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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO “JANE VANINI” DEPARTAMENTO DE LETRAS COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS ACADÊMICOS DO 2º SEMESTRE DE LETRAS PRODUÇÃO DE TEXTO E LEITURA II Profa. Dra. Neuza Zattar (Coordenadora) Cáceres-MT, 2009/2

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Page 1: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITAacuteRIO ldquoJANE VANINIrdquo

DEPARTAMENTO DE LETRAS

COLETAcircNEA

NOSSOS ESCRITOS

ACADEcircMICOS DO 2ordm SEMESTRE DE LETRAS

PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO E LEITURA II

Profa Dra Neuza Zattar (Coordenadora)

Caacuteceres-MT 20092

2

APRESENTACcedilAtildeO

Esta Coletacircnea reuacutene textos produzidos pelos acadecircmicos do 2ordm semestre do curso

de Letras orientados pela Profa Dra Neuza Zattar no acircmbito das atividades praacuteticas da

disciplina Produccedilatildeo de Texto e Leitura II

A produccedilatildeo dos artigos teve como proposta iniciar o acadecircmico do curso de Letras agraves

atividades de pesquisa a partir de um tema sobre linguagem de livre escolha que

possibilitasse ao aluno o desenvolvimento de estudos da linguagem nas suas diferentes

formas de emprego e significaccedilatildeo

O trabalho constitui-se de cinco fases a escolha do tema a definiccedilatildeo do objeto de

investigaccedilatildeo o levantamento bibliograacutefico a elaboraccedilatildeo de um roteiro compreendendo os

passos metodoloacutegicos da pesquisa a apresentaccedilatildeo oral em sala de aula e a produccedilatildeo escrita

da pesquisa Na fase da apresentaccedilatildeo as pesquisas foram socializadas possibilitando a

participaccedilatildeo dos colegas e a observaccedilatildeo do processo individual de cada aluno e a forma de

abordagem do objeto escolhido

Dos dezoito artigos reunidos dois abordam o estudo de LIBRAS e de liacutengua

estrangeira dois destacam a importacircncia da gramaacutetica e do dicionaacuterio sete tratam de temas

como intertextualidade progressatildeo textual gecircneros textuais adveacuterbios modalizadores

coerecircncia e coesatildeo trecircs apresentam reflexotildees sobre variaccedilatildeo linguiacutestica e ensino da liacutengua

materna giacuteria e preconceito linguiacutestico e trecircs sobre figuras de linguagem Esta diversidade

de temas mostra a inserccedilatildeo dos acadecircmicos do curso de Letras nas diferentes abordagens

da linguagem e nas discussotildees sobre o ensino da liacutengua

Com a socializaccedilatildeo desta Coletacircnea esperamos que os artigos possam contribuir para

valorizar e divulgar os trabalhos dos acadecircmicos do 2ordm semestre do curso de Letras do

Campus Universitaacuterio ldquoJane Vaninirdquo da Universidade do Estado de Mato Grosso

A Coordenaccedilatildeo

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SUMAacuteRIO

O ensino de liacutenguas estrangeiras nas escolas de ensino fundamental 05 Deacutebhora Belusse A educaccedilatildeo do surdo e a liacutengua brasileira de sinais 08 Deacutebora Escudeiro Ponchio Um estudo sobre a gramaacutetica 12 Fernanda do Espiacuterito Santo

Intertextualidade 15 Gisele Caacutessia Simoncele A importacircncia da escrita e da intertextualidade 18 Janayna da Silva Neves Progressatildeo textual procedimentos linguiacutesticos 21 Jeferson Dione

Um estudo sobre os adveacuterbios modalizadores 22 Jeacutessica Nataacutelia Oliveira Um estudo sobre gecircneros textuais 25 Juliana Carvalho da Silva

A coesatildeo textual 27 Maria Justina de Arruda e Silva As variaccedilotildees linguiacutesticas e o ensino da liacutengua materna 29 Kamylla Martos A importacircncia do dicionaacuterio 32 Marllus Everton Trindade Mejia

Metaacutefora de Aristoacuteteles a Halliday 34 Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

Figuras de linguagem metaacutefora e metoniacutemia 40 Sheila S A de SantrsquoAna Silva Um estudo sobre figuras de linguagem 39 Silmara de Faacutetima

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Preconceito linguiacutestico 42 Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

A coerecircncia na linguiacutestica textual 46 Vaney Lucia Faria Leite Um estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens 49 Wellington Oliveira de Souza

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O ENSINO DE LIacuteNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

Deacutebhora Belusse (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

No iniacutecio da colonizaccedilatildeo os portugueses com propoacutesitos de dominar e expandir o

Brasil preocupou-se em ensinar uma Liacutengua Estrangeira o latim como liacutengua culta Poreacutem

apoacutes a expulsatildeo dos jesuiacutetas pelo Marquecircs de Pombal o grego e o latim eram disciplinas

dominantes Entretanto em 1808 com a chegada da reforma de 1855 as escolas

secundaacuterias comeccedilaram a evoluir com o ensino de liacutenguas modernas

Em 1920 com a chegada dos imigrantes europeus ao Brasil formavam-se colocircnias

que visavam preservar suas tradiccedilotildees culturais e consequentemente sua liacutengua materna O

governo Getuacutelio Vargas com a intenccedilatildeo de consolidar as ideias nacionalistas em todo o paiacutes

com o objetivo de impedir a desnacionalizaccedilatildeo da escola e da infacircncia proibiu o ensino da

Liacutengua Estrangeira (doravante LE) para crianccedilas menores de 10 anos

Na reforma de Francisco Campos em 1931 se deu mais ecircnfase ao ensino de liacutenguas

modernas havendo maior preocupaccedilatildeo com a metodologia e a utilizaccedilatildeo do meacutetodo direto

Um grande destaque dessa eacutepoca foi o professor Cameiro Leatildeo que introduziu o meacutetodo

direto no Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro

Em 1942 na reforma de Capanema deu-se ecircnfase aos estudos de LE como tambeacutem

ao estudo da cultura e de objetivo educativos Essa reforma foi considerada os anos

dourados da LE no Brasil pois os alunos estudavam latim francecircs inglecircs e espanhol e

quando se formavam estavam aptos a ler escritos em uma das liacutenguas ensinadas

Atualmente a liacutengua mais utilizadaensinada nas escolas puacuteblicas e particulares eacute a

inglesa e entre os meacutetodos de ensino mais empregados ao longo dos anos destacam-se

Gramaacutetica-Traduccedilatildeo (GT) Meacutetodo Direto (MD) Abordagem Audiolingual (AAL) Abordagem

Comunicativa (AC) e Abordagem Lexical (AL)

O meacutetodo Gramaacutetica-Traduccedilatildeo eacute um dos mais antigos e ainda o mais utilizado

apesar de ter recebido muitas criacuteticas pelo fato de atraveacutes desse meacutetodo o aluno aprender

mais a Liacutengua Materna-LM Esse meacutetodo consiste na memorizaccedilatildeo das palavras em LE pelo

aluno e depois na construccedilatildeo de frases a partir das regras gramaticais

O Meacutetodo Direto foi considerado um meacutetodo desgastante ateacute mesmo para os

profissionais da aacuterea pois consiste na exclusatildeo da LM em sala e no uso exclusivo da LE

Houve assim uma mistura entre a GT e o MD

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O Abordagem Audiolingual tambeacutem considerado um meacutetodo desgastante nasceu na

Segunda Guerra Mundial com a necessidade de os soldados e outras pessoas aprenderem

outra liacutengua rapidamente As aulas duravam em meacutedia seis a nove meses com sessotildees de

sete a nove horas diaacuterias e os professores natildeo paravam de explicar a estrutura da liacutengua

O Abordagem Comunicativa considerado atualmente o meacutetodo mais eficiente eacute

ensinado ao aluno para se comunicar em situaccedilotildees reais poreacutem com ausecircncia de objetivo no

ensino da liacutengua visando reunir pessoas com interesses comuns

O Abordagem Lexical um dos meacutetodos mais recentes no Brasil foi desenvolvido por

Michael Lewis que se utiliza dos meacutetodos computacionais para o ensino da LE na

aprendizagem Os exerciacutecios satildeo o preenchimento de lacunas e a combinaccedilatildeo de palavras

explicando assim a necessidade de computadores para o armazenamento de dados

atualmente existem softwares destinados ao AL

Natildeo haacute metodologia tida como perfeita para o ensino cabendo aos professores

analisar cada meacutetodo a ser utilizado ou seja o professor deve sempre estar aprimorando

suas aulas para que natildeo as torne maccedilantes e monoacutetonas O professor deve ser um mediador

entre o que seraacute ensinado e o aluno mas o que seraacute ensinado deveraacute sempre levar em conta

a realidade em que o aluno estaacute inserido pois o ambiente exerce papel fundamental na

formaccedilatildeo do aluno atento tambeacutem para a questatildeo de que cada indiviacuteduo aprende de uma

forma Poreacutem haacute diferenccedila de meacutetodos pois haacute liacutenguas para aprender e haacute liacutenguas para

viver A primeira eacute baseada somente em atividades escolares e a segunda em um

aprendizado no dia a dia

Com base em estudos de vaacuterios pesquisadores como Schutz Brown e Piaget por

questotildees bioloacutegicas e psicoloacutegicas quanto mais cedo uma crianccedila tiver contato com a LI-

Liacutengua Inglesa melhor seraacute a assimilaccedilatildeo da liacutengua Piaget desenvolveu a teoria do

desenvolvimento cognitivo infantil o POC- Periacuteodo Operatoacuterio Concreto atraveacutes da qual as

crianccedilas de 7 a 11 anos tomam as palavras como instrumento do processo do pensamento

Essa teoria sobre a linguagem e desenvolvimento cognitivo mostra a capacidade intelectual

da crianccedila em aprender um LE em especial o inglecircs

O ensino da LI no ensino fundamental significa construir um novo caminho para que

as crianccedilas sejam capazes de obter conhecimentos da sociedade e do mundo em que vivem

Esse caminho pode levar a crianccedila agrave construccedilatildeo de um cidadatildeo transformador e de uma nova

mentalidade

Podemos concluir dizendo que por motivos psicoloacutegicos bioloacutegicos e por forccedila da

globalizaccedilatildeo eacute de suma importacircncia o ensino da LE principalmente a LI nas escolas de

ensino fundamental Os cidadatildeos de amanhatilde precisam estar preparados para a globalizaccedilatildeo

para o mercado de trabalho pois a LI eacute a mais usada recentemente nas universidades

internacionais e seu uso eacute quase universal em paiacuteses como Holanda Sueacutecia e Finlacircndia

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Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

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A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

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Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

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No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

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VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

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b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 2: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

2

APRESENTACcedilAtildeO

Esta Coletacircnea reuacutene textos produzidos pelos acadecircmicos do 2ordm semestre do curso

de Letras orientados pela Profa Dra Neuza Zattar no acircmbito das atividades praacuteticas da

disciplina Produccedilatildeo de Texto e Leitura II

A produccedilatildeo dos artigos teve como proposta iniciar o acadecircmico do curso de Letras agraves

atividades de pesquisa a partir de um tema sobre linguagem de livre escolha que

possibilitasse ao aluno o desenvolvimento de estudos da linguagem nas suas diferentes

formas de emprego e significaccedilatildeo

O trabalho constitui-se de cinco fases a escolha do tema a definiccedilatildeo do objeto de

investigaccedilatildeo o levantamento bibliograacutefico a elaboraccedilatildeo de um roteiro compreendendo os

passos metodoloacutegicos da pesquisa a apresentaccedilatildeo oral em sala de aula e a produccedilatildeo escrita

da pesquisa Na fase da apresentaccedilatildeo as pesquisas foram socializadas possibilitando a

participaccedilatildeo dos colegas e a observaccedilatildeo do processo individual de cada aluno e a forma de

abordagem do objeto escolhido

Dos dezoito artigos reunidos dois abordam o estudo de LIBRAS e de liacutengua

estrangeira dois destacam a importacircncia da gramaacutetica e do dicionaacuterio sete tratam de temas

como intertextualidade progressatildeo textual gecircneros textuais adveacuterbios modalizadores

coerecircncia e coesatildeo trecircs apresentam reflexotildees sobre variaccedilatildeo linguiacutestica e ensino da liacutengua

materna giacuteria e preconceito linguiacutestico e trecircs sobre figuras de linguagem Esta diversidade

de temas mostra a inserccedilatildeo dos acadecircmicos do curso de Letras nas diferentes abordagens

da linguagem e nas discussotildees sobre o ensino da liacutengua

Com a socializaccedilatildeo desta Coletacircnea esperamos que os artigos possam contribuir para

valorizar e divulgar os trabalhos dos acadecircmicos do 2ordm semestre do curso de Letras do

Campus Universitaacuterio ldquoJane Vaninirdquo da Universidade do Estado de Mato Grosso

A Coordenaccedilatildeo

3

SUMAacuteRIO

O ensino de liacutenguas estrangeiras nas escolas de ensino fundamental 05 Deacutebhora Belusse A educaccedilatildeo do surdo e a liacutengua brasileira de sinais 08 Deacutebora Escudeiro Ponchio Um estudo sobre a gramaacutetica 12 Fernanda do Espiacuterito Santo

Intertextualidade 15 Gisele Caacutessia Simoncele A importacircncia da escrita e da intertextualidade 18 Janayna da Silva Neves Progressatildeo textual procedimentos linguiacutesticos 21 Jeferson Dione

Um estudo sobre os adveacuterbios modalizadores 22 Jeacutessica Nataacutelia Oliveira Um estudo sobre gecircneros textuais 25 Juliana Carvalho da Silva

A coesatildeo textual 27 Maria Justina de Arruda e Silva As variaccedilotildees linguiacutesticas e o ensino da liacutengua materna 29 Kamylla Martos A importacircncia do dicionaacuterio 32 Marllus Everton Trindade Mejia

Metaacutefora de Aristoacuteteles a Halliday 34 Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

Figuras de linguagem metaacutefora e metoniacutemia 40 Sheila S A de SantrsquoAna Silva Um estudo sobre figuras de linguagem 39 Silmara de Faacutetima

4

Preconceito linguiacutestico 42 Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

A coerecircncia na linguiacutestica textual 46 Vaney Lucia Faria Leite Um estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens 49 Wellington Oliveira de Souza

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O ENSINO DE LIacuteNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

Deacutebhora Belusse (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

No iniacutecio da colonizaccedilatildeo os portugueses com propoacutesitos de dominar e expandir o

Brasil preocupou-se em ensinar uma Liacutengua Estrangeira o latim como liacutengua culta Poreacutem

apoacutes a expulsatildeo dos jesuiacutetas pelo Marquecircs de Pombal o grego e o latim eram disciplinas

dominantes Entretanto em 1808 com a chegada da reforma de 1855 as escolas

secundaacuterias comeccedilaram a evoluir com o ensino de liacutenguas modernas

Em 1920 com a chegada dos imigrantes europeus ao Brasil formavam-se colocircnias

que visavam preservar suas tradiccedilotildees culturais e consequentemente sua liacutengua materna O

governo Getuacutelio Vargas com a intenccedilatildeo de consolidar as ideias nacionalistas em todo o paiacutes

com o objetivo de impedir a desnacionalizaccedilatildeo da escola e da infacircncia proibiu o ensino da

Liacutengua Estrangeira (doravante LE) para crianccedilas menores de 10 anos

Na reforma de Francisco Campos em 1931 se deu mais ecircnfase ao ensino de liacutenguas

modernas havendo maior preocupaccedilatildeo com a metodologia e a utilizaccedilatildeo do meacutetodo direto

Um grande destaque dessa eacutepoca foi o professor Cameiro Leatildeo que introduziu o meacutetodo

direto no Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro

Em 1942 na reforma de Capanema deu-se ecircnfase aos estudos de LE como tambeacutem

ao estudo da cultura e de objetivo educativos Essa reforma foi considerada os anos

dourados da LE no Brasil pois os alunos estudavam latim francecircs inglecircs e espanhol e

quando se formavam estavam aptos a ler escritos em uma das liacutenguas ensinadas

Atualmente a liacutengua mais utilizadaensinada nas escolas puacuteblicas e particulares eacute a

inglesa e entre os meacutetodos de ensino mais empregados ao longo dos anos destacam-se

Gramaacutetica-Traduccedilatildeo (GT) Meacutetodo Direto (MD) Abordagem Audiolingual (AAL) Abordagem

Comunicativa (AC) e Abordagem Lexical (AL)

O meacutetodo Gramaacutetica-Traduccedilatildeo eacute um dos mais antigos e ainda o mais utilizado

apesar de ter recebido muitas criacuteticas pelo fato de atraveacutes desse meacutetodo o aluno aprender

mais a Liacutengua Materna-LM Esse meacutetodo consiste na memorizaccedilatildeo das palavras em LE pelo

aluno e depois na construccedilatildeo de frases a partir das regras gramaticais

O Meacutetodo Direto foi considerado um meacutetodo desgastante ateacute mesmo para os

profissionais da aacuterea pois consiste na exclusatildeo da LM em sala e no uso exclusivo da LE

Houve assim uma mistura entre a GT e o MD

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O Abordagem Audiolingual tambeacutem considerado um meacutetodo desgastante nasceu na

Segunda Guerra Mundial com a necessidade de os soldados e outras pessoas aprenderem

outra liacutengua rapidamente As aulas duravam em meacutedia seis a nove meses com sessotildees de

sete a nove horas diaacuterias e os professores natildeo paravam de explicar a estrutura da liacutengua

O Abordagem Comunicativa considerado atualmente o meacutetodo mais eficiente eacute

ensinado ao aluno para se comunicar em situaccedilotildees reais poreacutem com ausecircncia de objetivo no

ensino da liacutengua visando reunir pessoas com interesses comuns

O Abordagem Lexical um dos meacutetodos mais recentes no Brasil foi desenvolvido por

Michael Lewis que se utiliza dos meacutetodos computacionais para o ensino da LE na

aprendizagem Os exerciacutecios satildeo o preenchimento de lacunas e a combinaccedilatildeo de palavras

explicando assim a necessidade de computadores para o armazenamento de dados

atualmente existem softwares destinados ao AL

Natildeo haacute metodologia tida como perfeita para o ensino cabendo aos professores

analisar cada meacutetodo a ser utilizado ou seja o professor deve sempre estar aprimorando

suas aulas para que natildeo as torne maccedilantes e monoacutetonas O professor deve ser um mediador

entre o que seraacute ensinado e o aluno mas o que seraacute ensinado deveraacute sempre levar em conta

a realidade em que o aluno estaacute inserido pois o ambiente exerce papel fundamental na

formaccedilatildeo do aluno atento tambeacutem para a questatildeo de que cada indiviacuteduo aprende de uma

forma Poreacutem haacute diferenccedila de meacutetodos pois haacute liacutenguas para aprender e haacute liacutenguas para

viver A primeira eacute baseada somente em atividades escolares e a segunda em um

aprendizado no dia a dia

Com base em estudos de vaacuterios pesquisadores como Schutz Brown e Piaget por

questotildees bioloacutegicas e psicoloacutegicas quanto mais cedo uma crianccedila tiver contato com a LI-

Liacutengua Inglesa melhor seraacute a assimilaccedilatildeo da liacutengua Piaget desenvolveu a teoria do

desenvolvimento cognitivo infantil o POC- Periacuteodo Operatoacuterio Concreto atraveacutes da qual as

crianccedilas de 7 a 11 anos tomam as palavras como instrumento do processo do pensamento

