estudo socioambiental criação de resex em marapanim pa · figura 19 - mapa de hidrografia do...

103
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSEVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA NO MUNICÍPIO DE MARAPANIM, ESTADO DO PARÁ Abril de 2014

Upload: dodat

Post on 18-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSEVAÇÃO DA BIODIVERSID ADE

ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE RESERVA EXTRATIVISTA

MARINHA NO MUNICÍPIO DE MARAPANIM, ESTADO DO PARÁ

Abril de 2014

LISTA DE SIGLAS

ACS Agentes de Saúde Comunitários CAUREM Central de Associações de Usuários das Reservas Extrativistas

marinhas DAP Declaração de Aptidão EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado

do Pará EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária GEDAE Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas GEPEM Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre Mulher e

Gênero IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IDESP Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do

Estado do Pará. INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IMPEC Instituto Marapaniense de Preservação e Cultura ITERPA Instituto de Terras do Pará MMA Ministério do Meio Ambiente MP Ministério Público ONG Organizações não governamentais PFNM Produtos Florestais Não Madeireiros RESEX Reserva Extrativista STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais SAGRI Secretaria Estadual de Agricultura SEAP Secretaria Estadual da Pesca SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente SiBCS Sistema Brasileiro de Classificação de Solos UC Unidade de Conservação UFPa Universidade Federal do Pará UNEP-WCMC

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Mapa da área percorrida e comunidades visitadas no município de Marapanim-PA

14

Figura 2 - Aspectos das moradias nas comunidades visitadas 17 Figura 2 a- Aspectos das moradias nas comunidades visitadas 18 Figura 3 - Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades e comunidades polos na construção dos Diagramas de Venn, no município de Marapanim-PA.

35

Figura 4 - Número de espécies animais por categoria taxonômica citadas pelos moradores das comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

37

Figura 5- Croqui dos currais utilizados pelas comunidades visitadas 40 Figura 6 - Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores e marisqueiros 41 Figura 7 - Imagens de apetrechos utilizados para extração de mariscos| 45 Figura 8 – Aspectos da pesca e mariscagem em Marapanim-PA 46 Figura 9 - Famílias botânicas com maior número de espécies citadas pelos moradores entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA

49

Figura 10a - Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Tamaruteua

52

Figura 10b- Aspectos da oficina e mapeamento em Tamaruteua 53 Figura11a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da do polo Vista Alegre

54

Figura 11b- Aspecto da oficina e mapeamento no polo Vista Alegre 55 Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Camará 56 Figura 12b- Aspectos da oficina no polo Camará 57 Figura 13a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Marudá 58 Figura 13b- Aspecto as oficina no polo Marudá 59 Figura 14 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Araticum-Miri.

60

Figura 14b- Aspectos da oficina no polo Araticum-Miri 61 Figura 15 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Guarajubal

62

Figura 15b- Aspecto da oficina na comunidade Guarajubal 63 Figura 16 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Juçateua

64

Figura 16 b - Aspectos da oficina na comunidade Juçateua 65 Figura 17- Aspectos das Praias em Marapanim 72 Figura 18- Mapa de potencial turístico do município de Marapanim-PA 74 Figura 19 - Mapa de hidrografia do município de Marapanim-PA 78 Figura 20 - Mapa de elevação do município de Marapanim-PA 79 Figura 21 - Mapa de geologia do município de Marapanim-PA. 82 Figura 22- Mapa de geomorfologia do município de Marapanim-PA. 83 Figura 23 - Mapa de pedologia do município de Marapanim-PA 86 Figura 24 - Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Marapanim-PA.

89

Figura 25- Aspectos dos ambientes da área visitada. 92 Figura 25 a- Aspectos dos impactos na vegetação na região visitada 93

LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Faixa etária dos entrevistados no município de Marapanim-PA 15 Tabela 2 – Esgotamento sanitário nas residências das comunidades visitadas

19

Tabela 3- Atividades declaradas pelos entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

24

Tabela 4 - Área das classes do mapa de Elevação em metros. 79 Tabela 5 - Área das classes do mapa de geologia 80 Tabela 6 - Unidades de Tempo Geológico 80 Tabela 7 - Área das classes do mapa de geomorfologia 81 Tabela 8 - Área das classes do mapa de solo 84 Tabela 9- Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra 89

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Número de famílias das comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

11

Quadro 2 - Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e agricultura entre os entrevistados no município de Marapanim-PA.

26

Quadro 3 - Diagrama de Venn da comunidade Tamaruteua 28 Quadro 4 - - Diagrama de Venn do polo Vista Alegre 29 Quadro 5 – Diagrama de Venn do polo Camará 30 Quadro 6 - Diagrama de Venn do polo Marudá 31 Quadro 7- Diagrama de Venn do polo Araticum-Miri 32 Quadro 8- Diagrama de Venn da comunidade Guarajubal 33 Quadro 9 - Diagrama de Venn da comunidade Juçateua 34 Quadro 10 Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

42

Quadro 11- Principais espécies de mariscos citadas pelas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

44

SUMÁRIO

1- Introdução 7 2 - Metodologia e área percorrida 9 3 - Resultados 12 3.1 - Identificação e caracterização da população tradicional envolvida na área proposta para criação de Resex e de outros usuários da área.

12

3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos naturais pela população tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos

36

3.3 - Identificação e caracterização de possíveis comunidades indígenas ou quilombolas presentes na área.

66

3.4 - Identificação de grupos sociais que poderão interferir (de forma positiva ou negativa) no processo de criação da unidade, bem como suas preocupações e interesses.

66

3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais relevantes, com oportunidade para uso público.

71

3.6 - Análise do impacto econômico da criação da unidade de conservação 75 3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em implementação nas áreas indicadas.

77

3.8 - Levantamento de dados secundários do meio Físico. 77 3.9 - Levantamento de dados secundários do meio biótico 90 3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades 96 4 - Referências 97

6

1-INTRODUÇÃO

O presente documento técnico tem por objetivo apresentar os principais elementos

que definiram a proposta de criação de Reserva Extrativista Marinha, no município de

Marapanim. Os dados obtidos de levantamentos secundários sobre a região foram

analisados, assim como os documentos recebidos referentes ao processo de criação da

Resex Marinha. Foi realizada, na Colônia de Pescadores de Marapanim, em 13 de abril

de 2013, uma reunião que teve como objetivos apresentar a equipe de pesquisa e discutir

com representantes do Comitê de Lideranças dos Povos Pesqueiros de Marapanim,

doravante Comitê, a logística e as atividades que seriam realizadas nos pólos e

comunidades. O Comitê, liderado por Luiz Gutemberg, é uma organização de voluntários

que estão participando e discutindo a criação da unidade de conservação no município,

desde 2005.

Participaram da reunião 13 representantes do Comitê, a equipe de pesquisa deste

diagnóstico, a secretária municipal de meio ambiente, o representante do Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de outros interessados na

questão. Nessa reunião, o representante do ICMBio, na pessoa do Sr. Willian Fernandes

palestrou sobre as unidades de conservação, especificamente Reservas Extrativistas

(Resex), e as competências dos principais envolvidos na criação e gestão desta categoria

de unidade de conservação. Foi ainda realizado um exercício, entre os participantes, de

entendimento e mitigação de dúvidas sobre a reserva extrativista, sua criação e gestão.

Os integrantes do Comitê ficaram com a incumbência de contribuírem para

organização das oficinas e dos levantamentos em suas comunidades, especificamente

em Camará, Araticum-Miri, Guarajubal, Marudá e Juçateua.

As atividades de campo corresponderam a visitas às comunidades citadas no

Laudo de Vistoria Técnica, especificamente àquelas localizadas ao norte do município e

que utilizam os recursos pesqueiros. Nesses polos e comunidades mais isoladas foram

realizadas as oficinas. Os estudos etnobiológicos focaram os modos de vida dos

moradores e principalmente destes que praticam a pesca na região. Conversas informais

e entrevistas com pessoas chave, além de observação direta nos permitiram realizar os

diagnósticos e a caracterização socioambiental desses moradores.

Na região a criação de uma unidade de conservação é alvo de disputa de poder

institucional e organizacional entre líderes comunitários e organizações não

governamentais locais. Para a maioria dos moradores, a criação da unidade está

diretamente relacionada com a chegada de benefícios como casas e fomentos para a

pesca.

7

Nas comunidades visitadas, onde havia a presença de representantes do Comitê,

estes auxiliaram na mobilização dos moradores para participarem da oficina. Os Agentes

de Saúde Comunitária (ACS) contribuíram para o levantamento de informações,

principalmente sobre o número de famílias das comunidades e aspectos sociais. É

marcante a ausência da Colônia de Pescadores como representação de classe, assim

como associações comunitárias strictu sensu, a exceção das comunidades Crispim,

Marudá, Camará e Vista Alegre.

No município, a solicitação para a criação de uma unidade de conservação ocorreu

a partir do incentivo gerado com a chegada dos benefícios à Resex Mãe Grande Curuçá,

além da necessidade de reconhecimento dos territórios de pesca. O processo de

solicitação de criação da unidade iniciado em 2006, possui vários abaixo-assinados dos

moradores das comunidades pesqueiras encaminhados pelo grupo de voluntários que

formam o Comitê.

Os moradores e representantes de organizações da sociedade civil e de órgãos

públicos desconhecem os objetivos de uma reserva extrativista e quais os deveres e

direitos de seus moradores. A Colônia de Pescadores, embora apóie o grupo que forma o

Comitê, é pouco representativa quanto se trata de discutir a criação da Resex. O IBAMA

é citado principalmente no que tange ao período do defeso do caranguejo. A fiscalização

na região pesqueira é solicitada pelos moradores e tida como de fundamental importância

devido à invasão de “barcos de fora”. Os conflitos relacionados à pesca estão presentes

no município, sobretudo quanto à doação de área para atracadouro de barcos de

reboque pela prefeitura, na comunidade de Vista Alegre. Segundo os pescadores esses

barcos destroem o mangue, os currais, e “espantam os peixes”, pois navegam dentro do

rio Cajutuba em velocidade excessiva. Além disso, há frotas de barcos que chegam do

Nordeste e navegam em áreas próximas à costa quando deveriam estar em alto mar

competindo com a pesca artesanal.

Os resultados do diagnóstico caracterizam uma população que vive da pesca e da

mariscagem; que conhece a área e o ambiente de onde retiram os recursos necessários

à reprodução social das famílias. A pesca artesanal é praticada na região, assim como a

pesca de camarão e “tiração” e “cata” de caranguejo. O turismo é uma das principais

atividades econômicas do município, no entanto não tem planejamento ou geração de

benefícios aos moradores locais.

O principal ecossistema da região visitada, o manguezal, está ameaçado pela

excessiva ação antrópica para a “tiração” e comercialização de caranguejos, para a

retirada da madeira nativa usada para a produção de currais e lenha, além da

especulação imobiliária impulsionada pelo turismo.

8

Este documento está organizado em uma introdução, metodologia adotada seguido

dos resultados e referências bibliográficas. A introdução trata de um breve relato das

atividades realizadas. Nos itens que compõem os resultados estão descritas as

caracterizações gerais dos moradores das comunidades visitadas e seus modos de vida.

Alguns subitens foram gerados a partir das especificações encontradas nas comunidades

visitadas.

2 - METODOLOGIA e ÁREA PERCORRIDA

A metodologia descrita no Plano de Trabalho e adotada para a realização deste

diagnóstico sofreu algumas alterações decorrentes da realidade encontrada na região de

estudo. Assim, as estratégias para o levantamento de dados do diagnóstico e da

caracterização da população no município de Marapanim envolveram duas etapas

básicas. Primeiramente foram selecionados dados secundários disponíveis em bancos de

dados e publicações científicas, artigos, dissertações e teses. A segunda etapa

correspondeu à coleta de dados primários realizados no período de 13 a 22 de abril de

2013. Foram aplicados questionários, realizadas entrevistas semiestruturadas junto aos

moradores, observação direta durante as visitas as comunidades e conversas informais

com alguns moradores e ACS. Entrevistas com base em um roteiro predeterminado

foram realizadas junto aos representantes de instituições governamentais e não

governamentais que atuam na área contemplando suas ações exercidas na região, suas

visões e entendimentos sobre a proposta de criação de uma unidade de conservação na

categoria de uso sustentável.

Vinte e sete atores sociais considerados chave foram amostrados nas comunidades

visitadas e entrevistados em profundidade. Os entrevistados representam pescadores

artesanais; curralistas e marisqueiros incluídos neste grupo caranguejeiros, pescadores

de camarão, tiradores de sururu e outros moluscos.

As entrevistas com duração média de 3 horas buscou levantar informações sobre a

identificação da família, suas formas de organização social, uso da terra, sua

dependência dos recursos naturais disponíveis no ambiente, os conhecimentos que

detêm de sua área, e se sabem o que é uma reserva extrativista e o que esperam caso

esta seja criada.

A técnica de listagem livre foi utilizada para coleta de dados etnobiológicos. Trata-

se de uma ferramenta eficiente para indicar quais itens pertencem ao domínio cultural,

referem-se a um grupo de palavras organizadas, conceitos ou sentenças. Trabalhou-se

ainda com a identificação e ocorrência das espécies animais na área, utilizando pranchas

com imagens e fotos de animais (mamíferos, aves, peixes, répteis e crustáceos).

9

Para a identificação taxonômica da fauna e da flora citadas pelos entrevistados

utilizou-se de referências bibliográficas específicas da região e consultas ao herbário do

Museu Paraense Emílio Goeldi com fotos para identificação vegetal e a coleção

faunística, além de consultas a taxonomistas.

Segundo o Laudo de Vistoria Técnica que compõe o processo de criação da

unidade de conservação, as comunidades solicitantes estão organizadas em polos. Desta

forma, a lista de comunidades e seus respectivos polos foi organizada de acordo com a

atual divisão, segundo o representante do Comitê: (1) Polo Vista Alegre, composto pelas

comunidades Vista Alegre, Tamaruteua e Itauaçu sendo as duas últimas localizadas na

Ilha Dom Pedro; (2) Polo Camará, incluindo as comunidades Camará Crispim e

Bacuriteua; (3) Polo Marudá formado pelas comunidades Marudá (e seus ”bairros-

comunidade”), Cafezal e Recreio; (4) Polo Araticum-Miri, incluindo as comunidades de

Livramento, Porto Alegre, Araticum-Miri e Araticum (comunidade desativada, a área foi

comprada e transformada em um balneário); (5) Polo Sede formado pelas comunidades

Guarajubal, e Juçateua (Quadro 1).

Cabe destacar que no Distrito de Marudá foram realizadas visitas aos bairros-

comunidades (áreas de moradias tratadas como bairros pela prefeitura e denominadas

de comunidade pelos moradores) e a oficina foi realizada no Centro Comunitário de

Marudá. Já nos polos Vista Alegre e Sede foram realizadas oficinas nas comunidades

isoladas, entre elas Tamaruteua, Guarajubal e Juçateua, respectivamente.

Nos demais polos, a realização da oficina não enfrentou problemas de divulgação

ou de participação uma vez que os moradores das comunidades circunvizinhas tinham

acesso às comunidades polo e quando necessário, foi providenciado transporte e

alimentação para os moradores.

A chegada da equipe nas comunidades foi previamente agendada pelos

representantes do Comitê local, além de lideranças e moradores interessados na criação

da unidade de conservação. O envolvimento e apoio de representantes do Comitê, que

se considera membro do Movimento Pró-Resex1 no município, foi importante para a

realização das atividades previstas e a chegada da equipe nas comunidades.

1 Movimento Pró-Resex- grupo formado na região do Salgado Paraense para incentivar a

criação das unidades de conservação na área. Atualmente foi substituído pela Central de Associações de Usuários das Reservas Extrativistas Marinhas (CAUREM).

10

Quadro 1- Número de famílias das comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

Em todas as oficinas a estratégia utilizada foi de apresentação dos objetivos desse

estudo, esclarecimentos sobre o que são reservas extrativistas e o processo de criação

dessa categoria de unidade de conservação. Além disso, foram realizados exercícios

participativos e em grupo que gerassem dados e informações complementares as obtidas

por meio da aplicação dos questionários. Os exercícios aplicados foram: o Diagrama de

Venn, a Matriz Histoecológica e Mapeamento das Áreas de Uso.

As oficinas seguiram a seguinte programação: apresentação dos objetivos do

estudo, as atividades a serem realizadas nas comunidades, explicação e convite para

formação de grupos para realização dos exercícios. Após a apresentação do método dos

exercícios, os grupos se formaram aleatoriamente. Os resultados de cada grupo foram

apresentados a plenária para serem debatidos e mitigar as dúvidas.

Os dados quantitativos foram organizados para análise usando o aplicativo

Microsoft Excel 2007. As análises foram realizadas por meio de métodos da estatística

descritiva, com auxílio de representações gráficas e tabelas.

11

3 - RESULTADOS

Os resultados serão apresentados sendo acrescentados, nos itens respectivos, os

produtos obtidos em campo e os resultantes da pesquisa secundária.

3.1-Identificação e caracterização da população tra dicional envolvida na área

proposta para criação da Resex e de outros usuários da área.

A população identificada na área percorrida tem como principal característica as

atividades de pesca e de coleta de mariscos. As atividades agrícolas são praticamente

inexistentes. Apenas no distrito de Marudá e na comunidade de Vista Alegre há

moradores que praticam a agricultura onde é inexpressiva a comercialização da

produção. Nas demais comunidades quando há cultivo agrícola, este é para a

subsistência. A atividade de pesca envolve moradores de todas as comunidades

visitadas.

A atividade de pesca é diferenciada nas áreas onde estão localizadas as

comunidades. Nos polos Vista Alegre e Camará, além da pesca artesanal é forte a pesca

de camarão. Em Camará a pescaria de curral predomina entre os pescadores. Em

Crispim a pesca é feita na praia com as redes denominadas de rabiadeira. Este petrecho

é utilizado também pelos moradores de Bacuriteua e Retiro. Nas comunidades mais

distantes do oceano é a “tiração” de caranguejo a atividade predominante. Em Marudá a

pesca artesanal e a prestação de serviços para o turismo predominam. O grude é

comercializado por todos os pescadores.

As áreas de campos nativos que ocorrem na região da Ilha Dom Pedro e próximo

às comunidades de Camará, Crispim e Bacuriteua são utilizadas para a extração de

frutos, de palha e da caça. Nas áreas remanescentes de matas retiram a madeira para

construção das casas, folhas das palmeiras para confecção dos cofos, bambus para

confecção de currais e armadilhas para pesca como os muzuás2. No setor industrial

existem duas fábricas de gelo: uma está localizada na sede municipal, outra na

comunidade de Vista Alegre.

As comunidades visitadas, em geral apóiam a criação da unidade de conservação.

Muito desse apoio provém dos impactos sociais e ambientais gerados pela criação da

Reserva Extrativista Mãe Grande Curuçá e da Reserva Extrativista Maracanã, unidades

de conservação vizinhas do município de Marapanim. Além disso, há que se considerar o

trabalho realizado pelo grupo de voluntários que forma o Comitê principalmente no

2 Muzuá- Armadilha confeccionada de bambu e utilizada para a pesca nos rios próximos ao mangue.

12

período de 2006 a 2009 com intensa divulgação em programas de rádio local e ações

junto ao Ministério Público (MP) para a proteção ambiental no município.

As comunidades visitadas estão localizadas na porção norte do município e

limitadas a oeste pelo rio Cajutuba, ao norte pelo oceano Atlântico, a oeste pelo rio

Marapanim e ao sul pelo rio Juçateua. O acesso às comunidades dá-se pela estrada

asfaltada, a PA-138, pelas estradas vicinais que não possuem asfalto e pelos rios

Cajutuba e Camará e Marapanim (Figura 1).

13

Figura 1- Mapa da área percorrida e a localização das comunidades visitadas no

município de Marapanim-PA.

14

Características gerais

A idade dos entrevistados variou entre 29 e 82 anos o que proporciona uma média

de 52 anos de idade. O maior percentual de idade dos entrevistados ficou situado entre

41 e 60 anos (55,6%), seguido dos que possuem entre 20 e 40 anos (22,2%) (Tabela 1).

Os dados apresentados mostram que há uma população em idade considerada como

produtiva e também em vias de solicitação de aposentadoria identificada entre os

pescadores e marisqueiros nas comunidades visitadas.

