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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA EMESCAM EDUARDO FERREIRA LIMA RENAN LOPES NOGUEIRA EXAME TOXICOLÓGICO PARA A FISCALIZAÇÃO ROTINEIRA E OSTENSIVA DO TRÂNSITO VITÓRIA 2016

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Page 1: EXAME TOXICOLÓGICO PARA A FISCALIZAÇÃO ROTINEIRA … · ensinado, mas por terem me feito aprender. A palavra mestre, nunca fará justiça aos professores dedicados aos quais sem

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE

VITÓRIA – EMESCAM

EDUARDO FERREIRA LIMA

RENAN LOPES NOGUEIRA

EXAME TOXICOLÓGICO PARA A FISCALIZAÇÃO ROTINEIRA E OSTENSIVA

DO TRÂNSITO

VITÓRIA

2016

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EDUARDO FERREIRA LIMA

RENAN LOPES NOGUEIRA

EXAME TOXICOLÓGICO PARA A FISCALIZAÇÃO ROTINEIRA E OSTENSIVA

DO TRÂNSITO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Farmácia. Orientador: Prof. Ms. Djalma de Moraes Bermond II

VITÓRIA

2016

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EDUARDO FERREIRA LIMA

RENAN LOPES NOGUEIRA

EXAME TOXICOLÓGICO PARA A FISCALIZAÇÃO ROTINEIRA E OSTENSIVA

DO TRÂNSITO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Farmácia da Escola

Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória –EMESCAM, como

requisito parcial para obtenção do grau de farmacêutico.

Aprovada em 30 de Junho de 2016

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Prof. Ms. Djalma de Moraes Bermond II

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória - EMESCAM

Orientador

___________________________________________________

Profa. Ms. Adércio Marquezine

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória-EMESCAM

___________________________________________________

Prof. Ms. Patrícia de Oliveira França

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória – EMESCAM

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter permitido que tudo isso acontecesse, ao longo de

minha vida, e não somente nestes anos como universitário, mas que em todos os

momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer.

À instituição pelo ambiente criativo e amigável que proporciona, além de seu corpo

docente, direção e administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um

horizonte superior, eivado pela acendrada confiança no mérito e ética aqui

presentes.

Ao professor, Djalma Bermond ll, pela orientação, apoio e confiança.

Agradeço a todos os professores por me proporcionar o conhecimento não apenas

racional, mas a manifestação do caráter e afetividade da educação no processo de

formação profissional, por tanto que se dedicaram a mim, não somente por terem me

ensinado, mas por terem me feito aprender. A palavra mestre, nunca fará justiça aos

professores dedicados aos quais sem nominar terão meus eternos agradecimentos.

Agradeço a minha mãe Silvana Ferreira, heroína que me deu apoio, incentivo nas

horas difíceis, de desânimo e cansaço.

Ao meu padrasto que apesar de todas as dificuldades me fortaleceu e que para mim

foi muito importante.

Meus agradecimentos as minhas irmãs e amigos, companheiros de estágios que

fizeram parte da minha formação e que vão continuar presentes em minha vida com

certeza.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito

obrigado.

Eduardo Ferreira Lima

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AGRADECIMENTOS

Quero neste momento tão sublime agradecer à Deus por Ele ter me dado o seu

amparo, a sua ajuda, em meio as minhas limitações e adversidades no qual pensava

em desanimar, eu tinha sempre Seu ânimo me impulsionando a essa vitória.

Agradecer ao nosso Orientador Professor Djalma Bermond II por todas as

orientações, pelas horas dedicadas a esse trabalho, pela inspiração a ser seguida na

profissão farmacêutica.

Também quero mencionar a instituição que nos abriu o caminho do universo

Superior, nos proporcionado um ensino com qualidade, excelentes laboratórios,

excelentes professores, que eram além de mestres, eram amigos, conselheiros, um

espelho para nós.

Quero agradecer em especial a minha mãe Maria Iris Lopes por tudo que ela me fez,

se eu cheguei até aqui, devo tudo isso a ela. Que trabalhou muito para eu terminar

meus estudos, que confiou no meu potencial, que me orientou a seguir em frente.

Obrigado Mãe.

A minha irmã, aos meus familiares, meus amigos e companheiros, aos que

estiveram ao meu lado, tanto nas horas de alegrias, como também nas de tristezas.

Esse momento é um marco na minha vida, fim de um período e início de uma nova

etapa, que com toda a bagagem de conhecimento nesses anos adquiridos, tenho

certeza que será uma etapa de vitórias, conquistas e realizações.

Obrigado

Renan Lopes Nogueira

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RESUMO

O abuso de drogas é um problema encontrado ao nível mundial e se torna

preocupante quando praticado em qualquer esfera da sociedade. Na área

ocupacional pode acarretar danos ou problemas graves prejudicando o trabalhador,

a empresa, o cliente e a população. No trânsito este problema é demasiado grave,

pois contribui invariavelmente para o aumento do número de acidentes com vítimas

fatais e não fatais. De acordo com a maior pesquisa de abuso de álcool e drogas por

motoristas privados e profissionais, realizada no Brasil por PECHANSKY, et al 2010,

as substâncias mais utilizadas pelos condutores ao volante foram cocaína, maconha,

benzodiazepínicos e os anfetamínicos. Devido e esta e outras constatações o

DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito) está implementando pesquisas

para implementar uma metodologia de identificação dos condutores que estão

trafegando com seus veículos automotores sob o efeito destes psicotrópicos. O

estudo da amostra mais adequada e da técnica de identificação e quantificação está

em curso. A finalidade da análise irá determinar qual a melhor metodologia de

amostragem para que se alcance a máxima eficiência. Este trabalho avaliou as

características das principais amostras biológicas e das principais técnicas de

determinação de drogas de abuso para sugerir uma melhor adequação analítica que

possa ser aplicada ao condutor em via pública para identificação daquele que possa

estar dirigindo com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de

uma substância psicoativa que determine dependência, como preconiza o Artigo 306

do Código de Trânsito Brasileiro. Ao avaliarmos as principais amostras em análises

toxicológicas verificamos que a saliva é a amostra mais adequada. A técnica de

escolha para aplicação em via pública é a imunocromatografia sendo que as

amostras devem ser encaminhadas para a confirmação cromatográfica em fase

gasosa ou líquida.

Palavras chave: abuso de drogas, condutor, trânsito, amostra biológica,

metodologia analítica, análise toxicológica.

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ABSTRACT

Drug abuse is a problem found worldwide and becomes disturbing when practiced in

any sphere of society. In companies can result in serious damage or problems

hindering the employee, the establishment, the client and the public. Traffic, this

problem is too serious because invariably contributes to the increase in the number of

accidents with fatal and non-fatal victims. According to the largest survey of alcohol

and drug abuse by private drivers and professionals, held in Brazil by Pechansky, et

al 2010, substances most commonly used by drivers behind the wheel were cocaine,

marijuana, benzodiazepines and amphetamines. Because of this and other findings,

DENATRAN is implementing research to find a methodology of identification of

drivers who are traveling with their motor vehicles under the influence of these drugs.

The study of the most appropriate sample and identification and quantification

technique is ongoing. The purpose of the analysis will determine the best sampling

methodology for achieving maximum efficiency. This study evaluated the

characteristics of the main biological samples and the main techniques of

determination of drug to suggest a better analytical adequacy that can be applied to

the driver on public roads for identification that can be driving with psychomotor ability

changed due to the influence a psychoactive substance that determine dependency,

as stated in Article 306 of the Brazilian Traffic Code. When evaluating core samples

for toxicological analysis found that saliva is the most suitable sample. The technique

of choice for public via application is the immunochromatography follow by

chromatographic confirmation in gaseous or liquid phase.

Keywords: drug abuse, driver, traffic, biological sample, analytical methodology,

toxicological analysis.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO …......................................................................................... 11

2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 14

3 OBJETIVOS................................................................................................. 16

3.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 16

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 16

4. METODOLOGIA .......................................................................................... 17

5 REVISÃO..........…………………………………………………………….....… 18

5.1 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO........................................................ 18

5.1.1 COCAÍNA..................................................................................................... 18

5.1.2 MACONHA................................................................................................... 20

5.1.3 ANFETAMINICOS....................................................................................... 23

6 ASPECTOS TÉCNICO-ANALÍTICOS DOS TESTES DE DROGAS PARA

ADOÇÃO NO LOCAL DE COLETA.............................................................

26

6.1 TOXICOLOGIA ANALÍTICA........................................................................ 26

6.2 PRINCIPAIS AMOSTRAS BIOLOGICAS UTILIZADAS EM ANÁLISE

TOXICOLÓGICA FORENSE........................................................................ 28

6.2.1 URINA.......................................................................................................... 28

6.2.2 SANGUE ..................................................................................................... 34

6.2.3 SALIVA OU FLUIDO ORAL ......................................................................... 36

6.2.4 PÊLOS E CABELOS.................................................................................... 39

6.2.5 SUOR.......................................................................................................... 45

6.3 METODOS EMPREGADOS NAS ANALISES TOXICOLOGICAS DAS

DIFERENTES AMOSTRAS ESTUDADAS .................................................

48

7 AVALIAÇÃO DA AMOSTRA MAIS ADEQUADA PARA

IDENTIFICAÇÃO DE DROGAS EM CONDUTORES NA VIA PÚBLICA....

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NECESSIDADE DE ADOÇÃO DE LIMITES DE SEGURANÇA MÍNIMO

PARA CONSTATAÇÃO DA ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE

PSICOMOTORA .........................................................................................

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9 CONCLUSÃO............................................................................................... 55

10 REFERÊNCIAS............................................................................................ 56

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1 INTRODUÇÃO

A história da humanidade demonstra que o consumo de drogas é um fenômeno

bastante antigo, causando importantes e graves problemas na saúde da população,

produzindo consequências danosas na sociedade (MARQUES, CRUZ 2000).

Em nossos dias, ao nível mundial, o consumo de drogas continua causando um dano

elevado que é demonstrado pela perda de inúmeras vidas e da capacidade produtiva

pessoal (UNODC 2014).

Em 2012 estimou-se que houve aproximadamente 183.000 mortes a nível mundial

que tiveram relação com o consumo de drogas, o que corresponde a cerca de 40

mortes para cada 1 milhão de indivíduos entre 15 e 40 anos de idade (UNODC

2014). Nesse mesmo ano estimou-se que entre 3,5 a 7% (162 a 324 mil pessoas) da

população entre 15 a 64 anos utilizaram algum tipo de droga ilícita pelo menos uma

vez (UNODC 2014).

