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    SEMINRIO NAZARENO

    OS EVANGELHOS

    Apontamentos preparados a partir de:Beacon Bible Commentary,

    Tyndale New Testament Commentaries,

    Watson. S. L., Harmonia dos Evangelhos

    por

    M. Odette Pinheiro

    Mindelo, 1997

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    D. LUGAR DE ORIGEMDuas opinies principais: a tradicional aponta a Judeia (Palestina), mas hojefavorece-se a Antioquia da Sria (Streeter e outros). possvel que a colecoaramaica seja oriunda da Palestina e a coleco grega, da Antioquia.

    E. PROPSITO evidente que Mateus escreveu para os judeus, apresentando Jesus como oMessias. Se aceitarmos a data mais antiga, este evangelho pode bem serconsiderado um ultimatum nao (Hayes) antes de Jerusalm ser destruda noano 70 d.C.

    F. FONTESConsenso geral: tanto Mateus como Lucas usaram Marcos como a fonte principaldos acontecimentos histricos, e uma coleo de Ditos (Q, ou Logia) para osensinos de Cristo. Mateus muitas vezes apresenta um resumo de Marcos, e

    menos vvido nas suas descries. Cerca de 90% do material de Marcos encontrado em Mateus. Mas Marcos no parece ser um resumo de Mateus, comopretendeu Agostinho, pois o seu estilo mais fresco e vigoroso.Aventou-se outra fonte, chamada M, para o material que se encontra s emMateus (Streeter). Mas no necessrio supr isso, pois a diferena entreMarcos e Mateus pode ser explicada por Marcos ter dependido dasreminiscncias de Pedro, enquanto que Mateus escreveria do que se lembrava.

    G. CARACTERSTICASO Evangelho de Mateus o mais judeu de todos. A genealogia de Jesus est logono princpio (importncia da ascendncia na cultura judaica: a primeira pergunta

    a ser feita a algum) e remonta s at Abrao. Lucas s apresenta a Suagenealogia no terceiro captulo, e vai at Ado. Mateus apresenta Jesus noprimeiro verso como o filho de David, o filho de Abrao.Mateus no explica costumes ou termos judaicos, como fez Lucas, porque os seusleitores os conheceriam. Faz mais referncias Lei de Moiss e ao cumprimentodas profecias do que qualquer outro. Frases como para que se cumprisseocorrem 13 vezes em Mateus, 6 em Joo e nem uma vez nos outros evangelhos.Mais do que todos os outros evangelhos juntos, ele reala a justia, que era oconceito central da religio judaica. O termo reino aparece mais do que emqualquer outro (56 vezes), e no NT a frase reino dos cus s encontrada emMateus (33 vezes).Jesus apresentado no s como o Messias, mas tambm como Rei: Mateusestabelece a linhagem real (descendente de David; os magos perguntaram peloRei dos Judeus - s em Mateus) e por todo o Evangelho h mais nfase emJesus como Rei.Outra caracterstica importante deste evangelho que ele o mais sistemtico,talvez pelo treino profissional de Mateus (guarda-livros) No captulo 13 eleapresenta sete (nmero perfeito) parbolas do Reino. Nos captulos oito e noveele agrupa dez milagres de Cristo. Os nmeros trs e sete so-lhe muitoimportantes, e aqui ele soma-os. O exemplo mais bvio da sistematizao deMateus o arranjo dos ensinos de Cristo em cinco grandes discursos: (1) OSermo do Monte, cc. 5-7; (2) Instrues aos Doze, c. 10; (3) Sete Parbolas doReino, c. 13; (4) A Comunidade Crist, c. 18; (5) O Discurso do Monte das

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    Oliveiras, cc. 24-25. Cada um destes discursos termina com a frmula: Eaconteceu que quando Jesus concluiu.

    PARA O ALUNO

    A. Leia rapidamente o Evangelho de So Mateus, de uma s assentada, isto ,

    sem intervalos. D ateno aos seguintes pontos:1. Qual a relao entre o Evangelho de So Mateus e o Velho Testamento?2. Que que sabe sobre o autor do livro?3. Que tipo de ensinamentos contm o Sermo da Montanha e porqu?4. Como que este evangelista d nfase preparao dos discpulos?5. Que eventos tiveram lugar na semana da paixo, antes da sexta-feira?6. Qual foi o tema do Discurso do Monte das Oliveiras?7. Como que o evangelista termina o seu livro?

    B. Quanto tempo levou para ler o livro?

    C. Depois de ler o livro, que acha que o propsito do autor?D. Acha que ele conseguiu o seu propsito?E. Qual foi a atitude do autor para com Jesus?F. Notou os cinco grandes discursos apresentados no livro?

    ANLISE GERAL DO EVANGELHO DE SO MATEUS

    (G. Campbell Morgan)

    Mateus foi um hebreu cuja profisso era cobrar impostos para o Imprio Romano.

    A sua obra mostra um conhecimento das Escrituras hebraicas e especialmentedas que profetizam a vinda do Rei Messias. Desse modo, tanto na profissocomo pela religio ele estava bem familiarizado com a ideia de governo.

    A sua histria da vida e da obra de Jesus consiste naturalmente numaapresentao do Rei e do Reino. O livro divide-se naturalmente em trs partes:A. A Pessoa (1:1-4:16); B. A Proclamao (4:17-16:20); e C. A Paixo (16:21-28:20).

    A. A PESSOA DO REI

    O Rei nos apresentado numa relao trplice: terra, ao cu e ao inferno.Quanto primeira, temos a genealogia que dada numa relao legalpuramente judaica. Depois segue-se o relato do Seu nascimento, o qual onico relato da origem da personalidade nica de Jesus que pode de algumaforma satisfazer a razo. Num mistrio que ultrapassa a nossa compreenso, oRei Filho de Deus e filho de Maria. Cronologicamente h um intervalo extensoentre o nascimento e baptismo, que preenchido pelos anos de crescimentohumano e desenvolvimento em Nazar. Quando os dias se aproximam para oprincpio da Sua proclamao, o Seu arauto, o ltimo duma linhagem extensa deprofetas hebraicos, aparece nao; e com o simbolismo do baptismo de gua epalavras de repreenso carregadas de autoridade ele anunciou o advento do Rei.

    Coroando o ministrio do arauto, o Rei apareceu e foi baptizado no Jordo. Nessa

    altura, a Sua relao com o Cu foi manifesta. Houve primeiro a vinda do EspritoSanto sobre Ele. Foi uma cerimnia sagrada, pela qual Ele foi separado paraexercer o ofcio de Rei. Simultaneamente com essa uno, o silncio do Cu foi

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    quebrado e as palavras do Pai afirmaram que Ele era Rei. A esse respeito, oSalmo 2 devia ser lido com ateno. Em quem me comprazo aprova aperfeio da vida que tinha sido levada em oculto, especialmente luz do factoque pelo baptismo foi simbolizada a submisso do Rei vontade divina.

    Das experincias elevadas da uno e aprovao o Rei passa imediatamentepara o conflito solitrio no deserto. Aqui Ele encara o inimigo nmero um daraa, o conspirador contra a ordem divina. O diabo atacou-O no aspecto trpliceda Sua personalidade humana: na Sua base fsica ou material, na Sua essnciaespiritual e no Seu propsito vocacional. Em cada caso a vitria ficou do lado doRei, e isso por simples submisso lei de Deus.

    Eis o nosso Rei! Que compartilha da nossa natureza e ainda traz a ela a naturezadivina. Indicado por Deus mesmo para reinar, e equipado pelo Esprito Santo.Encarando todos os ataques do inimigo e triunfando. Certamente devemosconfiar nEle. E a nica expresso adequada de confiana num tal Rei aobedincia.

    B. A PROCLAMAO DO REIEsta diviso contm um relato da proclamao relacionada com o Rei. H trsmovimentos: I. O Pronunciamento das Leis; II. A Exibio dos Benefcios e III.O Estabelecimento das Reivindicaes.

    Primeiro Ele juntou volta de Si um grupo de discpulos. Alguns tinham sido jchamados anteriormente, no Seu ministrio na Judeia, o que Mateus no relata.Agora so chamados para abandonarem a pesca para O seguirem.

    I. Depois de um perodo de ensino nas sinagogas da Galileia, Ele reuniu estesdiscpulos e deu-lhes o Seu manifesto, no qual insistiu primeiro na importnciasuprema do carcter do Seu Reino; e declarou que o Seu propsito seriainfluenciar o mundo, o que ilustrou com as figuras do sal e da luz. Entointroduziu as Suas leis com um prefcio acerca da importncia da lei.

    As Suas leis dividem-se em trs grupos: Primeiro, as que tratam da relao entrepessoas, que Ele ilustrou com duas citaes do Declogo tratando do assassinatoe do adultrio; e duas da lei mais ampla de Moiss, tratando da verdade e dajustia; acrescentando uma nova lei de amor, at para os inimigos. Depoisseguem-se as leis da relao divina, que afirmam o princpio de que a lei deviaser guardada perante Deus e no como um espectculo para os homens. Isto ilustrado em relao s esmolas, orao e ao jejum. Finalmente, Ele revelou anecessidade de uma conscincia supra-terrestre, quando avisou contra a cobia e

    contra a preocupao.Passando para o grande assunto da dinmica, do poder que seria necessrio paraobedecerem Sua tica, Ele primeiro avisou contra a crtica e aconselhoudiscrio; ento declarou que se os discpulos pedissem, se buscassem e sebatessem haviam de receber, encontrar, e a porta se lhes abriria. As ltimaspalavras do manifesto tinham a natureza de um convite, um aviso e umareivindicao do Rei. O efeito produzido sobre a multido que ouvira a entregado manifesto aos discpulos foi de admirao pela Sua autoridade.

    II. Embora o Rei tivesse descrito o Reino aos fiis, a Sua vontade foi a de incluirtodas as pessoas. A Sua misso no foi a de obrigar pela fora das armas, maspela persuaso e submisso voluntria Sua Pessoa. Para isso, Ele andoudemonstrando os benefcios que haviam de vir queles que viviam no Seu Reino.Essas obras no foram uma mera demonstrao espectacular da parte de Cristo.

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    Foram uma declarao de que Ele o Rei em todos os aspectos da vida. Aqui, htrs movimentos distintos, cada um terminando com o efeito produzido sobre asmultides:

    No primeiro, Ele demonstrou o Seu poder no reino puramente fsico: pela cura dalepra, da paralisia, da febre, e com a facilidade surpreendente com que todas asdoenas eram curadas. Assim, o Rei da justia nos ideais ticos provou-Se capazde no reino fsico corrigir todas as deficincias derivadas do efeito do pecadosobre a raa. O resultado desta primeira manifestao do Seu poder foi umadeterminao expontnea e entusistica por parte da multido, querendo segui-lO. Contudo, segui-lO no fcil. E Ele apresentou honestamente asdificuldades, mas ainda insistiu na importncia de O seguir, chamando pessoaspara deixarem tudo e o fazerem.

    No segundo movimento, o poder do Rei v-se operando em outras esferas. Ele Mestre dos elementos; exerceu fora e autoridade no mundo mstico dosespritos; reivindicou autoridade no reino moral. O resultado produzido sobre amultido por estas manifestaes foi que tinham medo; e glorificavam a Deus.

    A terceira manifestao incluiu as primeiras duas em seu exerccio de podertanto no reino fsico como no espiritual. Chamou de volta o esprito da filha deJairo para o seu envlucro de barro e, pela cura da mulher, revelou o Seu mtodode responder f pela comunicao de virtude. O resultado agora produzidosobre as multides foi que se encheram de admirao; e os fariseus sugeriramuma explicao que mais tarde definiram melhor.