Os entrevistados residem em média na mesma comunidade a cerca de 35 anos.

Apenas 40% deles declararam que nasceram e vivem na mesma comunidade até então.

Os demais migraram para Marapanim de municípios próximos como Magalhães Barata,

Castanhal e Belém ou de outros estados como, por exemplo, o Maranhão.

Tabela 1- Faixa etária dos entrevistados nas comunidades visitadas no município

de Marapanim-PA.

Faixa etária (anos) Nº de moradores Percentual (%)

20-40 6 22,2

41-60 15 55,6

61-80 5 18,5

Acima de 80 1 3,7

Total 27 100

Fonte: Dados da pesquisa

Em geral o crescimento populacional das comunidades está relacionado ao forte

apelo turístico do município. Há casamentos de moradores locais com migrantes e

veranistas formando novas famílias que se estabelecem na região e mantém as

atividades locais. A mobilidade entre as comunidades ocorre motivada pela dinâmica do

turismo local. Os moradores relataram que muitas famílias de outras comunidades

chegam para trabalhar durante o período de verão, quando o turismo é uma atividade

rentável, e se estabelecem na comunidade. Ao serem questionados sobre a intenção de

mudar para outro lugar, apenas um morador afirmou desejar sair de sua comunidade e a

justificativa para tal está relacionada com a educação dos filhos. Os demais entrevistados

afirmaram que não desejam sair de sua comunidade.

Características das residências

As residências estão construídas de alvenaria, madeira e barro (pau a pique)

(Figuras 2 e 2a). Todas as residências possuem energia elétrica e em Tamaruteua foi

15

desenvolvido, no ano de 1999, um projeto pelo Grupo de Estudos e Desenvolvimento de

Alternativas Energéticas (GEDAE) da Universidade Federal do Pará (UFPa). O projeto

intitulado Sistema Híbrido Solar-Eólico-Diesel para Eletrificação da comunidade de

Tamaruteua atendia a 47 famílias para captação de energia solar, eólica e diesel

(Barbosa et.al, 2004). Atualmente o projeto está em processo de revitalização e a energia

chega somente via gerador a diesel que funciona das 18:00 as 23:00hs. O óleo é

fornecido pela prefeitura. Cada morador tem um relógio de contagem de energia em sua

residência que é medida com o uso de um cartão magnético. O valor do cartão

corresponde ao gasto de energia de cada residência.

As casas construídas de alvenaria são maioria nas comunidades de Vista Alegre e

Marudá e possuem sala, quartos, cozinha e sanitários internos. Nos quintais os

moradores mantêm o fogão à lenha, o jirau e em algumas casas um pequeno depósito

para guardar o material de pesca. Nas comunidades de Tamaruteua, Itauaçú e

Guarajubal há predominância de casas construídas de madeira e barro, cobertas com

telhas de barro, de amianto ou de palha. A cozinha e o sanitário estão localizados nos

quintais, assim como os espaços para guarda de materiais de trabalho, como redes de

pesca e material para a mariscagem e para a lavoura. Em todas as comunidades há

moradores investindo na construção de casas de alvenaria.

Em geral as comunidades estão formadas ao redor das igrejas e dos portos ou

trapiches e praças. Há portos e rampas tanto públicos quanto privados para

desembarque e armazenamento de pescado em Vista Alegre, Itauaçu, Tamaruteua e

Porto Alegre. Nas comunidades praianas o desembarque é realizado nas praias, como

em Tamaruteua, Camará, Crispim e Recreio.

Em todas as comunidades há escolas até a 4ª série e nas comunidades polos,

escolas que oferecem ensino fundamental completo e ensino médio. Nas comunidades

há igrejas católicas e evangélicas. Os ramais de acesso às comunidades não são

asfaltados, exceto para Crispim e Marudá. Em Marudá, o acesso aos bairros comunidade

é por via não asfaltada ou com o asfalto já deteriorado. Observou-se ainda, que as vias

de acesso e circulação na sede do município estão em péssimas condições de tráfego.

16

Figura 2 - Aspectos das residências e das comunidades visitadas no município de

Marapanim-PA.

17

Figura 2a- Aspectos das residências e das comunidades visitadas no município de

Marapanim-PA.

18

Saneamento e serviços de saúde

O acesso à água nas comunidades visitadas é via sistema comunitário simplificado

formado por um conjunto de caixas d’água que fazem a distribuição para 100% das

residências em todas as comunidades, exceto em Tamaruteua e Itauaçú. Nessas últimas

comunidades a água é retirada de poço coletivo. O sistema de distribuição da água é

mantido pela prefeitura, que paga aos funcionários para fazer a manutenção das bombas

e do poço que abastece a caixa d’água. O custo para manutenção e recebimento de

água para cada morador varia nas comunidades entre R$8,00 a R$15,00 mensais.

A água para consumo recebe algum tipo de tratamento. Cerca de 40,7% dos

moradores declararam que filtram a água da torneira para beber, outros 18,5% coam,

apenas 7% adicionam cloro, e 14,8% não realizam nenhum tratamento.

O uso da fossa séptica predomina em apenas 3,7% das residências dos

entrevistados e 44,4% afirmaram possuir fossas negras (Tabela 2). Ausência de

sanitários ocorre principalmente nas comunidades mais distantes da sede municipal,

correspondendo a 3,7% dos entrevistados. A água utilizada na cozinha interna a casa e

nos quintais, onde são mantidos cozinhas e jiraus3, é escoada diretamente em valas

cavadas no solo e conduzidas para o quintal a céu aberto.

Tabela 2. Esgotamento sanitário nas residências dos entrevistados no município de

Marapanim-PA.

Saneamento Nº de citações Percentual (%)

Fossa negra 12 44,4

Fossa séptica 1 3,7

Céu aberto 13 48,1

Inexistência de banheiro 1 3,7

Total 27 100

Fonte: dados da pesquisa

O recolhimento público do lixo doméstico ocorre nas comunidades de Vista Alegre,

Marudá e Araticum-Miri, com frequência de duas ou três vezes por semana, ou

quinzenalmente. Nas demais comunidades 44,4% declararam queimar o lixo e outros

18% informaram utilizam os restos de lixo como adubo. Cabe destacar que nos bairros

onde há coleta pública do lixo, alguns moradores também afirmaram que queimam o lixo

3 Jirau- espécie de grade de varas ou tábuas sobre esteios fixados no chão que serve para

lavar louças ou roupas, e ainda guardar materiais de trabalho.

19

quando há acúmulo ou ausência de recolhimento. No município não há iniciativas para a

coleta seletiva ou reciclagem de lixo.

Quanto aos serviços de saúde pública, as campanhas de vacinação atendem aos

moradores. Na ocasião da elaboração deste estudo a equipe de vacinação pública estava

atuando nas comunidades. Embora não haja presença de Agentes de Saúde

Comunitários em todas as comunidades, estes atendem as comunidades próximas como

no caso da comunidade de Tamaruteua, que é assistida pelos ACS das comunidades de

Itauaçú. Em Crispim e Retiro os moradores são assistidos pelo ACS de Bacuriteua. No

caso de comunidades maiores como Marudá, os ACS são distribuídos por regiões ou

“bairros”. Os ACS têm como missão o cadastramento das famílias para acompanhamento

de biometria, e vacinação para atender ao programa Bolsa Família, além da prevenção e

encaminhamento de doentes para o hospital da sede municipal.

As principais doenças citadas pelos entrevistados foram gripe e diarréia. A malária

ocorreu na região no ano de 2005 e atualmente, segundo os agentes de saúde, está

controlada.

Fontes de renda

A pesca artesanal e de curral, a “tiração” e a “cata” de caranguejos, a pesca de

camarão e a coleta de sururu foram citadas como as principais atividades de geração de

renda para as comunidades visitadas. A atividade agrícola foi citada por apenas dois

moradores que também pescam e é praticada para consumo da família. Cabe ressaltar

que apenas um entrevistado citou a atividade turística como sua fonte de renda,

destacando o ramo de serviços, nesse caso de restaurante.

O principal recurso cultivado é a mandioca e a macaxeira (Manihot esculenta,

Crantz). As comunidades próximas as áreas de campo coletam bacuri (Platonia insignis)

e outras frutas nativas como caju (Anacardium sp) e tucumã (Astrocaryum sp).

É também fonte geradora de renda para algumas familiais, mas sem grande

expressão, a pesca do siri (Callinects sp), a coleta do mexilhão (Mytella sp.), do sururu

(Mytella falcata), do sarnambi (Lucina pectinatae) e do turu (Teredo sp).

A pesca artesanal é realizada em barcos de até 3 toneladas e os principais portos

estão situados na sede do município (rio Marapanim e rio Cajutuba) e nas comunidades

de Vista Alegre, Camará e Marudá.

Há comercialização do grude, principalmente em Tamaruteua e Camará, onde há

compradores nas comunidades. Nas demais comunidades o grude é comercializado nos

portos ou para os patrões da pesca. O grude é comercializado preferencialmente depois

de beneficiado (quando a bexiga natatória é limpa e seca) e segundo um comprador “o

preço é estimulado pelo dólar, e são os compradores de Belém que dizem o preço”. O

20

grude de peixes como a pescada, gurijuba, uritinga e corvina “são os que têm mercado”.

Além do grude a “aba" dos tubarões (nadadeira dorsal) tem valor de mercado na região.

Pela “aba” de tubarão os patrões pagavam até R$700,00/kg “mas isso era há

quatro anos, agora o IBAMA proibiu e fechou o mercado” (IN 014-MPA/MMA, 2012)

Na ocasião deste estudo, o valor pago pelo quilo do grude da pescada amarela era

de R$470,00; para o quilo do grude de gurijuba R$100,00; o de corvina R$120,00 e o de

uritinga R$30,00. Segundo alguns compradores de grude nas comunidades “o valor

máximo comercializado chega a 40 kg de grude vendido por temporada de pesca”.

A pesca artesanal em barcos de tonelagem é realizada por meio do aviamento ou

em “pesca de companheiros” quando, um pescador usa o barco de outras pessoas.

Na pescaria de aviamento o dono do barco é quem “avia a despesa” e os barcos,

dependendo dos pesqueiros disponíveis podem permanecer nas proximidades das croas

ou em alto mar por até uma semana. O aviamento consiste em o dono do barco manter

as “despesas” para a viagem, estando incluídas nesta: o combustível, a alimentação, o

gelo e muitas vezes os petrechos de pesca. No retorno da pescaria, após a

comercialização da produção, são diminuídos do total obtido os valores da “despesa”. O

restante é dividido entre o dono do barco que fica “com uma parte e meia“ e os

pescadores. Segundo um dos pescadores entrevistados “a pesca hoje é loteria”,

referindo-se à dificuldade de ter sucesso na pescaria, devido à invasão de “barcos de

grandes empresas que arrastam muito perto daqui”.

A pesca de companheiros refere-se ao uso de uma canoa com motor rabeta de

outrem e as atividades de pesca serem feitas em conjunto sem, no entanto, ser realizado

pagamento e o produto obtido é divido de forma igualitária.

A pesca de camarões pode ser realizada em duplas ou individualmente. Os

pescadores permanecem nas camaroeiras (abrigos construídos próximo às margens do

rio e no mangue) durante o período de pescaria, que pode ser de até uma semana. A

produção é salgada nos abrigos e pode ser comercializada diariamente, se o patrão for

buscar, ou semanalmente, quando o pescador deixa a camaroeira e comercializa seu

produto nos portos.

A “tiração” e a “cata” de caranguejos são praticadas nas comunidades de

Guarajubal e Araticum-Miri, principalmente. Em geral, a produção de caranguejo é

comercializada pela unidade ao preço de R$1,00. Há compradores na comunidade e

marreteiros “de fora” que já tem “seu freguês4”. Há tiradores de caranguejos que os

4 Freguês- denominação local para o tirador ou catador que tem patrão fixo para compra de sua produção.

21

comercializam na estrada de acesso ao município. Os animais podem ser

comercializados individualmente ou em cambadas com até 12 unidades.

A “catação” ou “catador de polpa ou massa” refere-se ao trabalhador local que retira

a carne do caranguejo para ser comercializada. Essa atividade foi observada ao longo da

estrada de acesso a Guarajubal. O grupo que trabalhava na atividade não permitiu ser

fotografado. No entanto, concordou que fizéssemos observações da atividade. A “cata”

consiste em uma atividade que envolve a família, principalmente as mulheres e os

idosos. O patrão entrega os caranguejos já pré-cozidos em sacas, cada saca pode conter

até 200 crustáceos. A atividade é realizada ao ar livre, próximo da residência ou nas

cozinhas abertas. A catadora quebra o caranguejo sobre uma pequena tábua de madeira

utilizando um pedaço de madeira próprio, retira as patas e as pinças maiores. A pinça

maior ou “unha” tem seu exoesqueleto quebrado e é armazenada separadamente da

massa que compõem o abdômen do crustáceo. Em geral a massa é retirada da casca

com as mãos e unhas do extrator e depositadas em uma bacia plástica. Não há

higienização do local ou dos instrumentos para armazenamento da polpa. O catador

ganha R$3,00 por kg de massa produzida. As pinças maiores ou unhas são

comercializadas em embalagens plásticas de 1,5kg ao preço de R$22,00.

Se o catador for também tirador de caranguejo, ele utiliza a mão de obra familiar

para fazer a “cata” da massa. O quilo da massa ou polpa é comercializado para o

marreteiro por R$15,00 no inverno e R$12,00 no verão.

Alguns catadores afirmaram que 200 unidades de caranguejos podem produzir até

6 kg de massa. Informações obtidas junto a família de tiradores e catadores, o grupo

afirmou que pode produzir no inverno entre 8 a 10kg de polpa/semana e no verão a

produção é de cerca de 10 a 15kg/semana.

Segundo Machado (2007), que estudou as catadoras de caranguejos em

Guarajubal “o caranguejo é relevante economicamente para a vila de Guarajubal devido à

produção e comercialização de sua massa, garantindo obtenção de renda para os

moradores, principalmente para um grande número de mulheres dessa localidade”. Ainda

segundo a autora, a catação de caranguejo foi introduzida no local há aproximadamente

17 anos, através de um senhor conhecido como “Paulo Sarará”. E, pelo que foi relatado

por uma catadora, as pessoas de Guarajubal sempre cataram caranguejo, todavia

somente para o próprio consumo. Essa situação foi alterada com a vinda do Sr. Paulo,

quando a “catação” passou a ser feita com fins comerciais, com a instalação de uma

“fábrica” para “catação” e embalagem da polpa. Atualmente, não há organização da

produção e a “fábrica” de polpa de caranguejo já não existe.

22

A pesca de camarão é ativa na região dos rios Cajutuba e Camará. É comum

encontrar nas áreas onde há formação de praias ou pontas de terra, pequenas

construções suspensas em palafitas, que formam as camaroeiras (espécie de cabana

para abrigo dos pescadores). Estas cabanas são utilizadas pelos pescadores de camarão

da região e de fora, é local de trabalho para o beneficiamento e salga dos crustáceos

para a comercialização. As camaroeiras, segundo um dos pescadores “não tem dono,

mas tem patrão. Os pescadores podem utilizar as existentes, mas sabendo que tem que

vender para o comprador daquela área”. Eles permanecem no abrigo por até 2 semanas,

e fazem a pesca do camarão com o uso de puçás e tarrafas. O camarão é comercializado

por kg e classificado de acordo com a espécie e o tamanho. O preço é dado pelo

marreteiro e pode chegar até R$20,00 para o camarão branco graúdo.

A extração do sarnambi (Lucina pectinatambi) ocorre nas comunidades onde há

formação de rochas e pedras próximas às praias como em Camará, Porto Alegre e

Marudá. A coleta é realizada pelas mulheres durante a maré baixa e segundo algumas

extratoras, “esse trabalho pode durar pode durar até 3 horas”. As mulheres caminham

pelas áreas de praias, sobre as pedras e com o auxílio de uma espécie de anchinho de

jardim ou gancho reviram e cavam as pedras em busca dos moluscos. Os animais

capturados são depositados em um balde ou em um paneiro. Para ser comercializado o

animal deve ser limpo e cozido. Para tanto, lavam as conchas, cozinham, e quando

abertas elas retiram o molusco, que é novamente lavado, ensacado e congelado para ser

comercializado. O sarnambi na região de Camará, uma das principais áreas de produção,

é comercializado por R$10,00/kg. Segundo uma das extratoras “sarnambi contém muita

areia, quando a maré vem enchendo, o sarnambi abre e espirra a areia, por isso precisa

ser lavado em quatro águas”.

A coleta do turu é mais praticada pelos moradores das comunidades de Juçateua e

Guarajubal, onde ocorre à comercialização nas demais comunidades o turu é utilizado

para consumo.

Entre os entrevistados, 77% declararam exercer múltiplas atividades. A pesca

artesanal, a “tiração” e a “cata” de caranguejos, a pesca de camarão e coleta de sururu e

sarnambi concentram 70% das atividades praticadas (Tabela 3). Apenas seis moradores

entrevistados declararam viver somente da pesca. A pesca é realizada em barcos de

tonelagem que chegam ao mar aberto, em canoas a remo ou motores rabeta, que

transitam na maré, nos rios e igarapés locais.

Na região, os serviços da pesca artesanal e do turismo são responsáveis pela

contratação de mão-de-obra. Os demais, que incluem a “tiração” e cata de caranguejo e

pesca de camarão utilizam a mão de obra familiar.

23

Nas comunidades que exercem a agricultura, como em Bacuriteua, Vista Alegre,

Livramento, Araticum-Miri e Porto Alegre predominam o cultivo da mandioca (Manihot

sculenta, Crantz), com até duas tarefas (50mx50m) de áreas plantadas. O uso de

maquinários está sendo introduzido em Vista Alegre. Nas demais comunidades o preparo

da terra é realizado na forma tradicional de corte e queima. Os roçados são destinados à

subsistência das famílias. O cultivo de frutíferas ocorre, em geral, nas proximidades das

casas. A manga (Mangifera indica), o coco (Cocos nucifera), o tucumã (Astrocarym sp) e

citros em geral são os mais comuns

Tabela 3 - Atividades declaradas pelos entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

Atividade declarada Nº de citações Percentual (%)

Agricultura 3 3.7

Pesca 21 26.2

“Tiração” de caranguejo 17 21.2

“Cata” de caranguejo 8 10

Pesca de camarão 10 12.5

Mexilhão 2 2.5

Sururu 5 6.2

Turu 2 2.5

Comércio 3 3.7

Serviços (turismo, pedreiro, diarista) 3 3.7

Diarista (capina) 2 2.5

Marreteiro 3 3.7

Aposentado 1 1.2 Total 80 100

Fonte: dados da pesquisa

A renda média declarada pelos entrevistados foi de R$860,00. Desses 18,5%

afirmaram receber, em média, menos de um salário mínimo por mês com as atividades

produtivas; 26% declararam receber um salário mínimo; 33,3% declaram obter até dois

salários mínimos e 22% afirmaram receber acima de cinco salários mínimos com suas

atividades de produção. Todos os entrevistados declararam receber algum tipo de

benefício. Entre os citados estão: bolsa família e a aposentadoria.

O extrativismo vegetal, embora não tenha sido declarado pelos entrevistados como

fonte geradora de renda, ocorre na região motivada pelo turismo, sobretudo para a

produção de artesanatos. Esta atividade está presente nas comunidades de Vista Alegre,

Crispim, Camará e Marudá. Há ainda a coleta de frutos para comercialização in natura ou

beneficiado sob forma de polpa, como o bacuri (Platonia insignis) e o muruci (Byrsonima

crassifólia) comuns nas áreas de campo.

24

Os artesãos utilizam as sementes de ajiru ou agiru ou ainda ajuru (Chysobalanus

icaco), de açaí (Euterpe sp), de muruci, além de cipós e cascas para produção de

bijuterias e outros artefatos. Nas comunidades citadas acima há artesãos que vivem de

seus produtos e são reconhecidos pelos moradores locais.

Não foi observada a ocorrência de produção de cofos para a comercialização. Em

geral os pescadores e tiradores de caranguejo utilizam paneiros (comprados de fora) e

sacas respectivamente para o transporte da produção.

