Ética em saúde.pdf

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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO Bl airo Borges Maggi Governador SECRETARIA DE ESTADO DE SA DE Marcos Henri que Machado Secret ário ESCOLA DE SA DE P BLICA Mart a Maci el Metell o Mansur Buml ai Diretora Nilene Duarte Di retora Adj unta COORDENADORIA PEDAGÓGICA Mari a de Lourdes Al onso Bot ura Coordenadora COODENADORIA DE FORMAÇÀO TÉCNICA EM SA DE Eliete Bal bi na S. Saragi otto Coordenadora COORDENADORIA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE SAÒDE Dival mo Perei ra Gui marães Coordenador

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Page 1: Ética em Saúde.pdf

GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

Blairo Borges Maggi

Governador

SECRETARIA DE ESTADO DE SA DE

Marcos Henrique Machado

Secretário

ESCOLA DE SA DE P BLICA

Marta Maciel Metello Mansur Bumlai

Diretora

Nilene Duarte

Diretora Adjunta

COORDENADORIA PEDAGÓGICA

Maria de Lourdes Alonso Botura

Coordenadora

COODENADORIA DE FORMAÇÀO TÉCNICA EM SA DE

Eliete Balbina S. Saragiotto

Coordenadora

COORDENADORIA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE SAÒDE

Divalmo Pereira Guimarães

Coordenador

Page 2: Ética em Saúde.pdf

2

GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE

ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO

FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO NA

ÁREA DE SAÚDE

MÓDULO I

CONTEXTUALIZANDO O TRABALHADOR DA SAÚDE NO CENÁRIO DA

SAÚDE BRASILEIRA

BIOÉTICA

CUIABÁ

2004

Page 3: Ética em Saúde.pdf

3

¬ 2004 Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso

Elaboração técnica:

Equipe CFTS

Marcia Regina De Magalhães Baicere

Comissão Permanente de Ética:

Elza Melo Gomes Machado œ Presidente Da Comissão

Rute Gomes Ferreira œ Membro Titular

Valdevina Rosa Capistrano Da Silva œ Membro Titular

Colaboradora :

Ronelize Marcelle Costa Leite œ Organizadora / Digitadora

Equipe de revisão

Valéria Binato Santili Depes

Ficha catalográfica

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Saúde. Escola de Saúde Pública do Estado

de Mato Grosso. Coordenadoria de Formação Técnica em Saúde.

Formação profissional para técnico de nível médio na área de

saúde: módulo I: contextualizando o trabalhador da saúde no cenário da

saúde brasileira: bioética, Cuiabá : SES, 2004. 50p.

1. Saúde do trabalhador 2. Educação I. Título

Escola de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso

Coordenadoria de Formação Técnica em Saúde - CFTS

Avenida Adauto Botelho s/n°

Bairro Coophema

78085-200 Cuiabá œ MT

Tel.: (65) 613-2223/613-2225 Fax: (65) 613-2221/2233

email : [email protected]

Este material destina-se exclusivamente ao uso interno pelos alunos dos

Cursos de Formação Profissional de nível técnico da Êrea de Saúde, oferecidos

pela Escola de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso-ESP/MT, sendo

proibida sua reprodução, venda ou qualquer forma de comercialização.

Page 4: Ética em Saúde.pdf

4

GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETRIA DE ESTADO DE SA DE DE MATO GROSSO

ESCOLA DE SA DE P BLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO

COODENADORIA DE FORMAÇÀO TÉCNICA EM SA DE

APRESENTAÇÃO

Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de

Nível Médio, base para a elaboração das matrizes curriculares dos cursos técnicos da

ESP, o novo perfil dos trabalhadores dos serviços de saúde aponta que esses

profissionais devem ser detentores de uma melhor qualificação profissional, tanto na

dimensão técnica especializada quanto na dimensão ético-política, comunicacional e de

relações interpessoais, pois o que se observa atualmente é que a postura ética, os

valores e princípios, que pertencem ao domínio das atitudes dos profissionais, não

acompanharam a evolução científico-tecnológica.

As questões éticas, permeiam o trabalho humano em qualquer atividade e

adquirem uma conotação peculiar e toda especial quando voltadas ao fazer dos

profissionais de saúde. É fundamental que esses profissionais coloquem,

prioritariamente, em suas ações, a ciência, a tecnologia e a ética a serviço da vida. A

ética a serviço da vida diz respeito ao comprometimento com a vida humana em

quaisquer condições, independentemente da fase do ciclo vital, do gênero a que

pertença ou do posicionamento do cliente/paciente na pirâmide social.

Este material de Bioética foi elaborado com o objetivo de instrumentalizar os

alunos para uma conduta profissional e de vida baseadas nos princípios éticos.

Observa-se ainda, que o mesmo contém um capítulo que aborda a ética na

administração pública, elaborado pela Comissão Permanente de Ética da Secretaria

Estadual de Saúde, no intuito de fornecer ao aluno outra aplicação da ética.

Como é política desta escola, aguardamos sugestões de alunos e professores,

de forma que o material seja cada vez mais adequado às necessidades dos

profissionais de saúde.

Valéria Binato Santili Depes

Membro da Coordenadoria de Formação Técnica em Saúde

Page 5: Ética em Saúde.pdf

5

SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO A BIOÉTICA ................................................................................ 07

II – ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................ 11

2.1.Doutrinário ...................................................................................................... 11 2.2.Constitucional ................................................................................................. 11

II.I - ESPÉCIES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .............................................. 13

2.1.1.Patrimonialista ............................................................................................. 13 2.1.2.Burocrática .................................................................................................. 13 2.1.3.Gerencial ..................................................................................................... 13

II.II - PRÍNCIPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .......................................... 14 2.2.1.Legalidade ................................................................................................... 14 2.2.2 Impessoalidade ........................................................................................... 14 2.2.3 Moralidade .................................................................................................. 14 2.2.4 Publicidade ................................................................................................. 15 2.2.5 Eficiência ..................................................................................................... 15

II.III - ESTADO / INICIATIVA PRIVADA / CARACTERÍSTICAS ........................ 16

2.3.1 Características Comuns e Antagônicas ...................................................... 16

II.IV- FUNDAMENTOS LEGAIS DA ÉTICA NA SAÚDE PÚBLICA .................... 17

III - FUNDAMENTOS DA CONDUTA PROFISSIONAL ............................................ 19

IV – PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA ............................................................................... 26

V – DEVERES E RESTRIÇÕES A QUE FICAM SUJEITOS OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ...................................................................................................................... 31

VI – ÉTICA PROFISSIONAL É COMPROMISSO SOCIAL ....................................... 33

VII – CÓDIGO DE ÉTICA DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL .......................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 48

Page 6: Ética em Saúde.pdf

6

a) Conceito

Este termo foi utilizado, em 1971, pelo médico oncologista norte-americano Van

Rensselder Potter e definido por ele como o “conhecimento dos valores humanos

(ética) e o conhecimento biológico (bio)”, que procurando sensibilizar os biólogos para a

situação existente e preocupada com o meio ambiente e com que, uma ação invasiva

do homem, pudesse causar ao ecossistema, revelou esse cuidado, com o

comportamento humano que poderia vir a prejudicar a existência futura no planeta.

Bios – vida

Éthos – comportamento, ética e

conduta. A palavra bioética vem sendo entendida e usada com diferentes sentidos e

conceituada por diversas definições. Dois dos mais completos dicionários brasileiros

apesar de estabelecerem tratar-se de um substantivo feminino de origem grega (bio +

ética) ao referirem-se ao significado da palavra discordam. Para o Aurélio Século XXI

bioética é:

“o estudos dos problemas éticos suscitados pelas pesquisas biológicas e pelas suas

aplicações por pesquisadores, médicos, etc.”

Para Michaelis a bioética é:

“conjunto de considerações que pressupõe a responsabilidade moral dos médicos e biólogos em suas pesquisas teóricas e na aplicação delas”.

Page 7: Ética em Saúde.pdf

7

A Enciclopédia 2000 refere à ética já de modo mais conciso e trata como

sinônimo de ética médica trazendo como explanação: “Ética Médica ou Bioética, estudo

de aspectos morais no campo do tratamento médico e da pesquisa”. Outra publicação

de grande importância e referência obrigatória, quando se trata do assunto em pauta, é

a “Encyclopedia of Bioethics” que em seu volume primeiro apresenta o seguinte:

“Bioética é o estudo sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da vida e

da saúde, enquanto esta conduta é encaminhada à luz de valores e princípios morais”.

No editorial do “Bioética Informa”, publicação do Programa Regional de Bioética

da Organização Panamericana de Saúde, o diretor do Programa, Fernando Lolas

Stepke, referindo-se ao Quinto Congresso Mundial de Bioética ocorrido em 2000

escreve: “Bioética não significa o mesmo para todos que usam a palavra. Há uma

aceitação ampla, que a assemelha a uma parte de” ética global “, e inclui a reflexão

moral sobre a vida, a morte, o meio ambiente e a humanidade futura”.