    III. A seco que trata da execuo das Suas reivindicaes abre com umpargrafo breve, cheio de sugestes, revelando o corao do Rei que, napresena das necessidades do homem, sempre cheio de compaixo. Elechamou doze dos Seus discpulos e os comissionou como apstolos. O Seudesafio para eles incluiu instrues que afectaram o seu trabalho imediato etambm outras que marcaram as linhas de trabalho dos seus sucessores at aofim dos tempos. Esta comisso dos apstolos foi imediatamente seguida pelaexemplificao dos tipos de obstculos que o Rei encarou no Seu trabalho: (1) Aperplexidade dos fiis foi manifestada na pergunta de Joo; (2) A irracionalidadeda poca, pela descrio dos seus filhos; (3) A impenitncia das cidades, pelasua denncia; e, finalmente, (4) a cegueira dos religiosos.

    Ento surge o conflito. A oposio torna-se activa. Duas vezes os principaisatacaram o Rei acerca da Sua atitude para com o sbado. Tentaram explicar oSeu poder atribuindo-o colaborao com o diabo. Com descrena, pediram um

    sinal. Ainda por cima, Ele tinha de tratar com um tipo de oposio que para Eleera ainda mais dolorosa do que aquela que vinha dos Seus inimigos declarados:a incompreenso da Sua prpria famlia.

    Na presena desta oposio crescente, o Rei proferiu as grandes parbolas doReino. Estas podem ser divididas em dois grupos: Primeiro aquelas dirigidas multido; segundo, as dirigidas aos discpulos. No primeiro grupo h quatroparbolas, revelando o mtodo do Rei, o mtodo do inimigo, o crescimentomundial do Reino, e a noo da influncia corruptiva do fermento. No segundogrupo h tambm quatro parbolas, as trs primeiras vendo o Reino sob o pontode vista divino, e a ltima ensinando as responsabilidades daqueles a quem

    dada a revelao.Procedendo com o Seu trabalho, o Rei encontrou oposio crescente dos Seusseguidores, do rei Herodes, dos fariseus e escribas, e dos fariseus e saduceus.

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    Nos intervalos deste antagonismo claramente demonstrado, houve algumasmanifestaes maravilhosas do poder do Rei, revelando a beneficncia do SeuReino queles que tinham olhos para verem.

    Por fim, chegou-se crise. Em Cesareia de Filipos Ele reuniu os Seus discpulos eperguntou-lhes qual a concluso a que se tinha chegado acerca do Seuministrio. As respostas foram interessantes, relatando as opinies da multido,mas nenhuma delas Lhe satisfez o corao. E Ele desafiou os discpulos aexpressarem a sua prpria opinio. A confisso de Pedro abriu caminho para oRei iniciar a etapa final. Ele havia completado o primeiro movimento do Seuministrio, o de revelar, pelo menos a um pequeno grupo, a verdade acerca daSua Pessoa e a Sua relao com o plano divino. Daqui para a frente haveria umanfase nova nos Seus ensinamentos, uma explicao das Suas atitudes.

    C. A PAIXO DO REI

    A partir de Cesareia de Filipos, o Rei praticamente Se afastou das multides. Dalipara a frente o Seu trabalho principal foi conduzir o pequeno grupo dos Seus num

    apreo mais profundo do significado da Sua misso. As multidesconstantemente interrompiam os Seus discursos, e Ele respondia com bno.Em relao aos Seus, os ensinamentos concentraram-se na cruz. Uma vezficaram cheios de temor, e nota-se uma certa distncia entre Ele e os discpulos.A trs deles Ele concedeu uma revelao maravilhosa da Sua glria. Mas aindadesta vez o pensamento central foi a cruz. Durante os dias seguintes todas asideias que os discpulos tiveram de realeza, grandeza, poder, valor das coisasmateriais, foram brutalmente atacadas quando Ele lhes declarou que o caminhopara a coroa seria aquele da cruz. Mas seja cuidadosamente observado aqui queEle nunca mencionou a cruz sem anunciar a ressurreio.

    Quando o fim se aproximava, o Rei foi at Jerusalm. Toda a histria do VelhoTestamento, desde Abrao, culminava nessa hora. H muito tempo que agrandeza do povo hebraico desaparecera. As guias romanas flutuavam porcima da bandeira nacional. Ao povo, o Rei h muito esperado havia chegado,declarando as leis do Reino, exibindo os seus benefcios, estabelecendo as suasreivindicaes. Mas o povo rejeitara as Suas leis, desprezara os benefcios erecusara ceder s reivindicaes. Por fim, silenciosa mas majestosamente, comautoridade, Ele tambm os rejeitou. Com uma preciso silenciosa preparou-Separa entrar na cidade e, tendo chegado, ocupou o trono, proferindo palavrasjustas de julgamento, respondendo s objeces at todas se silenciarem. Entopronunciou os ais finais e a sentena inevitvel.

    Tendo oficialmente rejeitado a nao que O rejeitava, Ele concentrou-Se maisuma vez nos discpulos. As Suas aces em Jerusalm deixou-os confundidos.Tanto desafiou os principais que j no havia possibilidade de reconciliao e,com uma dignidade que certamente admirou os seguidores, lanou fora a classeque governava. Chegaram a Ele com uma chuva incoerente de perguntas:Quando sero estas coisas? E qual o sinal da Tua vinda e do fim dos tempos?

    Qualquer que fosse o significado das suas perguntas, o Rei tratou asinterrogaes em trs categorias: primeiro, acerca de estas coisas; segundo,acerca da Sua vinda; e finalmente acerca do fim dos tempos. O Rei que forarejeitado e que por isso rejeitara a nao no manifestou qualquer dvida,

    qualquer desnimo, qualquer desapontamento. No meio duma derrota aparente,Ele silenciosa e calmamente observa os tempos e no chama a Si a posio desupremacia.

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    Para ns a Via Dolorosa est sempre banhada pela luz da ressurreio. umpouco difcil observarmos os dias escuros e terrveis em que o ministrio terrestredo Rei terminou. A vitria final est sempre ecoando a sua msica triunfante aosnossos ouvidos. Mas ainda temos de andar com Ele este caminho pela meditaoe tambm pela vivncia, se queremos compartilhar a obra que traz o Seu Reino.Portanto, enquanto lemos e apoderamos a histria trgica, oremos por uma

    iluminao quanto Sua paixo, para que possamos ter uma conscincia real dopreo que o nosso Mestre pagou para ganhar a vitria gloriosa.

    Quando consideramos os movimentos finais da progresso do Rei, h umareverncia solene que toma posse do nosso esprito. Nunca caiu sobre Cristouma luz de amor humano mais radioso do que aquela expresso de adoraomanifestada por Maria ao derramar sobre Ele o seu perfume. E nunca foi maisterrvel a escurido do que pelo acto traidor de Judas. Uma reunio triste esolene, mas cheia de esperana, tornou-se na msica da festa da Pscoa. Ali ostipos e as sombras do passado tiveram o seu fim natural ao enfrentar o Anttipo ea verdadeira Substncia.

    E finalmente o Rei passou pelo Reino das Trevas. No O podemos acompanhar.Podemos apenas ficar reverentemente na periferia, e escutar com cabeasinclinadas o soluo das profundezas, enquanto nas garras da morte Ele agarra odestruidor do Seu povo. No jardim, as ltimas sombras da tentao caram, e otriunfo final foi ganho a nvel da Sua vontade. Terrvel, alm de toda acompreenso humana, foi aquilo por que o Rei passou. Glorioso, alm de toda aexplicao finita, foi o triunfo mpar da Sua deciso de Se submeter a todo ocusto ao cumprimento da Vontade nica. Aquele vasto mar de tristeza quebrou-se em ondas furiosas e barulhentas sobre a praia, e daquela confuso ganhmosuma ideia da extenso desse mar. E seguindo-O solenemente, lemos vez aps

    vez a histria terrvel do Seu amor, mais forte que a morte.Todos os tipos de homens se reuniram volta da cruz e, embora no oreconhecessem, foi ali no meio deles o grande trono do Rei, o trono dojulgamento e o trono da graa. Da saram, alguns para a direita e outros para aesquerda, conforme a sua atitude de coroar ou de crucificar.

    O pior que o homem podia fazer foi feito. O Rei morreu. No momento da Suamorte s mos ternas O tocaram; e no momento do Seu enterro, s os olhos deamor O viram.

    Passa a noite e raia o dia. Uma glria nova desce sobre toda a criao. Seromuitos anos, da maneira como os homens contam o tempo, antes que o gemer

    cesse e o choro se cale; mas, pela Sua dor, a dor pior j passou, e a ferida dahumanidade est curada no seu cerne. Uma glria nova e estranha irrompe aoraiar do primeiro dia da semana.

    Os seguidores do Rei, desanimados e espalhados, foram reunidos enquanto umnovo herosmo os possua. Por um tempo breve Ele ficou entre eles e,finalmente, com majestade e autoridade jamais igualadas, Ele deu a Suacomisso e declarou a Sua presena constante.

    Reverentemente, e com significado nunca dantes conhecido, na Sua presenapassam pelos nossos lbios palavras frequentemente proferidas, mas nuncadantes com tanta confiana e coragem: Viva o Rei. E em resposta ouvimos asSuas palavras dadas um pouco mais tarde a um homem solitrio, numa ilhaisolada do Mediterrneo: Vivo para todo o sempre.

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    INTRODUO AO EVANGELHO DE SO MARCOS

    (Beacon Bible Commentary)A. AUTORIA

    Embora annimo como os outros Evangelhos, virtualmente certo ser JooMarcos o seu autor: natural de Jerusalm (Act. 12:12), primo de Barnab (Col.

    4:10), associado de Pedro e tambm de Paulo (II Tim. 4:11). Desde o princpio do2 sculo o nome de Marcos e nenhum outro tem sido associado a esteevangelho. Isto notvel se considerarmos que a Igreja procurava ter livros deautoria apostlica. Deviam ter razes muito fortes para ligarem um nome de 2plano a um dos Evangelhos.

    Papias (140), Justino o Mrtir(100-165), o prlogo Anti-Marcionita do Evangelhode Marcos, Irineu (130-200) e o Cnon Muratoriano (180), todos atribuem oevangelho a Marcos, um intrprete de Pedro. Tem havido alguma controvrsiasobre se este Marcos o mesmo do NT, mas as objeces no tm peso econsidera-se que o companheiro de Pedro (I Ped. 5:13) o mesmo das epstolas

    Paulinas e do Livro de Actos. Nas palavras de Vincent Taylor, no pode haverqualquer dvida que o autor do evangelho foi Marcos, o ajudante de Pedro.

    A implicao disso clara. Se o primeiro evangelho a ser escrito veio da penade um homem com um contacto to estreito com os primeiros lderes da IgrejaCrist, podemos ter a certeza de que ele nos deu um relato preciso ehistoricamente correcto da vida e ministrio de Jesus. E mais ainda, podemosestar certos que Marcos reflecte as crenas e convices teolgicas da primeiragerao de Cristos, a qual inclui testemunhas oculares das obras poderosas deCristo. Isto tem uma importncia tremenda (Act. 2:22, 24).

    B. DATA E LUGAR

    Alguns atribuem-lhe uma data de A.D. 65-70, crendo que Marcos teria escritodepois de Pedro morrer, o que provavelmente aconteceu durante a perseguiomovida por Nero (64-65), mas antes da destruio de Jerusalm (A.D. 70). Outroscrem que ter sido escrito antes, talvez nos anos 50, j que Lucas e Actos foramescritos antes da morte de Paulo (A.D. 64), e portanto Marcos, uma das fontes deLucas, teria sido escrito antes.

