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ESTUDO SOBRE DANO AMBIENTAL GERADO POR ATIVIDADES MINERADORAS NO MUNICÍPIO DE ITABAIANA – PARAÍBA

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ESTUDO SOBRE DANO AMBIENTAL GERADO

POR ATIVIDADES MINERADORAS NO

MUNICÍPIO DE ITABAIANA –

PARAÍBA

Estudo sobre dano ambiental gerado por atividades

mineradoras no município de Itabaiana – PB

Em atendimento à designação feita pelo Sr. Dr. Hamilton de Souza Neves Filho,

Promotor de Justiça/Curador de Defesa do Consumidor do Ministério Público da

Paraíba – lº Centro de Apoio às Curadorias de Defesa do Consumidor, em que a partir

do Inquérito Civil nº 1.596/ 98 baixou portaria designando-me para efetuar uma

"Análise mais acurada" através da qual o "estudo deverá se dar na secção do Rio

Paraíba inserido no município de Itabaiana, no sentido de identificar a ocorrência de

dano ambiental gerado por atividades mineradoras (...) na extração de areia do leito do

Rio Paraíba".

A pertinência da designação fundamenta-se na decorrência de "laudos

conflitantes", o que denota então uma situação de percepção mais sensível acabando por

corroborar com um dos laudos, fortalecendo portanto a argumentação proponente.

Dessa pertinência, cabe ao nosso estudo a responsabilidade de ter verificado "in

situ" do evento "dano", daí o estudo mais acurado da leitura da paisagem enquanto

conjuntos e sub-conjuntos que, nas suas relações e correlações interativas e

intersectivas, têm como resultado uma dinâmica criativa e recriativa dos arranjos

estéticos nos cenários paisagísticos.

Estudo mais acurado: uma questão da abordagem do rigor.

Todo estudo rigoroso significa uma abordagem analítica e esta se pauta sobre o

nível de aprofundamento e, fundamentalmente, sobre o balizamento do referencial

teórico, pois só assim há a passagem da análise elementar para a análise sistemática. Na

análise elementar a observação normalmente é assistemática e a referência se torna mais

conceitual. Já na análise sistemática a observação é metódica, seguida de coleta de

dados, pois "só as provas dizem verdadeiramente a respeito" (Aristóteles, p. 29). As

coletas são quantidades que se transformam em qualidade enquanto conceito e

argumento, por isso a necessidade de um maior rigor. Mesmo assim, jamais se

conseguirá determinar os desígnios da dinâmica contida na natureza, "pois não se pode

prever os resultados que uma determinada forma de relevo irá apresentar, em certo

lugar e certa época, a não ser em termos de probabilidade" (Christofoletti, 1981: 114).

Para a realização desse estudo mais acurado optamos por um trabalho de

natureza científica em que o rigor deve ser estabelecido apriorísticamente, ou seja, até

na concepção do encaminhamento do próprio trabalho e do documento enviado pelo Sr.

Promotor, ressaltamos o objeto da designação "dano ambiental provocado pela extração

de areia no rio Paraíba" o que nos serviu para a elaboração do problema em estudo

partindo deste enunciado, o qual transformamos em enunciado interrogativo: Quais os

danos ambientais acarretados pela extração de areia no Rio Paraíba no município de

Itabaiana - PB?

Este questionamento passa a constituir um quadro de referência, e para um ajuste

balizador sentimos a premência de um corpo hipotético que nos encaminhasse para a

resposta do problema levantado:

hipóteses:

1. A extração de areia de um estoque depositário acima da entrada de material

compromete o sistema e sua estrutura.

2. A extração da areia do leito do rio e dos terraços fluviais expõe o recurso

hídrico: sub-superficial e superficial à intensa insolação, dado a

ampliação do espelho d'água permitindo assim maior evaporação.

3. Sendo a planície de inundação e os terraços fluviais abandonados pelo rio

(componentes paisagísticos do conjunto hídrico), qualquer alteração

acaba por interferir na estrutura sistêmica da paisagem e,

consequentemente, na estética do ambiente.

A partir das hipóteses enunciadas determinamos o elenco de objetivos.

Geral

Compreender como as relações econômicas, no caso a atividade de extrativismo

mineral enquanto agente de interferência na paisagem, acarretam danos ambientais.

Específicos

- Definir os eixos de referência teórica.

- Estabelecer o universo de categorias de suporte conceitual.

- Selecionar documentos primários e secundários pertinentes.

- Estabelecer roteiros de visita de reconhecimento – observação assistemática.

- Estabelecer roteiro de coleta de dados sistemático.

- Coletar, tabular e discutir esses dados e confeccionar argumento documentado sobre a

estrutura da paisagem e os prováveis danos ambientais.

Metodologia

Destaque da rede de drenagem que envolve o rio Paraíba entre os municípios de

Itabaiana/Pilar e a montante até o município de Natuba, a jusante até a foz do rio.