Essa teoria sobre a linguagem e desenvolvimento cognitivo mostra a capacidade intelectual

da crianccedila em aprender um LE em especial o inglecircs

O ensino da LI no ensino fundamental significa construir um novo caminho para que

as crianccedilas sejam capazes de obter conhecimentos da sociedade e do mundo em que vivem

Esse caminho pode levar a crianccedila agrave construccedilatildeo de um cidadatildeo transformador e de uma nova

mentalidade

Podemos concluir dizendo que por motivos psicoloacutegicos bioloacutegicos e por forccedila da

globalizaccedilatildeo eacute de suma importacircncia o ensino da LE principalmente a LI nas escolas de

ensino fundamental Os cidadatildeos de amanhatilde precisam estar preparados para a globalizaccedilatildeo

para o mercado de trabalho pois a LI eacute a mais usada recentemente nas universidades

internacionais e seu uso eacute quase universal em paiacuteses como Holanda Sueacutecia e Finlacircndia

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Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

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A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

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Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

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No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

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VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

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b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

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que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

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INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

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A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

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A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 3: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

3

SUMAacuteRIO

O ensino de liacutenguas estrangeiras nas escolas de ensino fundamental 05 Deacutebhora Belusse A educaccedilatildeo do surdo e a liacutengua brasileira de sinais 08 Deacutebora Escudeiro Ponchio Um estudo sobre a gramaacutetica 12 Fernanda do Espiacuterito Santo

Intertextualidade 15 Gisele Caacutessia Simoncele A importacircncia da escrita e da intertextualidade 18 Janayna da Silva Neves Progressatildeo textual procedimentos linguiacutesticos 21 Jeferson Dione

Um estudo sobre os adveacuterbios modalizadores 22 Jeacutessica Nataacutelia Oliveira Um estudo sobre gecircneros textuais 25 Juliana Carvalho da Silva

A coesatildeo textual 27 Maria Justina de Arruda e Silva As variaccedilotildees linguiacutesticas e o ensino da liacutengua materna 29 Kamylla Martos A importacircncia do dicionaacuterio 32 Marllus Everton Trindade Mejia

Metaacutefora de Aristoacuteteles a Halliday 34 Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

Figuras de linguagem metaacutefora e metoniacutemia 40 Sheila S A de SantrsquoAna Silva Um estudo sobre figuras de linguagem 39 Silmara de Faacutetima

4

Preconceito linguiacutestico 42 Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

A coerecircncia na linguiacutestica textual 46 Vaney Lucia Faria Leite Um estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens 49 Wellington Oliveira de Souza

5

O ENSINO DE LIacuteNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

Deacutebhora Belusse (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

No iniacutecio da colonizaccedilatildeo os portugueses com propoacutesitos de dominar e expandir o

Brasil preocupou-se em ensinar uma Liacutengua Estrangeira o latim como liacutengua culta Poreacutem

apoacutes a expulsatildeo dos jesuiacutetas pelo Marquecircs de Pombal o grego e o latim eram disciplinas

dominantes Entretanto em 1808 com a chegada da reforma de 1855 as escolas

secundaacuterias comeccedilaram a evoluir com o ensino de liacutenguas modernas

Em 1920 com a chegada dos imigrantes europeus ao Brasil formavam-se colocircnias

que visavam preservar suas tradiccedilotildees culturais e consequentemente sua liacutengua materna O

governo Getuacutelio Vargas com a intenccedilatildeo de consolidar as ideias nacionalistas em todo o paiacutes

com o objetivo de impedir a desnacionalizaccedilatildeo da escola e da infacircncia proibiu o ensino da

Liacutengua Estrangeira (doravante LE) para crianccedilas menores de 10 anos

Na reforma de Francisco Campos em 1931 se deu mais ecircnfase ao ensino de liacutenguas

modernas havendo maior preocupaccedilatildeo com a metodologia e a utilizaccedilatildeo do meacutetodo direto

Um grande destaque dessa eacutepoca foi o professor Cameiro Leatildeo que introduziu o meacutetodo

direto no Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro

Em 1942 na reforma de Capanema deu-se ecircnfase aos estudos de LE como tambeacutem

ao estudo da cultura e de objetivo educativos Essa reforma foi considerada os anos

dourados da LE no Brasil pois os alunos estudavam latim francecircs inglecircs e espanhol e

quando se formavam estavam aptos a ler escritos em uma das liacutenguas ensinadas

Atualmente a liacutengua mais utilizadaensinada nas escolas puacuteblicas e particulares eacute a

inglesa e entre os meacutetodos de ensino mais empregados ao longo dos anos destacam-se

Gramaacutetica-Traduccedilatildeo (GT) Meacutetodo Direto (MD) Abordagem Audiolingual (AAL) Abordagem

Comunicativa (AC) e Abordagem Lexical (AL)

O meacutetodo Gramaacutetica-Traduccedilatildeo eacute um dos mais antigos e ainda o mais utilizado

apesar de ter recebido muitas criacuteticas pelo fato de atraveacutes desse meacutetodo o aluno aprender

mais a Liacutengua Materna-LM Esse meacutetodo consiste na memorizaccedilatildeo das palavras em LE pelo

aluno e depois na construccedilatildeo de frases a partir das regras gramaticais

O Meacutetodo Direto foi considerado um meacutetodo desgastante ateacute mesmo para os

profissionais da aacuterea pois consiste na exclusatildeo da LM em sala e no uso exclusivo da LE

Houve assim uma mistura entre a GT e o MD

6

O Abordagem Audiolingual tambeacutem considerado um meacutetodo desgastante nasceu na

Segunda Guerra Mundial com a necessidade de os soldados e outras pessoas aprenderem

outra liacutengua rapidamente As aulas duravam em meacutedia seis a nove meses com sessotildees de

sete a nove horas diaacuterias e os professores natildeo paravam de explicar a estrutura da liacutengua

O Abordagem Comunicativa considerado atualmente o meacutetodo mais eficiente eacute

ensinado ao aluno para se comunicar em situaccedilotildees reais poreacutem com ausecircncia de objetivo no

ensino da liacutengua visando reunir pessoas com interesses comuns

O Abordagem Lexical um dos meacutetodos mais recentes no Brasil foi desenvolvido por

Michael Lewis que se utiliza dos meacutetodos computacionais para o ensino da LE na

aprendizagem Os exerciacutecios satildeo o preenchimento de lacunas e a combinaccedilatildeo de palavras

explicando assim a necessidade de computadores para o armazenamento de dados

atualmente existem softwares destinados ao AL

Natildeo haacute metodologia tida como perfeita para o ensino cabendo aos professores

analisar cada meacutetodo a ser utilizado ou seja o professor deve sempre estar aprimorando

suas aulas para que natildeo as torne maccedilantes e monoacutetonas O professor deve ser um mediador

entre o que seraacute ensinado e o aluno mas o que seraacute ensinado deveraacute sempre levar em conta

a realidade em que o aluno estaacute inserido pois o ambiente exerce papel fundamental na

formaccedilatildeo do aluno atento tambeacutem para a questatildeo de que cada indiviacuteduo aprende de uma

forma Poreacutem haacute diferenccedila de meacutetodos pois haacute liacutenguas para aprender e haacute liacutenguas para

viver A primeira eacute baseada somente em atividades escolares e a segunda em um

aprendizado no dia a dia

Com base em estudos de vaacuterios pesquisadores como Schutz Brown e Piaget por

questotildees bioloacutegicas e psicoloacutegicas quanto mais cedo uma crianccedila tiver contato com a LI-

Liacutengua Inglesa melhor seraacute a assimilaccedilatildeo da liacutengua Piaget desenvolveu a teoria do

desenvolvimento cognitivo infantil o POC- Periacuteodo Operatoacuterio Concreto atraveacutes da qual as

crianccedilas de 7 a 11 anos tomam as palavras como instrumento do processo do pensamento

Essa teoria sobre a linguagem e desenvolvimento cognitivo mostra a capacidade intelectual

da crianccedila em aprender um LE em especial o inglecircs

O ensino da LI no ensino fundamental significa construir um novo caminho para que

as crianccedilas sejam capazes de obter conhecimentos da sociedade e do mundo em que vivem

Esse caminho pode levar a crianccedila agrave construccedilatildeo de um cidadatildeo transformador e de uma nova

mentalidade

Podemos concluir dizendo que por motivos psicoloacutegicos bioloacutegicos e por forccedila da

globalizaccedilatildeo eacute de suma importacircncia o ensino da LE principalmente a LI nas escolas de

ensino fundamental Os cidadatildeos de amanhatilde precisam estar preparados para a globalizaccedilatildeo

para o mercado de trabalho pois a LI eacute a mais usada recentemente nas universidades

internacionais e seu uso eacute quase universal em paiacuteses como Holanda Sueacutecia e Finlacircndia

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Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

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A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

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Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

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No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

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VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

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b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

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que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

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INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

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A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

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A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

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referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

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Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

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PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 4: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

4

Preconceito linguiacutestico 42 Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

A coerecircncia na linguiacutestica textual 46 Vaney Lucia Faria Leite Um estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens 49 Wellington Oliveira de Souza

5

O ENSINO DE LIacuteNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

Deacutebhora Belusse (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

No iniacutecio da colonizaccedilatildeo os portugueses com propoacutesitos de dominar e expandir o

Brasil preocupou-se em ensinar uma Liacutengua Estrangeira o latim como liacutengua culta Poreacutem

apoacutes a expulsatildeo dos jesuiacutetas pelo Marquecircs de Pombal o grego e o latim eram disciplinas

dominantes Entretanto em 1808 com a chegada da reforma de 1855 as escolas

secundaacuterias comeccedilaram a evoluir com o ensino de liacutenguas modernas

Em 1920 com a chegada dos imigrantes europeus ao Brasil formavam-se colocircnias

que visavam preservar suas tradiccedilotildees culturais e consequentemente sua liacutengua materna O

governo Getuacutelio Vargas com a intenccedilatildeo de consolidar as ideias nacionalistas em todo o paiacutes

com o objetivo de impedir a desnacionalizaccedilatildeo da escola e da infacircncia proibiu o ensino da

Liacutengua Estrangeira (doravante LE) para crianccedilas menores de 10 anos

Na reforma de Francisco Campos em 1931 se deu mais ecircnfase ao ensino de liacutenguas

modernas havendo maior preocupaccedilatildeo com a metodologia e a utilizaccedilatildeo do meacutetodo direto

Um grande destaque dessa eacutepoca foi o professor Cameiro Leatildeo que introduziu o meacutetodo

direto no Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro

Em 1942 na reforma de Capanema deu-se ecircnfase aos estudos de LE como tambeacutem

ao estudo da cultura e de objetivo educativos Essa reforma foi considerada os anos

dourados da LE no Brasil pois os alunos estudavam latim francecircs inglecircs e espanhol e

quando se formavam estavam aptos a ler escritos em uma das liacutenguas ensinadas

Atualmente a liacutengua mais utilizadaensinada nas escolas puacuteblicas e particulares eacute a

inglesa e entre os meacutetodos de ensino mais empregados ao longo dos anos destacam-se

Gramaacutetica-Traduccedilatildeo (GT) Meacutetodo Direto (MD) Abordagem Audiolingual (AAL) Abordagem

Comunicativa (AC) e Abordagem Lexical (AL)

O meacutetodo Gramaacutetica-Traduccedilatildeo eacute um dos mais antigos e ainda o mais utilizado

apesar de ter recebido muitas criacuteticas pelo fato de atraveacutes desse meacutetodo o aluno aprender

mais a Liacutengua Materna-LM Esse meacutetodo consiste na memorizaccedilatildeo das palavras em LE pelo

aluno e depois na construccedilatildeo de frases a partir das regras gramaticais

O Meacutetodo Direto foi considerado um meacutetodo desgastante ateacute mesmo para os

profissionais da aacuterea pois consiste na exclusatildeo da LM em sala e no uso exclusivo da LE

Houve assim uma mistura entre a GT e o MD

6

O Abordagem Audiolingual tambeacutem considerado um meacutetodo desgastante nasceu na

Segunda Guerra Mundial com a necessidade de os soldados e outras pessoas aprenderem

outra liacutengua rapidamente As aulas duravam em meacutedia seis a nove meses com sessotildees de

sete a nove horas diaacuterias e os professores natildeo paravam de explicar a estrutura da liacutengua

O Abordagem Comunicativa considerado atualmente o meacutetodo mais eficiente eacute

ensinado ao aluno para se comunicar em situaccedilotildees reais poreacutem com ausecircncia de objetivo no

ensino da liacutengua visando reunir pessoas com interesses comuns

O Abordagem Lexical um dos meacutetodos mais recentes no Brasil foi desenvolvido por

Michael Lewis que se utiliza dos meacutetodos computacionais para o ensino da LE na

aprendizagem Os exerciacutecios satildeo o preenchimento de lacunas e a combinaccedilatildeo de palavras

explicando assim a necessidade de computadores para o armazenamento de dados

atualmente existem softwares destinados ao AL

Natildeo haacute metodologia tida como perfeita para o ensino cabendo aos professores

analisar cada meacutetodo a ser utilizado ou seja o professor deve sempre estar aprimorando

suas aulas para que natildeo as torne maccedilantes e monoacutetonas O professor deve ser um mediador

entre o que seraacute ensinado e o aluno mas o que seraacute ensinado deveraacute sempre levar em conta

a realidade em que o aluno estaacute inserido pois o ambiente exerce papel fundamental na

formaccedilatildeo do aluno atento tambeacutem para a questatildeo de que cada indiviacuteduo aprende de uma

forma Poreacutem haacute diferenccedila de meacutetodos pois haacute liacutenguas para aprender e haacute liacutenguas para

viver A primeira eacute baseada somente em atividades escolares e a segunda em um

aprendizado no dia a dia

Com base em estudos de vaacuterios pesquisadores como Schutz Brown e Piaget por

questotildees bioloacutegicas e psicoloacutegicas quanto mais cedo uma crianccedila tiver contato com a LI-

Liacutengua Inglesa melhor seraacute a assimilaccedilatildeo da liacutengua Piaget desenvolveu a teoria do

desenvolvimento cognitivo infantil o POC- Periacuteodo Operatoacuterio Concreto atraveacutes da qual as

crianccedilas de 7 a 11 anos tomam as palavras como instrumento do processo do pensamento

Essa teoria sobre a linguagem e desenvolvimento cognitivo mostra a capacidade intelectual

da crianccedila em aprender um LE em especial o inglecircs

O ensino da LI no ensino fundamental significa construir um novo caminho para que

as crianccedilas sejam capazes de obter conhecimentos da sociedade e do mundo em que vivem

Esse caminho pode levar a crianccedila agrave construccedilatildeo de um cidadatildeo transformador e de uma nova

mentalidade

Podemos concluir dizendo que por motivos psicoloacutegicos bioloacutegicos e por forccedila da

globalizaccedilatildeo eacute de suma importacircncia o ensino da LE principalmente a LI nas escolas de

ensino fundamental Os cidadatildeos de amanhatilde precisam estar preparados para a globalizaccedilatildeo

para o mercado de trabalho pois a LI eacute a mais usada recentemente nas universidades

internacionais e seu uso eacute quase universal em paiacuteses como Holanda Sueacutecia e Finlacircndia

7

Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

8

A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

9

Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

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b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

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que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

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A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

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PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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Page 5: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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O ENSINO DE LIacuteNGUAS ESTRANGEIRAS NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

Deacutebhora Belusse (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

No iniacutecio da colonizaccedilatildeo os portugueses com propoacutesitos de dominar e expandir o

Brasil preocupou-se em ensinar uma Liacutengua Estrangeira o latim como liacutengua culta Poreacutem

apoacutes a expulsatildeo dos jesuiacutetas pelo Marquecircs de Pombal o grego e o latim eram disciplinas

dominantes Entretanto em 1808 com a chegada da reforma de 1855 as escolas

secundaacuterias comeccedilaram a evoluir com o ensino de liacutenguas modernas

Em 1920 com a chegada dos imigrantes europeus ao Brasil formavam-se colocircnias

que visavam preservar suas tradiccedilotildees culturais e consequentemente sua liacutengua materna O

governo Getuacutelio Vargas com a intenccedilatildeo de consolidar as ideias nacionalistas em todo o paiacutes

com o objetivo de impedir a desnacionalizaccedilatildeo da escola e da infacircncia proibiu o ensino da

Liacutengua Estrangeira (doravante LE) para crianccedilas menores de 10 anos

Na reforma de Francisco Campos em 1931 se deu mais ecircnfase ao ensino de liacutenguas

modernas havendo maior preocupaccedilatildeo com a metodologia e a utilizaccedilatildeo do meacutetodo direto

Um grande destaque dessa eacutepoca foi o professor Cameiro Leatildeo que introduziu o meacutetodo

direto no Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro

Em 1942 na reforma de Capanema deu-se ecircnfase aos estudos de LE como tambeacutem

ao estudo da cultura e de objetivo educativos Essa reforma foi considerada os anos

dourados da LE no Brasil pois os alunos estudavam latim francecircs inglecircs e espanhol e

quando se formavam estavam aptos a ler escritos em uma das liacutenguas ensinadas

Atualmente a liacutengua mais utilizadaensinada nas escolas puacuteblicas e particulares eacute a

inglesa e entre os meacutetodos de ensino mais empregados ao longo dos anos destacam-se

Gramaacutetica-Traduccedilatildeo (GT) Meacutetodo Direto (MD) Abordagem Audiolingual (AAL) Abordagem

Comunicativa (AC) e Abordagem Lexical (AL)

O meacutetodo Gramaacutetica-Traduccedilatildeo eacute um dos mais antigos e ainda o mais utilizado

apesar de ter recebido muitas criacuteticas pelo fato de atraveacutes desse meacutetodo o aluno aprender

mais a Liacutengua Materna-LM Esse meacutetodo consiste na memorizaccedilatildeo das palavras em LE pelo

aluno e depois na construccedilatildeo de frases a partir das regras gramaticais

O Meacutetodo Direto foi considerado um meacutetodo desgastante ateacute mesmo para os

profissionais da aacuterea pois consiste na exclusatildeo da LM em sala e no uso exclusivo da LE

Houve assim uma mistura entre a GT e o MD

6

O Abordagem Audiolingual tambeacutem considerado um meacutetodo desgastante nasceu na

Segunda Guerra Mundial com a necessidade de os soldados e outras pessoas aprenderem

outra liacutengua rapidamente As aulas duravam em meacutedia seis a nove meses com sessotildees de

sete a nove horas diaacuterias e os professores natildeo paravam de explicar a estrutura da liacutengua

O Abordagem Comunicativa considerado atualmente o meacutetodo mais eficiente eacute

ensinado ao aluno para se comunicar em situaccedilotildees reais poreacutem com ausecircncia de objetivo no

ensino da liacutengua visando reunir pessoas com interesses comuns

O Abordagem Lexical um dos meacutetodos mais recentes no Brasil foi desenvolvido por