    Alexandria a Antioquia tm sido apontadas como o lugar onde foi escrito, mas osargumentos mais fortes apontam para Roma. Para isso concorre a tradio(testemunho do Prlogo Anti-Marcionita, Irineu, Clemente de Alexandria), etambm algumas palavras emprestadas do Latim (centurion, denarius, etc.). H

    tambm no evangelho uma sugesto de perseguio e sofrimento. Pedro mandasaudaes de Marcos da vossa co-eleita em Babilnia(I Ped. 5:13). Se o Rufode Mar. 15:21 for o mesmo de Rom. 16:13, o argumento a favor de Roma aindamais forte. Por Marcos explicar costumes judeus (e.g., 7:3-4) e traduzir termosaramaicos (5:41 e ss), claro que ele escrevia para uma audincia no judaica.

    C. FONTES

    Papias (140), bispo de Hierpolis, escreve que Marcos foi um intrprete de Pedroe escreveu um relato fiel de tudo que recordava do ensino e pregao de Simo.Esta tradio, confirmada por outros autores do 2 sculo, tem sido posta emcausa por aqueles que duvidam da historicidade deste evangelho. Contudo, hevidncia interna suficiente para o associar com Pedro: Marcos comea o seurelato no ponto em que Pedro se tornou discpulo de Cristo e descreve oministrio Galileu como centrado em Cafarnaum, a casa de Pedro; os detalhes

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    vvidos sugerem uma testemunha ocular; os eventos favorveis a Pedro soomitidos, como era de bom tom, e os menos favorveis, como a traio, socontados com muito pormenor. Portanto, Marcos teria escrito o que ouvira dePedro, suplementando com outros materiais de confiana: elementos da tradiooral da igreja, as suas prprias lembranas e, possivelmente, documentos a queteria acesso.

    D. OS MILAGRES

    Actos 2:22 refere-se a Jesus de Nazar como varo aprovado por Deus . . . commaravilhas, prodgios e sinais que Deus por ele fez. . . Felizmente, hoje oambiente tem-se modificado para uma aceitao maior de que Deus pode usarforas ou leis desconhecidas do homem para realizar a Sua vontade soberana.

    E. PROPSITO

    Os Evangelhos foram escritos com um propsito religioso e teolgico (Joo20:31). Isto no significa que os evangelistas no tivessem interesse nos factoshistricos, e h boas razes para crer que os factos narrados so historicamente

    de confiana. Mas escreveram com um propsito religioso e no comohistoriadores.

    Atravs do testemunho de Pedro e de outros observadores (incluindoprovavelmente as suas prprias reminiscncias, Joo Marcos ganhou umaperspectiva do Homem de Nazar, que era tambm o Messias, Filho do Homem etambm Filho de Deus. NEle, o reino de Deus chegara mais perto. Este Filho deDeus lutou com Satans num conflito mortal e saiu vencedor. Marcos queria quetoda a humanidade visse o Servo Sofredor e O seguisse at ao Glgota, passandodepois pelo sepulcro vazio e indo at glria que h-de vir. Ele queria animar egalvanizar os crentes ao se prepararem para enfrentar o ostracismo, o ridculo e

    o martrio brutal sob o Imprio Romano hostil.E assim Joo Marcos, que uma vez fora um falhado e uma decepo para oApstolo Paulo (Act. 13:13; 15:36-39) muniu-se de pena e papiro e para todo osempre registou a sua histria. Disse-a de um s flego, usando o presentehistrico e o imperfeito do indicativo, como se os eventos estivessem adesenrolar-se diante dos seus olhos. Marcando o relato com a palavra euthus(imediatamente , logo a seguir) e ligando as frases com kai (tambm, e),ele escreveu o Evangelho da aco com a vivacidade, cr e detalhe de umatestemunha ocular. Embora aparentemente simples e desprovido de arte, oresultado foi um documento religioso profundo, genuinamente baseado nos

    factos e verdadeiramente a Palavra de Deus.PARA O ALUNO

    Leia rapidamente o Livro de So Marcos duma s vez isto , semintervalos. D ateno aos seguintes pontos:

    1. Qual foi o Apstolo que muito inspirou o autor?

    2. Note algumas diferenas entre este e o primeiro Evangelho:

    a. Descries mais resumidas em Marcos, sem pormenores ou inclusode muito discurso doutrinrio.

    b. Marcos interessa-se pela aco de Jesus mais do que pelos ensinos.c. Marcos no usa genealogias nem a maneira ordenada de Mateus.

    3. Algumas peculiaridades notadas neste Evangelho:

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    a: Tradio de lavar as vasilhas, panelas, pratos e cama (7:4).

    b. Simo Cireneu foi constrangido a levar a cruz de Jesus. No seofereceu para o fazer (15:21).

    4. Qual a palavra que aparece muitas vezes e se torna caracterstica doautor?

    Imediatamente, logo o autor era um homem de aco.5. A quem foi escrito este evangelho? Aos Romanos. Note-se a pouca

    citao de leis, as descries geogrficas da Palestina, etc. Neste ponto,notou a diferena entre este e o primeiro evangelho?

    6. Como que o autor apresenta Jesus? O Cristo que veio para servir e quecom poder opera milagres.

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    ANLISE GERAL DO EVANGELHO DE SO MARCOS

    (G. Campbell Morgan)

    Marcos era amigo pessoal de Pedro, e atravs do seu evangelho manifesta-se ainfluncia desta amizade. O ponto de vista, portanto o de um homem queconhecia o trabalho, como todos os pescadores do Mar da Galileia o conheciam.

    Neste Evangelho, encontramos Jesus apresentado como o Servo. Ele vai andandoem submisso, sempre atento s chamadas para o servio. Mas impossvel naSua presena entrar no esprito de familiaridade que gera o desprezo, ou sentiruma pena que provenha de uma sensao de superioridade. O nico desprezoque sentimos enquanto observamos o Seu trabalho um desprezo por nsprprios, que falhamos tanto na nossa prpria devoo; e a nica pena possvel tambm para a nossa prpria inferioridade infinita; e assim deve ser. A realezae a submisso constituem qualidades da natureza de Deus. At Ele mais realquando Se inclina para servir. Ao apresentar as maravilhas de Jesus como oServo de Deus, Marcos trata da Sua Separao (1:1-13), Servio (1:14-8:30) eSacrifcio (8:31- cap. 16).

    A. SEPARAO

    Nesta diviso so-nos apresentados os movimentos maravilhosos pelos quaisJesus separado para o servio. A nota chave da primeira seco que descreve otrabalho do arauto encontra-se nas palavras : Joo veio. A sua vinda foi ocumprimento da promessa, e a sua misso foi proftica. A nota chave da secointroduzindo Jesus encontra-se nas palavras Jesus veio. Ao Jordo Ele baixou,numa nova fase do trabalho. Atravs de todos os anos, nos lugares comuns davida Ele ia servindo. Agora, pelo baptismo, Ele voluntariamente identificou-Secom os pecadores, e assim encarou o servio especfico para o qual tinha vindo.Em ligao com o Seu baptismo, Ele foi ungido e a Sua aptido foi afirmada pelavoz do Pai. Passou imediatamente para o deserto onde, como Servo, emsubmisso perfeita, Ele entrou em conflito com aquele que se rebelara contra asubmisso, e venceu-o. Ficou, ento, no limiar do Seu trabalho, totalmentesubmisso, perfeitamente equipado, e j vitorioso.

    B. SERVIO

    A diviso apresentando o servio perfeito de Jesus tem trs seces, a primeiratratando dos Seus primeiros discpulos e das primeiras obras.; a segunda,tratando da escolha dos Doze e um avano na tarefa; a terceira, tratando dacomisso dos Doze e a cooperao no servio.

    Chegando Galileia, Ele escolheu primeiro quatro homens para se associarem aEle, escolhendo aqueles que j eram treinados em trabalhos braais semelhantesao dEle. Em Cafarnaum entrou na sinagoga e no dia de sbado Ele continuou oSeu trabalho. Debaixo da influncia dos Seus ensinamentos, um homempossesso de demnio o interrompeu e se tornou o porta-voz do esprito mau quetinha dentro de si. O testemunho foi impressionante. Falou de Jesus como oSanto de Deus e ao dizer estas palavras pronunciou a sua prpria derrota.

    Da sinagoga, indo para casa, o Servo de Deus curou uma mulher. Estaimediatamente se torna serva, ministrando a Ele e aos outros. As multides sejuntaram a Ele, e Ele as curou com uma facilidade perfeita. Da presso das

    multides Ele escapou para as montanhas, para um perodo de comunho com oPai. Ali, o clamor ansioso dos discpulos chegou a Ele. E Ele passa adiante,continuando a Sua tarefa nas outras cidades.

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    A lepra, a paralisia e o pecado se Lhe apresentaram sucessivamente, e Ele tratoude cada um com poder e com finalidade. Seguindo esta srie de aces h umasrie de palavras com as quais Ele vindicou o Seu agir para com os pecadores: aSua presena na festa do publicano fora como Mdico; estava ali para curar.Depois vindicou a alegria dos discpulos: como podiam ficar tristes quando Eleestava presente com eles? Mais uma vez Ele indicou a Sua atitude para com o

    sbado, quando declarou que o Filho do Homem era do Sbado o Senhor. Nasinagoga a Sua ira para com a falta de ternura dos Seus acusadores revela asensibilidade do Seu prprio corao. Uma emoo pura e profunda semprecustosa. A ltima parte desta seco revela a Sua actividade constante; asmultides apertaram-nO com as suas misrias, as feridas, as fraquezas. Nohouve limite no Seu poder; Ele tocou, e foram curados.

    Chegara o tempo de chamar outros para terem comunho com Ele. Isso fezdeliberadamente, escolhendo em sabedoria absoluta. Os escolhidos foramapontados primeiro para estarem com Ele, e depois para serem enviados. Foiagora que a oposio dos Seus parentes foi manifesta. Foi a oposio duma

    afeio, quanto Sua me. Ela receava que o Seu trabalho to intenso fosse umsintoma de loucura. Devia ter sido causa de sofrimento agudo o facto de quenem a Sua me nem os Seus parentes perceberam a Sua misso.

    Sem intervalo a lida continuou. Os chefes do povo sugeriram que Ele estavaligado s foras do maligno. Ao negar esta acusao o Senhor fez uso daspalavras mais solenes que jamais saram dos Seus lbios. Ele no disse queestes homens cometeram o pecado imperdovel, mas dele se aproximaramquando atriburam a Satans as obras de Deus. Levar avante esta sugesto erejeitar finalmente Aquele que fez as obras o pecado imperdovel. Depoisdeste aviso solene aos chefes, numa srie de parbolas Ele revelou os factos

    positivos do Reino na poca presente.Uma vez temos a imagem dEle descansando, e sugestiva, pois o Seu descansofoi no meio dum temporal. Mesmo aqui, Ele foi acordado pelos discpulos erespondeu prontamente para os servir. Chegando outra banda, ps-Se de novoao trabalho. Curou o endemoninhado e depois, a pedido dos homens da cidade,passou de novo para o outro lado do mar, onde, em resposta aos rogos dum pai,o acompanha at casa, onde a morte tinha entrado. Pelo caminho a doena seaproximou na pessoa de uma mulher, fraca e tremente, mas confiante; e Elerespondeu f dela com a virtude da Sua cura. Chegou ento a Nazar, e ali ainfluncia maligna dos preconceitos egostas foi claramente ilustrada. Amaravilha das Suas palavras e das Suas obras foi patente, mas como Ele era umdeles, ficaram escandalizados.

    Atravs de toda esta seco devemos lembrar que os discpulos cumpriam aprimeira parte da sua comisso. Estavam com Ele. Ainda no tinham sidoenviados. Seguindo-O, observavam o Seu mtodo e foram recipientes dumacerta medida do Seu esprito. Por meio desta camaradagem Ele estava aprepar-los para um servio imediato, e iniciando a Sua preparao para umtrabalho mais amplo que havia de desenvolver atravs deles quando Ele, comopresena corporal, fosse deles removido.

    Assim, tendo os apstolos passado algum tempo com Ele, foram comissionados e

    enviados. Seriam os servos do Servo, e consequentemente foi necessrio queem toda a maneira eles fossem os Seus representantes. A atitude de servio foirealada pela pobreza do seu envio: sem po, sem carteira, sem dinheiro.