Se questionarmos, sobre a definição, do significado conceitual de uma palavra

tão conhecida e falada, constataremos que a elaboração de uma conceituação própria

de bioética ou a explicação daquela com a qual nos identificamos não é uma tarefa

fácil.

Indiscutivelmente, a palavra bioética representa uma daquelas palavras que as

pessoas costumam com o seu uso, mas não se preocupam muito com a definição de

seu significado, e quando são solicitadas a apresentarem uma definição, constatam que

não possuem grande segurança para discorrer sobre o tema.

Esta situação é semelhante ao que ocorre com palavras como justiça, liberdade,

amor, felicidade, Deus, ética e outras que, também, são termos conceituais e têm

provocado, ao longo da história, prolongadas reflexões e grandes discussões filosóficas

em torno de seus significados.

Correia (1995) define a Bioética como:

“Estudo sistemático da conduta humana no campo das

ciências biológicas e de atenção de saúde, na medida

em que esta conduta seja examinada à luz de valores

e de princípios morais”.

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8

b) Origem

O uso do termo bioética se tornou, para alguns ou para muitos, um modismo, o

que fez com que surgissem imprecisões na sua aplicação, incorreção na sua definição

e conseqüentemente uma conceituação totalmente desviada da sua origem.

Após a divulgação de uma variedade de abusos feitos durante pesquisas

médicas realizadas nas mais conceituadas universidades e nos mais avançados

centros médicos do Estados Unidos da América. O artigo divulgava inúmeras violações

éticas incluindo pesquisas feitas sem a permissão das pessoas envolvidas no estudo.

Essa revelação levou a muitas discussões no meio médico e fora dele. A sociedade

começou, nesse momento, a ter reflexões sobre o relacionamento entre os profissionais

de saúde – os médicos em particular – e seus clientes. Outros profissionais não ligados

diretamente, mas envolvidos com as atividades referentes à vida e a saúde – até

mesmo como simples clientes – passaram a se preocupar com as mesmas e a discutir

a validade dos processos relacionados com essas atividades. Estava assim

consolidada a interdisciplinaridade dessa preocupação com a conduta humana em

relação à saúde e a vida.

Desde esse tempo os aspectos éticos, ou seja, o comportamento dos

profissionais de saúde, passou a ser interesse de leigos que começaram a intervir e a

discutir as atividades realizadas. A ética relacionada aos aspectos da saúde deixava de

ser algo que se fixava em uma ou mais categorias profissionais, para ser assunto de

todos. Esse movimento intelectual surgiu não como algo inventado ou descoberto, não

como tese estudada e defendida, não como uma composição ou obra prima da

inspiração de um artista, nem mesmo como uma disciplina proposta por um pedagogo,

mas sim, como produto de um pensamento social, que não propunha normas de

códigos ou princípios a serem obedecidos. Na realidade, surgiu como um modelo que

gradativamente foi sendo aceito pela comunidade científica e pela sociedade.

A aceitação criava discussões com abordagem dos problemas de maneira

global, examinando o fato por todos os prismas, de modo holístico, partindo da posição

das diversas disciplinas, porém ultrapassando os limites de cada uma delas e de todas

elas. Baseando-se no racional, sofrendo pressões do emocional, das crenças e dos

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9

valores culturais, a discussão emergiu como uma preocupação em estudar a conduta

humana no âmbito das ciências da saúde, enquanto ela é examinada a luz dos valores

da sociedade.

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10

Para Vicente Masip, a “Ética é à parte da filosofia que aborda o comportamento

humano, seus desejos e vontades, e as normas que ao longo dos tempos foram sendo

instituídas por grupos e comunidades”.Falar sobre Ética na Administração Pública

requer a compreensão e o domínio de alguns conceitos básicos inerentes ao ato de

Administrar.

Ética na Administração Pública consiste na dimensão da conduta do

Funcionário Público, num sistema administrativo, tendo como fundamento a eficiência,

as normas e legislações, que objetivam as ações do poder, nas tomadas de decisões.

Complementando, Gilberto Cotrim 1 ensina que a Ética busca refletir sobre o

comportamento humano, considerando as noções de Bem e de Mal, de Justo e de

Injusto, com duplo objetivo:

a – Orientar a pessoa humana para uma ação moralmente correta;

b – Refletir sobre os sistemas morais elaborados pela humanidade.

Para tanto, elegeram-se conceitos de caráter administrativo-doutrinário e

Constitucional, quevisam facilitar a compreensão dos conteúdos abordados,

pertinentes à Administração Pública.

Administrativo-Doutrinário:

“Administração Pública numa visão global é todo aparelhamento do Estado

preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades

coletivas.” (Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 2003)

Constitucional:

Artigo 127: “A Administração Pública é o conjunto dos órgãos e funções dos

Poderes do Estado e das entidades descentralizadas aplicadas à execução de

atividades e serviços administrativos com a finalidade de promoção do bem-estar

1 COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo. ed. Saraiva.2000.

Page 11: Ética em Saúde.pdf

11

geral e da satisfação das necessidades coletivas”. (Constituição do Estado de

Mato Grosso/89)

Desta feita trazendo a teoria filosófica à prática funcional, Ética na Administração

Pública não se resume e nem se mede apenas pelo custo direto da corrupção,

mas também pela falta de motivação, desencanto e deterioração dos serviços

públicos. Estes comportamentos reforçam a insatisfação e a desconfiança da

sociedade na relação administradores/administrados.

Para dar cumprimento aos ditames legais que normatizam a Ética na

Administração Pública, a SES/MT faz a sua parte, através da Comissão Permanente de

Ética:

• Normatizando – fazendo existir e sendo disponibilizado um conjunto de regras de

condutas simples, que revela os valores éticos que se deseja sejam seguidos no

quadro organizacional;

• Implantando a Função Educativa: capacitando, divulgando e orientando a

aplicação das regras e situações que compreendem a rotina dos agentes,

consoante às suas funções e responsabilidades;

• Monitorando Comportamentos – identificando pontos inobservados sobre as

regras estabelecidas, bem como os resultados positivos emanados das ações

dos servidores, frente à Administração da Saúde /MT/SUS e aplica,

• Sistema de Conseqüências: atuando sobre as ações que integram as funções e

responsabilidades, aplicando sanções, quando for o caso.

A Administração da Saúde Pública no Estado de Mato Grosso, por determinação

da Lei Complementar 112/02, instituiu o Código de Ética que, imputa a todos os

servidores desta Pasta comportamentos a serem cumpridos.

Para finalizar é Mister reforçar o ensinamento da já citada doutrinadora Maria

Silva Zanella Di Pietro:

Os Atos de Administração, “tanto no Direito Privado como no Direito Público,

limitam-se ao de guarda, conservação e percepção de frutos dos bens administrados.

Neles há sempre uma vontade externa ao administrador, impondo-lhe a

orientação a seguir vinculada ao princípio da finalidade, devendo ser útil ao interesse

que o administrador deve satisfazer e dependendo de uma vontade externa, individual

Page 12: Ética em Saúde.pdf

12

ou coletiva”, subordinados à Norma Jurídica, enquanto “regra social de conduta que

tem como base o poder social coercitivo do Estado sobre a população que habita o seu

território”.

Neste sentido, independe da Liberdade, ou seja, da “possibilidade de escolha,

exercida dentro das limitações impostas pelas circunstâncias histórico-legais”.

Os servidores e gestores da Saúde/MT, têm a Responsabilidade de arcar com

as conseqüências dos atos praticados”. Condição esta que garante a autonomia na

gestão do potencial humano, dos recursos materiais e financeiros da SES/MT, para a

satisfação do bem-comum.

Neste sentido, a Comissão de Ética elaborou um Manual que contempla 16

(dezesseis) Matérias, as quais se traduzem num total de 169 (cento e sessenta e nove)

Comportamentos, distribuídos no referido Manual. Este contém a Legislação que

disciplina o assunto e os responsáveis pelo cumprimento dos referidos

Comportamentos, bem como a quem cabe tomar as providências administrativas,

quando do descumprimento daqueles Comportamentos, pelos Gestores e Servidores

da SES/MT.

II.I. ESPÉCIES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Patrimonialista – a coisa pública não é diferenciada da particular. A corrupção e o

nepotismo permeiam este tipo de administração.

Burocrática – a partir de 1850 – o Estado Liberal Burguês se instala tendo como

suporte o controle rígido de processo, voltando-se para si mesmo. A

intenção era combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista.

Gerencial – deixa de basear-se nos processos, para concentrar-se nos resultados,

tendo como estratégias:

a) Eficácia – fazer o que é necessário.

b) Eficiência – usar a melhor técnica para realizar uma tarefa ou atividade.

c) Efetividade – alcançar os objetivos a que se propôs.

