evolução do dir colet trab - amauri mascaro

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  • 7/24/2019 Evoluo Do Dir Colet Trab - Amauri Mascaro

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    EVOLUO DO DIREITO COLETIVO DOTRABALHO EM 70 ANOS DE JUSTIADO TRABALHO

    THE EVOLUTION OF THE COLLECTIVELABOUR LAW IN 70 YEARS

    OF LABOUR COURTS

    Amauri Mascaro Nascimento*

    Resumo: Os conitos so resolvidos mediante autocomposio ouheterocomposio. H autocomposio quando as prprias partes,diretamente, os solucionam. Haver heterocomposio quando, nosendo resolvidos pelas partes, os conitos so solucionados por um rgoou uma pessoa suprapartes. Forma autocompositiva , principalmente, anegociao coletiva para os conitos coletivos e o acordo ou a conciliaopara os conitos individuais, acompanhados ou no de mediao. Sotcnicas heterocompositivas a arbitragem e a jurisdio do Estado.Acompanhando essas formas, podem as partes, quando autorizadas

    ou no proibidas pela legislao do pas, pr em prtica tcnicas deautodefesa: a greve e o locaute. A jurisdio um componente de todosistema. O que muda, nos diversos pases, a amplitude com que usada.Mas no h ordenamento jurdico sem a correspondente jurisdio,porque esta a forma de atuar aquele. Nesses setenta anos de evoluo,diversas mudanas importantes podem ser observadas na relao entreesses elementos fundamentais do direito do trabalho brasileiro.

    Palavras-chave: Justia do trabalho. Direito coletivo. Conciliao.Mediao. Greve. Locaute.

    Abstract: The conict is solved by means of auto composition or heterocomposition. There is auto composition when the own parties solve itdirectly. There will be hetero composition when the parties do not solvethis conict, which is solved by an organ or a supra party. This auto

    *Professor Titular e Emrito de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da USP.Juiz do Trabalho aposentado. Ex-Promotor de Justia. Ex-Consultor Jurdico do Minis-trio do Trabalho. Presidente Honorrio da Academia Nacional de Direito do Trabalho.Acadmico Titular do Instituto de Direito Social. Do Instituto de Direito do Trabalho. DoInstituto Latinoamericano de Derecho Del Trabajo y de la Seguridad Social. Do CentroLatino-Americano de Direito Processual do Trabalho. Agraciado com a Ordem do Mri-to Judicirio Trabalhista, do Tribunal Superior do Trabalho. Scio-fundador do Institutotalo-brasileiro de Direito do Trabalho.

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    compositive method is mainly a collective negotiation for the collectiveconicts, and the agreement or the conciliation for the individual conict

    with or without mediation. The arbitration and the jurisdiction of thestate are a hetero compositive method. With this method, the partiescan put their auto defense into practice, for instance, the strike and thelock-out, when they are authorized by the country law. The jurisdictionis a component of all system. The difference in several countries is theamplitude this method is used. But there is no Juridical Order withoutthe corresponding jurisdiction, because this is the way to act. In these 70years of evolution, several important changes can be observed the relationbetween the fundamental elements of Brazilian labour law.

    Key words: Labour Courts. Labour Law. Settlement. Mediation. Strike.Lockout.

    1 Introduo: formas de compo-sio

    No Direito, e segundo os es-tudos de Alcal-Zamora y Castillo,os conitos, nas diversas etapas dahistria, foram solucionados por

    meios diferentes, cuja amplitudealterou-se com o tempo. Nas so-ciedades primitivas, prevaleceu aautotutela, imposio do mais forteao mais fraco mesclada com os ju-zos de Deus.

    Os conitos eram resolvi-dos por duelos, combates, lias,ordlias com a exposio fsica das

    pessoas a toda sorte de atrocidadespara que, no caso de as resistirem,tornarem-se vitoriosas, prticasque o Direito procurou afastar,apesar de, nas pocas em que eramcomuns, terem aceitao social.

    Num segundo perodo, osconitos passaram a ser resolvidospelo processo, quando o Direitoaperfeioou o estudo das tcnicasde soluo e desenvolveu o con-ceito de jurisdio, hoje inafastvel

    do Estado democrtico de Direito.Ganhou relevncia, tambm, a so-luo dos conitos diretamente pe-las partes, no pela imposio doforte ao fraco, e sim pelo entendi-mento ou a negociao.

    O Direito deu forma a vriastcnicas destinadas a esse m.

    2 Autocomposio e heterocom-posio

    Os conitos so resolvidosmediante autocomposio ou he-terocomposio. H autocompo-sio quando as prprias partes,

    diretamente, o solucionam. Have-r heterocomposio quando, nosendo resolvidos pelas partes, osconitos so solucionados por umrgo ou uma pessoa suprapartes.

    Forma autocompositiva, principalmente, a negociaocoletiva para os conitos cole-tivos e o acordo ou a concilia-o para os confitos individuais,acompanhados ou no de mediao.A aproximao das partes, por umterceiro que tem a incumbncia no

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    de decidir mas de ajudar o acordo, a mediao.

    So tcnicas heterocompo-sitivas a arbitragem e a jurisdiodo Estado. Acompanhando essasformas, podem, as partes, quan-do autorizadas ou no proibidaspela legislao do pas, pr emprtica tcnicas de autodefesa: agreve e o locaute.

    Esses conceitos centraispermitem a classicao das diver-sas formas compositivas no Direitodo Trabalho, com maior ou menoramplitude.

    As formas de soluo dosconitos de interesses, no setorprivado, podem no coincidir comas do setor pblico; a dos conitos

    jurdicos, com a dos econmicos;a dos conitos individuais, com ados conitos coletivos.

    A greve pode ser, paraalguns, forma de soluo dosconitos e para outros no, apenasmeio de presso que pode conduzira uma forma de soluo do conito.

    A conciliao e a mediao,para alguns, apresentam caracte-rsticas que permitem distingui-las,para outros so tcnicas iguais.

    Alguns doutrinadores de-fendem uma lista maior de meiosde composio dos conitos. ParaEmilio Morgado Valenzuela, astcnicas compositivas so as se-guintes: para conitos coletivosde interesses no setor privado, anegociao coletiva, a greve, a con-ciliao, os informes ociais, a in-

    vestigao dos fatos, as frmulasmistas de conciliao, a mediao,

    a arbitragem, as decises judiciais eas decises administrativas; em al-guns ordenamentos, concentra-se,demasiadamente, a soluo juris-dicional, como no Brasil, enquan-to em outros a arbitragem; enm,a temtica do Direto do Trabalho,da qual se est dando apenas umaideia geral, ampla.

    3 Arbitragem

    No Brasil as solues juris-dicionais centralizaram o sistema.Em outros pases, como os EstadosUnidos, destaca-se a arbitragem.Em todos, procura-se dar nfase autocomposio coletiva e cercar--se de garantias a vontade do tra-balhador nas composies indivi-

    duais. Em todos os ordenamentoscoexistem diversas formas quecompem um sistema. H, portan-to, um sistema de composio dosconitos trabalhistas, o que pres-supe, como diz Emilio Morgado,que as partes que o integram este-jam entrelaadas e ordenadas con-forme uma sequncia rgida.