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    EVANGELHOS, pg. 14

    Houve apenas trs essenciais: Deviam ter sandlias, ir de dois em dois e ir emSeu Nome. Assim, o Mestre oferceu-lhes tudo que foi necessrio. As Suasinstrues acerca do mtodo de trabalho foram simples mas drsticas. Emqualquer cidade ou vila deviam aceitar a hospitalidade de um lar e recusar todasas outras. No deviam conformar-se aos costumes que poderiam consumir o seutempo e impedir o seu trabalho. No seriam bem recebidos em todos os lugares.

    Isso no era sua responsabilidade.A histria do assassnio de Joo encontra-se aqui em So Marcos para explicar omedo que havia no corao de Herodes quando ouviu da obra de Jesus. Osdiscpulos regressaram a Jesus e relataram tudo. Ele convidou-os a um lugardeserto paa descansar, mas no conseguiram l chegar. Mas a viagem curta,atravs do mar, com Cristo, constituiu um descanso para eles. A Sua presena lar, a Sua voz msica, o Seu olhar luz do Sol e o Seu toque vida. Chegando costa, a multido estava espera, e o grande Servo de Deus sacrificou o Seuprprio descanso e quietude, para que pudesse ministrar s suas necessidades.Ento manda os discpulos atravessar o mar para escapar multido, enquanto

    Ele fica s na montanha. A aflio dos discpulos tr-lO a eles de uma formamilagrosa, e o temporal foi apaziguado.

    Novamente Ele d-Se s multides e cura ou Seus doentes. Depois segue-seuma discusso com os escribas e fariseus, na qual Ele revelou a diferena entre atradio e o mandamento, o primeiro sendo a lei do costume, e o ltimo, a lei deDeus. Os movimentos finais desta seco encontram-nO ainda a trabalhar,expulsando demnios, curando os surdos, alimentando as multides, curando oscegos. Estas obras foram entrelaadas com instrues dadas aos discpulos. Osfariseus pediram um sinal e, com um suspiro, Ele declarou que nenhum sinalseria dado. Finalmente juntou os Seus Sua volta em Cesareia de Filipe e

    ouvimos a declarao de Pedro: Tu s o Cristo. Assim, atravs de toda estaseco, Jesus visto ocupado incessantemente em servio, e chamando para aSua comunho os homens que, embora amorosamente leais, toimperfeitamente O compreenderam que no podiam entrar numa medidaperfeita nessa camaradagem sagrada.

    C. SACRIFCIO

    Na diviso final o ministrio de servio abre-se na sua esfera mais elevada: o Seusacrifcio. Outra vez h trs seces, que tratam de sacrifcio antecipado,aproximado e realizado.

    Imediatamente depois da confisso em Cesareia, o Mestre comeou a falar aos

    Seus discpulos acerca da cruz, e ficaram cheios de medo. As pessoas ainda Oapertavam, e ouviram-nO proferir palavras que nem elas nem os discpulossabiam interpretar nessa altura: insistindo que os homens que haviam de Oseguir teriam de o fazer por via da auto-abnegao e duma cruz. Dos Seusdiscpulos, escolheu trs para serem testemunhas oculares da Sua glria.Passando do monte santo foram rodeados pelas multides, e o Seu poder foimanifesto na cura de um rapaz possudo dum esprito maligno. Quando asmultides saram, os discpulos inquiriram acerca da razo da sua falha em tratardesse caso. Respondendo directamente, Ele os conduziu em sossego e emparticular, atravs da Galileia, para que os pudesse ensinar mais acerca da cruz.

    Em Cafarnam Ele os repreendeu por disputarem acerca da grandeza pessoal, eproferiu algumas palavras muito solenes acerca da necessidade de renunciartudo que possa impedir a realizao mais elevada da vida. Chegando s

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    EVANGELHOS, pg. 15

    fronteiras da Judeia Ele respondeu pergunta dos fariseus acerca do divrcio, eimediatamente depois recebeu os meninos e os abenoou; e depois tratou com omancebo de qualidade, e respondeu pergunta dos discpulos acerca do mistriodo Seu relacionamento com eles. E encaminhando-Se para Jerusalm, avanasozinho, enquanto os discpulos O seguem. Mas Ele espera por eles e instrui-osmais acerca da Cruz. Dois deles pedem posies de destaque. E a ltima

    imagem desta seco em que a Cruz antecipada a de Jesus respondendo aum clamor de necessidade quando curou Bartimeu, e assim acrescentou mais um companhia dos discpulos seguindo em fila.

    Na seco seguinte o Senhor visto com uma determinao definidaaproximando-Se do sacrifcio final do Calvrio. Os acontecimentos passam-setodos na vizinhana de Jerusalm. No seu relato da Sua entrada na cidade,Marcos no refere os efeitos produzidos sobre Jerusalm e os fariseus, senoaqueles que revelam o reconhecimento da Sua soberania. Isto interessante,considerando que este o evangelho do Servo. Mas ao mesmo tempo perfeitamente harmonioso com o ensinamento de que o Senhor dos homens

    mesmo Senhor por ser o Servo de todos.A maldio da figueira e a Sua explicao do acto so separadas pela histria dapurificao do Templo. O pretexto de vender e trocar dinheiro foi o de renderservio aos adoradores. Isto foi feito no ptio dos Gentios, que por sua vez foramassim privados do seu lugar de adorao. Isto explica as palavras de Cristo umacasa de orao para todas as naes.

    No havia casa para Ele na Sua cidade, e no havia descanso para Ele na SuaCasa. Portanto, todos os dias tarde Ele saa da cidade. Entrou em conflitofinal com as autoridades quando elas O desafiaram acerca da Sua autoridadepara purificar o Templo. A este desafio respondeu com a parbola da vinha.

    Calmamente Ele lhes falou da Sua prpria expulso pelas mos deles e anunciouem cumprimento da profecia a Sua vitria final como Pedra de esquina. Comuma facilidade magnfica Ele tratou os ataques dos fariseus, dos herodianos, dossaduceus e do advogado, cada um por sua vez. Depois de silenciar estes, avisouo povo solenemente contra os escribas.

    Marcos relata ento as Suas instrues aos discpulos acerca das ofertas e dascoisas que ho-de vir. medida que a hora se aproxima para os movimentosfinais do sacrifcio, duas foras esto a trabalhar de maneiras diferentes, maspara o mesmo fim. Judas negociou com os chefes do Sindrio para a destruiode Jesus; Jesus faz preparativos para a recluso necessria para a entrega dos

    Seus ltimos discursos e para comer a pscoa. Por fim, Ele e os Seus seaproximam do Getsmane. Nenhum apstolo testemunhou a Sua agonia. Oscus e o inferno observaram o conflito. Ningum pode sondar o seu mistrio, aescurido, o sofrimento, a sensao de morte, o peso do pecado, o medo horrvel.Somos curvados at ao p, quando nos lembramos que o nosso pecado a suaexplicao.

    A ltima seco desta diviso e de facto de todo o evangelho relata a histria daconsumao do sacrifcio. A solene e terrvel solido de Getsmane foiperturbada pela chegada do traidor. Todos os mundos tocados pelo homem sorepresentados no jardim. O inferno se exprimiu na turba inspirada pelos

    sacerdotes, dirigidos por Judas, em cuja face se evidencia a ferocidade do medo.A terra tremente, representada pelos discpulos, correndo impetuosamente efugindo. Os Cus quietos, reais, calmos, na pessoa do Filho do Homem, o Servo

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    de Deus. Outra vez no silncio solene, contemplamos a histria da Sua morte. Oseu alcance estende-se alm dos nossos sonhos. melhor ficarmos calados.

    Jos de Armateia ficou impuro quando entrou na presena de Pilatos, e assim nopodia tomar parte na festa que se aproximava. Esta impureza foi agravada peloseu contacto com o Morto. Mas que maneira de celebrar a festa: com mosternas ele cuidou do Santo de Deus, que no havia de experimentar a corrupo!

    A histria de Marcos termina como comeou. Um captulo breve contm o relatoda Ressurreio, dos dias que Ele ficou na terra, da Sua gloriosa ascenso. Huma dignidade calma acerca do relato breve da ascenso, que uma conclusomuito prpria para o evangelho do Servo. Ele Se assentou dextra de Deus, oSeu servio terminado e feito de tal forma que o lugar mais prprio para Ele olugar da honra mais elevada: o Servo de Deus tomou o lugar de Senhor de todos.

    Mas o Seu triunfo no teve como resultado a cessao da Sua actividade a favordos Seus servos. Em obedincia s Suas instrues, eles saram para pregar aPalavra em toda a parte, e Ele trabalhou com eles e deu os sinais que

    confirmaram a verdade da mensagem que pregavam. A ltima manifestao dagraa que tinha sido to evidente no Seu servio pessoal foi que Ele enviou osSeus discpulos para levarem avante o Seu trabalho enquanto Ele pessoalmenteos acompanhava.

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    INTRODUO AO EVANGELHO DE SO LUCAS

    (Beacon Bible Commentary)

    O Evangelho de Lucas tem sido chamado o livro mais lindo do mundo e, comActos, a obra literria mais ambiciosa da igreja antiga. Se tais elogios podemparecer extravagantes, pelo menos prepram-nos para o estudo de uma obra que

    , sem qualquer dvida, tanto uma poro bastante significativa da Bblia, comouma das obras-primas literrias da antiguidade.

    A. AUTORIA

    Tanto a tradio antiga como os eruditos modernos concordam que o autor doterceiro Evangelho foi Lucas, o mdico amado e companheiro do ApstoloPaulo. Podem encontrar-se declaraes a esse respeito to antigas quanto asegunda metade do 2 sculo; e desde ento a tradio unnime em apoiaresta opinio. De facto no h qualquer evidncia que este Evangelho tenha sidoatribudo a qualquer outro autor seno Lucas.

    Podemos aceitar esse veredicto mais facilmente quando nos lembramos quehavia muitos falsos evangelhos atribudos a vrios apstolos e outrastestemunhas oculares do ministrio de Cristo. Contudo, Lucas no era nemtestemunha ocular nem suficientemente proeminente no NT para que um livrolhe fosse atribudo sem que fosse de facto o autor.

    Embora Lucas no afirme quer a sua autoria do evangelho com o seu nome, oude Actos, a evidncia interna do NT apoia solidamente a posio de que ele foi oautor de ambos os livros. Em primeiro lugar evidente que ambos foramescritos pela mesma pessoa: so endereados ao mesmo indivduo, Tefilo; e oLivro de Actos, no seu prefcio, fala do primeiro tratado. O estilo literrio e ovocabulrio dos dois livros revelam uma semelhana demasiado estreita para serexplicada de qualquer outro modo que no seja a mesma autoria.Um outro elo nesta cadeia de evidncias so as famosas seces em que noLivro de Actos se emprega o pronome ns (16:10-17; 20:5-15; 21:1-18; 27:1-28:31). Claramente indicam que o autor era um companheiro de Paulo e, comexcepo de Tito,2 Lucas o nico que no identificado por nome em Actos.Isto torna bvio que ele foi o autor.

    Sabe-se muito pouco acerca de Lucas. O seu nome mencionado somente trsvezes no NT: Em Colossenses 4:14 Paulo chama-o mdico amado, em Filmon24, meu cooperador, e em II Timteo 4:11 ele diz que Lucas era o seu nico

    companheiro nessa altura.Em Actos, as seces com ns indicam que Lucas se juntou a Paulo em Troasdurante a sua segunda viagem missionria (16:10) e acompanhou-o pelo menosat Filipos. Quando o Apstolo seguiu para Tessalnica, o pronome na terceirapessoa indica que Lucas j no estava com ele. A seco seguinte com ns(20:5) mostra que Lucas novamente se reuniu ao grupo quando este voltava daGrcia na sua terceira viagem. Ele se lhes juntou em Filipos e acompanhou-osat Jerusalm. A seco ns final (27:1) indica que Lucas acompanhou Paulona sua viagem a Roma. Estava com ele quando escreveu a Epstola a Filmon eaos Colossenses, e mais tarde quando escreveu a Segunda Epstola a Timteo mesmo antes da morte de Paulo.

