etica na administracao e responsabilidade social

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1 Ética na Administração e Responsabilidade Social do Administrador. Creio que a responsabilidade social da empresa está intimamente ligado à visão de ética que seus administradores têm. Sem querer entrar em profundas conceituações de ordem filosófica, e mais no sentido de despertar a reflexão do leitor, seguem algumas considerações a este respeito. 1. Moral e Ética Gostaria inicialmente, sem grandes pretensões, como disse, de fazer uma certa distinção entre moral e ética. Existem muitas interpretações desses dois conceitos na praça; optarei por uma delas como premissa da reflexão. Entendo que a moral é, basicamente, uma ordenação, uma hierarquia de valores. O que é realmente mais importante para mim? Qual é o ideal, quais são as idéias que dirigem a minha vida, qual é o sentido que dou a ela? O que eu considero positivo e o que é negativo para mim? Afinal, qual é a distinção que faço entre o bem e o mal? Estas definições serão determinantes na minha busca da felicidade. Na medida em que eu conseguir realizar na minha vida os valores que considero positivos, poderei ser feliz. A moral, sendo ordenação de valores, orienta os posicionamentos que assumimos em função das decisões que tomamos a cada instante de nossa vida. Esses posicionamentos têm um papel fundamental na vida da sociedade como um todo. Alguns conceitos como “aqui e agora”, como ecologia, como prazer, realização e até mesmo amor e sexo têm muito a ver com a hierarquia dos meus valores. O fato é que somos constantemente chamados a tomar decisões nas quais, consciente ou inconscientemente, os valores que orientam as nossas vidas são envolvidos. Se, ao tocar o despertador, de manhã, eu resolvo continuar dormindo ou levantar-me, estou fazendo uma escolha entre valores. A ética, por sua vez, é ação. É a maneira de pôr em prática os valores morais. É um sistema de balizamento ou de codificação para ser usado na tomada de decisões. É a forma de traduzir a moral em atos. Por exemplo, a verdade pode estar numa posição alta na minha hierarquia de valores. Mas em si, dizer que a verdade ocupa um lugar importante na minha vida só vai me levar a um estado de contemplação! Praticar a verdade nos meus atos, não mentir, ser autêntico, estes são princípios éticos que, em função da importância que dou ao valor verdade, posso querer inserir na minha vida, na minha maneira de agir. Até aí, parece bastante simples. Mas, na realidade, a prática de princípios éticos é bastante complexa, pois a ética se exerce no espaço que se situa entre o que “É” e o que “DEVERIA SER”. É a constante diferença que existe entre estender a mão e alcançar (“reach and grasp”). São as nossas atitudes na vida que requerem uma firme e clara visão dos valores morais que elegemos seguir. Em conseqüência, já na nossa vida individual e particular, somos constantemente confrontados com dilemas éticos (como no caso do despertador). Se transpusermos isso para o mundo dos negócios, da administração, os desafios são ainda muito maiores. 2. Ética nas relações humanas e nos negócios. Os atos humanos são, na sua quase totalidade, atos relacionais. Ou seja, são atos que se realizam no relacionamento com o outro ou com os outros. É neste relacionamento que os valores tomam corpo, quando tratamos com uma ou mais pessoas, com a comunidade, com a sociedade (que seja na família, na escola, na empresa, na sociedade...).

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  • 1tica na Administrao e Responsabilidade Social do Administrador.

    Creio que a responsabilidade social da empresa est intimamente ligado viso detica que seus administradores tm. Sem querer entrar em profundas conceituaesde ordem filosfica, e mais no sentido de despertar a reflexo do leitor, seguemalgumas consideraes a este respeito.

