evoculção conceito de campesinato

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VIA CAMPESINA DO BRASIL SOBRE A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPESINATO 1 Eduardo Sevilla Guzmán y Manuel González de Molina 1 O texto original foi escrito em castelhano. A tradução literal, para uso interno da Via Campesina do Brasil, foi realizada por Ênio Guterres e Horacio Martins de Carvalho, no final de dezembro de 2004.

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VIA CAMPESINA DO BRASIL

SOBRE A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPESINATO1

Eduardo Sevilla Guzmán yManuel González de Molina

BRASILIA, MARÇO DE 2005

1 O texto original foi escrito em castelhano. A tradução literal, para uso interno da Via Campesina do Brasil, foi realizada por Ênio Guterres e Horacio Martins de Carvalho, no final de dezembro de 2004.

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APRESENTAÇÃO, PELA VIA CAMPESINA

A Via Campesina do Brasil, articulação formada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragems (MAB), Movimento de Mulheres Camponesa (MMC), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juvemtude Rural (PJR) e a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) tem uma oportunidade impar de apresentar à sociedade brasileira um estudo de Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina, com o título Sobre a Evolução do Conceito de Campesinato.

Os autores são notórios pesquisadores e professores de universidades espanholas

que desde 1980 vem pesquisando e escrevemdo sobre o campesinato na Europa e América Latina com uma visão global e sistemática dos marcos teóricos, resgatando conceitos e formas de desenvolvimento do campesinato a partir do “Pensamento Social Agrário” desde o século XVIII até a atualidade.

Esta obra vem trazer, como dizem os próprios autores, “importantes ferramentas teóricas com as quais se poderá neutralizar a ofensiva neoliberal que desde a academia e na prática política esta se desenvolvendo na América Latina ao pretender apresentar uma inevitável evolução da Agricultura “Familiar” para o Agronegócio, no contexto da Agricultura Industrializada em sua atual versão transgênica”. Assim como os autores, cremos em outra solução para os problemas sociais e ambiemtais que atravessamos. E o campesinato, como veremos no texto, nos traz elementos que contribuirão muito para a solução da crise em que vivemos.

Com essa publicação, queremos possibilitar aos leitores e aos estudiosos das questões emvolvemdo o campesinato uma visão histórica sobre a evolução do conceito, afirmando e reafirmando no campesinato seu modo de ser e de viver nas mais diferentes formas de sociedade. Temos ainda, como meta, o fortalecimento do conceito de camponês, o que é uma questão estratégica para o debate com o pensamento neoliberal e ortodoxo, através de uma leitura crítica sobre as diferentes interpretações feitas sobre o futuro do campesinato nas sociedades capitalistas.

Cremos que esta obra é de fundamental importância para os movimentos camponeses do Brasil, num momento em que estamos oportunizando, enquanto movimento social, a participação de vários estudos que estão sendo realizados por diversos pesquisadores que tem, gentilmente, dedicado tempo para oferecerem contribuições na ampliação do debate sobre o campesinato entre os intelectuais e os Movimentos Camponeses do Brasil.

Com este trabalho queremos oferecer à sociedade brasileira uma visão de quem acredita que o campesinato tem papel fundamental para um processo de desenvolvimento rural sustentável. Pretendemos ainda oferecer estes subsídios teóricos, historicamente fundamentados, a outros pesquisadores, professores, estudantes e a cidadãos interessados na temática e na realidade camponesas. Oferecer principalmente aos camponeses e suas organizações, mais uma ferramenta de luta, agora no campo da batalha de idéias.

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SUMÁRIO

1. Introdução....4

2. O campesinato na antiga tradição dos estudos camponeses....7

3. Da nova tradição dos estudos camponeses à agroecologia....25

4. A modo de conclusão: o campesinato na agroecologia....36

5. Bibliografia....39

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um complemento de nossa intervemção no Seminário sobre o Campesinato que, organizado pela Via Campesina, teve lugar em Brasília nos dias 19 e 20 de Novembro do 2004; nele pretendemos caracterizar a evolução do conceito de Campesinato no que definiremos mais adiante como o Pensamento Social Agrário Alternativo. Dito conceito é apresentado através dos discursos que, consciemte ou inconsciemtemente, encontram-se por trás dos atores coletivos que configuram o que aqui chamamos “orientações teóricas”, como categorias intelectuais, nas que se articulam explicações e valores sobre algum nível da realidade, geradoras de processos de legitimação ou deslegitimação sobre determinadas parcelas de tal realidade, neste caso relativa ao campesinato, à agricultura ou à sociedade rural (2).

A perspectiva que vamos utilizar pretende ter uma natureza holística, no sentido de que é, à sua vez, histórica e totalizadora, tentando captar a complexa diversidade das manifestações do debate e de seu permanemte processo de transformação. Esta é considerada não só desde uma perspectiva multidisciplinar senão em sua mais ampla gemeralidade, e aceitando a articulação das diferentes “orientações teóricas” num processo de configuração de um “pensamento científico convencional” confrontado, nas diversas conjunturas históricas, com “um pensamento alternativo”. O primeiro, como conseqüência das inter-relações da “ciência” com a “sociedade”, não questiona o sistema de relações sociais existentes. As ações de desenvolvimento realizadas como conseqüência da profundidade sócio-política de cada “orientação teórica” tende a legitimar a ordem social existente. Pelo contrário, o pensamento alternativo tende a transformá-lo.

Nas páginas que seguem pretendemos fazer uma incursão pelo Pensamento Social Agrário para apresentar aqueles marcos teóricos que se movem numa práxis intelectual e política “contra o capitalismo”. E isso, independentemente de que atribuam ao campesinato um papel histórico progressista (potencial revolucionário) ou reacionário (saco de batatas), desde o século XIX até a atualidade. Nossa contribuição à VIA CAMPESINA pretende trazer ferramentas teóricas com as quais se poderá neutralizar a ofensiva neoliberal que desde a academia e da prática política está se desenvolvendo na América Latina ao pretender apresentar uma inevitável evolução da Agricultura “Familiar” para o Agronegócio”, no contexto da Agricultura Industrializada em sua atual versão transgênica. Cremos, pelo contrário, que a única solução para o problema sócioambiental que

2 A presente investigação só adquire seu sentido cabal no contexto de outras anteriores ( Cf. Giner, S., and E. Sevilla Guzmán (1980) ; E. Sevilla Guzmán (1983);Newby, H. e E. Sevilla-Guzmán (1983); E. Sevilla Guzmán, (1984 :41-107); Sevilla Guzmán, E. (1988 ); Sevilla Guzmán ( 1990 ); e Eduardo Sevilla-Guzmán e Manuel González de Molina (1992) onde se desenvolvem, em forma mais detalhada aspectos concretos desta. Gonzáles de Molina e Sevilla Guzmán (1993a e 1993b) Uma visão global, muito esquemática, considerando a implementação prática destes marcos teóricos através de suas formas de desenvolvimento apareceu em português em Sevilla Guzmán (1997) e em inglês como E. Sevilla Guzmán and Graham Woodgate, “Susttainable Rural Developmemt: Form a Industrial Agriculture to Agroecologyy” em Michel Redclift and Grahm Woodgate (eds) The International Handbook of Emvironmemtal Sociology (Chaltenham: Edwuard Elgar, 1997); há tradução castelhana em (Madri: Mc Graw Hill, 2002).

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atravessamos está num manejo ecológico dos recursos naturais, em que apareça a dimensão social e política que traz a Agroecologia e que esteja baseada na agricultura sustentável que surge do “modelo camponês” em sua busca de uma soberania alimentar.3

Necessidade de estabelecer um marco teórico para a Agroecologia latino-americana.

Cremos ser necessário adicionar uma reflexão para assinalar que a análise do campesinato no Pensamento Social Agrário Alternativo que apresentamos a seguir teria de ser completado com uma interpretação do processo histórico latino-americano que queremos esboçar aqui (Cf. Ottmann, 2005, no prelo) esquematicamente. E isso pela importância política que sua introdução na Agroecologia pode ter. Tal interpretação parte de uma estratégia metodológica que rastreia os processos geradores de identidade ao apresentar conteúdos históricos que foram gerados pelas memórias sociais procedemtes da visão dos vencidos. A inclusão, na reflexão teórica e análise histórica, de uma série de autores-chave permitiria construir uma interpretação desde a visão do sul. Com tal contextualização histórica se rastreariam aqueles processos que, em nossa opinião, estabeleceram os conteúdos históricos de uma matriz sociocultural especificamente latino-americana.

O primeiro deles, que se estende ao longo de todo o período colonial, ressalta o último terço do século XVIII, quando surge a Ilustração européia e têm lugar os levantamentos incaicos no cone sul latino-americano; isso permitiria ressaltar a

3 Estes materiais provêem da pesquisa que os autores estão desenvolvendo sobre Os camponeses e a Agroecologia, onde pretendem analisar o papel do campesinato nas estratégias de desenvolvimento rural sustentável, além de apresentar a evolução deste conceito nas Ciências Sociais e no pensamento agrário. Para isso, e nos termos desenvolvidos neste artigo, partimos de recuperar as raízes de um pensamento alternativo em torno do campesinato. Isso nos permitirá obter uma nova consideração do campesinato e seu papel no desenvolvimento rural sustentável. Assim, depois de mostrar que os camponeses também contaminam e degradam o meio ambiemte, apresentaremos uma “teoria da degradação da condição camponesa”. E ao fazê-lo, consideraremos aos movimentos camponeses e o desenvolvimento rural sustentável como estratégia desde o potencial de mudança do campesinato e o desenvolvimento endógeno. “O conceito de potencial endógeno em Agroecologia faz referência, não só ao nível de conhecimento local que possui um indivíduo sobre seus agroecossistemas, senão ao grau de compromisso que possui com a identidade vinculada a dito conhecimento e às comunidades locais que o compartilham. Isto é, à identificação que os sujeitos estabelecem com os conteúdos históricos de suas próprias experiências vinculadas com as de seus antepassados, que sem dúvida possuem uma articulação com seus agroecossistemas. O grau de identificação dos agricultores com a matriz sociocultural gerada em sua interação com seus recursos naturais, constitui a dimensão agrária do endógeno. Nesse sentido, descrever a aparição de uma ética e de uma cultura alternativa à racionalidade globalizadora que esteve e está presente a muitos movimentos camponeses. Esse é o ponto de partida de qualquer estratégia de desenvolvimento rural sustentável, no que aparece uma propemsão à mudança baseada na resistência camponesa, com sua estrutura organizativa que estabiliza e organiza a reivindicação e o leva para adiante de maneira autônoma e participativa; não é a única via, o Estado pode realizar algo parecido, mas à vista do que faz o Estado na América Latina e a lentidão com que aborda o problema da reconversão ecológica da produção agrária no Ocidente, é imprescindível a presemça e o empuxo de movimentos sociais camponeses e/ou ecologistas.

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heterogeneidade de formas conflitivas de luta e resistência à invasão e ocupação européia, no mesmo.

O segundo processo abarca o primeiro terço do século XIX, compreemdemdo a conjuntura histórica da dinâmica de emancipação americana. Aqui a reflexão histórica concluiria mostrando como na prática da totalidade do território que hoje constitui a América Latina a descolonização se realizou numa forma incompleta. O processo nunca chegou a concluir já que, ainda que se obtivesse a independência dos reinos ibéricos, nunca se chegou a eliminar a estrutura interna da colônia, mantendo-se o domínio ideológico do ocidente.

O terceiro processo se move na segunda metade do século XIX, com a consolidação do liberalismo e do socialismo na Europa e a construção da independência na América Latina. Nele, as resistências aos projetos oligárquicos que pretendiam outorgar um status real de cidadão aos grupos indígemas ainda não exterminados foram interpretadas pelo despotismo ilustrado neocolonial como manifestações regressivas de oposição ao progresso. O pensamento científico emergente, tanto desde posições liberais como socialistas, interpretaria as rebeldias populares como forças irracionais, incapazes de compreender o caminho marcado pelos centros civilizados: era necessária a mudança dos sangues nativos por raças “trabalhadoras”. A introdução da interpretação de José Carlos Mariátegui do processo histórico latinoamericano nos permitiria conceitualizar-lo desde o Neomarxismo dos Estudos Camponeses, como corrente precursora da Agroecologia. Isso permitiria o esboço dos conteúdos de uma matriz de pensamento popular latinoamericano com os materiais historiográficos de Guillermo Bonfil Batalha, Alcira Argumedo, Eric Wolf e Jacques Chonchol, entre outros.

Os elementos centrais em que aparecem os contornos da matriz de pensamento popular latinoamericano são: (1) a existência de etnicidades profundas negadas por um marco de legalidade no que se constrói um imaginário que nega, igualmente, o reconhecimento social da mestiçagem; (2) desde a homogeneidade de uma elite crioula, de origem européia; (3) que controla as bases legais e morais das formas históricas de dominação política. No amplo mapa latinoamericano persiste uma sincronia manifestada pelas realidades políticas e pela homogeneidade das classes privilegiadas. No entanto frente a isso, aparece uma (4) heterogeneidade sociocultural nas classes oprimidas, portadoras de (5) diferentes formas de conflictividade latente vinculadas à heterogeneidade sóciocultural, articuladas não poucas vezes a um catolicismo popular (como sincretismo das cremças ancestrais das cosmovisões de suas etnicidades profundas) com um potencial liberador.

Dado que a Agroecologia supõe o manejo dos recursos naturais surgido desde as identidades dos “etnoagroecossistemas locais”; a existência desta matriz sociocultural pode contribuir com um elemento essencial na configuração de um potencial endógeno humano que mobilize a ação social coletiva em que se baseia a Agroecologia, tal como nós a definimos (Guzmán Casado, González de Molina e Sevilla Guzmán, 2000). Esta matriz sociocultural de pensamento popular latinoamericano se nos apresenta, neste contexto, como um “saber submetido” no sentido que dá Foucault a este termo. E que, ao ser reconstruído pode atuar, como reparação crítica a formas passadas de legalidade e a instituições que jogaram um papel histórico negativo, ainda que foram legitimadas pelo

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poder; ou como revalorização daquilo que sofreu uma desvalorização ou desqualificação por parte da hierarquia para algo que se resistia a ser submetido e ocultado.

Neste sentido, a matriz de pensamento popular latino-americano aparece desde a perspectiva da Agroecologia, como uma genealogia que “deve conduzir a luta justamente contra os efeitos de poder de um discurso considerado científico” (Foucault, 1992: 23). Efetivamente, a Agroecologia se enfrenta ao falso discurso científico que legitima à agricultura industrializada, difundindo a biotecnologia como paradigma hegemônico e proclamando a necessária prioridade dos cultivos transgênicos. Com isso se desloca a outros enfoques mais integradores e holísticos desemcadeando os processos de degradação da agricultura e a sociedade que combate a Agroecologia. Desde esta perspectiva, o papel que atribuímos à matriz de pensamento popular latino-americano constitui o início de um processo de identificação coletiva para sua aplicação posterior em identidades locais mais concretas vinculadas ao manejo dos recursos naturais. É, neste sentido, no que poderia falar-se de uma genealogia do processo histórico latino-americano.

Com respeito aos aspectos “sociais” da Agroecologia, resulta fundamental ir gerando metodologias que permitam registrar a visão da própria identidade local dos atores emvolvidos. As ferramentas para fazê-lo não diferem das empregadas para obter e revalorizar o conhecimento local, em seus aspectos técnicos. Não obstante, a utilização da história oral, junto às metodologias qualitativas e participativas (Guzmán, et al., 2000: cap. 5) comumente utilizadas para isso, podem resultar de grande valor. No entanto, os marcadores de identidade local assim obtidos terão de situar-se nos contextos mais amplos outorgados pela matriz “de pensamento popular latino-americano” em sua aplicação às realidades de cada país, de cada região e inclusive de cada macro-etnoecossistema.

