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Ministério Público do Estado de Goiás 7ª Promotoria de Justiça de Jataí Fazenda Pública, Curadoria de Registros Públicos, Curadoria do Patrimônio Público, Curadoria do Cidadão e Curadoria de Fundação Av. Norte nº 1.612, Setor Residencial Portal do Sol I, Jataí-Goiás - CEP 75.805-902 64 3631-6665/7170/0680/0724 e 127 | www.mp.go.gov.br _____________________________________________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL, FAZENDAS PÚBLICAS, REGISTROS PÚBLICOS e AMBIENTAL DA COMARCA DE JATAÍ, GOIÁS O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela Promotora de Justiça titular da 7ª Promotoria de Justiça de Jataí, com atribuição na curadoria do patrimônio público, com fulcro nas disposições do artigo 37, caput, artigos 127 e 129, inciso III, todos da Constituição Federal; artigo 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, artigo 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei n.º 8.625/93; artigo 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual n.º 25/98; artigo 117, inciso III, da Constituição do Estado de Goiás e ainda nas informações constantes do Inquérito Civil Púbico n.º 033/2011, em anexo, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de: EDVALDO MARCOS DE PAULA, brasileiro, solteiro, Vereador do Município de Perolândia-GO, filho de José Misael de Paula e Neria America de Paula, RG n.º 3665758-SSP/GO, CPF n.º 776.423.091-04, Título de Eleitor n.º 025952081007, residente na rua José Inácio da Costa Lima, Qd. 11, Lt. 13, Setor Planalto, CEP: 75.823-000, Perolândia- GO, podendo ainda ser encontrado na Câmara Municipal de Perolândia; ECOM – Escritório de Consultoria Municipal LTDA. , pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n.º 04.171.216/0001-70, com sede na Sexta Avenida, n.º 135, 2º piso, Setor Universitário, Goiânia-GO, representada por seu sócio-administrador, Sr. Eduardo Costa Ferreira, e; EDUARDO COSTA FERREIRA, brasileiro, advogado, inscrito nos quadros da OAB/GO sob o n.º 19220, CPF n.º 599.540.781-34, podendo ser encontrado na Sexta Avenida, n.º 135, 2º piso, Setor Universitário, Goiânia-GO. I – DA AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO Inicialmente, cumpre mencionar que o Requerido Edvaldo é vereador do município de Perolândia desde o ano de 1997, e no que concerne à presente ação, foi eleito Presidente da Câmara para o mandato de 2007/2008. 1

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Ministério Público do Estado de Goiás7ª Promotoria de Justiça de Jataí

Fazenda Pública, Curadoria de Registros Públicos, Curadoria do Patrimônio Público, Curadoriado Cidadão e Curadoria de Fundação

Av. Norte nº 1.612, Setor Residencial Portal do Sol I, Jataí-Goiás - CEP 75.805-902 64 3631-6665/7170/0680/0724 e 127 | www.mp.go.gov.br

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL, FAZENDASPÚBLICAS, REGISTROS PÚBLICOS e AMBIENTAL DA COMARCA DE JATAÍ,GOIÁS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela Promotora deJustiça titular da 7ª Promotoria de Justiça de Jataí, com atribuição na curadoria do patrimôniopúblico, com fulcro nas disposições do artigo 37, caput, artigos 127 e 129, inciso III, todos daConstituição Federal; artigo 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, artigo 25, inciso IV, alínea “a”,da Lei n.º 8.625/93; artigo 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual n.º 25/98;artigo 117, inciso III, da Constituição do Estado de Goiás e ainda nas informações constantesdo Inquérito Civil Púbico n.º 033/2011, em anexo, vem, respeitosamente à presença de VossaExcelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em face de:

EDVALDO MARCOS DE PAULA, brasileiro, solteiro, Vereador doMunicípio de Perolândia-GO, filho de José Misael de Paula e Neria America de Paula, RG n.º3665758-SSP/GO, CPF n.º 776.423.091-04, Título de Eleitor n.º 025952081007, residente narua José Inácio da Costa Lima, Qd. 11, Lt. 13, Setor Planalto, CEP: 75.823-000, Perolândia-GO, podendo ainda ser encontrado na Câmara Municipal de Perolândia;

ECOM – Escritório de Consultoria Municipal LTDA., pessoa jurídica dedireito privado, inscrita no CNPJ n.º 04.171.216/0001-70, com sede na Sexta Avenida, n.º135, 2º piso, Setor Universitário, Goiânia-GO, representada por seu sócio-administrador, Sr.Eduardo Costa Ferreira, e;

EDUARDO COSTA FERREIRA, brasileiro, advogado, inscrito nos quadrosda OAB/GO sob o n.º 19220, CPF n.º 599.540.781-34, podendo ser encontrado na SextaAvenida, n.º 135, 2º piso, Setor Universitário, Goiânia-GO.

I – DA AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO

Inicialmente, cumpre mencionar que o Requerido Edvaldo é vereador domunicípio de Perolândia desde o ano de 1997, e no que concerne à presente ação, foi eleitoPresidente da Câmara para o mandato de 2007/2008.

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Neste sentido vejamos, por meio da ementa colacionada abaixo, oentendimento do Supremo Tribunal de Justiça quanto ao instituto da prescrição para a situaçãoem análise:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRESIDENTE DACÂMARA DE VEREADORES. NOMEAÇÃO DE SERVIDOR PARA OCUPAÇÃOSIMULTÂNEA DE DOIS CARGOS NO ÂMBITO DO LEGISLATIVO LOCAL.PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. TERMO INICIAL. O TÉRMINO DO MANDATODE PRESIDENTE DA MESA DIRETORA. RECURSO DESPROVIDO.O prazo prescricional da Ação de Improbidade Administrativa é de cinco anos a contarda dia subsequente ao término do mandato para a qual o agente possuía competênciapara praticar o ato. A parte recorrente aponta violação ao art. 23, I, da Lei nº 8.429/92.Sustenta, em síntese, que, "ao contrário do entendimento esposado pelo Tribunal aquo, o término do mandato deve ser compreendido não como o momento da cessaçãodo período eletivo em que perpetrados os atos ilícitos, qual seja, durante a presidênciada Câmara de Vereadores - ainda que a competência para o ato ímprobo seja exclusivadesse cargo -, mas sim como o instante em que o agente se afasta definitivamente doexercício da função pública" (fl. 216). Contrarrazões às fls. 223-229. O MinistérioPúblico Federal, em parecer ofertado pelo Subprocurador-Geral da República MoacirGuimarães Morais Filho, opina pelo provimento do apelo. É o relatório. A insurgênciamerece acolhida. Isso porque, como bem assentou o Parquet, a jurisprudência doSuperior Tribunal de Justiça tem-se firmado no sentido de que, nas ações deimprobidade administrativa manejadas contra agentes políticos, o prazo prescricionaldeve ser contado a partir do dia subsequente ao término do mandato, ou seja, após oencerramento do vínculo do agente com a Administração Pública (…) No caso, osautos registram que o requerido foi vereador do Município de Capinzal e, nãoobstante tenha ocupado a função de Presidente da Câmara de Vereadores nosanos de 1997 e 1998, período em que foram praticados os atos alegadamenteímprobos, o fim do exercício de seu mandato se deu apenas em 31/12/2000.Ademais, consta à fl. 1 que a ação civil pública foi ajuizada pelo MinistérioPúblico Estadual em 20/6/2005, portanto, dentro do prazo legal. Logo, não cabefalar em prescrição. Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial,determinando o retorno dos autos à instância judicante de origem para que, afastada aprescrição, prossiga no julgamento do feito. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.312.167 –SC (2012/0062836-4) RELATOR: MINISTRO SÉRGIO KUKINA – RECORRENTE:MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA – RECORRIDO:ALCIDES BORGES). (O original não ostenta os negritos).

Assim, o mandato do Requerido como Presidente da Câmara inciou-se em2007 e findou-se em 2008, período em que foi cometido o ato ímprobo, porém, durante todosos anos seguintes, ininterruptamente, até a presente data, o Requerido foi vereador do referidomunicípio, e portanto, ainda não se encerrou o seu vínculo com a Administração Pública.

Em relação ao terceiro que acompanha o agente público na prática deimprobidade ou dela se beneficia, no caso a ECOM – Escritório de Consultoria MunicipalLTDA. e o seu sócio-administrador, Eduardo Costa Ferreira, o prazo prescricional é o mesmo.Não tem razão de ser eventual tratamento diferenciado, já que sua equiparação é prevista noartigo 3º, da Lei n.º 8.429/92.

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Entendimento este comungado pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme sepode extrair da ementa colacionada abaixo:

ADMINISTRATIVO – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO –AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO – PRAZO PRESCRICIONAL NASAÇÕES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA INTENTADAS CONTRA OPARTICULAR – TERMO INICIAL IDÊNTICO AO DO AGENTE PÚBLICOQUE PRATICOU O ATO ÍMPROBO. 1. No recurso especial de fls. 243/256-e, observa-se que o recorrente não procedeu aodevido cotejo analítico entre os acórdãos recorrido e paradigma, não bastando, paratanto, a simples colação de ementas e trechos do aresto comparado. 2. Esta CorteSuperior entende que o termo inicial da prescrição em improbidadeadministrativa em relação a particulares é idêntico ao do agente público quepraticou o ato ímprobo, matéria regulada no art. 23, I e II, da Lei n. 8.429/92.Precedente: (REsp 773.227/PR, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em9.12.2008, DJe 11.2.2009.) Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1197967 /Es Agravo Regimental no Recurso Especial 2010/0109658-4. Relator: MinistroHumberto Martins (1130). Órgão Julgador: T2 – Segunda Turma. Data do Julgamento:26/08/2010. Data da Publicação/Fonte: Dje 08/09/2010).(O original não ostenta os negritos).

Logo, considerando-se que o prazo prescricional deve ser contado a partir dodia subsequente ao término do mandato do agente público, conclui-se que a presente açãofoi proposta dentro do prazo legal, e consequentemente, não foi abarcada pelo institutoda prescrição.

Outrossim, conforme previsto no artigo 37, §5º, da Constituição Federal:

A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente,servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações deressarcimento.

Com base no referido artigo, é amplamente majoritário o entendimento dadoutrina e jurisprudência no sentido de que a ressalva contida no final do parágrafo leva àinexorável conclusão que as ações de ressarcimento são imprescritíveis.

O próprio Ministro Luiz Fux possui atualmente entendimento reconhecendo aimprescritibilidade do ressarcimento de danos ao erário, conforme se extrai da decisãomonocrática de sua autoria, firmada em 27/02/2013, in verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO ADMINISTRATIVO. DANO AOERÁRIO. ARTIGO 37, §5º. IMPRESCRITIBILIDADE. PRECEDENTES.1. São imprescritíveis as ações de ressarcimento de danos ao erário. Precedentes:MS n.º 26210/DF, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski,10.10.2008; RE n.º 578.428/RS-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro AyresBritto, DJe 14.11.2011; RE n.º 646.741/RS-AgR, Segunda Turma, Relator o MinistroGilmar Mendes, DJe 22.10.2012; AI n.º 712.435/SP-AgR, Primeira Turma, Relatora aMinistra Rosa Weber, DJe 12.4.2012. (AI 819135, Relator (a): Min. LUIZ FUX,julgado em 21/02/2013, publicado em DJe-039 DIVULG 27/02/2013 PUBLIC28/02/2013).

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(O original não ostenta os negritos).

Conclui-se, portanto, que, além do ato praticado pelos Requeridos não ter sidoabarcado pelo instituto da prescrição, a pretensão de ressarcimento por prejuízo ao erário éimprescritível, e portanto o prazo para ajuizamento da presente ação não foi ultrapassado.

II – DOS FATOS

Instaurou-se, nesta Promotoria de Justiça, o Inquérito Civil Público n.º033/2011, em 23 de setembro de 2011, a fim de investigar as possíveis irregularidadesencontradas nos balancetes da câmara municipal de Perolândia referentes aos exercícios de2007 e 2008, período de gestão do Requerido Edvaldo como presidente e, por conseguinte,ordenador máximo de despesas daquela casa legislativa.

Tal prática tornou-se conhecida por esta subscritora a partir da representação,fls. 07/34, apresentada pelo então vereador e presidente da câmara, Sr. Sérgio Pereira deLima.

Verificou-se, assim, que em 02 de janeiro de 2007, a câmara municipal dePerolândia, representada pelo seu presidente, à época dos fatos, Requerido Edvaldo, firmoucontrato (fls. 51/52) com a Requerida ECOM, representada por seu sócio-administradorEduardo Costa Ferreira, ora Requerido.

O contrato previu o pagamento do valor global de R$ 42.000,00 (quarenta edois mil reais) pelos serviços prestados, pago em doze vezes de R$ 3.500,00 (três mil equinhentos reais).

No entanto, consoante se dessome do decreto n.º 01/2007, o referido contratofoi precedido de procedimento que culminou na declaração de inexigibilidade de licitação.

Neste sentido, por meio do decreto n.º 01 A/2008 (fl. 708), o qual tambémdeclarou a situação de inexigibilidade de licitação, o Requerido Edvaldo, em 02 de janeirode 2008, celebrou um novo contrato (fls. 706/707) com a empresa Requerida ECOM e oRequerido Eduardo, com o fito de abarcar o patrocínio de causas advocatícias durante os dozemeses do ano de 2008.

O mencionado contrato previa o pagamento do valor global de R$ 44.400,00(quarenta e quatro mil e quatrocentos reais), parcelado em doze vezes de R$ 3.700,00 (trêsmil e setecentos reais) pelos serviços contratados.

E, por fim, ainda que não diga respeito aos contratos supracitados, cumpremencionar que os Requeridos, no ano de 2007, celebraram um segundo contrato, precedido dedispensa de licitação, relativo a prestação de serviço de realização de concurso público, novalor de R$18.800,00 (dezoito mil e oitocentos reais), conforme ordens de pagamento de fls.98 e 107 e recibo de fl. 99.

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Ilegalidade esta que já foi tema da ação civil pública por ato de improbidadeadministrativa protocolada sob o n.º 200805738040, a qual já teve, inclusive, sentença,transitada em julgado, favorável à pretensão ministerial.

Por todo o exposto e com fundamento nos documentos carreados aos autos,constata-se que Edvaldo Marcos de Paula, ora Requerido, utilizando-se de sua condição depresidente da câmara de Perolândia durante os anos de 2007 e 2008 e, portanto, ordenadormáximo de despesas desta casa legislativa, ao dispensar indevidamente o procedimentolicitatório e celebrar os referidos contratos com a Requerida ECOM e o Requerido Eduardo,atentou contra o patrimônio público municipal e os princípios que regem aadministração pública, motivo pelo qual deverá ser responsabilizado.

III – DA LEGITIMIDADE ATIVA

A atuação do Ministério Público está prevista nos artigos 127, caput, e 129,inciso III, da Constituição Federal, bem como no artigo 117, inciso III, da ConstituiçãoEstadual de Goiás.

A legitimidade do Parquet para promover a presente ação está disposta noartigo 17, caput, da Lei da Improbidade Administrativa, que lhe atribui, expressamente, opoder-dever de promover a ação civil pública.

Ainda neste sentido, a Lei da Ação Civil Pública, em seu artigo 5º, atribui aoMinistério Público o poder-dever de propor ações civis públicas, objetivando a defesa deinteresses difusos e coletivos.

E as Leis Orgânicas Federal e Estadual do Ministério Público, por sua vez,igualmente preveem a legitimidade deste órgão para a propositura da presente ação, a Lei n.º8625/93 em seu artigo 25, inciso IV, alínea “a”, e a Lei Complementar Estadual n.º 25/98 emseu artigo 46, inciso VI, alínea “a”.

E, por fim, a Súmula nº. 329, do Superior Tribunal de Justiça dispõe que:

O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesado patrimônio público.

