entrevista psicolÓgica

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ENTREVISTA PSICOLÓGICA – PRIMEIRA E SEGUNDA PARTE A entrevista é um instrumento fundamental do método clínico e é, portanto, uma técnica de investigação científica em Psicologia. Como técnica tem seus próprios procedimentos ou regras empíricas com os quais não só se amplia e verifica como também, ao mesmo tempo, se aplica o conhecimento científico. A entrevista é um instrumento muito difundido e devemos delimitar o alcance da mesma, tanto como o enquadramento da presente exposição. A entrevista pode ter em seus múltiplos usos uma grande variedade de objetivos. A entrevista psicológica é entendida como sendo aquela na qual se buscam objetivos psicológicos (investigação, diagnóstico, terapia, etc.). Em psicologia, a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais e sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. Ao se considerar a entrevista psicológica como técnica inclui-se dois aspectos: um é o das regras ou indicações práticas de sua execução, e o outro é a psicologia da entrevista psicológica, que fundamenta as primeiras. A entrevista psicológica é o instrumento fundamental de trabalho não somente para o psicólogo, como também para outros profissionais (psiquiatra, assistente social, sociólogo dentre outros). A entrevista pode ser de dois tipos fundamentais: aberta (não estruturada ou não diretiva) e fechada (estruturada ou diretiva). Na fechada, as perguntas já estão previstas, assim como a ordem e a maneira de formulá-las, e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas disposições. Na entrevista aberta, pelo contrário, o entrevistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções, permitindo-se toda a flexibilidade necessária em cada caso particular. A entrevista fechada é, na realidade, um questionário que passa a ter uma relação estreita com a entrevista, na

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ENTREVISTA PSICOLÓGICA – PRIMEIRA E SEGUNDA PARTE

A entrevista é um instrumento fundamental do método clínico e é, portanto, uma técnica de investigação científica em Psicologia. Como técnica tem seus próprios procedimentos ou regras empíricas com os quais não só se amplia e verifica como também, ao mesmo tempo, se aplica o conhecimento científico.A entrevista é um instrumento muito difundido e devemos delimitar o alcance da mesma, tanto como o enquadramento da presente exposição. A entrevista pode ter em seus múltiplos usos uma grande variedade de objetivos.

A entrevista psicológica é entendida como sendo aquela na qual se buscam objetivos psicológicos (investigação, diagnóstico, terapia, etc.). Em psicologia, a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais e sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas.

Ao se considerar a entrevista psicológica como técnica inclui-se dois aspectos: um é o das regras ou indicações práticas de sua execução, e o outro é a psicologia da entrevista psicológica, que fundamenta as primeiras.

A entrevista psicológica é o instrumento fundamental de trabalho não somente para o psicólogo, como também para outros profissionais (psiquiatra, assistente social, sociólogo dentre outros).

A entrevista pode ser de dois tipos fundamentais: aberta (não estruturada ou não diretiva) e fechada (estruturada ou diretiva). Na fechada, as perguntas já estão previstas, assim como a ordem e a maneira de formulá-las, e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas disposições. Na entrevista aberta, pelo contrário, o entrevistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções, permitindo-se toda a flexibilidade necessária em cada caso particular. 

A entrevista fechada é, na realidade, um questionário que passa a ter uma relação estreita com a entrevista, na medida em que uma manipulação de certos princípios e regras da mesma facilita e possibilita a aplicação do questionário. Esse tipo de entrevista é de pouca utilidade clínica, sendo mais utilizado em pesquisas. Já a entrevista aberta não se caracteriza essencialmente pela liberdade de colocar perguntas, porque, o fundamento da entrevista psicológica não consiste em perguntar e nem no propósito de recolher dados da história do entrevistado; a entrevista aberta possibilita uma investigação mais ampla e profunda da personalidade do entrevistado, embora a entrevista fechada permita uma melhor comparação sistemática de dados, além de outras vantagens próprias de todo método padronizado.

A entrevista pode ser individual ou grupal, ou seja, com um ou mais participantes. A realidade é que, em todos os casos, a entrevista é sempre um fenômeno grupal, já que mesmo com a participação de um só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função da psicologia e da dinâmica de grupo.

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Podem-se diferenciar também as entrevistas segundo o beneficiário do resultado, ou seja, a) a entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, como no caso da consulta psicológica ou psiquiátrica; b) a entrevista cujo objetivo é a pesquisa, na qual importam os resultados científicos da mesma; c) a entrevista que se realiza para um terceiro (uma instituição). Cada uma delas implica variáveis distintas a serem levadas em conta, já que modificam ou atuam sobre a atitude do entrevistador assim como do entrevistado, e sobre o campo total da entrevista. Uma diferença fundamental é que, excetuando o primeiro tipo de entrevista, os dois outros requerem que o entrevistador desperte interesses e participação, que “motivem” o entrevistado.

A entrevista psicológica é uma relação, com características particulares, que se estabelece entre duas ou mais pessoas. O específico ou particular dessa relação reside em que um dos integrantes é um técnico da psicologia que deve atuar nesse papel, e o outro ou os outros necessitam de sua intervenção técnica. Porém, o técnico não só utiliza na entrevista seus conhecimentos psicológicos para aplicá-los ao entrevistado, como também esta aplicação se produz precisamente através de seu próprio comportamento no decorrer da entrevista.