Essa rede de drenagem em destaque será extraída da carta imagem de radar na

escala de 1 : 250.000 e com algumas confirmações nas cartas de escala 1 : 100.000 e 1 :

25.000 (SUDENE/ DSG) confecção do perfil longitudinal do Rio Paraíba no trecho

compreendido entre o município de Natuba e a foz do rio no município de Cabedelo, a

partir da carta imagem de radar na escala de 1 : 250.000:

1. Confecção do perfil transversal da secção do leito do rio no distrito Guarita, a

montante da área dragada, a partir de topografia local, com teodolito eletrônico.

2. Elaboração de perfil em toposequência, a partir de sondagens com trado holandês

para determinação da profundidade do lençol freático.

3. Medição da vazão do rio Paraíba nas secções de Guarita na foz do rio Ingá com o rio

Paraíba, localidade Dois Riachos e na secção onde está sendo construída a barragem

de Acauã II.

4. Determinação da temperatura:

Na planície de inundação, com termômetro de solo.

Na água acumulada no setor dragado, na superfície e na sub-superfície.

5. Medição de turbidez com disco de SECCHI: na água acumulada (dois pontos) e em

ensaio com tambor de 200 litros no rio a montante da água acumulada.

6. Coleta de água na área alagada para verificação de sedimentos em suspensão:

superfície e sub-superfície

Referencial Teórico

A atividade econômica é um agente interferente, pois é uma construção artificial

e, como tal , atua como elemento transformador da paisagem e "qualquer paisagem se

apresenta a primeira vista como uma desordem imensa que nos deixa à vontade para

escolhermos o sentido que quisermos dar-lhe" (LEVY-STRAUSS. 1970: 50). Dessa

afirmativa de Levy-Strauss acreditamos que os agentes de interferência acabam por

negligenciar elementos de aparência às vezes insignificante, pois cada um vê a

paisagem de acordo com sua própria ótica, alterando assim por completo os arranjos

paisagísticos, que agem de forma invisível.

A busca de um referencial teórico é para estabelecer um enfoque racional de baixo

teor de contaminação afetivo e intelectual, pois a paisagem é a interação e intersecção

dos conjuntos inorgânicos, orgânicos e sócioculturais, e baseando-nos no esquema

proposto por Strahler (1994: 39), assim temos a paisagem como seqüência das relações

de interconjunto:

climático biótico hídrico

topográfico

A decomposição e a classificação da paisagem enquanto conjunto, amplia a

percepção da própria estrutura que compõe a paisagem. Tomando então a paisagem

enquanto concepção de estrutura, Lalande, citado por Dolfus (1973: 33), define então

que "a estrutura é um conjunto formado de fenômenos de tal forma solidários que cada

um deles depende dos demais e não pode ser o que é a não ser em e por sua relação

com ele". É nesta relação entre fenômenos que se dá a articulação de fluxos de matéria e

energia, ou seja, um arranjo sistêmico que promove a adequação e acomodação dos

fenômenos construindo assim a estética do cenário paisagístico. Nessa concepção de

arranjo sistêmico entre fenômenos constituintes do conjunto paisagem, em que a troca

de matéria e energia é a tônica da dinâmica da paisagem e o arranjo das relações é

sempre em busca da maior organização espacial para o menor gasto de energia, é então

neste ritmo, que a concepção conceitual de equilíbrio em sistemas ambientais é assim

proposta por Almeida "O equilíbrio de um sistema representa o ajustamento completo

das suas variáveis internas às condições externas". Não há então como não se deduzir

dessas concepções que qualquer interferência num dado sistema não acabe por

promover uma disritmia, e se esses ruídos interferentes persistirem vão acabar por

degradar o ritmo anterior impondo assim um novo ritmo, alterando por completo o

arranjo que compunha o cenário. A alteração do cenário passa a ser dependente da

"intensidade (...) do esforço ou tensão aplicada ao sistema (...) e do grau de

suscetibilidade à mudança (sensibilidade) do próprio sistema", como refere Drew

(1982: 19). Ainda em sua observação sobre a sensibilidade do cenário ambiental, Drew

postula que "todos os sistemas naturais possuem um elo fraco na cadeia de causa e

efeito: um ponto em que o mínimo de acréscimo de tensão (ímpeto de mudar) traz

consigo alterações no conjunto sistema". Se o acréscimo de tensão for sobre um ponto

de elevada vulnerabilidade o esforço acaba por produzir o máximo de resultados e se "O

limiar da recuperação foi ultrapassado (...) a recuperação do estado original é muito

demorada", ou então é irreversível.

Tendo como referência-teórico conceitual a teoria dos sistemas, os princípios da

termodinâmica e a estrutura da paisagem torna-se pertinente e eficaz quantificar e

demonstrar a tentativa de captura dos elementos contigentes à paisagem, pois conforme

Baquero (1973: 07) "A medida é necessária para realizar com rigor científico qualquer

tipo de comprovação na ciência experimental". A quantificação corrobora o processo

dedutivo a partir das determinações das hipóteses. O referencial teórico – técnico foi

balizado em "Geomorfologia" e "Geomorfologia Fluvial" de Christofoletti (1981)

"Geomorfologia" e "Geomorfologia e Meio Ambiente" de Teixeira Guerra e Cunha

(1996), e em "Geologia Geral" de Leinz (1970).