Michael Lewis que se utiliza dos meacutetodos computacionais para o ensino da LE na

aprendizagem Os exerciacutecios satildeo o preenchimento de lacunas e a combinaccedilatildeo de palavras

explicando assim a necessidade de computadores para o armazenamento de dados

atualmente existem softwares destinados ao AL

Natildeo haacute metodologia tida como perfeita para o ensino cabendo aos professores

analisar cada meacutetodo a ser utilizado ou seja o professor deve sempre estar aprimorando

suas aulas para que natildeo as torne maccedilantes e monoacutetonas O professor deve ser um mediador

entre o que seraacute ensinado e o aluno mas o que seraacute ensinado deveraacute sempre levar em conta

a realidade em que o aluno estaacute inserido pois o ambiente exerce papel fundamental na

formaccedilatildeo do aluno atento tambeacutem para a questatildeo de que cada indiviacuteduo aprende de uma

forma Poreacutem haacute diferenccedila de meacutetodos pois haacute liacutenguas para aprender e haacute liacutenguas para

viver A primeira eacute baseada somente em atividades escolares e a segunda em um

aprendizado no dia a dia

Com base em estudos de vaacuterios pesquisadores como Schutz Brown e Piaget por

questotildees bioloacutegicas e psicoloacutegicas quanto mais cedo uma crianccedila tiver contato com a LI-

Liacutengua Inglesa melhor seraacute a assimilaccedilatildeo da liacutengua Piaget desenvolveu a teoria do

desenvolvimento cognitivo infantil o POC- Periacuteodo Operatoacuterio Concreto atraveacutes da qual as

crianccedilas de 7 a 11 anos tomam as palavras como instrumento do processo do pensamento

Essa teoria sobre a linguagem e desenvolvimento cognitivo mostra a capacidade intelectual

da crianccedila em aprender um LE em especial o inglecircs

O ensino da LI no ensino fundamental significa construir um novo caminho para que

as crianccedilas sejam capazes de obter conhecimentos da sociedade e do mundo em que vivem

Esse caminho pode levar a crianccedila agrave construccedilatildeo de um cidadatildeo transformador e de uma nova

mentalidade

Podemos concluir dizendo que por motivos psicoloacutegicos bioloacutegicos e por forccedila da

globalizaccedilatildeo eacute de suma importacircncia o ensino da LE principalmente a LI nas escolas de

ensino fundamental Os cidadatildeos de amanhatilde precisam estar preparados para a globalizaccedilatildeo

para o mercado de trabalho pois a LI eacute a mais usada recentemente nas universidades

internacionais e seu uso eacute quase universal em paiacuteses como Holanda Sueacutecia e Finlacircndia

7

Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

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A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

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Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

26

categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

27

A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 6: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

6

O Abordagem Audiolingual tambeacutem considerado um meacutetodo desgastante nasceu na

Segunda Guerra Mundial com a necessidade de os soldados e outras pessoas aprenderem

outra liacutengua rapidamente As aulas duravam em meacutedia seis a nove meses com sessotildees de

sete a nove horas diaacuterias e os professores natildeo paravam de explicar a estrutura da liacutengua

O Abordagem Comunicativa considerado atualmente o meacutetodo mais eficiente eacute

ensinado ao aluno para se comunicar em situaccedilotildees reais poreacutem com ausecircncia de objetivo no

ensino da liacutengua visando reunir pessoas com interesses comuns

O Abordagem Lexical um dos meacutetodos mais recentes no Brasil foi desenvolvido por

Michael Lewis que se utiliza dos meacutetodos computacionais para o ensino da LE na

aprendizagem Os exerciacutecios satildeo o preenchimento de lacunas e a combinaccedilatildeo de palavras

explicando assim a necessidade de computadores para o armazenamento de dados

atualmente existem softwares destinados ao AL

Natildeo haacute metodologia tida como perfeita para o ensino cabendo aos professores

analisar cada meacutetodo a ser utilizado ou seja o professor deve sempre estar aprimorando

suas aulas para que natildeo as torne maccedilantes e monoacutetonas O professor deve ser um mediador

entre o que seraacute ensinado e o aluno mas o que seraacute ensinado deveraacute sempre levar em conta

a realidade em que o aluno estaacute inserido pois o ambiente exerce papel fundamental na

formaccedilatildeo do aluno atento tambeacutem para a questatildeo de que cada indiviacuteduo aprende de uma

forma Poreacutem haacute diferenccedila de meacutetodos pois haacute liacutenguas para aprender e haacute liacutenguas para

viver A primeira eacute baseada somente em atividades escolares e a segunda em um

aprendizado no dia a dia

Com base em estudos de vaacuterios pesquisadores como Schutz Brown e Piaget por

questotildees bioloacutegicas e psicoloacutegicas quanto mais cedo uma crianccedila tiver contato com a LI-

Liacutengua Inglesa melhor seraacute a assimilaccedilatildeo da liacutengua Piaget desenvolveu a teoria do

desenvolvimento cognitivo infantil o POC- Periacuteodo Operatoacuterio Concreto atraveacutes da qual as

crianccedilas de 7 a 11 anos tomam as palavras como instrumento do processo do pensamento

Essa teoria sobre a linguagem e desenvolvimento cognitivo mostra a capacidade intelectual

da crianccedila em aprender um LE em especial o inglecircs

O ensino da LI no ensino fundamental significa construir um novo caminho para que

as crianccedilas sejam capazes de obter conhecimentos da sociedade e do mundo em que vivem

Esse caminho pode levar a crianccedila agrave construccedilatildeo de um cidadatildeo transformador e de uma nova

mentalidade

Podemos concluir dizendo que por motivos psicoloacutegicos bioloacutegicos e por forccedila da

globalizaccedilatildeo eacute de suma importacircncia o ensino da LE principalmente a LI nas escolas de

ensino fundamental Os cidadatildeos de amanhatilde precisam estar preparados para a globalizaccedilatildeo

para o mercado de trabalho pois a LI eacute a mais usada recentemente nas universidades

internacionais e seu uso eacute quase universal em paiacuteses como Holanda Sueacutecia e Finlacircndia

7

Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

8

A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

9

Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 7: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

7

Bibliografia

ALMEIDA FILHO Joseacute Carlos Paes de Linguiacutestica aplicada ensino de liacutenguas e comunicaccedilatildeo Campinas SP Pontes Editores e Arte Liacutengua 2005 CHAGURI J P A Importacircncia da liacutengua inglesa nas seacuteries iniciais do ensino fundamental In O desafio das letras 2 ed Rolacircndia Anais Rolacircndia FACCAR 2005 WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009 JORDAtildeO Clarissa Menezes O ensino de liacutengua estrangeira do coacutedigo a discurso UFPR UNIVERSIDADE FEDERAL DE PARANAacute WWWGOOGLECOMBR Acesso em 3 de setembro de 2009

8

A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

9

Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

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b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

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que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

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A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

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PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

27

A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 8: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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A EDUCACcedilAtildeO DO SURDO E A LIacuteNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Deacutebora Escudeiro Ponchio

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A inclusatildeo do surdo no meio social e educacional e principalmente a utilizaccedilatildeo da

liacutengua gestual como ferramenta essencial para o ensino natildeo ocorreram de forma repentina

Apesar da grande carecircncia de professores no Brasil de Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras)

haacute uma pequena porcentagem jaacute preparada e outra que estaacute em processo de formaccedilatildeo Mas

para que houvesse a capacitaccedilatildeo de professores para o ensino do aluno Surdo vaacuterios

estudos foram feitos e meacutetodos testados O presente artigo tem como objetivo apresentar o

histoacuterico da educaccedilatildeo dos Surdos e consequentemente a institucionalizaccedilatildeo e a implantaccedilatildeo

da Liacutengua Brasileira de Sinais nos curriacuteculos dos cursos de licenciatura

Os primeiros registros que se tem sobre os Surdos dizem respeito agraves leis judaicas

eacutepoca em que se nutria pelos surdos um sentimento humanitaacuterio e de respeito no entanto os

Surdos tinham vida inativa e natildeo recebiam qualquer tipo de educaccedilatildeo Muito tempo depois

na Greacutecia e em Roma o sentimento de respeito desaparece Os Surdos eram tidos como

incapacitados se pensava que natildeo tinham linguagem e consequentemente pensamento por

isso eram rejeitados escravizados ou em casos mais extremos assassinados

Eacute na Idade Moderna com os estudos do meacutedico e filoacutesofo Girolamo Cardano (in

VELOSO 2009 p 23) que a impossibilidade de aprendizagem do surdo passa a ser revista

Ele afirmava que ldquo[] a surdez e a mudez natildeo satildeo impedimento para desenvolver a

aprendizagem e que o meio melhor dos surdos aprenderem eacute atraveacutes da escrita eacute um crime

natildeo instruir um surdordquo O meacutetodo de ensino escrito de Cardano possibilita a abertura do

pensamento para outros meacutetodos e o consequente surgimento dos meacutetodos da liacutengua gestual

e oralizaccedilatildeo que posteriormente seratildeo grandes adversaacuterios

O primeiro alfabeto de dactilologia para fins da educaccedilatildeo dos alunos surdos eacute

constituiacutedo por Juan Pablo Bonet em 1620 Bonet utilizava o alfabeto manual a fim de

ensinar a fala a seus alunos e natildeo com o fim de desenvolver uma comunicaccedilatildeo gestual entre

os mesmos por isso seu meacutetodo eacute chamado de oralizaccedilatildeo Duas deacutecadas depois John

Bulwer meacutedico britacircnico ao observar a comunicaccedilatildeo gestual entre dois surdos entendeu

que a liacutengua gestual era essencial para a educaccedilatildeo dos surdos Comeccedila a rivalidade De um

lado os oralistas insistentes no desenvolvimento da fala dos Surdos de outro os adeptos da

liacutengua gestual que buscavam a comunicaccedilatildeo dos Surdos por meio de sinais

Em 1755 Samuel Heinicke alematildeo desenvolve o meacutetodo oralista puro em que os

surdos deveriam desenvolver a fala por meio da audiccedilatildeo e se comunicar apenas com a fala

9

Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

35

Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 9: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

9

Quatro anos depois na Franccedila num movimento totalmente contraacuterio ao de Heinicke o Abade

LrsquoEpeacutee ao observar duas irmatildes gecircmeas surdas que se comunicavam atraveacutes de gestos

iniciou e manteve contato com a comunidade surda que natildeo tinha acesso agrave educaccedilatildeo

Combinando a liacutengua de sinais e a gramaacutetica francesa desenvolveu o primeiro dicionaacuterio de

sinais intitulado ldquoSinais Metoacutedicosrdquo LrsquoEpeacutee defendia que a liacutengua de sinais constitui a

linguagem natural dos Surdos e que eacute um verdadeiro meio de comunicaccedilatildeo e de

desenvolvimento de pensamento LrsquoEpeacutee teve muitos seguidores mas a utilizaccedilatildeo inicial da

liacutengua gestual foi distorcida natildeo se ensinava mais a liacutengua de sinais para o desenvolvimento

de uma liacutengua proacutepria do Surdo mas se utilizava da liacutengua de sinais como meio de ensino da

fala e da leitura orofacial

Percorrendo a Idade Meacutedia e Moderna percebe-se que os meacutetodos de ensino para os

Surdos se baseavam apenas na observaccedilatildeo dos deficientes auditivos mas com a vinda do

Iluminismo na Idade Contemporacircnea a era das razotildees os meacutetodos precisavam de uma

sustentaccedilatildeo cientiacutefica para garantir sua confiabilidade Foi assim que Jean Marc Gaspard

Itard meacutedico cirurgiatildeo e psiquiatra alienista francecircs iniciou estudos mais profundos sobre a

surdez Ele concebia a surdez como uma doenccedila e natildeo mais uma diferenccedila como se pensava

anteriormente e portanto passiacutevel de tratamento para sua erradicaccedilatildeo e supressatildeo do ldquomalrdquo

A necessidade da razatildeo (prova cientiacutefica) o levou a ir aleacutem da razatildeo e muitos de seus

experimentos acabaram por prejudicar a vida de seus alunos um caso mais extremo ocorreu

apoacutes furar a membrana timpacircnica de seus alunos levando um deles agrave morte Para Itard a

uacutenica esperanccedila para ldquosalvarrdquo o surdo seria atraveacutes do desenvolvimento da fala que o

transformaria e isto soacute poderia ser feito atraveacutes da restauraccedilatildeo da audiccedilatildeo e por meio de

treinamentos articulatoacuterios Apesar da gama de experimentaccedilotildees as hipoacuteteses de Itard natildeo

se confirmaram Segundo Veloso (2009 p 30) ldquoapoacutes 16 anos de tentativas e experiecircncias

frustradas de oralizaccedilatildeo e remediaccedilatildeo da surdez sem conseguir atingir os objetivos

desejados se rendeu ao fato de que o Surdo soacute pode ser realmente educado atraveacutes da

liacutengua de sinaisrdquo

As conclusotildees de Itard fortificaram ainda mais o sistema de ensino por meio da liacutengua

de sinais mas o oralismo natildeo havia sido silenciado Alexander Grahn Bell defensor do

oralismo julgava a liacutengua de sinais como imprecisa e inferior agrave fala dizia que a liacutengua de

sinais natildeo propiciava o desenvolvimento intelectual dos Surdos De acordo com esse tipo de

pensamento em 1880 no 2ordm Congresso de Milatildeo o meacutetodo oral eacute introduzido como uacutenica

abordagem permitida para o ensino dos Surdos sendo a linguagem de sinais em todas as

suas formas proibida e estigmatizada O domiacutenio da liacutengua oral pelo Surdo passou a ser uma

condiccedilatildeo para a aceitaccedilatildeo dentro de uma comunidade majoritaacuteria

Durante quase 100 anos durou o chamado ldquoimpeacuterio oralistardquo mas em 1971 no

Congresso Mundial dos Surdos em Paris a Liacutengua de Sinais passou a ser novamente

valorizada E posteriormente a introduccedilatildeo do enfoque biliacutengue na educaccedilatildeo do surdo

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 10: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

10

No Brasil o sistema de educaccedilatildeo para Surdos eacute iniciado em 1855 com a vinda do

professor Surdo Eduard Huet Seu programa de ensino francecircs consistia em utilizar o alfabeto

manual e a Liacutengua de Sinais da Franccedila Com a aprovaccedilatildeo do imperador Dom Pedro II em 26

de setembro de 1857 foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para Surdos do Brasil

o Instituto Nacional de Educaccedilatildeo dos Surdos (INES) O primeiro dicionaacuterio de liacutengua de sinais

do Brasil foi criado por um ex-aluno do INES intitulado Iconografia dos Sinais dos Surdos e

deu abertura para posteriores modificaccedilotildees

A Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 reconhece a Liacutengua Brasileira de Sinais como

meio legal de comunicaccedilatildeo e expressatildeo Em 22 de dezembro de 2005 com o decreto 5626

a Libras passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatoacuteria nos cursos de formaccedilatildeo de

professores para o exerciacutecio do magisteacuterio em niacutevel meacutedio e superior e nos cursos de

Fonoaudiologia de instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas e privadas do sistema federal de ensino e

dos sistemas de ensino dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios Em 2006 eacute iniciado

o primeiro curso de licenciatura em LetrasLibras da UFSC em Florianoacutepolis-SC viabilizando

a formaccedilatildeo de professores capacitados para o ensino de alunos Surdos

De acordo com o decreto 5626 toda Instituiccedilatildeo de Ensino Superior deve incluir a

Libras no curriacuteculo dos cursos de Licenciatura assim sendo a Universidade do Estado de

Mato Grosso (UNEMAT) tambeacutem cumpre esse dispositivo Verificou-se que na UNEMAT os

cursos de Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia jaacute introduziram a Libras como disciplina

nas matrizes curriculares com carga horaacuteria de 60 horas Com isso fica no ar a questatildeo os

Surdos jaacute tecircm garantido o seu espaccedilo e tecircm sido beneficiados pelas leis inclusivas mas para

um professor estar capacitado para ensinaacute-los 60 horas na graduaccedilatildeo bastam A lei deve

ser cumprida natildeo soacute para ser cumprida mas para ser posta em praacutetica de maneira eficiente

Esse foi um trabalho desenvolvido numa aacuterea pela qual tenho grande interesse A

pesquisa contribuiu muito para que curiosidades fossem sanadas mas principalmente para

que eu compreendesse toda uma luta do surdo iniciada antes de Cristo pela sua constituiccedilatildeo

no espaccedilo em que vive Por muito tempo a educaccedilatildeo dos Surdos foi direcionada por ouvintes

mas soacute quando o proacuteprio surdo se constituiu em seu espaccedilo e apresentou agrave sociedade aquilo

que lhe pertencia a sua inclusatildeo no sistema educacional pode ser eficaz

Bibliografia LIBRAS Portal Legislaccedilatildeo libras Disponiacutevel em lthttpwwwlibrasorgbrleilibrasphpgt Acesso em 23 de agosto de 2009 SOARES Maria Aparecida Leite A educaccedilatildeo do surdo no Brasil Campinas SP Autores Associados 1999

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 11: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

11

VELOSO Eacuteden FILHO Valdeci Maia Aprenda libras com eficiecircncia e rapidez Curitiba Autores Paranaenses 2009 VILHALVA Shirley Origem do dia do surdo Disponiacutevel em lthttpwwwsurdofozcombrhomepage=dia_do_surdogt Acesso em 19 de outubro de 2009

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

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referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

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Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

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PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 12: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

12

UM ESTUDO SOBRE A GRAMAacuteTICA

Fernanda do Espiacuterito Santo (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A partir de leituras e reflexotildees pude constatar que a gramaacutetica como a entendemos

hoje nasceu por volta de 200 aCo que natildeo quer dizer que antes disso natildeo se discutissem

problemas linguiacutesticos

Tanto Platatildeo quanto Aristoacuteteles discutiam questatildeo de linguagem mas o ponto de

vista era extremamente filosoacutefico O que levou os gregos ao estudo da gramaacutetica foi

inicialmente a necessidade de preservar entender e comentar o texto dos poemas de

Homero (a lliacuteada e a Odisseacuteia) E foi na cidade de Alexandria no Egito que surgiram os

primeiros estudos gramaticais Alexandria era uma cidade grega na liacutengua e na cultura

embora ficasse fora da Greacutecia Os alexandrinos e depois muitos estudiosos comeccedilaram a

estudar a liacutengua de Homero e natildeo conseguiram para por aiacute partindo para uma reflexatildeo

sobre a linguagem em geral criaram uma nova disciplina a grammatike (gramaacutetica)

Mas uma coisa precisa ser dita natildeo foram os gregos os primeiros do mundo a

pensarem em gramaacutetica no seacuteculo IV ou V aC havia uma tradiccedilatildeo gramatical notaacutevel na

Iacutendia tradiccedilatildeo codificada por volta de 400 aC por um gramaacutetico chamado Pacircnini Os

estudos gramaticais indianos iniciaram pelo mesmo motivo dos gregos a necessidade de

manter a forma original dos poemas sagrados

Fernatildeo de Oliveira e Joatildeo de Barros foram os primeiros gramaacuteticos portugueses O

primeiro publicou em Lisboa em 1536 a primeira gramaacutetica ou ldquoprimeira anotaccedilatildeo da liacutengua

portuguesardquo e o segundo editou em 1540 a gramaacutetica de liacutengua portuguesa ambos

inclinados agraves inovaccedilotildees adaptando a terminologia agraves realidades da liacutengua portuguesa