Portanto, é clarividente a legitimidade do Ministério para demandar contraos Requeridos na presente ação.

IV – DA LEGITIMIDADE PASSIVA

Os artigos 1º, 2º e 3º, da Lei n.º 8.429/92 prelecionam o seguinte:

Art. 1º – Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ounão, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderesda União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresaincorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário

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haja concorrido ou concorra com mais de 50% (cinquenta por cento) do patrimônio ouda receita anual, serão punidos na forma desta Lei.

Art. 2º – Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce,ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmonão sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidadeou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.(O original não ostenta os negritos).

Os fatos investigados no Inquérito Civil n.º 033/2011 referem-se à contrataçãode serviços de assessoria jurídica, sem o devido processo licitatório, celebrada entre a câmaramunicipal de Perolândia e a Requerida ECOM, representada por seu sócio-administrador,Requerido Eduardo, durante a gestão do Requerido Edvaldo como presidente e, porconseguinte, ordenador máximo de despesas daquela casa legislativa, durante os anos de 2007e 2008.

Cumpre mencionar que o Requerido Edvaldo figurava como representantelegal da câmara municipal de Perolândia e, além disso, assinou ambos os contratos.

Ademais, conforme se extrai do artigo 3º, da Lei n.º 8.429/92, o particular queinduza ou concorra para o ato de improbidade administrativa, ou dele se beneficie, também éconsiderado sujeito ativo da Lei n.º 8.429/92.

Nesse sentido, segue o posicionamento da Ministra Eliana Calmon, relatora doREsp nº 931135/RO, que ficou assim ementado:

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. TERCEIRO NÃOOCUPANTE DE CARGO PÚBLICO. CONCURSO PARA A PRÁTICA DE ATODESCRITO NO ART. 9º DA LEI 8.429/92. CONDENAÇÃO. POSSIBILIDADE.INCIDÊNCIA DOS ARTS. 1º E 3º DA LEI 8.429/92. 1. Os arts. 1º e 3º da Lei8.429/92 são expressos ao preservarem a responsabilização de todos, agentespúblicos ou não, que induzam ou concorram para a prática do ato deimprobidade ou dele se beneficiem sob qualquer forma, direta ou indireta . 2. Aexpressão ‘no que couber’ prevista no art. 3º, deve ser entendida apenas como formade restringir as sanções aplicáveis, que devem ser compatíveis com as condiçõespessoais do agente, não tendo o condão de afastar a responsabilidade de terceiroque concorre para ilícito praticado por agente público. 3. Recurso especial nãoprovido.(O original não ostenta os negritos).

Não há dúvidas que os Requeridos Eduardo Costa Ferreira e ECOM –Escritório de Consultoria Municipal LTDA. beneficiaram-se diretamente dos contratoscelebrados entre eles e a câmara municipal de Perolândia, à época representada por Edvaldo,haja vista que receberam os valores contratados.

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Eduardo Costa Ferreira é o sócio-administrador da empresa Requerida ECOM,sendo ele o representante da empresa no momento da realização dos contratos celebrados coma câmara municipal de Perolândia para a prestação de serviços de assessoria jurídica dos anosde 2007 e 2008.

A figura do sócio-administrador não se mistura com a empresa na qualrepresenta. Portanto, ambos devem figurar no polo passivo desta ação de improbidade, umavez que o sócio-administrador não pode se esconder atrás da pessoa jurídica que representa,com o fim de se eximir de suas responsabilidades.

Neste sentido:

ADMINISTRATIVO. FORNECIMENTO DE ÁGUA. LOTEAMENTOIRREGULAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS ADMINISTRADORES.RESPONSABILIDADE DO LOTEADOR E COISA JULGADA. REVOLVIMENTODE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVOIMPROVIDO.1. Colhe-se dos autos que o Ministério Público ajuizou a ação civil públicapretendendo a condenação dos réus na instalação de rede de abastecimento público deágua, e visando responsabilizar o administrador da pessoa jurídica, porquanto esteteria se beneficiado de atos ilegais ao vender lotes que não se enquadravam nos termosda legislação.2. O Tribunal de origem entendeu que, na hipótese, a legitimidade passiva naação civil pública competiria tanto à pessoa jurídica quanto ao administrador,nos termos do art. 6° da Lei 4.717/65 - “A ação será proposta contra as pessoaspúblicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1°, contra as autoridades,funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificadoou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade àlesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.” (sic) (e-STJ, fls. 295).3. Já foi julgado por esta Corte que, “a ação civil pública e a ação popular compõemum microssistema de defesa do patrimônio público na acepção mais ampla do termo,por isso que regulam a legitimatio ad causam de forma especialíssima.” (Resp791.042/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 19/10/2006, DJ09/11/2006, p. 261). Bem como que, nas ações civis públicas: “O atingimento de benspessoais dos sócios revela medida excepcional que, evidentemente, reclama aobservância de garantias mínimas e aplicação cum grano salis, em virtude daremansosa jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade dos sócios.” (REsp.839.916/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 04/09/2007, DJ11/10/2007, p. 301).4. Bem pensadas as coisas, a manutenção dos administradores no polo passivo da lidenão se justifica no caso dos autos, ante a inaplicabilidade das disposições específicasda Lei de Ação Pública, no ponto, e a ausência da desconsideração da personificaçãojurídica da empresa ré.5. A pretensão de simples reexame de provas, além de escapar da funçãoconstitucional deste Tribunal, encontra óbice na Súmula 7 do STJ.Agravo regimental parcialmente provido. (STJ, AgRg. No AREsp. 125841/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins,DJe 25/04/2012). (O original não ostenta os negritos).

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PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃOCIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DOCPC INOCORRENTE. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO.LEGITIMIDADE PASSIVA.1. Não há violação do artigo 535 do CPC quando o acórdão, mesmo sem terexaminado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo recorrente, adotafundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia, apenas nãoadotando a tese defendida pelo recorrente, manifestando-se, de maneira clara efundamentada, acerca de todas as questões relevantes para a solução da controvérsia,inclusive em relação as quais o recorrente alega contradição e omissão.2. Considerando que as pessoas jurídicas podem ser beneficiadas e condenadaspor atos ímprobos, é de se concluir que, se forma correlata, podem figurar nopolo passivo de uma demanda de improbidade, ainda que desacompanhada deseus sócios.3. Recurso especial não provido.(STJ, REsp. 970393/CE, Primeira Turma, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, DJe29/06/2012). (O original não ostenta os negritos).

Conclui-se, assim, que o Requerido Edvaldo é, portanto, agente público nostermos do artigo 2º, e a Requerida ECOM e o Requerido Edvaldo são particulares que sebeneficiaram do ato ímprobo, nos termos do artigo 3º, da Lei de Improbidade Administrativa,estando os três, de conseguinte, sujeitos às suas punições por serem legitimados paratanto.

V – DO DIREITO

1 – Da necessidade de a câmara municipal contar com cargo permanentede advogado

Os serviços de advocacia na Administração Pública são imprescindíveis. Éindispensável a presença do advogado nas disputas judiciais em favor da Administração, bemcomo é inafastável sua participação na direção, assistência e consultoria dos serviços jurídicosem geral.

Ademais, a prática de atos administrativos – que devem se subsumir aosprincípios contidos no artigo 37 da Constituição da República – demanda o concurso daorientação técnica de Direito, que apenas um advogado devidamente habilitado podelicitamente fornecer.

Disso decorre a imperiosidade da presença ininterrupta do advogado na câmaramunicipal. É necessário que o ente conte com um quadro permanente de procuradores quecorrespondam às suas necessidades, haja vista não se tratar de atividade acessória, masinerente e indispensável à atividade-fim.

O advogado público deve possuir vínculo jurídico específico e compromissopeculiar com o interesse público posto no sistema jurídico, os quais hão de ser legalmenteconcretizados pelo administrador público através de um cargo público de provimento pormeio de concurso público.

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Tal interesse não sucumbe nem se altera aos sabores e humores de algunsadministradores ou de grupos que, eventualmente, detenham maiorias parlamentares eadministrativas. Por isso mesmo é que o advogado não pode ficar sujeito a interessessubjetivos e passageiros dos governantes.

O doutrinador Dalmo De Abreu Dallari leciona que:

O Procurador Público é quem torna certo que o poder público não é imune aoDireito. Compete-lhe defender os interesses sociais, particularizados numa entidadepública sem excessos ou transigências, sempre segundo o Direito. Consciente de que opoder político e a atividade administrativa são expressões da disciplina jurídica dasatividades de direção e administração da sociedade, o Procurador, orientando oupromovendo a defesa de interesses, jamais deverá omitir o fundamento jurídico de seudesempenho. E sua consciência jurídica não há de permitir que, pela vontade deagradar ou pelo temor de desagradar, invoque o Direito segundo o critério deconveniência, para acobertar ações ou omissões injustas. (DALLARI, Dalmo deAbreu. O Renascer do Direito. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 47)(O original não ostenta os negritos).

Os serviços desempenhados pelo procurador jurídico de uma câmara municipalsão inúmeros, destacando-se a assistência, consultoria e representação jurídica do órgão, adefesa em juízo, evitando prejuízos judiciais inexplicáveis, a instauração de sindicâncias eprocessos administrativos, elaboração de convênios e contratos e, principalmente, o controledos atos administrativos municipais.

Tem-se que tais serviços se voltam para corresponder ao interesse público.Devem ser realizados com eficiência e competência, com zelo diário. Portanto não se tratamde serviços eventuais.

Destarte, o cargo de Procurador Jurídico da câmara municipal deve sercaracterizado pela estabilidade. Esta é a qualidade de um cargo público, que o direciona nosentido de prover-se em caráter definitivo, permanente, o que se sedimenta após oatendimento das exigências legais, tais como a nomeação de concursado na ordem declassificação do concurso específico ou o estágio probatório etc. (ROCHA, Cármen LúciaAntunes Rocha. Princípios Constitucionais dos Servidores Públicos, Saraiva).

Com efeito, a Constituição da República, no seu artigo 132, prevê anecessidade de os Procuradores de Estados e do Distrito Federal organizarem-se em carreiras.Não há fundamento para o ente Municipal deixar de estruturar sua procuradoria ou, nomínimo, manter os cargos de advogados em número compatível com suas necessidades edentro das possibilidades de sua receita. A essencialidade do serviço técnico de Direito impõeà câmara municipal o exercício da sua autonomia administrativa para a criação do cargo deadvogado.

A seguir a transcrição, in verbis, do artigo 132, da Constituição Federal:

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira,na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a

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participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão arepresentação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidadeapós três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante osórgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.

É certo que o artigo 132 da Constituição Federal não inclui expressamente osprocuradores municipais ou da câmara municipal. Todavia, o princípio da simetria,explicitado acima e amplamente reconhecido na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,e a interpretação sistemática da Constituição, excluem qualquer possibilidade de que osadvogados públicos dos municípios possam advir exclusivamente de contratos.

Logo, é inconcebível que a câmara municipal, à revelia do que prescreve aConstituição da República, estruture seu quadro de carreira jurídica sem que haja concursopúblico, pois estabeleceria regra contrária ao que prescreve a Constituição, e em evidenteassimetria.

Assim sendo, é intolerável a existência de cargos da advocacia públicamunicipal, com exceção do cargo de Procurador ou Advogado-Geral, a serem providos pormeio que não seja o concurso público, pois, em razão dos comandos constitucionais, não hápossibilidade da estruturação da advocacia pública municipal de forma assimétrica ao textoconstitucional e em arrepio ao regime principiológico da administração pública.

Contudo, o objeto principal deste processo é a contratação direta de prestaçãode serviços jurídicos sem o devido procedimento licitatório.

2 - Da ilegalidade da terceirização de advogados públicos

Em flagrante ofensa aos princípios constitucionais do concurso público e dasimetria, grande parte das casas legislativas brasileiras ainda procede à contratação deadvogados terceirizados.

É cediço que a terceirização da procuradoria da câmara municipal éabsolutamente incompatível com a natureza das atividades e das necessidades do órgão. Atransitoriedade inerente a tais contratos é maléfica ao interesse do ente municipal.

A procuradoria jurídica não pode estar sujeita a interesses pessoais ou acondições específicas provisórias, ainda que seja município de pequeno porte. De qualquerforma, terá que despender valores para a contratação direta de assessoria jurídica, que, namaioria das vezes, acaba por onerar ainda mais os cofres públicos, haja vista que aremuneração de um assessor jurídico provido por cargo efetivo não pode ser alta emmunicípio de pequeno porte, até mesmo para se respeitar o teto constitucional.

Reitere-se que tais serviços correspondem a tarefas permanentes, contínuas,inerentes e indispensáveis à atividade-fim da câmara, insuscetíveis de contratação pelo regimeda Lei de Licitações. Somente quando se tratar de serviços esporádicos ou temporários,desenvolvidos por exceção, incidirá o regime da Lei n.º 8.666/93.

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O Tribunal de Contas da União possui entendimento no sentido de que somenteé possível a contratação de empresas para a prestação de serviços a entidades e órgãos daAdministração Pública se esses serviços não estiverem incluídos dentre aqueles especificadoscomo sendo atribuição de cargos de carreira e que não venham a caracterizar terceirização deatividade-fim do órgão ou entidade administrativa contratante. (BRASIL. Tribunal de Contasda União. Decisão 680/95. Plenário. Relator: Ministro Fernando Gonçalves. Brasília, DF, 12de dezembro de 2005).

Acerca do impedimento de terceirização, decidiu o Tribunal de Contas deMinas Gerais:

Ante o exposto, concluo não ser possível ao Município a terceirização de todos os seusserviços, mas apenas a daqueles de natureza auxiliar, ligados à atividade-meio. Nãopode o Município terceirizar serviços que abrangem sua atividade-fim,traduzindo atribuições típicas de cargos permanentes, que só podem serpreenchidos por concurso público. (MINAS GERAIS. Tribunal de Contas do Estadode Minas Gerais. Consulta nº 442.370. Relator: Conselheiro Moura e Castro. BeloHorizonte, MG, 22 de abril de 1998).(O original não ostenta os negritos).

Assim, a transferência de atividades administrativas a terceiros somente épossível quando estas não se relacionam à atividade-fim. Constatando-se que os serviços aserem terceirizados correspondem a tarefas permanentes, contínuas, inerentes e indispensáveisà atividade-fim da Administração, ainda que seja realizada licitação, a contratação é tida porilegal, importando em violação do dever de realizar concurso público, conforme mandamentocontido no artigo 37, inciso II, da Constituição da República.

3 - Do suprimento da falta transitória do titular do cargo de procuradorjurídico, até seu regular provimento por concurso público

Os serviços jurídicos de natureza ordinária do ente desafiam a permanênciaininterrupta do profissional do Direito. Assim, até seu efetivo e regular provimento, é de seradmitida, transitoriamente, a contratação de profissional por meio de processo licitatório (art.37, XXI, da Constituição Federal e 1º e 2º da Lei Federal nº 8.666/93), salvo nos casos dedispensa de licitação previstos nos incisos II e IV do art. 24 da Lei Federal n. 8.666/93,atendidos aos requisitos do art. 26 daquele diploma legal.

O contrato deverá especificar direitos, obrigações, responsabilidades docontratado, carga horária e horário de expediente, prazo da contratação e valor mensal docontrato, observada a compatibilidade com a jornada de trabalho e o valor do mercadoregional.

Ressalte-se que a situação é provisória, e por sua natureza transitória, há de serconsignado no termo de contrato que a avença deverá ser rescindida antes do prazo (termofinal), uma vez encerrado o concurso público e efetivada a nomeação dos aprovados.

4 - Dos serviços técnicos especializados e da impossibilidade decontratação direta por inexigibilidade de licitação

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É de rigor registrar que, conforme foi explicitado, os serviços de assessoriajurídica da câmara municipal devem ser realizados pelo procurador jurídico.