    A arbitragem no con-seguiu, ainda, no Brasil, a mes-ma aceitao que tem em outrospases, nem com a previso daConstituio de 1988, facultando--a para a composio dos conitoscoletivos. Tem crescido. H expe-rincias de arbitragens em algunssetores, em especial em So Paulo.Em outros ordenamentos jurdicos,a arbitragem obrigatria para al-guns tipos de questes, como asde greve em atividade essencial, e

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    tcnicos de problemas econmicosna profundidade necessria para

    que o pronunciamento, em conitoscoletivos salariais, no prejudiqueinteresses maiores gerais.

    A jurisdio um com-ponente de todo sistema. O quemuda, nos diversos pases, a am-plitude com que usada. Mas noh ordenamento jurdico sem acorrespondente jurisdio, porque

    esta a forma de atuar aquele.

    As normas jurdicas, legais,consuetudinrias, contratuais, po-dem ter mais de um signicado.Para interpret-las necessrio opronunciamento de um rgo. Masno basta que algum as interpre-te. A sua interpretao deve ter for-a sobre as demais para que seja a

    ltima, sem o que poderia semprehaver, a menos que os interessa-dos diretamente se componham,um choque de interpretaes quecaracterizaria uma situao de con-ito permanente. Cabe jurisdio,sem a qual nenhum sistema de so-luo de conitos pode manter-se a no ser pela imposio de umsobre outro interessado , a in-terpretao denitiva e ocial dasnormas que integram o ordena-mento jurdico, precedida de umadiversidade de mecanismos inter-nos, que podem existir nas empre-sas e nos sindicatos, para permitirsolues autocompostas, cleres esimplicadas, como convm paraa maioria dos conitos trabalhistas.

    Os conitos coletivos eco-nmicos, no Brasil, sempre foramsolucionados pela via jurisdicional.

    As Constituies deram Justiado Trabalho um poder normati-

    vo para xar normas e condiesde trabalho. No entanto, a juris-prudncia do Supremo TribunalFederal cresceu no sentido de li-mitar esse poder. Passou a distin-guir entre matria de lei e matriade dissdio coletivo e concluiu que,havendo lei, no pode a Justia doTrabalho xar, pelos dissdios co-letivos, normas e condies de tra-balho em desacordo com os seusdispositivos.

    O Supremo Tribunal Federal(RE 19.7911-9-PE, j. 24.9.1996, Rel.Min. Octvio Gallotti) reduziu aamplitude do poder normativodos Tribunais do Trabalho, ao de-cidir, interpretando o art. 114 daConstituio Federal, que a Justiado Trabalho, no exerccio desse po-der, pode criar obrigaes paraas partes envolvidas nos dissdiosdesde que atue no vazio deixadopelo legislador e no se sobrepo-nha ou contrarie a legislao em vi-gor, sendo-lhe vedado estabelecernormas e condies vedadas pelaConstituio ou dispor sobre ma-

    tria cuja disciplina seja reservadapela Constituio ao domnio da leiformal.

    Em continuidade a essegradativo esvaziamento, a Reformado Poder Judicirio, discutida peloCongresso Nacional (1999), propsa extino do poder normativo daJustia do Trabalho, salvo nos casosde greve em atividades essenciais,com base na tese segundo a qualo meio prprio para a composiodos conitos econmicos ou de

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    interesses a negociao coletiva,como nos demais pases, cando,

    para o Judicirio, a deciso dosconitos, individuais ou coletivos,jurdicos.

    5 Mediao

    As convenes e os acordoscoletivos podem resultar direta-mente de um acerto entre as partes,mas, em outras vezes, da mediao

    que, como dene Ruprecht, ummeio de soluo dos conitos cole-tivos de trabalho, pelo qual as par-tes comparecem perante um rgoou uma pessoa, designado por elasou institudo ocialmente, o qualprope uma soluo, que pode ouno ser por elas acolhida. A media-o praticada em todos os pases.

    No uma deciso. Nocontm, implcitas, as caractersticasde um pronunciamento decisrio,ao contrrio dos arbitrais ejurisdicionais. O mediador nosubstitui a vontade das partes.Restringe-se a propor a soluo spartes e estas tero plena liberdadede aceitar ou no a proposta. Se aproposta for aceita por uma, masrecusada pela outra parte, nohaver composio do conito,exaurindo-se, assim, a mediao.Se as duas partes concordarem coma proposta, estaro se compondoporque para tanto se dispuseram.

    O mediador adota o discur-so persuasivo, e no o impositivo.A mediao tem, em sua base, umcomponente autocompositivo, que da sua substncia, e do qual nopode afastar-se sem se descaracte-

    rizar. Pode ser combinada, como seviu, com a arbitragem. Nesse caso,

    no ser mediao. Ter sionomiahbrida, de mediao-arbitragem.Originariamente, , como obser-va Francisco Gmes Valdez, umatcnica intermediria entre a con-ciliao e a arbitragem. mais doque conciliao, na opinio pre-dominante, porque permite umaperspectiva maior de iniciativas. menos do que arbitragem, porqueno autoriza atos decisrios neminveste o mediador para tanto. Seo investir, o mediador estar sendotransformado em rbitro.

    H mediaes: a) facultati-vas ou obrigatrias, estas quandoas partes so obrigadas a se subme-terem a um processo de mediao

    o que no signica que tero deaceitar o resultado; b) unipessoaise colegiadas, estas por uma equipee aquelas por uma pessoa; c) p-blicas ou privadas, aquelas por umrgo da administrao pblica ouum servio especial do Ministriodo Trabalho, estas quando o me-diador um particular escolhidopelas partes.

    A mediao um instru-mento que acompanha, com gran-de proveito, a negociao coletiva.O mediador atua em dimensomaior quando, alm de participardo processo de negociao, acom-panha a aplicao das clusulas daconveno coletiva durante a suavigncia, para interpret-las noscasos de divergncias que possamsurgir entre os interessados no cur-so da vigncia da conveno.

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    A Consolidao das Leisdo Trabalho (art. 616) autoriza o

    Ministrio do Trabalho e Empregoa convocar as partes de um conitopara a mediao mesa-redondana DRT. O Decreto-lei n. 2.065, de1983, criou o Sistema Nacional deRelaes de Trabalho. No entan-to, o sistema no logrou atingiros objetivos visados. A Portaria n.3.097, de 17 de maio de 1988, doMinistrio do Trabalho e Emprego,estabeleceu regras para o procedi-mento de mediao nos conitoscoletivos, dentre as quais a exign-cia do encaminhamento da pautade reivindicaes para o rgo, aautuao do pedido, a noticaopor via postal para que a parte con-trria comparea reunio desig-nada, a representao, na reunio,

    do sindicato, por seu presidenteou diretores, e da empresa, por seutitular, diretor ou preposto, impli-cando o no comparecimento la-vratura de um termo de ausncia.O mediador pode solicitar infor-maes e esclarecimentos.

    A Procuradoria da Justiado Trabalho convoca as partes,

    durante investigao prvia ouinqurito civil pblico que precede instaurao de ao civil pblica,para um entendimento que,sendo positivo, ser formalizadoem um Termo de Ajuste deComportamento, que tem foraexecutiva perante a jurisdio,como ttulo extrajudicial executivo.

    Nos processos de conitoscoletivos, h uma fase de concilia-o, perante o Juiz, da qual pode

    resultar um acordo em dissdiocoletivo, forma de extino do pro-

    cesso sem julgamento de mrito, denatureza autocompositiva e conci-liatria, com fora semelhante dedeciso judicial.

