excelentÍssimo senhor juiz da 4ª vara criminal...

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13 ª VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA PR AÇÃO PENAL Nº 5045241-84.2015.4.04.7000/PR J OSÉ A NTUNES S OBRINHO , por seus advogados que esta assinam, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, na fase do art. 403 do CPP, apresentar MEMORIAIS , impressos no anverso de 125 laudas. De São Paulo para Curitiba, 03 de maio de 2016 Carlos Kauffmann – OAB/SP 123.841 Antonio Figueiredo Basto – OAB/PR 16.950 Luis Gustavo Veneziani – OAB/SP 302.894 Caio Almado Lima – OAB/SP 305.253 Natalia de Barros Lima – OAB/SP 345.300

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13 ª VARA

CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA – PR

A ÇÃ O PE NAL N º 5045241 -84 .2015 .4 .04 .7000/PR

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO , por seus advogados

que esta ass inam, vem, respei tosamente , à presença de Vossa

Exce lênc ia , na fase do ar t . 403 do CPP, apresentar MEMORIA IS ,

impressos no anverso de 125 laudas.

De São Paulo para Cur it iba, 03 de maio de

2016

Car los Kauf fmann – OAB/SP 123.841

Antonio Figueiredo Basto – OAB/PR 16.950

Luis Gustavo Veneziani – OAB/SP 302.894

Caio Almado Lima – OAB/SP 305.253

Natal ia de Barros Lima – OAB/SP 345.300

2

PELO ACUSADO

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

EMINENTE MAGISTRADO :

“ ( . . . ) o p r omot o r ( . . . ) v i a de r eg r a , e l e não s e in t e r e s sa pe l o

p r ocesso . E l e a companha o p r ocesso mas não s e p r eocupa em

pr ov ar aqu i l o que e l e a l egou quando deu a denúnc i a . En t ão ,

o p r ocesso chega ao f im, v a i s e e xamina r , não t em pr ov as . As

p r ov as a que a lud i a o inquér i t o no p r ocesso nã o f o r am

r eav i v adas e não f o r am con f i r madas . E v ocê f i c a nes t e dr ama

de consc i ênc ia ( . . . ) .

Houve casos em que eu condene i t a l e ra a minha

conv icção , apesa r da de f i c i ênc ia de p rovas do p rocesso .

Mas há out ros que você não pode condenar , a não se r que

você quei ra se r i r rac iona l , mas é errado ” 1

Longe se va i o tempo em que esta grave

advertência , deixada pelo Pres idente Ernesto Geise l ao deta lhar

sua exper iência como Ministro do Superior Tr ibunal Mi l i tar , era

uma tr iste real idade em nosso s istema.

Sombrio o per íodo em que o julgador, a inda

que consciente de seu erro , cedia à sua conv icção mais ínt ima

em detr imento da prova.

I sto mudou. O processo penal brasi le iro

muito evoluiu em direção ao garant ismo na constante busca do

1 GASPARI, El io . A di tadura encurralada . Rio de Janeiro: Intr ínseca, 2014, p. 32.

3

equi l íbr io no re lacionamento do ser humano contra a força do

poder estata l :

“Na e v o lução do r e l a c i onamen t o do i nd i v í duo -Es t ado ,

houv e necess i dade de no rmas que gar ant i s s em os

d i r e i t o s f undament a i s do s e r humano cont ra o f o r t e

pode r e s t a t a l in t e r v enc i on i s t a . Para i s so , o s pa í s es

i n ser i ram em suas Cons t i t u i ções r e g r as de cunho

ga rant i s ta s , que impõem ao Es t ado e à p r ópr ia

s oc i edade o r espe i t o aos d i r e i t o s ind i v i dua i s , t endo o

Br as i l , s egundo José A f onso da S i l v a , s i do o p r ime i r o a

i n t r oduz i r em seu t ex t o nor mas desse t e or . ” 2

A ordem const i tuc ional v igente , ao

sacramentar nosso Estado Democrát ico de Dire i to , exig iu que as

decisões sejam fundamentadas nas provas obt idas com

observância da ampla de fesa e do contraditór io . É justamente

d isto que trata o processo .

E , neste contexto, com a certeza de que

Vossa Exce lênc ia jamais sucumbirá a rec lamos outros que não

aqui lo que fo i produz ido no processo, é que JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO não se furtará de enfrentar todas as imputações que

lhe foram lançadas.

E o fará conv ic to de sua inocênc ia, po is é o

que emerge da prova; é o que sa lta de todos os depoimentos :

M I LTON PASCOWITCH

“ ( . . . ) nunca converse i c om o Cr i s t i ano Kok a respe i to de

p rop ina ou a respe i to de qua lquer andamento de

empreend imento na PETROBRAS . Quem t i nha . . .

Ju iz Federa l : José Antunes Sobr inho?

2 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal consti tuc ional . 5. Ed. Rev. atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tr ibunais, 2007, p. 17.

4

Inte r rogado : Também não .

( . . . ) Não pa r t i c ipe i de nenhuma conversa com o Antunes

re f e rente a esse cont ra to . A l i á s , re fe rente a e sse e nem a

nenhum ” 3.

PAULO ROBERTO COSTA

“ ( . . . ) E José Antunes Sobr inho?

Depoente : Também não l embro de te r conversado com e le

sob re esse tema não , que eu me lembro é só do Gerson ” 4.

ALBERTO YOUSSEF

“ ( . . . ) José Ant unes eu v i uma v e z quando eu f u i na Engev i x ,

numa r eun i ão com o Ge r son A lmada , mas não me l embr o de

t e r t r a tado nada com e l e .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : E ssa r eun i ão f o i pr a d i scu t i r

e s s e s r epasses , e s ses i l í c i t o s?

Depoen t e : Com o Ge r son A lmada s im .

Mini s tér io Púb l ico Federa l : O José Antunes não

par t i c ipou dessa reun ião?

Depoente : Não ” 5.

AUGUSTO R I BEIRO MENDONÇA

“Mini s té r io Púb l i co Federa l : O senhor chegou a conhecer

e t ra ta r com Cr i st i ano Kok e José Antunes?

Depoente : Desses assuntos não .

Mini s tér io Púb l i co Federa l : A lguma vez Gerson A lmada f ez

menção que f a la r ia com os demai s sóc ios , no caso os do i s ,

sob re esses assuntos?

Depoente : Não que eu me recorde ” 6.

3 Evento 670 – Termo de Transcrição. Grifado.

4 Evento 464 – Termo de Transcrição. Grifado.

5 Evento 464 – Termo de Transcrição. Grifado.

6 Evento 464 – Termo de Transcrição. Grifado.

5

R ICARDO R IBEIRO PESSOA

“Min i s t é r i o Púb l i co Fede r a l : Quem repr esen t av a a Empr esa

Engev i x?

Depoente : E ra o Gerson A lmada .

Min i s tér io Púb l i co Federa l : Apenas e l e?

Depoente : Só me reun i com e le ” 7.

JOSÉ D IRCEU DE OLIVEIRA E S ILVA

“Ju iz Federa l : Quem era o seu inte r locuto r na Engev ix?

Inte r rogado : Sempre o senhor Gerson A lmada . O senhor

Antunes , eu es t i ve com e le e tudo , mas não e ra

responsab i l i dade de le ” .

( . . . ) nunca conv er se i c om o s enhor Ger son A lmada ou s enhor

An t unes sobr e a PETROBRAS, a l i á s dec l a r ar am i s so nos

au t os , nunca ” 8.

INTRODUÇÃO

As transcr ições acima , extraídas de

depoimentos co lh idos durante a instrução processual , têm única

f inal idade: t razer , desde o in íc io , a cer teza indissolúve l de que

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO jamais part ic ipou de qualquer ação

re lat iva à Petrobras.

Mais do que isso , sequer t inha c iência das

t ratat ivas d iretamente rea l i zadas entre GERSON DE MELLO

ALMADA e M ILTON PASCOWITCH ou de suas at i tudes .

Desconhecimento , este , que longe de

caracter izar “cegue ira del iberada” é f ruto da estrutura

7 Evento 468 – Termo de Transcrição. Grifado.

8 Evento 722 – Termo de Transcrição. Grifado.

6

organizacional da empresa, conforme se demonstr ará de forma

ampla e i r re futável no tópico re lacionado à respon sabi l idade

ob je t iva .

* * *

Diz o Minis tér io Públ ico, com acerto, que

“ ( . . . ) o que se deve espera r no p rocesso pena l é que a

p rova ge re uma conv icção para a l ém de uma dúv ida que é

razoáve l , e não uma conv icção para a l ém de uma dúv ida

meramente poss íve l ( . . . ) ” .

(Memor i a i s do Min i s t é r i o Púb l i c o Fede ra l . Ev en t o 879 .

Gr i f ado . )

Neste processo , longe de qualquer dúv ida,

razoável ou possíve l , há apenas certeza: JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

é inocente e não pode ser condenado pe los cr imes descr i tos na

denúncia .

O contexto probatór io, que emerge após o

contradi tór io , conduz a esta inexorável conclusão .

Apesar d is to , o Minis tér io Públ ico a fasto u-se

por completo da prova produz ida e buscou a condenação do

Acusado fundado naqui lo que entende ser “dúv ida razoável ” .

Desconsiderou, portanto, a or ientação

de ixada por Tornaghi ao anal isar a f inal idade da prova:

“Na denúnc i a ( ou que i xa ) o aut or l ev an t a o v éu que cobre um

poss í v e l c r ime . Para i s so não s e l he ex i g e uma demonst ração

caba l dos f a t os , o que s e f a rá exa t amen te no pr ocesso . Esse

é , an t e s de ma i s nada , uma a t i v idade p r oba t ó r i a . Todo

p r ocesso es tá pene t r ado na p r ova , embeb ido ne l a , s a tur ado

de l a . S em e l a , e l e não chega a s eu ob j e t i v o : a s en t ença . Por

7

i s s o a pr ov a f o i chamada de ‘ a lma do p r ocesso ’ (Masca r do ) ,

‘ s ombr a que acompanha o co r po ’ (Romagnos i ) , ‘ pon t o

l um inoso ’ (Car m ignan i ) , ‘ p ed r a f undament a l ’ (Br ugno l i ) ,

‘ c en t r o de g rav i dade ’ (B r usa ) . ” 9

Abandonar a prova produzida em juízo

impl ica fechar os o lhos para o processo , para “o pa lco no qual

devem se desenvolver , em estruturação equi l ibrada e

cooperadora, as at iv idades do Estado ( jur isd ição ) e das partes

(autor e réu) . Nenhuma dessas at iv idade s deve ser o centro,

impondo-se sobre as outras” 10.

Por isso , a de fesa , estruturada nos tóp icos

seguintes, cuidará de ver i f icar todo conjunto probatór io que, de

forma c lara , cer ta e inafastável , converge no mesmo sent ido:

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO não contr ibuiu , de forma a lguma, para o

resultado apurado.

I . RESUMO DA ACUSAÇÃO......................................................07

I I . PRELIMINARES.................................................... ...............16

1 . I NÉ P CI A F OR MAL D A DE NÚ NCI A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

2 . I NÉP CI A M A TERI A L DA D E NÚ NCI A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40

3 . FA LTA DE CO RRE LA ÇÃ O E NTR E I N I C I A L E PE DI D O A CU SA TÓ RI O

CE R CEAM E NTO D E D E FE S A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

I I I . MÉRITO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45

1 . O G RU PO E NGE VI X - A S EMP R ES AS , P AP E L DO S S Ó CI OS E S I S TEM A

D E G ES TÃ O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46

A ) H I S TÓ RI CO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47

B ) E S TRU TUR A O R GA NI ZA CI O NA L . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51

G E R SO N A LMA D A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52

9 Curso de processo penal . 10. ed. atual. São Paulo: Sara iva, 1997, v. 1, p . 272.

10 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal consti tucional . 5ª. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tr ibunais, 2007, p. 35.

8

CRI S TI A NO K O K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53

JO S É A NTU NE S S OBRI NH O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

C ) A T I TUD E DO A CU SA D O A P ÓS A PR I S Ã O DE GE R SO N

A LMA DA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60

2 . P E TR O BR A S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64

A ) NÃ O I NCLUS ÃO D E JO SÉ A NTU NE S S O BRI NH O COM O RÉ U NO

P R O CES S O DE COR RE NTE D A 7 ª FA SE D A OP ER A ÇÃ O LA VA

JA TO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65

B ) I NE XI S TÊ NCI A DE PR O V AS QU E A PONTE M PA RA O

E NVO LVI M E NTO DE JO S É A NTU NES S OBRI NH O EM A TO S

E NVO LVE ND O A P ETR O BR A S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67

C ) AU SÊ NCI A R E LAÇÃ O E NTRE JO SÉ ANTU NE S S O BRI NHO E

M I LTO N PA S COWI TCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

3. JOSÉ DIRCEU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83

4 . P E DI D O D E CO ND E NA ÇÃ O DE JO SÉ A NTU NES S O BRI NHO BA SE A DO

Ú NI CA E EX CLUSI VA ME N TE NA R ES P ONS A BI L I DA D E O BJET I VA . . . . . .97

5 . OR GA NI ZA ÇÃ O CRI MI NOS A – P R I NCÍ P I O D A R ES E RVA LE G A L . . . .109

6 . A T I P I C I D A DE DA LA VA G EM – AU SÊ NCI A D O S E LEM E NT O S

O BJE TI VO S E SU BJE T I V O S D O T I P O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .111

IV. CONCLUSÕES.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .117

I . RESUMO DA ACUSAÇÃO

1. A presente ação penal fo i instaurada para

apurar cr imes de organização cr iminosa, corrupção at iva e

lavagem de d inhe iro nos “pagamentos de propinas à Diretor ia de

Serv iços e Engenhar ia da PETROBRAS ” , em v ir tude dos seguintes

contratos:

9

a ) do i s c on t ra t os pa r a cons t r ução dos módu l os 1 , 2 e 3 da

Un idade de T r a t ament o de Gás de Cac imbas (UTGC) , c om

pr op ina de R$ 6 . 862 . 714 , 22 , 1 , 5% do p r ime i r o c on t r a to , e

p r op ina de R$ 31 . 396 . 419 , 03 do s egundo con t r a t o ;

b ) c on t r a t o do Consór c i o Skanska /Engev i x URE par a a

e xecução de ob ras e impl ement ação das un idades de

r e cuper ação de enxo f r e I I I e de t r a tament o de gás r e s i dua l

na Re f inar i a Pr e s iden t e Ber na r des (RBPC ) , c om pr op ina de

R$ 2 . 873 . 689 , 29 ;

c ) c on t r a t o do Co ns ór c i o I n t eg r adora

URC/Engev i x/N ip lan/NM par a a execução de ob r as de

adequação da URC da Re f inar i a P r e s i den t e Ber na r des

(RBPC ) , c om pr op ina de R$ 4 . 883 . 554 , 46 ;

d ) c on t r a t o do Consór c i o Skanska/Engev i x par a a e xecução

das ob r as de imp l ement ação do on - s i t e da un idade de

p r openo da UN -REPAR , na Re f inar i a P re s i den t e Ge tú l i o

Va rgas REPAR, c om pr op ina de R$ 5 .261 . 633 , 31 ; e

e ) c on t r a t o do Consór c i o In t e g r ação (Engev i x e Que i r oz

Ga l v ão ) par a a e xecução das ob r as de imp l ement ação das

t ubov i a s e i n t e r l i gações do o f f - s i t e da car t e i r a de d i e se l da

Re f i na r i a Landu lpho A l v e s RLAM, com pr op ina de R$

12 . 273 . 711 , 83 11.

Os va lores destacados, que segundo a

denúncia eram dest inados à “corrupção de DUQUE e BARUSCO ,

altos funcionár ios da di re tor ia de serv iços da estatal” , ter ia se

operac ional i zado por intermédio “de operadores f inance iros , os

i rmãos MILTON e JOSÉ ADOLFO ”12.

11 Evento 22.

12 Evento 1, p. 9.

10

A inda nos termos da denúncia, parte deste

va lor era dest inada ao “núcleo político” , formado por D IRCEU e

VACCARI “que, ut i l i zando -se de suas agremiações part id ár ias,

indicavam ou davam suporte a indicação e mant inham

func ionários de a l to escalão da PETROBRAS” 13.

* * *

A part ic ipação de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

nestes fa tos e sua inclusão n o po lo pass ivo da ação resul tam

apenas de sua responsabil idade contratual .

Nesse sent ido, basta ver i f i car que a própr ia

inic ia l acusatór ia , ao tratar dos va lores pagos ao “núcleo

administrat ivo” , destaca que na “ tabe la de controle das

propinas apreendida com BARUSCO ” aparecem apenas os nomes

de M ILTON PASCOWITCH e GERSON ALMADA :

“da t abe l a de con t r o l e das p r op inas apr eend i da com

BARUSCO da qua l c ons tam nomes de ope r ador es ( de s i gnados

como ‘ a g en t e s ’ ) r e sponsáv e i s po r ope rac i ona l i za r os

r epasses , ap ar ece o nome de MILTON v incu l ado à ENGEVIX e

à ALMADA ( ‘ c on ta to empr esa ’ ) ” 14.

Na ausência de indicat ivos de prova capazes

de v incular JOSÉ ANTUNES SOBRINHO à corrupção na d iretor ia de

serv iços da PETROBRAS , o Ministér io Públ ico , sem indiv idual i zar

sua part ic ipação, a e le transfere ações indevidamente atr ibuídas

à empresa da qual é sócio – a ENGEVIX 15.

13 Evento 1, p. 12.

14 Evento 1, p. 19.

15 Apenas para exempli f icar : “ ( . . . ) pagamento que fez ( . . . ) em decorrência de contratos celebrados pela ENGEVIX com a estata l ( . . . ) ” (evento 1, p.19); “ ( . . . ) O e lo da ENGEVIX com a Diretoria de Serviços” (evento 1, p.22); “ ( . . . ) a ENGEVIX pagou propina (. . . )”

11

Ofendeu, portanto, o disposto no ar t . 13 do

CP, que veda a adoção de responsabi l idade ob jet iva no s istema

penal pátr io .

2. Para o Ministér io Públ ico, a condição de

sócio , com poder de decisão, bastou para conc lu ir que JOSÉ

ANTUNES SOBRINHO também integrar ia núcleo empresar ia l de

organização cr iminosa d i re tamente atr ibuída a GERSON

ALMADA 16.

E , para just i f i car esta equivocada conclusão

o Minis tér io Públ ico asseverou que, por part ic ipar “das dec isões

estratég icas da empresa” , o Acusado t inha c iência e consciência

de “negócios escusos com a PETROBRAS ”17.

Decisões estratégicas , tomadas de comum

acordo, eram de caráter geral , ta is como “ invest ir em us inas

hidroe lé tr icas ” , “parques eól icos” , implementação de “s istema de

ges tão” , ingressar na Petrobras , ou outras que não se

confundem com gestão direta e isolada de contratos nem

com atuações específ icas dentro de cada setor da empresa 18.

(evento 1, p.23); “ ( . . . ) é possíve l identi f icar créditos recebidos da ENGEVIX (. . . )” (evento 1, p. 24); “ ( . . . ) VACCARI recebeu da ENGEVIX ( . . . ) ” (evento 1, p.27).

16 Evento 1, p . 11: “na condição de gestores da ENGEVIX, assim como pelos administradores das empreiteiras OAS, MENDES JUNIOR, SETAL, UTC, CAMARGO CORREA, TECHINT, ANDRADE GUTIERREZ, PROMON, SKANSKA, QUEIROZ GALVÃO, IESA, GDK, MPE e GALVÃO ENGENHARIA, voltava -se à prática de cr imes de carte l e l ic i tatór ios contra a PETROBRAS, de corrupção de seus agentes e de lavagem dos at ivos havidos com a prática destes cr imes”.

17 “A part ic ipação KOK e JOSÉ ANTUNES, altos executivos da ENGEVIX, decorre não só do poder de decisão que e les possuíam na empresa, mas do fato de que, não obstante o papel de destaque desempenhado por ALMADA nos negócios escusos com a PETROBRAS, as decisões eram tomadas entre os três de pleno e comu m acordo. ALMADA, KOK e JOSÉ ANTUNES ativamente part icipavam das decisões estratég icas da empresa de que eram sócios e , uníssonos, com plena consciência do esquema criminoso, optaram conjuntamente por direcionar a ENGEVIX a um modelo de negócio criminoso n os

certames e contratos públicos b i l ionários da PETROBRAS”.

18 Crist iano Kok: “As decisões comuns eram decisões de caráter estratég ico geral da empresa, para dar alguns exemplos ao senhor, a decisão de investir em usinas hidroelétr icas nos conduziu à criação de uma sociedade chamada Desenvix que, ao

12

Por isso, a atuação de M ILTON PASCOWITCH no

âmbito interno da PETROBRAS , d iversamente do que procura

fazer crer a acusação 19, não “era de conhec imento ” do Acusado .

* * *

A part ic ipação de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

nos atos de corrupção junto à Petrobrás ass im fo i descr i ta pe lo

Minis tér io Públ ico :

“No pe r í odo en t r e 200 5 e 201 4 , GERSON ALMADA,

CRI STI ANO KOK e JOSÉ ANTUNES, na cond ição de sóc i os -

admin i s t rador es da ENGEVI X , p ra t i ca r am o de l i t o de

co r r upção a t i v a , p r ev i s t o no a r t . 333 , caput e pa rág ra f o

ún i co , do Cód i go Pena l , po i s o f e r e c er am e pr omet er am

v ant agens i ndev i da s a empregados púb l i c os da PETROBRAS,

no t adament e RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO,

r e spec t i v ament e D i r e t o r de Serv i ç os e Ge r en t e Execut i v o de

Engenhar i a , par a de t e r m iná - l o s a p ra t i car , om i t i r e r e ta r dar

a t os de o f í c i o ( . . . ) .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

( . . . ) n o que t ange a CRI STI ANO KOK e JOSÉ ANTUNES, cabe

obse rv ar o quan t o dec l a r ado po r GERSON ALMADA, s egundo

longo de 15 a 20 anos, chegou a produzir 360 megawatts de potência insta lada em pequenas centrais, usinas hidroelétr icas e parques eólicos, essa decisão de investir fo i comparti lhada, a decisão de como fazer o in vestimento, quem contratar e conseguir , fo i tomada por doutor Antunes. Outro exemplo, decid imos implantar um sistema ERP que era um sistema de controle de gestão, essa decisão fo i tomada, foi escolh ido o s istema Oracle e a implantação desse sistema f icou a o meu cargo porque envolv ia o (. . . ) envolver da PETROBRAS, a decisão de que nós dever íamos atuar mais fortemente na PETROBRAS que era o maior contratante brasi le iro industr ia l, fo i tomada por nós três, o processo, a gestão dessa implantação e esses contrat os que foram firmados couberam ao doutor Gerson Almada.

19 Evento 1, p. 23: “JOSÉ ANTUNES era sócio -diretor da ENGEVIX. A autoria de JOSÉ ANTUNES também é infer ida, dentre outros elementos, pelo interrogatór io judic ial de ALMADA, o qual conf irmou que os assuntos alusivos a contratos da ENGEVIX com MILTON eram de conhecimento dos demais sócios, dentre e les, JOSÉ ANTUNES. Mas há

outros e lementos que indicam a part icipação dele na organização, como será v isto no tópico da lavagem de dinheiro, a exemplo de v iage m que empreendeu com MILTON e DIRCEU em 2008, época da assinatura do primeiro contrato ideolog icamente fa lso da empresa de DIRCEU com a ENGEVIX”.

13

o qua l , mu i t o embor a a i n t e r l o cução com MI LTON

PASCOWI TCH f os se r ea l i z ada po r e l e , o s dema i s sóc i os

t inham p l eno conhec imen t o acer ca dos “ s e r v i ç os ” pr e s tados

pe l o l obb i s t a e ope r ador f i nance i r o .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

GERSON ALMADA não apenas con f e s sou o pagamento de

v a l o r e s a M I LTON PASCOWI TCH a f im de que o ope r ador

f inance i r o a t uasse em nome da ENGEVIX junto à

PETROBRAS, e spec i f i c ament e à D i r e t o r i a de Serv i ç os , c omo

t ambém dec l a r ou que mu i t o embor a f o s sem os con t a t os com

o ope r ador po r e l e r ea l i z ados , CRISTI ANO KOK e JOSÉ

ANTUNES t i nham p l eno conhec iment o a ce r ca des t e s f a t os .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

GERSON ALMADA ( . . . ) t ambém dec l a r ou que mu i t o embor a

f o s sem os con ta tos t an t o com o ca r t e l , quant o com o

ope r ador por e l e r ea l i z ados , C RIST I ANO KOK e JOSÉ

ANTUNES t i nham p l eno conhec iment o a ce r ca des t e s f a t os . ”

Na lavagem de dinheiro , entende o

Minis tér io Públ ico que, a lém dos cr imes antecedentes de

organização cr iminosa e corrupção at iva , “ já descr i tos ” ,

“diversos cr imes de fraude a l i c i tações e carte l prat icados em

favor da ENGEVIX” servem para caracter izá - la .

E , mais uma vez sem indiv idual izar a

conduta de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO , conc lui que sua

part ic ipação é decorrente da condição de administrador da

empresa, responsáve l por “ze lar p or seus interesses” :

“ALMADA, KOK e JOSÉ ANTUNES, na cond ição de

admin i s t rador es e r epr e sen tant e s da ENGEVI X , a s soc ia ram -

se aos admin i s t r ador es das demai s empr esas do car t e l , t odas

g r andes empr e i t e i r a s com a t uação no s e t o r de

14

i n f r a es t r u t ur a , par a , de f o rma e s t áv e l e pe r manent e , c om

abuso do pode r e conômico , c omet er c r imes e dominar o

mer cado de g randes ob r as de engenhar i a c i v i l d emandadas

pe l a PETROBRAS, f r audando a conco r r ênc i a e in cr ementando

os s eus lucr os em de t r iment o da es ta t a l .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

n o moment o em que passar am a in t e g r ar o car t e l , a s 7 nov as

empr esas menc ionadas , po r in t e r méd i o de s eus

r epr esen tant e s , i nc lu indo a ENGEVIX , por me io de ALMADA

( . . . )

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

ALMADA, KOK e JOSÉ ANTUNES er am, à época dos f a t os ,

admin i s t rador es da ENGEVI X . KOK e r a o P r e s i den te da

empr e i t e i r a , enquan t o ALMADA ocupav a o ca rgo de V i c e -

P r e s i den t e e JOSÉ ANTUNES de sóc i o d i r e t or . ” 20

No que tange os contratos celebrados pe la

ENGEVIX com a JD ASSESSORIA , a inda que JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO não os tenha ass inado , o Ministér io Públ ico ,

entendendo inex istentes todos os serv iços contratados, optou

por denunciá - lo nos seguintes termos:

“Em que pesem as dec l a r ações de MI LTON no s en t i do da c r e r

na poss i b i l i dade da execução dos s e r v i ç os r e l a c i onados ao

p r ime i r o c on t r a t o da ENGEVIX com a JD ASSESSORI A, pe l os

e l emen t os dos au t os , pode - s e conc lu i r que mesmo os

s e r v i ç os ob j e t o des t e c on t r a t o não f o ram r ea lment e

execu t ados

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

20 Evento 1, p. 112, 117 e 140/141.

15

Quan t o a JOSÉ ANTUNES, a t e s t a sua au t o r i a nos f a t os a s

dec l a r ações de MI LTON, que a f i r mou que o pr ime i r o c on t r a to

da ENGEVI X com a JD ASSESSORI A decor r eu de dec i são

t omada em reun ião de D IRCEU com ALMADA e JOSÉ

ANTUNES, de cu ja r eun ião t ambém pa r t i c i pou o pr ópr i o

M I LTON, o que i gua lment e cor r obora a pa r t i c i pação de l e s

nos f a t os .

Adema i s , o c onhec iment o e domín i o de JOSÉ ANTUNES sobr e

os f a t os r e s sa i do v í n cu l o c om os dema i s env o l v i dos ,

e spec i a lment e DIRCEU, o que pode s e r c or r obor ado não só

pe l a r eun ião c i t ada , mas t ambém pe l a v i ag em que f e z

acompanhado de D I RCEU ao Pe ru em 2008 , c on f or me

r e s sa l t ou MI LTON, ano da c e l ebr ação do p r ime i r o c on t r a t o

i deo l og i ca ment e f a l s o da ENGEVIX com a JD ASSESSORI A .

Ad i c i one -s e que a au t or i a de JOSÉ ANTUNES t ambém é

i n f e r i da pe l o in t e r r oga t ór i o j ud i c i a l de ALMADA, o qua l

c on f i r mou que os a ssun t os a lus i v os a c on t r a t os da ENGEVIX

com MI LTON e ram de conhec iment o dos dema i s sóc i os ,

den t r e e l e s , JOSÉ ANTUNES . ” 21

3. Ao receber a denúncia , es te Juízo entendeu

que a part ic ipação de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO se ev idenciava

pe la “natureza e propósi to de vul tosos repasses da ENGEVIX para

a empresa de Mi l ton Pascowitch, já que não hav ia contr apart ida

de prestação de serv iços reais de consultor ia. O mesmo pode ser

d i to em relação aos repasses à JD .” 22

O montante de aprox imadamente R$ 5

mi lhões por ano, t ransfer ido para M ILTON PASCOWITCH no

período de 10 (dez) a 12 (doze) anos , não despertou qua lquer

atenção espec ial no âmbito interno da ENGEVIX nem indicou

tratar -se de contratação sem l íc i ta contraprestação de serv iços .

21 Evento 1, p. 153/155.

22 Evento 22, p.9/10.

16

Para o Acusado, que não acompanhava as

questões re lat ivas à PETROBRAS , os contratos celebrados com

M I LTON PASCOWITCH , por g irarem em torno de 1 ,5% dos va lores

recebidos daquela Estata l , não demandavam qualquer

quest ionamento . F icavam a cargo exc lusivo de GERSON ALMADA

que, com independência e autonomia , os ger ia isoladamente . E

isto fo i corroborado por toda a prova colhida.

A “natureza e propós ito de vul tosos repasses

da Engev ix para a empresa de Mi l ton Pascowitch ” , que não eram

de conhec imento do Acusado, portanto , não podem assegurar

sua part ic ipação nos fatos apontados na denúncia .

* * *

O e fe t i vo desconhec imento dos contratos e

questões re lat ivas à Petrobrás por parte do Acusado ev idencia-

se pela postura que adotou ao assumir a gerência da ECOVIX ( em

razão da pr isão de GERSON ALMADA ) : determinou real ização de

audi tor ia por escr i tór io tercei r i zado (BA R BOSA , MÜ S S NI CH &

ARA G ÃO AD VO GAD O S ) cu jo re latór io fo i juntado neste processo

após seu interrogatór io.

4. A prova produzida em Juízo, que

de f ini t ivamente a fasta o Acusado das questões re lat ivas à

PETROBRAS , fo i tangenciada pelo Minis tér io Públ ico em s eus

memoriais .

A anál ise do méri to , que se rea l izará logo

após a ver i f icação de três questões prel iminares , ev idencia que

nem mesmo a posição soc ie tár ia de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

permite inc lu í - lo nos cr imes apontados , já que a própria

17

estrutura da ENGEVIX o impedia de saber o que efet ivamente

acontecia no âmbito interno dos contratos com a PETROBRAS .

I I . PREL IMINARES

“E s em dúv ida o nosso t empo . . . p r e f e r e a imagem à co i sa , a

cóp i a ao o r i g i na l , a r ep re sen t ação à r ea l i dade , a apa rênc ia

ao s e r . E l e c ons i de r a que a i l usão é sag r ada , e a v e rdade

p r o f ana . E ma i s : a s eus o lhos o sag rado aumen t a à med ida

que a v e r dade decr e sce e a i l usão c r e s ce , a t a l pon t o que

pa r a e l e , o cúmulo da i l usão f i ca s endo o cúmulo do

sagr ado ” . ( F eur bach , A e s sênc i a do c r i s t i an i smo ) .

5. Antes de enfrentarmos o méri to da acusação

cumpre fazer uma breve e justa anotação sobre o conteúdo

ideo lógico da denúncia que sob a ót ica da defesa é excess ivo e

esbarra no abuso do poder de denunciar ha ja v ista estar

ca lcada somente em impressões sub jet ivas do órgão acusador.

Podemos a f i rmar que no caso em exame a acusação part iu de

uma concepção não formal ou convenc ional dos fa tos ,

abandonando o concei to do fa to t íp ico formalmente previsto em

le i cu jos contornos normat ivos que devem estar dev idamen te

provados para se debruçar sobre desv ios de moral idade ou

comportamentos ant issoc ia is tentando converter a mera

condição de sócio da ENGEVIX em in fração cr iminal .

Ensinava Saint Just : “Nos países em que

mortais re inam no lugar das le is , o minis tér io públ ico acusa os

homens; onde a le is re inam sozinhas, o ministér io públ ico acusa

somente os cr imes” . Ditada há séculos atrás, ta l l i ção

permanece atual d iante da grave acusação av iada contra o

acusado em razão de não ex is t i r em todo processo qualquer fato

ou prova que o v incule aos fatos descr i tos na denúncia e

repet idos nas alegações f inais : não se descreveu minimamente

18

como JOSÉ ANTUNES SOBRINHO para e les ter ia concorr ido por sua

vontade.

É verdade que o “garant ismo” abso luto

zomba da just iça , porém também é verdade que imputações

arbi trár ias calcadas em construções ideo lógicas negam as

garant ias const i tucionais impondo ao acusado o dever de provar

que não é culpado. Para que se jam prof ícuas ambas as noções

“garant ismo” e imputação penal devem obrigator iamen te

encontrar uma na outra os seus l imites , que devem ser impostos

por um julgador imparc ia l .

No caso vertente , o conteúdo ideológ ico da

imputação é a larmante, ao invés de uma imputação fát ica e

determinada, temos uma imputação genérica que decorre de

uma categor ia de pessoas , is to é , de um “ t ipo de autor” , no

caso: - “sócio de empre ite ira” .