2. O CAMPESINATO NA ANTIGA TRADIÇÃO DOS ESTUDOS CAMPONESES

Ao longo dos séculos XVIII e XIX tem lugar o que, desde uma perspectiva científica, poderia definir-se como a gênese do pensamento social agrário. Tal cristalização teórica não é em absoluto um fenômeno casual, pelo contrário, responde a todo um processo de acumulação elaborado pelo legado das teorias evolucionistas provenientes da “filosofia da história” (desde Giambattista Vico até George Hegel), do “evolucionismo naturalista” (Lamarck, Darwin e Malthus, entre outros) e do “socialismo utópico” (em sua ampla gama desde Pierre Joseph Proudhom a Claude Hemri de Rouvroy, conde de Saint-Simon).

O processo de transformação social que acompanha à implantação no Ocidente do modo de produção capitalista e as repercussões que dito estabelecimento tem sobre o campesinato constituem a situação histórica em que surge a “Antiga Tradição dos Estudos Campesinos” (Palerm, 1980; Newby e Sevilla Guzmán, 1983: 140-43). Mais ainda, esta nasce como uma tentativa desesperada de impedir o desenvolvimento do capitalismo através de formas de ação social coletiva (que hoje podiam muito bem se qualificar como de desenvolvimento rural participativo), cujo objetivo é evitar a desorganização social,

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exploração econômica e depredação sociocultural que tal processo gerava nas comunidades rurais.

Rastrear a gênese teórica do campesinato no Pensamento Social Agrário, desde esta perspectiva, supõe partir necessariamente de esboçar os traços básicos dos movimentos intelectuais, que poderiam ser definidos como pensamento evolucionista sobre o campesinato e Direito Consuetudinario Camponês. Os autores centrais de tais movimentos são, ao menos, os seguintes (Cf. referências em E. Sevilla Guzmán, 1990 e Sevilla Guzmán e González de Molina, 1992): 1) George Ludwin von Maurer que, desde a Universidade de Munich, apresentou a organização social camponesa da marca germânica como um valor histórico da antiga civilização germânica que era preciso conservar. A utilização dos trabalhos de Maurer por Engels na origem da família, a propriedade privada e o Estado jogaria um papel chave na configuração da orientação “teórica” do Marxismo Ortodoxo Agrário, que consideraremos depois; 2) Lewis H. Morgan, quem em seu Anciemt Society estabelece pela primeira vez um esquema do processo histórico interelacionando a evolução técnica com variáveis sociais como o paremtesco, a organização política e a propriedade. Sua importância radica em que é a primeira visão completa do processo histórico desde a perspectiva do evolucionismo unilineal. Jogou um papel central na bifurcação teórica do Marxismo Ortodoxo Agrário e o Narodnismo Marxista que consideramos esquematicamente nas seções seguintes deste texto; 3) Hemry Summer Maine, quem tenta explicar o progresso da humanidade com seu esquema teórico de passagem das relações sociais baseadas no status às regidas pelo contrato. A análise de suas obras Anciemt Law, Village: Communities in the East and West e Lectures on the Early History of Institutions, constitui um elemento imprescindível para elaborar o contexto teórico da gênese dos estudos sobre o campesinato. Ademais, a influência de Maine sobre o Anarquismo Agrário mediante sua utilização por Kropotkin, situa a este autor como central na configuração da Antiga Tradição dos Estudos Campesinos. 4) August von Haxthusem, quem estuda pela primeira vez, desde uma perspectiva científica, a organização social da obshina russa. Seu trabalho se realiza por encomenda de Nicolás II, como relatório técnico antes de levar a cabo a abolição da servidão na Rússia e joga um papel central na configuração do Populismo em suas três correntes, que veremos, também esquematicamente mais adiante; 5) Makxim Makximovich Kovalevski, quem estudou a estrutura social do campesinato medieval europeu, primeiro desde a Universidade de Moscou e depois desde seu exílio londrino. É importante, não só por seu trabalho senão por sua “amizade acadêmica” com Marx, decisiva na configuração do que definiremos mais adiante como “orientação teórica” do Narodnismo Marxista(4).

A obra de todos estes autores se inscreve num esquema explicativo do processo histórico, em que aparece como protagonista central a estrutura social do campesinato. Rastrear a gênese teórica do debate que se estabelece entre as “orientações” do Marxismo Ortodoxo e o Narodnismo (que definiremos mais adiante) em torno dos envolvimentos econômicos sociais e culturais do desenvolvimento do capitalismo na agricultura, supõe partir necessariamente de esboçar os traços básicos dos movimentos intelectuais que, num esforço de síntese, poderiam ser definidos como a elaboração de um esquema explicativo

4 Cf. Maurice Godelier (1.970); Angel Palerm (1974) e (1980) e Teodor Shanin (1984) . As obras chave de Kovalevsky para nosso argumento são (1.891a); (1.891b:  480-516); (1.885:177-233); (1.903) e ( 1.906).

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unilinear do processo histórico, em que aparece como protagonista central a estrutura social do campesinato, a qual se valoriza como um resultado de igualdade e solidariedade social ameaçado pelos processos de privatização, mercantilização e urbanização que introduz o capitalismo nas sociedades camponesas.

O elemento central de sua análise é o conflito gerado na organização social camponesa pela penetração do capitalismo. A similitude de seus esquemas teóricos permite falar de uma corrente conflitivista de estudos agrários, que se encontra nas origems do que chamamos a Antiga Tradição dos Estudos Campesinos e que passamos a considerar através da definição das orientações “teóricas” do Narodnismo, primeiro, do Anarquismo agrário, depois e, finalmente, do marxismo ortodoxo. Ao estabelecer tal contextualização teórica aparecerá, obviamente como elemento central, sua concepção do campesinato no processo histórico.

O campesinato no Narodnismo russo

O Narodnismo constitui a primeira corrente de pensamento dentro da esboçada plataforma intelectual que definimos como Antiga Tradição dos Estudos Campesinos. Esta surgiu, desde a perspectiva da teoria social agrária, como conseqüência do debate intelectual e político gerado na Europa do oitocentos sobre a vigência das instituições emcarregadas do manejo autônomo dos recursos naturais, socioeconômico e político das comunidades rurais, através do direito consuetudinário camponês. O tema central era a possível pertinência de uma adaptação ao novo palco vinculado ao desenvolvimento do mercado ou pelo contrário sua drástica substituição perante as exigências de um progresso material que impunha cruéis sacrifícios sociais.

Por outro lado, esta corrente intelectual recolheu e assimilou o conteúdo do O Capital de Marx em forma tal que as polêmicas sobre sua aplicação na Rússia de então constituíram algumas das circunstâncias determinantes que romperam os antolhos ocidentais de Marx com respeito à sua interpretação do processo histórico. Daí surgiu uma reconsideração por parte deste autor sobre o papel do campesinato na evolução das sociedades que denominamos em outro lugar como Narodnismo marxista. (E. Sevilla Guzmán, 1990). Tal pensamento só se vê recuperado nos anos sessenta e setenta do século passado pela Nova Tradição dos Estudos Campesinos, que analisaremos mais adiante.

No seio do narodnismo russo coexistiram diversas orientações teóricas com diferentes práxis intelectuais e políticas que propugnaram e perseguiram para Rússia um modelo de desenvolvimento econômico não capitalista em que aparecia como protagonista central do campesinato. No interior deste heterogêneo conjunto de correntes com múltiplas diferenças e correntes internas surge uma dinâmica que permite diferenciar uma etapa de gênese representada por Herzem e Chernychevsky, um período clássico no que Takchev, Lavrov, Mikhailovsky e Bervi-Flerovsky destacam como formuladores de uma teoria do campesinato, e uma efêmera práxis revolucionária, como etapa final. Paralelamente se gera um ramo anarquista (ou anarquismo agrário) cunhado teoricamente por Bakunin e Kropotkin. Apesar de sua marcada diversidade, os dois traços que caracterizam seu pensamento global são: por um lado, sua rejeição à propagação do capitalismo que atingia já uma dimensão hegemônica na Europa Ocidental; e por outro a assunção e o desejo de

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que a Rússia saltasse a etapa capitalista para atingir uma sociedade mais justa, socialista, sem a descomposição do campesinato. Para isso elaboraram uns esquemas teóricos nos quais eram admissíveis diversas vias, substantivamente diferemciadas, na rota para o progresso do processo histórico. Ao escrutinar tais vias introduziram como uma variável de análise o bem-estar social do povo, ao qual subordinam os demais objetivos de sua investigação. Um terceiro traço do populismo russo, plenamente expressado pela Vontade do Povo era a assunção de que o Estado Tzarista era o maior inimigo do povo russo já que, enquanto na Europa ocidental eram as classes latifundiárias quem exploravam o campesinato, na Rússia era o próprio Estado quem defendia e criava as classes exploradas contemporâneas, convertendo-se assim na principal força capitalista. Ademais, a idéia de um desenvolvimento desigual, formulada claramente no esquema teórico narodnista, chegou a proporcionar a sua análise uma clara dimensão política. “O desenvolvimento desigual ia levar a Rússia a uma posição proletaria entre as nações ao observar as desvantagens desta com respeito às potências do oeste. Isso fazia necessário um “salto revolucionário no que o atraso podia transformar-se numa vantagem; mais ainda, em privilégio revolucionário” (Teodor Shanin, 1.984; pp. 8-9).

Num esforço de síntese, o narodnismo russo pode ser definido como uma práxis intelectual e política que elabora uma estratégia de luta contra o capitalismo caracterizada pelos seguintes traços: 1) Os sistemas de organização política gerados no seio do capitalismo constituem formas de submissão e dominação sobre o povo que gera uma minoria que pretende se legitimar mediante falsas fórmulas de participação democrática; 2) os sistemas de legalidade assim estabelecidos desenvolvem uma prosperidade material que vai contra o desenvolvimento físico, intelectual e moral da maior parte dos indivíduos; 3) nas formas de organização coletiva do campesinato russo existia um “estado de solidariedade” contrário à natureza competitiva do capitalismo; 4) era possível freiar o desenvolvimento do capitalismo na Rússia mediante a extensão das relações sociais do coletivismo camponês ao conjunto da sociedade; 5) os intelectuais críticos devem “fundir-se com o povo” para desenvolver com ele, em pé de igualdade, mecanismos de cooperação solidária que permitam criar formas de progresso às que se incorpore a justiça e a moral. Analisaremos a “orientação teórica” do Narodnismo russo considerando, cronologicamente, as três etapas (fundacional, clássica e revolucionária), antes citadas, que se correspondem com três momentos de sua prática intelectual e política. Em cada uma delas consideraremos ao menos um “marco teórico” que será utilizado como seu elemento caracterizador.

Etapa fundacional: Teoria da marcha atrás. Ainda que não se pode negar a influência de Aleksandr Ivanovich HERZEM, a figura chave deste período é Nicolai Gavrilevich CHERNYSHEVSKI, quem desde a revista Sovrememnik (Critica Literária) realizou uma atividade publicista revolucionária, no meio das dificuldades impostas pela cemsura, utilizando a literatura como marco gerador de processos de consciemtização e contestação. Assim, mediante a análise da “experiência européia” ---fundamentalmente França e Inglaterra --- escrutina as vantagens e desvantagens do desenvolvimento capitalista chegando à conclusão de que a Rússia podia ainda eleger “outra via”, evitando a proletarização, pauperização e desorganização social das comunidades rurais que provocava o avanço do capitalismo: era possível “dar marcha atrás” e saltar sobre a etapa do capitalismo chegando diretamente ao “progresso do socialismo”. Isso seria possível mediante o fortalecimento das formas de ação solidária do coletivismo camponês para

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evitar o sofrimento e a exploração que sobre a comunidade rural gerava a mercantilização das formas de vida e da natureza. Neste contexto, o campesinato se considera a instância moral que engloba as potencialidades para transformar sua estrutura e organização produtivas em “modernas cooperativas”, nas que poderiam aparecer homems e mulheres novos (Shanin, 1984:179-188; Vemturi, 1972:274-290; Chernyschevski, 1864). Tal construção teria de fazer-se mediante uma cooperação solidária de caráter simétrico entre os camponeses e os técnicos e intelectuais (“pessoas de consciência pressionada”). Esta idéia foi desenvolvida nos anos sessenta e setenta do século passado como “dívida com o povo” no contexto teórico da sociologia subjetiva (Walicki, 1969), que veremos a seguir. Seus elementos teóricos são claramente precursores da atual investigação ação participativa e do desenvolvimento rural participativo.

O Narodnismo clássico : Teoria das “vantagens do atraso” e sociologia subjetiva É esta uma segunda fase, cujos representantes são TKACHEV, LAVROV, MIKHALOVSKI e BERVI-FLEROVSKI (Teodor Shanin, 1983: pp.172-178). A coincidência entre eles e os representantes da anterior etapa em sua rejeição ao capitalismo e em seu desejo de que Rússia desse o salto ao socialismo sem passar pela descomposição do campesinato cristaliza numa formulação definitiva do marco teórico anterior, com a “teoria das vantagens do atraso” que permitiria elaborar ou estratégia através da qual seria possível evitar a Rússia “descer ao inferno do capitalismo” como passo necessário para obter o progresso. Desta perspectiva, o desenvolvimento ficaria, em todo caso, subordinado ao bem-estar social do campesinato. O progresso tem de medir-se pelo impacto das transformações técnicas e sociais nas classes trabalhadoras --- incluído, obviamente o pequeno campesinato --- pelo que tal conceito tem de incorporar a ética para poder ser realmente científico. Esta teoria se encontra, aliás, dentro de um contexto teórico mais amplo: a sociologia subjetiva, que parte do axioma de que a história não segue leis objetivas senão que é possível “selecionar dentre a massa amorfa de dados históricos” a via a seguir por nosso ideal social. Os ideais dos pesquisadores aparecem em seus “produtos”, dado que a ciência não é objetiva. Para Petr Lavrovich Lavrov --- membro ativo da organização narodnista “Terra e Liberdade”, os falsos ciemtistas “apologetas do capitalismo” justificam os sofrimentos e a exploração do povo com leis objetivas da história e com leis de ferro da Economia Política. Mas a ciência não é objetiva: os indivíduos de pensamento crítico podem --- com o povo --- incorporar a ética e a justiça à ciência mediante o fator subjetivo com o qual se construiriam as instituições sociais partindo da organização autônoma do campesinato, através da comuna rural como núcleo do socialismo. Assim, Nicolai Konstantinovich Mikhailovskii via na obshina (comunidade rural russa) a possibilidade de evitar a homogemeização da sociedade que estabelecia o capitalismo através da “industrial divisão do trabalho” que impõe sua lei da especialização para o aumento da produtividade. Ao contrário, a cooperação simples camponesa podia ser “melhorada” para formas de progresso real (Edie, et. al, 1965: II, 132; Vemturi, 1974:434-453; Kolakowski, 1982:316-18 XX).

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A “Ida para o povo” como precedemte da Pesquisa Ação participativa: De “Terra e Liberdade” à “Vontade do Povo”.

A implementação prática das idéias esboçadas nos dois marcos teóricos anteriores tem lugar a partir dos anos sessenta do século XIX com o início de uma verdadeira migração de população urbana, com predomínio de jovems, ao campo, convencida da necessidade de uma ação conjunta com os camponeses para transformar as precárias condições de vida em que a abolição da escravidão tinha deixado os estratos camponeses pobres ao privar-lhes do uso comunal de suas terras depois da privatização destas. Esta “ida para o povo” tem seu ápice na metade dos anos setenta. O processo supunha procurar uma análise da realidade conjunta com os camponeses para encontrar fórmulas que, surgindo deles mesmos, trouxessem soluções a cada situação. Passava-se assim de uma situação clandestina de diferentes grupos nas cidades a uma ação aberta em todo o território, estabelecendo conexões entre os novos grupos ali formados. O núcleo central que articulava a rede de intercâmbios era Zemia i Volia (Terra e Liberdade). Os grupos assim criados pretendiam ser legais, desenvolvendo uma propaganda, que numa primeira fase foi demominada “causa do livro”, ao conseguir a ajuda de editores para a publicação de textos e panfletos que se difundiam nas comunidades rurais, chegando a abranger uma grande parte do território russo. A ação destes grupos mediante a lenta tarefa da propaganda e a penetração de uma cultura moral, social e política, evoluiu com grande rapidez: o sucesso da “causa do livro” os levou a substituir esta pela “causa dos operários”, que pretendia criar a estrutura organizativa para passar à ação transformadora.

