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Endereço para correspondência: Av. Augusto de Lima, 1715, Belo Horizonte-MG. CEP: 30190-002 E-mail: [email protected] 239 Cost of Public Hospitalization Among Elderly in Brazil´s Unified Health System Custo das internações hospitalares entre idosos brasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde* Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar os custos de internações hospitalares entre idosos (60 ou mais anos de idade) brasileiros em 2001, segundo sexo, faixa etária, macrorregião de residência e diagnóstico principal da internação, assim como comparar essas informações com o observado entre adultos mais jovens (20-59 anos). Foram utilizados dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). Os idosos representavam 14,3% da população adulta e contribuíram com 33,5% das internações hospitalares dessa população e 37,7% dos recursos pagos pelas mesmas. O custo médio de internações foi maior na Região Sudeste e menor na Região Norte, ressaltando os diferenciais inter-regionais. Esses resultados mostram a grande contribuição da população idosa para os gastos com hospitalizações no âmbito do SUS, destacando- se as doenças isquêmicas do coração, a insuficiência cardíaca e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Esse perfil reforça a necessidade de atividades de prevenção e promoção da saúde para a redução dessas doenças. Palavras-chave: envelhecimento; internações hospitalares; custos hospitalares. Summary The objective of this work was to examine the costs of hospitalization among older adults (60 years or more) and y ounger adults (20-59 years) in Brazil during 2001, according to sex, age group, region and diagnosis, as well as to comparate this information to that for younger adults (20-59 years). Data were obtained from Brazil·s system of hospital information in the national Unified Health System (SIH-SUS). Older adults represented 14.3% of the adult population, but were responsible for 33.5% of adults hospitalizations, and 37.7% of public expenditures for these hospitalizations. The mean cost of hospitalization, higher in the southeastern region of Brazil, and lower in the north, highlights regional differences. These results show the important contribution of the elderly to public hospital expenditures with leading causes including ischemic heart disease, heart failure and chronic obstructive pulmonary diseases. These results reinforce the need of prevention and health promotion activities for the reduction of these diseases. Key-words: aging; hospitalizations; hospital costs. * Artigo desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (Nespe), da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, na qualidade de centro colaborador em saúde do idoso junto à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O estudo contou com o apoio de recursos do Projeto Vigisus. [Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004; 13(4) : 239 - 246 ARTIGO ORIGINAL Maria Fernanda Lima-Costa Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG Luana Giatti Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG Maria Elmira Afradique Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG Sérgio Viana Peixoto Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG

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Endereço para correspondência:Av. Augusto de Lima, 1715, Belo Horizonte-MG. CEP: 30190-002E-mail: [email protected]

239

Cost of Public Hospitalization Among Elderly in Brazil´s Unified Health System

Custo das internações hospitalares entre idososbrasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde*

Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar os custos de internações hospitalares entre idosos (60 ou mais anos de idade)brasileiros em 2001, segundo sexo, faixa etária, macrorregião de residência e diagnóstico principal da internação, assim comocomparar essas informações com o observado entre adultos mais jovens (20-59 anos). Foram utilizados dados do Sistema deInformações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). Os idosos representavam 14,3% da população adulta econtribuíram com 33,5% das internações hospitalares dessa população e 37,7% dos recursos pagos pelas mesmas. O customédio de internações foi maior na Região Sudeste e menor na Região Norte, ressaltando os diferenciais inter-regionais. Essesresultados mostram a grande contribuição da população idosa para os gastos com hospitalizações no âmbito do SUS, destacando-se as doenças isquêmicas do coração, a insuficiência cardíaca e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Esse perfilreforça a necessidade de atividades de prevenção e promoção da saúde para a redução dessas doenças.

Palavras-chave: envelhecimento; internações hospitalares; custos hospitalares.

Summary

The objective of this work was to examine the costs of hospitalization among older adults (60 years or more) andyounger adults (20-59 years) in Brazil during 2001, according to sex, age group, region and diagnosis, as well as tocomparate this information to that for younger adults (20-59 years). Data were obtained from Brazils system ofhospital information in the national Unified Health System (SIH-SUS). Older adults represented 14.3% of the adultpopulation, but were responsible for 33.5% of adults hospitalizations, and 37.7% of public expenditures for thesehospitalizations. The mean cost of hospitalization, higher in the southeastern region of Brazil, and lower in the north,highlights regional differences. These results show the important contribution of the elderly to public hospitalexpenditures with leading causes including ischemic heart disease, heart failure and chronic obstructive pulmonarydiseases. These results reinforce the need of prevention and health promotion activities for the reduction of thesediseases.

Key-words: aging; hospitalizations; hospital costs.

* Artigo desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (Nespe), da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, na qualidade de centro colaborador em saúde do idoso junto à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O estudo contou com o apoio de recursos do Projeto Vigisus.

[Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004; 13(4) : 239 - 246

ARTIGO

ORIGINAL

Maria Fernanda Lima-CostaNúcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG

Luana GiattiNúcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG

Maria Elmira AfradiqueNúcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG

Sérgio Viana PeixotoNúcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG

240 ● Volume 13 - Nº 4 - out/dez de 2004 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Custo das internações hospitalares entre idosos brasileiros

Introdução

O rápido aumento da população idosa, como ob-servado no Brasil, resulta em uma demanda cada vezmaior por serviços de saúde,1 trazendo para estes im-portantes repercussões econômicas. A análise dosgastos com cuidados médicos da população idosa écomum em outros países,2-4 mas rara no Brasil. Osestudos brasileiros sobre custos de internações hos-pitalares são, geralmente, direcionados para a avalia-ção do impacto econômico de causas selecionadas,como doenças isquêmicas do coração5 e causas ex-ternas de morbidade.6-8

As taxas de internações hospitalares e a duraçãodas internações aumentam com a idade. Nos Esta-dos Unidos da América (EUA), no ano de 1996, osadultos com 65 anos ou mais de idade representa-vam 13% da população. Esse grupo foi responsávelpor 38% das internações hospitalares e por 48% dototal de dias de internações em hospitais de curtapermanência. Durante esse período, ocorreram 11,7milhões de hospitalizações entre idosos americanos.9

Em outro estudo realizado no mesmo país, no anode 1999, as taxas de hospitalizações entre idososaumentaram com a idade, bem como com o aumen-to do número de condições crônicas. Os indivíduosque apresentavam uma ou mais condições crônicas(82%) eram responsáveis por 99% dos gastos comsaúde.4

No Brasil, em 1996, 15,8% do total dehospitalizações no âmbito do Sistema Único de Saúde(SUS) – autorização de internação hospitalar (AIH)de tipo 1 –, correspondentes a 1,5 milhão deinternações, ocorreram entre pessoas com 60 ou maisanos de idade, com um gasto de 659 milhões de dóla-res americanos. Naquele ano, os idosos representa-ram 7,9% da população do país, mas consumiram27,2% do total gasto com internações hospitalarespúblicas: uma razão entre proporção de gastos e pro-porção de idosos na população total igual a 2,9 (22,9/7,9). Essa razão aumentou com a idade: 2,3 (10,8/4,6) na faixa etária de 60-69 anos; 3,4 (8,1/2,4) na de70-79 anos; e 4,3 (3,9/0,9) na faixa de 80 ou maisanos de idade.10

O Sistema de Informações Hospitalares do SistemaÚnico de Saúde (SIH-SUS) permite determinar o per-fil de hospitalizações da população idosa brasileira no

âmbito do SUS, bem como os custos corresponden-tes. Apesar de suas limitações, os dados produzidospelo SIH-SUS são de fácil acesso, são disponibilizadosrapidamente e abrangem todo o país. A análise dosgrandes bancos de dados existentes, sobretudo empaíses com recursos financeiros escassos e maior de-manda da população por serviços públicos de saúde,pode estimular uma discussão acerca dos custos e domodelo de saúde vigente, complementando as infor-mações epidemiológicas.

O principal objetivo deste trabalho foi verificar adistribuição do número de hospitalizações entre ido-sos pelo SUS em 2001, e custos correspondentes, se-gundo o sexo, a faixa etária, a macrorregião de resi-dência e o diagnóstico que justificou a internação, com-parando essas informações com as mesmas informa-ções observadas entre adultos mais jovens (20-59anos). Um objetivo complementar do estudo foi veri-ficar as tendências, entre 1997 e 2001, nas distribui-ções proporcionais dos recursos pagos pelo SUS, se-gundo o diagnóstico que justificou a internação.

Metodologia

Este trabalho utilizou a base de dados do Sistemade Informações Hospitalares (SIH-SUS) para o Brasil,correspondente aos anos de 1997, 1999 e 2001,11-13

e a estimativa populacional para o ano de 2001.14

A unidade de observação do SIH-SUS é a autoriza-ção de internação hospitalar ou AIH – um resumo daalta do paciente –, preenchida para cada internaçãorealizada em hospitais conveniados ao SUS, para finsde reembolso financeiro. Existem dois tipos de autori-zação de internação hospitalar: a AIH de tipo 1, emiti-da no início da internação do paciente; e a AIH de tipo5, ou de continuidade, utilizada quando a internaçãose prolonga mais além do tempo previsto para a AIHde tipo 1. Na maioria das vezes, os registros da AIH detipo 5 não contêm informações sobre idade e sexo dopaciente, dificultando a sua análise.

No presente trabalho, utilizou-se a AIH de tipo1, excluindo-se as internações por parto (normal ecesariana) para mulheres de 20 a 59 anos. Entreidosos, as internações e os custos corresponden-tes às AIH de tipo 5 foram utilizados somente paraverificar o impacto da exclusão dessas internaçõesna análise dos dados. As informações utilizadas re-

Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 13 - Nº 4 - out/dez de 2004 ● 241

Sérgio Viana Peixoto e colaboradores

lativas às AIH 1 foram: custo da internação; sexo;faixa etária (20-59, 60-69, 70-79 e 80 ou mais anosde idade); região de residência; e diagnóstico prin-cipal que justificou a internação, segundo os capí-tulos da Classificação Internacional de Doenças(CID 10),15 além de algumas causas selecionadasde internação, de acordo com a lista especial demorbidade da CID 10.

Foram considerados os grandes grupos de cau-sas, assim como diagnósticos por causas selecionadas.Entre as últimas, incluem-se: insuficiência cardíaca,doenças isquêmicas do coração; doenças cerebro-vasculares; acidentes vasculares cerebrais (AVC)isquêmicos transitórios; hipertensão e doençahipertensiva; pneumonias; fratura do fêmur e outrasfraturas; bronquites/enfisema e outras doenças pul-monares obstrutivas crônicas; artrite reumatóide eoutras; artrose; dorsalgias; diabetes mellitus; desnu-trição; asma; doenças renais túbulo-intersticiais;hiperplasia e outros transtornos da próstata; septice-mias; e doenças infecciosas intestinais. Essa lista foiparcialmente elaborada, para efeitos de comparação,a partir das principais causas de internações hospita-lares entre a população idosa brasileira e das princi-pais causas de internações hospitalares entre idososamericanos.9

A Tabela 1 mostra o número de habitantes, o nú-mero de internações hospitalares no âmbito do Siste-ma Único de Saúde, os custos e a razão custo/habitan-te para o Brasil no ano 2001, segundo a faixa etária esexo. Os idosos representavam 14,3% da populaçãoadulta brasileira, contribuindo para 33,5% dasinternações e 37,7% dos recursos pagos por elas, sen-do essas proporções razoavelmente semelhantes en-tre os sexos. A razão entre a proporção dos recursospagos para as internações hospitalares e o tamanhoproporcional da população aumenta gradualmentecom a idade, em homens e mulheres. Essa razão foiigual a 2,8 para homens idosos, 2,5 para mulheresidosas e 2,6 para idosos de ambos os sexos. Quandoesses dados são estratificados pela faixa etária, verifi-ca-se que a razão custo/habitante aumenta de formaacentuada com a idade: 0,7 na faixa de 20-59 anos;2,2 na de 60-69; 3,1 na de 70-79; e 3,7 na faixa de80+ anos de idade.

Na Tabela 2, são apresentados os números epercentuais correspondentes de internações hospita-lares no âmbito do Sistema Único de Saúde, no ano de2001, os recursos pagos e o seu custo médio, segun-do a faixa etária e a macrorregião de residência. Ob-serva-se que a Região Sudeste contribuiu com a maiorproporção de internações hospitalares e recursospagos, correspondendo a, aproximadamente, 40% dototal do país, tanto para a população adulta quantopara a idosa. Após a Região Sudeste, as regiões Nor-deste e Sul contribuíram para os maiores percentuaisde internação e recursos pagos para as duas faixasetárias estudadas. O custo médio da internação foimaior para a população idosa, comparado ao valorda população de 20 a 59 anos, para todas asmacrorregiões do país, destacando-se o Sudeste e oSul, que apresentaram o maior custo médio deinternação.

A Tabela 3 mostra a distribuição proporcional dasinternações hospitalares pelo Sistema Único de Saú-de, e custos correspondentes, segundo causasselecionadas e faixa etária. As causas mais freqüentesde internações na população de 20 a 59 anos, nestaordem, foram pneumonia, doenças infecciosas intes-tinais e insuficiência cardíaca. Na população idosa, asprincipais causas foram insuficiência cardíaca, bron-quite/enfisema e outras doenças pulmonaresobstrutivas crônicas e pneumonia. Os maiores gastos

Resultados

No ano de 2001, ocorreram 2.153.094internações (AIH de tipo 1) entre idosos brasileiros,no âmbito do SUS. Dessas internações, 1.067.214(49,6%) correspondiam ao sexo masculino e1.085.880 (50,4%) ao sexo feminino, e a soma derecursos pagos para todas essas AIH foi de R$1.140.167.000. Acrescentando-se as AIH de tipo 5 aesses números, verifica-se que o número deinternações entre idosos eleva-se para 2.237.923; eos recursos pagos, para cerca de 1,2 bilhão de reais,correspondendo a um aumento de 3,8% e 6,2%, res-pectivamente.

A razão custo de hospitalizações/tamanho da população aumentacom a idade.

242 ● Volume 13 - Nº 4 - out/dez de 2004 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Tabela 1 - Habitantes, internações hospitalares, recursos pagos e razão custo/habitante no âmbito do SistemaÚnico de Saúde, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2001

Faixa etária (anos)Número

Habitantes

% Número

Internações

%%%% Valor %

Razão custo/habitante

Recursos pagos(R$ 1.000,00)

Homens20-5960-6970-7980+60+

Subtotal

Mulheres20-5960-6970-7980+60+

Subtotal

Homens e mulheres20-5960-6970-7980+

Subtotal de 60+

TOTAL

43.172.9783.842.5062.034.805

739.9376.617.248

49.790.226

45.223.2124.446.8232.543.5241.114.2378.104.584

53.327.796

88.396.1908.289.3294.578.3291.854.174

14.721.832

103.118.022

86,77,74,11,5

13,3100,0

84,88,34,82,1

15,2100,0

85,78,04,41,8

14,3

100,0

1.902.081475.990394.246196.978

1.067.2142.969.295

2.370.687454.865392.471238.544

1.085.8803.456.567

4.272.768930.855786.717435.522

2.153.094

6.425.862

64,116,013,3

6,635,9

100,0

68,613,211,3

6,931,4

100,0

66,514,512,2

6,8

33,5

100,0

998.805286.790217.262

92.211596.263

1.595.068

884.919235.184197.330111.390543.904

1.428.823

1.883.724521.974414.592203.601

1.140.167

3.023.891

62,618,013,6

5,837,4

100,0

61,916,513,8

7,838,1

100,0

62,317,313,7

6,7

37,7

100,0

0,72,33,33,92,8

-----

0,72,02,93,72,5

-----

0,72,23,13,7

2,6

-----

a) Razão entre a proporção de custo e o tamanho proporcional da população

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS)

Tabela 2 - Internações hospitalares, recursos pagos e custo médio no âmbito do Sistema Único de Saúde, segundoa faixa etária e a macrorregião de residência. Brasil, 2001

Macrorregião

Número

Internações por faixa etária (anos)

%%%% Número

Recursos pagos(R$ 1.000,00) por faixa etária (anos)

%%%% Número %%

Custo médioa por faixaetária (anos) (R$ 1,00)

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

BRASIL

301.786

1.172.940

1.707.723

736.078

354.241

4.272.768

a) Razão entre recursos pagos e número de internações

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS)

7,1

27,4

40,0

17,2

8,3

100,0

95.309

547.353

893.904

462.014

154.514

2.153.094

4,4

25,4

41,5

21,5

7,2

100,0

95.108

429.550

839.905

374.057

145.104

1.883.724

5,1

22,8

44,6

19,9

7,7

100,0

37.272

228.659

535.016

264.349

74.871

1.140.167

3,3

20,0

46,9

23,2

6,6

100,0

315,2

366,2

491,8

508,2

409,6

440,9

391,1

417,8

598,5

572,2

484,6

529,5

Número %

20 - 59 60 + 20 - 59 60 +

60 +20 - 59

Custo das internações hospitalares entre idosos brasileiros

Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 13 - Nº 4 - out/dez de 2004 ● 243

Sérgio Viana Peixoto e colaboradores

do SUS em internações hospitalares de adultos na fai-xa de 20 a 59 anos de idade foram com doençasisquêmicas do coração (R$121 milhões), seguidosdaqueles com insuficiência cardíaca (R$64 milhões)e com pneumonia (R$46 milhões). Entre os idosos,os gastos mais expressivos foram para doençasisquêmicas do coração (R$147 milhões), insuficiên-cia cardíaca (R$133 milhões) e bronquite/enfisema eoutras doenças pulmonares obstrutivas crônicas(R$74 milhões). A distribuição dos recursos pagospelo SUS, segundo o diagnóstico principal dainternação, não apresentou diferenças expressivas en-tre os sexos, com exceção das doenças isquêmicas docoração, que apresentaram um custo maior para osexo masculino (R$87 milhões), comparado com ofeminino (R$60 milhões) (dados não mostrados).

Entre as causas de internação de idosos, acima men-cionadas, que representam maior custo para o SUS, aproporção de custos aumenta com a idade, com ex-ceção das doenças isquêmicas do coração, que apre-sentaram tendência oposta.

Na Tabela 4, encontra-se a distribuição proporci-onal dos custos das internações hospitalares pelo SUSentre idosos, de acordo com o grupo de causa quejustificou a internação nos anos de 1997, 1999 e 2001.Durante o período considerado, as doenças do apa-relho circulatório foram responsáveis pela maior pro-porção dos custos com internações hospitalares (38,3,37,5 e 39,3% em 1997, 1999 e 2001, respectivamen-te). A distribuição correspondente para doenças doaparelho respiratório foi de 16,4% em 1997, 15,4%em 1999 e 13,6% em 2001. As modificações verificadas

Tabela 3 -Distribuição proporcional das internações hospitalares e dos recursos pagos no âmbito do SistemaÚnico de Saúde, segundo a causa que justificou a internação e a faixa etária. Brasil, 2001

Causas selecionadasa

20 - 59 60+ 60 - 69

Proporção das internações hospitalares(%) por faixa etária (anos)

70 - 79 80+

Doenças isquêmicas do coraçãoInsuficiência cardíacaBronquite/enfisema e outras doenças pulmonaresobstrutivas crônicasDoenças cerebrovascularesPneumoniaFratura do fêmurArtroseDiabetes mellitusSepticemiasAVC isquêmicos transitóriosHiperplasia e outros transtornos da próstataHipertensão e doenças hipertensivasAsmaDoenças infecciosas intestinaisOutras fraturasDesnutriçãoDoenças renais túbulo-intersticiaisDorsalgiasArtrite reumatóide e outrasSubtotal das causas selecionadasTodas as outras causas

TOTAL

a) Causas selecionadas, listadas em ordem decrescente por proporção de recursos pagos para internações de idosos (60+ anos)

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS)

1,72,8

1,61,04,70,40,21,40,40,40,12,02,22,91,90,52,10,70,5

27,672,4

100,0

4,716,1

8,05,25,35,82,11,72,22,11,01,21,21,50,61,10,60,10,1

60,639,4

100,0

12,612,5

7,24,33,22,42,01,91,61,61,71,31,21,10,60,60,40,10,2

56,443,6

100,0

16,49,3

5,43,52,41,21,71,91,31,21,41,31,20,90,70,50,40,20,2

50,949,1

100,0

12,911,7

6,54,13,22,51,91,81,61,51,41,31,21,10,70,60,40,20,2

54,745,3

100,0

6,43,4

1,51,62,51,00,71,00,90,50,10,81,51,21,90,30,80,30,2

26,673,4

100,0

2,415,3

8,75,29,22,30,52,21,22,40,83,31,83,70,61,81,40,40,3

63,636,4

100,0

4,013,0

8,74,66,41,10,43,00,82,01,54,02,13,00,71,21,20,50,4

58,641,4

100,0

4,810,0

7,03,65,20,60,43,30,71,61,34,32,22,90,90,91,10,60,5

51,848,2

100,0

4,012,2

8,04,36,41,10,43,00,81,91,34,02,13,10,81,21,20,50,4

56,743,3

100,0

20 - 59 60+ 60 - 69 70 - 79 80+

Proporção dos recursos pagos (%)por faixa etária (anos)

244 ● Volume 13 - Nº 4 - out/dez de 2004 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

nesse período foram pouco expressivas, observando-se em 2001, comparativamente a 1997, uma maiorproporção dos gastos para doenças do aparelho di-gestivo e uma redução dessa proporção paraneoplasias e causas externas.

Discussão

Os resultados do presente trabalho mostraram quea razão custo de hospitalizações/ tamanho da popula-ção, no ano 2001, foi igual a 2,6 entre idosos. Essarazão aumentou gradualmente com a idade, verifican-do-se os valores extremos nas faixas etárias de 20-59(0,7) e 80+ anos de idade (3,7). As referidas razõesforam razoavelmente semelhantes às mesmas razõesobservadas para o Brasil em 199610 e para a popula-ção norte-americana em 1999.9

As diferenças dos recursos gastos pelo SUS cominternações hospitalares nas diferentes macrorregiõesbrasileiras no ano de 1991 mostraram maiores gastosnas regiões Sul e Sudeste e menor gasto na RegiãoNorte.16 Como era de se esperar, o custo médio dasinternações hospitalares foi maior entre idosos, emrelação à faixa etária inferior, nas cinco regiões brasi-leiras. Entretanto, esses custos variaram significativa-mente entre as macrorregiões, tendo sido maiores no

Sudeste e no Sul e menores no Norte, para ambos osgrupos etários. Essas distinções são explicadas, pro-vavelmente, por diferenças nas causas de internaçõese/ou complexidade tecnológica dos hospitais.

As doenças do aparelho circulatório e respirató-rio consumiram cerca de metade dos custos cominternações hospitalares de idosos brasileiros no anode 2001. Esse quadro é consistente com os resultadospublicados anteriormente, onde esses dois grupos decausas corresponderam a cerca de 50% dasinternações realizadas entre idosos.10 A distribuiçãoproporcional dos recursos pagos pelo SUS parainternações hospitalares foi, também, semelhante paraos anos de 1997 e 1999, sugerindo que esse perfilpossa permanecer estável, ao menos por algum tempo.

As cinco principais causas de internações entreidosos (insuficiência cardíaca, bronquite/enfisema eoutras doenças pulmonares obstrutivas crônicas, pneu-monia, doenças cerebrovasculares e doençasisquêmicas do coração) corresponderam a 38% dosgastos com internações hospitalares públicas dessapopulação. Chama a atenção o custo de internaçõespor doenças isquêmicas do coração. Essas doençasrepresentaram a quinta causa mais freqüente deinternações hospitalares (4,0%); entretanto, elas fo-ram responsáveis pelo maior custo proporcional

Diagnóstico principal

1997 1999 2001

abela 4 - Distribuição proporcional (%) dos recursos pagos para internações hospitalares entre idosos no âmbito doSistema Único de Saúde segundo o grupo de causa que justificou a internação. Brasil, 1997, 1999 e 2001

Doenças do aparelho circulatório

Doenças do aparelho respiratório

Doenças do aparelho digestivo

Doenças infecciosas e parasitárias

Doenças do aparelho geniturinário

Causas externas

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

Doenças do sistema nervoso

Transtornos mentais e comportamentais

Neoplasias

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo

Todos os outros grupos de causas

TOTAL

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS)

38,3

16,4

6,7

3,9

4,3

7,2

2,2

4,3

3,3

7,8

1,8

3,5

100,0

37,5

15,4

6,9

3,3

4,2

5,9

2,3

3,0

5,7

6,6

3,0

6,1

100,0

39,3

13,6

7,0

3,7

4,2

5,6

2,8

3,3

5,2

6,8

3,5

5,2

100,0

Custo das internações hospitalares entre idosos brasileiros

Ano

Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 13 - Nº 4 - out/dez de 2004 ● 245

Sérgio Viana Peixoto e colaboradores

(13%) entre todas as causas de internações hospitala-res consideradas neste trabalho. São resultados con-soantes com os observados em estudo recente,5 queconsiderou os dados das AIH entre a população brasi-leira com 15 ou mais anos de idade. Tal estudo mos-trou que o custo médio das doenças isquêmicas docoração era cerca de duas vezes maior do que o customédio para o grupo de doenças do aparelho circula-tório; e três vezes maior, quando se considerava o cus-to médio das internações por todas as causas no anode 1997.

Os autores deste trabalho chamaram a atenção parao aumento de 11% na duração média das internaçõespor doenças isquêmicas do coração, no período de1993 a 1997, ao contrário do tempo médio deinternações por todas as causas, que apresentou ten-dência a redução no mesmo período.5

timados quando se consideram somente informaçõesexistentes no SIH-SUS, uma vez que elas se referem,exclusivamente, às internações reembolsadas pelo SUS.Sabe-se que 26,9% dos idosos brasileiros possuemplano privado de saúde e, portanto, não foram consi-derados na contabilidade dos custos das internaçõeshospitalares públicas.18 A utilização da AIH de tipo 5para a avaliação do custo da internação tem sido re-comendada por alguns autores, uma vez que esse tipode AIH se refere a procedimentos de longa duração.7,19

A exclusão das AIH de tipo 5, no presente trabalho,levou a uma subestimação de custos de internaçõeshospitalares da ordem de 6%.

Apesar dessas limitações, sabe-se que os diagnós-ticos constantes nas AIH apresentam boaconfiabilidade.20,21 Com relação aos custos, diversosestudos vêm sendo realizados utilizando essa base dedados, com o objetivo de avaliar o impacto econômi-co de algumas causas de internações hospitalares parao país.6-8 Entretanto, a avaliação desse custo em gru-pos específicos da população, como os idosos, aindanão havia sido realizada de forma detalhada.

Os resultados deste trabalho mostram a grande con-tribuição da população idosa para os gastos comhospitalizações no âmbito do SUS, destacando-se osgastos com as doenças dos aparelhos circulatório erespiratório, sobretudo as doenças isquêmicas do co-ração, a insuficiência cardíaca e as doenças pulmona-res obstrutivas crônicas. Deve-se destacar que os custosaqui avaliados são referentes aos gastos médicos cominternações hospitalares, não refletindo o custo socialpara esse grupo etário. Os resultados da presente inves-tigação reforçam a necessidade de atividades de pre-venção e de promoção da saúde para a redução dascausas acima mencionadas, relacionadas aos cincoprincipais fatores de risco em Saúde Pública, quais se-jam: hipertensão; tabagismo; consumo de álcool;dislipidemias; e obesidade ou sobrepeso.22

Trabalhos utilizando dados do SIH-SUS,17 bemcomo outros bancos de dados secundários, apresen-tam algumas limitações, sobretudo em virtude da qua-lidade e abrangência das informações existentes. Osseguintes pontos devem ser considerados: em primei-ro lugar, esses dados são referentes às internaçõespagas pelo Sistema Único de Saúde, cuja finalidade é oreembolso do procedimento médico realizado; e, emsegundo lugar, a possibilidade de emissão de duas oumais AIH para um mesmo indivíduo. Além disso, cabelembrar que os custos de hospitalizações estão subes-

As doenças do aparelho circulatórioe respiratório consumiram cerca demetade dos custos com internaçõeshospitalares de idosos brasileiros noano de 2001.

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Custo das internações hospitalares entre idosos brasileiros