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6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ. “Si autem veraciter agitur non remittitur peccatum, nisi restituatur ablatum, si, ut dixi, restitui potest. Quer dizer: Se o alheio, que se tomou ou retém, se pode restituir, e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de o restituir” (Sermão do Bom Ladrão – 1655 – Padre Antônio Vieira). O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 127, caput; 129, III; 37, caput; 37, I, II, V, IX, e parágrafos 2º e 4º; da Constituição Federal, na Lei nº 7.347/85 e na Lei nº 8.429/92; propor o presente pedido de provimento jurisdicional de AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de

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6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA

CÍVEL DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ.

“Si autem veraciter agitur non remittitur peccatum, nisi restituatur ablatum, si, ut dixi, restitui potest. Quer dizer: Se o alheio, que se tomou ou retém, se pode restituir, e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de o restituir” (Sermão do Bom Ladrão – 1655 – Padre Antônio Vieira).

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por

seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições constitucionais e

legais, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 127,

caput; 129, III; 37, caput; 37, I, II, V, IX, e parágrafos 2º e 4º; da Constituição Federal, na

Lei nº 7.347/85 e na Lei nº 8.429/92; propor o presente pedido de provimento jurisdicional

de

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA PRÁTICA DE ATO

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em face de

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS, brasileiro, casado,

comerciante, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 1.925.087 SSP-Pr, inscrito no CPF

nº 336.361.689-91, residente na Rua Almirante Barroso, nº 2015, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, brasileiro, casado,

vereador, podendo ser localizado na Câmara Municipal, situada na Travessa Oscar

Muxfeldt, nº 81, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, pelos motivos de fato e de

direito que passa a expor:

1. DOS FATOS:

= Do Conluio Criminoso Antecedente =

O réu JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA foi eleito pelo

Partido da Mobilização Nacional - PMN, sendo diplomado em 01º de janeiro de 2009

para exercer mandato de vereador, o qual terá seu término em 31 de dezembro de 2012.

Já JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS era também filiado

ao Partido da Mobilização Nacional – PMN – tendo assumido a direção do sobredito em

2009, e permanecendo nesta função por dez meses.

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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No início de 2009, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS

SANTOS e JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA ajustaram entre si um plano

criminoso com o escopo de desviar em proveito de ambos, mensalmente, quantia em

dinheiro da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.

Tal roteiro criminoso foi arquitetado em uma reunião

realizada no escritório do Chefe Regional da Secretaria Estadual do Trabalho, a qual teve

a participação de alguns membros do mencionado partido.

Dando início a execução a tal plano sórdido, no dia 02 de

fevereiro de 2009, na Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81,

Centro, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, JOSÉ CARLOS NEVES DA

SILVA contratou JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS para a função de Assessor

Parlamentar – Referência PL-5, consoante Portaria da Presidência nº 110/2009 (fls. 191).

No entanto, conforme pactuado, o primeiro requerido não exerceria as atribuições

próprias de seu cargo, nem compareceria regularmente na sede da Câmara Municipal

para o labor no seu expediente funcional, o que de fato ocorreu.

É certo que JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA tinha plena

consciência de que JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS não realizava a contraprestação

correspondente à remuneração, pois tal fato, como já afirmado, era derivado de um ajuste

prévio entabulado entre eles.

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Apesar do sobredito servidor ter sido dispensado em 01º de

setembro de 2009 (Portaria da Previdência nº 267/2009 - fls. 192), foi novamente

nomeado para o mesmo cargo em 01º de outubro de 2009 (Portaria da Presidência nº

286/2009 - fls. 193), sendo definitivamente exonerado somente em 15 de outubro de

2010 (Portaria da Presidência nº 167/2010 – fls. 194).

Ficou estabelecido entre os réus que o primeiro receberia a

quantia de R$ 700,00 (setecentos reais) mensais do salário para o cargo de assessor

parlamentar, sendo o restante dirigido ao segundo e distribuído entre os partidários.

= 1º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de fevereiro de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 200), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 2º Fato =

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Em data não esclarecida, no mês de março de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 201), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 3º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de abril de 2009, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 202), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 4º Fato =

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Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de maio de 2009, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 203), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 5º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de junho de 2009, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 204), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 6º Fato =

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Em data não esclarecida, no mês de julho de 2009, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 205), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 7º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de agosto de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 195/196 e 206), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 8º Fato =

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Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de setembro de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 6.677,74 (seis mil, seiscentos e setenta e sete reais e setenta e quatro

centavos), pertencentes à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos e encargos

trabalhistas relativos ao cargo de assessor parlamentar conforme o ajuste acima

explicitado (fls. 195/196 e 207), sendo que o primeiro não laborou no mês antecedente,

de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 9º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de outubro de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 208), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 10º Fato =

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de novembro de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 209), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 11º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de dezembro de 2009, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 6.132,63 (seis mil, cento e trinta e dois reais e sessenta e três centavos),

pertencentes à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos e décimo terceiro salário

do cargo de assessor parlamentar conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e

210/211), sendo que o primeiro não laborou no mês antecedente, de modo que não fazia

jus a tal remuneração.