    6 Conciliao

    A conciliao uma formaconsensual de soluo dos conitostrabalhistas e, nesse ponto,

    um modo de autocomposio.Mas no mediao. utilizadapara a composio dos conitosindividuais. Nos conitos coletivosdesenvolve-se um procedimentode negociao entre as partes. Osconvnios coletivos podem preverrgos de conciliao e as regraspara a sua atuao como no Brasil(CLT, art. 625-C). A conciliao

    tem limites maiores do que osda mediao. O conciliador notem as mesmas possibilidadesde iniciativas do mediador. Aextenso dessas possibilidades no bem delineada pela doutrina.A diferena entre as duas gurasest, menos na sua funo eperspectivas de atuao do agente,mais no mbito em que exercida.A mediao um mecanismobasicamente extrajudicial e aconciliao judicial e extrajudicial.

    A conciliao pode ser umafase pr-processual ou intraproces-sual, na conformidade das leis, quetanto podem dar-lhe um como ou-tro carter. Pode ser uma fase an-terior ao processo judicial ou umafase do mesmo, no seu incio ouenquanto no estiver proferida adeciso judicial.

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    Diferem conciliao e me-diao: a mediao tem produzido

    efeitos muito bons nos conitoscoletivos de interesse e a concilia-o nos conitos individuais jur-dicos. Assim, a conciliao , tam-bm, um ato processual, enquantoa mediao no, a menos que sedesigne a atuao conciliatriajudicial como ato de mediao. Aconciliao, se assim dispuser oordenamento jurdico, pode serum ato administrativo ou um atojudicial e a tendncia da mediao a de ser um procedimento par-ticular. Mas as funes das duasguras so muito prximas.

    Tem-se, como medida acer-tada para o aperfeioamento dosistema de composio dos con-itos em nosso pas, a ampliaoda conciliao extrajudicial com acriao de Comisses, nas empre-sas e nos sindicatos, para tentar aconciliao das controvrsias in-dividuais antes da propositura daao judicial, como meios de re-duzir os conitos que vo bater sportas do Judicirio.

    O acerto da medida ma-nifesto e no h como evit-lauma vez que um imperativodeterminado pela necessidadede descentralizao do nosso sis-tema, marcado pelo exageradoapego aos processos judiciais,mesmo em disputas trabalhistasmenores e que poderiam ser re-solvidas de outra forma, como a

    que agora valorizada.Discutem-se, sobre essas

    Comisses, trs principais pontos:

    Primeiro, a obrigatorieda-de ou facultatividade da tentativa

    de conciliao prvia ao processojudicial. Se facultativa, como pre-valeceu, menor ser a aceitaodessa prtica porque cando a cri-trio das empresas instituir ou nocomisses, muitas, por diferentesmotivos, deixaro de o fazer, em-bora outras, sem dvida, veroaspectos positivos que as incenti-varo a adotar essa prtica.

    Segundo, a inafastabilidadedo direito de acesso jurisdio,tema sobre o qual no h unani-midade, uma vez que h duas for-mas contrapostas de interpret-lo.A tentativa de conciliao prvia propositura de uma reclamaotrabalhista perante o Judicirio no

    pode impedir aquele que quiser di-retamente dirigir-se jurisdio eingressar com o processo, sem sub-meter a questo Comisso, dian-te do princpio da inafastabilidadedo acesso ao Judicirio. Nesse caso,as Comisses perderiam muito dasua razo de ser. Em outra inter-pretao, no contraria o referidoprincpio, traduzindo-se, simples-

    mente, em uma condio para apropositura da ao, semelhante atantas outras previstas pelo Cdigode Processo Civil, entendimen-to que nos parece mais coerentecom os propsitos da criao dasComisses.

    Terceiro, a segurana jurdi-ca do ato homologatrio ou decis-rio da Comisso. Se for passvel dereviso judicial no mrito, de nadaadiantar a conciliao, porque,

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    nesse caso, sua validade seria rela-tiva, no impedindo a rediscusso

    judicial dos mesmos temas e valo-res quitados. O documento, resul-tante da Comisso, deve ter o valorequivalente ao de sentena transi-tada em julgado, cabvel, apenas,discusso judicial de aspectos for-mais e de nulidades que eventual-mente venham a congurar vciodo ato jurdico.

    A lei brasileira permite,tambm, a criao de NcleosIntersindicais de Conciliao (CLT,art. 625-H).

    Quando as Comisses deConciliao Prvia so institudasem empresas ou grupo de empresas,obrigatoriamente devero ter com-posio paritria, sero compostas

    de, no mnimo, dois e, no mximo,dez membros, metade dos seusmembros ser indicada pelo empre-gador e a outra metade eleita pelosempregados, em escrutnio secreto,scalizado pelo sindicato da catego-ria prossional (CLT, art. 625-B).

    Por outro lado, a CLT (art.613, V) dispe sobre contedo dasconvenes e acordos coletivos:As Convenes e os Acordosdevero conter obrigatoriamente:[...] V normas para a conciliaodas divergncias surgidas entreos convenentes por motivo deaplicao dos seus dispositivos.No entanto, os sindicatos nunca seinteressaram em dar efetividade aesse preceito legal e raros foram osacordos coletivos contendo clusulaobrigacional instituindo Comissesde Conciliao.

    7 Contratao coletiva e jurisdio

    A diferena entre contrata-o coletiva e jurisdio simples,porque no h como confundir uminstrumento jurdico destinado aoajuste negocial dos interesses opos-tos, como a conveno, com ummecanismo de deciso estatal dasaspiraes em conito, como ajurisdio.

    A diferena se aproximana medida em que ambas asfunes venham a ser vistas comouma dimenso constitutiva, dejurisdio na acepo moderna deequidade ou fonte de criao dodireito e o juiz como poder parano s decidir mas, tambm, criara norma, geral ou individualizada,por delegao da lei ou para que

    possa cumprir o dever de julgarquando no h lei a aplicar.Colocada a questo dessa forma,a conveno coletiva e a sen tenaso tipos, embora diferentes, denormas jurdicas, compreendidascomo normas individualizadas,na linguagem kelseniana. E secogitarmos de sentena normativa,guardam, entre si, uma relao desucessividade, porque a sentenanormativa o sucedneo daconveno coletiva frustrada, pararepetir frase tradicional.

    No h concorrncia entreo procedimento negocial e ojurisdicional porque os dois estosituados em patamares diferentes,o primeiro na esfera da autonomiacoletiva dos particulares, o segundona atuao do Estado, cumprindo oexerccio do poder jurisdicional de

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    Como se v, no se retra-ta, nesse conjunto legislativo, uma

    preocupao maior de dar nfase negociao coletiva, o que ex-plicado pelo contexto no qual foiinstituda, o corporativismo doEstado e a convico de que a leiera o melhor instrumento para re-solver o problema do trabalhador,premissas que fundaram a polticatrabalhista da Revoluo de 1939,com os Decretos por prosses ex-pedidos pelo Poder Executivo, asleis que atriburam aos sindicatoso exerccio de funes delegadasde Poder Pblico como rgos decolaborao com o governo, e aforma autoritria de tratar as rela-es coletivas de trabalho em totaldesacordo com os princpios de-mocrticos que mais tarde seriam

    valorizados.