    2No h qualquer tradio a favor da autoria de Tito, e o que se saba acerca do autor aplica-semuito mais a Lucas que a Tito.

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    As referncias de Paulo a Lucas como mdico no s so parte da tradio, masso corroboradas pela linguagem mdica encontrada tanto no livro de Actoscomo em Lucas. De resto, h algumas referncias a Lucas nos escritos dos Paisda Igreja, mas algumas so demasiado contraditrias para serem aceites comofactos.

    B. LUGAR E DATA DE ORIGEM

    As fontes antigas so silenciosas ou vagas quanto ao lugar de origem. OEvangelho poderia ter sido escrito em Cesareia, quando o Apstolo estava lpreso. Certamente este foi o tempo durante o qual Lucas recolheu muito do seumaterial. Tambm possvel que tenha sido escrito em Roma, durante oemprisionamento de Paulo. Embora possa ter sido escrito em qualquer outrolugar Grcia ou sia Menor, depois de Paulo ter sido liberto do seu primeiroemprisionamento Cesareia parece ser o lugar mais provvel, sendo Roma olugar onde Actos teria sido escrito ou finalizado.

    A data do livro seria entre 58 e 69, pois no provvel que tenha sido escrito

    antes da estadia de Lucas na Palestina, nem depois da destruio de Jerusalm.Se foi escrito em Cesareia, ento a data provvel seria 58.

    C. PROPSITO

    O propsito est declarado no prefcio: dar a Tefilo um conhecimento maiscompleto e satisfatrio acerca de Jesus Cristo. Aquele j tinha um conhecimentorudimentar, mas Lucas sentia que precisava de mais, ou ento Tefilo lhe pediraque lhe fornecesse mais elementos. Mas evidente que Lucas tinha em vistauma audincia maior do que um nico leitor. Talvez ele sentisse que a Igreja,como um todo, necessitasse de um Evangelho mais completo do que o queexistia ento.

    D. FONTESOs eruditos pensam que o livro de Marcos e outros relatos escritos do ministriode Jesus, porventura existentes, teriam sido usados na composio do Evangelho.Designam-se duas dessas fontes: Q o suposto documento que contm omaterial comum a Mateus e Lucas, mas no encontrado em Marcos; L designao documento donde Lucas extraiu o material que s se encontra no seuEvangelho.

    possvel que isto seja uma simplificao extrema, e que tenha havido umnmero indeterminado de documentos, pois ele menciona que muitos tinham

    empreendido a narrao dos factos. provvel que pelo menos ele tivesseconsultado essas fontes. Alm disso, ele teve o recurso inestimvel do ApstoloPaulo e da sua pregao, e a oportunidade mpar de pesquisar, por si mesmo, nosdois anos que passou na Palestina enquanto Paulo estava preso em Cesareia.Ele mesmo diz ter falado com as testemunhas oculares. Isto pode ter includoMaria, a me de Jesus, de quem pode ter sabido em primeira mo os factos volta do nascimento do Senhor.

    E. CARACTERSTICAS

    1. O Mais Literrio dos Evangelhos. algumas das suas parbolas so ashistrias mais apreciadas do mundo: O Bom Samaritano, O Filho Prdigo, etc.

    2. Um Evangelho de Cnticos: Apresenta os cnticos mais eloquentes daCristandade: o Benedictus, o Magnificat, o Nunc Dimittis, o Ave-Maria, oGloria in Excelsis, tudo isto s nos primeiros dois captulos.

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    3. O Evangelho das Mulheres: Na Palestina as mulheres eram poucoconsideradas, como em geral no mundo antigo. Mas o Evangelho de Lucas notvel pela ateno que d s mulheres: Isabel; Maria, me de Jesus; Maria eMarta de Betnia; Maria Madalena; e outras.

    4. O Evangelho da Orao: Diz mais acerca da orao do que qualqueroutro evangelista. Nos grandes momentos da vida de Jesus, Lucas mostra-Oorando. S ele nos d as parbolas do Amigo Meia Noite (11:5-13), doInjusto Juiz (18:1-8) e do Fariseu e Publicano (18:9-14).

    5. O Evangelho para os Gentios: Isto evidenciado pelos seguintes factos:(a) endereado a Tefilo, gentio; (b) os termos judeus so evitados, explicadosou substitudos por equivalentes gregos; (c) raramente cita do VelhoTestamento; e (d) data os factos a partir do Imperdor Romano e do GovernadorRomano na poca.

    6. O Evangelho do Salvador Universal: Lucas apresenta Jesus como oSalvador para todos os homens. Parbolas como O Bom Samaritano, O Filho

    Prdigo e O Fariseu e o Publicano mostram um interesse pelos marginais edesprezados.

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    PARA O ALUNO

    Leia o Livro de So Lucas duma vez. Pense nos seguintes pontos, enquanto l:

    1. Quem escreveu o livro?

    2. Quem foi o Apstolo que foi amigo ntimo deste autor?

    3. A quem foi escrito o livro?

    4. Quais so algumas caractersticas especiais deste livro?

    5. Qual o propsito deste autor? Compare com os outros evangelhos que jleu.

    6. Que que sabe do autor?

    7. Qual a atitude do autor para com:

    a. A msica

    b. As mulheres

    c. A orao

    d. Citaes do Antigo Testamentoe. Os pobres e os desprezados

    f. O Messias

    8. Como que o autor apresenta Cristo?

    9. Que acha do estilo literrio do autor?

    10. Que acha do cuidado em precisar as datas ou descrever lugares?

    11. O crtico francs Renan chamou o Evangelho de Lucas o livro mais belodo mundo. Concorda?

    12. Quanto tempo levou a ler o livro?

    13. Descobriu alguma novidade durante a leitura?

    ANLISE GERAL DO EVANGELHO DE SO LUCAS

    (G. Campbell Morgan)

    Lucas foi um mdico grego. Ele escreveu a outro grego, o seu amigo Tefilo.Estes factos ajudam-nos a compreender o seu ponto de vista e estudar o seuevangelho inteligentemente. O ideal grego foi a perfeio do indivduo, e Lucasapresenta Jesus em toda a Sua perfeio humana, mostrando como Ele

    ultrapassa, por virtude de tudo que fez, qualquer concepo apresentada pelacultura grega. A sua apresentao de Jesus consiste de trs seces distintas,nas quais ele mostra Jesus como Perfeito (1-3); Aperfeioado (4-9); eAperfeioando (9-24).

    A. PERFEITO

    O primeiro pargrafo constitui um prlogo no qual Lucas cuidadosamente declarao mtodo da sua obra, apresentando as fontes da sua informao, e declarandoque ele tem traado o desenvolvimento de tudo com preciso. Este omtodo do artista que toma uma amlgama de material e produz uma declaraoordeira.

    Seguindo este mtodo, ele apresenta em primeiro lugar a pessoa de Jesus emtrs movimentos: (1) A Sua existncia e nascimento; (2) A Sua meninice econfirmao; e (3) O Seu desenvolvimento e uno.

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    Quanto ao primeiro, ele d um relato das anunciaes anglicas, seguidasimediatamente pelos cnticos das respectivas mes e o nascimento de Jesus.Assim ele lida primeiro com o lado fsico, mostrando que este Menino possui anatureza humana, mas no como resultado de um acto humano nem to poucoproveniente da vontade humana.

    O prximo quadro apresenta o Menino com cerca de doze anos de idade, quandosegundo o costume hebraico Ele foi apresentado para confirmao e tornou-seum filho da lei. Aqui, a impresso mais saliente da capacidade mental doMenino, que, com uma naturalidade nica, com perguntas e respostas, causouadmirao nos chefes do povo.

    O movimento final desta diviso relata a histria do baptismo e da uno deJesus. H uma revelao especial da perfeio espiritual do Homem, quandoencara o Seu trabalho. A Sua perfeio trplice apresentada.

    Em relao ao ltimo destes movimentos, Lucas d um relato do ministrio deJoo, que seguido por uma genealogia que traa a descendncia de Jesus do

    lado humano, passando por todos os homens de permeio e indo at Deus.B. APERFEIOANDO

    Depois de mostrar o que podemos chamar a perfeio natural de Jesus, Lucascontinua relatando a histria de como Ele foi aperfeioado pelo processo daprova. Destas provas hauve trs: a da tentao, na qual Ele encarou o mundoinferior do mal na pessoa do seu prncipe, o diabo: a do ensino, na qual Eleencarou o mundo dos homens Sua volta; e a da transfigurao, na qual o valorsupremo foi a revelao da Sua relao com Deus.

    A primeira desta provas foi um processo pelo qual, conduzido pelo Esprito, Eledesafiou o mal; e sustentado pelo Esprito, encarou todos os ataques e ganhou avitria plena e final. Toda a tentao situou-se no campo da humanidade deJesus. As palavras com que respondeu aos ataques de Sat so citaes da leidivina para a vida humana. Ele propositadamente ficou dentro da vontade deDeus como esta vem revelada nessa lei, e assim venceu o inimigo em cadaponto. Lucas declarou-o nestas palavras: Quando o diabo completou toda atentao, ele partiu por um tempo, e Jesus regressou no poder do Esprito aGalileia. . . e ensinou. . . Esta declarao revela a intensidade do ataque doinferno, mas a perfeio da tentao ao mesmo tempo a perfeio da vitria.

    O segundo processo revela a perfeio de Jesus em relao aos homens. Nasinagoga em Nazar, com a qual estava perfeitamente familiarizado desde

    jovem, Ele reivindicou o cumprimento da profecia em relao Sua prpriapessoa, e foi rejeitado imediatamente pelos homens de Nazar, que tentaramusar de violncia contra Ele. Depois Lucas d uma srie de quadros que revelamvrios aspectos da Sua obra em Cafarnaum: ensinando, dominando os demniose a doena, e curando todos aqueles que chegaram ao p dEle.

    A seguir Lucas relata como Jesus chamou os Doze para a montanha, e osdesignou para o ofcio apostlico; e, deixando a montanha, veio com eles para omeio das multides e repetiu pores do grande manifesto que Mateus registacomo tendo sido dado mais cedo no Seu ministrio. Jesus ento passou asbarreiras nacionais e trouxe a bno casa dum centurio romano. O quadro

    que se segue do encontro, entrada de Naim, entre a morte e o Senhor davida, com a transformao duma procisso fnebre em marcha triunfal de vida ealegria. Seguidamente, Lucas nos d um relato da pergunta de Joo, a resposta

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    de Cristo e o discurso s multides; depois a histria da cena em casa de Simo,e o relato das Suas viagens com os Doze atravs das cidades e vilas, ensinandotanto por parbolas como por milagres.

    Finalmente, os Doze foram enviados sozinhos numa misso da qual regressaramcheios de vitria. Ele ento os conduziu parte at Cesareia de Filipe. Ali aconfisso de Pedro ilustrou a Sua perfeio como Professor, quando essedeclarou a verdade essencial acerca da Sua Pessoa. Jesus imediatamentecomeou a segunda fase da preparao dos Seus discpulos, virando-Se para aobra suprema da cruz; e preparou-os anunciando-lhes acerca dela.