Entretanto, no presente caso, caracterizado pela ausência deste cargo em talcasa legislativa, os contratos de assessoria jurídica, até a realização de concurso público,devem submeter-se, via de regra, a processo licitatório.

Neste sentido, a Lei n.º 8.666/93 prevê a contratação direta de serviçosadvocatícios, com assento na inexigibilidade de licitação, apenas diante da especificidade epeculiaridade do objeto.

O artigo 13 da referida lei elenca os serviços considerados técnicosprofissionais especializados e, para tanto, exige, para a correta inexigibilidade doprocedimento licitatório, requisitos a serem fidedignamente cumpridos.

São requisitos indispensáveis à inexibilidade da licitação: I – que o serviço aser prestado esteja previsto nos incisos do artigo 13 da Lei n.º 8.666/93; II – que o contratadopossua notória especialização; III – que as atividades a serem desempenhadas guardemconsonância com a especialização do contratado.

A respeito do tema, discorre o Professor Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, ex-Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Distrito Federal, emsua excelente monografia intitulada Contratação Direta Sem Licitação, que:

A singularidade, como textualmente estabelece a Lei, é do objeto do contrato; é oserviço pretendido pela Administração que é singular, e não o executor do serviço.Aliás, todo profissional é singular, posto que esse atributo é próprio da naturezahumana. (…) A singularidade do objeto pretendido pela Administração é o pontofundamental da questão, mas boa parte da doutrina pátria, data venia, não tem dadoenlevo ao termo, ou quando o faz acaba por associá-lo ao profissional, deixando deidentificar o serviço. (…) A esse respeito, no julgamento do Processo TC-013.263/93-5, mesmo a contratação de profissionais de grande renome,INCLUSIVE MINISTRO APOSENTADO DO SUPREMO TRIBUNALFEDERAL, foi considerada irregular porque os serviços contratados não eram, arigor, de natureza singular a ponto de justificar a inviabilidade da competição. (3ªed. Brasília Jurídica, 1997, p. 331).(O original não ostenta os negritos).

O mesmo autor, em tópico específico sobre a contratação de serviçosadvocatícios, cita um excerto da decisão 137/94-TCU, da qual consta:

Com relação ao Contrato nº 028/SR-DEJUR-5, com o escritório de advocacia França eRibas S/C, a analista refutou as alegações da entidade, que sustentava a inexigência delicitação, com base na singularidade dos serviços (singularidade objetiva), comotambém na notória especialização dos sócios da firma contratada (singularidadesubjetiva). Demonstrou a instrução tratar-se, na realidade, de serviços rotineirosde advocacia e, portanto, passíveis de competição no mercado próprio. E,circundando essa manifestação, asseriu o Ministro Relator que como bem salientou a

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instrução, o cerne da questão, na espécie, não é a competência ou mesmo anotoriedade da contratada e de seus profissionais, mas a possibilidade de competiçãono mercado para a prestação dos serviços desejados, que vão desde a defesa de direitose interesses da RFFSA, em processos judiciais, nas esferas civil, trabalhista, criminal efiscal, até a confecção de pareceres jurídicos sobre quaisquer assuntos relacionados àsua esfera de atuação. (3ª ed. Brasília Jurídica, 1997, p. 331).(O original não ostenta os negritos).

Nesta linha de intelecção, o agente a ser contratado para realizar o serviço hátambém de ser diferenciado. Essa característica inerente à pessoa é denominada pela lei de“notória especialização”, conforme estatuído no artigo 25, §1º, da Lei de Licitações.

O §1º do artigo 25 da Lei de Licitações considera o profissional de notóriaespecialização aquele:

cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior,estudos, experiências publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou deoutros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho éessencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto docontrato.

Também se faz necessário que haja conformidade entre o objeto e o sujeitocontratado. Assim, a notória especialização deve conferir ao profissional as qualidadesnecessárias à plena satisfação do objeto, não outras.

Assim, deve a Administração necessitar de um serviço singular, que para asatisfação do objeto se exija conhecimento de tamanha especialidade, que impossibilite aconcorrência, algo incomum de se verificar no plano prático, atendendo-se cumulativamenteos requisitos em questão.

Neste prisma, conforme destacado, nota-se que os requisitos se dão de maneiracumulada e tais que se afasta a necessidade de licitação, apenas nas hipóteses em que semostra impossível a competição, dada a singularidade, tanto do serviço a ser prestado,como pelo profissional contratado.

Indispensável, assim, que o serviço técnico, no interior do conjunto que ocategoriza, revista-se de características individualizadoras, as quais justifiquem umacontratação diferenciada para sua satisfação, que impossibilite, de maneira inequívoca, aconcorrência.

Para Maria Sylvia Zanella de Pietro:

não basta tratar-se de um dos serviços previstos no artigo 13; necessário que acomplexidade, a relevância, os interesses públicos em jogo tornem o serviçosingular, de modo a exigir a contratação com profissional notoriamenteespecializado. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21ª ed. SãoPaulo: Atlas, 2008).(O original não ostenta os negritos).

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Entendimento este compartilhado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estadode Goias conforme a ementa colacionada abaixo:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. LEGITIMIDADE. CARÊNCIA DE AÇÃO.DISPENSA DE LICITAÇÃO. CONTRATAÇÃO DE ASSESSORIA CONTÁBILE JURÍDICA. SINGULARIDADE NÃO CARACTERIZADA.INEXIGIBILIDADE INDEVIDA. PREJUÍZO AO ERÁRIO. CONFIGURAÇÃODO ATO ÍMPROBO. PARTICIPAÇÃO DE TERCEIROS. APROVAÇÃO DASCONTAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS NÃOVINCULAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. (…) 4) - A contratação com o PoderPúblico impõe, em regra, o prévio procedimento licitatório, somente dispensávelou inexigível, nos casos previstos em lei, ex vi do artigo 37, inciso XXI, daConstituição Federal. 5) - O mero enquadramento formal do serviço contratado norol do art. 13 da Lei nº 8.666/93 não autoriza a inexigibilidade de licitação, sendoimprescindível a comprovação da notória especialização do profissional, a tornar-se totalmente inviável a competição, bem assim a singularidade do objeto, isto é,que os serviços a serem executados se revistam de alta complexidade, escapandodo alcance do profissional médio, o que não restou caracterizado. 6) - No presente,houve a comprovação do prejuízo ao erário e da conduta, no mínimo, culposa dosmencionados réus, por ser evidente que o caso não era de dispensa ou inexigibilidadede licitação. Ademais, os serviços de contabilidade foram parcialmente prestados e, notocante à assessoria jurídica, os valores pagos são exorbitante para a atuação empouquíssimas demandas de interesse do Município de Piracanjuba, durante 7 (sete)anos. 7) - O Controle exercido pelo Tribunal de Contas, não é jurisdicional, por issonão há qualquer vinculação da decisão proferida por aquele órgão e a possibilidade deser o ato impugnado em sede de ação de improbidade administrativa, sujeita aocontrole do Poder Judiciário, conforme expressa previsão do artigo 21, inciso II, daLei 8.429/92. (…) (TJGO, APELACAO CIVEL 202653-58.1998.8.09.0123, Rel.DES. KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em12/09/2013, DJe 1406 de 11/10/2013).(O original não ostenta os negritos).

Por fim, o Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás, embora atrasada etimidamente, diante do posicionamento efusivo e uníssono da doutrina e jurisprudência,publicou, em 07 de outubro de 2011, a Instrução Normativa n.º 04/11, que dispõe sobre arealização dos serviços contábeis e jurídicos no âmbito da Administração Municipal, inverbis:

O TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS, no usode suas atribuições legais e regimentais, Considerando que a investidura em cargo ouemprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou deprovas e títulos, conforme dispõe o artigo 37, inciso II, da Constituição Federal;Considerando a importância da continuidade dos serviços permanentes pelaAdministração Pública, sobretudo por ocasião da alternância de mandatos;Considerando que a Lei Complementar nº 131/09, determina que no mês de maio de2013 encerra-se o prazo para que os municípios de menor porte disponibilizem, emtempo real, as informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária efinanceira, em meios eletrônicos de acesso público, sendo que para os municípios demaior porte este prazo já escoou-se, e a efetividade do tempo real, depende,incontestavelmente, de melhor estruturação dos serviços jurídicos e contábeis de

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natureza administrativa e permanente; Considerando também que a partir de 2013 osmunicípios deverão utilizar, de forma obrigatória, o PCASP (Plano de ContasAplicado ao Setor Público), tendo em vista a necessidade de padronização dosprocedimentos contábeis nos três níveis de governo e elaboração das demonstraçõescontábeis consolidadas, nos termos da LRF e Portaria nº 467, de 6 de agosto de 2009,da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda; Considerando anecessidade de regulamentar a execução dos serviços contábeis e jurídicos no âmbitoda Administração Municipal; Considerando o posicionamento jurisprudencial acercado tema:“1. Quanto à contratação de advogado ou serviços jurídicos, deve ser consideradoo seguinte:a) Tendo os serviços jurídicos, incluída a defesa judicial ou extrajudicial dosinteresses do Município, natureza de atividade administrativa permanente econtínua, é recomendável que haja o correspondente cargo efetivo no quadro deservidores do município para atender tal função, com provimento medianteconcurso público (art. 37 da Constituição Federal).b) É cabível a contratação de profissional do ramo do direito, desde quedevidamente justificada para atender específicos serviços (administrativo oujudicial) que não possam ser realizados pela assessoria jurídica dada a suacomplexidade e especificidade, configurando necessidade dos serviços deprofissional (jurista) de notória especialização, hipótese em que a contratação,por inexigibilidade de licitação, se dará nos termos dos artigos 25, II, § 1º,combinado com o artigo 13, V e § 3º, e 26 da Lei Federal 8.666/93 (…)c) Para suprir a falta transitória de titular de cargo de advogado (ou outro equivalente),poderá o Município contratar profissional, temporariamente, até que haja o devido eregular provimento, nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição Federal, ou,ainda, contratar serviços jurídicos através de processo licitatório”. (TCE/SC –PREJULGADO Nº 873 REFORMADO PELO TRIBUNAL PLENO, MEDIANTEDECISÃO Nº3000/09 EXARADA NO PROCESSO CON-08/00526490).“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CERCEAMENTO DO DIREITODE DEFESA. NÃO CONFIGURADA. CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DESERVIÇOS ADVOCATÍCIOS E CONTÁBEIS AO MUNICÍPIO.EXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. SERVIÇOS COMUNS E ROTINEIROS. 1– Omissis. 2 – Irregulares os contratos de prestação de serviços advocatícios econtábeis celebrados em infringência a Lei de Licitações e Contratos, visto que osserviços contratados não são, a rigor, de natureza singular a ponto de justificar ainviabilidade da competição. Pelo contrário, são serviços comuns e corriqueirosdo dia-a-dia da Administração Pública. Recurso conhecido e improvido”. (TJGO,AC nº. 116788-2/188, Rel. Des. Gilberto Marques Filho, DJ nº 347 de 26/05/2009). “DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE JURIDICA DO PEDIDO AFASTADA.CONTRATAÇÃO DE ASSESSORIA JURÍDICA POR MUNICÍPIO. HIPÓTESEDE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO NÃO CONFIGURADA. OFENSAAOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA MORALIDADE.” II – a regraconstitucional e legal, lei nº 8.666/93 é a contratação de serviços pelo Poder Públicoapós a realização de licitação, sendo que as hipóteses excepcionais de dispensa einexigibilidade devem ser comprovadas pelo administrador (TJGO, DUPLO GRAUDE JURISDIÇÃO Nº 17482-0/195).Considerando ainda a tese sustentada pelo Ministério Público junto a este Tribunal,conforme Parecer nº 5493/11 (docs. fls. 127/133), de que as funções de assessorJurídico e Contábil devem ser exercidas por servidores ocupantes de cargos efetivos,pertencentes ao Quadro Permanente de Pessoal do Município. Considerando por

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último a competência conferida a este Tribunal pelo inciso IX do artigo 71 daConstituição Federal de “assinar prazo para que o órgão ou entidade adote asprovidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade”; RESOLVEArt. 1º – Os Municípios deverão cumprir, até 07 de julho de 2012, a previsãoconstitucional de que os serviços de natureza permanente, a exemplo dos serviçoscontábeis e jurídicos de forma continuada, sejam realizados por servidoresocupantes de cargos efetivos, com provimento dos respectivos cargos mediante aaprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos homologados atéesta data.Parágrafo único- os vencimentos dos cargos efetivos das áreas jurídica e contábildeverão ser compatíveis com a natureza e complexidade de tais cargos.Art. 2º – A partir de janeiro de 2013, o Tribunal adotará como critério de fiscalização,para todos os seus jurisdicionados, a exigência de que os serviços contábeis e jurídicosdo Município, de natureza administrativa permanente e contínua, deverão serexecutados por servidores efetivos constantes do Quadro Permanente de Pessoal,devidamente habilitados e em situação de regularidade perante o Conselho Regionalde Contabilidade e Ordem dos Advogados do Brasil, respectivamente.Art. 3º – Para execução dos serviços jurídicos e contábeis de natureza ordinária doMunicípio, é necessária a criação, composição e organização, mediante lei municipal,de unidades em sua estrutura administrativa organizacional, a exemplo deProcuradoria, Departamento Jurídico, Departamento de Contabilidade ou outrasdenominações equivalentes.Art. 4º – As unidades, jurídica e contábil, referidas no artigo anterior, compostas deservidores efetivos, poderão ser dirigidas por detentores de cargos comissionados oude funções gratificadas de chefia ou direção, devidamente habilitados e em situação deregularidade perante o Conselho Regional de Contabilidade e Ordem dos Advogadosdo Brasil, respectivamente.Art. 5º – A ocupação de dois ou mais cargos ou funções públicas, ainda que em entespúblicos distintos, caracterizará acumulação indevida de cargos, em face do quedispõe o art. 37, XVI, da Constituição Federal.Art. 6º – No caso do concurso público restar frustrado pelo não aparecimento depossíveis interessados ou pela inabilitação de todos, poderá o município, à vista dosprincípios da impessoalidade e continuidade dos serviços, realizar a contrataçãode prestação de serviços contábeis e jurídicos, mediante licitação, nos termos daLei nº 8.666/93, pelo período máximo de 12 (doze) meses, prorrogável por igualperíodo, desde que não se obtenha sucesso no concurso aberto em cada exercício.Art. 7º – Os Municípios poderão utilizar o instituto de Inexigibilidade deLicitação para contratar profissionais ou empresas de consultorias contábeis ejurídicas, quando houver inviabilidade de competição (art. 25, caput, da Lei8.666/93) e para os serviços que não possam ser realizados pelos servidoresefetivos da área, dada a sua complexidade, configurando a necessidade dos serviçosde profissional de notória especialização (art. 25, II, parágrafo 1º, c/c art. 13, III e V,ambos da Lei nº 8.666/93), hipóteses em que as contratações deverão ser instruídascom os seguintes elementos:I – razão de escolha do contratado:II – justificativa do preço, acompanhada da planilha de custos;III – objeto específico e não abrangido o acompanhamento da gestão;IV – prazo compatível com o objeto.Art. 8º – A terceirização dos serviços contábeis e jurídicos, quando substitutiva de mãode obra de pessoal e integrante da estrutura administrativa do município, computar-se-á no cálculo da despesa de pessoal, para os fins da Lei de Responsabilidade Fiscal.

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Art. 9º – O gestor responsável deverá tomar as medidas necessárias para que osdocumentos contábeis estejam sempre sob o poder e guarda do Controle Interno.Art. 10º – Aplicam-se às Câmaras Municipais, Autarquias, Fundos, Fundações,Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista as normas previstas nopresente ato resolutivo.Art. 11º – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, incumbindo-se àSuperintendência de Secretaria tomar as providências para que seja publicada no site eno Informe TCM”. (O original não ostenta os negritos).