    A primeira lei, o Decreto n.21.761, de 23.8.1932, publicado noDirio Ocial de 25 de agosto de1932, assinado por Getlio Vargas,Salgado Filho, Francisco Campose Oswaldo Aranha, instituiu aConveno Coletiva de Trabalhocom as seguintes caractersticas:

    1) conceituando-a como o ajusterelativo s condies do trabalho,concludo entre um ou vrios em-pregadores e seus empregados, ouentre sindicatos ou qualquer outroagrupamento de empregadorese sindicatos, ou qualquer outroagrupamento de empregados,uma concepo ampla, de legiti-mao, no limitada associao

    sindical ao permitir negociaocoletiva tambm entre emprega-dores e os empregados (art. 1); 2)

    condicionando a negociao cole-tiva do sindicato deliberao da

    assembleia sindical (art. 1, 2); 3)exigindo a forma escrita, em 3 vias,assinadas por duas testemunhas,uma delas registrada no Ministriodo Trabalho, Indstria e Comrcio,e as cpias xadas nos estabele-cimentos das empresas (art. 2),entrando em vigor 30 dias aps aassinatura pelas partes, se outromodo no tiver sido ajustado (art.4); 4) projeo dos seus efeitos so-bre os sindicatos ou agrupamen-tos pactuantes ou os que viessema aderir conveno, estes no -cando exonerados das obrigaesassumidas no caso de retirarem aadeso (art. 5); 5) exonerao dequalquer compromisso de cumpri-mento da conveno pelo sindicato

    que no a tivesse raticado, que ti-vesse votado contra ela ou que notivesse comparecido assembleiaraticadora, bastando demitir-se,por escrito, em 10 dias, a contar daassembleia (art. 5, 2); 6) o con-tedo mnimo obrigatrio da con-veno coletiva (art. 6), o prazomnimo de 1 ano de vigncia, salvooutra estipulao, e mximo de 4

    anos (art. 7), a prorrogao auto-mtica quando, no termo nal, aspartes no se manifestassem emcontrrio (art. 7, 1) e a permis-so de convenes por prazo inde-terminado, caso em que cessariamos seus efeitos por vontade dequalquer das partes convenentes(art. 7, 4); 7) a possibilidade deconveno coletiva para determi-nado servio, pelo prazo mximode 4 anos (art. 7, 6); 8) a suspen-so dos efeitos da conveno sobre

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    a toda a categoria, nos casos pre-vistos em lei, dos contratos coleti-

    vos de trabalho. Foi, de um lado,a transferncia da competncia deum ato, antes da esfera do Ministrodo Trabalho, para um rgo cole-giado, no obstante o condiciona-mento anterior estar sujeito a ma-nifestao tambm de um rgo, aComisso de Conciliao.

    Uma estrutura ampla (1934

    e 1937) precedeu a Justia doTrabalho: Conselhos Permanentesde Conciliao e Arbitragem(Decreto-lei n. 1.637, de 1907), cria-dos para solucionar divergnciasentre o capital e o trabalho nodizer de Souza Netto1, Da Justiado Trabalho: sua organizao ecompetncia. (1938), modalida-de rudimentar de jurisdio do

    trabalho ; Comisses Mistas deConciliao (Decreto n. 21.396,de 1932), nos municpios em queexistiam sindicatos coincidin-do com a autorizao legal para anegociao coletiva, pelo Decreton. 21.761, de 1932 , organis-mos que Theotonio Monteiro deBarros Filho2, em A Justia doTrabalho (1938), considerou fr-

    geis, e Orlando Gomes3, em AJustia do Trabalho no Brasil(1974), aparatosa inutilidade;Juntas de Conciliao e Julgamento(1932), para dirimir dissdios in-dividuais; Conselhos Regionaisdo Trabalho, que resultaram nosTribunais Regionais do Trabalho;

    e Conselho Nacional do Trabalho(Decreto-lei n. 1.237, de 1939), cor-

    respondendo ao Tribunal Superiordo Trabalho, judicializada em 1946pela Constituio, e o Decreto-lei n.9.777, de 9 de setembro de 1946.

    O Decreto n. 21.761, de1932, deniu conveno coletivade trabalho (art. 13) como o ajusterelativo s condies do trabalho,concludo entre um ou vrios em-

    pregadores e seus empregados, ouentre sindicatos ou qualquer outroagrupamento de empregadores esindicatos, ou qualquer outro agru-pamento de empregados.

    A lei disciplinou: a) o pro-cedimento da negociao coletiva;b) a forma escrita, a publicao, oincio da vigncia, a adeso dos in-

    teressados conveno; c) a formade extenso dos seus dispositivos ambitos mais amplos; d) alguns re-quisitos sobre contedo, a vignciade um ano, a prorrogao, o regis-tro e arquivo no ento Ministriodo Trabalho; e e) a deciso ministe-rial sobre a extenso das suas clu-sulas. O Estado expediu, tambm,instrues para a elaborao dasconvenes coletivas, modelo o-cial para acordo de prorrogao dehoras, e normas sobre o registro noMinistrio.

    A Constituio de 1934 (art.121, 1) reconheceu as convenescoletivas.

    1SOUZA NETTO. Francisco de Andrade Da justia do trabalho: sua organizao ecompetncia. So Paulo: Saraiva, 1938.2BARROS FILHO, Theotonio Monteiro de. Justia do trabalho. 1938, Tese (Catedra).So Paulo: Universidade de So Paulo, 1938.3GOMES, Orlando. A Justia do Trabalho no Brasil. In:______. Questes de direito do

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    A Constituio de 1937 (art.137) disps sobre: a) aplicao das

    clusulas das convenes coletivasa todos os empregados representa-dos pelas associaes sindicais; b)contedo das convenes coleti-vas quanto durao do contrato,quantia e modalidades de salrios,disciplina interna e horrio de tra-balho; c) limitou (art. 138) aos sin-dicatos reconhecidos o direito deestipular contratos coletivos detrabalho obrigatrios para todos osseus associados.

    A Carta Constitucional de1937 declarou: os contratos cole-tivos de trabalho concludos pelasassociaes, legalmente reconhe-cidas, de empregadores, trabalha-dores, artistas e especialistas, seroaplicados a todos os empregados,

    trabalhadores, artistas e especialis-tas que elas representam.

    A Consolidao das Leisdo Trabalho (1943) reproduziu, emparte, as diretrizes do Decreto-lein. 21.761, de 1932: 1) a aplicaodo contrato coletivo aos associadosdos sindicatos convenentes, poden-do tornar-se extensivo a todos os

    membros das respectivas catego-rias, mediante deciso do Ministrodo Trabalho, Indstria e Comrcio(art. 612); 2) a forma e prazos previs-tos (art. 613); 3) o contedo mnimoobrigatrio do contrato (art. 619); 4)a possibilidade de suspenso, porato da autoridade administrativa esempre que no houvesse dissdioentre as partes convenentes, da vi-

    gncia temporria ou denitiva docontrato, diante de motivo de fora

    maior (art. 623); 5) a multa pela es-tipulao de contratos individuais

    contrrios aos coletivos (art. 624);6) a competncia, agora da Justiado Trabalho, para dirimir as ques-tes oriundas do contrato coletivo;deniu contrato coletivo de traba-lho (art. 611) como: o convnio decarter normativo pelo qual doisou mais sindicatos representativosde categorias econmicas e pros-sionais estipulam condies queregero as relaes individuais detrabalho, no mbito da respectivarepresentao.