A resposta do poder estabelecido se traduziu em múltiplas detenções e o forte debilitamento da organização. A partir de 1.879 se dissolve esta e a maioria cria o Partido Social Revolucionário da Vontade do Povo. Sua estratégia de ação política era o desafio armado direto ao Estado Tzarista procurando sua derrota como prelúdio necessário para a transformação da sociedade russa. Simultaneamente, uma minoria estabelece a organização rival Partilha Negra (Cheryi Peredel) que pretendia continuar a tática e o programa de Terra e Liberdade, isto é, continuar a ação emcaminhada ao aumento da consciência camponesa. Esta organização, pelo seu reduzido tamanho e falta de meios, “fracassou em obter o mínimo impacto, a maioria de seus líderes emigraram e 1.883 abraçaram o marxismo, adotando o nome de Emancipação do Trabalho (Grupa osvobozhdemiya Truda), a primeira organização dos marxistas russos liderada por Plejanov (Teodor Shanin, 1.984; pp. 204-205 e pp. 212-218 e Fernando Claudín, “Prólogo” a V.I. Lenine, 1974; pp. 11 e 51-52). Pelo contrário, o grupo majoritário da Vontade do Povo mostrou uma incrível capacidade de luta e habilidade organizativa para enfrentar de forma armada o Estado Tzarista. Em 1.881, depois de várias tentativas, conseguiram matar o Tzar Alejandro II e, ainda que a brutal repressão sobre a organização e os simpatizantes desta significou uma onda de detenções e execuções em massa, continuou a luta até 1.887. (Vemturi, 1975. Vol. I; pp.738-52; Walicki, 1971; pp. 69-71; Shanin 1983; pp.172-178).

Anarquismo agrário: o campesinato como agente revolucionário e seu apoio mútuo como fator de evolução.

O movimento anarquista pode ser definido como um sistema de pensamento

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aberto e nada rígido que, compartilhando com outras correntes radicais diversos elementos de seus pressupostos filosóficos; da crítica à sociedade atual; bem como do modelo da futura sociedade ideal, distingue-se por alguns traços teóricos comuns que se concretizam na negação do Estado e a busca do estabelecimento de inter-relações humanas na base da cooperação voluntária expressa mediante pactos livres, desde o ponto de vista da práxis política. A rejeição da participação política nas instituições burguesas se configura, entre outros, como o elemento mais destacado e amplo (G. Woodcok, 1.979; pp. 19-20; C. Díaz, 1.973; pp. 5 e ss; Álvarez Junco; pp.9). Desde os interesses deste trabalho, isto é, no que se refere ao conceito de campesinato, as figuras-chave configuradoras do “anarquismo agrário” são Bakunin e Kropotkin, a quem passamos a considerar.

Na obra de Bakunin subsiste uma “teoria do campesinato como agente revolucionário”, segundo a qual, na Rússia da segunda metade do oitocentos, existiam as condições objetivas precisas para o desencadeamento de uma revolução social. Bakunin identificava estas condições com a situação das massas populares camponesas russas definida pela conjunção da extrema miséria com uma servidão feudal que era modelo em seu gênero, à que adicionava uma consciência histórica de emancipação social. No exame da consciência histórica do povo russo, Bakunin distinguiu elementos positivos e negativos (Bakunin, 1976, VI: pp. 367-369). Entre os positivos incluía: a) a convicção fortemente arraigada de que a terra pertencia integralmente ao povo; b) a posse da terra era um direito que não correspondia ao indivíduo senão à comunidade rural (ao mir), que se emcarregava de repartí-la entre seus membros por prazos temporários definidos; c) a autonomia política quase absoluta, bem como a capacidade administrativa e gerencial do mir, que provocava a hostilidade manifesta daquele em relação ao Estado. A consciência histórica do povo russo se encontrava, no entanto, obscurecida por outros três traços que, desnaturalizando-a em parte, atrasavam a emancipação do povo russo: 1) o patriarcalismo; 2) a absorção do indivíduo pelo mir; 3) a confiança no Tzar.

A correção do ideal do povo russo numa orientação positiva supunha a destruição dos traços negativos, o que se produziria de maneira efetiva e completa pela via da revolução social. Destruídos os elementos negativos, os traços positivos, particularmente a autonomia política e administrativa, ficariam potenciados e poderiam se desenvolver até sua total realização.

A debilidade do mir radicava, então, em seu isolamento; acima do mir, os camponeses somente colocavam o Tzar e não percebiam a necessidade de estreitar laços e relações com os camponeses membros do resto de comunidades rurais. O ideal de uma revolução popular e camponesa cristalizaria numa federação de comunidades rurais, livremente unidas. O marco teórico do “campesinato como agente revolucionário” consiste, pois, no estabelecimento de um sistema de fatores como estrutura analítica para explorar a potencialidade revolucionária do campesinato. O fato de que Bakunin o elaborará para um caso concreto não é óbice para apreemder a análise teórica subjacemte e suas pretemsões de gemeralidade. Assim, a comuna russa supunha para Bakunin algo mais do que a alavanca para do que o povo russo chegasse a “redimir-se a si mesmo”; significava também a possibilidade de encontrar aqueles fatores que, desde o campesinato, conseguissem estender a revolução a toda Europa.

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Para Bakunin as zonas vazias do capitalismo permitiam gerar uma revolução que culminaria numa Europa socialista. Estas eram a periferia européia, onde ainda existia o “ideal proletario dos países latinos”. O campesinato russo possuía os elementos capazes de gerar essa dinâmica revolucionária. O núcleo central de tais elementos se baseava na convicção “de que a terra pertencia ao povo, que a trabalha”. A propriedade era, portanto, algo coletivo que não admitia a apropriação individual. O conceito de propriedade capitalista não tinha sentido para a terra dentro da cultura camponesa russa. Igualmente, “o uso da terra não pertence ao indivíduo senão à comunidade”; é esta, portanto, quem adjudica a seus membros a utilização da terra para obter o acesso aos meios de vida. Os critérios de tal distribuição constituem parte da “ética camponesa”, a qual faz parte de uma lógica econômica alheia ao capitalismo e às formas de concorrência que introduz no sistema de valores da coletividade (Bakunin, 1976, VI: pp. 372-3769).

Como vimos anteriormente, os fundadores do populismo russo, Herzem e Chernyschevsky, viram no atraso econômico a razão que poderia permitir à Rússia tirar proveito dos progressos técnico-econômicos dos países europeus capitalistas encurtando as etapas transitórias entre capitalismo e socialismo. Em contraste, Bakunin interpretou o atraso russo, expresso em miséria e dominação social, como o fator desencadeante de uma revolução social que tinha como ideal a destruição do Estado e, junto à emancipação social, a introdução de elementos como a autonomia política das comunidades rurais e a federação como modelo da organização política (F. Vemturi, 1.981: p. 689). Por conseguinte, no esquema teórico de Bakunin ressalta a dimensão política que conceitualiza o mir como núcleo social com vida própria e com capacidade para resistir às ingerências do Estado, de lutar contra ele e de destruí-lo. Resumindo, a valoração dada por Bakunin a respeito do mir dependia de suas relações com o Estado: enquanto este se contrapunha ao Estado, era revolucionário, mas se integrava dentro da organização estatal, considerava-o reaccionário.

Peter Alekseievich Kropotkin (1.842-1.921) foi claramente um discípulo de Bakunin que, aceitando o núcleo central de seu pensamento, desenvolveu muitos de seus aspectos, alguns dos quais, como veremos, supõem discrepâncias com seu mestre. Um resumo e balanço do pensamento de P. Kroptkin pode encontrar-se em G. Woodcock, (1.979; pp. 172-206); G.D.H.Escola, (1.975; pp. 328-336); A. Palerm, (1.976; pp.153-156); C. Díaz, em P. Kropotkin, 1.978; pp.7-19), e em H.Arvon, (1.981; pp. 62-64 e 123-124). Em Kropokin, descemdemte da alta nobreza russa, as teorias anarquistas obtiveram um alto nível de desenvolvimento e elaboração científicas, ao mesmo tempo em que ampliaram e combinaram os conteúdos agrários com os industriais (o anarcocomunismo), atingindo uma reputação e respeito universais; suas contribuições ao pensamento anarquista se centraram na questão social, a moral solidária, o comunismo e a crítica ao darwinismo social.

Entre todas suas contribuições, quiçá a que tem uma maior relevância seja a conversão do apoio mútuo numa categoria científica. Apoio mútuo (Kropotkin, 1978) recopila os artigos que Kropotkin foi publicando no período 1.890-1.896 na revista The Nineteemth Cemtury em resposta ao artigo “A luta pela existência na sociedade humana” que, na referida revista, o reputado naturalista T. Huxley (1.825-1.895) publicou no número de fevereiro de 1.888. Em tal artigo, Huxley expressou a idéia de que a civilização humana nasceu no trânsito de um estado de guerra mútua e amoralidade, características do estádio animal e próprio de uma vida humana selvagem, a outro definido pela paz a evolução

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moral; no entanto, a persistência de certas condições próprias de uma vida natural na história humana provocava que, apesar dos controles morais nascidos do progresso civilizador, a luta pela existência mantivesse uma intensidade tão aguda como a existente num estado de guerra (A. Palerm, 1.976 ; pp. 151-156). Este trabalho teve uma importante repercussão no “sistema científico” da época, ao pretender fundamentar historicamente o liberalismo econômico então emergente desde o “núcleo duro” do pensamento científico; por isso Kropotkin considerou um dever inevitável mostrar a falsidade de tal proposta teórica.

Durante sua estadia na Sibéria, Kropotkin pôde contrastar as teorias darwinianas com a realidade observada e, nessa comparação, pode dar-se conta de que, em vez da esperada luta cruel pelos meios de subsistência, dentro de cada espécie animal, predominava a luta individual ou associada contra algumas condições naturais desfavoráveis. Estas primeiras idéias foram maturando com o conhecimento do pensamento desenvolvido nesta linha por outros autores, em concreto, Kessler, professor da Universidade de São Petesburgo, quem via a evolução das espécies como o resultado da ação de duas leis, a luta mútua e a ajuda mútua, destacando o papel desta sobre aquela. Assim que quando Huxley publicou sua tese da luta encarnizadas nas espécies animais, Kropotkin, estimando-a como uma representação inexata do mundo animal, rebateu-a mediante o artigo “A ajuda mútua entre os animais”, publicado pela revista Nineteemth Cemtury nos meses de setembro e novembro de 1.890.

O convite efetuado por J. Knowles, diretor da revista The Nineteenth Century , a Huxley e A Kropotkin para persistir na polêmica obteve a negativa do primeiro e a aceitação do segundo. Kropotkin considerou de interesse o tema, aprofundou na questão e foi publicando artigos na citada revista, cobrindo os diferentes estádios da história humana. Assim, analisou a ajuda mútua entre os “selvagems”, entre os bárbaros, na cidade medieval e na época moderna. Todos estes artigos reunidos num livro foram publicados com o título e subtítulo seguintes: O apoio mútuo. Um fator de evolução.

São de ressaltar as contribuições de Kropotkin ao debate sobre a propriedade comunal sobretudo aquelas que se cemtram na dimensão ética das formas instituições comunais criadas a partir da sociabilidade humana como mecanismo de sobrevivência e luta em condições desfavoráveis de existência e no papel do Estado enquanto agente classista de desmantelamento e destruição de formas e instituições nascidas desde uma perspectiva de solidariedade e cooperação humanas.

A comuna rural no pensamento de Kropotkin, além de uma associação que facilitava a cada família membro o acesso igualitário ao cultivo da terra e regulava o cultivo em comum da mesma, representava o marco organizativo através do que se desenvolvia em suas múltiplas variantes o apoio mútuo, fazia-se justiça, organizava-se a defesa mútua contra inimigos externos, articulava-se a participação democrática nos assuntos comuns e se desenrolava o progresso econômico, intelectual e moral da época. A comuna rural uniu os homems, deu-lhes a possibilidade de desenvolver progressivamente as instituições sociais e, assim, permitiu-lhes atravessar os períodos difíceis e sombrios da história humana. No capítulo de méritos da comunidade rural, Kropotkin incluiu a exploração agrícola de bosques, pântanos, estepes e desertos, os sistemas de posse da terra e métodos

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de cultivo, o avanço da produção doméstica, a infra-estrutura de serviços, o direito comum e penal, etc. Assim mesmo, Kropotkin interpretou o processo de formação das nações européias como um resultado, em suas características fundamemtais, derivado do surto, crescimento e extensão pelo território das comunidades rurais (P. Kropotkin, pp. 143-146 163-166; José Alvarez Junco, 1.977; pp. 9-29).

A teoria do apoio mútuo como fator de evolução faz uma caracterização das diferentes formas históricas de organização social do campesinato e critica as intencionadas políticas de extinção das comunidades rurais. Nas próprias palavras de Kropotkin: “as teorias correntes dos economistas burgueses e de alguns socialistas afirmam que a comuna morreu na Europa ocidental de morte natural, posto que se supunha que a posse comunal da terra era incompatível com as exigências contemporâneas do cultivo da terra. Mas a verdade é que em nenhuma parte desapareceu a comuna aldeana por própria vontade ; ao invés, em todas partes as classes dirigemtes precisaram em vários séculos de medidas estatais persistentes para desenraizar a comuna e confiscar as terra comunais”, P. Kropotkin, XXCC p. 228). Ademais mostra como o então emergente liberalismo econômico não tem nada que ver com a evolução biótica das espécies; as sociedades humanas não podem ser regidas pela concorrência do mercado e umas falsas leis que justificam a exploração do trabalho.

Uma leitura do pensamento de Bakunin, completada com o de Kropotkin, sobre o campesinato e a revolução, contextualizada pela práxis intelectual e política do populismo russo, permite definir a “orientação teórica do anarquismo agrário ” como um populismo especificamente anarquista que não vê em Rússia “os privilégios do atraso” a partir da perspectiva de uma recondução do processo de avanço das força produtivas senão o desencanto, a miséria e como conseqüência o desespero do campesinato. O “atraso” não permite a “marcha atrás” senão o avanço para a revolução social. Assim se pode falar, por tanto, de um populismo anarquista ou anarquismo agrário que, num esforço de síntese, poderia definir-se como uma teoria da revolução na que o campesinato é uma classe revolucionária em potencial, já que: 1) o apoio mútuo constitui um elemento central da natureza das relações sociais existentes no interior das comunidades rurais que é possível potenciar frente a elementos inibidores; 2) a estrutura organizativa e material de sua organização econômica possui, certamente, um “atraso” que pode ser superado em formas de ação social coletiva de caráter revolucionário ao “reter este a energia da natureza popular”; 3) a condição subordinada a que se vê submetida sua forma de produzir, dentro de uma dinâmica de exploração crescente em que “trabalhar com as mãos lhes condiciona moralmente” fazemdo-os odiar os “exploradores do trabalho”, de forma tal que: 4) só determinados aspectos tradicionais, atuantes como preconceitos, lhes separam, realmente, dos comuns “interesses dos trabalhadores urbanos”, pelo que, rompidos tais preconceitos pela comunidade “de interesses da classe trabalhadora”, é possível desatar a autêntica “rebeldia natural” existente na estrutura social do campesinato (Bakunin, 1.979; vol, 7.pp. 46-61, 76-79 e 11-123, e 1974, vol. 2 pp.292-309; Kropotkin, 1978: 143-68).