Por todo o exposto, a contratação direta e irregular da empresa Requerida,representada por seu sócio-administrador, Requerido Eduardo, por parte do presidente, orademandado, para a prestação ordinária e rotineira de serviços de assessoria e consultoriajurídica para a câmara municipal, mostra-se indecorosamente ilegal e desarrazoada, nãohavendo razão alguma para a decretação da inexigibilidade dos procedimentos licitatórios,uma vez que se encontram ausentes, em todos os casos aqui denunciados, a inviabilidade decompetição, a singularidade dos serviços prestados e a “notória especialização” doscontratados.

Tais fatos evidenciam, nos termos do artigo 10, inciso VIII, da Lei n.º 8.429/92,o ato ímprobo praticado pelo presidente da câmara, Edvaldo Marcos de Paula, que de maneiraindevida, dispensou licitações declarando inexigibilidade, contratando, dessa maneira, aempresa ECOM – Escritório de Consultoria Municipal LTDA., na pessoa do advogadoEduardo Costa Ferreira, sem documentos que comprovassem a notória especialidade dacontratada, evidenciando nítida má-fé.

Por fim, causou o presidente demandado prejuízo ao erário ao celebrar contratoviolando as normas descritas na Lei n.º 8.666/93, com a já mencionada imperiosa necessidadede licitação, bem como diante do grande valor dos contratos em questão celebrados.

5 - Dos contratos celebrados pelos Requeridos

Extrai-se do inquérito civil público em anexo que a câmara municipal dePerolândia, por via de seu presidente Edvaldo Marcos de Paula, ora Requerido, contratou aempresa Requerida ECOM, na pessoa do Requerido Eduardo, para prestar serviços deassessoria jurídica, por meio do contrato inserto às fls. 51/52, com prazo de vigência de dozemeses, a contar do dia 02 de janeiro de 2007, após Ato Declaratório de Inexigibilidade deLicitação de fl. 50.

O objeto do contrato acima mencionado encontra-se descrito na cláusulaprimeira (fl. 51), in verbis:

CLÁUSULA PRIMEIRA: As partes acima identificadas, via do presente contrato,obrigam-se mutuamente a executar e receber aos serviços técnicos, expressamenteconsentidos, a saber:01 – ASSESSORIA TÉCNICA ESPECIALIZADAAssessoria Administrativa e Jurídica, para o período de 12 (doze) meses do ano de2007, compreendendo na elaboração e apreciação de Projetos de Leis, através daemissão de parecer jurídico, interpretação de Projetos de Leis encaminhados pelo

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Poder Executivo Municipal, Assessoria e orientação jurídica às Comissões existentesno Poder Legislativo, e quando requisitado, orientação através de consultoria jurídicana execução dos serviços de Gestão Administrativa do exercício de 2007. 02 – PATROCÍNIO DE CAUSAS (ADVOCACIA) para o período de 12 (doze) mesesdo ano de 2007.a) Patrocínio Judicialb) Patrocínio Administrativoc) Consultoria Jurídica.(O original não ostenta os negritos)

Verifica-se que a cláusula segunda deste contrato estabelece o valor a ser pagopelos serviços prestados, senão vejamos:

CLÁUSULA SEGUNDA: Pelos serviços ora contratados especificados acima, oContratante pagará à Contratada, o valor global de R$ 42.000,00 (quarenta e dois milreais), sendo correspondentes aos Serviços Jurídicos, cujos pagamentos dar-se-ão em12 (doze) parcelas de iguais valores, sendo de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentosreais) cada, a serem pagas até o 30º (trigésimo) dia do mês dos serviços prestados.

As doze parcelas devidas pelas prestações dos serviços já especificados, novalor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) cada, foram devidamente pagas, conformedemonstram os documentos anexos aos autos:

• janeiro – recibo (16/01/07) e comprovante de depósito (17/01/07) emconta-corrente às fl. 53/54;

• fevereiro – recibo (16/02/07) e ordem de pagamento (16/02/07) às fls.58/59;

• março – recibo (19/03/07) e ordem de pagamento (19/03/07) às fls.62/63;

• abril – recibo (19/04/07) e ordem de pagamento (19/04/07) às fls.96/97;

• maio – ordem de pagamento (21/05/07) à fl. 106;• junho – ordem de pagamento (20/06/07) à fl. 119;• julho – ordem de pagamento (20/07/07) à fl. 136;• agosto – ordem de pagamento (20/08/07) à fl. 144;• setembro – ordem de pagamento (20/09/07), recibo (19/09/07),

comprovante de depósito (20/09/07) e cópia do cheque (20/09/07) às fls. 150/152;• outubro – recibo (19/10/07) e ordem de pagamento (19/10/07) às fls.

159/160;• novembro – ordem de pagamento (19/11/07), recibo (19/11/07), cópia

do cheque (19/11/07) e comprovante de depósito em conta-corrente (10/11/07) às fls.179/181;

• dezembro – recibo (20/12/07) e ordem de pagamento (20/12/07) às fls.196/197.

Extrai-se, ainda, do inquérito civil público anexo, que a câmara municipal dePerolândia, por via de seu presidente, ora Requerido, contratou novamente a empresaRequerida, na pessoa do Requerido Eduardo, no ano seguinte, para prestar serviços de

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assessoria jurídica, por meio do contrato de fls. 706/707, com prazo de vigência de 12 (doze)meses, a contar do dia 02 de janeiro de 2008, após Ato de Inexibilidade de Licitação de fl.708.

O objeto do contrato acima mencionado se encontra descrito em sua cláusulaprimeira (fl. 706):

CLÁUSULA PRIMEIRA: As partes acima identificadas, via do presente contrato,obrigam-se mutuamente a executar e receber aos serviços técnicos expressamenteconsentidos, a saber: ASSESSORIA TÉCNICA ESPECIALIZADA – AssessoriaAdministrativa e Jurídica, para o período de 12 (doze) meses do ano de 2008,PATROCÍNIO DE CAUSAS (ADVOCACIA) para o período de 12 (doze) mesesdo ano de 2008, Patrocínio Judicial, Patrocínio Administrativo, Consultoria Jurídica,patrocínio de causas e emissão de pareceres jurídicos, elaboração de todadocumentação jurídica a ser expedida pelo Poder Legislativo, assessoria e consultoriana elaboração de todos os Atos Administrativos expedidos pela Administração daCâmara Municipal, inclusive acompanhamentos nos Processos Licitatórios, e, nosserviços contábeis que possuem conexão direta e constante com o DireitoAdministrativo. Emissão de pareceres em Projetos de Lei e interpretação jurídica deProjetos encaminhados pelo Executivo Municipal.

O valor contratado para prestação dos referidos serviços, encontra-se dispostona cláusula segunda, in verbis:

CLÁUSULA SEGUNDA: Pelos serviços ora contratados especificados acima, aContratante pagará à Contratada, o valor global de R$ 44.400,00 (quarenta e quatromil e quatrocentos reais), sendo correspondentes aos Serviços Jurídicos, cujospagamentos dar-se-ão em 12 (doze) parcelas de iguais valores, sendo de R$ 3.700,00(três mil e setecentos reais) cada, a serem pagas até o último dia útil do mês dosserviços prestados.

Observa-se, ainda, que as doze parcelas devidas pelas prestações dos serviçosjá especificados, no valor de R$ 3.700,00 (três mil e setecentos reais) cada, foramdevidamente pagas, conforme demonstram os documentos anexos aos autos:

• janeiro – recibo (30/01/08), ordem de pagamento (30/01/08) e empenho(02/01/08) às fl. 225/227;

• fevereiro – não foram apresentados;• março – recibo (20/03/08), ordem de pagamento (20/03/08) e cópia de

cheque (20/03/08) às fls. 235/239;• abril – ordem de pagamento (24/04/08)e recibo (24/07/08) às fls.

246/248;• maio – ordem de pagamento (21/05/08), recibo (21/05/08) e cópia de

cheque (21/05/08) às fls. 255/257;• junho – ordem de pagamento (20/06/08), recibo (20/06/08) e cópia de

cheque (20/06/08) às fls. 265/267;• julho – ordem de pagamento (18/07/08), recibo (18/07/08) e cópia de

cheque (18/07/08) às fls. 274/276;• agosto – ordem de pagamento (19/08/08), recibo (20/08/08), cópia de

cheque e comprovante de entrega de envelope depósito em conta-corrente às fls. 283/285;

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• setembro – ordem de pagamento (19/09/08), recibo (20/09/08),comprovante de depósito em conta-corrente (17/10/08) e cópia de cheque (19/09/08) às fls.289/291;

• outubro – ordem de pagamento (20/10/08), recibo (20/10/08),comprovante de depósito em conta-corrente (19/09/08) e cópia de cheque (17/10/08) às fls.301/303;

• novembro – ordem de pagamento (12/11/08), recibo (20/11/08) e cópiade cheque (12/11/08) às fls. 310/312;

• dezembro – não foram apresentados.

Conclui-se assim, que os contratos de assessoria jurídica devem submeter-se aprocesso licitatório, admitindo-se a contratação direta somente em serviços comcaracterísticas excepcionais (natureza singular) que exijam profissionais com característicasacima da média (notória especialização) para corresponder ao objeto, bem como que,excepcionalmente, seria possível realizar a contratação de serviços de assessoria jurídica, pormeio de inexigibilidade de licitação, desde que o objeto a ser contratado fosse específico epeculiar, não sendo o caso ora tratado.

Posto isto, depreende-se que, embora o Requerido Edvaldo tenha tentadojustificar a inexigibilidade de licitação dos referidos contratos nos termos dos artigos 13,incisos I, III e V; e 25, inciso II, da Lei de Licitações Públicas, conforme fls. 50 e 708, nota-se que os serviços contratados são comuns e não demandam profissionais altamenteespecializados, bastando uma leitura atenta ao objeto do contrato.

O assessoramento e a elaboração de pareceres constituem atividade típicasda advocacia, conforme preceitua o artigo 1º, inciso I e II, da Lei n.º 8.906/94, sendo certoque por valor muito inferior ao ofertado, seria plenamente possível a realização de regularprocesso licitatório, nos termos da Lei n.º 8.666/93.

6 – Dispensar ou inexigir licitação sem o devido procedimento legal

Conforme já salientado, a regra no Direito Público Brasileiro é aobrigatoriedade de licitação, entretanto, tanto o texto constitucional como a lei de licitaçõespermite, em situações que sejam necessárias a contratação direta, a dispensa ouinexigibilidade de licitação, desde que preenchidos os requisitos legais.

A contratação direta se submete, portanto, a um procedimentoadministrativo, sendo que a ausência de licitação não significa contratação informalrealizada com quem a Administração bem aprouver.

A contratação direta pressupõe um procedimento formal, estabelecido peloartigo 26 da Lei nº 8.666/93, in verbis:

Art. 26. Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retardamento,previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:

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I - caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa,quando for o caso;II - razão da escolha do fornecedor ou executante;III - justificativa do preço.IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serãoalocados.(O original não ostenta os negritos)

Assim, dispensar ou inexigir a licitação, implicará sempre na prática de um atoformal desenvolvido pelo administrador que visa justificar a contratação sob o argumento deque encontra sob uma das hipóteses do art. 24 ou do art. 25 da Lei n.º 8.666/93,consubstanciado no ato formal de dispensa ou de inexigibilidade de licitação.

A formalização do ato é da sua própria essência, pois o agente devedemonstrar, não só para fins de controle interno, como também para o controle externorealizado pelos Tribunais de Contas, Ministério Público, Poder Judiciário e, enfim, paraqualquer pessoa da sociedade interessada em conhecer as razões que levaram o a contratardeterminada pessoa sem licitação.

O professor Sidney Bittencourt destaca que:

O ato de ''deixar de observar formalidades pertinentes à dispensa ouinexigibilidade'' significa desatender às formalidades estabelecidas no art. 26(justificativa, comunicação à autoridade superior para ratificação e publicação naimprensa oficial, nos prazos prescritos, além da instrução do processo de afastamentode licitação com os elementos necessários: caracterização da situação emergencial oucalamitosa, se for o caso; a razão da escolha do fornecedor o executante; e ajustificativa de preço. (Licitação Passo a Passo, 4ª ed. Rio de janeiro: Temas e Idéias,2002, p 408). (O original não ostenta os negritos).

Assim, as contratações por dispensa e inexigibilidade não caracterizam um atode mera discricionariedade, mas sim um ato vinculado e motivado, o que torna o poder doadministrador por demais limitado.

Importante destacar que, na seara criminal, o art. 89 da Lei n.º 8.666/93 dispõecomo conduta incriminadora o ato de dispensar ou inexigir licitação indevidamente, comoforma equiparada, dispõe o parágrafo único do referido artigo, que estará sujeita à mesmapena aquele que, tendo concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se dadispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público, senãovejamos:

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixarde observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamenteconcorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ouinexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

Neste sentido, tem-se a ementa colacionada abaixo:21

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EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. DISPENSAR OU INEXIGIRLICITAÇÃO. ART. 89 DA LEI Nº 8666/93. FRACIONAMENTO DA OBRA.FALECIMENTO DO RÉU. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 1. Responde pelodelito previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/93 o dirigente que, visando eximir-se darealização de certame, fraciona a realização de serviços de reforma no prédio sede deconselho profissional, mormente quando há previsão orçamentária, naquele ano, para aexecução de todo o projeto. 2. Extingue-se a punibilidade com o falecimento do réu,na forma do disposto no art. 107, I, do CP. (trf4, apelação criminal,2003.71.00.073774-9, oitava turma, relator Paulo Afonso Brum Vaz, d.e. 11/04/2007).(O original não ostenta os negritos).

Verifica-se que os artigos 13 e 25, da Lei n.º 8.666/93, determinam que alicitação será inexigível nos contratos para a prestação de serviços técnicos profissionaisespecializados, de natureza singular com profissionais ou empresas de notória especialização.

Destarte, o serviço ora contratado pode ser prestado por várias empresasespecializadas, não havendo como o administrador público simplesmente escolher uma delas,sem apresentar o motivo de se ter adotado o valor contratado.

No presente caso não cuidaram os Requeridos de sequer juntar, nos autos doprocesso administrativo de inexigibilidade, cópia do currículo dos advogados que compõem aempresa, sobretudo de seu sócio-administrador, o Requerido Eduardo, cópia de certificados,ou declarações, atestando a realização de cursos ou atividades, de notória especialidade, capazde demonstrar a especialidade técnica dos profissionais.

E, além da comprovação da inviabilidade de competição, da notoriedade doscontratados e da exigência de comprovação da singularidade do objeto, é mister também quehaja a justificativa do preço a ser contratado, de acordo com o artigo 26, da Lei nº 8.666/93,conforme os Acórdãos do Tribunal de Contas da União colacionados abaixo:

Faça constar dos processos de dispensa de licitação, especialmente nas hipóteses decontratação emergencial, a justificativa de preços a que se refere o inciso III do art. 26da Lei 8.666/1993, mesmo nas hipóteses em que somente um fornecedor possaprestar os serviços necessários à Administração, mediante a verificação daconformidade do orçamento com os preços correntes no mercado ou fixados porórgão oficial competente ou, ainda, com os constantes do sistema de registro depreços, os quais devem ser registrados nos autos, conforme Decisão TCU 627/1999 –Plenário. Acórdão 819/2005 Plenário. (O original não ostenta os negritos).

Instrua os processos de contratação direta segundo os procedimentos estabelecidos noartigo 26, parágrafo único, da Lei 8.666/1993, de modo que sejam devidamenteformalizados os elementos requeridos pelos incisos I a III desse dispositivo por meiode expedientes específicos e devidamente destacados no processo, caracterizando amotivação do administrador para a prática dos atos e juntando-se justificativa depreços que demonstre, item a item, a adequação dos preços àqueles praticados nomercado local, assim como parecer jurídico conclusivo que opine inclusive sobre aadequação dos preços unitários propostos pela entidade selecionada. Acórdão690/2005 Segunda Câmara.