Em relação ao nosso País, o Relatório UNODC de 2013 mostra que o consumo de

cocaína dobrou nos últimos seis anos, atingindo cerca de 1,75% da população com

idade entre 15 a 64 anos em 2011, ante aos 0,7% observados em 2005. O mesmo

relatório demonstrou que a maconha ainda é a droga ilícita mais consumida e que o

consumo de anfetamínicos está crescendo, em todo o mundo (UNODC 2013 e

UNODC 2014).

Os valores políticos, econômicos e sociais sofrem maior ameaça quando associamos

ao consumo de drogas. A elevação dos gastos com o tratamento médico, com as

internações em hospitais, a violência urbana, mortes prematuras e os acidentes de

trânsito também sofrem influência direta quando relacionados com esse fator (SILVA

et al. 2006).

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O abuso de álcool e outras drogas que diminuem a capacidade psicomotora são

fatores de relevante importância que contribuem para o aumento da ocorrência de

acidentes de trânsito com elevado índice de morbidade e mortalidade, principalmente

entre os jovens, oferecendo consequências danosas para toda a sociedade (SOUZA,

2002).

Devido à relação direta do aumento do número de acidentes e da gravidade do

conjunto abuso de álcool e drogas no Brasil é que em 23 de setembro de 1997 foi

criada a Lei 9.503 que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) (MELCOP,

2011).

Após entrar em vigor a Lei 9.503 de 23/09/1997, no que se refere à infração ou crime

de dirigir sob a influência de álcool etílico ou alguma substância que cause

dependência, sofreu uma grande modificação através da Lei 12.760 de 20/12/2012

instituindo que qualquer concentração de álcool não mais seria tolerada e que

também constituiria infração ou crime de trânsito (BRASIL, 2012).

Essa legislação delineava o aspecto analítico, da comprovação da diminuição da

capacidade de dirigir veículo automotor apenas para o abuso de álcool, não

determinando algo semelhante para o rol das outras substâncias psicoativas

(BRASIL, 2012).

Como existia carência de regulamentação a respeito especificamente da influência

das drogas psicoativas que não fosse o etanol, a Lei 12.971 de 09/05/2014,

modificou a Lei 9.503/97 e a Lei 12.760/12 especificamente nos§ 2º e 3º do Artigo

306, introduzindo o aspecto analítico desejado, citando a realização do teste

toxicológico para elucidação desse ato criminoso (BRASIL, 2014).

Entretanto esta última legislação, não regulamentou qual tipo de método ou

metodologia analítica deverá ser adotada para tal comprovação mencionando que o

CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) deveria em ato posterior editar

Resolução que regulamente essa etapa forense.

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Devido à finalidade de uma análise delimitar o tipo de amostra biológica a ser

tomada para fundamentar uma avaliação toxicológica, considerando a falta de

delineamento analítico dado pela Lei 12.971/14 é que o presente trabalho pretende

arrolar dentre as principais amostras biológicas, usuais e não usuais, a que possuiria

melhores características de desenvolvimento e de viabilidade metodológica, para

aplicação em via pública.

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2 JUSTIFICATIVA

Os acidentes de trânsito, como importantes fatos da morbimortalidade geral, são

considerados, hoje, verdadeiro problema de saúde pública em muitos países, em

especial no Brasil. Estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas morrem por ano no

mundo e cerca de 50 milhões sofrem lesões, sendo que de 15 a 20% dessas lesões

apresentam sequelas diversas (ABREU et al., 2010).

De forma geral, em vários países, estudos vêm apontando o consumo drogas como

um dos principais fatores responsáveis pela alta incidência dos acidentes com

vítimas (ABREU et al., 2010).

No Brasil, esse consumo também é apontado como um dos principais fatores

causais de acidentes. Em aproximadamente 70% dos acidentes violentos com

mortes. No entanto, ainda que estudos venham apontando essa relação, pouco se

tem estudado, no Brasil, a ocorrência de acidentes (ABREU et al., 2010).

Em 2012 o Relatório do Centro Europeu de Monitorização de Drogas e da

Dependência demonstrou que aproximadamente 1,9% dos motoristas daquele

Continente estão dirigindo sobre a influência de drogas ilícitas (EMCDDA, 2012).

No Brasil uma pesquisa efetuada em 2010 nas 27 capitais demonstrou que 2,05%

dos motoristas tinha abusado de cocaína durante a condução de veículos

automotores (PECHANSKY, 2010).

Mediante esse quadro a Lei 12.971/14 alterou o Artigo 306 do Código de Trânsito

Brasileiro permitindo que seja adotada na fiscalização ostensiva de trânsito, além do

etilômetro, o teste toxicológico.

Ocorre que o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) não editou Resolução que

fornecesse as diretrizes em análises toxicológicas para que as Polícias Militares e

outros órgãos fiscalizadores possam efetivamente conduzir o teste toxicológico

requerido.

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Como os órgãos de trânsito ainda não possuem sedimentada metodologia que

permita a avaliação dos condutores existe a urgente necessidade de sugerir uma

técnica que direcione uma amostra biológica de escolha e seus parâmetros para

avaliação na via pública.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Realizar um estudo sobre a influência das drogas no motorista no ato da direção

para atender a nova redação do Art. 306 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro)

modificado pela Lei 12.971/14.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Efetuar uma breve revisão sobre as propriedades toxicológicas das principais

substâncias envolvidas,

b) Descrever a respeito das principais amostras utilizadas em análises

toxicológicas para identificação de usuários de drogas,

c) Sugerir qual a amostra de melhor escolha para aplicação no teste toxicológico

em via pública,

d) Verificar qual a técnica de identificação ou quantificação de escolha para

adoção no teste toxicológico,

e) Recomendar os valores de referência para adoção no teste toxicológico de

escolha.

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4 METODOLOGIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso, quando a tipologia, será efetuado com

embasamento na revisão de literatura sobre o assunto. Trata-se de uma pesquisa

investigativa de caráter exploratório e descritivo. Serão utilizadas palavras chave

como: drogas, determinação, amostras biológicas, trânsito. As referências

catalogadas serão de confiabilidade, normalmente em inglês e espanhol. O trabalho

de catalogação será suportado nas bases de dados Scielo, LILACS, Biblioteca

Virtual em Saúde, dentre outros, angariando periódicos e livros da área. Pela rede

internet de veiculação científica será efetuada uma busca com o auxílio de sites

especializados em assuntos científicos confiáveis e indexados.

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5 REVISÃO

5.1 PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO

De acordo com a maior pesquisa de abuso de álcool e drogas por motoristas

privados e profissionais, realizada no Brasil por PECHANSKY et al., 2010, as

substâncias mais utilizadas pelos condutores foram cocaína, maconha,

benzodiazepínicos e anfetamínicos.

Devido a esta constatação passaremos a discorrer uma breve revisão sobre as

substâncias encontradas.

5.1.1 Cocaína

A cocaína é o principal alcalóide do arbusto Erytroxylon coca que é encontrado ao

leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica. O cultivo ocorre principalmente em

clima tropical entre 450m e 1.800m acima do nível do mar. A extração do alcalóide

foi iniciada em meados do século XIX, porém sítios arqueológicos no Peru

encontraram folhas de coca colocadas junto às tumbas de sepultamento,

testemunhando seu uso há mais de 2.500 anos.

Os índios peruanos possuem ainda o costume de colocar folhas de coca junto aos

mortos, acreditando ser um item necessário para o “além da vida. A palavra coca

deriva da língua aymara, significando planta ou árvore (SILVA et al., 2010).

A cocaína (figura 1) é um agente estimulante do sistema nervoso central, atua

elevando os níveis de dopamina. Esta por sua vez é um neurotransmissor

relacionado ao prazer e ao movimento e está associada ao sistema de recompensa

do cérebro. (NIDA, 2016).

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Figura 1. Fórmula estrutural da cocaína.

Fonte: MOFFAT, A. C., 2011.

No Brasil, até o início do século XX, não havia relato sobre abuso e dependência ou

preocupações maiores com a cocaína. A substância era vendida em farmácias para

alívio de laringites e tosse. Na década de 1910-1920, começa a haver grande

preocupação com o uso não médico nas grandes cidades como São Paulo e Rio de

Janeiro. O país não é um produtor significativo de cocaína, mas faz parte da rota

colombiana do tráfico para os Estados Unidos e Europa, e, mais recentemente,

ingressou na conexão nigeriana, vindo a droga a entrar em grandes quantidades no

País (FILHO et al., 2003).

A cocaína é uma droga com potencial estimulante, que induz o corpo e ao cérebro

uma intensa euforia, causando taquicardia, hipertensão arterial e aumento da

temperatura do corpo. Após o uso elevado e repetitivo, o consumidor experimenta

sensações desagradáveis, como cansaço e depressão profunda (CEBRID, 2011).

O consumo abusivo de cocaína/crack está associado a inúmeros problemas de

ordem física, psiquiátrica e social. No mundo, estima-se que 14 milhões de pessoas

façam uso abusivo de cocaína. No Brasil, de acordo com o I Levantamento

Domiciliar sobre o uso de Drogas, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações

sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), constatou-se que 7,2% dos indivíduos do

sexo masculino, entre 25 e 34 anos de idade, já usaram a droga, e dados

epidemiológicos mostram que o uso de cocaína/crack vem crescendo nos últimos

anos entre os estudantes do ensino médio e fundamental, bem como entre os

pacientes que procuram atendimento nas clínicas especializadas (CUNHA et al.,

2004).

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5.1.2 Maconha

Fórmula estrutural da Maconha

Fonte: Brayli, 2013

Em concomitância a descoberta do Brasil está também iniciado o uso da maconha.

Esta planta, porém, não é natural do Brasil. Foi trazida pelos escravos negros, daí a

sua denominação de fumo-de-Angola. O seu uso disseminou-se rapidamente entre

os negros escravos e nossos índios, que passaram a cultivá-la. Séculos mais tarde,

com a popularização da planta entre intelectuais franceses e médicos ingleses do

exército imperial na Índia, ela passou a ser considerada em nosso meio um

excelente medicamento indicado para muitos males. A percepção ruim da maconha

no Brasil iniciou-se na década de 1920 e, na II Conferência Internacional do Ópio,

em 1924, em Genebra, o delegado brasileiro Dr. Pernambuco afirmou para as

delegações de 45 outros países: "a maconha é mais perigosa que o ópio" (CARLINI,

2006).

