excelentÍssimo senhor juiz federal da vara … · federal por meio de espaço virtual intitulado...

49
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO CARLOS – ESTADO DE SÃO PAULO Inquérito Civil nº 1.34.023.000047/2014-85 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador da República ao final assinado, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 129, III, da Constituição da República, nos arts. 5º, II, d, III, b e e, e IV, a, e 6º, VII, a, b e d, ambos da Lei Complementar nº 75/93, e nos arts. 1º, IV e VIII, e 5º, I, ambos da Lei nº 7.347/85, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA 1 , com PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA , em face de FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – FUFSCar, fundação pública federal, CNPJ nº 45.358.058/0001- 40, a ser citada na pessoa do seu reitor Targino de Araújo Filho, com endereço na rodovia Washington Luiz (SP-310), km 235, CEP 13565-905, São Carlos/SP; e SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO- ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - SINTUFSCar, pessoa jurídica de direito privado com natureza e fins não lucrativos, CNPJ nº 49.161.821/0001-07, a ser citada na pessoa dos seus coordenadores-gerais Sergio Ricardo Pinheiro Nunes e Edgar Diagonel, com endereço na 1 Parte dos fundamentos aqui explanados baseia-se em ações civis públicas propostas pelo Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba/PR e pela Defensoria Pública da União (DPU) em Porto Alegre/RS.

Upload: duonghuong

Post on 13-Apr-2018

221 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DASUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO CARLOS – ESTADO DE SÃO PAULO

Inquérito Civil nº 1.34.023.000047/2014-85

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do

Procurador da República ao final assinado, no uso de suas atribuições constitucionais e

legais, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 129, III, da

Constituição da República, nos arts. 5º, II, d, III, b e e, e IV, a, e 6º, VII, a, b e d,

ambos da Lei Complementar nº 75/93, e nos arts. 1º, IV e VIII, e 5º, I, ambos da Lei

nº 7.347/85, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA 1 , com PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS

EFEITOS DA TUTELA, em face de

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS –FUFSCar, fundação pública federal, CNPJ nº 45.358.058/0001-40, a ser citada na pessoa do seu reitor Targino de AraújoFilho, com endereço na rodovia Washington Luiz (SP-310), km235, CEP 13565-905, São Carlos/SP; e

SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃOCARLOS - SINTUFSCar, pessoa jurídica de direito privado comnatureza e fins não lucrativos, CNPJ nº 49.161.821/0001-07, aser citada na pessoa dos seus coordenadores-gerais SergioRicardo Pinheiro Nunes e Edgar Diagonel, com endereço na

1 Parte dos fundamentos aqui explanados baseia-se em ações civis públicas propostas pelo Ministério PúblicoFederal (MPF) em Curitiba/PR e pela Defensoria Pública da União (DPU) em Porto Alegre/RS.

Page 2: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

rodovia Washington Luiz (SP-310), km 235, CEP 13565-905, SãoCarlos/SP.

Pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.

1. OBJETIVO DA AÇÃO

A presente ação civil pública busca provimento jurisdicional que

imponha à FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (FUFSCar)

obrigação de fazer, qual seja, manter em funcionamento, mesmo em períodos de

greve, o Restaurante Universitário e a Biblioteca Comunitária.

Objetiva-se, outrossim, a imposição, ao SINDICATO DOS

TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DE SÃO CARLOS (SINTUFSCar), de obrigação de não fazer, consistente na

proibição de praticar qualquer ato que impeça, embarace ou dificulte o adequado

funcionamento do Restaurante Universitário e da Biblioteca Comunitária, bem assim o

exercício das funções/atividades laborais dos funcionários que não aderiram ao

movimento paredista e devam prestar serviços nesses locais.

Esclareça-se, por oportuno, que as medidas aqui postuladas

deverão ser observadas não apenas na greve ora instalada no âmbito da FUFScar,

como também nos movimentos dessa natureza que, eventualmente, se deflagrarem

nos anos subsequentes naquela instituição de ensino superior, em qualquer de seus

campi universitários.

2. SÍNTESE FÁTICA

A instauração do Inquérito Civil nº 1.34.023.000047/2014-85

Page 3: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

teve como mola propulsora representação formulada a este MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de Atendimento ao Cidadão”,

noticiando, quanto à greve geral eclodida na UFSCar em 17/3/2014, a ocorrência de

transtornos à comunidade acadêmica, em razão da paralisação de serviços essenciais,

com destaque para o Restaurante Universitário, do qual dependem cerca de 3 (três)

mil estudantes.

Oficiada (fl. 5), a FUFSCar apresentou as informações de fl. 7,

instruídas com os documentos de fls. 8/17.

Novamente oficiada (fl. 22), a FUFSCar manifestou-se às fls.

24/5 e juntou a documentação de fls. 26/37.

Em atenção ao quadro fático descortinado no inquérito civil, o

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL expediu as recomendações de fls. 41/6-frente e

verso, e 47/51, aos réus.

O SINTUFSCar se manifestou às fls. 56/8 e 63/8, alegando, em

suma, que o direito de greve não extrapola os limites legais, inexistindo abusos de

sua parte. Juntou, outrossim, a documentação de fls. 69/112.

A seu turno, a FUFSCar apresentou esclarecimentos às fls.

114/6.

Mais tarde, este Órgão Ministerial aviou as Recomendações

Complementares de fls. 119/20 e 122/3.

O SINTUFSCAR novamente se manifestou (fls. 126/9, juntando

o documento de fls. 130/4), assim como a FUFSCar (ofício às fls. 136/8, instruído

Page 4: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

com a documentação de fls. 139/52).

Pelas mensagens eletrônicas de fls. 154/63, verifica-se a eclosão

de novo movimento paredista na UFSCar, agora neste ano de 2015, iniciado

no dia 28/5, que veio a afetar, entre outros setores/departamentos, o

funcionamento do Restaurante Universitário e da Biblioteca Comunitária.

Às fls. 165/94, houve a juntada de abaixo-assinado protocolado

por cidadãos/estudantes, solicitando a reabertura do Restaurante Universitário.

Houve, ainda, a colheita de declarações dos alunos José Arthur

Escudeiro (fls. 197/9) e Diógenes Carneiro Eloi Monteiro da Silva (fls. 200/2).

Em apertada síntese, são esses os principais atos e termos do

apuratório.

3. DIREITO

3.1. COMPETÊNCIA

A competência (de jurisdição) da Justiça Federal para o processo

e julgamento da presente ação tem assento no art. 109, I, da Carta Política, visto que

o polo passivo é ocupado pela FUFSCar, fundação pública federal.

Eis a dicção do art. 109, I, da Lei Maior:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:I – as causas em que a União, entidade autárquica ouempresa pública federal forem interessadas na condição deautoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as

Page 5: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e àJustiça do Trabalho;(...)” (grifos colocados)

Nesse particular aspecto, deve-se entender que a fundação

pública, para os efeitos de fixação da competência, está incluída no núcleo conceitual

de entidade autárquica, ao lado da autarquia, dada a similitude de regime jurídico,

especialmente quanto à finalidade, origem dos recursos e regime administrativo, além

de sua natureza, podendo apresentar-se também como pessoa jurídica de direito

público.

“EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. FUNDAÇÃO NACIONALDE SAÚDE. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE A JUSTIÇAFEDERAL E A JUSTIÇA COMUM. NATUREZA JURÍDICA DASFUNDAÇÕES INSTITUÍDAS PELO PODER PÚBLICO. 1. A FundaçãoNacional de Saúde, que é mantida por recursos orçamentáriosoficiais da União e por ela instituída, é entidade de direito público.2. Conflito de competência entre a Justiça Comum e a Federal.Artigo 109, I da Constituição Federal. Compete à JustiçaFederal processar e julgar ação em que figura como partefundação pública, tendo em vista sua situação jurídicaconceitual assemelhar- se, em sua origem, às autarquias.3. Ainda que o artigo 109, I da Constituição Federal, não serefira expressamente às fundações, o entendimento destaCorte é o de que a finalidade, a origem dos recursos e oregime administrativo de tutela absoluta a que, por lei,estão sujeitas, fazem delas espécie do gênero autarquia. 4.Recurso extraordinário conhecido e provido para declarar acompetência da Justiça Federal.” (STF, 2ª Turma, RE 215741/SE,rel. Min. Maurício Corrêa, j. 30/03/1999, v.u., DJ 04/06/1999, p.19)

“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO ORDINÁRIA.CESPE/UNB. ÓRGÃO INTEGRANTE DA FUNDAÇÃOUNIVERSIDADE DE BRASÍLIA-FUB. EQUIPARAÇÃO COMAUTARQUIA FEDERAL. JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIATERRITORIAL. MODIFICAÇÃO DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE.PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS.

Page 6: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

1. Conflito negativo suscitado para definir a competência parajulgamento de ação ordinária, com pedido de antecipação datutela, proposta contra o Estado do Rio Grande do Norte e oCentro de Seleção e Promoção de Eventos Universidade deBrasília-Cespe/Unb, na qual questiona-se a ausência dedivulgação, no edital de abertura do concurso público paraprovimento de vagas no cargo de Delegado de Polícia CivilSubstituto do Estado do Rio Grande do Norte, dos critérios queforam utilizados na avaliação da prova discursiva, com aespecificação da respectiva pontuação, e pugna-se pela anulaçãodo item 2.3 da referida prova.2. O julgamento do conflito de competência é realizado secundumeventum litis, ou seja, com base nas partes que efetivamenteintegram a relação, e não naqueles que deveriam integrar.3. A eg. Primeira Seção, no julgamento do Conflito deCompetência nº 35.972/SP, Relator para acórdão o Ministro TeoriZavascki, decidiu que o critério definidor da competência daJustiça Federal é ratione personae, levando-se em consideração anatureza das pessoas envolvidas na relação processual, sendoirrelevante, para esse efeito e ressalvadas as exceçõesmencionadas no texto constitucional, a natureza da controvérsiasob o ponto de vista do direito material ou do pedido formuladona demanda.4. O Cespe/Unb é um órgão integrante da FundaçãoUniversidade de Brasília-FUB, fundação pública federal,criada pela Lei nº 3.998, de 15.12.61, participante daadministração federal indireta, nos termos da Lei nº 7.596,de 10.04.87, que alterou dispositivos do Decreto-lei nº200, de 25.02.67.5. É assente nesta Corte que a fundação pública federal,que atende à previsão do art. 5º, IV, do Decreto-lei nº200/67, equipara-se às autarquias federais para efeito dacompetência da Justiça Federal (CF, art. 109, I).6. A competência territorial, via de regra, é relativa, não podendoser modificada de ofício pelo magistrado. Em tal caso, prevalece oforo eleito pelas partes, em detrimento da delimitação contidanas leis processuais. Dessa feita, não poderia o juízo suscitado terreconhecido ex officio a incompetência para processar e julgar ademanda. Incidência da Súmula 33/STJ: "A competência relativanão pode ser declarada de ofício".7. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da5ª Vara da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte, o suscitado.”(STJ, 1ª Seção, CC 113079/DF, Proc. 2010/0121512-6, rel. Min.