Entrevista psicológica é então uma relação entre duas ou mais pessoas em que estas intervêm como tais. Ela consiste em uma relação humana na qual um dos integrantes deve procurar saber o que está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento. A realização dos objetivos possíveis da entrevista (investigação, diagnóstico, orientação, etc.) depende desse saber e da atuação de acordo com esse saber.

A teoria da entrevista foi enormemente influenciada por conhecimentos provenientes da Psicanálise, da Gestalt, da topologia e do behaviorismo. Ainda que não se possa selecionar especificamente a contribuição de cada um deles, convém assinalar que a psicanálise influenciou com o conhecimento da dimensão inconsciente do comportamento, da transferência e a contratransferência, da resistência e a repressão, da projeção e a introjeção. A Gestalt reforçou a compreensão da entrevista como um todo no qual o entrevistador é um de seus integrantes, considerando o comportamento deste como um dos elementos da totalidade. A topologia levou a delinear e reconhecer o campo psicológico e suas leis, assim como o enfoque situacional. O behaviorismo influenciou com a importância da observação do comportamento. Todo esse conhecimento conduziu à possibilidade de realizar a entrevista em condições metodológicas mais restritas, convertendo-a em instrumento científico no qual a “arte da entrevista” foi reduzida em função de uma sistematização das variáveis, e é esta sistematização que possibilita um maior rigor em sua aplicação e em seus resultados.

A investigação científica do instrumento tem feito com que a entrevista incorpore algumas das exigências do método experimental; mas também faz com que a entrevista psicológica, em geral, constitua um procedimento de observação em condições controladas ou, pelo menos, em condições conhecidas.

Quem controla a entrevista é o entrevistador, mas quem a dirige é o entrevistado. A relação entre ambos delimita e determina o campo da

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entrevista e tudo que nela acontece, porém, o entrevistador deve permitir que o campo da relação interpessoal seja predominantemente estabelecido e configurado pelo entrevistado.

A entrevista funciona como uma situação onde se observa parte da vida do paciente, que se desenvolve em relação ao entrevistador e frente ao entrevistador. Nenhuma situação pode conseguir a emergência da totalidade do repertório de condutas de uma pessoa e, portanto, nenhuma entrevista pode esgotar a personalidade do paciente, mas somente um segmento da mesma. A entrevista não pode substituir e nem excluir outros procedimentos de investigação da personalidade, porém, estes últimos também não podem prescindir da entrevista. De modo específico, a entrevista não pode suprir o conhecimento e a investigação de caráter muito mais extenso e profundo que se obtém, por exemplo, em um tratamento psicanalítico, o qual, no decorrer de um tempo prolongado, permite a emergência e manifestação dos núcleos e segmentos mais diferentes da personalidade.

O campo da entrevista também não é fixo e sim dinâmico, significando isso que ele está sujeito a uma permanente mudança, e que a observação se deve estender do campo específico existente em cada momento à continuidade e sentido destas mudanças. Na realidade, a observação da continuidade e da contigüidade das mudanças é o que permite completar a observação e inferir a estrutura e o sentido de cada campo; respondendo a esta modalidade do processo real, deve-se dizer que o campo da entrevista cobre a totalidade da mesma, embora “cada” campo não seja senão um momento desse campo total e da dinâmica.

Uma sistematização, que permite o estudo detalhado da entrevista como campo, consiste em centrar o estudo sobre: a) o entrevistador, incluindo sua atitude, sua dissociação instrumental, contratransferência, identificação, dentre outras; b) o entrevistado, incluindo-se aqui a transferência, estruturas de comportamento, traços de caráter, ansiedades, defesas; c) a relação interpessoal, na qual se inclui a interação entre os participantes, o processo de comunicação (projeção, introjeção, identificação), o problema da ansiedade.Assim, a entrevista é, nessa concepção, um instrumento ou uma técnica da “prática” com a qual se pretende diagnosticar, isto é, aplicar conhecimentos científicos que, em si mesmos, são provenientes de outras fontes: a investigação científica. A entrevista também é um campo de trabalho, no qual, se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos. Que isto se realize ou não, é coisa que já não depende do instrumento.

Entrevistador e entrevistado formam um grupo, ou seja, um conjunto ou uma totalidade, na qual os integrantes estão inter-relacionados e onde a conduta de ambos é interdependente. Diferencia-se de outros grupos pelo fato de que um de seus integrantes assume um papel específico e tende a cumprir determinados objetivos.

A interdependência e inter-relação, o condicionamento recíproco de suas respectivas condutas, se realiza através do processo da comunicação. O tipo de comunicação que se estabelece é altamente significativo da personalidade do entrevistado, especialmente do caráter de suas relações interpessoais, ou seja, da modalidade do seu relacionamento com seus semelhantes. Neste processo que se produz na entrevista, o entrevistador observa como e através de que o entrevistado condiciona, sem sabê-lo, efeitos dos quais ele mesmo se queixa ou é uma vítima. Interessam particularmente os momentos de mudança na comunicação e as situações e temas frente aos quais ocorrem, assim como

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as inibições, interceptações e bloqueios.