    1. Moral e tica

    Gostaria inicialmente, sem grandes pretenses, como disse, de fazer uma certadistino entre moral e tica. Existem muitas interpretaes desses dois conceitos napraa; optarei por uma delas como premissa da reflexo.Entendo que a moral , basicamente, uma ordenao, uma hierarquia de valores. Oque realmente mais importante para mim? Qual o ideal, quais so as idias quedirigem a minha vida, qual o sentido que dou a ela? O que eu considero positivo eo que negativo para mim? Afinal, qual a distino que fao entre o bem e o mal?Estas definies sero determinantes na minha busca da felicidade. Na medida emque eu conseguir realizar na minha vida os valores que considero positivos, podereiser feliz.A moral, sendo ordenao de valores, orienta os posicionamentos que assumimosem funo das decises que tomamos a cada instante de nossa vida. Essesposicionamentos tm um papel fundamental na vida da sociedade como um todo.Alguns conceitos como aqui e agora, como ecologia, como prazer, realizao e atmesmo amor e sexo tm muito a ver com a hierarquia dos meus valores.O fato que somos constantemente chamados a tomar decises nas quais,consciente ou inconscientemente, os valores que orientam as nossas vidas soenvolvidos. Se, ao tocar o despertador, de manh, eu resolvo continuar dormindo oulevantar-me, estou fazendo uma escolha entre valores.A tica, por sua vez, ao. a maneira de pr em prtica os valores morais. umsistema de balizamento ou de codificao para ser usado na tomada de decises. aforma de traduzir a moral em atos. Por exemplo, a verdade pode estar numa posioalta na minha hierarquia de valores. Mas em si, dizer que a verdade ocupa um lugarimportante na minha vida s vai me levar a um estado de contemplao! Praticar averdade nos meus atos, no mentir, ser autntico, estes so princpios ticos que,em funo da importncia que dou ao valor verdade, posso querer inserir na minhavida, na minha maneira de agir.At a, parece bastante simples. Mas, na realidade, a prtica de princpios ticos bastante complexa, pois a tica se exerce no espao que se situa entre o que e oque DEVERIA SER. a constante diferena que existe entre estender a mo ealcanar (reach and grasp). So as nossas atitudes na vida que requerem umafirme e clara viso dos valores morais que elegemos seguir.Em conseqncia, j na nossa vida individual e particular, somos constantementeconfrontados com dilemas ticos (como no caso do despertador). Se transpusermosisso para o mundo dos negcios, da administrao, os desafios so ainda muitomaiores.

    2. tica nas relaes humanas e nos negcios.

    Os atos humanos so, na sua quase totalidade, atos relacionais. Ou seja, so atosque se realizam no relacionamento com o outro ou com os outros. nesterelacionamento que os valores tomam corpo, quando tratamos com uma ou maispessoas, com a comunidade, com a sociedade (que seja na famlia, na escola, naempresa, na sociedade...).

  • 2Do ponto de vista da tica, destacaria duas atitudes que se destacam como possveisneste relacionamento:

    A tica do interesse prprio A tica orientada para o outro.

    Na tica do interesse prprio, voc proporciona algo ao outro, porque de seuinteresse faz-lo.Esta perspectiva cujas sementes foram plantadas pelo filsofo Thomas Hobbes 1,no incio do sculo XVII tem imensas repercusses no mbito empresarial,principalmente nas posies de Milton Friedman, da famosa escola de Chicago e docapitalismo do laissez-faire, ou, mais atualmente, do liberalismo e do neoliberalismo.De acordo com os seguidores dessa escola, a responsabilidade social da empresaconsiste nica e exclusivamente em aumentar o seu lucro, maximizar os seusretornos. Logo, tudo o que se faz na empresa e nos negcios tem por objetivo ocumprimento desta responsabilidade. A preocupao com os empregados, com aqualidade, com o bem estar da comunidade, enfim, tudo o que se faz pelos outros,justifica-se apenas se a ao resulta na maximizao dos resultados econmicos daempresa ou do negcio2.Como limites ticos da ao neste contexto, os defensores da teoria do interesseprprio admitem apenas que tudo tem de ser praticado dentro da lei. Nestaperspectiva, alis, conforme Hobbes, a lei resulta de um contrato que os indivduosagrupados em comunidades ou sociedades fazem entre si, abandonando parte desuas liberdades para obter segurana.Trata-se, portanto, de uma tica onda a vantagem econmica o valor maisimportante, visando fundamentalmente sobrevivncia.J a tica orientada para os outros tem por objetivo bsico a valorizao do outropara o benefcio do todo.Parte do princpio de que fazendo o outro feliz que eu vou me realizar, que eu voume sentir bem, feliz. na medida que os outros crescem que o grupo todo, ao qualtambm perteno, vai crescer. Os outros no so mais simples instrumentos deminha realizao; a minha realizao depende da realizao da comunidade, dagenuna realizao de cada um dos outros.Em termos empresariais, isto significa uma filosofia ou uma tica do servio. namedida que o meu produto, a maneira de produzi-lo, e tudo o que fao em relao aele representarem um servio para o mercado (ou seja, acrescentarem valor), queminha empresa poder obter um resultado econmico vlido. Nesta perspectiva, ovalor maior a solidariedade, a profunda interdependncia humana, o crescimentodo outro. Este o objetivo. O lucro, o benefcio econmico, um subproduto.Indispensvel, sem dvida, para a continuidade da comunidade de trabalho que aempresa, mas que s vai existir se as outras condies forem preenchidas.