Haacute basicamente trecircs tipos de concepccedilotildees para a gramaacutetica a primeira eacute concebida

como um manual de regras Segundo Franchi (1991 p 48) para essa concepccedilatildeo que

normalmente eacute rotulada de gramaacutetica normativa a gramaacutetica eacute o conjunto sistemaacutetico de

normas do bem falar e escrever estabelecidas pelos especialistas com base no uso da

liacutengua consagrada pelos bons escritores e dizer que algueacutem sabe gramaacutetica lsquosabe gramaacuteticarsquo

significa dizer que esse algueacutem lsquoconhece essas normas e as domina tanto nacionalmente

quanto operacionalmentersquo (grifos do autor) Tudo que foge a essa padratildeo eacute ldquoerradordquo e o que

atende a esse padratildeo eacute ldquocertordquo Nessa gramaacutetica haacute vaacuterias formas de perceber e definir a

chamada norma culta e os argumentos satildeo sobretudo de natureza

a) Esteacutetica as formas e usos satildeo incluiacutedos ou excluiacutedos da norma culta por criteacuterios

tais como elegacircncia colorido beleza finura etc

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

29

AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

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DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 13: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

13

b) Elitista ou aristocraacutetica aqui o criteacuterio eacute a contraposiccedilatildeo do uso da liacutengua que eacute

feito pela classe de prestiacutegio ao uso das classes ditas populares

c) Poliacutetico nesse caso os criteacuterios satildeo basicamente o purismo e a vernaculidade ou

seja a necessidade de excluir da liacutengua tudo o que natildeo seja dela

d) Comunicacional o criteacuterio se refere ao efeito comunicacional a facilidade de

expressatildeo exige-se clareza precisatildeo e concisatildeo

e) Histoacuterica com frequecircncia o criteacuterio para excluir formas e usos da norma culta eacute a

tradiccedilatildeo Esse criteacuterio eacute bastante problemaacutetico na sua aplicaccedilatildeo pois pode levar agrave exigecircncia

absurda uma vez que natildeo haacute nada de objetivo Inclui-se tambeacutem nesse caso a concepccedilatildeo

naturalista de liacutengua que a considera um organismo vivo que nasce desenvolve e pode

entrar em decadecircncia

A segunda concepccedilatildeo que tem sido chamada de gramaacutetica descritiva faz na

verdade uma descriccedilatildeo da estrutura e funcionamento da liacutengua Satildeo representantes dessa

concepccedilatildeo as gramaacuteticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a

descriccedilatildeo da liacutengua oral e as gramaacuteticas que segundo a teoria gerativista-transformacional

trabalham com enunciados ideais Na verdade essas duas correntes baacutesicas da gramaacutetica

descritiva fazem o que se pode chamar de dicotomia langueparole proposta pelo linguista

Saussure

A terceira concepccedilatildeo eacute aquela que considera a liacutengua como um conjunto de

variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situaccedilatildeo de interaccedilatildeo

comunicativa Nessa concepccedilatildeo natildeo haacute erro linguiacutestico mas inadequaccedilatildeo da variedade

linguiacutestica utilizada em uma determinada situaccedilatildeo de interaccedilatildeo Normalmente essa gramaacutetica

eacute chamada de gramaacutetica internalizada

Existem 11 tipos de gramaacuteticas as quais muita gente desconhece Satildeo elas

a) Gramaacutetica normativa

b) Gramaacutetica descritiva

c) Gramaacutetica explicita ou teoacuterica

d) Gramaacutetica histoacuterica

e) Gramaacutetica internalizada ou competecircncia linguiacutestica internalizada do falante

f) Gramaacutetica impliacutecita

g) Gramaacutetica reflexiva

h) Gramaacutetica contrastiva ou transferencial

i) Gramaacutetica geral

j) Gramaacutetica universal

k) Gramaacutetica comparada

Durante esta pesquisa encontrei algumas dificuldades mas acredito que consegui

superaacute-las pois este trabalho foi de suma importacircncia para a minha caminhada acadecircmica

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que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

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A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

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referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 14: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

14

que estaacute apenas no comeccedilo Concluiacute que natildeo daacute para pensar em gramaacutetica sem pensar em

linguagem A gramaacutetica eacute uma ferramenta de estudo da liacutengua e o seu funcionamento ao

longo da histoacuteria foi de interesse de muitos estudiosos da linguagem Muitas gramaacuteticas

foram reformuladas criadas ou ateacute mesmo extintas pois da mesma forma que a linguagem

estaacute em constante transformaccedilatildeo as gramaacuteticas e os dicionaacuterios enquanto ferramentas de

estudo tambeacutem sofrem modificaccedilotildees O novo acordo ortograacutefico eacute um exemplo de que a

linguagem natildeo eacute definitiva

Bibliografia ORLANDI Eni Pulcinelli O que eacute linguiacutestica Satildeo Paulo Brasiliense 2007

PERINI Mario Alberto A liacutengua do Brasil amanha e outros misteacuterios 3 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2004 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica no 1deg e 2deg graus 8 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 httpwwwscipionecombrapdidaticosportugues_ensinomedioassunto2htm Acessado

em 02092009

httpwwwwebartigoscomarticles118091a-gramatizacao-uma-revolucao-

tecnologicapagina1html - Acessado em 20102009

httpwwwunicampbrielsitealunospublicacoestextosp00006htm Acessado em 201009

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

27

A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 15: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

15

INTERTEXTUALIDADE

Gisele Caacutessia Simoncele (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Esta pesquisa trata da intertextualidade e dos modos como ela pode ser usada como

artifiacutecio na produccedilatildeo textual

Na literatura relativa agrave linguiacutestica textual frequentemente a intertextualidade eacute

apontada como um dos fatores textuais agrave referecircncia seja ela impliacutecita ou expliacutecita a outros

textos Entre os variados tipos de referecircncia usados destacam-se as mais conhecidas como

proveacuterbios populares e frases biacuteblicas referecircncias geralmente usadas na produccedilatildeo de novos

textos constituindo assim a chamada intertextualidade

Essas referecircncias estatildeo automaticamente ligadas ao chamado ldquoconhecimento de

mundordquo ou seja o conhecimento preacutevio do leitor sobre os textos referenciados Nesse

sentido quanto mais se lecirc mais se aumenta a memoacuteria de referencial aumentando assim o

conhecimento de mundo por isso esse conhecimento deve ser algo em comum entre o

produtor e o receptor dos textos pois implica no reconhecimento das remissotildees que um texto

faz a outro para que se possa entender o seu sentido real

Vaacuterios livros de coerecircncia e coesatildeo textual exemplificam a intertextualidade com

textos ou trechos de textos Um exemplo claro disso eacute a Canccedilatildeo do Exiacutelio de Gonccedilalves

Dias que foi inumeramente parodiada e eacute citada em inuacutemeros livros como exemplo de

intertextualidade

Os teoacutericos costumam identificar os tipos de intertextualidade (KOCH amp TRAVAGLIA

1989 pp88-89) e classificam- nos em

ndash as que se ligam ao conteuacutedo (mateacuterias jornaliacutesticas anteriormente produzidas na

imprensa falada ou escrita textos literaacuterios ou natildeo que se referem a temas ou assuntos

contidos em outros textos) Podem ser expliacutecita (citaccedilotildees marcadas por aspas com ou sem

indicaccedilatildeo de fonte) ou impliacutecita (paraacutefrase ou paroacutedia) Por exemplo No trecho ldquo[] Na nossa

cozinha nada se perde tudo se transformardquo (Folha de Satildeo Paulo 2 jun 2006) baseia-se no

enunciado fonte ldquoNa natureza nada se cria nada se perde tudo se transformardquo de autoria de

Lavoisier

ndash as que se associam ao caraacuteter formal ligadas ou natildeo a outro tipo de texto (imitaccedilatildeo

de linguagem juriacutedica biacuteblica) Por exemplo ldquoDize-me o que ouves dir-te-ei quem eacutesrdquo

(slogan usado por um site de publicidade musical ) em que o produtor espera que os leitores

reconheccedilam a frase biacuteblica ldquo Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem eacutesrdquo Isso porque a

Biacuteblia eacute tomada como um livro de verdades ao se adaptar a sentenccedila a intenccedilatildeo da

propaganda eacute conquistar a confianccedila do leitor

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

26

categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

27

A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 16: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

16

A intertextualidade eacute um recurso geralmente usado para questionar despertar novos

sentidos ou ateacute mesmo inverter os sentidos jaacute existentes Vejamos agora o exemplo de uma

canccedilatildeo de Chico Buarque e os chamados proveacuterbios populares que o autor inverte

questionando-os e olhando-os sobre outro acircngulo atribuindo- lhes novos sentidos

Proveacuterbios Populares

ldquoUma boa noite de sono combate

os malesrdquo

ldquoQuem espera sempre alcanccedilardquo

ldquoDevagar se vai longerdquo

ldquoQuem semeia vento colhe

tempestaderdquo

ldquoFaccedila o que eu digo natildeo faccedila o

que eu faccedilordquo

ldquoPense antes de agirrdquo

Bom Conselho Ouccedila um bom conselho

Que eu lhe dou de graccedila

Inuacutetil dormir que a dor natildeo passa

Espere sentado

Ou vocecirc se cansa

Estaacute provado quem espera nunca

alcanccedila

Venha meu amigo

Deixe esse regaccedilo

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faccedila como eu digo

Faccedila como eu faccedilo

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atraacutes do tempo

Vim de natildeo sei onde

Devagar eacute que natildeo se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque 1972)

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

29

AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 17: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

Dessa forma podemos concluir que a intertextualidade natildeo eacute apenas uma questatildeo de

identificaccedilatildeo da fonte mas sim uma relaccedilatildeo de referecircncias de um texto empregada a outro e

que influencia tanto os produtores como os leitores dos textos produzidos

Bibliografia MARCUSHI Luiz Antonio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo 2 ed Satildeo Paulo Paraacutebola 2008 KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 TRAVAGLIA Luiz Carlos Texto e coerecircncia Satildeo Paulo Cortez 1989 httpeducacaouolcombrportuguesult1693u2jhtm Acesso em 061009

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 18: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

18

A IMPORTAcircNCIA DA ESCRITA E DA INTERTEXTUALIDADE

Janayna da Silva Neves

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

O meu objetivo neste trabalho eacute refletir sobre a escrita e a intertextualidade

mostrando a sua importacircncia para os estudos da linguagem

A escrita surgiu haacute cerca de 4000 aC atraveacutes de desenhos conhecidos como

ldquorupestresrdquo feitos pelo homem no interior das cavernas com o intuito de registrar as histoacuterias

da humanidade Mas com a necessidade de o homem se comunicar de lugares distantes a

escrita passou a se evoluir cada vez mais com o propoacutesito de tornar mais praacuteticos os meios

de comunicaccedilatildeo e tambeacutem porque a civilizaccedilatildeo foi tomando espaccedilo e a humanidade passou

a criar comunidades que necessitavam de um meio que garantisse a nomeaccedilatildeo de suas

terras e a contabilizaccedilatildeo dos produtos que agravequela eacutepoca se baseavam na agricultura

contudo os homens que habitavam as comunidades passaram a gravar em placas de barro

Da era preacute-histoacuterica agrave era moderna a escrita sofreu inuacutemeras modificaccedilotildees ateacute se

tornar a pronuacutencia do som e da fala A liacutengua deixou de ser representada por pictogramas

(ideias e objetos representados por desenho) e foi se adaptando dando origem agraves palavras

Atualmente podemos nos deparar com a escrita na era digital e o impressionante eacute a

evoluccedilatildeo da escrita chegar aos computadores com o homem sempre procurando dar

conforto agrave sociedade com a tecnologia e graccedilas a isso hoje podemos digitalizar as palavras

e variar de gecircneros na escrita

Aleacutem disso satildeo situaccedilotildees que de certa forma vivenciamos dia apoacutes dia porque a

todo tempo nos deparamos com diversas produccedilotildees de textos em anuacutencios slogans placas

etc

Diante de tantas variaccedilotildees de se construir um texto uns surgiram se referindo a

outros e para explicar esse processo criou-se um estudo para esses tipos de produccedilotildees

textuais Assim surgiu a intertextualidade que segundo Bakhtin (1969) em seus estudos na

deacutecada de 20 era um dialogismo porque afirmava que intertexto satildeo duas vozes coexistindo

em um mesmo texto ou seja os textos estatildeo sempre se comunicando uns com os outros

Tempos depois Julia Kristeva em 1969 deu continuidade aos estudos de Bakhtin

desenvolvendo teorias que deram origem agrave intertextualidade que para os modernistas foi

denominada de antropofagia caracterizada como uma ocorrecircncia intertextual ou dialoacutegica

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referecircncia a um ou a diversos textos

podendo ter sua origem reconhecida pelo leitor Essa referecircncia agraves obras pode ocorrer de

forma expliacutecita ou natildeo ou seja o produtor do texto pode ou natildeo citar a fonte de onde fez

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 19: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

19

referecircncia por isso o leitor deve sempre ler bastante para saber quando um texto se baseia

em outro

As caracteriacutesticas da escrita geralmente aparecem nos manuais como ter sempre

organizaccedilatildeo composiccedilatildeo e verbalizaccedilatildeo As principais caracteriacutesticas intertextuais satildeo os

modos de se apresentar e podem ocorrer de forma expliacutecita ou impliacutecita Um texto expliacutecito

ocorre quando o autor da produccedilatildeo do intertexto informa a fonte de sua citaccedilatildeo Como por

exemplo em um texto cientiacutefico em que um nome eacute citado ldquoSegundo o bioacutelogo Carlos

Almeida os estudos cientiacuteficos estatildeo cada vez mais complicadosrdquo Este exemplo trata-se de

uma citaccedilatildeo indireta (transcriccedilatildeo das ideias do autor consultado poreacutem usando as suas

palavras ou seja parafraseando) mas o intertexto tambeacutem pode ser apresentado com uma

citaccedilatildeo direta (uma parte do texto original apresentado entre aspas)

Jaacute na forma impliacutecita a indicaccedilatildeo da fonte eacute oculta isso porque o produtor confia na

ldquomemoacuteria socialrdquo do leitor acredita em seu conhecimento de mundo para que ele possa

reconhecer a que texto o produtor faz referecircncia

Existem outros meios de caracterizar a intertextualidade em um texto como recurso

tipograacutefico que sinaliza a presenccedila do texto origem atraveacutes de aspas anexos de notas

musicais para dar pista ao leitor de que o texto-fonte eacute uma muacutesica ou tambeacutem pode natildeo

sinalizar nada apenas fazer o intertexto diretamente A escrita deve sempre ser precisa e

clara

Eacute difiacutecil encontrar um meio de diferenciar a escrita de intertextualidade porque ambas

tratam de representar e conceituar ideias e a intertextualidade tambeacutem pode se apresentar

atraveacutes de pinturas e charges e natildeo soacute na escrita O que poderia dizer eacute que haacute mais

semelhanccedilas que diferenccedilas

O texto sempre se organiza em relaccedilatildeo ao outro texto pois sempre produziremos

textos referindo-se a outros conscientemente ou natildeo isso acontece porque cada leitor tem

um conhecimento de mundo muito particular ou um conhecimento preacutevio que vem da leitura

Por isso eacute fundamental tratar de intertextualidade sabendo que natildeo basta se referir e

identificar o texto-fonte em um intertexto mas tambeacutem e principalmente identificar o objetivo

do produtor que pode criticar ironizar humorizar ou simplesmente usar o gecircnero como

ldquoroupagemrdquo da produccedilatildeo A intertextualidade eacute sempre usada estrategicamente por isso eacute

necessaacuteria a atividade de ler pois um texto pode ou natildeo indicar a fonte

Este trabalho para mim foi muito significativo e natildeo haacute como estipular um valor

acredito que cresci tanto no curso de Letras como no meu cotidiano pois passei a observar

que na minha casa ou ateacute mesmo nas ruas por onde passo nas muacutesicas que ouccedilo nas

frases e ditados populares o quatildeo eacute grande o campo da intertextualidade Este eacute um assunto

interessante que poucos prestam atenccedilatildeo

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 20: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

20

Bibliografia KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila ELIASVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 httpescritaeescritorescomsapoptHistoria_e_origem_da_escritahtm Acesso em 270909

httpwwwseerufrgsbrindexphpEmQuestaoarticleviewFile6525 Acesso em 270909

httpcachoeiraulbratchebrletrasarquivosdownloads70doc Acesso em 270909

21

PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 21: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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PROGRESSAtildeO TEXTUAL PROCEDIMENTOS LINGUIacuteSTICOS

Jeferson Dione

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo vamos abordar a progressatildeo textual e o processo de seus elementos

linguiacutesticos considerados como fatores essenciais tanto para o sentido do texto quanto para

o seu desenvolvimento

Na perspectiva do sentido e da sequecircncia de texto a progressatildeo textual segundo

Koch (2003) se define por avanccedilar o texto dar continuidade ao tema proposto por meio de

retomadas para que o sentido se mantenha sobre o tema

A progressatildeo textual eacute apresentada pela Linguiacutestica Textual como resultado de um

conjunto de procedimentos linguiacutesticos por meio dos quais se estabelecem entre segmentos

do texto diversos tipos de relaccedilotildees semacircnticas eou pragmaacutetico-discursivas enfim

progressatildeo textual eacute a sequenciaccedilatildeo das ideias O texto segundo Koch (idem) enquanto estrutura de compreensatildeo como um todo

satildeo elementos interdependentes sendo cada um necessaacuterio para a compreensatildeo das

demais Para que ocorra a compreensatildeo textual faz-se necessaacuterio a intervenccedilatildeo de elos

cognitivos que possibilitem a progressatildeo do texto mantendo o sentido textual

Dentre os mecanismos de progressatildeo na Linguiacutestica Textual destaca-se a

progressatildeo temaacutetica pela articulaccedilatildeo tema-rema Objetiva-se com esse mecanismo ampliar

as perspectivas de abordagem textual de modo que se possa oferecer ajuda para o ensino de

produccedilatildeo de textos

Para Koch (2009) a conservaccedilatildeo do tema eacute importante para manter os enunciados

coerentes partindo de elementos dos mesmos conjuntos de palavras Assim a progressatildeo

temaacutetica articulada pelo tema rema decide-se por avanccedilar a escrita do texto por meio de

enunciados que trazem consigo um tema algo que seraacute dito e um rema tudo aquilo que se

diz a respeito do tema permitindo aos enunciados manter o prosseguimento dos projetos que

o contexto propotildee sobre determinado assunto

Bibliografia

KOCH Ingerora Grunfeld Vilhaccedila Desvendando os segredos do texto 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2003 KOCH Ingerora VilhaccedilaELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009 [PPT] Coerecircncia e Produccedilatildeo e Progressatildeo Textual Disponiacutevel em httpwwwgooglecombrsearchhl=ptRampsource=hpampq=progressC3A3o+textualampmeta=amprlz=1R2ADSA_pt-BRBR346ampaq=fampoq= Acesso em 02 de setembro de 2009

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UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

35

Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

36

transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 22: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

22

UM ESTUDO SOBRE OS ADVEacuteRBIOS MODALIZADORES

Jeacutessica Nataacutelia Oliveira (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho farei uma abordagem sobre os adveacuterbios modalizadores com o

objetivo de mostrar ao leitor a importacircncia e a contribuiccedilatildeo desses adveacuterbios para a

linguagem cotidiana do sujeito falante

Segundo Rosa (2006 p106) os adveacuterbios modalizadores da sentenccedila expressam a

atitude do falante em relaccedilatildeo agravequilo de que fala acrescentando tambeacutem que na formaccedilatildeo

de adveacuterbios de modo utiliza-se o sufixo -mente que as gramaacuteticas do portuguecircs em geral

consideram como um processo de afixaccedilatildeo sendo entatildeo o -mente um sufixo que se

adiciona a adjetivos para a formaccedilatildeo dos adveacuterbios (CUNHA e CINTRA 1985 SAID ALI