Porém, o tipo de comunicação não é importante apenas por oferecer dados de observação direta que, inclusive, podem ser registrados, mas porque é o fenômeno chave de toda a relação interpessoal, que, por sua vez, pode ser manipulado pelo entrevistador e, assim, graduar ou orientar a entrevista. Por esse motivo, o entrevistador deverá estar sempre atento à linguagem verbal e a não verbal do paciente, ambas igualmente de grande importância.

A abertura da entrevista não deve ser ambígua, recorrendo-se a frases gerais ou de duplo sentido. A entrevista começa por onde começa o entrevistado. Deve-se ter em conta o quanto pode ter sido custoso para ele decidir-se a vir à entrevista e o que pode significar como humilhação e menosprezo. O entrevistado deve ser recebido cordialmente; quando temos informações sobre o entrevistado fornecidas por outra pessoa, devemos informá-lo no começo da entrevista, que esses dados que se referem a terceiros não serão mantidos em reserva. Isto tende a manter o enquadramento, eliminar tudo o que possa travar a espontaneidade do técnico, que não deve ter compromissos contraídos que pesem negativamente sobre a entrevista. A discrição do entrevistador para com as informações que o entrevistado fornece está implícita na entrevista, e se for fornecido um relato da mesma a uma instituição, o entrevistado também deve ter conhecimento disso.

Como todo o enquadramento, o fim da entrevista deve ser respeitado. A reação à separação é um dado muito importante assim como a avaliação sobre o estado do entrevistado ao partir e da nossa contratransferência em relação a ele.

A entrevista é sempre uma experiência vital muito importante para o entrevistado; significa, com muita freqüência, a única possibilidade que tem de falar o mais sinceramente possível de si mesmo com alguém que não o julgue, mas que o compreenda. 

Na entrevista diagnóstica, segundo nossa opinião, deve-se interpretar, sobretudo, cada vez que a comunicação tenda a interromper-se ou distorcer-se. Outro caso muito freqüente em que se deve intervir é para relacionar aquilo que o próprio entrevistado esteve comunicando. 

Uma indicação fundamental para guiar a interpretação é sempre o benefício do entrevistado e não a “descarga” de uma ansiedade do entrevistador. Além disso, sempre que se interpreta, deve-se saber que a interpretação é uma hipótese que deve ser verificada ou retificada no campo de trabalho pela resposta que mobilizamos ou condicionamos ao pôr em jogo tal hipótese.

Uma entrevista freqüentemente tem êxito quando consegue esclarecer qual é o verdadeiro problema que está por trás daquilo que é trazido de modo manifesto.

A entrevista não é uma técnica única; existem vários tipos de entrevistas que variam de acordo com o objetivo específico de cada uma e da orientação do entrevistador. É parte de um processo de avaliação que pode ocorrer em apenas uma sessão e ser dirigido a fazer um encaminhamento.

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Duas maneiras de tentar classificar as entrevistas são quanto à forma (estrutura) e de acordo com os seus objetivos.

Quanto à forma:

-Estruturadas (ou dirigidas ou fechadas ou diretivas) - são de pouca utilidade clínica, têm como objetivo o levantamento de informações como por ex: em pesquisas.-Semi-estruturadas - como a entrevista clínica que favorece as manifestações individuais e requer habilidades e conhecimentos específicos que permitam ao entrevistador conduzir de forma adequada o processo. Tem clareza de seus objetivos, do tipo de informação que é necessária e de como deve ser obtida.-Livre estruturação (ou livre ou não estruturada ou não diretiva ou aberta) - tem uma estrutura mesmo que o entrevistador não a reconheça explicitamente, na medida em que a atividade do entrevistador direciona a entrevista no sentido de alcançar os seus objetivos.

Quanto aos objetivos:

-Triagem – tem por objetivo principal avaliar a demanda do sujeito e fazer um encaminhamento. Geralmente é utilizada em serviços de saúde pública ou em clínicas sociais. -Anamnese – tem por objetivo primordial o levantamento detalhado da história do desenvolvimento da pessoa, principalmente na infância. É uma técnica de entrevista que pode ser facilmente estruturada cronologicamente.-Sistêmica – utilizadas para avaliar casais e famílias. Podem focar a avaliação da estrutura ou da história relacional ou familiar. Podem também avaliar aspectos importantes da rede social de pessoas e famílias.-Diagnóstica - é se chegar a um diagnóstico, isto é, examinar e analisar cuidadosamente uma condição na tentativa de compreendê-la, explicá-la e possivelmente modificá-la. Implica descrever, avaliar, relacionar e inferir, tendo em vista a modificação daquela condição.-Devolução – tem como objetivo comunicar ao sujeito o resultado da avaliação e permite ao sujeito expressar os seus pensamentos e sentimentos em relação às conclusões do avaliador.

