evolução psicológica da criança dos 0 aos 5 anos

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1 CURSO CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE AUXILIARES DE INFÂNCIA AS EMOÇÕES, OS SENTIMENTOS E A EVOLUÇÃO PSICOLÓGICA DA CRIANÇA DOS 0 AOS 5 ANOS ALEXANDRA GOMES ABRIL 2009

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Material de Psicologia sobre o desenvolvimento da criança até aos 5 anos.

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CURSO CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE AUXILIARES DE INFÂNCIA

AS EMOÇÕES, OS SENTIMENTOS E A

EVOLUÇÃO PSICOLÓGICA DA CRIANÇA DOS 0 AOS 5

ANOS

ALEXANDRA GOMES

ABRIL 2009

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Desenvolvimento Intra-Uterino

Gravidez: Período que vai da concepção ao nascimento. Na

concepção dá-se a fertilização de um óvulo por um espermatozóide e

a subsequente implantação do óvulo, a que se dá o nome de ovo.

Este dá origem à placenta e ao embrião (que passará a chamar-se

feto após as 8 semanas de gestação).

A gravidez dura entre 38 a 42 semanas contadas desde o 1º dia da

última menstruação e divide-se em 3 trimestres.

1º Trimestre (0 – 12 semanas)

Período em que o bebé é mais vulnerável.

Formam-se as principais estruturas dos órgãos.

2º Trimestre (13 – 28 semanas)

Entre a 18ª e a 20ª semana, a maioria das grávidas sente o bebé

mexer.

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3º Trimestre (29 – 40 semanas)

Os órgãos do feto amadurecem preparando-se para o nascimento.

Exames do Recém-Nascido

Teste APGAR

Teste que visa avaliar a vitalidade e a maturidade do bebé no 1º e no

5º minutos de vida, através de cinco critérios que podem ser cotados

com valores compreendidos entre o 0 e o 2. Os critérios avaliados

são:

• Ritmo cardíaco

• Respiração

• Actividade muscular

• Irritabilidade reflexa (beicinho e choro)

• Cor da pele

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Bebés com cotações entre 4 e 7 exigem maior vigilância.

Bebés com cotação inferior a 4 provavelmente necessitaram de

reanimação.

Exame das ancas

Este exame é muito importante pois detecta malformações na zona

que, se não corrigidas precocemente provocam deficiências físicas

permanentes.

Tamanho

O comprimento de um bebé de termo situa-se entre os 48 e os 50

cm, sendo os bebés do sexo masculino maiores em média do que os

de sexo feminino.

Peso

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A maioria dos bebés de termo em Portugal nasce com pesos situados

entre os 2.500 gr e os 4.000gr. Pesos inferiores a 2.500gr são

considerados bebés de baixo peso e necessitam de vigilância e

provavelmente incubadora.

Exame Neurológico

• Reflexo de sucção

• Reflexo de agarrar

• Reflexo de marcha

• Reflexo de Moro

Teste do Pezinho

Permite detectar algumas doenças congénitas como a fenilcetonúria e

do hipotiroidismo. Estas doenças, quando não detectadas a tempo,

coloca a saúde do bebé em risco.

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A Evolução do Desenvolvimento Normal

Quando falamos em desenvolvimento da criança falamos em três questões fundamentais:

1) O que é mais importante, a hereditariedade ou o meio?

Em relação a esta questão podemos afirmar com algum grau de certeza que cada criança é o produto da interacção entro o "herdado" e o ambiente.

2) O desenvolvimento é activo ou passivo?

Actualmente acredita-se na criança como um ser activo, que desencadeia o seu próprio desenvolvimento; as influências ambientais não causam o desenvolvimento, apesar de o poderem acelerar ou retardar.

2) O desenvolvimento é contínuo ou ocorre em estádios?

Alguns teóricos afirmam que o desenvolvimento é contínuo pois focalizam a sua atenção na mudança quantitativa (por exemplo, preocupam-se mais com a frequência de determinada resposta do que nas alterações do tipo de resposta). Contudo, os teóricos actuais consideram mais importante as modificações qualitativas, que ocorrem numa série de estádios diferentes, como degraus subindo de um nível para o outro, com paragens em cada patamar, em vez de ser gradual e contínuo, como numa rampa. Cada estádio é construído a partir do anterior e prepara o caminho para o seguinte. Em cada estádio, os indivíduos lidam com diferentes tipos de problemas e desenvolvem diferentes tipos de capacidades.

Os estádios são universais, ou seja, todas as crianças, independentemente do seu país de origem, atravessam a mesma sequência de estádios; contudo o seu exacto momento no tempo pode variar.

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É impossível definir qual é o processo normal do desenvolvimento. Tudo o que se pode dizer é que quanto mais afastado estiver uma criança da normalidade, em qualquer parâmetro do desenvolvimento, menos possibilidades tem de ser normal.