A maconha é bastante utilizada em todo mundo, sendo esta a droga ilícita mais

consumida mundialmente. Dados da Austrália mostram que os indivíduos têm

iniciado o uso bem mais cedo e a concentração de delta9-tetrahidrocanabinol (THC,

principal substância psicoativa presente na maconha) está 30% maior do que há 20

anos atrás. Alguns autores sugerem que damos menos atenção aos danos causados

pela maconha por seus efeitos nocivos não serem tão óbvios como o de outras

drogas. No entanto, nos últimos anos, começou-se a investir em pesquisas buscando

avaliar a amplitude dos efeitos do uso desta droga. Este tema é particularmente

importante para profissionais de saúde mental, pois os maiores prejuízos

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relacionados ao uso da maconha são os transtornos mentais que acabam sendo

relacionados com o consumo (JUNGERMAN et al., 2005).

Conhecida internacionalmente como marijuana, a planta Cannabis contém mais de

400 compostos químicos pertencentes a 18 classes diferentes, incluindo mais de 60

fitocanabinóides que contêm em sua estrutura anéis fenólicos e piranos. A maioria

dos fitocanabinóides pertencem a vários tipos subclasses, incluindo o Δ9-

tetrahidrocanabinol (Δ9-THC), Δ8-tetrahidrocanabinol (Δ8-THC), canabinol (CBN),

canabidiol (CBD), canabicromeno (CBC), e o cannabigerol (CBG). O principal

componente psicoativo da maconha é o Δ9-THC (ELSOHLY, 2007).

O Δ9-THC é o mais potente composto alucinógeno da maconha. O efeito dele é de

alterar a atividade cerebral da pessoa fazendo com que ela tenha alucinações,

delírios, diminua a sua percepção de tempo e espaço, além de poder levar a pessoa

a ter acessos de ira e pânico (BOCKSTAELE, 2013).

A cannabis, entre nós conhecida por maconha, é a droga ilícita mais comumente

utilizada por motoristas em todo o mundo. São afetados, no motorista, a

coordenação, a vigilância e o estado de alerta e, consequentemente, a capacidade

de dirigir. Os efeitos debilitantes se concentram nas primeiras duas horas, mas

podem durar por mais de cinco horas. Testes experimentais feitos com

concentrações de até 300 mcg tetra-hidrocanabinol/kg promovem efeitos

semelhantes à dose de mais de 0,5 g/L de etanol (PONCE, LAYTON; 2008).

Na urina os produtos biotransformados da Maconha podem ficar em circulação por

vários dias, não deixando claro na pesquisa, se o motorista no exato momento da

abordagem está sob o efeito da droga. Porém, se esta avaliação for do sangue ou

saliva podemos ter a comprovação exata se o motorista está sob efeito da maconha,

pois os seus produtos da biotransformação ficam pouco tempo em circulação, dando

a exatidão de que o uso foi recente (PONCE, LAYTON; 2008).

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5.1.3 Anfetamínicos

Os anfetamínicos são um grupo de drogas fabricadas em laboratório, sendo assim

sintéticas, que estimulam o sistema nervoso central, fazendo com que o cérebro

trabalhe muito e mais rápido que o normal. Isso faz com que seus usuários fiquem

mais “atentos”, ”elétricos”, “acelerados”, sem sono, ou seja, a pessoa adquire um

estado hiperativo momentâneo. Efeitos semelhantes aos da cocaína. (CEBRID,

2011).

Em 1887, o químico Lazar Edeleanu sintetizou pela primeira vez na Alemanha a

anfetamina, que só teve seus efeitos farmacológicos psicoestimulantes descobertos

e identificados em 1927. Durante este período, sua utilização foi principalmente no

tratamento de obesidade, narcolepsia, hipotensão e síndrome de hiperatividade em

crianças. (OGA et al., 2008).

Em 1919 a metanfetamina foi sintetizada, sendo que seu dextro isômero é

potencialmente o derivado anfetamínico com maior incidência de abuso. (OGA et al.,

2008).

A d-anfetamina é um fármaco menos potente que a metanfetamina, que é sintetizada

facilmente em laboratórios clandestinos através de reagentes facilmente obtidos. A

metanfetamina é conhecida pelos nomes de “speed”, “cristal”, “crank”, “meth”, “go”, e

“ice” sendo caracterizada como droga de abuso. O cloridrato de metanfetamina é

utilizado por via ora, por via intravenosa e intranasal. A forma básica (cristal ou ice) é

administrada pela via pulmonar sendo assim inalada. (BARCELOUX, PALMER,

2012; YONAMINE, 2004).

Os anfetamínicos, são um grupo de substâncias compostos por anfetamina e seus

derivados. Possuem ação simpatomimética predominante no sistema nervoso central

(SNC), causando liberação de dopamina e de seus estoques intraneurais,

acarretando também a liberação de outros neurotransmissores como serotonina e

noradrenalina, e inibindo sua receptação no terminal axônio pré-sináptico, o que

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pode explicar seus efeitos farmacológicos e também efeitos tóxicos. (MUAKAD,

2016).

Os anfetamínicos estimulam com potência o sistema nervoso central (SNC),

causando influência sobre as atividades psíquicas e psicomotoras, contendo um alto

potencial de abuso, ocasionando o desenvolvimento de farmacodependência e

deferindo efeitos colaterais que ocasionam alterações cardiovasculares, neurológicas

e psiquiátricas, cumulativas com o uso contínuo (MUAKAD, 2016).

As anfetaminas são rapidamente absorvidas no trato gastrointestinal ultrapassando a

barreira hematoencéfalica, sendo assim explicados seus efeitos sobre o sistema

nervoso central. Além disso, são rapidamente absorvidas pela mucosa nasal, sendo

distribuída em grande parte dos tecidos. Essas substâncias na maioria das vezes

são excretadas na urina de modo inalterado, ocasionando o aumento da taxa de

excreção quando se acidifica a urina. A meia-vida plasmática da anfetamina varia de

cinco até trinta horas, variando com o fluxo urinário e o pH. Dentre os principais

efeitos excitatórios centrais das substancias relacionadas à anfetamina estão à

estimulação locomotora, euforia, excitação e anorexia, sendo que em altas

concentrações podem produzir comportamento estereotipado (MARCON et al.,

2012).

Pelo fato de ter uma ação estimulante sobre o sistema nervoso central, as

anfetaminas em sua maioria são usadas como drogas de abuso. Exemplos disso é o

metilenedioxi-metanfetamina (MDMA), conhecido como êxtase. Essa anfetamina

excita o sistema nervoso central (SNC), aumentando os níveis da neurotransmissão

serotoninérgico alterando humor, impulsividade, cognição, sono, memória, e

concentração, podendo desencadear princípios distúrbios psíquicos (MARCON et al.,

2012).

Os trabalhadores rodoviários, que atuam no transporte de carga nas vias nacionais

costumam utilizar substancias anfetamínicas, no intuito de se manterem acordados,

pois o longo trajeto exigido para serem executados em curtos prazos de tempo, faz

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com que muitas das vezes o cansaço físico e mental seja inevitável. E em uma ação

compensatória alguns desses motoristas utilizam durante a direção as anfetaminas

conhecidas como "rebite" ou "bolinhas", causando a sensação de estarem "acesos"

e "dispostos", deixando-os em estado de alertas e ligados. Porém, ao atingir um

limiar máximo de tolerância da sobrecarga de trabalho, o risco da ocorrência de um

acidente torna-se ainda maior. (MUAKAD, 2016).

As anfetaminas desenvolvem a tolerância, que é um processo farmacológico

caracterizado pela necessidade do usuário administrar maiores doses para obter o

resultado esperado o que contribui fundamentalmente para a dependência. O

mecanismo pelo qual a anfetamina ou as outras drogas causam a tolerância no

corpo humano é pouco conhecido (MUAKAD, 2016).

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6. ASPECTOS TÉCNICO-ANALÍTICOS DOS TESTES DE DROGAS PARA

ADOÇÃO NO LOCAL DE COLETA

6.1 Toxicologia Analítica

A ciência que lida com a identificação e/ou quantificação dos componentes em

diversos materiais e sistemas é chamada de ciência analítica. Essa denominação e

adotada porque o processo de determinação de algum ou todos os componentes em

um sistema ou material é chamado de análise. Na análise podem ser envolvidos

tanto processos físicos quanto os químicos. Denomina-se analito a substância ou

componente a ser analisado sendo que a matriz ou amostra denomina o material no

qual a substância é encontrada ou analisada (KENKEL, 2014).

A Toxicologia Analítica se ocupa da detecção, identificação e quantificação dos

agentes tóxicos ao organismo e seus metabólitos. É procedida nos mais variados

materiais biológicos e outros relacionados, sendo requerida nas diversas categorias

como na toxicologia clínica para o auxílio ao diagnóstico das intoxicações agudas, na

toxicologia forense para o esclarecimento da justiça, na toxicologia ocupacional para

verificar o impacto a saúde do trabalhador, na toxicologia ambiental para

determinação de agentes tóxicos no meio-ambiente, na monitorização terapêutica de

medicamentos e para determinação do abuso de drogas (FLANAGAN, et al., 2007).

A análise toxicológica possui suas origens na toxicologia forense e nos últimos 25

anos, observamos significantes avanços nas metodologias disponíveis com uma

consequente melhora na amplitude e sensibilidade dos resultados analíticos

(FLANAGAN, et al., 2007).

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Para a realização de uma análise toxicológica é consenso entre os autores que

sobre a amostra biológica as seguintes etapas devem se obedecidas:

1. Preparação da amostra;

2. Diferenciação e detecção;

3. Identificação,

4. Quantificação e

5. Interpretação. (JICKELLS; NEGRUSZ, 2008; FLANAGAN, et al., 2007)

Na preparação da amostra podem ser efetuados procedimentos de

homogeneização, digestão, hidrólise, microdifusão, extração liquido-liquido, extração

em fase sólida, extração em fluido supercrítico, derivatização, dentre outras. Na fase

de diferenciação e detecção podem ser adotadas técnicas como testes

colorimétricos; espectroscopia; ensaios imunológicos; cromatografia em camada

delgada com detecção por agentes cromogênicos e por espectro de Ultra-Violeta

(UV); cromatografia em fase gasosa (CG) com detecção de ionização de chama,

fósforo nitrogênio e espectrometria de massas (MS); cromatrografia líquida de alta

eficiência (HPLC) com detecção em UV e MS.