= 12º Fato =

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de janeiro de 2010, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 5.451,22 (cinco mil, quatrocentos e cinqüenta e um reais e vinte e dois

centavos), pertencentes à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de

assessor parlamentar conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 212), sendo que

o primeiro não laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 13º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de fevereiro de 2010, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 213), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 14º Fato =

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de março de 2010, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 214), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 15º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de abril de 2010, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 215), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 16º Fato =

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de maio de 2010, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 216), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 17º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de junho de 2010, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 217), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 18º Fato =

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Em data não esclarecida, no mês de julho de 2010, na Câmara

de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 4.906,10 (quatro mil, novecentos e seis reais e dez centavos), pertencentes

à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 218), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 19º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de agosto de 2010, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 5.200,46 (cinco mil e duzentos reais e quarenta e seis centavos),

pertencentes à Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor

parlamentar conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 219), sendo que o

primeiro não laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 20º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de setembro de 2010, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio, com

comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 5.004,22 (cinco mil e quatro reais e vinte e dois centavos), pertencentes à

Câmara Municipal, referentes aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar

conforme o ajuste acima explicitado (fls. 197/198 e 220), sendo que o primeiro não

laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= 21º Fato =

Em data não esclarecida, no mês de outubro de 2010, na

Câmara de Vereadores, situada na Travessa Oscar Muxfeldt, nº 81, Centro, nesta Cidade

e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, os requeridos JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, dolosamente agindo, mediante prévio conluio,

com comunhão de esforços e identidade de propósitos, desviaram, em proveito próprio, a

quantia de R$ 7.537,00 (sete mil, quinhentos e trinta e sete reais), pertencentes à Câmara

Municipal, referentes aos vencimentos e encargos trabalhistas relativos ao cargo de

assessor parlamentar conforme o ajuste acima explicitado (fls. 199 e 221), sendo que o

primeiro não laborou no mês antecedente, de modo que não fazia jus a tal remuneração.

= Conclusão =

Desta feita, os réus JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS e

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, mediante prévio conluio, com comunhão de

esforços e união de propósitos, desviaram em proveito próprio, dinheiro público

pertencente à Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FOZ DO IGUAÇU Proteção ao Patrimônio Público e Fundações

Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Apurou-se, provisoriamente, que os requeridos desviaram,

aproximadamente, o montante de R$ 114.296,45 (cento e catorze mil, duzentos e noventa

e seis reais e quarenta e cinco centavos), consoante Informação de Auditoria de fls.

224/228.

À guisa de ilustração, traz à colação o quadro com tais valores

atualizados:

fev/12 2,7026041

Mês Vencimento Bruto Fator à Época Valor Corrigido *fev/09 4.906,10 2,3199395 5.715,34

mar/09 4.906,10 2,3220275 5.710,20 abr/09 4.906,10 2,3145970 5.728,53 mai/09 4.906,10 2,3214250 5.711,68 jun/09 7.154,73 2,3304786 8.297,18 jul/09 4.906,10 2,3316438 5.686,65

ago/09 4.906,10 2,3268640 5.698,33 set/09 6.677,74 2,3288418 7.749,47 out/09 4.906,10 2,3336159 5.681,85 nov/09 6.132,63 2,3359495 7.095,22 dez/09 4.906,10 2,3410886 5.663,71 jan/10 5.451,22 2,3426103 6.288,92 fev/10 4.906,10 2,3647480 5.607,04

mar/10 4.906,10 2,3859125 5.557,31 abr/10 4.906,10 2,4018981 5.520,32 mai/10 4.906,10 2,4193119 5.480,59 jun/10 7.359,15 2,4435050 8.139,48 jul/10 4.906,10 2,4463150 5.420,09

ago/10 5.200,46 2,4481498 5.740,98 set/10 5.004,22 2,4607577 5.496,04 out/10 7.537,00 2,4809359 8.210,42

Total 114.296,45 130.199,36 * Tabela Judiciária Estadual - média entre o INPC (IBGE) e o IGP-DI (FGV) até fevereiro/2012

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Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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2. DO DIREITO:

Com suas condutas ilícitas, os requeridos cometeram atos de

improbidade administrativa que, ao mesmo tempo, importaram enriquecimento ilícito e

atentaram contra os princípios da Administração Pública, conforme previsão dos artigos

9º e 11 da referida Lei 8.429/92. Senão vejamos.

Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso I, da Lei nº 8.429/92:

“Art. 9º: Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de

vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de

cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades

mencionadas no artigo 1º desta lei, e notadamente:

(...)

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou

imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou

indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou

presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que

possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão

decorrente das atribuições do agente público;”

(...)

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial

das entidades mencionadas no art. 1° desta lei (...)”.

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Verifica-se que JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS foi

nomeado para o cargo em comissão de assistente parlamentar, junto ao Gabinete de

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, sem que nunca tivesse exercido as funções

relativas a esse cargo, sendo que os vencimentos foram utilizados em proveito de ambos.