Alguns Marcos

Sorrir 3 dias até cerca das 7 semanas

Sentar-se sem apoio 5 meses a 1 ano

Andar sem ajuda 8 meses a 4 anos

Controlo da micção 15 meses a 10 anos

Falar, dizer frases 10 meses a 5 anos

Teorias do Desenvolvimento

A Primeira Abordagem de Freud

Freud escreveu a sua primeira obra sobre o desenvolvimento da

criança em 1905, uma altura em que as opiniões gerais afirmavam

que a criança, na sua evolução, se limitava a reagir passivamente a

estímulos e influências exteriores.

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Para o senso comum, a criança era vista como marcada pelo

pecado original ou então como um ser semi-angelical, que a natureza

fizera boa mas que o contacto com a sociedade degenerava a maior

parte das vezes.

Freud foi o primeiro a reconhecer que o desenvolvimento

normal da criança é condicionado pela hereditariedade e pelas

interacções com o meio ambiente. Esse desenvolvimento é feito por

fases ou patamares. Quando uma determinada fase de integração é

alcançada, essa fase vem sobrepor-se a uma fase anterior de

organização mais simples e automática. A nova fase de organização,

embora mais adaptada ao ambiente ou às necessidades próprias, é

também mais frágil, podendo, face a alguma dificuldade, ser

abandonada para voltar ao anterior funcionamento.

Freud viu na criança uma organização dinâmica unitária, um

conjunto de tendências que se procuram harmonizar entre si e com o

meio ambiente, numa adaptação sempre variável. A essas tendências

que a criança traz consigo ao nascer, chamou de instintos, e

considerou-as animadas de uma energia própria.

Os instintos sexuais para Freud distinguem-se por um conjunto

de características:

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1. têm uma existência independente de outras variedades de

instintos (na prática aparecem nas neuroses e nas perversões

sexuais);

2. são plásticos. No início encontram no próprio corpo a sua

satisfação e com o evoluir ligam-se geralmente a um objecto

exterior;

3. são influenciáveis por factores externos ou internos;

4. fazem a sua primeira aparição na infância;

5. os instintos sexuais são animados por uma energia, a libido.

Existem 5 estádios desenvolvimentais:

1. 1º estádio – oral (1º ano de vida)

Uma das manifestações mais típicas da sexualidade infantil é a

sucção ou “chuchar” no dedo. No ser humano são os órgãos ligados

às funções vitais essenciais que actuam secundariamente como

fontes de prazer sexual. Inicialmente terá sido o afluxo de leite

materno quente que terá provocado a sensação de prazer labial do

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bebé. Criou-se então uma autonomia do prazer em relação à

alimentação e à satisfação digestiva (dissociação entre função vital e

prazer sexual).

2. 2º estádio – anal (até aos 3 anos de idade)

Mais tarde as actividades auto-eróticas vão apoiar-se noutra

função fisiológica importante relacionada com a zona anal. A criança

que no início se deverá sentir apenas aliviada pela evacuação do

intestino, passará a usar em certa altura a retenção das matérias

fecais para obter também um prazer especial. Estas, depois de

adquirirem maior volume e solidez produzem ao atravessar o orifício

anal uma dilatação e contracção musculares que provocam grande

excitação.

3. 3º estádio – fálico (até aproximadamente os 6 anos de

idade)

Dá-se o Complexo de Édipo, em que a criança está identificada

com o progenitor do mesmo sexo, tomado como rival, e deseja

possuir o progenitor do sexo oposto. Este estádio é resolvido pelo

Complexo de Castração.

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4. 4º estádio – latência (até aproximadamente os 12 anos de

idade)

O desenvolvimento sexual sofre paragem ou regressão devido

ao recalcamento provocado pelo Complexo de Castração.

5. 5º estádio – genital

Ao dar-se a maturação sexual da puberdade, o Complexo de

Édipo será de novo reactivado brevemente para ser depois de novo

recalcado ou eliminado. A partir desta reactivação pubertária e

subsequente renúncia, se inicia a verdadeira vida amorosa do adulto,

com o abandono definitivo dos objectos sexuais da infância.

Teoria do Desenvolvimento da Personalidade de Erik Erikson

Segundo este autor a personalidade constrói-se devido à ”luta

interna” entre a:

• Necessidade de desenvolver um sentimento de autonomia como

indivíduo Vs sentimento de dependência em relação aos outros

e dúvidas de si próprio;

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• Necessidade de iniciativa no empreendimento de acções Vs

sentimentos de culpa pelo seu comportamento e preocupação

com a capacidade para exibir as suas habilidades.

AUTOMINA Vs DÚVIDA DO EU (2-4 ANOS)

Reflecte-se através de:

1) Negativismo (Só agem à sua maneira; não aceitam as ordens

dadas pelos adultos).

2) Dependência

Existem 3 factores que contribuem para a insegurança e

manutenção da dependência:

1) A não criação de afeição adequada durante os dois primeiros

anos de vida;

2) A falta de coerência na disciplina imposta pelos pais;

3) As ameaças de “não gostarem mais” da criança.