Para a correta identificação do composto em questão é fundamental a comparação

dos resultados obtidos com o comportamento de um padrão purificado e banco de

dados previamente estabelecido. Nesta etapa também pode ser realizada a

quantificação (FLANAGAN et al., 2007).

Consequentemente a identificação precisa e quantificação da substância a ser

analisada é crucial porque literalmente pode significar a vida ou a morte. Em

algumas situações, informações sobre a pureza do analito podem ser utilizadas para

avaliar as tendências e o a distribuição de uma droga ilícita ou para traçar um perfil

de abuso e desse modo a quantificação do componente ativo da droga é

fundamentalmente necessária em vários casos (JICKELLS, NEGRUSZ; 2008).

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6.2 Principais Amostras Biológicas Utilizadas em Análise Toxicológica Forense

A coleta das amostras biológicas é um passo fundamental para estimar a realidade e

a condição do paciente. Qualquer erro na obtenção de uma amostra, como a

exemplo da urina, pode levar a nulidade dos resultados mesmo que positivos muito

embora sejam aplicadas as técnicas mais sofisticadas (VERSTRAETE, 2011).

Normalmente os indivíduos que praticam o abuso de drogas se valem de algumas

maneiras para burlar as determinações e não serem apanhados. Desse modo a

proliferação de métodos adulterantes para as diversas amostras tem sido veiculado,

principalmente pela internet na tentativa de obtenção de êxito. Esse fato é

determinante para que existam regras rígidas de segurança para garantir a

integridade da matriz biológica (VERSTRAETE, 2011).

Para se realizar uma boa coleta os técnicos responsáveis devem ser especialmente

treinados com conhecimentos específicos de cadeia de custódia, procedimentos de

controle e conservação da amostra (VERSTRAETE, 2011).

6.2.1 Urina

Esta amostra é grandemente utilizada em análises toxicológicas porque possui

poucos interferentes endógenos, devido a ser constituída principalmente de água e

apresentar lipídios e proteínas em quantidades consideráveis apenas quando certas

doenças estão instaladas. Por possuir quantidades mais abundantes dos agentes

tóxicos de interesse e alguns produtos de biotransformação é outra característica

importante que massificou a aplicação desta amostra (MOREAU, SIQUEIRA; 2008).

A urina é de fácil obtenção e possibilita o emprego de técnicas analíticas de maior

simplicidade e de menor custo, devido a possuir relativamente altas concentrações

dos analitos de interesse (DASGUPTA, 2008).

As análises toxicológicas de drogas na urina geralmente são efetuadas para as

substâncias ilícitas que apresentam maior prevalência de abuso. Contudo existem

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diferenças para escolha dos analítos a serem determinados dependendo da intenção

do programa de testes adotado. Dentro da grande quantidade de substâncias e seus

metabólitos que podem sofrer avaliação podemos citar os descritos no quadro 1

(DASGUPTA, 2008).

Para os processos de determinação de drogas na urina em locais de trabalho ou

para aplicação em outras modalidades é recomendada a adoção de determinados

passos em relação às técnicas de determinação (DASGUPTA, 2010).

Tabela 1. Principais grupos e substâncias determinadas nos testes toxicológicos de urina.

Grupo Substância

Anfetaminas Anfetamina, metanfetamina, metilenodioxianfetamina, metilenodioximetanfetamina

Barbitúricos Amobarbital, butabarbital e secobarbital

Benzodiazepínicos Alprazolan, clonazepan, diazepan, nitrazepan, nordiazepan,, oxazepan

Buprenorfina

Canabinóides THC, Ácido carboxílico 11-nor-Δ-9-tetrahidrocanabinóico

Cocaína, Benzoilecgonina

Fentanil

Metadona

Opiáceos Morfina, codeine, 6-acetilmorfina

Propoxifeno

Fenciclidina

Fonte: DASGUPTA, 2008.

Para esta amostra existem formas de burlar o teste que incluem as tentativas de

substituição (DASGUPTA, 2010) e adulteração. (KARCH, 2008). Os métodos de

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adulteração consistem em diluição da amostra e a adição de agentes químicos

(DASGUPTA, 2010).

A amostra do doador original pode sofrer a tentativa de ser substituída por amostra

sabidamente negativa. Assim o doador original pode portar amostras de outro doador

que não utiliza drogas, ou adquirir, através da internet, urina sintética especialmente

fabricada para esta finalidade. Normalmente os custos de urina sintética variam de

30 até mais de 100 dólares o litro. (DASGUPTA, 2010).

Para acompanhar esta amostra os fabricantes ainda vendem um tipo de recipiente

especialmente desenvolvido que possui proteção térmica onde o adulterador poderá

aquecer a amostra até a temperatura desejada. Esta se mantém aquecida por até 06

horas. Também são conhecidos os pênis sintéticos que são utilizados para expelir a

amostra nos casos de coleta assistida. (DASGUPTA, 2010).

Em geral a composição deste produto sintético se assemelha a da urina humana

normal nos valores de gravidade específica (1.005 a 1.030), pH (4,5 a 8,0) e

creatinina (20 a 400mg/dl). A coloração normalmente é obtida com a adição de

corantes específicos denominados de urocromos. (DASGUPTA, 2010).

A diluição da amostra possui a finalidade de diminuir a concentração do analito para

concentrações abaixo do limite de detecção. (DASGUPTA, 2008). Os processos de

diluição podem acontecer por dois diferentes métodos: in vivo e/ou in vitro. O

processo in vivo consiste no consumo de grandes quantidades de líquido antes da

coleta e o processo in vitro consiste em adicionar água ou outro líquido à amostra

depois de coletada (KARCH, 2008).

A adição de agentes químicos na amostra possui a finalidade de alterar a

capacidade dos testes em acusar positivamente para a amostra ou destruir as

drogas de escolha e seus metabólitos que possam estar presentes no meio de

análise. (KARCH, 2008). Inicialmente os produtos mais utilizados foram o vinagre,

detergentes (VERSTRAETE, 2011) sabões de banheiro, sal de cozinha, suco de

limão (DASGUPTA, 2008), porém com o crescimento do mercado mundial de drogas

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e consequentemente aos métodos de determinação, novos produtos foram

desenvolvidos especificamente para esta finalidade (VERSTRAETE, 2011).

Os produtos de maior circulação que são utilizados na tentativa de adulterar as

amostras de urina são fabricados tendo seu conteúdo reativo básico constituído de

compostos como nitrito, cromo inorgânico, glutaraldeido, hipoclorito, surfactantes

(sabões), Clorocromato de pirídio (PCC) (DASGUPTA, 2008) e peróxido de

hidrogênio (água oxigenada) (KARCH, 2008).

Devido a estas possibilidades de adulteração e substituição existem regras

predeterminadas para a coleta das amostras de urina. Os Organismos que possuem

maior aceitabilidade internacional e são responsáveis por ditar essas regras é a

SAMHSA (Substance Abuse and Mental Health Administration) e o DOT

(Departamento of Transportation), órgãos federais americanos responsáveis por

ordenar a política de WDT daquele país (DASGUPTA, 2008).

Portanto para a urina a SAMHSA e o DOT preconizam que a coleta seja assistida e

imediatamente após a deposição no recipiente a urina seja previamente testada

quanto aos padrões normais de temperatura, densidade, presença de nitrito e quanto

aos adulterantes mais comuns (cromo, hipoclorito, PCC, glutaraldeido e

surfactantes). (DASGUPTA, 2008) A tabela X1 demostra os principais parâmetros a

serem considerados para identificação das amostras diluídas, adulteradas ou

substituídas.

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Tabela 2 - Principais parâmetros adotados pela SAMHSA, a serem considerados na urina de doadores, para identificação de amostras de urinas diluídas, adulteradas ou substituídas.

Parâmetro Amostra diluída Amostra adulterada Amostra

substituída

Creatinina <20mg/dl >5mg/dl

pH <3 e >11

Gravidade

específica <1.003 <1.010 e >1.020

Nitrito 500µg/ml

Cromo 50µg/ml

Glutaraldeído presença

Hipoclorito presença

Surfactantes Dodecilbenzenosulfonatoou

equivalente

Temperatura 32 a 38ºC

Fonte: DASGUPTA, 2008.

Após receber liberação quanto à etapa dos pré-testes, a amostra no próprio local de

trabalho pode sofrer uma verificação inicial por métodos imunocromatográficos de

triagem e as que forem consideradas positivas deverão sofrer análises confirmatórias

(DASGUPTA, 2010).

As técnicas imunológicas de triagem normalmente usadas para urina são o POCT

(do inglês “point ofcaretesting”), o RIA (radioimunoensaido), EMIT (Técnica de

imunoensaio de multiplicação enzimática), FPIA (técnica de imunofluorescência

polarizada) e ELISA (imunoensaio de quebra enzimática). Os ensaios POCT são os

únicos com capacidade para serem utilizados no próprio local de trabalho, não

requerendo instrumentos sofisticados.

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Os POCTs são baseados em imunocromatografia sendo aparatos simples e de fácil

manuseio. Se fundamentam na migração da droga por uma membrana porosa

impregnada com anticorpos específicos e um imunoconjugado. A presença da droga

na amostra de urina acima da linha de corte (cutoff) inibe a reação dos anticorpos

com o imunoconjugado não produzindo uma reação de cor característica, indicando

a sua presença acima do valor limite de detecção (DASGUPTA, 2008).

A despeito da elevada sensibilidade, os testes imunológicos podem acarretar

resultados errôneos devido a sua pouca especificidade. São considerados

presuntivos servindo para triagem, onde a identificação definitiva deve ficar a cargo

de métodos confirmatórios como a cromatografia a gás acoplada a espectrometria de

massas e a cromatografia líquida de alta especificidade também acoplada à

espectrometria de massas (DASGUPTA, 2008; MOREAU, SIQUEIRA; 2008).

A urina como amostra de testagem de drogas oferece algumas vantagens

específicas em detrimento de outras matrizes, porém as desvantagens que foram

citadas atualmente possibilitam a escolha de amostras alternativas como suporte

para uma avaliação toxicológica (DASGUPTA, 2008).

Outro grande fator que desfavorece a aplicação da urina nas análises toxicológicas é

a impossibilidade de correlacionar a concentração do agente tóxico encontrado com

o efeito produzido. A janela de detecção ou tempo pregresso de estimativa

observado de 1 a 7 dias reflete apenas uma exposição recente a droga.

(DASGUPTA, 2008). A tabela 3 mostra o tempo de detecção pregresso estimado de

alguns fármacos na amostra de urina.