    O terceiro e ltimo processo o da transfigurao. Foi algo que resultou de tudoquanto tinha acontecido at este ponto. A histria da transfigurao a dachegada perfeio final da natureza de Jesus. At este ponto a vida tinha sidoprobatria. Um instrumento perfeito tinha, no entanto, sido sujeito prova datentao e da responsabilidade. Em ambas Ele tinha sido vitorioso, dominandotodos os ataques dirigidos contra Ele pelo mundo maligno e vivendo toabsolutamente ao dispr de Deus, que foi o instrumento atravs do qual a luz

    tinha chegado aos outros. Portanto, atravs da inocncia e da santidade Elechegou quela transfigurao ou metamorfose pela qual, sem provar a morte,mesmo na Sua humanidade Ele estava preparado para passar da cena terrestrepara os espaos mais amplos da vida que fica alm. Na glria desta montanhavmo-lO revelando a inteno final de Deus . E pela consumao da naturezahumana evidenciou-se vividamente o contraste entre este Homem e todos osoutros que tm de passar pela morte por causa do pecado. Neste ponto danarrao de Lucas foi realizado o alcance mximo do ideal grego. Este o serhumano absolutamente perfeito. Todo o resto da histria trata da obra sacrificiala favor dos outros.

    Os mestres gregos tinham reconhecido a necessidade do sacrifcio para arealizao da perfeio pessoal, mas que o Perfeito devesse sofrer peloimperfeito foi um conceito novo. E esta a histria da ltima diviso desteevangelho.

    Como deve ser, Lucas colocou a histria da cura do rapaz possessoimediatamente a seguir ao relato da transfigurao. O Filho unignito de Deusencarou um filho unignito do homem. Tendo renunciado Sua oportunidade eao Seu direito de entrar directamente na vida mais ampla, descendo do vale Eleencontrou um possesso pelo demnio, que no podia adaptar-se vida actual.Imediatamente expulsou o demnio e entregou o rapaz ao pai. Foi um milagre

    simblico, sugerindo a obra qual Ele agora passava, com o rosto dirigido para acruz. E ofereceu uma oportunidade para uma conversa com os discpulos, naqual Ele corrigiu a suas ideias erradas acerca da grandeza e da dignidade.

    Esta ltima diviso concentra-se na cruz, e se divide em trs partes. A primeiratrata do propsito e da preparao. A segunda da aproximao e daconsumao; e a terceira da administrao.

    O propsito declarado nas palavras: E aconteceu que, completando-se os diaspara a sua assuno, manifestou o firme propsito de ir a Jerusalm. Eis achave de tudo que se segue nesta seco. Falha qualquer tentativa de a analisar.O Profeta Sacerdote avana resoluta mas serenamente para a cidade e a cruz.

    Pelo caminho, est constantemente ocupado a corrigir toda a espcie de erroscometidos por toda a espcie de pessoas; e ainda, instruindo enquanto anda,Ele trata de vrios assuntos com os discpulos, dirige-se s multides e manifesta

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    o Seu poder a favor deles; repreende os chefes como sendo responsveis;responde crtica dos Seus inimigos; e espalha palavras teis e obras benficasentre o povo, segundo as suas necessidades individuais. Foi totalmente umministrio de profecia, revelando a escurido em o que o povo vivia, expondo luz os pecados da poca, e, assim, revelando claramente a necessidade da obrapara a qual tinha vindo. O Perfeito, aperfeioado pela Sua prpria vida, est

    preparando para o aperfeioamento aqueles que precisam da Sua ajuda.A seco seguinte comea com as palavras: Ele tomou consigo os doze e disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalm. Esta seco pode ser analisada voltadesta afirmao de Jesus. Temos em primeiro lugar o relatrio do Seu trajectoimediato, como Ele e os discpulos foram atravs de Jeric at Jerusalm. Pelocaminho Ele curou Bartimeu e, entrando em casa de Zaqueu, excitou aadmirao e a oposio daqueles que O observavam. Porque estava perto dacidade, proferiu a parbola que prediz a Sua prpria rejeio e indicou aresponsabilidade que haveria de cair sobre os Seus representantes depois da Suapartida. Finalmente entrou na cidade no meio de aclamaes; e a Sua prpria

    atitude revela uma fuso maravilhosa de ternura e terror, enquanto passa pelacidade e prediz a sua destruio vindoura.

    Vem depois o relato de como Ele foi entregue aos Gentios. O Seu primeiro actofoi a purificao do Templo. Isto foi seguido da crtica e interrogatrio dasautoridades, s quais Ele respondeu directamente, acompanhando as Suasrespostas por parbolas de denncia. Ento veio o princpio do fim. Ossacerdotes e o diabo so vistos colaborando. O seu trabalho central seriaeliminar Jesus. Tinham medo do povo, mas por fim ganharam o seu voto para Ocrucificarem. Ele reuniu os apstolos Sua volta, e a sombra do ritual antigo foiunida com a substncia da Nova Festa. E deu-lhes novas instrues, que

    indicaram a necessidade de preparao e orientao em todo o servio que Lheprestassem.

    Lucas agora nos conduz terra das sombras. Em Getsmane vemos Jesussensvel natureza terrvel do baptismo da Paixo, mas resolutamenteabandonado vontade do Pai. Imediatamente todo o temporal da malcia dosdiabos e do pecado do homem desabou sobre a Sua cabea. Judas, o traidor,entregou-O morte com um beijo. Pedro, o fanfarro, brincou com a espada,seguiu-O de longe e, finalmente, poluiu o ar com a blasfmia. Os servos que Oconduziram fizeram troa dEle e bateram-Lhe. O conclio, formalmente,definitivamente, rejeitou-O.

    Contudo, a figura de Cristo dominante e cativante. Passou por esta hora com opasso firme dum Conquistador. A Judas, Ele proferiu palavras fortes quedenunciaram a sua perdio. Pedro recebeu um olhar que o chamou aoarrependimento e s lgrimas. Em mos brutais, Jesus no abriu a Sua boca. Aoconclio Ele formalmente declarou o Seu ofcio elevado e a Sua dignidadevindoura. Dessa hora e do poder das trevas Ele trouxe luz e vitria para todos osescravizados; e provou que, apesar das obras dos Seus adversrios e no extremoda Sua fraqueza, Ele ainda era mais forte do que todo o poder do inimigo; e, pelavitria ganha atravs da derrota, Ele mudou o curso das trevas que existiramdesde o alvor da raa.

    Dois homens viram Jesus pela primeira vez, Pilatos e Herodes. Um vendeu a suaconscincia para salvar a sua posio. O outro, j no possuindo conscincia,

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    procurou satisfazer com um novo prazer a sua curiosidade mrbida e sensual; eo nico prazer que conseguiu foi o silncio trgico do Filho de Deus.

    A histria da cruz relatada por Lucas com uma simplicidade sublime. Ficamosoutra vez beira do mar de angstia que impossvel descrever; e lembramosque o Seu mergulho foi para a nossa salvao. O que isto queria dizer para Elede sofrimento, e para ns de libertao, s podemos compreender quandorecordamos que Ele enfrentou toda a fora das ondas desse mar; e ns agoraestamos ao Seu lado cantando o hino triunfal daqueles cujo julgamento j passoue cujo cu j est ganho.

    Que sentimento de desapontamento e amor deve ter possudo o corao de Josenquanto depositava o corpo de Jesus no seu tmulo no jardim. Graas a Deuspara sempre pelo amor desse corao que encontrou um lugar de descanso parao corpo sagrado que no haveria de ver a corrupo.

    Assim, chegmos ao terceiro dia. Nenhum olho humano observou a ressurreio.A falha dos discpulos em crer acerca do Seu regresso da morte evitou que

    ficassem espera desta vitria, e aos guardas no foi permitida esta maravilha:pois saindo dos lenis sem os perturbar, Ele abandonou o tmulo antes da pedraser tirada. Mas embora nenhum olho humano observasse o alvor, em brevehomens em toda a parte haviam de andar na gloriosa luz do dia pleno.

    A ltima pgina do Evangelho de So Lucas d-nos alguns relances daadministrao pessoal da obra sacerdotal de Jesus. Todas as aparies forampara os Seus, e tudo quanto fez foi dirigido a eles. A histria do passeio atEmas cheia de fascnio. Dois homens, na incredulidade, mas ao mesmotempo no amor, declararam: Espervamos que fosse ele que havia de redimirIsrael. A estes Ele deu uma nova interpretao das Escrituras, das quais jtinham um certo conhecimento; interpretao essa que lhes aqueceu o corao,incendiando neles uma nova paixo por Ele e pelos desejos do Seu corao.

    Depois, com uma rapidez surpreendente, Ele revelou-lhes a nova camaradagemque existia entre eles, que criou uma nova confiana para todo o sempre.Chegando atravs de portas fechadas, convidou-os a verem as Suas mos e osSeus ps; e para saberem que era Ele mesmo, comeu diante deles um bocado depeixe.

    Deu-lhes ento uma comisso que indicava a relao de todo o passado e futurocom a Sua prpria Pessoa, na economia de Deus: as obras antigas, a lei deMoiss, os profetas, os Salmos acerca dEle. A Sua mensagem final foi acerca do

    Seu sofrimento e ressurreio. Para poderem pregar o arrependimento e aremisso a todas as naes, os Seus discpulos seriam os primeiros a entrarnuma experincia bendita, e assim haveriam de se tornar testemunhas.

    A ltima viso que temos dEle com as mos estendidas numa bnosacerdotal, a qual resultou na regresso dos discpulos ao templo e adorao;assim, atravs do Sacerdcio dEle, eles cumpriam o seu prprio sacerdcio.

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    INTRODUO AO EVANGELHO DE SO JOO

    (Beacon Bible Commentary)

    O quarto evangelho um retrato descritivo dos acontecimentos histricos maisextraordinrios. Na verdade, esses eventos so o tema do Evangelho: E oVerbo se fez carne, e habitou entre ns (1:14). Tudo o que o autor escreveu foi

    para tornar isto claro e significativo para o seu leitor.Os primeiros leitores desse evangelho foram muito provavelmente cristos dasegunda ou terceira gerao. O que sabiam da vida, ministrio, morte eressurreio do Senhor, tinham-no aprendido quer por ouvirem contar ou porlerem os relatos dos primeiros evangelhos. H evidncias de que entre essesprimeiros cristos havia ideias erradas sobre factos e interpretaes que deramorigem a certas heresias.

    A. AUTORIA

    A evidncia externa aponta para o Apstolo Joo como o autor. O testemunhodos pais da Igreja praticamente unnime a favor desta posio. A evidncia

    interna dupla. Indirectamente indica que o autor era judeu, um judeu daPalestina, uma testemunha ocular, um apstolo, e um apstolo cujo nome eraJoo.

    A evidncia interna directa por si mesma inconclusiva, excepto pelo facto deque claro que o prprio autor presenciou muito do que relatou. inconclusivano sentido de que o autor no se nomeia a si mesmo. Escreve: O Verbo se fezcarne e habitou entre ns (1:14), indicando que O que encarnou estava com oescritor e os seus companheiros. De novo ele declara-se uma das testemunhasda Crucificao. Quando o soldado traspassou o lado do Senhor, sangue e guajorraram. E o escritor testemunha. E aquele que o viu testificou, e o seu

    testemunho verdadeiro (19:35). Sem dar o seu nome, na concluso doEvangelho, o autor identifica-se como uma testemunha dos factos: Este odiscpulo que testifica destas coisas e as escreveu (21:24).

    B. O AUTOR

    Joo era filho de Zebedeu, pescador, e de Salom (Mar. 15:40; 16:1; cf. Mat.27:56). Pensa-se que era mais novo que seu irmo Tiago. evidente que osmembros da famlia de Zebedeu eram pessoas de algumas posses. Tinhamservos (Mar. 1:20) e, de acordo com Joo 19:27, Joo cuidou de Maria depois damorte de Jesus.