    1 De modo que na natureza do homem encontramos trs causas principais de discrdia.Primeiro a competio, segundo, a desconfiana, e terceiro, a gloria. A primeira leva os homensa atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurana; e a terceira, a reputao.Thomas Hobbes, Leviat, Captulo XIII, Da condio natural da humanidade relativamente sua felicidade e misria. Os Pensadores, Ed. Abril, So Paulo, Pg. 75, edio 1979.2 H poucas coisas capazes de minar to profundamente as bases de nossa sociedade livre doque a aceitao por parte dos dirigentes das empresas de uma responsabilidade social que noa de fazer tanto dinheiro quanto possvel para seus acionistas. Trata-se de uma doutrinafundamentalmente subversiva. Se homens de negcios Tm outra responsabilidade social queno a de obter o mximo de lucro para seus acionistas, como podero eles saber qual seria ela?Podem os indivduos decidir o que constitui o interesse social? Milton Friedman, Capitalismo eLiberdade Captulo VIII, Monoplio e a Responsabilidade Social do Capital e do Trabalho. OsEconomistas, Ed. Abril, So Paulo, Pg. 123, edio 1884. Ver tambm: Milton Friedman, TheSocial Responsability of Business is to Increase Profit, The New York Times Magazine, 13 desetembro de 1970.

  • 33. tica, moral e lei.

    A lei, que neste contexto representa o consenso da sociedade em torno dos valoresmorais predominantes (como a sociedade em que quero viver?), passa a ser nomais um enquadramento das aes individuais, mas o piso tico em cima e acima doqual cada um procurar situar sua maneira de agir.A distino entre essas duas ticas parece bastante sutil e, talvez, para alguns,pouco clara. Mas ela se tornar mais evidente logo mais, atravs de alguns exemplosdo dia-a-dia que darei adiante. As grandes estruturas econmicas, de que falareibrevemente ao final, tambm nos permitiro distinguir mais claramente entre essasduas ticas. Por enquanto vamos apenas lembrar de seus principais valores: asobrevivncia, de um lado, e a solidariedade, do outro.

    4. O papel da empresa.

    Creio que todos ho de concordar se eu disser que a empresa no um fim em simesma. Ningum em s conscincia cria uma empresa s por criar uma empresa. Aempresa, geralmente, um instrumento na consecuo de um objetivo maior. Masque tipo de instrumento? a que surgem vrias filosofias e interpretaes. O objetivo por trs da empresa poder ser, exclusivamente, produzir lucro?

    Como vimos, h os que afirmam que sim. Mesmo neste caso, porm, este nopode ser um objetivo final, a no ser que o empresrio guarde todo o lucro numaconta bancria ou enterre no jardim. Neste caso, seu objetivo final ser o detornar-se o defunto mais rico do cemitrio! De qualquer modo, em algummomento, estes lucros acabaro por produzir riquezas que se espalharo pelasociedade.

    Na viso de pensadores mais modernos, como Peter Drucker, por exemplo, aempresa bem sucedida em nossos dias ser aquela que procurar aprimorar-sena acumulao de conhecimentos tecnolgicos, de conhecimentos organizacionaise, s como conseqncia, obter a acumulao de capitais.

    Se antigamente (na fase agrcola, que Alvin Toffler chama de primeira onda) aterra era o fator decisivo de produo e, em tempos mais recentes (na segundaonda da revoluo industrial), era o capital, representado por prdios,maquinrio e bens instrumentais, hoje, este fator decisivo o conhecimentotecnolgico e organizacional (a terceira onda). Em outras palavras, aquele quepode concentrar esses conhecimentos em si mesmo, ou seja, o prprio serhumano. Este conceito vem claramente exposto nas reflexes de outro estudiosodo assunto, o Papa Joo Paulo II na sua Encclica Centesimus Annus, que ocompleta ao afirmar: A finalidade da empresa no simplesmente a produode benefcios, mas principalmente a prpria existncia da empresa comocomunidade de pessoas que, de diversas maneiras, buscam a satisfao de suasnecessidades fundamentais e constituem um grupo particular a servio dasociedade inteira.