Os mecanismos desta ruptura são os que requerem diferentes tipos de análises segundo as “condições históricas” e o lugar que ocupem no sistema capitalista. Seu escrutínio diferencial nas condições da semiperiferia do capitalismo, realizado tomando como evidência empírica a França (Cartas a um francês) diferem de sua análise da periferia

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onde trata em forma diferemciada a Rússia, que conserva o mir, de Espanha ou o sul de Itália (Circular a meus amigos de Itália), onde os “camponeses estão castigados pela pobreza”. De igual forma, seu conceito de “operário urbano” varia segundo a posição deste no capitalismo. O operário urbano é o setor marginal da cidade em cada situação específica, mas nunca a “aristocracia operária”. O papel central no processo revolucionário do coletivismo camponês só seria explicável lá onde existam instituições com tal natureza; ali, depois da guerra “civil no campo”, surgiria sem nenhum tipo de imposição, a ação social coletiva transformadora como uma conseqüência lógica do “instituto socialista camponês”. Não obstante, a existência de uma ética natural contrária à que introduz o capitalismo e reproduz o Estado com a propriedade privada como instituição central, é algo que a cultura camponesa mantém como algo impresso em sua natureza. A justificativa teórica disso está no conceito de “apoio mútuo” como contribuição de Kropotkin. (Franco Vemturi, 1.975; tomo I. pp. 176-177, e tomo II, pp.688-689; Alexander I. Herzem, 1.979; M. Bakunin, Vol. III; pp. 5-40).

Sobre o marxismo ortodoxo

O marxismo ortodoxo constitui o conjunto de desenvolvimentos sobre o pensamento de Marx e Engels, realizados a partir da Segunda Internacional (1889), e encaminhados a gerar uma estratégia teórica e metodológica desde os interesses do proletariado para, ao ser assumidos por este, atingir o socialismo. Foi então quando Plejanov, máximo representante do marxismo russo, estabeleceu que “o marxismo era uma visão total do mundo” e introduziu o termo “materialismo dialético” para expressar a estratégia teórica e metodológica do marxismo, o qual era, assim, considerado como uma nova ciência que a modo de filosofia “natural” generalizaria as contribuições das ciências especiais, tanto naturais como sociais, construindo teorias gerais da natureza e da sociedade. O trabalho chave do que se supõe que se desprende esta concepção científica do mundo é o Anti-During, de Engels. Por conseguinte o conceito de marxismo ortodoxo se refere à assimilação por parte do proletariado da crítica à economia política efetuada pelo materialismo dialético para levar a cabo a revolução socialista. Neste contexto, Karl Kautsky --- um dos autores clássicos da sociologia rural, como veremos mas adiante, atribuiu ao trabalho de Marx e Engels o status de uma teoria geral da evolução que incluía tanto a natureza como a sociedade e à qual subsaía uma ética naturalista e uma visão materialista do mundo.

Mas Marx rejeitou várias vezes, durante sua vida, que seu trabalho constituísse um sistema teórico do qual desprendesse uma visão do mundo, ainda que sempre aceitou que este se realizava desde os interesses das classes trabalhadoras. Pelo contrário, Engels - uma vez morto Marx e utilizando os materiais (conhecidos como cadernos ou anotações etnológicos) que Marx elaborou durante a última década de sua vida - pretendeu desenvolver uma teoria geral do processo histórico, que culminasse a obra realizada conjuntamente por ambos autores, ao escrever A origem da família, da propriedade privada e do Estado (Engels, 1972a, 1ª edit. 1884; 1972b, 1ª edit. 1878; Hobsbawm, 1978; pp. 353-374; Bottomore, 1983; e Shanin, 1983). No entanto, deve-se a Engels o conhecimento cabal da obra chave de Marx: O Capital, do qual só o volume I foi publicado em vida de seu autor (1867), sendo os outros dois volumes editados e publicados por Engels (1885 e 1894) a partir dos manuscritos e notas de Marx..

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É importante não confundir o marxismo ortodoxo desde uma perspectiva acadêmica, tal como vai ser definido mais adiante, com o marxismo Leninismo, que há que diferenciar, a sua vez, da obra de Vladimir Ilich Ulianov “Lenine” vinculada às realidades sociopolíticas da Rússia prerrevolucionária, primeiro e da URSS, depois, de especial relevância para a sociologia rural. Assim, o marxismo Leninismo tem de ser entendido como o conjunto de desenvolvimentos da obra de Lenin encaminhados a obter a assimilação, por parte do proletariado de uma prática intelectual e política para levar a cabo a revolução em coordemadas de tempo e espaço determinadas. Desta forma, as práxis intelectuais e políticas elaboradas na Rússia pré-revolucionária, em Cuba por Fidel Castro e seus guerrilheiros, e na Nicarágua pelo Sandinismo respondiam à ação social coletiva desenhada pelo marxismo Leninismo para provocar a mudança social revolucionária. Baseia-se esta nos conceitos teóricos de “vanguarda”, “consciência de classe em si e para si”, a importância da organização “na ação social coletiva” e “tática e estratégia na dinâmica da mudança planejada”, desenhados por Lenin em Que fazer ? (1902); Um passo à frente dois passos atrás (1904); Duas táticas da socialdemocracia na revolução democrática (1905); O Estado e a revolução (1917); A respeito do infantilismo esquerdista e do espírito pequeno burguês (1918) ; e Mais vale pouco e bom (1923) ( Cf. V. I : Lenin, ,1961 ; 3 Vol.).

Na Rússia, funcionou a estratégia desenhada por Lenin ainda que suas adaptações a cada conjuntura histórica mostraram que seu esquema possuía uma ampla flexibilidade analítica. Assim, naquele momento histórico, uma elite intelectual transmitiu à pequema população já empregada na indústria em grande escala sua práxis política de libertação na infraestrutura organizativa delimitada pela teoria de Lenin do partido político, como gerador da tática e estratégia da ação social coletiva revolucionária. “A ideologia --- tal como mais tarde, durante a época de Stalin e de forma verdadeiramente pouco crítica, chamou-se a esta doutrina do marxismo enquanto visão do mundo --- tinha por objeto assegurar a disciplina e exclusividade dos quadros do partido e sua indiscutível orientação de liderança. Desta forma se inverteu a relação entre classe operária e sua consciência de si mesma: em primeiro lugar com a ajuda dos intelectuais que pertenciam ao partido, os quadros do mesmo desenvolviam esta consciência de classe cujo núcleo estava constituído pela visão marxista do mundo e, consequentemente, tal consciência era transmitida à classe operária, que depois da revolução cresceu rapidamente. Enquanto Lenin estava ainda disposto a aceitar revisões de sua teoria, sobre a base das circunstâncias empíricas, com Stalin a doutrina da visão do mundo ficou congelada em dogma durante o período da construção de um socialismo burocrático de Estado. O marxismo se converteu na doutrina oficial do Estado e do partido, e era um ponto obrigatório para todos os cidadãos soviéticos. Foi neste período, aproximadamente a partir de finais dos anos vinte, quando a visão do mundo se converteu numa camisa de força que se impôs, não somente aos cidadãos; senão também à ciência e à arte” (Bottomore, 1984; pp. 496; Shanin, 1988). Foi bem como surgiu o marxismo ortodoxo que passamos a definir, desde uma perspectiva acadêmica.

Contexto teórico do Marxismo ortodoxo

O Marxismo ortodoxo, como contexto teórico geral, constitui o primeiro enfoque construído como desenvolvimento do pensamento de Marx e Engels, e pode ser

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caracterizado através dos seguintes traços teóricos: i) incompreensão do contexto teórico de O Capital; ii) interpretação errônea do último Marx por parte de Engels; iii) unilinearidade do processo histórico; e iv) consideração da agricultura como um ramo da indústria. Vejamos, ainda que de maneira esquemática, cada um desses traços.

i) Incompreensão do O Capital. A incompreensão do enfoque teórico que, os “teóricos ortodoxos” do movimento operário, realizam do O Capital se deve, sobretudo, ao nível de conhecimentos existentes naquela época sobre a obra de Marx. Não obstante, também influenciou nele um conjunto de fatores, entre os quais se destaca a peculiar forma de escrever de Marx, ao relegar elementos centrais de seu discurso a notas de rodapé de pé de página ou a lugares periféricos de seu método expositivo e, obviamente, o desconhecimento da intencionalidade explícita de Marx em cada um dos seus escritos, conhecidos a partir dos anos sessenta do século passado após uma rigorosa pesquisa de seus materiais de trabalho (Maurice Godelier, 1970, 1986 e 1987); Eric Hobsbawm, 1964, 1978 e 1996; Lawremce Krader, 1988; Teodor Shanin, 1983 e Angel Palerm, 1976b. Tal incompreensão radica na generalização a todo o mundo das apreciações que Marx havia obtido através de uma evidência empírica européia, centrada no primeiro país industrializado, Inglaterra. Outro erro consiste no desconhecimento da metodologia utilizada por Marx na citada obra, toda a vez que elevam a categoria de lei universal a seqüência de modos de produção (comunal, escravista, feudal e capitalista) utilizados por Marx tão somente como modelos ou cortes históricos em seu processo de contrastação no interior de seu método de regressão histórica, que consideraremos com maior detalhe adiante.

ii) Esquecimento do último Marx. Sem chegar a aceitar a conhecida diferenciação do pensamento de Marx em três etapas: uma hegeliana e idealista da juvemtude; outra madura e materialista de caráter científico; e uma terceira de aproximação ao campesinato; é sim necessário, como demonstrou Shanin (1983), reconhecer a virada narodnista que se operou no pensamento de Marx em seus últimos dez anos, onde começa a analisar o papel do campesinato no processo histórico e inclusive, na opinião de alguns estudiosos, é possível detectar a aceitação de determinados elementos dos marcos teóricos esquematizados na orientação teórica do narodnismo como a diversidade de vias para o socialismo e, possivelmente, a existência de uma via camponesa (Shanin, 1983). E isso, sobretudo, se, como se depreende do “Prefácio” da Contribuição à crítica da economia política, Marx já se havia proposto, com anterioridade, não somente construir uma teoria geral do processo histórico (Marx, 1971: pp, 7-11), senão a possibilidade da existência “em todas as formas de sociedade de uma determinada produção que indique a todas as outras sua correspondente classe e influência”; ou dito em outras palavras, a possibilidade de articulação entre vários modos de produção dentro de uma mesma formação socioeconômica (Marx, 1971; pp. 615-642 e 1973; pp. 106-107). O fato de que estes “manuscritos” foram publicados em 1939-41, quer dizer, quase um século depois, apesar de que Marx os realizara “não para serem publicados senão para esclarecimento de suas próprias idéias”; foram escritos no final dos anos cinquenta quando preparava a revisão publicada um ano depois de O Capital; e que a excelente síntese que escreveu a partir deles como prefácio à sua Contribuição foi por ele suprimida ao publica-la; já “que adianta resultado, ainda por demonstrar”; tem muito a ver com a práxis política do Marxismo

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ortodoxo, que estamos caracterizando em sua dimensão acadêmica (Marx, 1973; pp 9-66 e 106-1079; Palerm, 1976,b).

Por outro lado, como veremos mais adiante, após a morte de Marx, seu amigo e companheiro de trabalho Engels empreende a tarefa de reconstruir seu pensamento nesse período. Engels tenta elaborar uma teoria geral da evolução das sociedades, seguindo a necessidade histórica marcada pelos clássicos do pensamento social da época, e cai nos citados erros com respeito à existência de uma seqüência única, inexorável, compartimentada de modos de produção, dando a falsa evidência de que Marx havia alcançado tal propósito em sua obra, quando, pelo contrário, como vimos anteriormente, ele considerava que ainda não havia alcançado a maturidade de pensamento nem a evidência empírica suficiemtes para formula-la, como se depreende dos Grundisse e do Prefácio à Contribuição. Isso só se pode compreender sob o prisma da incompreensão de Engels ao ler os Apontamentos Etnológicos de Marx (Lawremce Krader, 1988). Tal erro supôs uma legitimação da interpretação dos marxistas ortodoxos, obviando os citados achados de seu companheiro.

iii) Processo histórico unilinear. Os teóricos do Marxismo ortodoxo consideram que Marx subscrevia uma teoria geral dos modos de produção e formações socioeconômicas aplicável universalmente a todas as sociedades históricas. Assim, um modo de produção é uma espécie de estrutura que articula formas de produzir com maneiras de pensar a atuar, surgidas delas de certa maneira. A dinâmica de mudança das sociedades implica o trânsito de uns modos de produção a outros mediante determinadas leis do movimento econômico das sociedades. O primeiro modo de produção conhecido é o “comunismo primitivo”, no qual a caça e a coleta constituíam a base material do sustento da sociedade. Deste modo de produção se passa ao modo de produção “escravista”, onde a apropriação do trabalho alheio implica inclusive o domínio sobre as vidas e fazemdas de pessoas submetidas a tal forma de dominação. O Modo de Produção feudal se caracteriza pela vinculação pessoal do campesinato usufrutuário da terra com o senhor que possui o domínio eminemte sobre ela. E finalmente aparece o modo de produção capitalista, em que a exploração do trabalho se produz através dos mecanismos do mercado e na base do surgimento da propriedade privada dos meios de produção. A passagem de um modo de produção a outro se realiza segundo períodos de transição, nos quais se produz um desajuste entre as formas de produzir e a maneiras de pensar e atuar. Aparece assim novas lógicas sociais que transformam as relações entre os homems e a maneira de atuar sobre a natureza para extrair dela as condições materiais da vida social.

Para os marxistas ortodoxos esta periodização, que corresponde em linhas gerais à realizada por Engels na “A origem da família, da propriedade privada e do Estado” (1972 a), se aplica a qualquer sociedade histórica para conhecer seu estado de evolução para o progresso: a sociedade sem classes, quer dizer, o socialismo, modo de produção posterior ao capitalismo, no qual se superam as contradições deste Assim, pois, uma determinada estrutura socioeconômica se construirá sobre as bases das antigas formas de produzir, pensar e atuar do modo de produção anterior, numa seqüência taxonômica única através de períodos de transição até alcançar uma coerência entre a base material e a superestrutura política, ideológica e cultural, consolidando-se assim um novo modo de produção. A

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mudança social na história se produz através de leis de transformação dos modos de produção irreconciliáveis entre si numa seqüência compartimentada de fases históricas, quer dizer, através de um processo unilinear (Godelier, 1987; Shanin, 1983).

iv) Consideração da agricultura como um ramo da indústria. Para analisar os elementos básicos da agricultura Marx, no O Capital, estabeleceu a hipótese de que a agricultura européia já era um ramo da indústria. Por isso não fez uma análise específica para ela senão em formações sociais précapitalistas. O marxismo ortodoxo considera que, de fato, a agricultura no modo de produção capitalista tem que atuar como um ramo da indústria já que o desenvolvimento das forças produtivas havia permitido ao homem dominar a natureza para extrair dela o acesso aos meios de vida. Ignora, portanto, que no “método regressivo” através do qual Marx perscruta a realidade, a agricultura industrializada é uma ferramenta heurística para desvelar os mecanismos de evolução do manejo dos recursos naturais até a agricultura industrializada. Presumia, pois, que O Capital possuía um vazio teórico que havia de preencher. Trabalho esse que atribuíam a Lênin, de um lado, e Kautsky, de outro, os quais em 1899, em seus respectivos trabalhos, O Desenvolvimento da Agricultura na Rússia e A Questão Agrária, analisaram a passagem da agricultura feudal para a capitalista, tomando como base empírica a Rússia e Alemanha, respectivamente (Godelier et. Al. 1986; Shanin, 1983 e 1985-87; Palerm, 1976 b). Sem dúvida, como acabamos de ver os planos de Marx eram muito distintos ao considerar que seu trabalho ainda não estava maduro para a letra impressa, quando a morte o surpreendeu, em plena análise do campesinato (cf. Lawremce, 1972: pp. 1-70).