Page 7: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Castro Meira, j. 13/04/2011, v.u., DJe 11/05/2011)

“CONTRATO NO ÂMBITO DO SISTEMA FINANCEIRO DAHABITAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. ASSOCIAÇÃO DE POUPANÇA EEMPRÉSTIMO GERIDA PELA FUNDAÇÃO HABITACIONAL DOEXÉRCITO. CONTRATO NÃO AFETO AO FCVS. COMPETÊNCIAPARA JULGAR CAUSAS QUE ENVOLVAM APENAS A ASSOCIAÇÃO ECONSUMIDOR. JUSTIÇA ESTADUAL.1. Embora seja de competência da Justiça Federalprocessar e julgar as ações em que é parte a FundaçãoHabitacional do Exército – FHE, no caso a fundação públicafederal não ostenta condição de autora, ré, assistente ouopoente, pois cuida-se de demanda envolvendo apenas asua supervisionada Associação de Poupança e Empréstimo- POUPEX e consumidor.2. Os artigos 1º, parágrafos 3º e 6º, II, da Lei 6.855/80 e 2º daLei 7.750/89 estabelecem que a Associação de Poupança eEmpréstimo - POUPEX é sociedade simples, criada esupervisionada pela Fundação Habitacional do Exército, com oregistro de seus atos constitutivos e estatuto no Registro Civil dasPessoas Jurídicas, não se confundindo com a fundação públicafederal encarregada, por lei, de sua gestão. Precedentes.3. Recurso especial provido para reconhecer a competência daJustiça Estadual.” (STJ, 4ª Turma, REsp 948482/RS, Proc.2007/0097905-9, rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 06/03/2012,v.u., DJe 19/03/2012) (grifos acrescidos)

Aliás, não faria sentido incluir a empresa pública (figura

explicitamente indicada no dispositivo constitucional acima reproduzido), cuja

personalidade jurídica, invariavelmente, é de direito privado, e deixar de fazê-lo

quanto à fundação pública, que pode seguir natureza de pessoa jurídica de direito

público e ainda guarda notável semelhança com a autarquia, quanto ao regime de

funcionamento.

Não bastasse isso, a presente demanda está sendo aforada pelo

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, cuja presença no polo ativo, por si só, atrai a

Page 8: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

competência da Justiça Federal, como já reconheceu o Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA DE DIREITOSTRANSINDIVIDUAIS. MEIO AMBIENTE. COMPETÊNCIA.REPARTIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE O MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL E ESTADUAL. DISTINÇÃO ENTRE COMPETÊNCIA ELEGITIMAÇÃO ATIVA. CRITÉRIOS.1. A ação civil pública, como as demais, submete-se, quanto àcompetência, à regra estabelecida no art. 109, I, da Constituição,segundo a qual cabe aos juízes federais processar e julgar 'ascausas em que a União, entidade autárquica ou empresa públicafederal forem interessadas na condição de autoras, rés,assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentede trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e a Justiça doTrabalho'. Assim, figurando como autor da ação o MinistérioPúblico Federal, que é órgão da União, a competência paraa causa é da Justiça Federal.3. Não se confunde competência com legitimidade daspartes. A questão competencial é logicamente antecedentee, eventualmente, prejudicial à da legitimidade. Fixada acompetência, cumpre ao juiz apreciar a legitimação ativado Ministério Público Federal para promover a demanda,consideradas as suas características, as suas finalidades eos bens jurídicos envolvidos.4. À luz do sistema e dos princípios constitucionais,nomeadamente o princípio federativo, é atribuição do MinistérioPúblico da União promover as ações civis públicas de interessefederal e ao Ministério Público Estadual as demais. Considera-seque há interesse federal nas ações civis públicas que (a)envolvam matéria de competência da Justiça Especializada daUnião (Justiça do Trabalho e Eleitoral); (b) devam serlegitimamente promovidas perante os órgãos Judiciários da União(Tribunais Superiores) e da Justiça Federal (Tribunais RegionaisFederais e Juízes Federais); (c) sejam da competência federal emrazão da matéria — as fundadas em tratado ou contrato da Uniãocom Estado estrangeiro ou organismo internacional (CF, art. 109,III) e as que envolvam disputa sobre direitos indígenas (CF, art.109, XI); (d) sejam da competência federal em razão da pessoa— as que devam ser propostas contra a União, suas entidadesautárquicas e empresas públicas federais, ou em que uma dessasentidades figure entre os substituídos processuais no pólo ativo(CF, art. 109, I); e (e) as demais causas que envolvam interesses

Page 9: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

federais em razão da natureza dos bens e dos valores jurídicosque se visa tutelar.6. No caso dos autos, a causa é da competência da JustiçaFederal, porque nela figura como autor o Ministério PúblicoFederal, órgão da União, que está legitimado a promovê-la,porque visa a tutelar bens e interesses nitidamentefederais, e não estaduais, a saber: o meio ambiente emárea de manguezal, situada em terrenos de marinha e seusacrescidos, que são bens da União (CF, art. 20, VII),sujeitos ao poder de polícia de autarquia federal, o IBAMA(Leis 6.938/81, art. 18, e 7.735/89, art. 4º). 7. Recursoespecial provido.” (STJ, 1ª Turma, REsp 440002/SE, Proc.2002/0072174-0, rel. Min. Teori Albino Zavascki, j. 18/11/2004,v.u., DJ 06/12/2004, p. 195) (grifos colocados)

Outrossim, a competência territorial para o processo e julgamento

do feito é da Justiça Federal em São Carlos/SP, que é o foro do local do dano e no

qual está sediada a Reitoria e, consequentemente, a administração central da

FUFSCar.

Por outro lado, a despeito de haver previsão, no art. 114, II, da

Carta Política, assentando ser competente a Justiça do Trabalho para dirimir questões

atinentes a greve (o dispositivo foi incluído pela Emenda Constitucional n° 45/2004),

o Supremo Tribunal Federal emprestou ao dispositivo constitucional interpretação

conforme a Constituição Federal, de modo a afirmar que a Justiça do Trabalho é

competente somente para dirimir questões relativas a vínculos/relações

empregatícias.

A decisão foi tomada no âmbito da Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI) n° 3395, em sede de medida cautelar:

“INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Competência. Justiçado Trabalho. Incompetência reconhecida. Causas entre o PoderPúblico e seus servidores estatutários. Ações que não se reputam

Page 10: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

oriundas de relação de trabalho. Conceito estrito desta relação.Feitos da competência da Justiça Comum. Interpretação do art.114, inc. I, da CF, introduzido pela EC 45/2004. Precedentes.Liminar deferida para excluir outra interpretação. O disposto noart. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causasinstauradas entre o Poder Público e servidor que lhe sejavinculado por relação jurídico-estatutária.” (ADI 3395 MC,Relator: Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em05/04/2006, DJ 10-11-2006 PP-00049 EMENT VOL-02255-02 PP-00274 RDECTRAB v. 14, n. 150, 2007, p. 114-134 RDECTRAB v.14, n. 152, 2007, p. 226-245)

Em atenção a essa decisão, o Supremo Tribunal Federal também

já se pronunciou a respeito da incompetência da Justiça Especializada para dirimir

conflitos relativos a greve. Nesse sentido:

“RECLAMAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAIS CIVIS. DISSÍDIOCOLETIVO DE GREVE. SERVIÇOS OU ATIVIDADES PÚBLICASESSENCIAIS. COMPETÊNCIA PARA CONHECER E JULGAR ODISSÍDIO. ARTIGO 114, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO DOBRASIL. DIREITO DE GREVE. ARTIGO 37, INCISO VII, DACONSTITUIÇÃO DO BRASIL. LEI N. 7.783/89. INAPLICABILIDADEAOS SERVIDORES PÚBLICOS. DIREITO NÃO ABSOLUTO.RELATIVIZAÇÃO DO DIREITO DE GREVE EM RAZÃO DA ÍNDOLEDE DETERMINADAS ATIVIDADES PÚBLICAS. AMPLITUDE DADECISÃO PROFERIDA NO JULGAMENTO DO MANDADO DEINJUNÇÃO N. 712. ART. 142, § 3º, INCISO IV, DACONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO DACONSTITUIÇÃO. AFRONTA AO DECIDIDO NA ADI 3.395.INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARADIRIMIR CONFLITOS ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS EENTES DA ADMINISTRAÇÃO ÀS QUAIS ESTÃOVINCULADOS. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. OSupremo Tribunal Federal, ao julgar o MI n. 712, afirmouentendimento no sentido de que a Lei n. 7.783/89, que dispõesobre o exercício do direito de greve dos trabalhadores em geral,é ato normativo de início inaplicável aos servidores públicos civis,mas ao Poder Judiciário dar concreção ao artigo 37, inciso VII, daConstituição do Brasil, suprindo omissões do Poder Legislativo. 2.Servidores públicos que exercem atividades relacionadas à

Page 11: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

manutenção da ordem pública e à segurança pública, àadministração da Justiça --- aí os integrados nas chamadascarreiras de Estado, que exercem atividades indelegáveis,inclusive as de exação tributária --- e à saúde pública. Aconservação do bem comum exige que certas categorias deservidores públicos sejam privadas do exercício do direito degreve. Defesa dessa conservação e efetiva proteção de outrosdireitos igualmente salvaguardados pela Constituição do Brasil. 3.Doutrina do duplo efeito, segundo Tomás de Aquino, na SumaTeológica (II Seção da II Parte, Questão 64, Artigo 7). Não hádúvida quanto a serem, os servidores públicos, titulares do direitode greve. Porém, tal e qual é lícito matar a outrem em vista dobem comum, não será ilícita a recusa do direito de greve a tais equais servidores públicos em benefício do bem comum. Não hámesmo dúvida quanto a serem eles titulares do direito de greve.A Constituição é, contudo, uma totalidade. Não um conjunto deenunciados que se possa ler palavra por palavra, em experiênciade leitura bem comportada ou esteticamente ordenada. Dela sãoextraídos, pelo intérprete, sentidos normativos, outras coisas quenão somente textos. A força normativa da Constituição édesprendida da totalidade, totalidade normativa, que aConstituição é. Os servidores públicos são, seguramente, titularesdo direito de greve. Essa é a regra. Ocorre, contudo, que entre osserviços públicos há alguns que a coesão social impõe sejamprestados plenamente, em sua totalidade. Atividades das quaisdependam a manutenção da ordem pública e a segurançapública, a administração da Justiça --- onde as carreiras deEstado, cujos membros exercem atividades indelegáveis,inclusive as de exação tributária --- e a saúde pública não estãoinseridos no elenco dos servidores alcançados por esse direito.Serviços públicos desenvolvidos por grupos armados: asatividades desenvolvidas pela polícia civil são análogas, para esseefeito, às dos militares, em relação aos quais a Constituiçãoexpressamente proíbe a greve [art. 142, § 3º, IV]. 4. Nojulgamento da ADI 3.395, o Supremo Tribunal Federal,dando interpretação conforme ao artigo 114, inciso I, daConstituição do Brasil, na redação a ele conferida pela EC45/04, afastou a competência da Justiça do Trabalho paradirimir os conflitos decorrentes das relações travadasentre servidores públicos e entes da Administração à qualestão vinculados. Pedido julgado procedente.” (Rcl 6568,Relator: Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em21/05/2009, DJe-181 DIVULG 24-09-2009 PUBLIC 25-09-2009

Page 12: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

EMENT VOL-02375-02 PP-00736) (grifos colocados)