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(O original não ostenta os negritos).

No caso ora analisado, não houve justificativa de preço, é sabido que existeuma gama muito grande de profissionais que prestam os mesmos serviços de assessoriacontínua, objeto do contrato em análise, por um valor inferior ao pactuado.

Ademais, em um único dia, 02 de janeiro de 2007 e no ano seguinte, em 02 dejaneiro de 2008, o presidente da câmara municipal iniciou e finalizou o processo que resultouna inexigibilidade de licitação na contratação da empresa demandada, representada por seusócio-administrador, sem comprovação da especialidade, conforme consignado.

Conclui-se assim, que somente por meio do devido procedimento legal,materializado pelo efetivo registro de todos os atos do agente em um processo administrativo,onde conste as justificativas para contratação, as razões que levaram a autoridade a dispensara licitação ou as que o induziram a concluir que a licitação não seria viável, bem como ajustificativas para a escolha da pessoa contratada, assim como quanto ao preço aceito comojusto e adequado para o fornecimento de bens ou para a prestação dos serviços, é que serápossível comprovar a legalidade da dispensa ou inexigibilidade de licitação e que a empresacontratada oferece as melhores condições para a Administração, o que não ocorreu no casoconcreto.

Conduta esta inaceitável e transgressora de princípios que tutelam aAdministração Pública e a Lei n.º 8.666/93.

VI – DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ab initio, importa registrar que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 37,§ 4º, dispõe que:

Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitospolíticos, a perda da função pública, a indisponibilidade e o ressarcimento ao erário, na formae gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Com o escopo de conferir densidade normativa ao indigitado preceitoconstitucional, o legislador infraconstitucional editou a Lei n.º 8.429/92 (Lei de ImprobidadeAdministrativa – LIA), que dispôs sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos, nos casosde improbidade no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração públicadireta, indireta ou fundacional.

De antemão, verifica-se que as malfadadas contratações inconstitucionaispromovidas pelo Requerido Edvaldo amoldam-se claramente a duas modalidades de atos deimprobidade administrativa previstos na Lei de Improbidade Administrativa, senão vejamos:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erárioqualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidadesreferidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

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XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios daadministração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daqueleprevisto na regra de competência.

Frise-se, desde logo, que as condutas do Requerido Edvaldo, consistentes emcontratar diretamente a empresa Requerida ECOM, na pessoa do Requerido Eduardo, para odesempenho rotineiro de serviços de assessoria e consultoria jurídica à câmara municipal dePerolândia, ausentes os requisitos para a decretação da inexigibilidade da licitação,subsumam-se ao art. 10, VIII, da Lei n.º 8.429/92, conforme a tese bem esposada pelo distintoEmerson Garcia, in verbis:

A segunda figura prevista no art. 10, VIII, da Lei nº 8.429/1992, consiste na indevidadispensa do procedimento licitatório. Regra geral, todo contrato administrativodeve ser precedido de licitação. (…) Não havendo perfeito enquadramento dasituação fática aos permissivos legais [arts. 24 e 25 da Lei 8.666/93] ou sendo provadaa simulação, ter-se-á a indevida dispensa da licitação e a consequente configuração daimprobidade. Sendo nebulosa a presença das exceções, a regra geral haverá deprevalecer. É relevante observar que ao se referir unicamente à dispensa no art. 10,VIII, a Lei nº 8.429/1992 minus dixit quam voluit (disse menos do que deveria), nãodevendo ser albergada uma interpretação restritiva do preceito. A ideia fundamental dotexto é coibir o indevido alargamento das hipóteses em que não é exigida a licitação,logo, sob este prisma, dispensa e inexigibilidade se equivalem, sendo importanteobservar que a conduta do administrador que declara ser inexigível o procedimentolicitatório é tão nociva quanto a daquele que o dispensa, pois é sustentada a absolutaimpossibilidade fática de sua realização. O vocábulo utilizado é inadequado, mas aratio da norma é clara, cabendo ao intérprete romper as fronteiras da incoerência paraabrigar-se sob o manto da justiça que emana da teleologia da norma e da própriadicção do caput do art. 10. (Improbidade Administrativa. 4ª ed. Rio de Janeiro: LumenJuris, 2008, p. 346-347).(O original não ostenta os negritos).

Assim, conclui-se que a contratação de advogados pela câmara municipal dePerolândia – não especializados e para serviços não singulares – constitui ato de improbidade,devendo os Requeridos sofrer as consequências legais do ato, previstas na Lei n.º 8.429/92.

De igual forma, não pode ser olvidado o perfeito enquadramento típico daconduta ímproba do Requerido Edvaldo ao artigo 10, inciso XII, da Lei de ImprobidadeAdministrativa, a teor do que leciona Emerson Garcia:

Avançando no iter de individualizações do ato de improbidade, ao contratar semprévia realização de concurso público, estará o agente público concorrendo para oenriquecimento ilícito do contratado, já que ilícita a causa que motivou orecebimento dos subsídios, o que configura o ato de improbidade previsto no art.10, XII, da Lei nº 8.429/1992 (“permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro seenriqueça ilicitamente”). (Op. Cit., p. 355).(O original não ostenta os negritos).

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E que não venha o presidente da câmara municipal, ora Requerido Edvaldo,dizer que “houve contraprestação por parte dos contratados”; que “os advogadosindevidamente contratados por declaração de inexigibilidade de procedimento licitatórioefetivamente trabalharam para o município de Perolândia”, etc. No atual estágio de evoluçãoda sociedade, estas escusas não têm mais o condão de eximir o administrador ímprobo de suasresponsabilidades.

É certo que:

apesar de nulo, o ato de contratação de servidores sem a prévia realização de concursopúblico [ou a devida realização de certame licitatório] nem sempre acarretará danos denatureza patrimonial ao erário, havendo, normalmente, efetiva prestação de serviçopor parte do contratado. (GARCIA, Emerson & ALVES, Rogério Pacheco. Op. cit., p.355.)

Todavia,

Ainda aqui, deverá o agente público responsável pela contratação irregularressarcir os cofres públicos no montante gasto com a contratação irregular, pois'quod nullum est, nullum producit effectum'.Além de ser presumida a lesividade, a responsabilidade do agente, por força do art.21, I, da Lei nº 8.429/1992, não está associada à ocorrência de dano patrimonial, mas,sim, à violação aos princípios regentes da atividade estatal, sendo oportuno frisar que amá-fé deste será normalmente incontestável, pois é inconcebível que alguém sehabilite a desempenhar relevante atividade na hierarquia administrativa sem ter plenoconhecimento das normas que legitimam e disciplinam sua função. (...)Identificada a contratação ilegal, o ressarcimento evitará a consagração doenriquecimento ilícito e não permitirá que o ímprobo fique impune ao contratardeterminada pessoa com inobservância aos princípios da legalidade, moralidadee igualdade, vícios que caracterizam a ilicitude da causa que ensejou o vínculocom o ente contratante. (GARCIA, Emerson & ALVES, Rogério Pacheco. Op. cit.,p. 355).(O original não ostenta os negritos).

Em outros termos:

Quanto à tese de que o ressarcimento acarretará o enriquecimento ilícito doPoder Público com o serviço prestado, deve-se observar que o seu acolhimentotornará legítimo o constante descumprimento dos princípios regentes daatividade estatal, transformando em letra morta o estatuído no art. 37, inciso II eparágrafo 2º, da Constituição e fazendo com que sejam sistematicamente suscitados ospossíveis benefícios auferidos, afastando qualquer possibilidade de punição aoímprobo. (…)A jurisprudência dominante têm encampado o entendimento de que o contratado,não obstante a ilicitude da causa que os originou, não deve restituir os vencimentosrecebidos, isto porque efetivamente despendeu a energia que motivou o seupercebimento. Nesta linha, o ressarcimento do numerário despendido emdesacordo com a ordem jurídica será de responsabilidade do agente responsávelpela contratação irregular. (GARCIA, Emerson & ALVES, Rogério Pacheco. Op.cit., p. 355 e 356).

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(O original não ostenta os negritos).

Nesse exato sentido, em lição que não pode ser olvidada e que se adequaperfeitamente ao caso em exame, o afamado professor Hugo Nigro Mazzilli, com suaconhecida habilidade jurídica, vocifera:

Não raro o administrador comete ilegalidades e, ao ser cobrado, diz que estápronta a obra que mandou fazer sem licitação, ou que os funcionários quecontratou sem concurso trabalharam regularmente, e não teria, pois, havidoqualquer dano ao patrimônio público. Assim, argumenta ele, não poderia oEstado locupletar-se ilicitamente com as obras realizadas ou com os serviçosprestados, de forma que não haveria dano ao patrimônio público nem, pois, o queindenizar. (...).Tal entendimento é inaceitável porque: a) o ordenamento jurídico admite várioscasos de presunção de lesividade ao patrimônio público; (Cf. art. 4º da Lei 4717/65;nesse sentido, a lição de Hely Lopes Meirelles, Mandado de Segurança cit., 2ª parte,Cap. 4.) b) ainda quando não haja dano patrimonial, a lesividade ao erário podedecorrer da própria ilegalidade do ato praticado; (RE n. 160381-SP, 2ª T. STF, v.u., j.20-03-94, rel. Min. Marco Aurélio, DJU, 12-08-94, p. 20052) c) a Lei de ImprobidadeAdministrativa não sanciona apenas os atos que causem dano ao erário ouenriquecimento ilícito do agente, mas também os atos que importem violação aprincípios da Administração; d) as sanções da Lei de Improbidade Administrativaindependem, pois, da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público; (Cf. art. 21 daLei n. 8429/92.) e) é ato de improbidade administrativa, que presumivelmentecausa prejuízo ao erário, frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-loindevidamente, ou ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas emlei ou regulamento; f) não só os danos patrimoniais, como os danos morais devemexpressamente ser objeto da ação de responsabilidade. ( Cf. art. 1º, caput, da LACP,com a redação do art. 88 da Lei n. 8884/94. Nesse sentido, corretamente sustentandoque o sistema jurídico admite qualquer ação que vise à defesa do patrimônio públicosob o ângulo material (perdas e danos) ou imaterial (lesão à moralidade), v. REsp n.427140-RO, 1ª T. STJ, m.v., j. 20-05-03, rel. Min. Luiz Fux, DJU, 25-08-03, p. 263.)Quanto ao prejuízo patrimonial em contratações ilegais, não se trata apenas depresumir sua ocorrência. Não raro existe de forma efetiva: a uma, porque ascontratações podem recair em favor de apadrinhados políticos e por valores semcorrespondência no mercado de trabalho (…). Além disso, tais ilicitudes eliminamou restringem o direito de todos de concorrerem em igualdade de condições,dentro de critérios impessoais, e, ademais, permitem que, não raro, se degrade aqualidade das obras ou serviços contratados.A finalidade do concurso ou da concorrência é assegurar igualdade de condiçõespara todos os concorrentes, evitando-se favorecimentos ou discriminações, epermitindo-se à Administração selecione os melhores. Fere, pois, os princípios daimpessoalidade, igualdade, publicidade, probidade, legalidade e moralidade que aAdministração escolha com quem quer contratar independentemente de licitaçãoou concurso, e discrimine aqueles com quem não quer contratar. Trata-se deprincípios consagrados no art. 37, caput, da Constituição.A moralidade administrativa e o interesse coletivo integram a legalidade do atoadministrativo; o ato administrativo nulo, que de forma contrária à lei efetua acontratação de uma obra ou um serviço, sempre gera efeitos econômicos. (…)Como corretamente anotou o MIN. MILTON PEREIRA, “a escusar-se aresponsabilidade do administrador público, pela salvaguarda de que oempregado, em contraprestação, prestou serviços, será construir um estranho

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indene de impunidade em favor do agente político que praticou atomanifestamente contra a lei – nexo causal das obrigações da relação de trabalhonascida de ato ilegal – criando-se inusitada convalidação dos efeitos de ato nulo.Será estimular o ímprobo a agir porque, a final, aquela contraprestação oresguardará contra ação de responsabilidade civil”.Nem se poderia invocar falta de dolo do administrador. O dolo que se exige é ocomum, a vontade genérica de fazer o que a lei veda, o a de não fazer o que a leimanda. Não seria preciso que o administrador violasse um concurso ou umalicitação por motivos especiais (como para contratar parentes, beneficiar amigosou prejudicar adversários). O mero ato culposo é apto, na esfera cível, adeterminar o dever de indenizar; quanto mais o comportamento voluntário, queconsiste em fazer conscientemente algo em contrariedade com a lei.É preciso deixar claro que está em questão um princípio: pode o administradorcontratar impunemente, sem concurso, fazendo tabula rasa da lei? Se o administrador puder fazê-lo, poderá, então, contratar impunemente seus parentesou apaniguados para ocuparem sinecuras ou fazerem obras que terceiros poderiamfazer melhor e mais barato para a Fazenda Pública.Em outras palavras, em matéria de dinheiros públicos, ‘quem gastar, tem que gastar deacordo com a lei’ – é o que corretamente anotou BATISTA RAMOS.Assim, aduzem SÉRGIO FERRAZ e LÚCIA VALLE FIGUEIREDO: ‘quemgastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e perigos. Pois,impugnada a despesa, a quantia gasta irregularmente terá de retornar ao ErárioPúblico. Não caberá a invocação, assaz de vezes realizada, de enriquecimentoilícito da Administração. (…)’.O dano à moralidade administrativa está sempre presente quando aAdministração dispensa indevidamente licitação ou concurso: estará contratandopessoal sem a seleção necessária, desconsiderando critérios de probidade eimpessoalidade, deixando de selecionar os melhores; estará, em suma, abrindomão do dever de buscar os melhores preços e a melhor qualidade de materiais ouconcorrentes; estará, enfim, ferindo a moralidade administrativa. Além disso, éextremamente provável que, de acréscimo, ainda haja danos materiais concretos àqualidade da obra ou dos serviços contratados (...). Por fim, é raro terem sido osserviços ou a obra executados de boa-fé, quando contratados ilicitamente sob dispensade concurso ou licitação, quando exigíveis.Corretamente arrematam SÉRGIO FERRAZ e LÚCIA VALLE FIGUEIREDO,cuidando de caso análogo: ‘A presunção de lesividade desses atos ilegais é fácil deintuir. Se o ordenamento jurídico obriga o procedimento licitatório, para ocumprimento da isonomia e da moralidade da Administração, o esquivar-se aesse procedimento constitui inequívoca lesão à coletividade. Será esta ressarcidapela devolução do dispêndio à revelia do procedimento legal. Aquele que praticouos atos terá agido por sua conta, riscos e perigos. Ainda que pronta a obra, entregueo fornecimento ou prestado o serviço, se impassível de convalidação o atopraticado, impõe-se a devolução. Não estaremos diante do chamadoenriquecimento sem causa. (…)’.Não só não pode a Administração locupletar-se ilicitamente, como ainda não poderealizar despesas não autorizadas pela lei.Ainda que devam receber pela obra ou serviços os que acaso os tenham realizadode boa-fé, pela sua retribuição, quando devida, deve arcar o administradorímprobo que contratou indevidamente, e não a coletividade, que não pode sercondenada a custear as contratações ilegais que o administrador faça de seusfavorecidos.

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Enfim, em se tratando de dano ao patrimônio público, em diversos casos a própria leiexpressamente presume a lesividade. (A defesa dos interesses difusos em juízo. 20ª ed.São Paulo: Saraiva, 2007, p. 205-208)(O original não ostenta os negritos).