    Inovou nos seguintes pon-tos: 1) a competncia, atribuda aoministro, para homologar contra-tos coletivos (art. 615); 2) a exten-so do contrato coletivo, por atodo ministro, aos membros das ca-

    tegorias prossionais e econmicasno scios dos sindicatos, dentrodas respectivas bases territoriais,desde que fosse do interesse pbli-co (art. 616); 3) a reduo do prazomximo de durao para 2 anos(art. 620); 4) a previso da dennciaou revogao (art. 622).

    A Constituio de 1946 (art.

    157, XIII) mudou a denominao decontrato para conveno coletivade trabalho.

    Duas alteraes foram in-troduzidas pelo Decreto-lei n. 229,de 28 de fevereiro de 1967, quan-do ocupava a Pasta do TrabalhoArnaldo Lopes Sssekind: a trans-formao de contratual para regu-

    lamentar com eccia normativa; eum segundo nvel de negociao, o

    trabalho. So Paulo: LTr, 1974. p. 29 e seguintes.

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    de empresa, nos seguintes termos: facultado aos sindicatos repre-

    sentativos de categorias prossio-nais celebrar Acordos Coletivoscom uma ou mais empresas da cor-respondente categoria econmica,que estipulem condies de traba-lho, aplicveis no mbito da empre-sa ou das empresas acordantes srespectivas relaes de trabalho.

    Em 1964 (Decreto n. 54.018),

    o Estado iniciou um longo pero-do de controle dos reajustes sala-riais. Os salrios passaram a serindexados. O Programa de AoEconmica do Governo atendeu necessidade de um tratamentode choque de combate inao.Diversas leis foram promulgadas.

    A Constituio de 1988: 1)exigiu a participao obrigatriados sindicatos nas negociaes(art. 8, VI); 2) instituiu o princ-pio da irredutibilidade do salrio,salvo o disposto em conveno ouacordo coletivo (art. 7, VI), refor-ada, assim, a nalidade da ne-gociao, no apenas como meiode obteno de vantagens para otrabalhador, mas, tambm, comoinstrumento de administrao dascrises da empresa; 3) permitiu a

    arbitragem facultativa dos coni-tos coletivos (art. 120, 1); 4) proi-biu a reduo pelos Tribunais doTrabalho de vantagens previstasem conveno coletiva; 5) condi-cionou o dissdio coletivo prviatentativa de negociao; 6) permi-tiu a ampliao, para mais de 6 ho-ras, da durao diria do trabalhoem turnos ininterruptos de reve-zamento, desde que por acordo ou

    conveno coletiva.

    O Plano Real (Lei n. 8.880,de 1994) devolveu os reajustes dos

    salrios livre negociao.Em concluso, possvel

    dizer que houve a ampliao dacontratao coletiva, mas algunsfatores a inibiram em nosso pas.Primeiro, a fragilidade dos sindica-tos, para a qual contribuiu o siste-ma de unicidade sindical, impediti-vo da liberdade sindical. Segundo,as restries impostas pelo sistemalegal de contratao coletiva quan-to legitimidade para negociar eaos nveis de contratao. O mo-noplio das entidades sindicais deprimeiro grau, de 1937, tornou-seuma regra, recolhida pelo art. 611da CLT, segundo a qual competeaos sindicatos negociar, e no sfederaes e confederaes, a es-tas permitido negociar nos casosde categorias no organizadas emsindicato. Terceiro, a unicidade

    sindical imposta por lei, contrria liberdade sindical prevista pelaConveno n. 87, da OrganizaoInternacional do Trabalho, e queconcentra a negociao ao nvel decategoria, e ao sindicato nico o seuagente exclusivo, em detrimento deoutras opes que os interlocuto-res sociais queiram seguir. Quarta,o poder normativo da Justia doTrabalho, ao qual recorrem os sin-

    dicatos, transferindo para o Estadopela via do dissdio coletivo, a xa-o das regras a serem observadas falta de consenso. uma prote-o aos sindicatos frgeis, mas, aomesmo tempo, institui uma culturade interveno do Estado que nofavorece a autonomia coletiva dosparticulares.

    O Projeto de lei n. 5.483-

    D, de 20014

    , que altera o art. 618

    4BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 5.483-D, de 2001. Disponvel em:Acesso em: 04 jul. 2011.

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    da Consolidao das Leis doTrabalho, aprovado pela Cmara

    dos Deputados e em fase de apre-ciao pelo Senado, suscitou gran-de polmica ao dar a seguinte novaredao para o art. 618 da CLT:

    Art. 618 . Na ausncia de conven-o ou acordo coletivo rmadospor manifestao expressa davontade das partes e observadasas demais disposies do TtuloVI desta Consolidao, a lei regu-

    lar as condies de trabalho. 1 A Conveno ou acordo cole-tivo, respeitados os direitos traba-lhistas previstos na ConstituioFederal, no podem contrariar leicomplementar, as Leis n. 6.321, de14 de abril de 1976, e n. 7.418, de16 de dezembro de 1985, a legis-lao tributria, a previdenciriae a relativa ao Fundo de Garantiado Tempo de Servio FGTS, bemcomo as normas de segurana esade do trabalho.

    2 Os sindicatos podero solici-tar o acompanhamento da centralsindical, de confederao ou fe-derao a que estiverem liadosquando da negociao de conven-o ou acordo coletivo previstosno presente artigo.

    9 A doutrina

    A primeira obra clssica ade Orlando Gomes5, A Conveno

    Coletiva de Trabalho (1936). Fez asseguintesobservaes principais:

    A conveno coletiva de trabalho produto do desenvolvimentoindustrial e do crescimento dasassociaes prossionais. NoBrasil, a indstria incipiente e asindicalizao recente. Aqui noh, pois, clima mui propcio ao

    desenvolvimento do fenmeno.No obstante, j est regulamen-

    tada pelo Decreto n. 21.761, de23 de agosto de 1932, publicadono Dirio Ocial de 25 do mes-mo ms e ano. E a ConstituioFederal, no art. 121, 1, letra J,determinou que a legislao dotrabalho observe o reconheci-mento das convenes coletivas.Devido ao demorado desenvolvi-mento dos fatos que condicionama evoluo da conveno coletiva,a lei, aqui, se antecipou ao fato.

    Seu livro, tese de ctedra naFaculdade de Direito e de CinciasEconmicas da Universidade

    Federal da Bahia, expe as teoriassobre a natureza jurdica da con-veno coletiva de trabalho: as teo-rias contratualistas do mandato, dagesto de negcios, da estipulaoem favor de terceiros, as teorias deNast, de Visscher; as explicaes

    normativistas, o institucionalismo,o realismo de Duguit, a teoria dodireito social de Gurvitch; analisa aestrutura da conveno coletiva e odireito positivo.

    Outra obra fundamen-tal Problemas de DireitoCorporativo (1938), de OliveiraVianna6. Defendeu a soluo ju-

    risdicional dos conitos coletivose o poder normativo da Justia doTrabalho. Reconhece que o modomais comum de soluo desses con-itos o convencional e consideraconveno coletiva de trabalho umfecundo instrumento jurdico comofonte do direito positivo, pela sua

    5GOMES, Orlando. A conveno coletiva de trabalho(1936), edio fac-similada, SoPaulo: LTr, 1995.6VIANNA, Oliveira. Problemas de direito corporativo. Rio de Janeiro: Jos Olym-pio,1938. 300p.