Não destoa desse raciocínio o entendimento do Superior Tribunal

de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. GREVE.SERVIDORES E PROFESSORES DE UNIVERSIDADES ESTADUAIS.AUSÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO NA DEMANDA. EMENDACONSTITUCIONAL Nº 45/2004. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇACOMUM ESTADUAL. 1. Nos termos do art. 109, I, da ConstituiçãoFederal, compete à Justiça Federal processar e julgar demandasem que houver interesse da União, autarquias, empresas públicasfederais e, por extensão, fundações de igual natureza. 2. Naespécie, a causa de pedir diz respeito à greve deflagrada porprofessores e servidores de universidades estaduais, as quais nãoatuam por delegação da União Federal, porquanto pertencem aosistema estadual de ensino, nos termos dos arts. 17 da Lei9.394/96 e 211 da CF. Não se vislumbra, portanto, interesse doente federal a determinar a competência da Justiça Federal. 3.Mesmo diante da mudança ocorrida na ConstituiçãoFederal, com o advento da EC nº 45, em seu art. 114, I,continuou sendo da Justiça comum estadual a competênciapara processar e julgar feitos relativos a servidores civisda administração direta e indireta, dos municípios e dosestados, decorrentes da relação de trabalho, em face daconcessão de liminar em sede de cautelar na ADIN3.395/DF, onde se discute o disposto no referidodispositivo. O movimento grevista em questão é efeito darelação jurídico-administrativa estabelecida entre os professorese servidores e as Universidades Estaduais de Londrina, deMaringá e do Oeste. Precedente do Supremo Tribunal Federal. 4.A competência do Superior Tribunal de Justiça para o processo eo julgamento de conflito, prevista no art. 105, inciso I, alínea d,da Constituição da República, verifica-se entre quaisquertribunais, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados eentre juízes vinculados a tribunais diversos. 5. Conflitoparcialmente conhecido para declarar a competência daJustiça estadual, cabendo ao Tribunal de Justiça do Estadodo Paraná, ao qual devem ser remetidos estes autos,definir a competência específica no âmbito de suajurisdição.” (CC 200200093957, ARNALDO ESTEVES LIMA, STJ -

Page 13: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

TERCEIRA SEÇÃO, DJ DATA:24/04/2006 PG:00352) (os grifos nãoconstam do original)

Igualmente, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região assim já se

pronunciou:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. GREVE EMUNIVERSIDADE FEDERAL COM REPERCUSSÃO NUM ÚNICOESTADO DA FEDERAÇÃO. AÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA DOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. DECISÃO DO STF. MANDADO DEINJUNÇÃO N. 670. APLICAÇÃO DA LEI N. 7.783/89.DESCUMPRIMENTO PELOS GREVISTAS. ABUSO DE DIREITO.ILEGALIDADE DA GREVE. DESCONTOS DOS DIAS NÃO-TRABALHADOS. DEVER DA ADMINISTRAÇÃO. APLICAÇÃO DODECRETO N. 1.480/95. COMPENSAÇÃO DE HORAS.IMPOSSIBILIDADE. EXCESSOS DE CONDUTA PELOS SERVIDORESDURANTE A GREVE. APURAÇÃO MEDIANTE PROCESSOADMINISTRATIVO. OBRIGATORIEDADE. PERDA PARCIAL DEOBJETO. PROCEDÊNCIA EM PARTE. - Ao julgar o Mandado deInjunção n. 670, o STF definiu que, enquanto não editadalei sobre a matéria, a competência para julgar ações sobregreves no serviço público federal é (a) do STJ quando setratar de greve nacional ou atingir mais de uma região daJustiça Federal e (b) do TRF caso a paralisação sejaadstrita a uma única região da Justiça Federal ou tenhaabrangência local ou municipal. - Ainda que a greve tenhasido deflagrada simultaneamente em várias universidadesfederais do país, a ação tem como objeto apenas a grevedos servidores da UFAL. Objeto do processo restrito aoEstado de Alagoas. Competência originária deste TribunalRegional Federal da 5ª Região para processar e julgar estaação civil pública. - O encerramento da greve enseja perda deobjeto das pretensões que somente podem ser satisfeitas duranteo movimento paredista. Ei-las: a) condenação da UFAL a adotaras providências necessárias à imediata retomada das atividadesnormais do Hospital Universitário; (b) condenação do SINTUFALao imediato encerramento da greve dos servidores técnico-administrativos da área de enfermagem do hospital universitário;(c) condenação do SINTUFAL a não impedir o normalfuncionamento da UFAL, abstendo-se de ocupar dependências dainstituição e de obstar o acesso ao campus universitário. Extinção

Page 14: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

do processo quanto a essas pretensões, ante a carênciasuperveniente de ação por perda de objeto. - O STF decidiu que odireito de greve no serviço público deve ser regulado pela Lei n.7.783/89, que trata do exercício desse direito no setor privado.Atribuição de efeito vinculante à decisão proferida no Mandado deInjunção n. 670. - Segundo n. 7.783/89, a greve é abusivaquando não respeitados seus preceitos (art. 14). Notificação daempregadora (UFAL) realizada após início da greve, quandodeveria tê-lo sido com antecedência mínima de 48 horas (art. 3º,parágrafo único). Greve foi realizada em órgão prestador deserviço de saúde (hospital universitário), causando prejuízo aosatendimentos médico-hospitalares de pessoas carentes, restandodesobedecidos os arts. 10, II, e 11. Ocupação por cerca de 30dias de espaço destinado pela UFAL à emissão e registro dediplomas, obrigando à transferência do setor para outra sala, eobstrução do acesso ao campus universitário, impedindo otrânsito de docentes, discentes e servidores não-grevistas,evidenciando que o movimento não foi realizado pacificamente eque desrespeitou a liberdade de locomoção de pessoas a eleestranhas. Procedência do pedido de declaração de abusividadeda greve. - Os dias de ausência ao serviço pelos servidoresgrevistas não podem ser abonados, compensados nemremunerados. Obrigação da Administração de descontar os diasnão-trabalhados que foram pagos indevidamente. Decreto n.1.480/95. Precedentes jurisprudenciais. No Mandado de Injunçãon. 670, o STF decidiu que "como regra geral, portanto, os saláriosdos dias de paralisação não deverão ser pagos, salvo no caso emque a greve tenha sido provocada justamente por atraso nopagamento aos servidores públicos civis, ou por outras situaçõesexcepcionais que justifiquem o afastamento da premissa dasuspensão do contrato de trabalho (art. 7º da Lei nº 7.783/1989,in fine)". Necessidade de respeito ao devido processo legal eobservância ao limite máximo de desconto remuneratórioestabelecido no art. 46 da Lei n. 8.112/90. Procedência dapretensão de condenação da UFAL a descontar os dias não-trabalhados da remuneração dos grevistas. - As infraçõescometidas pelos servidores grevistas devem ser apuradas pelaAdministração mediante processo administrativo. O art. 143 daLei n. 8.112/90 evidencia essa obrigatoriedade ao dispor que "aautoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público éobrigada a promover a sua apuração imediata, mediantesindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada aoacusado ampla defesa". A ocupação irregular de espaço público

Page 15: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

por cerca de 30 dias e a obstrução de acesso ao campus dauniversidade federal configuram atos ilícitos. Dever de a UFALproceder à apuração dessas e de outras infrações, à identificaçãodos servidores responsáveis e à aplicação das sançõespertinentes, por sindicância ou processo administrativo, nostermos da Lei n. 8.112/90. Procedência do pedido de condenaçãoda Administração a apurar as infrações cometidas durante agreve. - Reconhecimento da perda parcial do objeto e daprocedência das pretensões subsistentes ao encerramento dagreve. Distribuição do ônus da sucumbência entre os réus.” (PET200780000060483, Desembargador Federal Rubens de MendonçaCanuto, TRF5 - Segunda Turma, DJE - Data::26/11/2009 –Página: 614) (grifos adicionados)

Logo, inegável a competência desse Juízo Federal para processar

e julgar a presente demanda.

3.2. LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA

A legitimidade do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ao

aforamento desta ação afigura-se irretorquível e deflui de seu amplo leque de

atribuições na ordem constitucional e legal.

Deveras, o art. 129, III, da Constituição da República, preconiza:

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:(…)III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para aproteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e deoutros interesses difusos e coletivos;(...)” (grifos acrescidos)

Além da franquia constitucional, e como não poderia deixar de

ser, há, em plano jurídico-normativo inferior, uma pluralidade de normas autorizando

esta Instituição a deduzir em juízo sua pretensão em favor de direitos metaindividuais

Page 16: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

(difusos e coletivos).

Nesse sentido, a Lei Complementar nº 75/93, denominada Lei

Orgânica do Ministério Público da União (LOMPU), em seus arts. 5.º e 6.º, preconiza:

“Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público daUnião: (...) II - zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos:(...) d) à seguridade social, à educação, à cultura e ao desporto, àciência e à tecnologia, à comunicação social e ao meio ambiente;(…)III – a defesa dos seguintes bens e interesses:(…)b) o patrimônio público e social;(…)e) os direitos e interesses coletivos, especialmente dascomunidades indígenas, da família, da criança, do adolescente edo idoso;(…)IV – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União edos serviços de relevância pública quanto:a) aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos ásações e serviços de saúde e educação;(...)”

“Art. 6º Compete ao Ministério Público da União: (...) VII - promover o inquérito civil e a ação civil pública para: a) a proteção dos direitos constitucionais;b) a proteção do patrimônio público e social, do meioambiente, dos bens e direitos de valor artístico, estético, históricoe paisagístico;(...) d) outros interesses individuais indisponíveis,homogêneos, sociais, difusos e coletivos.” (grifos acrescidos)

A sua vez, a Lei nº 7.347/85, conhecida como Lei da Ação Civil

Page 17: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Pública, reza, em seu art. 1º, IV e VIII:

“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo daação popular, as ações de responsabilidade por danos morais epatrimoniais causados:(…)IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;(…)VIII – ao patrimônio público e social.(...)” (grifos postos)

Ao tempo em que atribui ao Ministério Público, como instituição

nacional que é, o dever de proteger os direitos e interesses difusos e coletivos da

sociedade brasileira, o ordenamento jurídico lhe proporciona o acesso ao mecanismo

processual talhado para essa finalidade, qual seja, a ação civil pública. A referida Lei

nº 7.347/85 traz expressa previsão da legitimidade do Ministério Público para sua

promoção, nos termos do seu art. 5º, I.

Destarte, não resta dúvida de que a ação civil pública é o meio

processual adequado para a proteção efetiva de toda a coletividade e, em especial,

dos alunos/estudantes que se encontram sem acesso aos serviços públicos essenciais

(alimentação e educação) fornecidos pela FUFSCar, em decorrência do movimento

grevista comandado pelo SINTUFSCar.

Na situação vertente, os direitos/interesses resguardados

apresentam natureza coletiva, uma vez que envolvem, em princípio, uma dada

categoria de pessoas, a saber, os alunos/estudantes da UFSCar, que mantêm com a

referida instituição uma relação jurídica base (vínculo contratual resultante de

matrícula nos cursos por ela ofertados). Além disso, é possível vislumbrar a presença

de direitos/interesses difusos, na medida em que dizem respeito a outros usuários dos

serviços prestados no âmbito do Restaurante Universitário e da Biblioteca

Page 18: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Comunitária, não restritos à comunidade acadêmica e, sim, direcionados ao público

em geral2.