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INICIATIVA Vs CULPA (4-5 ANOS)

É a procura da independência a partir dos 4/5 anos. Já querem

ser autónomos no vestir, lavar, comer; etc. É necessário incentivar

essa autonomia para não provocar conflitos e explosões

emocionais.Se os pais encorajarem a independência e aplaudirem, a

criança sentirá pouca culpa; se propuserem tarefas acima das

capacidades da criança estarão a proporcionar sentimentos de culpa

devido ao fracasso.

DILIGÊNCIA Vs INFERIORIDADE (6-12 ANOS)

As crianças descobrem o prazer de criar algo (a sua diligência).

Se não encontrarem aquilo em que são bons desenvolvem

sentimentos de inferioridade.

ESTABELECIMENTO DE IDENTIDADE (ADOLESCÊNCIA)

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• Contentamento em relação a atributos físicos, intelectuais e

emocionais;

• Senso de propósito e objectivo;

• Antecipação do reconhecimento dos outros.

Teoria do Desenvolvimento de Piaget

Segundo Piaget a criança desenvolve-se através da interacção

sensorial e motora com fontes de estimulação do meio ambiente.

Para este autor, o desenvolvimento cognitivo faz-se por estádios.

ESTÁDIO SENSÓRIO-MOTOR

• 1 (0-1 MÊS) – REFLEXOS

As reacções do bebé são reflexos naturais. Através da

modificação desses reflexos o bebé evolui para o segundo estádio de

desenvolvimento cognitivo sensório-motor.

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• 2 (1-4 MÊS) – REACÇÕES CIRCULARES PRIMÁRIAS

Os bebés tendem a encontrar novas experiências por meio das

suas acções e repetem-nas, tendo prazer nas suas próprias acções. A

motivação é interna e não externa.

• 3 (4-8 MESES) – REACÇÕES CIRCULARES SECUNDÁRIAS

Este estádio é caracterizado pela passagem do total interesse

em si próprio e nas suas acções para um interesse pelas

características e acções de outros objectos que não eles.

• 4 (8-12 MESES) – COORDENAÇÃO SEQUENCIAL DE

ESQUEMA

O quarto estádio da cognição sensório-motora é caracterizado

pela emergência de comportamentos que refletem a percepção do

bebé da relação entre meios e fins.

• 5 (12-18 MESES) – REACÇÕES CIRCULARES TERCIÁRIAS

Caracteriza-se pela emergência da verdadeira exploração por

ensaio e erro.

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ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO (2-6 ANOS)

• Representação simbólica de objectos e eventos

1) Concretização >> realismo

2) Egocentrismo

3) Animismo

4) Centração

• Não percebem a conservação

• Dominância perceptual

• Atenção a estados e não à transformação

• Irreversibilidade

ESTÁDIO OPERATÓRIO CONCRETO (6-12 ANOS)

• Capacidade para perceber que os outros podem ter pontos de

vista diferentes do da criança.

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• Conseguem realizar operações com base em situações e objectos

concretos.

ESTÁDIO OPERATÓRIO FORMAL (>12 ANOS)

• Capacidade para considerar tanto as realidades com que

entramos em contacto como com as que podem ou não

existir fisicamente.

• O pensamento formal permite a conceptualização de

abstracções e de eventos concretos.

• Raciocínio dedutivo hipotético

• Combinação de todas as combinações e permutações de

eventos

• Consideração simultânea de mais de um aspecto de uma

situação e os relacionamentos entre eles.

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Desenvolvimento da Personalidade

Stella Chess e Alexander Thomas definiram 3 categorias:

• Crianças fáceis

São positivas na aproximação às situações e regulares nos seus mecanismos biológicos (dormir, comer, etc.). Adaptam-se a qualquer técnica parental.

• Crianças difíceis

Encontram dificuldades na adaptação a novas situações e têm atitudes negativas e destruidoras quando têm que se adaptar. Depois de se adaptarem funcionam bem. O ambiente destas crianças deve ser altamente estruturado, com regras rígidas e muita rotina.

• Criança de aquecimento lento

Tal como as difíceis, também não se adaptam facilmente às novas situações. Contudo não têm comportamentos negativos nem destruidores, apenas se afastam das situações novas. O ambiente deve ser estruturado com aproximações lentas á situação de forma a facilitar a sua adaptação.

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Afeição

O que é?

A Afeição é a tendência da criança para procurar e tentar manter um relacionamento físico íntimo com uma outra pessoa.

Pré-requisitos para o desenvolvimento da afeição (Yarrow):

1. os bebés precisam estabelecer que são distintos do ambiente que os cerca (estabelecido após 4 semanas do nascimento)

2. precisam discriminar as pessoas às quais se afeiçoarão

3. precisam desenvolver expectativas específicas daqueles aos quais se afeiçoarão (é necessário regularidade no comportamento das pessoas e capacidade cognitiva do bebé de prever eventos com base nas ocorrências passadas)

4. precisam desenvolver fé e confiança naqueles a quem se afeiçoam

Nota: É necessário dar ênfase às técnicas parentais utilizadas nos pontos 3) e 4).