A bacia hidrográfica: uma caracterização do conjunto paisagístico.

A necessidade em darmos destaque aos componentes que dão relevância à

paisagem está relacionada ao retalhamento da superfície terrestre em unidades

referenciais ou fisionômicas e, neste caso, a bacia hidrográfica se torna uma unidade

fisionômica e, como tal, propicia um estudo sistêmico, aproximando assim a

compreensão das relações interativas entre os elementos componentes. Mas a Lei n°°°°

9433/ 97 indica no seu art. 1° inciso V que "a bacia hidrográfica é a unidade territorial

(...)" e neste caso a bacia hidrográfica já é caracterizada como uma unidade funcional

para a gestão política de recursos hídricos. Essas duas dimensões sobre a bacia

hidrográfica, fisionômica e funcional devem ser permeadas ao longo do estudo, pois

neste caso uma dimensão acaba por corroborar com outra.

As bacias hidrográficas na realidade contemplam uma área de captação de

matéria e energia e o principal elemento da bacia é o relevo, cujos sub-conjuntos

topográficos e facies litológicos passam a ser agentes determinantes da hidrografia e da

própria rede de drenagem. A rede de drenagem é responsável pelo escoamento da

matéria água, sendo então a combinação do relevo com o elemento hídrico.

O estado da Paraíba, segundo o "Atlas Geográfico da Paraíba", já tem bem

delineada a divisão das bacias e sub-bacias. O rio Paraíba é apresentado com sua bacia e

a sua maior sub-bacia, que é a do rio Taperoá, como sendo áreas totalmente em

território estadual, ficando nítido assim, que as políticas públicas e a sua gestão estarão

totalmente a cargo do Estado da Paraíba, vinculados, é claro, à legislação federal.

Como já foi constatado a bacia é um componente do relevo que combina

topografia com litografia em um primeiro momento, e num segundo momento combina

a captação pluvial com o escoamento, formando assim a rede de drenagem. Num

terceiro momento a inter-relação desses elementos acabará por determinar o corpo e a

diversidade biótica (biodiversidade). Topograficamente o rio Paraíba tem sua nascente

nas cotas entre 800 a 1000 m (Atlas Geográfico da Paraíba, 1985) indicando assim que

seu gradiente de declividade é elevado em relação ao seu percurso de aproximadamente

300 km, o que denota que o rio escoa por áreas planálticas bem definidas: o Planalto da

Borborema, a Depressão Sub-litorânea e os Baixos Planaltos Costeiros, para então

chegar nas planícies aluviais e, consequentemente, em sua foz.

Em um diagrama poderíamos assim representar o caminho do rio Paraíba.

O diagrama nos fornece uma imagem que representa conceitos: planaltos e

planícies. É necessário então o esclarecimento do elemento que os diferencia, pois de

acordo com Christofoletti (124 - 125), "Planalto é uma região plana ou levemente

ondulada, desenvolvida em estruturas formadas por rochas sedimentares ou cristalinas,

(...). Os processos de erosão, nos planaltos, superam os de acumulação, visto estarem

em posição mais alta (...). As planícies constituem áreas rebaixadas, os processos de

sedimentação superam os de erosão". Nesta afirmativa está nítido que o elemento de

diferenciação entre planalto e planície é a conjugação topografia/erosão/acumulação,

pois o planalto perde material enquanto a planície ganha material. O diagrama mostra

então que o rio Paraíba é um rio planáltico e de acentuada perda de material.

A região planáltica que abriga a bacia hidrográfica do rio Paraíba é

compartimentada, em áreas de litologia cristalina – Planalto da Borborema e a área da

depressão Sub-litorânea onde o escudo está rebaixado com forte presença de

capeamento sedimentar e os Baixos Planaltos Costeiros, área de sedimentação antiga

terciário, segundo Christofoletti (1973: p. 124-125).

A bacia hidrográfica abriga assim uma rede de escoamento hídrico, águas essas

oriundas da precipitação pluvial. A precipitação pluvial passa a ser então a principal

matéria do sistema de uma bacia hidrográfica, articulando com seu fluxo a

interatividade entre os conjuntos pertinentes ao relevo e aos conjuntos hídrico e biótico.

A bacia do rio Paraíba, com sua concavidade ampla em relação às demais bacias do

território paraibano, acaba por captar poucos recursos hídricos, haja vista que a área não

é contemplada com um sistema atmosférico pujante, ou seja, o sistema climático é

rigoroso em sua baixa precipitação, e ainda tomando o Atlas como referência mediana,

a maior parte da bacia é contemplada com precipitações que variam de 400mm a

1000mm e uma insolação elevada, havendo áreas que são consideradas sub-desérticas

(ANEXO I, FIGURA 1).

Caracterização da secção do rio Paraíba no município de Itabaiana.