Nas comunidades de Livramento e Porto Alegre há extração e comercialização de

pedras. Segundo um dos extrativistas, as piçarreiras da região (local onde há acúmulo de

pedras) estão localizadas na estrada de acesso à Vista Alegre, nas proximidades de

Novo Horizonte, na estrada para a comunidade de Porto Alegre e em Araticum-Miri.

Segundo um dos entrevistados “tirar pedra é trabalho bom, é diferente dos outros, o

quebrador de pedra vai e volta a hora que quer, mas é puxado, exige força, mas é bom,

dá dinheiro rápido”. A atividade consiste em buscar áreas de acúmulo de pedras e com o

uso de uma marreta, limpar o terreno e quebrar as pedras e organizá-las em montes de

aproximadamente 1m². Essa porção, quando formados, são chamadas de “lotes”. Cada

extrator ou quebrador tem seu lote e o marca com uma placa ou galho. Os compradores

pagam a vista, no local da retirada, ou deixam uma anotação e o extrator se dirige à loja

de materiais de construção (estâncias) para a retirada do dinheiro. O valor pago, na

ocasião deste diagnóstico, era de R$30,00 pelo m² de pedras. Um trabalhador pode

retirar até 10m²/semana.

Divisão social do trabalho e relações de gênero

A divisão social do trabalho entre os gêneros é percebida e diferenciada nas

comunidades visitadas. As atividades de pesca estão nas mãos dos homens e a

participação feminina se restringe, muitas vezes, ao reconhecimento de serem

“ajudantes”. As mulheres participam de algumas despescas (retirada dos peixes do

curral) e pescarias nas proximidades da comunidade ou nas beiras dos rios, consertam

as redes e malhadeiras, mas não saem para a pesca em alto mar.

Das atividades reconhecidas como feminina estão a coleta de sururus e sarnambis,

e a “cata” da massa de caranguejo. A comercialização da produção é feita por elas

mesmas. Algumas estão associadas à Colônia de Pescadores, mas em geral se

associam ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), mesmo sem possuírem roçados,

para garantir a aposentadoria e os benefícios sociais. A presença feminina está ainda nas

atividades dos roçados (Quadro 2).

25

Quadro 2- Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e agricultura entre os entrevistados no município de Marapanim-PA.

Ambiente institucional e organizacional

Mais de 80% cento dos entrevistados afirmaram fazer parte de alguma organização

social, e os outros 14% declaram não participar. Dentre as organizações a Colônia de

Pescadores Z-06 foi a mais citada (74%), seguida do STR com 7%. Apenas um morador

declarou participar somente de sua associação comunitária. O tempo médio de filiação na

Colônia dos Pescadores é de 20 anos. A organização social é reconhecida pelos

pescadores como entidade de classe, mas é pouco atuante.

A exceção das comunidades de Camará, Marudá, Crispim, Vista Alegre,

Livramento, Araticum-Miri e Juçateua nas demais comunidades as organizações sociais

não existem. Nessas há a presença dos coordenadores da igreja ou lideranças isoladas,

que em passado recente participaram de alguma organização social local.

Em Juçateua há ainda um Clube de Mães, que está desativado, mas foi lembrado

na oficina como importante para a comunidade no seu período de atuação, quando

desenvolvia atividades produtivas. A Associação Comunitária de Juçateua atua com

assistência aos moradores ajudando em casos de doenças e no controle e distribuição da

água. Em Camará é o presidente da Associação quem faz contato com a prefeitura para

26

ações na comunidade é reconhecido pelos moradores e seu cargo é vitalício. Ele também

é responsável pela liberação de áreas para uso local e para construção de casas de

veranistas

Em Marudá há um Centro Comunitário que funciona também como escola e o

acesso aos moradores é dificultado pela ausência de atuação da diretoria atual. Há ainda

associações de bairros independentes da associação central, como por exemplo, em Sol

da Manhã, bairro-comunidade que possui projeto agrícola financiado pelo programa

estadual denominado de Pará Rural. A associação de Livramento está relacionada com

as atividades agrícolas, mas no momento deste estudo, estava desativada. Em Araticum-

Miri há a Associação Comunitária Desportiva de Araticum-Miri que foi criada para articular

os campeonatos de futebol, mas atualmente está desativada. A Associação de

Moradores de Crispim existe há mais de 20 anos, possui sede própria e está sendo

reativada. Houve eleições recentemente e a principal ação da atual diretoria é recuperar

a adimplência da organização social. É a Associação que controla a distribuição da água

na comunidade.

Políticas públicas e Diagrama de Venn

Utilizando a definição de Peters (1986, apud Souza, 2006), “política pública é a

soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e

que influenciam a vida dos cidadãos”. Dessa forma, por meio dos exercícios do Diagrama

de Venn5 foi possível perceber quais as demandas de políticas públicas e quais

instituições “representam” a decisão e a implementação das políticas públicas almejadas

pelos moradores em Marapanim. Ressalta-se que as semelhanças entre os diagramas

apresentados pelas comunidades partícipes caracterizam e reflete o momento atual

político vivenciado pelos moradores das comunidades frente às recentes eleições

municipais. Cabe destacar que durante este exercício houve algumas intervenções de

Organizações Não Governamentais (ONG) locais, ora tecendo esclarecimentos de suas

atividades e ora buscando reconhecimento por parte dos moradores. Ao grupo da ONG

foi solicitado que não interviesse, a fim de que pudéssemos diagnosticar a realidade

local.

As igrejas estão presentes em todos os diagramas, assim como algumas

associações comunitárias. Serviços como segurança pública, educação e saúde foram

também considerados importantes e necessários para os moradores.

5 Para este exercício o tamanho e a cor dos círculos foram as referências utilizadas para o

grau de importância dado, pelos moradores, à instituição/órgão proposto. A distância dos círculos em relação às comunidades refere-se à presença e ação ou não da instituição na área.

27

A seguir são apresentados os quadros formados pelos grupos durante as oficinas

(Quadros 3.4, 5, 6, 7,8 e 9) e (Figura 3).

Quadro 3- Diagrama de Venn da comunidade Tamaruteua.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

Nesta comunidade apenas as organizações locais e políticas públicas, como o

bolsa família foram consideradas de grande importância. Observa-se que o grupo

considerou todas as instituições e políticas como de média importância e distantes da

comunidade. Esta classificação se reflete no distanciamento e isolamento que a

comunidade vive da sede municipal.

A questão da segurança pública foi citada pelo grupo como de fundamental

importância para a comunidade, sobretudo para o combate ao tráfico de drogas e a

prostituição, uma vez que a região é considerada por pescadores como área de abrigo

marítimo. Durante a oficina buscou-se, por meio do atual representante do Comitê,

reativar as representações locais para que a comunidade tenha representantes no

Comitê. Em Tamaruteua há uma mobilidade social intensa, devido às dificuldades com

educação e obtenção de água. A comunidade é abastecida por dois poços e não há água

encanada. A água não é de qualidade e os poços secam no verão.

28

O ICMBio e o IBAMA foram citados como instituições distantes da comunidade.

Para eles, é necessária a presença dos Institutos para que haja maior fiscalização na

região pesqueira.

Quadro 4 - Diagrama de Venn da comunidade Vista Alegre e Itauaçu.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

A oficina nesta comunidade foi a que teve o menor número de participantes.

Embora houvesse representantes do Comitê na comunidade, percebeu-se uma

dificuldade de comunicação e de representatividade local para a mobilização dos

moradores. O grupo que participou da oficina representava interesses locais municipais,

uma vez que o atual secretário de agricultura do município é “filho” da comunidade. É na

região de Vista Alegre que está o foco de atuação da prefeitura para incentivos agrícolas,

motivando a revitalização da Associação de Agricultores da comunidade. Vista Alegre é

considerada quase um distrito de Marapanim. Para os participantes “a agricultura deverá

ser uma alavanca na região, aqui se pode produzir de tudo e aqui já foi uma área de

produção, tudo saia daqui” referindo-se a produtividade das terras. Para o grupo a “pesca

já não está produtiva”. Há conflitos entre pescadores artesanais e pescadores de

camarão, devido ao uso de redes e puçás com malhas muito pequenas.

Destaca-se que devido à participação de grupos com outros interesses as questões

sociais como educação, segurança pública e outros serviços não foram destacados. No

29

entanto, em conversas informais realizadas com moradores, estes afirmaram que na

região é necessária a fiscalização ambiental. Em Vista Alegre foi recentemente instalado

um atracadouro para empresas de reboques, que segundo os moradores “foram retirados

de Vigia devido aos estragos causados no ambiente”.

Quadro 5- Diagrama de Venn do polo Camará, formado pelas comunidades

Bacuriteua e Crispim.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

Nesse polo, a oficina foi realizada na escola. Participaram moradores de Crispim,

Bacuriteua e Camará. Observa-se que a associação comunitária foi considerada de

média importância e nem tão próxima as comunidades, que as comunidades se

percebem distantes dos serviços e políticas públicas, embora tenha representante na

Câmara dos Vereadores. Cabe destacar que na apresentação do grupo, foi solicitada que

o círculo que representa a Câmara fosse distanciado das comunidades devido à ausência

de ações comunitárias. O turismo, ainda que expresso como de média importância, foi

considerado pelo grupo como oportunidade de desenvolvimento para a região.

O IBAMA e outras instituições ligadas ao meio ambiente foram inseridos distantes

das comunidades, mas consideradas de grande importância. No caso da universidade, o

grupo comentou que “vem muitos pesquisadores nessa região, mas nunca deixam os

resultados ou trazem respostas para os moradores”. Na ocasião, foi citado por um

morador, a recente visita á área de técnicos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente

30

(SEMA) que, segundo ele, estavam realizando levantamentos para a criação de uma

reserva parque na região da Ilha Dom Pedro.

Quadro 6- Diagrama de Venn do polo Marudá, formado pelos bairros comunidades

Cafezal, Recreio, Sossego e Sol da Manhã.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

O grupo destacou as ações e presença do governo federal, assim como as igrejas,

e as ações do Instituto Paraense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) como

de grande importância e presentes nas comunidades. Nesse polo, em que estão

concentradas as principais ações de turismo do estado, observa-se que este serviço,

embora reconhecido como de grande importância, não foi inserido como próximo aos

comunitários. Organizações de apoio aos moradores como a Colônia de Pescadores e o

Sindicato dos Trabalhadores Rurais, segundo o grupo “eles são de grande importância

porque é feito para a gente, mas atualmente não estão participando ou trazendo

benefícios para os moradores”. Durante a apresentação do grupo houve um debate sobre

a disposição no quadro dos círculos referentes à Colônia dos Pescadores e o Sindicato.

Foi proposto que houvesse inversão do posicionamento dos círculos, uma vez que foi

defendida a presença da Colônia de Pescadores nas comunidades. Nesse grupo aparece

31

a universidade, e novamente o grupo manifestou a ausência de respostas para os locais

sobre as pesquisas realizadas.

A prefeitura foi considerada importante e distante do polo segundo o grupo “eles só

aprecem na época da eleição e depois somem, não cumprem as promessas”.

Quadro 7-Diagrama de Venn do polo Araticum-Miri, formado pelas comunidades

Livramento, Porto Alegre e Araticum-Miri.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

O grupo considerou todas as instituições e políticas públicas de grande importância.

Destacou as Igrejas e a política do Programa Bolsa Família como próximo da

comunidade e as ações atuais para o saneamento básico que estão sendo implantadas

nas comunidades. A ausência de segurança pública foi debatida na plenária e questões

como tráfico de drogas e roubos nas residências foram acentuadas. As associações

comunitárias foram consideradas importantes, mas sem atuação nas comunidades,

assim como as entidades de classe que representam os pescadores e os agricultores.

Destaca-se que a oficina neste polo foi articulada pelo representante do Comitê, que por

sua vez também atua na coordenação da igreja.

Os moradores destacaram que há nas comunidades ausência de incentivos que

permitem aos jovens ter profissão e atuação depois dos estudos, mesmo coma a política

32

de incentivos existentes. As questões ambientais também foram motivo de debate na

oficina deste polo, sobretudo pelos conflitos existentes entre pescadores de camarão e

pescadores artesanais pelo uso do puçá pelos primeiros. O grupo afirmou que “ não tem

fiscalização, por isso o IBAMA e o Meio Ambiente estão distantes”

Quadro 8- Diagrama de Venn da comunidade Guarajubal.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

A comunidade, embora próxima da sede municipal, se apresentou como

“abandonada pelas autoridades”. A partir do comentário inicial o grupo, este destacou

que “todas as políticas estão ausentes daqui, já fizemos reunião com as autoridades e

denúncias na Colônia de Pescadores e ninguém aprece aqui”, referindo-se às

necessidades e demandas da comunidade para questões que envolvem a segurança

pública, o ambiente e a fiscalização para a ”tiração” de caranguejos. Segundo o grupo ”há

muitos compradores de massa e polpa e com isso aumentou o número de pessoas que

vão ao mangue”. Afirmaram ainda que “as pessoas não estão respeitando o tamanho do

caranguejo e tiram de todos os tamanhos e também as fêmeas”. Observa-se que as

instituições ligadas ao meio ambiente estão distantes da comunidade.

Destacaram a presença de pesquisadores da Universidade Federal do Pará na

comunidade e questionados sobre o resultado da pesquisa, afirmaram que “esses

deixaram seu livro aqui na comunidade”. O grupo apontou ainda que há necessidade de

33

atividades que devem ser desenvolvidas com os jovens “por que eles se metem com as

drogas”.

Quadro 9 - Diagrama de Venn da comunidade Juçateua.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

O destaque na apresentação do grupo foi a importância e a presença na

comunidade da Associação Comunitária. Para eles ”a associação atua muito bem,

controla o abastecimento de água e promove a limpeza das ruas”. Quanto as demais

instituições e políticas públicas inseridas no quadro, para o grupo “a comunidade precisa

de tudo isso, mas não tem atenção”

A câmara dos vereadores e a colônia de pescadores foram consideradas de média

importância e ambas distantes da comunidade. As secretarias municipais, a prefeitura e a

EMATER apresentadas como de grande importância para a comunidade, mas segundo o

grupo em sua apresentação “essas instituições estão distantes, não adianta mandar

pedidos eles não respondem ou aparecem aqui”.

34

A segurança pública foi categorizada como de grande importância devido à forte

presença de tráfico de drogas na região e ataques de piratas aos pescadores.

Figura 3 - Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades e comunidades polos

na construção dos Diagramas de Venn, no município de Marapanim-PA.

35

3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos na turais pela população

tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos.

Os países de alta biodiversidade, como o Brasil ou outros países tropicais,

apresentam diversificadas características físicas, climáticas e biológicas que

abrigam variadas formas de vida e ecossistemas. Através de estudos ecológicos

junto às comunidades, as pessoas se conscientizam sobre o prejuízo da perda de

biodiversidade, o valor da etnobiologia e a importância da conservação e do

desenvolvimento sustentável para as presentes e futuras gerações.

Os recursos da biodiversidade são fundamentais para o desenvolvimento

econômico, social e cultural das sociedades humanas. Segundo Alves et al.(2008 a), os

modos como os recursos naturais são utilizados pelas populações humanas são

extremamente relevantes para definição de estratégias conservacionistas.

Os estudos com comunidades e ambiente levam em conta dois principais

componentes inter-relacionados e interdependentes: as situações práticas de vida

da comunidade estudada, atentando para a cultura e tradição locais e a utilização

sustentável dos recursos naturais locais (Pandey et al, 1998).

Uma das abordagens científicas para estudar a relação do homem com a natureza

é a etnobiologia, que é uma ciência interdisciplinar derivada da antropologia cognitiva e

de áreas das ciências biológicas, como a ecologia (Begossi,1993). O estudo

etnobiológico investiga, analisa e sistematiza o rico e detalhado conhecimento das

populações e pode apresentar resultados de pesquisa que aperfeiçoem utilização de

recursos naturais como a pesca artesanal, onde os peixes compõem um grupo animal de

grande diversidade biológica e importante recurso alimentar (Begossi et al, 2002). Além

disso, os estudos etnobiológicos possibilitam a incorporação de critérios de etnomanejo

(Diegues1995) na determinação das políticas públicas do território marinho.

Os moradores entrevistados por meio dos questionários e conversas informais das

comunidades visitadas no município de Marapanim reconhecem uma série de paisagens,

animais e plantas que ocorrem na região e em alguns casos, estes recursos biológicos

têm valor utilitário.

36

Uso da fauna

Os entrevistados citaram 243 animais (218 vertebrados e 25 invertebrados) que

ocorrem na área. Os animas citados pertencem a 8 categorias taxonômicas distintas. As

categorias com maior número de espécies citadas foram: aves, peixes, mamíferos e

répteis (Figura 4)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

aves

peixes

mamiferos

reptéis

anfíbios

crustáceos

insetos

moluscos

Ca

teg

ori

as

taxo

mic

as

Nº de citações

Figura 4- Número de espécies animais por categoria taxonômica citadas pelos

moradores das comunidades visitadas no município de Marapanim -PA.

Dos 243 animais citados, 72 foram aves, isto ocorre devido à variedade desses

animais na região em função dos diferentes ecossistemas de mangue, mar, terra firme e

campo. Dentre os animais que apresentaram o maior número de citações foram

Eudocimus ruber (guará, 20); Tringa flavipes (maçarico, 17); Dasyprocta leporina (cutia,

21); Armadillidium sp (tatu,18), macaco prego (Cebus apella,18); gó (Macrodon

ancylodon, 21); e camaleão (Iguana sp, 19).

O uso alimentar de animais engloba, além da pesca, a fauna terrestre nativa obtida

com a caça e com animais de criação doméstica como galinhas, porcos, patos e outras

aves. Constatou-se a existência de uma conexão utilitária da fauna na região, sendo o

uso alimentar o mais representativo, uma vez que 90% das espécies de peixes citadas,

20% das espécies de mamíferos, 10% das espécies de répteis e 12,3% das espécies de

aves foram associadas a esse tipo de uso.

Dentre os animais citados pelos entrevistados o Leopardus wiedii (gato maracajá);

Trichechus manatus (peixe-boi marinho), a Pteronura brasiliensis (ariranha) e o Pristis

perotteti (espadarte) constam na Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de

Extinção (IBAMA, 2003). Além desses, estão ainda citados o Epinephelus itajara (mero),

o Sphyrna tiburo (cação) que constam na Lista de Espécies da Flora e da Fauna

Ameaçadas no Estado do Pará (SEMA, s/d).

37

A caça é praticada na região para consumo e venda principalmente na comunidade

Juçateua. Os moradores entrevistados nas demais comunidades afirmaram que “aqui a

caça já está rara, mas quando aparece pegamos para comer”. Mais de 80% dos

moradores entrevistados afirmaram que não praticam a atividade. No entanto, 60% deles

afirmaram que há caçadores em sua comunidade e que consomem caça. A paca e o tatu

são os animais preferidos dos caçadores que usam diversas estratégias de caça, entre

elas o moitá, o bufete (espécie de arma artesanal), a baladeira ou a isca. Segundo os

moradores, os caçadores de fora que chegam à região tem sua origem na sede municipal

de Marapanim, Belém e Castanhal. As principais áreas utilizadas para a prática da caça é

na região da comunidade de Juçateua, onde o kg da carne de paca é comercializado por

R$12,00 e do tatu chega a R$15,00. Além da caça, o consumo de proteínas advém das

atividades de pesca e da mariscada.

A pesca e a mariscada

A atividade pesqueira faz parte das mais antigas tradições dos habitantes do litoral

amazônico, que mantiveram sua riqueza cultural nas formas de exploração dos recursos

naturais, mesmo com a introdução das transformações socioculturais impostas pelo

desenvolvimento econômico na região (Veríssimo, 1970 e Maneschy, 1993, Isaac 2006).

Em Marapanim, existem os pescadores artesanais (os que possuem barcos de

tonelagem), os pescadores ribeirinhos (os que pescam em canoas e próximo as marés);

os marisqueiros (extraem os crustáceos); os pescadores de camarão e curralistas

(pescadores que utilizam esse apetrecho6 para sua atividade).

Pescadores artesanais podem ser definidos como aqueles que, na captura e

desembarque de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhos e/ou

utilizam mão-de-obra familiar ou não assalariada, explorando ambientes ecológicos

localizados próximos à costa, pois a embarcação e aparelhagem utilizadas para tal

possuem pouca autonomia. A captura da pesca artesanal é feita através de técnicas

de reduzido rendimento relativo e sua produção é total ou parcialmente destinada ao

mercado (Diegues, 1973).