Os “marcos teóricos” surgidos do debate sobre a “questão agrária”: do marxismo clássico heterodoxo a um narodnismo marxiano?

A questão agrária constitui o debate intelectual e político estabelecido na Rússia do oitocentos com relação ao papel da forma de manejo dos recursos naturais no processo histórico, quer dizer, a natureza da agricultura e, portanto, da evolução do campesinato. Deste debate surgem várias correntes teóricas que vamos aqui considerar: i) o Contexto teórico do O Capital; ii) o narodnismo marxiano (ainda que este, de natureza marxiana, tenha sido “descoberto” nos anos sessenta do século passado (Séc. XX); iii) o marxismo clássico heterodoxo; iv) o marxismo ortodoxo agrário.

i) O contexto teórico do O Capital. Marx, em sua obra chave, O Capital (1867-1869) perscrutou os mecanismos através dos quais funcionava e se desenvolvia o capitalismo. Seu tratamento da agricultura se encontrava, todavia, limitado pela estratégia metodológica dotada em tal obra, que se conhece com o nome de estratégia da “marcha para trás” ou “método regressivo”. Consistia este em estabelecer desde o presente diferentes hipóteses sobre o futuro da agricultura. A partir do modelo hipotético assim construído, toma aqueles elementos que se postulam como essenciais para perceber assim sua evolução. Esta se obtém ao ser confrontado cada elemento com seus homólogos tal e como aparecem no modelo de cada modo de produção correspondente aos períodos históricos anteriores.

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Para analisar os elementos básicos da agricultura, Marx, no O Capital, estabeleceu a hipótese de que a agricultura européia seria no futuro um ramo da indústria. Por isso, não fez uma análise específica para ela no presente histórico, senão que o fez para os elementos teóricos chaves da agricultura em cada uma das formações sociais precapitalistas, e no período em transição do feudalismo ao capitalismo, que considerou que englobava desde o último terço do século XV até o momento em que escreve, e que denominou “forma de produção mercantil simples na agricultura”, à qual alguns qualificam como “modo de produção camponês”, ainda que este não possa, rigorosamente, denominar-se como tal, já que nesse período as formas de organização social e de pensamento vinculadas à agricultura se correspondem, numa boa parte, ao modo de produção capitalista, enquanto que as formas materiais de manejo dos recursos naturais possuem entretanto múltiplos elementos do modo de produção feudal. Por isso, a “produção mercantil simples na agricultura” como forma de produção só desempenha um papel “subordinado” na reprodução da sociedade (Godelier, 1987; pp 7 e 1986; E. Pérez Touriño, 1983; Shanin, 1983 e 1985-87; Palerm, 1976b).

Serve-nos como exemplo da aplicação do método regressiva à agricultura a consideração do funcionamento da renda da terra como mais-valia. Marx pensa que quando o sistema capitalista está plenamente consolidado já terá deixado de existir a agricultura parcelaria ou camponesa na sua modalidade de “produção simples de mercadorias agrárias” e já se terá imposto a industrial. A projeção desta ao passado o leva a demonstrar que na agricultura comunal não existe mais-valia agrária. No escravismo, a mais-valia fica em poder do proprietário individual a quem pertence o escravo, quando é camponês, com ou sem terra. No feudalismo, a renda como uma remanescente sobre o lucro médio é apropriada pelo senhor feudal na forma de trabalho, para depois adquirir a dimensão da renda no sentido moderno da palavra; quer dizer, como uma remanescente “sobre a parte proporcional que corresponde a cada capital concreto na mais-valia produzida pelo capital global da sociedade”, o que se alcançou mediante um trânsito da renda em trabalho a esta em produtos e em dinheiro (Marx, 1966; pp. 766).

ii) O narodnismo marxiano. Como assinalamos anteriormente, nos últimos dez anos da sua vida, e motivado pela riqueza que adquire na Rússia os debates populistas em torno do primeiro tomo do O Capital, Marx aprende russo e, sob a influência desses debates, se introduz na análise do campesinato no processo histórico. E, ao faze-lo, retoma os problemas colocados em seus esquemas aclaratórios sobre a evolução das sociedades como crítica à economia política. Segundo mostra Shanin e seus colaboradores na sua análise do último Marx, este parece chegar a aceitar um evolucionismo multilinear do processo histórico, assim como a coexistência de distintas formas de exploração na estrutura socioeconômica de uma determinada sociedade, abrindo com isso imemsas possibilidades para o estudo dos processos que têm lugar na agricultura. De fato, se introduzirmos a problemática populista com relação à valoração do conhecimento local e em parte deste no manejo dos recursos naturais, aparece como conseqüência lógica o possível desenho de múltiplas vias para obter o progresso.

iii) O marxismo clássico heterodoxo. Em estreita relação com estas últimas colocações se situa uma série de autores que mostram claras discrepâncias com a corrente

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teórica do marxismo ortodoxo antes considerada. Entre eles nos interessa considerar ainda que em forma esquemática a Rosa Luxemburgo, Nikholai V. Bujarin e E. Preobrazhemsky, já que suas contribuições permitem delimitar os contornos de uma corrente teórica distante das rigidezes da doutrina oficial.

É possível atribuir à Rosa Luxemburgo o estabelecimento de um marco teórico sobre os “espaços vazios do capitalismo”, segundo o qual em toda sociedade se produz a coexistência de “regimes de produção diferentes assim como um forte intercâmbio entre eles. Neste sentido, o campesinato como estrutura social não capitalista possui mecanismos de funcionamento que marcaram fortes peculiaridades em seu intercâmbio com a forma de exploração dominante nessa determinada sociedade. Em forma análoga, Preobrazhemsky ao analisar a transição ao socialismo elabora uma “teoria da acumulação primitiva socialista”, de forma tal que assinala a necessidade de um período de pequema produção para a consecução de um modo de produção socialista através de uma acumulação primitiva específica. Nesta linha, Bujarin desenvolve uma estratégia para o campesinato segundo a qual junto à exploração parcelaria no nível da produção apareceriam formas de integração vertical no processo de circulação, gerando assim infraestruturas de caráter comunitário ou, em suas próprias palavras, uma “socialização da circulação” (Luxemburgo, 1985; pp. 140-41. Preobrazhemsky, 1965; Bujarin, 1972; Palerm, 1976 b; Shanin, 1971).

iv) O marxismo ortodoxo agrário. Uma vez clarificado o conceito marxismo ortodoxo e as correntes teóricas que se afastam de tal codificação do pensamento revolucionário é possível a nós considerar a interpretação que este faz da questão agrária. Assim, num esforço de síntese o Marxismo Ortodoxo Agrário poderia definir-se como o esquema teórico que interpreta a evolução da estrutura agrária no processo histórico através das seguintes características: 1) Evolução unilinear: As transformações que se operam na agricultura respondem às mudanças que se produzem na sociedade global. Estas mudanças estão determinadas pelo crescimento das ‘forças produtivas’ e a configuração do progresso como resultado, gerando formas de polarização social nas quais se produz um processo acumulativo de formas de exploração social. Assim, “a escravidão é a primeira forma de exploração, a forma própria do mundo antigo; a sucede a servidão, na Idade Média, e o trabalho assalariado nos tempos modernos”; 2) Sequência histórica: Tais formas de exploração se inserem em fases históricas de evolução das sociedades em que a reprodução das relações econômicas e sociais responde à lógica de funcionamento do desenvolvimento das forças produtivas. Portanto, as transformações que têm lugar no campo se produzem seguindo uma seqüência histórica de modos de produção inconciliáveis entre si; 3) Dissolução do campesinato: A aparição do capitalismo, como modo de produção prévio ao socialista, determina a dissolução do campesinato como organização socioeconômica característica dos modos de produção prévios a ele. A centralização e concentração como processos necessários ao capitalismo industrial eliminam o campesinato da agricultura por ser ele incapaz de incorporar-se ao progresso técnico; 4) Superioridade da grande empresa agrícola: as grandes possibilidades de adaptação da grande exploração ao funcionamento da agricultura capitalista, como um ramo a mais da indústria, dotam o latifúndio de uma potencial superioridade técnica que, através das vantagens das “economias de escala”, permitiriam o crescimento de sua composição orgânica do capital, avançando assim para a socialização da produção agrária. 5) Contraposição entre a

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grande e a pequema exploração: Como resultado do anterior, a dinâmica do capitalismo gera uma confrontação entre o campesinato e o latifundismo que tem como desenlace a proletarização do campesinato e a polarização social no campo.

Os marcos teóricos do marxismo ortodoxo: da função históricaprogressista do capitalismo à agonia do campesinato

Como acabamos de ver, o marxismo ortodoxo atribui à Kautsky e Lenin a formulação do contexto teórico das transformações que se produzem na agricultura durante o desenvolvimento do capitalismo. Tais características apontadas esquecem que a riqueza da análise realizada por ambos, ao tentarem explicar a evolução do campesinato na agricultura, permite encontrar em seus trabalhos inúmeros elementos teóricos plenos de fertilidade analítica claramente contraditória com tal formulação. Assim, as matizações de Kautsky em relação à tendência geral do capitalismo em dissolver e eliminar o campesinato o levam a explicar os mecanismos da “maior lentidão” dos processos de centralização e concentração na agricultura. E ao faze-lo, formula propostas teóricas com respeito às pressões políticas dos grandes proprietários de terras e o papel do Estado, por um lado, e as formas de resistência do campesinato, por outro.

Chega assim a definir --- contraditoriamente à tese central de seu trabalho --- o “setor camponês da economia política capitalista” como uma fonte de “acumulação primitiva contínua”. De forma análoga, a caracterização que faz Lênin dos mecanismos de proletarização do campesinato é interpretada em um contexto teórico geral e não somente aplicada à Rússia. Nessa caracterização aparecem múltiplas contradições com relação à forma de exploração camponesa e o latifundismo, o qual atuaria como uma forma de exploração gérmem de uma tendência para a socialização da produção. De fato em seu Desenvolvimento do Capitalismo na Agricultura chega a demonstrar “a polarização social da agricultura” e a conseqüemte “proletarização social do campesinato” na Rússia do oitocentos. São estes os marcos teóricos centrais do marxismo ortodoxo com relação à questão agrária.

Deve-se à Plejanov e outros intelectuais revolucionários que se afastaram do narodnismo a elaboração do esquema teórico central desta corrente teórica, ao atribuir ao capitalismo um “trabalho histórico progressista”. Aparece assim um novo marco teórico segundo o qual “para alcançar o céu do socialismo torna-se inelutável descer ao inferno do capitalismo”. Apresenta-se esta como uma lei objetiva constatável mediante uma contrastação com o processo histórico. Tal proposição aparecia subjacemte, para estes autores, à investigação realizada por Marx no primeiro tomo do O Capital. É esta uma interpretação que, ao contrário da intencionalidade do próprio Marx ao escrever dito trabalho, eleva a teoria geral o processo histórico europeu. Não seria, portanto, o “apoio mútuo”, como defendiam os anarquistas, o elemento chave na evolução do processo histórico, senão os avanços tecnológicos materiais, “o desenvolvimento das forças produtivas”, e o enfrentamento social que este provocaria; quer dizer, a luta de classes. O

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proletariado seria o agente propulsor da mudança ao reagir de forma revolucionária contra a exploração a que se encontrava submetido pela burguesia.

Concretamente, a questão agrária no marxismo ortodoxo atribui um sentido histórico e alguns condicionamentos estruturais ao desenvolvimento do capitalismo de forma tal que o campesinato se converte em resíduo anacrônico condenado inelutavelmente a desaparecer ante o inexorável desenvolvimento das forças produtivas. Não poderia ser de outra maneira na medida em que o capitalismo fosse considerado um estádio superior da racionalidade possível e, ainda desejável, no avanço irrefreável das forças produtivas e estas seguem consideradas como o demiurgo que finalmente conduziria os povos a graus superiores de bem estar, dado seu caráter socializador imanente. Somente a crise ecológica e o questionamento subseqüemte tanto do impacto do desenvolvimento tecnológico como do conceito mesmo de progresso poderia --- como veremos --- colocar em questão tais axiomas.

Resumindo, no decorrer do século XIX, se configuram duas categorias intelectuais nas quais se articulam duas práxis sociopolíticas claramente definidas. Por um lado o “narodnismo”, como defensor da vigência do campesinato, com um potencial de adaptação histórica; e, por outro, o “marxismo ortodoxo”, para quem o campesinato não seria mais do que um resíduo anacrônico que haveria de ser sacrificado nos altares do progresso. O triunfo do “marxismo ortodoxo” (baseado na interpretação dogmática dos trabalhos de Lênin e Kautsky, e na repressão da burocracia estalinista para impor uma realidade formalmente distinta, mas, em sua raiz última, coativamente uniformizadora) supunha, paradoxalmente, uma convergência com o pensamento liberal agrário: a agricultura haveria de transformar-se num ramo da indústria. Isso unido à hegemonia política e intelectual dos EEUU, e sua cremça cega na “judiciosa mão invisível do mercado”, (que premiaria os honrados negociantes e castigaria os que vagabundeavam), mutilaria no fundo qualquer tentativa de reflexão teórica sobre a dimensão histórica das estruturas agrárias. “Pelo contrário, a Mass Society, por um lado, e a classe operária industrial, por outro, se constituiriam no foco de atemção de suas reflexões, as quais se veriam sempre tomadas pela visão marxista da ‘agonia do campesinato’ (anteriormente considerada). Assim, o pensamento científico convencional, da mesma forma que o marxismo oficial aceitaram que os processos evolutivos agrários teriam de seguir inelutavelmente distintas etapas de um processo que se assume seqüemcial e taxonomicamente único” (Howard Newby e E. Sevilla Guzmán, 1983: 137-165 y 145).

3. DA NOVA TRADIÇÃO DOS ESTUDOS CAMPONESES À AGROECOLOGIA

Existe uma aceitação geral, dentro da literatura sobre o campesinato, em situar 1948 como o ponto de partida da “nova tradição de estudos camponeses”. Foi então quando Kroeber caracterizou a sociedade camponesa como uma forma de organização social com estruturas “rurais apesar de viver em relação com os mercados das cidades; formando um segmento de classe de uma população maior que engloba geralmente centros urbanos e, às vezes, até capitais metropolitanas. Constituem sociedades parciais com culturas parciais. Carecem de isolamento, a autonomia política e a autarquia dos grupos tribais; mas suas

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unidades locais conservam sua velha identidade, integração e apego à terra e aos cultivos” (5). Ainda quando nesta definição se emcontrem já os elementos chaves que serão posteriormente utilizados para definir o campesinato, de fato foi Robert Redfield quem inicia realmente este novo processo de acumulação teórica. Assim, Redfield leva a cabo um estudo de várias comunidades camponesas mexicanas centrando sua análise nas mudanças que nelas têm lugar como conseqüência das inter-relações existentes entre elas e a sociedade urbanoindustrial” (6).

Desde um ponto de vista teórico, Redfield dedicou seus esforços para a formulação de um tipo ideal de sociedade camponesa que passou ao pensamento social como a Folk-Society(7). Para Redfield os camponeses são um segmento de classe de uma sociedade maior (Part-society com Part-culture) vinculados ao mercado ainda quando o grosso de sua produção vai para o autoconsumo da unidade familiar. Seu traço central, sem dúvida, é constituído pela forma de dependência que possui com a sociedade maior em termos de exploração(8). Sem dúvida, o conjunto de estudos mais relevantes sobre o campesinato, dentro desta tradição teórica, surge do grupo vinculado a Julián H. Steward, que se inscreve teoricamente como o evolucionismo multilinear ou a ecologia cultural. Junto a Steward, cabe destacar como figuras mais relevantes a Sidney Mintz, Eric Wolf, Karl A. Wittfogel, Robert Adams e Angel Palerm, entre muitos outros(9).