Exatamente na linha destas asserções, o Superior Tribunal De Justiça já decidiuque o agente público responsável pela contratação irregular deve ressarcir o valor dispensadocom a remuneração dos servidores (em sentido amplo) irregularmente contratados,independentemente de terem efetivamente trabalhado. Verbis:

AÇÃO POPULAR. ATOS LESIVOS. ANULAÇÃO DAS CONTRATAÇÕES DESERVIDORES MUNICIPAIS. RESSARCIMENTO. (…). 2. A palma dademonstração de lesividade e, anulado o ato malsinado, o ressarcimento éconseqüência inafastável, obviando-se a restituição dos valores indevidamenterecebidos, com os acréscimos estabelecidos e consectários legais. 3. Recursoimprovido. (REsp 10338/SC. 1ª Turma do STJ, Rel. Min. Mílton Luiz Pereira, votaçãounânime, DJ 14/10/1996).

Vale citar, ainda na esteira do entendimento ora defendido, interessante julgadoproferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA –CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR SEM PRESTAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO– LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO – CF, ART.129, INC. III – LEI Nº 7.347/85, ART. 1º, INC. IV – LEI Nº 8.429/92, ART. 17 –CONTRATAÇÃO NULA – VIOLAÇÃO DO ART. 37, CAPUT, E INC. II, DA CF –PUNIÇÃO DA AUTORIDADE RESPONSÁVEL – ART. 37, § 2º, DA CF –PRESUNÇÃO DE LESIVIDADE DO ATO ILEGAL – NECESSIDADE DERESSARCIMENTO DOS DANOS DECORRENTES DO PAGAMENTO DASVERBAS SALARIAIS – LEI Nº 8.429/92, INC. III – IMPROVIMENTO DOAPELO DO RÉU – PROVIMENTO DA APELAÇÃO DO AUTOR. 1) (…). 2) Acontratação de servidor pelo Município, sem concurso público, viola o art. 37, caput, einc. II, da Lei Fundamental, implicando a nulidade do ato e a punição da autoridaderesponsável, nos termos da lei, conforme estabelece o seu § 2º. 3) Embora se admitaque este servidor, quando de boa-fé, deva receber pelos serviços realizados, cabe aoadministrador que o contratou ilegalmente arcar com os custos que a Fazendateve com essa contratação, sendo certo “que as sanções previstas na Lei 8.429/92independem da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público”, conformelição de HUGO NIGRO MAZZILLI. Livrar o administrador público de talresponsabilidade, sob o pretexto de que o empregado, em contraprestação,prestou serviços, ‘será construir um estranho indene de impunidade em favor doagente político que praticou ato manifestamente contra a lei – nexo causal dasobrigações da relação de trabalho nascida de ato ilegal – criando-se inusitadaconvalidação dos efeitos do ato nulo. Será estimular o ímprobo a agir porque, afinal, aquela contraprestação o resguardará contra ação de responsabilidadecivil’, consoante advertência do ilustre Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, docolendo STJ, lembrada por MAZZILLI [in “A Defesa dos Direitos Difusos emJuízo”, Saraiva, 7ª ed., p. 156]. (Apelação Cível 6181. 6ª Câmara Cível do TJPR, Rel.Des. Leonardo Lustosa, Julgamento 07/02/2001). (O original não ostenta os negritos).

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No que se refere à adequação típica da conduta dos demandados ao artigo 11 dareferida lei, cumpre fazer alguns esclarecimentos.

Ante a natureza e a importância dos interesses passíveis de serem lesados pelosímprobos, afigura-se louvável a técnica adotada pelos arts. 4º e 11 da LIA, preceitos em que aviolação aos princípios regentes da atividade estatal, ainda que daí não resulte dano ao erário(art. 21, I, LIA), consubstanciará ato de improbidade. Deve-se observar, ainda, que referidosdispositivos da Lei de Improbidade Administrativa, no dizer dos mestres Emerson Garcia,

apresentam-se como verdadeiras normas de integração de eficácia da Constituição daRepública, pois os princípios por eles tutelados há muito foram consagrados nesta.(Op. cit., p. 256).

Assim, na sistemática da Lei de Improbidade, o dever jurídico de observar osprincípios regentes da atividade estatal é inicialmente visualizado em seu art. 4º, segundo oqual:

Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pelaestrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade epublicidade no trato dos assuntos que lhes são afetos.(O original não ostenta os negritos).

Importa frisar que o dever jurídico previsto no dispositivo retrotranscrito écomplementado e integrado pelo art. 11, caput, da LIA, dispositivo este que instituiu atipologia legal dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios daAdministração Pública, estando assim redigido:

Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios daadministração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres dehonestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:(O original não ostenta os negritos).

Verifica-se, pois, que as malfadadas ilicitudes cometidas pelos Requeridosamoldam-se claramente à tipificação formada pela fusão dos arts. 4º e 11, ambos da Lei deImprobidade Administrativa.

Como é cediço, condutas ímprobas consistentes na prática de atos que atentamcontra os princípios da Administração Pública não pressupõem dano ao erário (art. 21, inc. I,da LIA), como dito alhures, e tampouco o enriquecimento ilícito do agente ímprobo(conforme ensinam doutrina e jurisprudência pacíficas).

Basta, para caracterizar a conduta ilegal, a subsunção fática aos arts. 4º e 11, daLei n.º 8.429/92, isto é, que se demonstre a ocorrência de agressão aos princípios daAdministração Pública (como ficou sobejamente demonstrado no presente caso).

Diante desse panorama normativo delineado pela Constituição Federal e pelaLei de Improbidade, conclui-se que os atos ilegais, imorais, impessoais, abusivos e,sobretudo, inconstitucionais, praticados pelos demandados afrontaram em demasia a ordem

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jurídica global, contrariando diretamente os mais diversos vetores reinantes do regimejurídico-administrativo.

No ponto, insta tecer algumas específicas considerações quanto aos princípiosagredidos pelo demandado:

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – por haver feito tábula rasa de inúmerosdispositivos constitucionais (art. 37, caput, e inciso XXI, da Constituição Federal) e legais(arts. 2º; 13, V; 25, caput, II, § 1º; e 26, todos da Lei 8.666/93). Em síntese: o princípio dalegalidade foi malferido na medida em que o Requerido Edvaldo contratou irregularmente aRequerida ECOM sem licitação, mesmo sendo patente a viabilidade da competição ante anatureza comum e rotineira dos serviços pactuados.

Nessa mesma linha intelectiva, confira-se o preciso voto proferido peloDesembargador (do TJGO) Dr. João Ubaldo Ferreira, nos autos da apelação cível nº 112106-7/188 (200701771890), donde se extraem os seguintes excertos que podem ser invocados paraa tutela do caso em apreço:

Ora, ao que se apura deste processo, volto a afirmar, mesmo que o Dr. (…) sejaum exímio profissional – mesmo porque está ele regularmente habilitado, jáque bem certo tenha ultrapassado os umbrais de um exame severo edemocrático exigido pela OAB-GO – ainda assim a sua contratação não temnatureza singular, visto que não é ele o único operador no campo dodireito numa plêiade de advogados existente neste Estado, em especialnesta Capital, estando, por conseguinte, ausente a inconveniência dalicitação no caso ora tratado. Outrossim, nessa mesma linha de raciocínio, emconclusão, CONSTITUI ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ACONTRATAÇÃO, SEM PROCESSO DE LICITAÇÃO, PELOPREFEITO MUNICIPAL, DE ADVOGADO, QUANDO COMPROVADAA POSSIBILIDADE DE COMPETIÇÃO PELA EXISTÊNCIA DEOUTROS PROFISSIONAIS DE IGUAL CAPACIDADE.(O original não ostenta os negritos).

Nesse átimo, com o ímpeto de comprovar cabalmente a violação pelodemandado ao princípio da legalidade, socorre-se da imortal doutrina de Hely LopesMeirelles, para quem:

A legalidade, como princípio da administração (CF, art. 37, caput), significa que oadministrador público está em toda a sua atividade funcional, sujeito aosmandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastarou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidadedisciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (…) Na Administração Pública não háliberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazertudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a leiautoriza. A lei para o particular significa “pode fazer assim”; para o administradorpúblico significa “deve fazer assim”. (Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. SãoPaulo: Malheiros, 2002, p. 86). (O original não ostenta os negritos).

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Na mesma trilha de raciocínio, delineando os contornos doutrinários sobre oprincípio em análise, Emerson Garcia escreve de maneira singular que:

Atualmente, o princípio da legalidade é concebido em uma perspectiva distinta da deoutrora, época em que a atividade estatal não tinha como pressuposto a previsãonormativa, mas unicamente a ausência de limitação por ela imposta. Nada dispondo alei, ou sendo ela obscura, reconhecia-se ao agente público uma larga margem deliberdade para a apreciação dos fatos e consequente definição de sua esfera de atuação.De acordo com essa concepção, majoritária até o século XIX, a administração públicapodia fazer tudo o que não lhe fosse proibido por lei. A liberdade era a regra, sendo avinculação a exceção, o que tornava exigível que existisse unicamente uma relação decompatibilidade entre o ato e a lei, vale dizer, o ato era válido sempre que não acontrariasse, ainda que na lei não encontrasse amparo imediato. Com o evolver dadoutrina publicista e a contínua reflexão sobre o papel desempenhado pelo Estado, alei deixou de ser unicamente o elemento limitador da atividade estatal, passando aassumir posição de substrato legitimador desta, o que interdita a prática de atos contralegem ou praeter legem e torna cogente a obrigação de agir secudum legem, conformea conhecida fórmula de Stassinopoulos.(…) A subordinação da atividadeadministrativa à lei é concebida em um sentido negativo, sendo o princípio dalegalidade o limite a que estará sujeita a administração, contendo a atuaçãodesta, e em um sentido positivo, somente podendo a administração fazer o quepor lei seja consentido. Neste último sentido, constata-se a relação de conformidadeque deve existir entre o ato e a lei. (…) Com isto, conferiu-se tratamento distinto aoEstado e ao particular, permanecendo este com a possibilidade de fazer tudo o que nãolhe seja vedado (art. 5º, II, da CR/1988). (…) (Op. cit., p. 64-66). (O original não ostenta os negritos).

Portanto, tendo os demandados, com seus atos despóticos e ilegais, se afastadodo primado da legalidade administrativa (na medida em que na Administração Pública só épermitido fazer o que a lei autoriza), não há como deixar de se reconhecer a subsunção dosfatos por eles praticados à tipificação dos arts. 4º e 11 da LIA, em conformidade com a jáanunciada jurisprudência do egrégio Tribunal De Justiça Do Estado De Goiás:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA.LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INCONSTITUCIONALIDADE DALEI 8.429/92. IMPROCEDÊNCIA. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADA PARAPRESTAÇÃO DE SERVIÇOS JURÍDICOS. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO.NULIDADE DO CONTRATO. I – Não há falar em cerceamento de defesa diante doindeferimento do pedido de produção de provas periciais e testemunhais para saber seos contratos de prestação de serviços advocatícios celebrados com a apelante deveriamou não se precedidos de licitação, eis que os documentos carreados aos autos sãosuficientes para a solução da lide nesse particular. II – O Ministério Público temlegitimidade para ajuizar ação civil publica para apuração de atos de improbidadeadministrativa. incidência do art. 129, III, da CF, e do art. 17, parágrafo 4 da lei n.8429/92. III – A Lei Federal n. 8.429/92 prevê a incidência de sanções a seremaplicadas as entidades da administração publica, abrangendo os agentes públicos nasorbitas federais, estaduais e municipais, sendo impertinente a alegação de suainconstitucionalidade, mormente se não houve vicio na sua tramitação legal e ante asdisposições do artigo 37, parágrafo 4, da Constituição Federal. IV – Impõe-se anulidade dos contratos de prestação de serviços de assessoria jurídica firmados

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com a municipalidade, ante a inexistência de motivos capazes de justificar aausência do procedimento licitatório, afrontando especificamente o princípio dalegalidade e contrariando os artigos 25 e 26 da Lei 8.666/93. Recurso conhecido eprovido em parte. Registro de acórdão livro n. 1565 fls. 105/124. (Apelação nº 86080-4/188, Rel. Des. Leobino Valente Chaves, 1ª Câmara Cível do TJGO, decisãounânime. DJ 14592 de 08/09/2005).(O original não ostenta os negritos).

Outro não é o entendimento perfilhado pelo Tribunal de Justiça do EspíritoSanto, como evidencia o assaz esclarecedor julgado:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. NOTÓRIA ESPECIALIZAÇÃO.CONDUTA ÍMPROBA. DOLO. INDISPONIBILIDADE DE BENS. RECURSODESPROVIDO E RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A inexigibilidade dalicitação com fulcro no inc. II, do art. 25, da Lei nº 8.666/1993 somente é cabível noscasos em que justificada a singularidade do serviço e a notória especialização doprofissional, fatos que impossibilitam a competição. 2. A contratação de advogadoantes de encerrado o procedimento licitatório que o declarou vencedor não constituimera irregularidade procedimental, mas, sim, conduta comprovadamente ilícita, quecontraria, sobremaneira, a exigência de um processo seletivo idôneo, apto a selecionar,de forma isonômica, a proposta mais vantajosa para a Administração. 3. Comprovadaa intenção do agente em praticar a conduta em desacordo com a norma legalciente de que produziria o resultado ou, ao menos, assumiu o risco de produzi-lo,resta caracterizado o dolo ou a má-fé, aptos a configurar o ato de improbidadeadministrativa. 4. A medida de indisponibilidade de bens deve limitar-se aos valoresfixados na condenação, que representam a participação de cada um dos requeridos nacausação do dano. A implementação da medida deverá recair, todavia, em bens livres edesembaraçados de quaisquer ônus, que assegurem o integral ressarcimento do dano,ainda que adquiridos anteriormente ao ato de improbidade. 5. Recurso do primeiroApelante desprovido e Recurso do segundo Apelante provido em parte. (Apelação nº51050010126, 2ª Câmara Cível do TJES, Rel. Samuel Meira Brasil Júnior. DJ29.06.2009).(O original não ostenta os negritos).

O Superior Tribunal de Justiça perfilha do mesmo entendimento:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADEADMINISTRATIVA CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE ADVOCACIA SEMLICITAÇÃO. ATO ÍMPROBO POR ATENTADO AO PRINCÍPIO DALEGALIDADE, QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SANÇÕES DOART. 12 DA LEI DE IMPROBIDADE. CUMULAÇÃO DE PENAS.DESNECESSIDADE. DOSIMETRIA DAS PENAS. 1. O Ministério Público doEstado de Minas Gerais ajuizou Ação Civil Pública por Ato de improbidadeadministrativa contra o ex-presidente da Câmara Municipal de Raposos/MG eadvogado, que firmaram contrato para a prestação de serviços técnicos deassessoramento ao ente municipal sem realizar procedimento licitatório, nemformalizar o competente processo para justificar a inexigibilidade da licitação. 2.A inexigibilidade de licitação é procedimento administrativo formal que deve serprecedido de processo com estrita observância aos princípios básicos que norteiam aAdministração Pública. 3. A contratação embasada na inexigibilidade de licitação pornotória especialização (art. 25, II, da Lei de Licitação) requer: formalização de

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processo para demonstrar a singularidade do serviço técnico a ser executado; e, ainda,que o trabalho do contratado seja essencial e indiscutivelmente o mais adequado àplena satisfação do objeto do contrato. 4. O contrato para prestação de serviçostécnicos no assessoramento à Câmara Municipal de Raposos/MG nas áreas jurídica,administrativa e parlamentar (fls. 45-46) não preenche os requisitos do art. 25, II e §1º, da Lei de Licitação, não configurando situação de inexigibilidade de licitação. 5. Aconduta dos recorridos – de contratar serviços técnicos sem prévio procedimentolicitatório e de não formalizar processo para justificar a inexigibilidade dalicitação – fere o art. 26 da Lei de Licitação e atenta contra o princípio dalegalidade que rege a Administração Pública, amoldando-se ao ato de improbidadeadministrativa tipificado no art. 11 da Lei de Improbidade 6. Revela-se desnecessária acomprovação de enriquecimento ilícito do administrador público ou a caracterizaçãode prejuízo ao Erário para que se concretize a ofensa ao art. 11 da Lei de Improbidade.Precedentes do STJ. 7. Verificada a prática do ato de improbidade administrativaprevisto no art. 11 da Lei nº 8.429/1992, consubstanciado na ofensa ao princípio dalegalidade, cabe aos julgadores impor as sanções descritas na mesma Lei, sob pena detornar impunes tais condutas e estimular práticas ímprobas na Administração Pública.8. Consoante a jurisprudência do STJ, as penas do art. 12 da Lei nº 8.429/92 não sãoaplicadas necessariamente de forma cumulativa. Indispensável, portanto, fundamentaro porquê da escolha das penas adotadas, bem como da sua cumulação. 9. Cabe ao Juiza tarefa de aplicar as punições previstas na Lei, na proporção e graduação conforme agravidade da modalidade de improbidade administrativa configurada. 10. RecursoEspecial provido”. (STJ. REsp 1.038.736; Proc. 2008/0053253-1; MG; SegundaTurma; Rel. Min. Herman Benjamin; Julg. 04/05/2010; DJE 28/04/2011)

PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE – haja vista que a finalidade públicadeve nortear toda a atividade administrativa. O que significa dizer, em outros termos:

que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoasdeterminadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que nortear o seucomportamento. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op.cit., p. 71). (O original não ostenta os negritos).