Com isso, os requeridos enriqueceram-se ilicitamente, pois

auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do mandato de vereador de JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA e do cargo de assessor parlamentar de JAIR JOSÉ

SERVO DOS SANTOS, consistente no desvio da remuneração paga pela Câmara de

Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr, para o (simulado) desempenho de funções que deveriam

ter sido realizadas pelo primeiro réu.

Ainda como corolário da nomeação de pessoa que nunca

trabalhou no serviço público e do desvio dos valores pagos pela Câmara Municipal,

ocorreu a incorporação ao patrimônio dos réus de valores integrantes do acervo

patrimonial da Câmara Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou, JAIR JOSÉ

SERVO DOS SANTOS nunca trabalhou, e desta feita nenhum salário deveria lhe ser

destinado. E, em tendo os réus se aproveitado de tal situação, vieram a incorporar,

ilicitamente, valores pertencentes à Casa de Leis local.

Nem o requerido JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS

deveria receber os valores referentes aos vencimentos, já que nunca desempenhou suas

funções, nem JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, pois se utilizou de um prévio ajuste

ilícito para se apropriar de parcela da remuneração indevida e permitir que o restante

ficasse na posse do co-réu sem o respectivo labor em favor dos munícipes.

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A não prestação do serviço público, bem como o acordo entre

os réus, foram confirmados em averiguação ministerial.

Primeiro, pelas declarações do próprio réu JAIR JOSÉ

SERVO DOS SANTOS, às fls. 47/48, in verbis:

“O depoente esclarece que assumiu tal cargo com o

compromisso de jamais trabalhar na Câmara, ou seja, nunca

assessorou ninguém, só deu seu nome porque precisava de

cerca de um ano e meio para completar o período exigido

para receber o benefício de sua aposentadoria. Isto é, o

depoente dava seu nome como assessor, nunca apareceria

para trabalhar, tal período contaria para fins

previdenciários, mas ficaria com apenas R$ 700,00

(setecentos reais) de seu salário, sendo o restante entregue

para o vereador José Carlos Neves da Silva (...)”.

Segundo, pelos depoimentos das testemunhas Valdir Pinheiro

dos Santos (fls. 242), Antônio Alves dos Santos (fls. 243), Waldecir Francisco Gonçalves

dos Santos (fls. 246) e Valdemar Natts de Azevedo (fls. 251).

Destarte, em virtude das condutas narradas acima, JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA e JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS enriqueceram-se

ilicitamente, pois auferiram vantagens patrimoniais indevidas em razão do exercício do

mandato de vereador e da função de assessor parlamentar, respectivamente, já que o

primeiro era chefe imediato do segundo.

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A conduta dos requeridos, logo, encontra plena e perfeita

caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos I e XI do artigo 9º, da Lei

de Improbidade Administrativa, por todas as situações ilícitas indicadas neste tópico, ou

seja, pelo emprego do método conhecido por manter funcionário “fantasma” e pelo

desvio da quantia referente aos vencimentos do cargo de assessor parlamentar.

O enriquecimento ilícito dos réus lhes ocasionou inegável

opulência econômica, em evidente prejuízo a arca municipal, a qual desembolsou valores

para o pagamento de servidor que deveria estar desempenhando funções junto ao

gabinete do vereador, mas que por acordo não exerceu nenhum labor, não obstante o

legislativo local realizar o pagamento desse comissionado.

A conduta praticada por eles cometida (contratação de

funcionário fantasma) consiste naquela pessoa nomeada para um cargo público que

jamais desempenha as atribuições que lhe cabem, id est, recebe sem trabalhar, enriquece

ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, na maior parte das vezes com

remunerações muito superiores à da maioria da população brasileira, que não conta com

o denominado "padrinho" ou "pistolão".

Trata-se de experiência corriqueira no Estado brasileiro

totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que nomeia quanto da

pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.

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Por nunca ter, efetivamente, desempenhado as atribuições

inerentes ao cargo para o qual foi nomeado, mas sim, aceitado participar de uma fraude

contra a Administração Pública para atingir finalidades particulares, o dito funcionário

fantasma não chega a entrar em exercício no cargo, que segundo preceitua o artigo 15, da

Lei nº 8.112/90, aplicado analogicamente, consiste no "efetivo desempenho das

atribuições do cargo público ou da função de confiança."

O enriquecimento ilícito, e consequentemente o prejuízo da

Casa de Leis local, segundo Informação de Auditoria de fls. 224/228, foi de R$

114.296,45 (cento e catorze mil, duzentos e noventa e seis reais e quarenta e cinco

centavos).

Em razão disso, JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA e

JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS ficam sujeitos às sanções previstas no artigo 12,

inciso I, da referida Lei nº 8.429/92.

A evidente e reprovável conduta ilícita é destacada nos

seguintes julgados:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. CÂMARA MUNICIPAL.

DESIGNAÇÃO SIMULADA DE SERVIDORES.