A administração Gerencial tem como paradigma os princípios: da confiança,

Page 13: Ética em Saúde.pdf

13

descentralização de decisão, formas flexíveis de gestão, horizontalização das funções e

descentralização de poder, e por fim, o incentivo à criatividade.

II.II. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O regime jurídico-administrativo se fundamenta em dois princípios básicos: a

Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e a Indisponibilidade, pela

Administração dos Interesses Públicos, conforme ensinamento de Celso Antônio B. de

Mello2 .Ensina o professor Bandeira de Mello, que estes Princípios3, bem como os deles

decorrentes, coordenam e orientam a atuação do poder público em sua função estatal.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 37, define

como princípios da Administração Pública:

Legalidade

“O administrador público está sujeito aos mandamentos da lei e

às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de

praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal”.

Impessoalidade

“Impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu

fim legal, vedando a prática de ato administrativo sem interesse público ou

conveniência à Administração. Pública.”

“Na Administração Pública não deverá ocorrer favoritismos ou

perseguições, simpatias ou animosidades, de ordem pessoal, política, religiosa ou

ideológica.”

“Impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal, vedando a

prática de ato administrativo sem interesse público ou conveniência à Administração

Pública.”

Moralidade:

2 Curso de Direito Administrativo. “São Paulo:Malheiros, 2003. p....” 3 Apesar do vocábulo comportar vários significados, Marcelo Neves define Sistema como “um conjunto de elementos (partes) que entram em relação formando um todo unitário” (Teoria da Inconstitucionalidade das Leis. São

Paulo: Saraiva, 1988. p. 02).

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14

“A Administração Pública e seus agentes devem agir de acordo

com os princípios éticos, lealdade e boa-fé, sendo interdito qualquer comportamento

astucioso, eivado de malícia, dificultando o exercício de direitos.”

Publicidade:

“Consiste na divulgação oficial do ato para conhecimento público e

início de seus efeitos legais, perante as partes e terceiros.”

Eficiência:

“Exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza,

perfeição e rendimento funcional.”(Introduzido na Constituição Federal através da

Emenda Constitucional N°. 19, de 4/6/98)

Além destes, a Administração Pública por força constitucional,

também se submete aos Princípios:

Segurança Jurídica;

Motivação;

Ampla Defesa e Contraditório;

Devido Processo Legal;

Controle Judicial dos Atos Administrativos, e outros.

O suporte principiológico da Carta Magna se destina a todos que direta ou

indiretamente fazem funcionar o aparelho Administrativo do Estado. Contingente este

compreendido pelo servidor público, que para a Lei Complementar n.º 112/2002, é “

todo aquele que, por força de lei, contrato ou de qualquer ato jurídico, preste serviços

de natureza permanente, temporária ou excepcional, ainda que sem retribuição

financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão ou entidade do

Poder estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades paraestatais,

as empresas públicas e as sociedades de economia mista, ou em qualquer setor onde

prevaleça o interesse do Estado de Mato Grosso.” (Art. 3º).

O servidor público para o exercício da função necessita da investidura em um cargo,

enquanto: “o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura

organizacional que devem ser cometidas a um servidor.” (Estatuto do Servidor

Page 15: Ética em Saúde.pdf

15

Público/MT) Estes cargos são criados por lei, organizados e providos em carreira,

implicando:

a) Posse – “É a investidura no cargo público mediante a aceitação expressa das

atribuições, deveres e responsabilidades inerentes ao cargo público com o

compromisso de bem servir, formalizada com a assinatura do termo pela

autoridade competente e pelo empossado.”

b) Exercício – “É o efetivo desempenho das atribuições do cargo.”

c) Estágio Probatório: Prazo de 36 meses de efetivo exercício no cargo que tomou

posse por força de concurso público de provas ou de provas e títulos.

Finalidade: Avaliação para o desempenho do cargo (aptidão e

capacidade); para estabilidade (provisória) no serviço público.

II.III. ESTADO / INCIATIVA PRIVADA /CARACTERÍSTICAS

° Comuns:

° Servir à Sociedade em Geral;

° Antagônicas:

I-Estado: mediante pagamento indireto

(tributos);

II – Privada: mediante pagamento direto;

° Submissão à Lei; I- Estado: mediante a expressa previsão

legal (só é permitido o que a Lei

expressamente autorizar);

I-Privada: é lícito fazer o que a Lei não

proíbe;

° Estabelecem Objetivos e Metas.

° Outros

I-Estado: trabalha em prol da

coletividade (Supremacia do Interesse

Público sobre o Privado);

II- Iniciativa Privada: trabalha visando os

interesses pessoais ou de grupos

Page 16: Ética em Saúde.pdf

16

A Constituição Federal/88, em seu artigo 170 esclarece que: a Administração

Privada consiste no exercício de atividades de caráter fundamentalmente empresarial,

nos mais diversos segmentos da sociedade, ficando o administrador (gerente,

supervisor, empresário, etc.), submetido a normas/regulamentos/leis, positivadas ou

não, de caráter geral e/ou específico, buscando a harmonização dos interesses do

Estado e do Indivíduo (empresário), de forma a garantir a livre iniciativa.

O exercício do cargo/função na Administração Pública tem como exigência

precípua, determinados comportamentos Ético-Legais, determinados pela Deontologia,

os quais para André Lalande 4, decorre da “teoria que estuda empiricamente os

diferentes deveres, relativos a uma situação social·”.

II.IV. FUNDAMENTOS LEGAIS DA ÉTICA NA SAÚDE PÚBLICA/MT

Após os referidos conceitos, fora elencado um rol sobre as Legislações que

fundamentam a Ética na Gestão Pública, facilitando a localização das matérias

reguladas e o suporte legal que as regulamentam:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – CF/88

CÓDIGO PENAL BRASILEIRO – CP Leis Nacionais

Lei 7.716/89 (Define os crimes de Preconceito racial)

Lei 7.853/89 (Dispõe sobre pessoa Portadora de Deficiência)

Lei 8.080/90 (Regulamenta o SUS)

Lei 8.213/91 ( Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social)

Lei 8.429/92 (Define os crimes de Improbidade Administrativa)

Lei 8.666/93 (Dispõe sobre a Licitação)

Lei 9.459/97 (Altera os arts. 1º e 2º da lei 7.716/89)

4 LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia.3º ed. São Paulo: Martins Fontes,1999.

Page 17: Ética em Saúde.pdf

17

Lei 9.983/00 (Altera o Código Penal incluindo os arts. 313-A e 313-B, Dec.

2848/1940 arts. 153 § 1º A e 327 § 1º)

Lei 10.224/01 (Altera o Decreto-Lei 2848/1940 e CP, disciplinando o Assédio

Sexual)

Lei 8.213/91 ( Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social)

Leis Estaduais

Constituição do Estado de Mato Grosso (1.989)

Lei Complementar 04/90 (Dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos

da Administração Direta das Autarquias e das Fundações Públicas Estaduais)

Lei 7.692/02 (Regula o Processo Administrativo no âmbito da Adm. Pública

Estadual)

Lei Complementar 80/00 (Dispõe sobre Avaliação de Desempenho dos

Servidores Públicos Civis do Estado de Mato Grosso)

Lei Complementar 112/02 (Institui o Código de Ética do Servidor Público

Civil do Estado de Mato Grosso)

Lei 7.360/00 / 7.392/03 / 8.049/03– Dispõe sobre a carreira dos

Profissionais do SUS e do Estágio Probatório

Lei 8.038/03 – Regula Atos Administrativos relativos à Pessoal no âmbito do

Poder Executivo)

Decretos Estaduais

Decreto 4.858/02(Regulamenta o funcionamento da Comissão de Permanente de

Ética no âmbito da Administração Pública Estadual)

Decreto 4.487/02 (Regulamenta o art. 13 da Lei Nacional 8.429/92)

Decreto 5.263/02 (Regulamenta Perícias Médicas)

Decreto 5.924/02 (Estabelece normas para a elaboração de atos Administrativos

relativos à Pessoal, e dá outras providências)

Decreto 1.317/03 (Regulamenta a concessão de férias dos Servidores Públicos

Civis do Estado de MT)

Page 18: Ética em Saúde.pdf

18

Decreto 2.129/03 (Dispõe sobre a Jornada de Trabalho dos Servidores da Adm.

Direta Autárquica e Fundacional Poder Executivo)

Decreto 3.006/04 (Disciplina a avaliação anual do desempenho para fins de

progressão vertical dos Servidores Públicos Civis no âmbito estadual).

Introdução

O ser humano depende em alto grau da natureza, dos seus semelhantes e da

organização social para satisfazer suas necessidades. Ele é o único dos seres vivos

que pode pensar, criar uma linguagem, planejar a sua ação e produzir seus meios de

subsistência. O meio ambiente do ser humano é um ambiente social, do qual provém o

estímulo fundamental para a formação e organização de suas qualidades psicológicas e

de suas condutas.