    Embora o apstolo no seja mencionado por nome como discpulo de JooBaptista, h razes para crer que ele era um dos discpulos de Joo aludidos emJoo 1:35-40. Se assim foi, evidente que o apstolo foi primeiro um discpulo doBaptista. Mais tarde ele deixou Joo para seguir a Jesus e tornou-se um discpulode tempo integral (Mat. 4:18-22; Mar. 1:19-20; Luc. 5:1-11; cf. Joo 1:29-46).

    Joo pertencia ao crculo ntimo dos discpulos, juntamente com Tiago e Pedro.Em vrias ocasies durante a segunda parte do ministrio de Cristo, estes foramlevados para um crculo mais ntimo no relacionamento com Jesus (Mat. 17:1-8;Mar. 9:2-8; Luc. 9:28-36, 49 ss; 22:8). Pedro e Joo foram os nicos discpulos aseguir a Jesus at ao julgamento (Joo 18:15-16), e s Joo foi com Jesus at aoGlgota (Joo 19:26). Foi Joo e Pedro que fizeram uma corrida at ao sepulcro

    na manh da Ressurreio (Joo 20:3-4).

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    O apstolo mencionado nove vezes no Livro de Actos . Ali ele superado pelaliderana de Pedro. Paulo nomeia-o como um dos lderes da igreja de Jerusalm(G. 2:9).

    O Apocalipse, que geralmente se acredita ter sido escrito pelo Apstolo Joo, anica escritura que, alm disso, menciona o nome do autor. Ali o seu auto-retratomostra-o na Ilha de Patmos (1:9) como profeta e vidente.

    A literatura patrstica faz aluso ocasional ao Apstolo. Por ela sabemos que eleresidia em feso. Westcott cita Jernimo como dizendo de Joo que em feso,quando j estava velho e s com muita dificuldade podia ser levado igreja nosbraos dos seus discpulos, e incapaz de proferir muitas palavras, costumava nodizer nada mais nas reunies seno: Filhinhos, amai-vos uns aos outros.Finalmente, os discpulos e pais da igreja presentes, cansados de ouvir sempre asmesmas palavaras, perguntaram: Mestre, porque diz sempre o mesmo? E omandamento do Senhor, e se s isso for feito, suficiente, foi a sua resposta-

    J que o apstolo vinha da Galilia e descendia de judeus, o seu backgrounddava-lhe uma preparao para entender e interpretar a vida, ensinos, ministrio,morte e ressurreio de Jesus tanto sob um ponto de vista judeu como helenista.

    C. DATA

    As estimativas quanto data em que o livro foi escrito tm variado desde osmeados do primeiro sculo aos meados do segundo. Os que no levam em contaa autoria Joanina tendem a favorecer a segunda data. Algumas opinies eruditasargumentam a favor da primeira data com base em achados arqueolgicos dacolnia grega de Pella. Contudo, tanto a evidncia interna como a externa soconsistentes com uma data de cerca do A.D. 95.

    D. PROPSITO

    O propsito do autor est claramente declarado em 20:30-31: Jesus pois operoutambm em presena de seus discpulos muitos outros sinais, que no estoescritos neste livro. Estes, porm, foram escritos para que, crendo, tenhais vidaem seu nome. Para entender melhor esta declarao, precisamos de analisar assuas ideias principais.

    1. Os Milagres (Sinais)

    A palavra grega usada aqui semeion. No seu sentido clssico significa: (a)uma marca, sinal ou peculiaridade pela qual algum conhecido; uma pista oupegada; (b) um sinal dos deuses, algo sobrenatural; (c) um sinal para se fazeralgo; um sinal para a batalha. No Grego Koine (usado correntemente pelopovo), a palavra veio a significar milagre ou maravilha, assim como sinal.A Verso do Rei Tiago traduz a palavra quatro vezes por sinal e treze vezes pormilagre. Da maneira como usada na declarao de Joo, a palavra invocaduas ideias. evidente que se refere aos milagres realizados por Jesus, algunsdos quais esto registados exclusivamente no quarto evangelho. Mas tambmd uma pista para a resposta pergunta: Porque registou ele esses milagrescomo sendo sinais? Traduzido literalmente, a resposta : Para que creais queJesus o Cristo, o Filho de Deus. Joo viu os milagres de Jesus como sinais paraagir, e a f a aco desejada.

    2. F

    A palavra f (pistis) no aparece no Evangelho de Joo. Mas o verbo crer(pisteuo) usado noventa e quatro vezes sob diversas formas. uma palavrachave neste evangelho. A f um acto que representa uma resposta total e

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    pessoal quele que Deus enviou, a Palavra encarnada. Segundo L. H. Marsall, af tem trs elementos claramente distintos: crena, confiana e lealdade. Assimcomo a plvora no plvora se qualquer dos seus trs elementos carbono,nitrato de potssio e enxofre faltarem, assim a f s genuna se todos os seuselementos estiverem presentes. Um excelente exemplo disso encontra-se emJoo 11.

    3. Jesus o CristoTanto o produto como o objecto da f esto fundidos num s. O produto de umaf real uma compreenso correcta do facto histrico da vinda do Messiasatravs da Encarnao. Mas a f atinge o seu ponto mais alto quando o seuObjecto Jesus, o Cristo, o Filho de Deus.

    Tanto pela seleco que fez como pela sequncia dos eventos e ensinos, Jooplaneou o que escreveu com um propsito, para mostrar que o Logos de Deus, aPalavra Encarnada, a realizao completa e final de tudo que havia sido preditona lei e nos profetas. Embora Joo no registe a declarao de Jesus a esterespeito, ele demonstra, pela seleco cuidadosa dos sinais, que Jesus veio nopara destruir a lei e os profetas, mas para os cumprir.

    4. Vida

    A palavra vida (zoe) usada 36 vezes. Dezassete vezes usada com o adjectivoeterno (aionios), mas sem qualquer mudana evidente de sentido. Alm disso, overbo viver (zen) ocorre desasseis vezes, e em outras trs usa-sezoopoiein, quesignifica vivificar. Portanto evidente que vida um tema pricipal do quartoevangelho. Na forma substantiva o termozoe definido por Arndt e Gingrichcomo significando vida no sentido fsico, um meio de sustento ousobrevivncia. Tambm significa a vida dos crentes, a qual procede de Deus eCristo, e se refere vida da graa e santidade. . . Especialmente no uso queJoo faz dele, o conceitozoe copiosamente empregue, como regra, paradesignar o resultado da f em Cristo; em muitos casos declara-se expressamenteque o seguidor de Jesus possui vida mesmo neste mundo. Em muitas passagensa palavra vida (zoe) usada como sinnimo de vida eterna (zoe aionios). V-se,assim, que o propsito de Joo ao escrever que o leitor, por alcanar f, possatornar-se o recipiente da vida eterna, uma vida presente de graa e santidade.

    E. PALAVRAS CHAVES

    O simbolismo e as imagens do Evangelho esto providos de contrastes vvidos.Um deles luz e trevas (1:5). A palavra luz (phos) aparece 21 vezes e trevas

    (skotia), 6 vezes. Jesus a Luz (8:12), e Ele pode dissipar as trevas (1:5), asquais representam o mal em todas as suas formas, tanto no sentido individualcomo csmico. H uma garantia de que finalmente no propsito e tempo deDeus tudo o que a luz representa triunfar, e que tudo o que as trevas significamser removido e vencido (cf. Apo. 20:10). evidente que o autor pretendiaescrever contra o ensino gnstico. Este compunha-se de uma doutrina filosficade dualismo metafsico entre a luz e as trevas, mas sem garantia de que o triunfofinal seria de Deus e da rectido.

    Outro grupo de palavras importantes verdade e testemunha. Jesus disseperante Pilatos: Eu para isso vim ao mundo, para dar testemunho da verdade(18:37). A palavra verdade (aletheia) ou seus derivados usada 49 vezes,enquanto que a palavra testemunha, muitas vezes no mesmo contexto que apalavraverdade, usada 42 vezes. O prprio Jesus a Verdade de Deusmanifesta em carne, uma Testemunha verdadeira (3:33), pois Ele mesmo a

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    Verdade (14:6). E h aqueles que do testemunho de Jesus: o Pai (5:37); oprprio testemunho de Jesus a respeito de Si mesmo (8:14); o testemunho deJoo Baptista (1:15); o testemunho das obras ou sinais de Jesus (10:25); asEscrituras (5:39-40); os discpulos (15:27; 21:24); o Esprito (15:26; 16:14).

    Vida e juzo (krisis) tambm representam ideias chaves. A palavra vida jfoi discutida acima. Assim como usada com o adjectivo eterno, com umagrande riqueza de sentido, tambm usada em contraste com julgamento oumorte. A palavra juzo, no sentido de condenao, usada 26 vezes e retrataconsistentemente a condio presente daqueles que tm recusado crer (3:18-19)nAquele que a Luz (9:39-41). A vinda da Luz constitui o julgamento final dopecado e da morte (16:8-11).

    PARA O ALUNO

    A. Leia o livro duma s vez.

    B. Durante a leitura, d um ttulo descritivo a cada captulo. Uma palavra ouduas devem bastar.

    C. Considere os seguintes pontos durante a leitura:1. Qual foi o propsito do autor?

    2. Por que acha que o Evangelho de Joo usado tanto para apresentarJesus a pessoas que no O conhecem?

    3. Os trs primeiros evangelhos so chamados Sinpticos, Joo ficaparte, Porqu?

    4. A quem foi escrito o livro?

    5. Quantas parbolas encontrou no livro?

    6. Qual a localidade principal mencionada no livro? Como isto diferentedos outros evangelhos?

    7. Qual o assunto principal das mensagens de Jesus que encontramos nesteevangelho?

    8. Que que sabemos do autor pelo estudo deste livro?

    ANLISE GERAL DO EVANGELHO DE SO JOO

    (G. Campbell Morgan)

    Joo foi um mstico em todo o sentido da palavra. Cnscio ao mesmo tempo dascoisas palpveis e daquele vasto reino espiritual, junto do qual o material uma

    manifestao parcial e transitria, ele entrou em comunho com o que havia demais profundo na Pessoa do seu Senhor. Abrindo o Evangelho Segundo So Joo,somos logo impelidos adorao. A mesma Personalidade que nos foiapresentada nos outros evangelhos apresenta-Se neste livro. Do princpio,porm, tomamos conscincia duma nova assero da parte do escritor, e umanova qualidade acerca da Pessoa descrita. medida que procedemos,descobrimos que a diferena consiste numa explicao, um esclarecimento. Arevelao deste evangelho a de Deus revelado na carne. A diviso central quetrata disso introduzida por outra mais breve, mas cheia de significado,mostrando como a Palavra chegou das condies eternas para as do tempo esentido humanos; e seguida por outra diviso que apresenta as novascondies eternas que surgiram da Presena da Palavra encarnada na histriahumana. Estas divises podem ser designadas Da Eternidade (1:1-18), DeusRevelado (1:19-19:42) e Para a Eternidade (20:1-21:25).

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    A. DA ETERNIDADE

    No estudo desta diviso necessrio que o primeiro e o dcimo-quarto versculossejam lidos em conjunto. O primeiro declara a existncia eterna da Palavra; odcimo-quarto declara o facto da Sua revelao temporal. Em cada declaraoh trs partes, as do primeiro versculo sendo relacionadas directamente com asdo dcimo-quarto.

    Entre os dois versculos a glria da Palavra tratada com referncia aosprocessos vrios da relao de Deus com a humanidade. Toda a criao procededEle. Toda a vida dEle derivada, e a luz interior da humanidade foi sempre aSua luz brilhando na conscincia da raa.

    A seguir a este pargrafo, o evangelista registou o testemunho duplo de Joo oprofeta e Joo o apstolo, respectivamente com mensagens de esperana e derealizao. O versculo seguinte anuncia quem o evangelista, e a chave detudo que se segue. A necessidade evidente do homem duma viso de Deus.Isto lhe falta. -lhe dada atravs do Filho, que fala do seio do Pai.