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    generalidade, pela sua obrigatorie-dade e pela extenso cada vez mais

    larga do seu campo de ao, parti-lhando dos atributos da lei formal.

    O contrato coletivo dizOliveira Vianna7:

    [...] mesmo na sua forma maiselementar e primitiva, de acordoentre os empregados de umdeterminado estabelecimento como seu patro, surgiu justamente

    como meio de estabelecer umanorma comum e geral, a vigorardentro de uma pequena rea: area de uma fbrica ou de umaempresa. Dentro desta rearestrita, dentro deste grupolimitadssimo, a necessidadede uma norma geral, de umanorma obrigando no apenasos contratantes, mas todos osque pertencessem, ou viessem apertencer, empresa, se fez sentircomo um imperativo de justia oude ordem.

    E defendeu a

    [...] existncia de um sistemade leis ou normas gerais, toimperativas e gerais como as queo Estado estabelecer, mas queo Estado desconhece, porqueformadas sem a colaboraodele, criadas e institudasem convenes coletivas oucorporativas, regendo no mais

    a atividade de indivduos oudesta ou daquela empresa; masde categorias todas; mas degrupos prossionais inteiros; masde organizaes econmicas devastido nacional ou internacionale, s vezes, continental ou,mesmo, intercontinental.

    A exemplo das sentenasnormativas proferidas nos diss-

    dios coletivos, sustentou a eccianormativa das convenes cole-

    tivas como reexo da tendnciada prpria economia industrialmoderna para os regimes de regu-lamentao uniforme e geral dascondies de trabalho.

    Para Oliveira Vianna8, con-veno coletiva de trabalho e contra-to coletivo de trabalho so, em tc-nica de Direito Social, coisas formale substancialmente distintas, esp-cies absolutamente inconfundveis: oobjeto do contrato coletivo distintodo da conveno coletiva. que as-semelhou o contrato coletivo com ocontrato individual plrimo ou umcontrato de equipe:

    [...] quando um patro ou sindicatode patres conchava com um gru-po de empregados ou sindicato deempregados um contrato coletivo,o que eles contratam trabalho, servio, energia aplicada, es-

    foro produtivo, fsico ou intelec-tual, desenvolvido no mais porum nico trabalhador, como nocontrato individual, mas por umapluralidade deles, visando um ob-

    jetivo comum um servio ouuma obra realizada em cooperaoou colaborao. Esta modalidadede contrato de trabalho muitofreqente em nosso pas. Quandopor exemplo um grupo de estiva-dores contrata com uma rma odescarregamento de uma partida

    de trigo, este grupo faz um contra-to coletivo de trabalho, pois que otrabalho executado cooperativa-mente, sob a direo de um capa-taz, escolhido pelo grupo. Se faltaporventura um estivador, cabe aocapataz substitu-lo por outro, nointervindo a rma nesta substitui-o pois o grupo e no cadaestivador isolado que respons-vel perante a rma pela descarga

    7VIANNA, Oliveira. Problemas de direito corporativo. Rio de Janeiro: Jos Olym-pio,1938. 300p.8Ibidem.

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    o que mostra o carter coletivoou cooperativo do trabalho contra-

    tado. O salrio por sua vez pagode uma s vez ao capataz, repre-sentante do grupo, que o redistri-bui, depois, proporcionalmente oueqitativamente, com os demaiscomponentes do grupo ou tropa.

    E concluiu: , o contratocoletivo, como se v, um verdadeirofeixe de contratos individuais detrabalho; o seu carter coletivoresulta do modo de execuo dotrabalho, e no da prpria relaojurdica estabelecida; esta semprede natureza individual.

    Por conveno coletiva, en-tendeu um instrumento que xanormas e no que contrata servi-os , pelas quais se devero regeros futuros contratos de trabalho. Por

    tal motivo, foi coerente a sua inter-pretao da Constituio de 1934:o que mandou que o legislador or-dinrio reconhecesse foi o contratocoletivo de normas, e no o contratocoletivo de trabalho.

    Outras questes queOliveira Vianna9analisou foram: oproblema da intensidade da fora

    normativa da conveno coletiva; oproblema da extenso dessa foranormativa; os projetos de lei exis-tentes na poca.

    Ruy de Azevedo Sodr, emOs contratos coletivos de trabalhono Brasil. Histria, denominao,sistema legal vigente, Causas im-peditivas de sua expanso (1958),

    criticou a falta de eccia social dasconvenes coletivas:

    [...] os contratos coletivos de tra-balho no tiveram, no Brasil, odesenvolvimento normal. Noforam, como anunciavam os seuslegisladores, o instituto dinmicoe poderoso, fadado a compor asrelaes de trabalho entre as ca-tegorias econmicas e prossio-nais. No foram a fonte do nossodireito social. Para isso concorre-ram diversos fatores. Em primei-ro lugar porque, como de incioassinalamos, ao contrrio do queocorreu em outros pases, o nossodireito social no foi alimentadopelos contratos coletivos, pelosusos e costumes, pelos regula-mentos de fbrica. O nosso direitosocial nasceu da lei, alimenta-seda lei e acompanha a realidadesocial atravs da lei, pois um re-gime onde no h clima em quepossa germinar o contrato coleti-vo. Outro fator o processo bu-

    rocrtico a que est sujeito o con-trato. Para a sua elaborao a leiestabelece uma srie de atos, cujaobservncia retarda a conclusodo contrato pelo menos por doismeses, sem contar o tempo gastoentre os sindicatos contratantespara se ajustarem nas clusulas econdies integrantes do contrato.

    Henrique Stodieck10, emConveno coletiva de trabalho

    (1968), sobre o Decreto-lei n. 229,de 1967, disse:

    A nova redao da CLT introduzoutra fase na evoluo legal denossas convenes. Se no Decretode 1932, quaisquer grupos po-diam rmar uma conveno, coma Consolidao de 1943, essasconvenes, ento denominadascontratos coletivos, eram privati-vas de sindicatos e podiam ser es-

    9VIANNA, Oliveira. Problemas de direito corporativo. Rio de Janeiro: Jos Olym-pio,1938. 300p.10STODIECK, Henrique. Conveno coletiva de trabalho. Revista LTr.So Paulo, v. 32,n. 1, p. 5-22, jan./fev. 1968.

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    tendidas por ato do Ministro; ago-ra, as convenes, propriamente

    ditas e assim designadas, nascemvlidas para as categorias intei-ras, econmicas e prossionais dispensada a extenso. Comoutra denominao acordo co-letivo podem ser pactuadas nombito de uma s empresa, sen-do o empregador uma das partese de outro lado o sindicato, ou seeste se desinteressar, os prpriosempregados.

    A doutrina contempornearecebeu valiosa contribuio comas monograas de Carlos AlbertoGomes Chiarelli11, Sindicato econtrato coletivo de trabalho(1965), Octavio Bueno Magano12,Conveno coletiva de trabalho(1972); Carlos Moreira de Luca13Conveno coletiva de trabalho(1991); Jos Francisco Siqueira

    Neto

    14

    Contrato coletivo de tra-balho (1991); Flvio AntonelloBenites Filho15 Negociaes tri-partites na Itlia e no Brasil(1995); Otvio Pinto e Silva16 Acontratao coletiva como fontedo direito do trabalho (1998), eMnica Sette Lopes17, ConvenoColetiva e sua Fora Vinculante(1998).