Ética Profissional

A preocupação do homem em determinar o que é certo e o que é errado, o que é

bom e o que é ruim, não faz parte apenas da história atual. Há mais de dois mil anos o

cristianismo tenta incutir valores morais em todo o mundo, como: não matar, não

roubar, não mentir, não cobiçar, etc. Desde então, a humanidade vem se defrontando

com a necessidade de regular seu comportamento por normas que se julgam mais

apropriadas ou mais dignas de serem cumpridas. Estas normas devem ser aceitas

intimamente; de acordo com elas, os indivíduos se ajustam em comportamentos de

convívio mais civilizados e de mais dignidade humana.

Nós, enquanto profissionais da saúde precisamos conhecer as normas que

foram estabelecidas para a nossa profissão e procurar refletir sobre a aplicação destas

Page 19: Ética em Saúde.pdf

19

na prática, pois estamos a serviço do ser humano, nas mais diversas situações e

circunstâncias da vida.

Acreditamos que, para uma boa existência humana e para que as pessoas

possam viver harmoniosamente no seu grupo social e profissional, faz-se necessário

que assumam compromissos éticos entre si. O principal compromisso ético que todo

ser humano deve assumir é o de tratar as pessoas como pessoas. Para isso, é

necessário desenvolver o respeito mútuo, procurando entender o ponto de vista do

outro.

A Conduta Humana

O termo conduta ou comportamento humano refere-se ao conjunto de

manifestações (emocionais, mentais, verbais, fisiológicos, motrizes) pelas quais o ser

humano reduz as tensões e realiza suas possibilidades. Entre outras palavras, a

conduta ou comportamento é a maneira de agir das pessoas.

Numa visão geral, a conduta humana pode ser determinada por dois momentos

distintos. O primeiro momento é interno, refere-se aos aspectos psíquicos ou mentais; é

quando a pessoa pensa no que vai fazer e decide de acordo com sua consciência, seus

valores e sua vontade. O segundo momento é caracterizado pela ação; é quando a

pessoa executa sua decisão ou manifesta uma reação.

A ação pode ser considerada voluntária ou involuntária. Entendemos por ação

voluntária quando a ação é de acordo com a sua vontade, ou seja, você refletiu e

decidiu, conscientemente, antes de agir. A ação é considerada involuntária quando a

pessoa não teve condições de pensar e/ou decidir sobre sua ação. O ato involuntário

geralmente é praticado sob coação, ameaças, risco de vida ou fortes condicionantes

psíquicos. Então a ações involuntárias acontecem em situações diversas. Ex.: Inspeção

em Locais pertencentes a Autoridades onde encontramos irregularidades e não

podemos muitas vezes atuar devidamente, devida a pressão exercida pela chefia .

Nesse contexto, acreditamos que a maneira de agir das pessoas é em grande

parte determinada pelo subconsciente, isto é, nem sempre as pessoas estão

conscientes dos seus atos, do que querem ou acreditam. Assim, a intenção consciente

da ação é o que determina a classificação de um ato como voluntário ou não.

Page 20: Ética em Saúde.pdf

20

Por outro lado, podemos constatar que não existe um indivíduo com

comportamento igual a outro. Todas as pessoas, em qualquer lugar do mundo,

comportam-se de maneiras diferentes umas das outras. No entanto, podemos observar

que é comum encontrar comportamentos semelhantes num mesmo grupo social. As

características comportamentais semelhantes normalmente acontecem por influência

dos costumes do meio em que a pessoa vive. Exemplo: o hábito de tomar chimarrão

pela manhã. Você pode observar que este é um comportamento semelhante num

grande número de pessoas que moram no sul do Brasil. Porém, é raro encontrar uma

pessoa do norte do país, que não morou ou nasceu no sul, tendo este comportamento.

O meio em que se desenvolve o ser humano é, em grande parte, criado por ele

mesmo. Podemos considerar que os costumes são criados pelos homens. Por este

motivo, assim como os costumes podem influenciar na conduta humana, o homem por

sua vez pode intervir nos costumes. Exemplificando: se o grupo social em que você

vive procurar desenvolver as condutas ou comportamentos voluntários, refletindo

constantemente sobre suas ações, a influência dos costumes sobre as pessoas do

grupo poderá ser menor. Em contrapartida, a possibilidade das pessoas deste grupo

intervir nos costumes poderá ser maior.

Ex: mulher durante o puerpério não pode lavar a cabeça;

Normas de Conduta

Normas de conduta são regras de agir. Os estudiosos sobre o comportamento

humano não deixam de considerar uma preocupação universal pela retidão da conduta

humana. Esta preocupação se revela nas normas, orais ou escritas, presentes em

todas as comunidades do mundo. Estas normas estabelecem regras gerais de agir,

cujo cumprimento os seres humanos exigem seriamente uns dos outros, e até punem

quem se nega a observá-las. As normas podem apresentar-se sob várias formas: Lei,

Decreto-lei, Decreto, Regulamento, Resolução, Código, Estatuto, Regimento, Rotina,

etc.

As normas podem, também, não serem escritas, como você pode observar, por

exemplo, nas normas de “boas maneiras” (ao sentar-se, ao alimentar-se, aos cuidados

de higiene pessoal e muitas outras), ou ainda, nas comunidades indígenas. Todas

Page 21: Ética em Saúde.pdf

21

impõem ao indivíduo normas de conduta compatível com a ética, a moral, os costumes

e os valores do grupo social ao qual representa.

Assim, escritas ou não, as normas estabelecidas pelos diversos grupos sociais,

devem ser cumpridas para que possa existir um convívio harmonioso entre as pessoas.

Todavia, se as normas estabelecidas não estão atendendo os anseios e necessidades

da sociedade, as pessoas têm o direito e o dever de questioná-las e intervir para que

ocorram mudanças nestas normas.

Nas últimas décadas, as pessoas que estudam e escrevem sobre a conduta

humana, demonstram preocupação com as grandes mudanças das normas de conduta

em nossa época. A facilidade e agilidade com que estas normas estão mudando,

podem ser consideradas como uma demonstração da crise de valores éticos e morais

que a humanidade vem enfrentando. Esta afirmação poderá ficar mais claramente

entendida depois que você ler os itens sobre moral, valores e ética.

Moral

A palavra moral tem origem no latim – morus – significando os usos e costumes.

Segundo Vázques (1992, p.25), moral é “um conjunto de normas e regras

destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social”.

Nesta mesma direção, Gelain (1987, p. 5), conceitua moral como sendo “a

ciência que ser preocupa com os atos humanos, os bons costumes, os deveres do

homem individual, grupal e perante seu grupo profissional”.

Com base nestes dois conceitos, podemos constatar que o comportamento

moral se encontra no homem desde o início de sua existência, ou seja, desde as

comunidades mais primitivas. Entendemos que os princípios da moral podem mudar e

se desenvolver a medida em que a sociedade vai se desenvolvendo. Como exemplo,

você pode observar as normas de conduta referentes ao vestuário. Há algumas

décadas atrás, em nosso país, era imoral a mulher usar saia acima dos joelhos ou

roupas de praia que mostrassem a barriga. Hoje, você pode constatar que esta

realidade é outra, as normas de conduta moral mudaram a medida em que a sociedade

foi se modificando.

Page 22: Ética em Saúde.pdf

22

As normas de comportamento moral, também, podem variar entre os diversos

grupos sociais. Citamos como exemplo, os grupos religiosos. Você deve conhecer ou já

ouviu falar, de algumas religiões que adotam normas de comportamento moral, por

vezes, bastante diferenciadas das normas gerais da sociedade, tais como: não beber

bebidas alcoólicas, não fumar, não ouvir rádio nem televisão (exceto programas

religiosos), não usar vestuários que possam induzir a provocação sexual e outros.

Exemplos como estes, em que as normas morais são diferenciadas da grande

maioria da população, também devem ser respeitados, principalmente na relação

profissional, onde você irá encontrar pessoas (clientes ou trabalhadores) dos mais

diversos grupos sociais, religiosos, políticos, etc. Entretanto, é importante que você

tenha em mente que, respeitar o direito das pessoas em seguir determinadas normas

morais, não implica em aceitar estas normas para si, mas sim, respeitar o direito que as

pessoas têm de optar por seguir tais normas.

Assim podemos entender que a moral tende a fazer com que as pessoas

harmonizem de maneira consciente e livre, seus interesses pessoais com os interesses

coletivos de determinado grupo social ou da sociedade inteira.

Ética

Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis. A primeira é a

palavra grega éthos, com e curto (pronúncia), que pode ser traduzida por costume, a

segunda também se escreve éthos, porém com e longo, que significa propriedade do

caráter.

Para Vázquez (1992, p. 12), “a ética é a teoria ou ciência do comportamento

moral dos homens em sociedade”. Assim, podemos entender de uma forma mais

simples, que ética é a ciência que estuda as normas de conduta moral, para aperfeiçoá-

las. A ética se preocupa com os atos conscientes, voluntários, em que o indivíduo

reflete e decide de modo responsável e que, conseqüentemente, sua decisão pode

afetar outras pessoas, comunidades ou a sociedade em seu conjunto.