O bom uso da técnica deve ampliar o alcance das habilidades interpessoais do entrevistado e vice-versa. Para levar uma entrevista a termo de modo adequado, o entrevistador deve ser capaz de:

1) estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro naquele momento, e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais;2) ajudar o entrevistado a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho;3) facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou a buscar ajuda;4) buscar esclarecimento para colocações vagas ou incompletas;5) gentilmente, confrontar esquivas e contradições;6) tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;7) reconhecer defesas e modos de estruturação do sujeito, especialmente quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador (transferência);8) compreender seus processos contratransferenciais;9) assumir a iniciativa em momentos de impasse;10) dominar as técnicas que utiliza.

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A seguir, são examinadas algumas dessas capacidades.

Para estar presente e poder ouvir o paciente, o entrevistador deve ser capaz de isolar outras preocupações e, momentaneamente, focalizar sua atenção no paciente. Para fazer isso, é preciso que suas necessidades pessoais estejam sendo suficientemente atendidas, e que ele possa reconhecer os momentos em que isso parece não estar ocorrendo. Isso implica que as ansiedades presentes não sejam tão fortes a ponto de interferir no processo. As ansiedades inconscientes do entrevistador levam à resistência e a dificultam a escuta, principalmente do material latente na fala do entrevistado. Somente cuidando de suas necessidades pessoais é que o entrevistador poderá ouvir o outro de modo diferenciado.

Por estar atento ao paciente, o entrevistador estará mais apto para ajudá-lo a sentir-se à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho, que mais tarde se desenvolverá numa aliança terapêutica, que será composta por dois fatores: a percepção de estar recebendo apoio e o sentimento de estarem trabalhando juntos. Desenvolver uma atmosfera de colaboração é essencial para o sucesso de uma avaliação. Para isso, é importante que o paciente perceba que só entrevistador está receptivo a suas dificuldades e a seus objetivos. Esta percepção fortalece a relação e favorece uma atitude colaborativa e participativa por parte do sujeito. 

Facilitar a expressão dos motivos que levam a pessoa a buscar ajuda é o coração da entrevista, o que nem sempre é fácil. Frequentemente, os motivos reais não são conhecidos ou se apresentam de maneira latente. Muitas vezes estão associados a afetos ou idéias difíceis de serem aceitos ou expressos. Outras vezes, existem resistências importantes, que dificultam o processo. O paciente deverá se sentir seguro o suficiente para poder arriscar-se. A segurança para enfrentar situações desconfortáveis vem em parte do tipo de escuta e atenção que percebe estar recebendo, como também da capacidade do entrevistador de facilitar a expressão de experiências, sentimentos e pensamentos relevantes.Em muitos momentos o entrevistador deverá buscar esclarecimentos para colocações vagas ou incompletas e, gentilmente, confrontar esquivas e contradições. Respostas pouco elaboradas, colocações vagas ou omissões atuam como defesas que obscurecem o assunto em questão. Quando o entrevistador deixa passar esses momentos, perde uma oportunidade de desenvolver uma idéia mais clara sobre o assunto, além de não ajudar o paciente a ampliar sua percepção da questão.

Para poder sustentar momentos afetivamente carregados e associados a experiências dolorosas, o entrevistador deverá desenvolver a capacidade de tolerar a ansiedade e de falar abertamente sobre temas difíceis, que tem o potencial de evocar emoções intensas. O entrevistador deverá desenvolver confiança em sua própria capacidade de suportar tais momentos com naturalidade e de poder dar apoio ao outro que passa pela experiência, sem ser internamente pressionado a evitá-la.

A capacidade de reconhecer as defesas e o modo particular de estruturação do paciente é de especial interesse, pois reconhecendo esses aspectos o entrevistador poderá antecipar essas situações de transferência e evitar respostas contratransferenciais inadequadas. Ao reconhecer as dinâmicas e modos de interagir do sujeito, pode-se dirigir o modo de proceder de maneira mais eficiente. A observação do comportamento, da comunicação não verbal e do material latente contribui de maneira especial. Restringir o âmbito do interpessoal somente ao conteúdo explícito da comunicação pode acarretar perda de informação clínica significativa.

Ser capaz de compreender seus processos transferenciais é, possivelmente, um dos recursos mais importantes do psicólogo. Reconhecer como os processos mentais e afetivos são mobilizados em si mesmo e ser capaz de relacionar esses processos ao que se passa na relação imediata com o sujeito fornece ao entrevistador uma via

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inigualável de compreensão da experiência do outro. 

Existem momentos em que a entrevista passa por situações de impasse importantes, ou seja, a pessoa pode, a determinada altura, dizer, por exemplo: “Não sei se realmente deveria estar falando isso”. Assumir a iniciativa em momentos de impasse significa poder usar a criatividade para dar uma resposta eficaz no momento. Por exemplo, pode ser crucial ajudar a explorar alternativas e buscar uma perspectiva em momentos de desesperança. Eis alguns exemplos de situações críticas que requerem do entrevistador capacidade de agir: risco de vida (ideação suicida), sintomas psicóticos, violência, impulsividade, ou outras situações que podem levar a um desfecho prejudicial para as pessoas envolvidas. Desenvolver recursos pessoais para lidar com tais situações é fundamental para que o entrevistador possa trabalhar com segurança.