Os pescadores artesanais mantêm contato direto com o ambiente natural e, assim,

possuem um corpo de conhecimento acerca da classificação, história natural,

comportamento, biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem

(Silvano, 1997).

6 Petrechos de pesca/fishing gear– ou apetrecho, é qualquer instrumento utilizado para a

prática de pesca.

38

A atividade de pesca artesanal é fortemente praticada nas comunidades visitadas

no município de Marapanim, com exceção das comunidade de Guarajubal (os moradores

se dedicam a “tiração” de caranguejos) e Juçateua (os moradores praticam a pesca

ribeirinha em sua maioria). A pesca artesanal é praticada ao longo do ano. Nas

comunidades como: Vista Alegre, Marudá, Porto Alegre, Crispim e Araticum-Miri a

comercialização com os barcos pesqueiros é constante, principalmente em Marudá e

Marapanim onde há o mercado municipal e maior fluxo turístico. Nas demais, a

comercialização dos produtos da pesca é feita com os marreteiros nas comunidades.

Estes têm a incumbência de comprar o produto e despachá-los para a sede municipal.

As técnicas de pesca são repassadas por gerações e o aprendizado se inicia com

os filhos acompanhando seus pais, muitas vezes, a partir dos 8 anos de idade. A

pescaria é uma atividade masculina, mas há as mulheres que a praticam. Quando

questionados com quem o senhor aprendeu a pescar? Muitos dos entrevistados

afirmaram que “já nasci praticando a pescaria, desde pequeno ia com meu pai e tios para

o mar.”.

Os principais apetrechos utilizados para a pescaria em Marapanim são as redes, as

malhadeiras e o espinhel, para os que vão para alto mar. A pesca de linha, de tarrafa, de

puçá, de curral ou com o uso do muzuá são para os que pescam nas marés, nos rios e

nos igarapés e mangues. A rede rabiadeira é utilizada nas praias e sua prática se limita a

região da comunidade de Crispim e arredores (Figura 6).

Os currais são utilizados ao longo das margens do rio Cajutuba e na foz do rio

Camará quando estão instalados nas croas formadas. Os currais possuem diversos

formatos e nominações e estão relacionados com o local a serem instalados.

Para a confecção dos currais, os pescadores utilizam bambu (Bambusa sp) e varas

de cumatê (Myrcia atramentifera), caipé (não identificado, envireira (não identificada) , e

abiurana (Pouteria sp) extraídas das áreas de capoeiras. Para os pescadores que

confeccionam os currais” tem muito segredo fazer curral, eu aprendi com meu pai e já

ensino pra outro”. Segundo os pescadores “já não se encontra cipó por aqui, acabou.

Então usamos fio telefônico para amarrar as varas e o bambu e construir as paredes”.

Na região de Araticum-Miri um curral custa R$1.000,00, e são cerca de 20 dias de

trabalho para fazer um curral de enfia ou caçoeira. A diária para o artesão sai por

R$30,00 e o trabalho dura o dia todo. Segundo os pescadores um curral pode durar até

um ano desde que haja manutenção.

Na região foram citados três tipos de currais, a saber: (1) o curral de cacuri ou

meia-lua, utilizado na beira do mangue ou praia; (2) o curral de enfia ou caçoeira que é

fixado nas margens dos rios e mangues e a parte aberta fica voltada para a foz de um

39

canal para o peixe ir direto para o depósito. É utilizado tanto em canais de igarapés como

nos rios e são instalados nas duas margens um ao lado do outro. No espaço do curral

denominado de depósito tem um pequeno espaço chamado de cacuri que é onde peixe

fica preso; (3) o cacuri de coração, que fica localizado nas margens do mangue ou praia

(Figura 5). A despesca do curral ocorre de 12 em 12 horas de acordo com a maré.

Com os currais instalados nos canais dos rios e mangues podem capturar espécies

como: tainha (Mugil sp.), gó(Macradon ancylodun), bodó ou carataí (Pseudauchenipterus

sp) bagres (Hexanematichthys couma) e camurim (Centropomus spp);. Se estiverem

instalados na área marítima (croas) capturam arraia, xaréu (Carans spp), gó e dourada

(Branchyplatystoma sp)

Figura 5 – Croqui dos currais utilizados nas comunidades visitadas no município de

Marapanim-PA.

40

Figura 6- Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores e marisqueiros no

município de Marapanim-PA.

41

Segundo os entrevistados as espécies de peixe mais importantes para a geração de

renda são: a pescada amarela (Cynoscion acoupa), o camurim (Centropomus spp), a

dourada (Branchyplatystoma sp), pescada gó (Macradon ancylodun), a tainha (Mugil sp),

e a curvina (Cynoscion microlepidotus), todos comercializados com preços variando entre

R$5,00/kg a R$12,00/kg. (Quadro 10).

O pescado na região é comercializado fresco ou salgado. O pescado é

comercializado nos mercados municipais (sede e Marudá) e o preço é ditado pelo

mercado Ver-o-Peso em Belém.

Quadro 10- Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades

visitadas no município de Marapanim-PA.

OBS: Os dados referem-se às respostas obtidas dos entrevistados em campo.

A mariscada

A coleta de crustáceos e moluscos são atividades geradoras de renda e ocorre em

todas as comunidades visitadas. A extração e a pescaria podem ser realizadas em

grupos ou isoladamente. As pescarias em grupo envolvem a mão de obra familiar.

Os crustáceos explorados pelos marisqueiros são o caranguejo (Ucides cordatus),

o camarão branco (Litopeneaeus schmitti), e o siri (Callinectes sp). Os pertencentes ao

grupo de moluscos estão o sarnambi (Lucina pectinatae), o mexilhão (Mytella sp.), o

sururu. (Mytella falcata), e em menor escala os turus (Teredo sp), A ostra (Crassostrea

sp) quando ocorre é extraída apenas para consumo (Quadro 11).

Os produtos da mariscada têm preço no mercado local e regional. Para a pesca do

camarão o apetrecho utilizado é o puçá. Os principais ambientes de coleta do camarão

são os rios e o mar. Os entrevistados citaram quatro etnoespécies de camarão que são

encontrados na região: o camarão branco (Litopeneaeus schmitti); o camarão rosa

42

(Farfantepeneaus sp), o camarão piticaia (Penaeus Schimitii.) e o camarão cascudo

(Sicyonia dorsalis). Os camarões são comercializados salgados e pré-cozidos e os

preços variam em função do tamanho e da safra.

Os sarnambis e sururus podem ser comercializados nas conchas (sujos) ou já

limpos e pré-cozidos quando tem valor agregado em seus preços de venda.

Os pescadores de camarões podem ficar nas áreas de pesca por até duas

semanas. Essas áreas são denominadas localmente de camaroeiras. A principal

camaroeira está localizada no rio Cajutuba, próximo a ilha das garças e segundo um dos

pescadores pertence a um morador de Marapanim, também a Colônia de Pescadores

possui camaroeiras na região dos rios. Os compradores (marreteiros) de camarões os

adquirem diretamente nas áreas de pesca ou compram dos pescadores nas

comunidades. O preço é determinado pelos marreteiros. Na ocasião deste estudo, o

preço do camarão branco in natura estava em R$5,00/kg e o salgado R$15,00/kg pagos

à vista e em dinheiro. O crustáceo é mais comercializado nas comunidades de

Tamaruteua, Vista Alegre, Itauaçú e Araticum-Miri.

Muitos marisqueiros denunciaram que os mexilhões estão quase extintos na região

de Marapanim. Segundo eles a “predação” ocorreu porque os barcos de coleta

atracavam sobre a área dos mexilhões e muitos “faziam fogo para cozinhá-los e

despejavam a água quente sobre os mantos, matando os que ficavam e assim foi

acabando”. Atualmente os mexilhões são encontrados nas comunidades de Camará,

Crispim e Araticum-Miri.

Os caranguejos são coletados principalmente na comunidade de Guarajubal

durante o ano todo, sendo o verão o período de maior intensidade de extração. Segundo

um dos marisqueiros “o caranguejo está mais inteligente que menino da escola, tá

esperto, foge e se esconde no buraco ao lado”, referindo-se à dificuldade em capturá-los.

A coleta é diária e os crustáceos são retirados de suas tocas com o auxilio de um “anzol”

(vara de 1,5m com um gancho confeccionado de “vergalhão” em formato de anzol,

amarrado em uma das extremidades) “no bater do anzol reconheço se a toca é de macho

ou de fêmea”. Os marisqueiros saem para o mangue em canoas e quando a maré está

baixando, caminham pelo mangue em busca das tocas. Essas são reconhecidas,

segundo um dos entrevistados, pelo rastro e pelo tamanho do “buraco”. O anzol é

introduzido na toca e o crustáceo é “puxado devagar para não esbagalhar” (Figuras 7 e 8)

Os caranguejos são armazenados em sacas ou cofos e comercializados à unidade

com o preço de R$1,00 em Guarajubal. Na comunidade de Juçateua “o comprador de

fora” paga R$0,50 a unidade ou a R$50,00 o cento. Além do caranguejo in natura, há

ainda a comercialização da polpa ou massa.

43

Em Marapanim não foram identificadas áreas de instalação de aqüicultura.

Segundo lideranças comunitárias algumas iniciativas foram discutidas na região como a

criação de ostras no rio Cajutuba e de mexilhão na comunidade de Recreio, no entanto

estas não foram alavancadas. O motivo segundo as lideranças está na ausência de união

nas comunidades e apoio e compromisso dos governantes nos investimentos.

Quadro 11- Principais espécies de mariscos citadas pelas comunidades visitadas

no município de Marapanim-PA.

44

Figura 7- Imagens de apetrechos utilizados para a extração de mariscos no

município de Marapanim -PA.

45

Figura 8 – Aspectos da pesca e mariscagem no município de Marapanim-PA.

46

Organização social da pesca

A pesca no município de Marapanim está desorganizada, sem representação de

classe e centrada na Colônia de Pescadores-Z06. Nas visitas as comunidades foram

citadas outras organizações ligadas à pesca, entre as quais: Associação de Pescadores

de Camarão, Associação de Pescadores de Marudá, Associação de Pescadores de

Marapanim e Associação de Caranguejeiros (em projeto). No entanto, não foram

localizados representantes ou lideranças responsáveis pelas organizações.

A Colônia de Pescadores tem sede própria e está em processo de reestruturação e

organização dos pescadores locais. Tem como bandeira de luta o reconhecimento do

seguro defeso para os pescadores e caranguejeiros da região.

Conflitos da pesca

O principal conflito na região está diretamente ligado a “invasão” de barcos de

pesca industrial na área da pesca artesanal. Em todas as comunidades essa temática foi

citada. Em Vista Alegre os pescadores entrevistados citaram a presença de rebocadores

que tem abrigo na comunidade. Para eles os barcos rebocadores não poderiam navegar

no rio Cajutuba “pois destroem o mangue, currais e ameaçam a produção pesqueira”.

Para os marisqueiros as áreas de mangue e pedras “não tem dono e todos podem

utilizar para coleta de seus produtos”.

As áreas de pesca de camarões onde estão construídas as camaroeiras são livres

para pesca, mas não para a instalação nos abrigos. Segundo os pescadores “uma vez

instalados, estes devem vender sua produção para os patrões locais”.

A outra situação que gera conflitos segundo os pescadores, é o uso de puçás por

pescadores de camarão. Os pescadores alegam que os puçás “matam os peixes

pequenos que nascem nas praias e vem crescer nas cabeceiras e mangues”. Além disso,

os pescadores denunciaram ameaças e assaltos que sofrem causados pelos piratas aos

pescadores em alto mar. Foram citados ainda, conflitos de pesca com pescadores do

município de Magalhães Barata por territórios pesqueiros no rio Marapanim.

Segundo os estudos realizados por Bordalo e Abreu (2010) nas comunidades de

Guarajubal e Vista Alegre há uma a necessidade premente em analisar o território e a

gestão dos recursos naturais relacionados à pesca sob a perspectiva geográfica centrada

no desenvolvimento das comunidades pesqueiras a partir de suas representações

espaciais. Segundo os autores, o ordenamento territorial da atividade da pesca por essas

comunidades é, em princípio, um mecanismo de regulação (e controle) da exploração

pesqueira com base em suas vivências nascida da experiência própria de vida, particular

a cada uma dessas comunidades. Os autores afirmam ainda, que não há

47

necessariamente mecanismos institucionais (ou arranjos institucionais) que respondam

por suas ações, no que se refere ao uso do meio aquático. Ressaltam a importância do

ordenamento dos territórios de pesca no Estado.

Uso da flora

O uso dos recursos naturais que compõem a flora na região amazônica é manejado

pelas populações de forma diferenciada, considerando a biodiversidade local e sua

cultura. Assim, a relação homem x planta deve ser enfocada sob o ponto de vista sócio-

cultural de grupos humanos com as características de populações tradicionais.

Na região há formações vegetais de mangue, restingas e as capoeiras, que são

utilizadas das mais variadas formas, com registros de espécies madeireiras de valor

econômico empregadas na construção de casas e produção de lenha; espécies frutíferas,

e medicinais; espécies para artesanatos e espécies com potencial resinífero (Shanley et

al., 1998; Rios et al. 2001;Alvino et al., 2005).

As capoeiras, também, desempenham importante papel ecológico pelo acúmulo de

biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e

manutenção da biodiversidade (Pereira e Vieira, 2000).

A vegetação de restinga7 ocorre na região da comunidade de Crispim e foi

estudada por Neto, et al (2000). Segundo os autores, que analisaram as áreas restritas a

vegetação herbácea, foram encontradas 19 espécies pertencentes a 10 famílias

botânicas, entre cipós, ervas e arbustos.

Furtado et al (1978), estudaram o uso terapêutico de plantas pela população local

em Marapanim, especificamente Camará, relacionando com ambiente, cultura e hábitos

tradicionais. Bastos (1995) estudou o uso de vegetação da restinga e do mangue pelas

famílias de pescadores de Camará, Bacuriteua e Marudá. A autora constatou o uso da

vegetação local pelos moradores para construção, alimentação e remédios.

Os moradores entrevistados em Marapanim reconheceram 72 tipos de plantas

entre árvores, palmeiras, ervas e cipós, distribuídas em 34 famílias botânicas. Em relação

à distribuição do número de espécies por famílias, sete famílias botânicas se destacaram,

a saber: Rhizophora, Combretaceae, Acanthaceae, Anacardiaceae, Cluseaseae

Arecaceae e Sapotaceae (Figura 9).

7 Restinga - ecossistema adjacente ao oceano, ocorrendo em planícies arenosas de origem

quaternária.

48

0

5

10

15

20

25

Rhizopho

race

ae

Combreta

ceae

Acanth

aceae

Clusia

ceae

Anaca

rdiace

ae

Areca

ceae

Sapot

acea

e

Apocy

nace

ae.

Meli

acea

e

Myr

tace

ae

Mor

aceae

Rutace

ae

Famílias botânicas

de c

itaçõ

es

Figura 9- Famílias botânicas com maior número de espécies citadas pelos moradores

entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.

A maior parte das plantas citadas está nas áreas de terra firme utilizadas pelos

moradores da região. As plantas com maior número de citações foram as espécies que

compõem a vegetação do mangue e estas são utilizadas como alimento, remédio e para

a construção.

Na região das comunidades visitadas o mangue constitui a principal fonte de

recursos. As espécies do mangue são utilizadas para a construção de casas, cercas,

curral entre outros usos. Das espécies do mangue a Rizhophora mangle (mangueiro) é a

que tem seu uso mais difundido pela população, citada por mais de 90% dos moradores

entrevistados.

Além das espécies do mangue foram citadas o Platonia insignis (bacuri, 16) e as

espécies de palmeiras como o Astrocaryum sp (tucumã, 11) e o Cocos nucifera (coco,

12), e frutíferas como o caju (Anacardium orcidentale), a manga (Mangifera indica) e o

limão (Citrus limonium), sendo as duas últimas introduzidas na região.

Cabe destacar que as folhas das palmeiras como o inajá (Maximiliana Maripa

Aublet Drudesem) e o tucumã antes utilizados para a confecção dos cestos, como os

paneiros, atualmente estão em desuso, sendo suas folhas substituídas por fibras

plásticas. Segundo os moradores a substituição dá-se porque “paneiros de plástico são

mais resistentes e duráveis” Os paneiros plásticos são comercializados por R$15,00 a

unidade.

Dentre as espécies mais citadas e reconhecidas como introduzidas estão o

Bambusa vulgaris var (bambu), que, segundo um dos entrevistas, chegou a região em

1943, trazida pelo Sr. Janguinho, e plantada inicialmente em Araticum-Miri. O açaí

(Euterpe sp) e o coqueiro também foram citados como espécies introduzidas.

49

As modalidades de uso mais freqüentes foram: alimentar (42 espécies) e para uso

nas construções dos currais (14 espécies). Segundo os entrevistados as espécies que

estão fortemente ameaçadas (desaparecendo) são as espécies madeireiras e entre elas

o Bumelia nigra (miri) e o bacuri. Os motivos citados para o desaparecimento das árvores

“é o desmatamento exagerado”, ou ainda “aqui não tem fiscalização e as pessoas fazem

o que querem, destroem as áreas de mata pra morar e pra fazer carvão”. As espécies

que foram citadas como “as que já desapareceram da região” estão o Tabebuia ssp (pau

d’arco) e a Verônica officinalis (verônica).

A lenha e o carvão são produzidos das espécies vegetais retiradas principalmente

do mangue e da mata. O carvão é produzido nas caieiras e para consumo. As espécies

de vegetais mais citadas para produção de carvão são o tinteiro (Laguncularia racemosa

Gaertn), a siribeira (Avicennia shaueriana), o mangueiro e o bacuri.

Os moradores citaram 28 espécies vegetais utilizadas na região para construção.

As mais citadas foram: o tinteiro, o mangueiro e o miri, além do bacuri e da piquiarana

(Caryocar microcarpum). As espécies vegetais são retiradas do mangue, das matas e

capoeiras próximas e são utilizadas principalmente para construção de esteio para os

currais, de “ pernas mancas” para construção de casas e cercas. Nenhuma das espécies

citadas está na Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção

(MMA) ou na Lista de Espécies da Flora ameaçadas de Extinção do Estado do Pará

(SEMA).

A técnica de uso da terra para a roça é a derruba e queima. E o uso de maquinário

está sendo introduzido em Vista Alegre. A mandioca é o principal produto cultivado. Nas

comunidades visitadas, apenas em Bacuriteua, Vista Alegre e Livramento os moradores

declararam praticar a agricultura.

As principais variedades de manivas citadas foram: achada, inha e torrão para

produção de farinha e as macaxeiras. Cultivam ainda arroz e milho. As áreas de plantio

são pequenas, não ultrapassam de quatro tarefas, e a produção está voltada para o

consumo. As manivas, para cultivo, são compradas por R$8,00 a saca.

Segundo os moradores de Bacuriteua uma tarefa (50mx50m) de área plantada

pode produzir até 10 sacas de farinha. Na região eles não nomeiam das manivas. Além

dos roçados eles coletam e vendem bacuris. A safra vai de fevereiro a março e

promovem no mês de maio o Festival do Bacuri.

Em Araticum-Mirim os moradores preparam da macaxeira a mandiocaba uma

bebida que é fermentada e denominada de “manicuera”. A bebida é utilizada para a

celebração no “dia de iluminação” (finados) e consumida com arroz.

50

Áreas de uso dos recursos naturais

Mapas

Os mapeamentos participativos vêm sendo utilizados como ferramenta

metodológica para incentivar a discussão acerca dos recursos naturais e uso do território

vivenciado por populações tradicionais e indígenas, visto que poderão contribuir para a

gestão ambiental.

Os conhecimentos tradicionais ambientais foram abordados a partir do universo das

etnociências com especial ênfase na etnoecologia. Esses conhecimentos que emergiram

no processo de construção dos mapas de uso pelos moradores das comunidades

visitadas nos permitem compreender melhor as relações de seus autores com o meio em

que vivem, e possibilitar a participação destes na tomada de decisão para a conservação

da biodiversidade local.

Os mapas das áreas de uso dos recursos naturais foram construídos de forma

coletiva durante as oficinas realizadas nas comunidades.