Naqui lo que o s ta l inismo denominou “ in imigo

do povo” , vendo na r iqueza um v íc io , que atenta contra a

dignidade do proletar iado. Uma sociedade de exploradores e

explorados que prec isam ser socorr idos nas suas v ic iss i tudes

pelo “estado func ionário e burocrata” , que não se farta em

consumir a r iqueza que os outros produzem. A denúncia é

exemplo disso: peca pela fa l ta de c lareza e isenção, faz

atr ibuições e observações infun dadas sobre o acusado

de ixando de t razer ao conhecimento do magistrado provas

ob je t ivas que demonstrem que e le e fet ivamente contr ibuiu para

o resultado i l í c i to .

O Estado de Dire i to cede ao “estado de

jur is tas” , cu ja rea l idade é moldada por conv icções ideológ icas

deturpadas e panf letár ias. Acreditam que todo sócio, d i re tor ou

19

execut ivo das emprei te i ras fazem parte de uma organização

cr iminosa. Nada mais enganoso, pois JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

jamais teve qualquer re lação com os contratos da PETROBRAS e

sequer t inha conhec imento dos fatos narrados na denúncia . Sua

área de atuação e suas atr ibuições sempre foram dev idamente

demarcadas dentro da ENGEVIX pe la sua reconhecida expert ise

na área do desenvolv imento de projetos re lac ionados à área de

energia.

Ao tentar envolver o acusado nos fatos que

são ob je to da presente denúncia os acusadores públ icos

demonstram abso luto desconhecimento do func ionamento da

empresa e também de suas d iversas esferas de atuação e

especial ização. Confundindo as funções e atuações do s sócios

cr iando uma sér ia e grave ameaça a “status l ibertat is ” do

acusado, que jamais teve qualquer atuação junto à Petrobrás ou

manteve contatos com os demais acusados sobre os fatos que

lhe são imputados.

Em suas a legações f inais o Minis tér io

Públ ico faz c i rcunlóquios sobre a part ic ipação de JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO nos fa tos , tentando extra ir da condição de sóc io

d iretor da ENGEVIX uma contr ibuição para os eventuais i l íc i tos

cometidos por outros acusados. Em suas a legações f inais o MPF,

não descreve uma conduta t íp ica, não prova o núcleo da re lação

da imputação, is to é , qual fo i o ato prat icado por JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO que o v inculasse com a prát ica de qualquer ato i l í c i to .

Não existe uma prova nos autos nesse sent ido. Nada fo i

produz ido que pudesse demons trar a h ipótese acusatór ia .

Não basta provar a re lação jur íd ica entre

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO e a ENGEVIX ; é preciso provar o nexo de

causal idade e a vontade l ivre e consciente de que e le tenha

20

contr ibuído para os fa tos que lhe são imputados. Tal ordem de

ideias pode parecer desnecessária, acaciana ou supérf lua e

realmente dever ia ser , porém no re ino do d ire i to abstrato cr iado

pe la acusação tudo é poss íve l , a té o menosprezo às provas

produz idas mediante o contraditór io .

Como é possíve l a f i rmar que o acusado

concorreu para as condutas que lhe são increpadas quando não

se descreve sequer a conduta e le real izou?

Ora, se e le não t inha conhecimento dos

fatos, pois jamais teve qualquer re lacionamento com a

PETROBRAS , não se pode presumir seu consent imento para

comportamentos i l íc i tos ou mesmo af irmar que dever ia saber , ou

t inha o dever de saber . Nada disso : a acusação tem a obrigação

de apontar a conduta i l í c i ta , já que não basta d izer que o

acusado é di re tor da empresa que contratou com a PETROBRAS . É

prec iso demonstrar que deu ordens, que sabia das f raudes e da

corrupção e que concorreu para ta l des iderato. Não basta dizer

que houve corrupção ou lavagem de d inhe iro: é fundamental

demonstrar que o acusado deu azo a ta l fa to .

6. Importante invocar as decisões de Vos sa

Exce lênc ia que, ao julgar denúncias fe i tas contra d iretores e

execut ivos de outras emprei te iras, reconheceu expressamente

que a mera condição de d iretor ou sócio não const i tu i prova

suf ic iente para uma condenação cr iminal .

Em judic iosa decisão, adiant e cons ignada

Vossa Excelência reconheceu que dentro da ENGEVIX os sócios

t inham funções d iversas e atuavam em segmentos de negócios

d iversos . Nestes termos afastou GERSON DE MELO ALMADA do

processo cr iminal re ferente à ELETRONUCLEAR , por não haver

21

prova de que o mesmo t ivesse part ic ipação nos contratos na

área de energia. Ta l dec isão determina com precisão a

part ic ipação dos sócios dentro da ENGEVIX , e serve como

importante paradigma para a questão versada na presente

h ipótese acusatór ia .

De outro g i ro , os t ipos penais imputados ao

acusado são comissivos, não se admit indo a forma omissiva . A

anál ise da ver i f i cação da causal idade dos fatos prova que não

ex is te qualquer v ínculo psico lógico capaz de atr ibuir ao acusado

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO o resultado como obra de le , is to é , se ja

e le o cr iador do per igo ou tenha voluntar ia e dolosamente

ader ido a conduta de outros acusados para prat icar atos de

corrupção, f raudes e lavagem de d inheiro .

Impende dizer que a denúncia não indica a

forma de part ic ipação do acusado nos fatos e os memor ia is se

at iveram exclusivamente a questões contratuais sem contudo

indicar a prova de como o acusado agiu na conduta t íp ica.

* * *

Não há fa lar -se em “cegueira del iberada”,

pois não existe nos autos qualquer prova ob je t iva que

demonstre estar JOSÉ ANTUNES SOBRINHO na condição jur ídica de

conhecedor dos fatos e que tenha del iberadamente permit ido a

consumação das condutas t íp icas .

A constatação de que o acusado pertença ou

tenha re lação com pessoas l igadas ao c í rcu lo de suje i tos at ivos

não é, po is , suf ic iente para atr ibuir - lhe a cons ideração de autor

de um de l i to . Será preciso , ademais, comprovar que concorrem

todos os cr i tér ios de imputação próprios do di re i to penal e , em

22

concreto , será necessário demonstrar que o resultado pode ser

imputado objet ivamente à ação do suje i to at ivo, que este tenha

executado do losamente a conduta e que o fa to de l i t i vo possa lhe

ser pessoa l e diretamente atr ibuído como obra sua. Basta ler a

denúncia e todos os “eventos” , para se constata r que isso não

ocorre , e que tanto a peça inaugura l como as alegações f inais

não tem qualquer re lação com os fa tos invest igados.

Com a palavra Juarez Cir ino dos Santos:

“O l im i t e da in t e rp r e t ação da l e i pena l é de t e r minado pe l o

s i gn i f i c ado das pa l av r as em pr egadas na l in guagem da l e i

pena l , que não ind i cam quant i dades expr essas em númer os ,

med idas ou pesos , mas v a l o r es cu jos s en t i dos dev em se r

e xaminados pe l o in t é r pr e t e : po r um l ado , o l eg i s l ado r de f in e

no r mas pena i s u t i l i z ando pa l av ras pa r a cons t r u i r a l e i

pena l , po r out r o l ado o j u i z dec i de casos concr e t os , f undado

no s i gn i f i c ado das pa l av r as empr egadas pe l o l e g i s l ador pa ra

de f in i r a l e i pena l . A ana l og i a c omo a r gument o a s ím i l e

s i gn i f i c a a ap l i c ação da l e i pena l a f a t os d i f e r en t e s dos

p r ev i s t os , mas s eme l hant es aos pr ev i s t os . Nesse s en t i do a

ana l og i a c ons t i t u i um ju í z o de p robab i l i dade pr ópr i o da

ps i c o l og i a i nd i v i dua l , que não per t ence nem à l óg i ca

c l á s s i ca/dedut i va , n em à l óg i ca mode r na/ indut i va . Ao

con t r ár i o a ana l og i a c omo ar gument o a ma i o r i ad

m inuss i gn i f i c a que a nor ma ju r í d i ca v á l i da pa r a uma c la s se

g e ra l de f a t os é i gua lment e v á l i da pa r a f a t os e spec i a i s da

mesma ca t egor i a . Aqu i , a t e or i a da i gua ldade l óg i ca en t r e

i n t e r p re tação e ana l og ia da l e i pena l mos t r a que o p r ob l ema

da ana l og i a ( ou da i n t e r pr e t ação ) pa r a o caso concr e to : se

o s i gn i f i cado conc r e t o r ep re sen t ar p r e ju í z o par a o r éu ,

c ons t i t u i ana l og i a ou i n t e r pr e t ação pr o i b i da ; s e o s i gn i f i c ado

conc re t o r epr e sen ta r bene f í c i o pa r a o r éu , c ons t i t u i ana l og ia

pe r m i t i da . ”

Conquanto devotemos respei to ao

entendimento contrár io, não comungamos da conv icção de que -

23

na persecução de aventados cr imes societár ios - se ja cabível a

formulação de imputações vagas e indef inidas, que não ve iculem

suf ic iente de l imitação do comportamento atr ibuído a cada

acusado.

Essa f lexibi l i zação remonta – concessa

max ima ven ia - ao tr is te afor ismo medieva l atr ibuído tanto a

Bárto lo quanto ao inquis idor Benedict Carpzov.

Segundo essa lóg ica, as garant ias

processuais dever iam ser moduladas consoante a grav idade da

acusação: quanto mais grave a imputação, quanto mais ignóbi l o

suposto cr ime, tanto menores dever iam ser as garant ias

processuais respect ivas.

Resta impl íc i to que – em casos ta is , por

serem graves os cr imes conjeturados – ser ia prefer íve l punir

eventuais inocentes , de modo que nenhum comportamento

culpado restasse impune. Importa d izer : não se compactua com

aquela imprec isa sensação de que a lguém fez realmente a lgo

indevido ; a inda que não se saiba exatamente o quê !

Aquela sensação – que nessa quadra vem

sendo d i fundida por meio da grande mídia – de que cer tamente

a lguém envo lv ido na Operação Lava Jato só pode ser culpado,

mesmo que não se saiba qual o seu pecado, qual o seu cr ime.

Ta l compreensão das coisas est imula

processos fadados à mera conf i rmação de conjeturas ; como se o

seu resultado fosse desde sempre conhec ido, a despei to das

provas acaso co lh idas ao longo da demanda. Essa – ced iço – não

24

é a função da arguição cr iminal em um Estado que se almeja

como Democrát ico e de Dire i to .

A Acusação não pode se l imitar a atr ibuir ao

acusado uma condição ou um 'estado ' (p.ex . , a condição de

sócio; de f i lho ; de pai ) ; mas s im comportamentos especí f i cos,

de l imitados no espaço e no tempo, com deta lhes mínimos para

que eventual re futação possa ser promovida.

7. Há muito se sabe que a mera condição de

sócio não just i f ica a proposi tura da Ação Penal . Tampouco nos

convence do contrár io a constante contrapos ição entre

interesses pr ivados e supostos interesses públ icos. É de re levo

públ ico que a arguição penal somente se ja promovida com

indicação deta lhada do comportamento que a Acusação supõe

ter s ido cometido pe lo denunciado.

Indispensáve l , enf im, que a Acusação

indique ( i ) o quê; ( i i ) como; ( i i i )quando e ( i v ) onde julga que

ter ia s ido real izado pelos denunciados, no que toca ao re corte

t íp ico que interessa ao fe i to , ta l como asseverado pelo Min.

Gi lmar Mendes ao ju lgar o HC 84.409/SP, e como assente na

jur isprudência da Corte Maior bras i le ira.

É inconcebível que se atr ibua a um Órgão do

Estado, qualquer que se ja , inclus ive ao Poder Judic iár io , poder

sem l imi tes. A democracia vale precisamente por que os poderes

do Estado são harmônicos entre s i , controlados mutuamente e

submet idos ou devendo submeter -se à part ic ipação de todos,

como exerc íc io indispensável da c idadania . O combate à

cr iminal idade e a de fesa do invocado interesse públ ico não

just i f i cam um s istema dessa ordem, porque v io lador da

d ignidade do acusado.

25

Em estudo pro fundo dos pr inc íp ios gerais do

processo penal , o consagrado Pro f . Jorge de F igue iredo Dias, da

Universidade de Coimbra, ass ina la as caracter íst icas do

processo acusatór io:

“A a cusação de f i ne e f i xa , per ant e o t r i buna l , o ob j e t o do

pr ocesso . Num pr ocesso de t i po i nqu i s i t ó r i o pur o a

a cusação , mesmo quando ex i s t i s s e , c ond i c i onar i a apenas o

s e da inv es t i g ação jud i c ia l , não o s eu como nem o s eu

quan t o : pode r í amos t e r aqu i de nov o uma f órmu la

a cusa t ór ia , mas não um pr in c í p i o de a cusação , po i s que a

cogn ição do t r i buna l s e pode r i a d i r i g i r i nd i s c r im inadamen te

( inqu i s i t o r i amen te ) a qua l que r suspe i t a da i n f ra ção ou de

qua l quer i n f r a t or , mesmo que aque l a suspe i t a não t i v e sse

nenhum r e f l e xo no con t ex t o da acusação . Segundo o

p r in c í p i o da a cusação , pe l o c on t r ár i o – a a t i v idade

cogn i t ór i a e a dec i são do t r i buna l e s tá e s t r i t ament e l im i t ada

pe l o ob j e t o da acusação . ”

“Dev e po i s f i r mar - s e que o ob j e t o do p r ocesso pena l é o

ob j e t o da a cusação , s endo e s t e que , po r sua v e z , de l im i t a e

f i xa os pode r es de cogn ição do t r i buna l e a e x t ensão do caso

j u l gado . É a e s t e e f e i t o que se chama v in cu l ação t emát i ca do

t r i buna l e é n e l e que s e c onsubs t anc i am os p r inc í p ios da

i den t i dade , da un idade ou i nd i v i s i b i l i dade e da consunção

do p r ocesso pena l ; o s p r in c í p i os , i s t o é , s e gundo os qua i s o

ob j e t o do pr ocesso dev e mant er -s e o mesmo da acusação ao

t r âns i t o em ju l gado da s en t ença . ”

Como proposta de modelo de sentença

condenatór ia , a denúncia , ou a queixa , f ixa o núcleo

substant ivo da causa, governa o rumo de toda a instrução e ,

como obje to de resposta , de l imita o campo do iud ic ium , como

capí tu lo ú lt imo da sentença, porque é ao redor da in ic ia l

acusatór ia que se estrutura e desenvolve todo o processo e a

resposta do acusado.

26

Esta verdade jur íd ica, que nasce já da

percepção do processo penal como alvo das garant ias

const i tucionais enfe ixadas na c láusula do justo processo da le i ,

ou due process of l aw (ar t . 5º , LIV e LV, da CF) , e , a inda, como

instrumento pr imário da tute la da l iberdade e da dignidade da

pessoa humana, encontra conf irmação expressa em múlt ip las

normas do Código de Processo Penal .

O art . 381, inc . I impõe que a sentença

contenha expos ição da acusação. O art . 384 consagra em óbvia

reverênc ia ao pr incípio do dev ido processo legal , nas vertentes

do contraditór io e da ampla defesa, o nexo indissolúvel entre o

teor da acusação, o curso da instrução, a p lenitude da mesma

de fesa e os l imites da sentença, quando determina reabertura

da instrução, sempre que o juiz reconheça a poss ib i l idade de

nova qual i f icação jur ídica do fa to , à v ista de prova de

c ircunstância e lementar não constante da denúncia.

Nem poderia ser d i ferente . Tendo o processo

caráter dia lét ico , ou agônico , todos os movimentos de

contradição l inguíst ica ou real à acusação, nos quais se radica

a substância do exercíc io da ampla defesa, somente podem dar -

se perante acusação determinada e conhecida. Não é outra a

razão por que o ar t . 386 re lac iona as causas t íp icas da sentença

abso lutór ia às v ic iss i tudes processuais da va loração jur ídica do

fato atr ibuído ao réu.

Ninguém tem dúvida de que o réu é

condenado pela prát ica do fato narrado na denúncia, cuja

imputação, c lara e comprovada, ga ranta- lhe todas as

oportunidades, legais e justas, de se de fender . De outro lado, a

condenação jamais poderá levar em conta outros fatos que,

27

reve lados apenas pe las entranhas da prova judic ia l , não

const i tu íram objeto de acusação formal e especí f i ca , po is

n inguém pode f i car à mercê do maior ou menor empenho do

Minis tér io Públ ico em provar suas temerárias hipóteses

acusatór ias durante a instrução, sendo submet ido a um

processo sem justa causa.

No caso vertente a denúncia está em franca

host i l idade com as garant ias const i tuc ionais do justo processo

da le i (due process of law ) , sobretudo com as exigências do

contradi tór io e da ampla de fesa (art . 5º , incs. LIV e LV, da CF) ,

as quais envolvem poss ib i l idade de intervenções processuais

oportunas e e f icazes do acusado.

8. A Ação Penal , em um reg ime de Estado de

Dire i to Democrát ico, não se const i tu i em possibi l idade de

devassa, mas sua instauração caracter iza -se como um ato

administrat ivo v inculado. Não se re fere ao Ministér io Públ ico ou

à autor idade judic iár ia, por mais respe itável que seja o seu

munus publ icus , d iscr ic ionariedade que não existe .

Por mais que se pretenda ut i l izar o Dire i to

Penal como s imples meio de compel ir os c idadãos a sat is fazerem

às exigênc ias e às vezes até os capr ichos dos que se acham

ac ima da le i , o cer to é que se t rata de c iênc ia com cr i tér io e

metodologia próprios, que não podem ser desnaturados. Sua

s is tematização c ient í f ica e sua estruturação lóg ica não podem

ser rebaixados a mecanismos de pressão ou sat is fação de

conveniênc ias do órgão acusador que tem a obrigação, o dever

legal , que d imana da norma const i tuc ional , de fundamentar

seus pedidos em elementos concretos que ostentem indíc ios

sér ios e objet ivos .

* * *

28

Este processo , com o dev ido respe ito, impl ica

aventura processual encetada pe lo MPF. A defesa aponta as

notór ias fa lhas e o s ingular abuso do poder de denunciar, que

se ins inua nos autos, ao submeter o imputado ao cr ivo de um

processo cr iminal sem qualquer prova, punindo -o com o séquito

de gravames advindos da s imples instauração da Ação Penal .

S im, pois o imputado é um homem de bem, e

que no caso vertente agiu sempre de forma correta e legal , no

exercíc io do seu mister , jamais estando envolv ido nos graves

fatos narrados na inic ia l acusatór ia .

A imputação fe i ta a JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

não pre judica somente sua pessoa, mas também a própria

Just iça. O imputado v ive verdadeiro drama humano, pois

inocente , está na iminência de uma sentença penal , arcando

com o séqui to de gravames a e la inerentes, sendo pre judica do

em seu sent imento de honra, no seu sossego, no seu prest íg io

mora l , em sua est ima social . A Just iça prejudica -se , também em

seu prest íg io em seu crédi to , exposta que f ica a cometer uma

injust iça e ser convenc ida de ter ag ido mal , descr i ter iosamente

e ass im c laudicar e se deixar apanhar em falso, desabonando -

se, quer como garant idora de dire i tos quer como repressora de

cr imes.

No caso vertente, não há prova para

processar cr iminalmente o acusado, em razão de que a denúncia

não ostenta um fe ixe de indíc ios convergentes que apontem o

mesmo como autor da inf ração penal . Por isso é injusto,

incorreto e abusivo assacar contra a lguém a suspe ita of ic ia l da

autor ia de um de l i to . A imputação deve obrigator iamente estar

29

revest ida de um conjunto suf ic iente de indicad ores que a pessoa

seja e fet ivamente autora do de l i to .

Dizer que é prováve l que ANTUNES tenha

contr ibuído para os fa tos narrados na denúncia é um ju ízo

temerário e vago, resul tado de uma prevent iva e genér ica

dedução empír ica fundada sobre a probabi l idade e m abstrato,

incabíve l em a lgo tão grave como um processo cr iminal .

Trata-se de cr iar através de um fato

supostamente conhecido, já que não demonstrado no processo,

uma hipótese sobre um fato desconhec ido que faz surgi r na

mente do julgador um pesado juízo de desva lor sobre a

personal idade dos acusado.

Os fa tos não importam, importa a versão da

acusação sobre o comportamento do acusado, um dire i to penal

do autor e não um dire i to penal dos fa tos. Tenta -se com isso

cr iar uma ant ipat ia desconstruindo a image m do acusado de

forma panf letár ia , tentando t ransformá -lo em de l inquente

habi tual , para com isso conseguir uma condenação amparada

em ínt ima conv icção e longe do arcabouço probatór io .

ADA GRINOVER, ao obtemperar com sua

s ingular luc idez , asseverou:

“S e a f ina l i dade do p r ocesso não é a de ap l i c ar pena ao r éu

de qua l quer modo , a v e r dade dev e s e r ob t i da de a cor do com

uma f or ma mora l i na t acáve l . O método a t r av és da qua l se

i ndaga dev e cons t i t u i r , po r s i s ó , um v a l o r , r e s t r i ng indo o

campo em que s e e xe r ce a a t uação do j u i z e das par t e s .

Ass im en t end ido , o r i t o p r obat ó r i o não con f i gur a um

f or ma l i smo inú t i l , t r ans f or mando - se , e l e pr ópr i o , em um

escopo a s e r v i sado , em uma ex i g ênc i a é t i c a a s e r

30

r e spe i t ada , em um ins t r ument o de gar ant ia pa r a o

i nd i v í duo . ”

A dogmática penal v igente além de vedar que

magistrado se ut i l i ze das provas co lhidas no inquéri to, não

havendo como va lorá - las com a f inal idade de desconst i tu ir

provas co lh idas d iante do contraditór io , exige que o ju iz forme

seu convencimento em elementos concre tos , i sto é , veda

deduções fe i tas através de fatos conhec idos , para f i rmar um fato

desconhecido.

A posição do MPF v io la e mal fere o pr incípio

do l ivre convenc imento e seus cr i tér ios regulat ivos para uma

persuasão rac ional , em conformidade com a moderna con cepção

pr incipio lóg ica do Processo Penal brasi le i ro .

Anota Lopes da Costa:

“Poss í v e l é t udo na con t i g ênc i a das co i sas c r i adas , su j e i t a s à

i n t e r f e r ênc i a das f o r ças na t ura i s e da v on t ade dos homens .

O poss í v e l a t i ng e a t é mesmo o que r ar i ssamen te a cont e ce .

Den t r o de l e cabem as ma i s abs t r a t as e l ong ínquas

h ipó t e ses . ”

Leciona Humberto Theodoro Jr . :

“O ju i z , não s e l im i ta a a co lher a op in i ão pur ament e

sub j e t i v a da pa r t e . E l e dec i de sobr e f a t os , po i s ao t r a t ar o

pe r i cu lum in mor a , “met e capo a l l a cc e r t ament ed imer i f a t t i ” ,

de modo a ga r ant i r o desenv o l v imento p r o f í cuo do p r ocesso .

A dec i são dev e s e r ob j e t i v a , i s t o é , de v e a t ender a f a t os

pr ov ados , dos qua i s r e su l t e aque l a p laus ib i l i dade . ”

O di re i to cr iminal repudia o juízo das

presunções e exige a certeza como raz ão de decidi r , baseada na

imprescindível prova. O problema ci fra -se na imperiosa

31

necess idade de ev i tar -se o arb ít r io judic ia l na formação de

presunções que mal f i ram dire i tos const i tucionais do acusado e

t ragam sér ios e i r reparáveis preju ízos.

Nesse sent ido lec iona Jescheck, e levando a

taxat iv idade do t ipo penal a uma garant ia const i tuc ional do

c idadão contra o arbí tr io do estado:

“ La i dea bás i ca de l p r i n c í p i o da l ega l i dad r e s i de em que e l

cas t i g o c r imina l no dep i ende de l a a r b i t r a r i edad de l os

ó r ganos de pe r s ecuc i ón pena l n i t ampoco de l o s T r i buna l es ,

s i no que debe e s t ar f i j ado pe l o l e g i s l ado r l eg i t imado

democ r a t i camen te .De e s t e modo , e l pr in c í p i o de l ega l i dad é s

uma f uent e de s egur i dad ju r í d i ca pa r a l o s c iudadanos y

c onsegue e s t ab l e ce r um en l ace en t r e l o s T r i buna le s y l ã s

dec i s i ones de l l e g i s l ado r ” .

Invocamos o mister de Ferrajo l i :

“O s en t i do e o a l cance ga rant i s ta do conv enc i ona l i smo pena l

r e s i de pr e c i samen t e na concepção , ao mesmo t empo

nomina l i s t a e emp í r i ca do desv i o pun ív e l , qu e r emet e às

ún i cas ações t axa t i v amen te ind i cadas na l e i , d e l a e xc lu indo

qua l quer c on f i gur ação on t o l óg i ca , ou em t odo caso

ex t r a l ega l : O que con f e r e r e l ev ânc ia pena l a um f enômeno

não é a v e r dade , a j us t i ça , a mora l , n em a na t ur e za , mas

soment e o que , c om au t or i dade d i z a l e i . E a l e i não pode

qua l i f i c a r c omo pena lment e r e l ev an t e qua l quer h i pó t e se

i nde t e r m inada de desv i o , mas soment e compor t amen t os

emp í r i c os de t e r m inados , i d en t i f i c ados exa t amen te como t a i s ,

po r sua v e z , ad i t ados à cu lpab i l i dade do su j e i t o . ”

Nicola Framarino Dei Malatesta, expõe o

tema da obtenção de uma probabi l idade em um conjunto de

fatos em seu l i vro , de extrema pert inência o seu estudo:

32

“É impor t an t e a inda obse rv ar que o f im supr emo do p r ocesso

j ud i c i á r i o pena l é a v e r i f i c ação do de l i t o , em sua

i nd i v i dua l i dade sub j e t i v a e ob j e t i v a . Todo o p r ocesso pena l ,

no que r espe i t a o c on junt o das pr ovas , s ó t em impor tânc ia

do pon t o de v i s t a da c e r t e za do de l i t o , a l cançada ou não .

Qua l que r j u í z o não s e pode r e so l v e r s enão em uma

condenação ou abso l v i ção e é pr e c i sament e a c e r t e za

conqu i s t ada do de l i t o que l eg i t ima a condenação , c omo é a

dúv ida , ou , de ou t r a f o r ma , a não conqu i s t ada c e r t eza do

de l i t o , que obr i g a à abso l v i ção . O ob j e t o p r in c i pa l da c r í t i ca

c r im ina l é , po r tan t o , i ndagar c omo , da pr ov a , pode

l e g i t imament e nasce r a c e r t eza do de l i t o ; o ob j e t i v o pr in c i pa l

de suas i nv es t i g ações é , em ou t r os t e r mos , o e s t udo das

pr ov as de c e r t e za ” .

Não é só por isso que as provas de

probabi l idade devem ser banidas do processo cr iminal ; e las

a lém de servi rem para a leg i t imação da potestas inqu irendi ,

podem servi r a inda, em seu conjunto , à const i tu ição de uma

prova cumulat iva de certeza, capaz de leg i t imar a condenação

por parte da potes tas jud icand i . Mas d is to mesmo der iva que as

provas de probabi l idade, como ta l , não são cons ideradas senão

quanto capazes de const i tuí rem uma prova cumulat iva de

certeza; por isso é sempre verdade que o objet ivo pr incipa l das

indagações da cr í t i ca cr iminal é o exame das provas da cer teza .

E daqui não se deve passar ad iante sem

esclarecer como as provas de probabi l idade podem, acumuladas

de uma dada maneira, converter -se em provas de cer teza , e , por

isso, em que sent ido as provas de probabi l idade, apresentando -

se como e lementos daquela que chamamos prova cumulat iva de

certeza, possam legi t imamente autor izar a condenação. Para

esclarecer isto, ocorre lembrar a noção do provável . O prováve l ,

como d issemos oportunamente , tem por natureza motivos

33

convergentes à a f i rmação e d ivergentes dela. Admit indo, pois ,

que ex is ta uma prova de probabi l idade, ex is t i rão nela motivos

convergentes e d ivergentes. Mas se a esta pr imeira prova de

probabi l idade juntamos outra , exc ludente dos mot ivos

d ivergentes, daí resultará uma prova cumulat iva de cer teza .

O Supremo Tr ibunal Federal já decidiu:

“O a t o de t i p i f i ca ção l e ga l impõe ao Es t ado o dev er de

i den t i f i c a r c om c l a r e za e p re c i são , o s e l emen t os de f i n i do r e s

da condut a de l i tuosa . As no r mas de i n cr im inação que

desa t endem a e s sa ex i g ênc ia de ob j e t i v i dade – a l ém de

descumpr i r em a função de gar ant i a que é in er e n t e ao t i po

pena l – qua l i f i c am -se como expr essão de um d i s cur so

no r mat i v o abso lut ament e in compat í v e l c om a e s sênc ia

mesma dos p r in c íp i os que e s t r ut uram o s i s t ema pena l no

con t ex t o dos r eg imes democr á t i c os .

O r e conhec imen t o da poss i b i l i dade de i ns t i t u i ção de

e s t r ut ur as t í p i cas f l e x í v e i s não con f e r e ao Es t ado o pode r de

cons t r u i r f i gu r as pena i s c om ut i l i z ação , pe l o l e g i s l ado r de

expr essões amb íguas , v agas , imprec i sas e i nde f i n i das . É que

o r eg ime de inde t e r minação do t i po pena l impl i ca , em ú l t ima

aná l i s e , a p r ópr i a subv er são do pos tu l ado cons t i t uc i ona l da

r e s erv a da l e i , da í r e su l t ando , c omo e f e i t o c onsequenc ia l

imed i a t o , o g r av í s s imo compr ome t iment o do s i s t ema das

l i b e r dades púb l i cas .

A c l áusu l a de t i p i f i c a ção pena l , cu j o c on t eúdo desc r i t i v o se

r ev e l a pr e cá r i o e in su f i c i en t e , não pe r mi t e que s e obse rv e o

p r in c í p i o da dup l a i nc r iminação , inv iab i l i z ando em

conseqüênc i a , o a co lh iment o do ped ido ex t r ad i c i ona l . ”

* * *

À luz do garant ismo penal , não há como

confundir sóc io com a soc iedad e, nem, muito menos

34

responsabi l i zar aquele que é processado sem justa causa, ou

seja, sem o mínimo suporte probatór io que o indiv idual ize como

autor da conduta t íp ica descr i ta na denúncia .

O poder sancionatór io do Estado está

v inculado sempre à pert inência mater ia l de suas d ispos ições aos

conteúdos const i tuc ionais, obje t ivando garant i r com a maior

extensão possíve l o denunciado, l imitando destar te o poder do

soberano. Com e fe i to , essa l imi tação ao poder estatal exige ,

assim, um r igor l inguíst ico r íg ido das condutas t idas como

v io ladoras da norma penal . O Dire i to Penal somente penal i za

condutas t íp icas , ver i f icáveis e re futáve is , jamais atr ibutos

const i tut ivos, v.g . condição de sócio de uma empresa. Não

ex is te mais o dire i to penal do autor: o di re i to penal é do fato.

Para que se possa, assim, sancionar a lguém,

no devido processo legal , é preciso que e le possa defender -se de

uma conduta efet ivamente imputada e não da condição que

ocupa na empresa. Bem anal isada a prova dos autos , percebe -se

que não há cr ime al gum que, desde a formulação da denúncia,

pudesse ser imputado a JOSE ANTUNES SOBRINHO .

1 . I NÉPCIA FORMAL DA DE NÚNCIA – INOBSERVÂNCIA DO

ART . 41 DO CPP

9 . A inic ia l acusatór ia é inepta no que d iz

respei to à part ic ipação de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO nas questões

re lat ivas à PETROBRAS : não t raz, a inda que minimamente,

narrat iva dos e lementos essenc ia is de sua conduta , já que a e le

apenas atr ibui atuação co le t iva , juntamente com os demais

sócios , sob o manto da ENGEVIX .

35

A inépcia da denúncia não é questão

superada pela instrução ou por anter ior dec isão profer ida por

Vossa Exce lênc ia : arguida oportunamente , a nul idade pers is te e

prejudicou o p leno exerc íc io da defesa do Acusado,

especialmente no cr ime de corrupção at iva e nas questões

v inculadas à PETROBRAS .

10. A denúncia , para ser vál ida , prec isa

descrever a c iente atuação do agente na busca de resul tado

i l í c i to e, em especial , o momento em que ader iu ou consent iu

com a conduta prat icada:

“PROCESSUAL PENAL E PENAL : HABEAS CORPUS.

DENÚNCI A . I NÉPCI A EM RELAÇÃO AO CR I ME DE

CORRUPÇÃO AT I VA . NÃO ENQUADRAMENTO DA DESCRI ÇÃO

FÁT I CA NOS L I MI TES DO ART I GO 333 DO CP . SOL I CI TAÇÃO

DE VANTAGEM I NDEVI DA POSTERIOR AO FORNECI MENTO

DA I NFORMAÇÃO. VANTAGEM SOLI CI TADA PELO

FUNCI ONÁRI O . NECESSI DADE DE ACEI TAÇÃO E

PAGAMENTO P OR PARTE DAQUELE QUE PRATI CA A

CORRUPÇÃO AT IVA . I NOCORRÊNCI A . B I LATERALI DADE DO

DELI TO . AUSÊNCI A DE DESCRI ÇÃO DA ADESÃO DO

PACI ENTE E DEMAIS DENUNCIADOS À PROPOSTA .

AT I P I CI DADE DA CONDUTA. ( . . . )

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

V I - A denúnc i a não descr ev e , em qua l quer momento , o s

f a t os que t e r i am l ev ado o o r a pac i en t e a ade r i r ou consen t i r

c om o ped ido ( . . . ) . Não f az , po i s , a denúnc i a , qua l que r

r e f e r ênc i a de t empo , modo ou luga r , no que d i z r e spe i t o a

e s sa adesão . Ao con t r ár i o , a f r a s e sur g e no t e x t o c omo que

s e t r a t asse de uma conc lusão em r e l a ção a f a t os an te r i o r e s

que não f o r am apon t ados : s e os denunc i ados t e r i am ader i do

à p r opos ta , c omo e quando ; s e o pagamen t o f o i r ea l i z ado ,

c omo e quando ; s e f o i uma p r omessa d e pagament o ; en f im , a

36

exo r d i a l a cusat ór ia não i nd i ca as c i r cunst ânc i as mín imas

que l evam à conc lusão de adesão po r pa r t e do pac i en t e e dos

dema i s denunc i ados pe l o c r ime de co r r upção a t i v a ” 23.