Níveis de Afeição

Afeição segura

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Bebés deixam a pessoa pela qual sentem afeição de forma a explorarem novas experiências durante um curto espaço de tempo.

Protestam um pouco quando forçados à separação mas depressa se adaptam à situação e manifestarão contentamento calmo.

Afeição insegura

Choram intensamente, mesmo quando mantidos no colo.

Muitas vezes choram quando desejam aconchego mas quando postos ao colo, afastam-se das pessoas a quem se afeiçoam e manifestam extremos de protestos quando separados.

Desafeição

Não mostram preocupação pela presença dos outros.

Ignoram as pessoas quando se encontram presentes e não mostram ansiedade quando se afastam.

Não desenvolvem laços interpessoais.

Factores que Influenciam a Afeição

Relações pais - filhos

a. resposta às necessidades dos bebés

b. períodos de tempo dispendido

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“Amas” múltiplas

c. não interferem no desenvolvimento da afeição por parte dos bebés quando a qualidade do relacionamento é boa.

Consequências da Afeição

• Ansiedade do estranho

Aparece entre os 6 e os 9 meses, com o pico aos 7 meses, pois é quando surge a afeição específica e o medo do desconhecido.

• Ansiedade de separação

Surge entre os 10 e os 24 meses, com pico entre os 13 e os 18, consiste em grande ansiedade, choro e acessos de “mau génio” que ocorrem quando as crianças são separadas ou se apercebem da separação da mãe.

Factores que influenciam:

1. Tipo de afeição

2. Ambiente

3. Proximidade da pessoa a quem se afeiçoou

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Socialização

• Recreação paralela

A criança de 2 anos adora brincar na companhia das outras mas brincam separadas. É inútil nesta idade tentar que brinquem na mesma brincadeira.

• Recreação associativa

A partir dos 3 anos as crianças brincam em grupos. Embora pareça que estão empenhadas na mesma tarefa e apesar de estarem a brincar com os mesmos materiais, estão a brincar de maneiras diferentes. Isto deve-se ao “contágio comportamental” – uma criança brinca com um determinado brinquedo e logo todas as outras também quererão brincar com ele.

• Recreação cooperativa

A partir dos 4 anos as crianças brincam em acções coordenadas. A partir desta idade podem-se iniciar os jogos com regras e tempos de espera pois as crianças já têm alguma capacidade para os compreender.

Agressão

Antes dos 4 anos as crianças são fisicamente agressivas. Posteriormente são-no verbalmente.

A melhor forma de lidar com ela é tentando canalizá-la para actividades lúdicas.

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Problemas de Ajustamento

Fontes:

� Escola

� Pais

� Relacionamentos sociais

Tipos:

� Agressão

� Retraimento

� Regressão

� Sintomas físicos

Birras

A criança manifesta a sua luta e oposição aos adultos através de inúmeras birras. Perante estas birras deve-se tomar uma atitude moderada: não deixar que a criança leve sempre a sua avante pois dificilmente superaria esta crise, nem frustrá-la sistematicamente pois poderá ficar com um carácter débil e muito dependente dos outros.

Como ajudar a criança ciumenta

•Se vai nascer um bebé, há que falar dele, preparando as crianças para a nova situação.

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•Os pais nunca devem ocultar as suas manifestações de carinho para com os filhos de amigos ou parentes na presença dos seus próprios filhos, ainda que estes se mostrem ciumentos.

•É importante saber que numa criança sempre afectuosa, a ausência total de reacção perante o nascimento de um irmão é um indício de inibição emocional mais do que aceitação. Pode ser motivo de consulta.

•Há que desconfiar de reacções de indiferença ou solicitude excessivas. Os educadores devem estar preparados para qualquer mudança de atitude.

•Não se deve perder a ocasião de elogiar a criança pelos progressos e bons resultados próprios da sua idade, recompensando-a com abundantes palavras, mimos e prendas ocasionais.

•Tente desviar a agressividade para objectos inanimados, permitindo até alguma pequena destruição sem importância. Evite, na medida do possível, o castigo.

•Deixe que os comportamentos regressivos sigam o seu caminho até que a criança os abandone por si só. Nunca faça troça dela.

Práticas Educativas

AUTORITÁRIO

Caracterizada por atitudes de restrição e controlo, centralizando a aprendizagem no respeito pela autoridade parental. O clima afectivo é frio, distante e baseado em relações emocionais ameaçadoras, tendendo os indivíduos a ser conformistas .

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PERMISSIVO

A disciplina, utilizada pouquíssimas vezes, é inconstante e imprevisível. Normalmente todos os desejos são satisfeitos, sendo os indivíduos caracterizados, de modo geral, por determinada insegurança e egoísmo.

NEGLIGENTE

As expressões de afecto e de autoridade são variáveis, dependendo do humor dos pais. As regras de comportamento são pouco claras e muitas vezes ilógicas. Os indivíduos manifestam muita hostilidade e agressão anti-social directa.