A secção do rio Paraíba a montante do sítio urbano de Itabaiana e do distrito

Guarita, até onde está sendo preparada a área em que será construído o açude de Acauã

II – abaixo da foz do rio Paraíbinha – recebe apenas três tributários, no entanto apenas

um comanda sua micro bacia, que é o rio Ingá, tributário da margem esquerda. A rede

de drenagem nessa secção é comandada diretamente pelo rio Paraíba, havendo então um

ordenamento de apenas três rios significativos: o Ingá com sua micro bacia e o

Salgado, contribuindo assim para o caudal do rio Paraíba, e todos os demais

escoamentos vão diretamente para o rio Paraíba. Essa configuração denota que o vale do

rio Paraíba, nessa secção, não é amplo, é uma bacia com poucas sub-bacias e uma micro

bacia tributária e o trabalho erosivo é comandado diretamente pelo rio principal: Paraíba

(ANEXO I, FIGURA 2).

Torna-se pertinente dar um destaque para o conceito de erosão, pois entende-se

por erosão como o "processo de desprendimento e arraste acelerado das partículas do

solo causado pela água e pelo vento", conforme Bertonni & Lombardi Neto (1990: 68).

A rede de drenagem demonstrada na fig. 2 do anexo 1 é um destaque da carta

imagem de radar na escala de 1 : 250.000 que acaba por mostrar virtualmente o

comportamento da topografia, denotando a maior extensão longitudinal dos tributários

da margem esquerda e a menor extensão longitudinal dos tributários da margem direita.

O destaque feito com maior realce a partir da curva que o rio faz na região próxima à

cidade de Natuba, na altitude de 386 metros até a foz, no nível do mar. Esse destaque

cartográfico acaba por denunciar outras situações peculiares da relação do

comportamento do rio com a topografia e com a própria litologia, pois a retilinearidade

do leito denota relevo acidentado, onde o rio acaba por deslocar-se com maior

velocidade e quando o nível de energia diminui a tendência é a imposição do relevo,

obrigando o rio a meandrificar-se. Dessas considerações elaboramos um perfil

topográfico para demonstrar longitudinalmente o leito do rio (ANEXO I, FIGURA 3).

Procurando interpretar a fig. 3 do Anexo I, que foi elaborada em escala, e com

zoom da carta imagem, que permite maior visualização da situação do rio em relação ao

seu sucessivo gradiente de declividade, procuramos demonstrar o perfil de equilíbrio do

rio. A "tendência do rio para manter seu estado de equilíbrio envolve a consideração

de, pelo menos, dez variáveis (...) divididas em três classes: independentes,

semidependentes e dependentes (...) vazão, carga sedimentar, e nível de base final são

três variáveis independentes do estado de equilíbrio" (Bloom, 1970: 83). A figura 3 do

Anexo I deixa bem nítida a relação do rio com a topografia e, consequentemente, a

quantidade de energia que vai diminuindo em direção ao mar. "Quando os rios entram

no mar", afirma Penteado, (1993: 83) "a energia potencial da queda é igual a zero e

nenhuma transformação de energia potencial é possível". Esses postulados sobre o

perfil de equilíbrio e nível de energia ampliam nossa capacidade compreensiva sobre

"degradação (erosão) das áreas topograficamente elevadas e a agradação (deposição)

nas áreas topograficamente mais baixas" (Guerra e Batista, 1994:26). Analisando o

perfil topográfico entre Natuba, Acauã II, Dois Riachos, Guarita-Itabaiana, Cruz do

Espírito Santo até a foz, foi possível diagramá-lo em perspectiva(ANEXO I FIGURA 4)

para visualizar e compreender porque o leito do rio Paraíba tem na secção longitudinal,

entre o distrito Guarita, no município de Itabaiana até a foz, a maior área de agradação

(deposição) aluvional (sedimentar). Aludimos que é devido à questão topográfica, pois

na área de Guarita o rio está a 42 metros de altitude, haja vista que, de Dois Riachos até

Guarita há um pequeno intervalo longitudinal e de declividade.

A interpretação da combinação do perfil topográfico com a tabela de gradiente

de declividade (ANEXO I, TABELA 1) acaba por demonstrar "que ao poder de

transporte de um rio dá-se o nome de competência" (Leinz e Amaral, 1970: 131) e que

as áreas de maior competência de transporte de material no rio estão diretamente

proporcionais à declividade. A tabela demonstra que o rio cai entre Natuba e Acauã II

na proporção de 10.48m por cada km; entre Acauã II e Dois Riachos a proporção já é

bem menor, o rio cai apenas 3.2m por km; entre Dois Riachos e o distrito Guarita a

proporção ainda diminui, o rio cai 1.02m por km e do distrito Guarita até Cruz do

Espírito Santo a proporção de queda do rio é ainda é bem mais baixa, 0.64m por km.

Isso acaba por revelar que o gasto de energia é diminuído nas áreas de menor gradiente,

diminuindo assim a competência do transporte de material, pois a velocidade da água é

também diminuída. É sabido que para que se possa manter em movimento diferentes

esferas de quartzo, são necessárias as seguintes velocidades da correnteza da água

conforme, Leinz e Amaral (1970 : 131):

Diâmetro- mm velocidade m/seg.