    Tanto na viso de Drucker como na de Joo Paulo II, estes conceitos implicamnuma srie de compromissos que a empresa assume, tanto com a sociedade emque se insere quanto com as pessoas que a integram: a comunidade, os clientese os fornecedores, os aportadores de recursos pblicos ou privados, o governo;as condies de trabalho, a capacitao dos seres humanos a ela ligados, autilizao de mtodos participativos, etc.

    Mas preciso tomar cuidado para no cair no extremo oposto da tese do lucrocomo nica finalidade. No se pode atribuir empresa toda uma carga deresponsabilidades sociais das quais o Estado quer fugir por todos os meios, porno ter a capacidade de assumir sua gigantesca dvida social.

  • 4 A posio intermediria adequada, segundo escreve o professor Ernesto LimaGonalves, consiste em respeitar a trplice realidade da empresa: econmica,humana e social.

    Por se ver assediada de todos os lados pelas diversas filosofias e ticas quevimos, a comunidade empresarial, na verdade, est confusa e perdida. No deestranhar que nas diversas pesquisas que procuram medir a confiabilidade dediversas categorias sociais tanto nos Estados Unidos quanto na Europa e tambmno Brasil, os empresrios quase sempre aparecem nos ltimos lugares, junto comos polticos... Seria preciso debruar-se com cuidado sobre as diversasperspectivas que se abrem e escolher cuidadosamente os caminhos maisadequados, mas as presses do imediato nem sempre permitem que oempresrio se ocupe com essas questes.

    Uma coisa, porm, certa e de fundamental importncia. Face ao tempo quetodas as pessoas, de todas as condies e nveis sociais dedicam hoje atividadenas empresas, o ambiente que encontram nessa atividade influir fortementesobre sua maneira de ver o mundo. Assim, o comportamento tico da empresa representado pelo comportamento tico de seus administradores ter umainfluncia decisiva sobre o comportamento de todos os que a ela esto ligados.

    Neste sentido, de alguma forma, a posio assumida pelos administradores dasempresas ter um impacto no apenas dentro da prpria empresa, mas tambmem relao ao comportamento de toda a sociedade... importante que osgestores se lembrem disso!...

    5. tica e responsabilidade social.

    Na verdade, a tica, que entendemos como a maneira de pr em prtica nossahierarquia de valores morais, e o exerccio da responsabilidade social da empresaandam de mos dadas. E esta uma viso bastante complexa diante das pressesdo mercado e de outras de todo tipo s quais os administradores so submetidosdiariamente nas suas tarefa.Em seu livro tica nas Empresas 3, que tive a alegria de ajudar a traduzir, a ProfLaura Nash faz uma lista de trinta itens que influenciam as decises do dia a dia doadministrador. Vou citar apenas alguns:

    Ganncia Relatrios distorcidos Inadimplncia/fraude Deslealdade M qualidade Favoritismo Conflito de interesses Falsidade ideolgica, etc.

    Creio que, no Brasil, esta lista deveria ser acrescida de um item que adquire umaimportncia cada vez maior. a filosofia do mais ou menos, que vem semanifestando em todos os aspectos da vida nacional. A clareza, a distino ntidaentre o certo e o errado, que infelizmente no se ensina mais nas escolas e nasfamlias e que se pratica cada vez menos na atividade profissional, traz para estepas, sem que se perceba, um imenso volume de problemas. No me considero umcaxias, mas creio que se realmente quisermos, um dia, nos relacionarmos emtermos de igualdade com o chamado Primeiro Mundo, a est um problema de ticae responsabilidade social que precisamos resolver. Lembraria aqui, apenas a ttulo deexemplo, as dificuldades causadas pela falta de pontualidade e pela falta de garantia

    3 tica nas Empresas Guia prtico para solues de problemas ticos nas Empresas LauraL.Nash, Makron Books, 2001.