19211964)

Os adveacuterbios modalizadores surgiram recentemente apoacutes estudos mais amplos

desenvolvidos por Sidney Greenbaum em 1972 Nesse mesmo ano Jackendoff faz uma

abordagem sobre a semacircntica definindo os adveacuterbios de modo como aqueles que modificam

a significaccedilatildeo do verbo e funcionam como predicadores de um predicador

Ilari (1992) apresenta primeiramente os adveacuterbios modalizadores atraveacutes da ldquoteoria

da cebolardquo elaborada por Dascal (1986) mas introduz alteraccedilotildees em sua criaccedilatildeo pois Ilari

compreende que Dascal reconhece ao administrar a significaccedilatildeo que os emissores fixam

suas intenccedilotildees comunicativas em trecircs camadas diferentes a proposicional a modal e a

pragmaacutetica

Ilari (idem) classifica os adveacuterbios modalizadores como predicativos no eixo

semacircntico pois as duas operaccedilotildees que satildeo representadas por ele atraveacutes dos predicadores

falar de (selecionar um tema) e falar que (formular uma declaraccedilatildeo a partir do tema)

levam a camada proposicional de Dascal que considera a proposiccedilatildeo como um

conhecimento ou uma crenccedila diante das quais ele manifestaraacute as suas emoccedilotildees e

expectativas Sendo entatildeo os modalizadores adveacuterbios que expressam essa significaccedilatildeo

Uma investigaccedilatildeo mais especiacutefica desses adveacuterbios no corpus do Projeto de

Gramaacutetica do Portuguecircs Falado resultou em algumas alteraccedilotildees que atualmente satildeo

apresentadas da seguinte forma (1) os modalizadores epistecircmicos subdivididos em trecircs

classes os asseverativos os quase-asseverativos e o delimitadores (2) os modalizadores

decirconticos (3) os modalizadores afetivos subdivididos em dois tipos subjetivo e intersubjetivo

Os adveacuterbios modalizadores epistecircmicos satildeo aqueles que expressam uma avaliaccedilatildeo

sobre o valor de verdade e as condiccedilotildees de verdade da proposiccedilatildeo Os modalizadores

epistecircmicos asseverativos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera verdadeiro o

23

conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

26

categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

27

A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 23: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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conteuacutedo apresentado por ele podendo ser uma afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo que natildeo datildeo

margem a duacutevidas ou seja eles tecircm por alvo toda a sentenccedila atuando de forma

monovalentemente gerando assim um soacute efeito de sentido reconheciacutevel

Podemos identificar os asseverativos afirmativos atraveacutes das seguintes palavras

realmente seguramente incontestavelmente logicamente forccedilosamente fatalmente

obviamente naturalmente inegavelmente indiscutivelmente certamente efetivamente

indubitavelmente exato claro certo loacutegico pronto na realidade sem duacutevida mesmo E os

negativos como de jeito nenhum de forma alguma Estes adveacuterbios satildeo representados pelo

predicador eu sei [com certeza] que

Os quase-asseverativos satildeo adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo quase certo como uma hipoacutetese que depende de confirmaccedilatildeo ou seja o falante

dispotildee de recursos para cuidadosamente (re)elaborar a mensagem manipulando-a de acordo

com a intenccedilatildeo discursiva que lhe eacute imposta no momento deixando uma espeacutecie de duacutevida

ao qual poderaacute afirmar ou negar no decorrer da situaccedilatildeoOs adveacuterbios identificadores destes

modalizadores satildeo possivelmente provavelmente eventualmente e satildeo representados

pelos predicadoreseu achoeu suponho e eacute provaacutevel

Os delimitadores satildeo os adveacuterbios que estabelecemos limites dentro dos quais se

deve encarar o conteuacutedo portanto eles restringem o acircmbito de informaccedilatildeo veiculada pela

proposiccedilatildeo produzindo dois efeitos de sentido o que gera uma negociaccedilatildeo entre os

interlocutores necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo do diaacutelogo e o outro que implica no domiacutenio do

conhecimento que conveacutem agrave comunidade Eles podem ser identificados atraveacutes dos

seguintes adveacuterbios quase um tipo de uma espeacutecie em geral em princiacutepio

fundamentalmente basicamente praticamente do ponto de vista geograficamente

biologicamente historicamente profissionalmente pessoalmente e satildeo representados pelo

predicador complexo digamos que do ponto de vista x y

Os modalizadores decirconticos satildeo os adveacuterbios que indicam que o falante considera o

conteuacutedo como um estado de coisas que deve que precisa ocorrer obrigatoriamente Satildeo

usados quando o falante deseja atuar fortemente sobre o interlocutor lhe destinando uma

ordem Esses adveacuterbios podem ser representados pelo predicador tem que e podem ser

identificados por obrigatoriamente necessariamente

Os modalizadores afetivos satildeo os que verbalizam as reaccedilotildees emotivas do falante em

face do conteuacutedo proposicional O primeiro tipo de modalizador afetivo eacute o subjetivo que

busca expressar uma predicaccedilatildeo dupla a do falante em face e a da proacutepria proposiccedilatildeo como

felizmente infelizmente curiosamente surpreendentemente espantosamente E o segundo

tipo eacute o intersubjetivo que expressa uma predicaccedilatildeo simples assumida pelo falante em face

de seu interlocutor e pode ser identificado atraveacutes dos adveacuterbios sinceramente francamente

lamentavelmente e estranhamente

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Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

36

transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 24: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

24

Para melhor compreensatildeo desses conceitos farei a distinccedilatildeo de modalidade e

modalizaccedilatildeo que satildeo os dois modos de julgamento do falante A modalidade ocorre quando o

falante apresenta o conteuacutedo proporcional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa)

interrogativa (polar ou natildeo-polar) e jussiva (imperativa ou optativa) E a modalizaccedilatildeo quando

o falante manifesta seu relacionamento com o conteuacutedo proporcional avaliando seu teor de

verdade ou manifestando seu julgamento sobre a forma selecionada para a verbalizaccedilatildeo

desse conteuacutedo

Segundo Kovacci (1972) Vogt-Figueira (VOGT 1989 p 165-210)

a modalizaccedilatildeo movimenta diferentes recursos linguiacutesticos 1) a prosoacutedia como nos alongamentos vocaacutelicos e na mudanccedila de tessitura em trabalhei muito mas muito mesmo 2) os modos verbais 3) os verbos auxiliares como dever poder querer e os verbos que constituem oraccedilotildees parenteacuteticas e matrizes como achar crer acreditar 4) adjetivos soacutes ou em expressotildees como eacute possiacutevelacute eacute claro eacute desejaacutevel 5) adveacuterbios como possivelmente exatamente obviamente etc 6) sintagmas preposicionais em funccedilatildeo adverbial como lsquona verdade em realidade por certo etc

Apesar de existir diferenccedilas entre modalidade e modalizaccedilatildeo elas satildeo usadas

sinonimamente por haver sempre a avaliaccedilatildeo preacutevia do falante sobre o que ele fala

(conteuacutedo)

Desta forma podemos concluir que os adveacuterbios modalizadores estatildeo sempre presentes

em nosso vocabulaacuterio e muitas vezes os usamos de forma inconsciente para produzir sentido

nas sentenccedilas que produzimos de modo que o receptor consiga compreender a mensagem

emitida

Este trabalho contribuiu muito para meu aprendizado ampliando meu conhecimento

e aleacutem de ter sido prazerosa a sua realizaccedilatildeo me estimulou a natildeo deixar de sanar minhas

duacutevidas quando estas se fizerem presentes e observar no cotidiano o uso das modalizaccedilotildees

na linguagem

Bibliografia

CASTILHO A T e CMMCASTILHO In ILARI Rodolfo Gramaacutetica do portuguecircs falado Campinas Satildeo Paulo Unicamp1992 CUNHA Celso e CINTRA Lindley Nova gramaacutetica do portuguecircs contemporacircneo 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DASCAL M A relevacircncia do mal-entendido Cadernos de estudos linguiacutesticos 1986 11 p 199-217 ROSA MC Introduccedilatildeo agrave morfologia 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2006

25

UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

29

AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 25: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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UM ESTUDO SOBRE GEcircNEROS TEXTUAIS

Juliana Carvalho da Silva

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Neste trabalho tomo como tema de estudo os gecircneros textuais Os estudos sobre

gecircneros textuais segundo Marcuschi (2009) natildeo satildeo novos iniciaram-se no Ocidente com

Platatildeo haacute pelo menos vinte e cinco seacuteculos

Antigamente quando se pensava em gecircnero ligava-se diretamente aos gecircneros

literaacuterios cuja anaacutelise iniciada por Platatildeo passa por Aristoacuteteles Horaacutecio Quintiliano pela

Idade Meacutedia o Renascimento e chega a Modernidade Atualmente a noccedilatildeo de gecircnero natildeo

estaacute somente ligada agrave literatura pode-se referir tambeacutem a um tipo de discurso falado ou

escrito com ou sem contribuiccedilotildees literaacuterias

Bakhtin pensador russo que deu iniacutecio agrave anaacutelise de gecircneros define-os em primaacuterios e

secundaacuterios Os primaacuterios satildeo aqueles constituiacutedos em situaccedilotildees cotidianas como e-mail

lista de compras bilhetes cartas etc Os secundaacuterios constituem-se a partir dos primaacuterios e

estatildeo relacionados agraves esferas mais complexas do meio social

Marcuschi professor da Universidade Federal de Pernambuco principal pesquisador

sobre gecircneros textuais no Brasil afirma que todas as nossas produccedilotildees orais e escritas se

realizam atraveacutes de gecircneros ou seja nos comunicamos por meio deles

Para Koch (2009) todos noacutes desenvolvemos uma ldquocompetecircncia metageneacutericardquo ao

longo de nossa existecircncia que nos ajuda a interagir da melhor forma possiacutevel em

determinadas situaccedilotildees e praacuteticas sociais possibilitando-nos a diferenciar os diversos tipos

de gecircneros como horoacutescopo receita monografia entre tantos outros

Todos os gecircneros caracterizam-se por ter uma forma um estilo um conteuacutedo e

tambeacutem uma finalidade que vai depender exclusivamente de quem escreve para quem se

escrevee com que intenccedilatildeo Mas o que iraacute prevalecer sempre independente do tipo de

gecircnero eacute a sua funccedilatildeo

Por exemplo quando fazemos uma lista de compras de supermercado temos um

objetivo natildeo esquecer o que deve ser comprado Cada indiviacuteduo produz e organiza sua lista

de uma determinada maneira mas a funccedilatildeo eacute a mesma Isso tambeacutem acontece quando

mandamos um torpedo de celular para um amigo A forma que escrevemos eacute particular

dependendo do conteuacutedo ou do grau de intimidade entre ambos mas o que vai prevalecer eacute

a funccedilatildeo da mensagem Portanto esse eacute um dos conceitos baacutesicos sobre gecircneros textuais

sua forma seu estilo e composiccedilatildeo mudam mas a funccedilatildeo vai sempre permanecer

Segundo Marcuschi (2008) tipos textuais satildeo aquelas categorias conhecidas como

narraccedilatildeo argumentaccedilatildeo descriccedilatildeo injunccedilatildeo ou exposiccedilatildeo Quando predomina uma dessas

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 26: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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categorias em um determinado texto dizemos que ele eacute narrativo argumentativo descritivo

injuntivo ou expositivo

Adam Schnewly e Dolz (2008) defendem a ideia de que todo texto eacute formado de

sequecircncias textuais cabendo ao escritor definir qual sequecircncia seraacute mais adequada agrave

situaccedilatildeo em que estaacute presente e que efeitos quer produzir Muitas vezes encontramos em um

texto mais de uma sequecircncia textual

Este trabalho contribuiu significativamente para a minha formaccedilatildeo como acadecircmica

do curso de Letras ampliando meu conhecimento sobre gecircneros textuais como sua origem

os primeiros estudiosos seu uso e importacircncia para os estudos da linguagem

Bibliografia

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008

KOCH Ingedore Villaccedila ELIAS Vanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo textual Satildeo Paulo Contexto 2009

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A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

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Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

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(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 27: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

27

A COESAtildeO TEXTUAL

Maria Justina de Arruda e Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A coesatildeo textual objeto deste estudo tem sido predominantemente desenvolvido

dentro do ramo da linguiacutestica denominada Linguiacutestica Textual Surgida no ano de 1960 na

Europa mais precisamente na Alemanha somente na deacutecada de 70 ganhou projeccedilatildeo

A linguiacutestica textual toma como objetivo investigar o texto por acreditar que o mesmo

eacute uma unidade de comunicaccedilatildeo Inicialmente teve-se a preocupaccedilatildeo em entender os

fenocircmenos (sintaacutetico-semacircnticos) que existiam entre palavras ou sequecircncias de frases

isoladas Houve anteriormente um estudo semelhante momento esse chamado de anaacutelise-

transfraacutestica porque ainda natildeo se tinha a distinccedilatildeo entre coesatildeo e coerecircncia do texto

Muitos foram os estudiosos que desenvolveram estudos sobre a coesatildeo e dentre eles

destacam-se Halliday e Hasan cujo trabalho contribuiu para as pesquisas sobre esse

fenocircmeno

Agrave coesatildeo cabe interligar as partes do texto de forma que nada fique solto e possa

produzir uma sequecircncia de sentidos jaacute a coerecircncia tem o objetivo de constatar se haacute uma

continuidade de sentidos no enunciado

A coesatildeo do texto eacute formada por relaccedilotildees textuais que podem ser por reiteraccedilatildeo

associaccedilatildeo e conexatildeo Essas relaccedilotildees acontecem graccedilas a vaacuterios procedimentos como

repeticcedilatildeo substituiccedilatildeo lexical e sintaacutetico-semacircntico Esses procedimentos se desdobram em

vaacuterios recursos como paraacutefrase paralelismo repeticcedilatildeo propriamente dita substituiccedilatildeo

gramatical substituiccedilatildeo lexical elipse seleccedilatildeo de palavras semanticamente proacuteximas e uso

de diferentes conectores

A seguir mostraremos um exemplo de coesatildeo por substituiccedilatildeo lexical

Existem evidecircncias de que os sapos habitam a terra desde o periacuteodo juraacutessico Mas ao contraacuterio dos dinossauros a mais imponente estirpe de 200 milhotildees de anos atraacutes os anfiacutebios sempre foram considerados paacuterias do reino animal (IRANDEacute 2005 p 104)

A substituiccedilatildeo lexical do exemplo acima estaacute nas palavras sapos e anfiacutebios pois

ambas satildeo equivalentes quanto ao seu significado e dizem a mesma coisa Portanto a

coesatildeo textual tem por objetivo produzir sentidos no texto de forma que o mesmo seja

interativo

Posso dizer que aprendi muito com este trabalho natildeo foi faacutecil e tomo como uma

grande experiecircncia e aprendizado

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

29

AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 28: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

28

Bibliografia FAacuteVEROLeonor Lopes Coesatildeo e coerecircncia textual 7 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 IRANDEacute Costa Antunes Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia 4 ed Satildeo Paulo Paacuterabola Editorial 2005 FAacuteVERO Leonor Lopes KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila Linquiacutestica textual 6 ed Satildeo Paulo Cortez2002 KOCH Ingedore Grunfeld Villaccedila A coesatildeo textual 19 ed Satildeo Paulo Contexto 2004

29

AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 29: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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AS VARIACcedilOtildeES LINGUIacuteSTICAS E O ENSINO DA LIacuteNGUA MATERNA

Kamylla Martos

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Como falantes de liacutengua portuguesa percebemos que haacute situaccedilotildees em que a liacutengua

se apresenta sob uma forma diferente daquela que habituamos a ouvir em casa ou atraveacutes

dos meios de comunicaccedilatildeo Essa diferenciaccedilatildeo no interior de uma mesma liacutengua denomina-

se ldquovariedade linguumliacutesticardquo

Segundo Tarallo (1994) variaccedilatildeo linguumliacutestica satildeo diversas maneiras de se dizer uma

mesma coisa em um mesmo contexto sem que esta perca seu valor de verdade Podemos

caracterizaacute-la tambeacutem como situaccedilotildees de fala que natildeo se agregam agrave norma padratildeo da

liacutengua portuguesa mas isso natildeo significa que esse modo diferente de falar esteja ldquoerradordquo

pelo fato de toda enunciaccedilatildeo ser vaacutelida desde que seu significado real natildeo seja alterado

Bagno (2001) afirma que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa pelo fato de se

considerar as variaccedilotildees linguiacutesticas relevantes importantes e por constituiacuterem fatores

comuns da liacutengua decorrentes do contato intercultural Aleacutem disso no Brasil satildeo praticadas

aleacutem do portuguecircs mais de 150 liacutenguas entre liacutenguas indiacutegenas e liacutengua dos imigrantes

A norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute obrigatoacuteria para todas as accedilotildees proacuteprias da

relaccedilatildeo dos cidadatildeos com o Estado (seu paiacutes) e do estado (o Paiacutes) com os cidadatildeos Isto

pode ser observado com facilidade no caso da escola Contudo existe uma pluralidade de

discursos pelo fato de a liacutengua ser um organismo vivo que se modifica constantemente

Travaglia (2009) divide variaccedilotildees linguiacutesticas em dialetais e registros As variaccedilotildees

dialetais satildeo sensiacuteveis a fatores como regiatildeo geograacutefica sexo idade geraccedilatildeo funccedilatildeo e

classe social dos falantes

As variaccedilotildees dialetais territoriais decorrem da diferenciaccedilatildeo no modo de falar entre

pessoas de regiotildees diferentes mas que utilizam a mesma liacutengua O Portuguecircs falado em

Portugal por exemplo eacute diferente do portuguecircs falado no Brasil Podemos perceber essa

diferenciaccedilatildeo tanto na fala quanto na escrita

Os dialetos na dimensatildeo do sexo representam as variaccedilotildees que ocorrem na

enunciaccedilatildeo de pessoas de sexo oposto Existe a fala masculina e a fala feminina ambas

distinguem-se como mostram os exemplos abaixo

A) ndash Mariana (Querida) preciso te contar o que aconteceu ontem

ndash Comprei uma blusinha linda

B) ndash Rapaz preciso te contar o aconteceu ontem

ndash Comprei uma camiseta bonita

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As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

35

Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 30: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

30

As variaccedilotildees dialetais na dimensatildeo de idade decorrem da diferenccedila na fala de

pessoas de idades diferentes A giacuteria eacute um tipo de dialeto de idade utilizada por grupos de

adolescentes como forma de distinguir sua linguagem das demais

Os dialetos por geraccedilatildeo satildeo variaccedilotildees que ocorrem na liacutengua de acordo com sua

evoluccedilatildeo transformaccedilatildeo histoacuterica Podemos perceber esse tipo de dialeto na liacutengua escrita

em textos antigos

Os dialetos em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo representam a variaccedilatildeo de acordo com a funccedilatildeo

desempenhada pelo falante e a fala vai depender da situaccedilatildeo em que se encontra o sujeito

como a diferenccedila que ocorre na fala de poliacuteticos representantes do povo