0.25 0.2

1 0.3

10 1.0

50 2.4

"A velocidade para iniciar o movimento é, certamente maior do que a necessária para

manter o transporte da partícula" concluem os autores.

A topografia em Dois Riachos é de ondulação suave e esta área é de grande

importância devido ao encontro do rio Ingá com o Paraíba, mas mesmo em período de

chuvas foi observado que o rio não corria pela superfície. Tanto o rio Ingá quanto o rio

Paraíba estavam intermitentes no dia 03/07/99 conforme mostra a figura 1.

Fig.1 – foz intermitente do rio Ingá – área de modelado suave.

Mesmo os dois rios estanto aparentemente secos, com água abaixo do nível do

leito, conclui-se que a água corre por baixo do leito arenoso, pois, a pouco menos de

uma centena de metros adiante, a água reaparece na superfície. Isto quer dizer, mesmo

com o canal entulhado por materiais (apresentando, assim, uma pequena convexidade),

tanto o Paraíba como o Ingá mantinham o seu fluxo de sub-superfície. Evidentemente

isto se deve a permeabilidade dos materiais arenosos, pois, como já foi demonstrado, a

porosidade constitui o elemento que abriga a água, mantendo o subsolo sempre saturado

de umidade, evitando assim, que essa área de baixa energia exponha o espelho d'água a

céu aberto em constante evaporação.

Pequena convexidade por entulhamento de materiais (fluxo de sub-superfície)

Nova coleta de dados foi feita na mesma área para verificar o comportamento

dos rios devido as chuvas precipitadas à montante (na micro bacia do Ingá). Tal coleta

se deu no dia 14/07/99. Tanto o rio Paraíba quanto o rio Ingá estavam com água. No

entanto, o Paraíba apresentou-se somente com um filete d'água (FIGURA. 2) enquanto

o rio Ingá já se encontrava com água em maiores proporções, como mostra a figura 3.

FIG. 2 – Filete d'água, rio Paraíba

Fig. 3 – rio Ingá

Secção de coleta na foz do rio Ingá:

largura comprimento profundidade média vazão3.08m 1.00m 0.13m 0.55m£/s

À montante de Dois Riachos, aproximadamente a 17km, situa-se o canteiro de

obras da barragem de Acauã II (FIGURA 4). A área, apesar de estar na cota altimétria

de 96 metros, é formada pelo relevo colinoso (como mostra a figura 5) do sopé da

Borborema. A apenas 19.5Km à montante no município de Natuba, o rio Paraíba já está

em cotas bem mais elevadas: a sede municipal com 386 metros.

Fig. 4 – canteiro de obras de Acauã II, e Fig. 5 - relevo colinoso, respectivamente.

A descrição feita a partir do perfil longitudinal, e este quando colocado em

perspectiva (ver FIGURA 4 do ANEXO I) anuncia compartimentos topográficos em

degraus acentuados nas áreas de maior declividade e pouco acentuada entre os

município de Itabaiana e Cruz do Espírito Santo, estando esta cidade a 20 metros de

altitude e distante a 39 km de Itabaiana. Esse comportamento cuja pequena declividade

é ampla extensão nas concavidades do relevo, enuncia que esta é uma área de recepção

de material sedimentar provindo das áreas mais elevadas. Desse comportamento

topográfico, que abriga o leito fluvial, é que o rio iniciou o processo de meandrificação

na planície de inundação, pois como a energia potencial está diretamente proporcional à

declividade e ao volume d'água, a secção longitudinal a jusante de Guarita é de baixa

declividade. Contando ainda com um clima de pouca pluviosidade o rio Paraíba muitas

vezes é intermitente, como podemos verificar na figura 6, em Dois Riachos com o

afluente Ingá, também intermitente.

Fig. 6 – rio Paraíba intermitente

No distrito Guarita onde nos detivemos para coletar dados, pois está aí a

principal área do litígio e motivo do inquérito que determinou esse estudo, elaboramos

então um perfil transversal (ANEXO I FIGURA. 5) com dados topográficos e

planimétricos para termos uma representação real virtual, que demonstre a proposição

de área de agradação aluvial e degradação econômica.

A figura 5 do Anexo I apresenta então o corte transversal em perspectiva

anunciando que o leito do rio tem o seu fluxo na planície de inundação, mas com a

pequena pluviosidade à montante deixa o leito com pequenas proporções (FIGURA 7).

Leito do rio Paraíba com pequenas proporções – Fig. 7

Seção de coleta de vazão média no rio Paraíba

largura comprimento profundidade velocidade vazão

1.45m 0.50m 0.08m 0.032m/s 0.003m³/s

A planície de inundação está abaixo de dois terraços abandonados, e o rio

somente faz uso dessas áreas no período de grandes chuvas como as de 1985 (ANEXO

2), ano em que houve um índice pluviométrico excepcional, e que tomamos por base

principalmente os meses de março e abril.

