment". This contemporary feature,which created a cosmopolitan pulse, enables transformations of modern society, where thelocal, national and global levels are simultaneity, opening spaces on cultural change,solidarity, rationality, freedom, democracy and legitimacy. It is our own choice and conditionof the knowledge society. The Social Risks are complex and pose risks to society. The risksare omnipresent, not respecting political or cultural boundaries and its incalculability, and de-localization, both in space and time, it becomes unpredictable. Thus, we face great social,political, economic and financial challenger, where cultural and political paradigmtransformations have to be assumed.

Keywords: Ulrich Beck. Social Risks. Cosmopolitan Moment. Environmental Thought.Emerging Planet. Environmental Risks.

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Agradecimento:

Ao Carlos Roberto Ballarotti, Mestre em História Social, que colaborou na sistematização enormalização do artigo.

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Informação sobre a autora:

Yoshiya Nakagawara Ferreira – http://lattes.cnpq.br/6035814647625735Geógrafa, Doutora e Pós-Doutora – USP, Visiting Professor da Universidade de Tokyo,Japão.Contato: [email protected]

OLAM - Ciência & Tecnologia, Rio Claro, SP, Brasil - ISSN: 1982-7784 - está licenciada sob LicençaCreative Commons

Enviado em: 11-03-2011Aceito em: 28-03-2011

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