CARGOS EM COMISSÃO. FALTA DE PRESTAÇÃO

REGULAR DE SERVIÇOS. É procedente o pedido de

ressarcimento, formulado em ação civil pública, diante da

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demonstração de que servidores municipais, ocupantes, na

época, de cargo comissionado, não exerceram

regularmente suas funções. Nega-se provimento ao agravo

retido, rejeita-se a preliminar e nega-se provimento aos

recursos de apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação

nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES. ALMEIDA

MELO, j. 06.09.2007, DJ 21.09.2007).

“Constitucional/Administrativo Ação de improbidade

administrativa. Legitimação ativa do Ministério Público e

demais condições acionárias presentes. Cerceamento

defensório inocorrente. Empresa pública municipal -

Contratação de servidora sem a realização de concurso

público ou processo seletivo - Ausência de efetivo exercício

das funções respectivas, apesar de assinado o ponto -

Recebimento dos salários - Infringência ao art. 37, “caput”

e inciso II, da CF - Responsabilização de todos os

envolvidos - Penalidades bem impostas, incluso o

ressarcimento do erário - Procedência parcial ampliada

para total - Provimento ao recurso ministerial e

desprovimento dos demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito

Público, Apelação com revisão nº 8944185100, Rel. Des.

Ivan Sartori, j. 24.06.2009, DJ 18.08.2009).

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“Cerceamento de defesa - Inocorrência - Matéria

comprovada ampla por documentos dos autos -

Preliminar rejeitada Ação Civil Pública - Improbidade

administrativa - Contratação de servidora para exercício

de cargo em comissão por indicação de Vereador -

Funcionária “fantasma”, que, embora nomeada e

empossada, jamais realizou os serviços - Pagamentos que

eram destinados para a conta do Vereador que a indicou -

Recebimento de vantagens financeiras em prejuízo do

erário público - Ação julgada procedente - Sentença

mantida - Recurso improvido” (TJSP, 6ª Câmara de

Direito Público, Apelação com revisão nº 3950545100, Rel.

Des. Leme de Campos, j. 29.06.2007).

Além do exposto, os requeridos também praticaram atos que

ferem os princípios da Administração Pública.

O artigo 11, caput, da Lei nº 8.429/92 dispõe:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que

atenta contra os princípios da administração pública

qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às

instituições, e notadamente:”

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Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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Nos termos do artigo 37, caput, da Constituição Federal, “a

administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.

Em consonância a esse preceito constitucional, o legislador

ordinário dispôs, no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que “os agentes públicos de qualquer

nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são

afetos”, inclusive estipulando, em seu artigo 11, que qualquer ação ou omissão que viole

aqueles princípios, configura ato de improbidade administrativa.

E foi o que ocorreu na espécie, tendo JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA e JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS afrontado violentamente os

princípios da legalidade e da moralidade administrativa.

Todos os aspectos demonstrados até o momento deixam à

mostra não só a desobediência ao princípio da legalidade, em virtude da prática de ato

ilícito, mas também a ruptura ao princípio da moralidade, posto que dá ensejo à mácula

ética que impregna o comportamento do vereador, bem como aceita por seu “assessor”,

sendo passível de correção pelo Poder Judiciário. Neste sentido:

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“A Constituição, sensível aos vícios identificados pela

Nação na prática da Administração Pública, não deixou

sem solução satisfatória tão grave problema de ajuste do

atuar do agente público com a finalidade pública da ação

produzida, fazendo com que o direito seja o reflexo de

uma nova concepção de justiça compatível com a

realidade social a que se destina. O amplo controle da

atividade administrativa se exerce, na atualidade, não só

pelos administrados diretamente, como, também, pelo

Poder Judiciário, em todos os atributos do ato

administrativo”1.

Sobre o conteúdo jurídico desse princípio, Lúcia Valle

Figueiredo leciona:

“... o princípio da moralidade vai corresponder ao conjunto

de regras de conduta da Administração que, em determinado

ordenamento jurídico são consideradas os standards

comportamentais que a sociedade deseja e espera”2.

1 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Ética e Administração Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1993. p. 65. 2 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 1994. p. 45.

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Ora, não corresponde aos padrões éticos que a sociedade

espera e deseja de um vereador e de seu assessor parlamentar, bem como não é honesto e

nem leal à instituição a qual estão vinculados, o recebimento de remuneração sem a

devida contraprestação e o desvio dos valores pertencentes à Câmara dos Vereadores.

Finalmente, ainda como consequência dessas condutas, os

requeridos praticaram ato visando a fim proibido em lei, pois, a toda evidência, não há

comando normativo autorizando que vereador (ou qualquer outro parlamentar) possa se

apropriar dos vencimentos de seus assessores, ou que assessores parlamentares possam

receber remuneração sem nunca exercerem as funções que são afetas.

JAIR JOSÉ SERVO DOS SANTOS foi nomeado para o

exercício de cargo em comissão. Logo, deveria desempenhar as funções correlatas a esse

cargo, os quais, nos termos do artigo 37, inciso V, da Constituição Federal, destinam-se

às atribuições de direção, chefia e assessoramento.