A reutilização dos terraços fluviais pelo leito do rio só se dá nesses momentos

excepcionais e isso é decorrente de vários fatores, sendo o principal a precipitação. Mas,

com a construção da barragem de Acauã II (FIGURA 8), a excepcionalidade climática

não poderá alterar o curso do rio Paraíba, pois que a barragem deverá segurar tanto a

água quanto o material aluvial, e a pespectiva é de que descerá pouco material em

suspensão e dissolvido, e quando o nível da barragem estiver alto, apenas deverá descer

uma pequena quantidade de silte e argila, sem areia.

Barragem de Acauã – Fig. 8

A planície aluvial que atualmente abriga o leito do rio na secção fluvial de

Guarita é um pacote de material arenoso que está acima da superfície argilosa. Nas

sondagens (FIGURA 9 e 10), foi verificado que há água a menos de 15 cm de

profundidade, indicando assim que o material arenoso da planície aluvial é fundamental

para não só abrigar a água na sub-superfície, mas também para manter a dinâmica de

sub-superfície. O que prova que, com este volume d'água, mesmo interrompido na

barragem de Itabaiana (FIGURA 11), o rio continua seu curso mantido assim pelo

abastecimento oriundo da sub-superfície de solo arenoso.

Sondagem na planície aluvial e água a menos de 15cm de profundidade – Fig. 9 e

10 respectivamente

Fi. 11 – açude de Itabaiana com água abaixo do nível de sangramento

Neste tópico do estudo são necessários alguns esclarecimentos teórico-

conceituais, pois "a canalização é uma obra (...) realizada no sistema fluvial que

envolve a direta modificação da calha do rio e desencadeia consideráveis impactos, no

canal e na planície de inundação (...) a passagem da draga, aprofundando o canal,

procura o abaixamento do nível de base favorecendo a retomada erosiva (...)" (Cunha

in Guerra, 1994: 24).

A retirada de material do leito do rio, tornando o canal retilíneo, é feita para o

controle tanto do assoreamento quanto para as enchentes, neste caso o rio se torna mais

profundo e rápido, por isso a erosão é retomada. Mas neste caso o espelho d'água fica

menor, evitando assim perdas significativas pela evaporação.

O rio Paraíba a partir de poucas centenas de metros a montante do distrito

Guarita tem uma calha fluvial meandrante (FIGURA 12), isso se dá tanto pela baixa

declividade daí até a foz, quanto pela quantidade de sedimentos depositados na planície

de inundação. Desta secção até a foz, o rio Paraíba está com menor nível de energia:

mesmo a planície de inundação, pois neste caso, tendo na realidade a função de leito

maior, o rio meandrifica nos próprios sedimentos. Conforme a figura 5 no anexo 1, há a

demonstração real-virtual em escala e perspectiva de como o rio se comporta no pacote

aluvial da planície de inundação. Esta planície acaba por permitir a migração dos

meandros, abandonando assim os arcos de antigas curvas que o rio fazia, pois o solo

está saturado a apenas alguns centímetros (ver Figuras 9 e 10), permitindo tanto a

movimentação a jusante quanto a movimentação em sentido lateral. Essa

movimentação, que é uma migração espontânea, é permitida pela permeabilidade dos

meios porosos do pacote arenoso que abriga a matéria hídrica. Essa situação é

perfeitamente verificada na seção longitudinal à jusante tanto do encontro do tributário

Ingá com o Paraíba, quanto após a pequena barragem do rio Paraíba em Campo Grande,

nessas áreas os rios ficam intermitentes e aparecem algumas centenas de metros a

jusante. Há, ainda, como peça de comprovação dessa movimentação mantida na planície

de inundação, os poços d'água mantidos para abastecimento da população (FIGURA

13).

Mesmo sendo uma área com muita nebulosidade, isto em relação as demais

áreas do território paraibano (conforme consta no Atlas Geográfico da Paraíba) e uma

área de temperatura média bem elevada, aproximadamente 25º (como apresentada no

Atlas já citado), verificamos a permanência de elementos determinantes da evaporação,

indicando que se o espelho d'água estiver com sua área ampliada, por dedução podemos

indicar que haverá maior evaporação.

No tocante à questão inundação e evaporação é conveniente salientar que o rio

Paraíba atravessa uma região semi-árida e com situação sub-desértica (Atlas Geográfico

da Paraíba – ANEXO I FIGURA 1) e "por definição, em um clima seco, a evaporação

potencial do solo e vegetação excede a precipitação média anual" (Bloom, 1970: 89).

Esta situação amplia o agravo sobre as perdas de água para o sistema atmosférico

quando há ação interferente do homem sobre o meio sistêmico em equilíbrio dinâmico.

Calha meandrante do rio Paraíba e poços para abastecimento d'água – Fig. 12 e 13

respectivamente

Rumo às conclusões

Em resposta ao problema levantado que deu energia potencial para este estudo,

fez-se presente o componente do rigor científico em que buscamos a negação ou a

corroboração do corpo hipotético, sendo este a energia cinética desse trabalho.