Ressalte-se que o Supremo Tribunal Federal já firmou

entendimento no sentido de que o Parquet é parte legítima para defender

direitos/interesses como os ora em debate:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADEDO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER AÇÃO CIVIL PÚBLICAEM DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS EHOMOGÊNEOS. MENSALIDADES ESCOLARES: CAPACIDADEPOSTULATÓRIA DO PARQUET PARA DISCUTI- LAS EM JUÍZO. 1. AConstituição Federal confere relevo ao Ministério Público comoinstituição permanente, essencial à função jurisdicional doEstado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regimedemocrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis(CF, art. 127). 2. Por isso mesmo detém o Ministério Públicocapacidade postulatória, não só para a abertura do inquérito civil,da ação penal pública e da ação civil pública para a proteçãodo patrimônio público e social, do meio ambiente, mas tambémde outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, I e III). 3.Interesses difusos são aqueles que abrangem númeroindeterminado de pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias defato e coletivos aqueles pertencentes a grupos, categorias ouclasses de pessoas determináveis, ligadas entre si ou com a partecontrária por uma relação jurídica base. (...) Cuidando-se detema ligado à educação, amparada constitucionalmente comodever do Estado e obrigação de todos (CF, art. 205), está oMinistério Público investido da capacidade postulatória, patente alegitimidade ad causam , quando o bem que se buscaresguardar se insere na órbita dos interesses coletivos, emsegmento de extrema delicadeza e de conteúdo social tal que,acima de tudo, recomenda-se o abrigo estatal. Recursoextraordinário conhecido e provido para, afastada a alegadailegitimidade do Ministério Público, com vistas à defesa dosinteresses de uma coletividade, determinar a remessa dos autosao Tribunal de origem, para prosseguir no julgamento da ação.”

2 Observação feita com esteio nos dados e informações constantes emhttp://www2.ufscar.br/servicos/ru_precos.php e http://www.bco.ufscar.br/a-bco/apresentacao .

Page 19: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

(STF — RE 163231/SP - Relator: Min. Maurício Corrêa, TribunalPleno, data: 26/02/1997)

Por outro lado, o polo passivo da demanda é ocupado pelo

SINTUFSCar, entidade que detém a representatividade dos servidores que aderiram

ao movimento paredista.

É o que se observa do estatuto da entidade ré3, que, em seus

arts. 1° e 2°, prevê a “representação legal e coordenação dos interesses da categoria,

proteção jurídica e social dos sindicalizados, com prazo de duração por tempo

indeterminado”.

Na mesma linha de raciocínio, a FUFSCar é parte legítima para

ocupar o polo passivo da demanda, ao lado do SINTUFSCar, na medida em que é a

responsável pela manutenção de seus setores/órgãos/departamentos em

funcionamento, e, mesmo com o recebimento de recomendações deste MINISTÉRIO

PÚBLICO FEDERAL, manteve-se inerte, omissa, acomodada, deixando, assim, de

assegurar o adequado e pleno funcionamento do Restaurante Universitário e da

Biblioteca Comunitária.

Logo, a letargia demonstrada pela FUFSCar mostra-se intolerável

e juridicamente relevante, até porque devem partir dela as providências tendentes a

manter o pleno funcionamento do Restaurante Universitário e da Biblioteca

Comunitária, bem como será de sua responsabilidade a fiscalização para que tais atos

abusivos não voltem a ocorrer.

Cristalina, portanto, a legitimidade ativa e passiva.

3 Disponível em: http://www.sintufscar.org.br/uploads/estatuto.pdf .

Page 20: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

4. BREVE INTRODUÇÃO HISTÓRICA A O DIREITO DE GREVE

O direito de greve tem suas origens conhecidas no Egito Antigo4,

onde houve registro de paralisação de trabalhadores em razão de más condições

laborais e do atraso salarial que sofriam, durante o reinado do faraó Ramsés III (1187

– 1156 a.C).

O retorno ao trabalho, à época, foi condicionado a negociações

entre o alto escalão do império e os operários, embora tenham persistido as violações

aos direitos laborais, a ponto de ensejar a invasão e ocupação de um templo sagrado.

A denominação greve, no entanto, proveio de Paris, onde, às

margens do rio Sena, foi construída uma praça, que recebeu o nome de Place de

Grève, local frequentado pelos trabalhadores desempregados na busca de ocupação

laboral, bem como para debater providências e medidas a serem tomadas no

interesse do grupo.

No Brasil5, na década de 1930, a greve, além de ser vedada pelo

ordenamento jurídico, era passível de se configurar como crime e ato punível na

esfera trabalhista.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1937, em seu art. 139,

estabelecia que “a greve e o lock-out são declarados recursos antissociais nocivos ao

trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção

nacional”.

De igual modo, o Decreto-lei nº 431/38, tipificou o ato de incitar

4 Disponível em: http://www.museudeimagens.com.br/primeira-greve-egito/ .5 Fonte: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ADMINISTRACAO-PUBLICA/150831-CONHECA-A-

HISTORIA-DO-DIREITO-DE-GREVE-NO-BRASIL.html .

Page 21: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

funcionários públicos ou servidores do Estado a aderir a movimentos paredistas como

crime, punível com pena de 1 (um) a 3 (três) anos de prisão. Enquanto, na seara

trabalhista, o Decreto-lei nº 1.237/39, que instituiu a Justiça Laboral, previu punições,

em caso de greve, desde suspensão ou dispensa por justa causa até detenção.

Apenas no ano de 1946, a partir do Decreto-lei nº 9.070, e sob

forte pressão internacional, houve o reconhecimento de que a greve não deveria ser

considerada um ato delituoso, mas sim um direito trabalhista, a ser protegido pelo

ordenamento jurídico pátrio.

Em virtude desse avanço, a Constituição Federal de 1967

assegurou o direito de greve aos empregados do setor privado, proibindo, no entanto,

para os funcionários públicos e para atividades tidas como essenciais.

Nosso atual ordenamento constitucional, de jaez democrático,

concebe a greve como um direito dos empregados públicos e privados. Os

movimentos paredistas na iniciativa privada foram regulamentados pela Lei nº

7.783/89, que, no ano de 2007, foi aplicada também aos servidores públicos, por

decisão do Supremo Tribunal Federal, ante a omissão legislativa em regulamentar a

matéria.

O direito de greve, portanto, como forma de buscar melhorias

salariais e das condições de trabalho, mostra-se legítimo. Porém, como todo e

qualquer direito, encontra limitações.

5. A BUSO/ILEGALIDADE DA GREVE

A Constituição Federal prevê a greve como direito dos

trabalhadores, quer do setor privado, quer de instituições públicas (como a que ora se

Page 22: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

está a debater).

O texto constitucional assim prescreve:

“Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aostrabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre osinteresses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporásobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas dalei.”

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dosPoderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:(…)VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limitesdefinidos em lei específica.”

Com efeito, embora a Carta Magna contemple o direito de greve,

delega à lei específica sua regulamentação.

Como sabido, para o setor privado, o direito de greve foi

disciplinado pela Lei n° 7.783/89.

Ocorre que, na esfera do funcionalismo público, o Congresso

Nacional ainda não aprovou lei visando a regulamentar o movimento paredista.

Em razão de tal omissão, o Supremo Tribunal Federal, instado a

se pronunciar por meio de mandado de injunção, reconheceu a aplicabilidade do

aludido diploma legal também aos servidores públicos.

Page 23: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

O acórdão que reflete o intenso debate sobre a importante

questão restou assim ementado:

“MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART.5º, INCISO LXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORESPÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37, INCISO VII). EVOLUÇÃO DO TEMANA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIACONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇAFEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DALEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART.37, VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA SEGURANÇAJURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAÇÃODA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOSSERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60(SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLESOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARADETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nos 7.701/1988 E7.783/1989. 1. SINAIS DE EVOLUÇÃO DA GARANTIAFUNDAMENTAL DO MANDADO DE INJUNÇÃO NAJURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). 1.1.No julgamento do MI no 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ21.9.1990, o Plenário do STF consolidou entendimento queconferiu ao mandado de injunção os seguintes elementosoperacionais: i) os direitos constitucionalmente garantidos pormeio de mandado de injunção apresentam-se como direitos àexpedição de um ato normativo, os quais, via de regra, nãopoderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimentojurisdicional do STF; ii) a decisão judicial que declara a existênciade uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora doórgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida;iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a umaomissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; iv) adecisão proferida em sede do controle abstrato de normas acercada existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia ergaomnes, e não apresenta diferença significativa em relação a atosdecisórios proferidos no contexto de mandado de injunção; iv) oSTF possui competência constitucional para, na ação de mandadode injunção, determinar a suspensão de processosadministrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar aointeressado a possibilidade de ser contemplado por norma mais

Page 24: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado;v) por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que oSTF determine a edição de outras medidas que garantam aposição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelolegislador. 1.2. Apesar dos avanços proporcionados por essaconstrução jurisprudencial inicial, o STF flexibilizou ainterpretação constitucional primeiramente fixada para conferiruma compreensão mais abrangente à garantia fundamental domandado de injunção. A partir de uma série de precedentes, oTribunal passou a admitir soluções "normativas" para a decisãojudicial como alternativa legítima de tornar a proteção judicialefetiva (CF, art. 5o, XXXV). Precedentes: MI no 283, Rel. Min.Sepúlveda Pertence, DJ 14.11.1991; MI no 232/RJ, Rel. Min.Moreira Alves, DJ 27.3.1992; MI nº 284, Rel. Min. Marco Aurélio,Red. para o acórdão Min. Celso de Mello, DJ 26.6.1992; MI no543/DF, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 24.5.2002; MI no 679/DF,Rel. Min. Celso de Mello, DJ 17.12.2002; e MI no 562/DF, Rel.Min. Ellen Gracie, DJ 20.6.2003. 2. O MANDADO DE INJUNÇÃO EO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NAJURISPRUDÊNCIA DO STF. 2.1. O tema da existência, ou não, deomissão legislativa quanto à definição das possibilidades,condições e limites para o exercício do direito de greve porservidores públicos civis já foi, por diversas vezes, apreciado peloSTF. Em todas as oportunidades, esta Corte firmou oentendimento de que o objeto do mandado de injunção cingir-se-ia à declaração da existência, ou não, de mora legislativa para aedição de norma regulamentadora específica. Precedentes: MI no20/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22.11.1996; MI no 585/TO,Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.8.2002; e MI no 485/MT, Rel. Min.Maurício Corrêa, DJ 23.8.2002. 2.2. Em alguns precedentes(emespecial, no voto do Min. Carlos Velloso, proferido no julgamentodo MI no 631/MS, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.8.2002), aventou-se a possibilidade de aplicação aos servidores públicos civis da leique disciplina os movimentos grevistas no âmbito do setorprivado (Lei no 7.783/1989). 3. DIREITO DE GREVE DOSSERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. HIPÓTESE DE OMISSÃOLEGISLATIVA INCONSTITUCIONAL. MORA JUDICIAL, PORDIVERSAS VEZES, DECLARADA PELO PLENÁRIO DO STF. RISCOSDE CONSOLIDAÇÃO DE TÍPICA OMISSÃO JUDICIAL QUANTO ÀMATÉRIA. A EXPERIÊNCIA DO DIREITO COMPARADO.LEGITIMIDADE DE ADOÇÃO DE ALTERNATIVAS NORMATIVAS EINSTITUCIONAIS DE SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE OMISSÃO.3.1. A permanência da situação de não-regulamentação do direito