    B. DEUS REVELADOA diviso principal do evangelho trata da Palavra como a revelao de Deus notempo. Tem trs seces: revelao ao mundo, revelao para os Seus,revelao pela cruz.

    A revelao ao mundo introduzida por um prlogo apresentando um relato doministrio de Joo Baptista e a escolha dos primeiros discpulos de Jesus. Emresposta pergunta dos chefes, o arauto dirigiu a sua ateno para um Outro,identificando-O como o Cordeiro de Deus, descrio que, para ser bem apreciada,tem de ser ouvida por um ouvido oriental. Cordeiro sugere sacrifcio, e isto foirealado pela frase, que tira o pecado do mundo.

    Segue-se imediatamente o relato da escolha dos primeiros discpulos. Vemoshomens encontrando Aquele pelo Qual todos os homens esperam. Buscavam oMessias, e descobrem que Ele j os encontrou.

    Aproximamo-nos agora da Sua revelao real ao mundo. Joo juntou algunssinais e maravilhas para uma demonstrao mais formal. Este conjunto estcheio de beleza artstica e espiritual. Os assuntos tratados so a luz e a vida, eprocedem num crculo interessante. O primeiro sinal foi o da Vida no Seu podercriador, exercido em Can quando transformou a gua em vinho. Foi seguido pormaravilhas em Jerusalm, sobre a adorao: primeiro purificando o templo, a

    casa de Deus, e defendendo o interesse dos adoradores gentios que tinham sidoexcludos pelo trfico estabelecido no seu ptio; e depois instruindo um homemhonesto, sincero e inquiridor, quanto ao significado mais profundo do Reino deDeus e a possibilidade de nele entrar.

    Depois deste primeiro sinal e maravilha em Jerusalm, o evangelista introduz otestemunho duplo de Joo o profeta, e de si prprio, Joo o apstolo. O primeirofoi a ltima voz da antiga dispensao e constituiu uma retirada digna dosprofetas, culminando na declarao Importa que ele cresa e que eu diminua.O segundo consistiu numa declarao da nova dispensao, uma procissotriunfal que termina com a declarao: Aquele que cr no Filho tem a vidaeterna; mas aquele que no cr no Filho no ver a vida, mas a ira de Deussobre Ele permanece. Ento, a fechar o crculo e voltando ao ponto de partida,regista a maravilha da Luz iluminando espiritualmente uma mulher samaritana, ea instruo quanto ao significado profundo da adorao; regressando a Can,

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    regista o segundo sinal, que revela a Vida operando na restaurao de um jovem.E enquanto que na primeira diviso foram realadas as relaes csmicas deCristo, na introduo Sua revelao ao mundo d-se nfase Sua relao coma vida humana.

    As demonstraes mais formais consistem num conjunto de obras e palavras quemostram a Palavra (Verbo) revelando Deus na vida, luz e amor. A revelao davida trplice. Primeiro demostrada como tendo a sua origem em Deus, tendocomo mediador Cristo, Seu Filho, que a Palavra (Verbo). Isto demonstradopela cura do paraltico de Betesda. No dia de Sbado Jesus curou um homem quepor trinta e oito anos tinha jazido nas garras da enfermidade. Esta aco foi logoseguida de controvrsia, no curso da qual Cristo reivindicou que o Seu acto decura fora de colaborao com o Pai, cujo Sbado fora violado pelo pecado dohomem. Esta reivindicao iniciou a oposio, pois Ele Se fazia igual a Deus. Nodiscurso que resultou desta crtica Jesus levou a controvrsia para um plano maiselevado, declarando que o Seu direito de operar este milagre no Sbado provinhada comunho com o Pai, a Fonte de toda a vida. Os versculos chaves so 21 e

    26.Depois Joo regista o quarto e o quinto sinais: Jesus dando de comer multidoe apaziguando o temporal ao atravessar o mar com os discpulos. O resultado domilagre da multiplicao dos pes foi o grande discurso acerca do po da vida.Nele Jesus exorta contra a ansiedade pelas coisas materiais e declara-Se o Poda vida que desceu do cu, o qual necessrio para a vida eterna. O acalmar dotemporal foi um sinal dado exclusivamente aos discpulos e numa hora em queprovavelmente estariam perplexos e desapontados: Ele no permitira que,devido ao seu poder para alimentar as multides com o po material, poraclamao popular O coroassem rei. Mostrou que tinha poder sobre a natureza.

    A reivindicao de ser o Po da vida deu origem a perplexidade tanto da partedos Judeus como dos discpulos; e Cristo lidou com as dificuldades apresentadas,cada uma por sua vez. O ensino foi to elevado que at alguns discpulos oacharam demasiado duro e voltaram para trs, para nunca mais O seguirem.

    Na seco seguinte a Palavra revelada como a satisfao para a vida. Adeclarao central o convite de Cristo no ltimo dia da Festa dos Tabernculos,no qual Ele desafiou todas as necessidades humanas tipificadas pela sede, edeclarou-Se capaz de as satisfazer perfeitamente. O efeito desta revelao v-senas contendas e divises que resultaram do Seu ensinamento. Atravs de tudoisto o tema desenvolvido enquanto Jesus responde s perguntas e corrige asincompreenses.

    A seguir o registo trata da Palavra como luz. Esta seco introduzida por umpargrafo que universalmente se cr ter sido acrescentado por uma moposterior de Joo. No discurso, Jesus reivindicou ser a Luz, mantendo essareivindicao na controvrsia que se seguiu. E tal reivindicao ilustrada pelacura do cego de nascena, pois repetida antes desse milagre. O dom da vistafoi em si simblico da misso da Palavra na escurido da incredulidade humana.Toda a controvrsia subsequente girou volta da mesma ideia; e o testemunhodo homem curado uma ilustrao notvel da vida espiritual iluminada pelaPalavra.

    Finalmente, na demonstrao formal temos a revelao do amor. H umarelao ntima entre o assunto desta seco e o da seco anterior. Naquela, umhomem fora excomungado pelos chefes dos Judeus por dar testemunho do que

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    Cristo lhe fizera. E, tendo sido excomungado, Cristo o recebeu e aceitou a suaadorao. Regista-se ento o discurso acerca da nova comunidade de crentes. Ena revelao suprema do Seu amor Jesus apresenta-Se na figura terna do Pastorque d a vida pelas ovelhas: primeiro a morte, pela qual as livra do lobodevorador; e depois o mistrio infinito pelo qual Ele retoma a vida e lhascomunica. A expresso mais sublime do amor encontra-se neste ensino, e a

    declarao suprema acerca da natureza de Deus foi de que o Pai O amou porqueEle entregou a Sua vida para depois tornar a tom-la. Este ensinamento foi,naturalmente, seguido de mais controvrsia. E Jesus declarou que para aquelesque O no conheciam as Suas obras eram o Seu argumento final.

    Joo ento regista o stimo e ltimo dos sinais . Contm todos os elementos deamor, luz e vida; e o seu apelo profundo, j que essas essncias divinas sovistas em relao aos indivduos e vida familiar. O amor declarado no meiode circunstncias que o parecem contradizer. Na casa em Betnia, um familiar,mais concretamente um irmo, jazia com uma doena fatal. E embora Jesus notivesse respondido prontamente ao apelo, o Seu amor revelado. Enquanto Se

    encaminha com os discpulos para a cena de tristeza, falam acerca da luz. E,finalmente, junto cova de Lzaro, a Vida teve a Sua revelao mais notvel,levantando Lzaro e declarando-Se a ressurreio e a vida.

    A seco que trata da Sua revelao ao mundo termina com um eplogo queagrupa numa srie de movimentos os resultados do Seu ministrio. Os efeitossobre os inimigos visto nos planos tecidos pelos sacerdotes e na Suaincapacidade de andar abertamente entre os Judeus. Os efeitos sobre os amigosso vistos na maneira como se agruparam Sua volta, e na uno de Maria. Oefeito geral no Seu povo, os Judeus, revela-se na curiosidade que os obrigou acongregar-se para ver Lzaro, e o facto de que muitos creram nEle; e,

    finalmente, na aclamao popular enquanto Ele entrava na cidade hostil deJerusalm. Ainda mais, o interesse dos gentios comeava a sentir-se, pois osgregos chegaram para O ver, e Ele revelou ser necessrio que tambm eles Oencontrem por via da Cruz. Estes resultados so seguidos por um sumrio emque Joo regista os efeitos gerais da revelao ao mundo. Por um lado aincredulidade cega que cumpria a palavra dita por Isaas; e por outro lado aincredulidade medrosa da parte de muitos que amavam a glria dos homensmais do que a glria de Deus. Assim o eplogo se liga ao prlogo. Ento vem oque possivelmente foi o ltimo apelo pblico de Jesus.

    O segundo movimento da revelao de Deus pela Palavra agora comea. Nelevm registadas as obras e as palavras pelas quais Jesus trata exclusivamentecom os Seus. As revelaes essenciais so as mesmas, mas agora so feitasquele crculo ntimo de crentes que so capazes de compreender maisperfeitamente a revelao divina e, portanto, descer a uma maior profundidade.

    A primeira seco a revelao primordial do Seu amor. Tomou a forma dumacto supremo de servio humilde. Jesus ps de lado as Suas vestes e cingiu-Sede uma toalha quer dizer, adoptou o emblema de escravo. Isto foi umarevelao maravilhosa do amor de Deus expressando-se em termos de servio.Seguidamente Ele deu aos discpulos instrues acerca da unio perfeita queexistia entre Ele e eles, baseada no amor e expressa no servio mtuo. Entodeu-se a excluso de Judas, um acto solene. E o amor passou a falar-lhes em

    termos calculados para os ajudar, visto que estava prestes a deix-los. Odiscurso foi interrompido trs vezes pelas perguntas de alguns discpulos.

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    A seco seguinte trata principalmente da luz, como esta seria concedida pelavinda do Paracleto, quando a Palavra j tivesse terminado a Sua obra. O dom doEsprito seria concedido pelo Pai em resposta intercesso de Cristo; e o seuofcio seria interpretar as coisas do Senhor. Assim, com a partida de Jesus, osdiscpulos haveriam de receber uma nova luz bem como uma nova infuso deamor.

    O ltimo destes discursos trata da vida. Quando tratou do amor, Ele falou de SiPrprio; quando tratou da luz, Ele falou do Esprito; agora, tratando da vida, Elefala novamente de Si Prprio aperfeioado nos Seus pelo Esprito. A nova unio ilustrada pela figura da videira, e Ele d nfase s condies pelas quais osdiscpulos haveriam de se tornar frutferos. Depois Ele fala sobre orelacionamento dos discpulos com a Sua Pessoa, entre si e com o mundo. Pelalei do amor teriam comunho com Ele no sofrimento, e com o Esprito aotestificarem dEle. Isto conduziu a uma declarao do trabalho do Esprito nomundo; e consequentemente da obra do Esprito em equipar os discpulos para arealizao do Seu trabalho depois da Sua partida. Estes discursos finais

    terminaram com uma declarao terna de que a tristeza causada pela Suapartida seria em breve transformada em alegria; um sumrio do significado daSua misso; e uma palavra final de aviso.

    A seguir aos discursos, temos a grande orao sacerdotal. Isto tambm segue alinha trplice da vida, luz e amor. O facto essencial da vida desenrola-se quandoEle fala da Sua relao com o Pai, e faz a Sua prpria petio. A luz revela-se aomencionar a Sua relao com os homens de que Se rodeara, e ora por eles. Oamor evidenciado pela orao pela Igreja, vibrando tambm de cuidado pelomundo. Orou pela unidade dos Seus, para que o mundo pudesse crer e Opudesse conhecer; e pela sua perfeio final, para estarem com Ele e

    observarem a Sua glria no porvir.O movimento final da revelao de Deus atravs da Palavra gira volta da cruz., em primeiro lugar, uma descoberta do amor abandonado, mas ainda