Agora que você já leu sobre conduta humana, regras de conduta e moral, deve

ter entendido com maior clareza o conceito de ética. Como você pode observar, ética e

Page 23: Ética em Saúde.pdf

23

moral, se relacionam; ambas dizem respeito ao comportamento humano. A moral está

relacionada com as regras estabelecidas para nortear os atos humanos em grupos

sociais e a ética estuda estas regras num sentido mais amplo e universal.

Atualmente, a humanidade vem demonstrando uma forte tendência no

questionamento dos seus valores éticos. Observamos que as pessoas sentem-se

insatisfeitas com os valores rígidos voltados para os direitos e deveres, com

características repressivas, normalmente criadas pela pressão social. O mundo atual

busca uma ética orientada para a ciência, a tecnologia e as organizações, a fim de

salvar a vida do planeta e a integridade dos grupos sociais.

Assim, é importante que você esteja em constante questionamento. Pode-se

observar, existem várias formas de entender a ética, não é necessário que conheça

todas as doutrinas de estudo, porém, você deve saber que elas existem para que possa

compreender porque as pessoas decidem se comportar de formas diferentes.

Valores

Valor é uma variável da mente que faz com que o ser humano decida ou escolha

se comportar numa determinada direção e dentro de determinada importância (Weil,

1993, p. 47).

Em outras palavras, podemos dizer que valor é aquilo com que se preza ou se

rejeita uma coisa, pessoa ou idéia. È a distinção do que é o bem e o mal, do que é o

certo e o errado, do que é o belo e o feio, do que é agradável e desagradável, para

então decidir como devemos nos comportar.

Os valores podem ser classificados, de uma maneira geral, como valores

construtivos ou positivos e valores destrutivos ou negativos. Parece que esta

classificação torna-se mais adequada porque rompe a tradicional dicotomia do “certo-

errado” ou “bem-mal” (Weil, 1993).

Consideramos construtivos os valores que favorecem comportamentos que

aprimoram a vida e a existência dos seres vivos, tanto do ponto de visto de sua

manutenção, quanto na busca da felicidade e da participação social.

Page 24: Ética em Saúde.pdf

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Consideramos destrutivos os valores que favorecem comportamentos que

contribuem para a desagregação da existência dos seres vivos, impedindo ou

prejudicando a sua evolução natural.

A lista de valores é imensa. Weil (1993), cita que, em 1986, a Enciclopédia de

Problemas Humanos e Potencial Humano recenseou 2000 valores diferentes. O autor

cita, ainda, que foi realizada uma pesquisa sobre aceitação e rejeição dos valores sem

questionamentos; nesta pesquisa conseguiram listar 960 valores construtivos e 1040

valores destrutivos.

Exemplos de valores considerados por Weil como construtivos: paz, conforto,

defesa, tranqüilidade, coragem, saúde, vida, alegria, decência, disciplina, fidelidade,

lealdade, sexualidade, dignidade, direito, dever, justiça, liderança, modéstia,

obediência, respeito, afeição, amizade, amor, ajuda, bondade, caridade,

companheirismo, cuidado, dedicação, tolerância, paciência, gratidão, harmonia, união,

criatividade, bom senso, coerência, franqueza, imparcialidade, integridade, reflexão,

responsabilidade, retidão, sabedoria, solidariedade, verdade, felicidade, espiritualidade,

maturidade, etc.

Exemplos de valores considerados destrutivos: agressão, destruição, roubo,

violência, ciúme, libertinagem, luxúria, pornografia, possessividade, matança, ambição,

desprezo, dominação, orgulho, tirania, vaidade, crueldade, egoísmo, frieza, indiferença,

mágoa, maldade, ódio, raiva, vingança, cinismo, desonestidade, engano, falsidade,

hipocrisia, mentira, parcialidade, desconfiança, discriminação, ceticismo, etc.

Tanto no exercício profissional como na vida pessoal, você deve estar bem

consciente destes valores; deve procurar continuamente aprimorar e fortalecer os

valores construtivos, como a responsabilidade, a solidariedade, a disciplina, a lealdade,

a vida, a saúde, entre outros já citados anteriormente. E inibir, bloquear e se libertar dos

valores destrutivos, como a indiferença, a raiva, o cinismo, a desonestidade, a mentira,

a discriminação e outros. Assim, você conseguirá trabalhar e viver em harmonia, com

felicidade e em equilíbrio com as suas necessidades humanas, pois acreditamos que à

medida que se aprimoram os valores, encontramos o sentido da vida. Em contrapartida,

à medida que se perdem os valores, perdemos o sentido da vida.

Page 25: Ética em Saúde.pdf

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A Bioética abarca a ética médica, porém não se limita a ela. A ética médica, em

sentido tradicional dos problemas relacionados a valores que surgem da relação entre

médico e pacientes. A bioética constitui conceito mais amplo, com quatro aspectos

importantes:

‹ Compreende os problemas relacionados a valores que surgem em todas as

profissões de saúde;

‹ Aplicam-se as investigações biomédicas e as do comportamento

independentemente de influírem ou não de forma direta na terapêutica;

‹ Aborda uma ampla gama de questões sociais, como as que se relacionam com

a saúde ocupacional e com a ética do controle da natalidade entre outras;

‹ Vai além da vida e da saúde humana, enquanto compreende questões relativas

à vida dos animais, das plantas, por exemplo, no que concerne as

experimentações com animais e às demandas ambientais conflitivas.

A publicação, em 1979, do livro chamado “Principles of Biomedical Ethics”, que

expõem uma teoria, fundamentada em quatro princípios básicos – não maleficência,

beneficência, respeito à autonomia e justiça, tornar-se-ia fundamental para o

desenvolvimento da Bioética e ditaria uma forma peculiar de definir e manejar os

valores envolvidos nas relações dos profissionais de saúde e seus pacientes.

Estes quatro princípios, que não possuem um caráter absoluto, nem tem prioridade

um sobre o outro, servem como regras gerais para orientar a tomada de decisão frente

aos problemas éticos e para ordenar os argumentos nas discussões de casos.

Em seu livro “The Right and the Good”, de 1930, William David Ross expressa o

conceito de que a vida moral está fundamentada em alguns princípios básicos,

evidentes e incontestáveis, que todos os seres humanos consideram obrigatórios,

chamando-os de deveres prima facie.

Page 26: Ética em Saúde.pdf

26

Mas o que é dever prima facie?

Sir David Ross, em 1930, propunha que não há, nem pode haver regras sem

exceção. O dever prima facie é uma obrigação que se deve cumprir, a menos que ela

entre em conflito, numa situação particular, com outro dever de igual ou maior porte.

Segundo este mesmo autor, estes deveres podiam ser categorizados como:

1. Deveres para com os outros devido a atos prévios de você mesmo:

Fidelidade (manter as promessas...)

Reparação (compensar as pessoas por danos ou lesões causadas)

Gratidão (agradecer as pessoas pelos benefícios que conferiram a

você)

2. Deveres para com os outros não baseados em ações prévias:

Beneficiência (ajudar aos outros em necessidade)

Não-Maleficência (não causar danos a outros sem uma razão

poderosa)

Justiça (tratar os outros de forma justa)

3. Deveres para consigo mesmo

Aprimorar-se física, intelectual e moralmente para alcançar o seu pleno

potencial.

O ponto de partida para orientar qualquer discussão ética deve ser a análise

destas quatro condições, de como elas podem ser mais bem respeitadas em cada

caso.

Desde o seu aparecimento, o principalismo gerou crítica. O problema reside no

caráter relativo dos princípios, fazendo com que surjam conflitos ente eles porque, na

prática, nem sempre se pode respeita-los igualmente. Por outro lado, tem a vantagem

de ser operacional, constituindo-se em parte necessária, apesar de nem sempre

suficiente, para a tomada de decisão. Os princípios facilitam e ordenam a análise dos

casos concretos e, a partir de então, se pode necessitar de outros valores para

aprofundar a análise ética.

Page 27: Ética em Saúde.pdf

27

Princípio De Não Maleficência

De acordo com este princípio, o profissional de saúde tem o dever de,

intencionalmente, não causar mal e/ou danos. Considerado por muitos com o

princípio fundamental da tradição hipocrática da ética médica, tem suas raízes em uma

máxima que preconiza: “cria o hábito de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos,

não causar danos”. Este preceito, mais conhecido em sua versão para o latim (primum

non nocere), é utilizado freqüentemente como uma exigência moral da profissão

médica. Trata-se portanto, de um mínimo ético, um dever profissional, que, se não

cumprido, coloca o profissional de saúde, numa situação de má prática ou prática

negligente da medicina ou das demais profissões da área biomédica.

Princípio da Beneficência

A beneficência tem sido associada à excelência profissional desde os tempos da

medicina grega, e esta expressa no juramento de Hipócrates: “Usarei o tratamento para

ajudar os doentes, de acordo com minha habilidade e julgamento e nunca o utilizarei

para prejudica-los.”