    Vimos que diversos dis-positivos da Constituio de 1988

    abriram a porta da negociao,analisados pela doutrina: irredu-

    tibilidade de salrios, salvo o dis-posto em acordo ou conveno co-letiva (art. 7, VI); jornada de seishoras para o trabalho realizado emturnos ininterruptos de reveza-mento, salvo negociao coletiva(art. 7, XIV); durao do trabalhonormal no superior a oito horasdirias e quarenta e quatro sema-nais, facultada a compensao dehorrio e a reduo da jornadamediante acordo ou convenocoletiva de trabalho (art. 7, XIII);obrigatoriedade da participaodos sindicatos nas negociaescoletivas (art. 8, VI); negociaocoletiva como condio para pro-por dissdio coletivo (art. 114, 2); e poder normativo da Justia

    do Trabalho, respeitadas as dispo-sies convencionais e legais mni-mas de proteo ao trabalho (art.114, 2).

    Cabem, quanto a estetema, alguns comentrios:

    Primeiro, a amplitude dopreceito constitucional (art. 7,VI) sobre irredutibilidade do sa-lrio, salvo o disposto em conven-o ou acordo coletivo. Prevalece

    11CHIARELLI, Carlos Alberto. Sindicato e contrato coletivo de trabalho. Pelotas, [s.n.],1965.12MAGANO, Octavio Bueno. Conveno coletiva de trabalho.So Paulo: LTr, 1972.13LUCA, Carlos Moreira de. Conveno coletiva de trabalho,um estudo comparativo. SoPaulo: LTr, 1991, p. 142-149.14SIQUEIRA NETO, Jos Francisco. Contrato coletivo de trabalho perspectiva de rompi-mento com a legalidade repressiva.So Paulo: LTr, 1991.15BRESCIANI, Luis Paulo; BENITES FILHO, Flavio Antonello. Negociaes tripartitesna Itlia e no Brasil: o acordo nacional e as cmaras setoriais . So Paulo : Ltr, 1995 .16SILVA, Otavio Pinto e. Acontratao coletiva como fonte do direito do trabalho. SoPaulo: LTr, 1998.17LOPES, Mnica Sette. A conveno coletiva e sua fora vinculante. So Paulo: LTr, 1998.

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    o entendimento segundo o qualpor salrio, para esse m, deve

    ser entendida toda prestao denatureza salarial. o que armaArnaldo Sssekind18, DireitoConstitucional do Trabalho (1999):qualquer prestao de naturezasalarial (salrio bsico, gratica-es, percentagens, adicionais etc.),cujo princpio da irredutibilidadepode ser vulnerado por convenesou acordo coletivo de trabalho.Concordamos com essa interpre-tao, como dissemos em Direitodo Trabalho na Constituio de198819. A reduo estar inteira-mente autorizada no s quandoatingir o salrio-base, mas, tambm,as demais formas complementa-res de pagamento denominadas,em nosso Direito, remunerao.

    Se o principal, que o salrio bsi-co, redutvel, com maior razo oser o acessrio, que so as formascomplementares de remunerao;o acessrio segue o principal. Dessemodo, vlido acordo ou conven-o coletiva de trabalho que reduz,por exemplo, o valor de um adi-cional salarial, o percentual de co-misses, a graticao contratual

    e assim por diante. Irany Ferrari, 20Curso de Direito Constitucionaldo Trabalho, Proteo do Salrio(1991), mostra que o salrio conti-nua irredutvel a nvel individual e

    pode ser reduzido a nvel coletivopor empresa (acordo coletivo) ou

    por categoria (conveno coletiva).Entendemos que o acordo coleti-vo tem efeito derrogatrio salarialsobre a conveno coletiva de tra-balho. A Constituio prev, paraa licitude da reduo, duas vias, aconveno ou o acordo coletivo.

    Segundo, o mesmo disposi-tivo constitucional trouxe discus-so outro tema: a reduo, no sde salrios, mas de outros direi-tos. Nesse caso, o princpio teriauma aplicao ampliada, umavez que tem por objeto apenassalrios e no todos os direitosdo trabalhador, de modo que asua extenso depende de refor-ma constitucional.

    Terceiro, a jornada de seishoras para o trabalho realizadoem turnos ininterruptos de reve-zamento, salvo negociao cole-tiva (art. 7, XIV): no surgiramdivergncias quanto validadeda ampliao da jornada normalde trabalho, nos sistemas de re-vezamento, para mais de seis eat oito horas dirias, por acor-do ou conveno coletiva, nemquanto licitude da eliminaodo regime de revezamento coma fixao da jornada normal deoito horas, pelas mesmas vias.

    18SSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar,1999.19NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito do trabalho na Constituio de 1988.SoPaulo: Saraiva, 1989.20FERRARI, Irany. Curso de direito constitucional do trabalho: da proteo do salrio.So Paulo: LTr, 1991. v. 1.

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    Quarto, a durao do tra-balho normal no superior a oito

    horas dirias e quarenta e quatrosemanais, facultada a compen-sao de horrio e a reduo dajornada mediante acordo ou con-veno coletiva de trabalho (art.7, XIII): discutiu-se se a compen-sao de horrio exige negociaocoletiva ou se vlida medianteacordo individual. Milton Moura

    Frana21

    , Compensao de horasde trabalho, imprescindibilida-de de acordo ou conveno cole-tiva (art. 7, XIII, da CF), BrevesConsideraes, sustentou:

    E neste contexto de transforma-es, para ajustar as relaes detrabalho nova realidade, hou-ve radical mudana de trata-mento, por parte do constituin-te, em relao ao instituto dacompensao de horrio. Nos foi elevado em nvel consti-tucional, como inclusive pas-sou a ser disciplinado de formadiferente da prevista na CLT,uma vez que se lhe imps, comopressuposto de sua validade,a imprescindvel participaodo sindicato, via conveno ouacordo coletivo de trabalho, nasua adoo por empregados eempregador (art. 7, XIII, da

    CF). Conclusivo, pois em faceda redao to enftica do re-ferido dispositivo no h, datavenia, como admitir-se que o

    acordo individual entre empre-gado e empregador, previsto no

    art. 59, 2, da CLT, tenha sidorecepcionado pela nova ordemjurdica constitucional, comoinstrumento vlido implanta-o do regime de compensaode horrio de trabalho.

    Em sentido semelhante,posicionaram-se Octavio BuenoMagano22 em Procedimentos deAutocomposio dos Conflitos

    Coletivos e Arnaldo Sssekind23

    em Instituies de Direito doTrabalho. Essa , tambm, anossa concluso, em Curso deDireito do Trabalho24 comodispe a lei constitucional. OTribunal Superior do Trabalho,no entanto, admitiu a compen-sao de horas pactuada emacordo individual (TST, E-RR-

    233.901/1995-2, SBDI1, 21.9.98,Rel. Min. Hermes Pedrassani).