AUTORITÁRIO-RECÍPROCO

As expectativas e fronteiras de acção estão bem delimitadas. Punição e recompensa têm sempre em conta o factor afectivo. O diálogo é fomentado, denotando-se normalmente indivíduos auto-confiantes, auto-controlados, responsáveis e geralmente extrovertidos.

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Alterações Ambientais

Divórcio

Uma separação provoca grande tensão. É necessário saber lidar com as crianças dependendo das etapas em que se encontram.

Acima de tudo é importante:

1. não dramatizar,

2. não recorrer logo a ajuda especializada (pode não haver necessidade) a não ser que hajam sintomas graves e recorrentes como regressões, agressividade continuada, etc.,

3. falar com os pais de maneira a evitar o uso da criança como “arma” contra o outro,

4. continuar a rotina diária, pedindo a ambos os pais que não se afastem da criança.

0 – 1 Ano

O bebé necessita:

• alimentação

• mimo

• vínculo precoce

• estimulação sensorial e intelectual.

O bebé não se apercebe da ruptura mas pode viver o seu impacto através da forma como a mãe e o pai reagem à separação. Nos casos extremos em que nenhum dos pais tem alento para se

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ocupar do bebé, este pode ficar afectado. Nesse caso é preferível procurar ajuda ou alguém que temporariamente os substitua.

1 – 2 Anos

A criança necessita de se sentir segura para poder explorar o mundo que a rodeia. É pois prejudicial um ambiente de hostilidade e de discussões violentas.

2 – 3 Anos

É o período de transição entre o estado de bebé e a verdadeira infância. É a idade em que as crianças estão particularmente vulneráveis aos choques psicológicos, mais aptas a reacções extremas. Podem ter acessos de cólera súbitos, grande amplitude de humores e podem desatar a chorar facilmente. São muito exigentes e querem que tudo aconteça à sua medida.

A melhor forma de lidar com elas poderá ser tentando explicar, numa linguagem que entendam, estabelecer regras e dar-lhes oportunidades de exteriorizar os seus estados de espírito e toda a agressividade através de jogos (corridas, lutas de almofadas) e desenhos.

NOTA: Quanto mais irritantes estiverem, mais ajuda estão a pedir.

3 – 5 Anos

As crianças tornam-se mais equilibradas mas mais complexas. Passam a exprimir-se melhor e a verbalizar mais os seus sentimentos. A sua auto-confiança será cultivada em função da sua relação com os outros.

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São particularmente sensíveis ao divórcio e à morte e correm o risco de fazerem regressões comportamentais. Nesta idade culpabilizam-se pela separação dos pais. É pois necessário deixá-los falar livremente e explicar-lhes que apesar dos pais já não gostarem um do outro, continuam a amá-los.

6 – 11 Anos

Período da descoberta da escola e dos amigos. No entanto, o modelo que continua a prevalecer é o dos pais.

Pode haver quebra do rendimento escolar, falta de apetite e insónias.

Deve-se encorajar a criança a exprimir os seus sentimentos e nunca destruir a imagem de um dos pais. O contacto com ambos os pais deve ser constante.

11 – 13 Anos

O anúncio da separação pode deixá-los profundamente abatidos ou indiferentes mas qualquer uma das reacções equivales a grande sofrimento.

Deve-se tentar encontrar a ternura que se encontra debaixo da agressividade e manter a calma e compreensão.

Adolescência

Nesta fase, os adolescentes cedem facilmente às pressões do grupo, principalmente se em casa não houver um clima de amor e atenção.

É necessário ter atenção aos substitutos químicos do amor.

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Luto

Para muitas crianças entre os 3 e os 5 anos, a morte é um estado temporário que pode acabar espontaneamente ou tomando algum remédio. A noção de que a morte é universal, ou seja, de que todos os seres vivos morrem, só está presente por volta dos 7 anos. Por isso:

• não se deve esconder a morte de alguém querido pois a criança pode interpretar o “abandono” com culpa;

• deve-se responder com sinceridade e de forma concreta às perguntas das crianças acerca da morte, utilizando uma linguagem que elas entendam;

• deve-se explicar que doença e morte são coisas diferentes e que geralmente as pessoas doentes curam-se;

• deve-se explicar que a morte é o fim de um ciclo de vida e que geralmente morre-se quando já se é velhinho;

• dar oportunidade às crianças de ver que o mesmo acontece com os animais e com as plantas para entenderem melhor;

• não esconder a tristeza e demonstrar que não faz mal mostrar que se está triste,

• evitar que as crianças estejam nos funerais;

• mostrar que compreendemos aquilo que sentem e que não estão sozinhas.

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Psicopatologia Infantil: Alguns dos Distúrbios Mais Comuns

Os jardins-de-infância permitem detectar alguns problemas que nos preocupam e que podem ter consequências nefastas para o futuro da criança. É por isso exigido às educadoras e auxiliares uma atenção e dedicação redobradas, sendo importante o conhecimento de alguns sinais de alarme para que seja possível a intervenção atempada de profissionais especializados como médicos, psicólogos ou terapeutas. Estas indicações não são diagnósticos mas sim alertas para casos que mereçam atenção e para desdramatizar situações passageiras e episódios únicos que não necessitem de intenso investimento.