Resposta à Primeira Hipótese

A afirmativa hipotética é comprovada, pois o que chamamos de estoque

depositório de aluvião (areia) é a área onde o rio deposita material, e este é

conseqüência do intemperismo e erosão à montante, onde este material é carreado por

trabalho fundamentalmente das chuvas. Consideramos então que com a construção da

barragem de Acauã II, obra que regularizará o débito fluvial à jusante, não mais será

permitida a descida de material arenoso, ou seja, enquanto houver a barragem não

haverá entrada de material arenoso a jusante. Consideramos ainda que a micro-bacia do

rio Ingá e a sub-bacia dos rios afluentes são intermitentes e totalmente dependentes do

regime pluvial, pois estão encravadas em relevo cristalino, o que indica então que o

transporte de material é sazonal e de pequena monta.

Resposta à Segunda Hipótese

A segunda afirmativa hipotética também é comprovada, pois em um primeiro

momento havemos de convir que o pacote arenoso da planície de inundação mantém o

nível de saturação na sub-superfície (ver Figuras 9 e 10) e isso indica que há a

probabilidade de movimento nesse espaço saturado, pois tanto o rio Paraíba quanto o rio

Ingá foram flagrados nessa composição (ver Fig. 6). Nestas condições, passamos a

deduzir que a água na sub-superfície está abrigada e não exposta à evaporação. Num

segundo momento é perfeitamente nítido que a dragagem desse material (areia) que

acaba por abrigar água, que também foi verificada nos poços amazonas da planície de

inundação, é impertinente ao sistema hídrico, pois acaba por ampliar significativamente

o espelho d'água, haja vista que a secção transversal e longitudinal do rio Paraíba , no

distrito Guarita, tem o seu curso meandrante na própria planície de inundação, e com a

ação interventora da atividade mineradora a área do curso meandrante tornou-se um

espelho d'água alagado, expondo totalmente o recurso hídrico à evaporação (FIGURA

14 – ver também ANEXO I, Figuras 5 e 6).

Espelho d'água do alagado – Fig. 14

Resposta à Terceira Hipótese

Procuramos identificar a paisagem como uma estrutura montada sobre um

sistema de articulações interligadas, cujos componentes interseccionados (modelo

proposto por Strahler), permitem enquanto decorrência a biosfera. A vida passa a ser o

elemento fundamental da paisagem, e a sobrevida (questão futura) é a expectativa e é a

esperança da permanência da paisagem. As intervenções sobre a paisagem passam a ser

a tônica da sobrevivência, daí que qualquer intervenção é uma ação de degradação, no

entanto a permanência dessa ação pode gerar uma alteração irreversível na paisagem,

transformando-a de tal maneira que, se as condições iniciais corroborarem, essa

paisagem jamais será reconduzida à situação anterior.

Vários são os agentes e elementos que compõem a paisagem na secção do rio

Paraíba no município de Itabaiana. inclusive existem elementos e agentes que são

invisíveis na paisagem e que só se manifestam quando há alteração na estrutura

sistêmica da paisagem, como por exemplo o caso EBOLA na África, que possivelmente

tenha sido fruto de alteração ambiental, como o desmatamento. Outro exemplo é o

elemento biológico apelidado de sabiá, cuja ocorrência se deu no interior do Estado de

São Paulo, e no caso da dragagem do leito aluvial e da planície de inundação, a erosão

se ampliará em todas as direções, mas principalmente à montante da área pois a

dragagem ampliará a bacia de inundação. Esta bacia de inundação, cujo

aprofundamento acabará por forçar o abastecimento de água por diversos outros

contribuintes, pois aumentou a energia potencial (gravidade), sendo assim o lençol

d'água adjacente será também um tributário importante,pois este abaixará em função do

aprofundamento da bacia receptora.

O rebaixamento do lençol d'água adjacente foi verificado junto a moradores que

passaram a observar que depois da ação das dragagens no rio os poços de abastecimento

doméstico diminuíram seu volume, e nas entrevistas com moradores podemos detectar

situações bem paradoxais, e como realça LEVY-STRAUSS "qualquer paisagem (...)

nos deixa a vontade para escolhermos o sentido que quisermos dar-lhe" (op cit) e é

neste sentido que foram detectadas as situações contraditórias, pois ao serem

questionados sobre a água no rio, os entrevistados foram unânimes em afirmar que a

água tinha aumentado, mas na mesma argumentação acabavam por anunciar que há

falta d'água local (abastecimento doméstico). Queremos então anunciar aqui o perigo

em fazer juízo a partir de componentes interceptados pela percepção sensível (nem

sempre o que os olhos vêem é a totalidade, mas sim uma parte, daí ser pertinente o uso

do aparelho racional – estoque semântico e suas combinações, pois é esta a única forma

de chegar próximo à verdade), pois como já foi ressaltado há na paisagem, componentes

ocultos, invisíveis à primeira percepção sensorial, daí ser necessário um trabalho

empírico mais acurado para então poder desvelar os componentes ocultos. E, neste caso

específico, podemos constatar que a água está abrigada pela areia da planície (nos níveis

dos terraços abandonados e planície de inundação).