    Quinto, a obrigatorieda-de da participao dos sindi-catos nas negociaes coletivas(art. 8, VI). Uma corrente, quedefendemos, que , tambm, ade Celso Ribeiro Bastos, sustentaque a legitimidade para negociar

    passa, por fora da Constituio,das empresas para os sindicatose o acordo coletivo deve ter a

    21FRANA, Milton Moura. Compensao de horas de trabalho, imprescindibilidadede acordo ou conveno coletiva (art. 7, XIII, da CF), breves consideraes.RevistaLTr Legislao do Trabalho e Previdncia Social. So Paulo, v. 60, n. 11, p. 1451-1452, nov. 1996.22MAGANO, Octavio Bueno. Procedimentos de Autocomposio dos Confitos Cole-tivos.Revista LTr Legislao do Trabalho e Previdncia Social. So Paulo, v. 54,n. 2, p. 150-153, fev. 1990.23SSSEKIND, Arnaldo. Instituies de direito do trabalho. So Paulo : Ltr, 1999.24NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 18. ed. So Pau-lo: Saraiva, 1998.

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    participao obrigatria do sin-dicato patronal. Outra corrente,

    de ArnaldoSssekind25, DireitoConstitucional do Trabalho, ePinho Pedreira26 em Curso deDireito Constitucional do Trabalho,Negociao Coletiva, concluiuque o sindicato patronal no estobrigado a celebrar o acordo co-letivo e a legitimidade continua aser direta, das empresas, porqueestas, e no aquele, que assumema obrigao acordada; o sindicatopatronal est obrigado a participarapenas da conveno coletiva, por-que um entendimento em nvelde categoria. Faz uma distino en-tre participar e celebrar para dizer:

    Destarte, porque o inciso cons-titucional no distinguiu entresindicatos de trabalhadores e de

    empregadores, nem entre con-veno e acordo coletivo, cumpreconcluir que as entidades sindi-cais das duas classes tero de par-ticipar de todas as negociaes co-letivas. No entanto, os sindicatosde empregadores no assinaro,como partes, os acordos coletivos.O papel da associao sindical,nesse caso, ser o de assistente.Assistncia que se justica, comopoder moderador, visando evitarum desnvel acentuado nas con-

    dies de trabalho entre empresasda mesma categoria econmica.

    Sexto, a negociao coletivacomo condio para propor diss-dio coletivo (art. 114, 2). ArionRomita27, em Negociao coletiva

    como condio da ao, mostrou:

    A negociao coletiva (ou aarbitragem) condio especcada ao coletiva trabalhista(dissdio coletivo de naturezaeconmica). O art. 114, 2, daConstituio de 1988, s autorizao ajuizamento do dissdio coletivose qualquer das partes se recusar negociao coletiva ou arbitragem. Inexistindo prova dopreenchimento desse requisito, impossvel a sentena de mrito;o suscitante carecedor da aoe o processo se extingue sem

    julgamento de mrito, nos termosdo art. 267, inciso VI, do Cdigode Processo Civil.

    Stimo, o respeito, nas sen-tenas proferidas em dissdios co-letivos, das disposies convencio-nais e legais mnimas de proteoao trabalho (art. 114, 2): clara aConstituio no sentido de retirardo mbito da sentena normativa adiminuio de conquistas vigentes emclusulas de acordos ou convenescoletivas de trabalho.

    10 A jurisprudncia

    A jurisprudncia incentivaa prtica da negociao coletiva,limitando o poder normativo dos

    Tribunais do Trabalho quandoinveste em esfera j disciplinadapela lei.

    A Constituio Federal (art.114, 2) declara que, recusando-sequalquer das partes negociao

    25SSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho.Rio de Janeiro: Renovar, 1999.26SILVA, Luiz de Pinho Pedreira da . Negociao coletiva. In: ROMITA, Arion Sayo(coord.). Curso de direito constitucional do trabalho: estudos em homenagem ao Pro-fessor Amaury Mascaro Nascimento. So Paulo: LTr, 1991. v. 2.27ROMITA, Arion Sayo. Negociao coletiva como condio da ao. Revista LTr Le-gislao do trabalho e Previdncia Social.. So Paulo, v. 53, n. 11, p. 1.295-1301,nov. 1989.

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    ou arbitragem, facultado aosrespectivos sindicatos ajuizar diss-

    dio coletivo, podendo a Justia doTrabalho estabelecer normas e con-dies, respeitadas as disposiesconvencionais e legais mnimas deproteo ao trabalho.

    O Enunciado n. 190, doTribunal Superior do Trabalho,dispe que, decidindo ao cole-tiva ou homologando acordo nela

    havido, o TST exerce o poder nor-mativo constitucional, no poden-do criar ou homologar condiesde trabalho que o STF julgue itera-tivamente inconstitucionais.

    O Supremo TribunalFederal (RE 19.799911-9-PE, j. 24-9-1996, Rel. Min. Octvio Gallotti)reduziu a amplitude do poder

    normativo dos Tribunais doTrabalho ao decidir, interpretan-do o art. 114 da Constituio, quea Justia do Trabalho pode criarobrigaes para as partes envolvi-das nos dissdios desde que atueno vazio deixado pelo legislador eno se sobreponha ou contrarie alegislao em vigor, sendo-lhe ve-dado estabelecer normas e condi-es vedadas pela Constituio oudispor sobre matria cuja discipli-na seja reservada pela Constituioao domnio da lei formal.

    O Tribunal Superior doTrabalho condiciona a ao judicialcoletiva prvia e obrigatria ten-tativa de soluo do conito pelanegociao coletiva. A InstruoNormativa n. 4, de 8 de junho de1983, do TST, inciso I, dispe:Frustrada, total ou parcialmente,

    a autocomposio dos interessescoletivos em negociao coletiva

    promovida diretamente pelos inte-ressados, ou mediante intermedia-o administrativa do rgo com-petente do Ministrio do Trabalho,poder ser ajuizada a ao de diss-dio coletivo.

    Diversas outras diretrizesforam xadas pela jurisprudncia:Conveno coletiva, formalizada

    sem prvia audio do rgo o-cial competente, no obriga socie-dade de economia mista (ETST n.280); O sindicato no parte leg-tima para propor, como substitutoprocessual, demanda que vise a ob-servncia de conveno coletiva(ETST n. 286).

    A Seo de Dissdios

    Coletivos, do Tribunal Superiordo Trabalho, aprovou OrientaesJurisprudenciais, dentre asquais: 01. Acordo coletivo.Descumprimento. Existncia deao prpria. Abusividade dagreve deagrada para substitu--la. O ordenamento legal vigenteassegura a via da ao de cumpri-mento para as hipteses de inob-servncia de norma coletiva emvigor, razo pela qual abusivoo movimento grevista deagradoem substituio ao meio paccoprprio para a soluo do con-ito. [...] 24. Negociao prviainsuciente. Realizao de mesa--redonda perante a DRT. Art. 114, 2, da CF/88.Violao. [...] 11.Greve. Imprescindibilidade de ten-tativa direta e pacca da soluodo conito. Etapa negocial prvia. abusiva a greve levada a efeito

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    sem que as partes hajam tentado,direta e pacicamente, solucionaro conito que lhe constitui o ob-jeto. [...] 34. Acordo extrajudicial.Homologao. Justia do Trabalho.Prescindibilidade. desnecess-ria a homologao, por TribunalTrabalhista, do acordo extrajudi-cialmente celebrado, sendo su-ciente, para que surta efeitos, suaformalizao perante o Ministriodo Trabalho (art. 614 da CLT e art.7, inciso XXXV, da ConstituioFederal).

    11 Referncias

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