Page 25: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

de greve dos servidores públicos civis contribui para a ampliaçãoda regularidade das instituições de um Estado democrático deDireito (CF, art. 1o). Além de o tema envolver uma série dequestões estratégicas e orçamentárias diretamente relacionadasaos serviços públicos, a ausência de parâmetros jurídicos decontrole dos abusos cometidos na deflagração desse tipoespecífico de movimento grevista tem favorecido que o legítimoexercício de direitos constitucionais seja afastado por umaverdadeira "lei da selva". 3.2. Apesar das modificaçõesimplementadas pela Emenda Constitucional no 19/1998 quanto àmodificação da reserva legal de lei complementar para a de leiordinária específica (CF, art. 37, VII), observa-se que o direito degreve dos servidores públicos civis continua sem recebertratamento legislativo minimamente satisfatório para garantir oexercício dessa prerrogativa em consonância com imperativosconstitucionais. 3.3. Tendo em vista as imperiosas balizasjurídico-políticas que demandam a concretização do direito degreve a todos os trabalhadores, o STF não pode se abster dereconhecer que, assim como o controle judicial deve incidir sobrea atividade do legislador, é possível que a Corte Constitucionalatue também nos casos de inatividade ou omissão do Legislativo.3.4. A mora legislativa em questão já foi, por diversas vezes,declarada na ordem constitucional brasileira. Por esse motivo, apermanência dessa situação de ausência de regulamentação dodireito de greve dos servidores públicos civis passa a invocar,para si, os riscos de consolidação de uma típica omissão judicial.3.5. Na experiência do direito comparado (em especial, naAlemanha e na Itália), admite-se que o Poder Judiciário adotemedidas normativas como alternativa legítima de superação deomissões inconstitucionais, sem que a proteção judicial efetiva adireitos fundamentais se configure como ofensa ao modelo deseparação de poderes (CF, art. 2o). 4. DIREITO DE GREVE DOSSERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. REGULAMENTAÇÃO DA LEI DEGREVE DOS TRABALHADORES EM GERAL (LEI No 7.783/1989).FIXAÇÃO DE PARÂMETROS DE CONTROLE JUDICIAL DOEXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELO LEGISLADORINFRACONSTITUCIONAL. 4.1. A disciplina do direito de grevepara os trabalhadores em geral, quanto às "atividadesessenciais", é especificamente delineada nos arts. 9o a 11 da Leino 7.783/1989. Na hipótese de aplicação dessa legislação geralao caso específico do direito de greve dos servidores públicos,antes de tudo, afigura-se inegável o conflito existente entre asnecessidades mínimas de legislação para o exercício do direito de

Page 26: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

greve dos servidores públicos civis (CF, art. 9o, caput, c/c art.37, VII), de um lado, e o direito a serviços públicos adequados eprestados de forma contínua a todos os cidadãos (CF, art. 9o,§1o), de outro. Evidentemente, não se outorgaria ao legisladorqualquer poder discricionário quanto à edição, ou não, da leidisciplinadora do direito de greve. O legislador poderia adotar ummodelo mais ou menos rígido, mais ou menos restritivo do direitode greve no âmbito do serviço público, mas não poderia deixar dereconhecer direito previamente definido pelo texto daConstituição. Considerada a evolução jurisprudencial do temaperante o STF, em sede do mandado de injunção, não se podeatribuir amplamente ao legislador a última palavra acerca daconcessão, ou não, do direito de greve dos servidores públicoscivis, sob pena de se esvaziar direito fundamental positivado. Talpremissa, contudo, não impede que, futuramente, o legisladorinfraconstitucional confira novos contornos acerca da adequadaconfiguração da disciplina desse direito constitucional. 4.2Considerada a omissão legislativa alegada na espécie, seria ocaso de se acolher a pretensão, tão-somente no sentido de quese aplique a Lei no 7.783/1989 enquanto a omissão não fordevidamente regulamentada por lei específica para os servidorespúblicos civis (CF, art. 37, VII). 4.3 Em razão dos imperativos dacontinuidade dos serviços públicos, contudo, não se pode afastarque, de acordo com as peculiaridades de cada caso concreto emediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultadoao tribunal competente impor a observância a regime de grevemais severo em razão de tratar-se de 'serviços ou atividadesessenciais', nos termos do regime fixado pelos arts. 9º a 11 daLei no 7.783/1989. Isso ocorre porque não se pode deixar decogitar dos riscos decorrentes das possibilidades de que aregulação dos serviços públicos que tenham características afinsa esses 'serviços ou atividades essenciais' seja menos severa quea disciplina dispensada aos serviços privados ditos 'essenciais'.4.4. O sistema de judicialização do direito de greve dosservidores públicos civis está aberto para que outras atividadessejam submetidas a idêntico regime. Pela complexidade evariedade dos serviços públicos e atividades estratégicas típicasdo Estado, há outros serviços públicos, cuja essencialidade nãoestá contemplada pelo rol dos arts. 9o a 11 da Lei no7.783/1989. Para os fins desta decisão, a enunciação do regimefixado pelos arts. 9o a 11 da Lei no 7.783/1989 é apenasexemplificativa (numerus apertus). 5. O PROCESSAMENTO E OJULGAMENTO DE EVENTUAIS DISSÍDIOS DE GREVE QUE

Page 27: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

ENVOLVAM SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DEVEM OBEDECER AOMODELO DE COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES APLICÁVEL AOSTRABALHADORES EM GERAL (CELETISTAS), NOS TERMOS DAREGULAMENTAÇÃO DA LEI No 7.783/1989. A APLICAÇÃOCOMPLEMENTAR DA LEI No 7.701/1988 VISA À JUDICIALIZAÇÃODOS CONFLITOS QUE ENVOLVAM OS SERVIDORES PÚBLICOSCIVIS NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO DE ATIVIDADESRELACIONADAS A NECESSIDADES INADIÁVEIS DA COMUNIDADEQUE, SE NÃO ATENDIDAS, COLOQUEM "EM PERIGO IMINENTE ASOBREVIVÊNCIA, A SAÚDE OU A SEGURANÇA DA POPULAÇÃO"(LEI No 7.783/1989, PARÁGRAFO ÚNICO, ART. 11). 5.1.Pendência do julgamento de mérito da ADI no 3.395/DF, Rel.Min. Cezar Peluso, na qual se discute a competênciaconstitucional para a apreciação das 'ações oriundas da relaçãode trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e daadministração pública direta e indireta da União, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municípios' (CF, art. 114, I, na redaçãoconferida pela EC no 45/2004). 5.2. Diante da singularidade dodebate constitucional do direito de greve dos servidores públicoscivis, sob pena de injustificada e inadmissível negativa deprestação jurisdicional nos âmbitos federal, estadual e municipal,devem-se fixar também os parâmetros institucionais econstitucionais de definição de competência, provisória eampliativa, para a apreciação de dissídios de greve instauradosentre o Poder Público e os servidores públicos civis. 5.3. No planoprocedimental, afigura-se recomendável aplicar ao caso concretoa disciplina da Lei no 7.701/1988 (que versa sobre especializaçãodas turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos), noque tange à competência para apreciar e julgar eventuaisconflitos judiciais referentes à greve de servidores públicos quesejam suscitados até o momento de colmatação legislativaespecífica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII doart. 37 da CF. 5.4. A adequação e a necessidade da definiçãodessas questões de organização e procedimento dizem respeito aelementos de fixação de competência constitucional de modo aassegurar, a um só tempo, a possibilidade e, sobretudo, oslimites ao exercício do direito constitucional de greve dosservidores públicos, e a continuidade na prestação dos serviçospúblicos. Ao adotar essa medida, este Tribunal passa a asseguraro direito de greve constitucionalmente garantido no art. 37, VII,da Constituição Federal, sem desconsiderar a garantia dacontinuidade de prestação de serviços públicos - um elementofundamental para a preservação do interesse público em áreas

Page 28: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

que são extremamente demandadas pela sociedade. 6.DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIACONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO DO TEMA NOÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUALATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE,NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. FIXAÇÃO DO PRAZODE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSONACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DEINJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃODAS LEIS Nos 7.701/1988 E 7.783/1989. 6.1.Aplicabilidade aos servidores públicos civis da Lei no7.783/1989, sem prejuízo de que, diante do caso concretoe mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, sejafacultado ao juízo competente a fixação de regime degreve mais severo, em razão de tratarem de "serviços ouatividades essenciais" (Lei no 7.783/1989, arts. 9o a 11).6.2. Nessa extensão do deferimento do mandado de injunção,aplicação da Lei no 7.701/1988, no que tange à competênciapara apreciar e julgar eventuais conflitos judiciais referentes àgreve de servidores públicos que sejam suscitados até omomento de colmatação legislativa específica da lacuna oradeclarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CF. 6.3. Até adevida disciplina legislativa, devem-se definir as situaçõesprovisórias de competência constitucional para a apreciaçãodesses dissídios no contexto nacional, regional, estadual emunicipal. Assim, nas condições acima especificadas, se aparalisação for de âmbito nacional, ou abranger mais de umaregião da justiça federal, ou ainda, compreender mais de umaunidade da federação, a competência para o dissídio de greveserá do Superior Tribunal de Justiça (por aplicação analógica doart. 2o, I, "a", da Lei no 7.701/1988). Ainda no âmbito federal, sea controvérsia estiver adstrita a uma única região da justiçafederal, a competência será dos Tribunais Regionais Federais(aplicação analógica do art. 6o da Lei no 7.701/1988). Para ocaso da jurisdição no contexto estadual ou municipal, se acontrovérsia estiver adstrita a uma unidade da federação, acompetência será do respectivo Tribunal de Justiça (também poraplicação analógica do art. 6o da Lei no 7.701/1988). As grevesde âmbito local ou municipal serão dirimidas pelo Tribunal deJustiça ou Tribunal Regional Federal com jurisdição sobre o localda paralisação, conforme se trate de greve de servidoresmunicipais, estaduais ou federais. 6.4. Considerados osparâmetros acima delineados, a par da competência para o

Page 29: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

dissídio de greve em si, no qual se discuta a abusividade, ou não,da greve, os referidos tribunais, nos âmbitos de sua jurisdição,serão competentes para decidir acerca do mérito do pagamento,ou não, dos dias de paralisação em consonância com aexcepcionalidade de que esse juízo se reveste. Nesse contexto,nos termos do art. 7o da Lei no 7.783/1989, a deflagração dagreve, em princípio, corresponde à suspensão do contrato detrabalho. Como regra geral, portanto, os salários dos dias deparalisação não deverão ser pagos, salvo no caso em que a grevetenha sido provocada justamente por atraso no pagamento aosservidores públicos civis, ou por outras situações excepcionaisque justifiquem o afastamento da premissa da suspensão docontrato de trabalho (art. 7o da Lei no 7.783/1989, in fine). 6.5.Os tribunais mencionados também serão competentes paraapreciar e julgar medidas cautelares eventualmente incidentesrelacionadas ao exercício do direito de greve dos servidorespúblicos civis, tais como: i) aquelas nas quais se postule apreservação do objeto da querela judicial, qual seja, o percentualmínimo de servidores públicos que deve continuar trabalhandodurante o movimento paredista, ou mesmo a proibição dequalquer tipo de paralisação; ii) os interditos possessórios para adesocupação de dependências dos órgãos públicos eventualmentetomados por grevistas; e iii) as demais medidas cautelares queapresentem conexão direta com o dissídio coletivo de greve. 6.6.Em razão da evolução jurisprudencial sobre o tema dainterpretação da omissão legislativa do direito de greve dosservidores públicos civis e em respeito aos ditames de segurançajurídica, fixa-se o prazo de 60 (sessenta) dias para que oCongresso Nacional legisle sobre a matéria. 6.7. Mandado deinjunção conhecido e, no mérito, deferido para, nos termos acimaespecificados, determinar a aplicação das Leis nos 7.701/1988 e7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam ainterpretação do direito de greve dos servidores públicos civis.”(MI 670, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em25/10/2007, DJe-206 DIVULG 30-10-2008 PUBLIC 31-10-2008EMENT VOL-02339-01 PP-00001 RTJ VOL-00207-01 PP-00011)(grifos acrescidos)

A questão que ora se expõe, em verdade, refere-se ao conflito

entre dois direitos constitucionais: direito de greve versus direito à educação e à

Page 30: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

alimentação.

A Constituição Federal de 1988, segundo Alexandre de Moraes,

“deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém

normas referentes à estrutura do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de

governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos,

garantias e deveres dos cidadãos6”.

É, portanto, o marco fundante de todo ordenamento jurídico que

irradia sua força normativa para todos os setores do Direito, ou seja, “é o Direito

primordial, porquanto condiciona os demais7”. Esse condicionamento equivale dizer

que “todas as normas que integram a ordenação jurídica nacional só serão válidas se

se conformarem com as normas da Constituição Federal8”.

A respeito do assunto, é diretriz jurisprudencial do Superior

Tribunal de Justiça9:

“A Constituição não é ornamento, não se resume a um museu deprincípios, não é meramente um ideário; reclama efetividade realde suas normas. Destarte, na aplicação das normasconstitucionais, a exegese deve partir dos princípiosfundamentais para os princípios setoriais.”

A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu art. 1º como

fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e a

cidadania. Em seu art. 6º, enuncia os direitos sociais:

6 Direito Constitucional. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 36.

7 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 24ª ed. 3ª tir. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 344.

8 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20ª ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2002, p.46.

9 STJ. 1ª Turma, REsp 836.913, rel. Min. Luiz Fux, DJ 31.05.2007.

Page 31: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, otrabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, aproteção à maternidade e à infância, a assistência aosdesamparados, na forma desta Constituição.”

Dessa forma, a educação e a alimentação são direitos básicos de

cidadania e de sobrevivência, inerentes à dignidade da pessoa humana, razão pela

qual são objeto de um amplo sistema de direitos e proteção, derivado dos princípios

constitucionais, e em consonância com compromissos internacionais assumidos pelo

Brasil (= Estado soberano).

Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de

1948, da qual a República Federativa do Brasil é signatária, também consagra o

direito à alimentação e o direito à educação em seus arts. 25 e 26, respectivamente.

Na mesma linha, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,

promulgado pelo Decreto nº 591/1992, dispõe que os Estados-Partes reconhecem o

direito de toda pessoa a um nível de vida adequado, inclusive à alimentação e à

educação, conforme dispõem os arts. 11 e 13.

É dessa teia de direitos, proteções e compromissos que emergem

as previsões legais da Lei Orgânica de Segurança Alimentar (Lei nº 11.346/2006),

visando a assegurar o direito humano à alimentação adequada. O art. 2º estabelece:

“A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano,inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável àrealização dos direitos consagrados na Constituição Federal,devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façamnecessárias para promover e garantir a segurança alimentar enutricional da população.”

Ademais, a segurança alimentar e nutricional consiste na

Page 32: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de

qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras

necessidades essenciais, conforme disposto no art. 3º do diploma legal.

Essas normas visam à efetivação do valor – axioma – dignidade

da pessoa humana, incumbindo à sociedade como um todo e, mais especificamente,

às instituições vinculadas ao Poder Público, a exemplo da FUFSCar, a adoção de

medidas que assegurem sua plena realização.

Na mesma linha, o direito à educação é um dos mais valiosos e

importantes dentre os chamados direitos sociais, que são aqueles que carecem de

prestações positivas do Estado para seu atendimento. O direito à educação foi alçado,

pelo art. 6º da Constituição da República, à condição de direito fundamental,

indicativo de que o constituinte quis preservá-lo e promovê-lo como fator essencial de

cidadania e desenvolvimento do País.

Não foi outra a razão da dicção dada ao art. 205 da Constituição

Federal:

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e dafamília, será promovida e incentivada com a colaboração dasociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seupreparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para otrabalho.”

A doutrina também identifica o direito à educação, com absoluta

propriedade, como autêntico direito fundamental do cidadão perante o Estado de

Direito. A leitura conjugada dos arts. 6.º e 205, da Constituição Federal, permite essa

conclusão, conforme aponta Ingo Wolfgang Sarlet:

Page 33: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

“Enquanto no seu art. 6º a nossa Constituição apenas se limita aenunciar que a educação é um direito fundamental social e nadamais acrescenta que possa elucidar o conteúdo e alcance destedireito, nos arts. 205 a 208 de nossa Lei Fundamental, em seadotando o critério referido, encontram-se delineados oscontornos essenciais deste direito fundamental à Educação. Bastalançar um breve olhar para esses dispositivos para se perceberemas contundentes distinções no que concerne à sua técnica depositivação, à sua função como direitos fundamentais, bem como– por via de consequência – quanto à sua eficácia.10”

No dizer de Celso Bastos, a educação

“consiste num processo de desenvolvimento do indivíduo queimplica a boa formação moral, física, espiritual e intelectual,visando ao seu crescimento integral para um melhor exercício dacidadania e aptidão para o trabalho.” 11

Trata-se, no fundo, de um valor cuja observância exige o

envolvimento de todo o corpo social, como medida essencial à redução das

desigualdades sociais e regionais, a médio e longo prazos.

“A educação é direito social que tem disciplina nos arts. 205 a214 da Constituição. Cuida-se de direito público subjetivo e deum dever do Estado.Diz o art. 205 que a educação é direito de todos, confirmando,

assim, que se reveste da universalidade característica dos direitossociais. É dever do Estado e da família, promovida e incentivadacom a colaboração da sociedade, visando o plenodesenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício dacidadania e sua qualificação para o trabalho. Obrigação doEstado, da família e da sociedade, a educação também exige oenvolvimento de todo o corpo social, em todas as suasconfigurações, no caminho da redução das desigualdades sociaise regionais.(...)” (CHIMENTI, Ricardo Cunha, CAPEZ, Fernando, ROSA,

10 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 3ª ed. Porto Alegre : Livraria do Advogado, 2003.p. 318.11 Curso de Direito Constitucional, 22ª edição, São Paulo: Saraiva, 2010.

Page 34: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Márcio Fernando Elias, e SANTOS, Marisa Ferreira dos. Curso deDireito Constitucional, 7ª edição, Saraiva: São Paulo, 2010, pp.619-20)

O direito à educação, portanto, é um direito fundamental, cujo

atendimento é dever do Estado e da família, a ser promovido com a colaboração da

sociedade. Em decorrência, o âmbito de proteção do direito à educação não pode ficar

à mercê de grupos de interessados que julguem, ao seu alvedrio, em que medida,

quando e onde devem respeitá-lo.

É importante salientar que, no caso do Restaurante Universitário,

seu funcionamento só não está ocorrendo em razão de tumultos causados pelos

grevistas, que, organizados pelo SINTUFSCar, buscaram implantar, caso a FUFSCar

o mantivesse aberto, o deletério fenômeno chamado de “Preço Zero” ou “Catraca

Livre”, pelo qual à força se libera o usuário – seja ele quem for – do pagamento dos

preços das refeições oferecidas, em notório prejuízo ao adequado funcionamento de

tal serviço essencial.

O próprio Sindicato, no Comunicado nº 1/2015 (cópia à fl. 140 do

procedimento anexo), reconhece que é possível manter em funcionamento o

Restaurante Universitário, ainda que por meio de empregados terceirizados.

Não se desconhecem – tampouco se questionam – as lutas

travadas pelo referido Sindicato em prol de seus associados, na busca de melhores

condições de trabalho e de salários dignos. Essas questões, entretanto, não podem,

de forma nenhuma, prejudicar os alunos/estudantes que ali frequentam e, por vezes,

têm na instituição de ensino sua única fonte de alimentação e de busca de materiais

didáticos.

Tanto assim, que a própria FUFSCar, no Ofício nº 947, de

Page 35: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

5/5/2015 (fls. 114/6), reconheceu o funcionamento do Restaurante Universitário e da

Biblioteca Comunitária como essencial ao atendimento das necessidades da

comunidade acadêmica, com destaque para os seus alunos/estudantes:

“(...)No que diz respeito ao Restaurante Universitário, observa-se

que muito embora a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários eEstudantis realize a distribuição de gêneros alimentícios aosestudantes bolsistas (com dificuldades econômicas), talprovidência certamente não é o suficiente para o adequadoatendimento às necessidades de alimentação da comunidade.

Isso porque o Restaurante Universitário, além de fornecerrefeições aos estudantes beneficiários da bolsa alimentação,também atende aos demais estudantes da instituição, além deservidores e estagiários que atuam nos departamentosadministrativos e acadêmicos do campus universitário.

Além disso, o fornecimento dos gêneros alimentícios a apenasuma parcela dos estudantes usuários do RestauranteUniversitário faz com que esses estudantes precisem organizarseus horários para preparar suas refeições, sendo que muitosdeles residem em moradias estudantis fora do campusuniversitário. Certamente que a necessidade de preparar arefeição prejudica seus horários de aulas e de estudos.

De outro lado, a interrupção das atividades na BibliotecaComunitária interfere diretamente nas atividades acadêmicas dosestudantes do campus, que durante todo o período de greve nãotêm acesso às instalações adequadas e às obras indicadas pelosdocentes no processo de aprendizagem.

(...)”

A bem da verdade, condutas como forçar o fechamento do

Restaurante Universitário e da Biblioteca Comunitária apenas para causar percalços

aos alunos/estudantes e, por conseguinte, prejudicar a imagem da UFSCar e/ou

estimulá-la a aceitar a proposta do movimento paredista, sob o comando do

Sindicato, revelam profunda insensibilidade dos adeptos desse movimento para com

aqueles que dependem desses locais para se alimentar e para galgar novas etapas no

processo de aprendizagem.

Page 36: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Vale pontuar, ainda, que o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL,

buscando sensibilizar as entidades rés, expediu recomendações propondo as medidas

que ora se busca com a presente ação:

“(...)RESOLVE, com fundamento no art. 129, II e IX, da ConstituiçãoFederal, no art. 6°, XX, da Lei Complementar n° 75/1993 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), e no art. 27, parágrafoúnico, IV, da Lei n° 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional doMinistério Público):RECOMENDAR ao Reitor da Universidade Federal de São Carlos– UFSCar que, em períodos de greve prolongada: a) forneçaserviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aosessenciais, contínuos; b) durante a greve, mediante acordocom o sindicato ou a comissão de negociação, mantenhaem atividade equipes de empregados com o propósito deassegurar os serviços cuja paralisação resultem emprejuízo irreparável, pela deterioração irreversível debens, máquinas e equipamentos, bem como a manutençãodaqueles essenciais à retomada das atividades da e ntidade quando da cessação do movimento; c) não havendoacordo, enquanto perdurar a greve, contrate diretamenteos serviços necessários a que se refere o item anterior; d)nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, osempregadores e os trabalhadores ficam obrigados, decomum acordo, a garantir, durante a greve, a prestaçãodos serviços indispensáveis ao atendimento dasnecessidades inadiáveis da comunidade. São necessidadesinadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas,coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde oua segurança da população.”

“(...)RESOLVE, com fundamento no art. 129, II e IX, da ConstituiçãoFederal, no art. 6°, XX, da Lei Complementar n° 75/1993 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), e no art. 27, parágrafoúnico, IV, da Lei n° 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional doMinistério Público):RECOMENDAR ao Presidente do Sindicato dos Trabalhadores

Page 37: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Técnico- Administrativos da Universidade Federal de São Carlosque, em períodos de greve prolongada: a) em nenhuma hipótese, adote meios que possam violar ou constrangeros direitos e garantias fundamentais de outrem, bem comomanifestações e atos de persuasão que, se utilizados pelosgrevistas, possam impedir o acesso ao trabalho ou causarameaça ou dano à propriedade ou à pessoa; b) durante a greve, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador , mantenha em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar osserviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável,pela deterioração irreversível de bens, máquinas eequipamentos, bem como a manutenção daquelesessenciais à retomada das atividades da empresa quandoda cessação do movimento; c ) nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e ostrabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, agarantir, durante a greve, a prestação dos serviçosindispensáveis ao atendimento das necessidadesinadiáveis da comunidade. São necessidades inadiáveis, dacomunidade aquelas que, não atendidas, coloquem emperigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurançada população.”

Mais adiante, visando a afunilar o que recomendado, deram-se as

seguintes expedições:

“(…)RESOLVE, com fundamento no art. 129, II e IX, da ConstituiçãoFederal, no art. 6°, XX, da Lei Complementar n° 75/1993 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), e no art. 27, parágrafoúnico, IV, da Lei n° 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional doMinistério Público):RECOMENDAR ao Reitor da Universidade Federal de São Carlos– UFSCar que, em períodos de greve prolongada: a) adote as providências necessárias à manutenção do pleno funcionamento do Restaurante Universitário, visando a atender a os estudantes da referida instituição de ensino superior, bem como aos servidores e estagiários que eventualmente ali frequentem; e b) assegure amanutenção do funcionamento da Biblioteca Comunitária,

Page 38: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

bem como de outros meios que possam servir à realização de pesquisas p o r discentes e docentes, a exemplo de salas de informática e laboratórios.”

“(…)RESOLVE, com fundamento no art. 129, II e IX, da ConstituiçãoFederal, no art. 6°, XX, da Lei Complementar n° 75/1993 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), e no art. 27, parágrafoúnico, IV, da Lei n° 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional doMinistério Público):RECOMENDAR ao Presidente do Sindicato dos TrabalhadoresTécnico-Administrativos da Universidade Federal de São Carlos(SINTUFSCar), que, em períodos de greve prolongada: a) adote as providências necessárias à manutenção do plenofuncionamento do Restaurante Universitário, visando a atender a os estudantes da referida instituição de ensino superior, bem como aos servidores e estagiários que eventualmente ali frequentem; e b) assegure amanutenção do funcionamento da Biblioteca Comunitária,bem como de outros meios que possam servir à realização de pesquisas por discentes e docentes, a exemplo de salas de informática e laboratórios.”

As recomendações, todavia, não surtiram efeito, seja no âmbito

do Sindicato requerido, que não deixou de promover os atos abusivos, seja no da

FUFSCar, que manteve sua apatia, mesmo diante do quadro caótico instalado em seu

campus local.

Ademais, foram ouvidos nesta Procuradoria da República os

estudantes da UFSCar, José Arthur Escudeiro (fls. 197/9) e Diógenes Carneiro Eloi

Monteiro da Silva (fls. 200/2), havendo relato de ambos no sentido da necessidade de

reabertura do Restaurante Universitário, haja vista a insuficiência da mera distribuição

de alimentos, tendo em conta a realidade de cada um dos estudantes ali residentes ou

não, que por vezes nem sequer possuem meios para cozinhar os alimentos.

Anote-se por oportuno que foi apresentado a esta Procuradoria da

Page 39: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

República, ainda, abaixo-assinado subscrito por mais de 1.300 (um mil e trezentos)

alunos da referida instituição de ensino superior, solicitando a reabertura do

Restaurante Universitário (fls. 165/94).

A situação ora relatada, portanto, reclama urgência na

intervenção jurisdicional, especialmente para assegurar aos alunos e cidadãos (lato

sensu) o acesso aos serviços/atividades prestados pelo Restaurante Universitário e

pela Biblioteca Comunitária.

6. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

A tutela antecipada é modalidade de tutela de urgência

consistente na entrega ao autor, total ou parcialmente, da própria pretensão deduzida

em juízo ou de seus efeitos.

Com ela, realiza-se, no plano fático, o direito, mediante

concessão do bem da vida pretendido pelo requerente:

“2. Conceito e natureza jurídica. Tutela antecipatória dosefeitos da sentença de mérito, espécie do gênero tutelas deurgência, é providência que tem natureza jurídica mandamental,que se efetiva mediante execução lato sensu, com o objetivo deentregar ao autor, total ou parcialmente, a própria pretensãodeduzida em juízo ou os seus efeitos. É tutela satisfativa noplano dos fatos, já que realiza o direito, dando ao requerente obem da vida por ele pretendido com a ação de conhecimento. Nomesmo sentido: Ovídio Batista, Curso, v. I, n. 5.7.2, p. 136.Com a instituição da tutela antecipatória dos efeitos da sentençade mérito no direito brasileiro, de foma ampla, não há maisrazão para que seja utilizado o expediente das impropriamentedenominadas 'cautelares satisfativas', que constitui em si umacontradictio in terminis, pois as cautelares não satisfazem: se amedida é satisfativa, é porque, ipso facto, não é cautelar. Éespécie do gênero tutelas diferenciadas. A tutela antecipada tem

Page 40: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

como limite o pedido, vale dizer não se pode conceder, a títulode tutela antecipada, mais do que o autor obteria se vencedorna totalidade da pretensão que deduziu em juízo. O limite daextensão da concessão da medida existe porque se antecipa oprovimento de mérito (total ou parcialmente) ou algum efeitodele decorrente. A tutela antecipada está, portanto, vinculada aopedido e dele é dependente. Caso o autor queira coisa diversa,além ou fora do que consta como pedido, deverá ajuizar medidaautônoma.” (NERY JUNIOR, Nelson, e NERY, Rosa Maria deAndrade. Código de Processo Civil Comentado e LegislaçãoExtravagante, 10ª edição, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo,2008, p. 523)

O figurino da antecipação dos efeitos da tutela de mérito, em sua

feição genérica, encontra-se plasmado no art. 273 do Código de Processo Civil, in

verbis:

“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida nopedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, seconvença da verossimilhança da alegação e:I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícilreparação; ouII – fique caracterizado o abuso do direito de defesa ou omanifesto propósito protelatório do réu.(...)” (grifos acrescidos)

Por lei, os requisitos da tutela antecipatória decompõem-se na

prova inequívoca da verossimilhança da alegação deduzida pela parte interessada, a

indicar a necessidade da presença de um fumus boni juris mais denso que o da

medida cautelar, também nominado de probabilidade, e no receio de dano irreparável

ou de difícil reparação.

“(...) Para conciliar as expressões 'prova inequívoca' e'verossimilhança', aparentemente contraditórias, exigidas comorequisitos para a antecipação da tutela de mérito, é precisoencontrar um ponto de equilíbrio entre elas, o que se consegue

Page 41: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

com o conceito de probabilidade, mais forte do queverossimilhança, mas não tão peremptório quanto o de provainequívoca. É mais do que o fumus boni juris, requisito exigidopara a concessão de medidas cautelares no sistema processualcivil brasileiro. (…)31. Requisitos alternativos. Para a concessão da tutelaantecipada exige a lei uma de duas situações alternativas: a) oua existência do periculum in mora; b) ou a existência do abusodo direito de defesa do réu, independentemente da existênciade periculum in mora.II: 32. Requisitos para a concessão da tutela: periculum inmora. Duas situações, distintas e não cumulativas entre si,ensejam a antecipação dos efeitos da tutela de mérito. Aprimeira hipótese autorizadora dessa antecipação é o periculumin mora, segundo expressa disposição do CPC 273 I. Essaurgência, como já afirmado acima, não tem o condão detransmudar sua natureza satisfativa-executiva em medidacautelar. Esse perigo, como requisito para a concessão da tutelaantecipada, é o mesmo perigo exigido para a concessão dequalquer medida cautelar.(...)” (NERY JUNIOR, Nelson, e NERY, Rosa Maria de Andrade.Ob. Cit., p. 527)

Não há – nem poderia haver – empeço a que o Ministério Público

pleiteie o adiantamento dos efeitos da tutela jurisdicional, quer atue na qualidade de

autor, quer intervenha no processo como custos legis:

“10. Ministério Público. O que a norma (art. 273 do Código deProcesso Civil) é a concessão ex officio da tutela antecipada.Pode o MP requerê-la, quer atue como parte, quer como comofiscal da lei (CPC 82) no processo civil, pois tem os mesmospoderes e os mesmos ônus que as partes. O promotor de justiçaque atue na defesa de incapaz, por exemplo, pode requerer, emfavor do incapaz, a tutela antecipada. O MP, neste caso, não estáfazendo pedido em sentido estrito, pois este já fora feito pelaparte, atuando o MP apenas na busca dos efeitos do pedidopleiteado pela parte.” (NERY JUNIOR, Nelson, e NERY, RosaMaria de Andrade. Ob. Cit., p. 525)

Oportuno ressaltar, ainda, a possibilidade da incidência da tutela

Page 42: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

antecipada tout court, vale dizer, de perfil mais genérico e prevista no art. 273 do

Código de Processo Civil, no âmbito da ação civil pública, mediante combinação com o

disposto no art. 12 da Lei nº 7.347/85:

“3. Antecipação da tutela. Pelo CPC 273 e 461 § 3º, com aredação dada pela L 8952/94, aplicáveis à ACP (LACP 19), o juizpode conceder a antecipação da tutela de mérito, de cunhosatisfativo, sempre que presentes os pressupostos legais. Atutela antecipatória pode ser concedida quer nas ações deconhecimento, cautelares e de execução, inclusive de obrigaçãode fazer ou não fazer. (...)” (NERY JUNIOR, Nelson, e NERY, RosaMaria de Andrade. Constituição Federal Comentada e LegislaçãoConstitucional, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2006, p.507)

No caso em apreço, a verossimilhança das alegações expendidas

pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL encontra o necessário suporte na prova

documental instrutiva do inquérito civil subjacente, revelador da atual paralisação das

atividades administrativas no âmbito da FUFSCar, em particular do Restaurante

Universitário e da Biblioteca Comunitária, em grave prejuízo aos alunos/estudantes e,

mesmo, ao público em geral, como potencial usuário desses serviços.

Outrossim, o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação

deflui, de modo até eloquente, dos elementos trazidos pelo inquérito civil, pois a

interrupção dos serviços oferecidos pelo Restaurante Universitário (acesso à

alimentação adequada) e pela Biblioteca Comunitária (acesso a obras e materiais

hábeis a complementar o conhecimento teórico adquirido nas aulas) ocasiona grave

dano aos alunos/estudantes da referida instituição de ensino superior.

Impende agregar que, no dia 10/8 (segunda-feira), deu-se o

retorno às aulas, permanecendo os alunos/estudantes da UFSCar sem acesso ao

Page 43: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Restaurante Universitário e à Biblioteca Comunitária, mesmo que parcialmente12.

Sem dúvida, ao conceder ou não a tutela antecipada, o Poder

Judiciário deverá sopesar os bens em jogo no processo, isto é, os bens/interesses que

estão sendo discutidos pelas partes, de forma a priorizar um em detrimento do outro,

contanto que exista justificativa plausível para a sua escolha.

“À primeira vista, seria fácil concluir que a tutela antecipatórianão poderá ser concedida quando puder causar um dano maiordo que aquele que se pretende evitar. Contudo, para que ojuiz possa concluir se é justificável ou não o risco, elenecessariamente deverá estabelecer uma prevalênciaaxiológica de um dos bens em vista do outro, de acordocom os valores de seu momento histórico. Não se trata deestabelecer uma valoração abstrata dos bens em jogo, já que osbens têm pesos que variam de acordo com as diversas situaçõesconcretas.” (MARINONI, Luiz Guilherme. A Antecipação da Tutelana Reforma do Processo, 2ª edição, Malheiros Editores, SãoPaulo, 1996, pp. 82-3)

Além disso, a resposta do Poder Judiciário, para realizar o

objetivo da jurisdição, em seu tríplice aspecto (jurídico, político e social), e mais do

que correta e justa, precisa ser célere, sob pena de se tornar ineficaz e inefetiva em

virtude das modificações provocadas pelo tempo na realidade factual inicialmente

apresentada.

Ao abordar a efetividade do processo e da jurisdição, a doutrina

nacional de ponta, em deferência ao princípio constitucional do direito de ação,

estabelecido no art. 5º, XXXV, da Carta Política, apregoa:

“XXXV: 21. Direito de ação. Todos têm acesso à justiça parapostular tutela jurisdicional preventiva ou reparatória de um

12 Confira-se, nesse sentido, notícia vinculada pela imprensa: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/08/apesar-de-volta-aulas-funcionarios-da-ufscar-continuam-em-paralisacao.html .

Page 44: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

direito individual, coletivo ou difuso. Ter direito constitucional deação significa poder deduzir pretensão em juízo e também poderdela defender-se. O princípio constitucional do direito de açãogarante ao jurisdicionado o direito de obter do Poder Judiciário atutela jurisdicional adequada (Nery, Princípios, n. 18). Por tutelaadequada entende-se a que é provida da efetividade e eficáciaque dela se espera. Caso o jurisdicionado necessita de atuaçãopronta do Poder Judiciário, como, por exemplo, a concessão demedida liminar, pelo princípio constitucional do direito de açãotem ele direito de obter essa liminar. (...)” (NERY JUNIOR,Nelson, e NERY, Rosa Maria de Andrade. Ob. Cit., p. 131)

“Para consecução do objeto maior do processo, que é a pazsocial, por intermédio da manutenção do império da lei, não sepode contentar com a simples outorga à parte do direito deação. Urge assegurar-lhe, também, e principalmente, oatingimento do fim precípuo do processo, que é a solução'justa' da lide. Não é suficiente ao ideal de justiça garantira solução judicial a todos os conflitos; o que éimprescindível é que essa solução seja efetivamente'justa', isto é, apta, útil e eficaz para outorgar à parte atutela prática a que tem direito, segundo a ordem jurídicavigente.” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de DireitoProcessual Civil, v. 2, 20ª edição, Ed. Forense, Rio de Janeiro,1996, p. 359 (grifo colocado)

De rigor, portanto, a concessão da antecipação dos efeitos da

tutela, sob pena de se certificar a injustiça, marca indelével da justiça tardia ou

excessivamente burocrática/conservadora.

7. PEDIDOS

Com essas considerações, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

requer:

A) O recebimento, a autuação e o processamento da presente ação na forma e no rito

Page 45: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

preconizados em lei, juntamente com o Inquérito Civil nº 1.34.023.000047/2014-85,

em anexo;

B) A concessão inaudita altera pars – especialmente diante da urgência que a

situação reclama – ou, no caso de Vossa Excelência assim não entender, após a

observância do disposto no art. 2º da Lei nº 8.437/92 –, com supedâneo no art. 273

do Código de Processo Civil c/c o art. 12 da Lei nº 7.347/85, da antecipação dos

efeitos da tutela, para:

B.1) declarar a parcial ilegalidade/abusividade do movimento grevista

instalado na FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

(FUFSCar) , e determinar o retorno, no prazo de 72 (setenta e duas ) horas,

das atividades plenas do Restaurante Universitário e da Biblioteca

Comunitária, com a notificação pessoal (B.1.1) do Reitor da FUFSCar, TARGINO

DE ARAÚJO FILHO, ou de quem lhe faça as vezes, para que adote as providências

necessárias ao cumprimento da obrigação de fazer , sob pena da incidência de multa

diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) 13 à FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SÃO CARLOS (FUFSCar) , e de R$ 1 0 0 .000,00 ( cem mil reais) ao

Reitor , a recair sobre seu patrimônio pessoal, sem prejuízo da caracterização de ato

de improbidade administrativ a (art. 11 da Lei nº 8.429/92 ) e de crime de

desobediência (art. 330 do Código Penal) ou de prevaricação (art. 319 do Código

Penal); e (B.1.2) dos Coordenadores Gerais do SINDICATO DOS

TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL

13 O valor aqui buscado mostra-se adequado e proporcional ao atendimento do pleito, até porque foi o mesmoutilizado no âmbito da Petição nº 10.536-DF, pelo Superior Tribunal de Justiça:

“O desatendimento (que não espero) dos deveres aqui impostos (itens 9 e 10) nesta Decisão sujeitará asentidades promovidas à sanção pecuniária diária de R$ 200.000,00; confio que esta drástica medida, que adotono resguardo da autoridade e da eficácia do provimento judicial que ora expeço, não haverá de ser necessária,porque os destinatários desta ordem haverão de acatá-la, em seus exatos termos, mas sem excluir a eventualconstrição patrimonial ou financeira e/ou a retenção provisória de verbas, valores ou recursos. ” (Relator:Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJe: 17/06/2014 )

Page 46: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

DE SÃO CARLOS (SINTUFSCar), SERGIO RICARDO PINHEIRO NUNES e EDGAR

DIAGONEL, ou de quem lhes faça as vezes, para que não criem obstáculo, embaraço

ou dificuldade ao adequado funcionamento dos locais acima mencionados , sob pena

da incidência de multa diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) ao SINDICATO

DOS TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SÃO CARLOS (SINTUFSCar) , e de R$ 1 0 0 .000,00 ( cem mil reais) aos

referidos dirigentes , a recair sobre seu s patrimônio s pessoa is , sem prejuízo da

caracterização de crime de desobediência (art. 330 do Código Penal) ; e

B.2) proibir, n os movimentos grevistas doravante deflagrados no âmbito da

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (FUFSCar) , a prática,

pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (SINTUFSCar) , direta ou

indiretamente, de atos impeditivos – ou tendentes a impedir – o adequado

funcionamento d o Restaurante Universitário e da Biblioteca Comunitária , com a

notificação pessoal (B.2.1) do Reitor da FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SÃO CARLOS (FUFSCar), TARGINO DE ARAÚJO FILHO, ou de quem lhe faça as

vezes, para que adote as providências necessárias ao cumprimento da obrigação de

não fazer , mediante comunicação ao Juízo ou ao MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

de qua l quer ato contrário à decisão , sob pena da incidência de multa diária de R$

200.000,00 (duzentos mil reais) à FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO

CARLOS (FUFSCar) , e de R$ 1 0 0 .000,00 ( cem mil reais) ao Reitor , a recair sobre

seu patrimônio pessoal, sem prejuízo da caracterização de ato de improbidade

administrativo (art. 11 da Lei nº 8.429/92 ) e de crime de desobediência (art. 330 do

Código Penal) ou de prevaricação (art. 319 do Código Penal) , e (B.2.2) dos

Coordenadores Gerais do SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO-

ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

(SINTUFSCar), SERGIO RICARDO PINHEIRO NUNES e EDGAR DIAGONEL, ou

de quem lhes faça as vezes, para que adotem as providências necessárias ao

Page 47: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

cumprimento da obrigação de não fazer e não violem, por intermédio de qualquer de

seus filiados, a ordem judicial , sob pena da incidência de multa diária de R$

200.000,00 (duzentos mil reais) ao SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO-

ADMINISTRATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

(SINTUFSCar) , e de R$ 1 0 0 .000,00 ( cem mil reais) aos referidos dirigentes , a recair

sobre seu s patrimônio s pessoa is , sem prejuízo da caracterização de crime de

desobediência (art. 330 do Código Penal).

Pleiteia, também, a destinação dos valores devidos a título de multa cominatória,

mencionados nesta alínea, ao Fundo Federal de Direitos Difusos de que trata o art. 13

da Lei nº 7.347/85, regulamentado pelo Decreto nº 1.306/94.

Requer, desde logo, para o caso de haver resistência ao cumprimento da ordem

judicial, o acionamento de força policial, visando a preservar ou restabelecer a ordem

no campus local da UFSCar.

C) A citação das demandadas para, querendo, contestar os pedidos judicializados, sob

pena de revelia e confissão, de acordo com os arts. 297, 300 e 319 do Código de

Processo Civil;

D) A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo,

à vista do disposto no art. 18 da Lei nº 7.347/85, esclarecendo que o Ministério

Público não faz jus a honorários advocatícios;

E) A intimação pessoal do autor, mediante a entrega e vista dos autos nesta

Procuradoria da República, tendo em conta o disposto no art. 236, § 2º, do Código de

Processo Civil, e no art. 18, II, h, da Lei Complementar nº 75/93;

F) No mérito, a confirmação da decisão antecipatória dos efeitos da tutela e a

Page 48: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

consequente condenação das entidades rés às obrigaç ões de fazer e não fazer, nos

termos expostos no item B, incluindo a multa diária e as intimações/notificações dos

agentes ali contemplados ou de quem lhes fizer as vezes;

G) A condenação das rés aos ônus da sucumbência;

H) A produção de provas por todos os meios admitidos em Direito.

Atribui-se à presente causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos

mil reais), para efeitos fiscais.

Nestes termos,

pede deferimento.

São Carlos (SP), 14 de agosto de 2015.

RONALDO RUFFO BARTOLOMAZIProcurador da República

Page 49: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA … · FEDERAL por meio de espaço virtual intitulado “Sala de ... para os efeitos de fixação da ... v.u., DJ 04/06/1999, p. 19) “CONFLITO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO CARLOS/SP

Inquérito Civil nº 1.34.023.000047/2014-85

À Secretaria:

Encaminhe-se a petição inicial da ação civil pública à

Justiça Federal local, contendo 48 (quarenta e oito) laudas digitadas somente no

anverso, e instruída pelo presente inquérito civil.

São Carlos (SP), 14 de agosto de 2015.

RONALDO RUFFO BARTOLOMAZIProcurador da República