No entanto, relegando esta orientação, o Requerido Edvaldo declarou (aoarrepio da lei) a inexigibilidade dos vergastados procedimentos licitatórios e “elegeu”, spontesua, quem seriam os assessores jurídicos da câmara municipal, “escolhendo” de formasubjetiva os profissionais que “quis”, atuando não como gestor da res publica, mas como sefosse proprietário de tal casa legislativa.

Portanto, ficou plenamente constatada a agressão ao princípio administrativoda impessoalidade. Nessas pegadas, para robustecer ainda mais tal conclusão, importareproduzir a intangível doutrina dos professores Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo:

Conforme sua formulação tradicional, a impessoalidade se confunde com o princípioda finalidade da atuação administrativa. De acordo com este, há somente um fim a serperseguido pela Administração, fim este expresso ou implícito na lei que determina ouautoriza determinado ato. Sabemos que a finalidade de qualquer atuação daAdministração é a defesa do interesse público. A impessoalidade da atuaçãoadministrativa impede, portanto, que o ato administrativo seja praticado visandoa interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à vontade da lei, comando-geral e abstrato por essência. Impede, o princípio, perseguições ou favorecimentos,

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discriminações benéficas ou prejudiciais aos administrados. Qualquer ato praticado emrazão de objetivo diverso da tutela do interesse da coletividade será inválido pordesvio de finalidade. Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, a impessoalidade écorolário da isonomia ou igualdade (…). (Direito Administrativo. 7ª ed. Niterói:Impetus, 2004, p. 128). (O original não ostenta os negritos).

Logo, ao conferir tratamento especial (e ilegal, repita-se!) à empresaRequerida, o Requerido Edvaldo atropelou o comando normativo emanado do princípio daimpessoalidade (tendo em conta que a Administração não pode atuar com vistas a beneficiarpessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público quem deve nortear o seucomportamento), devendo ser responsabilizados pelos atos ímprobos por eles cometidos.

PRINCÍPIO DA MORALIDADE – conquanto os demandados tenhamdesprezado o elemento ético dos seus atos, valendo rememorar que:

segundo uma formulação já consagrada (…) o servidor deve decidir não somenteentre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, ooportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto.(ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Op. cit., p. 127). (O original não ostenta os negritos).

Na feliz expressão de Alexandre De Moraes,

pelo princípio da moralidade administrativa, não bastará ao administrador o estritocumprimento da estrita legalidade, devendo ele, no exercício de sua função pública,respeitar os princípios éticos de razoabilidade e justiça, pois a moralidadeconstitui, a partir da Constituição de 1988, pressuposto de validade de todo atoda administração Pública. (Direito Constitucional. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2000, p.299). (O original não ostenta os negritos).

Captando a noção aqui delineada, o honroso Tribunal de Justiça goiano já teveoportunidade de reconhecer a violação ao princípio da moralidade na conduta do prefeito que,declarando a inexigibilidade do procedimento licitatório, contrata diretamente advogado parao patrocínio de causa não dotada de singularidade (sendo viável a competição), a teor do quese colhe abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATO DE PRESTAÇÃODE SERVIÇO ADVOCATÍCIO. EXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO.POSTERGAÇÃO DESTE PROCEDIMENTO, UMA VEZ QUEIDENTIFICADA A VIABILIDADE DE COMPETIÇÃO ENTRE ADVOGADOS.OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE EMORALIDADE. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONFIGURADA. I. Éprincípio consagrado de que na contratação de serviços pelo Município com terceiros,há de se realizar consulta, isto é, de escolha ou mais precisamente licitação, onde, deregra, há de se atenderem alguns requisitos, como: definição do objeto, recursofinanceiro e licitação, portanto, é certo que, não atendidos tais requisitos, ocorrerá anulificação do contrato. II. Se o representante legal do Município contrata advogadopara patrocinar a defesa dos interesses deste em Ação de Mandado de Segurança – por

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sinal de pouca ou nenhuma complexidade, mormente por ser tratar de rito especial, emcujo processo prescinde-se de instrução probatória – estabelecendo cláusulaexorbitante atinente aos honorários advocatícios, extrapolando o limite financeiro doMunicípio, e, que é pior, sem licitação, LABOROU O ENTÃO PREFEITO EMFLAGRANTE INFRINGÊNCIA AOS PRINCÍPIOS da legalidade, da impessoalidade,DA MORALIDADE, da eficiência e da publicidade. III. Se a licitação é umprocedimento administrativo através do qual a Administração Pública escolhe aproposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse, nada mais salutar doque, in casu, o ex-prefeito, naquela ocasião, a promovesse, posto que restoucomprovada a possibilidade de competição pela existência, no mercado, de muitosadvogados de igual competência e capacidade jurídica, mesmo porque, nãoobstante o patrocínio de uma causa em juízo esteja arrolado entre os serviços técnicosespecializados previstos no art. 13, da Lei 8.666/93, entretanto, para impetrar umasimples Ação de Mandado de Segurança, o então alcaide não teria necessidade algumade contratar – e diretamente – um profissional de notória especialização, máxime se,em relação aos diversos outros, também de notória idoneidade e com a mesmaespecialidade, decorreu, evidentemente, ilegal contratação que teve por dispensada alicitação. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇAREFORMADA. (TJGO. Apelação nº 112106-7/188 (200701771890). Comarca deSenador Canedo. Relator Des. João Ubaldo Ferreira. J. 25/03/2008).(O original não ostenta os negritos).

PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA – em virtude de o Requerido Edvaldo haverimpedido, com as suas ilegais decretações de inexigibilidade dos procedimentos licitatórios,que as propostas mais vantajosas – em sentido amplo – fossem escolhidas pela AdministraçãoPública, tendo despendido irregularmente a quantia de R$ 86.400,00 (oitenta e seis mil equatrocentos reais) reais).

Esmiuçando os contornos do princípio da eficiência no âmbito das licitações,não pode ser olvidada a lição de Waldo Fazzio Júnior, segundo a qual:

Os contratos firmados pelo Poder Público, necessários para o exercício da açãoadministrativa, devem ser precedidos de procedimento que leve à consecução demelhores condições, convivendo com a preservação da impessoalidade entre os quese predispõem a contratar, a moralidade na condução procedimental e a publicidade detodos os atos do certame. A eficiência perpassa todo o processo e é sua própriarazão de existir, de modo que, ao final, se materialize pela escolha do licitantemais idôneo e que ofereça mais vantagens para o ente contratante. (Op. cit., p.138)

Em outros termos,

Exige o princípio que o administrador atue com honestidade para com os licitantes, esobretudo para com a própria Administração, e, evidentemente, concorra para quesua atividade esteja de fato voltada para o interesse administrativo, que é o depromover a seleção mais acertada possível. Se, ao contrário, a improbidade frustra oobjetivo da licitação, o responsável pela distorção deve sofrer a aplicação das sançõescivis, penais e administrativas cabíveis. (CARVALHO FILHO, José dos Santos.Manual de Direito Administrativo. 18ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 222). (O original não ostenta os negritos).

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Destarte, vê-se de maneira cristalina que os atos dolosamente praticados peloRequerido Edvaldo se distanciaram e muito do que enuncia o princípio da eficiência(intimamente ligado à ideia de economicidade), motivo pelo qual o reconhecimento daimprobidade administrativa (arts. 4º e 11 da LIA) é medida de rigor.

VII – DA MÁ-FÉ

Como é óbvio, o agente ímprobo não expede recibo dos atos de corrupção e,via de regra, não confessa sua reprovável conduta. Assim, a primeira cautela necessária todavez que o julgador se depara com fatos aos quais se atribui a qualificação “atos deimprobidade administrativa” é ter em conta que a prova da má-fé não é direta, evidentemente.

Como se sabe, aquele que pratica atos eivados de tal sorte de vícionormalmente acautela-se para não ser surpreendido em sua empreitada, sendo indiciária,indireta, a prova da intenção espúria.

Assim, não sendo possível ao julgador ingressar na mente do agente ímprobo,deve-se ter em mente que a prova da desonestidade, da má-fé, é indiciária, indireta. Assim,impõe-se ao Poder Judiciário um esforço cognitivo maior e a apreciação da prova com acompreensão das peculiaridades desta sorte de vício, sob pena de se chancelar a improbidadeadministrativa, criando-se írrita exceção à inafastabilidade da jurisdição, prevista no artigo 5º,XXXV, da Constituição da República, que não alcançaria, em termos práticos, o valorprobidade administrativa.

O juiz, ao apreciar provas colhidas no processo, atua com duas sortes delimitações: a) aquelas impostas pela lei, que, em alguns casos, exige um específico meio deprova e, em outros, impõe presunções; b) as determinadas pela racionalidade, daí anecessidade de motivação.

Estas são as primeiras condicionantes jurídicas da atividade jurisdicional nesteparticular, além, evidentemente, de ser proibida a produção e a consideração de provas ilícitas.

Complementando a disciplina, o ordenamento divide entre as partes o ônus deprovar, sendo regra a prevista no art. 333 do Código de Processo Civil, segundo a qual, quemalega prova.

Há, contudo exceções expressas e implícitas à regra, sendo mister observar que o temanão se resolve com a formulação de alguns poucos princípios, dada a multiplicidadede razões para se atribuir tal ônus a uma parte ou outra. (MIRANDA, Pontes de.Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1.974. p. 21).

Além disso, não há correspondência absoluta entre as atividades de afirmar eprovar em juízo, existindo afirmações implícitas ou necessárias que, embora não feitas, devemser provadas e, de outra banda, afirmações que dispensam prova, como, por exemplo, os fatosnotórios, os afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária, os admitidos, noprocesso, como incontroversos e aqueles em favor dos quais milita presunção legal (CPC,artigo 334) ou, ainda, a chamada presunção hominis (CPC, artigo 335).

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Assim, a respeito do regime jurídico da prova no processo civil, temos quevigora o livre convencimento motivado ou a persuasão racional, em que a lei, após excluir docampo probatório meios que considera ilícitos, impõe ao juiz algumas presunções ou meios deprova específicos, além do dever de sempre justificar racionalmente suas decisões. Determinaque observe a quem cabia provar os fatos não provados, para que em desfavor deste pese aausência da prova, mas impõe também que analise a prova em conjunto e, se necessário,produza prova de ofício. Por fim, dispensa a correlação entre a fundamentação da sentença e arepresentação material nos autos dos fatos notórios, incontroversos e presumidos, pela lei oupela razão.

Neste contexto, a prova do desvio de poder se dá com a prova de circunstânciasque gravitam ao seu redor, de fatos que, segundo as regras de experiência comumsubministradas pela observação do que ordinariamente acontece (CPC, artigo 335),relacionam-se com tal vício da conduta administrativa.

Assim, feita tal prova, emerge, imposta pela racionalidade, a presunção daatuação viciada, sem prejuízo de que se comprove o contrário.

Eis como, racionalmente, deve ser concebida a prova da improbidadeadministrativa.

In casu, o dolo, requisito subjetivo exigido para a caracterização do ato deimprobidade administrativa nos casos do artigo 11, inciso I, da Lei n.º 8.429/92, mostra-sepresente.

O Requerido Edvaldo é vereador do município de Perolândia desde o ano de1997 até os dias atuais e, consequentemente, possui vasto conhecimento de todo os trâmites aserem seguidos para a contratação de serviços de assessoria jurídica para a câmara.

A Requerida ECOM, por sua vez, é um escritório de consultoria municipal, e,além de contar com vários advogados para lhe assessorarem juridicamente, já celebroucontrato com outros municípios e sabe exatamente como proceder diante da Lei de Licitações.

E por fim, o Requerido Eduardo, que é sócio-administrador da empresaECOM, possui 99,95 % de seu capital social, assinou ambos os contratos ora analisados e sebeneficiou sobremaneira da contração ilegal realizada, é advogado regularmente inscrito nosquadros da OAB/GO e sabe da necessidade de se realizar licitação em casos como este.

Desta forma, ficou comprovado que, no período de 2007/2008, o RequeridoEdvaldo dispensou deliberadamente procedimentos licitatórios, fora das hipóteses previstasem lei, em direta violação ao disposto no Estatuto das Licitações, ao firmar 02 contratosilegais para a contratação dos serviços de assessoria jurídica da câmara municipal com aempresa Requerida.

Desse modo, verifica-se que a contratação direta do referido escritório nãoocorreu em razão de sua comprovada capacidade técnica e notória especialização e nemmesmo da singularidade do serviço a ser prestado, por não se tratar de serviços técnicosespecializados.

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Sem prejuízo, pode ser extraído dos certames o nítido intuito do RequeridoEdvaldo de beneficiar o Requerido Eduardo, que se esconde por detrás da empresa RequeridaECOM, ao arrepio dos princípios constitucionais vigentes e em prejuízo ao erário, o queressalta sua má-fé nas contratações diretas retromencionadas.

VIII – DO BLOQUEIO DE BENS DO REQUERIDO EDVALDO

Pela primeira vez em nossa história Constitucional o princípio da moralidadeencontrou previsão expressa no Texto Magno, apesar de admitir-se sua existência implícitanas Constituições anteriores, demonstrando a preocupação do Constituinte de 88 com aproteção da probidade na administração pública.

No artigo 37, § 4º, da Carta Política percebe-se a severidade com que aConstituição quis reprimir as transgressões à probidade administrativa.

As condutas do Requerido Edvaldo subsumem-se as disposições dos artigos10, incisos VIII e XII, e 11, caput e inciso I, todos da Lei n.º 8.429/92, sendo, pois, imperativaa sua obrigação de reparar o dano causado ao patrimônio público, nos exatos termos dos arts.5º, 7º e 12, II, da Lei de Improbidade Administrativa.

Dessarte, em sede de cognição não exauriente, vislumbra-se a presença dospressupostos que rendem azo ao deferimento da medida liminar de indisponibilidade de bense valores do réu, tudo do no afã de assegurar o integral ressarcimento ao erário.

No caso dos autos, diante da exposição dos fatos e da análise da prova material,o fumus boni juris encontra-se devidamente caracterizado, ante a flagrante ofensa aospreceitos legais e constitucionais já citados, o que torna indubitável a probabilidade de aprovidência principal ser acolhida nos moldes pleiteados pelo Parquet.