Distúrbio de Lateralização

Este distúrbio enquadra-se na psicopatologia das condutas motoras.

A lateralidade refere-se ao uso preferencial de um dos membros (esquerdo ou direito) em detrimento do outro.

A preferência lateral inicia-se por volta dos ¾ anos.

As causas das perturbações da lateralidade podem ser:

• motora ou neurológica;

• social (por exemplo quando se força uma criança esquerdina a escrever com a mão direita);

• psicológica.

Os sintomas podem ser:

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• a criança não sabe que mão escolher, é desajeitada;

• faz umas actividades com uma mão e outras com a outra mão;

• não sabe qual é a esquerda ou a direita.

Consequências:

• dificuldade no reconhecimento da esquerda – direita;

• a criança não adquiriu direcção gráfica;

• a criança forma as letras e os números em “espelho”;

• dificuldade na discriminação visual.

Quando a lateralidade não está definida podemos:

• deixar a criança livre no que respeita á sua escolha para as actividades habituais;

• as dificuldades devem ser bem exploradas antes de favorecer na criança a utilização de uma das mãos;

• realizar exercícios para trabalhar a lateralização como exercícios de percepção do lado dominante ou do membro dominante (jogos de lateralidade); apresentar diferentes exercícios do eixo simétrico do corpo, trabalhando gesto por gesto ao espelho; exercícios de formação de bonecos, com encaixe de membros do lado esquerdo e direito; etc.

Tartamudez (Gaguez)

É um distúrbio de comunicação caracterizado por uma perturbação na fluência e padrão temporal normais da fala, inapropriado à idade do indivíduo.

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Aparece entre os 2 e os 7 anos de idade com um pico aos 5 anos, desaparecendo normalmente na adolescência.

Quando existe deve-se:

• pedir á criança para falar pausadamente;

• não demonstrar pressa nem acabar as palavras ou frases da criança;

• evitar mostrar ou provocar ansiedade.

Défice de Atenção e Hiperactividade

É um distúrbio caracterizado por 3 características essenciais que aparecem antes dos 7 anos de idade e em mais do que um contexto (por exemplo, em casa e na escola):

1. Desatenção

Problemas relacionados com o alerta, a activação, a selectividade, a manutenção da atenção, a distratibilidade ou com o nível de apreensão. Por exemplo, a criança distrai-se facilmente, é incapaz de se concentrar, perde frequentemente as coisas, muda frequentemente de actividade, não ouve o que se lhe diz, não termina as tarefas, evita ou antipatiza com tarefas que exijam esforço mental constante (como os deveres de casa), é facilmente distraída por estímulos alheios à tarefa.

2. Impulsividade

Fracasso na inibição de comportamentos. São crianças menos pró-sociais, menos socializadas, menos competentes em lidar com os impulsos agressivos, menos capazes de inibir impulsos motores, de adiar a gratificação e de resistir á tensão. Dão frequentemente respostas precipitadas antes das perguntas terem sido completadas; têm dificuldade para aguardar a sua vez,

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frequentemente interrompem ou metem-se nos assuntos dos outros.

3. Hiperactividade

As crianças apresentam graus superiores de actividade a nível motor e vocal. Mexem permanentemente as mãos e as pernas, têm grande dificuldade em estar quietas ou simplesmente em descansar e exibem estes movimentos em momentos desajustados.

Exemplos:

• Frequentemente agita as mãos ou os pés ou remexe-se na cadeira;

• Frequentemente abandona a sua cadeira na sala de aula ou noutras situações nas quais se espera que permaneça sentado;

• Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado;

• Com frequência tem dificuldade em brincar ou desenvolver actividades de lazer em silêncio;

• Está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”;

• Frequentemente fala em demasia.

Deficiência Mental

Este distúrbio caracteriza-se por:

• Enfraquecimento das funções intelectuais;

• Desadequação do comportamento adaptativo.

Existem vários níveis de deficiência mental:

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• Limite ou borderline

• Ligeira

• Moderada

• Severa

• Profunda

Em termos de classificação educativa:

Deficiência Mental Educável, são capazes de aprender as matérias escolares como matemática , leitura e escrita. Corresponde aos níveis Limite e Ligeira;

Deficiência Mental Treinável, são capazes de aprender as tarefas necessárias na vida diária (comer sozinho, vestir-se, cuidar da sua higiene pessoal). Corresponde ao nível Moderado.

Deficiência Mental Grave e Profundo, que não é capaz de valer-se a si mesmo, inclusive nas actividades da vida diária e comunicação. Corresponde aos níveis Severo e Profundo.

Encoprese

É um transtorno de excreção, caracterizado por emissão fecal repetida em lugares inapropriados que ocorre pelo menos uma vez por mês durante 3 meses, tendo a criança mais de 4 anos e um nível intelectual equivalente.