Por isso a denúncia , como já está

sacramentado ,

“ ( . . . ) é uma e xpos i ção nar r a t i va e demons t r a t i v a . Nar r a t i va ,

po r que deve r ev e l a r o f a t o c om t odas a s suas c i r cunst ânc i a s ,

i s t o é , não só a a ção t r ans i t i v a , c omo a pessoa que pr a t i c ou

( qu i s ) , o s me i os que empr egou ( qu ibus aux i l i i s ) , o ma le f í c i o

que p r oduz iu ( qu id ) , o s mo t i v os que a de t e r m inar am a i s so

( cur ) , a mane i r a po r que a p r a t i c ou ( quomodo ) , o l ugar onde

p r a t i c ou (ub i ) , o t empo ( quando ) . Demonst r a t i v a , po r que

dev e desc rev er o c o r po do de l i t o , dar a s r az ões de conv i c ção

ou p r e sunção e nomear a s t e s t emunhas e i n f or mant es ” . 24

Na l ição de Tornaghi :

“ ( . . . ) R e f e r e - s e o Cód i g o à e xpos i ção m inuc i osa , não apenas

do f a t o i n f r i ng en t e da l e i , c omo t ambém de t odos os

a con te c iment os que o c e r ca r am, não sòment e de s eus

an te cedent es , mas a inda das causas , e f e i t o s , c ond ições ,

o cas i ão , an t eceden te s e c onseqüen t es . A nar ra t i v a

c i r cunst anc i ada min i s t r a ao j u i z e l emen t os par a um ju í zo de

v a l o r ( . . . ) ” 25.

Scarance Fernandes , por seu turno, ressal ta

que a denúncia :

“ ( . . . ) d ev e necessar i ament e con te r o s s egu in t e s e l ement os : a )

desc r i ção de u m fa t o ; b ) qua l i f i c a ção ju r í d i c o -pena l desse

f a t o ; c ) a t r i bu i ção desse f a t o a a l guém. Nem t odos os

23 TRF3 . HC 2665 SP 2008.03.00 .002665-4. Rel. DESEMBARGADORA FEDERAL CECILIA MELLO, SEGUNDA TURMA, 27/04/2010:

24 ALMEIDA, João Mendes. O processo cr iminal brasi leiro, 2ª ed., 1911, v. 2, p. 166.

25 TORNAGHI, Hélio. Compêndio de processo penal . Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1967, tomo II , p. 457.

37

pr ocessua l i s t a s conco r dam com essa t r í p l i c e c ompos i ção da

imput ação . O que se ex i ge sempre é a descr i ção de um

f a to , sem o que inex i ste imputação , po i s nada f o i

a t r i bu ído ao acusado ” 26.

O Super ior Tr ibunal de Just iça e o Supremo

Tr ibunal Federal vêm re i teradamente preconizando que a fa l ta

de indiv idual ização da conduta , conforme se ver i f icou neste

caso, impede a instauração da vá l ida ação penal :

“HABEAS CORPUS . CRIMES CONTRA O S ISTEMA

FINANCEIRO. INÉPCIA DA DENÚNCIA . PEÇA GENÉRICA

QUE NÃO NARRA SATISFATORIAMENTE AS CONDUTAS

IMPUTADAS AOS PACIENTES. FALTA DE JUSTA CAUSA.

( . . . ) NECESSIDADE DE DESCRIÇÃO MÍNIMA DA RELAÇÃO

DOS PACIENTES COM OS SUPOSTOS FATOS DELITUO SOS.

OFENSA AO PRINCÍP IO CONSTITUCIONAL DA AMPLA

DEFESA . ORDEM CONCEDIDA .

1 . Nos t e r mos da ju r i spr udênc i a do Supe r i o r T r i buna l de

Jus t i ça , a e x t in ção da ação pena l po r f a l t a de j us t a causa ou

po r in épc ia f o rma l da denúnc i a s i t ua - s e no campo da

excepc i ona l i dade . É p r ec i s o que ha j a dado in cont r ove r so

sobr e a imposs i b i l i dade de enquadr ament o de c e r t a c onduta

nos t i pos pena i s e v ocados pe l o Min i s t é r i o Púb l i c o . A l ém

d i s so , a l i qu idez dos f a t os cons t i t u i r equ i s i t o ina f a s táve l

pa r a a ap r ec i a ção de t a i s t emas , po i s o habeas co r pus não s e

des t ina à co r r e ção de equ í v ocos ou con t r ov ér s ias que ,

embor a ex i s t en t e s , demandam, par a a sua i den t i f i c a ção e

c o r r e ção , o e xame de f a t os e pr ov as .

2 . Na e spéc i e , a s imp l e s l e i t u ra da denúnc i a , em co t e j o c om

os documen t os e f a t os ne la menc i onados , impõe o

a f a s t ament o das imput ações , po i s ev i den t e e i nd i s f a r çáv e l o

c ons t r ang iment o i l e ga l a que submet idos os pac i en t e s , sendo

o habeas cor pus r eméd i o cons t i t uc i ona l adequado , t endo em

26 Reação defensiva à imputação . São Paulo: Editora Revista dos Tr ibunais, 2002, p. 154-5. Gri fado.

38

v i s t a sua ca rac t e r í s t i c a de a ção cons t i t uc i ona l v o l t ad a pa r a

a de f e sa da l i b e r dade . ( . . . )

7 . Ta is documentos e f a tos , no máx imo meros ind íc ios ,

com a nar ra t i va genér i ca , imprec i sa e vaga que lhes deu a

denúnc ia , e desacompanhados de e l ementos i dôneos

mín imos aptos a a t ra í rem a inc idênc ia dos t i pos pena is

não se most ram su f i c ientes a ju s t i f i ca r a p ropos i tu ra ou a

cont inuação da ação pena l ins taurada cont ra os

pac i entes , que j á se a r ras ta por mai s de se i s anos , o que

não s i gn i f ica que out ra não possa v i r a se r p ropos ta com

adequados fundamentos e e l ementos mín i mos de p rova ” 27.

“E M E N T A : " HABEAS CORPUS" - DEL I TO SOCI ETÁRI O -

CRI ME CONTRA A ORDEM TRI BUTÁRIA - LE I N º 8 . 137/90 -

RESPONSABIL I DADE PENAL DOS SÓCI OS QUOTI STAS -

DENÚNCI A QUE NÃO ATR I BUI , AOS SÓCI OS,

COMPORTAMENTO ESPECÍ F I CO QUE OS V I NCULE, COM

APOI O EM DADOS PROBATÓRI OS MÍ NI MOS, AO EVENTO

DELI TUOSO - I NÉPCI A DA DENÚNCI A QUANTO A AMBOS OS

SÓCI OS – ( . . . ) . PROCESSO PENAL ACUSATÓRIO -

OBR I GAÇÃO DE O MI NI STÉRI O PÚBLI CO FORMULAR

DENÚNCI A JURI DICAMENTE APTA .

O s i s t ema ju r í d i co v i g en t e no Bras i l - t endo p r e s en t e a

na t ur eza d i a l óg i ca do p r ocesso pena l a cusat ór i o , ho j e

impr egnado , em sua e s t r u t ur a f o rma l , de ca r á t e r

e s s enc i a lment e democ r á t i c o - impõe , ao M in i s t é r i o Púb l i c o , a

ob r i gação de expor , de mane i r a p r e c i sa , ob j e t i v a e

i nd i v i dua l i z ada , a pa r t i c i pação das pessoas a cusadas da

supos t a p r á t i ca da i n f r a ção pena l , a f im de que o Pode r

Jud i c i á r i o , ao r eso l v e r a c on t r ov ér s i a pena l , possa , em

obséqu i o aos pos t u l ados e s senc i a i s do d i r e i t o pena l da cu lpa

e do p r in c í p i o c ons t i t uc i ona l do " due p r ocess o f l aw" , t e r em

cons ider ação , s em t r ansgr ed i r e s s es v e t or e s cond i c i onan tes

da a t i v i dade de per s ecução e s t a t a l , a c ondut a ind i v i dua l do

r éu , a s e r ana l i sada , em sua expr essão conc r e t a , em f a ce dos

27 STJ – HC 2011/0126901-6. Rel. Min. Marco Aurél io Bel lizze. 5ª Turma. Julgado em 19/04/12, negr itamos.

39

e l emen t os abs t r a tos con t i dos no p r e ce i t o pr imár i o de

i n cr im inação . O o rdenam ent o pos i t i vo b r as i l e i r o r epud ia a s

a cusações g enér i cas e r epe l e a s s en t enças inde t e r m inadas .

A PESSOA SOB I NVESTI GAÇÃO PENAL TEM O D IREI TO DE

NÃO SER ACUSADA COM BASE EM DENÚNCI A I NEPTA.

A denúnc i a - enquan t o in s t r ument o f o r ma lment e

consubs t anc i ador da acusação pena l - c ons t i t u i peça

p r ocessua l de i nd i s cu t í v e l r e l ev o j ur íd i c o . E l a , an t e s de ma is

nada , ao de l im i t a r o âmb i t o t emát i co da imput ação pena l ,

de f in e a p r ópr i a " r e s i n j ud i c i o deduc t a " . A peça acusat ó r i a ,

po r i s so mesmo , dev e con t e r a e xpos i ção do f a t o de l i t uoso ,

em t oda a sua e s sênc i a e c om t odas a s suas c i r cunst ânc i a s .

Essa nar r ação , a inda que suc in t a , impõe - s e ao a cusador

como ex i g ênc i a de r i v ada do pos t u lado cons t i t uc i ona l que

assegur a , ao r éu , o e xe r c í c i o , em p l en i t ude , do d i r e i t o de

de f e sa . Denúnc i a que não desc rev e , adequadament e , o f a t o

c r im inoso e que t ambém de i xa de e s t abe l e c er a n ecessá r ia

v i n cu l ação da condut a i nd i v i dua l de cada ag en t e ao ev en t o

de l i t uoso qua l i f i c a - se como denúnc i a i n ept a . P r ecedent es ” 28.

Não tem sent ido, sob pena de grav e

t ransgressão aos postulados const i tucionais, permit ir -se que a

d iscr iminação da conduta de cada denunciado venha a

const i tu ir ob je to de prova a ser fe i ta exclus ivamente ao longo do

processo29.

11. Inviável o exerc íc io da defesa d iante de

denúncia que, como a presente , apesar de extensa , é omissa na

indiv idual ização das condutas .

Não há confundir -se a conduta do Acusado

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO com atos prat icados em nome da

28 STF – HC 84436. Rel. Min. Celso de Mello . Segunda Turma. Julgado em 05/09/2006.

29 STF, HC 86.879/SP. Voto profer ido pelo Ministro Celso de Mello .

40

ENGEVIX , empresa da qual é sócio e que possui estrutura

organizacional que o a fasta do setor re lat ivo à PETROBRAS .

Assim, a inépc ia da in ic ia l acusatór ia merece

ser dec larada fundamenta lmente para que , por injunção

const i tucional , se retroceda na irregular marcha processual e se

assegure , por narrat iva c lara, precisa e indiv idual izada, o

exercíc io da ampla defesa:

“PROCESSO PENAL . RECURSO EM HABEAS CORPUS.

APROPR I AÇÃO I NDÉBI TA CIRCUNSTANCI ADA. I NÉPCI A DA

I N I CI AL . RESPONSABI L IDADE PENAL OBJETI VA.

CONSTRANGI MENTO I LEGAL . RECONHECI MENTO. 1 . Cumpre

ao a cusador i nd i v idua l i z a r o c ompor tament o t í p i c o , s ob pena

de env er edar pe l os s ombr i os cam inhos da r esponsab i l i dade

pena l ob j e t i v a , f a zendo - s e t ábu la ra sa da ga ran t ia

c ons t i t uc i ona l da amp la de f esa . A mer a c i r cunst ânc i a de s e r

p r ocur ador de r epr esen t ant e de pessoa jur í d i ca não i nd i ca ,

pe r s e , a ade r ênc ia a supos t o e squema de l i t i v o . 2 . Recur so a

que s e dá p r ov imen t o par a anu l ar o p r ocesso , no t ocan t e a

CÉSAR AUGUSTO OURI QUE, a pa r t i r do o f e r e c iment o da

denúnc ia , i n c lus i ve . ” 30

“AÇÃO PENAL . Denúnc i a . De f i c i ênc i a . Omissão dos

compor tament os t í p i c os que t e r i am concr e t i z ado a

pa r t i c i pação dos r éus nos f a t os c r iminosos descr i t os .

Sacr i f í c i o do con t r ad i t ór i o e da amp la de f e sa . O f ensa a

ga rant ia s c ons t i t uc i ona i s do dev i do p r ocesso l ega l ( due

p r ocess o f l aw ) . Nu l i dade abso lu t a e in sanáve l .

Supe rv en i ênc i a da s e n tença condenat ó r i a . I r r e l ev ânc ia .

P r e c lusão t empor a l inoco r r en t e . Conhec iment o da argü i ção

em HC. Ap l i c ação do a r t . 5 º , i n c s . L I V e LV , da CF . Vo t os

v enc i dos .

30 STJ - RHC: 19218 MT 2006/0057960-6, Relator : Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 13/08/2009, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/09/2009.

41

A denúnc ia que , e i v ada de nar r ação de f i c i en t e ou

i n su f i c i en t e , d i f i cu l t e ou impeça o p l eno exer c í c i o dos

pode r es da de f esa , é causa de nu l i dade abso lu t a e in sanáv e l

do p r ocesso e da s en t ença condenató r i a e , c omo ta l , não é

c obe r t a po r pr e c lusão . ” 31

“AÇÃO PENAL . Denúnc ia . De f i c i ênc i a . Omissão dos

compor tament os t í p i c os que t e r i am concr e t i z ado a

pa r t i c i pação dos r éus nos f a t os c r iminosos descr i t os .

Sacr i f í c i o do con t r ad i t ór i o e da amp la de f e sa . O f ensa a

ga rant ia s c ons t i t uc i ona i s do dev i do p r ocesso l e ga l ( d ue

p r oc es s o f l aw ) . Nu l i dade abso lut a in sanáv e l .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A denúnc ia que , e i v ada de nar r ação de f i c i en t e ou

i n su f i c i en t e , d i f i cu l t e ou impeça o p l eno exer c í c i o dos

pode r es da de f esa , é causa de nu l i dade abso lu t a e in sanáv e l

do p r ocesso e da s en t ença condenató r i a e , c omo ta l , não é

c obe r t a po r pr e c lusão . ” 32

2 . I NÉPCIA MATERIAL DA DENÚNCIA

12. Mais do que descrever o fato cr iminoso com

suas c ircunstânc ias, a denúncia jamais poderá prescindir da

veracidade daqui lo que narra. Para tanto , deverá ze lar pela

exposição de conduta que corresponda exatamente àqui lo que

fo i apurado na fase pré-processual 33.

Sem esta caute la , a defesa, que deve cuidar

apenas dos fa tos narrados e não do t ipo penal atr ibuído, f i cará

31 STF. RHC 85.658-6/ES. Rel. Min. Cezar Peluso. Pr imeira Turma, 21/06/2005 .

32 STF. HC 83.301-2/RS. Rel. Min. Marco Aurél io. Pr imeira Turma. 16/12/2003.

33 RHC 8.006 – Ceará. Sexta Turma. Rel. Ministro Vicente Cernicchiaro, 17.11.98: “A

denúncia deve evidenciar -se f ormal e materialmente idônea. No pr imeiro aspecto , descrever o fato descri to em tipo legal de cr ime; no segundo, es tar amparada por indícios de exis tência do fato” .

42

comprometida por desconhecer e lementos que efet ivamente

embasaram a in ic ia l acusatór ia.

O Superior Tr ibunal de Just iça decidiu,

re i teradamente , que a denúncia que não encontra respaldo nos

e lementos probatór ios mínimos que a just i f iquem deve ser

re je i tada por ev idente fa l ta de justa causa:

“CRIMINAL . HC. CONCUSSÃO. TRANCAMENTO DA AÇ ÃO

PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INEXISTÊNCIA DE

ELEMENTOS PROBATÓRIOS MÍNIMOS QUE JUSTIFIQUEM A

INSTAURAÇÃO DE AÇÃO PENAL . AUSÊNCIA DE JUSTA

CAUSA .ORDEM CONCEDIDA .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

I I . Em qu e pese a i n i c i a l apon ta r f a t o , em t es e , t í p i c o , é

i nd i spensáve l que v enha acompanhada de e l emen t os

i nd i c i á r i o s m ín imos a j us t i f i c a r a i ns t aur ação da ação pena l .

Pr eceden te s ” 34.

“ ( . . . ) Não se pode admit i r que a máqu ina jud ic iá r i a se ja

ac ionada , envo lvendo u m c idadão na chamada persecução

c r imina l , acompanhada de todos os inconven ientes de la

decor rentes , e sobe jamente conhecidos , sem a ocor rênc ia

dos e l ementos ind ic i ár i os mín imos para a de f l ag ração da

ação pena l . É o que se conhece por ju s ta causa .

Em casos c omo o p r e sen t e , do i s va l o r es são pos t os em

con f r on t o : de um l ado , o dev er -pode r do Es t ado de

i nv es t i g ar , p r ocessa r e j u l g ar aque l es ag en t e s ev en t ua lmen te

env o l v i dos no come t iment o de c r imes ; de ou t r o , pr o t e ge r os

c i dadãos con t r a o i n f or t ún i o e o c ons t r ang i ment o

p r ov en i en t es de ev en t ua l per s ecução c r im ina l i n s t aur ada

s em f undament o .

34 STJ – HC 143494/SP, 2009/0147369-3. Rel. Min. Gi lson Dipp. 5ª Turma. Julgado em 17/05/11, negr itamos.

43

( . . . ) ‘ A j us t a causa da ação pena l é ma t ér i a que ex i ge um

apr o f undamen t o que t r anscende a v on t ade de pun i r , po i s

e s t á l i gada a f a t o r e s que emer gem da Car ta Po l í t i c a , no que

d i z c om os v a l o r es sag rados pa r a a o r dem ju r í d i ca , en t r e

e l e s , a p r e sunção da i nocênc i a a t é p r ova em cont rár i o ’ .

( . . . ) ” . 35

Na advertênc ia de Afrânio da S i lva Jard im:

“ a r ea l i dade nos mos t r a que a s imp l e s in s t aur ação do

pr ocesso pena l j á a t i ng e o chamado s t a t us d i gn i t a t i s do

a cusado , mot i v o pe l o que , an t e s mesmo do l eg i s l ador

o r d iná r i o , dev e a Const i t u i ção Fede r a l inadmi t i r

e xpr essament e qua l que r a ção pena l que não v enha l a s t r eada

em um supor t e pr oba t ó r i o m ín imo.

Des t ar t e , t o r na - s e necessár i a ao r egu l ar e xe r c í c i o da a ção

pena l a s ó l i da demons t r ação , pr ima f a c i e , de que a a cusação

não é t emerá r i a ou l e v i ana , po r i sso que baseada em um

mín imo de pr ov a . Es t e supor t e pr oba t ór i o mín imo r e l ac i ona

com os ind í c i o s da au t or i a , e x i s t ênc ia mat er i a l do f a t o t í p i c o

e a l guma p r ov a de sua an t i j u r i d i c i dade e cu lpab i l i dade .

Ve j a - s e nes t e s en t i do o que de i xamos e s c r i t o em nosso

t r aba lho i n t i t u l ado ‘ A r qu iv ament o e desa r qu iv amento do

i nquér i t o po l i c i a l ’ , pub l i cado pe l a Rev i s t a de P r ocesso , v o l .

35 , pp . 264 -276 , da Ed . Rev . dos Tr i bun a i s .

Ressa l t e - s e , en t r e tan t o , que a Cons t i t u i ção dev e cond i c i onar

a a ção pena l à e x i s t ênc i a de a l guma p r ov a , a inda que l ev e .

Ago r a , s e e s t a p rov a é boa ou r u im , i s t o j á é ques t ão

pe r t in en t e ao exame do mér i t o da p r e t ensão do au t o r . A t é

po r que as inv es t i g aç ões po l i c i a i s não s e des t i nam a

conv ence r o Ju i z , mas apenas v i ab i l i z a r a a ção pena l ,

documen t ando -a com o inquér i t o ou peças de i n f or mação .

35 STJ – RHC 15.887/PR. Rel. Min. Laurita Vaz. Julgado em 16/11/04, negr itamos.

44

Adema i s , c on t ra r i a t ambém o i n t e r e sse púb l i c o a f o rmu lação

de uma acusação p r emat ur a , que s e ap r esen t e , de sde l ogo ,

c omo s endo i nv iá v e l , v ez que r edundar ia em indev i da

abso l v i ção , s empre ga rant i da pe l a imut ab i l i dade da co i sa

j u l g ada ma te r i a l ” 36.

13. A denúncia – conforme se constata por sua

le i tura – part iu da responsabi l idade ob je t iva para conc lu ir ,

desprovida de e lementos para tanto, que JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

t inha c iência da remota f inal idade de todos os contratos

celebrados com M I LTON PASCOWITCH . Fê- lo , ademais, sem prova

concreta capaz de envo lvê - lo nos cr imes apontados.

A única conduta efet ivamente real i zada por

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO – part ic ipar de uma v iagem comercial ao

Peru com JOSÉ D IRCEU DE OL IVEIRA E S ILVA , que durou 1 (um) d ia

út i l – , d iversamente de caracter izar i l í c i to penal , foi t ida como

válida e verdadeira pelo colaborador M ILTON PASCOWITCH .

Desta forma, denunciá- lo por fatos

re lacionados à Petrobras sem elementos de prova que os

respaldem, ense ja o reconhecimento da inépc ia da inic ia l

acusatór ia em razão da fa l ta de amparo mater ia l .

3. FALTA DE CORRELAÇÃO E NTRE INIC IAL E PEDIDO

ACUSATÓRIO – CERCEAMENT O DE DEFESA

14. Na remota h ipótese de não se decretar a

nul idade da peça acusatór ia em sua integral idade, o presente

processo está l imitado à corrupção na PETROBRAS .

36 In Dire ito Processual Penal, 7ª ed ição, Forense, 1999, p . 323.

45

Neste sent ido, por s ina l , a acusação fo i

expressa ao prec isar os “ fatos cr iminosos que serão ob je to de

imputação” :

“De f o rma mui t o seme lhant e , c on f o rme ad i an t e s e rá nar r ado ,

há e l ement os de prov a su f i c i en t e s a ind i car que ac i on i s t a s e

e xecu t i v os de uma ou t r a empr esa in t e g r ant e do ‘ CLUBE ’ , a

ENGEVIX , c e l eb ra r am cont r a t os sobr ev a l o r ados com a

PETROBRAS a par t i r da adoção de p r á t i cas c r iminosas ,

e spec i f i cament e a r ea l i z a ção de a jus t e s c om concor r en te s no

âmb i t o do ca r t e l e a c o r r upção de DUQUE e BARUSCO , a l t os

f unc i onár i os da d i r e t o r i a de s e r v i ç os da e s t a t a l . Pa r a a l ém

d i s so , t a i s e xecu t i v os da ENGEVIX t ambém lançar am mão

aos s e r v i ç os de ope r ador es f i nance i r os , o s i r mãos MILTON e

JOSÉ ADOLFO , pa r a v i ab i l i za r a l av agem da p rop ina

r epassada aos f unc i oná r i os púb l i cos co r r omp idos e aos

i n t e g r ant e s do núc l eo po l í t i c o que os sus t en t av am em a l t os

ca rgos da PETROBRAS ” .

Qualquer outra menção a fatos d is t intos ,

especialmente no que d iz respe ito a so l ic i tações real izadas por

VACCARI em v ir tude do contrato de BELO MONTE 37, a inda que aqui

ut i l i zada na tentat iva de corroborar inexistente part ic ipação do

Acusado na corrupção da PETROBRAS , extrapola os l imites da

acusação.

15. Somente a imputação cont ida na denúncia é

que, por sua re levânc ia , poderá ser ob je to de prova (art . 212,

CPP) .

37 “Por oportuno, mencione-se que MILTON PASCOWITCH, em seu interrogatór io, decl inou que comentou com JOSÉ ANTUNES a respeito de sol ic itação de vantagens indevidas real izada por JOÃO VACCARI, possuindo conhecimento, portanto, que havia,

independentemente do ramo, pagamentos de propina por parte da ENGEVIX, que se concret izavam, sobretudo, por meio de contratos f irmados com a JAMP:

‘ ( . . . ) eu comentei com o Antunes, houve uma solicitação do João Vaccari sobre o contrato de gerenciamento das obras de Belo Monte’ . ”

46

Exatamente por isto, f a tos d iversos que não

foram alegados , a inda que surgidos ao longo do processo, nem

mesmo incidenta lmente poderão ser considerados na aprec iação

f inal .

“O ob j e t o da imput ação , i s t o é , o f a t o enquadr áve l em um

t i po pena l , que s e a t r i bu i a a l guém, deve per manecer

imut áve l ao l ongo do p r ocesso , po i s o ob j e t o da s en t ença t em

que s e r o mesmo ob j e t o da imputação ( . . . ) . S e o p r ocesso

s e r v e par a a v e r i f i c a ção da imput ação , a s en t ença , como

moment o máx imo da conc lusão do p r ocesso , dev e con f i rmar

ou r e f u ta r a imputação . Ass im, a s en t ença não pode f undar -

s e ou t e r em cons id e ração a l g o d i v e r so , ou que não f a ça

par t e da imput ação” 38.

* * *

A denúncia del imitou o processo à

corrupção decorrente de contratos celebrados com a PETROBRAS ,

perpetrada por intermédio de M ILTON PASCOWITCH , e à v iagem ao

Peru rea l i zada com o corréu JOSÉ D IRCEU . Apenas com re lação a

estes fatos , portanto , será a defesa deduz ida no méri to.

I II – MÉRITO

16. A anál ise do méri to , fundada em todo

conjunto probatór io, especialmente nos depoimentos colhidos

sob o cr ivo do contraditó r io , atesta a absoluta inconsistência da

tese acusatór ia.

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO , responsáve l pelo

setor de energ ia da empresa, não teve qualquer part ic ipação ou

38 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Correlação entre acusação e sentença . São

Paulo: Editora Revista dos Tr ibunais, 2000 – (Coleção de estudos de processo penal Prof. Joaquim Canuto Mendes de Almeida; v.3), p. 87/88.

47

conhec imento de tratat ivas , l í c i tas ou i l íc i tas , decorrentes da

contratação da ENGEVIX pe la PETROBRAS . Também não

acompanhava a execução de ta is contratos ou a atuação de

M I LTON PASCOWITCH .

Abso lutamente nada do que ocorr ia no setor

de ó leo e gás da ENGEVIX , a fe i to exc lusivamente a GERSON

ALMADA , chegava a seu conhecimento em razão de fa tor

especí f i co : a estrutura organizacional da empresa .

* * *

A ENGEVIX , espec ialmente após ser adquir ida

por seus atuais sóc ios, o que se deu em 1997, assumiu

caracter ís t icas próprias : cada um deles buscou desenvolver sua

área de atuação com tota l autonomia dec isór ia , sem subordinar-

se aos demais.

Por isso , antes de mais nada, é preciso

compreender a dinâmica operacional da ENGEVIX e empresas

controladas ao longo de sua existência , bem como a

extensão da responsabi l idade e autonomia de ca da sócio.

1. O GRUPO ENGEVIX – AS EMPRESAS , PAPEL DOS SÓCIOS E

S ISTEMA DE GESTÃO

48

A ) H ISTÓRICO

17. A ENGEVIX ENGENHARIA S.A. fo i fundada em

1965 e , ao longo dos anos, se const i tu iu na mais importante

empresa de pro je tos e consultor ia do país .

Desenvolveu-se pr inc ipalmente no setor

e lé tr ico, sendo projet ista de mais de 60% do parque gerador do

Brasi l , c i tando-se, entre outras , as h idre lé tr icas de I ta ipu,

Tucuruí , I tá e Be lo Monte.

Também foi uma das poucas empresas

nacionais a desenvolver qual i f i ca ção para pro jetos na área

nuclear. Outras áreas de infraestrutura , como transportes

(aeroportos, ferrovias , metrô, e tc . ) e indústr ias (s iderurg ia,

petroquímica, ó leo e gás) também foram desenvo lv idas ao longo

dos anos.

18. Em 1997, os então d iretores JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO , CRIST IANO KOK e GERSON DE MELLO ALMADA ,

adquir iram a empresa de seus ant igos donos em operação

denominada MBO – Management Buy Out .

A assoc iação dos t rês d iretores , que não fo i

espontânea , se deu por ex igência dos ant igos donos como meio

de fechar o negóc io.

* * *

49

Inic ia lmente, as funções dos sóc ios f icaram

div ididas da seguinte maneira:

- CRISTIANO KOK – exercer ia a pres idênc ia e ter ia

responsabi l idade sob as áreas administrat iva - f inance ira e

jur ídica, f icando baseado em São Paulo/SP.

- JOSÉ ANTUNES SOBRINHO – Vice-Presidente de Energia e

Recursos Hídr icos, baseado em Flor ianópol is e responsável

pe los escr i tór ios de Brasí l ia , R io de Janeiro e Cur it iba.

- GERSON DE MELLO ALMADA – Vice-Presidente de Indústr ia , Ó leo

e Gás e Inf raestrutura, também baseado em São Paulo/SP.

Até o ano de 2006, nos pr imeiros 10 anos da

empresa com os t rês sóc ios, entre 70 e 80% do lucro da empresa

prov inha da área de energia , que se tornou p ione ira em

desenvolver proje tos de geração a serem levados a le i lão pela

Agência Reguladora.

Neste ínter im, inic iou modi f icação em seu

pape l de atuação, deixando de ser uma empresa “pura” de

projetos para se tornar uma empresa “ integradora” , que também

passar ia a estruturar fornecimento e compra de mater ia is ,

equipamentos e , a lgumas vezes , in ic iar a construção. Is to se

deu a part ir de 2002

Na área de energ ia, a ENGEVIX cont inuava a

part ic ipar , com sucesso, de consórcios de construção, sobretudo

para cliente privados .

50

19. A part i r de 2004, até 2013 , houve for te

part ic ipação da empresa em negóc ios com a PETROBRAS , com o

comando único e exclusivo de GERSON ALMADA .

Neste per íodo, a ENGEVIX part ic ipou da

construção do complexo de tratamento de gás de Cac imbas e da

reforma – fe i tas em consórc io com outras empresas – das

ref inar ias RELAM, REPAR e RPBC, além de part ic ipar da RNEST.

Concomitantemente, a empresa se tornou um

Grupo Econômico, através de sua hold ing JACKSON

EMPREENDIMENTOS LTDA . e outras companhias foram cr iadas, a

saber:

- DESENVIX FONTES RENOVÁVEIS

Empresa fundada por JOSÉ ANTUNES SOBRINHO que,

entre 2004 e 2015, desenvolveu e implantou c inco

pequenas centrais hidroe létr icas, uma usina

h idrelétr ica de porte médio, quatro parques eól icos,

uma usina de cogeração com bagaço de cana e duas

l inhas de transmissão , a lém de outros projetos para o

futuro . Não houve uti l ização de recursos públ icos .

- INFRAVIX S.A.

Empresa administrada por JOSÉ ANTUNES SOBRINHO ,

responsáve l pela implementação dos aeroportos de

Natal e Brasí l ia , com for te atuação entr e 2011-2014.

Não houve uti l ização de recursos públicos .

HIDRELÉTRICA SÃO ROQUE (135 MW)

51

Tendo JOSÉ ANTUNES SOBRINHO como responsáve l pelo

empreendimento, esta hidroe létr ica encontra -se em

fase f inal de implementação no Estado de Santa

Catar ina. Não houve uti l ização de recursos públicos .

ECOVIX e ESTALEIROS RIO GRANDE

Este negóc io fo i inte i ramente desenvo lv ido, no âmbito

do grupo, por GERSON DE MELLO ALMADA , a part i r de

2009/2010. A ECOVIX venceu cer tame internac ional

para construir cascos p lata formas t ipo FPSO em 2010 .

Atualmente , é responsáve l pe la construção de o i to

FPSO – Unidades de Produção, Estocagem e Descarga

de Petróleo – a ser usado no pré -sa l . O estale i ro ERG1

é de propriedade da PETROBRAS , junto com outras

empresas sócias . A ECOVIX tem também con tratado

t rês sondas com a 7BRASIL . Por vol ta de 2012,

adquir iu junto à W. TORRE/RIO BRAVO, o Estale iro

ERG1, após o per íodo de uso pela PETROBRAS (até

2020) , f ez invest imentos pesados em sua ampl iação,

como melhorias no ERG1, PORTICO 2000 toneladas (o

maior do mundo) , e a construção do ERG2. No total , a

ECOVIX chegou a ter cerca de US$ 5,5 bi lhões em

contratos. O estale i ro emprega cerca de 8 (o i to ) mi l

pessoas di re tamente, e a c idade de Rio Grande

depende bastante de sua cont inuidade. Todas as

negociações a té novembro de 2014, e mesmo a

concepção deste negócio, foram sempre t ratadas por

GERSON DE MELLO ALMADA . Em dezembro de 2014, a

part ir da pr isão de GERSON , JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

assumiu o estale i ro em plena cr ise , e a part ir da í

inic iou o plano de reestru turação através de

52

renegociação de d ív ida com bancos e fornecedores,

redução de custos , e tc . As ações caminhavam bem até

a sua pr isão , na 19ª fase da Operação Lava Jato . A

s i tuação do Estale i ro é a inda bastante de l icada.

B ) ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

20. JOSÉ ANTUNES SOBRINHO , GERSON ALMADA e

CRISTIANO KOK adquir i ram a empresa com o mesmíss imo

porcentual de part ic ipação. Isso persiste até ho je .

Desde o iníc io , sempre fo i muito c lara a

função de cada um deles no desenvo lv imento da empresa:

GERSON ALMADA era o responsável pelos setores de

inf raestrutura, ó leo e gás ;

CRISTIANO KOK , menos operat ivo, centra l i zava questões

f inancei ras, administrat ivas e jur íd icas ;

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO arcava com a responsabi l idade,

pr incipa lmente , do setor de energ ia da ENGEVIX .