Beneficência œ quer dizer

fazer o bem

A beneficência, conforme alguns dos autores representativos da filosofia moral

que usaram o termo, é uma manifestação da benevolência.

De uma maneira prática, isto significa que temos a obrigação moral de agir para

o benefício do outro. Este conceito significa fazer o que é melhor para a população, não

só do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista ético. É usar todos os

conhecimentos e habilidades profissionais a serviços da população, considerando, na

tomada de decisão, a minimização dos riscos e a maximização dos benefícios do

procedimento a realizar.

De forma geral, a benevolência, tem as seguintes características:

1) É uma disposição emotiva que tenta fazer bem aos outros;

Page 28: Ética em Saúde.pdf

28

2) É uma qualidade boa do caráter das pessoas, uma virtude;

3) É uma disposição para agir de forma correta;

4) De forma geral, todos os seres humanos normais a possuem.

Este princípio obriga o profissional de saúde a ir além da não maleficência (não

causar danos intencionalmente) e exige que ele contribua para o bem estar da

população promovendo ações:

a) Para prevenir e remover o mal ou dano;

b) Para fazer o bem, entendido aqui como a saúde física, emocional e

mental.

Princípio de Respeito à Autonomia

Autonomia é um termo derivado do grego “auto” (próprio) e “nomos” (lei, regra,

norma).

Autonomia:

Auto: próprio;

Nomos: lei, regra, norma;

Autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar aquilo que ela

julga ser o melhor para si mesma. Para que ela possa exercer esta autodeterminação

são necessárias duas condições fundamentais;

a) Capacidade para agir intencionalmente, o que pressupõe compreensão,

razão e deliberação para decidir coerentemente entre as alternativas que

lhe são apresentadas;

b) Liberdade, no sentido de estar livre de qualquer influência controladora

para esta tomada de posição.

Já o respeito à Autonomia significa ter consciência deste direito da pessoa de

possuir um projeto de vida próprio, de ter seus pontos de vista e opiniões, de fazer

escolhas autônomas, de agir segundo seus valores e convicções. Respeitar a

autonomia é, em última análise, preservar os direitos fundamentais do homem,

aceitando o pluralismo ético-social que existe na atualidade.

Page 29: Ética em Saúde.pdf

29

Este princípio obriga o profissional de saúde a dar a população a mais completa

informação possível, com o intuito de promover uma compreensão adequada dos

problemas existentes. Respeitar a autonomia significa, ainda, ajudar as pessoas a

encontrar uma solução para os problemas.

Princípio da Justiça

Justiça está associada preferencialmente com as relações entre grupos sociais,

preocupando-se com a equidade na distribuição de bens e recursos considerados

comuns, numa tentativa de igualar as oportunidades de acesso a estes bens.

O conceito de justiça, do ponto de vista filosófico, tem sido explicado com o uso

de vários termos. Todos eles interpretam a justiça como um modo justo, apropriado e

eqüitativo de tratar as pessoas em razão de alguma coisa que é merecida ou devida a

elas. Estes critérios de merecimento, ou princípios materiais de justiça, devem estar

baseados em algumas características capazes de tornar relevante e justo este

tratamento.

A ética, em seu nível público, além de proteger a vida e a integridade das

pessoas, objetiva evitar a discriminação, a marginalização e a segregação social. Neste

contexto, o conceito de justiça deve fundamentar-se na premissa que as pessoas têm

direito a um mínimo decente de cuidados com sua saúde. Isto inclui garantias de

igualdade de direitos, equidade na distribuição de bens, riscos e benefícios, respeito às

diferenças individuais e a busca de alternativas para atende-las, liberdade de expressão

e igual consideração dos interesses envolvidos nas relações do sistema de saúde, dos

profissionais e dos usuários.

Page 30: Ética em Saúde.pdf

30

b) Adequação das condições do ambiente

profissional, para a prática das ações que

Dr. Hélio Pereira Dias Procurador Geral da ANVISA

As profissões e ocupações de saúde serão declaradas e definidas em cada país,

por lei ou atos emanados de órgãos competentes conforme as suas necessidades, e

controladas, no seu exercício, pelas autoridades de saúde e pelos organismos

incumbidos de zelar pelas condutas ética e disciplinar.

No Brasil, a fiscalização sanitária das condições de exercício de profissões e

ocupações técnicas e auxiliares, relacionadas diretamente com a saúde, se realiza por

meio da verificação, “in loco”, com observância dos seguintes requisitos:

a) Capacidade legal do agente, pelo exame dos documentos de habilitação

inerentes ao seu âmbito profissional ou ocupacional, compreendendo as

formalidades intrínsecas e extrínsecas do diploma ou certificado respectivo, tais

como registro, expedição por estabelecimento vigentes no País e inscrição dos

seus titulares, quando for o caso, nos conselhos regionais pertinentes, ou em

outros órgãos competentes previstos na legislação federal básica de ensino;

onde se processa a atividade

visem à promoção, proteção e

recuperação da saúde;

c) Existência de instalações, equipamentos e aparelhagens indispensáveis e

condizentes com as suas finalidades, e em perfeito estado de funcionamento;

d) Meios de proteção capazes de evitar efeitos nocivos à saúde dos agentes, dos

clientes, dos pacientes e dos circunstantes;

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31

e) Métodos ou processos de tratamentos, de acordo com critérios científicos não

vedados por lei, e técnicas de utilização de equipamentos.

Além de registrar nos organismos definidos em cada País os seus títulos, os

profissionais de saúde devem cooperar com a autoridade sanitária em casos de

emergência.

Além disso, sujeitar-se-ão, no exercício de suas atividades, às regras do código de

ética profissional vigente e, inexistindo esse, às regras ditadas pela autoridade de

saúde, sem prejuízo das obrigações que, direta ou indiretamente, sejam impostas pela

lei de saúde e outras especiais.

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32

Rosana Soibelmann Glock José Roberto Goldin

O que é Ética Profissional?

É extremamente importante saber diferenciar a Ética, da Moral e do Direito.

Estas três áreas de conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até

mesmo sobreposições.

Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer uma

certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.

A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de

garantir o seu bem-viver. A moral independe das fronteiras geográficas e garante uma

identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo

referencial moral comum.

O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pela

fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem apenas para aquela

área geográfica onde uma determinada população ou seus delegados vivem. Alguns

autores afirmam que o direito é um sub-conjunto da moral. Esta perspectiva pode gerar

a conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações demonstram

a existência de conflitos entre a moral e o direito, apesar de referirem-se a uma mesma

sociedade, podem ter perspectivas discordantes.

A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou

injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas

para as regras propostas pela moral e pelo Direito. Ela é diferente de ambos – Moral e

direito – pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que

caracteriza a ética.

Page 33: Ética em Saúde.pdf

33

Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão?

Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão deve

iniciar bem antes da prática profissional.

A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas vezes já

deve ser permeada por esta reflexão. A escolha por uma profissão é optativa, mas ao

escolhê-la, o conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Geralmente,

quando você é jovem, escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que

está preste ao assumir tornando-se parte daquela categoria que escolheu.

Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências e

habilidades referentes à prática específica numa determinada área, deve incluir a

reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Ao completar a formação em nível

superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e comprometimento com

a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da

chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um conjunto de regras

estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício.

Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar ou

paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade profissional sem completar os

estudos ou em área que nunca estudou, aprendendo na prática. Isto não exime você da

responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade! O fato de uma pessoa trabalhar

numa área que não escolheu livremente, o fato de “pegar o que apareceu” como

emprego por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade remunerada onde não

pretende seguir carreira, não isenta da responsabilidade de pertencer, mesmo que

temporariamente, a uma classe, e há deveres a cumprir.

Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar de almoxarifado durante o

dia e, á noite, faz curso de programador de computadores, certamente estará pensando

sobre seu futuro em outra profissão, mas deve sempre refletir sobre sua pratica atual.

ÉTICA PROFISSIONAL: Como é esta reflexão

Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se um hábito

incorporado ao dia-a-dia.

Page 34: Ética em Saúde.pdf

34

Por exemplo, uma pessoa pode perguntar sobre os deveres assumidos ao

aceitar o trabalho como auxiliar de almoxarifado, como está cumprindo suas

responsabilidades, o que esperam dela na atividade, o que ela deve fazer, e como deve

fazer, mesmo quando não há outra pessoa olhando ou conferindo.

Pode perguntar a si mesmo:

V Estou sendo um bom profissional?

V Estou agindo adequadamente?

V Realizo corretamente minha atividade?

É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que não estão

descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a todas as

atividades que uma pessoa pode exercer.

Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo quando a

atividade é exercida solitariamente em uma sala, ela faz parte de um conjunto maior de

atividades que dependem do bom desempenho desta.

Uma postura pró-ativa, ou seja, não ficar restrito apenas às tarefas que foram

dadas a você, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja

temporário.

Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer ruas e juntar o lixo,

mas você pode também tirar o lixo que você vê que está prestes a cair na rua, podendo

futuramente entupir uma saída de escoamento e causando uma acumulação de água

quando chover. Você pode atender num balcão de informações respondendo

estritamente o que lhe foi perguntado, de forma fria, e estará cumprindo seu dever, mas

se você mostrar-se mais disponível, talvez sorrir, ser agradável, a maioria das pessoas

que você atende também serão assim com você, e seu dia será muito melhor.

Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se espera, desde que

você esteja aberto e receptivo, e que você se preocupe em ser um pouco melhor a

cada dia, seja qual for sua atividade profissional. E, se não surgir, outro trabalho,

certamente sua vida será mais feliz, gostando do que você faz e sem perder, nunca, a

dimensão de que é preciso sempre continuar melhorando, aprendendo,

experimentando novas soluções, criando novas formas de exercer as atividades, aberto

Page 35: Ética em Saúde.pdf

35

a mudanças, nem que seja mudar, às vezes, pequenos detalhes, mas que podem fazer

uma grande diferença na sua realização profissional e pessoal. Isto tudo pode

acontecer com a reflexão incorporada a seu viver.

E isto é parte do que se chama empregabilidade: a capacidade que você pode

ter de ser um profissional que qualquer patrão desejaria ter entre seus empregados, um

colaborador. Isto é ser um profissional eticamente bom.

Ética Profissional E Relações Sociais

O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento de água

da chuva, o auxiliar de almoxarifado que verifica se não há umidade no local destinado

para colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião que confere as suturas nos tecidos

internos antes de completar a cirurgia, a atendente do asilo que se preocupa com a

limpeza de uma senhora idosa após ir ao banheiro, o contador que impede uma fraude

ou desfalque, ou que não maquia o balanço de uma empresa, o engenheiro que utiliza

o material mais indicado para a construção de uma ponte, todos estão agindo de forma

eticamente correta em suas profissões, ao fazerem o que não é visto, ao fazerem aquilo

que, alguém descobrindo, não saberá quem fez, mas que estão preocupados, mais do

que com os deveres profissionais, com as Pessoas.

As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os

profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele

profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte

do comprometimento do profissional em ser eticamente correto, aquele que,

independente de receber elogios, faz a coisa certa.

Ética Profissional e atividade voluntária

Outro conceito interessante de examinar é o de profissional, como aquele que é

regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou atividade que exerce atividade

voluntária não seria profissional, e está é uma conceituação polêmica.

Em realidade, Voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer a prática

Profissional não-remunerada, seja com fins assistenciais, ou prestação de serviços em

beneficência, por um período determinado ou não.

Page 36: Ética em Saúde.pdf

36

Aqui, é fundamental observar que só é eticamente adequado, o profissional que age,

na atividade voluntária, com todo o comprometimento que teria no mesmo exercício

profissional se este fosse remunerado.

Seja esta atividade voluntária na mesma profissão da atividade remunerada ou em

outra área. Por exemplo: um engenheiro que faz a atividade voluntária de dar aulas de

matemática. Ele deve agir, ao dar estas aulas, como se esta fosse sua atividade mais

importante. E isto que aquelas crianças cheias de dúvidas em matemática esperam

dele.

Se a atividade é voluntária, foi sua opção realiza-la. Então, é eticamente adequado que

você a realize da mesma forma como faz tudo que é importante em sua vida.

Ética Profissional: Pontos para sua reflexão

É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não apenas as

mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área profissional, mas também nos

aspectos legais e normativos. Vá e busque o conhecimento. Muitos processos ético-

disciplinares nos conselhos profissionais acontecem por desconhecimento, negligência.

Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas,

confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvimento,

afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com as pessoas,

responsabilidade corresponder à confiança que é depositada em você...

Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado são indissociáveis

Page 37: Ética em Saúde.pdf

37

Estamos apresentando o Código de Ética Profissional que serve de referência

para todo servidor público no exercício de usa profissão.

Quando existe ética no trabalho, existe confiança. A confiança permite a

agilização das tarefas e ganhos na produtividade. A instituição precisa de funcionários

que “vistam a camisa”, para que se comprometam a exercer uma função e a buscar

soluções para os problemas que surgem, respeitando os colegas de trabalho e as

normas da sociedade.

É preciso, acima de tudo, que cada um seja honesto consigo mesmo, aceitando

seus limites e valorizando seus potenciais.

LEI COMPLEMENTAR N° 112, DE 1º DE JULHO DE 2002 - D.O. 1º.07.02.

Autor: Poder Executivo

Institui o Código de Ética

Funcional do Servidor Público

Civil do Estado de Mato Grosso.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO, tendo em vista o

que dispõe o art. 45 da Constituição Estadual, sanciona a seguinte lei complementar:

CAPÍTULO I

Seção I Das Regras Deontológicas

Art. 1º Esta lei complementar institui o Código de Ética Funcional do

Servidor Público Civil do Estado de Mato Grosso.

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Art. 2º O exercício de cargo efetivo ou em comissão, emprego público

ou função de confiança exige conduta compatível com os preceitos deste Código e com

os demais princípios da moral individual, social e funcional, em especial com os

seguintes:

I - a dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos

princípios morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no

exercício de cargo, emprego ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da

vocação do próprio Poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão

direcionados para a preservação da honra e da tradição dos serviços públicos

estaduais;

II - o servidor público não poderá jamais desprezar o elemento

ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o

justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas

principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no artigo

37, caput, e § 4º, da Constituição Federal;

III - a moralidade da Administração Pública Estadual não se limita

à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da idéia de que o fim é sempre

o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor

público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo;

IV - a remuneração do servidor público é custeada pelos tributos

pagos direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como

contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento

indissociável de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como conseqüência, em

fator de legalidade;

V - o trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a

comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que,

cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado como

seu maior patrimônio;

VI - a função pública integra-se na vida particular de cada servidor

público. Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada

poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional;

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VII - salvo os casos de investigações policiais ou interesse

superior do Estado e da Administração Pública Estadual, a serem preservados em

processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer

ato administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão

comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar;

VIII - toda pessoa tem direito à verdade. O servidor público não

pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa

interessada ou da Administração Pública Estadual. O Estado de Mato Grosso não pode

crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão, ou da

mentira, que sempre aniquila a dignidade humana;

IX - a cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao

serviço público estadual caracterizam o esforço pela disciplina;

X - tratar mal uma pessoa que paga seus tributos direta ou

indiretamente significa causar-lhe dano moral;

XI - causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio

público, deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa

ao equipamento e às instalações ou ao Estado de Mato Grosso, mas a todos os

homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e

seus esforços para construí-los;

XII - deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de

solução que compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de

longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço, não

caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente

dano moral aos usuários dos serviços públicos estaduais;

XIII - o servidor público deve prestar toda a sua atenção às ordens

legais de seus superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim,

evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios

tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no

desempenho da função pública;

XIV - toda ausência injustificada do servidor público de seu local

de trabalho é fator de desmoralização do serviço público estadual, o que quase sempre

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conduz à desordem nas relações humanas;

XV - o servidor público que trabalha em harmonia com a estrutura

organizacional, respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode

receber colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade para o

crescimento e o engrandecimento do Estado de Mato Grosso.

Seção II

Dos Deveres Fundamentais do Servidor Público

Art. 3º Para fins de apuração do comprometimento ético, entende-se

por servidor público todo aquele que, por força de lei, contrato ou de qualquer ato

jurídico, preste serviços de natureza permanente, temporária ou excepcional, ainda que

sem retribuição financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão

ou entidade do Poder estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades

paraestatais, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, ou em

qualquer setor onde prevaleça o interesse do Estado de Mato Grosso.