As variaccedilotildees dialetais decorrentes da classe social representam o modo de usar a

liacutengua de pessoas de classes sociais diferentes e bem definidas como professores meacutedicos

marginais motoristas entre outros

As variaccedilotildees de registro classificam-se em grau de formalismo e modo O grau de

formalismo representa uma escala de formalidade O falante dispotildee de vaacuterios recursos da

liacutengua para que esta se aproxime o maacuteximo da norma culta Jaacute a variaccedilatildeo de modo eacute

contraposiccedilatildeo entre fala e escrita ambas satildeo distintas cada uma apresenta suas proacuteprias

caracteriacutesticas entretanto se complementam uma natildeo existe sem a outra

As variaccedilotildees linguumliacutesticas apresentam grande influecircncia no ensinoaprendizagem Pelo

fato de existir uma norma padratildeo de liacutengua portuguesa tudo que foge a essa norma padratildeo

tudo que foge agrave norma eacute considerado errado mas esta concepccedilatildeo eacute falsa Natildeo existe

portuguecircs certo ou errado por considerar que todas as variedades apresentam eficaacutecia em

termos comunicacionais ou seja o que realmente eacute levado em consideraccedilatildeo eacute o significado

de determinada expressatildeo E os professores de liacutengua materna devem estar cientes disso

para que natildeo haja nenhum tipo de injusticcedila para com os alunos falantes de variaccedilotildees

linguiacutesticas

Normalmente na escola a norma padratildeo de liacutengua portuguesa eacute falada por crianccedilas

de classe social prestigiada decorrente do maior contato com livros revistas jornais gibis

enfim rdquoo mundo da leiturardquo Os professores consequentemente datildeo maior atenccedilatildeo a esses

alunos pelo fato de jaacute apresentarem um domiacutenio consideraacutevel sobre a norma padratildeo da

liacutengua e possuiacuterem maior facilidade para aprender e desenvolver a liacutengua padratildeo Enquanto

isso os alunos de classe social desprestigiada que apresentam maior dificuldade na

aprendizagem da liacutengua padratildeo satildeo prejudicados pelo proacuteprio professor que natildeo cumprindo

com o papel de educador reteacutem o aluno

As crianccedilas ditas ldquodesprestigiadasrdquo natildeo progridem e se avanccedilam apresentam maior

dificuldade devido agrave indiferenccedilardquo do professor Portanto o educador deve ter um domiacutenio

sobre as variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo ocorra mais esse tipo de preconceito Aleacutem

disso existem situaccedilotildees diferentes para cada tipo de fala E foi pensando nisso que Travaglia

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

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aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 31: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

31

(2009) propotildee que sejam ensinadas nas escolas variedades que em determinadas situaccedilotildees

a norma padratildeo natildeo seja conveniente

A partir da leitura de textos sobre ldquovariaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua maternardquo

conclui-se que natildeo existe uma uacutenica liacutengua portuguesa mas uma infinidade de discursos

originados pelo contato intercultural Essa pluralidade dos discursos eacute denominado variaccedilatildeo

linguiacutestica que foge agrave norma padratildeo da liacutengua portuguesa

Assim como acadecircmica do curso de Letras o presente trabalho possibilitou-me

importantes reflexotildees sobre a liacutengua e a arte de ensinar Espero que quando lecionar ter

uma visatildeo ampla e madura sobre variaccedilotildees linguiacutesticas para que natildeo cometa nenhum tipo de

discriminaccedilatildeo para com o aluno falante de determinada variedade linguiacutestica

Bibliografia TARALLO Fernando A pesquisa sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo SP Aacutetica 1994

BAGNO Marcos A liacutengua de Eulaacutelia novela sociolinguiacutestica 11 ed Satildeo Paulo SP Contexto 2001

TRAVAGLIA Luiz Carlos A variaccedilatildeo linguiacutestica e o ensino de liacutengua materna In____________ Gramaacutetica e interaccedilatildeo uma proposta para o ensino de gramaacutetica 13 ed Satildeo Paulo SP Cortez 2009

32

A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

35

Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 32: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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A IMPORTAcircNCIA DO DICIONAacuteRIO

Marllus Everton Trindade Mejia

(AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Neste artigo proponho apresentar um estudo sobre o dicionaacuterio a partir da sua

institucionalizaccedilatildeo Segundo Aniacutebal (2003) vale a pena refletir sobre a evoluccedilatildeo do saber

lexicograacutefico no Brasil perceber o seu funcionamento a forma como eacute definido tal como se

apresenta sua importacircncia e mais que isso evidenciar o que ele pode transmitir agraves

pessoas

O verbete ldquodicionaacuteriordquo foi usado pela primeira vez por volta de 1225 pelo inglecircs John

Garland ao dar um tiacutetulo a uma lista de palavras latinas a serem aprendidas por estudantes

A histoacuteria dos dicionaacuterios eacute parte da histoacuteria das culturas e das ideias pois os dicionaacuterios

refletem natildeo apenas a evoluccedilatildeo das liacutenguas como tambeacutem registram o desenvolvimento das

comunidades linguiacutesticas

De acordo com Pereira Crepschi Abreu e Mora (2008 p 430) ldquoa anaacutelise de

dicionaacuterios faz refletir sobre a intriacutenseca relaccedilatildeo entre ciecircncia e instrumentaccedilatildeo linguiacutestica

que permite compreender a gradual institucionalizaccedilatildeo de um idioma em relaccedilatildeo com seus

falantesrdquo

Para Orlandi (2002 p 428) ldquoo dicionaacuterio silencia sobre o fato de que natildeo haacute palavra

natildeo haacute sentido sem interpretaccedilatildeo sem ideologia justamente por que o efeito ideoloacutegico da

dicionarizaccedilatildeo tal como procede apaga a ideologiardquo Isto eacute o dicionaacuterio pode apresentar os

vocaacutebulos com os seus respectivos significados no entanto haacute outras interpretaccedilotildees

determinadas pela ideologia e que o dicionarista por apenas apresentar o respectivo

sentido eacute neutro e nada pode fazer ou dizer

O dicionaacuterio eacute um livro que possui a explicaccedilatildeo dos significados das palavras O seu

uso estaacute ligado agrave traduccedilatildeo pois eacute a ferramenta fundamental para o tradutor Assim

aprender a conhecer e avaliar os dicionaacuterios e consequentemente saber como melhor

manuseaacute-lo eacute extremamente importante para que a escolha desse ldquocompanheiro de

trabalhordquo seja saacutebia e mais proveitosa para que a traduccedilatildeo seja bem sucedida A verdade

entretanto eacute que as palavras procuradas nos dicionaacuterios soacute se incorporam de fato aos

nossos haacutebitos linguiacutesticos quando as ouvimos ou lemos (GARCIA 1980)

A questatildeo do uso do dicionaacuterio natildeo eacute um problema que deve ser esquecido pois

quando usamos mantemos um viacutenculo que poderaacute trazer ou natildeo respostas que muitas

vezes natildeo encontramos Em funccedilatildeo disso acredito que haacute uma variedade consideraacutevel de

dicionaacuterios que poderaacute contribuir para aqueles que queiram entender sobre significados ou

sinocircnimos de palavras que geralmente natildeo satildeo perfeitos Sendo assim penso que a

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

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ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

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por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 33: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

33

aquisiccedilatildeo de um dicionaacuterio eacute indispensaacutevel para estudos e pesquisas e o trabalho que

desenvolvi sobre ldquoA Importacircncia do Dicionaacuteriordquo abriu as portas para um saber que jaacute tinha

esquecido embora soubesse que esse instrumento pode ajudar a resolver algumas duacutevidas

quanto agrave significaccedilatildeo de palavras eou expressotildees

Para Auroux (1992 p 422) ldquoo advento da escrita constitui a primeira grande

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica das ciecircncias da linguagem A segunda revoluccedilatildeo seria a da

gramatizaccedilatildeo isto eacute o processo pelo qual se descreve e se instrumenta uma liacutengua

atraveacutes de duas tecnologias o dicionaacuterio e a gramaacuteticardquo Desta forma pode-se notar que

antes da constituiccedilatildeo do dicionaacuterio a escrita jaacute estava num processo de construccedilatildeo e

principalmente de organizaccedilatildeo das palavras

Existe uma variedade de dicionaacuterios que jaacute estatildeo agrave disposiccedilatildeo dos diversos leitores e

pesquisadores Pois a sua utilidade natildeo estaacute ligada somente a significados das palavras Isto

eacute existem dicionaacuterios de termos teacutecnicos usados em aacutereas especiacuteficas do conhecimento

Num dicionaacuterio de medicina por exemplo satildeo explicados os termos relacionados agrave aacuterea

meacutedica Desta forma existem os dicionaacuterios de eletrocircnica mecacircnica biologia informaacutetica

mitologia que mantecircm o verbete dicionaacuterio

A partir do estudo sobre o dicionaacuterio pude compreender como a sua utilizaccedilatildeo eacute

importante e que de maneira geral estaacute ligado a todo saber comum e cientiacutefico Desta forma

percebi que haacute vaacuterias vaacuterios instrumentos que auxiliam a pesquisa e o dicionaacuterio eacute um deles

Assim concluo que o dicionaacuterio eacute um instrumento importante para conhecer a etimologia a

grafia e os significados dos vocaacutebulos que constituem o leacutexico da Liacutengua Portuguesa

Bibliografia DIAS Aniacutebal da Costa Os dicionaacuterios juriacutedicos e seus usuaacuterios Campinas SP [SN] 2003 Disponiacutevel em httpUnicampbrdocumentCode =vtls0003117272 Acesso em 2 de setembro de 2009 ORLANDI EP (2002) Lexicografia discursiva EdCortez Disponiacutevel em httpunicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 HORTA NUNES J e PETTER M Histoacuteria do saber lexical e constituiccedilatildeo de um leacutexico brasileiro SP Pontes 2002 Disponiacutevel em HTTPUnicampbrdocument Acesso em 26 de setembro de 2009 BORBA FS (2004) Dicionaacuterio Unesp do portuguecircs contemporacircneo Ed Unesp 2004 Disponiacutevel em httpUNESPbrdocuments Acesso em 25 de setembro de 2009 AUROUX Sylvain A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica da gramatizaccedilatildeo Traduccedilatildeo Eni Puccinelli Orlandi Campinas SP Editora da Unicamp 1992 GARCIA Othon Moacir Comunicaccedilatildeo em prosa moderna 10 ed Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 1982

34

METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

35

Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

36

transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 34: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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METAacuteFORA DE ARISTOacuteTELES A HALLIDAY

Sebastiana Aparecida de Souza Nunes

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Este artigo tem como objeto de estudo um dos fenocircmenos da linguagem a metaacutefora

que vem desde muitos seacuteculos despertando o interesse de muitos estudiosos e por ser tatildeo

caracteriacutestico do ser humano e do uso que faz da linguagem continua sendo objeto de

variadas e inesgotaacuteveis reflexotildees

O termo ldquometaacuteforardquo deriva da palavra grega lsquometaphereinrsquo que significa

lsquotransferecircnciarsquo ou lsquotransportersquo Etimologicamente eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer lsquo

mudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo

A metaacutefora se destaca no acircmbito das ldquofiguras de palavras ou troposrdquo e tambeacutem pode

ser chamada de ldquofigura de estilordquo e possibilita a expressatildeo de sentimentos emoccedilotildees e

ideias de modo imaginativo e inovador por meio de uma associaccedilatildeo impliacutecita entre dois

elementos ou seja a metaacutefora exige uma transposiccedilatildeo do sentido de uma determinada

palavra para outra cujo sentido originalmente natildeo eacute literal A metaacutefora eacute uma poderosa fonte

de novos conhecimentos e novos comportamentos e pode ser conscientemente usada

pelos homens para dar mais ldquocor e forccedilardquo a sua fala e escrita Tambeacutem eacute considerada como

um meio econocircmico de expressar uma grande quantidade de informaccedilatildeo e ainda como um

instrumento usado para dar conta de algo novo que surge na ciecircncia ou no cotidiano

Por exemplo

1 ldquoO amor eacute o fogo que arde sem se verrdquo

2 ldquoO amor eacute um livro e sexo eacute esporterdquo

Por ser um assunto que vem sendo estudado pela humanidade por 2500 anos

apresentarei como as diversas teorias e tradiccedilotildees do estudo de metaacutefora a definem ao longo

dos tempos A noccedilatildeo mais antiga vem do Ocidente no seacuteculo IV aC com Aristoacuteteles

Segundo ele a metaacutefora eacute o uso do nome de uma coisa para designar outra Na Arte

Poeacutetica ele a define como ldquoA transposiccedilatildeo do nome de uma coisa para outra transposiccedilatildeo

do gecircnero para a espeacutecie ou da espeacutecie para o gecircnero ou de uma espeacutecie para outra por

via de analogiardquo (Poeacutetica III IV 7 p182) Tambeacutem considera a comparaccedilatildeo direta como

uma metaacutefora ldquoentre uma e outra a diferenccedila eacute pequenardquo (Retoacuterica XXI 13 p 274) Aleacutem

disso defende a utilidade das metaacuteforas na comunicaccedilatildeo desde que elas sejam bem

empregadas Aristoacuteteles acredita que a metaacutefora permite expressar uma ideia nova e

sendo assim passa a exigir do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar o ponto

em comum entre as entidades

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

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FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 35: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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Outros autores como Ciacutecero Horaacutecio Longinus e Quintiliano reforccedilaram os

pressupostos aristoteacutelicos e consideram que a metaacutefora representa a forma mais nobre e

essencial para o embelezamento da linguagem vulgar Para o filoacutesofo John Searle (1993) a

metaacutefora seria um tipo de discurso indireto cujo conteuacutedo poderia ser diretamente

parafraseado Poreacutem Richards (1971) acredita que a metaacutefora natildeo constitui um modo

excepcional de utilizaccedilatildeo da linguagem mas antes o modo como a liacutengua eacute repleta de

conceitos e ideias metafoacutericas

Outro importante teoacuterico eacute Max Black (1955 1962) que desenvolveu trecircs visotildees no

estudo da metaacutefora a teoria da substituiccedilatildeo que implica substituir um termo literal por um

natildeo literal a teoria da comparaccedilatildeo no qual alega que a metaacutefora eacute uma comparaccedilatildeo

impliacutecita e a teoria da interaccedilatildeo na qual acredita que a metaacutefora possui um sentido novo

que adveacutem da interaccedilatildeo entre toacutepico e o veiacuteculo

Paulo Ricoeur (1983 p148) em sua obra A metaacutefora viva ressalta que ldquonatildeo haacute

metaacutefora no dicionaacuterio apenas existe no discurso neste sentido a atribuiccedilatildeo metafoacuterica

revela melhor que qualquer emprego da linguagem o que eacute uma fala viva esta constitui por

excelecircncia uma instacircncia do discursordquo

A teoria da metaacutefora conceptual fundada por George Lakoff e Mark L Johnson no final

da deacutecada de 1970 e publicada em 1980 em seu livro Metaphors We Live By relata que

natildeo haacute verdades absolutas pois as metaacuteforas satildeo culturais resultantes de mapeamentos

relevantes para certas civilizaccedilotildees ou ideologias e que satildeo uma representaccedilatildeo mental

abstrata poreacutem sabe-se que elas existem pois tomam forma tanto na fala quanto na escrita

por meio de expressotildees metafoacutericas

Contrapotildeem a essa teoria Charteris-Black (2004) Koller (2004) Zanotto (1995) por

acreditarem que a metaacutefora eacute um fenocircmeno social e natildeo individual ou corporificado Jaacute o

linguista britacircnico Michael Halliday na teoria da metaacutefora gramatical tenta explicar o

funcionamento da linguagem por meio de descriccedilotildees de como as pessoas falam ou

escrevem e quais escolhas fazem nesses processos

Apoacutes realizar vaacuterias pesquisas e obter inuacutemeras informaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo deste

artigo o que se pode constatar eacute que a linguagem humana eacute um coacutedigo muito complexo

que exibe grande quantidade de palavras que podem apresentar vaacuterios sentidos em niacutevel

das frases os quais chamaram de figurados ou seja satildeo usos natildeo literais das palavras e

expressotildees da liacutengua

Neste artigo explorei esses usos figurados mais especificamente a metaacutefora

considerada a figura mestra e tambeacutem algumas teorias e tradiccedilotildees que a definem ao longo

dos tempos e o que se pode dizer eacute que a linguagem cotidiana eacute em grande parte

metafoacuterica pois sempre se pode recorrer ao uso das metaacuteforas para expressar

pensamentos ideias emoccedilotildees e que as metaacuteforas satildeo muito mais que uma simples

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 36: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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transposiccedilatildeo de significados ou seja usar a metaacutefora eacute criar a capacidade de lidar com as

palavras possibilitando a criaccedilatildeo de novos universos de conhecimentos

Foi muito gratificante a elaboraccedilatildeo deste artigo pois pude conhecer como as diversas

teorias e tradiccedilotildees que desenvolveram estudos sobre a metaacutefora a definem e detectar que

apesar de ser estudado haacute seacuteculos ainda eacute um campo muito amplo para o desenvolvimento

de pesquisas

Bibliografia TUFANO Douglas Estudos da liacutengua e literatura 4 ed Rev e ampl Satildeo Paulo Moderna 1990 PERELMAN Chaim Tratado da argumentaccedilatildeo [prefaacutecio Faacutebio Ulhocirca Coelho traduccedilatildeo Maria Ermantina Galvatildeo] Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 ROCHA LIMA Carlos Henrique da Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa Prefaacutecio de Serafim da Silva Neto 40 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 2001 SACCONI Luis Antocircnio Nossa gramaacutetica Satildeo Paulo Moderna 1979 ILARI Rodolfo Introduccedilatildeo agrave semacircntica Brincando com a gramaacutetica 5 ed Satildeo Paulo Contexto 2004 SARDINHA Tony Beber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial (Lingua[gem] 24) httwww2fcshunlptedtlverbeteMmetaacuteforahtm Acesso em21082009 httwwwfilologiaorgbrixcnlf1112htm Acesso em 28082009

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 37: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

37

FIGURAS DE LINGUAGEM METAacuteFORA E METONIacuteMIA

Sheila S A de SantrsquoAna Silva (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Dentre as figuras de linguagem classificadas pelas gramaacuteticas normativas brasileiras

escolhi para este estudo a metaacutefora e a metoniacutemia que satildeo usadas como formas de

expressatildeo para produzir um determinado efeito na interpretaccedilatildeo do interlocutor

As figuras de linguagem satildeo recursos utilizados normalmente para tornar mais

expressivo o que queremos dizer ou ampliar o significado de uma palavra suprir a falta de

um termo adequado criar significados diferentes As figuras podem ser usadas tanto na

liacutengua falada quanto na liacutengua escrita

Figuras de linguagem eacute uma forma de expressar que consiste no emprego de

palavras em sentido figurado isto eacute em um sentido diferente daquele em que

convencionalmente satildeo empregadas

Etimologicamente o vocaacutebulo ldquometaacuteforardquo eacute formada por lsquometarsquo que quer dizer

lsquomudanccedilarsquo e por lsquophereinrsquo que significa lsquocarregarrsquo O vocaacutebulo metaacutefora origina-se da palavra

grega lsquometaphereinrsquo que significa transferecircncia ou lsquotransportersquo (SARDINHA 2007 p 21) Em

sentido mais especiacutefico significa ldquotransporte de sentido proacuteprio para sentido figuradordquo

O primeiro a abordar o termo metaacutefora foi Aristoacuteteles que a identificou como termo

geneacuterico que abarca todas as figuras retoacutericas em geral Nesta concepccedilatildeo Aristoacuteteles na