  • 5de uma qualidade continuada nas exportaes; a mentalidade do querer levarvantagem em tudo etc.Mas o que eu quero dizer efetivamente que, queiramos ou no, na administraodos negcios, somos constante e permanentemente envolvidos em decises quedevem ser tomadas e nas quais o posicionamento tico que assumimos fundamental. E nestas decises, se os valores em nome dos quais a empresa est nomercado no forem muito claros na cabea dos administradores, corre-se, nomnimo, o risco de ser incoerente e, quase sempre, o de tomar a deciso errada.Muitas empresas procuram, hoje em dia, ajudar seus administradores neste sentido,definindo cdigos de tica ou credos em que estes valores bsicos se encontramesclarecidos e traduzidos em todo um instrumental de trabalho. (Exemplos: Boeing,Johnson & Johnson, J. C. Penney, Vale do Rio Doce, etc.)A nossa tendncia, como administradores eficientes que somos, de tomar sempreas nossas decises em funo da relao custo-benefcio (ou, como diz o americano,o bottom line). Ora, em muitas situaes, os valores morais e os princpios ticosque esto em jogo no permitem ou no deveriam permitir a montagem destetipo de equao. Conta-se que na dcada de 30, quando o lendrio Alfred Sloane erapresidente executivo da General Motors, apresentaram-lhe o vidro de segurana paraser usado nos pra-brisas dos carros. Ele teria recusado, dizendo: Se eu aceitartodas as bobagens que me so propostas, onde vai parar o dividendo dosacionistas? Quantas pessoas morreram ou foram desfiguradas por causa dessadeciso? Ainda no mesmo contexto, eis uma frase que ouvi, certa vez, de umexecutivo: No adianta filosofar muito: o nosso principal motivador o lucro. Emsegundo lugar, procuramos evitar que o nosso produto mate os nossos clientes. Emsegundo lugar?Fica bastante claro que, quando o valor principal e, segundo a escola de Chicago,exclusivo em termos de responsabilidade social da empresa o de ter lucro,qualquer outro que venha atrapalhar relativo aos seres humanos, ecologia ououtros do mesmo tipo passar automaticamente ao segundo plano.H ainda um outro critrio de valor que influencia as nossas decises. a naturezaque atribumos empresa. Se a nossa tica for a da solidariedade, a empresa ser acomunidade de pessoas, como vimos antes. Se, por outro lado, for a tica dasobrevivncia, a empresa tender a se transformar numa mercadoria, a sertransacionada no mercado pelo melhor preo possvel. E o melhor preo possveldepende, evidentemente, da situao que demonstra o balano da empresa. Jestamos produzindo balanos semestrais e logo, como os americanos, estaremosproduzindo balanos trimestrais. O prazo que a empresa tem para apresentar lucrovai se tornando cada vez mais curto, para ser mais facilmente negocivel, comomercadoria. E, naturalmente, as decises vo sendo tomadas com base nestanecessidade de lucro a curto prazo. O que se pergunta como fica o empregado,como fica o cliente, nesta perspectiva? As empresas japonesas, como a Honda, porexemplo, que baseiam sua abordagem empresarial sobre o relacionamento em longoprazo com o cliente, no estariam tendo o sucesso que tm por causa desta viso?

    6. Concluses

    Se eu tivesse de terminar com algumas sugestes em termos de tica eresponsabilidade social das empresas, eis o que eu diria:

    Vamos valorizar mais as pessoas do que as coisas. Vamos procurar dar trabalhoao maior nmero possvel de pessoas. Talvez no estejamos, desta forma,produzindo diretamente mais riquezas, mas estaremos certamente conferindomais dignidade a um nmero maior de famlias.

    Vamos tambm valorizar as pessoas, dando a cada uma a possibilidade departicipar efetivamente da empresa, no s, demagogicamente, atravs de uma

  • 6parcela de seu resultado econmico, mas principalmente atravs da participaona construo de seus resultados (Balano Social).

    Vamos valorizar a pequena empresa, aquela em que o relacionamento humanoainda prevalece e as pessoas no se transformam em peas de engrenagens.

    Vamos valorizar a obra de nossas prprias mos, o nosso prprio trabalho,fazendo-o simplesmente bem feito, deixando para l o quebra-galho e o maisou menos.

    Vamos valorizar nossas escolas e universidades, nossos meios de comunicaosocial, nossas famlias, fazendo deles muito mais do que focos de preocupaoeconmica, mas locais de transmisso de valores ticos que tanto abandonamosnestas ltimas dcadas.

    Vamos valorizar o futuro, as geraes de nossos filhos e netos, que tm o direitode esperar que nossa avidez, nossa ganncia e nossa sede de lucro imediato noinviabilizem o mundo que lhes deixarmos.

    Peter Nadas