Recuperando a “antiga tradição”

Provavelmente a caracterização mais completa do campesinato desta tradição teórica se deve a Eric Wolf. Este não só recolhe os elementos mais interessantes da contribuição de seus companheiros, senão que ademais incorpora à sua análise relevantes aspectos da antiga tradição dos estudos camponeses e em especial os trabalhos de Chayanov. Aparece assim, o marco teórico dos Ecotipos Camponeses que anos mais tardem se completaria com o enfoque conflitivista do processo de expansão européia para a Latinoamérica em sua excelente análise sobre os “povos sem história” (10). Tem grande interesse a caracterização que faz Sidney Mintz dos operários agrícolas como parte do campesinato. E, sobretudo, suas últimas análises sobre o campesinato caribemho das quais surge o marco teórico que temos denominado de “Campesinato com encaixe histórico” (11). Sem dúvida é este trabalho um dos primeiros estudos onde o conhecimento do campesinato 5A.L.Kroeber, (1948: 284).6Redfield estuda, primeiro, em companhia de sua esposa e filhos, uma população azteca próxima à cidade do México (Teopozland, a Mexican Village: a Study of Folk Life) (1930) e, depois (ajudado por quem mais tarde seria seu discípulo e colega, Alfonso Villas Rojas, então, professor rural), quatro comunidades yucatecas (Chan Kom: A Maya Village) (1934), y ,The Folk Culture of Yucatán (1941). Publicados todos eles em The University of Chicago Press).7R. Redfield, (1947: 293-308). Sobre seu caráter de modelo teórico, cf. "The Natural history of the Folk Society", (1953: 224-228).8R. Redfield, (1956: 29-30 y 64-68).9A configuração deste grupo surge do trábalo interdisciplinar que Steward dirigiu em Porto Rico ao final dos anos quaremta Cf. The People of Puerto Rico (Urbana Ill.: University of Illinois Press, 1956. Daqui surgem as teses doutorais de Sidney Mintz e Eric Wolf gerando uma acumulação téorica que incorporava o legado teórico de Childe y White.10Erick R. Wolf, (1982). 11Sidney Mintz, (1960). Há edição em espanhol de 1988 (Rio Piedras: Edições Huracán). Para o marco teórico do campesinato como encaixe histórico Cf. Caribbean Contours (1985).

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sobre o manejo dos recursos naturais é tomado como uma das variáveis definidoras do mesmo aproximando-se da posição da Agroecologia, emergente naqueles anos.

Outro autor de grande relevância, dentro desta tradição teórica é Boguslaw Galeski, quem recolhemdo o legado de V.I. Lênin, reelabora o conceito de estrutura social aplicando-o à análise do campesinato. Aparece, assim, o que pode definir-se como o marco teórico da estrutura social rural(12). Mas sem dúvida o grande impulsionador dos novos estilos camponeses é Teodor Shanin que em seus trabalhos sobre Chayanov, Lênin e Kautsky rompe com a perspectiva unilinear do marxismo ortodoxo agrário(13) e gera, o que temos aqui denominado, o marco teórico do Narodnismo Marxiano, recuperando assim, o valioso legado de sua “multilinearidade” para o desenvolvimento dos paises periféricos (14). Tem um grande interesse sua recopilação de trabalhos publicada como Defining Peasants(15). Junto com Teodor Shanin e Hamza Alavi (articuladores dos estudos camponeses com a Sociologia do Subdesenvolvimento), provavelmente a figura inovadora desta tradição intelectual é Joan Martinez Alier(16), quem introduz uma dimensão agroecológica na sua análise dos movimentos sociais nos paises periféricos construindo assim o marco teórico da “A ecologia dos pobres” (17). A eles é obrigado acrescentar ao núcleo de trabalhos mais impactantes nas transformações da sociologia rural européia para um enfoque mais interdisciplinário, descolando assim definitivamente da sociologia da vida rural; são estes os estudos sobre desenvolvimento rural vinculados a Norman Long que, desde uma perspectiva neomarxista e utilizando materiais recolhidos sobre Ásia, África e Latinoamérica, exploram os problemas das sociedades rurais do Terceiro Mundo. Seu trabalho chave é constituído pela análise que, sobre as “teorias da modernização” e os “marcos da dependência”, o levam a formular propostas de desenhos de métodos de desenvolvimento rural. Primeiro desde a Inglaterra(18) e depois desde a Universidade de Wagemingem (19), elabora uma estratégia metodológica para encarar o problema do emcontro entre diferentes identidades para a construção de processos de desenvolvimento local. Constitui assim uma interessante equipe à que se integraria uma das que serão mais relevantes figuras do panorama atual do pensamento social agrário Jan Douwe van der Ploeg, que consideraremos mais adiante.

Outra figura destacada da sociologia rural inglesa, que incidirá nesta orientação teórica é Michael Redclift, quem, apesar de certas incursões nos estudos de comunidade na Inglaterra e Espanha, se dedicará à análise do Terceiro Mundo, centrando-se nos estudos sobre A Reforma Agrária no Equador(20) e México, onde analisa o fenômeno do populismo

12Boguslaw Galeski, (1972: 100-133).13Teodor Shanin, em A.V. Chayanov, (1986). Há tradução em español em Agricultura y Sociedad, nº48; y con Hamza Alavi, em Karl Kautsky, (1988), também há versão castelhana em Agricultura y Sociedad. 14Teodor Shanin (1983).15London: Basil Blackwell, 1990.16Landlabourers and Landowners in Southern Spain (London: Allem and Unwin, 1971), assim como seus trabalhos sobre Cuba, Perú e outros países latinoamericanos. Haciemdas, Plantations and Collective Farms (London: Frank Cass, 1977).17Cf. Ecological Economics (Oxford: Basil Blackwell, 1987). E sobretudo seu De la economía ecológica al ecologismo popular (Barcelona: Icaria, 1992). 18Cf. An Introduction to the Sociology of Rural Developmemt (London: Tavistock, 1977).19Norman Long (1989 y 1992).20Michael R. Redclift, (1978).

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agrário como via camponesa de transição para formas de organização política mais igualitárias(21). Sem dúvida, a contribuição fundamental de Robert Redclift ao pensamento social agrário tem lugar no processo de confluência desta orientação teórica com a sociologia do subdesenvolvimento que acabamos de ver; seu livro com David Goodman, From Peasant to Proletarian constitui a mais lúcida análise dos marcos teóricos do subdesenvolvimento(22). É obrigatório considerar aqui a Hamza Alavi e Teodor Shanin (23)

como iniciadores deste processo de confluência. Não obstante, é dentro da sociologia da agricultura que veremos depois, onde Michael Redclift destacará como principal introdutor do enfoque (meio) ambientalista na sociologia rural das “sociedades avançadas” (24).

O que denominamos em outro lugar como marco teórico do Ecodesenvolvimento poderia, pela relevância que dá ao conhecimento do campesinato, situar-se dentro dos estudos camponeses; sem dúvida, o enfoque utilizado pelo seu principal elaborador, Ignacy Sachs(25), o separa sensivelmente desta orientação teórica. O conceito de ecodesenvolvimento(26) constitui uma tentativa de introduzir o manejo ecológico dos recursos naturais no desenho de esquemas de transformação das sociedades rurais (27), mesmo quando a cooptação desta categoria analítica por parte dos organismos internacionais o tenha constituído uma forma de desenvolvimento convencional. Um de seus mais relevantes discípulos, Enrique Leff, ao caracterizar o processo histórico em suas interações com a política agrária e rural desenhada pelos organismosinternacionais, situa ecodesenvolvimento no seguinte contexto: “As estratégias do ecodesenvolvimento tem sido desarticuladas do marco geral das lutas sociais pela apropriação dos recursos, isso fez do ecodesenvolvimento, apesar de promover a autonomia cultural e a gestão tecnológica das comunidades, apareça como uma resposta do capital à crise ecológica (de recursos, de emergéticos, de alimentos) do momento atual, mais que como uma práxis de transformação produtiva e de mudança social para assentar as bases de um desenvolvimento eqüitativo e sustentável. Esta avaliação se desprende do sentido explícito das propostas do discurso ecodesenvolvimentista no marco político internacional em que se insere. Mais tarde, os propósitos de ecodesenvolvimento foram definidos como “a valorização (mise em valeur) dos recursos específicos de cada ecoregião(28). Mas, esta valorização dos recursos implica a apropriação capitalista da natureza, sua introdução no processo produtivo de mais-valia e sua circulação como mercadorias no mercado(29). A contribuição de Enrique Left aos Estudos Camponeses no período de sua virada ecológica na segunda metade dos anos oitenta, radica em sua busca de uma racionalidade ecológica nos processos de

21Michael Redclift, (1980: 492-502). Cf., também, seu trabalho "Production Programs for Small Farmers: Plan Puebla as Myth and Reality" em (1983:.551-570).22(Oxford: Basil Blackwell, 1981).23Cf. Sociology of "Developing Societies" (London: MacMillan Press, 1982).24Michael Redclift, (1987) e seu estudo com David Goodman (1991).25Ibid, p. 135.26 Naciones Unidas, El desarrollo y el medio ambiemte. Founex, Suiza 4-12 junho 19 8 7 XXX?, pp. 1, 2,

30 y 40 citado no trabalho de Leff na nota de rodapé adiante. 27Sachs, (1.981: 20-22). Uma análise do Ecodesenvolvimento no contexto de outras posições ambientalistas européias podem ser apreciadas em Michael Redclift, (1.984). Existe uma versão castelhana no FCE tão mal traducida que é praticamente inteligível.28Naciones Unidas, El desarrollo y el medio ambiemte. Founex, Suiza 4-12 junho 19 8 7 XXX?, pp. 1, 2, 30 y 40 citado no trabalho de Leff da nota de rodapé seguinte. 29Enrique Leff, (1994: 320-321).

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transformação levados a cabo através do movimento ambiental e sua introdução na perspectiva ecológica do marxismo(30); com ele colabora na construção da orientação teórica da Agroecologia, que consideraremos mais tarde.

Da Sociología da Agricultura

Existe uma ampla literatura sobre a removação teórica que experimemta a sociologia rural na década dos oitenta do século passado conhecida como Sociologia da Agricultura (Buttle, 1979, 2001; fonte, 1988; Butlle et al., 1990; Sevilla Guzmán, 1995; Fridland, et. Al. 1991). Até meados dos novemta, o núcleo central destas contribuições surgia em torno do problema do desenvolvimento do capitalismo na agricultura. Esquematizando um rico e complexo debate, o dilema último radicava em se a agricultura familiar estava condenada a desaparecer ante uma mercantilização incontida ou se pelo contrário possuía mecanismos de resistência para manter sua natureza socioeconômica. Friederick H. Buttel, em seu último e documentado trabalho (2001: 18 e 19), demomina esta polêmica como o debate sobre a Questão Agrária (desconhecemdo o anteriormente caracterizado) e qualifica como correntes do Marxismo Chayanoviano a última postura; e como Economia e Sociologia Política Leniniana à primeira31.30 Enrique Leff, (1986). A edição de 1994 supõe uma reavaliação substantiva deste trabalho introduzindo

contribuições de grande valor.31 Cf. A expressão “economia política Leniniana” não é senão uma variante atual do Marxismo ortodoxo,

desenvolvida por Alain de Janvry (1981 e Deere and De Janvry, 1979). Pelo contrário a expressão “marxismo chayanoviano” que procede de Lehman (1986: 601-607), tem sido amplamente aceita pela comunidade científica da sociologia da agricultura norteamericana conforme os citados trabalhos de Butell, Friedland, María Fonte e a valiosa tentativa de Margaret Fitz Simmos para integrar esta tradição sociológica com a geografia Cf. (1985: 139-149; 1986: 334-345; e muito especialmente seu trabalho em Philip Lowe, Terry Marsdem and Sarah Watmore, 1988: cap. 1). Sem dúvida tal expressão, em tal contexto teórico (Cf. Una crítica a la pobreza teórica del marxismo utilizado em Sevilla Guzmán, 1995), não passa de ser uma metáfora, quando na realidade emvolve todo um marco teórico gerado pelos fortes conteúdos históricos, desenvolvidos por uma práxis intelectual e política que permitiu uma fértil teorização geradoras de proposta produtivas socioeconômicas de grande valor. E ademais, tanto desde o contexto teórico anteriormente definido do último Marx e o narodnismo russo (Shanin, 1983; Sevilla Guzmán, 1990; Sevilla Guzmán and González de Molina, 1992), como desde o ecologismo popular ou neonarodnismo ecológico (Martínez Alier, 1995; González de Molina y Sevilla Guzmán, 1992; Martínez Alier y Guha, 1998), como desde a agroecología atual (Altieri, 1985; Altieri and Hecht, 1989; Sevilla Guzmán y Grahan Woodgate, 1997; Guzmán Casado, González de Molina y Sevilla Guzmán, 2000, em especial: 118-119; Sevilla Guzmán em Sarandon, 2002: 57-81); ou desde propostas para reformular as políticas européias de desenvolvimento rural (Ploeg, Marsdem, Sevilla Guzmán et. al., 2000; Ploeg et. al., 2002; Marsdem, 2003). A seletiva interdisciplinariedade desta corrente tem impedido que seus desenvolvimentos teóricos incorporem achados fundamemtais. Ele tem sido provocado pelo “pragmatismo de cemtrar-se na literatura norteamericana e especialmente em USA”, por um lado, e sua utilização “tão somente ocasional da literatura Européia e outras, quando considera apropriada a discussão pela sua influência na economia política agrária de US e Canadá” (Butell, 2001: 12). Assim, a vasta literatura que analisa este debate (De Janvry, 1981; Goodman y Retclift, 1981; Lehman, 1986 e, sobretudo, Friedland et. al., 1991) não incorpora nas suas análises a valiosa tradição dos Estudos Camponeses que analisamos anteriormente e que geram um contexto teórico possivelmente suscetível de assumir a demominação de um Marxismo Chayanoviano. Com isso se desconhece tanto a rica acumulacão teórica desta tradição intelectual como sua contribuição fundamental na lingua castelhana, gerada desde a América Latina. Como veremos mais adiante esta rompe a interdisciplinariedade das ciências sociais em que se movia até os anos oitenta, alcançando uma transdisciplinariedade que incorpora na sua pesquisa tanto as ciências naturais como o conhecimento local, camponês e indígema (Cf. Altieri, 1985; Guzmán Casado, González de Molina, Sevilla Guzmán, 2000; y Gliessman, 2002).

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Este grupo da “mercantilização incontida”, que Buttel cataloga como corrente teórica da Economia e Sociologia Política Leninianas (cuja demominação vamos aceitar para designar a vasta heterogeneidade que aponta uma clara práxis intelectual e política vinculada ao desaparecimento do campesinato) tem como configurador do contexto teórico inicial a Alain de Janvry “um economista agrário de formação e vocação, ainda que acadêmico com fortes laços na comunidade sociológica, que se tem destacado entre os mais francos analistas do processo de agonia do campesinato” (Sevilla Guzmán, 1995:40), que temos analisado ao definir o Marxismo ortodoxo. Seu trabalho The Agrarian Question and Reformism in Latinoamérica (1981) é normalmente considerado como a peça de caráter teórico de maior influência nesta tendência. E isso não somente porque é, provavelmente, o primeiro trabalho que encara, desde as novas premissas da Sociologia da Agricultura, as transformações que a internalização dos sistemas agroalimentares estão provocando na agricultura; senão, porque dá um impulso teórico importante ao “marxismo acadêmico”, colaborando decisivamente na direção assinalada por Howard Newby para sair da crise teórica em que se encontrava a Sociologia Rural no início dos anos 80 (Newby, 1981 y Newby e Sevilla Guzmán, 1983).