Os mapas base eram imagens de satélite, onde estavam indicadas as

comunidades, a estrada, a sede municipal, assim como os limites das demais unidades

de conservação da região. Antes de os moradores apontarem de onde e quais recursos

são retirados, foram nomeados por eles os principais elementos geográficos.

Vale ressaltar que ao grupo foi “apresentada” a imagem de satélite após breve

explanação sobre as representações dos espaços relacionando as cores ao ambiente.

Logo, foram reconhecidos os espaços aquáticos e a partir desses espaços começaram a

delinear os demais elementos, como as estradas secundárias, as áreas de campo, as

áreas de praia, de croas, o manguezal e os principais pontos de coleta dos recursos

naturais.

Os mapas das áreas de uso foram construídos por participantes das comunidades

e quando as oficinas ocorreram nas comunidades polo os moradores das comunidades

adjacentes participaram (Figuras 10a e 10 b; 11a e 11b;12 a e 12b;13 a e 13b;14 a e14b;

15a e 15b e 16 a e 16b).

51

Figura 10a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade de

Tamaruteua.

Tamaruteua é a comunidade mais distante da sede municipal. Está localizada nas

margens do igarapé do Breu, que tem suas cabeceiras no campo do mesmo nome.

Segundo seus moradores cerca de 30 anos o mar avançou sobre a área ocupada e a

comunidade se transferiu para o igarapé. O acesso é somente de barco pelo mar ou pelo

rio Cajutuba. Essa comunidade fornece abrigo para os barcos de pesca artesanal,

principalmente os do município de Vigia.

A pesca artesanal, a “tiração” de caranguejos e a pesca de camarão são as

principais atividades da comunidade. A “tiração” de caranguejos ocorre em todo o

mangue. Os moradores utilizam a área do campo para coleta de frutos (bacuri, caju e

muruci) e de palha de inajá. Utilizam as áreas de praias, onde há construção de ranchos

de pesca (cabana construída de madeira e palha e utilizada como abrigo durante o

período de pescaria). Os currais estão disponibilizados próximos da comunidade, ao

longo da foz do rio Cajutuba e na área do município de Curuçá. A pesca artesanal é

praticada na costa norte e em direção ao arquipélago do Marajó. Segundo os pescadores

é nessa região que se encontram os melhores “pesqueiros”. O farol Sacaiteua além de

ser ponto de referência para os pescadores localiza a comunidade para abrigo e

comércio de produtos.

52

Figura 10b- Aspectos da oficina e mapeamento na comunidade de Tamaruteua.

53

Figura11a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Vista Alegre e

Itauaçú.

A pesca artesanal é a principal atividade na comunidade de Vista Alegre que possui

porto e fábrica de gelo. A pesca de camarão é a atividade mais importante para os

moradores de Itauaçu. Os pescadores artesanais navegam até o arquipélago do Marajó e

para região de Algodoal. Coletam, nas áreas de croas e praias sementes de andiroba que

chegam com a maré. A pesca de curral é realizada ao longo do rio Cajutuba e nas áreas

de praias da foz do Marapanim, além dos currais há também o uso de redes rabiadeira.

Utilizam a área de campo da Ilha Dom Pedro de onde retiram frutos (ajiru, bacuri e

muruci), breu e madeira. O caranguejo e o turu são extraídos das áreas do mangue ao

longo dos rios Cajutuba e Camará. Os roçados se distribuem ao longo da estrada.

A pesca em canoas ocorre ao longo do rio Cajutuba até as proximidades da sede

municipal. Os pescadores utilizam ainda a pescaria de redes próxima à região

denominada de costeiro, que segundo os pescadores “é onde quebra a maresia”

54

Figura 11b- Aspectos da oficina no polo Vista Alegre .

55

Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Camará, formado

pelas comunidades de Bacuriteua, Camará e Crispim.

As comunidades do polo Camará utilizam as áreas de campo e restinga, além dos

mangues e praias. O turismo é uma atividade geradora de renda, principalmente na

comunidade de Crispim. Bacuriteua é a comunidade onde os moradores estabelecem

roçados. A extração de caranguejos é realizada nas áreas de mangue do rio Camará e

igarapés ao longo do rio Marapanim. Pescadores se instalam em barracas de pescaria

nas praias ao norte da Ilha Dom Pedro. É na foz do rio Camará que os currais estão

instalados. Nas praias de Crispim a pesca é de rabiadeira. A pesca artesanal é praticada

na área costeira e navegam até o arquipélago do Marajó e região de Bragança. Dos

campos e restingas retiram frutos (ajiru, caju, abiurana e muruci), além do mel e de

orquídeas. A madeira é retirada das áreas de mata próximas aos campos. É nas

cabeceiras dos igarapés que fazem a pesca do camarão. O siri é pescado em toda a

região e o turu nas áreas de mangue. Deslocam-se a pé ou de canoas para as regiões de

mangue. Os pescadores sobem o rio Marapanim para a pesca de redes ao longo das

croas.

56

Figura 12b- Aspectos da oficina no polo Camará.

57

Figura 13a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do polo

Marudá, formado pelos bairros comunidades de Recreio, Sossego, Sol da Manhã,

Cafezal.

O Distrito de Marudá é o principal ponto turístico da região. O acesso é facilitado

por estradas asfaltadas. Os moradores locais têm suas atividades concentradas no

período de verão, quando aumenta o fluxo turístico para a região. Praticam a pesca

artesanal e suas áreas de pesca se concentram no arquipélago do Marajó, na região de

Algodoal e no rio Marapanim. Pescam nas áreas das unidades de conservação vizinhas

de onde também retiram madeira para os currais. Dos mangues retiram os turus e os

caranguejos. Praticam a caça e os roçados estão concentrados na área da comunidade

Sol da Manhã. Os moradores coletam bacuris nas áreas próximas da mata que circunda

os manguezais. O ajiru é coletado das restingas próximas das praias. Em Recreio e ao

longo da estrada de acesso a Marudá estão as casas dos veranistas que se misturam

com as pousadas e hotéis. O camarão é pescado tanto nas praias quanto nas cabeceiras

dos igarapés. Extraem sarnambis das áreas de praias e denominam a região da foz do

rio Marapanim de Barra de Marudá.

58

Figura 13b- Aspecto as oficina no polo Marudá

59

Figura 14 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do

polo Araticum-Miri, formado pelas comunidades Livramento, Porto Alegre e Araticum-Miri.

Nas comunidades do polo Araticum-Miri a pesca artesanal e do camarão foram as

atividades declaradas como mais importantes. Além das atividades extrativas, os

moradores de Araticum-Miri prestam serviços para turistas no período de verão. O

incremento de infraestrutura como serviços de distribuição de água e energia gerou

crescimento da atividade turística na região de Araticum-Miri. Há invasões em áreas

próximas da comunidade para construção de casas e pequenos condomínios. A região

foi muito explorada para a extração de cipó, que era comercializado em Belém e utilizado

para a construção de currais. Atualmente a extração está restrita para muitos pescadores

o “cipó já acabou, levaram tudo”. Em Porto Alegre a pesca artesanal e a extração mineral

são atividades geradoras de renda. Os moradores caçam nas áreas de matas

remanescentes. Sobem o rio Marapanim para a pesca de malhadeira e navegam para o

arquipélago do Marajó e Algodoal. Os currais estão nas praias e croas. E das cabeceiras

dos igarapés retiram o sururu. Os moradores de Livramento fazem roças nas áreas de

terra-firme, e também exploram as piçarreiras da região.

60

Figura 14b- Aspectos da oficina no polo Araticum-Miri

61

Figura 15 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Guarajubal.

Os moradores de Guarajubal concentram suas atividades de geração de renda por

meio da extração dos recursos naturais na região do rio Marapanim. Estão próximos à

sede municipal, e o acesso à comunidade é por meio de barcos ou estrada de chão

Vivem da pesca artesanal e da “tiração” e “cata” de caranguejos. Os currais estão nas

margens do rio Marapanim, e os moradores utilizam a região do rio Messay em

Magalhães Barata para a caça de patos, extração de caranguejos e pesca. Alguns

moradores têm roçados próximos à estrada de acesso à comunidade. A pesca artesanal

é realizada nos pesqueiros do arquipélago do Marajó e nas praias ao norte da Ilha Dom

Pedro e Algodoal para os que não possuem barcos de tonelagem.

Durante o mapeamento o grupo fez referência à situação dos caranguejeiros que

não dispõem de apoio para sua manutenção. E segundo eles é importante que sejam

incluídos no recebimento do seguro defeso, pois vivem apenas do caranguejo no período

do verão.

62

Figura 15b- Aspectos da oficina na comunidade de Guarajubal.

63

Figura 16 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade de

Juçateua.

A comunidade de Juçateua está localizada na região das cabeceiras do rio

Cajutuba. O acesso é por estrada de chão. Ao longo da estrada existem áreas privadas,

de fazendas de plantio de coco. A pesca artesanal e de malhadeira é praticada na região

do costeiro e os barcos de tonelagem navegam para o arquipélago do Marajó e para

região de Algodoal.

Os currais estão na região do rio Caratateua e Cajutuba. A pesca do camarão é

realizada nos rios do município de Curuçá na região da Resex Mãe Grande Curuçá e

segundo eles “não tem conflito a gente pode entrar na reserva deles”. Possuem roçados

ao longo da estrada em áreas de terra firme e coletam o bacuri nas regiões de mata e

áreas abertas. Segundo o grupo “o bacuri hoje é vendável, muitas pessoas da

comunidade ganham dinheiro com o bacuri, ninguém cultiva o bacuri é natureza que

fornece”. Coletam frutos e caçam nas áreas de matas próximas à estrada. Para os

moradores “o mangue está acabando porque tem gente demais mexendo”. Extraem o

sururu das proximidades do porto, onde tem pedras. A madeira é retirada das áreas

privadas e do igarapé do cravo.

Os caranguejos e siris são retirados do mangue e pescados nas margens dos rios

respectivamente.

64

16b- Aspecto da oficina na comunidade Juçateua.

65

3.3- Identificação e caracterização de possíveis co munidades indígenas ou

quilombolas presentes na área.

Não foram localizados, nas áreas visitadas no município de Marapani, registros de

populações indígenas ou de reivindicações de reconhecimento deste grupo étnico. O

mesmo para territórios quilombolas. Segundo algumas lideranças há comunidades no sul

do município que estão se declarando quilombolas. Em consulta ao Instituto de Terras do

Pará (Iterpa) e INCRA não foram encontradas informações sobre a ocorrência de

Territórios Quilombolas na região.

3.4- Identificação de grupos sociais que poderão in terferir no processo de

criação da unidade, bem como suas preocupações e in teresses.

Os principais grupos sociais identificados na sede do município são as

organizações de classe, como a Colônia de Pescadores, o STTR, as associações

comunitárias voltadas à produção e Organizações não governamentais, que tenham

atuação no município e da perspectiva governamental as secretarias municipais. No

âmbito das comunidades, as associações existentes foram descritas no item organização

social deste diagnóstico.

A colônia de pescadores tem sede própria e está localizada no centro da sede

municipal. Em entrevista com seu presidente e a secretária estes afirmaram que a

organização possui cerca de 1.000 sócios e não souberam precisar quantos estão

adimplentes. Informaram ainda que há uma procura por parte dos pescadores para se

filiarem a organização e isto se deve a luta pelo recebimento do seguro defeso. Além

disso, há a necessidade da “carta sindical”, documento que dá direito ao pescador de

participar do Projeto Minha Casa, Minha Vida e ter acesso ao financiamento.

A colônia de pescadores está em fase de reestruturação e de legalização de sua

documentação junto à Secretaria Estadual de Pesca. Este procedimento é necessário

para a legalização e reconhecimento da entidade junto aos órgãos do Estado e da União.

Segundo a secretária estão havendo mudanças nos formulários de registro do pescador,

que serão cadastrados via digital. Atualmente a colônia não desenvolve ou possui

projetos.

Quanto à criação da reserva extrativista, o presidente disse ser a favor, mas não

soube explicar porque. Afirmou que apóia o “pessoal do Comitê e o Gutenberg, pois é ele

quem leva essa proposta”.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais tem sede no centro da cidade de

Marapanim. A organização foi criada em 1 de julho de 1973 e serve para acolher os

sócios que trabalham com área de roçado. Tem por missão realizar palestras sobre os

66

benefícios oferecidos aos moradores (auxílio funeral, dentista, oculista, consulta médica,

auxilio maternidade e encaminhamento de documentação para a aposentadoria).

Atendem a 56 comunidades e possuem 3.000 sócios com apenas 150 adimplentes junto

à organização.

Atuam em conjunto com a EMATER na assistência técnica e pesquisas na área e

a Secretaria Estadual de Agricultura distribui sementes de feijão e milho para as pessoas

que realizam cadastros de pedidos para receber as sementes. O sindicato atua em

parceria com PRONAF, Banco do Brasil e Banco da Amazônia, fazendo o cadastro de

sócios das comunidades para solicitação de financiamentos.

Na sede do STR funciona a Secretaria de Políticas Sociais, que ajusta a

documentação necessária para aposentadoria dos agricultores encaminhando-os para o

INSS e demais benefícios como: salário maternidade, auxílio doença e realização de

perícias. Além disso, efetuam o cadastro Declaração de Aptidão (DAP) e emitem a

certidão negativa.

Quanto à criação da reserva extrativista no município, o representante

entrevistado afirmou que “não estou a par da situação, pois não estava presente no dia

da reunião que houve aqui no sindicato com o Sr. Luís Gutenberg”.

A ONG, Instituto Marapaniense de Preservação e Cultura (IMPEC) foi criada em

janeiro de 2007, e segundo seu diretor, Sebastião Junior, motivada pela mortalidade de

peixes, especificamente o xaréu (Caranx hippos), que ocorreu na comunidade de

Araticum-Miri. Houve a formação de um grupo de pessoas ligadas ao meio ambiente e ao

extrativismo.

A missão da organização é de preservar o meio ambiente e a cultura da região. O

IMPEC possui CNJ e está regularizado junto aos órgãos competentes. Antes de

elaborarem projetos a organização e seus dirigentes e filiados participaram de eventos,

fóruns e conferencias sobre o meio ambiente. Realizaram durante o período ações

pontuais no município como a limpeza das estradas. Atualmente estão desenvolvendo

projetos e cursos de educação ambiental, e cinema direcionado à juventude local e à

agenda 21 nas escolas. Receberam recursos por “emenda de bancada”, destinados a

apoiar a prefeitura, uma vez que o município está inadimplente.

Para o IMPEC, a criação da reserva extrativista é a modalidade de unidade de

conservação que condiz com a realidade local e a organização não governamental tem

como “posicionamento atual buscar ferramentas para garantir a criação da Resex no

município”.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA), é coordenada pela Sra Sheila

Renata da Silva do Carmo e foi criada por meio de lei municipal de meio ambiente que

67

visa atender a demanda das problemáticas ambientais. A SEMMA de Marapanim tem

como objetivos: Planejar, formular, coordenar e executar ações que visam a proteção,

recuperação e conservação da qualidade ambiental; estimular o desenvolvimento de

estudos de pesquisa para produção de conhecimento e difusão da consciência ambiental.

Fundada em 2009 pelo prefeito Municipal de Marapanim, a Câmara Municipal de

Marapanim instituiu uma lei que alterou a estrutura da administração pública para

incorporar a secretaria de meio ambiente, criando o Conselho Municipal de Meio

Ambiente. A secretaria está se reestruturando para se descentralizar da SEMA estadual e

adquirir recursos por meio das licenças e das multas. Enquanto isso os projetos estão

limitados ao orçamento municipal e aos editais lançados por instituições públicas e

particulares. Como projeto imediato a SEMMA está atuando com a introdução da coleta

seletiva de lixo no Município. Além desse, a secretaria tem elaborado campanhas como

“adote um jardim, amigos do igarapé” (projeto de revitalização dos igarapés) e palestras

com temas ambientais e oficinas de reciclagem.

Dentre as atividades realizadas nas comunidades estão o recebimento de

denúncias de pesca com timbó, ”nesta época do ano tem muitas denúncias dessa

prática”; e a liberação de autorização para o corte de árvore para os moradores.

Possuem parceria com a secretaria estadual de agricultura. A Sagri doa muda de

plantas nativas florestais e frutíferas para recuperação de áreas degradadas

principalmente em cabeceiras, roças e igarapés.

Quanto à criação da unidade de conservação no município a secretária afirmou que

tinha a informação de que “que havia um pedido, mas não que o processo estava em

andamento”.

A Secretaria de Turismo e Cultura foi criada em 1997 pelo professor Osmundo

Eduardo da Silva Naiff e tem como objetivo organizar o município para o desenvolvimento

do turismo. Procura elaborar leis para desenvolver o Plano do Turismo. Ainda não há um

Plano de Turismo para as comunidades.

O estado do Pará está dividido em seis polos turísticos e Marapanim está no polo

Amazônia Atlântica, são 39 municípios; Marapanim está entre os 23 prioritários. A

Secretaria de Turismo não pode ficar separada da Secretaria de Meio Ambiente. As duas

precisam trabalhar juntas.

O projeto da secretaria envolve a funcionalidade do Plano do Turismo com a

realização de documentário sobre a cultura e atrativos turísticos do município. Na cidade

as festas de santos e carimbó são as únicas. O festival de carimbó é promovido pela

Associação dos Agentes Multiplicadores do Turismo.

68

No que se refere à criação da unidade de conservação o representante afirmou que

“não sei nada a respeito da Resex.”

A Secretaria Municipal de Agricultura atua nas 54 comunidades, levando incentivos

ao plantio de mandioca e hortaliças e preparo de área mecanizada (novo formato de

agricultura familiar, dentro dos padrões tecnológicos, tais como adubação, espaçamento,

qualidade da produção e análise de solo). Atuam em parceria com o STR e a EMATER.

Além dessas, possuem parceria com a escola Agrotécnica de Castanhal, onde

pretendem realizar cursos para criação de peixes em cativeiro. A proposta é que os

pescados possam ser distribuídos na merenda escolar.

Quanto à criação da unidade de conservação, o secretário, que acompanhou

algumas oficinas nas comunidades, declarou que “sente-se feliz em apoiar no que for

preciso, pois isso será um modelo novo para o município. E com isso, devemos apoiar

isto que será um novo modelo de vida para a população”.

Percepção sobre a Resex pelos moradores

As informações obtidas das entrevistas e conversas com os moradores das

comunidades visitadas permitiu uma análise da percepção destes sobre criação de uma

reserva extrativista no município.

Questionados se sabem o que é uma Reserva Extrativista, os entrevistados

responderam que “serve pra proteger o mangue e áreas de pesca e serve pra preservar

pros filhos e netos terem”; “entende que é uma área para proteção, para preservar os

peixes, os caranguejos e o manguezal”. Os que relacionaram sua resposta positiva com

proteção de espaços responderam que a Resex é para “proteger a área de pesca“ e

“pessoas que plantam e que colhem na comunidade”. Quatro pessoas não responderam

a questão.

Quanto ao quesito ser a favor, contra, ou ainda não se importar com a criação da

unidade de conservação, apenas dois não responderam e os demais se pronunciaram a

favor da criação da Resex.

Para 73% dos entrevistados a criação da Resex está diretamente ligada com a

chegada de benefícios às comunidades, dois não souberam responder e 19% não

responderam. Entre os benefícios citados, mais de 70% deles estão ligados a questões

ambientais que gerem proteção aos recursos pesqueiros, entre os quais: “Porque estarei

perto da floresta, isso é vida, a minha área não é desmatada”; “protege o caranguejo”; e

“tendo uma reserva e preservando, vamos ter vistorias e desta forma não vai haver mais

bagunça. Teremos fiscais”. Os demais benefícios estão relacionados à geração de

empregos e benfeitorias para as comunidades.

69

Quanto aos ganhos que a criação da reserva extrativista promoverá para as

famílias, 80% afirmaram que esta trará ganhos e três não souberam responder. Apenas

um afirmou que não haverá ganhos com a criação da unidade. Entre os ganhos citados

estão: atividades turísticas com melhor infraestrutura, geração de emprego para os filhos

e obtenção de criadouros para camarão e peixes.

Para 27% dos moradores entrevistados que afirmaram saber para que serve uma

reserva extrativista, dois não souberam explicar e os demais que responderam afirmaram

que a Resex “serve pra proteger o mangue e áreas de pesca”, ”preservar e zelar pela

natureza”.