No sistema de WDT é preferível uma coleta randomizada da urina. Esse sistema se

deve a não haver normalmente uma padronização do horário de coleta para os

diferentes métodos ou serviços que utilizam esta amostra. Sua conservação é

preferencialmente sob refrigeração entre 2 a 8°C quando se pretende determinar

rapidamente variadas substâncias ou derivados do metabolismo. Para conservação

por longos períodos assim como o soro e plasma adota-se o congelamento a -20°C

(FLANAGAN et al., 2007).

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Tabela 3 - Tempos médios típicos de detecção de algumas substâncias de abuso na urina.

Grupo/Substância Tempos médios de detecção

Anfetaminas 1 – 3 dias

Barbitúricos Ação curta 1 dia; intermediários e ação longa 1 – 3 semanas

Benzodiazepínicos 5 – 7 dias

Canabinóides 1 – 3 dias (uso único); algumas semanas (uso crônico)

Cocaína 1 – 3 dias

LSD Menos de 1 dia

Metadona 1 – 3 dias

Metaqualona 1 – 2 semanas

Opiáceos 1 – 3 dias

Fenciclidina Pouco mais de 3 dias

Propoxifeno 1 – 2 dias

Fonte: KARCH, 2008.

6.2.2 Sangue

Obtido normalmente por punção venosa, de preferência através do uso de uma

seringa dispensando, na maioria dos casos, a coleta direta pela sucção a vácuo para

evitar a hemólise. Este procedimento muitas vezes é necessário devido à

concentração de algumas substâncias ser determinada de maneira a diferenciar sua

concentração intra ou extra-eritrocitária. Posteriormente a coleta a transposição para

os tubos com vácuo deve ser efetuada (FLANAGAN et al., 2007).

Existe a possibilidade de separação do soro, plasma e eritrócitos dependendo da

finalidade da análise. O acondicionamento pode ser efetuado em tubos de material

plástico ou de vidro. Os tubos plásticos são usados para conter amostras das quais

se determinarão analitos não voláteis como antidepressivos tricíclicos ou praguicidas

como o paraquat. Quando se deseja identificar e quantificar substâncias voláteis

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como solventes e anestésicos de inalação os tubos de vidro são preferíveis para o

transporte e armazenamento dessa amostra (FLANAGAN et al., 2007).

Normalmente a conservação para o sangue total pode ser efetuada entre 2 a 8°C por

no máximo dois dias dependendo do objetivo da análise. A conservação por longos

períodos pode ocorrer e usualmente é efetuada para o soro ou plasma sob

congelamento a -20°C (FLANAGAN et al., 2007).

A grande importância das amostras de sangue e seus derivados nas análises

toxicológicas, está no fato da concentração da substância de interesse, encontrada

nesses meios, poder ser correlacionada com o efeito apresentado no organismo

humano (MOREAU; SIQUEIRA, 2008).

Desta forma as concentrações da droga no sangue e derivados (soro ou plasma)

quando aliadas aos conhecimentos de toxicocinética podem fornecer subsídios para

estimar com determinado nível de certeza o intervalo entre a coleta e o abuso, a

concentração administrada e as alterações fisiológicas ou psíquicas decorrentes da

influência da substância (MOREAU; SIQUEIRA, 2008).

Para sua aplicação em programas de WDT seu uso não é recomendado estando

praticamente descartada para esta modalidade. A não recomendação de utilização é

devido duas desvantagens principais. A primeira por ser uma amostra obtida de

maneira invasiva, ou seja, produz lesão ao doador e pela coleta ser efetuada por

pessoal de maior especialização e capacitação (MOFFAT et al., 2011).

Contudo o estudo das características apresentadas por esta matriz não está

descartado para a aplicação em programas de monitorização toxicológica relativo ao

abuso de drogas por trabalhadores. A motivação está fundamentada devido a ser a

rota primária de entrada das substâncias de interesse e seus produtos de

biotransformação para outras amostras biológicas (VERSTRAETE, 2011).

O sangue é composto de duas partes: o plasma (parte líquida) e os elementos em

suspensão. No plasma estão dissolvidos mais de 60 tipos de proteínas diferentes,

dentre as quais a albumina é seu maior componente em termos quantitativos. A

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ligação reversível as proteínas plasmáticas é um dos fatores de maior influência na

disposição corporal dos fármacos, onde o complexo proteína-droga não pode

atravessar as membranas celulares, ficando a distribuição da substância de

interesse para outros tecidos e amostras, dependente principalmente da quantidade

existente livre no plasma (VERSTRAETE, 2011).

A maioria das substâncias utilizadas como droga de abuso é encontrada no sangue

em concentrações na faixa de nanogramas e possuem curto período de detecção

que fica entre 1 a 2 dias (VESTRAETE, 2004).

Como vantagens de utilização desta amostra podemos citar a alta aceitabilidade na

comunidade científica devido ao vasto conhecimento de suas características,

facilidade de correlação com os efeitos farmacológicos e dificuldade em permitir

adulteração ou troca (MOFFAT et al., 2011).

6.2.3.Saliva ou Fluido Oral

A quantidade de saliva produzida diariamente está entre 1 a 1,5 litros por dia

dependendo do indivíduo. É um fluido composto basicamente de água, pequena

quantidade de eletrólitos, proteínas e enzimas. A principal enzima encontrada na

saliva é a amilase que degrada os polissacarídeos como o amido. (KOBILINSKY,

2012) A mucina é outro componente importante. Está presente na saliva em

quantidades elevadas devido a ser uma glicoproteína responsável pela lubrificação

dos alimentos (SHARGEL et al., 2007).

A utilização da amostra de saliva obteve aplicação inicial para a monitorização

terapêutica de fármacos no ano de 1970. As drogas mais estudadas naquela época

foram a fenitoína, fenobarbital e a carbamazepina.

Atualmente a saliva tem despontado como uma excelente alternativa de viabilidade

na monitorização terapêutica de fármacos, devido algumas características que

conferem vantagens sobre a amostra de sangue ou plasma.

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A principal delas refere que a concentração da droga nesta amostra é reflexo da

quantidade ativa livre, da droga, disponível no plasma (PATSALOS; BERRY, 2013) o

que proporciona uma boa correlação farmacodinâmica demonstrando e traduzindo o

prejuízo para a performance do usuário no momento da coleta. (BOSKER; HUESTIS,

2009). Esta característica faz com que a testagem de drogas no fluído oral estime o

abuso cometido nas últimas 24 a 48 horas antecedentes a coleta, dependendo da

rota de administração. (SAMHSA, 2012a) A tabela X3 demonstra os típicos tempos

máximos de detecção específicos de alguns fármacos na saliva após o abuso.

Tabela 4 - Tempos máximos de detecção na saliva, após o abuso.

Droga Fármaco Tempo máximo de detecção (h)

Anfetamina Anfetamina 20 – 50

Metanfetamina Metanfetamina 24

MDMA MDMA 24

Cannabis THC 34

Crack/pó Cocaína 5 – 12

Benzoilecgonina 12 – 24

Heroína 6-acetilmorfina 0,5 - 8

Morfina Morfina 12 – 24

GHB GHB 5

Fonte: VERSTRAETE, 2004 modificado.

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É uma amostra relativamente fácil (PATSALOS; BERRY, 2013) e simples (RUIZ et

al., 2010) de ser coletada, sendo mais aceitável pelos pacientes do que o sangue

(PATSALOS; BERRY, 2013) devido a ser não invasiva. Não necessita de pessoal

com nível de especialização elevado e nem equipamento altamente sofisticado para

desenvolver a coleta.

Diferentemente da amostra de urina, onde há necessidade de divisão de local para

coletas masculinas e femininas, a coleta do fluido oral não necessita dessa

separação. Todo o procedimento de amostragem deve ser assistido, porém não há

constrangimento em relação à supervisão entre pessoas de mesmo ou de sexos

opostos. Quando comparado à obtenção do sangue, o risco de infecção observado

para esta modalidade é praticamente inexistente. (BOSKER; HUESTIS, 2009). Ainda

oferece vantagem adicional de não precisar de local próprio para amostragem, sendo

obtida até mesmo na residência do paciente (RUIZ et al., 2010).

A difusão das substâncias para a saliva é feita de forma passiva, sendo positiva para

aquelas que são lipofílicas e não ionizáveis ao pH salivar. Portanto o pKa da

substância exercerá influência direta na concentração salivar versus sangue. Desse

modo drogas que se mostram mais ionizadas no sangue do que na saliva tem pouca

excreção por esta via (VAZQUEZ et al., 2014).

O fluido oral também é uma alternativa viável em substituição aos testes de drogas

efetuados na urina. Uma variedade de autores tem descrito a aplicabilidade das

metodologias baseadas em saliva para emprego em diferentes campos de

determinações principalmente para o WDT (HELTSLEY et al., 2011).

Além das anteriormente comentadas outra característica que faz sobressair o uso

desta matriz alternativa é a especificidade demonstrada para a identificação de

algumas substâncias. Especialmente para a heroína, a saliva contém quantidades

detectáveis de 6-acetilmorfina (6AM). Na urina este metabólito pode não ser

encontrado devido à hidrólise para morfina. Devido a esta particularidade

farmacocinética, na urina dificilmente conseguiríamos diferenciar com elevada

exatidão o abuso dos opiáceos de prescrição, em especial cito a morfina e codeína,

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com o abuso da heroína, que é uma droga ilícita em todos os aspectos (BOSKER;

HUESTIS, 2009; ALLEN, 2011).

Duas grandes desvantagens da utilização da saliva consistem na probabilidade de

transmissão de determinadas doenças infectocontagiosas sendo indispensável a

utilização de EPIs adequados. Em certos indivíduos a saliva pode ser menos fluida

devido às altas concentrações de mucopolissacarídeos e mucoproteínas. Alguns

fármacos e estados patológicos podem diminuir a secreção de saliva e tornar a

cavidade oral menos úmida.

Outra desvantagem importante da utilização de saliva é a possibilidade de

contaminação externa, o que faz com que a concentração encontrada na amostra

possa não refletir a real concentração plasmática da mesma. (MOFFAT et al., 2011).

Para resolver esse problema é recomendado por alguns autores que haja uma

descontaminação oral com água isenta de analitos e que a coleta ocorra 10 a 15

minutos após esse procedimento (PATSALOS et al., 2013).