Ainda nessa linha argumentativa, com suporte na jurisprudência amplamentemajoritária sobre a questão, importante evidenciar, mais uma vez, que se fazemsatisfatoriamente presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar deindisponibilidade de bens, quais sejam, o fumus boni juris e o periculum in mora. A propósito,sobre os aludidos requisitos, tem-se que:

O primeiro situa-se na circunstância de que há indícios da prática dos atos deimprobidade administrativa; (…) O segundo repousa no dano em potencial quedecorre da demora no trâmite das ações principais, de modo que, se não seqüestradosos bens, o apelante poderia deles desfazer-se, tornando-se ineficazes os pedidos nasações civis públicas. (TJSC – 2ª C. Cível Esp. – Ap. 88.077511-0, Rel. Des. NélsonSchaefer Martins).

Vale repisar, assim, que para assegurar-se o resultado prático do processo, éimprescindível a decretação da indisponibilidade de bens do Requerido Edvaldo, haja vistaque o arcabouço probatório carreado aos autos revela a prática de atos de improbidade quecausaram intensa lesão aos cofres públicos de Perolândia, além de graves ferimentos aosprincípios da Administração Pública.

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Nessas pegadas, consoante preconiza o art. 5º da Lei de Improbidade,

ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, doagente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

Complementando este dispositivo, preceitua o art. 7º, caput, do mesmoDiploma legal, que

quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público, ou ensejarenriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquéritorepresentar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

No mesmo embalo, o parágrafo único deste mesmo artigo, por sua vez, rezaque

a indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens queassegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonialresultante do enriquecimento ilícito.

Destarte, pela combinação dos arts. 5º e 7º da LIA, nota-se que a decretação daindisponibilidade dos bens do agente ímprobo é medida salutar para o fim de assegurar ointegral ressarcimento do dano causado.

Sobre o tema leciona Marino Pazzaglini Filho, litteris:

(…) Ao que parece, o legislador equivocou-se nomeando o sequestro, quando narealidade queria mencionar o arresto, que é a apreensão cautelar de quaisquer bens dopatrimônio do devedor com o destino de assegurar futura execução por quantia. Essaimpropriedade terminológica, porém é indiferente, pois tem aplicação no caso de açãode improbidade administrativa às medidas acautelatórias previstas no CPC (v.g.,arresto - art. 813 -, sequestro – art. 822 -, busca e apreensão - art. 839 -, exibição - art.844 -, produção antecipada de provas - art. 846 -, justificação – art. 861). Além domais, o juiz, valendo-se do poder de cautela a ele deferido (art. 798 do CPC), podedeterminar a medida provisória que entender mais adequada para assegurar aefetividade da pretensão final (tutela inominada). Aliás, a cautelar, quando for preciso,pode abranger o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras noexterior, observados a lei e os tratados internacionais (§ 22). A tutela cautelar pode serpeticionada em ação cautelar, ou no próprio corpo da petição inicial da ação civil deimprobidade administrativa, ou durante o curso do processo satisfativo. As cautelaresdevem ser pleiteadas no juízo da ação principal quando preparatórias, emprocedimento cautelar autônomo (art. 800 do CPC). Nessa hipótese, cessará suaeficácia se o requerente não ingressar com a ação de improbidade correspondentedentro de 30 dias contados da data de sua efetivação (arts. 806 e 808 do CPC). Cessatambém a eficácia da medida cautelar se não for executada no prazo de 30 dias, ou seo juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do mérito(art.808). Por outro lado, durante a pendência do processo principal, acautelarconcedida conserva sua eficácia, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada oumodificada (art. 807 do CPC). O requerente do pedido cautelar tem a faculdade depleitear sua concessão sem ouvir o réu, sob a alegação fundamentada e consistente deque o prévio contraditório possibilitará a desaparição de seus bens. E é lícito aomagistrado, convencido desse perigo, concedê-la liminarmente inaudita altera parte

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(art. 804 do CPC). Importante frisar que a concessão de medida cautelar sem préviocontraditório só deve ocorrer em casos excepcionais, quando, realmente, a convocaçãodo interessado tenha o condão de prejudicar a eficácia da tutela pleiteada, pois essamedida representa verdadeira surpresa para a parte contrária, que sequer temoportunidade de oferecer argumentos contestatórios, que poderiam influenciar oconvencimento do julgador. (…) (Lei de Improbidade Administrativa Comentada, Ed.Atlas, São Paulo, 2007).

Nesse sentido confira-se, à guisa de exemplo, julgado do Superior Tribunal deJustiça, verbis:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃOJURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MEDIDA CAUTELAR DE SEQUESTRO.REQUERIMENTO NA INICIAL DA AÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDADE. 1.Tendo o acórdão a quo decidido fundamentadamente a totalidade das questõessuscitadas no agravo de instrumento, não há cogitar de sua nulidade por negativa deprestação jurisdicional. 2. A falta de prequestionamento do tema federal impede oconhecimento do recurso especial. 3. O sequestro, previsto no art. 16 da Lei 8.429/92,é medida cautelar especial que, assim como a indisponibilidade instituição em seu art.7º, destina-se a garantir as bases patrimoniais da futura execução da sentençacondenatória de ressarcimento de danos ou de restituição dos bens e valores havidosilicitamente por ato de improbidade. 4. Estabelece o citado art. 16 que "o pedido desequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código deProcesso Civil". A regra não é absoluta, justificando-se a previsão de ajuizamento deação cautelar autônoma quando a medida seja requerida por provocação da comissãoprocessante incumbida de investigar os fatos supostamente caracterizadores daimprobidade, no âmbito da investigação preliminar ― antes, portanto, da existência deprocesso judicial. 5. Não há, porém, qualquer impedimento a que seja formulado omesmo pedido de medida cautelar de sequestro incidentalmente, inclusive nospróprios autos da ação principal, como permite o art. 273, §7º, do CPC. Em qualquercaso, será indispensável a demonstração da verossimilhança do direito e do risco dedano, requisitos inerentes a qualquer medida cautelar. 6. Sendo assim, não se podereconhecer qualquer irregularidade na decisão que deferiu o sequestro, até porque adecretação de nulidade em função do apontado vício formal não poderia prescindir daindicação de prejuízo dele decorrente (pas de nulité sans grief), o que não ocorreu, nocaso. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.” (Resp206222⁄SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em13.12.2005, DJ 13.02.2006 p. 661)

In casu, é lícito e, sobretudo, imprescindível para a efetividade do processo aconcessão de liminar inaudita altera pars (art. 804 do CPC) de indisponibilidade dos bens doréu (art. 7º, da Lei 8429/92).

Conforme devidamente demonstrado pelos elementos de convicção carreadosao procedimento que instrui a inicial, o Requerido causou prejuízo ao erário.

A câmara municipal de Perolândia pagou a empresa Requerida, representadapelo Requerido Eduardo, contratada diretamente, mediante declaração indevida deinexigibilidade de licitação, entre os anos de 2007 e 2008, o valor, devidamente atualizado até

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a data de propositura da presente ação, de R$ 209.677,00 (duzentos e nove mil, seiscentos esetenta e sete reais).

Desse modo, verifica-se pelos elementos de convicção colacionados aos autosque a versão apresentada na inicial é provável, o que caracteriza o fumus boni iuris.

Já o periculum in mora nas ações de improbidade administrativa não deve seranalisado à luz das regras tradicionais das medidas cautelares insertas no Código de ProcessoCivil. Tal requisito, em verdade, normalmente está presumido com a deflagração da ação deimprobidade administrativa. Vale dizer, o Magistrado, ao constatar a presença de robustosindícios da prática de improbidade administrativa, já está autorizado a decretar aindisponibilidade dos bens do réu, independentemente de provas de que este estivessedissipando o seu patrimônio.

Nessa ordem de ideias, Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves advertemque:

exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar- se à efetividadeda condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamentoda indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal. (Ob. cit. Pag. 641)

Seguindo essa linha de raciocínio, Fábio Medina Osório , ao comentar aindisponibilidade de bens nas ações de improbidade administrativa, conquanto equiparando-aao sequestro (lembrando-se que tais medidas cautelares não se confundem), preleciona que:

(…) não se mostra crível aguardar que o agente público comece a dilapidar seupatrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida cautelar autônoma deseqüestro dos bens. Tal exigência traduziria concreta perspectiva de impunidade e deesvaziamento do sentido rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via deregra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dosprejuízos causados ao erário. A indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória,pois traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37,parágrafo 4º, da Constituição Federal. Esperar a dilapidação patrimonial, quando setratar de improbidade administrativa, com todo respeito às posições contrárias, éequivalente a autorizar tal ato, na medida em que o ajuizamento de ação de seqüestroassumiria dimensão de ‘justiça tardia’, o que poderia se equiparar a denegação dejustiça. (OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade administrativa. 2. Ed. Porto Alegre:Síntese, 1998, p. 240/241)

Aliás, de acordo com o art. 37, § 4º, da Constituição Republicana, oconstituinte não fez qualquer menção à necessidade de se aguardar que o agente públicomalbaratasse seus bens, para que só assim o Julgador decretasse a indisponibilidade de seupatrimônio. Diga-se o mesmo em relação à legislação ordinária (Lei n. 8.429/92), que tambémnão fez tal exigência.

Se o legislador pretendesse condicionar a decretação da indisponibilidade àcomprovação da dilapidação dos bens pelo agente público, ele certamente o teria feito deforma expressa, à semelhança do que ocorreu com as medidas cautelares do sequestro earresto, cujos dispositivos legais (art. 813 c/c art. 822 do Código de Processo Civil) catalogamsituações que configuram o perigo na demora.

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A melhor jurisprudência não destoa da linha intelectiva aqui perfilhada:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CAUTELAR – INDISPONIBILIDADE DE BENS DOSERVIDOR A QUEM SE IMPUTA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE –PERIGO. Tratando-se de ação civil pública cautelar cujo escopo é garantir aindenização por danos oriundos de imputado ato de improbidade a administradorpúblico, não é necessária a existência ou demonstração de perigo na demora aensejar a concessão da medida judicial de indisponibilidade dos bens –Constatada a plausibilidade da imputação da prática de ato de improbidade, osbens do agente público, que respondem pelos atos por ele praticados não maispodem ser alienados, desnecessária a demonstração de existência de perigo ouintenção de alienação – Recurso provido para decretar-se a indisponibilidade dosbens dos agravados, que permanecerão com a administração dos mesmos até finaljulgamento da ação – Recurso provido para tal fim. (Agravo de Instrumento nº052.503-5 – TJSP – 2ª Câmara de Direito Público – Rel. Lineu Peinado – 12.05.98).

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART. 7º, PARÁGRAFOÚNICO, DA LEI 8.429/1992. REQUISITOS PARA CONCESSÃO. (...). 2. Orequisito cautelar do periculum in mora está implícito no próprio comando legal,que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a 'assegurar o integralressarcimento do dano'. 3. A demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou doenriquecimento ilícito do agente, caracteriza o fumus boni iuris. (…). (REsp nº1098824/SC (2008/0223859-3), 2ª Turma do STJ, Rel. Eliana Calmon. Unânime, DJe04.08.2009).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS.DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. 1. Cuidam os autos deAção Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal no Estado do Maranhãocontra a ora recorrida e outros, em virtude de suposta improbidade administrativa emoperações envolvendo recursos do Fundef e do Pnae. 2. A indisponibilidade dos bens émedida de cautela que visa a assegurar a indenização aos cofres públicos, sendonecessária, para respaldá-la, a existência de fortes indícios de responsabilidade naprática de ato de improbidade que cause dano ao Erário (fumus boni iuris). 3. Talmedida não está condicionada à comprovação de que os réus estejam dilapidandoseu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista que o periculum inmora está implícito no comando legal. Precedente do STJ. 4. Recurso Especialprovido. (REsp nº 1115452/MA (2009/0102143-2), 2ª Turma do STJ, Rel. HermanBenjamin. Unânime, DJe 20.04.2010).(O original não ostenta os negritos).

Assim sendo, com base na robusta prova documental carreada aos autos e aindiscutível necessidade de celeridade no provimento jurisdicional requerido, em vistas aevitar a dilapidação do patrimônio do Requerido, frustrando assim o pagamento dacondenação pleiteada, requer-se antecipação de tutela, com fundamento nos termos do art.273 do Código de Processo Civil c/c art. 7º da Lei n.º 8.429/92, no sentido de que sejadeterminado o IMEDIATO BLOQUEIO DOS BENS DO REQUERIDO EDVALDOMARCOS DE PAULA na quantia de R$ 209.677,00 (duzentos e nove, seiscentos esetenta e sete reais), referente ao valor total, devidamente atualizado até a presente data, pago

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pela câmara municipal de Perolândia aos demais Requeridos, em razão de terem sidocontratados diretamente, mediante declaração indevida de inexigibilidade de licitação.

IX - DOS PEDIDOS

Assim, diante do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADODE GOIÁS:

1) A distribuição e autuação da presente ação, acompanhada do InquéritoCivil n.° 033/2011, anexo, a ser admitido inteiramente como meio de prova;

2) a concessão de medida liminar, inaldita altera pars, para:

2.1) declarar indisponíveis os bens do Requerido Edvaldo, até o limite de R$209.677,00 (duzentos e nove, seiscentos e setenta e sete reais), como meio de garantir as basespatrimoniais da futura execução da sentença condenatória de restituição do prejuízo causadoao patrimônio público pela prática do ato de improbidade, devendo-se, para tanto, adotar asseguintes providências:

2.1.1) realizar a indisponibilidade on-line de todas as contas bancárias doRequerido (por via do sistema do Banco Central de penhora on-line);

2.1.2) expedir Ofícios ao Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN deGoiás, a fim de que informe sobre a existência ou não de bens em nome do Requerido e sejacientificado da impossibilidade de alienação daqueles eventualmente existentes;

2.1.3) expedir Ofícios ao Cartório de Registro de Imóveis de Perolândia, bemcomo à Corregedoria de Justiça do Tribunal de Justiça de Goiás, solicitando-lhe a publicaçãode comunicado endereçado a todas as Circunscrições Imobiliárias (exceto a já mencionada)para que informem a respeito da existência de bens imóveis em nome do Requerido;

3) A notificação dos Requeridos, para, querendo, apresentarem manifestaçãopor escrito, nos termos do art. 17, § 7º, da Lei n.º 8.429/92;

4) O recebimento da presente inicial, bem como a citação dos Requeridospara, querendo, apresentarem contestação, nos termos do art. 17, § 9º, da Lei nº 8.429/92;

5) A condenação do Requerido Edvaldo Marcos de Paula pelos atos deimprobidade administrativa descritos no artigo 10, inciso VII e XII e no artigo 11, caput einciso I, da Lei n.º 8.429/92, impondo-lhe as sanções previstas no artigo 12, incisos II e III, daLei n.º 8.429/92, dentre elas o ressarcimento ao erário;

6) A condenação dos Requeridos ECOM – Escritório de ConsultoriaMunicipal LTDA. e Eduardo Costa Ferreira, pelos atos de improbidade administrativadescritos no artigo 11, caput e inciso I da Lei n.º 8.429/92, impondo-lhes as sanções previstasno artigo 12, inciso III, da Lei n.º 8.429/92;

7) A condenação dos Requeridos ao pagamento das custas processuais;

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8) Após a condenação, seja oficiado o Tribunal Superior Eleitoral, para aefetivação da suspensão dos direitos políticos dos Requeridos, e o Banco Central, para queeste comunique às instituições financeiras oficiais a proibição de contratar com o poderpúblico e de receber incentivos e benefícios fiscais ou creditícios.

Requer que seja resguardado o direito de produzir provas, dentre elas oitiva detestemunhas, as quais serão devidamente arroladas em tempo oportuno, juntada dedocumentos e os demais meios de prova admitidos pela legislação.

Dá-se à causa o valor de R$ 209.677,00 (duzentos e nove, seiscentos e setenta esete reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Jataí, 25 de agosto de 2014.

Patrícia Almeida GalvãoPromotora de Justiça

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