A atividade de pesca e da caça, para 15 entrevistados, deveria ser permitida dentro

da área da Resex, e destes, duas pessoas sugeriram que é errado dar permissão de

caçar na área. Para 7 deles é errado pescar e caçar na área da unidade de conservação.

Os demais não souberam responder.

Apenas dois entrevistados afirmaram saber qual o órgão do governo que cuida das

reservas extrativistas, um respondeu que é o ICMBio, e outro citou o IBAMA. Os demais,

24 moradores entrevistados responderam não conhecer o órgão governamental

responsável pelas Resex.

Indagados sobre o que se disponibilizaria a fazer em prol da unidade de

conservação, os entrevistados afirmaram que poderiam: contribuir ajudando o que fosse

necessário fazer, apoiar as melhorias ou ainda zelar, não deixar ninguém invadir, ajudar a

reflorestar as áreas que foram derrubadas, ajudar a divulgar para as outras comunidades,

Afirmaram também que: criaria uma associação pra armazenar massa de caranguejo e

mexilhão, construir patrimônios como trapiche e posto de saúde. Oito entrevistados não

souberam responder

Em relação às atividades e ações que o governo deveria implantar na área, seis

propuseram que “o governo deveria manter e fiscalizar a área”; quatro relacionaram as

ações do governo com a legalização do seguro defeso para pescadores e caranguejeiros,

quatro com ações voltadas ao desenvolvimento das comunidades e infraestrutura como,

por exemplo, “ter como ajudar melhor; como a população aqui que não tem renda”; e

doze não souberam ou não responderam.

É possível afirmar que os moradores do município de Marapanim estão cientes e

partícipes do processo de criação da unidade de conservação. No entanto, não está

cristalizada a relação da criação da unidade de conservação com as questões

ambientais que afetam o seu modo de vida.

70

3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais r elevantes, com oportunidade

para uso público.

Localizada na região litorânea do Estado do Pará, a cidade de Marapanim situa-se

a 122 km de distância de Belém, capital do Estado. O acesso a Marapanim a partir de

Belém se dá através da Rodovia BR-316, até o Município de Castanhal, a partir deste

ponto, através das Rodovias PA-136 e PA-138. O município possui inúmeros atrativos

naturais: praias, mangues, lagos, dunas, ilhas oceânicas, rios, igarapés, ninhais de

pássaros e aves, frutas da época e frutos do mar.

Por estar localizada numa região litorânea, um dos principais atrativos turísticos de

Marapanim são as praias oceânicas. Dentre elas destacam-se as seguintes praias:

Marudá, Santa Maria, Crispim e Camará.

A praia de Marudá é a mais urbanizada, com cerca de 1200 metros de extensão é a

praia que tem a melhor infraestrutura na região, como energia elétrica, telefones

residenciais e públicos fixos, telefonia celular, correios, farmácia, posto de saúde,

abastecimento de água, rede hoteleira mais confortável, sistema de transportes, etc.

A praia de Santa Maria é uma pequena praia localizada na estrada de acesso à

Marudá, na comunidade de Recreio. Sua importância turística, além da praia, é o Festival

do Caju. É uma praia de difícil acesso e frequentada por moradores locais e os que

possuem casas de veraneio na comunidade (Figura 17).

A praia do Crispim, situada na comunidade de mesmo nome é considerada a mais

linda a extensa praia de mar próxima de Belém. Sua extensão é de cerca de 16 km Ela é

muito frequentada, principalmente aos domingos e feriados e no período de verão

quando sua população aumenta em mais de 150%.

A praia de Camará é uma praia situada na comunidade de pescadores. Ela é

frequentada por veranistas e compradores de pescado

Na região oceânica do município, na ilha Dom Pedro, a diversidade de

ecossistemas (mangue, campo e praias) são atrativos naturais da região. Entre as praias

estão as Sauá, Sacaiteua, Ajiruteua, Dom Pedro, Clarão, do Inferno. Além dos

manguezais, dunas, lagos, ninhais de pássaros e aves selvagens e rios de água doce.

71

a- Praias Crispim

b-Praia Camará

c-Praia Marudá

d-Praia Recreio

e- Praia Sauá

f- Praia do Inferno

Figura 17- Aspecto das praias no município de Marapanim-PA

72

Toda a Região do Salgado Ocidental (Municípios de Curuçá, Marapanim e

Maracanã) é constituída por manguezais, lagos e dunas que circundam as praias. Os

manguezais, além de berçário para peixes, são habitat de espécies como mexilhões,

camarões, ostras, turus, caranguejos e de muitas outras que dependem deste

ecossistema para sua sobrevivência Essa região também possui lagos de água doce,

que proporcionam belezas cênicas. Pode-se destacar o Lago da Bacia (Camará), o Lago

das Garças (Crispim), o Lago da Pirapema (Marudá), dentre outros. Acompanhando as

praias encontram-se muitas dunas recobertas por vegetação característica, onde são

encontradas frutas típicas como ajirus, caju-açus, etc.

Em Marapanim, os balneários em rios e igarapés proporcionam espaços de lazer e

belezas cênicas. Na região visitada, os balneários do Igarapé de Bacuriteua e do

Araticum-Açu são os mais importantes.

Fazem parte dos atrativos do município as atividades culturais, religiosas e

gastronômicas. Na sede municipal há construções históricas, o município é conhecido

como a Terra do Carimbó. O município reivindica a condição de berço do Carimbó, por

conta dos relatos orais que atravessaram gerações e informam o surgimento desse ritmo

ancestral no século XIX na localidade de Maranhãozinho. São dezenas de mestres,

músicos, dançarinos, aprendizes e brincantes dessa manifestação, o que garantiu a

Marapanim a condição de “Capital do Carimbó”. Na região visitada, o principal grupo de

carimbó está sediado na comunidade de Porto Alegre.

A principal festa religiosa ocorre em agosto com o círio de Nossa Senhora das

Vitórias. A festa organizada pela igreja católica é tradicional e ocorre há 108 anos.

A culinária do município está fundamentada nos frutos do mar como peixes,

camarões, mexilhões, caranguejos, ostras, e o turu (considerado exótico). Na

comunidade de Vista Alegre ocorre Festival do Marisco. Os frutos nativos são

considerados atrativos para a gastronomia e os principais são: cupuaçu, bacuri, ajiru,

murici, taperebá, pupunha, tucumã.

Com base nas informações descritas acima, foi elaborado um mapa de turismo

potencial da área abordada por este estudo, que é apresentado na figura 18.

73

Figura 18. Mapa de potencial turístico no município de Marapanim-PA.

.

74

Áreas culturais

Toda a região do Salgado Paraense foi inicialmente ocupada por populações

indígenas, que segundo os estudos arqueológicos e paleontológicos, em torno de 5.500

anos AP. Os poucos assentamentos existentes entre as baías de Marapanim e do Caeté

indicam uma dispersão destes grupos por toda a área do Salgado (Távora, et al 2010)..

Desde os anos de 1876 estudos registram os calcários ricamente fossilíferos, sendo 21

desses sítios localizados no estado do Pará. No entanto, nas comunidades visitadas, os

moradores quando questionados, afirmaram desconhecer informações ou registros de

áreas culturais onde poderia haver sítios arqueológicos ou formação de sambaquis e

semelhantes.

3.6 - Análise do impacto econômico da criação da un idade de conservação

Em 2011 o Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Centro para

Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (UNEP-WCMC) desenvolveram o estudo Contribuição das Unidades de

Conservação Brasileiras para a Economia Nacional.

Segundo Medeiros et al (2011), autores do estudo supra citado, as unidades de

conservação cumprem uma série de funções cujos benefícios são usufruídos por grande

parte da população brasileira – inclusive por setores econômicos em contínuo

crescimento, sem que se dêem conta disso. Os autores citam como principais exemplos:

a qualidade e a quantidade da água que compõe os reservatórios de usinas hidrelétricas;

o turismo que dinamiza a economia de muitos dos municípios do país só é possível pela

proteção de paisagens proporcionada pela presença de unidades de conservação. Além

do desenvolvimento de fármacos e cosméticos consumidos cotidianamente, em muitos

casos utilizam espécies protegidas por unidades de conservação. Sem contar com o

papel das unidades de conservação para os serviços ambientais, como a mitigação dos

efeitos da emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa decorrentes da degradação

de ecossistemas naturais.

Ainda neste estudo, os autores comentam que por se tratar de produtos e serviços

em geral de natureza pública, prestados de forma difusa, o valor e o pagamento por

esses serviços não são percebidos nem pagos pelos usuários. Ou seja, o papel das

unidades de conservação não é facilmente “internalizado” na economia nacional.

Em se utilizando os itens analisados pelo estudo acima referido, buscou-se

identificar quais aspectos podem ser considerados na região em questão que poderão

gerar impactos econômicos com a criação da unidade de conservação na categoria de

reserva extrativista.

75

Desta forma, a região em questão poderá gerar impactos econômicos com a

conservação da biodiversidade no que tange a: (i) serviços ambientais evitando emissão

de CO2 pela conservação das florestas de mangue, conservação e manutenção das

cabeceiras dos rios que abastecem os mangues; (ii) ICMS Ecológico que, repassado ao

município pela existência de unidade de conservação em seu território, poderá gerar

novos empregos e melhorias para a eficiência de serviços públicos; (iii) visitação pública

uma vez que a região oferece áreas de praias e campos e restingas nativos, além das

áreas de observação de aves aquáticas.

As atividades produtivas nas unidades de conservação de uso sustentável podem

receber investimentos para desenvolver sua capacidade produtiva. Por exemplo, na

comunidade Sol da Manhã, há um grupo de moradores que criaram uma associação para

o cultivo de hortaliças e legumes orgânicos com investimento do Pará Rural. A que se

considerar ainda o Plano Turístico, no qual o município está inserido como prioritário.

Incentivo e capacitação aos proprietários de pousadas e restaurantes para o

atendimento e geração de serviços para os veranistas.

Atividades de manejo devem ser incentivadas visando mitigar os impactos à cadeia

trófica como, por exemplo, os causados pela pesca de camarão, que utiliza puçás com

malhas pequenas, ocasionado a morte de alevinos. A pesca artesanal pode gerar renda

se houver incentivos para uma produção organizada e com agregação de valor ao

produto.

Também poderá ser viável a manutenção dos campos nativos e das áreas de mata

onde estão as florestas de bacuri, fruto nativo e com valor de mercado. Assim como

obtenção de valor aos produtos do artesanato.

Em 2011, o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Estado

do Pará (IDESP) publicou os resultados dos estudos sobre os produtos florestais não

madeireiros (PFNM) e seus potenciais para na região de Integração do Guamá, no qual o

município de Marapanim está inserido. A Região de Integração Guamá demonstrou que a

economia gerada pelos 31 produtos florestais não madeireiros estudados, é considerável,

pois a renda gerada, no ano de 2009, atingiu valor maior de R$119 milhões (Mattos et al,

2011). No entanto, o município de Marapanim não se destaca na produção de nenhum

produto florestal não madeireiro. A cidade é abastecida por municípios vizinhos e tem

destaque apenas no circuito comercial.

Dessa forma, investimentos nos setores que realizam serviços para o turismo e no

beneficiamento e/ou transformação de produtos da pesca são necessários. Associados a

estes, investimentos em infraestrutura e organização social devem ser considerados.

76

3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os

usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em

implementação nas áreas indicadas.

Na região estudada não se localizou projetos ou estudos para o uso alternativo do

solo pelo Estado ou pela União, além do Porto do Espadarte no município de Curuá que

poderá afetar os recursos pesqueiros na região do Salgado como um todo.

Cabe ressaltar que há uma proposta sendo desenvolvida pela Secretaria Estadual

de Meio Ambiente para a criação de uma unidade de conservação de proteção integral

na região da Ilha Dom Pedro. O documento intitulado “Estudo Técnico para Criação de

UC de Proteção Integral Ilha Dom Pedro no Município de Marapanim”, produzido em

2011, destaca o ecossistema de mangue e as praias, isola as comunidades de

Tamaruteua e Itauaçu do acesso aos recursos naturais e propõe uma unidade de

conservação com 13.843ha. O estudo que investigou a situação fundiária dessa região

específica aponta que a área em questão, segundo o SPU, “por se tratar de uma ilha

costeira e se encontrar localizada em zona onde se faça sentir a influencia das marés, a

União detêm domínio diferenciado sob várias tipologias de áreas...”8 A proposta de

criação de uma unidade de conservação estadual de proteção integral no município está

inserida no Anexo III da Lei 6.745, de 6 de maio de 2005, que institui o Macrozoneamento

Ecolológico-Econômico do Estado do Pará.

Ressalta-se que este estudo confunde os moradores locais quanto a sua situação

de permanência na região e no entendimento sobre o processo de criação de uma

unidade de conservação federal.

3.8 - Levantamento de dados secundários do Meio Fís ico

Marapanim, pertence à região Bragantina, possui clima do tipo Ami, com

pluviosidade anual variando de 2.200 a 2.800 mm por ano, e temperatura média de 25ºC

Os solos da região são predominantemente de baixa fertilidade.

Hidrologia

O rio Marapanim atravessa o município de Marapanim de norte a sul (Figura 19),

servindo como limite natural entre Marapanim e os municípios de São Francisco do Pará

(ao sul) e Magalhães Barata (a leste). Outros rios com destaque no município, rio Maú,

8 O acesso ao documento foi possível durante a oficina em Camará, quando um dos

moradores e estudante de gestão ambiental possuía uma cópia. Na SEMA não foi possível acesso ao documento.

77

que atravessa o município de leste a oeste e serve de limite natural entre Marapanim e os

Municípios de Terra Alta e Curuçá (oeste), e rio Mearim.

No que se refere à hidrografia pode-se destacar ainda o rio Cajutuba e o Furo do

Camará, ambos localizados ao norte do município. O município de Marapanim é banhado

ao norte pelo Oceano Atlântico.

Figura 19 – Mapa de hidrografia do município de Marapanim-PA. Elaborado com base em

PARÁ-SEMA (s.d.).

Em Marapanim, assim como os demais municípios litorâneos próximos (Magalhães

Barata e São Caetano de Odivelas), possuem baixos valores de elevação, variando de

próximo a zero (2,0m – nível do mar) a no máximo 61 metros (Figura 20). Estratificando-

se a elevação em classes com intervalos de 10 metros, sete no total, verifica-se que

aproximadamente 75% do município possui elevação de até de 30 metros (Tabela 4). As

elevações mais baixas encontram-se na região norte (litorânea), e ao longo dos rios

78

Marapanim e Maú, enquanto que as mais altas situam-se ao sul, sobretudo ao sul do rio

Maú.

Figura 20 – Mapa de elevação do município de Marapaínm-PA. O mapa de

elevação foi elaborado com base nos dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission),

organizados por Weber, Hasenack e Ferreira (2004).

Tabela 4 – Área das classes do mapa de Elevação em metros.

Elevação (m) Área (km²) Percentual

02 - 10 120,63 15,10 11 - 20 246,62 30,88 21 - 30 233,00 29,17 31 - 40 135,34 16,95 41 - 50 57,72 7,23 51 - 60 5,33 0,67 61 0,02 0,00

Total 798,66 100

79

Geologia

Os terrenos do município de Marapanim são recentes na escala do tempo

geológico (menos de 23 milhões de anos). O município possui terrenos da Época

Mioceno (terrenos mais antigos), da Época Pleistoceno (53,61%) estes nem tão antigos e

nem tão recentes, mas predominam no município. A segunda época em importância, o

Holoceno (23,32%), é a mais recente na escala de tempo geológico. Os terrenos mais

antigos, Época Mioceno, representam 19,54% da área do município (Tabelas 5 e 6 e

figura 21).

Tabela 5 – Área das classes do mapa de geologia

Tabela 3 – Unidades de Tempo Geológico.

ÉON ERA PERÍODO ÉPOCA INÍCIO1

Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Quaternário) Holoceno 0,0114

Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Quaternário) Pleistoceno 1,8060

Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Terciário) Mioceno 23,03 1 Em milhões de anos antes do presente.Fonte: Adaptado de WIKIPÉDIA (s.d.1).

O Holoceno é caracterizado por: Coluviões Holocênicos; Aluviões Holocênicos;

Depósitos de Pântanos e Mangues Holocênicos; e Depósitos Marinhos Litorâneos. Os

Coluviões Holocênicos são formados por partículas angulares e ligeiramente

arredondadas, comumente de cor vermelha, contendo fragmentos de rocha e sedimentos

finos a grossos. Localizam-se basicamente no alto curso do rio Marapanim.

Os Aluviões Holocênicos são depósitos grossos a conglometáticos de residuais de

canais, arenosos de barra em pontal e pelíticos de transbordamento, e incluem depósitos

fluviolacustres e eólicos. Ocorrem basicamente no trecho intermediário do rio Marapanim.

Os Depósitos de Pântanos e Mangues são constituídos por sedimentos

predominantemente pelíticos, argilo-siltosos, com muita matéria orgânica, restos de

madeira e conchas, em ambiente fluviomarinho e/ou litorâneo. Menos expressivos são os

Classes Área (km2) Percentual

Água 27,79 3,54

Holoceno 183,26 23,32

Pleistoceno 421,37 53,61

Mioceno 153,59 19,54

80

Depósitos Marinhos Litorâneos, que são os depósitos arenosos de praias e restingas

atuais da área amazônica, compostos por areias bem classificadas, inconsolidadas, de

granulação fina a média e contendo restos de animais. Os Depósitos de Pântanos e

Mangues bem como os Depósitos Marinhos Litorâneos ocorrem no norte do município

(IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

O Pleistoceno é caracterizado por uma cobertura detrito-laterítica que apresenta as

seguintes características: sedimentos argilo-arenosos amarelados, caoliníticos, alóctones

e autóctones, parcial a totalmente pedogenizados, gerados por processos alúvio-coluviais

(IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

O Mioceno é composto basicamente pelo Grupo Barreiras. Os sedimentos

englobados no Grupo Barreiras ocorrem em vários trechos da região costeira do Brasil,

desde o Amapá até o Rio de Janeiro, sendo sua denominação derivada das falésias onde

estão expostos nos relevos tabulares da costa. O Grupo Barreira é formado por arenitos,

siltitos, argilitos e conglomerados de cores variegadas, com níveis concrecionários ("grés

do Pará") e caulínicos, depositados em ambiente predominantemente continental por

sistemas fluvial, fluviolacustre e de leques aluviais (IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

Geomorfologia

A geomorfologia do município de Marapanim encontra-se compartimentada em três

classes: Planície, Pediplano e Tabuleiro (tabela 7 e figura 22). Os Tabuleiros cobrem a

maior parte do território (66,2); a Planície é a segunda classe em importância (22,9%); o

Pediplano, por fim, é a classe de menor área (7,4%).

Tabela 7 - Área das classes do mapa de geomorfologia.

Classes Área (km2) Percentual

Água 27,79 3,54

Planície 179,97 22,90

Pediplano 57,91 7,37

Tabuleiro 520,34 66,20

Total 786,02 100

81

Figura 21 – Mapa de geologia do município de Marapanim-PA.

Os Tabuleiros e os Pediplanos situam-se no Domínio das Bacias Sedimentares e

Coberturas Inconsolidadas, que representam as áreas que num passado geológico foram

áreas de deposição, mas atualmente sofrem processos erosivos. As Planícies situam-se

no Domínio dos Depósitos Sedimentares Inconsolidados (IBGE, s.d.2).

Os Tabuleiros são resultantes de um Modelado de Dissecação preferencialmente

nos de diferencial tabulares, resultando num conjunto de formas de relevo de topos

tabulares, conformando feições de rampas suavemente inclinadas e de lombadas,

esculpidas em rochas sedimentares. São em geral definidas por vales rasos,

apresentando vertentes de baixa a média declividade. Resultam da instauração de

processos de dissecação atuando sobre a superfície de aplainamento (IBGE, 2008b).

Os Pediplanos são superfícies erosivas resultantes do processo de pediplanação,

que significa o aplainamento do relevo por recuo paralelo das vertentes (Casseti, 2005).