Alain de Janvry, depois de trabalhar no marco teórico da Modernização Agrária durante a década dos setenta, gera um esquema teórico radicalmente distinto. De fato, detrás de uma crítica ao contexto neoclássico em que se movia, realiza uma análise da evolução do conceito de Desenvolvimento Desigual estabelecendo um modelo de acumulação de capital na estrutura Cenria do sistema mundial capitalista, já que para ele “o problema radica em que a questão agrária é um sintoma da natureza da estrutura de classes da periferia e do processo particular da acumulação de capital que subjaz a esta” (1981:7 e 8, e 9-22). Provavelmente o conceito teórico central de seu esquema analítico seja o de acumulação desarticulada que elabora a partir de uma crítica a Samir Amin, tentando introduzir uma dimensão temporal nas conceituações deste, já que a acumulação desarticulada da periferia é diferente em cada período histórico.

Mediante a referida análise teórica Janvry conclui com o estabelecimento de um engenhoso modelo para interpretar as alianças de classe, dos paises periféricos de grande interesse analítico para emtender o pacto social peronista de 1973, o que demomina “a revolução burguesa peruana de 1963” (sic) ou o governo de Lara no Equador, como tentativas falidas de conseguir o “estabelecimento do domínio de uma aliança de classes articulada na América Latina” (1981: 42). Sem dúvida, o mais relevante de seu esquema teórico é constituído pela sua revisão da “formulação clássica” da Escola do “Desenvolvimento do Subdesenvolvimento” para analisar a crise do capitalismo dos anos setenta do século XX, quando formula o surgimento da internacionalização dos sistemas agroalimemtários. Chega, desta forma De Janvry a estabelecer o contexto macroteórico da Economia e Sociologia Leniniana, que seria completado pelo enfoque microteórico da sua teoria da Descamponeização (Deere, D. D. e Alain De Janvry, 1979), onde realiza uma excelente análise das formas de extração do campesinato, ainda que lamentavelmente a partir de um modelo ahistórico do mais puro funcionalismo marxista.

Em sua análise macrosocioeconômica De Janvry mostra como a dinâmica do capitalismo nos anos setenta culmina num “reforçamento do desenvolvimento desigual

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chegando a criar novas formas de contradições ainda que não se eliminaram as características fundamemtais do sistema econômico mundial: sua unidade, sua heterogeneidade e suas relações de dominação. A emergência da crise esteve fundamentalmente enraizada em dois fenômenos que foram criados pelo processo de crescimento. Em primeiro lugar, a crescente internacionalização de amplos setores do capital social, a Metanacionalização, que não é senão o último divórcio entre o capital e os estados/nação. Enquanto as corporações multinacionais repatriam seus benefícios por detrás da cena do desenvolvimento das corporações multinacionais e transnacionais para os paises maternos, as corporações metanacionais acumulam uma importante fração dos benefícios em seus centros bancários... Em segundo lugar, o crescimento econômico sustentável....conduziu ao congelamento dos benefícios como os baixos níveis de emprego pressionaram os salários imprevisivelmente à alta, enquanto se incrememtam os custos de produção como conseqüência da antipoluição, a segurança no trabalho, a proteção ao consumo, e as leis do estado de bem-estar” (1981: 56). É de lamemtar que estas inteligemtes conceituações se movam num contexto teórico de uma práxis não somente convergemte com o Neoliberalismo tão de moda com respeito ao inelutável desaparecimento do campesinato que há de salvar-se através do agronegócio, senão também dentro dele (cf. De Janvry, 1973).

Ao fazer um balanço do decorrer de 2000 desta produção científica Buttle (2001: 21-22) constrói uma tipologia dos marcos teóricos dominantes nos quais aparece Harriet Friedmann, Tery Marsdem e Jan Douwe van der Ploeg como autores centrais, colocando este último como cabeça da “Neochayanoviana escola de Farming Styles de Wagemingem”. O fato de que tenhamos participado com os dois últimos num projeto para a União Européia (Ploeg, Marsdem, Sevilla Guzmán, et. al. 2000), por um lado, e que Friedmann (1978, 1980) seja considerado como a figura central da corrente chayanoviana do referido debate (Lehman, 1986; Fonte, 1988; Buttle et. al. 1990 e Burell, 2001), por outro lado, nos moveu a elaborar um possível marco teórico com este conteúdo que passamos a considerar.

Da Agronomia Social de Chayanov ao “Marxismo Neochayanoviano”

Teodor Shanin (1988, pp. 141-172, p. 148) destaca três conceitos como elementos chaves na proposta teórica de Chayanov: as cooperativas rurais, os ótimos diferenciais e a cooperação vertical. O cooperativismo rural supunha para Chayanov a consecução de uma democracia de base, referindo-se a que os próprios agricultores estabeleciam suas fórmulas de ação coletiva para manter a socialização do trabalho própria da forma de exploração familiar. O conceito chayanoviano de “ótimos diferenciais” se refere à combinação de estruturas econômicas e sociais que nas formas de exploração agrária introduz certas peculiaridades. Ao articularem-se estas com os processos tecnológicos existentes em zonas concretas, produzidos através de modos locais de conhecimento adaptados aos subsetores agrícolas concretos podem variar substantivamente os resultados. Os ótimos diferenciais têm sido considerados como a possibilidade de que o conhecimento local atue como elemento gerador de tecnologias autóctones capazes de captar o potencial endógeno dos recursos naturais (Angel Palerm, 1980: 169; Victor M. Toledo, 89; Gonzalez de Molina e Sevilla Guzmán, 1993: 88-94. “Para Chayanov a economia familiar não é simplesmente a

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sobrevivência dos débeis por meio de seu empobrecimento que serve a benefícios muito superiores (superbenefícios) em outros lugares, senão também a utilização de algumas das características da agricultura e da vida social rural que, em ocasiões, podem proporcionar vantagens à economias não capitalistas sobre as formas de produção capitalistas num mundo capitalista” (Shanin, 1988: 141-172).

O terceiro elemento teórico chave atribuído ao esquema chayanoviano para “o progresso da agricultura russa” é a cooperação vertical. É esta uma proposta de “combinação flexível em forma de cooperativa, de unidades de produção de diferentes tamanhos” para as diferentes formas de exploração ou tipos de agricultura. Para Chayanov32

sua proposta de cooperação vertical surge como algo evidente ante o fato de que em sistemas agrários de pequemas explorações, o capital comercial pemetra e transforma “a agricultura camponesa através da ‘concentração vertical capitalista’, tomando seletivamente seus elementos extraprodutivos” e retirando uma parte substantiva das rendas. Ploeg (1990: 272-274) demomina esse processo como mercantilização parcial. Esta realidade histórica não era um processo necessário já que --- para Chayanov --- a penetração do capital pode ser evitada ao debilitar sua capacidade transformadora mediante “as organizações dos camponeses e/ou as políticas de Estado e/ou as contradições internas entre capitalistas ” (Shanin, 1988: 148).

Para Chayanov, a articulação destes três conceitos permitiria “a introdução extensiva da racionalidade nos processos espontâneos, o que constitui a essência da obra da agronomia social” (Chayanov, 1918, citado em Sperotto, 1985:7; cf. Sánchez de Puerta, F., 1992). Observe-se a clara similitude existente entre a proposta de Agronomia Social de Chayanov e a moderna Agroecologia: “o conhecimento formal social e ecológico, o conhecimento obtido do estudo dos sistemas tradicionais, o conhecimento e alguns dos insumos desenvolvidos pela ciência agrícola convencional e a experiência com as instituições agrícolas ocidentais podem se combinar para melhorar significativamente tanto os agroecosistemas mais tradicionais como os agroecosistemas mais modernos (Altieri, 1989: 26).

A figura mais destacada do --- metaforicamente denominado por Buttel --- Marxismo Chayanoviano é Harriet Friedmann. A contribuição que nos interessa aqui de seu extemso contexto teórico é sua conceitualização de uma forma de produção simples de mecadorias agrárias para caracterizar a agricultura familiar predominante nas sociedades

32(?) Propõe-se, assim, mediante formas de organização cooperativas que a modo de sistemas de “socialização do trabalho” se articulem, no nível da produção, como ‘democracias de base” formas de coordemação que controlem o capital comercial no nível de processos de comercialização. Desta forma, para Chayanov "se pode estabelecer um tipo de ‘concentração vertical diferente, que inclusive pode cegar a desempenhar um papel crucial na transformação socialista da sociedade”. Tal proposta supunha “uma forte e remarcavelmente realista précritica da coletivização do tipo estaliniano, demominada ‘cooperação horizontal’ ” (Shanin, 1988: 151). Nela a maximização dos tamanhos das unidades de produção era substituída pela sua otimização de acordo com os contextos específicos da forma de exploração (ou tipo de agricultura) e no que jogava um papel crucial o desenvolvimento dos modos locais de tecnologias existentes em cada ramo de produção agrícola. Sem dúvida, a proposta de Chayanov para o “desenvolvimento da agricultura russa” era uma nova proposta que haveria de se contemplar dentro de seu esquema teórico da agronomia social (Teodor Shanin, 1988: 150).

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capitalistas avançadas. Para Friedmann o conceito de “forma de produção” é a combinação de dois elementos teóricos fundamemtais. Por um lado, as “condições de reprodução” com que encontra qualquer tipo de pequema agricultura no processo histórico. E, por outro lado, a forma em que estas se inserem no âmbito da formação social em que se encontram.

Sem dúvida as condições de reprodução de uma forma de produção são tanto sociais como técnicas, por isso Friedmann diferemcia entre “consumo pessoal” (aquele que permite ao produtor continuar participando na produção), “consumo produtivo” (técnicas, pecuária, terra e outros meios de produção que permitam a continuidade da produção) e o excedente do trabalho (em forma de excedente de valor, bemefício, renda ou juros) no caso que a pequema agricultura utilize trabalho assalariado (1978: 555). São estas condições as que permitem a continuidade de uma forma de produção ou, caso de que alguma falhe, o deterioro ou transformação de suas bases técnicas e sociais. Será assim o grau em que as relações sociais de produção da produção simples de mercadorias agrárias estejam baseadas nos vínculos familiares (de gênero e geração) o que permitirá suas possibilidades de continuidade33, independentemente de que sua produção esteja mercantilizada (Friedmann, 1978: 545-586 e 1980: 158-184).

Sucede que a forma de produção simples de mercadorias agrárias pode constituir uma forma de manejo dos recursos naurais estável, coexistindo tanto com a forma de produção camponesa como com a capitalista sempre que as referidas condições de reprodução --- consumo pessoal e produtivo e excedente de trabalho --- se mantenham. Fugindo de raciocínios puramente dedutivos, muito frequemtes no debate da mercantilização, cabe assinalar que quem maneja os recursos naturais joga um papel ativo no processo de mercantilização e que esta se encontra vinculada aos processos de trabalho e ao âmbito local --- etnoecosistema --- ainda quando joguem um papel ativo em tais processo os âmbitos espaciais e sociais mais amplos.

O conceito de Style of farming cunhado por Jan Dowe van der Ploeg é em certo sentido uma proposta para definir operativamente a natureza da agricultura familiar (1994: 7-30) através do tipo de tecnologia utilizada e do grau de implicação no mercado que esta possue, em seu manejo dos recursos naturais. Constitui um elemento teórico central para medir o grau de mercantilização (1993) das explorações familiares no desenho de métodos de desenvolvimento endógeno, como proposta para a elaboração de políticas de desenvolvimento local (Ploeg, et. al. 2000 e 2002).

33 Harriet Friedman, "Patriarcrhy and Property. A reply to Goodman and Redclift" em Sociología Ruralis Vol 26 nº 1, 1986, pp. 186-193, p. 187. M. Redclift e D. Goodman argumemtam que o trabalho assalariado ocasional ou anterior desvirtuaria a conceitualização de Friedmann assim como tal conceito não pode ser utilizado como tipo ideal, dada uma realidade histórica passada ("Capitalism, petty commodity production and the farm’s emterprise" em Sociología Ruralis Vol. 25 nº 3 pp. 231-247). Ambos argumentos, para nós poucos convincemtes, são repetidos na "La Agricultura de Europa Occidemtal em transición: la producción simple y el desarrollo del capitalismo em Agricultura y Sociedad (nº 43, 1987) ainda que sejam difíceis de identificar dada as deficiemcias de tradução castelhana deste trabalho.

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O modelo de Desenvolvimento Rural Dinâmico, que Terry Marsdem (2003) constrói, além de analisar as três dinâmicas do desenvolvimento rural, atualmente em concorrência na ruralidade européia, constitui o elemento de fechamento de nosso marco teórico. Trata-se de uma proposta agroecológica da teorização que permite estabelecer os casos de experiências alternativas mais exitosas que parecem apontar para uma recamponeização da agricultura européia (Ploeg, Marsdem, Sevilla Guzmán, 2000), ainda que realmente emerjam das márgems do regime agroalimentar mundial como uma resposta de resistência ao impacto sobre a agricultura do neoliberalismome a da globalização econômica (Sevilla Guzmán e Martínez Alier, 2004).

Sobre a Agroecologia

A evolução teórica dos Estudos Camponeses para a inclusão da ecologia como uma dimensão essencial para a sua pesquisa surge da América Latina, centrando-se basicamente no México, por um lado, e da Espanha, por outro, ainda quando Perú, Bolívia e outros países contribuiram rapidamente ao conservar sistemas de agricultura tradicional de grande valor agroecológico. Talvez se possa personalizar os primeiros passos da agroecologia na obra de dois autores já considerados neste trabalho: Angel Palerm e Juan Martínez Alier. A contribuição deste último, já foi considerada ao analisarmos a nova tradição dos estudos camponeses; entretanto, é obrigatório assinalar aqui que seu marco conceitual da “ecologia dos pobres” supõe o contexto em que se move a corrente central, e em minha opinião mais rica da agroecologia. Ademais, sua obra basicamente desde a teoria e história econômicas, se articula com a obra de José Manuel Naredo. A contribuição do primeiro ficou truncada com a sua morte em 1980(34), ainda quando assentara já as bases desta orientação teórica.

De fato, Angel Palerm dedicou seus últimos trabalhos à análise do papel do campesinato no capitalismo. Deles se depreende, sem lugar a dúvidas, uma posição epistemológica precursora da Agroecologia atual; assim, referindo-se ao campesinato estabelece: “Resulta evidente que em lugar das hipóteses e as práticas de seu desaparecimento, se necessita uma teoria da sua continuidade e uma práxis derivada da sua permanência histórica”(35) que “não somente subsiste modificando-se, adaptando-se e utilizando as possibilidades que lhe oferece a mesma expansão do capitalismo e as contínuas tansformação do sistema”, senão que subsiste também mediante as “vantagens econômicas perante as grandes empresas agrárias” que possuem suas formas de produção. Tais vantagens procedem de que “produz e usa energia da matéria viva, que inclui seu próprio trabalho e a reprodução da unidade doméstica de trabalho e consumo”. Conclui este trabalho, o profesor Palerm, adiantando as suposições que configuram as bases epistemológicas da Agroecologia: “ O futuro da organização da produção agrícola parece

34Cf. Nossos trabalhos "In memorian. La significación de Angel Palerm em los estudios campesinos" em

Agricultura y Sociedad, nº 17, octubre-diciembre, 1.980; "Camperols i marxisme em l'obra de Angel

Palerm" em Quaderns de l'institut catalá d'antropologia, nº 3/4, maig/novembre, 1.981; pp. 169-180 y "L'evolucionisme multilineal em els etudis pagesos sobre el llegat teòric d'Angel Palerm" em Historia i Antropologia. A la memoria d'Angel Palerm (Monserrat: Publicacions de l'Abadia de Montserrat/Departamemt de Cultura de la Gemeralitat de Catalunya, 1.984), pp. 129-158 e o trabalho citado em (50) versão castelhana do anterior. Cf. também Susana Glantz (compiladora), (1.987).35Angel Palerm, (1.980: 169). Artigo baseado nos cursos divididos entre a Universidade de Texas em 1.978 e a Iberoamericana de México em 1.979. As expressões em negrito são nossas.