Poeacutetica e na Retoacuterica designa metaacutefora como ldquoO transporte a uma coisa de um nome que

designa um outro transporte quer do gecircnero agrave espeacutecie quer da espeacutecie ao gecircnero quer da

espeacutecie agrave espeacutecie ou segundo a relaccedilatildeo de analogiardquo (idem cap 21-25)

Segundo Ernani Terra (1996) metaacutefora eacute a alteraccedilatildeo do significado original de um

termo para estabelecer laccedilos de similaridade com outro termo Normalmente uma palavra

que designa uma coisa passa a designar outra por haver entre elas traccedilos de semelhanccedila A

metaacutefora eacute pois uma comparaccedilatildeo impliacutecita isto eacute sem conectivo comparativo

Jaacute para Rocha Lima (1998) metaacutefora consiste na transferecircncia de um termo para

uma esfera de significaccedilatildeo que natildeo eacute a sua em virtude de uma comparaccedilatildeo impliacutecita

Ex Penetramos no coraccedilatildeo da floresta

Sempre foi uma pessoa de sentimentos baixos

Confessou ao sacerdote seu negro pecado

Tanto a metaacutefora quanto a metoniacutemia tem seu nascimento dentro da retoacuterica

tradicional e na poeacutetica

No caso da metoniacutemia a retoacuterica tradicional natildeo propotildee uma conceituaccedilatildeo exata e

talvez por isso as referecircncias agrave ldquometoniacutemiardquo normalmente encontradas satildeo um reflexo desta

38

atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

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forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

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Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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Page 38: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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atitude geral Em sentido lato eacute a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma

palavra em lugar de outra cujo significado se daacute a entender

Para Rocha Lima (1998) metoniacutemia eacute baseada numa relaccedilatildeo de contiguidade

origina-se este tropo das ideias evocadas por outra com a qual apresenta certa

interdependecircncia

Segundo Ernani Terra (1996 p 354)

Metoniacutemia ou sineacutedoque como a metaacutefora consiste na transposiccedilatildeo de significado de um termo isto eacute uma palavra passa a ser usada com significado deferente do habitual Todavia trata-se de uma transposiccedilatildeo feita natildeo mais com base em traccedilos semelhantes e sim por existir um relacionamento entre os significados

Ex Patildeo para quem tem fome

Natildeo tinha teto em que se abrigasse

Procurou no Aureacutelio o significado daquela palavra

ldquoOs ladrotildees e as amantes meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem soacute pelo nome de menino Jesusrdquo (Dalla Pallotino Chico Buarque)

Com as leituras realizadas sobre o tema deste artigo passei a identificar e a

compreender melhor os fenocircmenos linguiacutesticos metaacutefora e metoniacutemia e tambeacutem pude

ampliar meus conhecimentos referentes agrave forma de pesquisar e produzir um artigo

acadecircmico

Bibliografia CEREJA William Roberto MAGALHAtildeES Tereza Cochar Gramaacutetica reflexiva textos semacircntica e interaccedilatildeo Satildeo Paulo Atual 1999 LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica da liacutengua portuguesa 35 ed Rio de Janeiro Joseacute Oliympio1998 TERRA Ermani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 SARDINHA Tony Berber Metaacutefora Satildeo Paulo Paraacutebola 2007 httpwwwfcshunlptedtl Acesso em 05092009

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UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 39: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

39

UM ESTUDO SOBRE FIGURAS DE LINGUAGEM Silmara de Faacutetima

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Segundo Charles Bally (1928 p318) ldquoo conjunto de processos que fazem da liacutengua

representativa um maio de exteriorizaccedilatildeo psiacutequica e apelo satildeo denominados estilosrdquo ou

seja eacute a soluccedilatildeo para se fazer da liacutengua a representaccedilatildeo intelectiva da manifestaccedilatildeo

psiacutequica e do apelo Eacute nesse sentido que diferem a Estiliacutestica (que estuda a liacutengua afetiva) e

a Gramaacutetica (que trabalha no campo da liacutengua intelectiva) Segundo Bechara (2006 p 615)

ldquoa estiliacutestica eacute o passo mais decisivo no estudo de uma liacutengua para a educaccedilatildeo do

sentimento esteacutetico e manifestaccedilatildeo da competecircncia expressiva da liacutenguardquo

Brandatildeo (1989) traz a distinccedilatildeo entre figuras de palavras e figuras de pensamento

acreditando que pensamentos e palavras eram entidades autocircnomas na formulaccedilatildeo da

linguagem Afirmava-se que o pensamento eacute anterior agrave palavra ldquoNatildeo soacute os pensamentos

satildeo considerados anteriores a palavras como mais importante que elas As palavras foram

inventadas para servir ao pensamentordquo (idem 1982 p 22)

O uso de figuras de linguagem eacute um dos recursos empregados para valorizar o texto

tornando a linguagem mais expressiva Eacute um recurso linguiacutestico para expressar de forma

diferente experiecircncias comuns conferindo originalidade emotividade ou poeticidade ao

discurso A utilizaccedilatildeo de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz

traduzindo particularidades estiliacutesticas do autor e escritor que aproveitam para se comunicar

ao estilo de vivacidade e beleza

As figuras de linguagem que trabalharei satildeo classificadas como figuras de

pensamento ligadas ao estilo agrave estiliacutestica ou seja o sentido com energia e colorido a

serviccedilo das intenccedilotildees esteacuteticas de quem as usa Dentre as figuras de palavras de

construccedilatildeo e de pensamento tomarei para anaacutelise as figuras denominadas eufemismo

ironia e hipeacuterbole que estatildeo ligadas ao estilo da liacutengua

O eufemismo eacute uma figura da retoacuterica caracterizada pela substituiccedilatildeo de um termo

contundente por palavras menos desagradaacuteveis ou mais polidas sem alterar o sentido Essa

figura de linguagem de pensamento eacute muito utilizada para se referir a tabus buscando uma

palavra ou expressatildeo menos desagradaacutevel para tentar amenizar o fato Essa figura eacute usada

por muitos escritores Por exemplo a palavra ldquomorterdquo daacute um sentido de perda e os

escritores tentam amenizar como Luiacutes Vaz de Camotildees o escritor poeta que se valeu do

eufemismo ldquotirar ao mundordquo na passagem do episoacutedio de Inecircs de Castro

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 40: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

40

ldquoTirar Inecircs ao mundo determina ldquoPor lhe tirar o filho que tem presordquo (Os Lusiacuteadas III 123)

Outro escritor que se utilizou do eufemismo foi Machado de Assis no iniacutecio da obra

Dom Casmurro

ldquoOs amigos que me restaram satildeo de data recente todos os antigos foram estudar a geologia dos compocircs santosrdquo

De Jorge Amado mostramos o exemplo

ldquoNada restaraacute de Guma somente uma histoacuteria que o velho Francisco legaraacute aos homens do cais quando for com Janaina1

Esses satildeo alguns exemplos do emprego do eufemismo por escritores e esse recurso

da liacutengua eacute usado tambeacutem no dia a dia em falas e frases como

Ele enriqueceu por meios iliacutecitos (em vez de roubar) Vocecirc natildeo foi feliz nos exames (em vez de reprovado) Ele faltou com a verdade (em fez de ele mentiu)

Outra figura de pensamento eacute a ironia que por sua vez eacute a figura que consiste em

dizer o contraacuterio do que se pensa geralmente em um tom de zombaria A ironia depende do

contexto da expressatildeo dos gestos do tom de voz e requer um conhecimento de mundo do

leitor e falante

Muitos autores tecircm feito o uso da ironia como recurso estiliacutestico mas eacute necessaacuterio

observar atentamente o texto como um todo para perceber o emprego dessa figura

Nos versos de Chico Buarque haacute o emprego de ironia

ldquoA rosa garante que eacute sempre minha Quietinha saiu para comprar cigarros Que sarro trouxe umas coisas do norte Que sorte ldquoQue sorte voltou toda sorridenterdquo

A ironia ocorre tambeacutem em frases como ldquoA excelente dona Inaacutecia era mestre na arte de judiar de crianccedilasrdquo ldquoO velho comeccedilou a ficar com aquela cor bonita uma tonalidade de cadaacuteverrdquo ldquoO seu aproveitamento na escola natildeo podia ter sido melhor reprovado em

apenas seis mateacuteriasrdquo

A terceira figura que apresentaremos eacute a hipeacuterbole definida como um arranjo

linguiacutestico que visa agrave expressatildeo exagerada da natureza das coisas O recurso naturalmente

usado pelos poetas constitui uma figura de linguagem A presenccedila da hipeacuterbole no texto eacute

portanto uma marca de subjetividade

Nessa figura usam-se muitas expressotildees como morrer de rir ou o brasileirismo

como lindo de morrer Essas falas fazem parte do repertoacuterio das hipeacuterboles do dia a dia e

1 Janaina um dos sete nomes de Iemanjaacute

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

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A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

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A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 41: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

41

por isso mesmo seu valor estiliacutestico praticamente jaacute desapareceu dado que essas

expressotildees jaacute se incorporaram ao cotidiano dos falantes de tal forma que natildeo provocam

surpresa ou estranheza necessaacuteria para que o leitor se volte para a expressatildeo em si e natildeo

soacute para o seu conteuacutedo

Caetano Veloso faz o uso da hipeacuterbole em muitos de seus versos como

Queria querer gritar setecentas mil vezes Como satildeo lindos como satildeo lindos os burgueses E os japoneses ldquoMas tudo eacute muito maisrdquo Essa figura faz uso tambeacutem em frases como Jaacute o avisei mil vezes Haacute um seacuteculo que te espero Chorarei belo resto da minha vida

Com este trabalho consegui ampliar meus conhecimentos no que diz respeito agrave

realizaccedilatildeo de uma pesquisa e conclui que as figuras de linguagem satildeo muito mais do que

um recurso usado para descrever as emoccedilotildees de uma pessoa Posso acrescentar que esta

pesquisa contribuiu para minha formaccedilatildeo enquanto acadecircmica e espero realizar novas

pesquisas

Bibliografia TERRA Ernani Curso praacutetico de gramaacutetica 3 ed Satildeo Paulo Scipione 1996 BECHARA E Moderna gramaacutetica portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Lucerna 2006 672 p MAZZAROTTO Luiz Fernando Nova redaccedilatildeo gramatical e literatura aprenda a elaborar textos claros e objetivos 2 ed Satildeo Paulo DCL 2009 BRANDAtildeO R de O As figuras de linguagem Satildeo Paulo Aacutetica 1989 CARVALHO C A estiliacutestica e o ensino de portuguecircs Caderno do CNLF v VIII n 12 2004 WWWportalimpactocombrdocs00000elizeteaula14conteudosemanticofigurasdelinguagempdf Acesso em 160909 WWWuemsbrnalinguisticaelinguagem07arquivos81pdf Acesso em 160909 WWWscrittaonlinecombrartigosphpctd-id90 Acesso em 190909 WWWfolhauolcombrcolunasnoutraspalavrasult2675u22shtml Acesso em 190909

42

PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 42: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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PRECONCEITO LINGUIacuteSTICO

Thainaacute Aparecida Ramos de Oliveira

(AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

A sociedade de modo geral eacute composta de diversos tipos de preconceitos que satildeo

definidos de acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2000 p 551) como ldquoconceitos ou opiniotildees

formadas antecipadamente sem maior ponderaccedilatildeo ou conhecimento dos fatosrdquo

O preconceito racial social religioso entre outros eacute muito debatido na atualidade no

entanto a sociedade se esquece que tambeacutem haacute outro ato preconceituoso que necessita de

combate em todas as suas vias de proliferaccedilatildeo denominado no campo da sociolinguiacutestica

como lsquopreconceito linguiacutesticorsquo

Para refletir sobre esse tema o presente trabalho busca fazer uma abordagem sobre

essa praacutetica preconceituosa atraveacutes da obra de Marcos Bagno intitulada Preconceito

linguumliacutestico o que eacute como se faz (2007) Assim informaccedilotildees a respeito dos mitos que cercam

essa atitude errocircnea de referir-se agrave liacutengua bem como os motivos que geram essa praacutetica e a

maneira de combatecirc-la seratildeo discutidas neste trabalho

Como o Brasil eacute composto por uma vasta extensatildeo territorial nele encontramos

diversidades linguiacutesticas bastante influentes em nosso meio Cada classe social grupo

regiatildeo etc possui uma maneira proacutepria de falar e de colocar a liacutengua em praacutetica seja atraveacutes

da pronuacutencia ou da significaccedilatildeo Com isso percebe-se que natildeo devemos estudar a liacutengua

como sendo algo morto e estagnado uma vez que por traacutes de uma liacutengua haacute um ser vivo que

a utiliza

Para exemplificar a questatildeo apresentada acima Bagno utiliza-se de uma metaacutefora

dizendo que a liacutengua eacute como um rio caudaloso que natildeo deteacutem seu curso e por isso sempre

se renova jaacute a gramaacutetica normativa eacute apenas um igapoacute aacutegua parada que envelhece e soacute se

renovaraacute quando vier a proacutexima cheia ou seja a liacutengua se transforma enquanto que a

gramaacutetica permanece ditando regras esperando que ocorra algum novo acordo linguiacutestico

que a transforme

Se analisarmos a nossa liacutengua iremos perceber que ela estaacute imersa em um grande

ciclo mitoloacutegico que necessita ser desmistificado para que assim o preconceito linguiacutestico

deixe de existir O autor em questatildeo aborda esse tema no primeiro capiacutetulo ldquoA mitologia do

preconceito linguiacutesticordquo

Para iniciar a abordagem mitoloacutegica Bagno (2009) apresenta o primeiro mito ldquoA liacutengua

portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendenterdquo Este eacute o mais seacuterio de

todos os mitos tendo em vista a variedade linguiacutestica existente em nosso paiacutes Acreditar nele

significa que cada regiatildeo cada povo brasileiro natildeo possui identidade proacutepria e isso eacute uma

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 43: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

43

forma de desvalorizar todos que habitam nosso paiacutes principalmente a classe desprestigiada

que eacute reconhecida por diversas pessoas como natildeo conhecedores da liacutengua O portuguecircs eacute a

nossa liacutengua materna mas possui divisotildees fato este que deve ficar bem claro para todos

O segundo mito ldquoBrasileiro natildeo fala portuguecircs Soacute em Portugal se fala bem o

portuguecircsrdquo tem a ver com o complexo de inferioridade que ainda existe por sermos ex-colocircnia

de Portugal e tambeacutem pela miscigenaccedilatildeo que se encontra no Brasil Vale a pena ressaltar

que haacute diferenccedilas significativas entre o portuguecircs do Brasil e o portuguecircs de Portugal melhor

dizendo o portuguecircs eacute diferente em todos os lugares em que eacute utilizado No entanto o ensino

dessa liacutengua estaacute voltado a Portugal ou seja acredita-se que o certo satildeo as formas usadas

nesse paiacutes Natildeo devemos nos esquecer que se trata de cultura povos situaccedilotildees sociais e

geograacuteficas diferentes e eacute essa diferenccedila que constroacutei a identidade de cada naccedilatildeo Da

mesma forma que cometemos algumas falhas de acordo com a gramaacutetica os portugueses

tambeacutem cometem

O terceiro mito rdquoO portuguecircs eacute muito difiacutecilrdquo se daacute pelo fato do que aprendemos na

escola natildeo condizer com a realidade do cotidiano pois a escola ensina que somente a liacutengua

padratildeo eacute correta e que as demais variedades natildeo devem ser proliferadas Esse mito mostra

no que a liacutengua portuguesa se transformou ou seja muitos tecircm medo soacute de ouvir falar o

nome desta disciplina pois o que se aprende na escola satildeo as regras do bem falar e do bem

escrever contidas nas gramaacuteticas normativas que acabam por desrespeitar o falar de um

grupo

O quarto mito refere-se a ldquoPessoas sem instruccedilatildeo falam tudo erradordquo As pessoas que

dizem Craacuteudia chicrete praca broco pranta satildeo consideradas deficientes linguiacutesticos ou

seja pessoas que utilizam a liacutengua de maneira equivocada Isso natildeo se trata de deficiecircncia

mas sim do falar tiacutepico de uma classe desprestigiada por vaacuterios aspectos econocircmicos e

sociais Devemos levar em conta que esse tipo de fala eacute resultante de um processo de

formaccedilatildeo sofrido pela liacutengua Portuguesa Para comprovar esta questatildeo basta fazer a leitura

de uma das maiores obras existentes Os Lusiacuteadas na qual Camotildees emprega palavras como

ingrecircs pubricar pranta frauta frecha Portanto dizer que algueacutem fala errado eacute virar as

costas para a histoacuteria de nosso paiacutes e tambeacutem para os problemas sociais que essa classe

estigmatizada enfrenta

O quinto mito rdquoO lugar onde melhor se fala o portuguecircs eacute no maranhatildeordquo diz respeito agrave

segunda crenccedila Acredita-se que no estado do Maranhatildeo fala-se melhor o portuguecircs pelo

fato de essa regiatildeo fazer o uso das mesmas formas verbais existentes em Portugal Natildeo haacute

em um paiacutes falante de uma mesma liacutengua materna ou regiatildeo que melhor fale sua liacutengua

Cada regiatildeo sofreu um processo de formaccedilatildeo diferente resultante da migraccedilatildeo no periacuteodo

colonial que acabou por influenciar o linguajar local

Jaacute o sexto mito ldquoO certo eacute falar assim porque se escreve assimrdquo refere-se agrave questatildeo

da diferenccedila regional ao pronunciar uma mesma palavra Essa diferenccedila muitas vezes eacute

44

desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

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GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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desrespeitada pela escola uma vez que ela busca fazer as pessoas aprenderem a realizar a

pronuacutencia da mesma forma que as palavras satildeo grafadas Este fato consiste na valorizaccedilatildeo

da escrita em consequecircncia da fala ou seja a escrita tem muito mais valor do que a fala a

qual segundo a gramaacutetica eacute detentora de vaacuterios erros

O seacutetimo mito ldquoEacute preciso saber gramaacutetica para falar e escreverrdquo eacute difiacutecil de ser

desmistificado pois satildeo muitos os que acreditam nessa afirmaccedilatildeo Ela sugere que todos os

escritores satildeo conhecedores minuciosos da gramaacutetica Essa eacute uma questatildeo muito

contraditoacuteria pois a gramaacutetica foi escrita no seacuteculo II aC mas antes de sua elaboraccedilatildeo jaacute

existiam grandes obras como Iliacuteada e A Odisseacuteia que descreviam muito bem a liacutengua sem o

uso das normas gramaticais Ao longo da histoacuteria a gramaacutetica se tornou um instrumento de

poder e de controle pois ela eacute usada para identificar o falante da liacutengua padratildeo