Finalmente, espera-se que o entrevistador tenha domínio das técnicas que utiliza. É pelo domínio da técnica que o entrevistador pode deixar de se preocupar com a sua execução e se concentrar no paciente, no que ele apresenta e na sua relação com ele. A competência técnica dá e comunica segurança ao liberar o entrevistador para dirigir sua atenção aos aspectos mais importantes da relação.

A entrevista é um instrumento fundamental do método clínico e é, portanto, uma técnica de investigação científica em Psicologia. Aentrevista psicológica é entendida como sendo aquela na qual se buscam objetivos psicológicos (investigação, diagnóstico, terapia, etc.).

A entrevista pode ser de dois tipos fundamentais: aberta e fechada. Na fechada, as perguntas já estão previstas, assim como a ordem e a maneira de formulá-las, e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas disposições. Na entrevista aberta, pelo contrário, o entrevistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções, permitindo-se toda a flexibilidade necessária em cada caso particular. 

A entrevista aberta possibilita uma investigação mais ampla e profunda da personalidade do entrevistado, embora a entrevista fechada permita uma melhor comparação sistemática de dados, além de outras vantagens próprias de todo método padronizado.

A entrevista pode ser individual ou grupal, ou seja, com um ou mais participantes. A realidade é que, em todos os casos, a entrevista é sempre um fenômeno grupal, já que mesmo com a participação de um só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função da psicologia e da dinâmica de grupo.

Podem-se diferenciar também as entrevistas segundo o beneficiário do resultado, ou seja: a) a entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, como no caso da consulta psicológica ou psiquiátrica; b) a entrevista cujo objetivo é a pesquisa, na qual importam os resultados científicos da mesma; c) a entrevista que se realiza para um terceiro (uma instituição) e os dois últimos requerem que o entrevistador desperte interesses e participação, que “motive” o entrevistado.

A entrevista psicológica é então uma relação entre duas ou mais pessoas em que estas intervêm como tais. Ela consiste em uma relação humana na qual um dos

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integrantes deve procurar saber o que está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento. A realização dos objetivos possíveis da entrevista (investigação, diagnóstico, orientação, etc.) depende desse saber e da atuação de acordo com esse saber.

Quem controla a entrevista é o entrevistador, mas quem a dirige é o entrevistado. A relação entre ambos delimita e determina o campo da entrevista e tudo que nela acontece, porém, o entrevistador deve permitir que o campo da relação interpessoal seja predominantemente estabelecido e configurado pelo entrevistado.

A entrevista funciona como uma situação onde se observa parte da vida do paciente, que se desenvolve em relação ao entrevistador e frente ao entrevistador; não pode substituir e nem excluir outros procedimentos de investigação da personalidade, porém, estes últimos também não podem prescindir da entrevista. 

A entrevista é um instrumento ou uma técnica da “prática” com a qual se pretende diagnosticar, isto é, aplicar conhecimentos científicos que, em si mesmos, são provenientes de outras fontes: a investigação científica. A entrevista também é um campo de trabalho, no qual, se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos.

Entrevistador e entrevistado formam um grupo, ou seja, um conjunto ou uma totalidade, na qual os integrantes estão inter-relacionados e onde a conduta de ambos é interdependente. Diferencia-se de outros grupos pelo fato de que um de seus integrantes assume um papel específico e tende a cumprir determinados objetivos.

A abertura da entrevista não deve ser ambígua, recorrendo-se a frases gerais ou de duplo sentido. A entrevista começa por onde começa o entrevistado, que deve ser recebido cordialmente; quando temos informações sobre o entrevistado fornecidas por outra pessoa, devemos informá-lo, no começo da entrevista, que esses dados que se referem a terceiros não serão mantidos em reserva.

A discrição do entrevistador para com as informações que o entrevistado fornece está implícita na entrevista, e se for fornecido um relato da mesma a uma instituição, o entrevistado também deve ter conhecimento disso.

A entrevista é sempre uma experiência vital muito importante para o entrevistado; significa, com muita freqüência, a única possibilidade que tem de falar o mais sinceramente possível de si mesmo com alguém que não o julgue, mas que o compreenda. Uma entrevista freqüentemente tem êxito quando consegue esclarecer qual é o verdadeiro problema que está por trás daquilo que é trazido de modo manifesto.

Em resumo, fica claro que o bom uso da técnica deve ampliar o alcance das habilidades interpessoais do entrevistado e vice-versa e por esse motivo é necessário que o entrevistador possua determinadas competências para levar uma entrevista a termo de modo adequado.

A Entrevista Lúdica ou Hora de Jogo Diagnóstica

Entrevista Lúdica

Segundo Werlang (2000), é um tipo de entrevista de importante papel no atendimento de crianças. É uma técnica de avaliação muito rica, que permite compreender a natureza do pensamento infantil, fornecendo informações significativas do ponto de vista evolutivo, psicopatológico e psicodinâmico,

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possibilitando formular conclusões diagnósticas, prognósticas e indicações terapêuticas. As instruções específicas para uma entrevista lúdica consistem em oferecer à criança a oportunidade de brincar com todo material lúdico que lhe é oferecido, sob algumas condições, como uso do espaço, papel da criança e do entrevistador, etc. Nos brinquedos oferecidos pelo psicólogo, a criança deposita parte dos sentimentos, representante de distintos vínculos com objetos de seu mundo interno. As crianças, de maneira geral, agem, falam e/ou brincam de acordo com suas possibilidades maturativas, emocionais, cognitivas e de socialização, e é pela sua ação (ativa ou passiva) que elas exprimem suas possibilidades, descobrindo-se a si mesmas e revelando-se aos outros.