O fluido oral pode ser estocado em tubos de polipropileno a +4ºC por 48 horas antes

do início dos procedimentos de extração. (SAMYN et al., 2002). Quando a análise

não é efetuada nos momentos imediatamente posteriores a coleta, o fluido oral ou

saliva necessita de conservação ou estocagem a -20ºC em freezer para evitar perda

das substâncias de interesse (OIESTAD et al., 2007).

6.2.4 Pelos e Cabelos

Devido à elevada afinidade dos metais pela deposição em tecidos queratinosos, os

cabelos e pelos tem sido utilizado para a avaliação crônica da exposição ao arsênio,

cádmio e mercúrio desde a década de 60. Naquela ocasião a análise de outros tipos

de substâncias não era possível devido à pouca sensibilidade das técnicas

existentes. Mais tarde através da utilização de fármacos marcados radioativamente

foi descoberto que além dos metais muitas outras substâncias seriam depositadas

nesta matriz da mesma maneira que a urina, ou seja, movendo-se do sangue para

os cabelos e pelos (DASGUPTA, 2008; JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

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Com o aparecimento de técnicas de maior sensibilidade vários autores conseguiram

determinar diferentes fármacos no cabelo. Em 1979 Baumgartner et.al. conseguiram

verificar, pela primeira vez, a presença de morfina nesta amostra através da

detecção por radioimunoensaio (RIA). Estes autores ainda verificaram que a

presença desta substância depositada ao longo do fio de cabelo se correlacionava

diretamente com o tempo de uso (DASGUPTA, 2008; JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

Atualmente a cromatografia a gás acoplada à espectrometria de massas é um dos

métodos de escolha para análise de cabelos. Esta tecnologia também é

rotineiramente usada nas determinações forenses, medicina do tráfego, toxicologia

ocupacional, toxicologia clínica e nas determinações do doping esportivo (JICKELLS;

NEGRUSZ, 2008).

Uma das grandes vantagens da determinação de fármacos em amostras de cabelos,

a despeito das amostras de urina e sangue, está na possibilidade de estimar um

longo tempo pregresso de abuso da substância, podendo alcançar vários meses.

Este tipo de análise que permite a verificação de longo tempo pregresso ou retroativo

do abuso de drogas é mais conhecida como “exame de larga janela de detecção”

(JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

Os exames de urina ou sangue normalmente fornecem uma estimativa entre 2 a 4

dias pregressos, dependendo do tipo de substância pesquisada. Estas amostras

propiciam o que cientificamente é denominado de “short-terminformation” que

significa literalmente “informação de curto-termo” a respeito da utilização de drogas

por determinado indivíduo. As análises de cabelo proporcionam o que é denominado

de “long-term histories” que literalmente significa “histórias de longo-termo”. Então

análises de urina fornecem informações a respeito do abuso de determinada droga

por um período pregresso muito curto e que as análises de pelos e cabelos

determinam o abuso por um período anterior a coleta, muito mais prolongado

(JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

Outra característica da análise toxicológica de pelos e cabelos, é que ela pode

fornecer informação crucial a respeito da intensidade da utilização podendo distinguir

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entre o uso crônico e ocasional, fato não solucionado pela determinação em urina ou

sangue (JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

A incorporação de substâncias ao cabelo pode ser descrita através dos seguintes

processos:

1. Pelo sangue através da formação do cabelo;

2. Por difusão através do suor e outras secreções e

3. Pelo ambiente externo (KINTZ, 2007).

Incorporação de Substâncias ao Cabelo Através do Sangue

Existem três fases de crescimento do cabelo: anagen ou fase de crescimento

propriamente dita. Catagen que é a fase de descanso ou transição e telogen que é a

fase final em que o pelo está pronto para ser removido da superfície da pele. Esta

última fase e procedida de nova anagen onde o processo de crescimento é retomado

novamente (WONG; TSE, 2005).

Devido à rápida divisão celular que forma o cabelo, o folículo capilar é mantido

através de um suprimento sanguíneo adequado. Dessa maneira as substâncias que

circulam pelo sangue indistintamente abastecem o folículo (KINTZ, 2007).

Assim como ocorre com a urina, uma ampla variedade de substâncias introduzidas

em um organismo e seus metabólitos pode ser encontrada nos cabelos devido à

densa irrigação para o bulbo capilar. As drogas e seus produtos de biotransformação

presentes na circulação sanguínea se difundem rapidamente através dos folículos

sendo depositadas na matriz de queratina denominadas de microfibrilas que se

localizam no córtex capilar. Por sua vez o córtex capilar é rodeado pela cutícula

capilar e ali permanece enquanto este cabelo/pelo estiver fixado ao corpo do

paciente e/ou não for degradado (WONG; TSE, 2005).

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Incorporação de Substâncias ao Cabelo Através do Suor e Outras Secreções

A incorporação de substâncias ao cabelo através do suor é de conhecimento da

comunidade científica, de onde inúmeros trabalhos foram publicados reconhecendo

esse fenômeno (KINTZ, 2007).

Neste modelo foi proposto que compostos são adicionados ao cabelo através do

intenso contato entre o suor, sebo e o pelo quando este emerge da pele (KINTZ,

2007).

Incorporação de Substâncias ao Cabelo pelo Ambiente Externo

As diferentes drogas podem ser incorporadas ao cabelo através do ambiente externo

por exposição passiva na forma de vapor ou contato direto com a fase sólida e

posterior diluição no suor ou outro meio aquoso encontrado (KINTZ, 2007).

A incorporação de substâncias provenientes do ambiente externo aos pelos e

cabelos foi um dos poucos pontos de controvérsia que ofereceu algumas limitações

para este tipo de análise, sendo resolvida no presente momento. (TABERNERO et

al. 2009). Este problema foi resolvido através da adoção de procedimentos de

descontaminação externa que eliminam também resíduos indesejáveis da amostra

(HARRISON; FU, 2014).

A figura 1 demonstra os três principais modelos de incorporação dos fármacos ao

cabelo.

6.2.4.1 Sistemática da Análise Toxicológica em Pelos e Cabelos

Nos últimos anos a análise de drogas em pelos e cabelos se tornaram extremamente

importantes para completar as informações que podem ser obtidas através de outras

matrizes. A larga janela de detecção é uma das maiores vantagens desta amostra

onde as estimativas de abuso dependendo de determinados fatores pode chegar até

12 meses pregressos. A amostragem é consideravelmente fácil e oferece um risco

mínimo de manipulação (SAITO et al., 2011).

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Contribuíram para a intensificação da utilização desta amostra o fato da coleta não

oferecer constrangimento (BALIKOVÁ, 2005) e poder ser supervisionada por uma

terceira pessoa (BOUMBA et al., 2006) e não se decompõe a temperatura ambiente

(BALIKOVÁ, 2005) nem em outras condições adversas (BOUMBA et al., 2006),

como outros fluídos e tecidos (BALIKOVÁ, 2005).

Figura 1. Principais modelos propostos de incorporação dos fármacos ao cabelo. Fonte: FLANAGAN et al., 2007.

As amostras podem ser estocadas sem a utilização de um freezer ou geladeira. É

recomendado que o acondicionamento das amostras seja efetuado dentro um papel

alumínio que serão guardados dentro de um recipiente plástico lacrado.

Um dos maiores desafios da análise de drogas em cabelos seria como evitar a

influência da exposição passiva externa que pode implicar em um resultado falso

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positivo. (VERSTRAETE, 2011) A técnica que apresenta maior eficácia para

minimizar esse fator consiste no procedimento de descontaminação (KINTZ, 2007).

Os procedimentos de descontaminação podem ser efetuados através de lavagens

com soluções detergentes, tampões de fosfato ou solventes orgânicos como

acetona, éter etílico, etanol, metanol e diclorometano. (FLANAGAN et al., 2007). Os

procedimentos de descontaminação podem ser utilizados em conjunto, assim sendo

combinações de lavagens com solventes orgânicos seguida da utilização de

tampões de fosfato podem ser bastante úteis. (BOUMBA et al., 2006). As lavagens

são efetuadas sucessivamente até que a concentração da droga esteja abaixo do

limite de detecção da técnica utilizada (FLANAGAN et al., 2007).

O objetivo deste procedimento é a remoção da substância apenas da camada

externa, cutícula, que sofre a contaminação passiva, enquanto que o analito

presente dentro das camadas mais internas representa a deposição ativa através do

sangue (BOUMBA et al., 2006).

Após a descontaminação, ficam remanescentes apenas as substâncias que se

encontram nas regiões inacessíveis do pelo ou cabelo. Nessa fase tem lugar a

digestão (BOUMBA et al., 2006) que possui o objetivo de liberar a droga do interior

da amostra, pela liquefação da mesma. (VERSTRAETE, 2011) Após a digestão

seque-se a extração das substâncias pelo uso dos procedimentos em fase sólida

(BOUMBA et al., 2006).

Os procedimentos de digestão são divididos em 03 métodos diferentes.

1) Extração/digestão alcalina – através da incubação dos pelos e cabelos em

solução alcalina de NaOH 0,1 a 0,25M, pH= 9, 37ºC, por 12h.

2) Digestão ácida – através da incubação com solução de ácida de HCl 0,1 a

0,6M, ou H2SO4 0,005M, a temperatura ambiente ou 37ºC por 12 horas.

3) Digestão enzimática – através da utilização de soluções contendo enzimas

que destroem a rede de queratina da amostra liberando as substâncias de

interesse no meio líquido. As principais enzimas usadas são β-

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glucoronidase/arylsulfatase (glusulase), proteinase K, protease E, protease VIII e a

biopurase (BOUMBA et al., 2006).

6.2.5 Suor

A unidade do corpo humano pode ser perdida a partir da pele tanto pelo suor

insensível (suor não visível) ou pelo suor sensível, que é excretado ativamente

durante o estresse e exercício. O suor é um líquido segregado a partir de glândulas

sudoríparas, originadas na epiderme. As glândulas sudoríparas ocorrem em quase

todas as partes da pele e são classificados em dois tipos: écrinas e apócrinas. As

glândulas apócrinas são maiores do que as glândulas écrinas que são mais

numerosas e secretam um liquido de maior viscosidade. As glândulas sudoríparas

são associadas aos pelos e cabelo devido a serem importantes contribuintes para

deposição de drogas nesta matriz queratinizada (VERSTRAETE, 2011).

O suor auxilia no controle da temperatura corpórea via evaporação da superfície da

pele. A quantidade de suor que é excretada é afetada pela posição do corpo, a

temperatura ambiente, o corpo temperatura e umidade relativa do ambiente (suor

insensível) e pelo estresse emocional, físico e térmico (suor sensível). Cerca de 300

a 700ml/dia são perdidos através da transpiração insensível e de 2 a 4L podem ser

dispensados pelo exercício intenso (VERSTRAETE, 2011).