Para finalizar o ciclo mitoloacutegico Bagno coloca como oitavo mito ldquoO domiacutenio da norma

culta eacute um instrumento de ascensatildeo socialrdquo Se esse mito apresentasse algum vestiacutegio de

veracidade os professores de liacutengua portuguesa estariam no topo da piracircmide social fato

este bem longe de ser verdadeiro pois sabemos que os professores possuem baixos

salaacuterios Este mito aleacutem de ser linguiacutestico eacute tambeacutem social tendo em vista que para

aprendermos a liacutengua padratildeo eacute necessaacuterio condiccedilotildees de vida favoraacuteveis afinal de que

adiantaria uma pessoa ser um grande dominador da liacutengua padratildeo e viver em um lugar

isolado sem poder usar essa forma linguiacutestica Por este motivo Bagno coloca que ldquotratar da

liacutengua eacute tratar de um tema poliacuteticordquo pois segundo ele eacute necessaacuterio que haja um empenho de

todos os poliacuteticos e tambeacutem dos envolvidos na educaccedilatildeo para que discutam esse tema e

possam encontrar medidas eficazes para a melhoria das condiccedilotildees de vida das pessoas

para que todos possam ser falantes da liacutengua padratildeo e natildeo se esquecendo eacute claro das

variedades linguiacutesticas

Vale a pena destacar os meios de propagar esses mitos que na visatildeo de Bagno

trata-se de um ciacuterculo vicioso que eacute constituiacutedo pela gramaacutetica pelo ensino tradicional e

pelos livros didaacuteticos Mas como isso ocorre Primeiramente o ensino tradicional se daacute pela

inserccedilatildeo das regras gramaticais que acabam influenciando na criaccedilatildeo de livros didaacuteticos e os

autores desses livros fazem o uso das gramaacuteticas para sua elaboraccedilatildeo

Podemos incluir neste ciacuterculo outro elemento os comandos paragramaticais que se

classificam segundo Bagno como ldquotodo esse arsenal de livros manuais de redaccedilatildeo de

empresas jornaliacutesticas programas de raacutedio e de televisatildeo colunas de jornal e de revista CD-

ROMS ldquoconsultoacuterios gramaticaisrdquo por telefone e por aiacute aforardquo (idem p 76) Esses comandos

satildeo responsaacuteveis por disseminar o preconceito linguiacutestico Vale ressaltar que em se tratando

de meios proliferadores do preconceito podemos citar como exemplo tambeacutem as novelas

que muitas vezes colocam na figura de um caipira ou de uma pessoa de baixo poder

aquisitivo a parte cocircmica ou seja elas ridicularizam de certa forma um grupo de pessoas

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 45: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

45

Ensinar e aprender a norma padratildeo da liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio mas eacute preciso

acima de tudo respeitar o falar tiacutepico de cada um pois se trata de algo subjetivo e tambeacutem de

uma marca regional ou ateacute mesmo de classe social Saber lidar com essa situaccedilatildeo eacute saber

compreender a liacutengua portuguesa que em sua particularidade se tornou a liacutengua portuguesa

falada no Brasil o que a torna cada vez mais rica e importante no cenaacuterio cultural

Foi de suma importacircncia realizar este trabalho pois contribuiu muito para o meu

conhecimento natildeo apenas enquanto acadecircmica de um curso de licenciatura em Letras mas

acima de tudo por eu ser brasileira Devemos respeitar as diferenccedilas superar o preconceito e

tirar de uma vez por todas do nosso vocabulaacuterio o termo ldquofalar erradordquo pois ele natildeo existe o

que existe na realidade eacute um falar diferente que torna a nossa liacutengua rica e plural

Bibliografia

BAGNO Marcos Preconceito linguiacutestico o que eacute como se faz 49 ed Satildeo Paulo Loyola 1999

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 46: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

46

A COEREcircNCIA NA LINGUIacuteSTICA TEXTUAL

Vaney Lucia Faria Leite (AcadecircmicaLetrasUNEMAT)

Os estudos linguiacutesticos privilegiaram na investigaccedilatildeo do texto as noccedilotildees de

coerecircncia e coesatildeo Fragmentaram os textos com ecircnfase na classificaccedilatildeo de oraccedilotildees e

anaacutelise dos seus termos Uma nova abordagem no entanto encontra suporte na Linguiacutestica

Textual Dentre os trabalhos destacam-se os de Beaugrande Haliday e Hasan e os de

Charolles que serviram de base aos elaborados no Brasil por Koch Faacutevero Fiorin

Travaglia Costa Val e outros

A Linguiacutestica Textual visa a definir o texto e textualidade como um conjunto de

caracteriacutesticas que fazem com que um texto seja um texto e natildeo um amontoado de frases Os

princiacutepios da coesatildeo e coerecircncia satildeo vistos como uma unidade de sentido do texto Segundo

Maria das Graccedilas Costa Val (199l) ldquoa manifestaccedilatildeo linguiacutestica da coerecircncia adveacutem da

maneira como os conceitos e relaccedilotildees subjacentes satildeo expressos na superfiacutecie textualrdquo

A coerecircncia supotildee determinaccedilotildees linguiacutesticas mas as ultrapassa entatildeo seu limite eacute

a funcionalidade do que eacute dito os efeitos pretendidos a maneira como escolhemos esse ou

aquele jeito de dizer as coisas A coerecircncia eacute uma propriedade que estaacute relacionada com a

peccedila comunicativa por isso ela eacute em primeira matildeo linguiacutestica (ANTUNES 2005)

Isso equivale dizer que a coerecircncia do texto eacute linguiacutestica contextual extralinguiacutestica

pragmaacutetica enfim depende de outros fatores que satildeo aqueles puramente internos agrave liacutengua

Natildeo existe coerecircncia absoluta pura definida fora de qualquer situaccedilatildeo ela depende dos

sujeitos envolvidos e suas intenccedilotildees comunicativas

Por estas consideraccedilotildees supotildee-se que as relaccedilotildees entre coesatildeo e coerecircncia satildeo

estreitas e interdependentes Ou seja natildeo haacute coesatildeo que exista por si mesma Ela decorre

da proacutepria continuidade exigida no texto pois eacute a exigecircncia da unidade que daacute coerecircncia ao

texto

Existe assim uma cadeia facilmente reconheciacutevel entre continuidade unidade e

coerecircncia assim como eacute artificial separar coesatildeo de coerecircncia ou sintaxe de semacircntica por

exemplo O maacuteximo que se pode dizer eacute que a coesatildeo estaacute em funccedilatildeo da coerecircncia no

sentido de que as palavras os periacuteodos os paraacutegrafos tudo qualquer segmento se interliga

no texto para se que faccedila sentido para que ele se torne interpretaacutevel

Fica claro que a coerecircncia estaacute diretamente ligada agrave possibilidade de estabelecer um

sentido para o texto portanto ser entendida como um princiacutepio de interpretabilidade ligada agrave

inteligibilidade numa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e agrave capacidade que o receptor tem para

calcular o sentido do texto Esse sentido deve ser do todo pois a coerecircncia eacute global

47

Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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Page 47: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

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Por outro lado Charolles (1978 p 178) linguista europeu que propocircs algumas regras

de coerecircncia o faz sem se referir agrave questatildeo de coesatildeo embora inclua entre as regras de

coerecircncia determinaccedilotildees que coincidem com alguns dos recursos coesivos apontados por

outros autores O autor propotildee quatro metarregras de coerecircncia que se seguem

1ordf Metarregra de Repeticcedilatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que contenha no seu desenvolvimento linear

elementos de recorrecircncia estritardquo (idem p 182) Para assegurar essa recorrecircncia o autor

dispotildee de vaacuterios recursos como repeticcedilotildees pronominalizaccedilotildees substituiccedilotildees lexicais e elipse

2ordf Metarregra de Progressatildeo ldquopara que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente eacute preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuiccedilatildeo semacircntica constantemente renovadardquo (p183) Esta regra completa a primeira jaacute

que um enunciado para ser coerente natildeo pode simplesmente repetir indefinidamente o

proacuteprio assunto Deve-se evitar portanto a circularidade do discurso buscando-se um

equiliacutebrio entre a continuidade temaacutetica e a progressatildeo semacircntica

3ordf Metarregra de Natildeo-Contradiccedilatildeo ldquopara um texto ser (microestruturalmente e

macroestruturalmete) coerente eacute preciso que no seu desenvolvimento natildeo se introduza

nenhum elemento semacircntico que contradiga um conteuacutedo posto ou pressuposto

anteriormenterdquo (p184)

4ordf Metarregra de Relaccedilatildeo ldquopara que um texto seja coerente eacute preciso que os fatos

que ele expressa estejam relacionados entre si no mundo representadordquo (p185) Aqui o autor

mostra a importacircncia de congruecircncia para as accedilotildees estados ou eventos denotados por uma

sequecircncia ldquono tipo de mundo reconhecido por quem a avaliardquo Os fatos denotadores

percebidos como congruentes manifestam-se nas relaccedilotildees causaconsequecircncia condiccedilatildeo

oposiccedilatildeo entre outras por meio de determinados conectores

Essas metarregras de Charolles satildeo distintas nos niacuteveis macro e microestrutural e natildeo

datildeo conta sozinhas de todas as condiccedilotildees necessaacuterias para um texto ser avaliado como

bem formado

Como heranccedila de uma compreensatildeo equivocada do que seja uma liacutengua e

consequentemente do que seja a gramaacutetica Irandeacute (2005 p 187) diz que ldquocarregamos ateacute

hoje a ideia de que ldquoquestotildees de liacutenguardquo se reduzem a ldquoquestotildees de gramaacuteticardquo mais

precisamente a questotildees de certo e errado A liacutengua natildeo pode ser reduzida a essa questatildeo

Nem pode ser circunscrita a determinado campo da atividade humana Tudo passa pela

linguagem tudo tem origem na linguagem isto eacute no discursordquo

Segundo a autora (idem p 190) todos de alguma forma podem se beneficiar com o

fato de conhecerem os diferentes recursos ou as diferentes estrateacutegias que satildeo usadas em

um texto e de saberem quais os efeitos possiacuteveis provocados por esses recursos e

estrateacutegias

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

53

Page 48: COLETÂNEA NOSSOS ESCRITOS - unemat.br · entre o que será ensinado e o aluno, mas o que será ensinado deverá sempre levar em conta a realidade em que o aluno está inserido, pois

48

A linguagem natildeo eacute somente um reflexo determinado do mundo natildeo eacute apenas uma

manifestaccedilatildeo exterior de um pensamento iacutentimo preacute-elaborado A linguagem informa torna

possiacutevel e produz algumas espeacutecies de pensamento Ao escrevermos fazemos da linguagem

nossa conquista maior combinando as impressotildees dos sentidos a vivecircncia pessoal e o

pensamento criacutetico

Bibliografia ANTUNES Irandeacute Lutar com palavras coesatildeo e coerecircncia Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005 KOCH I V ELISAVanda Maria Ler e escrever estrateacutegias de produccedilatildeo de textual Satildeo Paulo Contexto 2009 KOCH I V TRAVAGLIA Luiz Carlos A coerecircncia textual 17 ed 2ordf reimpressatildeo Satildeo Paulo Contexto 2008 COSTA VAL Maria das G Redaccedilatildeo e textualidade Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

49

UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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UM ESTUDO SOBRE A GIacuteRIA NA LINGUAGEM DOS JOVENS

Wellington Oliveira de Souza (AcadecircmicoLetrasUNEMAT)

Este texto discute a questatildeo da giacuteria um fenocircmeno da linguagem usado por jovens e

adultos de diferentes classes sociais

A giacuteria segundo Gurgel (1984 p 13) ldquoconstitui-se no componente mais importante do

modismo linguiacutestico por possuir maior peso e contribuiccedilatildeo do maior nuacutemero de palavras

frases expressotildees ou alocuccedilotildees para a linguagem usualrdquo O modismo linguiacutestico representa

uma das variaacuteveis mais significativas da liacutengua nacional agrupando as variaccedilotildees da

linguagem usual como se fossem da linguagem padratildeo

Durante muito tempo a giacuteria foi considerada como regionalismo ou viacutecio de

linguagem pois a mesma se identifica com mais facilidade na linguagem oral que na escrita

havendo assim uma socializaccedilatildeo entre os que a falam A giacuteria derivada de contribuiccedilotildees

variadas da liacutengua comum tornou-se um recurso disponiacutevel para que as pessoas pudessem

se comunicar e se entender de forma mais direta mais simples mais ousada etc facilitando

assim a compreensatildeo de signos e significados de maneira linear e objetiva

Segundo Cardona (1991 p 159) ldquoa giacuteria eacute uma variedade linguiacutestica compartilhada

por grupo restrito (por idade ou ocupaccedilatildeo) que eacute falada para excluir da comunicaccedilatildeo as

pessoas estranhas e para reforccedilar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupordquo

Para Luft (1973 p 91) ldquoa giacuteria eacute em sentido lato a linguagem especial de um grupo social

ou classe profissional em sentido restrito a linguagem particular de um grupo ou classe

profissional de um grupo caracterizado por deformaccedilotildees intencionais criaccedilotildees anocircmalas

transformaccedilotildees semacircnticas de caraacuteter burlesco jocoso ou depreciativordquo

Rocha Lima (1978 p 5) conceitua a giacuteria como ldquoa liacutengua especial de uma profissatildeo

ou ofiacutecio de um grupo socialmente organizado quando implica por sua vez educaccedilatildeo

idiomaacutetica deficienterdquo

A partir desse quadro perguntamos como e quando a giacuteria ocorre Tratando-se de

um vocabulaacuterio a giacuteria ocorre quando determinado grupo (para manter a identidade do

mesmo) cria palavras ou seja cria variantes da liacutengua falada para serem usadas em

determinados momentos e situaccedilotildees e com determinado sentido dentro do grupo Mas a

partir do momento em que essas palavras saem desse grupo e passam a circular na

sociedade tornam-se ldquogiacuterias comunsrdquo pois agora elas estatildeo expostas a toda sociedade e

mesmo sendo criticadas satildeo vistas por alguns como liacutengua de malandros Ou seja a giacuteria

passa a fazer parte da linguagem comum sendo usada ateacute mesmo por aqueles que a

criticam

50

A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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A partir do momento em que a giacuteria passa a fazer parte da sociedade ela passa a

ser usada a todo o momento por todos

Para Simone Nejaim Ribeiro (2005)

a liacutengua do adolescente natildeo eacute giacuteria porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo a fim de incorporaacute-las a ele Todavia natildeo deixa de ser giacuteria por enquanto fora do universo do adolescente seus falantes adotam a liacutengua geral A linguagem do adolescente eacute um caso particular de linguagem especial pois conteacutem caracteriacutesticas da giacuteria mas ao mesmo tempo se insere nas relaccedilotildees comunicativas com a liacutengua comum

Vejamos um exemplo do uso de giacuterias em ldquoPapordquo de um adolescente ao

telefone

Qual eacute cara beleza Vocecirc natildeo sabe da maior Chamei um camarada meu que estaacute na maior relaccedilatildeo com o pai para uma night forte Como ele estaacute encoleirado resistiu um pouco mas acabou topando Quando chegamos no agito ele ficou empolgadaccedilo porque estava moacuteccrowd [] (BANHARO Viviane 1998)

Qual a relaccedilatildeo da giacuteria com a linguagem Sendo um fenocircmeno linguiacutestico seus

estudos satildeo tratados na aacuterea da sociolinguumliacutestica A giacuteria aparece na linguagem como

instrumento fundamental para um melhor entendimento na comunicaccedilatildeo Ao associarmos

liacutengua e sociedade logo recorremos agrave aacuterea dos estudos sociolinguiacutesticos que analisa os

diferentes falares da sociedade ou seja as variaccedilotildees da estrutura linguiacutestica

Para Rocha Lima (1978 p 5)

a giacuteria atinge a fraseologia e especialmente o vocabulaacuterio jaacute pela criaccedilatildeo de palavras jaacute por se atribuiacuterem novos valores semacircnticos aacutes existentes Frequumlentemente a serviccedilo da expressividade ela se insinua na linguagem familiar de todas as camadas sociaisrdquo As giacuterias satildeo palavras que de tempos em tempos entram e saem da moda e um dos fatores que contribuem para o surgimento e o desaparecimento de novas palavras satildeo os meios de comunicaccedilatildeo como a televisatildeo a musica etc []

Vejamos algumas giacuterias que jaacute foram usadas em diferentes deacutecadas e que hoje natildeo satildeo mais usadas

Giacuteria dos anos 40 Brotinho (menina) ndash coqueluche (assunto do momento)

Giacuteria dos anos 50 Bafafaacute (confusatildeo) ndash uva (mulher bonita)

Giacuteria dos anos 60 Carango (carro) - paca (muito)

Giacuteria dos anos 70 Bicho (amigo) ndash tutu (dinheiro)

Giacuteria dos anos 80 Bode (mau humor) ndash mina (garota)

51

Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

52

GURGEL J B Serra e Dicionaacuterio de giacuteria modismo linguiacutestico o equipamento falado do brasileiro Rio de Janeiro Graacutefica MEC Editora LTDA 1984

LIMA Carlos Henrique da Rocha Gramaacutetica normativa da liacutengua portuguesa 19 ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978

PERINI Maacuterio A A liacutengua do Brasil amanhatilde e outros misteacuterios Satildeo Paulo Paraacutebola 2004

RECTOR Mocircnica A linguagem da juventude uma pesquisa geosociolinguiacutestica Petroacutepolis Vozes 1975

RIBEIRO Simone Nejaim A liacutengua do adolescente linguagem especial ou giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbrixcnlf1204htm Acesso em 200809

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Giacuteria dos anos 90 Antenado (atento) ndash azaraccedilatildeo (namoro) A partir daiacute para termos um melhor entendimento lembremos de

Perini (2004 p11-12) que diz ldquoa nossa liacutengua estou convencido natildeo estaacute em perigo de

desaparecimento muito menos de mistura Por outro lado (e natildeo eacute possiacutevel agradar a todos)

acredito que nossa liacutengua estaacute mudando e certamente natildeo seraacute a mesma dentro de vinte

cem ou trezentos anosrdquo

Podemos entatildeo depois de ter lido Perini nos tranquilizar em relaccedilatildeo

agraves giacuterias pois essas variaccedilotildees na liacutengua satildeo consideradas normais Natildeo se pode

mais dizer que a giacuteria eacute liacutengua de malandros pois ela passou a fazer parte da liacutengua cotidiana

das pessoas A giacuteria sai do grupo que a criou vai para sociedade e por fim desaparece ou

volta para o lugar de onde surgiu

A pesquisa que desenvolvi para a elaboraccedilatildeo deste trabalho foi muito importante para

ampliar o meu conhecimento sobre a linguagem Falar sobre giacuteria eacute um assunto que como

muitos outros passa despercebido mas em se tratando de qualquer assunto mesmo que

natildeo fosse uma questatildeo da liacutengua haacute sim a necessidade de conhececirc-la e estudaacute-la

Durante as minhas leituras pude compreender a giacuteria e observar o seu

funcionamento e seus efeitos Este fenocircmeno linguiacutestico que estaacute presente na linguagem de

todas as pessoas e principalmente dos jovens (lembrando que a linguagem dos jovens eacute um

caso especial de liacutengua mas que natildeo deixa de ser giacuteria) eacute uma variaccedilatildeo que sempre estaraacute

presente na liacutengua pois a todo momento usa-se giacuteria para facilitar a comunicaccedilatildeo entre os

falantes

Enfim o estudo sobre a giacuteria na linguagem dos jovens fez-me ver que essas

variaccedilotildees na liacutengua satildeo um processo natural e que isso sempre estaraacute acontecendo pois

nada permanece e com a liacutengua natildeo seria diferente Tudo muda

Bibliografia

BEZERRA Maria Auxiliadora MAIOR Ana Christina Souto BARROS Antonio Claudio da Silva A giacuteria do registro coloquial ao registro formal Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivciv03_37-51html Acesso em 120809

CARDONA Giorgio Raimondo Diccionario de linguiacutestica Barcelona Ariel 1991

DANNEMANN Fernando Kitzinger Giacuteria Disponiacutevel em httpwwwfernandodannemannrecantodasletrascombrvisualizarphpidt=690913 Acesso em 120809

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