Com inúmeros projetos di ferentes em

andamento, nos mais diversos cantos do País e no exterior,

os contatos pessoais entre os sócios eram raros e l imitados,

pr incipalmente porque as bases f ís icas operacionais de cada

um não eram as mesmas.

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO , por exemplo, a lém

da área de energ ia da ENGEVIX , da implementação da DE S E NVI X

( sede em Florianópol is/SC) , dos aeroportos (base em

Brasí l ia/DF) , a inda montou, no iníc io dos anos 2000, a área

internac ional da empresa, com bases f ixas no México, Pe ru e

53

Angola , atuando, a inda, em outros países ( f í s ica e

remotamente) .

Por este motivo, a administração da

empresa tinha como princípio de gestão a “AUTONOMIA TOTAL E

A CONFIANÇA” .

* * *

O Conse lho de Administração do Grupo fo i

es truturado com pessoas de renome, ta is como o do Professor

CE LS O PA S TO R E , Dr. ROG ER KAR AM , Dr . LUI Z CRUZ SCH NEI D ER , Dr.

S I LA S RO NDE AU , Prof . SA VA SI N I , entre outros .

As reuniões de Conse lho de f iniam

invest imentos, rev isavam resultados e tratavam de estra tégias

futuras face aos cenár ios soc ioeconômicos projetados pelos

economistas em reuniões .

Estas decisões estratégicas, definidas em

Conselho, é que eram conjuntamente discutidas entre os

sócios. A partir disto, cada um dos sócios cuidaria, com

autonomia sob confiança dos demais, de seu setor específ ico.

21. Os próprios sóc ios da ENGEVIX , em seus

interrogatór ios , expl icaram a este I . Juízo o modo de div isão de

funções dentro da empresa .

- GERSON ALMADA – demonstrou que há div isão de trabalho

entre os sócios “pr incipa lmente l igada à exper iênc ia de

cada um”. Responsáve l pela “parte industr ia l e de

inf raestrutura” era o responsável pelos contratos com a

PETROBRAS :

54

“Ju i z Feder a l : Ent ão , bas i cament e ex i s t em 3 sóc i os

c on t r o lado r es da empr esa?

In t e r r ogado : 3 s óc io s c on t r o l ador es , em par t e s i gua i s .

Ju i z Feder a l : Ex i s t e a l guma ascendênc i a de um em r e la ção

ao ou t r o den t r o da empr esa?

In t e r r ogado : Não , são par t e s i gua i s .

Ju i z Fede r a l : E ex i s t e a l guma espéc i e de d i v i são de t raba lho

den t r o da empr esa?

In t e r r ogado : Ex i s t e uma d i v i são l i g ada p r in c i pa lment e à

e xpe r i ênc i a de cada um de nós . Ent ão eu s empr e t i v e como

r e sponsab i l i dade den t r o da empresa , t oda a par t e i ndust r i a l

e de i n f r a es t r ut ura . O engenhe i r o An t unes t oda a pa r t e de

ener g i a e o Cr i s t i ano Kok t oda a pa r t e admin i s t r a t i v a ,

j u r í d i ca , c on t áb i l .

Ju i z Feder a l : I sso há quan t o t empo , ma i s ou menos , que

ex i s t e e s sa d i v i são?

In t e r r ogado : Essa d i v i são f o i f e i t a no moment o em que nós

adqu i r imos a empr esa , em 97 , 1997 , e an t es t ambém essa

d i v i são j á e x i s t i a sendo cada um d i r e t o r em uma ár ea .

Ju i z Feder a l : Con t r a t os com a PETROBRAS pr a e s sas ob r as

que a Engev i x ob t e v e , na Engev i x Engenhar i a quem e r a o

r e sponsáv e l ?

In t e r r ogado : Es t ava den t r o do meu se t o r .

( I n t e r r oga t ór i o de Ge r son de Me l l o A lmada – Even t o 722 –

T e r mo de t r anscr i ção )

- CRISTIANO KOK – conf irmou haver “distr ibuição muito

c lara de tarefas desde ” a aquis ição da empresa .

Responsáve l pe la “parte administrat iva f inancei ra e

contábi l da soc iedade ” , reaf irmou que GERSON “sempre

cuidou da parte v inculada às indústr ias e i nf raestrutura,

abrangendo todos os contratos na área de PETROBRAS ” , ao

passo que JOSÉ ANTUNES SOBRINHO , “um dos maiores

especial is tas brasi le i ros em us inas h idre lé tr icas, era

responsáve l pe la área de energ ia e recursos h ídr icos ” :

55

Ju i z Feder a l : Quem são os ou t r os a c i on i s t a s con t r o l ado r es?

In t e r r ogado : Dout or José An t unes Sobr inho e dou t or Ge r son

de Me l o A lmada .

Ju i z Feder a l : Ex i s t e a l guma ascendênc i a en t r e os s enhores?

In t e r r ogado : Não senhor , c ada um t em um t e r ço das a ções .

Ju i z Feder a l : E há uma d i s t r i bu i ç ão de t a r e f a s en t r e os

s enhor es na Engev ix Engenhar i a?

In t e r r ogado : Há uma d i s t r i bu i ção mu i t o c l a r a de t a r e f a s

desde que nós adqu i r imos a empresa , eu s empre cu ide i da

pa r t e admin i s t r a t i v a f i nance i r a e con t áb i l da soc i edade ,

dou t o r Ger son sempr e cu idou da p a r t e v in cu l ada às

i ndúst r i a s e i n f r aes t r ut ur a , abr angendo t odos os con t r a t os

na ár ea de PETROBRAS , na ár ea de s i de r urg i a e na área de

t r anspor t e s , e dou t o r José Ant unes Sobr inho , um dos

ma i o re s e spec i a l i s t a s br as i l e i r os em us inas h i dr e l é t r i c as ,

e r a r e sponsáv e l pe la á r ea de ener g i a e r e cur sos h í d r i c os .

Ju i z Fede r a l : Hav ia dec i s ões comuns t ambém t omadas en t r e

os t r ê s s óc i os?

( I n t e r r oga t ór i o de Cr i s t i ano Kok – Ev en t o 691 – T e r mo de

t r ansc r i ção )

- JOSÉ ANTUNES SOBRINHO – ass im como os outros dois

sócios , conf i rmou que a div isão de tare fas na ENGEVIX é

“absolutamente c lara” , sendo que era responsáve l pe la

v ice-presidênc ia de energ ia e recursos hídr icos uma vez

que desde 1982, quando ingressou na empresa, sempre

t rabalhou “no setor e lét r ico brasi le iro” . Em razão do grande

crescimento do grupo , “havia total conf iança e autonomia

dos sócios , cada um cuidava de uma área com conf iança do

outro ” :

Ju i z Feder a l : Quem são os t r ês , por f av or ?

In t e r r ogado : O s enhor Cr i s t i ano Kok e o s enhor Ger son de

Me l o A lmada .

Ju i z Feder a l : Ex i s t e a l guma ascendênc i a de um em r e la ção

ao ou t r o?

56

I n t e r r ogado : Não , nossas par t e s são abso lu t ament e i gua i s .

Ju i z Feder a l : E den t r o do empr eend imen t o , pe l o menos

den t r o dessa empr esa Engev i x Engenhar i a , e x i s t e a l guma

d i v i são de t a r e f a s?

In t e r r ogado : S im, s im , e l a é abso lu t ament e c l a r a . S e o

s enhor me per m i t i r um pouqu inho de exp l i c ação da f o rmação

do g r upo , o s t r ê s sóc i os e r am ant i g os empr egados , eu en t r e i

em 1982 l á na Engev i x , em 1986 f u i d i r e t or e s t a t ut ár i o

quando o a c i on i s ta e r a ou t r o , a t é em 1996 p a r a 199 7 , o s

t r ê s c ompr ar am a companh ia . Quando f o i c ompr ada a

companh ia , eu na t ur a lment e t r aba lhe i s empr e no s e t or

e l é t r i c o br as i l e i r o t odo e sse t empo e eu t ocav a a

v i c epr es i dênc i a de energ i a e r e cur sos h í d r i c os ; o Ger son de

Me l o A lmada se p r eocupav a com a á rea indus t r i a l da

empr esa , e l e e ra a pa r t e i ndust r i a l da companh ia , nós do i s

nos denominamos v i c epr es i den t e s , e o Cr i s t i ano Kok f a z i a

um t raba lho den t ro da companh ia que cobr i a bas i camen te a

á r ea f i nance i r a , a á r ea admin i s t r a t i va f i nance i ra , o s e to r de

qua l i dade e a pa r t e j ur í d i ca , en t ão e l e f i c av a l á . No

desenv o l v iment o do g r upo , que ocor r eu f o r t ement e no in í c i o

da década passada , a t é 2006 o s e t o r da m inha á rea , a gen te

desenv o l v eu mu i ta co i sa a t é 2006 , na v e r dade p r a t i cament e

a s r e c e i t a s da companh ia e r am der i v adas do s e t o r e l é t r i c o ,

eu t i nha t r aba lhado nas pr i v a t i z a ções l á a t r ás , c onhec ia

mu i t o i s so a í . A Pe t r obr as , que é um pouco da ques t ão , v e i o

pa r a nós em 2005 e per maneceu a t é 2011 , onde f o r t ement e

f o r am ob t i dos con t r a t os na ár ea de r e f i no , e e s sa e ra com o

Ge r son , 2009 pa r a 2010 houv e a aqu i s i ção do e s t a l e i r o R i o

Gr ande e o g anho daque l e s c on t ra t os de casco com a

PETROBRAS, t ambém f i c ou na mão do Ge r son , eu t ambém me

ocupe i da c r i ação e f undação , depo i s v enda de uma empr esa

de ene rg i a e l é t r i ca cham ada Desenv i x , e s sa empr esa f o i

v end ida par a os no r uegueses e s se ano que passou po r uma

s é r i e de necess idades , e eu t ambém me ocupe i dos

a e r opor t os , das concessões dos a er opor t os , Br as í l i a e Na t a l ,

que nós impl emen tamos ma i s r e c en t ement e , t ambém

v endemos o ano passado em fa ce das d i f i cu l dades que nós

t i v emos . E , f ina lmen t e , quando Ger son A lmada acabou p r eso ,

57

eu t i v e que assumi r t oda a ques t ão l á do e s ta l e i r o do su l ,

c o i sa que eu v inha f az endo a t é que eu também t i v e meus

p r ob l emas aqu i .

( I n t e r r oga t ór i o de Jos é Ant unes Sobr inho – Even t o 691 –

T e r mo de t r anscr i ção )

* * *

Esta estrutura organizac ional , com c lara

d iv isão de tare fas entre os sócios , fo i conf i rmada pe l a

testemunha ALES S A NDR O CA RR ARO , que possuía conhec imento do

func ionamento da empresa:

De f e sa : Dent r o da empr esa , o s se t or e s e r am bem d i v i d i dos ,

ou s e j a , s e t or de ener g i a cu idado pe l o Ant unes ,

admin i s t ração Cr i s t i ano Kok e i n f ra es t r ut ura e ó l e o e g ás

pe l o Ge r son A lmada , ou e r a t udo m i s t ur ado , c omo que

f unc i onava a empresa , s e é que o s enhor sabe?

Depoen t e : O lha , eu s empr e , a g en t e s empr e en tendeu como

s endo dessa f o r ma, c omo v ocê descr ev eu , a á rea de energ ia

mu i to f ocada , mui to coordenada pe lo doutor Antunes , a

ges tão , a pa r te f inance i ra da empresa pe lo doutor Kok , a

pa r te de indúst r ia e in f raes tru tu ra pe lo doutor Gerson .

(Depo iment o da t es t emunha de De f e sa – Even t o 581 – Te r mo

de t ranscr i ção )

A ENGEVIX por tanto, d iversamente de muitas

outras emprei te iras invest igadas na Operação Lava Jato,

func ionava de maneira sui gener is : seus sócios possuíam

independência funcional nos setores que, de forma isolada

dos demais sócios, geriam com absoluta autonomia .

22. Importante notar que esta estrutura fez com

que o Acusado nada d iscut isse com os demais sócios,

especialmente com GERSON AL MADA – responsável pela

PETROBRAS – assuntos re lat ivos aos contratos com esta estata l ,

58

reuniões com outras empreite i ras e , pr inc ipalmente,

subcontratação de M ILTON PASCOWITCH .

Neste sent ido foram claros os depoimentos:

GERSON ALMADA :

“Ju i z Feder a l : E o s enhor compar t i l hav a dec i s ões com os

s eus sóc i os r e l a t i v ament e a e s s es negóc i os?

In t e r r ogado : Com os meus sóc i os , nós t ínhamos a l guns

n í v e i s que t i nham que s e r r e spe i t ados , pr ime i r o a de f i n i ção

de um c l i en t e , que r d i z e r , s e a gen te c o t a ou não para um

c l i en t e ; s egundo , t odas a s ob r as , o s o r çament os pa r a en t rar ,

e r am apr ov ados . Ent ão , uma v e z ap r ov ado o o r çamen t o , o

g r upo , um d i r e t or de pr o j e t o que e s t ava sob a m inha

coo r denação , t inha t o t a l l i b e r dade de t ocar a ob r a . Então os

sóc i os sab i am do o r çament o , apr ov a v am o or çament o e da í

p r a f r en t e cada ár ea t ocav a .

Ju i z Feder a l : Dessas r eun i ões en t r e a s empr e i t e i r a s p ra

de f in i ção de p r e f e r ênc i a , o s s eus sóc i os t inham

conhec imen t o d i s so?

In t e r r ogado : Nunca menc i one i .

Ju i z Feder a l : E l e s f o r am em a l guma dessas r eun i ões?

In t e r r ogado : Não f o r am.

Ju i z Feder a l : O senhor f az ia i s so so z inho pe l a Engev i x?

In t e r r ogado : Soz inho . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Ge r son de Me l l o A lmada – Even t o 722 –

T e r mo de t r anscr i ção )

CRISTIANO KOK :

“As dec i s ões de a ss ina r g r andes con t r a t os s empre e ra

ap r es en t adas aos t r ê s s óc i os , c om base nos o r çamen t os ,

en t r avas e na l i c i t a ção , uma v e z ganha a l i c i t a ção , a ge s t ão

dessa con t r a t ação , a g e s t ão desse con t ra t o , t odos os

con t r a t os decor r en t e s desse con t r a to ma i o r e ram t omadas

pe l o dou t o r Ger son , e s s e con t r a t o de Cac imbas I I e Cac imbas

I I I f o r am cont r a t os que f o r am f i r mados no âmb i t o da á r ea de

59

dout o r Ge rson , e l e c on t r i bu iu d i r e t ament e na e labo r ação da

p r opos t a , na v i t ó r i a do con t r a t o e no desempenho do

con t r a t o , na conc lusão da ob r a

que f i c ou ex t r emament e sa t i s f a t ór i a , f o i uma obr a conc lu ída

no pr a zo e den t r o dos cus t os or çados .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

As dec i s ões e r am tomadas no âmb i t o de cada ár ea e spec í f i ca

de a t uação , de f o r ma ind i v i dua l po r cada um do s t r ês

e xecu t i v os .

De f e sa : Cont inuando , d i z a denúnc ia “A lmada , Kok e José

An t unes , a t i v ament e , par t i c i par am das dec i s ões e s t r a t ég i cas

da empr esa de que e r am sóc i os e , un í s sonos , c om p l ena

consc i ênc i a do e squema c r iminoso , op t a ram con junt ament e

po r d i r e c i onar a Engev i x ao mode l o de negóc i o c r iminoso nos

c e r t ames e c on t r a tos púb l i c os b i l i onár i os da PETROBRAS” .

I n t e r r ogado : Nego comp l e t ament e es sa v e r são , nós nunca

d i s cu t imos en t r e nós t r ês qua l quer um desses t emas des ta

f o r ma, ( . . . ) j ama is f o i d i s cu t i do par t i c i pação des ta f o r ma ( . . . )

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

( . . . ) não e s t av a na minha e s f e r a de conhec imen t o o

pagament o de prop inas , eu não t i nha conhec imento de

pagament os de pr op inas . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Cr i s t i ano Kok – Ev en t o 691 – T e r mo de

t r ansc r i ção )

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO :

“ ( . . . ) o g r upo c r es ceu mu i t o nesse t empo t odo , en tão na

v e r dade hav i a t o t a l c on f i ança e aut onomia dos sóc i os , c ada

um cu idav a de uma á rea com con f i ança do ou t r o , a s r eun i ões

que a g en t e t inha e r am r eun iões de conse lho de

admin i s t ração , onde a g en te d i s cut i a r e su l t ados , s i t uações e

e s t r a t ég i a s par a onde s egu i r , mas , c l a r o , o g r upo c r es ceu

mu i t o , eu pessoa lment e , do e s cr i t ó r i o de F l o r i anópo l i s ,

B r as í l i a e R i o , que e r am ár ea de energ i a , a i nda t inha a á r ea

i n t e r nac i ona l e t inha os ou t r os negóc i os , eu par ava a t é

mu i t o pouco em São Pau l o .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

60

I n t e r r ogado : A aut onomia e r a t o t a l , i n c lus i v e , pe l o que o

s enhor pode not ar pe l o c r e s c iment o das empr esas não t inha

mane i r a de t raba lha r , en tão hav i a os c onse lhos e hav ia

a v a l i a ção de r esu l t ados . ”

( I n t e r r oga t ór i o de José Ant unes Sobr inho – Even t o 691 –

T e r mo de t r anscr i ção )

Apesar de haver reuniões per iód icas para

t ratar da s i tuação atual da empresa, bem como da poss íve l

entrada em novos mercados, o âmago da operac ional ização da

ENGEVIX estava na conf iança entre seus sóc ios e na

independência dos setores em que cada um atuava.

Ou se ja , um sócio não precisava dar

conhec imento ou pedir autor ização a outro sóc io para, por

exemplo, encaminhar , em sua área de atuação, a contratação de

um “agente comercial ” ou “ fac i l i tador” pagando 1% do(s )

contrato (s ) em l ide .

É neste cenário que se encontra M ILTON

PASCOWITCH , contratado exclusivamente por GERSON DE MELLO

ALMADA desde 2003 ou 2004.

* * *

A prova dos autos, anal isada à saciedade,

assegura que JOSÉ ANTUNES SOBRINHO nunca part ic ipou de

qualquer negociação, administração, pagamento ou decisão

a fe i ta aos contratos com a PETROBRAS .

Tanto que n inguém, em época a lguma, com

e le t ratou de qualquer assunto que est ivesse re lacionado à

refer ida Estatal :

61

M I LTON PASCOWITCH “ ( . . . ) Não pa r t i c i pe i de nenhuma conv er sa com

o An t unes r e f e r en t e a e s s e con t ra t o . A l i á s ,

r e f e r en t e a es s e e n em a nenhum” 39. CO LA BO RA D OR E RÉ U

PAULO ROBERTO COSTA “ ( . . . ) E José Ant unes Sobr inho? ( . . . ) não

l embr o de t e r c onv er sado com e l e sobr e e s se t ema não , que eu me l embr o é s ó do Ge r son ” 40. CO LA BO RA D OR

ALBERTO YOUSSEF

“ ( . . . ) José Ant unes eu v i uma v ez quando eu

f u i na Engev i x , numa r eun i ão com o Ge r son

A lmada , mas não me l embr o de t e r t r a t ado

nada com e l e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede ra l : O José An t unes

não par t i c i pou dessa r eun i ão?

Depoen t e : Não ” 41.

CO LA BO RA D OR

AUGUSTO R I BEIRO

MENDONÇA

“Min i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : O s enhor chegou a

conhecer e t r a t ar c om Cr i s t i ano Kok e José An t unes?

Depoen t e : Desses assun t os não .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : A l guma v ez Ge rson

A lmada f e z menção que f a l a r i a c om os dema i s

s óc i os , no caso os do i s , s obr e e s ses assun t os?

Depoen t e : Não que eu me r e cor de ” 42.

CO LA BO RA D OR

R ICARDO R IBEIRO

PESSOA “ ( . . . ) Quem r epr esen t ava a Empr esa Engev i x ?

Depoente : E ra o Gerson A lmada .

Min i s tér io Púb l i co Federa l : Apenas e l e?

Depoente : Só me reun i com e le ” 43. CO LA BO RA D OR

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO che f iava outros

setores da empresa – espec ia lmente o de energ ia , ramo no qual

é reconhec ido e respei tado, nacional e internacionalmente.

Jamais se envo lveu, part ic ipou ou teve c iência do que ocorr ia no

âmbito da Petrobrás .

C ) AT ITUDE DO ACUSADO AP ÓS A PRISÃO DE GERSON ALMADA

39 Evento 670 – Termo de Transcrição. Grifado.

40 Evento 464 – Termo de Transcrição. Grifado.

41 Evento 464 – Termo de Transcrição. Grifado.

42 Evento 464 – Termo de Transcrição. Grifado.

43 Evento 468 – Termo de Transcrição. Grifado.

62

23. A fa l ta de cuidado, de providências ob je t ivas

que invest igassem os acontecimentos e estancassem pagamentos

indevidos detectados no se io de empresas , já serv iu, em outros

processos semelhantes, de fundamento à responsabi l i zação

cr iminal de sócios e execut ivos .

É dizer , não ter ia s ido possíve l enxergar , em

refer idas pessoas, a vontade de acabar com a lguma

i rregular idade interna, através de um processo correto de due

d i l l igence .

A par da estrutura organizacional da

Engevix, que afastava o Acusado por completo do setor que se

re lacionava com a PETROBRÁS – fa to dist into com aquele

detectado em outras empresas – é de se cons iderar que, ao

tomar efet ivo conhecimento de questõ es re lac ionadas à

Operação Lava Jato , JOSÉ ANTUNES SOBRINHO e fe t ivamente ag iu

para detectar e estancar i rregular idades .

Neste ponto, tão logo assumiu o controle

da ECOVIX , em razão da prisão de GERSON ALMADA , o Acusado

determinou a real ização de auditori a interna para apurar

eventuais desvios de conduta que poderiam estar ocorrendo ,

bem como não efetuar pagamentos que parecessem suspeitos :

Ju i z Feder a l : O senhor d i s s e que assumiu e ssa á r ea , não é ?

In t e r r ogado : Eu assumi a Ecov i x , a s sumi o e s t a l e i r o . Na

v e r dade , depo i s que acon t e ceu o f a t o a í c om o dou t or

Ge r son , uma das co i sas que a g en te de t e r minou l á na

companh ia j un t o com o ou t r o sóc i o , o dou t o r Cr i s t i ano , f o i

que nós dev er í amos apur ar e l ev an tar não apenas e s se , mas

ou t r as s i t uações que pudessem es t ar o co r r endo e

de t e r m inamos a con t r a t ação de um esc r i t ó r i o de adv ocac i a ,

A r ap N i sh i , que p rocur asse a CGU in i c i a lment e pa r a que nós

63

pudéssemos t en t ar encont ra r um caminho par a a c ompanh ia

e t en t ar bo t ar t odas e s sas s i t uações que pode r i am apa r ecer

den t r o de um aco r do de l en i ênc i a , i s so nós f i z emos , na

Ecov i x f o i uma s i t uação um pouco d i f e r en t e .

Ju i z Feder a l : Como o s enhor t omou c i ênc i a depo i s da p r i são

do s enhor Ger son A lmada , a r e spe i t o desses pagament os?

In t e r r ogado : Bom, dou t o r , f o i o s egu in t e , quando nós

a s sumimos o e s t a l e i r o nós nos p r eocupamos i n i c i a lmen te que

a ope r ação Lava Ja t o pudesse t e r uma cont aminação l á no

e s t a l e i r o , onde t an t o t e r i a c l i en t e s que e r a a pr ópr ia

PETROBRAS, mas t em a Br i t i sh Gas , t i nha a Ga lp , e eu t i nha

que p r e s t ar sa t i s f a ção t ambém in t e rnament e do que es t ava

oco r r endo , en t ão quando eu assumi a p r ime i r a co i sa que eu

f i z f o i f a z e r uma con t r a t ação de um r e l a t ó r i o de co m p l ianc e

que l impasse , que v e r i f i ca sse par a nós t udo aqu i l o que

e s t ava acont e cendo , o s desv i os de gov er nança do e s t a l e i r o ,

eu assumi o e s t a l e i r o , s ó par a de i xa r c l a r o , em in í c i o de

de z embr o de 2014 , emba i xo de uma g r ande c r i s e f inance i ra

numa s i t uação bas t an t e c ompl i cada que e s t av a l á . Dev o l h e

coment ar o s egu in t e , uma s i t uação no mundo f inance i r o , um

es t a l e i r o a l av ancado com d inhe i r os do f undo de Ma r inha

Mer can te pa r a s e r em l i be r ados , a ope r ação e s tá

con t aminando o l ado de l á , e l a é f a t a l , en t ão a pr ime i ra

co i sa que nós f i z emos f o i f a z e r e s sa con t r a t ação do r e la t ór i o

c om o e s c r i t ó r i o de adv ocac i a r e conhec i do , Barbosa

Müssn i ch Ar agão , eu a t é g os t ar i a depo i s de a char o que f o i

encont r ado aqu i nos au t os , e t ambém por que t í nhamos um

sóc i o in t e r nac i ona l , que e r a a M i t sub i sh i Heavy Indust r i e s ,

pa r a a qua l eu como p r es i den te t i nha que p re s tar

sa t i s f a ções .

Ju i z Feder a l : S enhor Ant unes , um dos t r ê s s óc i os é p r e so

po r a cusação de p rop inas , f o i l e v an t ado ou não f o i l e v an t ado

s e hav ia ou não hav i a aque l a s i t uação , po r que é uma

ques t ão ob j e t i v a?

In t e r r ogado : Em re l a ção a . . . Dout o r , o que acont e ceu em

r e l a ção à p r ime i r a f a s e l á que f o ram aque l e s c on t r a tos da

GFD, a l i i n i c i a lmen te nós p r ocur amos t ambém f a ze r uma

av a l i a ção , nós es t ancamos qua l que r pagament o que se

pudesse j u l gar i ndev i do e c o l ocamos . . .

64

Ju i z Feder a l : Qua l f o i a c onc lusão da av a l i a ção?

In t e r r ogado : A ava l i a ção é que nós dev er í amos caminhar

pa r a um acor do de l en i ênc ia e l ev anta r den t r o da companh ia

da Engev i x t udo aqu i l o que pudesse s e r j u l gado como

con t r a t o duv idoso , um t raba lho que s egue , par a f az e r um

aco r do de l en i ênc i a e de i xar , t e r uma cond i ção de

sobr ev i v ênc i a da empr esa . Do pont o de v i s t a da Ecov i x , por

e xemp lo , o s enhor e s t ava v e r i f i c ando a í o dou t o r Pascow i t ch ,

uma das s i t uações que f o i encont r ada é que eu deve r i a , a

empr esa dev er i a exp l i c ar pagament os , por e xemp lo , de 21 ,5

m i lhões de dó l a r e s f e i t o s em nome de l e , em nom e da

companh ia de l e no ex t e r i o r . Mu i t o bem, nesse r e l a t ó r i o ,

j un t o com a so l i c i t a ção de r e l a t ó r i o , eu conv oque i , s e o

s enhor t i v e r in t e r es se , c onv oque i o dou t o r M i l t on Pascow i t ch

j á em dezembro quando eu assumi e conta te i o doutor

José Ado l f o Pascowi tch pa ra me procura r e l evar todo o

h i s tór i co de cont ra tos que e l es t inham dent ro da

companhia , todos os cont ra tos ; e les f o ram na minha casa

em São Pau lo , l eva ram cerca de 30 cont ra tos , o José

Ado l f o , most rou desde o tempo da CDHU todos os

cont ra tos que e l e t inha , e e l e , naque la ocas i ão , a f i rmou

a lgumas co isas , p r ime i ro "nós só t raba lhamos

p ra t i camente em exc lus iv idad e com vocês , não

t raba lhamos com out ras empresas , nossa h i s tór ia é com

vocês , o que es tá aqu i são se rv i ços que nós p res tamos" ,

n e ssa a l t ur a o Ge rson j á não e s t av a ma i s l á , " o que eu t enho

aqu i de r e ceb imentos são os r e c eb imen t os dos t raba lhos que

eu f i z de capt ação de negóc i os e a s pe r c en t agens que

e s t avam" , e f o i a pos i ção que e l e en t r egou . Eu f i z ou t ra

s i t uação t ambém que eu pe r gunt e i pa r a e l e o s egu in t e , se

t inha a l gum pagament o que t inha s i do f e i t o par a o senhor

Ba r usco , que j á e s t av a s e c i t ando l á , e que pudesse

compr omet er a s i t uação da Ecov i x , e e l e me asseve r ou

naque l e momen t o que não . Mu i t o bem, pos t e r i o r ment e , c om a

impr ensa j á no p r ime i r o t r imes t r e do ano passado ,

ap r ox imadament e com o s enhor Ba r usco most rando as

i n f o rmações pa ra o s enhor M i l t on , de f a t o e l e f a z i a , e l e t i nha

t i do e s se compr ome t iment o de pagamen t os das pr op inas e os

pagament os i ndev idos , é que de f a t o eu t ome i c onhec imen t o ,

65

i n c lus i v e eu t enho aqu i o pr ópr i o r e l a t ór i o , t em en t r ev i s t a s

a ss im que e l e s empr e a f i rmav a que aque l e s 21 , 5 m i lhões de

dó l a r e s , por e xemp lo , e r a puramente o s e r v i ç o de que e l e

a judou a c r i a r o negóc i o da Ecov i x , e de f a t o e l e a judou , e

que e s ses 21 , 5 m i lhões de dó la r e s e ra um t raba lho r ea l i z ado .

( I n t e r r oga t ór i o de José Ant unes Sobr inho – Even t o 691 –

T e r mo de t r an scr i ção )

O relatório supracitado , cujo conteúdo

será melhor analisado no item III .2 .c (“ AUSÊNCIA DE QUALQUER

RELAÇÃO ENTRE JOSÉ ANTUNES SOBRINHO E MILTON PASCOWITCH”), foi

entregue na CGU antes mesmo do início deste processo e

juntado aos autos na fase do art. 402 do Código de Processo

Penal .

Tal fa to demonstra, de forma cabal e

i rre futáve l , o indiscut íve l interesse do Acusado em tomar

c iência do que realmente ocorr ia em setor da empresa cujos

meandros até aquele momento desconhec ia .

24. Com a real ização da auditor ia e a

constatação de i r regular idades na Ecov ix , o Acusado buscou

órgãos o f ic ia is , em espec ia l a CGU, com a f i rme vontade de

celebrar acordo de len iênc ia que soluc ionasse a questão . E

inic iou essas t ratat ivas antes mesmo de ser invest igado ou se

tornar réu em processo cr iminal re lacionado à Operação Lava

Jato .

Não fo i iner te nem omisso. Agiu quando p ôde

e assim que teve c iência daqui lo que, até então, lhe era

desconhecido em vi rtude única e exc lusivamente da estrutura

cr iada e ex is tente em empre sa que, soz inho, jamais conseguir ia

modi f icar .

2. PETROBRAS

66

A ) NÃO INCLUSÃO DE JOSÉ ANTUNES SOBRINHO COMO RÉU NO

PROCESSO DECORRENTE DA 7 ª FASE DA OPERAÇÃO LAVA JATO

25. A 7ª fase da Operação Lava Jato,

denominada Juízo Fina l , t rata de fa tos senão iguais , bastante

semelhantes aos da presente ação penal .

Naquele processo 44, apurou-se a existência

de “Carte l ” composto por diversas empresas, dentre e las a

ENGEVIX , para frustrar l ic i tações na Petrobras em contratação

de grandes obras , dentre e las na RNEST, REPA R, RLAM e RPBC

mediante repasse de cerca de 1% do va lor dos contratos à

Diretor ia de Abastecimento da PE TR O BRA S , mais especi f i camente

PAU LO RO BER TO CO S TA , e a part ido pol í t i co .

Re fer idos va lores ter iam s ido

d isponib i l izados por execut ivos da Engevix por i ntermédio de

contratos f raudulentos f i rmados com empresas contro ladas por

ALBE R TO YOU S S EF .

O que se viu naquele processo é

justamente o que aqui se apura, com duas singelas

di ferenças: diretoria da PETROBRAS envolvida e “operador” do

apontado esquema.

Naquele pr imeiro processo , foram

denunciados, como representantes da ENGEVIX , CAR LO S EDUA R D O

STR AU CH ALBE R O , NE W TO N PR AD O JU NI OR e LUI Z RO BE R TO PER EI RA , à

época dos fatos di re tores da empresa, e GERSON DE MELLO

ALMADA , v ice-pres idente, também réu nesta ação penal .

44 5083351­89.2014.4.04.7000/PR

67

Apenas GERSON DE MELLO ALMADA fo i

condenado naquela ação: os demais d iretores da ENGEVIX foram

abso lv idos por dúv ida razoável quanto a sua atuação dolosa nos

fatos.

Portanto , causa estranheza que em um

processo que apure fatos análogos , prat icado dentro da mesma

s is temática e meios , em relação exclus ivamente a contratos com

a Petrobras, o Acusado tenha se tornado réu e , mais do que

isto, busque a Acusação condená- lo fugindo das provas e em

v is ta de sua ínt ima convicção.

Nada se al terou daquele pro cesso para este,

especialmente com re lação a fa tos pretér i tos . Assim, se JOSÉ

ANTUNES SOBRINHO não integrou o polo passivo da pr imeira ação

penal por estar completamente a fastado do setor de ó leo e gás

da Engev ix , nada just i f i ca , agora , sua inc lusão neste fe i to .

A responsabi l idade do Acusado, aqui , é

meramente contratual , objet iva, impass ível de punição na esfera

penal .

* * *

O rac iocínio que aqui se faz já chegou a ser

expl ic i tado inc lus ive por Vossa Excelência ao re je i tar par a

GERSON ALMADA a denúncia formulada no processo 5044464-

02.2015.4.04.7000/PR (E le tronuclear ) .

Naquela oportunidade, Vossa Exce lênc ia

reconheceu que a ENGEVIX t inha setores bem div ididos e

independentes , compet indo a GERSON ALMADA a área de ó leo e

gás e a JOSÉ ANTUNES SOBRINHO o setor e lét r ico :

68

“No âmb i t o da Engev i x , é c e r t o que as p r ov as apont am, em

pr in c í p i o , par a a r e sponsab i l i dade p r in c i pa l do D i r e t or José

An t unes Sobr inho , mas cumpr e r essa l v ar que t ambém o

P r e s i den t e Cr i s t i ano Kok , a l ém de sua r e spons ab i l i dade

g e r enc i a l s obr e a empr esa , t ambém subsc r ev eu con t r a t os

f r audu l en t os com a L ink Pr o j e t os .

Quan t o à Ger son A lmada , V i ce Pr e s i den t e da Engev i x ,

en t endo que , apesa r de s e r p r ov áv e l que t i v e sse

conhec imen t o do e squema f r audu l en t o , f a l t am me lhor es

e l em en t os a j us t i f i c a r a j us t a causa em r e la ção a e l e ,

obse rv ando que , d i f e r en tement e do que oco r r e com a

Andr ade Gut i e r r ez , o s c on t r a t os da Engev i x c om a

E l e t r onuc l ear são expr ess i v os , mas não b i l i onár i os . Como

Gerson A lmada aparentemente es tava mai s v incu lad o à

á rea de ó l eo e gás , t anto ass im que denunciado na ação

pena l 508335189 .2014 .404 .7000 , entendo f a l tar , quanto a

e l e , no momento ju s ta causa para o receb imento da

denúnc ia e s em pr e ju í z o de r e t omada s e sur g i r em novas

p r ov as . ” (Ev en t o 7 , P . 9 , Gr i f ado )

A fa l ta de e lementos que just i f i cassem a

instauração daquele processo contra GERSON ALMADA é a mesma

que subsis te aqui , de forma abso luta, para condenar o Acusado

por fa tos re lat ivos à PETROBRA S .

I sto é o que se conc lu i de forma serena pela

anál ise de todas as provas colhidas ao longo da instrução.

B ) I NEX ISTÊNCIA DE PROV AS QUE APONTEM PARA O ENVOLVIMENTO DE

J OSÉ ANTUNES SOBRINHO EM ATOS ENVOLVENDO A PETROBR AS

26. Os depoimentos colhidos por Vossa

Exce lênc ia , espec ialmente aqueles já t ranscr i tos no iníc io desta

peça, corroboram o a fastamento do Acusado dos fa tos aqui

69

apurados que, rep ita-se , estão restr i tos à PETROBRAS e ao setor

de ó leo e gás da ENGEVIX .

Toda prova oral é uníssona em afastar o

Acusado de tudo aqui lo que envolveu a PETROBRAS .

Destes depo imentos , merece re levo aqui lo

que fo i t raz ido pe lo colaborador M ILTON PASCOWITCH que, por

sua importância, será tratado em capí tu lo a parte.

O Diretor de abastec imento da PETROBRAS ,

PAULO ROBERTO COSTA , nunca conversou com JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO sobre os fa tos que são objeto deste processo. Seu

contato era com GERSON ALMADA :

“Mini s té r io Púb l i co Federa l : Com quem o senhor , qua l e ra

o conta to que o senhor t inha na Engev ix?

Depoente : Gerson A lmada .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Mini s tér io Púb l i co Federa l : E José Antunes Sobr inho?

Depoente : Também não l embro de te r conversado com e le

sob re esse tema não , que eu me lembro é só do Gerson . ”

( T e s t emunha de acusação Pau l o Rober t o Cos ta – Even t o 464

– T e rmo de Tr ans cr i ção . Gr i f ado . )

Da mesma forma, ALBERTO YOUSSEF também

jamais tratou de qualquer assunto com JOSÉ ANTUNES SOBRINHO .

Com e le sequer se reuniu:

“Mini s té r io Púb l ico Federa l : O senhor chegou a d i scut i r

e s ses assuntos espec í f icos de repasses de va lo res , de

p rop inas , com os execut ivos dessas duas empresas?

Depoente : Na Skanka eu f a l e i com o C láud io , que e ra um

dos d i re tores , e na Engev ix sempre f a l e i com o Gerson

A lmada .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Mini s t ér io Púb l i co Federa l : E o José Antunes?

70

Depoente : José Antunes eu v i uma vez quando eu fu i na

Engev ix , numa reun ião com o Gerson A lmada , mas não me

l embro de te r t ra tado nada com e le .

M in i s tér io Púb l ico Federa l : Essa reun ião f o i p ra d iscut i r

e s ses r epasses , e sses i l í c i tos?

Depoente : Com o Gerson A lmada s im.

Mini s tér io Púb l ico Federa l : O José Antunes não

par t i c ipou dessa reun ião?

Depoente : Não . ”

( T e s t emunha de acusação A lbe r t o Yousse f – Ev en t o 464 –

T e r mo de Tr anscr i ção . Gr i f ado . )

AUGUSTO R I BE IRO MENDONÇA NETO também

nada t ratou com JOSÉ ANTUNES SOBRINHO :

“Min i s t é r i o Púb l i co Fede r a l : E com qua i s e xecu t i v os da

Engev i x o s enhor d i s cu t iu i s so , e s s es a jus t e s do ca r t e l e o s

pagament os?

Depoen t e : Os pagament os nunca f o ram d i s cu t i dos en t r e as

c ompanh ias , e l e s e r am comen tados , i sso e r a uma co i sa

mu i t o c or r en t e , mas as comb inações sobr e p r opos t a de

cobe r t u r a , quem i r i a g anhar , quem era o representante da

Engev ix era o Gerson A lmada .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

M i n i s t é r i o Púb l i co Fede ra l : O p r ópr i o Ger son A lmada

pa r t i c i pav a das r eun i ões?

Depoen t e : S im.

Mini s tér io Púb l i co Federa l : O senhor chegou a conhecer e

t r a ta r com Cr i s t i ano Kok e José Antunes?

Depoente : Desses assuntos não .

Mini s tér io Púb l i co Federa l : A lguma v ez Gerson A lmada f ez

menção que f a la r ia com os demai s sóc ios , no caso os do i s ,

sob re esses assuntos?

Depoente : Não que eu me recorde .

M in i s tér io Púb l i co Federa l : Nessas reun iões quem eram os

representantes da Engev ix , houve a l t e rnânc ia ou sempre

f o ram os mesmos?

Depoente : Não , f o i sempre o Gerson . ”

71

( T e s t emunha de a cusação Augus t o R ibe i r o de Mendonça Ne to

– Ev en t o 464 – T e rmo de T r anscr i ção . Gr i f ado . )

O co laborador R ICARDO PESSOA , assim como

os demais depoentes , sequer se reuniu com JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO :

“Min i s t é r i o Púb l i co Fede r a l : Quem repr esen t av a a Empr esa

Engev i x?

Depoente : E ra o Gerson A lmada .

Min i s tér io Púb l i co Federa l : Apenas e l e?

Depoente : Só me reun i com e le . ”

( T e s t emunha de acusação R i car do R ibe i r o Pessoa – Ev en t o

468 – T e r mo de Tr anscr i ção . Gr i f ado . )

Neste mesmo sent ido fo i o depoimento de

DALTON DOS SANTOS AVANCINI :

“Mini s té r io Púb l i co Federa l : Espec i f i camente com re lação

à Engev ix , o senhor consegue recordar qua l ex ecut ivo que

pa r t i c ipava das reun iões desse g rupo de empre i te i ras?

Depoente : O que eu t inha conta to e ra o Gerson A lmada ,

que e ra a pessoa que cu idava d i re tamente .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : E l e d i s cu t i a pessoa lment e e s sa

ques t ão de p re ços , p r e f e r ênc i a s . . .

Depoen t e :S im. ”

( T e s t emunha de acusação Da l t on dos Sant os Av anc in i –

Ev en t o 4 68 – T e r mo de Tr anscr i ção . Gr i f ado . )

O Diretor PETROBRAS PEDRO BARUSCO , réu e

co laborador, nem conhec ia JOSÉ ANTUNES SOBRINHO :

“Ju i z Fede ra l : A Engev i x , e s sa empr esa o s enhor conhece?

In t e r r ogado : S im.

Ju i z Feder a l : E la e r a uma das empresas que pagav a es ses

v a l o r e s?

In t e r r ogado : S im.

72

Ju i z Feder a l : O s enhor t ev e c on ta t o com execu t i v os da

Engev i x?

In t e r r ogado : S im.

Ju iz Federa l : Sob re esses pagamentos?

Inte r rogado : Não, e s sa ques tão dos pagamentos eu

d i scut i a com o representante , o Senhor Mi l ton

Pascowi tch .

Ju iz Federa l : O senhor nunca t ra tou desses assuntos

d i re tamente com os execut ivos da Engev ix?

Inte r rogado : Mer i t í s s imo, eu tente i f aze r um exame de

memór ia , eu não me recordo de te r conversado . Eu t inha

ass im mui tas reun iões , e spec i f i camente com o Doutor

Gerson A lmada , que e ra a pessoa que eu . . . Eu conhec ia ,

vamos d i ze r a ss im, os ou tros execut ivos da Engev ix , mas

nunca ass im, só cumprimentava soc i a lmente em a lgum

encont ro , a l guma pa les t ra e ta l , não t i ve nada ass im, nem

vamos d i ze r inst i tuc iona lmente , mas com o Doutor

Gerson eu conversava s im, conversava mui to , po r que?

Po r que a Engev i x , e l a , v amos d i z e r a s s im, e l a não e ra um

f or necedor t r ad i c i ona l da PETROBRAS e começou na minha

época , e l a f e z um pr ime i r o c on t r a t o , t ev e um bom

desempenho, pegou um segundo con t r a t o , f o i uma empr esa

impor t an te que compr ou l á o e s t a l e i r o do su l , inv es t iu

bas t an te .

Ju i z Fede ra l : O s enhor não s e r e co r da de t e r t r a t ado

d i r e t ament e . . .

I n t e r r ogado : Com o Ge r son não me r eco r do , eu l embr o de t e r

t r a t ado mu i t o a ssun t o t é cn i co , i ns t i t u c i ona l , g e r enc i a l , c om

e l e . E de t e r a s s im essa ques t ão das com i ssões e pr op inas e

t a l , c onv er sar c om o Senhor M i l t on Pascow i t ch . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Pedr o José Ba r usco F i lho – Even t o 670 –

T e r mo de Tr anscr i ção )

JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH , também réu e

co laborador, informou que seu irmão M ILTON t ratava apenas com

GERSON :

“Ju i z Feder a l : O senhor par t i c i pav a das negoc i a ções desses

a ce r t os de p r op inas?

73

I n t e r r ogado : Não , das negoc i a ções não .

Ju iz Federa l : Quem f az i a i s so?

Inte r rogado : E ra o Mi l ton com o Gerson da Engev ix . ”

( I n t e r r oga t ór i o de José Ado l f o Pascow i t ch – Even t o 670 –

T e r mo de Tr anscr i ção . Gr i f ado . )

Por f im, JOSÉ D IRCEU DE OL IVE IRA E S ILVA ,

que ao longo de seu depoimento informa que nunca conversou

com JOSÉ ANTUNES SOBRINHO sobre a PETROBRAS :

“Ju i z Fe de ra l : Quem er a o s eu in t e r l ocu t o r na Engev i x?

In t e r r ogado : S empr e o s enhor Ger son A lmada . O s enhor

An t unes , eu e s t i v e c om e l e e t udo , mas não e ra

r e sponsab i l i dade de l e .

Ju i z Feder a l : O s enhor chegou a pr es t ar a l gum serv i ç o pa ra

a Engev i x em r e la ção a e sse s con t r a t os no âmb i t o aqu i

i n t e r no?

In t e r r ogado : Não .

Ju i z Feder a l : A l guma co i sa r e l ac i onada à PETROBRAS?

In t e r r ogado : Não .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : Nesse caso dos con t r a tos e

ad i t i v os com a Engev i x , Ger son A lmada , o s dema i s

e xecu t i v os da Engev i x r e l a t a r am uma sé r i e de d i f i cu l dades

na PETROBRAS, e l e s nunca l he f a l a ram, nunca l h e ped i ram

a juda par a usar o s eu pr e s t í g i o par a a juda r na PETROBRAS?

In t e r r ogado : Não . Não , eu nunca conve rs e i c om o senhor

Ge r son A lmada ou s enhor Ant unes sobr e a PETROBRAS,

a l i á s dec l a r ar am i sso nos aut os , nunca . ”

( I n t e r r oga t ór i o de José D i r c eu de O l i v e i r a e S i l v a – Ev en t o

722 – T e r mo de Tr anscr i ção . Gr i f ado . )

Em complemento a esta prova, os

interrogatór ios dos três sóc ios da ENGEVIX , conforme já se

t ratou, t raz detalhes acerca da div isão de funções com pleni tude

de poderes e gestão que cada um det inha iso ladamente, fundada

na autonomia e conf iança,

74

GERSON ALMADA sequer mencionou a JOSÉ

ANTUNES SOBRINHO as reuniões que teve com outras empresas:

“Ju iz Federa l : Hav ia reun iões ent re os d i r i gentes das

empre i te i ras?

Inte r rogado : S im, hav iam reuniões .

Ju i z Federa l : O senhor pa r t i c ipou das reuniões?

Inte r rogado : Pa r t ic ipe i dessas reun iões .

Ju i z Federa l : Dessas reuniões ent re as empre i te i ras p ra

de f in i ção de pre f e rênc ia , os seus sóc ios t i nham

conhec imento d isso?

Inte r rogado : Nunca menc ione i .

Ju i z Federa l : E les f o ram em a lguma dessas reun iões?

Inte r rogado : Não fo ram.

Ju i z Federa l : O senhor f az i a i s so soz inho pe la Engev ix?

Inte r rogado : Soz inho . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Ge r son de Me l l o A lmada – Even t o 722 –

T e r mo de t r anscr i ção . Gr i f ado . )

E , conforme re forçou CRISTIANO KOK , a

gestão dos contratos PETROBRAS e subcontratos de le resul tantes

compet ia com exc lus iv idade a GERSON ALMADA :

“uma ve z ganha a l i c i t a ção , a g e s t ão dessa con t r a t ação , a

g e s t ão d esse con t ra t o , t odos os con t r a t os decor r en t es desse

con t r a t o ma i or e ram t omadas pe l o dou t o r Ger son ( . . . ) e l e

não p re c i sa r i a comun i car a nós a necess i dade dess e

pagament o ( . . . ) os v a l o r e s e r am margens que não e r am

s i gn i f i c a t i v as den t ro do con t r a t o .

( . . . ) o s enhor Ger son t i nha au t onomia comp l e t a na ár ea de

a t uação de l e , t i nha a r esponsab i l i dade e e r a cobr ado

mer ament e pe l os r e su l t ados .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : T inha dec i s õe s , po r e xemp lo ,

s obr e f o r mação de consó r c i os , e r am tomadas nesse con tex t o?

In t e r r ogado : Não e r am, nor malment e e r am dec i sões t omadas

no âmb i t o do dou t o r Ger son , mas , pos t e r i o r ment e , po r

75

obr i gação do con t r a t o s oc i a l e l a s e r am submet i das ao

conse lho par a r a t i f i c a ção , mas e ram t omadas no âmbi t o da

g e s t ão d i r e t a . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Cr i s t i ano Kok – Ev en t o 691 – T e r mo de

t r ansc r i ção . Gr i f ado . )

Por f im, JOSÉ ANTUNES SOBRINHO também

conf irmou seu absoluto afastamento de todas as questões

re lat ivas à PETROBRAS que, no âmbito da ENGEVIX , eram tratadas

exclus ivamente por GERSON ALMADA :

“ ( . . . ) eu nunca me envo lv i com a PETROBRAS

pessoa lmente , eu não conheço , pa r a lhe da r um exemplo ,

nenhum desses p r inc ipa i s d i re tores c i tados a í na

operação , não me envo lv i com i s so , e u não t inha

conhec imento de pagamento de prop ina , e ra rea lmente

uma ges tão bem descent ra l i zada , como tem que se r , então

eu v im tomar c i ênc ia de f a tos mai s à f r ente , quando a

operação f o i de f l ag rada , que eu d i r i a que f o i no segundo

t r imestre do ano de 2014 .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

( . . . ) Eu não par t ic ipava , mer i t í s s imo, das negociações de

PETROBRAS, como eu d i s se , e l e t inha l i be rdade , e le

tocava l á as re l ações com a PETROBRAS , eu inc lus ive aqu i

acompanhe i a s aud iências de acusação , eu es tava aqu i

sentado a t rás , mas eu não t inha , e le t inha essa l i be rdade

de t raba lhar o l ado de PETROBRAS, eu não tomava

c i ênc ia , i sso não e ra uma co i sa d i scut ida comigo .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : Ce r t o . E l e c i t ou que houv e , por

e xemp lo , pagamentos de 6 a 7 mi lhões na r e f i nar i a Abr eu e

L ima , ou t r os 3 mi lhões na r e f inar ia de Cuba t ão , par a a s

empr esas do A lbe r t o Yousse f e que Yousse f t e r i a uma

conexão po l í t i ca com o pa r t i do p r og r ess i s t a , e que e s ses

pagament os s e dav am par a que a Engev i x não f o s se

p r e jud i cada nos pagamen t os de ad i t i v os , med i ções de ob r a .

A l guma v ez e l e c omen t ou i s so com o senhor ?

76

I n t e r r ogado : Douto r , i s so a í f o i após a de f l ag raç ão da

ope r ação Lava Ja t o .

M in i s t é r i o Púb l i co Fede r a l : A en t r ev i s t a s im, mas os

pagament os f o r am an te s .

Inte r rogado : Não , não . Em re lação a e sses pagamentos a í

que o senhor re lac ionou não , nem fo i comentado nunca

por e l e , i s so a í f az i a pa r te da ges tão do doutor Gerson e

emba ixo dos contra tos que es tavam lá v igendo naque le

momento .

M in i s tér io Púb l i co Federa l : Então no cu rso da execução

das ob ras da PETROBRAS a té a de f l ag ração da Lava Ja to ,

o Cr i s t i ano Kok nunca menc ionou ao senhor que a

Engev ix est ivesse send o ex torqu ida ou que es t i vessem

sendo ex ig idos pagamentos indev idos?

Inte r rogado : Não .

M in i s tér io Púb l i co Federa l : Da mesma f o rma , eu pe rgunto

em re lação a Gerson A lmada , a l guma vez e l e menc ionou

que t ivesse essas so l i c i tações , es sas ex igênc ias?

Inte r rogado : Não , não senhor .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : O s enhor e r a p r e t e r i do nas

t r a t a t i v as r e f e r en te s à PETROBRAS? Hav i a r eun i ões em que

só par t i c i pav am Cr i s t i ano Kok e Ger son A lmada?

In t e r r ogado : Douto r , s e e l e s f az i am a l guma r eun i ão , na

v e r dade , eu t en t e i qua l i f i c a r i s so da í desde o c omeço , eu

t inha uma sé r i e de a t r ibu ições e e ssa e ra uma re l ação de

conf i ança , da í a au tonomia que e l e s t inham, se e le

d i scut i a com o Gerson a l gum deta lhe em re lação a a l gum

cont ra to e l e t inha essa au tonomia pa ra f aze r , dentro do

tamanho dos cont ra tos que e l e s t inham. A sua pe r gun t a é

s e eu e r a pr e t e r i do de uma mane i r a , v amos d i z e r , o r gân ica . . .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : Eu pe rgunt o , a s s im , se hav i a . . .

I n t e r r ogado : Não , e l a não e r a uma s i t uação o rgân i ca , era

uma s i tuação operac iona l mesmo, e l e cu idava l á , eu

cu idava aqui , o Cr i s t i ano cent ra l i zando as operações

f inancei ras l á em c ima , e pod ia es ta r conversando com

um, pod ia es ta r conversando com out ro . Como eu lhe

f a l e i , eu nunca t i ve nenhuma conversa com o doutor

Yousse f , não o conhe c ia .

77

Mini s tér io Púb l ico Federa l : O senhor tomou conhecimento

sob re a cont ra tação do Pau lo Roberto Cos ta?

Inte r rogado : Não .

Min is t é r i o Púb l i c o Fede ra l : Cer t o . Na busca e ap r eensão , o

e xce l en t í s s imo ju í zo j á ques t i onou sobr e a jus t e de p r eço com

ou t r as empr e i t e i r as , eu só v ou f az e r uma comp l ement ação na

pe r gun ta , f o r am apr eend idos uma s é r i e de t abe la s , uma

e spéc i e de d i v i são de ob r as en t r e empr e i t e i r a s que

conco r r i am nas g randes l i c i t a ções da PETROBRAS, e x i s t i am

l á t abe la s desde 2007 , 2006 , a t é ob r as do COMPERJ que

acho que é uma das ú l t imas g r andes l i c i t a ções que a Engev i x

pa r t i c i pou na á r ea de abas t e c iment o , o s enhor a l guma ve z s e

depa r ou com esses documen t os an te s da ope r ação , a l guma

v ez f o i d i s cut i do sobr e e s sa d i s cussão de p r e f e r ênc i a s en t r e

empr e i t e i r a s c om os demai s s óc i os?

Inte r rogado : Não , não . O doutor Gerson conduz ia , como

lhe f a le i , de uma mane i ra comple tamente au tônoma essas

suas re l ações , a s suas reun iões , o que possa te r

acontec ido .

Def esa : Senhor José Antunes , para que f i que bem c la ro ,

nas reun iões que o senhor t inha com os seus sóc ios

ace rca de cont ra tos ou cont ra tações da PETROBRAS,

vocês d i scut i am deta lhadamente os cont ra tos das

empresas f o rnecedoras de se rv iços , p res tadoras de

se rv iços , va lo res , cont ra tos , o que faz i am?

Inte r rogado : Não . O que se f az norma lmente é o segu inte ,

é apresentado o espe lho do cont ra to com os resu l tados e

margens esperadas , os r i scos assoc iados ao cont ra to , e é

i s so , nesse n íve l .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Defesa : Dent ro da empresa , no d i a a d i a da empresa , você

ques t ionava os seus sóc ios ace rca das ações ou o que e l e s

f az i am, cada um t inha o seu p rópr io escopo ou e ra

ques t ionado por e l e s sob re o que você f az i a , ou t inha

tota l au tonomia?

Inte r rogado : A autonomia e r a to ta l , i nc lus ive , pe lo que o

senhor pode nota r pe lo c resc imento das empresas não

t inha manei ra de t raba lhar , então hav ia os conse lhos e

hav ia ava l i ação de resu l tados . ”

78

( I n t e r r oga t ór i o de José Ant unes Sobr inho – Even t o 691 –

T e r mo de t r anscr i ção . Gr i f ado . )

27. A inda que os sóc ios d iscut issem, de forma

macro empresar ia l , as posturas e atuações da empresa, cada um

de les atuava isolada e autonomamente na gestão dos contratos

re lat ivos à sua área de controle .

Exatamente por isto, t odas as testemunhas e

interrogatór ios convergem no mesmo sent ido : o Acusado nunca

part ic ipou de qualquer reunião, negociata ou administração de

contratos da ENGEVIX com a PETROBRAS . Pe lo contrár io : em sua

opin ião, esta empresa impl icou verdadeiro “desastre ”45 na

h istór ia da ENGEVIX .

A lém de sua condição de sócio, não há, nos

autos, uma única f rase , l inha ou palavra capaz de l ig á- lo , por

mais remotamente que se ja , aos fatos que deram ensejo à

instauração deste processo .

Nada. Nenhuma prova se produz iu para

v inculá- lo aos cr imes apurados. Muito pelo contrár io: a verdade,

inabalável , é uma só : JOSÉ ANTUNES SOBRINHO não prat icou

45 Defesa:Por f im, para o senhor, José Antunes Sobrinho, o que s ignif icou a PETROBRAS na sua v ida e na história da empresa?

Interrogado:Um desastre.

Defesa:Por que?

Interrogado:Porque nós perdemos d inheiro, muito d inheiro, t ivemos, eu quero d izer, até aproveitar doutor, muito boa a sua pergunta, contratem qualquer auditor f inanceiro ( inaudível ) e coloca lá para ver o prejuízo que nós levamos na RNEST, quer d izer, pagase propina indevida e levase um prejuízo desse tamanho, não só a Engevix, outras. Perdemos d inheiro em manutenção de p lata forma, talve z incompetência, mas eu diria para o senhor que esse per íodo da PETROBRAS, a PETROBRAS basicamente nos obrigou a vender a Desenvix, venda em torno de 1 bilhão de rea is praticamente para cobrir os

buracos que nós t ivemos para trás, então se v ier me pergunta r, o senhor está perguntando até para a pessoa errada, eu sou completamente avesso, lamento que uma empresa com o nome que essa empresa teve está sucumbindo numa situação dessas, perdendo d inheiro e reputação, porque reputação não se constrói .

79

qualquer ação ou omissão que tenha contr ibuído para o

resultado apontado na inic ia l .

C ) AUSÊNCIA DE RELAÇÃO ENTRE J OSÉ ANTUNES SOBRINHO

E MILTON PASCOWITCH

28. Somente depois de ser def lagrada a Operação

Lava Jato é que o Acusado teve conhecimento de que M ILTON

PASCOWITCH e fetuou vul tosos pagamentos a Diretores da

PETROBRAS e a part idos po l í t icos, tudo a t í tu lo de propina.

Antes disso, apenas sabia que e le t inha s ido

contratado di re tamente por GERSON ALMADA , mas ignorava quais

os serv iços decorr iam desta contratação.

* * *

O re lacionamento de GERSON ALMADA e

M ILTON PASCOWITCH ex ist ia há longa data. Em 2002 ele já

t rabalhava com GERSON ALMADA em questões re lat ivas à CDHU e,

depois disso, passou a desenvo lver suas at iv idades, a pedido

deste sócio, junto à PETROBRAS :

“Ju i z Feder a l : E ssa ques t ão , o s enhor M i l t on Pascow i t ch o

s enhor não conhec ia?

In t e r r ogado : Eu conhec i a , s im senhor .

Ju i z Feder a l : Qua l e r a a r e l a ção de l e c om a Engev i x?

In t e r r ogado : Dout or , a r e l a ção de l e com a Engev i x e r a uma

r e l a ção l onga , o doutor Mi l ton Pascowi tch t raba lhava

mui to l i gado ao sóc io Gerson de Me lo A lmada e v i nha

desde 2002 , po r a í , onde e l e de t ém uma f or mação na

Po l i t é cn i ca de São Pau l o , e l e e o i rmão , e e l e s em a l guns

moment os , no in í c i o p r in c i pa lment e , e l e s t r aba lhav am em

con junt o com a Engev i x em cont r a tos de hab i t ação , CDHU,

co i sas dessa na t ure za ; d epo i s , pos t e r i o r ment e , e l e c omeçou a

t r aba lhar c om o dou t o r Ger son como agent e c omer c i a l , c omo

80

um desenv o l v edo r de negóc i os r e l a t i v o a c on t r a t os de

PETROBRAS. ”

É óbv io que JOSÉ ANTUNES SOBRINHO sabia

que M ILTON PASCOWITCH mantinha contratos com a ENGEVIX .

Apesar d is to , desconhecia o escopo de ta is contratos bem como

a at iv idade efet ivamente desenvo lv ida por e le .

Para ANTUNES , M ILTON PASCOWITCH buscava

desenvolver negóc ios e t razer oportunidades l í c i tas :

“Ju i z Fede ra l : E o que e l e f az i a e xa tament e , o q ue o s enhor

t inha conhec imento na época que e l e f a z i a par a a Engev ix?

In t e r r ogado : Dout or , e l e ab r i a , v amos d i z e r , e l e i a pesqu i sar

qua i s e r am os p r o j e t os que i am sa i r , que eu s e i , i s so aqu i

t ambém não e r a t an t o a m inha ár ea , mas e l e t raba lhava

mui to d i re t amente com o doutor Gerson , mas e l e cu idava

de ve r i f i ca r qua i s e ram os p lanos es t ra tég i cos que

ex i s t i am na PETROBRAS , r e f i no , e l e f o i a pessoa que

desenv o l v eu mui t o a v i são de e s t a l e i r o , en t ão é i s so que . . .

Ju i z Feder a l : Mas e l e pr e s t ava a l gum serv i ç o t é c n i co , e l e ou

a empr esa de l e , a JAMP?

In t e r r ogado : Acho que no i n í c i o , dou t o r , e l e p r es tava

s e r v i ç os t é cn i cos , depo i s a cho que e r a mu i t o r e l a c i onado

com o conhec iment o de l e mesmo em desenv o l v e r n egóc i os e

t r a z e r opo r t un idades . ”

Desconhecia, portanto , que M I LTON

PASCOWITCH repassava valores a RENATO DUQUE e PEDRO

BARUSCO :

“Ju iz Federa l : O senhor não t inha conhec imento na época ,

como a f i rma aqu i a acusação , de que e l e repassava va lo res

aos d i re tores l á , Renato Duque E Pedro Barusco?

Inte r rogado : Não , não t inh a conhec imento , doutor . ”

81

Nem mesmo os contratos celebrados entre a

ENGEVIX e a empresa de M I LTON PASCOWITCH eram de

conhec imento do Acusado. Somente após a pr isão de GERSON

ALMADA é que, procurando entender a re lação histór ica do

contratado com sua empresa, teve acesso a um pacote de 30

( tr inta ) contratos entre a ENGEVIX e a JAMP :

“De f e sa : Você t ev e c onhec iment o ou t ev e a cesso aos

con t r a t os c e l ebr ados com as empresas de Pascow i t ch , an te s

da ope ração Lava Ja t o , an t e s de v ocê a ssumir a Ecov i x?

In t e r r ogado : Não , eu acho a t é que eu comen t e i i s so , em

de z embr o de 2014 o dou t o r Pascow i t ch , Mi l t on e José Ado l f o

f o r am a minha casa a ped ido meu pa r a eu en tender qua l e ra

a r e l a ção h i s t ór i ca de l e s l á desde a CDHU, com um t r aba lho

de coo r denação , a t é o s demai s ; e l e l ev ou um paco t e de 30

con t r a t os .

Defesa : I s so que eu quer i a saber , mas a té então você

desconhec ia esses cont ra tos , você t inha acessado

f i s i camente os cont ra tos a té então?

Inte r rogado : Não , não . ”

Nunca part ic ipou de qualquer reunião com

M I LTON PASCOWITCH que se re lac ionasse à PETROBRAS , assim

como também jamais presenciou reunião t ravada entre e le e seu

sócio GERSON ALMADA :

“Defesa : A lguma vez você pa r t i c ipou de a l guma reun ião

com Mi l ton Pascowi tch acerca de PETROBRAS?

Inte r rogado : Jamai s .

Def esa : A lguma vez você p resenc iou uma reun ião de le com

o Gerson , d i scut indo sob re PETROBRAS?

Inte r rogado : Não também, não , e le s cu idavam, na ve rdade ,

p ra lhe responder me lhor essa pe rgunta eu acho que se eu

v i o Pascowi tch , a l ém de vê lo nesse cor redor , eu não v i

dez vezes o Pascowi tch . ”

82

Este quadro ev idenc ia que JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO desconhecia por completo o que faz ia M I LTON

PASCOWITCH . Somente depois da def lagração da operação Lava

Jato e deste processo é que soube que, d iversamente de abrir

novos negóc ios e oportunidades, e le e fe tuava pagamentos

indevidos:

“De f e sa : Só par a que f i que bem c l a r o , o s enhor f a l ou aqu i

que o Pascow i t ch cu idava de abr i r n egóc i os , i s so é o que e r a

i n f o rmado pa r a o s enhor an t e s da ope r ação ou ho j e o s enhor

a inda acha que e l e ab r i a n egó c i os , o que o s enhor v iu , o que

o s enhor sabe d i s so , o s enhor f a l ou ass im “Não , o

Pascow i t ch cu idava de abr i r negóc i o ” , ho j e , depo i s da

ope r ação , depo i s do p r ocesso , é i s so que e l e f a z i a ou não?

In t e r r ogado : Bom, doutor , i s so a í f i cou bas tante óbv io ,

uma co i sa e ra aber tu ra de negóc io , depo i s ,

pos te r io rmente , o desenvo lv imento dos negóc ios ou

s i tuações de pagamentos indev idos f i ca ram

carac te r i zadas . ”

( I n t e r r oga t ór i o de José Ant unes Sobr inho – Even t o 691 –

T e r mo de t r anscr i ção . Gr i f ado . )

Somente agora, portanto, o Acusado teve

p lena c iênc ia de que os contratos de ref inar ias como RELAN,

REPAR, Cubatão, Cacimbas e outros, desde 2004/2005, geraram

repasses de cerca de 1% do va lor do contrato a M ILTON

PASCOWITCH . Este “estocava” re fer ido montante e os pagava, em

forma de propina, conforme interesse e conveniênc ia por e le

mesmo estabe lecidos .

Assim agiu sem qualquer ingerênc ia,

f isca l i zação ou desconf iança do acusado, já que o montante

total de aprox imadamente R$ 58 milhões , apesar de

extremamente a l to em va lores abso lutos, representava

percentual coerente com remuneração para funções que e le

83

acredi tava serem l ic i tamente desenvo lv idas por M ILTON

PASCOWITCH .

29. M I LTON PASCOWITCH sempre se re lac ionou

apenas com GERSON ALMADA no âmbito da ENGEVIX . Jamais

part icipou de “conversa com o Antunes referente a esse

contrato. Al iás, referente a esse e nem a nenhum ” 46

M I LTON PASCOWITCH , JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH

e PEDRO BARUSCO , réus neste processo , são co laboradores e

foram ouvidos sob o compromisso lega l de dizer a verdade.

Verdade, esta , que não pode ser f racionada ao longo dos

depoimentos que prestaram. Verdade, por s ina l , que refer enda

tudo o que fo i fa lado pelo Acusado no sent ido de que jamais , em

momento a lgum, t ratou ou teve conhec imento de pagamento de

propina por intermédio de M ILTON PASCOWITCH , com quem não

mant inha qualquer t ipo de re lacionamento.

Em re forço a isto , ressal te -se que apenas em

dezembro de 2014, em v ir tude do re latór io de audi tor ia

real i zada na ECOVIX pelo escr i tór io BMA 47, é que o Acusado

46

I n t e r r o g a t ó r i o d e M i l t on P a s co w i t ch – E v en t o 6 7 0 – T e rm o d e T ra n s c r i ç ã o .

G r i f a d o .

47 3.2.4. Generic and unclear consult ing services

3.2.4.1. Jamp Engenheiro Associados Ltda.

Regarding Jamp Engenheiro Associados Ltda. (“Jamp”), the Investigation Team identif ied tha t i t is a company owned by Mr. José Adolfo Pascowitch (“Mr. Pascowitch” ). During our analysis of transaction documentation, we identi f ied d if ferent serv ice descr ipt ions re lated to the same contract ECXP00010/00 -1Z-PJ-0011/13:

“coordination services for the analysis of documentation provided by vendors with regard to the implementation of of f -sites at ERG1”; and

“consult ing services in the commercia l area according to contract”.

( . . . )

3.2.4.2. MJP Engineering and Consult ing LLC

MJP Engineer ing and Consul t ing LLC (“MJP”) is a U.S. based company, also owned by Mr. Pascowitch, with which Ecovix has a USD 11,500,000 contract.

84

soube de pagamentos de US$ 21,5 mi lhões em contas mant idas

por M ILTON PASCOWITCH no exter ior .

Por desconhecer a natureza destes vultosos

pagamentos , JOSÉ ANTUNES SOBRINHO convocou M ILTON e JOSÉ

ADOLFO PASCOWITCH para uma reunião, a f im de que se

inte i rasse dos contratos que ambos haviam ass inado com

empresas do Grupo ENGEVIX .

Assim, na res idênc ia do Acusado em São

Paulo, os i rmãos PASCOWITCH lhe ex ib iram todos os contratos

que assinaram ao longo dos úl t imos 12 anos e expl icaram o

ob je to de cada um deles bem como os serv iços prestados.

Insat is fe i to com o que ouviu, o Acusado

prontamente apresentou re fer ido re latór io de compl iance na

CGU, no acordo de len iênc ia que v inha t ratando.

3. JOSÉ DIRCEU

30. Resta aval iar a única conduta e fe t ivamente

prat icada pelo Acusado: v iagem de negócios ao Peru, organizada

The Investigation Team selected and analyzed an advance payment worth USD 800,000 for an invoice worth USD 2 mil l ion. According to the invoice, Mr. Pascowitch was the Vice President and Treasurer as of date of issuance of the invoice. Contract and invoice cite serv ices rendered, including "analysis of technical documents [. . . ] ", "f inancial and economic evaluation [ . . . ] " and "identif icat i on of suppliers, subcontractors and other third part ies outside Brazi l [ . . . ] (specif ica l ly in Europe and Asia [ . . . ] ".

( . . . )

3.3.4. Mr. Crist iano Kok

Mr. Crist iano Kok’s interv iew took place on May 27th, 2015 at BMA’s off ice in São

Paulo. There fol lows a summary of the interviews’ highl ights: ( . . . )

When questioned as to how Milton Pascowitch was paid for h is services, Mr. Kok informed that he received through a company in the USA, MJP. The payments were based on two contracts and tota led US$ 21.5 mil l ion. S ervice orders and payment schedules were a lso used to make the payments. Some contracts s igned with Milton Pascowitch were never paid, according to Mr. Kok, who could not conf irm i f the amounts paid were at market va lue. Mr. Kok stated that a l l contracts s igned with Mr. Pascowitch’s companies were made avai lable in the due d i l igence conducted by the Japanese consort ium that acquired shares of Ecovix.

85

por M ILTON PASCOWITCH e rea l i zada com o corréu JOSÉ D IRCEU .

I sto, segundo o Ministér io Públ ico Federal , ser ia apenas um

art i f íc io para o pagamento de propina e lavagem de d inhe iro.

Estas i lações do Parquet f edera l encontram

óbice na prova produzida durante a instrução cr iminal : a

v iagem efet ivamente ex is t iu e , assim, o escopo da contratação

de JOSÉ D IRCEU pe la ENGEVIX é verdade iro.

Neste sent ido basta confer ir os depoimentos

do Colaborador M I LTON PASCOWITCH e da testemunha ALE S SA NDRO

CAR RA R O , bem como os interrogatór ios dos t rês sóc ios da

ENGEVIX e do próprio JOSÉ D IRCEU :

M I LTON PASCOWITCH

“Ju i z Feder a l : É um cont r a t o c om a JD Assessor ia e

Consu l t or i a em 15/04/2011 , que t e r i a env o l v i do r epasses de

c e r ca de R$ 1 m i lhão en t r e 2011 , no ano de 2011 , dessa

empr esa com a empr esa do José D i r ceu . O que é e s s e

con t r a t o?

In t e r r ogado : Na v e rdade e s se con t ra t o é par a cobe r t ur a das

necess i dades que o e s c r i t ó r i o do José D i r c eu t inha , eu posso

a t é me r e f e r i r c om um pouco ma i s de de t a lhes s e f o r o caso ,

o José D i r c eu , quando nós in i c i amos nosso conta to com o

José D i rceu , acho que e l e t inha e f et i vamente uma a tuação

como consu l tor , eu menc ionei i sso , que achava que a

v i agem de le ao Peru com a Engev ix , comigo , com o

Gerson , com o Antunes e l e f ez a p res tação de se rv i ço , que

eu acho que qua lquer consu l tor f a r i a , ap re sen t ou as

pessoas , ap r esen t ou as empresas , de i xou um pr epos t o pa r a

a companhar os empr eend iment os , s e a empr esa f e chou o

negóc i o ou não f e chou o negóc i o é c ompe t ênc i a do

empr esár i o , a cho que não é do consu l t o r .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Ju i z Feder a l : E o s enhor t em conhec imen t o s e os s e r v i ç os

p r ev i s t os nesses con t r a t os f o ram pr es t ados?

86

I n t e r r ogado : Não , eu . . .

Ju iz Federa l : Não t em conhecimento ou não f o ram

pres tados?

Inte r rogado : Da mesma f o rma que eu ac redi to que o

p r imei ro cont ra to da Engev ix houve p res tação de serv i ço ,

n e sses out r os con t r a t os não houv e pre s t ação de s e r v i ç o .

Ju iz Federa l : Esse p r ime i ro cont ra to que houve p res ta ção

de se rv i ços , o senhor pode me esc la recer que se rv iço f o i

e s se?

Inte r rogado : O José D i rceu acompanhou a José Antunes

Sobr inho e o Gerson A lmada em uma v i agem na qua l eu

es tava ao Peru , pa ra desenvo lv imento de opor tun idades

no Peru , e l e apresentou a l guma s autor idades re l ac ionadas

à in f raes t ru tu ra do pa í s , r e l a c i onada ao M in i s t é r i o das

Águas , que cu ida das ba r r ag ens , e l e mar cou e f o r am f e i t a s

r eun i ões com o pessoa l da Pe t r o Pe ru , f o r am f e i t a s r eun i ões

nesses min i s t é r i o s t odos que e s t ão a í , apesar da v i ag em t e r

s i do ráp ida , e l e de i xou uma p r opos t a l á , que a Za ida S i s son

passou a a companhar e , não e r a r emunerada por nós , e ra

r emunerada pe l o es c r i t ó r i o do José D i r ceu , po r c on ta de l e ,

po r que e l e de i xou uma p r opos t a par a f a z e r e s s e

a companhament o l á das opor t un i dades , das l i c i t a ções , da

documen t ação que e r a necessár i a par a s e ob t e r o g anho das

ob r as .

M in i s t é r i o Púb l i co Fede r a l : Aspec t os bem pon t ua i s . A

p r ime i r a ques t ão é s obr e o S enhor José An t unes , o s enhor

v i a j ou en t ão com e l e , ma i s o José . . .

I n t e r r ogado : Ger son , José D i r c eu e eu .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : Fo r am ao Pe r u , é i s so?

In t e r r ogado : Ao Pe ru .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : I s so f o i . . .

I n t e r r ogado : 2008 .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : 2008. E na execução do p r ime i r o

c on t r a t o da Engev ix c om a JD?

In t e r r ogado : Fo i subsequent e a i s so a a ss ina t ur a do pr ime i r o

c on t r a t o .

Mini s tér io Púb l i co Federa l : O p r ime i ro cont ra to f o i pa ra

l eg i t imar os pagamentos em decorrênc ia dessa v i agem?

87

Inte r rogado : Doutor Robson , não f o i pa ra l eg i t imar , eu me

pos i c iono de novo d i zendo que e fe t i vamente eu achava

que uma re t r i bu ição pe la p res tação de se rv i ços .

Min is t é r i o Púb l i c o Fede r a l : E quem era r esponsáv e l por e s sa

á r ea i n t e r nac i ona l?

In t e r r ogado : A l i e x i s t i a uma r esponsab i l i dade dup l a , po r que

os a ssunt os t r a tados no Per u não env o l v i a s ó a á r ea

i ndust r i a l , que e ra do Ge r son , e x i s t i a mu i t o na á r ea de

ba r r ag ens , c omo eu d i s s e no i n í c i o , nas ba r r agens o , naque l a

a l t u r a a cho que e r a d i r e t o r , nem e ra v i c ep res i den t e , e r a o

José Ant unes . Ent ão , o s do i s es tav am env o l v i dos nesse

con t r a t o .

Mini s tér i o Púb l i co Federa l : Cer to . E após a a ss inatu ra

desse cont ra to houve out ros quat ro cont ra tos .

In te r rogado : S im.

Min i s tér io Púb l i co Federa l : Esses o senhor menc iona que

não f o ram pres tados?

Inte r rogado : I sso , não f o ram pres tados .

M in i s tér io Púb l i co Federa l : O senhor saber i a d i ze r se a

dec i são pe la a ss inatu ra desses out ros quat ro cont ra tos

também passou por ambas as d i re tor i as , do Gerson A lmada

e do Antunes?

Inte r rogado : Esses cont ra tos todos têm re f e rência ao José

D i rceu?

Min i s tér io Púb l i co Federa l : Todos têm re f e rênc ia ao José

D i rceu .

Inte r rogado : Eu ac red i to que tenham passado só pe lo

Gerson . ”

( I n t e r r oga t ór i o de M i l t on Pascow i t ch – Ev en t o 670 – Te r mo

de t ranscr i ção . Gr i f ado . )

ALESSANDRO CARRARO

“De f e sa : Mu i t o bem. O s enhor chegou a f a z e r uma v iag em

pa r a o Per u em companh ia dos sóc i os da Engev i x e do senhor

José D i r c eu?

Depoen t e : S im.

De f e sa : Quando que f o i e ssa v i ag em?

88

Depoen t e : Cer ca de 5 , 6 anos a t r ás , t a l v e z em 2009 , não me

r e cor do exa t amente o mês .

De f e sa : Ent ão es sa v i ag em er a p r a abr i r nov os mer cados ,

i s so?

Depoen t e : É , p ra abr i r nov os mer cados , e xa t ament e , t a l v ez

mer cados que nós , da nossa á r ea , não e s távamos

consegu indo abr i r .

De f e sa : S enhor A l es sandr o , s ó pr a en t ender , en t ão o s enhor

d i s s e que f e z e s sa v i a g em com o s enhor José D i r c eu , en t ão o

s enhor Jo sé D i r c eu de f a t o p re s t ou uma consu l t o r i a p r a

Engev i x , na sua ava l i a ção , e l e apr ov e i t ou pessoas no Peru?

Depoen t e : Ent endo que s im, s im, c or r e t o .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : Ó t imo. Em r e l a ção a e s sa v i a gem

que o s enhor d i s s e que r ea l i z ou em 2009 , em compan h ia do

s enhor José D i r c eu , quem mai s o acompanhou nessa v i ag em?

Depoen t e : Fo i o dou t o r Ger son , o dou t o r An t unes e o s enhor

M i l t on Pascov i ch .

M in i s t é r i o Púb l i c o Fede r a l : Espec i f i cament e , qua l que e r a a

f unção do s enhor José D i r ceu nessa v i a g em?

Depoen t e : O lha , o que eu en t end i e r a ag endar r eun iões ,

c e r t o? E apresen t ar a empr esa , en tão nós t i v emos , c omo eu

f a l e i , r eun i ões nos m in i s t é r i o s onde e l e chegav a e

ap r esen t av a como empr esa br as i l e i r a de por t e , c om

cond i ções de busca r c on t r a t os ma i o re s naque l e pa í s ,

ba s i cament e dando o av a l par a a empr esa .

Ju i z Feder a l : E ssa v i ag em a í t ev e uma dur ação , o senhor

menc i onou , de 24 ho r as , passa ram 1 d i a l á no Per u?

Depoen t e : Fo i uma v i ag em de 1 d i a , 2 d i a s no máx imo , a cho

que a g en te chegou à no i t e e f o i embor a j á l ogo no o u t r o d i a ,

t ev e um d i a de r eun i ões e no ou t ro d i a de manhã f omos

embor a .

Ju i z Feder a l : E ssa consu l t or i a c on t ra t ada pe l a Engev ix , do

s enhor José D i r c eu , e r a , pe l o que eu en t end i , e ra

bas i cament e ap resen ta r pessoas , i s so?

Depoen t e : A t é onde eu en t endo , e r a , e xa t ament e , e r a um

t r aba lho me i o de r e l a ções púb l i cas i ns t i t uc i ona l , apr e sen tar ,

mar car r eun i ões , ap r esen t ar a empr esa pr a de t e r minadas

i n s t i t u i ções , é i sso que eu en t endo . ”

89

(Depo iment o da t es t emunha de De f e sa A l e s sandr o Ca r ra r o –

Ev en t o 581 – T e r mo de t r an scr i ção )

JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

“Ju i z Feder a l : Qua l a r e l a ção da Engev i x c om o ex m in i s t ro

José D i r c eu , o s enhor pode e s c la r e c er ?

In t e r r ogado : Dout or , eu não t i nha r e l a ção com o m in i s t r o

José D i r ceu , mas eu que r o expor o f a t o , pr a m im, o s enhor

José D i r c eu eu conhec i numa v i agem pr a L ima, Peru , da

s egu in t e mane i r a , o M i l t on Pascow i t ch , que f az i a capt ação de

negóc i o , c onv er sou com o meu sóc i o , Ger son A lmada , e

p r opuse r am impl ement ar nossa par t i c i pação no Per u , que

nós j á t ínhamos , nós t ínhamos , eu t r ouxe aqu i , t em uma

sé r i e de con t r a t os , t odos con t r a t os pequenos de consu l t o r i a

de engenhar i a em L ima , mas o dou t o r Ge rson , por sua

r e l a ção l á c om o pr e s i den t e A l an Garc i a , pe l a s suas r e la ções

no pa í s , pode r i a nos a judar . Eu , na v e r dade , c oncor de i c om

essa v i a g em, e s sa v i ag em f o i f e i t a , f o i f e i t a no d i a 28 de

ma i o de 2008 , voamos pa r a L ima, t i v emos um d ia de

r eun i ões l á v i s i t ando a l gumas aut or i dades , das qua i s uma

de l a s eu me l embro mu i t o bem, que e r a o m in i s t r o de m inas

e energ i a , c om o qua l a g en t e t i nha j á s e r v i ç os em

andament o po r l á , e v o l t amos no d i a s egu in t e , no d i a 30 . Eu

não t i v e depo i s c om o dou t o r José D i r c eu ou t r os con t a t os e

ou t r as r e la ções , e l e e r a uma r e l a ção ma i s d i r e t a do dou t or

Pascow i t ch e , ev en t ua lment e , do douto r Ge rson .

Ju i z Feder a l : O s enhor e r a r e sponsáv e l pe la á r ea

i n t e r nac i ona l?

In t e r r ogado : Eu e r a r e sponsáv e l pe l a á r ea i n t e rnac i ona l

naque l e moment o , e t inha com igo , f o i c om igo t ambém nessa

v i a g em um d i r e t or i n t e r nac i ona l que eu con t r a t e i par a me

a juda r , dou t or A l e s sandr o Ca r r ar o , n essa v i ag em e l e me

acompanhou.

Ju i z Feder a l : E po r que o s enhor f o i n essa v ia g em na

qua l i dade de r esponsáv e l pe la á r ea in t e r nac i ona l da

Engev i x?

In t e r r ogado : Na v e r dade , c omo eu c r i e i a á r ea , eu t inha

d i r e t or in t e r nac i ona l j á nessa época , o dou t or A l es sandr o ,

mas com o eu c r i e i a á r ea , f i z a s r e l a ções l á e c omo e ra um

90

ex -m in i s t r o indo pa r a uma missão , t en t ando abr i r

poss i b i l i dades para nós l á , eu ache i po r bem acompanhá l o .

Ju i z Feder a l : E qua l f o i a r emuner ação do s enhor José

D i r ceu por e s sa v i ag em, e s se con t r a t o?

In t e r r ogado : Dout or , o p r ime i r o c on t ra t o de l e c om a Engev i x ,

n esse p r ime i r o caso , f o i em t or no de c en t o e poucos m i l

r ea i s , c om o qua l eu ache i que e r a r az oáv e l , e l e pod i a

desenv o l v e r o s negóc i os por l á .

Ju i z Feder a l : Mas depo i s p r ossegu i ram os s e r v i ç os do sen hor

José D i r c eu pa ra a Engev i x , depo i s dessa v i ag em?

In t e r r ogado : Teve um só con t a t o , mer i t í s s imo, que f o i o

s egu in t e , em a l gum moment o do ano s egu in t e eu r e ceb i a

ped ido do Ge r son uma m i ssão cubana que t inha in t e r e sse em

in s t a l a r us inas eó l i c as em Cuba , e nós e s t ávamos in s t a lando

aqu i , a t é pe l a Desenv i x , en t ão nós ace i t amos a mi s são , mas

não deu ma i s nada , o s cubanos não t inham cond i ções , o

a s sunt o não p r ospe r ou .

De f e sa : Com r e l ação ao s enhor José D i r c eu , c omo que

chegou o con t a t o do José D i r c eu pra e s sa v i ag em ao Pe r u ,

c omo é que o s enhor t omou conhec imen t o d i sso , quem t r ouxe

i s so pa r a o s enhor?

In t e r r ogado : Quem t r ouxe pa r a m im f o i o dou t o r Ge rson e

quem exp l i c ou , e s t áv amos v oando com o dou t o r M i l t on que

e s t ava conv idando o José D i r c eu , j á que o M i l t on e r a

r e sponsáv e l pe l a cap t ação dos negóc i os e l e a chav a que o

dou t o r José D i r ceu pod i a s e r de g r ande aux í l i o para os

negóc i os l á no Peru .

De f e sa : E da í n esse moment o v ocê conco r dou que e l e f o s s e

con t r a t ado par a i sso?

In t e r r ogado : S im, s im. ”

( I n t e r r oga t ór i o de José Ant unes Sobr inho – Even t o 691 –

T e r mo de t r anscr i ção )

GERSON ALMADA

“Ju i z Fede ra l : O r e l a c i onamen t o do s enhor M i l t on com o

s enhor José D i r c eu , o s enhor t em conhec iment o?

In t e r r ogado : S im.

91

Ju i z Feder a l : O que o s enhor t em conhec iment o a e s se

r e spe i t o?

In t e r r ogado : Po r v o l t a de 2007, a Engev i x , 2005 ma i s

p r e c i samen te , a Engev i x c o l ocou no s eu p l ano a i da pa r a

f o r a do pa í s , ex t e r i o r i z a r o s se r v i ç os , apr ov e i t a r a

capac i t a ção nac i ona l , e f ug i r de um monoc l i en t e , que a p i or

c o i sa par a uma empr esa é t e r um c l i en t e s ó . Ent ão nós

f omos , ma i s l i gado ao meu sóc i o An t unes , f o r mamos um

esc r i t ó r i o no Méx i co , um escr i t ó r i o em Ango l a , um escr i t ó r i o

no Pe r u , t i v emos es c r i t ó r i o na Ar g en t ina , no Equador , en t ão

e s t ávamos den t r o desse p r ocesso mu i t o f o r t e . E o M i l t on ,

c omo e s t ava no nosso d i a a d i a , e l e suge r iu : “Ger son , que t a l

a g en t e f az e r uma conv er sa com o Zé D i r c eu que t em um

conhec imen t o mu i to f o r t e no ex t e r i o r e e s t á t r aba lhando com

v ár i a s empr esas br as i l e i r a s , par a l ev ar e s sas empr esas f o ra

do pa í s? ” Mui t o bom. . .

Ju i z Fede r a l : S ó uma ques t ão , an t e s d i s so o s enhor nunca

t inha t r a t ado com o . . .

I n t e r r ogado : Nunca t i v e o pr a z er de e s t ar c om o M in i s t ro

José D i r c eu an t e s .

Ju i z Fede ra l : Mas nem sab i a do r e la c i onament o do s enhor

M i l t on , an t e r i o r a i s so , c om o s enhor José D i r c eu?

In t e r r ogado : Não , não .

Ju i z Feder a l : Pode p r ossegu i r en t ão .

I n t e r r ogado : E acho que não t i nham r e l a c i onament o mu i to

f o r t e , eu acho que , pe l a c onve rsa , pe l a pos t ur a na mesa , a

g en t e not a que f o i um r e l ac i onament o cons t r u ído .

Ju i z Feder a l : E o que acont eceu , da í ?

In t e r r ogado : Da í f i z emos uma r eun ião , o m in i s t r o e xp l i c ou

t odo o c onhec imen t o de l e , onde e l e t inha a judado , o s

pa r t i dos po l í t i c os como e l e t inha a judado , c o l ocou

c l a r amen te onde que e l e pod ia t e r ma i s f o r ça que e r a Méx i co ,

que e r a Venezue la , que e r a Á f r i c a , que e r a Pe r u e que e r a

Cuba . Lev e i par a os nossos sóc i os , deba t emos e v amos t en tar

f a ze r um t r aba lho com o M in i s t r o José D i r ceu f o cado em

Pe r u , i n i c i a lmente . Po r que Méx i co a g en t e e s t á bem

es t r ut ur ado , Venezue l a nem de g r aça , Á f r i c a e s t amos be m

es t r ut ur ados e Cuba não s e sabe . Ent ão , c omeçouse e s sa

r eun i ão , f i z emos duas r eun i ões p r év ia s c om e l e e mar camos

92

a i da ao Pe r u , e l e f e z uma agenda , t inha uma pessoa de l e

que acompanhou e ssa r eun i ão l á , a dona Za ida , f o i eu , o

An t unes , o Mi l t on , o M in i s t r o e o Ca r r ar o que e r a o nosso

d i r e t or i n t e rnac i ona l . Dessa v i a gem f i c ou c l a r o que e l e e r a o

t e r mo que eu d i ss e aqu i “ open doo r ” , e r a t ra tado com mui to

r e spe i t o , mu i t a hab i l i dade po r t odos , e nós t en t amos nav egar

po r 2 anos e me i o den t r o desse conhec imen t o de l e . E nesses

2 anos e me i o não t i v emos nenhum sucesso , o que é nor mal

t ambém den t r o de um serv i ç o de consu l t or i a .

Ju i z Feder a l : Quem cu idou desse t raba lho l á no Per u , da

Engev i x? O, o s enhor , o s enhor Ant unes ou o senhor Kok?

In t e r r ogado : O t raba lho , a f i l i a l do Pe r u e s tav a l i g ada ao

An t unes , e l e que e r a o r e sponsáv e l . Depo i s t ev e uma

r e e s t r ut ur ação da empr esa , ma i s ou menos 2010 , 2011 , por

a í , e eu f i que i c om a ár ea comer c ia l e o dout o r Antunes

pegou t odas as ob r as . Ent ão t odas as ob r as passar am pe la

r e sponsab i l i dade do s enhor Ant unes e eu passe i a t e r t oda a

pa r t e c omer c ia l . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Ge r son de Me l l o A lmada – Even t o 722 –

T e r mo de t r anscr i ção )

CRISTIANO KOK

“Ju i z Fede ra l : O que o s enhor pode me e s c l a r e ce r sobre

e s ses con t ra t os da Engev i x c om a JD Assessor i a? Do s enhor

José D i r c eu .

In t e r r ogado : A Engev i x c on t r a t ou a JD Assesso r i a após uma

v i ag em ao Pe r u , que f o i f e i t a pe los meus sóc i os , J osé

An t unes Sobr inho , o Ge r son de Me l o A lmada , a companhados

do M i l t on Pascow i t ch , e no Peru e l e s t i v e r am, f o r a m

apr esen t ados pe l o dou t o r José D i r c eu a d i v e r sas aut o r i dades

que pode r i am in t e r e s sar a pr o j e t os que a Engev i x v i es s e a

desenv o l v e r naque l e pa í s ; a Engev i x t i nha uma v i são c l a ra

que o Pe r u pod i a s e r um par ce i r o de negóc i os impor t an te

pa r a o Bras i l , f a zendo uma in t eg r ação ener g é t i ca en t r e os

do i s pa í s es e perm i t indo que o s i s t ema s e comp l ement asse ,

hav i a pr o j e t os na á r ea de t r anspos i ção dos Andes , pr o j e t os

na ár ea de i n f r a es t r u t ur a que a empr esa t i nha in t e r e s se em

v i r a pa r t i c i pa r . Quando f i z e r am a v ia g em com o dou t o r José

93

Di r ceu , me r epo r t ar am, eu não t i v e conhec iment o d i r e t o , que

os con t a t os f o r am mui t o bons . E a pa r t i r da í f o r am f i r mados

a l guns c on t r a t os com o dou t or José D i r ceu par a dar

p r ossegu imen t o a e s s e t r aba lho de comer c i a l i za ção de

s e r v i ç os no Per u , f o i bas i cament e o que . . . ”

( I n t e r r oga t ór i o de Cr i s t i ano Kok – Ev en t o 691 – T e r mo de

t r ansc r i ção )

JOSÉ D IRCEU

“Ju i z Feder a l : E o s enhor pode me desc r ev er e s s e

r e l a c i onamen t o pr o f i s s i ona l?

In t e r r ogado : A Engev i x , a e xp l o ração pa r a mer cados da

Engev i x no ex t e r i o r e a JAMP depo i s c omo con t inu idade da

Engev i x , po r que eu f i z o c on t r a t o c om a JAMP, o s enhor pode

v e r que é na mesma época que t e rm ina , no mesmo mês que

t e r mina o c on t r a to c om a Engev i x , c omo con t inu idade do

con t r a t o c om a Engev i x , que e l e c on t inuar i a me p r ocurando ,

c onv er sando , d i s cut indo e t r aba lhando com igo .

Ju i z Feder a l : E sse con t a t o que houve , e ss e i n í c i o do con t a to

j á f o i r e l a c i onado ao s e r v i ç o par a a Engev i x ou sur g iu

depo i s ?

In t e r r ogado : Conv er s e i c om e l e , c om a Engev i x , i n c lus i ve e l e

f o i na v i ag em ao Per u .

Ju i z Feder a l : Mas o s enhor pode me es c l a r ecer as

c i r cunst ânc i as desse con t r a t o c om a Engev i x , c omo é que f o i ,

e l e p r ocur ou o s enho r ou a Engev i x p r ocur ou o s enhor , c omo

f o i ?

In t e r r ogado : A Engev i x me p r ocur ou e eu concor de i .

Ju i z Feder a l : A Engev i x , o s enhor Mi l t on o s enhor d i z , po r

i n t e r méd i o?

In t e r r ogado : Não , não , eu e s t i v e c om o s enhor Ant unes ,

e s t i v e c om o senhor Ger son , e c onco r damos em f az e r um

t r aba lho no Pe r u , que f i z emos , e l e s ab r i r am inc lus i v e uma

sucur sa l no Per u e t r aba lhar am no Pe r u t odo o t empo pa ra

t e r a cesso aos mercados . A l i ás a s out ras empr esas

conqu i s t ar am acesso no mercado do Pe r u , a OAS , a Ga l v ão

Engenhar i a que e u l ev e i , c onqu i s t ar am.

94

Ju i z Feder a l : Eu t enho aqu i o p r ime i ro c on t ra t o que f o i f e i t o ,

s ão 5 con t r a t os , um cont r a t o em 01/07/2008 , JD

Consu l t or i a e Engev i x , p r e ço aqu i de 120 m i l r ea i s no t o ta l

em par ce l a s .

I n t e r r ogado : S im, senhor , eu conheço e s se con t r a t o .

Ju i z Feder a l : O que cab i a ao s enhor f a ze r n esse con t r a t o , o

s enhor pode me e sc l a r e c er ?

In t e r r ogado : Eu acabe i de i n f or mar ao s enhor , ab r i r o s

mer cados no Per u , na Co l ômb ia , no Equador , no Méx i co , em

Cuba , par a a Engev i x .

Ju i z Feder a l : E o que o s enhor f e z e spec i f i c amente em

r e l a ção a e s se con t r a t o?

In t e r r ogado : Eu f u i ao Pe r u , e s t abe l e c i r e l ações da Engev i x

no Pe r u ; p r ime i r o , dou t o r Mor o , eu expus pa r a a Engev i x a

s i t uação e conômica do Pe r u , po l í t i ca , a po l í t i c a que nós

t ínhamos com r e l ação ao Per u de i ncen t i v os de expor tação ,

c omo é que e s t av a mudando o pe r f i l do Br as i l d e um pa í s

e xpor t ador de a l iment os , mat ér ia s p r imas e miné r i o , pa r a

expor t ador de s e r v i ç os , t ecno l og i a e cap i t a i s , que as

empr esas b r as i l e i r a s t inham opor t un idade ún i ca nesse

moment o na Amér i ca do Su l , e e xpus pa r a e l es a s i t uação

desse pa í s que eu i a c ons t an t ement e , e t i nha r e la ções de 30 ,

40 anos c om mui t os . O p re s i den t e A lan Garc i a , quando sa iu

do g ov er no , e l e t ev e uma s é r i e de p rob l emas , eu o apo i e i , o

a jude i j un t o com o g ener a l Omar Tor r i j o s que e r a p re s i den te

do Panamá, j un t o com o g ove rno de Cuba , par a que e l e

sa í s s e do Per u e pudesse , po r que n a v e r dade e r a uma

pe r s egu i ção po l í t i ca , t an t o é que e l e v o l t ou a s e r p r e s i den te

depo i s .

Ju i z Feder a l : O s enhor , em r e l a ção a e s se con t ra t o , o senhor

f e z out r as v i a g ens do i n t e r es se da Engev i x?

In t e r r ogado : F i z , f i z ao Per u , f i z ao Méx i co , f i z à Cuba .

Ju i z Feder a l : Do i n t e r e s se da Engev i x?

In t e r r ogado : Do in t e r e s se da Engev i x .

Ju i z Feder a l : A l gum dos execut i v os f o i ?

In t e r r ogado : Não , não . Ao Pe r u s im, s enhor , c omo j á

r e l a t ado .

Ju i z Feder a l : A pr ime i r a v i a g em l á e l es f o r am?

95

I n t e r r ogado : As ou t r as ao Pe r u e l e s não f o r am, mas eu t enho

uma co r r e spondente no Pe r u , t i nha , dona Za ida S i s son , que

acompanhou t oda a pa r t e document a l , t udo , j un t o com o

s enhor A l exandr e Ca r r ar a , t udo que e l e s necess i t av am no

pa í s , t oda a par t e de p r o j e t os , t odas a s concor r ênc i a s que

e s t avam sendo f e i t a s , l i c i t a ções , e e l es in c lus i v e

c onco r r e r am ao me t r ô , e a supe rv i são de uma h id r oe l é t r i ca

e l e s chegar am a começa r a par t i c i par , mas depo i s s e

r e t i r a r am.

Ju i z Feder a l : Quem er a o s eu i n t e r l o cu t o r na Engev i x?

In t e r r ogado : S empr e o s enhor Ger so n A lmada . O s enhor

An t unes , eu e s t i v e c om e l e e t udo , mas não e ra

r e sponsab i l i dade de l e . ”

( I n t e r r oga t ór i o de José D i r c eu de O l i v e i r a e S i l v a – Ev en t o

722 – T e r mo de t r anscr i ção )

31. Cinco contratos foram celebrados pela

ENGEVIX com a JD , empresa de JOSÉ D IRCEU . JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO , porém, teve c iência apenas do pr imeiro deles , datado

de 01/07/2008, no valor de R$ 120 mil :

“Ju i z Feder a l : Cons t a aqu i na denúnc i a são 5 con t r a t os da

Engev i x c om a JD Assesso r i a , o pr ime i r o c ons t a aqu i em

01/07/2008 120 m i l r ea i s , depo i s 01/03/2009 ma i s 120 m i l

r ea i s , 01/09/2009 300 m i l r ea i s , 02/05/2010 300 m i l r ea i s

e 02/09/2010 ma is 300 m i l r ea i s . O s enhor sabe , o s enhor

menc i onou e sse p r ime i r o c on t r a t o , o s enhor sabe me d i z e r o

que f o ram esses out r os qua t r o?

In t e r r ogado : Não . Não t i v e n enhuma r e l a ção com os dema i s

c on t r a t os , mer i t í s s imo .

Ju i z Feder a l : E l e es t av a r e la c i onado de a l guma mane i ra , pe l o

que o s enhor t em conhec iment o , àque l e pr ime i r o c on t r a to ou

o desenv o l v imen t o de a l gum negóc i o no Pe r u em decor r ênc ia

daque l e p r ime i r o con t r a t o?

In t e r r ogado : Não .

Ju i z Feder a l : Esse p r ime i r o c on t r a t o quem f ez a n egoc i a ção

do p r e ço?

96

I n t e r r ogado : Quem f ez a n egoc ia ção dev e t e r s i do o M i l t on

com a apr ov ação do dou t or Ger son , não f u i eu .

Ju i z Feder a l : O senhor sabe me da r uma exp l i c açã o p r a

e s ses ou t r os quat ro con t r a t os?

In t e r r ogado : Não , senhor , não t enho con t eúdo pa ra . . .

Ju i z Feder a l : Cons t a aqu i apar en t emen te a a ss ina t ura t an to

do s enhor Ger son , quant o do s enhor Cr i s t i ano nesses

con t r a t os , o s enhor Cr i s t i ano acompanhav a es sa s i t uação ?

In t e r r ogado : Douto r , e s sa r e l ação eu não t inha , não

acompanhe i , po r t an t o eu não posso l h e a f i r mar i s so , se

s imp l e sment e e l e as s inou ou se t i nha a l gum. . .

Ju i z Feder a l : E o senhor mesmo na época não f i c ou sabendo

desses nov os con t ra t os?

In t e r r ogado : Não , n ão f i que i s abendo dos nov os con t r a tos .

Ju i z Feder a l : Mas o s enhor , c omo da á r ea i n t e rnac i ona l , não

dev er i a f i ca r sabendo s e f o ss e uma cont inu idade l á do

s e r v i ç o do Per u?

In t e r r ogado : Douto r , eu não f u i in f or mado , po r t an t o não

t inha r e l a ção com o Pe r u poss i v e lment e .

Ju i z Feder a l : T inha r e la ção com a l guma ou t r a co i sa que o

s enhor t enha conhec imen t o?

In t e r r ogado : Não .

Ju i z Feder a l : A l gum negóc i o i n t e rno que . . .

I n t e r r ogado : Não .

Ju i z Feder a l : . . . A Engev i x t enha ob t i do por i n t e r méd io do

s enhor José D i r c eu?

In t e r r ogado : Não , não que eu conheça , dou t or , não que eu

conheça .

Ju i z Feder a l : Eu e s t ou pergunt ando i s so po r que é a sua

empr esa , não é m inha empr esa .

I n t e r r ogado : Não , o s enhor e s t á per gun t ando e eu es t ou lh e

r e spondendo o me lho r que eu posso , mas só que o que eu

r e spondo é aqu i l o que eu s e i e aqu i l o que eu f i z , en t ão e s ses

con t r a t os a í e s t ão num âmb i t o chamado de dec i são a t é de

g e r en t e ou de d i r e t o r e eu r ea lment e eu , o que e l e t eve f o i

um pr ime i r o c on t ra t o que e l e t r aba lhou , e l e f e z na v e r dade

uma r eun i ão l á , de i xou uma r epr esen t ant e , f i z emos a l gumas

co i sas , não r e su l t ou em nada , t ev e um pessoa l de Cuba por

97

t e l e f one , mar ca r eun i ão , a t endemos e l e s , é i s so que eu t enho

só em r e l a ção ao t raba lho base do s enhor José D i r c eu .

Ju i z Feder a l : En tão o s enhor desconhece uma causa , vamos

d i z e r , e conômica pa r a e s ses pagament os desses ou t r os

qua t r o con t r a t os?

In t e r r ogado : S im. ”

Este pr imeiro contrato , acerca do qual houve

e fe t iva prestação de serv iços por parte de JOSÉ D IRCEU ,

consis tente em viagem ao Peru , conforme fartamente

demonstrado pela prova colhida, fo i t ido por verdadeiro pelo

co laborador M ILTON PASCOWITCH :

“eu acred i to que o p r imei ro contra to da Engev ix houve

p res tação de se rv iço ( . . . ) .

Ju iz Federa l : Esse p r ime i ro cont ra to que houve p res tação

de se rv i ços , o senh or pode me esc la recer que se rv iço f o i

e s se?

Inte r rogado : O José D i rceu acompanhou a José Antunes

Sobr inho e o Gerson A lmada em uma v i agem na qua l eu

es tava ao Peru , pa ra desenvo lv imento de opor tun idades

no Peru , e l e apresentou a l gumas autor idades re l ac iona das

à in f raes t ru tu ra do pa í s ( . . . ) .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Mini s tér io Púb l i co Federa l : O p r ime i ro cont ra to f o i pa ra

l eg i t imar os pagamentos em decorrênc ia dessa v i agem?

Inte r rogado : Doutor Robson , não f o i pa ra l eg i t imar , eu me

pos i c iono de novo d i zendo que e fe t i vamente eu achava

que uma re t r i bu ição pe la p res tação de se rv i ços . ”

* * *

Não há qualquer i l i c i tude na única conduta

atr ibuída ao Acusado, da qual e le e fet ivame nte part ic ipou.

Reuniu-se com JOSÉ D IRCEU e re ferendou sua contratação para

que em v iagem ao Peru, e le buscasse sed imentar a ENGEVIX e ,

assim, ampl iar os negócios mantidos pe la empresa naquele Pa ís .

98

O valor para este serv iço , R$ 120 mil , é

abso lutamente compat íve l com a consultor ia que de fato fo i

prestada, conforme asseverou M ILTON PASCOWITCH .

De outro lado, outras contratações ,

aquis ições e re formas custeadas por PASCOWITCH , apenas

chegaram ao conhec imento do Acusado com a instauração desta

ação penal . A e le não podem ser atr ibuídos por absoluta

inex is tênc ia de qualquer e lemento de prova neste sent ido .

4. PEDIDO DE CONDENAÇÃO DE JOSÉ ANTUNES SOBRINHO BASEADO

ÚNICA E EXCLUSIVAMEN TE NA RESPONSABIL IDA DE OBJETIVA

32. A exegese do art . 13 do Código Penal indi ca

que somente será punido o agente cuja ação ou omissão

concorra para o resultado.

Nélson Hungria , d iscorrendo acerca da

re lação de causal idade, l ec ionou:

“ ( . . . ) Av e r i guad o o e ve n to d e d ano ou d e p e r i go , t e m - s e d e

i nd ag ar , p r e l i m i nar m e n te , s e p od e se r r e f e r i d o , e m c one x ão

c aus a l , à aç ão o u om i s s ão do ac us ad o ( . . . ) ” 48.

Aníbal Bruno, por sua vez , l embra que:

“ ( . . . ) C aus a n ão é o c o n jun to i nd i v i d ua l d as c o nd i ç õ es , m as

qu a l que r d e l as , d e s de que nec ess ár i a à p r o d uç ão do

r e s u l tad o , um a v e z que t o d as s e e qu iv a l e m , e pô r um a d e l as

i m p or t a e m as s um i r um ne x o c aus a l c o m o r es u l tad o . S ó e m

p ô r es s a c o nd i ç ão , o a tu ar d o age n te s e f ez c om c aus a d o f a to

o c o r r i do .

48 Comentários ao Código Penal , vo l. 1, Tomo I I , ed. Forense, Rio de Janeiro, p. 60.

99

O d e c is i vo é que se m e ss a c o nd i ç ão o r e s u l tad o não p u d e sse

o c o r r e r c o mo oc o r r eu . Q ue , e l im i nad a m e n t a l m e n te a c o nd i ç ão ,

d e s ap ar e c e ss e do m e s m o mo d o o r e s u l tad o - o c ham ad o

p r oc es so h ip o té t i c o d e e l i m i naç ão ( . . . ) ” 49.

Em Direi to Penal , a culpa não pode ser

presumida. É necessár io para sua conf iguração que se

estabe leça , e se comprove, uma re lação de causa e e f e i to , de

v ínculo pessoa l e direto, entre o autor e o fato.

Nunca é demais , portanto, re lembrar Basi leu

Garcia que, sobre a teor ia da condi t io s ine qua non , consignou:

“ ( . . . ) c o ns i de r a - s e caus a t ô d a c o nd i ç ão d o r es u l tad o , t o d o f a to

que c o nco r r a p ar a p r o d uz i - l o , t o do f a to s em o qua l o r e s u l tad o

não s e t e r i a p r o d uz i d o . Se , me n ta l m e n te , p e r an te a o c o r rê nc i a

v e r i f i c ad a , s e ab s t r a i r a c o n t r i b u i ç ão c aus a l a que s e que r

d ar o v a l o r d e co nd i ç ão , e s e co nc l u i r que , s up r i m id a a s ua

a t i v i d ad e o r es u l tad o não ap ar e c e r i a , não s e t e r á d úv i da d e

que a í s e ac har á , au te n t i c am e n te , um a c o nd i ç ão , c o m o p l e no

v a l o r d e c aus a ( . . . ) ” 50.

Para “se abstrai r a contr ibuição causal ” é

indispensáve l , antes de mais nada, conhecê - la em sua

integr idade.

33. Não há, nos autos , indicação de conduta

i l í c i ta que t ivesse contado com a c iente e vo luntár ia

part ic ipação de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO . Fa ltam, portanto,

e lementos que comprovem a lgum fato t íp ico por e le cometido :

“CRI ME COMI SSI VO POR OMISSÃO – Descar ac t e r i z ação –

Fa l t a de demonst ração da p r ov i dênc i a om i t i da que pode r ia

49 Direi to Penal , Parte Geral , Tomo I , ed. Forense, Rio de Janeiro, p. 309.

50 Insti tuições de direi to penal . 4.ª ed., São Paulo: Max Limonad, vol. I , tomo I , p. 219.

100

t e r imped ido o r e su l t ado – imposs i b i l i dade de se p re sumir a

cu lpa , es tabe l e cendo - s e a r e sponsab i l i dade pena l em ra zão

do ca r go exer c i do pe l o r éu – Fa l t a de j us t a causa pa r a a

a ção pena l – T r ancament o de t e r m inado – I n t e l i g ênc i a do a r t .

13 , § 2 . º , do CP – Dec l a r ação de v o t o .

P r ocesso Pena l . Fa l t a de j us t a causa pa r a a a ção pena l .

C r imes com i ss i v os po r om i ssão . No D i r e i t o Pena l não s e

admi t e a cu lpa pre sumida . Não despon t ando , in casu, c omo

s e r i a de r i g or , e i s que as imput açõ es concer nem a c r imes

com i ss i v os po r om issão , a pr ov i dênc ia om i t i da pe l o pac i en t e

que pode r i a t e r imped ido o r e su l t ado , impõe -s e o

r e conhec imen t o da f a l t a de j us t a causa pa r a a a ção pena l .

R ecurso pr ov i do .

Não s e pode , obv i ament e , p r esumir a cu lpa , es tabe l e cendo - s e

a r e sponsab i l i dade pena l , de car á t e r sub j e t i v o , apenas em

r a zão do car go exer c i do pe l o pac i en t e ( . . . ) ” 51.

“ ( . . . ) I mpor t a , na v e r dade , a l i g ação com o f a t o em s i , não

bas t ando , par a in cu lpar , do pon to de v i s t a c r imina l , a

c ond i ção de d i r e t o r , po i s s e r i a o es t abe l e c iment o de uma

cu lpa em abs t r a t o . Essa co l ocação impor ta r i a , na v e rdade ,

c omo bem pa r ece aos i l us t r e s impet r an t es , em uma cu lpa

p r e sumida , não ma i s admi ss í v e l no D i r e i t o Pena l , ou em

r e sponsab i l i dade ob j e t i v a , pr ópr ia do d i r e i t o c i v i l ” 52.

Sem um l iame entre a conduta prat icada e o

resultado obt ido, inexiste responsabi l idade cr iminal : t rata -se de

condição s ine qua non , que dever ia exsurg ir de forma

indubi táve l do conjunto probatór io , o que não ocorreu .

Diante do contexto probatór io, uma even tual

condenação de JOSÉ ANTUNES SOBRINHO só se just i f i car ia ,

conforme pretende o Minis tér io Públ ico Federal , data max ima

51 RT 665/349. Sublinhado.

52 RTJ 111/619. Sublinhado.

101

venia , por uma nova – e indev ida – conotação à Teor ia do

Domínio do Fato 53, de forma frontalmente contrár ia à pregada

por Claus Roxin, responsável por seu desenvo lv imento.

* * *

Apesar de em voga nas ações penais que

envo lvem de l i tos prat icados em um contexto empresar ia l , a

evocação da Teor ia do Domínio do Fato deve ser fe i ta com

extrema cautela , para que de la não se rea l i ze deturpada

interpretação .

Re fer ida Teor ia parte da tese restr i t iva, e

empregando um cr i tér io ob je t ivo -subjet ivo, de que o autor é

quem tem o contro le f inal do fato, domina f ina l ist icamente o

decurso do cr ime e dec ide sobre sua prát ica, inter rupção e

c ircunstâncias .

53 Pela consagrada Teoria do Domínio do Fato, cujo entendimen to fo i recentemente subvert ido em notória discussão de julgamento público, a imputação de crime ao autor que não tenha part ic ipado diretamente do fato cr iminoso, exige c iência do fato e vontade na obtenção do resultado cr iminoso, responsáveis pela ação (de terminar que alguém faça) ou omissão ( impedir a conduta). Sem estes e lementos, há mera adoção de responsabil idade objet iva: “Bien es verdade que considera ya e l domínio del hecho como elemento de la f igura del autor o, más exatamente, del suje ito del del i t o, pero lo

entende refer ido sólo a los requis itos materia les de la culpabi lidad jur ídico -penal, o sea, imputabi l idade, dolo e imprudencia, así como la ausencia de causas de exculpación. Según HEGLER, actúa culpablemente sólo e l que t iene en este sentido ‘p leno domínio del hecho’ , esto es, quien como autor imputable y no coaccionado ha sido ‘señor del hecho em su concreta manifestación’ . Tambiém atr ibuye ta l dominio del hecho al autor imprudente, donde consist ir ia em la ‘ falta de voluntad de evitar e l hecho tal como es, aun cuando era de esperar tal repercusión’ . ( . . . ) Ya DAHN y Richard SCHIMIDT proceden de esta manera cuando, para explicar su cr itério de la supremacia, muy próximo a la idea de dominio del hecho, indican: ‘No hay ningún elemento abstracto que caracter ice a um comportamiento em todo caso, o b ien sólo t ip icamente, como el dominante em la s ituación g lobal ’ , y : ‘No es possib le deducir uma determinada caracter íst ica v is ib le ’ . De modo análogo pretende HARDWIG basar su decis ión ‘en la consideración global del hecho’ , señalando: ‘ Interés’ , ‘de quién es assunto (o cometido) algo’ , animus auctor is et socii ’ , ‘dominio del hecho’ y fórmulas semejantes sólo pueden dotarse de v ida em la situación concreta ’ .

Pero l lama la atención incluso em muchos partidar ios de la teoria del dominio del hecho que, aun cuando emplean continuamente e l concepto de dominio del hecho, no dicen gran cosa sobre su contenido. Lo cual parece basarse en la idea de que no es

possible proporcionar dados abstactos más exactos y de va l idez general u que lo gráf ico de esta fórmula ya aporta un apoyo suf ic iente de la valoración judic ia l. . (ROXIN, Claus. Autor ía y dominio del hecho en derecho penal, 7ª ed., Madrid: Marcia l Pons, 1999. Pág. 81).

102

Em outras palavras , pretende ident i f icar –

v isando a caracter ização de a lguém como autor imediato,

mediato ou part íc ipe – quem possuía o domínio da ação

cr iminosa, construindo, assim, a imputação penal .

Não atende, portanto , aos anseios de se

buscar a condenação sem e fe t iva demonstração fát ica de

conduta prat icada ou omit ida , contentando-se , o órgão

acusatór io , com um hipotét ico e contratual domínio da pessoa

jur ídica em cujo se io perpetrou -se o fato de l i tuoso, devido a sua

posição de sóc io.

Isto, como bem expl icam Zaf faroni e

P ierange l i , que corresponde a imputação da produção de um

resultado fundada na causação dele , é o que se chama de

responsabi l idade ob je t iva:

“A r esponsab i l i dade ob j e t i v a é f o r ma de v i o la r o pr in c í p i o de

que não há de l i t o s em cu lpa , i s t o é , d i z r e spe i t o a uma

t e r c e i r a f o r ma de t i p i c i dade , que s e c on f i gur ar i a com a

p r o i b i ção de uma condut a pe l a mer a causação de um

r e su l t ado , s em ex i g i r - s e que e s t a causação t enha oco r r i do

do l osa ou cu lposament e . ” 54

34. Gui lherme de Souza Nucci , c i tando Luiz

Regis Prado, tece pesadas cr í t icas à imputação ob je t iva :

“Por o r a , par e ce -nos ma i s e f i c i en t e e menos su j e i t a a e r r os a

t e or i a da equ iv a l ênc i a dos an t ecedent e s , adot ada ,

e xpr essament e , pe l o d i r e i t o pena l b r as i l e i r o , mant endo - s e ,

pa r a sua ap l i c ação , a ó t i c a f i na l i s t a . A l i á s , c onvém c i t a r a

p r e c i sa c r í t i c a f e i r a po r Lu i z Reg i s P r ado , a r e spe i t o da

t e or i a da imput ação ob j e t i v a , que s e au t opr oc lama pós -

54 Manual de Direi to Penal Bras i le iro . 1. vol . 8. ed. São Paulo: Revista dos Tr ibunais, 2009. Página 451.

103

f ina l i s t a , pr e t endendo p r omov er um ju í z o de t i p i c i dade

desv incu l ado do e l ement o su b j e t i v o , a l g o que , s em dúv ida ,

desca r ac t e r i za o f i na l i smo : ‘ A imput ação ob j e t i v a do

r e su l t ado ense j a um r i s co à s egurança jur í d i ca e , a l ém

d i s so , c onduz l en t ament e à des in t eg r ação da ca t ego r ia

dogmát i ca da t i p i c idade ( de cunho a l t ament e gar ant i s t a ) , não

de l im i t a os f a t os cu lposos pena lment e r e l ev an te s e prov oca

um pe r i g oso aumen t o dos t i pos de in jus t o do l osos . Acaba ,

dessa f o r ma , po r a t r i bu i r ao ag en t e pe r i g os j ur i d i camen te

desapr ov ados – e a inda que t o ta lment e impr ev i s í v e i s do

pon t o de v i s t a sub j e t i v o – a t r avés de um t i po ob j e t i v o

abso lu t ament e desv incu l ado do t i po sub j e t i v o . Esse

p r oced iment o pode r epr esen t ar um pe r i g o i n equ ív oco , na

med ida em que , s e u t i l i z ando o t i po ob j e t i v o par a a t r i bu i r a

a l guém a lg o que não e s tá abar cado po r sua v on t ade ( p . ex . ,

um pe r i g o j ur i d i cament e desapr ov ado cons tan t e s ó da es f e ra

de conhec iment o de ou t r a pessoa – a c omun idade soc i a l ,

uma pessoa i n t e l i g en t e , um espec t ador ob j e t i v o e t c . ) ,

imput a -s e a e s sa pessoa a l g o que não é ob r a sua . L onge de

ob t e r a un i f o r mi zação dos c r i t é r i o s de imput ação e a

n ecessár i a c oe rênc i a l óg i c o - s i s t emá t i ca , a t e or ia da

imput ação ob j e t i va do r esu l t ado in t r oduz uma v er dade i r a

con f usão met odo lóg i ca , de í ndo l e a r b i t r á r i a , no s i s t ema

ju r í d i c o -pena l , c omo cons t r ução c i en t í f i ca do t ada de g r ande

coe r ênc i a l ó g i ca , ads t r i t a aos v a l o r e s c ons t i t uc i ona i s

democ r á t i c os , e que dev e t e r sempre no i nar r edáve l r e spe i t o

à l i b e r dade e à d i gn idade da pessoa humana sua pedr a

angu la r ’ (Curso de d i r e i t o pena l br as i l e i r o , v . 1 , p . 282 ) . ” 55

E , em si tuações como a descr i ta , even tual

ap l icação da Teor ia do Domínio do Fato torna -se apenas uma

denominação vaz ia ; o que ocorre , em verdade, é a ace i tação da

vedada responsabi l idade objet iva para just i f icar um decreto

condenatór io :

55 Código penal comentado . 13. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tr ibunais, 2013. Páginas 163/164.

104

“A i de ia do domín i o da or gan i z ação causou g r ande i mp ac to

na dou t r ina e na ju r i sp r udênc i a . S chünemann cons ide ra ,

i n c lus i v e , o r e c e i o de Rox in de que , c om o e spe t acu l ar

sucesso j ur i spr udenc i a l da i de i a de domín i o da organ i z ação ,

e s sa ca t ego r i a s e j a v í t ima de man ipu lações t e ó r i cas , a ra zão

ma i o r pe l a qua l o au t o r in s i s t e em se man i f e s t ar a e s se

r e spe i t o . Por f im, o chamado domín io da o rgan i z ação não s e

c on f unde com o d omín i o do f a t o , s endo an t es uma en t r e

v ár i a s ou t r as concr e t i z a ções da i de i a r e i t o r a de que o au tor

do de l i t o é a f i gur a c en t r a l do acont e ce r t í p i c o . ( . . . ) 56

Po r c on t a das d i f i cu l dades i n er en t es à a f i r mação da

ex i s t ênc i a de uma dec i são con junt a no con t ex t o empr esar ia l ,

a l guns au t or e s de f endem a f l e x i b i l i z a ção desse r equ i s i t o

n esse con t ex t o . T i edemann quer e s t ender a c oau t or ia a

<<casos em que não há uma dec i são con junt a , mas ambos os

ag en t e s per t encem à mesma empr esa>> . Pa ra e l e , que s e

r e f e r e a e s sa v ar i an t e c omo coau t o r i a o rgan i za t i v a

( O r gan i s a t i o ns m i t t ä te r s c haf t ) , o v í ncu l o ob j e t i v o e x i s t en t e

nessas s i t uações é a inda ma i s r e l ev ant e do que o v ín cu lo

sub j e t i v o e x i s t en t e nos casos em que há e f e t i v ament e uma

dec i são con junt a . ( . . . )

A p r in c i pa l c r í t i c a d i r i g i da po r Rox in a ambas as pos i ções é

embasada no d i spos t o no § 25 I I do S t GB que d i z : se vá r i o s

c ome t em con junt ament e o f a t o , c ada um é pun ido como

au t o r ( c oaut or ) . Pa r a Rox in , a e x i g ênc i a de que o f a t o s e ja

<<comet i do con junt ament e>> es tá na l e i , d e f o r ma que , ao

d i spensar a necess i dade de uma dec i são con junt a , t a i s

c oncepções v i o l a r i am a p r o i b i ção de ana l og ia . A

poss i b i l i dade de ex t r a i r a e x i g ênc i a de uma dec i são con jun ta

da l e i é , c on t udo , con t e s t ada por T i ede r mann.

O argumento l ega l f o rmu lado por Rox in é de reduz ido

va lo r em um s is tema como o do nosso CP , que sequer

conhece de f o rma expressa uma f i gu ra como a da

56 Autoria como domín io do fato : es tudos in trodutórios sobre o concurso de pessoas no

direi to penal brasi le iro/ Luís Greco . . . [et a li i ] . 1 . ed. – São Paulo: Marcial Pons, 2014. Página 30.

105

coautor i a e mu ito menos lhe e l enca qua i squ er requi s i tos .

A despe i to de não ex is t i r re s t r i ção l ega l pa ra o

aco lh imento das duas concepções menc ionadas , não nos

pa rece , ao menos em uma pr imei ra aná l i se , adequado

f azê - l o . A razão fundamento é um tanto s imp les : a

consequênc ia jur íd i ca da admissão da c oautor i a é , como

d i to , a imputação rec íp roca . Uma imputação rec íp roca é

a l go um tanto g rave ; concre tamente , e l a s i gn i f ica que

cada um responderá não pe los seus p rópr ios f atos , mas

também por f a tos pr ima fac i e de te rce i ros . Essa severa

consequênc ia ju r íd i ca tem de se r l eg i t imada,

e spec ia lmente d iante daque le que se vê ob r i gado a

responder por a to de te rce i ro . Não enxergamos como i s so

se rá poss íve l sem que ex i s tam uma dec i são e uma a tuação

con juntas , i s to é , de todos , mas também de cada um dos

coautores . ” 57

Neste mesmo sent ido , os ens inamentos de

Pablo Rodr igo Al f len:

“Desenv o l v i da a aná l i s e a c er ca das moda l i dades de aut o r ia

( d i r e t a , c oau t or ia e med i a t a ) à l uz da t e or i a do domín io do

f a t o , cumpr e o f e r ec e r uma r e spos t a à s egu in t e ques tão : é

poss í v e l a t r i bu i r a pos i ção de au t o r med i a t o de de t e r minado

f a t o pun ív e l àque l e i nd i v í duo que a t ua po r t r á s de

o r gan i z ações empr esar i a i s , mesmo quando o execu t o r é

pun ív e l ? Ta l ques t ão impôs ou t r a , qua l s e j a : a t e or ia do

domín i o por o rgan i z ação , desenv o l v ida po r C l aus Rox in , é

ap l i c áve l aos c r imes p r a t i cados po r me i o de apar a t os de

pode r não e s t a t a i s , t a i s c omo or gan i zação empr esa r i a s?

A r e spos t a à es ta ú l t ima ques tão f o i ap r esen t ada pe lo

p r ópr i o Rox in e s egue no sen t i do da abso lu ta

i nap l i c ab i l i dade da t e o r i a do domín i o po r o r gan i z ação aos

f a t os pr a t i cados po r me i o de organ i z ações empr esar ia i s , f ace

à i ncompa t i b i l i dade dos s eus c r i t é r i o s c om es t e t i po de

o r gan i z ação e c om a na t ur eza dos f a t os pun ív e i s . En t r e t an to ,

57 Idem. Páginas 93/95. Grifado.

106

é impor tan t e t e r em v i s t a que , apesar do g r ande número de

au t o re s que s e pos i c i ona a f av or da t ranspos i ção de t a l

t e or i a a casos des ta na t ure za , na pr áx i s , s ob r e t udo do BGH,

houv e um desv i r t uament o do s eu con t eúdo . Com i s so , pode -

s e d i z e r que a concepção u t i l i z ada pe l o t r i buna l a l emão não

co r r e sponde àque la desenv o l v i d a po r Rox in , em v i r t ude dos

s eus c r i t é r i o s o r i g ina i s t e r em s i do mod i f i c ados , de modo que

a p r ópr i a dou t r ina a l emã t em re chaçado as d i r e t r i z es

u t i l i z adas pe l o t r ibuna l , s ob a des i gnação de domín io po r

o r gan i z ação . ( . . . )

Todav i a , não s e pode ac r ed i t a r que a c r i a t ur a e s t e j a a c ima

de s eu c r i ado r , de modo que , s e o p r ópr i o Rox in r e chaça ,

ca t ego r i cament e , a i de i a de t r anspos i ção de sua t eor i a aos

c r imes pr a t i cados po r me i o de or gan i z ações empr esar ia i s ,

i n s i s t i r nessa h i pó t e s e é um cont r assenso . ” 58

Ao anal isar as di re tr izes para del imitação da

autor ia em organizações empresaria is , assevera o mesmo autor:

“A au t or i a d i r e t a ( ou imed i a t a ) , c omo v i s t o , o co r r e quando o

i nd i v í duo , na p r ópr ia pessoa , possu i e e xe r c e e f e t i v amen t e o

pode r de condução , ou s e j a , o c on t r o l e d i r e t o s obr e a

r ea l i z a ção , i n t e r rupção , imped iment o ou con t inu idade da

p r odução da o f ensa ao bem jur í d i c o -pena l . Par t i ndo da i de ia

de domín i o do f a t o aqu i r epr e sen t ada , v ê - s e que t a l

c oncepção não só s e ap l i c a ao âmb i t o empr esar i a l , c omo

t ambém é pr agmat i cam ent e ma i s adequada .

De aco r do com i s so , a au t or ia d i r e ta oco r r e na med ida em

que o c on t r o l ado r , g e s t o r ou admin is t r ador de o rgan i zação

empr esar i a l e xer ce c o n t r o l e d i r e to s ob r e o f a to t í p i c o

c aus ad o r d a o f ensa ao b e m ju r í d i c o , o u se ja , c o n t r o l a p o r s i

m e s mo a r e a l i z aç ão , i n te r r up ção , i m p e d im e n to o u

c o n t i nu i d ad e d a o f e ns a ao b e m ju r í d i c o , e quando e l e própr i o

ou e l e e a empr esa , c on junt ament e , bene f i c i a r em -se com a

p r á t i ca do f a t o de l i t i v o . L ogo , pa ra t a l c ar ac t e r i za ção , é

58 Teoria do domínio do fato. – São Paulo: Sara iva, 2014. Páginas 226/227.

107

impr esc ind í v e l a pa r t i c i pação e f e t i v a na r ea l i za ção t í p i ca

d i r e c i onada à causação da o f ensa ao bem ju r í d i c o .

( . . . ) deve - se observar que o s imp les cont ro le ine rente à

pos i ção ocupada pe lo ge rente como ta l , não é su f ic i ente

pa ra a tr ibu i r - se ao mesmo a cond ição de au tor , v i s to que

o domín io do f a to , con forme aqui p ropos to , const i tu i

c r i t é r i o mater i a l que depende do d i re to e e f e t i vo cont ro le

sob re a o f ensa ao bem ju r íd i co , ou se j a , e le não responde

pena lmente s imp lesmente pe la pos ição ocupada , mas s im

por condutas e fe t i vamente p ra t icadas que tenh am o

condão de desencadear a o f ensa ao bem ju r íd i co e que ,

por tanto , e s tão sob o seu domínio . ” 59

E , cr i t icando decisão profer ida em habeas

corpus (5011346-88.2012.404.0000, Sét ima Turma, Rel . Des.

Fed. É lc io P inhe iro de Castro , julgado em 17/07/12) pelo E.

Tr ibunal Reg ional Federal da 4ª Região , cont inua:

“Na jur i spr udênc ia b r as i l e i r a , encon t r a -s e pos i c i onament o

( j á supe rado ) o r i en t ado por c r i t é r i o abso lut amente

i nace i t áv e l , o qua l , por a s sen t ar em pr esunção , c onduz à

r e sponsab i l i dade pena l ob j e t i v a , a sabe r : aque l e que in t e g ra

o quadr o soc i a l da empr esa , na cond i ção de g e s t or ou

admin i s t rador , t e r i a o domín i o do f a t o e , por c onsegu in t e ,

s e r i a au t or . ( . . . )

Não se pode conceber , em um Estado Democrá t ico de

D i re i to , a r esponsab i l i zação dos ges tores se não f o i

ave r iguado e dev idamente comprovado que exerc i am

e f e t i vamente os poderes de ges tão que lhes e ram

a t r i bu ídos ( i n c lus i v e , t a l a spec t o é r e chaçado pe l a própr i a

l e g i s l a ção v i g en t e ) . A l i á s , c omo já a f i rmou O l i v e i ra , ‘ a

r e sponsab i l i dade pena l não pode s e r f i c t a , p r e sumida ,

d i v e r sa daque l a prov en i en t e da p r ópr i a c ondut a do agen t e e

59 Idem. Páginas 234/235. Grifado.

108

de sua pos t ur a ps i c o l óg i ca em r e l ação ao e v en t o

de l i t uoso ’ . ” 60

* * *

Não é cr íve l que se exi ja , não só do Acusado,

como de qualquer outra pessoa, que essa atue para impedir um

fato i l í c i to de que, independente de sua posição ocupada na

empresa, sequer tem ciência.

Da mesma forma, não é cr íve l ex ig ir de

empresár io que tenha c iência de tudo que ocorre em uma

empresa.

35. O Ministér io Públ ico , ao postular a

condenação do Acusado, ignorou toda a instrução probatór ia,

bem como todo conjunto de colaboradores e serv iço de

inte l igênc ia que d ispôs .

Optou por atr ibuir ao Acusado meras

suposições desprendidas de qualquer lastro documental ou

testemunhal , por meio das seguint es e infundadas asser t ivas :

“ (…) os execut ivos , a inda que d iv id idos em áreas específ icas

dentro da empresa, possuíam p leno conhec imento do

esquema de car te l ização e cor rupção ex is ten te no se io e em

desf avor da PETROBRAS, ass im como do pagamento de

valores espúr ios de f orma d iss imulada” .

Nada, repita -se, absolutamente nada corrobora esta

i lação. Qual depoimento, documento, registro,

te lefonema, etc. ampara esta afirmação? Existem

milhares de documentos sobre o assunto ‘PETROBRAS ’ -

60 Idem. Páginas 238/239.

109

internos da empresa e levantados pela Força -Tarefa,

bem como externos de outras empresas e fornecidos por

delatores. O Acusado jamais foi mencionado , em

momento algum.

(…) embora GERSON ALMADA alegue não ter informado seus

sóc ios do processo de car te l ização prat icado pe las em -

pre ite iras re lat ivo às obras da PETROBRAS, sua af irmação

não se sustenta. Isso porque é da natureza dos cargos

exerc idos por CRIST IANO KOK e JOSÉ ANTUNES a

par t ic ipação na tomada de dec isões da magn i tude at inente à

par t ic ipação da empre i te ira em um car te l ou ao pagamento

de van tagens indev idas a func ionár ios da PETROBRAS e aos

núcleos po l í t icos que os mantêm no poder . Dada a

vu l tuos idade dos valores receb idos da Estatal e dos

pagamentos espúr ios d irec ionados a agen tes públ icos

corromp idos , não é c r íve l que os de mais sóc ios

desconhecessem o esquema.

Com o devido respeito, trata -se de mais uma i lação que

afronta a prova contida nos autos. Além disso, basta

perfunctório acompanhamento da vida de uma grande

empresa e do dia a dia dos sócios para se constatar que

é forte a dinâmica empresarial que possui um sistema de

gestão baseado em “confiança e autonomia”. Um sócio,

diferentemente de um executivo contratado, tem

l iberdade total para , dentro de sua área , cuidar de

interesses comerciais. No caso, o trabalho de M ILTON

PASCOWITCH , que tratava de cerca de 1% dos contratos

com a PETROBRAS , não era do conhecimento ou tratado

com o Sócio ANTUNES . É importante fr isar que tais

valores, da ordem de R$ 58 milhões, movimentados por

M I LTON ao longo de 10 a 12 anos, não eram

110

representativos no movimento f inanceiro do grupo

(cerca de 5 milhões ao ano) .

Desta forma, face à inequívoca adoção de

responsabi l idade ob je t iva em relação ao sóc io JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO , já que não há e lementos capazes de v inculá - lo aos

cr imes narrados, não há outra so lução para o presente processo

que não sua abso lv ição.

5. ORGANIZAÇÃO CRIMINOS A – PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL

36. Independentemente do comprovado

a fastamento do Acusado de toda e qualquer questão re lat iva à

PETROBRAS , o que já basta para absolvê - lo das imputações

cont idas na denúncia, há de se a fastar a imputada organização

cr iminosa também em razão de sua at ipic idade .

Todos os contratos f i rmados com a

PETROBRAS , que são ob je to deste processo , precedem a Lei

12.850/13:

CONTRATO OBJETO DATA DE

ASSINATURA

0801 . 0015577 . 05 . 2 CACI MBAS UTGC Fase 2 27/09/2005

801 . 0030185 . 07 . 2 CACI MBAS UTGC Fase 3 05/03/2007

0800 . 0030725 . 07 . 2 PROPENO 30/03/2007

0800 . 0034522 . 07 . 2 URE ENXOFRE URE RPBC 31/08/2007

0800 . 0044602 . 08 . 2 RLAM CARTEIRA DE DIESEL 20/08/2008

0800 . 0051044 . 09 . 2 RPBC URC CUBATAO 06/10/2009

111

Da mesma forma, também são anter iores ao

advento da Le i em comento todos os contratos assinados com a

JAMP , empresa de M ILTON e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH :

CONTRATO DATA DE ASSINATURA

P-8887/07 -M0-PJ -1014/05 01/12/2005

P-8887/01 -M0-PJ -1018/07 01/08/2007

P-8983/00 -M0-PJ -1011/07 13/04/2007

P-8983/00 -M0-PJ -1031/07 01/09/2007

P-8983/00 -M0-PJ -1008/10 01/10/2010

P-8983/00 -M0-PJ -6009 -11 23/08/2011

P-8984/00 -M0-PJ -1005/08 19/03/2008

P-8984/00 -M0-PJ -1000/10 01/03/2010

P1015/00 -M0-PJ -1000/08 19/03/2008

P-1079/00 -M0-PJ -1001/09 01/11/2008

P-1079/00 -10 -PJ -0008 -11 25/08/2011

P-1079/00 -10 -PJ -1001 -11 17/05/2011

P-1079/00 -10 -PJ -0013 -12 23/03/2012

P-1169/00 -10 -OJ -0094/10 09/10/2010

Assim, caso houvesse associação cr iminosa –

o que se admite apenas por argumento – seu surg imento e

e fe t iva conduta ter ia se dado mesmo antes da ass inatura dos

contratos, sendo que eventuais pagamentos poster iores ao

advento da Lei 12.850/13, por mais que à fraude est ivessem

relacionados, não servem para assegurar qualquer permanência

112

ou estabi l idade da aventada organização cr iminosa mas, apenas

e tão somente, exaur imento do cr ime anter ior .

Desta forma, resta at íp ica a conduta re lat iva

ao cr imes de organização cr iminosa por força do ar t . 1 º do

Código Penal .

37. Não obstante , não há como imputar ao

Acusado o de l i to de organização cr iminosa por ausênc ia do

e lemento essenc ial ao t ipo penal em re ferênc ia : ciente

associação ordenada de quatro ou mais pessoas com o objet ivo

de obter vantagem mediante a prát ica de crimes .

Toda a prova produzida sob o contradi tór io

aponta que o Acusado , que nenhuma relação teve com a

PETROBRAS , sequer conhec ia seus d iretores ou se reuniu com

emprei te i ros ou operadores para d iscut i r questões ou contratos

l igados a esta Estatal .

A única exceção res ide na única v iagem

real i zada ao Peru com o corréu JOSÉ D IRCEU , cu jos t rabalho e

contratação (única que part ic ipou) , conforme já anal isado, são

l íc i tos e verdadeiros.

Sem prév ia c iênc ia de assoc iação cr iminosa

nem, muito menos, conhec imento ou busca de ob jeto i l íc i to , não

há fa lar -se em cr ime.

6. ATIP ICIDADE DA LAVAG EM DIANTE DA AUSÊNCI A DOS ELEMENTOS

OBJETIVOS E SUBJETIV OS

38. Para a acusação, a lavagem está escorada

nos cr imes antecedentes prat icados em detr imento da

113

PETROBRAS , notadamente formação de carte l , f raude à l i c i tação,

corrupção at iva e organização cr iminosa.

A organização cr iminosa imputável por

condutas anter iores à ed ição das Le is 12.683/2012 e

12.850/2013 não caracter iza cr ime antecedente capaz de

t ip i f icar lavagem de dinheiro :

“LAVAGEM DE D INHEIRO . ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA .

INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE . QUADRILHA

( ATUALMENTE DESI GNADA “ A S S OC IA Ç Ã O C R IM IN O S A ” ) .

CONDUTAS PRATICADAS EM MOMENTO QUE PRECEDEU A

EDIÇÃO DA LEI Nº 12 .683/2012 E DA LEI Nº 12 .850/2013 .

IMPOSSIB IL IDADE CONSTITUCIONAL DE SUPRIR -SE A

AUSÊNCIA DE TIP IF ICAÇÃO DO DELITO DE ORGANIZAÇÃO

CRIMINOSA , COMO INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE , PELA

INVOCAÇÃO DA CONVENÇÃO DE PALERMO . INCIDÊNCIA , NO

CASO , DO POSTULADO DA RESERVA CONSTITUCIONAL

ABSOLUTA DE LE I EM SENTIDO FORMAL ( CF , a r t . 5 º ,

i nc i so XXXIX ) . DOUTRI NA . PRECEDENTES .

I NADMI SSI BI L I DADE , D E OUT R O LA D O , DE CONSI DERAR -SE

O C R IM E D E FO R M A Ç Ã O D E Q U A D R IL H A COMO EQUI PARÁVEL

AO DEL I TO D E O RG A N IZ A Ç Ã O C R IM IN O S A PARA EFEI TO DE

REPRESSÃO ESTATAL AO CRI ME D E L A VA G EM D E D IN H E IR O

COMETI DO ANT ES D O A D VENT O DA LEI N º 12 . 683/2012 E

DA LE I N º 12 . 850/2013 . I NÉPCI A FORMAL DA DENÚNCI A

QUANTO AO DE LI TO C O NT R A A O R D EM EC ON ÔM IC A .

DESCUMPRI MENTO , PELO MI NISTÉRI O PÚBLI CO, NES S E

P O NT O , DE ÔNUS JURÍ DI CO RELEVANTE . MAGISTÉRI O

DOUTRI N ÁRI O. JURISPRUDÊNCI A . RECURSO ORDINÁR IO

PROVI DO . ” 61

Também não caracter izam antecedentes da

lavagem de d inhe iro os cr imes de carte l ou f raude à l ic i tação.

61 S up r em o T r ib un a l F e d e ra l – R H C 1 2 1 .8 3 5 . Re l . M in . Ce l s o d e Me l l o . 2 ª T u rm a . J u l g a d o em 2 5 /0 9 /2 0 1 5 .

114

Re fer idas imputações penais , a inda que não

sejam obje to deste processo, assim foram trazidas para a

denúncia :

i : C r imes de ca rte l : cons i s t en te na f o rmação de a cordos ,

a jus t e s e a l i anças , c om o ob j e t i v o de , c omo o f e r t an te s os

e xecu t i v os da ENGEVI X , f i xar a r t i f i c i a lment e pr e ços e ob t e r

o c on t r o l e do mer cado de f o r necedores da PETROBRAS;

i i : F raude às l i c i t ações : uma v ez que , med i an t e t a i s

c ondut as , houv e f r us t ração e f r audação , po r i n t e r méd io de

a jus t e s e c omb inações , do car á t e r compe t i t i v o de d i v e r sos

dos ma i o re s pr oced iment os l i c i t a t ór i o s pr omov idos pe l a

e s t a t a l , c om o i n tu i t o de ob t e r , par a s i ou par a ou t r em,

v an t agens decor r en t e s da ad jud i cação do ob j e t o da l i c i t ação ;

Acordos, a l ianças ou a justes capazes de

f raudar o caráter compet i t ivo da l ic i tação são condutas

prat icadas antes ou, raramente, durante o cer tame. Não após a

ce lebração dos contratos (pelo menos na forma como foram

descr i tos neste processo ) .

Ter iam ocorr ido , portanto , antes que do

advento da Lei 12.683/12, que , ao dar nova redação à lavagem

de d inhe iro , passou a admit i r , como cr ime antecedente,

qualquer inf ração penal .

Na época dos fatos o texto legal era c laro ao

estabe lecer ro l taxat ivo de cr imes antecedentes, sendo que,

entre e les , não f iguravam o carte l ou fraude à l ic i tação.

Por força da ir re troat iv idade da novat io leg is

in pe jus inex is te , no caso em te la, lavagem de dinheiro que

115

tenha por cr ime antecedente formação de carte l ou f raude à

l ic i tação.

39. Também não serve à antecedência da

lavagem a imputada corrupção at iva: não há qualquer prova que

o Acusado tenha part ic ipado de refer ido del i to , o que o afasta

da aventada lavagem de dinheiro :

“Não se ex ige que o reconhec imento da in f ração

p recedente se dê em dec i são jud ic ia l p rév ia ou t rans i tada

em ju lgado ( a r t . 2 . º , I I , da Le i de Lavagem) , mas o

mag i s t rado deve ind ica r na sentença as razões nas qua i s

f undamenta sua conv icção sob re sua ex i s tência . Em suma,

meros ind íc ios do i l í c i to p rév io bas tam para a denúnc ia ,

mas não para a condenação . ( . . . )

A i n ex i s t ênc i a de pr ocesso ou ju l gamen t o do an t e ceden te não

impede o r e conhec iment o de sua ma te r i a l i dade pe l o j u i z da

l av agem, desde que f undamen t e e apon t e os e l ement os pe l os

qua i s r e conheceu como c e r t a sua t i p i c i dade e

an t i j u r i d i c i dade . Poderá o ju i z aprec i ar o con junto

p robatór io l iv remente , e f o rmar sua conv icção acerca da

ex i s tênc ia do antecedente , sempre com base na p resunção

da inocência e na o rdem de oneração p robatór i a própr i a

do p rocesso pena l . A prova da t ip i c idade e da ausência de

causas de ju s t i f i cação sob re a in f ração antecedente

cont inuará sendo ônus da acusação , e não pode se r

f i rmada em meras p resunções . ”62

Nossos Tr ibunais possuem esse mesmo

entendimento :

“PENAL E PROCESSUAL PENAL . HABEAS CORPUS. CRIME DO

ART I GO 1 º , I NCISO V , DA LE I 9 . 613/98 . ABSOLVI ÇÃO DO

CRI ME ANTECEDENTE : I NOCORRÊNCI A DO CRI ME DE

LAVAGEM. CRI ME DE DESCAMI NHO. MODAL I DADE TER EM

DEPOSI TO . APREENSÃO DA MERCADORI A: AUSENCI A DE

PROVEI TO ECONÔMI CO. ORDEM CONCEDI DA. [ . . . ]

2 . O pac i en t e f o i denunc i ado po rque t e r i a o cu l t ado a

p r opr i edade de bens , p r ov en i en t e s de de l i t o c on t ra a

Admin i s t r ação Púb l i ca , c ons i s t en t e em cont r abando e

62

L av age m d e d i nhe i r o : as p ec to s p e na i s e p ro ce ss ua i s pena i s : c o me n tár i o s à L e i 9 . 613 c o m as a l t e r aç õ e s d a L e i 12 . 683/ 2012 . Gus t av o Henr i que

Badar ó , P i e r pao l o Cr uz Bo t t i n i . 2 . ed . – São Pau l o : Ed i t or a Rev i s t a dos

T r i buna i s , 2013 . Pág ina 92 . Gr i f amos .

116

descaminho , c r ime e s t e apur ado nos au t os

2007 . 61 . 81 . 014628 -5 .

3 . A Pr ime i r a Turma des t a Cor t e , po r ocas i ão do j u l gament o

da ape l a ção 2007 . 61 . 81 . 014628 -5 , po r unan im idade , negou

p r ov iment o ao ape l o da a cusação e deu pa r c i a l pr ov iment o

ao r e cur so do r éu pa r a abso l v ê - l o da p r á t i ca do c r ime

p r ev i s t o n o a r t . 334 , §1 º , " c " , c . c a r t . 29 , ambos do Cód i go

Pena l , c om f undament o no ar t . 386 , V I I , do Cód igo de

P r ocesso Pena l , t endo o a cór dão t r ans i t ado em ju l gado . [ . . . ]

6 . No caso em te la , há uma part i cu la r idade , o cr ime

antecedente nessa ação pena l f o i um c r im e bem def in ido e

com uma autor ia imputada ao mesmo réu do c r ime de

l avagem. E não houve p rova su f i c iente pa ra condenação

do réu no c r ime antecedente , de modo que não res tou

ca rac te r i zado o c r ime de l avagem, por ausênc ia da p rév ia

ocor rênc ia de c r ime do qua l o numerár io se j a

p roven iente .

7 . Caso não f osse imputada a au tor ia conhec ida a a l guém,

o f a to de não ex i s t i r condenação não imped i r i a que o

c r ime de lavagem fosse imputado a out ra pessoa . Mas uma

vez imputada a au tor i a do c r ime de l avagem a um autor ,

que é o mesmo agente que se imputa o c r ime de lavagem,

a abso lv i ção com re lação ao c r ime antecedente , e svaz i a a

p rópr i a imputação de l avagem.

8 . O Estado reconheceu em out ra ação pena l que não

ex i s te p rova su f ic i ente pa ra re l ac ionar o acusado com a

ob tenção i l í c i t a daque les bens . Ass im, não há como

imputar a e sse acusado a mera ocu l tação da p roven iênc ia

i l í c i t a desses bens . Se o Es tado não conseguiu p rovar que

o agente ob teve i l i c i t amente o bem, não pode ma i s tenta r

p rovar que o agente es tá ocu l tando ou d i ss im u lando bem

que t inha conhec imento que e ra i l í c i to . Sob rev indo

sentença abso lu tór i a em re lação ao c r ime antecedente ,

a inda que por insu f i c iênc ia de p rovas em re lação à

au tor i a de l i t i va , entendo que não subs is te o c r ime de

l avagem de cap i ta i s . [ . . . ] ”63

40. Por f im, o comprovado d is tanciamento

condutas cont idas na denúncia basta para exclui r nexo de

causal idade entre eventual ação ou omissão atr ibuível ao

Acusado e o resultado apontado.

63 TRF 3 HC 0033971 -34 . 2012 . 4 . 03 . 0000 – SP , 1 . ª T . , Re l . Pau l o

Domingues , 22 . 10 .2 013 . Gr i f o s nossos .

117

E , sem conduta, impossíve l a tr ibuir - lhe

e lemento subjet ivo necessário à caracter ização deste cr ime,

conforme exigênc ia doutr inária:

“A l ém de con f e r i r l ó g i ca e s i s t emat i c idade à t e o r i a do de l i t o ,

a ex igênc ia da consta tação do do lo na l avagem const i tu i

impor tante ga rant i a de imputação sub je t iva , que a f as ta

qua lquer h ipótese de re sponsab i l i dade ob je t iva na sea ra

pena l . Por ma is que uma pessoa se j a responsáve l por

de te rminada es fe ra de o rgan ização , somente se rá

responsáve l pe los c r imes de l avagem comet idos nes ta

sea ra se f o r demonst rada sua re l ação ps íqu ica com

aque les f a tos , o conh ec imento dos e l ementos t íp i cos e a

vontade de executa r ou co labora r com sua rea l i zação .

Po r i s so , o do l o não s e p re sume, mas s e pr ov a . ( . . . )

R ea lment e , não há ou t r a f o r ma de demonst ra r o do l o a não

s e r po r me i os ob j e t i v os , c omo p r ov as t e s t emunha i s ,

g r avações t e l e f ôn i cas , document os apr eend idos , den t r e

ou t r os . ( . . . )

Po r ma i s que ex i s t am e l ement os ob j e t i v os que r ev e l em a

t emer i dade do compor tament o , s eu r i sco pa r a a

Admin i s t r ação da Jus t i ça , somente haverá t i p i c idade se

houver ind íc ios do conhec imento e da vo ntade da

rea l i zação t íp i ca . A conservação do e l emento sub je t i vo do

t ipo é a ga rant i a do c idadão contra a responsab i l idade

ob je t iva na seara pena l , a s segurando - lhe que somente

se rão puníve i s os f a tos que integ ra ram seu espaço

ps íqu ico cogn i t i vo e vo l i t ivo . ”64

Para Gui lherme de Souza Nucci , a lavagem

ex ige “elemento sub je t ivo espec íf ico , cons is tente no in tu i to de

ocul tar ou d iss imular a u t i l ização dos bens , d i re i tos ou valores

provenientes de infração antecedente ”65.

Neste sent ido , o Supremo Tribunal Federal já

decidiu:

“EMBARGOS I NFRI NGENTES NA AP 470 . LAVAGEM DE

D I NHEIRO . ( . . . )

64

Gus t av o Henr i que Badar ó , P i e r pao l o Cr uz Bo t t i n i . Op . c i t . Pág ina 95/96.

Gr i f o s nossos . 65

Le i s pena i s e pr ocessua i s pena i s c oment adas . 8 . ed . v o l . 2 . R i o de

Jane i r o : For ense , 2014 . P . 454 . Gr i f o s nossos .

118

2 . Lav agem de d inhe i r o o r iundo de c r imes con t r a a

Admin i s t r ação Púb l i ca e o S i s t ema F inance i r o Nac i ona l . 2 . 1 .

A condenação pe lo de l i to de l avagem de d inhe i ro depende

da comprovação de que o acusado t inha c i ênc ia da o r i gem

i l í c i t a dos va lo res . 2 .2 . Abso lv i ção por f a l ta de p rovas . 3 .

Pe r da do ob j e t o quan t o à impugnação da pe r da au t omát i ca

do manda t o pa r l ament ar , t endo em v i s ta a r enúnc ia do

embargant e . 4 . Embar gos par c i a lmen t e conhec i d os e , n essa

ex t ensão , a co lh i dos pa r a abso l v e r o embar gant e da

imput ação de l av agem de d inhe i r o . ”66

Portanto , comprovada a ausência de

part ic ipação do Acusado em qualquer dos cr imes antecedentes,

não é possíve l lhe imputar , apenas pelo resultado apontado, a

prát ica de lavagem de dinheiro .

IV – CONCLUSÕES

1ª ) O processo é mani festamente nulo por cerceamento de

de fesa : a lém da denúncia ser formal e mater ia lmente inepta ,

fa l ta corre lação entre os fa tos cont idos na in ic ia l e aqueles que

serv iram para embasar o p le i to condenatór io (p. 16/28) .

2ª) O Grupo Engev ix e as empresas a e l e re lac ionadas sempre

possuíram estrutura organizacional bem def in ida, com clara

d iv isão de tarefas e atr ibuições entre os sóc ios , que com

fundamento na autonomia e confiança geriam is oladamente

seus setores (p . 29/47) :

66

EI na AP 470 . Re l . M in . Lu i z Fux . Ju lgado aos 13/03/14. Gr i f o s nossos .

119

A razão deste s istema de gestão deve -se à d inâmica de

administração das empresas do grupo, pr inc ipa lmente pe las

inúmeras responsabi l idades que o Acusado t inha em re lação à

DE SE NVI X (concessão de us inas ) , Aeroportos (concessões ) , setor

de energia (área internac ional ) , a l iadas à a locação f í s ica

d ist intas dos sóc ios , que o a fastava de qualquer negócio, l íc i to

ou i l íc i to , rea l i zado no âmbito da PETROBRAS .

O Acusado t inha base operat iva em Flor ianópol is , a lém de atuar

em Bras í l ia (aeroportos) , R io de Janeiro e em constantes v iagens

internac ionais .

3ª ) Al iás, neste âmbito, ressal te -se o correto entendimento de

Vossa Exce lênc ia ao não receber a denúncia do processo nº

5044464-02.2015.4.04.7000/PR contra GERSON ALMADA ,

basicamente, por não ser este sócio re lac ionado com assuntos

referentes ao Setor de Energ ia dentro do grupo:

infraestrutura, óleo e gás

financeiro, administrativo e

jurídico

energia, infrestrutura e

concessões

Gerson

Almada

Crist iano

Kok

José Ant unes Sobr inho

120

“No âmb i t o da Engev i x , é c e r t o que as p r ov as apont am, em

pr in c í p i o , par a a r e sponsab i l i dade p r in c i pa l do D i r e t or José

An t unes Sobr inho , mas cu mpr e r essa l v ar que t ambém o

P r e s i den t e Cr i s t i ano Kok , a l ém de sua r e sponsab i l i dade

g e r enc i a l s obr e a empr esa , t ambém subsc r ev eu con t r a t os

f r audu l en t os com a L ink Pr o j e t os .

Quan t o à Ger son A lmada , V i c ePr es i den t e da Engev i x ,

en t endo que , apesa r de s e r p r ov áv e l que t i v e sse

conhec imen t o do e squema f r audu l en t o , f a l t am me lhor es

e l emen t os a j us t i f i c a r a j us t a causa em r e la ção a e l e ,

obse rv ando que , d i f e r en tement e do que oco r r e com a

Andr ade Gut i e r r ez , o s c on t r a t os da Engev i x c om a

E l e t r onuc l ear são expr ess i v os , ma s não b i l i onár i os . Como

Gerson A lmada aparentemente es tava mai s v incu lado à

á rea de ó l eo e gás , t anto ass im que denunciado na ação

pena l 508335189 .2014 .404 .7000 , entendo f a l tar , quanto a

e l e , no momento ju s ta causa para o receb imento da

denúnc ia e s em pr e j u í z o de r e t omada s e sur g i r em novas

p r ov as . ” (Ev en t o 7 , P . 9 , g r i f amos )

Tratam-se de s i tuações estrutura lmente semelhantes .

4ª) Após a pr isão de GERSON ALMADA , responsáve l pelo setor de

ó leo e gás, JOSÉ ANTUNES SOBRINHO assumiu a presidênc ia da

Ecov ix , opor tunidade em que imediatamente determinou

real i zação de auditor ia interna para apurar eventuais desvios de

conduta que poderiam estar ocorrendo (p . 47/51) . Em razão

d isto:

tomou conhec imento de pagamentos fe i tos no exter ior às

empresas de M ILTON PASCOWITCH (p . 47/51) ;

convocou os i rmãos PASCOWITCH para que lhe

apresentassem e expl icassem o teor de todos os contratos

que suas empresas t inham ce lebrado com a ENGEVIX (p .

121

47/51) ; os i rmãos PASCOWITCH em dezembro de 2014

reuniram-se com o Acusado para esta f ina l i dade, ou seja,

seus contratos com o grupo ;

Levou à CGU , no acordo de leniênc ia que já v inha t ratando,

o relatório de auditoria e os contratos ce lebrados com as

empresas de PASCOWITCH (p . 47/51) .

5ª) O Acusado nunca ass inou ou gerenciou qualquer contrato

com a Petrobras, como f icou c laro na 7ª fase 67 da Operação Lava

Jato , onde e le também sequer fo i c i tado :

CONTRATO PERÍODO CONSÓRCIO VALOR TOTAL

(R$ )

ASSINANDO PELA

ENGEVIX

CA C I M B A S –

M Ó D U L O 1

0 6 / 0 4 / 0 6 a

1 3 / 0 2 / 0 9 E N G E V I X 4 3 8 . 4 8 3 . 7 5 0 , 6 9

Ger son de Me l l o

A lmada

José Car l os

Mendes Lopes

CA C I M B A S –

M Ó D U L O S 2

E 3

1 3 / 0 3 / 0 7 a

2 9 / 0 1 / 1 2 E N G E V I X 1 . 3 7 7 . 0 3 5 . 9 2 2 , 7 8

Ger son de Me l l o

A lmada

José Car l os Mendes Lopes

RPBC 0 3 / 0 9 / 1 1

a 2 9 / 1 2 / 1 1

S K A N S K A -

E N G E V I X

URE

( E M P R E S A

L Í D E R :

S K A N S K A )

1 6 5 . 5 0 0 . 0 0 0 , 0 0

Ger son de M e l l o

A lmada

Lu i z Robe r t o

Pe r e i r a

RPBC I I

1 3 / 1 0 / 0 9

a 2 3 / 0 8 / 1 3

I N T E G R A D O R A

– E N G EV I X ,

N I P L A N E NM

( E M P R E S A

L Í D E R :

E N G E V I X )

4 9 3 . 5 0 8 . 3 1 7 , 6 1

Ger son de Me l l o

A lmada

José Car l os

Mendes Lopes

REPAR 1 6 / 0 4 / 0 7

a 1 4 / 0 4 / 1 1

S K A N S K A -E N G E V I X

( E M P R E S A

L Í D E R :

S K A N S K A )

2 2 4 . 9 8 9 . 4 7 7 , 1 3

Wi l son V i e i r a

J osé Car l os

Mendes Lopes

RLAM 2 6 / 0 8 / 0 8

a 2 5 / 1 2 / 1 2

I N T E G R A Ç Ã O

– E N G EV I X E

Q U E I R O Z

9 0 9 . 4 4 8 . 1 0 0 , 4 8 Mi l t on Hup lan

Pe r e i r a

67 N a 7 ª F a s e , a p r i n c i p a l c o r r e l a c i o n a d a c o m a P e t r o b r a s , o A c u s a d o n ã o f o i c i t a d o o u

r e l a c i o n a d o p o r C o l a b o r a d o r e s d o M P F , p a r t i c i p a n t e s d o d e n o m i n a d o “ c a r t e l ” o u t e v e

s u a p e s s o a v i n c u l a d a c o m q u a l q u e r c o n t r a t o o u a ç ã o i l í c i t a .

122

G A L V Ã O

( E M P R E S A

L Í D E R :

Q U E I R O Z

G A L V Ã O )

Lu i z Robe r t o

Pe r e i r a

6ª) A prova colhida durante a instrução demonstra que JOSÉ

ANTUNES SOBRINHO sempre esteve completamente ausente das

questões re lat ivas aos contratos com a PETROBRAS , po is suas

at iv idades e d inâmica empresar ia l o apartam comple tamente de

ta is re lações ou conhec imentos , conforme se demonstra abaixo:

AGENTES DIVIDIDOS POR GRUPOS

RELAÇÃO PROCESSUAL

RELAÇÃO COM RÉU

I ) PE T R O B R A S - D I R E T O R E S

P A U L O R O B E R T O CO S T A

( N Ã O C O N H EC I A )

Co l abor ador

O Réu não t ev e qua l quer

r e l a ção pessoa l ou p r o f i s s i ona l c om qua l quer

dos ag en t es c i t ados ,

r e sponsáv e i s d i r e t os pe l a s

ope r ações e c on t r a t os da

Pe t r obr ás na Ope r ação

Lav a Ja t o , i n c lus i v e aque l e s r e l a c i onados à 7 ª

Fase , a ma is aguda no

t ocant e à s empre i t e i r a s .

Não há s eque r r eg i s t r o de

r eun i ão , a t a , t e l e f onema que i n cr imine ou l ev ant e

suspe i t a do Réu em

qua l quer c on t ra t o c om a

Pe t r obr as .

P E D R O J O S É BA R U S C O

F I L H O

( N Ã O C O N H EC I A )

Co l abor ador e Réu

R E N A T O D E S O U Z A DU Q U E

( N Ã O C O N H EC I A )

R éu

I I ) OP E R A D O R E S

A L B E R T O YO U S S E F Co l abor ador

O Réu não t ev e qua l quer

r e l a ção com os ag en t e s

c i t ados que o env o l v e sse com con t r a t os com a

Pe t r obr as ou out r o t i po de

negoc i a ção . I n t e r roga t ór i o s

e Co l abor ações de ambos

j ama i s env o l v e ram ou c i t a r am o Réu.

J Ú L I O G E R I N D E A L M E I D A

C A M A R G O Co l abor ador e Réu

I I I ) EM P R E I T E I R O S

123

A U G U S T O R I B E I R O D E

M E N D O N Ç A N E T O – TO Y O

S E T A L

R I C A R D O R I B E I R O P ES S O A

- UTC

D A L T O N D O S S A N T O S

A V A N C I N I – CA M A R G O

C O R R ÊA

E D U A R D O H E R M E L I N O

L E I T E – CA M A R G O

C O R R ÊA

Co l abor adores

O Réu não t ev e , em

moment o a l gum, qua l quer

r e l a ção com os ag en t e s

c i t ados , que f az i am pa r t e

do “ ca r t e l ” pa r a os

con t r a t os da Pe t r obr as . A l ém de não s e r c i t ado nas

de l a ções , j ama is pa r t i c i pou

de r eun i ões com e l e s . A

r epr esen ta t i v i dade , c om

es t e s e dema is ag en t es , e r a de Ge r son A lmada ,

c on f or me amp lament e

demons t r ado em t odos os

i n t e r r oga t ór i o s .

IV ) A G E N T E S CE N T R A I S D A AÇ Ã O

M I L T O N PA S C O W I T C H

J O S É AD O L F O

P A S C O W I T C H

Co l abor adores e

Réus

M i l t on passou a t r aba lhar c om Ger son a pa r t i r de

2003 como desenv o l v edo r

de negóc i os jun t o à

Pe t r obr as . Con f orme c i t ado

po r M i l t on e s eu i r mão ,

c on t r a t os f i c t í c i os f o r am f i r mados en t r e a s empr esas

JAMP e ENG EVIX com

Ger son . Con f o r me M i l t on

de i xou c l a r o nos ma i s de

10 ( dez ) anos de re l ação com a empresa , “nunca

t ra te i negóc io a l gum com

Antunes”

V ) D E M A I S E N V O L V I DO S

F E R N A N D O AN T O N I O

G U I M A R Ã E S HO U R N EA U X

D E MO U R A

O L A V O HO U R N E A U X D E

M O U R A F I L H O

J U L I O C E S A R D O S S A N T O S

R O B E R T O MA R Q U E S

R éus

O Réu s eque r os conheceu,

c om exceção de Fe rnand o

Mour a , o qua l v e i o a

c onhecer apenas na Cus t ód i a da

Supe r in t endênc i a da

Po l í c i a Feder a l de

Cur i t i ba/PR. T ambém

desconhece a s empr esas HOPE e out ras c i t adas na

ação .

J O S É D I R C E U D E

O L I V E I R A E S I L V A R éu

A re l ação ent re es te

agente e o Réu decor re

un icamente de uma missão técnica no Peru .

M i l t on Pascow i t ch con f i r ma

que a c i t ada missão f o i

r ea l i z ada e g e r ou o ún i co

con t r a t o c onhec ido pe l o

Réu . O Réu desconhece ou t r os con t r a tos e

124

pag ament os , j á que José

D i r ceu con f i r ma que

“ t r a t av a só com Mi l t on e

Ger son ” .

G E R S O N D E M E L O

A L M A D A E C R I S T I A N O K O K R éus e Sóc i os

Sóc i os c om f unções bem

es t r ut ur adas e d i v i d i das ,

cu j a a t uação s e dav a de f o r ma i s o lada , c om

abso lu t a aut onomia e

c on f i ança dos d ema i s

s óc i os , c on f orme j á

c on f i r mado nos i n t e r r oga t ór i o s .

7ª) A prova de ixou estabelec ido que JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

também não se re lac ionou com M ILTON e JOSÉ ADOLFO

PASCOWITCH , quer se ja para d iscut i r os termos e pagamento de

qualquer contrato quer se ja para sua formal regular ização.

Sequer sabia que parte dos va lores recebidos dos contratos

celebrados com a PETROBRAS eram repassados a M I LTON

PASCOWITCH que, por sua vez, os ger ia e red istr ibuía segundo

necess idades e conveniênc ias que e le mesmo estabe lec ia,

t ratando ou não com GERSON ALMADA . Por tanto, M I LTON era ator

decis ivo quanto ao uso dos recursos, não s implesmente

“operador” , tendo seu depoimento s ido c laro em isentar o

Acusado de part ic ipar de qualquer processo.

Segundo narra a denúncia do Minis tér io Públ ico e conforme se

a fere dos próprios autos , o f luxo de recursos gerenciados por

M I LTON PASCOWITCH obedec ia o seguinte esquema no qual se

demonstra que não há qualquer part ic ipação do Acusado:

125

8ª) Quanto à re lação do Acusado com JOSÉ D IRCEU , f icou c laro ,

se ja pe la declaração do próprio réu ou do Diretor ALESSANDRO

CARRARO , que fo i rea l i zada uma missão ao Peru, época em que

Área Internacional era comandada por ANTUNES ; que o Acusado

conheceu o 1º contrato , no va lor de R$120.000,00 e que não

conhec ia os demais. M ILTON PASCOWITCH também conf irma que o

1º contrato fo i e fe t ivo e não foram os demais. Os demais

contratos per faz iam R$600.000,00 e foram cuidados por M ILTON

e GERSON nos mesmos moldes das demais distr ibuições.

ENGEVIX CONTRATOS

RELAM, REPAR, RBPC , CACIMBAS

ÓLEO E GÁS/INFRAESTRUTURA

GERSON ALMADA

MILTON PASCOWITCH RECEBIMENTO GESTÃO E

REPASSE DE VALORES

JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH

FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS

CRISTIANO KOK ASSINATURA DOS

CONTRATOS

PT - VACCARI

FERNANDO MOURA - HOPE

DIRETORES DA PETROBRAS

JD - REFORMAS, AVIÕES E DIVERSOS

126

O Acusado deconhecia re formas de res idência , a lugueres de

av ião, ou mesmo empresas como a Hope e pessoas como

FERNANDO MOURA , seu i rmão e outros re lac ionados a JOSÉ

D IRCEU .

* * *

Os cr imes atr ibuídos a JOSÉ ANTUNES

SOBRINHO mostraram-se, pela prova dos autos , abso lutamente

incons is tentes : não há uma única gravação, documento , l i sta,

laudo ou depoimento capaz de indicar, a inda que minimamente,

qualquer ação ou omissão por e le prat icada que tenha

contr ibuído para o resul tado . Nunca integrou organização

cr iminosa dest inada a corromper agentes públ icos com a

f inal idade de obter vantagens em contratos com a Petrobr as nem

se al iou ou compôs carte l para ta l f ina l idade.

Portanto , sem qualquer fato t íp ico que a e le

possa ser imputado, JOSÉ ANTUNES SOBRINHO aguarda ser

absolvido de todos os crimes que lhe são atribuídos, nos

exatos termos do art. 386, IV, do Código de Processo Penal .

De São Paulo para Cur it iba, 03 de maio de

2016

Car los Kauf fmann – OAB/SP 123.841

Antonio Figueiredo Basto – OAB/PR 16.950

Luis Gustavo Veneziani – OAB/SP 302.894

Caio Almado Lima – OAB/SP 305.253

Natal ia de Barros Lima – OAB/SP 345.300