Mas, conforme foi exaustivamente afirmado: NUNCA

TRABALHOU.

Assim sendo, praticaram os requeridos atos de improbidade

administrativa, capitulados no artigo 11, caput, da Lei nº 8.429/92, ficando sujeitos às

penas consignadas no artigo 12, inciso III, da mencionada lei.

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26

Apesar das independências das esferas penal e civil, é de suma

importância frisar que além de configurar ato de improbidade administrativa, os fatos

narrados configuram delitos de peculato-desvio, previsto no artigo 312, do Código Penal,

in verbis:

“Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro,

valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de

que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito

próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.

Por isso, e pela presença das condições da ação e justa causa,

os requeridos foram denunciados, o que reforça o caráter ilícito das condutas entabuladas.

Nessa quadra, consigne-se o julgado do Supremo Tribunal

Federal, ao receber denúncia por crime análogo:

"PENAL E PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO.

DENÚNCIA OFERECIDA. ART. 312, CP. PECULATO-

DESVIO. ART. 41, CPP. INDÍCIOS DE AUTORIA E

MATERIALIDADE DELITIVA. TIPICIDADE DOS

FATOS. PRESENÇA DE JUSTA CAUSA.

RECEBIMENTO. (...) 5. A imputação feita na denúncia

consiste no suposto desvio de valores do erário público, na

condição de deputado federal, ao indicar e admitir a pessoa de

Sandra de Jesus como secretária parlamentar no período de

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Inquérito Civil Público nº 0053.11.000320-8

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junho de 1997 a março de 2001 quando, na realidade, tal

pessoa continuou a trabalhar para a sociedade empresária

'Night and Day Produções Ltda', de titularidade do

denunciado, no mesmo período. (...) 7. Há substrato fático-

probatório suficiente para o início e desenvolvimento da ação

penal pública de forma legítima. 8. Denúncia recebida" (STF -

Inq 1926 / DF - DISTRITO FEDERAL- Tribunal Pleno. Rel.

Min. ELLEN GRACIE - DJU. 09.10.08. DP. 21.11.08. Por

maioria).

3. DAS SANÇÕES E DA DEVOLUÇÃO DOS VALORES

ILICITAMENTE APROPRIADOS e DO INTEGRAL RESSARCIMENTO AO

ERÁRIO:

O artigo 12 da Lei nº 8.429/92 prevê, dentre outras sanções, a

perda dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio do improbo e o ressarcimento

integral do dano.

Pelo explanado nesta exordial, viu-se que ocorreram atos de

improbidade administrativa com repercussão patrimonial.

Em decorrência das condutas entabuladas, houve

enriquecimento ilícito dos réus e prejuízo ao erário da importância nominal (sem juros e

correção monetária) de R$ 114.296,45 (cento e catorze mil, duzentos e noventa e seis

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reais e quarenta e cinco centavos), valor correspondente à somatória dos vencimentos que

foram creditados pela Câmara Municipal de Foz do Iguaçu em favor de JAIR JOSÉ

SERVO DOS SANTOS, conforme demonstram as fichas financeiras de fls. 195/220.

Dessa forma, nos termos do artigo 12 da Lei de Improbidade

Administrativa, devem os réus perder os valores decorrentes do enriquecimento ilícito,

ressarcindo o erário dos prejuízos causados.

Indubitavelmente, os valores decorrentes de enriquecimento

ilícito devem ser restituídos integralmente, ou seja, devidamente corrigidos

monetariamente pelos índices oficiais e acrescidos dos juros legais. Em relação a estes,

aliás, sendo a obrigação decorrente de ato ilícito, conta-se desde a data do fato danoso,

como dispõe o artigo 398 do Código Civil:

“Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito,

considera-se o devedor em mora, desde que o praticou”.

A matéria, inclusive, já foi pacificada pelo Superior Tribunal

de Justiça através da Sumula nº 54:

“Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em

caso de responsabilidade extra-contratual”.

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29

Além da devolução dos valores acima nominados, aos

requeridos devem ser aplicadas as demais sanções em virtude da gravidade do ato ilícito.

O Superior Tribunal de Justiça acerca do tema já decidiu:

“ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE

"FUNCIONÁRIO-FANTASMA". ATO ILÍCITO.

SANÇÕES. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.

INSUFICIÊNCIA. ART. 12 DA LEI Nº 8.429/92.

1. O Ministério Público do Estado de São Paulo ingressou

com ação civil pública reputando como ato de improbidade

administrativa a contratação irregular pelo então Prefeito da

Municipalidade do filho do então Vice-Prefeito, o qual

percebeu vencimentos do cargo para o qual foi designado por

18 meses sem prestar efetivos serviços, como verdadeiro

"funcionário-fantasma".

(...)

7. Caracterizado o ato de improbidade administrativa, o

ressarcimento ao erário constitui o mais elementar consectário

jurídico, não se equiparando a uma sanção em sentido estrito

e, portanto, não sendo suficiente por si só a atender ao espírito

da Lei nº 8.429/92, devendo ser cumulada com ao menos

alguma outra das medidas previstas em seu art. 12.