Os Pediplanos são superfícies de aplainamento elaboradas durante fases sucessivas de

82

retomada de erosão, sem, no entanto, perder as características de aplainamento, cujos

processos geram sistemas de planos inclinados, às vezes levemente côncavos. Pode

apresentar cobertura detrítica e/ou encouraçametos, indicando remanejamentos

sucessivos (IBGE, 2008b). As áreas de “terra firme” rodeadas por áreas de mangue, que

são comumente denominadas de “ilhas”, são, em geral, Pediplanos.

Figura 22 – Mapa de geomorfologia do município de Marapanim-PA.

A Planície é resultante de um Modelado de Acumulação. Ela é uma área plana

resultante da combinação de processos de acumulação fluvial e marinha, sujeita ou não a

inundações periódicas, podendo comportar canais fluviais, manguezais, cordões

arenosos e lagunas. Ocorre nas baixadas litorâneas, próximo às embocaduras fluviais

83

(IBGE, 2008b). Nesta classe encontram-se tanto as planícies flúviomarinhas (áreas de

mangue) quanto às planícies marinhas (praias).

Solos

No município de Marapanim são encontrados quatro tipos principais de solos

(IBGE, s.d.3 e IBGE 2008c). Os mais comuns são Latossolo Amarelo Distrófico e o

Gleissolo Sálico Sódico. A área coberta por essas duas classes de solo representam

cerca de 90% do município (Latossolo Amarelo Distrófico 72,0% e Gleissolo Sálico

Sódico 17,7%). Com menor importância em termos de área aparecem o Neossolo

Quartzarênico Órtico e o Neossolo Flúvico Distrófico, representando 0,4% e 6,6% do

território do município, respectivamente (Tabela 8 e Figura 23).

Tabela 8 – Área das classes do mapa de solo

Classes do Mapa de Pedologia Área (km²) Percentual

Água 26,86 3,42

Gleissolo Sálico Sódico 138,80 17,66

Neossolo Quartzarênico Órtico 2,71 0,35

Neossolo Flúvico Distrófico 51,47 6,55

Latossolo Amarelo Distrófico 565,99 72,02

Total 785,84 100

Os Latossolos são solos de intemperização intensa, sendo definidos pelo Sistema

Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) pela presença de horizonte diagnóstico

latossólico e características gerais como: argilas com predominância de óxidos de ferro,

alumínio, silício e titânio, argilas de baixa atividade (baixa capacidade de troca catiônica –

CTC9), fortemente ácidos e baixa saturação de bases (EMBRAPA, 1999; Santos e Zaroni,

s.d.1).

Os Latossolos apresentam normalmente baixa fertilidade, exceto quando originados

de rochas mais ricas em minerais essenciais às plantas, acidez e teor de alumínio

elevados. Possuem boas condições físicas para o uso agrícola, associadas a uma boa

permeabilidade por serem solos bem estruturados e muito porosos. São solos de maior

ocorrência no Brasil. Estão distribuídos sobre amplas e antigas superfícies de erosão:

9 O cátion é um íon com carga positiva. Nesta categoria enquadram-se os metais, os elementos alcalinos e os elementos alcalinoterrosos. Um dos cátion mais comuns é o sódio. Este forma compostos iónicos (sais) quando combinado com ânions (íons de carga negativa) (WIKIPÉDIA, s.d.2).

84

tabuleiros, chapadas, planaltos, terraços fluviais, estando associados normalmente aos

relevos planos e suaves ondulados (Santos e Zaroni, s.d.1).

Devido às boas condições físicas e aos relevos mais suaves, os Latossolos

apresentam alto potencial para o uso agrícola. São largamente utilizados com produção

de grãos: soja, milho, arroz entre outros. Suas limitações estão mais relacionadas à baixa

fertilidade verificada na maioria dos Latossolos e baixa retenção de umidade, quando de

texturas mais grosseiras e em climas mais secos. O manejo dos Latossolos requer, de

um modo geral, a adoção de correção de acidez, adubação e, nos climas mais secos, de

irrigação em função da exigência da cultura. São normalmente resistentes aos processos

erosivos, devido às boas condições físicas. No entanto, verifica-se que o uso intensivo de

mecanização tem ocasionado a compactação destes solos, tornando-os mais suscetíveis

à erosão (Santos e Zaroni, s.d.1). O SiBCS classificam os Latossolos segundo nível

categórico (subordens), basicamente em função da matiz (cor) do solo, nas seguintes

classes: Latossolos Brunos; Latossolos Amarelos; Latossolos Vermelhos; Latossolos

Vermelho-Amarelos (EMBRAPA, 1999).

Segundo Santos, Zaroni e Almeida (s.d.1), os Latossolos Amarelos são solos

desenvolvidos de materiais argilosos ou areno-argilosos sedimentares da formação

Barreiras na região litorânea do Brasil ou nos baixos platôs da região amazônica

relacionados à Formação Alter-do-Chão, podendo também ocorrer fora destes

ambientes, quando atenderem aos requisitos de cor definidos pelo SiBCS. A cor

amarelada é uniforme em profundidade, o mesmo ocorrendo com o teor de argila. A

textura mais comum é a argilosa ou muito argilosa. Outro aspecto de campo refere-se à

elevada coesão dos agregados estruturais (solos coesos).

Os Latossolos Amarelos podem ser classificados no terceiro nível categórico do

SiBCS em: Acriférricos; Ácricos; Alumínicos; Distroférricos; Distrocoesos; Distróficos;

e/ou Eutróficos. Os Latossolos Amarelos Distróficos apresentam como característica uma

baixa saturação por bases (V < 50%) na maior parte dos primeiros 100cm do horizonte B.

Ou seja, uma baixa fertilidade natural (EMBRAPA, 2009).

Os Gleissolos encontram-se permanente ou periodicamente saturados por água,

salvo se artificialmente drenados. A água permanece estagnada internamente ou a

saturação é por fluxo lateral no solo. São definidos pelo SiBCS como solos hidromórficos,

constituídos por material mineral, que apresentam horizonte glei (horizonte diagnóstioco),

que pode ser um horizonte subsuperficial (C, B ou E) ou superficial A.

O horizonte superficial apresenta cores desde cinzentas até pretas, espessura

normalmente entre 10 e 50 cm e teores médios a altos de carbono orgânico. Estes solos

comumente desenvolvem-se em sedimentos recentes nas proximidades dos cursos

85

d’água e em materiais colúvio-aluviais sujeitos a condições de hidromorfia (ambientes de

influência de água), podendo formar-se também em áreas de relevo plano de terraços

fluviais, lacustres ou marinhos, como também em materiais residuais em áreas abaciadas

e depressões. São solos que ocorrem sob vegetação hidrófila ou higrófila herbácea,

arbustiva ou arbórea e apresentam baixa fertilidade natural (distróficos), podendo

também apresentar problemas com acidez (pH muito baixo) e teores elevados de

alumínio, de sódio (salinos) e de enxofre (tiomórficos) (Santos e Zaroni, s.d.2).

Figura23- Mapa de pedologia do município de Marapanim-PA.

Com relação às características físicas, são mal ou muito mal drenados, em

condições naturais. A proximidade com os rios limita o uso agrícola desta classe de

solos, sendo, também, área indicada para preservação das matas ciliares. No entanto,

áreas fora da proteção ambiental apresentam potencial ao uso agrícola, desde que não

apresentem teores elevados de alumínio, de sódio e de enxofre. Segundo o SiBCS, os

86

Gleissolos são classificados no segundo nível categórico em: Tiomórficos, Sálicos;

Melânicos; e/ou Háplicos (EMBRAPA, 1999). Os Geissolos Sálicos geralmente ocorrem

em relevo plano de várzea e esporadicamente em terraços, associados aos mangues e

baixos cursos de rios, por isso normalmente apresentam gleização. O solo fica

descoberto nos locais onde a concentração de sais é elevada. Praticamente, não

apresenta potencialidades agrícolas.

A concentração de sais solúveis no solo é alta e a dessalinização é difícil e cara,

sendo indicados para preservação ambiental. Os Gleissolos Sálicos podem ser

classificados no terceiro nível categórico do SiBCS como Sódicos ou Órticos (EMBRAPA,

1999; IBGE, 2007). Nos Gleissolos Sálicos Sódicos, o elevado teor de sódio causa

toxidez à maioria das plantas, afetando o seu crescimento, pois inibe a adsorção de

cálcio e magnésio, elementos vitais ao seu desenvolvimento. Causa, também, a

dispersão das argilas (Santos, Zaroni e Almeida, s.d.2).

Os Neossolos apresentam predomínio de características herdadas do material

originário, sendo definido pelo SiBCS como solos pouco evoluídos e sem a presença de

horizonte diagnóstico. Os Neossolos podem apresentar alta (eutróficos) ou baixa

(distróficos) saturação por bases, acidez e altos teores de alumínio e de sódio. Variam de

solos rasos até profundos e de baixa a alta permeabilidade (EMBRAPA, 1999; Santos e

Zaroni, s.d.3; Santos et al., 2012).

Em áreas mais planas, os Neossolos, principalmente os de maior fertilidade natural

(eutróficos) e de maior profundidade, apresentam potencial para o uso agrícola. Os solos

de baixa fertilidade natural (distróficos) e mais ácidos são mais dependentes do uso de

adubação e de calagem para correção da acidez. Os Neossolos de textura arenosa

(areia) apresentam restrição causada pela baixa retenção de umidade (Santos e Zaroni,

s.d.3).

Os Neossolos abrangem diversos ambientes climáticos, associados desde áreas de

relevos muito movimentados (ondulados a montanhosos) até as áreas planas, sob a

influência do lençol freático. Quanto ao material de origem, variam desde sedimentos

aluviais até materiais provenientes da decomposição de rochas do cristalino (pré-

cambriano). O uso destes solos deve ser restringido quando estiverem próximos aos

cursos d´água, por ser área de preservação das matas ciliares. Já em ambientes de

relevos com mais declives. Os Neossolos são classificados no segundo nível categórico

do SiBCS em: Litólicos; Flúvicos; Regolíticos; e/ou Quartzarênicos. Os Neossolos

Flúvicos ocorrem próximos de rios ou drenagens em relevo plano, sendo evidentes as

camadas de solo depositadas, que se diferenciam pela cor e textura. Há risco de

inundação, que pode ser frequente ou muito frequente. São muito variáveis quanto à

87

textura e outras propriedades físicas, mas são considerados de grande potencialidade

agrícola, quando eutróficos (EMBRAPA, 1999; Santos, Zaroni e Almeida, s.d.3).

Os Neossolos Quartzarênicos ocorrem em relevo plano ou suave ondulado,

apresenta textura arenosa ao longo do perfil e cor amarelada uniforme abaixo do

horizonte A, que é ligeiramente escuro. Considerando-se o relevo de ocorrência, o

processo erosivo não é alto, porém, deve-se precaver com a erosão devido à textura ser

essencialmente arenosa. Por serem profundos, não existe limitação física para o

desenvolvimento radicular em profundidade, mas a presença de caráter álico ou do

caráter distrófico limita o desenvolvimento radicular em profundidade, agravado devido a

reduzida quantidade de água disponível (textura essencialmente arenosa). Os teores de

matéria orgânica, fósforo e micronutrientes são muito baixos. A lixiviação de nitrato é

intensa devido à textura essencialmente arenosa. Solos mais apropriados para

reflorestamento. Os Neossolos Quartzarênicos podem ser classificados no terceiro nível

categórico do SiBCS como Hidromórficos ou Órticos. Os Órticos não apresentam

restrição ao uso e manejo (Almeida, Zaroni e Santos, s.d.). No mapa de pedologia do

município verifica-se que os Neossolos Quartzarênicos Órticos correspondem aos

cordões arenosos das praias.

Cobertura vegetal

O mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Marapanim para o ano

de 2008 foi elaborado com base nos dados do Projeto TerraClass, que teve como

objetivo realizar a qualificação, a partir de imagens orbitais, das áreas já desflorestadas

da Amazônia Legal, resultando na elaboração de um mapa digital que descreve a

situação do uso e da cobertura da terra no ano de 2008 (EMBRAPA e INPE, 2011).

Em Marapanim a classe de cobertura predominante é a Floresta (áreas com

fisionomia florestal, principalmente áreas de mangue), cobrindo 38,1% da área do

município, ficando a classe Agropecuária em segundo lugar, representando 31,4% do

município. A terceira classe em importância é a Vegetação Secundária, que inclui as

capoeiras (porte arbóreo) e as juquiras (porte arbóreo/arbustivo), respondendo por 16,8%

da área do município. As classes Campos e Área Urbana respondem por 5,5% e 9,9%,

respectivamente da área do município (Tabela 9 e Figura 24).

Tabela 6 – Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra.

Classes de Cobertura Vegetal e Uso da Terra Área (km²) Percentual Água 49,24 6,20 Campos 43,60 5,49 Floresta 302,35 38,09 Vegetação Secundária 132,98 16,75

88

Agropecuária 248,86 31,35 Área Urbana 6,96 0,88 Nuvem e/ou Sombra da nuvem 9,76 1,23 Total 793,74 100,00

Figura 24 - Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Marapanim-PA

89

3.9 - Levantamento de dados secundários do meio bió tico.

Especificamente sobre a área visitada, há referências bibliográficas que destacam o

meio biótico como um todo. Dentre os estudos ocorridos na região predominam os

realizados com a pesca (antropologia e sociologia), e com a flora especificamente o

mangue (ver banco de dissertações e tese UFPA e artigos do Boletim do Museu

Paraense Emílio Goeldi). Além desses, utilizou-se as informações obtidas dos

questionários e conversas informais com entrevistados e moradores (ver item 3.2 deste

relatório).

O Nordeste do Estado do Pará caracteriza-se por apresentar uma diversidade em

relação a sua morfologia e sua vegetação, em especial na zona costeira, na qual as

áreas estuarinas se destacam por apresentar uma cobertura vegetal com predomínio de

mangues seguidos de campos alagados e restingas.

No município o manguezal é o ecossistema dominante, contínuo, localizado,

principalmente, na foz dos rios e áreas contiguas, bordejando a baía de Marapanim,

geralmente ocupando os bancos lamosos (Senna, et.al, 2011). As restingas, com registro

atual de 420 espécies (Bastos, 2003), apresentam uma gama diversificada de

comunidades vegetais. Segundo essas autoras, a formação vegetal guarda forte

correlação com os processos geológicos e geomorfológicos, estabelecidas em substrato

arenoso, entre o oceano e o continente. Para Senna (2011) as demais formações

vegetais, ai incluídas: savanas, florestas paludosas e capoeiras, sofrem indiretamente a

influencia marinha, devido à proximidade com o mar.

Prost et al (2001) realizou estudos na região de Marapanim e São Caetano de

Odivelas e segundo eles por localizar-se em região quente e úmida, numa costa baixa

recortada por estuários, planície lamosa, de macromarés e gradiente suave, possui rica

rede de drenagem, além de estar em contato direto com o oceano Atlântico, situação que

permite condições ecológicas adequadas para a formação de extensos manguezais.

A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os

grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses ambientes,

como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo

menos, uma fase do ciclo de vida.

Poucos são os estudos na região que abordam a estrutura da vegetação e,

segundo Sales et al (2009), dados desta natureza são importantes, pois a região sofre o

aumento da exploração pesqueira e turística, que começa a fazer pressão sobre os

recursos naturais da região. Em seus estudos o grupo levantou dados sobre a estrutura

da vegetação de mangue na região da foz rio Cajutuba. Em suas conclusões avaliou que

90

a salinidade é um dos principais fatores que determinam a estrutura dos bosques de

mangue.

A vegetação da área costeira é rica em recursos utilizáveis pela população local..

Porém, o que se observa no momento, é que esta vegetação, por estar localizada

próxima de praias, encontra-se susceptível à destruição.

A paisagem destes ambientes atrai o turismo sem planejamento, a especulação

imobiliária e a abertura de estradas, o que leva à devastação dos manguezais e das

restingas. O aterramento, a retirada de madeiras e extração de areia das dunas para fins

de construção civil, podem causar a desestabilização no movimento migratório e como

conseqüência interferir nos ecossistemas que constituem a paisagem litorânea.

A vegetação de restinga possui espécies de tipos arbóreos e predomínio dos cipós,

arbustos e ervas. Dentre as espécies mais comuns estão o Chrysobalanus icaco L.,(ajirú)

Sporobolus pugens (capim-da-praia), que forma um denso tapete graminoso; Anacardium

occidentale L. (caju); Byrsonima crassifólia (L.) Kunth.e muruci-do-mato. A vegetação das

restingas é explorada pelos moradores locais por meio da coleta de frutos para o

consumo e pelo uso medicinal.

Os recursos do mangue são explorados comercialmente pelas comunidades locais

por meio da “tiração” de caranguejos, extração de mel e retirada de madeira para a

construção de canoas, currais e lenha. Os estuários com a vegetação predominante de

mangue são considerados os sistemas mais produtivos, em termos de produção primária

e formação de substâncias orgânicas ricas em energia, permitindo a fixação de carbono

no ambiente (Pereira, 2002).

A vegetação do campo natural inundável é característica de terrenos baixos, com

cotas inferiores a 5 m, planos, e sujeitos à influência de canais fluviais e águas pluviais

que nas épocas mais chuvosas causam inundações sazonais e alagamentos que duram

vários meses (França, 2003). Estas baixadas recobertas por campos não sofrem

influência direta de marés.

A vegetação secundária é resultante da alteração da floresta ombrófila densa de

terra firme e sua regeneração posterior, o que ocorre por meio de sucessivas

intervenções antropogênicas. Muitas são as espécies aproveitáveis pela população, que

retira das “capoeiras” madeira, gêneros fitoterápicos e práticas de agricultura familiar para

o plantio de cultivos temporários como mandioca, milho, hortaliças e legumes.

As espécies mais freqüentes nas áreas de mata, segundo Sales et al (2009) são:

Parahancomia amapa (amapá) e o Simarouba amara (marupá) e núcleos de palmeiras,

principalmente tucumã (Astrocarium vulgari), inajá (Maximiliana maripa.),e mitiri (Mauritia

Flexuosa).

91

Figura 25- Aspectos dos ambientes da área visitada no município de Marapanim-

PA.

92

A vegetação encontra-se mais impactada nas proximidades das estradas de acesso

às áreas turísticas e nas estradas e vicinais nas áreas onde ocorre a exploração mineral.

O acesso à Vista Alegre é marcado por grandes áreas de desmate para implantação de

espaços agrícolas com uso de maquinário.

Nenhuma das espécies vegetais mais utilizadas citada pelos entrevistados está na

lista de espécies da flora ameaçadas do Pará, (SEMA,2006).

Figura 25 a- Aspectos de impactos na vegetação na região visitada.

93

Segundo Maneschy (1993; 2003) a atividade pesqueira faz parte das mais antigas

tradições dos habitantes do litoral amazônico. Estes habitantes mantiveram sua riqueza

cultural nas formas de exploração dos recursos naturais, mesmo com a introdução das

transformações socioculturais impostas pelo desenvolvimento econômico na região.

Os manguezais assim como as florestas tropicais úmidas encontram-se sob

ameaça. No entanto, os mangues não têm recebido atenção necessária, no que se refere

à conservação deste ecossistema. Os manguezais e o ambiente estuarino mantêm um

ciclo de exportação de material orgânico em decomposição e nutrientes para as águas do

mar, que favorecem a região para a produção pesqueira.

A região costeira e de plataforma continental do estado do Pará possui uma grande

diversidade e abundância de organismos aquáticos, muitos dos quais podem ou já são

explotadas comercialmente pela atividade pesqueira. Contudo, o conhecimento e

dimensionamento dessa biota e de seu potencial extrativo são ainda muito deficientes,

sendo a região norte a menos conhecida de todo o litoral marinho do Brasil.

A diversidade de peixes, crustáceos e mariscos é rica, de importância econômica

local e regional. A lista de espécies identificadas para a região estudada chega a mais de

50 espécies de peixes, 12 de crustáceos e 5 de moluscos.

As aves são as espécies mais abundantes tanto no número de citações dos

moradores que responderam ao questionário, quanto à visualização in locu. É possível

observá-las em vôos nas áreas próximas às comunidades e percorrendo os rios Cajutuba

e Camará nas proximidades do mangue.