A postura do psicólogo é estimular a interação, conduzindo a situação de maneira tal que possa deixar transparecer compreensão, respeitando e acolhendo a criança, de forma que ela se sinta segura e aceita.

Em parte, o papel do psicólogo na entrevista lúdica diagnóstica é passivo, porque funciona como observador, mas também é ativo, na medida em que sua atitude é atenta na compreensão e formulação de hipóteses sobre a problemática do entrevistado, assim como na ação de efetuar perguntas para esclarecer dúvidas sobre a brincadeira. Ainda, dependendo de cada situação, o psicólogo poderá não participar do jogo ou brincadeira, ou poderá desempenhar um determinado papel, caso seja desejo da criança.

O brincar da criança pode ser estudado sob o enfoque de diferentes autores, como mostrado a seguir:

- Freud ¦ segundo ele, as crianças repetem nas brincadeiras tudo o que na vida lhes causou profunda impressão. Brincando, as crianças fazem algo que na realidade lhe fizeram e, portanto, podem, ao reproduzir situações vividas na vida real, tornar-se senhoras de si próprias. Através do brinquedo a criança não só realiza seus desejos, mas também domina a realidade, graças ao processo de projeção dos perigos internos sobre o mundo externo. O brinquedo é, então, um meio de comunicação que permite ligar o mundo externo, o interno, a realidade e a fantasia.- Melanie Klein ¦ coloca o brinquedo num lugar de destaque na luta da criança contra a angústia mobilizada pelas pulsões sexuais. Segundo essa autora, ao brincar, a criança domina realidades dolorosas e controla medos instintivos, projetando-os ao exterior, nos brinquedos. Este mecanismo é possível porque a criança, desde já muito pequenina tem a capacidade de simbolizar. O brincar é a linguagem típica da criança e pode ser equiparado à associação livre e aos sonhos dos adultos.- Winnicott ¦ outro autor que estudou a criança e que diz que o brincar aparece também em adultos. Propõe que o brincar é uma forma de fazer as coisas e assim controlar aquilo que está fora, assim como também uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros.Para Winnicott, o psicoterapeuta deve criar um ambiente onde a criança se sinta segura para brincar e o brincar na psicoterapia deve ser administrado pela própria criança e não pelo terapeuta.

Para Arminda Aberastury, a criança estabelece com o psicoterapeuta transferência positiva e negativa, mas também é capaz de representar através dos brinquedos os seus conflitos, suas defesas e fantasias. Considera que é conveniente para o entrevistador, ao realizar a entrevista lúdica, não interpretar, já que ainda não se tem como saber se a criança

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será tratada ou não e, em caso de encaminhamento, qual a técnica mais adequada para aplicar.

- Virgínia Axline ¦ desenvolve a ludoterapia, psicoterapia infantil de base não-analítica. Para ela, o brincar é uma oportunidade dada à criança de falar de seus sentimentos e problemas através do brinquedo.

A prática ludoterápica possui duas vertentes: a diretiva e a não diretiva. Na diretiva a orientação e a interpretação são de responsabilidade do terapeuta e na não diretiva as escolhas ficam a cargo da criança e o terapeuta não intérvem.

A entrevista lúdica diagnóstica é uma técnica de avaliação clínica que permite compreender a natureza do pensamento infantil e que possibilita a obtenção de informações significativas da criança.

Instruções para conduzir uma entrevista lúdica

Para dar início à entrevista com a criança perguntar a ela se sabe o motivo de estar ali, por que veio ou o que os pais falaram para ela sobre a sua vinda ao psicólogo.Depois é o momento de oferecer à criança a oportunidade de brincar com todo o material lúdico da sala. O psicólogo deve também esclarecer sobre o espaço onde poderá brincar, sobre o tempo disponível e, além disto, dos papéis dela e do psicólogo. A criança deve ser informada sobre os objetivos da atividade e o psicólogo deverá dizer-lhe que tal atividade permitirá conhecê-la melhor para que posteriormente possa ajudá-la.

A Entrevista Lúdica é um tipo de entrevista de importante papel no atendimento de crianças. Por meio do brincar e nos brinquedos oferecidos pelo psicólogo, a criança deposita parte dos sentimentos, representante de distintos vínculos com objetos de seu mundo interno. Foi uma conceituada psicanalista argentina, de nome Arminda Aberastury (1978), que tornou evidente o valor diagnóstico da entrevista lúdica, falando, pela primeira vez, em hora de jogo diagnóstica.