A área inundada por onde a draga atuou, o fundo já não contém mais material

arenoso e sim silte-argiloso, pois ao entrar na área para verificação de turbidez com

disco de Secchi (FIGURA 15), só o ato de caminhar era suficiente para trazer material

em suspensão denotando assim baixa transparência. Essa situação passa a ser indicativo

para outros agravantes na estrutura do sistema paisagístico, pois a área inundada além

de tirar água dos lençóis adjacentes, passa a ser uma área de temperaturas diferentes

(considerando-se que as coletas foram realizadas no mês de julho – solstício de inverno

– ANEXO I, TABELA II). Não há como deixar de se observar que, atualmente os

moradores da margem esquerda temem o cruzamento do rio a pé, por considerar a

possibilidade de acidente, esta situação de acidente é temida devido a situação

semelhante ocorrida no Estado do Piauí (ANEXO III). Acidentes são decorrência

também da não observação da prudência preventiva, e neste caso, o rio ainda é usado

como ambiente de lazer para meninos (FIGURA 16) que alí ainda jogam bola (área

ainda não dragada, mas que já é prevista).

Leito lamacento – Fig. 15

Lazer no leito arenoso do rio (à jusante da área alagada) – Fig. 16

Um outro fator decorrente e que só será verificado no futuro, haja vista essa

ocorrência, já atual no pequeno açude de Itabaiana, e após a área ter sido dragada e já

com assoalho da área inundada totalmente argiloso, lamacento, haverá uma colonização

vegetal de forma significativa (FIGURA 17), e que provavelmente, servirá também para

colonização de insetos. Pois, tanto Itabaiana quanto Guarita já sofrem com esse

incômodo, e possivelmente esses insetos acabarão sendo vetores de doenças epidêmicas

como a própria dengue. (a área alagada contém segmentos no seu leito que mantém a

água parada).

Colonização vegetal, Fig. 17

A partir dos argumentos deduzidos do corpo hipotético, assim como das

argumentações que construíram e consolidaram esse estudo, chegamos a conclusão

(sem sombra de dúvida), que a atividade extrativa do mineral de segunda classe, que é a

areia – na secção do rio Paraíba, no município de Itabaiana, é totalmente lesiva ao

sistema ambiental, criando danos à paisagem jamais reparáveis. Recomendamos que

somente a retirada manual e para uso local seja aceita, e caso seja verificada lesão ao

ambiente, deve-se paralisar imediatamente, pois a retirada desse material tem

conseqüências diretas nos recursos hídricos e nesse tocante a doutrina contida na LEI

Nº. 9433/97 no cap. II assim dispõe:

ART. 2º São Objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos

I – assegurar a atual e as futuras gerações a

necessária disponibilidade de água, em padrões de

qualidade adequada aos respectivos usos;

II – a utilização racional e integrada dos

recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com

vistas ao desenvolvimento sustentável;

III – a prevenção e a defesa contra eventos

hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do

uso inadequado dos recursos naturais.

É pertinente a atividade manual e local, pois a paisagem do lugar deve ser vista

não apenas como RECURSO mas sim como SUPORTE à sobrevida dos habitantes do

lugar, haja vista que quando a atividade passa a ser mecanizada e para abastecimento de

outros lugares, o produto deve ser de reposição a nível de crédito superior ao débito,

pois assim não faltará. Nessa contabilidade simples podemos verificar que quando o

mercado é voraz, o consumo é de elevada quantidade, como por exemplo: uma cidade

com uma área metropolitana em expansão horizontal e vertical, a indústria da

construção civil requer muita matéria prima, daí que a areia, sendo um mineral dito de

segunda classe, é quem alimenta essa indústria, e esta passa a ser responsável pela

expansão urbana. Como exemplo, tomando por base a expansão urbana na metrópole do

Recife, no intervalo de 1700 a 1995, é pertinente que se analise o "orverlay mapping"

proposto no estudo de BRYON (l994) em que denota uma expansão muito acentuada

nos pequenos intervalos de tempo pertinentes à segunda metade deste século e sendo

também bem acentuada no último intervalo entre 1970 a 1995. Deduzimos desse

'orverlay' que o crescimento horizontal da mancha urbana requer uma intensa atividade

da indústria da construção civil e esta por sua vez sobrevive de matérias primas como é

a situação da areia. Tomamos por base, como processo amostral, a expansão urbana do

Recife devido à nota fiscal da companhia Ferroviária do Nordeste (CFN) em que traz

como destinatário, da mercadoria classificada sob o N. de Ordem 604 (areia), o destino

13252 que é o Nº. de ordem da estação Cinco Pontas pertencente a cidade do Recife

(ANEXO IV e ANEXO V).

Ao encerrarmos este estudo, reiteramos (sumariando) as conclusões anteriores,

reafirmamos que a mencionada atividade de extração de areia no trecho aludido do rio

Paraíba é lesiva ao sistema ambiental e cria danos irreparáveis à paisagem.

Referências

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