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depender de uma nova tecnologia centrada no manejo inteligemte do solo e da matéria viva por meio do trabalho humano, utilizando pouco capital, pouca terra e pouca energia inanimada. Esse modelo antagônico à empresa capitalista tem já sua protoforma no sistema camponês” (Palerm, 1980: 196 y 197). Desde o Centro de Investigaciones del INAH, primeiro, e depois desde a Universidade Iberoamericana, depois, Angel Palerm começou criando equipes de pesquisa interdisciplinares ---- com antropólogos, ecólogos e agrônomos ---- básicamente o processo de institucionalização do enfoque agroecológico.

Paralelamente, Efraim Hernández X. e Stephem Gliessman (1978), realizam diversos estudos ecológicos sobre tecnologia agrícola tradicional e iniciam um processo de interação com os discípulos do mestre Palerm, que de imediato daria excelentes resultados(36). Será este, Stephem Gliessman, um dos construtores primeiros da agroecologia desde a perspectiva ecológica, mas considerando como elemento central os aspectos sociais, elabora o marco teórico do “contexto da sustentabilidade da agricultura” (cf. Stephem R. Gliessman, 1990); cf. tambem seu trabalho em Clive ª Edwards et. al. Sustainable Agicultural Systems, 1990). Sem dúvida a contribuição mais chamativa, do ponto de vista da ecologia, deve-se a Vícto Manuel Toledo o qual, recopilando e integrando trabalhos realizados em comunidadesa camponesas por diferentes pesquisadores, fundamentalmente antropólogos, biólogos e agrônomos, elabora toda uma proposta teórica que pode “ser considerada potencialmente como um novo paradigma”, e como uma implementação das idéias de Angel Palerm que veremos em seguida. Tal proposta pode ser formulada nos seguintes termos: “Em contraste com os mais modernos sistemas de produção rural, as culturas tradicionais tendem a implememtar e desenvolver sistemas ecologicamente corretos para a apropriação dos recursos naturais.” A esta assunção subjaz a tese de que existe uma certa racionalidade ecológica na produção tradicional ainda que todavia não haja sido analisada de forma a desenvolver a “protoforma do sistema camponês” numa forma de produção ecologicamente sustentável (Victor M. Toledo, 1990; cf. também Raúl Iturra, 1993).

Para estudar adequadamente o comportamento ecológico do campesinato é necessário contextualiza-lo na matriz global de seu universo sócio-cultural, já que somente a partir deste, através da forma em que cria e desenvolve seu conhecimento, pode-se chegar a explicar-se realmente seu comportamento. E, através de tais explicações, abstrair seu “conhecimento ecológico” padrão que permite desenvolver as novas tecnologias que procura a Agroecologia(37).

Pela agronomia, é Miguel Angel Altiéri quem, mais tarde, realiza a contribuição fundamental à agroecologia através do Consórcio Latinoamericano de Agroecologia e Desenvolvimento (CLADES) e por meio da sua revista Agroecologia e Desenvolvimento(38); Susana B. Hecht, Richard B. Norgaard, Peter Rosset como parte do

36Cf. A excelente bibliografía comemtada de Alba González Jacome em C. García Mora y M. Villalobos Salgado (1988: 55-189).37Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina, "Ecología, Campesinado e Historia" em M. González de Molina e E. Sevilla Guzmán (eds.), Ecología, Campesinado e Historia (Madrid: La Piqueta, no prelo).38Cf. Miguel Angel Altieri, (1.985a), há ediçao inglesa em (Boulder: Westeview Press, 1987); "Diversification of Agricultural Landscapes - A Vital Elememt for Pest Control in Sustainable

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grupo que Altieri nucleia na Universidade da California (Berkeley) realizam numerosas contribuições de grande interesse(39). A ele haveria que acrescentar a contribuição de diversos autores europeus como Gordon R. Conway(40), e o grupo de pesquisadores em torno do International Institute for Emvironmemt and Developmemt (cf. Ian Scoones and John Thompson, 1994), por um lado, assim como os pesquisadores vinculados ao Information Cemter for Low-External-Innput for Sustainable Agriculture (ILEIA), por outro, ainda quando estes todos percam bastante da capacidade crítica dos primeiros; emfraquecidos portanto do potencial analítico de mudança da estratégia Agroecológica. Esta aparece com muita força em diversos autores que, desde o marco teórico da “ecologia dos pobres”, analisam a depredação ecológica e a exploração social que o desenvolvimento do capitalismo na agricultura tem provocado no terceiro mundo; entre eles poderiam destacar-se Vandana Shiva e Ramachandra Guha (cf. seu trabalho com M. Gadgil, 1992).

4. A MODO DE CONCLUSÃO: O CAMPESINATO NA AGROECOLOGIA

A natureza deste trabalho nos tem impedido de aprofundar no debate sobre o campesinato que existiu internacionalmente durante os anos setenta no seio da Nova Tradição dos Estudos Camponeses, limitando-nos a assinalar o caminho teórico, em nossa opinião mais fértil, com respeito à conceituação do campesinato. Não obstante, esta polêmica deu lugar a eternas e pouco clarificadoras discussões sobre se o campesinato constituía ou não uma classe, e se esta o era “em si ou para si”; ou se pelo contrário, os camponeses constituiam fração de classe, retardatária análoga a um “saco de batatas”. Se este grupo constituía uma categoria social integrante de uma parte da sociedade maior estruturada em classes que se resiste à modernização; ou se pelo contrário possui uma racionalidade econômica que repudia as tecnologias não apropriadas; se como classe ou grupo pertencia a um regime de produção já concluído (como o feudalismo por exemplo) ou se sua manutemção sob o capitalismo lhe valia a consideração também capitalista; se constituía um “modo de produção” ou somente era uma “sociedade parcial”. Em definitivo, se tratava de encontrar o termo mais correto para demomina-lo: se este era o camponês, agricultor familiar, ou pequeno produtor de mercadorias, entre outras propostas conceituais. E quais poderiam ser as diferenças substantivas entre tais demominações.

Para nós, a questão camponesa baseada nestes termos é um falso debate; já que, como veremos mais adiante, desde uma perspectiva agroecológica que é a que utilizamos aqui, o campesinato é, mais que uma categoria histórica ou sujeito social; uma forma de

Agriculture" em Edems, T. et al. (1.985): Sustainable Agriculture & Integrated Farming Systems. 1.984 Conferemce Procee-dings (Michigan State University Press; dos volúmemes); "The ecology of insect pest control in organic farming systems - Towards a gemeral theory" em Vogtmann, H. et al. (1.986): The importance of biological agriculture in a world of diminishing resources. Proceedings of the 5th. IFOAM International Sciemtific Conferemce, 1.984. (Witzemhausem: Verlagsgruppe); "¿Por qué estudiar la agricultura tradicional?" em Agroecología y Desarrollo CLADES, nº 1; 1.991; pp. 16-24; (1.991c): "Incorporando la agroecología al currículo agronómico" para CLADES/FAO, 2-6 Septiembre, 1.991 em Santiago de Chile.39Cf. Miguel A. Altieri, (1990).40Cf. Conway, G.R. (1.985): "Agroecosystem Analisis" em Agricultural Administration, Vol. 20:31-55; (1.987): "The properties of Agroecosystems" em Agricultural Systems, Vol. 24:95-118. y, sobre todo su trabajo con Edward B. Barbier, After the Greem Revolution, (London: Earthscan Publications, 1990); así como sus trabajos de tipo metodológico.

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manejar os recursos naturais vinculada aos agroecosistemas locais e específicos de cada zona utilizando um conhecimento sobre tal entorno condicionado pelo nível tecnológico de cada momento histórico e o grau de apropriação de tal tecnologia, gerando-se assim distintos “graus de camponesidade” (no original “grados de campesinidad”).

Todo esse debate surgia da constatação, cada dia mais evidente, de que o campesinato não havia desaparecido a pesar das teorias proféticas dos clássicos do pensamento social agrário e inclusive dos setores acadêmicos mais liberais. Era necessário definir uma categoria que desse conta desta permanência e ao mesmo tempo das mudanças. E isto é algo que se revelava como fundamental nos anos 70 e 80 do novecemtos (século XX), não somente na especificidade latinoamericana: ele era um problema teórico chave desde a perspectiva desta tradição intelectual.

De fato, como assinalamos em outro lugar (González de Molina e Sevilla Guzmán, 2000): “foi precisameme Shanin, referindo-se ao campesinato num texto bastante conhecido (1979), quem chamou a atemção sobre o absurdo de definir com precisão ou exatidão um grupo social que havia existido desde sempre. Esta advertência, plenamente justificada não deu lugar, sem dúvida, a uma clarificação conceitual sobre a qual haja um acordo mais ou menos geral, de tal maneira que ainda segue existindo uma confusão considerável sobre as categorias que se deve utilizar. Uns seguem falando de camponeses para referir-se aos agricultores familiares da Europa atual; outros, em troca, falam de pequenos produtores de mercadorias em referência aos pequenos cultuvadores do altiplano andino tanto no século passado como neste, quando ainda produzem para o uso e consumo em pequemas comunidades indígemas; outros --- talvez para evitar problemas --- identificam o campesinato unicamente com a exploração familiar e acabam utilizando este conceito; que por certo deixa na obscuridade muitas das mudanças e a variedade de situações que se escxondem atrás de uma demominação tão gemérica”.

O motivo desta confusão reside, “na incompreensão das distintas etapas e tipos de capitalismo que existiram e na inexistência de um acordo também mais ou menos geral sobre como foram se desenvolvendo no processo histórico. Desta maneira não existe uma teoria que dê conta das mudanças ocorridas nos traços definitórios mais comuns do campesinato e suas causas” (ibid: 242). O caso do campesinato argemtino resulta especificamente esclarecedor porque contempla dentro de sua história uma grande diversidade social (distintos tipos de etnicidades pertencemtes a culturas indígemas muito diversas; trabalhadores rurais, arrendatários, parceiros, pequenos proprietários, colonos com posse precária da terra, entre outros) e uma enorme variabilidade com relação às suas práticas conflitivas onde a atividade agrária e os agricultores estiveram, e estão submetidos, a uma profunda mudança social como consequência da natureza que adquire o capitalismo em nossos dias.

É possível, sem dúvida, emfocar o tema desde a problemática meioambiental atual estabelecendo uma interpretação do processo histórico desde o manejo dos recursos naturais tal como foi realizada, tanto por Guha e Gadgil (1993), como Toledo (1995), ao diferenciar três grandes modos de uso dos recursos naturais: o primário ou próprio dos caçadores recoletores; o campesinato ou secundário, e o industrial ou terciário. Ainda que

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exista uma sequência histórica, a fase de prevalência de cada um deles, supõe uma coexistência. O modo de uso camponês “coexistiu com diversos sistemas sociais, os quais possuiam distintos graus de complexidade; não obstante, tinham como base de sua economia as atividaddes agrárias, desde a aparição da agricultura até o feudalismo, os sistemas tributários asiáticos ou o próprio capitalismo incipiemte”. Construi-se, assim, um tipo ideal de manejo dos recursos naturais que responde aos contextos históricos anteriormente assinalados, de igual forma que na atualidade tal “prática socioprodutiva” tem sua existência, como forma de produção, em determinados interstícios do sistema capitalista.

Desta forma é possível discriminar umas formas de produção de outras dentro de um mesmo sistema de produção e, ao mesmo tempo, identificar o campesinato como uma categoria unida a um específico modo de uso dos recursos naturais (Guha e Gadgil, 1993; V. Toledo, 1995). Assim, em nossa opinião, se emtendem e contextualizam melhor seus traços comuns através do espaço e do tempo. Ademais, desde esta definição aparece uma teoria explicativa de sua evolução ou de sua transformação em outras categorias sociais nova e distintas.

No contexto teórico que estabelece a Agroecologia, o “campesinato é o grupo social em torno do qual se organizavam, e se organizam ainda hoje, as atividades agrárias no que tem sido denominado como “sociedades de base energética solar ou sociedades orgânicas41. Isso significa estabelecer uma identificação bastante forte entre Modo de uso agrário, campesinato ou secundário (de acordo com as distintas demominações que tem recebido) e campesinato”. A relação histórica do homem com os recursos naturais, neste tipo de sociedades, pode ser definido da seguinte forma: “o objetivo essencial das relações sociais é a satisfação das necessidades materiais. Isso requer e requereu sempre a apropriação dos recursos naturais para a produção de bems com um valor de uso histórico e culturalmente dado, mediante o consumo de uma quantidade determinada de energia e materiais e o emprego de um saber e instrumentos de produção adequados” (González de Molina e Sevilla Guzmán, 2000: 243).

Concluindo, o conceito de campesinato evoluiu desde sua consideração como um

segmento social integrado por unidades domésticas de produção e consumo que, apesar de sua mudança histórica, mantinha “algo genérico” (Archetti, 1978; Shanin, 1971 e 1990), até sua conceituação agroecológica atual. Isso é, o campesinato aparece como uma forma de relacionar-se com a natureza ao considerar-se como parte dela num processo de coevolução (Nogaard, 1994) que configurou “um modo de uso dos recursos naturais” ou uma forma de manejo dos mesmos de natureza sócioambiental (Toledo, 1995). È por tudo isso que a Agroecologia identifica como “o genérico” do campesinato na história sua forma de

41 As economias de base orgánica só podiam funcionar com um tipo de produtores que apresentaram as seguintes características: economia de base familiar e mobilização de todo o pessoal disponivel para o trabalho agrícola, existência de relações de apoio mútuo mediado por relações de paremtesco, vizinhança ou amizade, num contexto cultural em que funcionara uma ética; e o uso múltiplo do território, como uma estratégia de diversificação perante riscos climáticos ou sociais (cf. Wrigley, 1989, 1992 y 1993; Sieferle, 1990; Pfister, 1990; citados em González de Molina y Sevilla Guzmán, 2000).

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trabalhar (Iturra, 1993) e o conhecimento que a sustenta com relação ao manejo dos recursos naturais.

Neste sentido, o campesinato é uma categoria histórica por sua condição de saber manter as bases da reprodução biótica dos recursos naturais. Desta perspectiva é possível falar de camponeidade ou grau de camponeidade com relação aos grupos sociais de produtores. Victor Manuel Toledo operacionalizou este conceito mediante os seguintes indicadores: a) energia utilizada; b) escala ou tamanho do âmbito espacial e produtivo de seu manejo; c) autosuficiência; d) natureza da força de trabalho; e) diversidade; f) produtividade ecológico-energética, e do trabalho; h) natureza do conhecimento e, por último; i) cosmovisão (Toledo, 1995). Este sistema de indicadores tem de ser aplicado desde seus extremos: o modo de uso do campesinato e o modo de uso industrial ou terciário do manejo dos recursos naturais.

Este último, o modo de uso industrial, pode ser caracterizado como aquele que “utiliza como base energética os combustíveis fósseis ou a energia atômica, o que lhe proporciona uma alta capacidade entrópica e antrópica dos ecosistemas, uma enorme capacidade expansiva, subordinante e transformadora (através de máquinas movidas por combustíveis fósseis). Isso explica que se tenha produzido com sua introdução uma mudança qualitativa no grau de artificialização da arquitetura dos ecosistemas. A pesquisa aplicada aos solos e à genética deu lugar a novas formas de manipulação dos componemtes naturais ao introduzir fertilizantes químicos e novas variedades de plantas e animais.” (González de Molina e Sevilla Guzmán, 2000: 245), culminando, na atualidade, com a introdução de organismos genéticamente modificados.

Consequentemente, a hipótese de que “os sem terra” podem se considerar como camponeses, que desenvolvemos em outro lugar (Sevilla Guzmán e González de Molina, 1993), ao estarem submetidos também à degradação de seus traços camponeses, inclusive pelas vias muito mais expeditivas, é algo que se deve explorar no contexto da composição dos distintos tipos de camponeses que integram cada movimento social que luta pela terra.

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