A encoprese, tal como a enurese, pode ser primária (a continência fecal nunca foi adquirida) ou secundária (a perturbação surgiu após haver continência fecal).

Os factores predisponentes podem ser:

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1. Treino de esfíncteres inconsistente ou inadequado (por exemplo antes da idade);

2. Factores psicossociais ansiógenos.

Tratamento:

Se os sinais referidos forem identificados é importante providenciar fontes de tratamento para a criança, nomeadamente:

� Um pediatra deve ser consultado para se realizar um exame ao intestino da criança;

� Devem ser ensinados hábitos de evacuação e controlo dos esfíncteres;

� As técnicas de relaxamento também podem ajudar a diminuir a ansiedade da criança;

� Deve ser reduzida a tensão familiar face ao sintoma e deve ser criada uma atmosfera não punitiva;

� Devem fazer-se esforços para reduzir o embaraço da criança na escola;

� É importante que os pais providenciem mudas de roupa interior para que a criança possa mudar de roupa quando o episódio acontecer;

� Modificar a dieta alimentar, aumentando o consumo de fibras;

� A psicoterapia é útil para diminuir a tensão familiar, tratar as reacções da criança ao sintoma nomeadamente a baixa auto-estima e o isolamento social e tratar as causas;

� O sucesso nos casos de encoprese é afectado pela compreensão que a família tem do problema e pela sua capacidade para participar no tratamento sem ser punitivo.

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Enurese

É um transtorno de excreção caracterizado pela emissão voluntária ou involuntária, diurna e/ou nocturna, de urina em crianças com mais de 5 anos de idade (mental e cronológica) pelo menos duas vezes por semana durante, no mínimo, 3 meses consecutivos.

Tratamento:

• Deve-se fazer o despiste de desordens orgânicas como a diabetes, infecção do tracto urinário ou epilepsia ou se o comportamento não é devido aos efeitos fisiológicos de uma substância diurética;

• A psicoterapia é importante para aumentar a motivação da criança, para além de permitir aos pais informarem-se sobre questões até aí desconhecidas;

• É importante o treino apropriado acompanhado de reforço parental;

• Restringir os líquidos antes da criança ir para a cama e treinar a criança a ir ao quarto de banho durante a noite;

• Exercícios de interrupção do fluxo para a criança ter mais controlo sobre o esfíncter;

• Recompensar a criança quando ela estiver seca ou acordar seca;

• Reagir calmamente aos acidentes (não ignorar a roupa molhada, definir uma rotina para a roupa molhada, evitar castigos). Estas crianças necessitam ter acesso imediato à casa de banho na escola, especialmente se são tímidas ou estão numa escola nova. Deve dizer-se á criança que não há que ter vergonha por sair da sala para ir á casa de banho sempre que necessário, sem ter de levantar a mão. Se o problema for

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significativo a escola deverá ser temporariamente providenciada com roupa extra. Se na escola implicam com a criança é importante que os professores estejam atentos.

Distúrbio de Ansiedade de Separação

A característica essencial deste distúrbio é a ansiedade excessiva relativamente á separação da casa ou daqueles a quem a criança está vinculada, normalmente a mãe, durante pelo menos 4 semanas.

Tratamento:

• Quando a recusa á escola tem já alguma duração, o tratamento pode focar-se em promover o retorno á escola e neste processo deve envolver-se a criança, os pais e os professores ou educadores. É importante alertar os pais para a necessidade de assegurar que consequências positivas são seguidas á ida para a escola e não quando há comportamento de evitamento. Este processo de encorajar a criança a ir para a escola deve ser gradual, começando por exemplo com algumas horas, uma tarde, dois dias, até aumentar para os cinco dias. Por cada sucesso da criança ao longo desta hierarquia é importante a atribuição de um prémio ou recompensa que pode ser antecipadamente “contratado” entre a criança e os pais. Este “contrato” pode ser alargado à escola ( por exemplo, em cada dia que a criança vai à escola recebe um ponto da educadora até poder trocar os pontos pelos prémios que acordou com os pais).As educadoras e auxiliares também devem evitar reforçar o evitamento e devem manter uma atitude de expectativa e reforçar cada esforço da criança.

• Nestas situações é importante tranquilizar os pais e ajudá-los a perceber a necessidade de serem consistentes. Os pais destas crianças devem ser ensinados a substituir o pensamento “o

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meu filho tem problemas, por isso não vou forçar” pela auto-afirmação mais adaptativa “forçar é uma forma de ajudar”.

• Para casos mais complicados a criança beneficiaria de uma relação de suporte com um psicólogo, focada particularmente em ajudá-la a identificar e lidar com os afectos negativos e cognições associadas á separação.

Depressão Infantil

Na depressão infantil é possível a existência da seguinte sintomatologia:

• Figura geral de tristeza, ar infeliz.

• Isolamento e inibição com poucos interesses nas actividades. Uma indiferença que dá a impressão de aborrecimento ou doença física.