As crianças, de maneira geral, agem, falam e/ou brincam de acordo com suas possibilidades maturativas, emocionais, cognitivas e de socialização, e é pela sua ação (ativa ou passiva) que elas exprimem suas possibilidades, descobrindo-se a si mesmas e revelando-se aos outros. A postura do psicólogo é estimular a interação, conduzindo a situação de maneira tal que possa deixar transparecer compreensão, respeitando e acolhendo a criança, de forma que ela se sinta segura e aceita. Em parte, o papel do psicólogo na entrevista lúdica diagnóstica é passivo, porque funciona como observador, mas também é ativo, na medida em que sua atitude é atenta na compreensão e formulação de hipóteses sobre a problemática do entrevistado, assim como na ação de efetuar perguntas para esclarecer dúvidas sobre a brincadeira. Ainda, dependendo de cada situação, o psicólogo poderá não participar do jogo ou brincadeira, ou poderá desempenhar um determinado papel, caso seja desejo da criança.

Hora de Jogo Diagnóstica

Hora de Jogo Diagnóstica - Segundo Ocampo (2001) é um “instrumento técnico” que tem como intenção conhecer o indivíduo e sua realidade num determinado contexto, apresentando-se, portanto, como uma técnica projetiva.

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Considerado experiência importante para o estabelecimento do vínculo transferencial é aplicado em crianças, usualmente de forma individual, sem que haja uma faixa etária definida. O tempo utilizado é, normalmente, o da sessão. A criança deve ser avisada quando o tempo estiver terminando.

O brincar, como forma de expressão típica da criança, é a atividade pela qual ela expressa afetos e desafetos, assim como a atividade verbal é a forma do utilizada pelo adulto. Na Hora de Jogo, é oferecido à criança um contexto determinado, imposto, que inclui espaço, tempo, explicitação de papéis e em que se estabelece uma situação que será estruturada e vivenciada de acordo com as características internas dessa criança. No ato de brincar a criança irá demonstrar como lida com suas questões, pois brincar é reproduzir vivências individuais, únicas.

A participação do psicólogo tem como objetivo criar condições ótimas para que a criança possa brincar com a maior espontaneidade possível. Caso a criança requeira a participação do psicólogo, esse assume um papel complementar, podendo até representar um papel de sinalizador frente a um bloqueio, inibição ou receio por parte desta.

Caso se faça necessário, o psicólogo deve interferir quando perceber que falta à criança a sinalização de um limite que mantenha a integridade física tanto dela, quanto do psicólogo, e ainda da sala e material. “A função específica do psicólogo consiste em observar, compreender e cooperar com a criança” (Ocampo, 2001)

Material utilizado:

O material deve possibilitar à criança expressar-se de maneira a não se sentir ameaçada frente à experiência. Os brinquedos escolhidos devem alternar-se entre estruturados e não estruturados e devem ser de boa qualidade. Podem estar presentes na caixa:

1. papéis2. lápis preto, lápis de cor e de cera3. apontador;4. borracha;5. tesoura sem ponta6. massinha de modelar de diversas cores;7. cola;8. barbante;9. dois ou três bonecos/bonecas (com articulação e de diferentes tamanhos);10. família de animais selvagens ou domésticos;11. dois ou três carrinhos e tamanhos diferentes;12. colherinhas, xícaras e pires/13. alguns cubos de tamanhos diferentes;14. pedacinhos de pano;15. bola e outros objetos que resguardem as observações feitas anteriormente.

Indicadores

São critérios sistematizados e coerentes para orientar a análise do brincar.

I. Escolha de brinquedos e brincadeiras ¦ de acordo com sua as características individuais a criança pode abordar os brinquedos de forma:-de observação à distância; 

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-dependente; -evitativa;-dubitativa;-de irrupção brusca sobre os materiais;-de irrupção caótica e impulsiva e-de aproximação, tempo de reação inicial para estruturar o campo, e em seguida, desenvolver uma atividade.

Deve-se também observar o tipo de brinquedo para o qual a criança se dirige e se o jogo tem princípio, desenvolvimento e fim, isto é, se é uma unidade coerente em si mesma e se é correspondente ao estágio de desenvolvimento intelectual correspondente à idade cronológica.

II. Modalidades da brincadeira ¦ referem-se à forma em que o ego manifesta a sua função simbólica. A forma como o brincar é estruturado implica num traço característico da personalidade. Destacam-se:

-plasticidade ¦ possibilidade de um mesmo objeto mudar de função na brincadeira;-rigidez ¦ aderência a certos mediadores, de forma exclusiva e predominante, para expressar a mesma fantasia;-estereotipia e perseverança ¦ manifesta-se uma desconexão com o mundo externo cuja única finalidade é a descarga; repete-se uma e outra vez a mesma conduta e não há fins comunicacionais.

III. Personificação ¦ capacidade da criança em atribuir ou assumir papéis de forma dramática. Como elemento comum a todos os períodos evolutivos normais, a personificação possibilita a elaboração de situações traumáticas, aprendizagem de papéis sociais, a compreensão do papel do outro e o ajuste de sua conduta em função disso, o que favorece o processo de socialização e individuação.