8. Pensamento diverso, tal qual o esposado pela Corte de

origem, representaria a ausência de punição substancial a

indivíduos que adotaram conduta de manifesto descaso para

com o patrimônio público. Permitir-se que a devolução dos

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valores recebidos por "funcionário-fantasma" seja a única

punição a agentes que concorreram diretamente para a prática

deste ilícito significa conferir à questão um enfoque de

simples responsabilidade civil, o que, à toda evidência, não é

o escopo da Lei nº 8.429/92.

9. "A ação de improbidade se destina fundamentalmente a

aplicar as sanções de caráter punitivo acima referidas, que têm

a força pedagógica e intimidadora de inibir a reiteração da

conduta ilícita. Assim, embora seja certo que as sanções

previstas na Lei 8.429/92 não são necessariamente aplicáveis

cumuladamente (podendo o juiz, sopesando as circunstâncias

do caso e atento ao princípio da proporcionalidade, eleger a

punição mais adequada), também é certo que, verificado o ato

de improbidade, a sanção não pode se limitar ao ressarcimento

de danos" (Ministro Teori Albino Zavascki, Voto-Vista no

REsp nº 664.440/MG, DJU 06.04.06).

10. Como bem posto por Emerson Garcia "é relevante

observar ser inadmissível que ao ímprobo sejam aplicadas

unicamente as sanções de ressarcimento do dano e de perda de

bens, pois estas, em verdade, não são reprimendas, visando

unicamente à recomposição do status quo" (Improbidade

Administrativa. Editora Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2ª ed.,

2004, p. 538).

11. O Ministério Público Estadual pediu de maneira explícita

o restabelecimento das demais sanções cominadas na sentença

reformada pela Corte de origem, quais sejam, (i) suspensão

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dos direitos políticos e (ii) proibição de contratar com o poder

público ou receber benefícios ou incentivos fiscais.

12. Em obséquio aos princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, assiste razão ao Parquet .

13. Dada a gravidade da conduta de um dos litisconsortes

passivos, que demonstrou absoluto desprezo pelos princípios

que regem a Administração Pública ao abrigar como

"funcionário-fantasma" – figura repugnante que acomete de

maneira sistemática os órgãos públicos – o filho de um de

seus aliados políticos, tem-se como indispensável a

restauração das medidas previstas na sentença, inclusive no

que respeita à suspensão dos direitos políticos por 5 (cinco)

anos.

14. Outrossim, a malícia demonstrada por outro litisconsorte

ao passar 18 (dezoito) meses recebendo vencimentos de cargo

em comissão sem prestar serviços à Municipalidade autoriza,

a toda evidência, a volta da sanção prevista na sentença:

proibição de contratar com o poder público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais por 10 (dez) anos.

15. Recurso especial provido” (REsp 1.019.555, Rel. Min.

CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJE 29.06.2009).

Portanto, conclui-se, de modo indubitável, que os requeridos

devem ser condenados a todas as sanções previstas nos incisos I e III, do artigo 12, da Lei

de Improbidade Administrativa.

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4. DA MEDIDA LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE

DE BENS:

Para se tentar resguardar ao menos parcela do interesse

público, e antes que ocorra a mais que previsível dissipação de bens dos requeridos,

inviabilizando um dos objetivos desta ação de improbidade administrativa, fundamental é

a concessão de medida liminar, tornando indisponíveis os patrimônios dos réus.

O fumus boni iuris é evidente, notadamente ante a farta prova

documental e testemunhal, indicando que os réus, mediante prévio conluio, desviaram

dinheiro público.

O periculum in mora, por seu turno, embora dispensável, está

igualmente evidente, haja vista que os mencionados requeridos, que já desfalcaram os

cofres do Legislativo Municipal, em nome de escusos interesses pessoais, certamente não

se sentirão inibidos de proceder ao desvio do produto dos atos de improbidade cometidos,

caso tomem conhecimento dessa medida, que visa, dentre outras coisas, à decretação da

perda dos bens e valores acrescidos aos respectivos patrimônios pessoais.

Com efeito, a providência encontra assento no art. 37, § 4º, da

Constituição Federal, e na própria Lei nº 8.429/92, em seu art. 7º.

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33

Assim é que o artigo 37, § 4º, da Constituição Federal,

prescreve que os atos de improbidade administrativa importarão na indisponibilidade

dos bens.

Por sua vez, estabelece o artigo 7º da Lei Federal nº 8.429/92:

“Art. 7º: Quando o ato de improbidade causar lesão ao

patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá

à autoridade administrativa responsável pelo inquérito

representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade

dos bens do indiciado.

Parágrafo único: A indisponibilidade a que se refere o caput

deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral

ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial

resultante do enriquecimento ilícito”.

Portanto, vê-se que o artigo 37, § 4º, da Constituição Federal,

determina, de forma cogente, que os atos de improbidade administrativa importam na

indisponibilidade dos bens, que é medida cautelar, a ser concedida antes do julgamento

da demanda, sem traçar nenhum requisito, razão pela qual conclui-se que, para a Carta

Magna, basta a tão só interposição da ação judicial por ato de improbidade

administrativa, com a demonstração de ter havido enriquecimento ilícito ou prejuízo ao

erário, para a decretação da indisponibilidade dos bens.

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34

Assim sendo, denota-se, de forma definitiva, que a decretação

da indisponibilidade de bens tem como requisito apenas o fumus boni iuris, não sendo

necessária a comprovação do periculum in mora.

Aliás, este é o entendimento da doutrina mais abalizada sobre

a matéria:

“A indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois

traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte

no artigo 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal.

(...)

Com efeito, o que se deve garantir é o integral ressarcimento

ao erário. Assim, o patrimônio do réu da ação de

improbidade fica, desde logo, sujeito às restrições do artigo

37, parágrafo 4º, da Magna Carta, pouco importando, nesse

campo, a origem lícita dos bens. Trata-se de execução

patrimonial decorrente de dívida por ato ilícito.” 3 (sem grifo

no original)

Vale ressaltar, também, que o Egrégio Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná teve oportunidade de analisar o tema, decidindo pela dispensa do

periculum in mora, conforme se verifica, dentre outros julgados:

3 OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade Administrativa. Porto Alegre: Síntese, 1997. p. 159.

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“AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LIMINAR TORNANDO

INDISPONÍVEIS OS BENS DOS AGENTES PÚBLICOS -

IMPUTAÇÃO DE ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA, PREVISTO NO ARTIGO 10, XI, DA

LEI 8.429/92 - TIPO LEGAL QUE, POR DEFINIÇÃO

LEGISLATIVA, INCLUI-SE ENTRE OS QUE ‘CAUSAM

PREJUÍZO AO ERÁRIO’ - MEDIDA DE GARANTIA QUE

SE IMPÕE EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA

AFETADA, POR FORÇA DOS ARTIGOS 5º E 7º DA LEI

MENCIONADA - ‘PERICULUM IN MORA’ E DO

‘FUMUS BONI IURIS’ CONFIGURADOS - AGRAVO DE

INSTRUMENTO NÃO PROVIDO - RECURSO

IMPROCEDENTE.

A liberação da verba pública sem a estrita observância das

normas pertinentes, prevista no artigo 10, XI, da Lei nº

8.429/92, enquadra-se, pela própria lei, entre os atos de

improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário.

Ocorrendo, por disposição legal, lesão ao patrimônio público,

por quebra do dever da probidade administrativa, culposa ou

dolosa, impõe-se ao Juiz, a requerimento do Ministério

Público, providenciar medidas de garantia, adequadas e

eficazes, para o integral ressarcimento do dano em favor da

pessoa jurídica afetada, entre as quais se inclui a

indisponibilidade de bens dos agentes públicos.

Para a concessão da liminar, nas ações movidas contra os

agentes públicos, por atos de improbidade administrativa, com

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fundamento nos casos mencionados nos artigos 9 e 10 da Lei

8.429/92, basta que o direito invocado seja plausível, (‘fumus

boni iuris’), porque a probabilidade do prejuízo (‘periculum in

mora’) já vem previsto na própria legislação incidente”. (sem

grifo no original) 4

“Ação civil pública. Improbidade administrativa. Tipo legal

incluído entre os que causam prejuízo ao erário. Ação

cautelar. Liminar concedida. Quebra dos sigilos bancário,

fiscal e telefônico. Indisponibilidade de bens. Pressupostos

específicos presentes. Inteligência dos arts. 5º, 7º, 10 e 16, §

1º da lei 8.429/92. Recurso desprovido.

1. O direito ao sigilo bancário, fiscal e telefônico não é

absoluto, sendo suplantado por um interesse maior, como é o

interesse na proteção ao patrimônio público. Pode, assim, ser

quebrado, a pedido do Ministério Público, no âmbito da ação

civil pública, se tiver autorização judicial, quando houver

justificadas razões de ordem pública, entre as quais se inclui a

coleta de informações urgentes e imprescindíveis para

apuração de ilícitos, civis e penais, decorrente de improbidade

administrativa. Nesta hipótese, o fumus boni iuris reside na

plausibilidade do direito invocado e o periculum in mora no

risco de perderem-se as provas, com inegável prejuízo a uma

investigação eficaz, pela demora do procedimento menos

acelerado.

4 Acórdão n.º 11.228. Julgamento unânime da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná, proferido no Agravo de Instrumento nº 44.900-3, oriundo da Comarca de Sertanópolis, Vara Única. Julgado em 13 de março de 1996. Relator Juiz Airvaldo Stela Alves.

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2. Aliás, nem configura quebra do sigilo telefônico o mero

rastreamento das ligações já feitas, em período passado, pelas

pessoas investigadas, porquanto o que a Constituição Federal

tutela é coisa diversa, é a intimidade do individuo, que não

pode ser violada através de interceptação ou gravação.