Dentre as espécies de aves encontradas na área de estudo, duas são citadas em

listas oficiais de espécies ameaçadas: o guará (Eudocimus ruber) aparece como

“ameaçada” na lista da portaria do IBAMA n° 1522/89 , sendo também citada no anexo II

da lista do CITES, com grande risco de se tornar ameaçada se as ameaças não forem

controladas. Esta ave é ameaçada pela caça e pela coleta de ovos, ambos com objetivo

de alimentação humana. Outra ave que é encontrada na região e caçada para

alimentação é o maçarico (Numenius sp), capturado principalmente antes do início da

migração para a América do Norte, pois nesta fase esta ave está no auge do acúmulo de

gordura para a migração.

Os répteis podem ser observados nos quintais como os lagartos e camaleões

(Iguana sp). Foi citada a ocorrência de jacarés e tejus nas áreas de mangue.

Os moradores citaram ocorrer na região 46 mamíferos. As cutias e os tatus foram

os mais citados. Segundo Fernandes&Andrade (2003), a presença de muitas espécies de

mamíferos nos manguezais parece ser determinada pelo seu ciclo de vida, que por

94

muitas vezes inclui a utilização paralela dos recursos disponíveis nos ecossistemas

contíguos.

Segundo o MMA (2007) no litoral do Pará há a ocorrência de botos (Sotalia

guianensis e S. fluviatilis) em áreas indicadas para criação de unidades de conservação

com prioridade variando de Alta a Extremamente Alta.

Ainda no que se refere aos mamíferos marinhos, os moradores citaram a

ocorrência de peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus). O peixe-boi amazônico

consta na lista de espécies ameaçadas do estado do Pará, e sua categoria foi definida

como “em perigo”. A IUCN definiu seu status como “vulnerável”, mesmo status indicado

pelo MMA (2008).

Quanto à ocorrência de espécies endêmicas na região, os moradores entrevistados

ao serem questionados: “Existe algum animal que você só tenha visto nesta região e que

você nunca viu em outro lugar?” O espadarte foi o mais citado entre os entrevistados e

moradores.

Dentre as espécies animais que já não ocorrem na região, os moradores citaram os

veados e o porco do mato entre os mamíferos; e os peixes da família Serranidae (Xiphias

Gladius- espadarte) e Carcarrhinidae (meros) e Bothidae (Paralichthys sp ,linguados) ;

dos répteis, os jabotis foram os mais citados. A causa do desaparecimento, segundo

eles, está no desmatamento e porque foram consumidos em excesso.

95

3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades

Conforme já descrito na metodologia, foram realizadas oficinas nas comunidades e

comunidades polo identificadas de acordo com o Laudo de Vistoria Técnica e dentro da

área prevista para a criação da unidade de conservação. Desta forma, as oficinas

ocorreram em Tamaruteua, Vista Alegre, Camará, Marudá, Araticum-Miri, Guarajubal e

Juçateua.

As reuniões foram organizadas com o apoio de lideranças locais e quando

presentes representantes do Comitê nas comunidades. As oficinas foram realizadas nos

locais e horários determinados pela comunidade. Moradores das comunidades

adjacentes às comunidades polo foram convidados e quando necessário foi

providenciado transporte, dessa forma as atividades foram integradas.

Em todas as oficinas foi proposto e aceito como dinâmica o esclarecimento das

atividades da equipe e a realização de atividades em grupos para coleta de dados.

Dentre as atividades foram realizadas o mapeamento das áreas de uso dos recursos

naturais, o Diagrama de Venn e a Matriz Histoecológica.

A dinâmica da oficina, contou ainda com uma “seção” de abertura com

apresentação das lideranças do Comitê, que fizeram uma retrospectiva do processo de

criação da unidade de conservação no município. Buscou-se sanar as dúvidas existentes

quanto ao processo de criação da unidade de conservação e ao modo de vida de

moradores e usuários de uma Resex Marinha. As dúvidas dos moradores se detiveram,

em geral, nos temas direcionados à legislação ambiental e ao seguro defeso; o que se

pode ou não pode fazer dentro de uma Resex; e, sobre os benefícios advindos com a

criação da unidade para os moradores, como o bolsa verde.

Em todas as oficinas houve presença de homens e mulheres que participaram e

deram opiniões. O número de participantes variou entre as oficinas (ver anexo). Em todas

as oficinas foi marcante a disputa de poder entre o IMPEC e membros do Comitê. Os

pescadores denunciaram as invasões que ocorrem na região e a insegurança em alto

mar.

96

4- REFERÊNCIAS

ALMEIDA, E.P.C; ZARONI, M.J.; SANTOS, H.G. Neossolo Quartzarênicos. In: Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação

Tecnológica (ageitec). Solos Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d. Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONT000gn230xho

02wx5ok0liq1mqtarta66.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

ALVES RRN, VIEIRA WLS, SANTANA GG (2008) Reptiles used in traditional folk

medicine: conservation implications. Biodiv. Cons. 17: 2037-2049.

BARBOSA, C.F. de O.; PINHO. J.T.; PEREIRA, E.J.da S. et all- Situação da geração

elétrica através de sistemas híbridos no estado do Pará e perspectivas frente à

universalização da energia elétrica. An. 5. Enc. Energ. Meio Rural 2004

BASTOS, M. N. C. A importância das formações vegetais da restinga e do manguezal

para as comunidades pesqueiras. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. AI/tropo/. 11(1),

1995.

BASTOS, M. N.C. A sustentabilidade das restingas do Estado do Pará. In: JARDIM, M.A.G.;BASTOS, M.N.C.,SANTOS,J.U.M.(Eds.). Desafios da botânica no novo milênio:inventários , sistematização e conservação da diversidade vegeta l. Belém.Museu Paraense Emílio Goeldi, 2003.p 96-99. BEGOSSI, A. 1993. "Ecologia humana: um enfoque das relações Homem-meio-

Ambiente”. Interciência , 18 (3): pp.121-132.

BEGOSSI, A., HANAZAKI, N., SILVANO, R.A.M. (2002). Ecologia Humana, Etnoecologia

e Conservação. IN: Amorozo, M.C.M., Ming, L.C., Silva, S.M.P. (eds.) Métodos de

Coleta e Análise de Dados em Etnobiologia, Etnoecol ogia e Disciplinas Correlatas.

Seminário de Etnobiologia e Etnoecologia do Sudeste. UNESP, Rio Claro/SP.

BORDALO. C. A.L.; ABREU, W.L. Território e gestão da pesca em comunidades

tradicionais no nordeste paraense: estudo de caso do município de Marapanim-PA.. XVI

Encontro nacional de Geógrafos . Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre -

RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3.

COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO BRASIL -Disponível em

http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/cadastrounico/gestao-municipal/processo-de-

cadastramento/arquivos/levantamento-de-comunidades-quilombolas.pdf. Acesso em 10

de fevereiro de 2013.

97

CONCEIÇÃO, M.C.; MANESCHY, M.C. Pescadores, agricultores e ribeirinhos na

Amazônia oriental: associativismo e sustentabilidade. In: Boletim Rede Amazônia. Ano

2, nº 1, 2003. p. 61-69

COSTA-NETO, E.M. & MARQUES, J.G.W. 2000 b. Conhecimento Ictiológico Tradicional

e a Distribuição Temporal e Espacial de Recursos Pesqueiros pelos Pescadores de

Conde, Estado da Bahia, Brasil. Etnoecológica 4 (6): 56-68.

DIEGUES, A. C. 1973. Pesca e marginalização no litoral paulista (dissertação de

Mestrado). NUPAUB/CEMAR. Universidade de São Paulo. USP. São Paulo, SP.187p.

DIEGUES, A.C. 1995. Povos e Mares : Leituras em Sócio- Antropologia Marítima. São

Paulo, NUPAUB-USP

DIEGUES, A. C. 2000. Enoconservação: Novos Rumos para a Conservação da

Natureza . São Paulo: HUTEC. Nupaub. Universidade de São Paulo. 180p.

DIEGUES, A. C. Para uma aqüicultura sustentável do Brasil. Núcleo de Apoio à

Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Br asileiras. Artigos n.º 3, São

Paulo, 2006.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA; Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE). TerraClass - Levantamento de informações de uso e

cobertura da terra na Amazônia : Sumário Executivo. 2011. 20 p. Disponível em

<http://www.inpe.br/cra/projetos_pesquisas/sumario_executivo_terraclass_2008.pdf>.

Acesso: 06 jun. 2012.

FERREIRA, M. R. C. Identificação e valorização das plantas medicinais de uma

comunidade pesqueira do litoral paraense (Amazônia Brasileira). 2000. Tese

(Doutorado) Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, 2000. 268p.

FRANÇA, C.F. Morfologia e Mudanças Costeiras da Margem Leste da Ilha de

Marajó-PA . 2003. Tese (Doutorado_em Geociências) – Centro de Geociências,

Universidade Federal do Pará, Belém, 200

FURTADO, L. G.- Dinâmicas sociais e conflitos da pesca na Amazônia. IN: Conflitos

Ambientais do Brasil . Henri Acselrad (organizador) Relume DCumara. Fundação

Heinrich Böll. Rio de Janeiro, 2004. pp. 57-71.Disponível em :www.museu-

98

goeldi.br/.../Seminar%20conflitos%20IURP%202003.p. Acesso em 15 de fevereiro de

2013.

FURTADO, L.G.; SOUZA, R.C. & BERG, M.E. van den. 1978. Notas sobre uso

terapêutico de plantas pela população cabocla de Marapanim, Pará. Bol. Mus. Para.

Emílio Goeldi, nova Sér. Antrop. Belém, 70: 1-31.

HARDIN, G. The Tragedy of the commons. Science, 1968.162:1243-1249. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Banco de Dados

Georeferenciado de Recursos Naturais da Amazônia Le gal: Geologia . s.d.1.

Disponível em:http://servicodados.ibge.gov.br/.geologia.zip>. Acesso: 28 jan. 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Banco de Dados

Georeferenciado de Recursos Naturais da Amazônia Le gal: Geomorfologia . s.d.2.

Disponível em: http://servicodados.ibge.gov.br/Download/Downloadamalegal.zip>.

Acesso: 28 jan. 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Banco de Dados

Georeferenciado de Recursos Naturais da Amazônia Le gal: Pedologia . s.d.3.

Disponível em: <http://servicodados.ibge.gov.br/pedologia/pedologia.zip>. Acesso: 28 jan.

2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual Técnico

de Pedologia . 2. ed. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em:

<hftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/manual_tecnico_pedologia.pdf>.

Acesso: 14 de dezembro de 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estado do Pará

Geologia .2008.a Disponível em:<hftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/

geologia.pdf>. Acesso: 01 de junho de 2011.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estado do Pará

Geomorfologia .2008b.Disponível em: hftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/

geomorfologia.pdf>. Acesso: 01 de junho de 2011.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estado do Pará –

Pedologia : Mapa Esquemático de Solos. 2008c.Disponível em:

99

<ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/pedologia/pedologia.pdf>. Acesso: 01 de junho

de 2011

INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTERIAL MPA/MMA N° 14, DE 26 DE

NOVEMBRO DE 2012. Disponível em http://www.icmbio.gov.br. Acesso em 30de abril de

2013.

ISAAC-NAHUM, Victoria Judith. Explotação e manejo dos recursos pesqueiros do litoral

amazônico: um desafio para o futuro. Cienc. Cult. [online]. 2006, vol.58, n.3, pp. 33-36.

Disponível em http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v58n3/a15v58n3.pdf.Acesso em 12 de

fevereiro de 2013.

LIMA, R.R.;TOURINHO, M.M.; COSTA, J.P. Várzeas Flúvio-Marinhas da Amazônia

Brasileira: características e possibilidades agríco las. Belém: FCAP, 2001.

LIVRO VERMELHO DA FAUNA BRASILEIRA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO / editores

Angelo Barbosa Monteiro Machado, Gláucia Moreira Drummond, Adriano Pereira Paglia.

- 1.ed. - Brasília, DF : MMA; Belo Horizonte, MG : Fundação Biodiversitas, 2008.

MACHADO, DENISE Catadoras adoras de caranguejo e saberes tradicionais na

conservação de manguezais da Amazônia brasileira. Estudos Feministas, Florianópolis,

15(2): 240, maio-agosto/2007.

Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v15n2/a16v15n2.pdf. Acesso em 16 de maio

de 2013.

MMA / PROBIO - Ministério do Meio Ambiente / Projeto de Conservação e Utilização

Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira .Diagnóstico para avaliação e ações

prioritárias para conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha

amazônica. 1999.-78p.Brasília–DF.Disponívelem

<http//www.anp.gov/BR/regiaoNorte.pdf. Acesso em 12 de dezembro de 1012.

MANESCHY, M. C. Pescadores nos manguezais; estratégias técnicas e relações sociais

de produção na captura do caranguejo. In: FURTADO, L. G., LEITÃO, W. e Mello, A. B.

F. (Orgs). Povos das águas: realidade e perspectivas na Amazôn ia. Belém. Museu

Paraense Emílio Goeldi. 1993. p. 19-62.

100

MANESCHY, M.C e KLOVDHAL, Alden. Redes de associações de grupos de

camponeses na Amazônia Oriental (Brasil): fontes de capital social?. In: REDES, Revista

Hispano para el análisis de redes sociais. V. 2, nº 4, júnio de 2007.

MATTOS, Marli Maria de (Coord.).Estudo das cadeias de comercialização de

produtos florestais não-madeireiros na Região de In tegração Guamá, Estado do

Pará: relatório técnico 2011. Belém: Idesp,92 p.

MENEZES MOIRAH PAULA MACHADO; BERGER, UTA;MEHLIG, ULF Mangrove

vegetation in Amazonia: a review of studies from the coast of Pará and Maranhão States,

north Brazil.Disponivel em: http://acta.inpa.gov.br/fasciculos/38-3/BODY/v38n3a04.html,

Acesso em 6 de fevereiro de 2013.

MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA- Disponível em http://www.mpa.gov.br/index.php/monitoramento-e-controlempa/registro-geral-da-pesca-rgp. Acesso em 6 de fevereiro de 2013. MORAES REGO, L.F. A geologia do petróleo no Estado de São Paulo. B. Serv. Geol.

Mineral Bras . Rio de Janeiro: Serv. Geol. Mineral. Brasil, 1930. 110 p. (Boletim nº 46).

PARÁ (Estado). Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA). Base Cartográfica :

Arquivo 3 Pará, s.d. Disponível em: <http://www.sema.pa.gov.br/interna. Acesso em: 22

jan. 2013.

PANDEY, H. VERMA. B.K. GOVINDRAO. A K. 1998. Ethnobiology and conservation of

biodiversity. Journal Employment news 22 (51):1-4.

PEREIRA, C.A.; VIEIRA, I.C.G.. A importância das florestas secundárias e os impactos

de sua substituição por plantios mecanizados de grãos na Amazônia. Interciência ,

26(8):337-341. 2001.

PEREIRA, Renato Crespo (org). Biologia Marinha . Rio de Janeiro: Interciência, 2002.

POSEY, D. A.. 1987. Etnobiologia: Teoria e Prática. IN: RIBEIRO, B. G. Suma Etnológica Brasileira . Petrópolis: Vozes, FINEP. V1, Etnobiologia. PROST, M. T.; et al Manguezais e Estuários da Costa Paraense: Exemplo d e estudo

multidisciplinar integrado (Marapanim e São Caetano de Odivelas). In: PROST, M. T. &

101

MENDES, A. C. Ecossistemas Costeiros: Impactos e gestão ambiental . Belém:

MPEG, 2001. p.75-87.

RIOS, M.; MARTINS-DA-SILVA, R.C.V.; SABOGAL, C.; MARTINS, J.; SILVA, R.N.;

BRITO, R.R.; BRITO, I.M.; BRITO, M.F.C.; SILVA, J.R.; RIBEIRO, R.T. Benefícios das

plantas da capoeira para a comunidade de Benjamin Constant, Pará, Amazônia

Brasileira. Belém, CIFOR. 2001. 54 p.

ROCHA, A.E.S.; SILVA, M.F.F. Catálogo de espécies de floresta secundária. Belém,

Museu Paraense Emílio Goeldi, 2002. 212p.

SANTOS M. C.F; PEREIRA, J.A;; IVO, C. T.C.Sinopse de informações sobre a

biologia e pesca do camarão -branco, Litopenaeus schmitti (burkenroad, 1936)

(crustacea,decapoda, penaeidae), no nordeste do bra sil. Artigo de revisão. Sd. 31p.

Disponível em ww4.icmbio.gov.br/cepene/modulos/boletim/visualiza.php?id.. Acesso em

12 de fevereiro de 2013..

SANTOS, H.G. DOS ; FIDALGO, E.C.C.; ÁGLIO, M.L.D. Solo . Embrapa sd,.Disponível

em:http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/arroz/arvore/CONT000fesi63xh02wx5eo

0y53mhyx67oxh3.html>. Acesso: 15 fev. 2013.

SANTOS, H.G.; ZARONI, M.J.; ALMEIDA, E.P.C. Neossolos Flúvicos. In: Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação

Tecnológica (ageitec). Solos Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d.3. Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONT000gn230xho

02wx5ok0liq1mqfveqah8.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

SANTOS, H.G.; ZARONI, M.J. Latossolos. In: Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação Tecnológica (ageitec). Solos

Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d.1. Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONTAG01_11_22

12200611540.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

SANTOS, H.G.; ZARONI, M.J. Gleissolos. In: Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação Tecnológica (ageitec). Solos

Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d.2. Disponível em:

102

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONTAG01_10_22

12200611540.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

SANTOS, H.G.; ZARONI, M.J. Neossolos. In: Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação Tecnológica (ageitec). Solos

Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d.3. Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONTAG01_16_22

12200611542.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

SANTOS, H.G.; ZARONI, M.J.; ALMEIDA, E.P.C. Latossolos Amarelos. In: Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação

Tecnológica (ageitec). Solos Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d.1. Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONT000fzyjaywi02

wx5ok0q43a0r58asu5l.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

SANTOS, H.G.; ZARONI, M.J.; ALMEIDA, E.P.C. Geissolos Sálicos. In: Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação

Tecnológica (ageitec). Solos Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d.2. Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONT000gn230xhn

02wx5ok0liq1mqz1bvqa3.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.

SANTOS, H.G. ET AL. Documentos 140: Proposta de atualização da segunda edição do

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – ano 2012. Rio de Janeiro, RJ.

EMBRAPA/Solos, 2012. ISSN 1517-2627. Disponível em:

<http://hotsites.cnps.embrapa.br/blogs/sibcs/wp-content/uploads/2012/10/DOC-140-

Atualizacao-SiBCS-20121.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013.

SENNA, C.S.F.; OLIVEIRA , D.S.;ABSY, M.L. Composição, abundância e diversidade de

tipos polínicos em paleoambientes holocênicos do estuário do rio Marapanim, Estado do

Pará. In: Ecossistemas Amazônicos dinâmicas, impactos e valor ização dos

recursos naturais . Amilcar Carvalho Mendes, Maria Thereza Prost, Edna Castro (Orgs.).

Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi. 2011.436p.

SHANLEY, P.; CYMERIYs, M.; GALVÃO, J. Frutíferas da mata na vida amazônica.

Editora Supercores, Belém. 1998. 127p.

103

SILVANO, R. A. M. 1997. Ecologia de Três Comunidades de Pescadores do Rio

Piracicaba (SP) . Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas Instituto

de Biologia. Campinas, SP.

SOUSA, D.M.G. DE; LOBATO, E. Areia Quartzosa / Neossolo Quartzarênico .

Embrapa,s.d Disponível em:<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br>. Acesso: 15 fev.

2013.

SILVA, S.S.S. Tradição e contemporaneidade: o corpo e os processos de aprendizagem

na dança do boi de São Caetano de Odivelas- Ensaio Geral, Belém, v1, n.2, jul/dez 2009

SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano

8, nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA). Solos do Cerrado : Argissolo. s.d.

Disponível em: < http://www.dcs.ufla.br/Cerrados/Portugues/CArgissolo.htm>. Acesso: 15

fev. 2013.

WEBER, E.; HASENACK, H.; FERREIRA, C.J.S. 2004. Adaptação do modelo digital de

elevação do SRTM para o sistema de referência ofici al brasileiro e recorte por

unidade da federação . Porto Alegre, UFRGS Centro de Ecologia. Disponível em

<http://www.ecologia.ufrgs.br/labgeo>. Acesso: 23 abr. 2008.

WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Escala de tempo geológico . s.d. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_tempo_geológico >. Acesso em: 01 fev. 2013.