• Pode queixar-se de dores de cabeça, de barriga ou tonturas e sofrer de insónia, sono ou alimentação alterados.

• Presença de descontentamento.

• Sentimentos de rejeição e de não ser querido.

• Auto-conceito negativo.

• Irratibilidade e nível baixo na relação tolerância – frustração. Isto associa-se a um comportamento auto-punitivo quando não atingem os objectivos a que se propuseram.

• Alterações de humor são reveladas ao fazer palhaçadas, lidando com sentimentos depressivos subjacentes através do comportamento provocador e infantil para depreciar as suas coisas ou aquisições.

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• Comportamentos chamativos para negar sentimentos de desânimo e desesperança.

• Comportamento provocador que instiga respostas agressivas nos outros e leva a que os outros utilizem a criança como foco para as suas próprias desilusões.

• Tendências para a passividade e para esperar que os outros antecipem as suas necessidades.

• Elevada sensibilidade com prontidão para se auto-condenarem pelos erros. São duros e auto-críticos.

Nota: A depressão necessita de acompanhamento especializado.

Epilepsia infantil

A Epilepsia é uma afecção crónica de diversas etiologias, caracterizada pela repetição de crises devidas a uma descarga neuronal excessiva associadas a sintomas clínicos. Os sinais clínicos mais comuns são:

• olhar fixo (5 – 10 segundos) sem resposta a chamada de atenção;

• pestanejo rápido e/ou revirar dos olhos;

• períodos de confusão (alguns minutos);

• queda da cabeça;

• perda da tonicidade muscular e consequente queda;

• expressão fixa e movimentos da face ou boca;

• sacudidela ou “tremores” dum braço ou de uma perna;

• comportamento sem objectivo e com movimentos repetitivos.

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Atitudes perante uma crise:

Geralmente as crises são auto-limitadas no tempo e não requerem observação médica. A maioria das crises epilépticas não é uma emergência médica.

Quando existem ausências é importante assegurar-se que a criança não perdeu parte importante da lição.

Se a criança ficar confusa ou assustada dê-lhe apoio e conforte-a. Não a force nem fale alto; a criança pode estar confusa e não reconhecer o local. Se oferecer alguma resistência assegure-se que não corre perigo de se magoar. Tente guiá-la ao seu lugar ou para um local calmo. Ignore possíveis automatismos verbais ou gestuais. Algumas crianças precisam de dormir alguns minutos.

Nas crises em que existe perda de consciência o educador deve manter a calma. Deitar a criança no chão, de preferência de lado e afastar tudo que a possa magoar. Proteger a cabeça (enquanto o corpo treme) com uma almofada ou casaco dobrado. Não se deve tentar abrir ou meter os dedos ou outros objectos na boca; não se deve tentar segurar a língua ou contrariar os movimentos. A mordedura da língua não se consegue evitar pois é devida à contracção brusca dos maxilares. Algumas crianças demoram tempo a recuperar e necessitam de um período mais ou menos longo de repouso. Se houver condições para continuar na escola deve ser estimulada a fazê-lo. Uma muda de roupa na escola poderá evitar os inconvenientes dos vómitos ou incontinência dos esfíncteres.

As situações que necessitam de cuidados médicos são:

• primeira crise conhecida;

• não recuperação da consciência depois da crise terminar;

• crises sucessivas sem recuperação da consciência;

• crises de duração superior a 5 minutos;

• dificuldade em despertar após meia hora;

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• perturbações da visão e dilatação das pupilas ou se têm tamanhos diferentes;

• as consequências de traumatismos – feridas, fracturas, etc.;

A maioria das crianças epilépticas não tem problemas de comportamento e cumprem todas as actividades e disciplina da sala da mesma forma que as outras crianças. Os problemas comportamentais são causados por múltiplos factores diferentes: a actividade das crises, os medicamentos para controlar as crises, a ansiedade da própria criança, auto-estima baixa, super-protecção ou super-indulgência dos pais. É necessário evitar a super-protecção mas também não se deve limitar a participação nas actividades normais das crianças; a actividade física não está associada a um maior número de crises.

Autismo

O distúrbio autista pode ser diagnosticado pela presença das seguintes características:

• dificuldades no estabelecimento de relações sociais;

• dificuldades na comunicação verbal e não-verbal;

• padrões de comportamentos, interesses e actividades restritos, repetitivos e estereotipados;

• dificuldades do desenvolvimento do jogo simbólico e imaginação;

• resistência a mudanças de hábitos de rotina.

Tratamento:

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Actualmente o acompanhamento das crianças autistas depende da cooperação integrada entre família, escola/jardim de infância, os profissionais e a sociedade.

Os objectivos da intervenção são

• promoção do desenvolvimento normal, investindo inicialmente no estabelecimento de vínculos sociais, no desenvolvimento da comunicação e da linguagem;

• redução da rigidez, estereotipização e auto-mutilação;

• pais como co-terapeutas e com apoios para alívio da

tensão familiar.