3. Ocorrendo lesão ao patrimônio público, por quebra do

dever da probidade administrativa, culposa ou dolosa, impõe-

se ao Juiz, a requerimento do Ministério Público, providenciar

medidas de garantia, adequadas e eficazes, para o integral

ressarcimento do dano em favor da pessoa jurídica afetada,

entre as quais se inclui a indisponibilidade dos bens dos

agentes públicos. Para a concessão da liminar, nas ações

movidas contra os agentes públicos, por atos de improbidade

administrativa, com fundamento nos casos mencionados no

art. 10 da Lei 9.429/92, basta que o direito invocado seja

plausível, pois a dimensão do provável receio de dano, o

periculum in mora, é dada pela própria Lei 8.429/92 e aferida

em razão da alegada lesão ao patrimônio público”5. 6 (sem

grifo no original).

5 Agravo de Instrumento nº 96.235-4, 1ª Câmara Cível, Comarca de Londrina, Rel. Juiz Conv. Airvaldo

Stela Alves, j. 12/06/2001. 6 Em idêntico sentido, cfr. os seguintes julgados: 1) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 95.845-6, 1ª

Câmara Cível, Comarca de Londrina, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 24/04/2001; 2) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 95.146-8, 1ª Câmara Cível, Comarca de Londrina, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 29/05/2001; 3) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 95.782-4, 1ª Câmara Cível, Comarca de Londrina, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 24/04/2001; 4) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 95.176-6, 1ª Câmara Cível, Comarca de Londrina, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 24/04/2001; 5) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 95.130-0, 1ª Câmara Cível, Comarca de Londrina, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 24/04/2001; 5) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 98.660-5, 1ª Câmara Cível, Comarca de Guaíra, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 12/12/2000; 6) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 72.735-7, 4ª Câmara Cível, Comarca de Guaíra, Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j.

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Mesmo não havendo a necessidade da comprovação do

periculum in mora, que é presumido, no caso em questão está o mesmo, como já

afirmado linhas atrás, igualmente configurado. A possibilidade de dissipação dos bens

pessoais dos requeridos improbos é real, e caso não seja decretada a indisponibilidade por

esse r. Juízo, tornará inexequível a decisão procedente de mérito a ser proferida nesta

Ação Civil Pública de Responsabilidade pela Prática de Atos de Improbidade

Administrativa, ação esta que certamente consumirá alguns anos para a sua definitiva

conclusão e trânsito em julgado.

Ressalte-se que a concessão da medida liminar torna-se

imperiosa antes mesmo de serem os requeridos intimados para a apresentação de defesa

preliminar (fase procedimental inserida pela Medida Provisória nº 2.225, de 04.09.01,

que acresceu parágrafos ao artigo 17 da Lei nº 8.429/92), pois se evitará, dessa forma, a

dissipação dos bens, o que provavelmente ocorrerá assim que os requeridos tomem

conhecimento da ação, se não for proferida desde já a liminar de indisponibilidade.

5. DO PEDIDO:

Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:

11/08/99; 7) TJ/PR, Agravo de Instrumento nº 44.900-3, 4ª Câmara Cível, Comarca de Sertanópolis,

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a) seja deferida a liminar de indisponibilidade dos bens dos réus, consignando-se

registro e/ou averbação em todas as matrículas dos imóveis nos Cartórios competentes

dos Registros Imobiliários desta cidade de Foz do Iguaçu-Pr, bem como junto ao

Departamento de Transito do Paraná – DETRAN/PR, que for encontrado, mediante a

expedição de ofício e/ou mandado deste Juízo;

b) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que, querendo,

apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº 8.429/92, com

redação por Medida Provisória em vigor (descendente da Medida Provisória n.º 2.088-35

de 27.12.2000);

c) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas, seja

recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na forma do § 9o, do

precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os termos da presente, sob pena

de revelia;

d) a notificação do Município de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Procurador Geral, na

condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92,

isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo, suprindo eventuais

omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar provas de que disponham

sobre os fatos;

e) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações acrescentadas pela

Lei de Improbidade;

Rel. Juiz Conv. Airvaldo Stela Alves, j. 13/03/96.

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f) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o

depoimento pessoal do primeiro e do terceiro réus e do representante legal da segunda

requerida, a juntada de novos documentos, a pericial e a testemunhal, cujo rol será

oportunamente apresentado;

g) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e III, da

Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade administrativa,

que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos princípios

informadores da Administração Pública;

h) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 130.199,36 (cento e trinta mil, cento e

noventa e nove reais e trinta e seis centavos) pelos requeridos;

i) a concessão de Justiça Gratuita.

Atribui-se à causa o valor de R$ 130.199,36 (cento e

trinta mil, cento e noventa e nove reais e trinta e seis centavos).

Termos em que se

Pede e espera deferimento.

Foz do Iguaçu, 30 de maio de 2012.

MARCOS CRISTIANO ANDRADE

Promotor de Justiça