IV. Motricidade ¦ indicador que aponta a adequação da motricidade da criança à etapa evolutiva que atravessa. Através da HJ o psicólogo pode observar dificuldades na funcionalidade motora. Devem ser observados na criança:

1. deslocamento geográfico  

2. possibilidade de encaixe   

3. preensão e manejo

4. alternância de membros    

5. lateralidade 11. ductibilidade

6. movimentos voluntários e involuntários     

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7. movimentos bizarros

8. ritmo do movimento

9. hipersinesia

10. hipocinesia

 

V. Criatividade ¦ capacidade de criar, unir e relacionar elementos dispersos num elemento novo e diferente. Isso exige um ego plástico capaz de abertura para experiências novas, tolerante à não estruturação do campo.

VI. Tolerância à frustração ¦ detectada na HJ pela capacidade de aceitar as instruções com as limitações que elas impõem (os limites, a finalização da tarefa, dificuldades da tarefa, etc.). Função importante em nível diagnóstico, mas principalmente, quanto ao prognóstico. Fundamental diferenciar a fonte de frustração da criança: se do mundo interno ou externo e como reage diante dela.

VII. Capacidade simbólica ¦ o brincar como via de acesso às fantasias inconscientes. Brinquedos como mediadores que possibilitam a elaboração das fantasias. Através desse indicador pode-se avaliar:-a riqueza expressiva-a capacidade intelectual-a qualidade do conflito

VIII. Adequação à realidade ¦capacidade da criança de se adequar à realidade. Expressa na aceitação ou não do espaço-temporal e suas limitações e possibilidade de colocar-se no seu papel e aceitar o papel do outro.

Observação do brincar da criança

JOGO DIAGNÓSTICO

 Indicadores

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·         Criança normal

·         Criança neurótica

·         Criança psicótica

 Adequação à realidade

·         Boa capacidade de adaptação

·         Reconhecimento parcial

·         Adaptação ruim por falta de discriminação da realidade como tal

 Escolha de brinquedos e brincadeiras

·         Em função das necessidades e do interesse próprios da idade

·         Determinada pela área conflitiva

·         Responde a uma intencionalidade de estruturação psicótica

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 Capacidade simbólica

·         Possibilidade boa de expressar suas fantasias através da atividade simbólica

·         Compulsão à repetição

·         Atuação direta de fantasias

 Modalidade das brincadeiras

·         Rico, fluido e plástico

·         Alternância em função das defesas predominantes

·         Estereotipia, perseverança e rigidez

Motricidade

·         Adequada

·         Variável

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·         Movimentos bizarros. Mudanças bruscas sem relação com o contexto.

·         Inibição-autismo

 Criatividade

·         Boa

·         Diminuída. Depende do grau de síntese egoíca

·         Não existe como possibilidade egóica.  Produção original

 Personificação

·         Possibilidade de trocar papéis. Assumir e designar

·         Personagens mais próximos à realidade, mais discriminação que o psicótico

·         Personagens cruéis e terroríficos com grande carga de onipotência

 Tolerância à frustração

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·         Capacidade de tolerar. Produz modificação da realidade sem submetimento

·         Baixo limiar ou superadaptação

·         Mínima. Predomina o principio do prazer

A Hora de Jogo é um “instrumento técnico”, apresentando-se, portanto, como uma técnica projetiva.

O brincar, como forma de expressão típica da criança, é a atividade pela qual ela expressa afetos e desafetos. Na Hora de Jogo, é oferecido à criança um contexto determinado, imposto, que inclui espaço, tempo, explicitação de papéis e em que se estabelece uma situação que será estruturada e vivenciada de acordo com as características internas dessa criança. Ao brincar a criança irá demonstrar como lida com suas questões, pois brincar é reproduzir vivências individuais, únicas.

A participação do psicólogo tem como objetivo criar condições ótimas para que a criança possa brincar com a maior espontaneidade possível e se for pedida sua participação, seu papel é complementar, podendo até representar um papel de sinalizador frente a um bloqueio, inibição ou receio da criança em brincar.

Segundo Ocampo (2001) “a função específica do psicólogo consiste em observar, compreender e cooperar com a criança”.

Durante toda a brincadeira, o psicólogo deverá ficar atento ao material utilizado e observar atentamente os indicadores que ajudarão na análise da atividade.

Referências:

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CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico - V. 5. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Artmed, 2000.

GARCÍA ARZENO, María Esther. Psicodiagnóstico clínico: novas contribuições. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1995.

NASCIMENTO, E., & FIGUEIREDO, V. L. M. A terceira edição das Escalas Wechsler de Inteligência. Em: Primi, R. (Org). Temas em Avaliação Psicológica. Campinas: IBAP - Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica, 2002.

OCAMPO, Maria Luisa Siquier de; GARCÍA ARZENO, María Esther. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

PASQUALI, Luiz. Técnicas de exame psicológico - TEP : manual : volume 1 : fundamentos das técnicas psicológicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

RESOLUÇÃO Nº 002/2003 do CFP. Define teste psicológico como método de avaliação privativo do psicólogo e regulamenta sua elaboração, comercialização e uso.

TAVARES M. A Entrevista Clínica. Em: Jurema Alcides Cunha (Org.). Psicodiagnóstico V. 5 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

WECHSLER, S. M (1999). Guia de Procedimentos Éticos para a Avaliação Psicológica. Em:

WECHSLER, S. M. & Guzzo, R. S. L (org). Avaliação Psicológica: perspectiva internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo.