Ética- o mito da propriedade
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UNIVERSIDADE CATLICA DO SALVADOR
Instituto de Filosofia e Cincias Humanas
Curso de Filosofia
tica II
O MITO DA PROPRIEDADE
& O HOMEM AMORAL
Geraldo Natanael de Lima
Orientador:
Prof Haroldo Cajazeiras
O homem aceita o fato de que ele deve ter uma moralidade, mas salienta que outras pessoas tm moralidades diferentes e insiste em que no h meio de escolher entre elas. Trata-se do
subjetivista. (Williams, 2005: 04).
Salvador-Ba
Setembro de 2005
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SUMRIO
1- Introduo............................................................................................................. 03
2- O Homem Amoral................................................................................................. 03
3- O Mito da Propriedade.......................................................................................... 05
4- Bibliografia........................................................................................................... 08
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1- Introduo.
Esta resenha foi elaborada com base no texto O Homem Amoral do livro de
Williams Bernard1 sobre a Moral e na Introduo do livro de Liam Murphy e
Thomas Nagel2, O Mito da Propriedade, que foi utilizado como pilares do nosso
trabalho.
No nossa pretenso vincular o texto O Homem Amoral com O Mito da
Propriedade, entretanto acreditamos que por ambos se tratarem de questes da tica
podem dividir este espao no mesmo trabalho. No queremos propor uma soluo ou
respostas s questes apresentadas, somente realizar uma reflexo sobre o apresentado.
Esta resenha uma produo livre, fruto de argumentos desenvolvidos durante a
pesquisa realizada.
2- O Homem Amoral.
Williams Bernard no incio do texto realiza uma reflexo, a qual realizei a
seguinte sntese: Qual a razo que pode determinar que eu faa alguma coisa?. Ele
realiza este questionamento para analisar o que seria um homem amoral.
Realizei uma pesquisa no dicionrio para saber o que significa amoral e
encontrei no Aurlio a seguinte definio: que no nem contrrio nem conforme a
moral. O nosso autor afirma que para o homem se estiver tudo bem com as atitudes
amorais, certamente tambm estar tudo bem quando outros agirem assim contra ele
(Williams, 2005: 04).
A moralidade segundo os existencialistas e parcialmente admitida pelo nosso
autor, erguida a partir do nada, construda atravs das relaes em sociedade
1 Bernard Williams (1929-2003): Filsofo ingls. Williams nasceu no Essex, estudou no Balliol College de Oxford, e foi membro do corpo docente do All Souls e do New College. Foi professor de filosofia em
Cambridge entre 1967 e 1979 e Reitor do King's College de Cambridge entre 1979 e 1987, altura em que
aceitou uma cadeira em Berkeley, regressando em 1990 cadeira de filosofia moral em Oxford. Williams
conhecido por defender uma posio sutilmente relativista em filosofia moral, rejeitando as promessas
aristotlicas e kantianas segundo as quais a virtude resulta do exerccio das propenses racionais da
mente. Tambm rejeita as teorias expressivistas e projetivistas, argumentando que se, pelo contrrio, a
tica se basear apenas em sensaes e paixes contingentes no pode ser o que parece. O seu argumento
de que a tica kantiana e o utilitarismo pem uma tnica no natural nos interesses puramente impessoal,
ignorando os projetos pessoais que necessariamente ocupam o horizonte prximo das vidas prticas das
pessoas, tem sido bastante influente. Descartes: the Project of Pure Inquiry (1978), Ethics and the Limits
of Philosophy (1985) e Shame and Necessity (1993) so algumas das suas obras principais. Problems of
the Self (1973) e Moral Luck (1981) so duas das suas coletneas de artigos.
2 Liam Murphy e Thomas Nagel ensinam filosofia e direito na Universidade de Nova York. Murphy
autor de Moral Demands in Nonideal Theory. Entre os livros de Nagel, podemos citar Uma breve
introduo filosofia e Viso a partir de lugar nenhum, ambos publicados pela Martins Fontes.
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construda na histria e na cultura. Williams complementa este raciocnio afirmando
que no pode haver sociedade sem regras morais (Ibidem, 06) e acrescenta que as
regras e concepes morais mais fundamentais so solidamente interiorizadas durante
a criao dos indivduos (Ibidem, 09).
Williams levanta uma hiptese de que uma pessoa deveria desobedecer qualquer
regra moral se tivesse certeza da impunidade na ausncia de foras policiais ou de
vizinhos censores, se tornando amorais, no tendo inibies que limitassem seus atos.
Ele responde a esta proposio, afirmando que a educao moral produto de
influncias sociais, ensinamentos, cultura, etc. (Ibidem, 10), que estabelecem
preceitos interiores que impossibilitam que os humanos ajam normalmente de maneira
amoral. Entretanto existem impulsos primordiais, de tipo egosta (Ibidem) que
mostra como os homens realmente so, ou seja, amorais, que so provados em
situaes de grande tenso, privao ou escassez.
O homem tico seria aquele que teria a capacidade de pensar nas necessidades
das pessoas para alm do seu crculo de relaes imediatas (Ibidem, 18) e para estar
no mundo moral teria de ter preocupaes de solidariedade em relao aos outros
(Ibidem).
Realizando uma breve crtica sobre o que foi dito sobre o homem amoral pude
chegar a seguinte reflexo atravs de uma sntese prpria. O homem nasce amoral,
porm dotado de conscincia, o para-si3. Ele inicialmente nada, somente dotado de
razo e da alienao no outro, a me4. Atravs da cultura e da histria o homem vai
descobrindo a liberdade, ou seja, a possibilidade das escolhas. O homem consciente de
si prprio atravs do cogito reflexivo, se depara com uma dupla realidade. A primeira
est vinculada ao seu eu que lhe impe uma vontade estabelecida pela falta, algo
irracional, talvez inicialmente inconsciente, inato, amoral, o id de Freud e parecido
com a vontade de Schopenhauer. A segunda realidade foi imposta pela sociedade,
atravs da educao, da cultura e da histria, o supereu de Freud ou quem sabe a
humanidade de Hegel.
As escolhas no so livres mais condicionadas a prpria realidade do indivduo.
Um indivduo que nasce pobre estar inicialmente condicionado a sua realidade da
busca pela sobrevivncia e seu esforo em superar as adversidades impostas pela
sociedade e pelo mundo capitalista.
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Viso parcialmente existencialista.
4 Viso da psicanlise lacaniana.
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O indivduo que atingiu um bom nvel de educao ou de menor dependncia do
capital, poder realizar mais escolhas e obter um maior nvel de liberdade do que
outros que esto fadados a trabalhar alienadamente para obter um prato de comida, ou
quem sabe romper com o estabelecido e ser considerado um marginal.
O mundo moral estabelece regras que so de maior exigncias para aqueles que
no tem capital, no tem educao, pois so mais dependentes da vontade da
sociedade. A razo que determina que eu faa alguma coisa ou seja aquilo que pode
determinar a minha escolha est vinculado a estes fatores: a dependncia financeira, a
minha educao, ao grau de conhecimento das coisas do mundo, as regras jurdicas
estabelecidas no pas onde moro e ao nvel de conscincia da minha vontade e das
minhas crenas e valores.
A sociedade estabelece regras que so moldadas conforme o que foi construdo
pelos grupos dominantes. Aqueles grupos que alcanaram um determinado grau de
liberdade e poder so os que mais influenciam na sociedade e podem modificar a moral
vigente, criando novas regras e padres que passam a reger os comportamentos
admitidos pela sociedade e conseqentemente adotados pelo governo e validados em
novas leis.
O tpico que abordaremos a seguir o mito da propriedade tambm foi
construdo atravs do mesmo princpio da moralidade ou da tica, ou seja, inicialmente
era um nada, foi sendo formados pela razo e pela histria, consolidados pelas
instituies at serem admitidos como sempre existentes.
3- O Mito da Propriedade.
Liam Murphy inicia seu texto realizando uma reflexo sobre a funo dos
impostos em um sistema capitalista em que o sistema poltico pe em prtica uma
determinada concepo de justia econmica ou distributiva (2005:05) e levanta duas
questes sobre os impostos: Quanto cada qual deve pagar? Para que deve ser usado o
dinheiro? (Ibidem).
Nosso autor cita John Rawls e seu livro Teoria da Justia que tratou da questo
da justia socioeconmica, porm fica difcil estabelecer qual a medida justa no campo
econmico que afetar o indivduo e suas conseqncias no coletivo. Sobre os aspectos
morais tambm teremos repercusses de medidas no campo governamental que
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procura conciliar a distribuio de riquezas evitando a misria dos menos favorecidos,
diminuindo a distncia entre ricos e pobres.
Em um governo democrtico existem normas que estabelecem os direitos e os
deveres dos cidados e quais so as funes e os limites do estado. Em uma livre
economia de mercado estabelecida no mundo capitalista a situao se complica, pois
existe uma crena de que as pessoas podem fazer o que bem entenderem com os
recursos que adquiriram (Ibidem, 08).
Murphy neste contexto realiza a seguinte afirmativa, a propriedade privada
uma conveno jurdica definida em parte pelo sistema tributrio (Ibidem, 11), e
complementa:
Os impostos tm de ser avaliados como um elemento do sistema geral de direitos de propriedade que eles mesmos
ajudam a criar. A justia ou injustia na tributao no pode ser
outra coisa seno a justia ou injustia no sistema de direitos e
concesses proprietrias que resultam de um determinado
regime tributrio (Ibidem).
Quando nascemos j encontramos este sistema jurdico que estabeleceu os
direitos da propriedade privada. Na economia moderna recebemos nosso salrio em
troca do trabalho e atravs desta remunerao podemos nos alimentar, ter nossa
moradia, acumulamos outros bens pessoais e recursos para a nossa aposentadoria. Os
impostos incidem sobre o nosso salrio e sobre os nossos bens como forma de
sustentar o governo e de realizar um amparo social para os menos favorecidos.
Nosso autor realiza uma crtica sobre a propriedade privada, pois sendo uma
conveno, universalmente vista como uma espcie de lei da natureza (Ibidem,
12), dificultando a avaliao e a modificao do sistema estabelecido. Ele cita a
dificuldade da abolio da escravatura, pois o sistema jurdico da poca protegia os
proprietrios dos escravos como um bem privado e legalmente estabelecido. Murphy
afirma ento que direitos ou normas aparentemente naturais na verdade no passam
de efeitos psicolgicos da interiorizao das prprias convenes (Ibidem, 12).
Entretanto, Murphy afirma que difcil saber qual deve ser a forma apropriada
de um sistema de direitos de propriedade e como ele deve ser moldado pela estrutura
tributria (Ibidem).
Agora vamos concluir esta resenha, realizando uma crtica sobre o texto de
Murphy buscando seguir a mesma linha de raciocnio que adotamos na reflexo sobre
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o homem amoral. Admitimos que o homem inicialmente um nada, ele j nasce
alienado e submetido s regras que j foram definidas anteriormente pela humanidade.
Como a moral e o conceito de propriedade so regras vigentes antes da sua existncia,
s lhe resta inicialmente segu-las at que se possa considerar suficientemente maduro
ou independente para contest-las ou aceit-las conforme sua escolha e convenincia.
O direito da propriedade na atualidade uma reivindicao dos movimentos
sociais como o MST e considerado como um direito das pessoas que por mrito,
sorte ou herana, obtiveram o capital necessrio para a aquisio dos bens (terreno,
casa, apartamento, carro, radinho de pilha, etc.).
A questo maior como realizar uma distribuio de riqueza e de renda justa
para que possa ocorrer a diminuio entre os mais ricos e os miserveis, que no tem
direito s necessidades bsicas e ter uma educao que possibilite o crescimento na
escala social. A tributao da renda com a cobrana dos impostos tem esta funo de
possibilitar ao estado fornecer educao, segurana e sade a toda a populao criando
condies para a eqidade da sociedade.
A justia social fruto de uma reflexo tica, de aceitar que todos somos iguais e
temos os mesmos direitos. Uma grande questo se refere aos deveres, de ter que
estudar, durante no mnimo 15 anos, de trabalhar no mnimo 8 horas por dia, de fazer
sacrifcios, eliminando vcios e sendo responsveis. Muitos s querem os direitos e no
querem os deveres, ento deveremos encontrar uma forma justa que diminua as
diferenas, porm recompense os mritos daqueles que fizeram por merecer.
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4-Bibliografia.
ABBAGNANO, Nicola, Dicionrio de Filosofia, SP, Martins Fontes, 2000.
BLACKBURN, Simon, Dicionrio Oxford de filosofia, RJ, Jorge Zahar Editor, 1997.
BERNARD, Williams, Moral, SP, Martins Fontes, 2005.
CAJAZEIRAS, Haroldo, Anotaes de sala de aula da disciplina tica II, SSA,
UCSAL, 2005.
FERRATER Mora, Jos, Dicionrio de Filosofia, SP, Edies Loyola, 2000.
FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda, O Dicionrio Aurlio Eletrnico-Sculo
XXI, SP, Lexikon Informtica e Editora Nova Fronteira, 1999.
JAPIASS, Hilton e MARCONDES, Danilo, Dicionrio Bsico de Filosofia, RJ,
Jorge Zahar, 1996.
MURPHY, Liam & NAGEL, Thomas, O Mito da Propriedade, SP, Martins Fontes,
2005.
OBSERVAES:
Foram realizadas pesquisas nos seguintes Sites na Internet no dia 19/09/05:
a) Biografia de Bernard Williams (1929-2003): http://criticanarede.com/fil_bernardwilliams.html
b) Biografia de Liam Murphy e Thomas Nagel: http://www.martinsfontes.com.br/comunicados/lancamento.asp?isbn=85336213
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