O suor é uma solução hipotônica fracamente ácida de pH entre 5,2 a 6,9, contendo

água como maior componente em cerca de 99%. Do restante, o íon sódio (Na+) é a

substância em maior quantidade que varia entre 5 a 140mmol/L. Glicose, ácido

lático, ácido pirúvico e a uréia são outros elementos essenciais. As proteínas

geralmente não são identificadas no suor (VERSTRAETE, 2011).

O teste de suor é uma técnica não invasiva e pode ser usado para monitoramento do

consumo de drogas em algumas configurações médico-legais (KARCH, DRUMMER,

2016). Porém a distribuição desigual das glândulas sudoríparas torna difícil obter

amostras de suor sistematicamente (VERSTRAETE, 2011).

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A análise de drogas no suor é raramente realizada porque é extremamente difícil

estimar o volume de suor que será excretado e avaliar as concentrações de droga

presentes na amostra. O primeiro problema seria o recolhimento de uma amostra

adequada. Estímulos térmicos ou farmacológicos (administração de pilocarpina)

foram propostos para secretar uma maior quantidade de suor que não seria

eliminada usualmente. Ligaduras oclusivas compostas de uma a três camadas de

filtro ou papel, ou pedaços de algodão, gaze ou pequenas toalhas já foram propostas

como maneiras para recolhimento do suor. Nesses aparatos caseiros várias drogas

foram possíveis de serem identificadas como a quinina, ácido salicílico, antipirina, a

metadona, o fenobarbital, a morfina, cocaína, produtos da maconha, metanfetamina

e fenciclidina (VERSTRAETE, 2011).

O suor fornece uma estimativa de acúmulo ao invés de uma prospecção

retrospectiva. Sendo assim, o teste de suor é um método sensível para detectar o

abuso de drogas podendo ser bem aplicado na monitorização da abstinência de

entre os indivíduos matriculados em programas de tratamento de drogas ou em

programas de liberdade condicional pela justiça criminal (DASGUPTA, 2008).

Os resultados para a testagem de drogas pelo suor podem ser afetados pelo período

de colheita, pelo local da coleta podendo ocorrer perda de algumas drogas a partir

de toda a superfície da pele. Outras desvantagens do teste de suor é que o aparato

de coleta é totalmente consumido no teste, impedindo assim que qualquer

contraprova possa ser admitida. Além disso, não há um programa de proficiência

para suportar a análise de suor, o pouco conhecimento sobre a farmacocinética e a

disposição de drogas na amostra, bem como a possível susceptibilidade do suor

para contaminação ambiental impedem a adoção corriqueira desta amostra como

escolha para uma avaliação toxicológica (DASGUPTA, 2008).

Para finalizar o quadro 6 traz um resumo das vantagens e desvantagens das

principais matrizes biológicas que podem ser utilizadas em análises toxicológicas.

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Quadro 6 - Vantagens e desvantagens das diferentes amostras utilizadas nas análises toxicológicas de drogas de abuso.

Amostra Vantagem Desvantagem

Sangue -Indicativo de uso recente, -demonstra melhor correlação com o efeito do que outros tipos de amostras, -difícil adulteração, -detecção do analito em seu estado molecular, -interpretação quantitativa.

-Dificuldade de coleta, -possibilidade de dano ao tecido (extravasamento vascular), -possibilidade de volume limitado, -baixa concentração do analito, -não permite aplicação de POCT, obrigatoriedade de análise laboratorial, -elevado custo para análise

Pelos e cabelos

-Longa janela de detecção entre semanas a vários meses, -coleta não invasiva, -coleta não constrangedora, -Elevada dificuldade de adulteração ou troca, -Amostra altamente estável podendo ser utilizada após anos, -Não necessita de temperatura especial para conservação, -fácil estocagem e transporte, -possibilidade de detectar mudanças no tipo de droga durante o tempo, -Possibilidade de repetição da coleta em curto intervalo sem invalidar o resultado final e -Pode ser usada para corpos mumificados e nos processos de exumação.

-Pouca viabilidade de detectar uso recente (acima de 7 a 10 dias), -dificuldade de detectar uso único, -Custo mais elevado do que as análises de urina, -Possibilidade de a amostra não estar disponível para a coleta, -Impossibilidade da adoção do POCT, devendo obrigatoriamente ser analisada em laboratório, -aparato laboratorial de elevada sensibilidade e especificidade.

Saliva/ Fluido Oral

-indica uso recente, -demonstra correlação dose/efeito, -coleta não invasiva, -fácil amostragem, -difícil adulteração -possibilita POCT

-curta janela de detecção, -possibilidade de contaminação externa, -baixa concentração do analito, -inabilidade da produção de amostra em casos específicos.

Fonte: DASGUPTA, 2008; FLANAGAN et al., 2007; SAMHSA, 2012a.

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Tabela 5 (cont.) - Vantagens e desvantagens das diferentes amostras utilizadas nas análises toxicológicas de drogas de abuso.

Amostra Vantagem Desvantagem

Urina -Normalmente obtida em grandes volumes, -Analito em concentrações mais elevadas do que as outras amostras, -Conhecimento sobre esta matriz bem consolidado pelo tempo de utilização, -Procedimentos podem ser validados pela maioria dos laboratórios, Menor custo, -Maior amplitude de drogas estudadas e -Possibilita a utilização de teste rápido no próprio local de coleta

-Necessita de aparatos especiais para a coleta, -Inabilidade da produção de amostra em determinados casos, -Elevada possibilidade de adulteração e troca, -Curta janela de detecção, -Obtenção é considerada constrangedora, -Amostra relativamente instável, -Necessita de temperatura especial para conservação. -Impossibilidade de interpretação quantitativa/sem correlação com o efeito.

Suor Período retrospectivo entre 3 a 14 de estimativa de abuso, Coleta não invasiva, Dificuldade de adulteração pelo doador,

Grande probabilidade de contaminação ambiental ou passiva, Testagem imprecisa, Impossibilidade de adoção do POCT, Custo elevado da análise,

Fonte: DASGUPTA, 2008; FLANAGAN et al., 2007; SAMHSA, 2012a.

6.3 Métodos Empregados nas Análises Toxicológicas das Diferentes Amostras

Estudadas

Urina, sangue, cabelo, e saliva são alguns exemplos de amostras biológicas que

podem ser usadas para perfazer uma análise laboratorial de drogas. Contudo devido

às suas características peculiares, demonstram diferentes níveis de especificidade,

sensibilidade e exatidão (MOELLER et al., 2008).

Outras amostras biológicas como o humor vítreo, ossos, medula, óssea, mecônio,

fluido amniótico, leite, bile, dentes entre outras também tem utilidade para

determinação de diferentes substâncias nas análises toxicológicas (MARTINIS,

2008).

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Em qualquer dessas amostras, para se identificar uma substância presente em um

meio biológico ou até mesmo não-biológico, podem ser aplicados diferentes

métodos. Desse modo, na determinação de compostos derivados da anfetamina

podemos usar como matrizes de escolha o sangue, a urina, o cabelo (ou pelos), o

mecônio, fluidos orais ou o suor (MARTINIS, 2008).

Para essas matrizes como técnica de preparação, podem ser escolhidas a extração

em fase sólida, microextração em fase sólida, extração líquido-líquido ou até

extração com solventes orgânicos combinada com tampões (MARTINIS, 2008).

Os métodos analíticos aplicados podem ser a cromatografia gasosa e a

cromatografia líquida de alta eficiência combinadas com a detecção pela

espectrometria de massas ou ainda métodos baseados em imunoensaio (MARTINIS,

2008).

Os métodos baseados em imunoensaio são utilizados para determinar uma

substância qualquer em um meio biológico, sendo necessário adotar um método

posterior de confirmação (JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

Para as amostras líquidas com urina e saliva é possível adotar o que chamamos de

POCT (do inglês point of collection – no ponto de coleta) ou testes in-site (no sítio de

coleta). Ou seja, mecanismos de testagem prévia que podem ser utilizados no

próprio local de coleta produzindo resultados imediatos (FLANAGAN et al., 2007;

WONG; TSE, 2005).

Os POCTs são considerados de triagem. Seu desenvolvimento é fundamentado em

técnicas imunológicas onde atualmente a imunocromatografia é o seu principal

representante. (WONG; TSE, 2005). Os testes imunocromatográficos tem

demonstrado coeficiente de confiança maior do que 97%, entretanto devido a sua

pouca especificidade necessitam de testes confirmatórios (RUIZ; STRAIN, 2011).

Portanto os resultados alcançados através dos métodos baseados em imunoensaios,

obrigatoriamente serão sempre presuntivos até serem validados por uma segunda

metodologia específica. Normalmente para este fim, são escolhidas a cromatografia

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gasosa acoplada a espectrometria de massas ou cromatografia líquida de alta

resolução (MOELLER et al., 2008). A cromatografia em camada delgada e testes

colorimétricos podem ser usados, porém também são considerados métodos de

triagem, sendo necessária posterior confirmação (JICKELLS; NEGRUSZ, 2008).

A União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC-International Union of

Pure and Applied Chemistry) conceitua a cromatografia como um método físico de

separação entre substâncias que são distribuídas ente duas fases, a fase móvel e a

fase imóvel ou estacionária. A fase móvel se movimenta em uma única direção

definida passando por dentro da fase estacionária (MOHRIG et al., 2010).

Nos métodos cromatográficos os componentes são separados pela atração ou

afinidade que possuem pela fase estacionária através das forças intermoleculares.

Quanto mais forte for esta atração mais lenta será a velocidade de migração do

composto através da fase estacionária, onde a separação então é resultante das

diferenças entre os coeficientes de atração (MOHRIG et al., 2010).

Os métodos cromatográficos mais modernos atualmente são a cromatografia em

fase gasosa e a cromatografia líquida de alta eficiência. Na cromatografia em fase

gasosa a fase móvel e um gás que se move em uma fase estacionária sólida. Na

cromatografia líquida a fase móvel é um líquido sob pressão (MOHRIG et al., 2010).

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7 AVALIAÇÃO DA AMOSTRA MAIS ADEQUADA PARA IDENTIFICAÇÃO DE

DROGAS EM CONDUTORES NA VIA PÚBLICA

Dirigir sob a influência de drogas, internacionalmente conhecido sob a sigla DUID

(Driving Under the Influence of Drugs) é um termo que é usado para designar a ação

de dirigir um automóvel conseguinte a ingestão, inalação, absorção, ou injeção de

drogas ou outras substâncias além do álcool e que poderiam interferir com a

capacidade de operar um veículo automotor com segurança (WILHELMI, COHEN,

2012).

Além da influência dos tóxicos ilegais, fica evidente que muitas substâncias legais

podem causar uma diminuição quando tomada antes de dirigir. A prescrição de

medicamentos, principalmente os sujeitos a controle especial, pode prejudicar a

habilidade dos motoristas e cria um desafio especial para os decisores políticos na

confecção e aplicação de leis, bem como para os médicos que os prescrevem

(WILHELMI, COHEN, 2012).

No campo da medicina da dor a mais proeminente e classe frequentemente prescrita

que podem causar alteração da capacidade psicomotora são os opióides. Entretanto

essa classe de substâncias apresenta baixa incidência como droga de abuso e

prescrita em menor proporção em nosso país (WILHELMI, COHEN, 2012; UNODC

2014).

O Código de Trânsito Brasileiro aduz que dirigir sob a influência de álcool ou de

qualquer outra substância psicoativa que determine dependência é infração

gravíssima e que é crime de trânsito conduzir veículo automotor com capacidade

psicomotora alterada em razão da influência de outra substância psicoativa que

determine dependência que não seja o álcool. Para verificação deste crime de

trânsito, em 20 de dezembro de 2012 a Lei Federal 12.760 autorizou a aplicação do

teste toxicológico (BRASIL, 2012).

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Por outro lado, a Resolução 432 do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito)

delimita que a confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da

influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência

dar-se-á por exame de sangue ou exames realizados por laboratórios

especializados, indicados pelo órgão ou entidade de trânsito competente ou pela

Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias psicoativas que

determinem dependência (CONTRAN, 2013).

A Resolução 432 não delimita qual deverá ser a amostra de escolha nem o método

analítico para verificação da condução de veículos automotores sob a influência de

substâncias que poderiam colocar em risco a capacidade psicomotora (CONTRAN,

2013).

A absorção é definida como o processo pelo qual uma droga se desloca do local de

administração para o local da medição que é o sangue. Sabemos que certa

quantidade de qualquer substância ativa, após administrada, ao atingir a circulação

sistêmica, dependendo da sua disponibilidade, induz a um efeito farmacológico. Isso

equivale a dizer que a concentração da droga no sangue prediz o efeito que ela está

produzindo (JAMBHEKAR, BREEN, 2012).

Existe um interesse crescente na utilização de fluido oral como amostra biológica

para o teste de drogas na investigação de casos de DUID, principalmente por refletir

as quantidades livres da droga no sangue, sendo a única amostra que possui

estreita correlação com o efeito farmacológico agudo refletindo o uso recente

(DASGUPTA, 2008; PATSALOS, BERRY, 2013).

Algumas outras vantagens incluem o desenvolvimento da coleta com rapidez, não

ser um método invasivo não inferindo dor, de fácil condução não requerendo pessoal

altamente especializado para a amostragem, podendo ser supervisionado por

qualquer pessoa independente do gênero não inferindo constrangimento ao doador

(DASGUPTA, 2008; PATSALOS, BERRY, 2013; LOGAN et al., 2014).

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A coleta dessa amostra pode ser afetada por fatores tais como o fluxo salivar e boca

seca, podendo permitir a hidratação adequada para obtenção de uma quantidade

satisfatória. Contudo, para fins de rastreio de drogas oferece uma grande vantagem

do que na urina que é poder ser recolhida facilmente próxima ao tempo de

condução. Isso é importante devido a ser capaz de relacionar o desempenho de

condução observada para o motorista frente ao resultado toxicológico obtido,

principalmente para o caso da detecção de drogas que são biotransformadas

rapidamente (LOGAN et al., 2014).

Outra característica fundamental para aplicação do fluido oral como amostra de

escolha é que a tecnologia é totalmente disponível em POCT possibilitando a

testagem das amostras no próprio local da fiscalização o que auxilia a investigação e

conclusão precisa do caso (LOGAN et al., 2014).

Além disso, o fluido oral é utilizado tanto para o teste de triagem em

imunocromatografia (POCT) como uma amostra de confirmação cromatográfica em

laboratório. Permite o recolhimento de duas amostras ao mesmo tempo, melhorando

as chances de confirmação resultados concordantes. A utilização do POCT para

amostras de saliva, em conjunto com uma avaliação estruturada da documentação,

do comportamento, da aparência e desempenho sobriedade padronizados para os

condutores fornecerá uma base mais objetiva e sólida para relacionar essas

observações ao abuso de drogas no trânsito (LOGAN et al., 2014).

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8 NECESSIDADE DE ADOÇÃO DE LIMITES DE SEGURANÇA MÍNIMO PARA

CONSTATAÇÃO DA ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA

O conceito de cutoff é adotado como um valor de referência para permitir a

classificação de uma amostra como positiva ou negativa. O limite de corte adotado

pode sofrer variação dependendo da matriz biológica utilizada e do objetivo da

análise toxicológica (SAMHSA, 2015).

Os cutoffs são concentrações específicas de corte e atualmente sua utilização é

quase universal. Os resultados dos testes são considerados positivos apenas

quando a concentração de uma substância exceder um valor limiar predeterminado

em uma amostra biológica específica. As concentrações adotadas para os cutoffs

variam de acordo com a substância, classe de substâncias ou matrizes biológicas

em que são encontradas. O cutoff delimita o conceito de positividade atribuindo um

valor mínimo para a consideração de um parâmetro, característica ou condição

(HOFMAN et al., 2007; SAMHSA, 2015).

Há mais de 10 anos o Department of Health and Human Services (Departamento de

Saúde e Serviços Humanos) através da SAMHSA (Substance Abuse and Mental

Health Services Administration – Administração dos Serviços de Saúde Mental e

Abuso de Substancias, regulou a adoção dos cutoffs para aplicação no WDT

(Workplace DrugTesting – Testagem de Drogas em Local de Trabalho) para

amostras de urina e saliva (SAMHSA, 2015).

Com a adoção dos cutoffs adequados poderemos eliminar o fator subjetividade

devido à avaliação ser efetuada em relação a uma concentração conhecida da

substância eleita versus quantidade de amostra. Com isso independentemente da

passividade ou intencionalidade podemos atribuir um limite máximo permitido de

concentração na matriz biológica para permissão de obter a CNH.

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Os cutoffs surgiram devido à necessidade de adaptar a avaliação de um parâmetro

subjetivo para algo concreto e mensurável. No trânsito pode ser facilmente aplicável

para resolver algumas situações conflitantes, sendo exemplo claro a fiscalização em

via pública do ato de dirigir sob o efeito de drogas (WOLFF et al., 2013).

Para análise de saliva ou em qualquer outra amostra biológica, devem ser adotados

valores de referência do cutoff tanto para a fase de triagem quanto para a fase de

confirmação cromatográfica (CG – cromatografia a gás ou HPLC – cromatografia

líquida de alta performance). Estes dois valores podem se analiticamente iguais ou

diferentes, mas devem ser categóricos quanto a predição da negatividade ou

positividade.

Os cutoffs ou valores de corte devem ser recomendados através de estudos, porém

podem ser obtidos de normas vigentes em outros países ou comunidades científicas

respeitadas. O rol de substancias avaliadas também pode sofrer alterações fincado

os laboratórios de análise responsáveis pela inclusão ou exclusão de drogas de

acordo com os resultados dos estudos efetuados (EWDTS, 2015,).

A tabela 7, demonstra os valores recomendados dos cutoffs em saliva do projeto

DRUID da Comunidade Europeia que estão sendo adotados para a fiscalização em

via pública dos condutores que estão sob a influência de drogas.

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Tabela 6 – Valores sugeridos de cutoffs de algumas drogas em saliva a serem utilizados como referência nos testes toxicológicos em via pública implantados pela Comunidade Europeia.

Substância Triagem/Confirmação em saliva (ng/ml)

6-Acetilmorfina 16

Alprazolan 3,5

Anfetamina 360

Benzoilecgonina 95

Clonazepam 1,7

Cocaína 170

Codeína 94

Diazepam 5,0

Flunitrazepam 1,0

Lorazepam 1,1

Metilenodioxianfetamina (MDA) 220

Metilenodioxietilanfetamina (MDEA) 270

Metilenodioximetanfetamina (MDMA) 270

Metadona 22

Metanfetamina 410

Morfina 95

Nordiazepam 1,1

Oxazepam 13

∆9-Tetrahidrocanabinol (THC) 27

Zolpidem 10

Zopiclona 25

Tramadol 480

7-amino-clonazepam 3,1

7-amino-flunitrazepam 1,0

Fonte: DRUID, 2012.

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9 CONCLUSÃO

Nosso trabalho visa a análise das drogas mais utilizadas por condutores de veículos

em vias públicas brasileiras, o risco que se tem quando este assume tal atitude, e

qual é a amostra mais eficaz na detecção e determinação desta droga.

As drogas estudadas foram a cocaína, a maconha, e os anfetaminicos, que são

substâncias que têm um alto potencial de alteração da capacidade do motorista na

hora em que está na direção, podendo assim ocasionar acidentes, em que vidas

terão sequelas ou até mesmo acarretando falecimentos precoces.

Para sugerirmos uma análise toxicológica estudamos e revisamos as propriedades

das amostras de urina, sangue, saliva ou fluido oral, pelos e cabelos e o suor.

Para condução de uma ação fiscalizadora ostensiva e rotineira do trânsito em via

pública a amostra que demonstrou possuir características para uma possível

aplicação foi a saliva por indicar o uso recente, ter excelente correlação dose/efeito,

não produzir dor, lesão e nem constrangimento ao doador. Ainda possui a vantagem

de não necessitar de pessoal altamente especializado para amostragem e ser de

fácil amostragem e difícil adulteração.

Sugerimos que a imunocromatografia seja a técnica inicial a ser conduzida o POCT e

que posteriormente as amostras positivas possam ser encaminhadas para um

serviço que possua técnica cromatográfica (CG ou HPLC) para a confirmação.

Finalmente concluímos que através destas medidas atualmente é factível e possível

a fiscalização da condução de veículo automotor com capacidade psicomotora

alterada em razão da influência de substância psicoativa que determine dependência

semelhantemente como é efetuada atualmente para o álcool das bebidas alcoólicas.

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