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E S T U D O S
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C R I A N Ç A S ( E P A I S ) E M R I S C O
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TÍTULO: CRIANÇAS (E PAIS) EM RISCOEDITOR: ANTÓNIO PIRES
ã INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA – CRLRUA JARDIM DO TABACO, 34, 1149-041 LISBOA
1.ª EDIÇÃO: SETEMBRO DE 2001
GRAVURA DA CAPA: «FAMILY GROUP» (1948-1949) DE HENRY MOORECOMPOSIÇÃO: INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA
IMPRESSÃO E ACABAMENTO: PRINTIPO – INDÚSTRIAS GRÁFICAS, LDA.
DEPÓSITO LEGAL: 168664/01ISBN: 972-8400-33-0
A edição deste livro é parcialmente subsidiada pela
Fundação para a Ciência e a Tecnologia
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ANTÓNIO PIRES
CRIANÇAS (E PAIS) EM RISCO
I S P A
L i s b o a
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A meus pais
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N O T A D E A B E R T U R A
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A paternidade constitui um desafio difícil e complexo e também
um dos mais importantes da comunidade humana. As mudanças sociais
ocorridas nas últimas quatro décadas vieram colocar em risco a
orientaçã o, apoio e preparação para a parentalidade. À medida que a
posição da mulher muda, aspectos do papel maternal são assumidos
por outros na família e na sociedade. Os pais de hoje estão sob maior
stress social e económico. Hoje em dia a parentalidade é vista como
algo que consome muito tempo e envolve esforço. Na maioria das
famílias os pais trabalham e o tempo que passam com a criança é
bastan te escasso e disputado a muitos afazeres.
Depois de duas décadas de estudos sobre a interacção mãe crianç a,
sobretudo em situações estruturadas e não naturais de laboratório,
pouco se sabe do modo como estes aspectos se integram no dia a dia e
num todo parental. Por outro lado, existe cada vez mais informação
sobre uma situação de parentalidade ideal havendo pouco conhecimento
sobre situações em que a parentalidade foge da norma. Se a maternida de
já é vista hoje em dia como uma situação que consome muito tempo e
envolve esforço como será se ela ocorrer numa situação de risco
acrescido devido a doença ou condições de vida adversas como nos
casos em que a criança tem uma doença crónica como a asma, diabete s,
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NOTA DE ABERTURA
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insuficiência renal, fibrose quística ou cancro, nasceu prematura, é
portado ra de trissomia 21, de autismo, ou a mãe é toxicodependente,
seropositiva, abusa da criança, ou se encontra deprimida?
Apesar da especificidade de cada uma das doenças crónicasexistem factores comuns que as tornam uma potencial situação de risco
para a criança e família como a sobrecarga diária que recai sobre a
família, a organização e prestação de serviços a estas famílias ser
muito fragmentada, o tratamento necessitar do envolvimento de uma
variedade de profissionais de saúde, ser bastante caro, a dor e o
desconforto serem comuns, e a situação gerar bastante incerteza.
Se a parentalidade já é nalguns casos exigente, cansativa e
preocupan te com crianças de termo, no caso de prematuros ela pode ser
ainda maior. Os pais passam momentos difíceis após o seu nascimen to.
Há ansiedade e medo relacionados com a sua sobrevivência, com a
possibilidade de complicações durante o internamento e receiam que o
desenvolvimento futuro da criança possa estar ou vir a estar
compromet ido.
Educar uma criança com atraso mental, como a trissomia 21, é um
desafio para os pais. Estes têm de lidar com o facto de lhes ter nascido
uma criança com aspecto diferente e que age de modo diferente das
crianças da sua idade.
A criança com autismo infantil apresenta características que
podem criar dificuldades e causar sofrimento aos pais como a ausência
de atenção, de comunicação e de linguagem. O carácter restrito,
repetitivo e estereotipado dos seus comportamentos dificilmente pode
gratificar ou entusiasmar os pais.
O número de mulheres toxicodependentes tem vindo a aumentar.
A toxicodependência não é incompatível com uma maternidade
adequada no entanto a toxicodependência traz riscos acrescidos para a
criança e para a mãe. As alterações das capacidades e do estilo de vida
das mães podem ser de tal ordem que afectem a capacidade da mulher
cuidar de si e das suas crianças.
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Nem todas as crianças de mães seropositivas nascem infectadas,
mas mesmo neste caso as crianças encontram-se numa situação de
risco que os pais têm de enfrentar. O ambiente em que vivem envolve o
medo do contágio; o ostracismo social, o isolamento social relacionado
com a necessidade de manter o segredo; redefinição de papeis
familiares e nalguns casos completa desorganização familiar; têm de
lidar com as separações devidas a hospitalizações ou por incapacidade
física dos pais para tratarem deles e têm de se preparar para a perda ou
lidar com ela.
Nos pais maltratantes aparece, instabilidade emocional, pensa men -
tos egocêntricos acerca das relações, sentimentos negativos acerca da
satisfação das necessidades dos outros, e duas vezes mais situações de
depressão. Estes pais tendem a não apreciar a individualidad e e perspec -
ti vas da criança, ou a encorajar a independência ou a abertura a novas
experiências. Têm com frequência expectativas irrealistas sobre as suas
crianças. As suas interacções com os filhos revelam mais hostilidad e,
interferência, emoções negativas, menos sintonia afectiva e cognitiva.
A falta de confiança das mães deprimidas nas suas capacidades, o
facto de estarem muito voltadas para si próprias e consequentemente
menos disponíveis, atentas e envolvidas com as suas crianças constitui
também uma situação de risco.
São estas as situações de risco que estudámos nos últimos anos.
Interessámo-nos sobretudo pelo ponto de vista dos pais. O que eles
relatam sobre a criança, sobre si próprios e sobre o quotidiano familiar.
O que acontece nas famílias quando existe uma situação de risco com
origem num dos filhos ou num dos pais? Como é que os pais se
comporta m? Como reagem, e o que fazem para lidar com a situação?
Metologicamente decidimos escolher uma abordagem que nos
proporcionasse o ponto de vista dos pais e por isso escolhemos a
entrevista em que o objectivo central era colocar os pais a falar sobre o
que os preocupava. Um método que nos fornecesse processos e não
apenas produtos.
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NOTA DE ABERTURA
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Este livro reúne um texto sobre a parentalidade em risco, um textoque descreve a método utilizado, Grounded Theory, e um conjunto detextos empíricos fruto de várias centenas de entrevistas gravadas,transcri tas e analisadas muitas vezes em conjunto por mais de dezpesso as. Trata-se portanto de um esforço conjunto, que começou por seruma aventura e terminou num enriquecimento sobre o conhecimento daparentalidade.
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