Art. 4º São deveres fundamentais do servidor público:

I - desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo efetivo ou em

comissão, emprego público ou função de confiança de que seja titular;

II - exercer suas atribuições, com rapidez, perfeição e rendimento,

pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias,

principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na prestação dos

serviços pelo setor em que exerça suas atribuições, com o fim de evitar dano moral ao

usuário;

III - ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade

do seu caráter, escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opções, a melhor e

a mais vantajosa para o bem comum;

IV - jamais retardar qualquer prestação de contas, condição

essencial da gestão dos bens, direitos e serviços da coletividade a seu cargo;

V - tratar cuidadosamente os usuários dos serviços públicos

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estaduais, aperfeiçoando o processo de comunicação e contato com o público;

VI - ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios

éticos que se materializam na adequada prestação dos serviços públicos estaduais;

VII - ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção,

respeitando a capacidade e as limitações individuais de todos os usuários dos serviços

públicos estaduais, sem qualquer espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo,

nacionalidade, cor, idade, religião, cunho político e posição, abstendo-se, dessa forma,

de causar-lhes dano moral;

VIII - ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de

representar contra qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o

Poder estatal;

IX - resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de

contratantes, interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses ou

vantagens indevidas em decorrência de ações imorais, ilegais ou aéticas e denunciá-

las;

X - zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências

específicas da defesa da vida e da segurança coletiva;

XI - ser assíduo e freqüente ao serviço, na certeza de que sua

ausência provoca danos ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em todo o

sistema;

XII - comunicar imediatamente a seus superiores todo e qualquer

ato ou fato contrário ao interesse público, exigindo as providências cabíveis;

XIII - manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho,

seguindo os métodos mais adequados à sua organização e distribuição;

XIV - participar dos movimentos e estudos que se relacionem com

a melhoria do exercício de suas funções, tendo por escopo a realização do bem

comum;

exercício da função;

XV - apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao

XVI - manter-se atualizado com as instruções e normas de

serviço, bem como com a legislação pertinente ao órgão ou entidade onde exerce suas

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funções;

XVII - cumprir, de acordo com as normas do serviço e as

instruções superiores, as tarefas de seu cargo, emprego ou função, tanto quanto

possível com critério, segurança e rapidez, mantendo sempre em boa ordem;

XVIII - facilitar a fiscalização de todos os atos ou serviços por

quem de direito;

XIX - exercer, com estrita moderação, as prerrogativas funcionais

que lhe sejam atribuídas, abstendo-se de fazê-lo contrariamente aos legítimos

interesses dos usuários dos serviços públicos estaduais e dos jurisdicionados

administrativos;

XX - abster-se, de forma absoluta, de exercer sua função, poder

ou autoridade com finalidade estranha ao interesse público, mesmo que observando as

formalidades legais e não cometendo qualquer violação expressa à lei;

XXI - divulgar e informar a todos os integrantes da sua classe

sobre a existência deste Código de Ética Funcional, estimulando o seu integral

cumprimento.

Seção III

Das Vedações ao Servidor Público

Art. 5º É vedado ao servidor público:

I - o uso do cargo, emprego ou função, bem como facilidades,

amizades, tempo, posição e influências, para obter qualquer favorecimento, para si ou

para outrem;

II - prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores

públicos ou de cidadãos que deles dependam;

III - ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente

com erro ou infração a este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão;

IV - usar de artifícios para procrastinar o exercício regular de

direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material;

V - deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos ao seu

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alcance ou do seu conhecimento para atendimento do seu mister;

VI - permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos,

paixões ou interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o público ou com

colegas hierarquicamente superiores ou inferiores;

VII - pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo

de ajuda financeira, gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer

espécie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua missão ou

para influenciar outro servidor público para o mesmo fim;

VIII - alterar ou deturpar o teor de documentos que deva

encaminhar para providências;

IX - iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do

atendimento em serviços públicos estaduais;

X - desviar servidor público para atendimento a interesse

particular;

XI - retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado,

qualquer documento, livro ou bem pertencente ao patrimônio público estadual;

XII - fazer uso de informações privilegiadas obtidas no âmbito de

seu serviço, em benefício próprio, de parentes, de amigos ou de terceiros;

XIII - apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele;

XIV - dar o seu concurso a qualquer instituição que atente contra a

moral, a honestidade ou a dignidade da pessoa humana;

XV - exercer atividade profissional aética ou ligar o seu nome a

empreendimentos de cunho duvidoso.

CAPÍTULO II

DAS COMISSÕES DE ÉTICA

Art. 6º Em todos os órgãos e entidades do Poder Executivo, bem assim

nos Poderes Legislativo e Judiciário do Estado de Mato Grosso, deverá ser criada,

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através de portaria do respectivo Secretário de Estado ou do dirigente máximo da

entidade ou Poder, uma Comissão de Ética, integrada por 03 (três) servidores públicos

efetivos e respectivos suplentes, encarregada de orientar e aconselhar sobre a ética

funcional do servidor público, no tratamento com as pessoas e com o patrimônio público

estadual, competindo-lhe conhecer concretamente de atos susceptíveis de advertência

ou censura ética.

Parágrafo único A portaria a que se refere o caput deverá ser

publicada no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso, com a indicação dos nomes dos

membros titulares e dos respectivos suplentes.

Art. 7º À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos organismos

encarregados da execução do quadro de carreira, os registros sobre a conduta ética

dos servidores públicos, para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para todos

os demais procedimentos próprios da carreira do servidor público.

Art. 8º O processo de apuração de prática de ato em desrespeito ao

preceituado neste Código será instaurado pela Comissão de Ética, de ofício ou em

razão de denúncia fundamentada formulada por autoridade, servidor público, qualquer

cidadão que se identifique ou quaisquer entidades associativas regularmente

constituídas.

de 05 (cinco) dias.

§ 1º O servidor público será oficiado para manifestar-se no prazo

§ 2º Os interessados, bem como a Comissão de Ética, de ofício,

poderão produzir provas documental e testemunhal.

§ 3º A Comissão de Ética poderá promover as diligências que

considerar necessária.

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§ 4º Concluídas as diligências mencionadas no parágrafo anterior,

a Comissão de Ética oficiará o servidor público para nova manifestação, no prazo de 03

(três) dias.

§ 5º Se a Comissão de Ética concluir que o servidor público

praticou ato em desrespeito ao preceituado neste Código, adotará uma das cominações

previstas no artigo posterior, com comunicação da decisão ao faltoso e ao seu superior

hierárquico.

Art. 9º A violação das normas estipuladas neste Código acarretará as

seguintes cominações:

I - advertência, aplicável aos servidores públicos no exercício do

cargo efetivo ou em comissão, emprego público ou função de confiança;

II - censura ética, aplicável aos servidores públicos que já tiverem

deixado o cargo efetivo ou em comissão, emprego público ou função de confiança.

Parágrafo único A cominação aplicada será transcrita na ficha

funcional do faltoso, por um período de 05 (cinco) anos, para todos os efeitos legais, em

especial para o disposto no art. 6º deste Código.

Art. 10 Sempre que a conduta do servidor público ou sua reincidência

ensejar a imposição de penalidade, deverá a Comissão de Ética encaminhar a sua

decisão à autoridade competente para instaurar o processo administrativo disciplinar,

nos termos do Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado de Mato Grosso e,

cumulativamente, se for o caso, à entidade em que, por exercício profissional, o

servidor público esteja inscrito, para as providências disciplinares cabíveis. O

retardamento dos procedimentos aqui prescritos implicará comprometimento ético da

própria Comissão, cabendo à autoridade acima citada o seu conhecimento e

providências.

Art. 11 As decisões da Comissão de Ética, na análise de qualquer fato

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ou ato submetido à sua apreciação ou por ela levantado, serão resumidas em ementa

e, com a omissão dos nomes dos interessados, divulgadas no próprio órgão ou

entidade, bem como remetidas às demais Comissões de Ética, criadas com o fito de

formação da consciência ética na prestação de serviços públicos estaduais.

Parágrafo único Todo o expediente deverá ser remetido à

Secretaria de Estado de Administração, por translado, em se tratando de servidor do

Poder Executivo.

Art. 12 A Comissão de Ética não poderá se eximir de fundamentar o

julgamento da falta ética do servidor publico ou do prestador de serviços contratado,

alegando a falta de previsão neste Código, cabendo-lhe recorrer à analogia, aos

costumes e aos princípios éticos e morais conhecidos em outras profissões.

Art. 13 Em cada órgão e entidade do Poder Executivo, bem como nos

Poderes Legislativo e Judiciário do Estado de Mato Grosso, em que qualquer cidadão

houver de tomar posse ou ser investido em função pública, deverá ser prestado,

perante a respectiva Comissão de Ética, um compromisso solene de acatamento e

observância das regras estabelecidas por este Código de Ética Funcional e de todos os

princípios éticos e morais estabelecidas pela tradição e pelos bons costumes.

publicação.

Art. 14 Esta lei complementar entra em vigor na data de sua

Art. 15 Revogam-se as disposições em contrário.

Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 1º de julho de 2002.

as) JOSÉ ROGÉRIO SALLES

Governador do Estado

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47

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Estágio Probatório);

.Lei 8038/2003 (Regula Atos Administrativos relativos à Pessoal no âmbito do Poder Executivo).

.Decreto 4487/2002 (Regulamenta o art. 13 da Lei Nacional 8.429/92);

.Decreto 4858/2002 (Regulamenta o funcionamento da Comissão de

Permanente de Ética no âmbito da Administração Pública Estadual);

.Decreto 5263/2002 (Regulamenta Perícias Médicas);

.Decreto 5924/2002 (Estabelece normas para a elaboração de atos

Administrativos relativos à Pessoal, e dá outras providências);

.Decreto 1317/2003 (Regulamenta a concessão de férias dos Servidores

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Adm. Direta Autárquica e Fundacional Poder Executivo);

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Acessado em 10 de abril de 2004.